Revista Perfil - Ed. 03

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Nº3 • MAR 2016

Lurdes, Maria e Elena: O trabalho social das irmãs de São José em Teixeira de Freitas

Projeto Social

Turismo

Cinema

Cozinha Solidária profissionaliza mulheres teixeirenses

Os destinos imperdíveis de Belo Horizonte

“VAI PASSAR AQUI? Cinemas do interior são poucos e falta variedade”

Personalidade Homenagem às mulheres que marcaram a história


FIGHT LIKE A GIRL - KAOL PORFÍRIO


A ilustradora e desenvolvedora de games gaúcha criou a série Fight Like a Girl (Lute como uma garota) representando personalidades fortes e guerreiras da ficção e da vida real para mostrar que mulheres também podem ser lutadoras impiedosas e pessoas inspiradoras. À convite da Think Olga, fez algumas ilustrações de feministas importantes, como Rosa Parks, que recusou-se a ceder seu lugar no ônibus para um homem branco, tornando-se símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.


EDITORIAL

JUNTAS SOMOS MAIS FORTES Instituiu-se o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, ocasião onde as pessoas costumam lembrar-se das dificuldades que enfrentamos e dos feitos que alcançamos. Também é comum recebermos flores, chocolates e sermos convidadas para jantar fora. Comemorar a nossa luta é justo, mas, não se ela for esquecida assim que o dia acabar. Não queremos ganhar um buquê de rosas no dia 8 e continuar sem os mesmos direitos que os homens em todos os outros. Não queremos receber uma joia para mascarar todos os momentos em que somos relegadas, diminuídas, ofendidas e humilhadas. Buscamos respeito, reconhecimento e igualdade, o que já deveria vir naturalmente, mas requer luta de gerações. Quando nascemos mulher, já somos criadas de maneira diferente, parece ser automático desenhar um mundo cor de rosa. Somos ensinadas a nos comportar como uma mocinha, falando delicadamente, cruzando as pernas ao sentar e sorrindo sempre. As nossas brincadeiras, repetidas vezes, envolvem ser mãe e cuidar do bebê ou ser dona de casa e se responsabilizar pelos afazeres domésticos. No entanto, as brincadeiras dos meninos costumam envolver heróis, guerreiros, jogos eletrônicos e aventuras. Dificilmente, se vê um menino com boneca e uma menina com um carrinho, e, quando isso acontece, as crianças ainda são taxadas como anormais. Perguntam-se, depois, porque homens aparecem com mais facilidade para as áreas exatas e descobertas científicas. Talvez, mais mulheres tivessem destaque se fôssemos desde cedo incentivadas a não apenas ficar no âmbito doméstico. Quando crescemos e temos um pouco mais de noção sobre como o mundo funciona, descobrimos que precisamos nos esforçar o dobro ou o triplo para ter o mesmo reconhecimento que um homem, simplesmente porque não nos dão crédito suficiente. Quantos “nãos” recebemos ao longo da 4

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vida? Quantas vezes ouvimos a expressão “coisa de mulher” como algo pejorativo? No Brasil, teoricamente, temos direitos assegurados, inclusive, pela Lei Maria da Penha, um grande avanço na luta para pôr fim à violência contra a mulher. Mas, a realidade de muitas de nós ainda é de submissão e opressão. Ainda sentimos medo quando andamos na rua sozinhas, somos violentadas e silenciadas, somos julgadas pela roupa que vestimos e precisamos pedir permissão. Em uma sociedade machista, ainda não somos donas de nosso destino. Mas, lutamos, não desmoronamos. Nos inspiramos em histórias de mulheres fortes que abrem as portas para as futuras gerações. Seja alguém de renome internacional, como Rosa Parks (mulher negra que se negou a ceder seu lugar no ônibus para um homem branco), ou, uma mulher que se divide em várias para dar conta de trabalhar e cuidar dos filhos; conseguimos nos apoiar umas nas outras. É com felicidade que cresce a sororidade, a união e empatia entre mulheres – versão feminina da fraternidade. Em nossa edição de março, fizemos questão de trazer algumas histórias de mulheres que se superam todos os dias para serem as melhores versões de si mesmas. Cantoras, lutadoras, professoras, ativistas, artistas. Mães. Simplesmente, mulheres. Que nesse mês, nos lembremos de como precisamos nos reinventar a cada dia e nos tornar mulheres, com todas as dificuldades e alegrias que isso traz. E vamos levar essa lembrança constantemente, como um impulso para acreditar que somos capazes e não abaixar a cabeça. Se uma cair, a outra segura. Um abraço muito carinhoso a todas as mulheres, especiais à sua maneira e com suas particularidades, principalmente à Lígia, minha inspiração diária. Juntas somos mais fortes.

yara lopes, diretora de redação DA REVISTA PERFIL


EXPEDIENTE

Diretora de Redação Yara Lopes yarak.lopes@gmail.com Diretor Administrativo Alberto Gonçalves Diretora Comercial Lígia Firme ligiafirme@gmail.com Projeto Gráfico e Diagramação Karine Nelly Fernando Gatti joelma passos Repórteres Eric Andriolo Júlia Ferreira Felipe Mesquita Thaís Cristina Mariana Miranda Pollyana Loureiro Gabriella Martinelli Colunistas Dr. Valci Vieira Dr. Leonardo Vieira Dra. Yolanda Castro Dra. Adma Silvia Cury Elandra Machado Daniel Bovolento Fotografia Ailton Carvalho e Wesley Morau Revisão Carla Félix Assessoria Jurídica Sara Dânitza saradanitza.adv@gmail.com Endereço Rua Antônio Simplício de Barros, 322, Centro, Teixeira de Freitas Contato para anunciar (73) 3016-1190 revistaperfiltx@gmail.com DISTRIBUIÇÃO Extremo Sul da Bahia REVISTA PERFIL

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SUMÁRIO

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CAPA

MÚSICA

o trabalho das irmãs de São José em Teixeira de Freitas

O trabalho de cíntia portela

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Coluna TURISMO comportamento conheça os pontos imperdíveis da capital mineira

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Quando as pessoas se tornam passado

LITERATURA

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Sheryl Sandberg pelo sucesso de todas as mulheres

LITERATURA

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RACHEL DE QUEIROZ: símbolo de luta e persistência

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LITERATURA

Coluna educação

“As redes sociais deram voz aos imbecis”

O Exame Nacional do Ensino Médio, Eco e os imbecis

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empoderamento

cinema

coluna direito

“cabelo duro? Duro é seu racismo!”

DISTANTES, DESIGUAIS e dublados

Do princípio do Acesso Universal aos Cargos Públicos

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SUMÁRIO

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projeto social Cozinha Solidária promove profissionalização de mulheres

SÉRIES

BELEZA

Marvel dá destaque ao feminismo com “Jessica Jones”

Óleo de coco: benefícios para saúde e beleza

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ESPORTE

personalidade

Joelma Luz sonha com ouro

Mulheres Incríveis

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coluna feminismo

empoderamento

coluna saúde

O significaDO Da palavra e Do conceito

Era uma vez uma princesa feminista…

Levantamento do seio maxilar

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maquiagem

moda

eventos

os truques para makes dramática e clássica

looks para ambiente de trabalho

A agenda da noiva REVISTA PERFIL

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COMPORTAMENTO

QUANDO AS PESSOAS SE TORNAM PASSADO Por Daniel Bovolento

Sempre defendi a ideia de que distância era um conceito trapaceiro, porque nos fazia acreditar que não seria suficiente para atrapalhar nenhum tipo de laço afetivo que criamos com alguém. O tempo foi passando e percebi que as coisas não são bem assim. Que distância importa e que é necessário um certo esforço para fazer com que ela não abale tanto assim as nossas relações com outras pessoas. Vi amigos sumindo, me vi sumir também. Vi meu contato com meus pais se tornarem menos frequentes, com a desculpa de que estava atolado de obrigações. Vi datas fixas de aniversários e comemorações se apagarem da minha frente, pelo simples fato de não ser lembrado da pessoa referente a ela no dia a dia. Foi quando percebi que a distância nos faz tirar as pessoas que nos orbitam desse centro magnético, e passamos a substituí-las por outras. Quem não tem um melhor amigo do colégio que nunca mais foi visto? Ou um colega de trabalho que ouvia todas as nossas histórias no almoço e que nunca mais recebeu uma mensagem que seja? Acho natural que nós tenhamos mais contato com quem faz parte dos nossos dias de forma mais intensa. São as pessoas que sabem da evolução constante das nossas vidas, partilham os momentos mais recentes, sabem exatamente em que novela nos encontramos. O problema é que esses espaços de protagonismo são deslocados ao longo do tempo. Trocamos o melhor amigo do colégio pelo melhor amigo da faculdade, trocamos o colega do emprego antigo pelo novo, trocamos o primeiro amor pelos próximos. Trocar, talvez, não seja a minha melhor escolha de palavra. Na verdade, deixamos de priorizar nossa relação com essas pessoas por conta da falta de vivência constante. E quando nos lembramos deles, deixamos pra depois. Deixamos pra depois a lembrança de algo engraçado porque, aparentemente, seria estranho falar com alguém que não participa mais tanto da nossa vida. Deixamos pra depois a ligação pra atualizar o amigo que ficou em outra cidade. Deixamos pra depois as felicitações de aniversário dos avós. Deixamos pra depois o convite pra sair que poderíamos fazer pras amigas da faculdade. Deixamos pra depois todo mundo que não é mais prioridade na vida da gente. Às vezes, nem é 8

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por mal. É só o nosso costume de transformar pessoas em passado. Verdade seja dita: quando alguém se torna passado, ela deixa de fazer parte da vida da gente e recolocá-la nos dias atuais parece não encaixar com a nova narrativa. E como a gente dá jeito nisso, nessa coisa terrível de deixar que relações se apaguem mesmo quando queremos muito manter? Precisamos de esforço. Esforço pra ligar, pra saber das coisas, pra ouvir o outro. Esforço pra manter os laços, pra criar encontros, para que estejamos perto mesmo que haja distância. Inevitavelmente, nós perderemos algumas pessoas – e é doloroso admitir isso. Dói admitir que não carregaremos todas as boas pessoas pela vida. Dói saber que existe gente que vai permanecer intacta num período e depois não vai mais participar das histórias que a gente conta. Dói quando as pessoas se tornam passado. Percebi que dói quando terminei esse texto com uma lista enorme de nomes que eu nunca quis que se apagassem. Amigos, colegas, amores, parentes, gente que eu genuinamente adoro. Gente que eu prometi carregar comigo pra sempre. Gente que não merece que eu os deixe pra depois. Você, provavelmente, identificou algumas pessoas dessas também. E agora deve se perguntar, assim como eu, como fazer pra não apagar essa gente toda? Não sei. O que posso fazer, e talvez você poderia fazer também, é me esforçar um pouco mais. É dizer agora, não deixar pra depois. É marcar aquele café agora e não ter medo do incômodo pelo tempo longe. É dar os parabéns e se desculpar por ter esquecido, dizer o quanto se importa, rever as suas prioridades. Se nós queremos tanto assim que alguém permaneça na vida da gente, mesmo que não seja rotineiramente, a primeira coisa que podemos fazer é parar de deixá-los pra depois. Porque depois, nesses casos, não vira futuro. Vira passado e acaba ficando pra trás.

Daniel Bovolento: Carioca morando em São Paulo, publicitário, dono do blog Entre Todas as Coisas e autor do livro Por onde andam as pessoas interessantes



TURISMO Foto: Fecomércio MG

CONEXÃO TEIXEIRA-BH:

CONHEÇA OS PONTOS IMPERDÍVEIS DA CAPITAL MINEIRA Belo Horizonte chama atenção dos turistas por atrações culturais e uma vida noturna agitada, com diversas opções de barzinhos Por Felipe Mesquita, Belo Horizonte

PRAÇA DA LIBERDADE: A praça da Liberdade é o símbolo da cidade! É super arborizada, com flores e árvores durante o ano todo, fica em um dos pontos mais tradicionais. É uma ótima pedida para descansar ou até mesmo fazer um piquenique. Ao redor dela, existe uma série de museus, como o CCBB, que recebe sazonalmente exposições, e o Museu das Minas e do Metal, da Gerdau. Além disso, na 10

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praça, você terá uma visão privilegiada do Palácio da Liberdade, antiga sede do governo mineiro. Para

PRAÇA DA LIBERDADE

comer, sugiro ir ao tradicional fast food mineiro Xodó, com opções de hambúrgueres e sorvetes. Foto: Copa2014.gov

Já não é novidade pra ninguém que Teixeira de Freitas, agora, tem voo direto pra Belo Horizonte, né?! Então, por que não ir até o aeroporto e pegar o próximo avião com destino à capital mineira? A revista Perfil elenca alguns lugares de Belo Horizonte que você deve conhecer quando visitar a cidade.


TURISMO

A praça da Estação é uma grande praça situada no coração de Belo Horizonte. Nela está localizada a estação central de trem, que leva passageiros e cargas (principalmente minérios) para lugares como Ipatinga (MG) e Vitória (ES). A praça da Estação, juntamente com o Viadulto Santa Tereza, é um dos pontos mais culturais da cidade. Ocasionalmente, festas, duelo de Mcs e Festivais tomam conta desse lugar, atraindo várias pessoas. Um dos movimentos mais populares é a chamada Praia da Estação, na qual jovens ocupam a praça e tomam banho nas fontes dispersas pelo local, vestidos de trajes de banho. Isso sempre regado a muita música e cerveja!

SAVASSI: Belo Horizonte é conhecida como a capital dos bares e eles estão massivamente presentes na Savassi, uma re-

PRAÇA DA ESTAÇÃO

Foto: thecityfixbrasil

PRAÇA DA ESTAÇÃO:

PAMPULHA

Foto: lagoinha

A Pampulha fica longe do centro da cidade, a aproximadamente 20 minutos de carro. Nem tente ir de ônibus, você vai perder grande parte do seu dia nessa aventura. Há muitos lugares para se visitar, começando com a Lagoa da Pampulha, um lago artificial gigante. Não sugiro contornar a lagoa, isso vai levar muito tempo. Você também pode ir à igreja de São Francisco de Assis, conhecida como Igrejinha da Pampulha, uma capela projetada por Niemeyer, com pinturas de Portinari e Burle Marx como paisagista. O Mineirão também é um ponto turístico, conhecido pela sua grande magnitude e pelos tristes 7 a 1 sofridos pelo Brasil jogando contra a Alemanha durante a última Copa do Mundo. Por último, uma volta na roda-gigante do Parque Guanabara, uma das maiores da América Latina. Nela, você consegue ver toda a região da Pampulha e sua beleza.

Foto: belohorizonte.mg.gov.br

PAMPULHA:

SAVASSI

gião perto do centro. E aqui tem lugar para todos os gostos: desde restaurantes chiques e caros até os mais econômicos e “pés sujo”. Minha sugestão é tomar uma cerveja (ou uma boa cachaça mineira) em uma das Baianas - bares famosos para frequentadores da região -, mas, nem tente comer o acarajé de lá, você vai ficar frustrado. Para comer, pode escolher entre vários tipos de fast food, com a presença de Mc Donald’s, Bob’s, Burger King, Subway e dos famosos “podrões”. No entanto, também há

espaço para comidas normais, como um bom feijão tropeiro ou um churrasco. A vida noturna também acontece aqui, com opções que vão desde sertanejo à música eletrônica. A Savassi conta ainda com um dos shoppings mais tradicionais (e caros) da cidade: o Pátio Savassi, com lojas como Leitura, Hering e a famosa Forever 21, conhecida pelos seus baixos preços. O nome da região foi atribuído depois do sucesso de uma padaria já extinta, que tinha o mesmo nome. REVISTA PERFIL

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TURISMO MERCADO CENTRAL

Foto: farm4.flickr

Se você gosta de cozinhar (ou de comer), aqui é o seu lugar. O Mercado Central é mundialmente conhecido pela diversidade de itens disponíveis, que vão desde castanhas até cervejas artesanais, passando por carnes não convencionais, como a de rã. Minha dica é dar uma volta por lá num domingo cedinho, há mais opções para escolher e ainda o lugar não vai estar tão cheio, além de poder desfrutar cada canto com calma. Para comer, invista no tradicional bife de fígado com jiló, prato típico dos bares/ restaurantes presentes no mercado, outro motivo para chegar cedo, pois eles costumam ficar cheios depois de uma certa hora.

Foto: acervo-setur-mg-xara

MERCADO CENTRAL:

PRAÇA DO PAPA

PRAÇA DO PAPA:

INHOTIM: O INHOTIM é um dos maiores museus de arte moderna no mundo. Não fica exatamente em Belo Horizonte, mas, em um município chamado Brumadi12

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Foto: Prisma Viagens

Definitivamente, é o meu lugar preferido na cidade. Lá você vai ter a oportunidade de apreciar uma bela vista para toda a região de Belo Horizonte. É cercada por montanhas e por belas e luxuosas mansões, o que confere mais charme ao lugar. Como é em local mais acima da cidade, leve seu casaco, pois com toda certeza estará frio e ventando. Na praça do Papa você pode tomar uma água de coco gelada (infelizmente, por um preço um pouco salgado) e comer as famosas pipocas ou cachorro-quente, em carrinhos que ficam na parte superior. Se estiver animado, pode também visitar o Parque das Mangabeiras, uma grande reserve natural, com quatis e vegetação típica do cerrado mineiro. Além disso, vale conferir um dos mirantes presentes no lugar. Garanto belíssimas vistas!

INHOTIM

nho, há cerca de uma hora da capital, sugiro ir somente se você tiver tempo de sobra. Ele é localizado em um enorme espaço e é dividido em várias galerias. Algumas delas são fixas, outras, sazonais; confira quais estarão disponíveis na época da viagem.

Como o lugar é muito grande, você terá que andar bastante. Porém, caso queira mais comodidade, há a possibilidade de alugar carrinhos de golf para transitar. Uma dica é levar a sua própria comida, afinal, a oferecida no lugar é bastante cara.



MÚSICA

RAÍZES SERTANEJAS MARCAM TRABALHO DE CÍNTIA PORTELA Cantora já colhe os resultados iniciais do lançamento de seu primeiro CD e deve ter uma agenda agitada em 2016 Por Yara Lopes Fotos Divulgação/ Iris Falquetto

“Eu não consigo ser metade, não sou meio amiga e não sou quase seu amor. Sou tudo ou nada. Ingênua, mas não sou santa. Fácil sorriso e fácil lágri-

mas”. Essa é a autodefinição de Cintia Portela, que declara abertamente ser muito intensa em tudo o que faz, personalidade forte e emocional sempre à flor da pele. Quem conhece seu trabalho em Teixeira de Freitas e toda a região consegue, facilmente, reconhecer essas características. Aos 29 anos, a artista, que é natural de Itamaraju, mas, veio morar em Teixeira com apenas dias de vida, sempre teve sua musicalidade atrelada ao ritmo sertanejo e trouxe isso desde quando apenas dedilhava o violão na infância até conseguir tocar para grandes públicos. Hoje, acredita que toda influência musical e a vivência que teve quando era criança e adolescente contribuíram para trilhar sua carreira em construção.

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Revista Perfil - Como foi seu primeiro contato com a música? Cintia Portela - Tive uma carga familiar muito forte que ajudou bastante, já que minha mãe sempre cantava e via as serestas sertanejas. Logo novinha comecei a sentir a música em mim. Ganhei meu primeiro violão aos 7 anos de idade, de um tio, e ficava entretida com aquilo, por pura satisfação pessoal, pelo gosto que eu tinha pela musicalidade. Ninguém chegou a me ensinar realmente a tocar, o que eu sei hoje fluiu naturalmente de mim. Revista Perfil - Como foi a transformação desses primeiros passos na infância para um desejo de se tornar profissional?


MÚSICA Cintia Portela - Tudo que eu fazia era muito no meu mundo, eu realmente era uma pessoa tímida. Fui começar a cantar e tocar para os outros, me descobrir realmente como artista, durante a metade da minha graduação em Direito. As pessoas começavam a me indicar para cantar nas reuniões, nos encontros, então todo fim de semana eu acabava cantando e tocando em algum lugar. Foi um momento importante pra mim. Até que eu conheci uma pessoa muito especial, que me viu tocando em um desses fins de semana e gostou bastante da minha voz e do meu trabalho. O Johnny Morello acabou me convidando para fazer uma parceria com ele, eu ficava com a parte sertaneja e ele com o MPB, oferecendo ao público uma apresentação bem completa. Revista Perfil - E como fluiu essa fase de projeto conjunto? Cintia Portela - Foi incrível, eu tenho muito orgulho de ter feito esse roteiro de barzinhos durante quase dois anos - todo 2014 e uma parte de 2015 em diversas cidades da nossa região, não só Teixeira, como Posto da Mata, Medeiros Neto, Nanuque, Itamaraju, São Mateus… As pessoas receberam muito bem o meu trabalho e esse dia a dia, por mais que seja, muitas vezes, cansativo e desgastante, é completamente gratificante. Revista Perfil - Por que deixou esse projeto? Cintia Portela - Por mais que eu amasse isso que fazia, sentia uma necessidade muito grande de avançar e tentar a carreira voltar mesmo para o sertanejo, do meu jeito. O Johnny é uma pessoa maravilhosa, mas, ele também tinha o projeto próprio e suas vontades, precisamos ter muito respeito nesse momento. Porém, foi no meio de 2015 que eu realmente parei com os barzinhos e fui montar uma banda mesmo para fazer shows maiores.

Revista Perfil - Qual foi a grande diferença que sentiu entre o projeto em dupla com voz e violão para carreira solo acompanhada de uma banda? Cintia Portela - Agora eu tenho muito mais estrutura, estou me dedicando completamente à minha carreira. Tenho consultas com a fonoaudióloga e faço aulas de canto, tudo para entregar um resultado ainda melhor para o meu público. E gosto de tocar com banda completa, de ter todos esses sons complementando a voz, inclusive, o acordeão, que é bem característico do sertanejo. Mas, apesar da minha rotina ser diferente, de eu ter um pouco mais de tranquilidade e de as coisas estarem dando certo, continuo a mesma Cintia, sou a mesma pessoa que tocava nos barzinhos.

O sertanejo sempre fez parte de mim, desde a minha infância. Seria muito difícil fugir disso. É o que eu amo.

mais de perto continua, fico depois da apresentação, converso com as pessoas, tiro fotos. Tem vezes que até ainda no palco mesmo. Isso porque faço música para o meu público, é por eles que estou ali e sou muito agradecida pelas pessoas que saem de casa especificamente para ver a minha apresentação, é um sentimento que não tem explicação. Revista Perfil - Qual foi a experiência de show mais memorável que teve desde que começou a carreira solo? Cintia Portela - Muito difícil conseguir especificar, escolher um dia, uma cidade, falar que algum público me acolheu melhor que outro. Todos os shows que fiz até agora foram especialmente importantes pra mim e guardo com carinho cada um desses momentos. Mas, posso ressaltar o show do Wesley Safadão, onde tive contato com um público muito grande, o maior para o qual já me apresentei, foi uma experiência diferente e intensa, nunca vou me esquecer. O meu show de estreia também foi importante, conseguimos lotar a casa e depois disso recebi muitos outros convites. Revista Perfil - Você sempre optou pelo sertanejo, ou, já se aventurou por outros estilos musicais?

Revista Perfil - O contato com os fãs consegue continuar da mesma maneira? Cintia Portela - Quando eu tocava em barzinho, tinha o hábito de amanhecer onde eu tocava, gostava de fazer isso, era uma interação muito gostosa com as pessoas. Às vezes, um pouco cansativa, porque o pessoal acaba pedindo pra gente continuar tocando e cantando, mas esse carinho é o que todo artista quer. Nos meus shows esse contato

Cintia Portela - O sertanejo sempre fez parte de mim, desde a minha infância. Seria muito difícil fugir disso. É o que eu amo. Eu morava em Teixeira de Freitas, mas, passava os fins de semana em Argolo, na casa de meu avô, e tive muito contato com o mato. Eu amo ficar no mato, em contato com a natureza, é pra lá que vou sempre que tenho um tempo de folga. Todos os meus feriados, meus momentos de descanso são lá. E acredito que isso seja refletido no meu trabalho. REVISTA PERFIL

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MÚSICA

Revista Perfil - O seu primeiro CD foi lançado há pouco tempo. Como foi a produção para esse passo na carreira? Cintia Portela - O meu CD é um álbum promocional para que as pessoas possam conhecer o meu trabalho. Lancei no dia 16 de outubro nas redes sociais e em novembro colocamos os exemplares físicos na praça. O interessante e que me surpreendeu positivamente

foi que normalmente as pessoas gostam muito de duas ou três faixas de um álbum, são as que realmente fazem sucesso, mas, a aceitação foi geral, todas as músicas agradaram. Revista Perfil - O que você acredita que gerou essa aceitação tão grande do CD? Cintia Portela - Eu gosto muito de moda de viola, do sertanejo de raiz, e levei

isso pro CD. Mas, não só o que eu gosto, eu coloquei um pouco de cada estilo e as pessoas conseguiram se encontrar nessa combinação. Também contou muito encontrar compositores maravilhosos e fazer essas parcerias, além de um trabalho muito profissional da minha produção. Acredito que quando encontramos pessoas que também são muito comprometidas e fazem seu trabalho com paixão, o resultado é positivo. As músicas estão disponibilizadas em diversos sites e muita gente tem feito o download e gostado. Os pedidos nas rádios também têm crescido e estamos tocando até mesmo em Vitória, na rádio que tem mais audiência no mundo sertanejo. Revista Perfil - Quais são os próximos passos, os planos para 2016? Cintia Portela - Acho que todo artista só quer mesmo cantar, tocar, se apresentar cada vez mais. E é o que vou fazer. Pretendo ter uma agenda bem movimentada este ano e tem novidade boa vindo por aí. Já posso adiantar que estamos planejando fazer os clipes de algumas das músicas do CD, mas, ainda não foi decidido quais serão as faixas. Gostaria muito de filmar algum em Teixeira de Freitas, mas os detalhes ainda não posso contar, é surpresa.

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PATROCINADA

TURMAS PIONEIRAS DA FASB

COMEMORARAM 10 ANOS DE FORMADAS Alunos egressos de administração, marketing, ciências contábeis, turismo e pedagogia celebram a trajetória acadêmica e profissional Por Redação Fotos FASB

Teixeira de Freitas, durante muitos anos, teve poucas opções acadêmicas para seus moradores, que precisavam deixar o município em busca de um curso superior. Esse quadro começou a mudar com a chegada da Faculdade do Sul da Bahia (FASB), que, no segundo semestre de 2001, deu início às aulas de graduação em administração, marketing, ciências contábeis, turismo e pedagogia. A iniciativa das Irmãs Franciscanas do Senhor, que já atuavam na cidade da educação infantil ao ensino médio desde 1989 com o Instituto Francisco de Assis (IFA), ganhou força com os pedidos da própria sociedade. Em 2015, as primeiras 18

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turmas completaram 10 anos de formatura e, em março de 2016, a instituição reuniu alunos, professores e funcionários para celebrar e relembrar os momentos mais marcantes dessa trajetória. Na época da estruturação da instituição de ensino superior, a demanda foi analisada levando em consideração as aspirações dos estudantes e as possibilidades em relação às exigências do MEC. Nelson Motta, diretor executivo da FASB, explica que a área de humanas foi priorizada inicialmente, até por um histórico de educação do IFA, com ênfase nas ciências humanas.

Posteriormente, foi possível implantar também exatas e saúde: “A FASB transformou Teixeira de Freitas em um grande polo de educação, foi pioneira aqui. Quando olhamos para trás, vemos aquele sonho que existia, nosso e dos acadêmicos, agora uma realidade. Os nossos alunos têm grande sucesso profissional dentro e fora do município, com destaque para o curso de direito, um referencial na Bahia, norte do Espírito Santo e leste de Minas Gerais. A sensação é maravilhosa. Já conseguimos graduação e pós lato sensu, nosso próximo passo é trazer pós stricto sensu, mestrado e doutorado”.


PATROCINADA Quem esteve presente durante toda a trajetória da faculdade pode perceber um amadurecimento da sua proposta acadêmica, além do crescimento da infraestrutura e oferta de cursos. O professor doutor Valci Vieira, diretor acadêmico da FASB, atuou como coordenador-pedagógico em 2002, passando no ano seguinte para seu cargo atual: “Esse projeto educacional concebido em 2000 e colocado em prática em 2001 foi aprimorado ao longo desses 14 anos de funcionamento e tenho muito orgulho de fazer parte dessa história. Sabemos que fizemos um bom trabalho quando vemos o egresso inserido na sociedade e no mercado de trabalho, contribuindo para a formação de outros sujeitos sociais e sendo feliz”. Dentre os objetivos da FASB é possível destacar a tentativa de transformação social, o impacto prático na comunidade, para além das questões teóricas, a busca por melhorias na condição de dignidade humana e garantia de uma vida profissional com esclarecimentos no fazer e no ser. “As Irmãs Cristina Alves Ribeiro e Ida Martins Ferreira vieram pra cá a convite do bispo Dom Antônio Zuqueto para atuar no centro diocesano. Depois, trabalharam um tempo na educação pública, até que receberam muitos pedidos dos pais para a criação de uma área particular de qualidade onde pudessem matricular seus filhos sem precisar do deslocamento para outra cidade. O mesmo aconteceu com a FASB, houve essa demanda da comunidade, mais um sonho que realizamos. A instituição tem a marca franciscana, embasada no modelo de vida de São Francisco de Assis, que, mesmo séculos depois de sua morte, continua um marco da paz”, comentou a Irmã Carolina Fontana, coordenadora-geral do IFA.

DEPOIMENTOS DE ALUNOS EGRESSOS E PROFESSORES

ALEX FIGUEIREDO

GEILTON MOREIRA

Graduação em administração com ênfase em marketing e pós em gestão de negócios e pessoas

Graduação em administração

“O grande impacto do curso não foi simplesmente a facilitação de teoria, que muitas faculdades podem oferecer, mas as relações humanas que construímos aqui, os laços que formamos entre os colegas. Nos meus negócios e na minha vida profissional, essa vivência me ajudou a ler melhor as pessoas, isso não tem preço”.

“Eu sou empresário e não tive a oportunidade de fazer um curso superior quando ainda era jovem, como muitos colegas da cidade. Essa foi a chance de me profissionalizar e conseguir aplicar os conceitos na minha empresa, atualmente ela está muito mais estruturada. Também alcancei um grande ganho pessoal nesse período, levo isso para a vida toda”. REVISTA PERFIL

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PATROCINADA

MARIA DE FÁTIMA BITTENCOURT SILVEIRA

MARIA CRISTINA DAL MONTE FIGUEIREDO

Graduação em p edagogia e pós em psicopedagogia e gestão escolar

Graduação em administração com ênfase em marketing e professora de administração na FASB

“Eu já atuava na área de educação no Estado, a graduação veio somar muito mais conhecimento e experiência à minha bagagem. Já tinha vontade e precisão de fazer o curso, a FASB veio para sanar a necessidade de muita gente do município e da região naquele momento”.

“Conquistei com a graduação aprendizado para a minha vida toda em uma área que amo. Desde que comecei como professora aqui, há cerca de 8 anos, tento passar para os meus alunos uma boa visão do mercado e do comércio. É muito gratificante poder vivenciar os dois lados da sala de aula e que pode ser traduzido em grande reconhecimento”.

MARIA DO CARMO LÍRIO

TEÓFILO COELHO

Graduação em turismo

Graduação em Turismo

“Não atuei exatamente na área em que me formei, mas consegui usar muito do que aprendi aqui em minhas experiências profissionais. Além disso, quando viajo, consigo enxergar os lugares de uma maneira completamente diferente, algo que só a graduação poderia me proporcionar”.

“Sou completamente apaixonado pela área e atuo há 12 anos com a mesma dedicação e intensidade. A faculdade foi essencial para a construção de um conhecimento mais aprofundado e seria muito bom ver mais pessoas se profissionalizando e falando do turismo com tanta alegria e paixão quanto eu”.

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NEUMA TIGRE Graduação em ciências contábeis, professora e coordenadora dos cursos ciências contábeis e administração da FASB

“As portas se abriram pra mim depois que me formei, fui muito bem recebida no mercado de trabalho. E ainda há espaço para quem está se formando, digo sempre aos meus alunos que o segredo é buscar aperfeiçoamento constante. Conheço a instituição em suas duas vertentes, como estudante e professora, e enxergo que o curso mudou muito, tem mais estrutura e traz sempre questões atuais. Fico feliz e emocionada em ver tudo isso”.

FASB - Faculdade do Sul da Bahia Endereço: Campus I - Rua Sagrada Família, 120 Bela Vista Campus II - Av. General Salgado Viana, 364 Mirante do Rio | Teixeira de Freitas/BA

Telefone: (73) 3011-7000



LITERATURA

SHERYL SANDBERG

PELO SUCESSO DE TODAS AS MULHERES Foto: Lean In Foundation

Livro da executiva do Facebook estimula mulheres a se posicionarem no marcado de trabalho e almejarem cargos de liderança Por Déborah Araujo, Rio de Janeiro

Na TEDWomen, a empresária apresentou três mensagens - destacadas 22

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em capítulos do livro - para mulheres que querem se destacar em suas carreiras. Ou, simplesmente, se manterem no mercado de trabalho e ainda conciliar com casamento e maternidade: “número um, sente-se à mesa; dois, faça de seu parceiro um parceiro de verdade; e três, não saia antes de sair”. Para Sheryl Sandberg, primeiro, as mulheres têm que parar de se subestimar e se posicionar, negociar por

si mesmas e atribuir seu sucesso a elas mesmas. “Ninguém chega ao escritório do canto [posição de chefia] se sentando na lateral da sala. E ninguém consegue uma promoção sem acreditar que merece seu sucesso ou sem entender seu próprio sucesso”, declarou Sandberg na TedWomen. Um dos exemplos destacados por Sheryl Sandberg, tanto na palestra Foto: Reprodução/TedTalks

“Por que temos tão poucas líderes?” Essa pergunta norteou a palestra de 15 minutos da executiva Sheryl Sandberg, na Conferência TEDWomen em Washington DC, capital dos Estados Unidos, em 7 de dezembro de 2010. A diretora de operações do Facebook - seu cargo é o segundo mais alto da empresa, logo após o do criador Mark Zuckerberg - apresentou ao público informações que mostram que, ainda nos dias atuais, um número ínfimo de cargos de liderança nas grandes empresas e governos de Estado em todo o mundo são ocupados por mulheres - cerca de 20 por cento. Para ela, o problema é que as mulheres estão desistindo de seus empregos fora de casa. Três anos depois da palestra, Sandberg lançou suas reflexões ampliadas no livro “Faça acontecer: mulheres, trabalho e a vontade de liderar” (Lean In: Women, Work and the Will to Lead), publicado no Brasil pela Companhia das Letras.


LITERATURA quanto no livro, é o caso de estudo da bem sucedida executiva Heidi Roizen. Em 2003, um professor da Universidade de Columbia e outro da Universidade de Nova York montaram uma experiência com seus alunos para estudar as percepções de homens e mulheres no local de trabalho. Metade dos estudantes leu o currículo de Heidi e a outra metade leu o mesmo, com uma diferença: trocaram o nome por Howard. Então os professores fizeram um questionário para os estudantes darem suas impressões sobre Heidi e Howard. Segundo a autora, ambos foram classificados como “igualmente competentes (...). Mas, embora os alunos respeitassem igualmente Heidi e Howard, Howard apareceu como um colega muito mais agradável. Heidi, por outro lado, foi tida como egoísta e não era ‘o tipo de pessoa que você contrataria ou para quem gostaria de trabalhar’” (pág. 58). O mesmo perfil com uma única diferença - o sexo - gerou impressões profundamente diferentes sobre a mesma pessoa. Em outras palavras, os homens, em geral, não apenas buscam mais oportunidades do que as mulheres, porém, eles são considerados para as mesmas mais do que elas. Quanto à “tornar seu parceiro um parceiro de verdade”, que vale para todas as mulheres, foca naquelas que querem conciliar carreira e família. Estudos mostram que, em geral, quando uma mulher e seu companheiro trabalham fora e têm filhos, ela realiza duas vezes mais as tarefas domésticas que o homem, e tem o triplo de cuidados com os filhos que ele tem. “Quem você pensa que tem que largar o emprego quando precisar ficar mais em casa?”, questionou Sandberg ao público da conferência. A empresária admite que o mercado de trabalho não é para todas as mulheres, ou, mesmo para todos os homens. Não

há nada de errado em uma pessoa preferir as tarefas domésticas e a criação dos filhos enquanto o parceiro ou a parceira trabalha fora. Mas, também, não é errado buscar conciliar o sucesso profissional e a realização pessoal.

se dois anos antes você não conseguiu uma promoção, se três anos antes você parou de buscar oportunidades, você ficará entediada, porque você deveria ter mantido o pé no acelerador até o momento de ter a criança e, então, tomar suas decisões.”

E o ponto três, “não saia antes de sair” diz respeito, especificamente, a mulheres que pensam em deixar a profissão por conta da maternidade antes de engravidarem ou, até mesmo, antes de encontrarem um parceiro. “O que acontece quando você começa a se afastar sorrateiramente [do crescimento na carreira]?” Sheryl Sandberg explica: “Uma vez que a criança nasce, seu trabalho tem que ser realmente bom para você voltar e deixá-la em casa. Tem que ser desafiador. Porque

O foco do livro e do movimento iniciado pela empresária é para as mulheres que querem ficar no mercado de trabalho. Porém, na sua própria história pessoal e familiar, há exemplos de mulheres que fizeram (ou precisaram fazer) escolhas diferentes por suas famílias e por elas mesmas.

AS MULHERES SANDBERG Sheryl Sandberg nasceu em 28 de agosto de 1969 em Washington, em REVISTA PERFIL

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LITERATURA

A avó materna de Sheryl, nascida em uma família pobre na periferia de Nova York, superou a crise financeira dos anos 1930 e a cultura da época, não só se formando no ensino médio como também em uma universidade. Parou de trabalhar quando casou, mas, assumiu as rédeas quando a loja do marido passou por dificuldades. “Ela voltou a mostrar seu tino para os negócios na casa dos quarenta anos”, declara a autora. Por sua vez, sua mãe chegou a iniciar o doutorado em literatura francesa, se casou e, quando engravidou de Sheryl, abandonou o curso. “Considerava-se sinal de fraqueza que um marido precisasse da ajuda da esposa para sustentar a família”, conta a autora. Apesar de ter crescido em um lar tradicional, seus pais tinham as mesmas expectativas em relação à Sheryl, à sua irmã e seu irmão. “Fui criada com a ideia de que as meninas podiam fazer tudo o que os meninos faziam e que todos os caminhos profissionais estavam abertos para mim”, confirma. Da mesma forma, ela declara que deseja que seu filho tenha a escolha de contribuir completamente no mercado de trabalho ou em casa, e que sua filha tenha a escolha de não apenas exceder, mas, ser admirada por suas realizações.

FAZENDO ACONTECER NO BRASIL A Fundação Lean In foi criada por Sheryl Sandberg em 2010 com o foco em estimular todas as mulheres para atingirem suas ambições. No Brasil, esse movimento também se faz 24

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Foto: Sebastien Micke/Paris Match - Contour/Getty Image

uma família de origem judia, a mais velha de três filhos, com uma irmã no meio e um irmão caçula. Se formou em administração pela renomada Universidade de Harvard, é mãe de um casal e viúva do empresário Dave Goldberg (1967-2015).

presente, principalmente no meio empresarial. “A Lean In estimula pessoas do mundo inteiro a formarem círculos através dos quais elas possam interagir, no caso, as mulheres. Não que o movimento seja restrito a mulheres, mas, elas são o foco maior”, explica a representante do Lean In Brasil Ana Carolina Garcia, bióloga e funcionária da Kraft Heinz Company, em São Paulo. Os círculos são pequenos grupos que se encontram regularmente pela internet ou de forma presencial, “o que é o mais indicado para estreitar o relacionamento entre as pessoas e adquirir confiança”, ressalta Ana Carolina. Qualquer pessoa pode criar ou ingressar em um círculo, a partir do acesso ao site da Lean In, no qual também há material de apoio (em Inglês) - além do livro da Sheryl Sandberg. Uma vez formados, os círculos se reúnem, no Brasil, geralmente em ambientes corporativos ou até mesmo dentro das próprias empresas. Como no Brasil ainda não há uma sede oficial da Lean

In “que dê um suporte diferenciado específico para uma cultura da América Latina, por exemplo, então os temas abordados no Brasil são os mesmos no movimento Lean In geral: como que a mulher consegue se desenvolver em um ambiente corporativo? Como você lida com a questão salarial? Como você aprende a se impor mais sem ter medo? Onde você está errando, sendo mulher, abrindo mão de certas coisas que não deveriam ser, em relação a um homem? Como que você se impõe em cargos de alta gerência, uma vez que sabemos que o número de mulheres nessas posições é muito menor? Como você consegue lidar com gravidez e demandas da casa sendo uma mulher num ambiente corporativo?”, complementa a representante da Lean In Brasil. Para saber mais informações ou iniciar um grupo ligado ao Lean In Brasil, envie um e-mail para: leaninbrasil@gmail.com Ou pela página no Facebook: facebook.com/leaninbrasil


LITERATURA

RACHEL DE QUEIROZ:

MULHER-SÍMBOLO DE LUTA E PERSISTÊNCIA Prof. Dr. Valci Vieira dos Santos

“Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas” Março é um mês inspirador, especialmente porque nele comemoramos o Dia Internacional da Mulher. No dia 8 do referido mês, de um modo geral, desfilam-se espíritos festivos para dispensar à figura feminina todas as honras que ela merece. Entretanto, não podemos perder de vista, muitas vezes por conta do caráter comercial, o real motivo dessas comemorações, cuja data nos remete a dois importantes fatos históricos, e, por isso mesmo, requer de todos nós reflexões permanentes: a manifestação de operárias do setor têxtil nova-iorquino e o incêndio de uma fábrica, evento ocorrido também na cidade de Nova Iorque. Tais acontecimentos marcaram o início de sucessivas lutas das mulheres em busca de reconhecimento e igualdade de direitos. Como parte de nossas homenagens a essas mulheres trabalhadoras, que não mediram esforços para que suas vozes ecoassem e ressoassem, assim como de tantas outras que têm ocupado honradamente espaços, nas mais diferentes instâncias sociais, dando mostras cabais de sua capacidade transformadora, destacamos a figura da mulher operária-literata-escritora-poetisa. Ao caminharmos pelas trilhas que nos levam a conhecer a vida e obra de escritoras brasileiras, operárias e artesãs da palavra, uma miríade de nomes salta aos nossos olhos. O espaço de escrita, aqui configurado, infelizmente, não nos permite visitá-las todas, por isso, escolhemos uma, em nome da qual, as demais todas são homenageadas: a nossa RACHEL DE QUEIROZ. Ao retomarmos a epígrafe “Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas”, de autoria de Rachel de Queiroz, vemos o quanto essa artesã da palavra pautou sua vida pessoal e literária, comprometida com uma história de lutas, em defesa de questões de ordem social. Que o diga a publicação de seu livro “O Quinze”, de 1930, lançado quanto tinha apenas vinte anos, e responsável pela sua projeção nacional. O romance mostra a luta de um povo sofrido - o povo nordestino -, eterna vítima da seca e da miséria.

A exemplo das operárias revolucionárias nova-iorquinas, vítimas de perseguições e incompreensões, simplesmente porque estavam em defesa de seus direitos, Rachel de Queiroz também sentiu na pele as marcas do preconceito e injúrias. Acusada de ser comunista, chegou a ser presa, em 1937, na cidade de Fortaleza, Ceará, tendo, inclusive, exemplares de seus romances queimados. Mas, a veia transgressora da romancista, tradutora, jornalista, escritora, cronista e dramaturga não se quedou; ao contrário, ganhou força, se oxigenou com sangue que a impulsionou a seguir em frente. Autora de ressonância na ficção social nordestina, tornou-se a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. E os prêmios se sucederam ao longo da carreira. Assim, Rachel de Queiroz é essa mulher-símbolo de lutas, de persistência. Sua escrita literária não perdeu de vista seu compromisso com a política social. Seu alto grau de consciência coletiva não permitiu que simplesmente ficasse passiva diante de um cenário nacional que se desenhava cada vez mais complexo e hostil à figura feminina. Por isso, nesse dia em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, com toda justiça, nossas honras vão para ela. Mas, vão, também - é claro!-, para todas as mulheres, de todas as classes sociais, de todas as profissões: mulher-mãe, mulher-trabalhadora, mulher-guerreira, mulher-combativa, enfim, todas as MULHERES!!

Prof. Dr. Valci Vieira dos Santos: Professor e Diretor Acadêmico da Faculdade do Sul da Bahia-FASB Professor da Universidade do Estado da Bahia-UNEB

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LITERATURA Foto: Lea Crespi/LUZphoto

“AS REDES SOCIAIS DERAM VOZ AOS IMBECIS”

O filósofo, semiólogo e escritor italiano Umberto Eco morreu aos 84 anos, deixando um grande legado intelectual Por Redação 26

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LITERATURA

Sociológica Europeia, da qual faziam parte Edgar Morin, Jean Baudrillard e Roland Barthes, por exemplo. Dissociaram-se das críticas funcionalistas e da Escola de Frankfurt com ideias menos negativas da comunicação em massa.

Não demorou para que seu brilhantismo ficasse conhecido no mundo inteiro, publicando “O Desenvolvimento da Estética Medieval” em 1959 e mudando os rumos da crítica da arte no século 20 com dois textos essenciais, “Obra Aberta”, de 1962, e “Apocalípticos e Integrados”, de 1964. Essas e outras obras, como “A Definição da Arte”, tornaram-se referência no entendimento da história da estética, principalmente tratando-se das relações entre a filosofia da arte, a linguística e a comunicação em massa na segunda metade do século passado. Nos anos 1960, Umberto consolidouse como um grande nome da Teoria da Comunicação, quando integrou a Escola Foto: Jornal da Madeira

Eco já tinha quase 50 anos quando começou a escrever romances, após uma bem sucedida carreira acadêmica. Já era autor de vários livros de não ficção e de ensaios quando decidiu buscar novos desafios. “O nome da rosa”, publicado em 1980, é um de seus romances mais conhecidos, uma combinação de semiótica, ficção, análise bíblica, estudos medievais e teoria literária. Situado em 1327, conta a história do frei Guilherme de Baskerville, enviado para investigar o caso de um mosteiro franciscano italiano cujos monges são suspeitos de cometer heresias. A obra virou filme do mesmo nome, dirigido por Jean-Jacques Annaud e estrelado pelo ator Sean Connery. Entre suas obras mais conhecidas também estão os romances “O Pêndulo de Foucault” (1988) e “O Cemitério de Praga” (2010), além dos ensaios “A Estrutura Ausente” e “História da Beleza”. Seu último romance, “O número Zero”, foi publicado no ano passado. Ainda que muito crítico, não abandonou sua paixão pela informação e pelo jornalismo (começou em 1955 como assistente em programas culturais da rede de televisão RAI). Ao longo da sua vida, manteve-se um leitor assíduo da mídia italiana e internacional e declarava-se fiel

Foto: Divulgação

Foto: The Guardian

Em seu país, Umberto Eco era conhecido como o homem que sabia tudo, devido à extensão de assuntos que conseguia discutir e escrever sobre. Nascido na cidade de Alexandria, no dia 5 de janeiro de 1932, morreu no dia 19 de fevereiro em sua casa em Milão, após uma luta contra o câncer. Seu pai queria que ele fizesse faculdade de direito, mas, ele acabou entrando na Universidade de Turis para estudar filosofia medieval e literatura. Anos depois, tornou-se professor dessa mesma faculdade. Sua formação acadêmica diz muito sobre ele, discípulo do grande filósofo Luigi Pareyson, defendeu uma tese ao fim dos estudos sobre Thomas Aquino, que seria publicada dois anos depois com o nome “O Problema Estético em Thomas de Aquino”.

à ideia de Hegel de que o jornal era a “reza cotidiana do homem moderno”. Até por isso, o escritor lamentava a pulverização da informação nas novas tecnologias e, principalmente, a superficialidade de alguns veículos. Militante de esquerda, não foi um escritor trancado em sua torre de marfim, mas, sua abertura não o impediu de ter um olhar crítico para com a evolução da sociedade moderna: “As redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam nenhum mal para a coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”. O velório do escritor, que aconteceu no castelo Sforzesco, terminou com muita emoção e sob aplausos de muitos admiradores. O neto ressaltou o afeto e a generosidade de Umberto: “Querido avô, queria fazer uma lista com todas as coisas que fizemos juntos nestes 15 anos, mas ela seria muito longa. Estou orgulhoso de você e é uma grande coisa ter um avô assim. Obrigado por suas histórias”. Muitas personalidades lamentaram a morte do escritor, como a ministra italiana da Educação, Stefania Giannini: “Eco é o símbolo daquele classicismo inovador, do qual nós temos tanta necessidade, e do qual nosso país é líder no mundo. Nós perdemos um professor, mas não perdemos suas lições. Caríssimo professor Eco, caríssimo Umberto, hoje não é um adeus”. REVISTA PERFIL

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EDUCAÇÃO

O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO, ECO E OS IMBECIS Por professora doutora Yolanda Aparecida de Castro Almeida

Em junho de 2015, em um evento onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa, o italiano Umberto Eco declarou que as mídias sociais dão voz a uma legião de imbecis. Em janeiro de 2016, o ministro da Educação Aloizio Mercadante, ao conceder uma entrevista coletiva, apontou que 53.032 pessoas obtiveram zero na redação do Enem. Este artigo não objetiva defender a asserção de Eco, sequer julgar os resultados do Enem. Para ajuizar a afirmação sobre os imbecis, seria necessário, no mínimo, saber em que contexto ocorreu este enunciado. Igualmente, para se avaliar os números do hipotético fracasso escolar, seria essencial uma série de informações - e a carência destas tornaria a análise infecunda. Este artigo tenciona mostrar um dos motivos dos zeros nas redações e porque ser imbecil não é difícil. Quando, normalmente nos meses de maio ou junho, a mídia anuncia as inscrições para o Enem, cinco, seis milhões de brasileiros se inscrevem. Deveria ser lógico dizer que estes inscritos leram o edital, viram as competências, habilidades e os conteúdos que serão abordados. Infelizmente, muitos destes não sabem ao menos que este edital contém tais informações. Nos dias em que ocorrem o Enem, tão logo passem as duas horas do início do exame, quando os candidatos podem ser liberados, as salas se esvaziam rapidamente. Muitos saem reclamando que nunca sequer viram os assuntos cobrados. Diante deste quadro, não seria leviano afirmar que estes contaram apenas com a sorte. Aqui cabe a palavra imbecil. Vocábulo que, à princípio, soa como ofensa. Porém, a intenção não é insultar. Ser imbecil em algo é ignorar este algo, portanto, é inócuo opinar sobre o que não se tem conhecimento. Logo, não se trata de ofender o caráter do cidadão, que pode, inclusive, ser excelente pessoa. O problema não é ser imbecil. É não ter consciência da imbecilidade. Em se tratando do Enem, quando o participante tem consciência de sua ignorância, torna-se menos difícil conseguir capacitar-se para o exame. O primeiro passo é ler no edital os conteúdos que serão cobrados. O segundo, conceituar cada conteúdo. Exemplificando, são cobrados os temas capitalismo e o socialismo na área de ciências humanas. Diante destes conteúdos, a primeira coisa a se fazer é conceituar 28

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cada um. Em seguida, comparar estas duas formas de organização da produção, relacionando-as e buscando o que possuem em comum e o que as distanciam. E, finalmente, depois de ver as diferentes experiências históricas destes dois sistemas, emitir sua opinião. Porém, muitos invertem a ordem do processo da aprendizagem. É necessário entender como se aprende. É importante atinar que o cérebro necessita sequencialmente conceituar, relacionar, para, finalmente, compreender. Outras fórmulas podem até ser possíveis, mas, são muito mais dolorosas. Considerando o que foi exemplificado, pode-se fazer uma relação da dissertação argumentativa cobrada no Enem com a opinião de uma pessoa diante de determinado assunto. Numa redação, primeiro é necessário apresentar o tema e o recorte que se fará, mostrando que a intencionalidade não é esgotar sobre o assunto. No desenvolvimento da redação, são apresentadas, de maneira coerente, as ideias que defendem a tese. E, por fim, deve-se retomar o que foi exposto no início, junto com os principais argumentos, confirmando o que foi evidenciado. Da mesma forma, deveria agir uma pessoa diante de determinado acontecimento, ao emitir sua opinião: ter ciência do que fala, ter argumentos sólidos, para, finalmente, opinar. Infelizmente, muitas vezes nos apropriamos de algo que desconhecemos. Opinarmos sobre um assunto que estranhamos ou dominamos mal, e, ainda, inflexivelmente, acreditando que estamos certos, nos faz idiotas. Reconhecer nossa ignorância (para não dizer imbecilidade) diante de algo, pode nos fazer muito bem. “Calçar as sandálias da humildade”, nos torna menos “se sentindo ofendido” e mais sábios.

Yolanda Aparecida de Castro Almeida: é Professora da Universidade do Estado da Bahia, doutora em tratamento da informação espacial pela PUC/Minas. Mestre em tecnologia ambiental. Pedagoga, geógrafa e socióloga.


EMPODERAMENTO

“CABELO DURO?

DURO É SEU RACISMO!”

O padrão de beleza hegemônico é o branco e europeu, mas, existe um processo de empoderamento dos negros, que se reconhecem em sua ancestralidade e valorizam suas origens Por Mariana Miranda

“(...) Meu cabelo enrolado, todos querem imitar, eles estão baratinados também querem enrolar; você ri da minha roupa, você ri do meu cabelo, você ri da minha pele, você ri do meu sorriso(...)”. Essa canção que você deve estar cantarolando chama-se “Olhos Coloridos”, ficou conhecida na inconfundível voz grave e potente de Sandra de Sá, no início dos anos 80. Macau, o autor da música, a compôs na década de 70, após ter sido preso injustamente alvo de racismo por policiais militares. Se a gente for parar para refletir, mesmo que a inspiração do compositor e o contexto em que essa célebre canção foi elaborada fossem desconhecidos, não seria difícil compreender que se trata de uma denúncia contra o racismo, tema que dialoga diretamente com a discussão que aqui iremos traçar. O racismo é uma temática muito presente no nosso cotidiano e vem sendo

discutida, há muito tempo, sobretudo por que, se há uma negação do problema, fica ainda mais difícil ir em busca de soluções. Entretanto, há um discurso que se perpetua, atravessando gerações, de que “não existe racismo”, de que “somos um país miscigenado”, “somos todos iguais”, só que esses argumentos se tornam totalmente desprovidos de veracidade, visto que não é possível vedar os nossos olhos diante dos acontecimentos que nos cerca, do que nos é relatado a todo momento, seja através dos noticiários, das redes sociais, das vivências das pessoas em situações vexatórias e até desumanas.

movimentos representativos, comprometidos e engajados com as lutas em diferentes espaços e com um leque de possibilidades, que é a estética negra. Enunciando meu ponto de vista, entendo que a estética não é puramente estética. Mas, o que quero dizer com isso? A estética está para além da beleza, ou seja, ela imprime uma luta muito forte, carregada de valores, significados.

E para ilustrar um pouco as diversas formas do racismo se manifestar, vou, de forma breve, me ater a uma questão que não surgiu agora, mas que, atualmente, tem ganhado cada vez mais força, rendendo comentários, provocando debates dos mais distintos lugares, com REVISTA PERFIL

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EMPODERAMENTO Nós sabemos que o padrão de beleza hegemônico é o europeu, o branco, logo, por muito tempo se incutiu na cabeça do negro uma renúncia aos seus traços, às suas características, que, não eram vistos como sinônimos de beleza, e, para isso, se referenciavam nos padrões dos brancos. Essa concepção construída socialmente já se fixou na nossa cultura, e não é do dia pra a noite que ela irá se romper. Portanto, é preciso ter uma perspectiva processual, deste modo, podemos observar permanências e rupturas, os avanços e recuos. Apesar das permanências, é possível perceber que as discussões avançam, vão se consolidando, e há uma troca de experiências entre as pessoas, que se motivam, conversam, criticam, militam e isso tem repercussão. Percebemos o empoderamento dos negros e das negras, que se reconhecem por meio de sua ancestralidade, valorizando suas origens, suas heranças, entendendo a importância, o vigor, a beleza da sua identidade. Um lugar muito importante que se tem disseminado muitas dessas ideias são as redes sociais, as quais têm contribuído para viabilizar essa comunicação, aproximar realidades, alcançar mais pessoas. Há uma série de blogs, páginas, grupos, coletivos que se mobilizam compartilhando dicas,

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• REVISTA PERFIL

O TURBANTE TEM FUNÇÃO IDENTITÁRIA E CULTURAL

sugestões, questionamentos, um universo de informações. É possível perceber o efeito do olhar combativo ao racismo, dessas desconstruções estéticas quando vemos a quantidade de pessoas que estão deixando de recorrer a processos químicos que alisam os cabelos para utilizar seus cabelos naturais - sejam eles crespos ou cacheados - sem se preocupar em abaixar o volume, muito pelo contrário, querem mostrar o seu black power, e se orgulham disso. Bem como a utilização de adornos como joias, indumentárias, turbantes, que fazem parte da cultura

oriental, africana (que aqui é o nosso foco), além de ser símbolo de beleza, de moda, tem funções indentitárias, hierárquicas, distinção social, valores religiosos, políticos e culturais. Embora haja todo esse fortalecimento da luta em prol da valorização, da aceitação, a canção relatou algo muito recorrente, que é a situação de preconceito contra a pele negra, contra a maneira como as pessoas crespas e cacheadas utilizam seu cabelo, contra a suas roupas. Só que, de forma inteligente e atemporal, o compositor narrou também que “o cabelo enrolado todos querem imitar”, e isso


EMPODERAMENTO MC SOFFIA

nos fornece embasamento para pontuar um questionamento de muitos negros, que é a chamada apropriação da sua cultura. Existe uma reivindicação muito forte por parte de alguns negros e negras por serem hostilizados com xingamentos e com o discurso de ódio. Ofensas como: “cabelo de bombril”; “cabelo duro”; “só podia ser preto” “essa preta parece uma macumbeira com esse pano na cabeça” são comuns. Entretanto, podemos observar que, a partir do momento que o branco adere, por exemplo, ao uso do turbante, a ótica se modifica e essa indumentária se torna mais bonita, mais elegante, fashion, sendo vista apenas como modismo, esvaziando o sentido. Desconhece-se que, por trás de um adorno, existem histórias, resistências, identidades, lutas. Para exemplificar, recentemente houve o baile de carnaval da Vogue com o

tema África Pop, que foi bastante criticado pela maneira como os brancos se apropriaram da cultura africana e a representaram de maneira caricata, e pelo número reduzido de negros e negras que foi convidado para a festa. As opiniões se dividem, há quem discorde que atitudes como o baile da Vogue seja apropriação cultural, e apontam um retrocesso, um pensamento altamente conservador restringir a utilização de determinadas práticas culturais apenas para um grupo. Eu, enquanto negra, acredito que temos que continuar lutando, questionando, sem permitir que a invisibilidade social nos vista, nos cegue, nos inferiorize, porque nossa cultura é representatividade, não podemos viver assombrados pelo estigma da nossa cor, estigma que nos colocaram. Somos livres com nossa beleza, nossa intelectualidade, nossa ancestralidade e merecemos respeito.

MARIANA MIRANDA

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DISTANTES, DESIGUAIS E DUBLADOS

Salas de cinema brasileiras estão mal distribuídas no interior e estão deixando de lado os grandes filmes em suas versões originais

Foto: Fer Gregory/ Shutterstock

Por Eric Andriolo, Rio de Janeiro Fotos Divulgação


CINEMA


CINEMA O MENINO E O MUNDO

O cinema fascina os brasileiros desde sua invenção. O primeiro cinematógrafo (o aparelho inventado pelos irmãos Lumière que deu origem ao cinema) aportou no país em 1898, nas mãos de Affonso Segretto. O imigrante italiano se tornou o primeiro cineasta brasileiro ao filmar “Uma vista da Baía de Guanabara”, captando as imagens em movimento do Rio de Janeiro. O filme era diferente daquilo que conhecemos hoje nas salas de cinema: mudo, preto e branco e, como todas as películas de sua época, tinha baixa resolução. A indústria cinematográfica avançou muito nesses 118 anos, mas uma coisa insiste em permanecer a mesma. O cinema avançou muito pouco litoral adentro, partindo da Baía de Guanabara. Não se afastou das capitais e ainda não se espalhou por todo o país, deixando uma enorme quantidade de brasileiros sem acesso à sétima arte. Onde há acesso, ainda há pouca variedade de filmes, e onde há filmes, 34

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muitas vezes não existe uma única cópia com o áudio original dos atores nas telas. Apenas versões dubladas. Os últimos dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) em seu informe de acompanhamento de mercado mostram que o país fechou 2015 com 3.013 salas de exibição em todo o território nacional. O número não chega ainda perto da quantidade de municípios: são 5.570. É preciso lembrar que a maioria dos cinemas tem ao menos duas salas (só 194 têm apenas uma) e que eles não estão espalhados uniformemente pelo território nacional. Quase um terço de todas as salas de exibição (995 salas) estão concentradas apenas no estado de São Paulo. O segundo estado é o Rio de Janeiro, com apenas 354, e Minas Gerais fica em terceiro lugar, com 254. Em contraste, o Acre tem cinco salas para seus 22 municípios. Tocantins têm 13 salas para 139 cidades e Roraima, que

possui 14 telas, poderia considerar essa quantidade satisfatória para seus 15 municípios se as salas não se concentrassem na capital. Há mais de 10 salas apenas em Boa Vista. “Isso afeta a cultura cinematográfica das pessoas, porque causa dependência da televisão aberta para assistir filmes, que são, em sua maioria, repetidos e com temáticas pouco diversificadas”, disse o dr. Jonathan Molar, que é estudioso do cinema latino-americano, além de historiador e doutor em Educação. “Não ter um cinema na sua cidade ou ter um com poucas salas reflete na ausência de opções culturais e de entretenimento, além do alto custo dos ingressos. Isso impede que a população social e economicamente vulnerável tenha acesso”, continuou. Se o Brasil vai mal no que diz respeito à quantidade de salas de exibição, é porque houve melhora em relação


CINEMA aos últimos anos, nos quais a situação era ainda pior. Em 2008, o país tinha 2.278 salas. Em 2014, já eram 2.833. Mesmo assim, esse crescimento também acontece de forma desigual. No ano passado houve 298 aberturas ou reaberturas de salas de cinema, sendo que 98 - novamente quase um terço - foram em São Paulo, que foi seguido mais uma vez pelo Rio de Janeiro (43 novas salas) e Minas Gerais (20). A Ancine disse à Perfil em nota que o Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual tem como um de seus objetivos o “aumento do parque exibidor” e que hoje há uma sala para cada 68 mil habitantes, enquanto há 5 anos essa razão era de 89 mil habitantes por sala. A outra prioridade do programa é o fortalecimento das distribuidoras brasileiras independentes, que hoje distribuem quase todos os filmes brasileiros e cerca de 80% dos filmes estrangeiros, respondendo por “entre um quarto e um terço da bilheteria anual no país”.

STAR WARS

DIVERTIDA MENTE

DISTRIBUIÇÃO TAMBÉM SOFRE Mas, a distribuição dos filmes pelo país também é vítima de uma realidade desigual, e não apenas na quantidade de filmes estrangeiros, que supera, em muito, a de filmes nacionais, mas na quantidade de salas de filmes, mesmo que de alta qualidade, conseguem alcançar. A Perfil fez uma pesquisa com as maiores empresas distribuidoras de filmes para descobrir se os indicados ao Academy Awards (o Oscar) de 2016 conseguiram alcançar os brasileiros. E os resultados mostram que os 32 filmes selecionados pela Academia nos Estados Unidos como sendo os maiores, melhores, mais bem produzidos, alcançaram, em média, cerca de 180 salas cada. A distribuição é altamente desigual. Filmes aclamados, mas de menor apelo, ficaram para trás. Ganhador do Melhor Filme, “Spotlight: segredos

PERDIDO EM MARTE

revelados”, que relata a história real de um grupo de jornalistas que tenta desmascarar um esquema de estupro de crianças na Igreja Católica só alcançou 60 salas em todo o país, segundo a Sony Pictures. Já outro indicado à mesma estatueta,

“Perdido em Marte”, alcançou 500 salas, de acordo com a Fox Filmes do Brasil. Ainda assim, os dois estão muito atrás do blockbuster “Star Wars: o despertar da força”, que passou em 1.300 telas em todo o país, sendo o filme mais distribuído entre REVISTA PERFIL

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CINEMA os indicados, à frente de “Cinderela” (900) e “Divertida Mente” (859). Todos os três foram distribuídos pela Disney, e apenas “Divertida Mente” concorre a um dos grandes prêmios, sendo indicado a melhor animação. Em contraste, um dos maiores competidores por esse prêmio, a animação brasileira “O menino e o mundo” só havia passado em 27 salas até a última semana de fevereiro, quando a pesquisa foi realizada. Os dados foram passados pela distribuidora Espaço Filmes. Assim, com a distribuição limitada, o Brasil não assistiu seu representante nos Oscars.

“O cinema é uma comunicação para as massas e as grandes bilheterias acontecem naquelas obras que vão agradar a boa parte da população. Os filmes indicados ao Oscar normalmente não têm uma linguagem que todos vão entender”, explicou Jonathan Molar. Ele ressalta que o público em geral acaba rechaçando grandes obras porque elas não correspondem à expectativa das superproduções hollywoodianas: “Filmes de heróis ou com temas mais juvenis, como a saga Crepúsculo, conseguem vender ingressos rapidamente, porque a linguagem é muito mais

simples. Se olharmos “Gravidade”, por exemplo (vencedor de sete Oscars em 2015, incluindo Melhor Diretor), o cenário muda, observei na época que muitas pessoas achavam chato, parado, não conseguiam olhar por outro ângulo. Quando fui assistir “O Regresso” ((que venceu como Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Fotografia)), ouvi muitos comentários de pessoas que não estavam gostando do filme, esperavam mais movimentação, mais diálogos, e o que acontece com o protagonista é uma linguagem mais corporal, precisamos ler suas expressões. Para o grande público, isso dificulta”.

Fonte: ANCINE

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CINEMA original, com a tradução ele tende a ficar engessado, chato, porque mudam demais as palavras e expressões. Realmente não gosto”, disse Thiago, que já desistiu de comprar o ingresso por conta do problema, e precisou procurar em outro lugar a experiência de assistir o que queria: “Já deixei de ir ao cinema diversas vezes por não achar a opção legendada aqui. Quando viajo para uma cidade maior, às vezes, consigo assistir ao filme que queria lá”.

SPOTLIGHT

O REGRESSO

O DOMÍNIO DO ÁUDIO DUBLADO Hoje, quando buscamos um filme em DVD, blu-ray ou em serviços de streaming, estamos acostumados a escolher livremente nossa preferência de áudio. O original, com ou sem legendas, ou o dublado. No entanto, a ida aos cinemas está deixando de ter essa opção em diversas regiões do país. É mais comum principalmente no interior, onde já há poucas salas de exibição, e onde, muitas vezes, o mesmo filme de alta circulação ocupa a maior parte dos horários. Teixeira de Freitas é uma das muitas cidades brasileiras que, por anos, abrigou apenas um cinema, no centro da cidade, com duas salas. Mas, desde 2014, quando o complexo

passou por uma reforma para modernizar os equipamentos, os filmes com áudio original foram abandonados. Mesmo com a chegada de um segundo cinema, na BR-101, em 2014, a situação não mudou. As quatro novas salas da cidade também exibem exclusivamente filmes dublados, deixando a população sem poder de escolha. Morador de Teixeira de Freitas, Thiago Anselmo, de 23 anos, é uma das pessoas que ressentem a falta de opções. Jornalista, ele reclama, principalmente, da qualidade das dublagens, e diz que prefere assistir os áudios originais, com legendas: “O grande problema da dublagem é a qualidade desse serviço, que normalmente é muito ruim. Se um personagem é muito descolado no

Mas, nem todo mundo compartilha dessa indignação. Boa parte do público aprova a presença dos títulos dublados. Um desses é o radialista Rafael Nunes, de 27 anos, que diz gostar de ambos os estilos: “Depende do gênero. No caso das comédias, prefiro dublados porque acho que as vozes brasileiras são as melhores, nos filmes do Eddie Murphy, por exemplo, a voz dublada é muito melhor que a original. Já se for ação, acho que a dublagem acaba perdendo pouco a qualidade, os efeitos sonoros não parecem os mesmos pra mim, por isso prefiro ver legendado”. “O cinema é um empreendimento e atende às demandas do público. Isso não acontece simplesmente aqui em Teixeira de Freitas, é uma tendência geral em nosso país”, afirmou Jonathan Molar, que diz apreciar os dois tipos de exibição e “não deixa de assistir por causa disso”. Mesmo assim, ele ressalta que a predominância da dublagem no mercado brasileiro pode ser reflexo da pouca familiaridade do público com a leitura: “Enxergo a questão da dublagem hoje como um problema da leitura e compreensão de texto. Muitas pessoas não conseguem acompanhar com facilidade as imagens e ainda ler e entender o que está acontecendo, por isso rejeitam os legendados”, concluiu. REVISTA PERFIL

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DIREITO

DO PRINCÍPIO DO ACESSO

UNIVERSAL AOS CARGOS PÚBLICOS Por Dr. Leonardo Santos Vieira Coelho

Do republicanismo emerge a igualdade entre os integrantes de um Estado, de modo que, nesta forma de governo, ao agente público não é dado dispensar tratamento distinto, de regra, a qualquer um do povo. As exceções autorizadas pelo regime constitucional, em verdade, antes de voltar-se à realização de odioso privilégio, visam ao aperfeiçoamento da chamada igualdade material ou efetiva. Há, nesses casos, ação estatal dirigida à desequiparação dos desiguais, na medida de sua desigualdade, para que, dando-se patrimônio jurídico ao marginalizado, este, de alguma forma, tenha a mesma liberdade individual atribuída aos demais integrantes do corpo social. No campo da competência de criar e preencher os cargos públicos, ao agente público não se dá o dever-poder de nomear quem quer que seja a seu livre alvedrio. Efetivamente o sistema não poderia dar ao agente estatal um verdadeiro cheque em branco, para que, a seu exclusivo talante – arbítrio – pudesse investir nos cargos públicos pessoas sem as necessárias condições para desempenhar o mister sacramentado. Primeiro deve distinguir-se as diversas funções públicas, para se concluir com assomos de certeza e definitividade que o agente público pode desempenhar função técnico-científica ou política. Não existe, aqui, espaço para outro grupo de funções. Se o indivíduo exerce função pública, tem-se que o faz debaixo dessas premissas. Nesse aspecto, é técnica a função sempre que acorrer ao agente uma opção entre os diversos meios de que tem em mãos, a propósito de determinadas finalidades. Assim, percebe-se que a maior parte das atividades administrativas se desenvolve debaixo de expedientes técnico-científicos, na medida em que ao agente, nesses casos, se dá a seleção de meios para atingir determinadas finalidades previstas em lei. A eleição dos meios é atribuída ao titular do cargo, que o faz com adminículo no conhecimento. Não importa o nível de complexidade da técnica ou ciência a empregar-se, que isto não lhe retira sua natureza essencial. Basta evocar as graves 38

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funções dos médicos, engenheiros, juízes, advogados, motoristas, e, enfim, toda a gama de atividades burocráticas desempenhadas pelo Estado. Trata-se da maioria amplamente prevalecente, muito embora a prática canhestra tenha indevidamente politizado o que não se reveste desta natureza. Relativamente às atividades técnicas, diz-se que o agente atua de maneira inadequada sempre que seleciona meios incompatíveis com a finalidade prevista na regra de competência. Cabe ao médico a escolha de um procedimento cirúrgico ou ao advogado público a opção de uma linha de raciocínio a ser expressa num parecer. Nesses casos, o político eleito não tem condições de fazer a nomeação, simplesmente porque ele, como o povo, não têm conhecimentos técnicos bastante para valorar criteriosamente a função. Para dizer-se qual o cidadão merecedor do cargo, obviamente, a lei estabelece o processo de concurso público de provas, não cabendo à autoridade que nomeia a avaliação acerca do melhor agente público na espécie, assim como não calha atribuir isto ao povo. É o concurso público quem o determina, segundo os critérios que adota e nos moldes do programa científico expresso no instrumento de convocação dos candidatos (edital). Feliz a frase de Norberto Bobbio, para quem, “em se tratando de verdades é perigoso deixar a decisão com a maioria”, que pode, teimosamente, deixar de fazer ciência para raiar a demagogia. A observação não deve provocar qualquer assombro, já que os integrantes do povo, chamados para o voto, não o fazem na condição de especialistas em área do conhecimento, porém, na condição de originais titulares do poder político. O conhecimento, por definição, é próprio de uma parcela dos cidadãos. A representação política, suposto que não se manifeste infensa a certo refinamento intelectual do cidadão eleito, é toda ela voltada à consideração de uma sensibilidade do governante, que em nada diz respeito com o conhecimento sedimentado pela ciência ou aperfeiçoado pela técnica. Este mesmo governante soberanamente elevado a essa condição há de agir com apoio de uma Administração Pública profissionalizada, formada maciçamente por


DIREITO cidadãos selecionados pelo mérito, sendo o sabor do governante, em casos tais, simples elemento deturpador das boas práticas administrativas. De outro lado, a função política propriamente dita, ou seja, os casos em que se exigem escolhas políticas do Administrador, é compatível, sim, com a discricionariedade da competência de nomeação, na medida em que nesta o executor das leis, tem, de fato, opção válida a fazer, cabendo-lhe selecionar o cidadão maiormente compatível com a intenção popular expressa no voto. Nesses casos, em consonância com o plano de governo apresentado na campanha eleitoral, ao agente político eleito é dado o dever-poder de implementar o seu projeto, para tanto se servindo de quadros consonantes com a meta. Desses agentes não se espera a chamada boa técnica administrativa, mas, uma perfeita assimilação do ideal político, tal como ocorre com os titulares das pastas – ministros e secretários de governo. Esses são, em última análise, a extensão do próprio governante eleito e, nessa condição, nada mais fazem que ostentar a vontade política deste. Eis seu fundamento de validade na ordem jurídica constitucional, visto que o Constituinte não presta obséquio a favoritismos, que exemplificam a degeneração da competência de investir os cidadãos na condição de agentes públicos. Fora dessa hipótese, a nomeação sem concurso é representativa de um arbítrio, em tudo incompatível com o primado da igualdade, de que decorre o princípio do acesso universal ao cargo público. O fato de a experiência apresentar-se reveladora de nomeações sem concurso até para as atividades tecnicamente mais simplórias só vem corroborar a deformação das práticas da Administração Pública. E só para isto a Constituição dá ao Político, em sede excepcional, a prerrogativa de livremente nomear, independente do concurso. A nomeação de asseclas e acólitos para os cargos técnico-científicos, diante do princípio do acesso universal aos cargos públicos, representa indevida ação administrativa, subserviente a propósitos estranhos aos desideratos da Constituição da República. A regra basilar, não raramente ofendida, é a investidura por meio de concurso público de provas ou de provas e títulos. A nomeação direta, por óbvio, constitui a ação extravagante, só justificada nos casos de especialização política da atividade, devendo, por tal razão, ser comedidamente feita pelos diversos governantes. A justificativa é por demais lógica. Se é possível avaliar de forma mais ou menos objetiva o grau de conhecimento técnico ou científico do cidadão, aspirante do

cargo, o modo de ingresso na Administração Pública deve ser o concurso público, que apenas isto se presta à garantia da igualdade e do acesso universal. Se o governante encarregado da nomeação de cargos técnico-científicos o faz à vista de interesses outros, tal como forjar uma base de apoio ou como prêmio à atuação de cabos eleitorais, tem-se um ato administrativo viciado em sua finalidade e motivo, já que o agente que nomeia, nessas condições, não está a buscar a eficiência das atividades da Administração, mas a finalidade discrepante da regra de competência. Vale dizer, o agente encarregado da nomeação do cidadão, nas hipóteses em que a Constituição autoriza a nomeação direta – sem concurso público – deve observar o caráter político da atividade, para, só então, com apoio nesta premissa, reconhecer a necessidade de afastar a igualdade formal entre os cidadãos, distinguindo-os com a nomeação sem concurso, não para dar-se um prêmio a grupos políticos sem qualquer afinidade com o plano de governo, mas para conseguir, de fato, realizar o plano político escolhido pelo povo nas urnas. O que justifica a nomeação sem concurso é esta distinção entre os diversos planos políticos apresentados pelos candidatos na arena democrática, de modo que o eleito, ao fim e ao cabo de infindáveis diálogos com diversos setores populares, deve ter condições de aplicar e executar a cartilha prometida e finalmente escolhida. O mais é crime de lesa-estadualidade, má-formação publicista e atentado em face dos valores do Estado democrático de Direito, que permanece o ente protetor dos direitos fundamentais da cidadania, dentre os quais o direito de acesso universal aos cargos públicos.

Leonardo Santos Vieira Coelho: é Juiz de Direito, titular da vara de Prado e da 112ª Zona Eleitoral.

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Foto: Ailton Carvalho (Neg茫o Fot贸grafo)


CAPA

CARIDADE EM AÇÃO:

O TRABALHO DAS IRMÃS DE SÃO JOSÉ EM TEIXEIRA DE FREITAS Atualmente, três irmãs estão à frente da Associação Cidadania São José, no bairro Liberdade II, oferecendo diversas atividades educativas Por Yara Lopes


CAPA Quem chegar ao bairro Liberdade II, em Teixeira de Freitas, pode perguntar pra qualquer pessoa onde fica a casa das freiras, vai ser fácil de encontrar o caminho. Na rua Espinosa, 428, as portas estão sempre abertas para a comunidade e a casa costuma ficar bem cheia durante o dia. Isso porque, desde 2006, quando as atividades tiveram início, todos os dias da semana acontecem aulas, oficinas e ações educativas diversas disponibilizadas para moradores do próprio bairro e outros circunvizinhos, tudo de graça. A Associação Cidadania São José - apontando o caminho, que agora tem sua matriz no município, tem como objetivo promover a dignidade da pessoa humana, atendendo famílias fragilizadas e em situação de vulnerabilidade social. A rotatividade das irmãs de São José de Chambéry na cidade acontece com alguma frequência, mas, atualmente, estão à frente das ações Maria de Lurdes Mattiello, na presidência, Elena Maria Miotto, na secretaria, e Maria Pauletti, nas atividades gerais. Todas são naturais do Rio Grande do Sul, mas foram acolhidas pela Bahia com os braços abertos, fazendo parte do dia a dia dos moradores. Além da coordenação, elas também colocam a mão na massa, ensinando suas habilidades nas oficinas, como bordado

em fita, crochê em pano de prato, pintura em pano e em tela. No entanto, o que pode fazer mais diferença para as centenas de pessoas que frequentam o ambiente é a possibilidade que elas abrem para o diálogo, a troca de experiências, a sensação de pertencimento e a oferta de uma nova perspectiva. Os sorrisos nos rostos de Elena, Lurdes e Maria são constantes, assim como seus elogios aos trabalhos desenvolvidos pelos alunos, sempre com algo gentil a dizer. Essa cortesia é usada para falar sobre Girlene Maria de Jesus Almeida, que começou a fazer aulas na associação em 2006, ano de abertura. “Ela tornou-se parte do projeto e hoje é uma voluntária, algo que nos deixa com imensa alegria. O que é bonito é ver como ela tem delicadeza e paciência com as alunas, desenvolvendo um método próprio de ensino que conquista todos que estudam com ela. É também uma pessoa que se alegra com as vitórias e realizações do grupo”, conta irmã Elena.

Gi, como todos a chamam, tem 35 anos e é um dos destaques da história do grupo em Teixeira de Freitas, tendo participado de vários cursos. Começou com corte e costura, passando por pintura, crochê e informática. Depois de alguns anos, virou voluntária e passou a ensinar outras pessoas: “A pintura me encantou e realmente mudou a minha vida. É o que me encanta e me realiza. Ensinar pintura aqui na associação é uma sensação única, pois eu já fui uma dessas mulheres, buscando aprender algo novo, agora que esse conhecimento vem de mim, também me sinto honrada”. A monitora também levou os ensinamentos para garantir uma vida profissional e atualmente consegue vender suas pinturas, inclusive em telas. As pessoas já sabem de seu trabalho e a procuram em sua casa para comprar os itens. Também aproveitou o curso de corte e costura para fazer bicos de conserto de roupas e até se aventura em produzir algumas peças. Enxergando o impacto positivo que estar inserida nessa comunidade

Foto: Ailton Carvalho (Negão Fotógrafo)

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Foto: Ailton Carvalho (Negão Fotógrafo)

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A Congregação das Irmãs de São José de Chambéry é quem ajuda a manter todo esse trabalho que é desenvolvido há 10 anos em Teixeira de Freitas, tanto na estrutura que foi montada quanto na execução dos projetos. Para conseguir abrir as 250 vagas, em cursos semestrais e anuais, ofertados a crianças, adultos e idosos, algumas parcerias são firmadas, entre poder público, organizações não governamentais e sociedade civil. “Precisamos sempre de muita ajuda e apoio, atendemos a um número alto de pessoas, nossa casa está sempre cheia. Também gostamos de receber visitas, pessoas que queiram nos conhecer e ver de perto o nosso projeto, essa troca é essencial”, ressalta a irmã Maria Lurdes.

AS IRMÃS Para identificar as irmãs de São José como vocacionadas é preciso conhecê-las, já que elas não usam hábito, como acontece em outras denomina-

ções. Isso acontece porque o preceito delas é vestir-se de acordo com o seu tempo e de maneira simples, logo elas vestem roupas normais, mas não exaltam nenhum tipo de vaidade. Espalhadas por vários lugares do Brasil e do mundo, as participantes dessa comunidade religiosa que começou com o Padre Jean Pierre no século XVII devem sempre assistir e servir ao próximo, com toda dedicação e cordialidade que São José tinha com Maria.

IRMÃ ELENA O tradicional nome que se diferencia por começar direto com a vogal não

é a primeira coisa que chama atenção para essa sulista de 60 anos nascida em Caxias do Sul, RS. Quando tinha apenas 14 anos, sentiu desejo de fazer parte de um grupo de vocacionadas e desde então vêm dedicando sua vida a essa missão. Passou pelos processos necessários para tornar-se uma vocacionada e, quando chegou o tempo certo, precisou escolher uma área de estudos: “A minha área é a educação e trabalhei durante muito tempo no Rio Grande do Sul com isso. Na alfabetização das crianças, optei por utilizar o método do Paulo Freire, que foi desenvolvido para adultos, mas que funcionou muito bem com os pequenos. Eu não usava material didático e os pais no início não sabiam o que fazer comigo. Mas eu construía essa cartilha junto com os alunos e ao final do ano eles tinham um material próprio. Todo esse processo foi muito gratificante”. Com sua vocação de passar seus ensinamentos para as outras pessoas, veio também o desejo de ajudar pessoas mais necessitadas e em situações mais vulneráveis. Nessa procura, veio para a Bahia atuar em Itabela, continuando seu trabalho com educação. Chegou a se mudar para Vitória, no Espírito Santo, onde viveu em uma comunidade extremamente carente,

Foto: Morau

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Foto: Acervo Pessoal

trouxe para sua vida, passou a levar o filho de 6 anos, que já fez aulas de capoeira e desenho. Futuramente, ele pode também integrar as turmas de inglês, oficina de texto, informática, pintura, corte e costura, crochê. Opções não faltam.

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CAPA Foto: Acervo Pessoal

Vila Nova de Colares, que ainda sofria sem infraestrutura básica de água, energia e saneamento. Passou por Teixeira de Freitas e voltou para o Sul, dessa vez, Porto Alegre, onde trabalhou com a formação de cuidadoras de creche. Quando veio mais uma vez para Teixeira, em 2010, foi alocada na associação e tem desenvolvido trabalho de coordenação desde então. Como a educação é sua grande paixão, não deixa de lado as aulas de pintura, nas paredes da casa encontram-se vários dos seus quadros com diversas paisagens. Elena tem jeito e alma de professora, seus olhos, mesmo por trás dos óculos, transmitem paixão ao falar da possibilidade de propagar conhecimento a outras pessoas e tem uma dedicação intensa às turmas: “Não tem como não se envolver com as histórias que encontramos aqui, com a dedicação dessas pessoas e com o carinho com o qual nos tratam quando vêm pra cá. Criamos um vínculo muito interessante com a comunida-

de do Liberdade II, eles nos conhecem e reconhecem, até nos protegem. Ver a mudança real e efetiva que podemos fazer na vida deles é o que me realiza diariamente”.

IRMÃ LURDES O sotaque carregado não nega que ela também veio do Sul, apesar de ser quase baiana, já que veio para o estado há cerca de 30 anos, quase metade dos seus 66. Natural de Nova Prata/RS, mudou-se com os pais para Seara, Santa Catarina, com apenas 3 anos de idade. Quando tinha apenas 11, começou a auxiliar em algumas funções do hospital, como levar comida para os doentes, e se encantou por essa função. Outro encantamento que sentiu ainda nessa fase entre infância e adolescência foi com a vocação religiosa. Ao fazer a catequese, que prepara para a Primeira Comunhão (rito da Igreja Católica no qual o membro toma a Eucaristia pela primeira vez), encontrou em sua professora, uma irmã, exemplo de vida e sabedoria.

Passou a conversar muito e ouvir seus conselhos, pensando, então, em adotar também essa missão. No momento em que precisou escolher também uma profissão, não hesitou, fez o curso superior em enfermagem, firmando-se de verdade na área que já tinha conquistado seu coração 10 anos antes: “Eu sempre gostei de cuidar dos doentes, de ajudar as pessoas, e o meu coração começou a ter um pedido de missão muito mais forte. Queria ir para onde as pessoas pudessem precisar mais de mim, onde as minhas habilidades pudessem fazer ainda mais diferença. Por isso, vim para a Bahia em 1986, especificamente para o município de Itanhém, onde fiquei por cerca de 15 anos”. Em Itanhém, a irmã aproveitou para se integrar à Pastoral da Saúde. Também participou ativamente da Pastoral da Criança, que, com a produção da chamada multimistura (farinha composta por 70% de farelos de arroz ou trigo, 15% de pó de folhas REVISTA PERFIL

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CAPA Foto: Acervo Pessoal

de mandioca e 15% de pó de sementes - gergelim ou abóbora) conseguiu colaborar para uma alimentação mais nutritiva de muitas crianças. Coordenou o serviço durante 18 anos e participou, no total, durante 23 anos: “Acompanhávamos muito de perto o crescimento dessas crianças, com pesagem e alimentação, um trabalho muito importante e relevante que sinto orgulho de ter participado”. Irmã Lurdes foi quem acompanhou de perto todo o processo de implementação da Associação Cidadania São José em Teixeira de Freitas, desde 2005, durante a construção da estrutura. Nesse momento, ela ia às casas das pessoas do entorno explicando o que seria essa associação e o trabalho que realizariam com a comunidade. “Em 2006 começamos a ofertar nossos cursos e estou aqui até hoje acompanhando tudo de perto. Atualmente, sou presidente da associação, acabo precisando resolver muitas pendências administrativas, mas também gosto de ensinar minhas habilidades artísticas, no caso, o crochê para as bordas dos panos de pra46

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to e o bordado em fita são as minhas especialidades”, comenta com alegria. “Acredito que o importante não é como nos vestimos ou o que aparentamos e sim a maneira como falamos com as pessoas, como agimos e a diferença que conseguimos fazer na vida delas”, conclui.

IRMÃ MARIA De poucas palavras e riso fácil, irmã Maria, 67 anos, foi a última dentre as três irmãs a vir morar na Bahia, há apenas um ano. Nascida em Vacaria, também no Rio Grande do Sul, não teve uma trajetória de muitas mudanças de cidade como as outras irmãs. Assim como as outras mulheres que dedicam suas vidas à missão, desde muito cedo sentia-se chamada a ajudar as outras pessoas, fazer o bem para quem precisasse mais do que ela, e acabou encontrando e se apaixonando pelo trabalho das irmãs ainda na adolescência. No âmbito profissional, mesclou as áreas das irmãs Elena e Lurdes, educação e saúde. Formou-se em en-

fermagem, mas não quis ir para os cuidados com os pacientes propriamente ditos, fazendo licenciatura para poder dar aula. “Quando terminei os estudos, logo fui encaminhada ao hospital da universidade para trabalhar, mas, ensinando as pessoas. Durante 24 anos fui responsável por ensinar as turmas de técnica de enfermagem. Me especializei em gerenciamento de cuidados para ter mais propriedade no assunto, tornou-se uma grande paixão”. Mas, nem a união entre saúde e educação foram suficientes para acalmar o seu coração, que pedia por mais vivência, mais ação e mais caridade, uma situação que ainda não tinha vivido por completo da maneira que gostaria: “Quando decidi vir pra cá, precisei de um tempo para encontrar alguém que ficasse e desenvolvesse o meu trabalho, eu estava decidida. O que eu queria era estar em uma comunidade mais carente para que conseguisse me envolver com essas pessoas e fazer alguma diferença real em suas vidas. Realmente, foi isso que encontrei aqui e estou completamente realizada em poder, finalmente, atuar dessa maneira”. Irmã Maria conta que o que mais chamou atenção em nosso município foi a carência das pessoas em diversas áreas, já que ainda falta muita infraestrutura básica nos bairros. A falta de estrutura familiar também não passou despercebida por seus olhos atentos: “Muitas crianças não têm pai ou mãe, muitas vezes moram com a vó. As meninas viram mães muito cedo, já vi uma de 16 com dois filhos. É uma situação muito delicada, de instabilidade e vulnerabilidade. O que me deixa feliz é ver essas pessoas chegando aqui de diversas maneiras, com uma sede muito grande por mudar suas vidas, uma busca intensa por uma oportunidade. Poder oferecer isso a elas não tem preço”.


FOTOGRAFIA - ANNE GEDDES

Anne Geddes Fotógrafa australiana, é reconhecida principalmente por seus charmosos retratos de bebês, muitas vezes, inseridos em paisagens de natureza como flores e frutos, ou, como personagens de contos de fadas. É uma das mulheres que mais se destaca nessa área da fotografia. Estimase que já vendeu mais de 18 milhões de cópias de seus livros no mundo todo.


PROJETO

COZINHA SOLIDÁRIA PROMOVE PROFISSIONALIZAÇÃO DE MULHERES O projeto social de Teixeira de Freitas oferece cursos práticos e teóricos ao longo de um ano para 30 mulheres em situação de vulnerabilidade social Por Yara Lopes Fotos Ailton Carvalho (Negão Fotógrafo)

A cozinha pode ser apenas um cômodo da casa, o sinônimo de trabalho doméstico e até um lugar indesejado para muitas pessoas. Mas, ela também pode ser um caminho alternativo para aprender uma nova profissão

e ganhar uma fonte de renda. Esse é o caso do projeto em desenvolvimento desde agosto de 2015 em Teixeira de Freitas, o Cozinha Solidária, idealizado para capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade social

e, assim, dar a elas a oportunidade de entrar no mercado de trabalho. A organização seleciona 30 mulheres, que ao longo do ano têm aulas práticas de culinária e teóricas de empreendedorismo, cooperativismo, cidadania, direitos sociais e outros, tudo gratuitamente. A turma é dividida em duas para as aulas práticas na cozinha, sempre às quartas e sextas-feiras, onde aprendem a fazer um prato diferente a cada semana - doce ou salgado. O grau de dificuldade dos pratos vai aumentando à medida que o tempo passa, até que ao fim do ano elas tenham uma boa noção de vários tipos de comida. Além do lado profissional, elas podem levar esse aprendizado pra

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PROJETO casa também. “Já aprendemos a fazer strogonoff de frango, fica muito gostoso. No fim de semana eu já vou fazer em casa para a minha família, acho que vão gostar. O curso tem sido muito importante pra mim, eu espero aprender ainda várias outras coisas e conseguir trabalhar pra mim mesma e ter um ganho mais fixo”, comentou Leiliane Jesus, 27 anos, moradora do bairro Liberdade I. O projeto foi escrito pelos professores da Universidade do Estado da Bahia Jonathan Molar e Márcio Soares Santos no início de 2015 e colocado em prática como um piloto no segundo semestre do ano. “Seria difícil conseguir fazer uma formação completa começando já no meio do ano, por isso, bolamos um piloto com apenas algumas mulheres para ver se funcionaria bem. O interessante foi que além da formação a essas cidadãs, também servimos várias refeições comunitárias com a comida que elas cozinharam, atingindo uma média de 850

pessoas de diferentes bairros da cidade”, esclareceu Jonathan. O Cozinha Solidária fica realmente completo quando reúne as 30 mulheres moradoras dos bairros Liberdade I e II, São Loureço e Cidade de Deus aos sábados de manhã para as aulas teóricas. As participantes têm momentos de conversa e aprendizagem com profissionais como nutricionista, fisioterapeuta, psicóloga e assistente social, todos voluntários. É um momento importante tanto para absorver novas informações e instruções quanto para conseguir conhecer um pouco das colegas, o que facilita a interação do dia a dia entre pessoas com histórias tão diferentes. Mesmo com pouco tempo de curso, as mulheres já estão animadas e começam a pensar nas novas possibilidades que podem se abrir com a participação no projeto. Aline Rosa Jesus dos Santos, 26 anos, também é moradora do Liberdade I e planeja

tentar abrir um negócio com sua irmã, Leiliane, quando concluírem o ano de cursos: “Eu só estudei até a 8ª série do Ensino Fundamental, quando chegam os filhos fica mais difícil de conciliar os estudos. Com a minha formação é muito difícil conseguir um emprego, a opção acaba restrita à casa de família, e quando trabalhamos de doméstica, mesmo com carteira assinada, acabamos sofrendo muita humilhação. Para evitar passar por isso, faço faxinas, porque chego ao local, faço meu trabalho e não preciso ficar lá por tanto tempo, não tenho vínculos. Mas, quero conseguir uma coisa melhor pra minha vida. Quando temos festinhas em casa, eu acabo responsável pela decoração e pelos doces, por isso penso em ter um serviço de encomendas, acho que pode dar certo”. Esse tipo de ideia é justamente o objetivo que o Cozinha Solidária pretende atingir, a saída dessas mulheres de uma situação de dificuldades financeiras ou

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PROJETO de um trabalho instável para um emprego que traga mais estabilidade financeira e até emocional. Enquanto fazem o curso, elas recebem também auxílio alimentação com cesta básica, todos os recursos vindos de ajuda de apoiadores privados ou até dos próprios idealizadores. Jonathan conversou com todas as mulheres para fazer a seleção e entende que a situação pode ser bem delicada, mas, nada deve parecer impossível de mudar: “O projeto mostra que é possível agir na vida dessas pessoas de maneira mais definitiva, dando a elas uma formação que ninguém pode tirar. A cada aula que elas têm, com o contato com diferentes profissionais, aparecem caminhos, respostas, conhecimento. O nosso objetivo é vê-las saindo

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daqui e progressivamente dando um rumo mais promissor para suas vidas e de suas famílias”. A seleção aconteceu com a procura das mulheres pelas listas do Centro de Referência de Assistência Social de Teixeira de Freitas, seguida de conversa e visita às residências. Mas, algumas vagas acabam sobrando e foi com esse artifício que Darlane Ferreira, 28 anos, conseguiu entrar na turma: “Conheci o projeto pelo facebook, fiquei interessada, mas não sabia direito como funcionava, achei que era só para ajudar a fazer refeições para doar. Quando fui me informar e entendi, achei muito interessante e percebi que seria proveitoso pra mim. Parei de trabalhar para ficar em casa e cuidar dos meus dois filhos, de 3 e 1 ano, e, ocasionalmente,

faço faxina para conseguir um dinheiro extra. Às vezes, faço brigadeiro, pretendo tornar essa venda de doces uma situação mais fixa”. Tanto o desenho quanto a execução do projeto apontam para a importância da geração da oportunidade para que as pessoas consigam alcançar bons resultados. “As 30 mulheres que temos aqui hoje têm diferentes realidades e histórias, mas em comum uma vida marcada por muita luta. Elas querem muito ter um futuro melhor, mudar a sua história e parecem dedicadas. Para estar aqui, muitas saem de suas casas, deixam seus filhos com alguém ou até trazem consigo, e vem a pé até o local. O que nos mostra que o que falta não é vontade, é chance”, ressalta Jonathan Molar.



SÉRIES Foto: Divulgação Netflix

MARVEL DÁ DESTAQUE AO

FEMINISMO COM “JESSICA JONES” Segunda produção da parceria entre a gigante dos quadrinhos e a Netflix é destaque por trazer uma super-heroína como protagonista Por Yara Lopes

A Netflix encerrou 2015 com chave de ouro, trazendo sua segunda série produzida com a Marvel, que gerou uma grande expectativa depois do sucesso de Demolidor. A primeira temporada de Jessica Jones tem 13 episódios de uma hora cada, desenvolvidos como se fossem um longo filme que o telespectador devora com vontade para chegar ao final, mas, sem deixar passar nenhum detalhe importante. Krysten Ritter não decepciona como escolha da atriz para interpretar a protagonista, mostrando desenvoltura ao incorporar todos os defeitos e áreas sombrias de uma heroína que chamou muito mais atenção nas telas do que nos quadrinhos. 52

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Sim, defeitos! Esse é um dos grandes diferenciais dessa história, já que ao invés de um herói forte, impecável e completamente virtuoso, traz para os holofotes uma mulher nada delicada ou romântica, mas, assombrada por suas próprias imperfeições. Jessica sofre um acidente de carro com toda a sua família e depois disso desenvolve alguns poderes especiais. Apesar de sua forma física aparentemente frágil, ela tem uma força surpreendente, que possibilita levantar carros ou derrubar qualquer valentão, e é capaz até de fazer pequenos voos. Com ajuda de sua melhor amiga, Trish Walker, interpretada por Rachael

Taylor, ela acaba encontrando uma excelente maneira de usar essas habilidades: tornando-se uma heroína e ajudando a acabar com o crime na conturbada Hell’s Kitchen, em Nova York - o que a deixa no mesmo universo do Demolidor. Até esse momento, parece apenas mais uma história do bem contra o mal, até que Kilgrave, vivido por David Tennant, cruza seu caminho e ele é mudado pra sempre. A grande habilidade do Homem-Púrpura é o controle de mentes, que o permite obrigar qualquer pessoa a seguir suas vontades mais perversas e doentias. Kilgrave fica fascinado por Jessica desde a primeira vez que a encontra


SÉRIES

O ALERTA SOBRE RELACIONAMENTOS ABUSIVOS Kilgrave aparece como um vilão com poderes especiais, entretanto, a sua personalidade e os efeitos do que faz estão muito presentes em nosso dia a dia, infelizmente. Enquanto estava com Jessica, o aparentemente sedutor

Foto: Fansided

nas ruas tentando salvar a vida de um homem em perigo, e decide que vai mantê-la por perto em um relacionamento. Ela perde o controle sobre si mesma e se vê com uma personalidade completamente diferente da sua original, mais doce, submissa e, com as palavras certas saídas da boca do vilão, capaz de cometer atrocidades. São longos oito meses até que a nossa heroína consiga se ver livre desse domínio abusivo, retornando, finalmente, a tomar suas próprias decisões. Ela começa a atuar como investigadora particular, abandonando a época em que salvava o dia, e vive de maneira independente, porém, cheia das marcas da agressão que viveu, optando mais pela solidão e encontrando refúgio no álcool, um vício que se mostra intenso ao longo da série.

KILGRAVE

britânico colocava suas vontades sobre as dela, exigia atenção integral, não a deixava fazer o que gostava, era um controle absoluto. O estupro também era presente nesse relacionamento, apesar de ele nunca aceitar esse termo com a justificativa de que a levava para os melhores hotéis, restaurantes, comprava presentes e de que, no fundo, era isso que ela queria. Todos esses pontos foram colocados na série como um resultado da sua capacidade de dominar mentes, todavia, eles podem se encaixar, perfeitamente, em casos de relacionamentos abusivos. O assunto, que foi muito abordado em 2015 e continua fervilhando agora em

2016, foi discutido pela youtuber Jout Jout no vídeo Não tira o batom vermelho, o que trouxe mais impulso ao seu canal. Dentre alguns dos exemplos que ela cita, podemos destacar a situação de quando uma pessoa diminui o seu parceiro e o faz acreditar que com tantos defeitos ele jamais conseguiria encontrar alguém caso esse relacionamento terminasse, que mais ninguém seria capaz de o amar. Também é característica do relacionamento abusivo querer ter liberdade, mas tolher o outro, impedindo-o de manter as amizades antigas, ir aonde bem entender e até usar as roupas que quer (caso mais comum em um abuso de Foto: Dame Magazine

KILGRAVE E JESSICA

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SÉRIES homem para a mulher, que chega ao ponto de proibir o uso do batom vermelho para não parecer vulgar, como ressalta a blogueira). A criadora da série, Melissa Rosenberg, também teve uma sacada genial ao falar de estupro sem necessariamente mostrar o ato. Para ela, a situação já é mostrada vezes demais em séries, filmes, novelas e outras produções, podendo até incentivar a ação criminal, que pode ser vista como sensualizada. Para ela, o ideal é mostrar as consequências do estupro, o que acontece depois que uma pessoa, normalmente mulher, passa por esse tipo de trauma. No caso de Jessica, toda a perda de controle sobre si mesma, as agressões emocionais, psicológicas e o abuso sexual a deixaram magoada, ferida, fechada, desconfiada, sombria e até em dúvida de si mesma. Existem diferentes resultados negativos de um relacionamento abusivo e é essencial

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PERSONAGENS FEMININOS FORTES Melissa conseguiu construir uma protagonista totalmente fora dos padrões, sem cair nos estereótipos de que a mulher é delicada, doce e romântica. Jessica é desleixada, não tem o menor cuidado com a limpeza de sua casa ou do seu escritório, se veste de maneira bem simples e despreocupada, não tem preocupações especiais com beleza - nada de maquiagem ou penteados - e muito menos papas na língua.

Egoísta e antipática, ela ainda assim consegue ganhar a afeição do público por ser autêntica, é muito fácil de se identificar com os seus problemas, seus defeitos e toda a sua imperfeição. Mas, sua vontade de se ver livre, ser dona de sua própria vida e sua noção de bem e mal, apesar de tudo, não se deixando desistir de manter o mundo livre de Kilgrave, são os ingredientes necessários para torná-la uma heroína moderna e muito mais real e humana. Sua melhor amiga, Trish Walker, uma famosa apresentadora de um programa de rádio de sucesso, também tem excelentes características próprias de mulheres inspiradoras. Mesmo com uma infância marcada pelos abusos de sua mãe, que queria de qualquer maneira emplacar a filha no show business, a jovem construiu uma carreira sólida e com muita credibilidade, focou em sua carreira e teve êxito. Sua personalidade mais doce e amorosa é Foto: Pipoca Gigante

A MELHOR AMIGA, TRISH WALKER

buscar ajuda, inclusive, profissional, para conseguir diminuir as marcas deixadas. A situação na série fica mais complicada quando Kilgrave reaparece em cena e a super-heroína mais gente como a gente do universo precisa reunir as forças que ainda restam não apenas para resistir aos seus poderes, como também tentar tirar o agressor de cena.


SÉRIES Foto: Cultura em casa

LUKE CAGE

um contraste com a de Jessica, ainda assim as duas se dão muito bem. Trish ao longo da primeira temporada é apresentada como uma mulher muito forte e corajosa, não desiste de ajudar a amiga super-heroína de todas as maneiras possíveis e enfrenta seus medos numa evolução muito bonita de se assistir. Em alguns diálogos, a personagem mostra traços fortes do feminismo, como não depender do homem e não se deixar ficar submissa em um relacionamento. A advogada Jeri Hogarth é mais um exemplo de força e independência da mulher moderna, que corre atrás do que quer e não se deixa diminuir no mundo profissional. Até Hope Shlottman, que teve um papel de vítima, mais uma mulher abusada pelo grande vilão da trama, não deixou que o episódio a abatesse e lutou até o fim para se ver livre dos domínios de Kilgrave.

PARCERIA COM QUATRO HERÓIS A parceria entre Marvel e Netflix começou em 2015 com Demolidor, uma história que surpreendeu os telespectadores pela qualidade cinematográfica e também pelas cenas de lutas protagonizadas por Matt Murdock. Jessica Jones não deixou a desejar, mas, traz uma vertente um pouco diferente, as lutas não são tão coreografadas como as da primeira série. Diferentemente do lutador cego, ela não teve um treinamento para se tornar uma heroína, então, são lutas mais improvisadas e amadoras. Ela ganha pontos na complexidade do enredo e dos personagens principais. Há uma costura entre as duas séries com o aparecimento da personagem de Rosario Dawnson, a Enfermeira Noturna, que aparece para ajudar Jessica nos últimos episódios da primeira temporada.

Luke Cage, vivido pelo ator Mike Colter, é um personagem extremamente importante de Jessica Jones. O personagem tem superforça e uma pele indestrutível. Acaba vivendo um romance com Jessica e ajudando em sua trajetória contra o vilão, não sem antes também sofrer com seus poderes de controle mental. Ele é o próximo a estrelar uma série própria, que estreia em abril, uma produção que vai mostrar como ele se transforma em um super-herói de aluguel que vende seus serviços depois de ser preso injustamente por um crime que não cometeu. O ciclo é fechado com a série Punho de Ferro, ainda em 2016, um super-herói que usa as artes marciais para combater o crime. Em 2017, a parceria vai lançar Os Defensores, série que pretende unir os quatro super-heróis. Só depois dessa produção conjunta que serão feitas outras temporadas das séries individuais. REVISTA PERFIL

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ESPORTE

JOELMA LUZ SONHA COM OURO EM CAMPEONATO DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JIU-JÍTSU Atleta teixeirense já conquistou bronze e prata nessa competição e segue treinando para trazer o ouro pra casa Por Yara Lopes Fotos Ailton Carvalho (Negão Fotógrafo)

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ESPORTE Com sua estrutura pequena e delicada, Joelma Luz, 22 anos, pode não parecer uma lutadora de jiujítsu. Uma personificação de que aparência não é sinal de nada do que alguém é, pode, ou, quer ser. Formada em Letras-Inglês, a atleta de Teixeira de Freitas tem apenas 4 anos de trajetória no mundo da luta, mas, esse tempo foi suficiente para ela desenvolver verdadeira paixão pelo esporte e conseguir vitórias em diferentes campeonatos. Para ela, a luta tornou-se parte do seu dia a dia, uma paixão e uma maneira de seguir superando obstáculos. Os treinos começaram por incentivo de seu amigo, no início, apenas uma opção de movimentar o corpo – ela não gosta de ficar parada. Não precisou de muito tempo para que pegasse, realmente, gosto pela coisa, apesar de ficar repetindo que não participaria de campeonatos: “Mesmo quando já estava mais acostumada, não queria competir de maneira nenhuma, falava que isso nunca iria acontecer. Mas, acabei sendo convencida a ir no primeiro, depois no segundo e chegou em um ponto no qual não dava para voltar atrás, estava muito envolvida”.

negativo, e fico feliz por não ter me deixado desestimular”, explica. Inicialmente, Joelma não conseguia um bom destaque nas competições, ela acredita que pela falta de experiência, já que treinar na academia é muito diferente de lutar com uma pessoa desconhecida na busca por uma medalha. Segundo ela, a chave, além de seguir participando, é conseguir controlar a ansiedade e a adrenalina na hora, vai muito das condições emocionais e psicológicas. Tudo isso aliado a uma boa alimentação, noites de sono bem dormidas, treino constante e musculação para manter o corpo forte e preparado.

Algumas competições conseguiram marcar a trajetória da lutadora mais do que outras, positiva e negativamente. A mais frustrante foi em 2015, em São Paulo, quando lutou pela segunda vez no Campeonato Brasileiro da Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu. No ano anterior, tinha conseguido ir ao pódio com o bronze e ia em busca do primeiro lugar. Na luta final, estava vencendo a adversária, mas um erro da arbitragem acabou por tirar sua vitória: “Eu fiquei muito triste, chateada, me preparei para esse momento e por algo que não foi erro meu, não consegui atingir o meu objetivo. Levei a prata pra casa, mas foi um momento que não lembro com tanta alegria.

Mesmo com toda a disseminação da luta, em alguns campeonatos pode ser difícil encontrar muitas mulheres para lutar, foi o que aconteceu na primeira vez que Joelma saiu de Teixeira de Freitas para competir. Dois carros com a equipe foram para Santo Estevão, no interior da Bahia, porém, chegando lá, não havia ninguém em sua categoria. Para não perder a inscrição e a viagem, aceitou lutar em uma categoria acima, com mulheres mais pesadas. “Eu fiquei morrendo de medo, não me lembro de boa parte do que aconteceu no dia. Depois eu acabei chorando muito. Mas isso não me fez desistir, quis tentar de novo mesmo com esse resultado REVISTA PERFIL

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ESPORTE Ao mesmo tempo, isso me motiva, algo que o tempo e a experiência conseguiram trazer. Hoje, consigo ver exatamente onde errei e fico ansiosa para a próxima luta para poder mudar e vencer. É o meu sonho mais palpável no momento, ouro nesse campeonato”. Bons momentos também são presentes, claro, e fazem tudo valer a pena. Joelma relata que sua luta mais emocionante também foi em 2015, dessa vez em Vitória, Espírito Santo, no Mundial de Jiu-Jítsu da Confederação Brasileira de Lutas Profissionais. Ela venceu o campeonato, e, quando subiu ao pódio, o treinador aproveitou para fazer sua troca de faixa, de branca para azul: “Além de ter conseguido vencer um campeonato importante, o momento da premiação foi muito especial, marcou muito”.

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E sempre tem aquele momento que dá mais orgulho do seu desempenho, que para Joelma aconteceu no Pan Americano da Sport Jiu Jitsu South American Federation, no Rio de Janeiro. Nesse, ela conseguiu o ouro, finalizando em todas as lutas. A grande dificuldade encontrada por ela, e muitos outros atletas, é ter apoio financeiro para dar seguimento à carreira. As competições têm taxas de inscrição e ainda gastos com transporte, acomodação e alimentação. No dia a dia, é preciso pagar academia para treinar e malhar, além de ter uma alimentação balanceada, incluindo o uso de suplementos: “É preciso trabalhar bastante para conseguir sustentar esse sonho e ainda conciliar a profissão com o esporte. Se tiver estudos junto, fica ainda mais complicado. Se tivéssemos patrocinadores, a nossa situação seria

muito menos complicada e, provavelmente, teríamos mais chances, focando mais e participando de um número maior de campeonatos”. É possível pensar que o fato de ser mulher pode ser também um fator que dificultaria, mas, felizmente, a lutadora conta que esse não é o caso: “No meio da luta, somos muito respeitadas, não sofro preconceito por ser mulher. Treino com os meninos na academia, eles não me machucam, até porque eles têm mais força física que eu, mas também não encontro moleza. Nem tudo é mar de rosas, as competições que dão prêmios oferecem menos dinheiro para as mulheres do que para os homens, mesmo que eles tenham a mesma qualificação. Em relação às mulheres, acabamos fazendo amizade ao fim da luta, sem ressentimentos, são conexões que levamos pra vida”.


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BELEZA

ÓLEO DE COCO TRAZ

BENEFÍCIOS PARA SAÚDE E BELEZA Seja na alimentação ou como opção de cosmético, o óleo transformou-se em um dos superalimentos queridinhos dos últimos anos Por Yara Lopes

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BELEZA A ciência sempre traz novidades sobre os alimentos, descobertas sobre suas diferentes propriedades e o que isso pode causar ao nosso organismo. Em muitos dos casos, o problema é o uso em excesso, então, a palavra de ordem é moderação. O óleo de coco é um desses itens que têm tido seus detalhes revelados nos últimos anos, mostrando-se útil não apenas como um aliado da alimentação saudável, mas um interessante cosmético natural. Esse óleo vegetal extraído do coco tem cerca de 90% de gorduras saturadas, entretanto, por terem ácidos graxos formados por cadeias médias e não longas, é metabolizado pelo fígado e transformado em energia. Já que essa gordura saturada não é a mesma encontrada em outros alimentos, é um excelente substituto para a manteiga e azeite.

EMAGRECIMENTO

Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro indica que o óleo de coco ajuda a acelerar o metabolismo. O ácido láurico faz com que as células fiquem mais aceleradas, consumindo mais calorias e, consequentemente, evitando o acúmulo de gordura localizada. É o que favorece a perda de peso. A pesquisa diz ainda que o óleo também seria responsável por aumentar o volume de massa magra, os músculos - um aliado, por demandar mais gasto de energia do organismo, impulsionando o emagrecimento.

SACIEDADE

Já existem diversas técnicas, inclusive, naturais, para ajudar as pessoas que querem manter o peso que consideram ideal através da saciedade. A inclusão de sementes como chia e linhaça na alimentação é uma delas. O óleo de coco também entra nessa lista, já que ele ativa hormônios ligados à saciedade. Ingerindo no café da manhã, por exemplo, a tendência é consumir menos nas demais refeições. É essencial ficar atento para o restante do cardápio, consumindo bem menos carnes vermelhas e frituras e priorizando peixes, oleaginosas, grãos como a linhaça e óleos como o azeite.

SISTEMA IMUNOLÓGICO

O consumo do óleo de coco pode auxiliar no fortalecimento do nosso sistema imunológico, pois ele age no combate e prevenção contra bactérias e fungos. Rico em ácido láurico, ele pode melhorar a absorção de nutrientes, o que reforça as defesas do organismo.

CABELOS

Na hora de hidratar o cabelo e manter saúde e beleza dos fios, o segredo também está em nosso superalimento. Por conter vitamina E e ácidos graxos, o óleo de coco consegue agir no interior do fio nutrindo e fortalecendo. Ideal para cabelos que estão secos e sem vida, é uma solução interessante para tratar os desgastes do verão, depois de tanta areia, água do mar e da piscina. O uso é simples, basta misturar algumas gotinhas do óleo em sua máscara de hidratação preferida. Se o cabelo estiver muito danificado, é possível investir também na umectação, aplicando o óleo diretamente nos fios secos e retirando depois com uma boa lavagem.

PELE

Além do cabelo, o óleo também atua na hidratação da pele, você pode, mais uma vez, colocar algumas gotas em seu hidratante para potencializar o efeito. Se tiver sofrido com a ação do Sol na pele, aplique diretamente o produto no local para aliviar. Outro grande benefício é seu poder demaquilante, bastando passar algumas gotas, espalhar com os dedos e em seguida retirar com algodão. É ótimo para a área dos olhos, sendo eficaz em máscaras e delineadores, tirando tudo e ainda hidratando a região.

UNHAS E CUTÍCULAS

Precisamos também ter um cuidado especial com nossas unhas, o que, muitas vezes, significa hidratar a cutícula. Por ser emoliente, o óleo de coco cumpre bem a função e consegue manter uma boa hidratação por muitas horas. Como o óleo fica duro em baixas temperaturas, uma dica é colocar um pouco em um potinho, deixar na geladeira e usar como uma espécie de pomada ou cera para passar nas unhas.

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PERSONALIDADES

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PERSONALIDADES

Mulheres incríveis No mês dedicado a elas, selecionamos histórias inspiradoras de mulheres que fizeram a diferença Por Thaís Cristina, Rio de Janeiro

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PERSONALIDADES Conta-se que no dia 8 de março de 1857, 129 mulheres entraram em greve por melhores condições de trabalho em uma fábrica têxtil em Nova York. O dono teria trancado propositalmente as trabalhadoras na fábrica, que acabou pegando fogo, fazendo com que todas morressem carbonizadas. Esse seria o motivo de comemo rarmos o dia da mulher nesta data, no entanto, essa história não é real. O incêndio, na verdade,

ocorreu em 25 de março de 1911, devido às péssimas condições das instalações elétricas da fábrica. Tirou 146 vidas, entre elas, 125 mulheres. De fato existiu uma greve liderada por mulheres em um 8 de março. No ano de 1917, cerca 90 mil operárias russas se manifestaram contra o Czar. Além deste, diversos outros eventos onde as mulheres foram

protagonistas tiveram lugar em março, inclusive, o incêndio. Isso acabou por estabelecer o dia 8 como um dia de homenagem às mulheres. Mas, somente em 1977, a ONU reconheceu oficialmente a data como Dia Internacional da Mulher. Para celebrar, selecionamos diversos perfis de mulheres que fizeram e fazem a diferença no mundo. Histórias inspiradoras de diversas épocas e lugares:

ft Foto: Projeto Dra

JULIANA DE FARIA é jornalista e criadora do projeto Think

Olga, um site que debate mais profundamente o feminismo e o papel das mulheres na sociedade. Foi ela também quem idealizou a campanha Chega de Fiu-Fiu, que luta contra o assédio sofrido pelas mulheres em espaços públicos, e que, devido a sua repercussão, será transformada em um documentário, também produzido por ela. Além disso, escreveu o ebook “Meu Corpo Não É Seu – Desvendando a Violência contra a Mulher”, em parceria com a socióloga Bárbara Castro. Juliana ainda criou o projeto “Entreviste uma Mulher”, um banco de dados com os contatos de centenas de mulheres com trabalhos relevantes nas mais diversas áreas, para tentar diminuir a ausência de mulheres como fontes para matérias, trabalhos e reportagens na mídia.

Foto: Vice

MARIE CURIE nasceu na Polônia em 1867, mas, foi em Paris

que construiu sua carreira, sendo a primeira mulher a ser aceita como professora na Universidade de Paris. Foi também a primeira mulher ganhadora de um prêmio Nobel e a primeira pessoa e única mulher a ganhar o prêmio duas vezes. Incentivada por seu pai professor, em uma época onde a maior parte das mulheres era impedida de seguir com os estudos, se mudou para França, onde se matriculou na universidade e iniciou suas pesquisas em química e física. Marie descobriu 2 elementos químicos: polônio e rádio, além de ser pioneira nos estudos de radioatividade (termo criado por ela). Apesar dos prêmios, nunca patenteou suas descobertas, deixando-as livres para que toda a comunidade científica pudesse realizar investigações sobre seus elementos.

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PERSONALIDADES Foto: Rsc Energia

VALENTINA TERESHKOVA é até hoje a única mulher astronauta

que realizou uma viagem solo ao espaço. Nascida na União Soviética e de origem pobre, só conseguiu entrar para escola com 8 anos de idade. Com 22 anos, realizou seu primeiro salto de paraquedas e se interessou pelo assunto, condição que foi essencial para seu recrutamento como astronauta. Em 1963, no meio da Guerra Fria, a União Soviética colocou a nave de Valentina em órbita, enviando assim a primeira mulher para o espaço.

Foto: Magazine Chris Craymer Smaller

Dona de um dos rostos mais conhecidos da televisão norte-americana, OPRAH WINFREY coleciona recordes. Primeira mulher afro-americana na lista de bilionários da Forbes, figura também nas listas de mulheres mais poderosas e das mais bem pagas do mundo. Apresentou o talk-show com maior audiência da história da TV americana por 25 anos. Quem vê Oprah hoje não imagina as dificuldades pelas quais ela passou. Filha de pais adolescentes, sofreu abuso sexual de parentes de sua mãe quando criança. Fugiu de casa e conseguiu abrigo com a família de uma amiga. Acabou

engravidando com 14 anos, mas, o bebê nasceu com complicações e faleceu. Depois disso, Oprah deu prioridade aos seus estudos, conseguindo uma bolsa na Universidade do Tennessee. Aos 19 anos, foi a primeira mulher negra a ser âncora do jornal de Nashville. Em 1984, assumiu a apresentação do programa matinal “A.M. Chicago”, que, ano seguinte, passou a se chamar “The Oprah Winfrey Show”. O programa ficou no ar até 2011, e deixou de ser exibido para que Oprah pudesse se dedicar a abertura do seu próprio canal de televisão, a OWN (Oprah Winfrey Network).

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PERSONALIDADES

Quem teria sido a primeira mulher com ideias feministas do Brasil? Historiadores apontam para NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, nascida em 1810, no Rio Grande do Norte. Nísia lutou, principalmente, pela educação das meninas, que, na época, baseavase, principalmente, em costura e boas maneiras. Fundou colégios, ensinou línguas, ciências, matemática e artes. Lutou contra o patriarcado ao abandonar o marido com quem foi obrigada a casar, aos 13 anos, no primeiro ano de casamento. Nísia foi a primeira brasileira a escrever livros sobre o direito das mulheres, além de defender também os direitos dos índios e escravos.

Foto: Reuters

Se fosse necessário definir LENA DUNHAM em uma frase, provavelmente seria algo como “não tem vergonha de ser quem é”. Lena é a criadora, roteirista e protagonista da premiada série Girls, exibida no canal fechado HBO. No seriado, sabidamente inspirado em sua vida, a atriz aparece em cenas de nudez sem nenhum pudor, mesmo não tendo o corpo padrão de Hollywood. Lena não faz nenhuma questão de esconder seus problemas e falhas, porque a verdade é que ninguém está perto da perfeição. Em 2014, Lena também lançou seu livro, onde narra experiências pessoais sendo uma garota feminista de vinte e poucos anos, nascida e criada em Nova York. Lena foi premiada com um Globo de Ouro e um Bafta pela série.

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Foto: Art Creatio

O que aconteceu com AMELIA EARHART? Essa dúvida permanece até hoje sem respostas definitivas. Amelia foi a primeira mulher a voar sozinha sobre o Oceano Atlântico, em 1932. Dona de um espírito aventureiro, quebrou diversos recordes da aviação e passou parte da vida incentivando mulheres a se formarem em áreas que eram tipicamente dominadas pelos homens. Amelia desapareceu em voo em 1937, quando tentava dar uma volta no globo. Até hoje as causas do desaparecimento são inconclusivas e as causas da sua morte ainda geram especulações.

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Foto: Divulgaçã

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Em 2015, VIOLA DAVIS foi a primeira mulher negra a ser premiada com a estatueta de Melhor Atriz em Série Dramática no Emmy, pelo seu papel em How to Get Away with Murder. Em um discurso de agradecimento emocionado, Viola falou sobre a falta de oportunidade para mulheres negras. “Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”, disse a atriz. Uma pesquisa recente, realizada pelo Center for the Study of Women in Television and Film, aponta que, das protagonistas de programas em horário nobre da televisão norte-americana, 78% são brancas, 13% são negras e 4% são latinas.


PERSONALIDADES Foto: DK Findout

CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE é uma premiada escritora

nigeriana reconhecida como uma das mais importantes da atualidade. Em uma palestra feita para o TED (conferências realizadas ao redor do mundo com o intuito de espalhar boas ideias) sobre o feminismo, Chimamanda falou sobre a construção do gênero na sociedade e contou algumas de suas experiências pessoais. A palestra acabou tendo trechos incorporados na música Flawless, da cantora Beyonce, e foi apresentada em uma premiação da MTV, sendo amplamente divulgada para milhões de pessoas. Chimamanda já teve um dos seus livros adaptados para o cinema, e terá mais um em breve, estrelado pela ganhadora do Oscar Lupita Nyong’o. Foto: The Independent

Em uma tarde de 1955, ROSA PARKS estava sentada num ônibus, voltando para sua casa em Montgomery, depois de um dia de trabalho, quando um homem branco entrou e o motorista exigiu que ela se levantasse e cedesse seu lugar para ele. Rosa se recusou, e acabou sendo presa por desrespeitar as leis de segregação vigentes em seu estado. Com a prisão de Rosa, ativistas do movimento negro organizaram um boicote ao transporte coletivo, liderado por Martin Luther King Jr.. Após 1 ano de boicote, a segregação no transporte coletivo foi considerada inconstitucional. Esse foi o ponto de partida da luta antissegregacionista nos Estados Unidos. Rosa Parks continuou atuando como ativista do movimento negro, mas, precisou mudar de cidade, devido às constates ameaças que sofria.

Foto: Almanaque da Cultura

RUTH DE SOUZA é uma atriz brasileira importante para a inclusão

do negro no cinema e na televisão nacional. Ruth foi a primeira negra a pisar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e também a primeira negra a protagonizar uma novela (A Cabana do Pai Tomás, em 1969). Além disso, foi a primeira brasileira a ser indicada ao prêmio de melhor atriz, no Festival de Veneza de 1954, pela atuação em Sinhá Moça, logo depois de ter ido passar uma temporada estudando em Harvard, por conta de uma bolsa que ganhou.

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PERSONALIDADES nage Foto: News Car

Quando EMMA WATSON surgiu como Hermione na franquia dos filmes Harry Potter, com 11 anos, poucos poderiam prever tudo o que ela se tonaria. Hoje, com 25 anos, Emma é graduada em Literatura pela Universidade de Brown, é professora convidada na Universidade de Oxford, Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, sendo a responsável pelo lançamento da campanha #HeforShe, em que convida os homens a se juntarem ao debate para promover a igualdade dos gêneros. Além disso, Emma também é grande incentivadora da moda ecológica, tendo sido garota propaganda de marcas sustentáveis e, mais recentemente, participando do “Desafio do Tapete Verde”, em que estrelas de Hollywood são desafiadas a aparecerem em eventos utilizando roupas feitas por estilistas adeptos da moda sustentável.

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Foto: Antonio Olm

MALALA YOUSAFZAI tem apenas 18 anos, mas, tem a história

de quem já viveu muito. Paquistanesa, foi criada em uma família que geria escolas na sua terra natal. Em outubro de 2012, enquanto ia para a escola, sobreviveu a uma tentativa de assassinato, comandada por talibãs que tentavam impedir que meninas estudassem. Antes mesmo do ocorrido, seu ativismo em defesa dos direitos das mulheres e do acesso à educação já ganhava destaque internacional. Aos 11 anos, 4 antes do atentado, escreveu para um blog da BBC e foi personagem de um documentário publicado pelo New York Times. Em 2013, foi capa da revista Times e considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. No ano seguinte recebeu o prêmio Nobel da Paz, a pessoa mais nova a receber a honraria.

Foto: Desporto Sapo

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No país do futebol, o recorde de gols jogando com a camisa da Seleção Brasileira é de MARTA, que atingiu a marca de 100 bolas na rede vestindo a amarelinha no ano de 2015. Ano em que também se tornou a maior artilheira em Copas do Mundo de Futebol Feminino, com 15 gols. Nascida em Dois Riachos (AL), a alagoana já foi escolhida como melhor jogadora do mundo por cinco vezes consecutivas, recorde entre mulheres e homens. No ano de 2009, foi considerada pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano. Além disso, foi a primeira, e até hoje única, mulher a ser homenageada pela calçada da fama do Estádio do Maracanã.


FEMINISMO

FEMINISMO: VOCÊ SABE O QUE

SIGNIFICA A PALAVRA E O CONCEITO? Por Eleandra Machado

Olá! Nesse mês de março, dia 8, comemoramos o dia da mulher – tem sentido essa comemoração se pensarmos em causas e lutas. Essa data é propícia para refletirmos acerca do feminismo. E o que significa a palavra feminismo? Seria o contrário de machismo? Não. Vamos entender? Machismo: Homem achar que é superior à mulher. Tem origem na cultura dos países ao longo da humanidade, é embasado na visão de mundo patriarcal e na submissão da mulher ao homem; é preconceito de gênero. Femismo: mulher achar que é superior ao homem. É diferente de Feminismo: movimento social pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. O Feminismo é uma ideologia, um movimento, uma visão de mundo que luta pela garantia de direitos econômicos, políticos e sociais da mulher. A cada 24 segundos uma mulher é agredida no Brasil; segundo a ONU, 7 em cada 10 mulheres no mundo já foram ou serão violentadas em algum momento da vida; também segundo a ONU, a pobreza tem sexo: 70% das pessoas na linha da pobreza são mulheres; mais de 135 milhões de meninas e mulheres já foram vítimas de mutilação genital; a violência doméstica é a principal causa de morte e deficiência entre mulheres de 16 a 44 anos de idade e mata mais do que câncer e acidentes de trânsito; mais de 40% das ações violentas resultam em lesões corporais graves decorrentes de socos, tapas, chutes, amarramentos, queimaduras, espancamentos e estrangulamentos; o número de estupros registrados no Brasil em 2012 foi maior que o de homicídios dolosos (quando há intenção de matar); o aborto clandestino é o quinto maior causador de mortes maternas no Brasil; são quase 500 mulheres mortas por mês no Brasil (a maioria por maridos, namorados ou conhecidos); na próxima década, mais de 100 milhões de meninas poderão ser vítimas de casamentos forçados, segundo estudos da Unicef. Desprovidas de direitos, as menores de idade ficam à mercê do abuso sexual e da escravidão doméstica; no Paquistão, existe, inclusive, um termo usado para aquelas que têm rostos desfigurados por ácido: “crimes de cozinha”. Também neste país, é comum que tais vítimas sejam mortas em praça

pública por machadadas. Grupos feministas, em alguns países como a Índia, considerado pela ONU um dos mais violentos para a mulher, trabalham até mesmo utilizando imagens das deusas indianas para sensibilizar os indianos nessa mudança de pensamento. Você deve estar pensando: “mas, mulheres também violentam o homem”. Sim, porém, estes casos são exceções, não é a regra. A regra está nos jornais, nos dados policiais, nos dados da ONU, que noticiam diariamente morte de milhares de mulheres por namorados, maridos, companheiros, pelos motivos considerados culturais “machistas, misóginos e sexistas: ‘ela quis terminar comigo’, ‘acho que ela olhou pro meu amigo’, ‘ela estava ficando muito ousada comigo’, ‘se não for minha, não será de mais ninguém’, ou, até mesmo ‘estava usando um short curto’”. Estes são apenas alguns dos argumentosz. Mas, sabe-se que a violência contra a mulher sempre foi tamanha. Em 2006, no Brasil, avançamos com uma lei, a Lei Maria da Penha, para o enfrentamento da violência (veja a cartilha no site do MDH). O que, de fato, deveria prevalecer em nós como seres sociais é a igualdade de direitos. Em mim, tenho um pouquinho de todas as mulheres do mundo e carrego também suas alegrias, dores e lutas. Me reconheço e me vejo em cada mulher. Se você concorda com os argumentos sobre o feminismo aqui, você é feminista! E, parabéns, este é um caminho escolhido por pessoas que habitam fora da caverna... aquela de Platão. Um abraço para todas as mulheres de Teixeira de Freitas, do Brasil e do Planeta. Da psicóloga e militante feminista, Eleandra Machado.

Eleandra Machado - é Psicóloga do trabalho, psicoterapeuta sistêmica familiar e Especialista em docência no ensino superior e gestão de pessoas.

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EMPODERAMENTO POCAHONTAS

ERA UMA VEZ

UMA PRINCESA FEMINISTA… Com a evolução do movimento feminista, os contos de fadas também sofreram adaptações, criando princesas mais independentes e modernas Por Júlia Ferreira, Estocolmo, Suécia Fotos: Divulgação Disney

Era uma vez uma jovem donzela que tinha uma vida sofrida. Um belo dia, ela é resgatada por um príncipe encantado, se apaixona à primeira vista e, juntos, eles vivem felizes para sempre. Difícil achar alguém que imagine uma história de princesa que comece e termine diferente. E uma menina que nunca tenha sonhado em ser uma princesa, vivendo em um castelo com seu príncipe encantado. É curioso perceber que, mesmo depois de séculos de seu surgimento, os contos de fadas ainda continuam tão presentes na sociedade, influenciando na criação de um imaginário coletivo que impõe padrões de comportamento e estereótipos, principalmente no universo infantil. As imagens das personagens das produções cinematográficas dos estúdios Walt Disney estão presentes no imaginário e no cotidiano da maioria das meninas e carregam em si uma série de particulares significados. Através das princesas Disney, as crianças, moças e adultas absorvem a ideia do que é uma mulher ideal, tanto sob o aspecto físico quanto comportamental. As princesas 70

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de contos de fadas servem como um referencial de gênero e exemplo de feminilidade. O que se verifica é a imposição de padrões estéticos determinados, que fazem oposição a outros e demarcam lugares específicos de aceitação e exclusão, como é o caso das princesas e das bruxas, por exemplo. Há 79 anos o estúdio Disney lançava seu primeiro filme de animação. Walt Disney uniu a magia dos contos de fadas ao encanto do cinema e, em 1937,

BRANCA DE NEVE

Branca de Neve e os sete anões inaugurou o que viria a ser um dos maiores símbolos do estúdio e sua franquia mais rentável: os filmes de princesas. Baseados em contos de fadas, eles marcaram diversas gerações e, até hoje, estão presentes na imaginação das pessoas. Contudo, as últimas princesas lançadas pelo estúdio em quase nada se parecem com aquelas de antes dos anos 60. Se Branca de Neve, Cinderela e Aurora (de A Bela Adormecida) eram princesas frágeis,


EMPODERAMENTO CINDERELA

submissas, que faziam o trabalho doméstico e sonhavam com o príncipe encantado que acabaria com o seu sofrimento, Merida (de Valente) e Elsa (de Frozen) são independentes, não pretendem que suas vidas sejam vividas em função de um homem e, por que não, feministas. O fato é que, passivas ou rebeldes, as princesas continuam fazendo um estrondoso sucesso com o público infantil. Em Branca de Neve (1937), Cinderela (1950) e Aurora, de A Bela Adormecida (1959), a Disney inaugurou o ideal de princesa: bonita, dócil, pura e de bom coração. Os pontos que se destacam na representação da sociedade são a competitividade feminina, personificada na figura das vilãs, e a passividade das personagens que esperam a salvação através do príncipe. Com a mudança do papel social da mulher, a Disney foi adaptando suas personagens a essa nova realidade. Ariel, de A pequena sereia, tem que lutar pelo seu amor, Mulan salva o império chinês, Bela, de A Bela e a Fera, sonha em conhecer o mundo. Não se pode perder de vista que se trata de uma empresa, e, como tal, visa o lucro. Para isso, precisa criar filmes que atraiam o público, e, por isso, é possível perceber essa mudança no modelo de princesa.

Para que haja um interesse pelo conto, este deve revelar um sentido ao qual o público se apegue ou uma situação com a qual se identifique. Neste sentido, a identificação do leitor com o herói ou a heroína ocorre quando os contos modernos trazem os anseios/ conflitos de nossas gerações com os quais se identificam. Atualmente, a recusa ao casamento e à vida estrita do lar mostra a atual tendência das mulheres que, cada vez mais, adiam o compromisso do casamento e da maternidade em favor de uma vida profissional bem-sucedida. É importante destacar que não foi de uma hora para outra que surgiram as princesas consideradas feministas. Elas são resultado de cada uma de suas antecessoras, que deram, à sua maneira, um

passo mais perto para o seu surgimento. Para facilitar a análise, as princesas Disney são divididas em três grupos: as clássicas (Branca de Neve, Cinderela e Aurora), as rebeldes (Ariel, Bela, Jasmine, Pocahontas e Mulan) e as contemporâneas (Tiana, Rapunzel, Merida, Anna e Elsa). Analisando-as de uma maneira conjunta e linear, é possível relacionar suas histórias e personalidades à evolução do papel da mulher na sociedade. Não se pode deixar de perceber, contudo, que todas as princesas, das clássicas às contemporâneas, reproduzem um modelo de beleza ocidental de magreza, cabelos lisos (com a única exceção de Merida) e juventude. Também está presente em todos os filmes o estereótipo do amor heteronormativo, entre um homem e uma mulher. As primeiras obras da franquia “Disney Princesa” traziam protagonistas femininas frágeis e submissas, dando ênfase a uma idealização de romance perfeito. Cinderela, Aurora (de A bela adormecida) e Branca de Neve caracterizam bem sua época. Se as três são personagens passivas, que vivem à espera do príncipe para lhes salvar, isso também é verdade sob o ponto de vista do papel social da mulher no início do século XX. As meninas aprendiam a serem frágeis, doces e estarem sempre belas, pois um dia encontrariam um marido que lhes proporcionaria o tão sonhado final feliz, fazendo com que valesse a pena

A BELA E A FERA

REVISTA PERFIL

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EMPODERAMENTO A BELA ADORMECIDA

MULAN

seu sacrifício. O homem é o herói que salva, protege e provém, como os príncipes das histórias.

É nesse momento que a Disney volta ao mundo das princesas com Ariel,

protagonista de A pequena sereia, de 1989. Ela é a primeira a ter uma figura paterna (suas antecessoras eram órfãs criadas por suas madrastas invejosas ou afastadas de seus pais por uma maldição) e também a primeira a romper com a imagem do patriarcado. Ariel é determinada e sexy, com seus cabelos vermelhos e barriga de fora. Depois dela, outras ousaram desafiar seus pais e seus costumes, como Jasmine (de Aladdin), Mulan e Pocahontas. As princesas rebeldes abriram caminho para uma nova representação do que é “ser princesa”. A mulher deixa de ser salva para ser a salvadora do homem, como em A Bela e a Fera e Mulan, ou passa a ser a princesa desejada pelo súdito, como em Aladdin. No final, é o amor de Bela que salva o príncipe de sua maldição, não o contrário. Mas, ela

A PEQUENA SEREIA

JASMINE

Nos anos 80, a sociedade havia se transformado. O movimento feminista se fortalece, a mulher deixa de ser um complemento do homem, conquista o direito ao voto e se consolida no mercado de trabalho, saindo do espaço doméstico e passando a fazer parte também do espaço público - antes dominado pelos homens. Nesse contexto, a princesa passiva à espera de seu salvador não seria mais tão bem aceita. Assim, os filmes também precisavam se adaptar para agradar ao novo público, com mais aventuras, desafios e reviravoltas antes do final feliz.

acaba abrindo mão de seu sonho de conhecer o mundo em nome do amor. Mulan, por sua vez, é a que está mais longe do padrão. Ela não é filha de um líder local e muito menos se casa com um príncipe. Como mulher, ela deveria trazer honra para sua família conquistando um bom marido, e frequenta até aulas de etiqueta. Entretanto, ela não queria aprender a ser uma boa noiva. O filme discute abertamente como se espera que as mulheres tenham determinado papel enquanto os homens ocupam outro. E também questiona esses papéis, mostrando uma heroína muito mais capaz do que seus companheiros homens. Ao contrário do que acontece nos outros filmes, a “princesa” aqui não deve ser uma flor delicada, mas é incentivada a se comportar como um homem, a lutar. Assim, Mulan representa essa desconstrução das regras morais vigentes na sociedade sobre tudo aquilo que pertence ao mundo masculino e o que pertence ao mundo feminino. A chinesa prova que pode pertencer a ambas as esferas, saindo-se melhor até mesmo naquela que é atribuída aos homens. Na verdade, no final, ela acaba se dando melhor nos assuntos de guerra do que em ser uma boa pretendente à esposa como manda a tradição. Contudo, mesmo que “por acaso”, a protagonista é agraciada com o amor romântico no final.

Continua na próxima edição... 72

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SAÚDE

LEVANTAMENTO DO SEIO MAXILAR Por Dra. Adma Silvia Cury

Antigamente, no Brasil, uma “dor de dente” resultava em exodontia (extração). Por conta disso, grande parte da população perdeu seus dentes de forma prematura, por consequência, perdia-se o osso da região em que houve a extração. A perda deste elemento levou à necessidade da instalação de prótese parcial ou total (dentadura). A prótese sempre foi um problema para a fonética, mastigação e motivo de constrangimento. Na arcada inferior, a prótese total sempre foi um desafio ao profissional para devolver essas funções, e, principalmente, a estabilidade. Hoje, se consegue a substituição por overdenture, protocolo ou implantes nas regiões necessárias e instalação de prótese sobre implante. Na arcada superior, a prótese total ou a parcial pode ser uma alternativa aceitável, mas, há casos em que não é satisfatória: a pessoa não tem uma quantidade óssea suficiente, o paciente não se sente confortável com uma prótese que não é fixa. Muitas vezes, me deparo com a paciente vaidosa, bem cuidada, boa higienização, mas, com a ausência de elementos dentários e a reclamação sobre como os pais ao invés de fazer o tratamento dentário pediam para que o dentista fizesse a extração. Percebe-se que a decisão tomada antigamente era quase um consenso geral: mutilação da arcada dentária, sem levar em conta a necessidade desse tratamento escolhido nem a opinião da pessoa que perderia o dente. Após a perda dos dentes, molares e pré-molares, o processo alveolar, ocorre grande, progressiva e irreversível absorção óssea, havendo uma grande perda óssea vertical e horizontal para colocação do implante durante os anos, e, quanto mais tempo passa, maior essa perda e a pneumatização do seio maxilar. É raro quando existe a quantidade necessária para a instalação de implante. A perda óssea também pode ser causada por trauma e infecção periodontal (na região óssea). A utilização dos implantes ocorre em larga escala, com excelente resultado, mas, a quantidade e espessura mínima necessárias devem ser respeitadas para suportar a carga mastigatória que receberá constantemente; muitas vezes é preciso o enxerto ósseo para recuperar essa área. A opção do levantamento de seio maxilar é uma delas.

Há quatro tipos de seio na face: o etmoidal, esfenoidal, frontal e maxilar. No caso da instalação do implante, o que nos importa é o seio maxilar. Na região superior, a perda dentária do molar e do pré-molar pode ser um desafio ao cirurgião-dentista, pois pode haver uma grande perda óssea e pneumatização do seio maxilar. Quando essa região não tem osso suficiente e não há enfermidade dentro do seio, pode-se realizar o levantamento do seio com a utilização e introdução de substituto ósseo, que aumenta a altura do osso dessa região. Essa manobra é eficiente, simples e permite que haja a instalação do implante e a osseointegração do mesmo, desde que respeitando o tempo necessário e o planejamento do profissional. Às vezes, a espera pode ser de 4 a 9 meses (avaliação do profissional) para poder instalar o implante, ou, isso pode ser feito durante a manobra de levantamento do seio, decisão tomada durante o planejamento da cirurgia. O conhecimento anatômico, um diagnóstico, um bom planejamento dessa técnica, tomografia, exames laboratoriais e o uso de um material confiável é decisivo para o resultado positivo dessa cirurgia, sendo que os materiais têm constante pesquisa e sempre há melhoramento tornando dia após dia essa manobra cirúrgica mais bem sucedida. Após os cuidados tomados pelo profissional para um procedimento sem risco, o que auxilia e mantém um bom resultado é o cuidado do próprio paciente. Tomar o medicamento corretamente, seguir os cuidados pré e pós-operatórios, como não ingerir bebida alcoólica, não fazer esforço físico, não tomar sol, seguir a alimentação pedida pelo profissional, se manter saudável para não gripar após a cirurgia e não seguir receitas populares são coisas que ajudam na rápida recuperação.

Dra. Adma Silvia Cury: é Cirurgiãdentista, Especialista em Implantodontia e Endodontia. Delegada do Conselho Regional de Odontologia de Teixeira de Freitas

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PATROCINADA Foto: Jandira

SUCULENTOS, SABOROSOS E ARTESANAIS Os hambúrgueres deixaram de ser apenas um lanche rápido para fazer parte de um cardápio gourmet e criativo Por Redação

Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelim. Durante muito tempo, essa foi uma definição muito bem aceita desse sanduíche, o famoso fast food que é marco dos Estados Unidos e invadiu o paladar brasileiro. Mas, ultimamente esse conceito passou por uma grande mudança, com desenvolvimento de hambúrgueres artesanais, cujo grande diferencial está no seu principal ingrediente, a carne. Diferentemente da que é usada nos famosos lanches estilo “X-Burguer”, esses hambúrgueres trazem a chamada “carne de verdade”, bem fresquinha e suculenta. Em Teixeira de Freitas, já é possível encontrar uma variedade interessante de hambúrgueres artesanais ou gourmet. O chef de cozinha Stefano Pelletti, do Valentina Bistrô, ressalta que o restaurante que prepara o prato precisa tratar a carne no local, esse cuidado é essencial: “Os nossos 74

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são completamente feitos na nossa cozinha, desde a pesagem das carnes, a mistura com as gorduras, os molhos e as maioneses utilizadas. Um verdadeiro hambúrguer possui uma proporção de 80% de carne e 20% de gordura, o que permite que o mesmo se mantenha suculento e crie liga, sem se desfazer na grelha. Outro ponto importante é o tempero! O sal só é adicionado quando a carne vai pra a grelha, para evitar que a mesma se desidrate antes, guardando dentro de si todos os sucos naturais”. A escolha dos ingredientes que acompanham a carne também é muito importante e complementa bem esse prato. Não é porque é gourmet que precisa deixar de trazer seus ingredientes preferidos, por isso, o ovo, o bacon e a saladinha de tomate e alface continuam aparecendo com frequência. Porém, outras combinações interessantes podem ser feitas, como a inclusão da cebola caramelizada,

que traz um surpreendente toque agridoce. A salada também não precisa ser a tradicional, folhas de agrião e rúcula são opções bem-vindas, assim como o tomate cereja. O queijo pode ser desde os tipos mais comuns, como mussarela e cheddar, até alguns um pouco mais alternativos, como a mussarela de búfala e o gouda. Normalmente, os hambúrgueres são servidos com uma generosa porção de batatas fritas, bem quentes e crocantes – é o acompanhamento que mais agrada. Mas, é possível fazer a substituição por anéis de cebola, batata rústica, mandioca e até banana da terra, cortada bem fininha e frita para ficar como chips. O pão pode ser com o mesmo gergelim de sempre, tostado na chapa, ou preparado com ingredientes diferentes, como a abóbora, a batata doce e até a pimenta. Agora é só escolher o ponto da carne, seus acompanhamentos preferidos e uma bebida bem gelada. Bom apetite.



BELEZA

APRENDA OS TRUQUES PARA MAKES DRAMÁTICA E CLÁSSICA Uma balada permite olho mais preto e carregado, enquanto uma festa arrumada combina com os tradicionais marrom e dourado Por Yara Lopes Fotos Ailton Carvalho (Negão Fotógrafo) Make Clicia Pinheiro

Muitas mulheres gostam de caprichar na maquiagem quando vão sair, e existem diversas opções que ajudam a valorizar a sua beleza natural. Algumas cores e técnicas costumam ser mais indicadas para determinadas ocasiões e horários. Se o evento for à noite, por exemplo, é interessante carregar mais em tons pesados e uma preparação de pele mais rebuscada e intensa. Mas, mesmo para os looks da noite, encontramos diferentes estilos e opções e podemos adequá-los aos nossos gostos pessoais e até habilidades com os pincéis. Uma das principais dicas da maquiadora Clicia Pinheiro é investir em um olho bem feito e, para isso acontecer, é preciso usar bons produtos e ter paciência na hora de aplicar cada um deles: “O truque para ficar com aquele olho super bem feito e com aparência profissional é usar um pincel fofinho próprio para esfumar e fazer o movimento de vai e vem diversas vezes, sem pressa, até a sombra ficar com o aspecto perfeito e sem nada de marcação. Isso vai funcionar não só para as maquiagens dramática e clássica, mas para qualquer look que quiser compor”.

MAKE DRAMÁTICA - BALADA Se a sua intenção for se arrumar para uma balada, um evento em que queira ir bem arrumada, porém, não 76

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seja tão formal, é possível fazer um look mais dramático. Isso significa olhos bem marcados e com bastante preto, tanto na sombra quanto no lápis e delineador. O primeiro passo é fazer justamente a preparação dos olhos, porque há grande possibilidade de cair sombra ou glitter no rosto e se a pele já estiver preparada, poderá borrar. “A minha dica é aplicar um pó translúcido abaixo dos olhos, já que, provavelmente, vai acabar escapando pigmento pra essa região. Ao invés de borrar tudo, você passa o pincel de iluminador para varrer o produto e a pele fica normal. Muito útil e prático”, explica Clicia.

Para que as cores fixem bem, aplique primeiro um corretivo nas pálpebras para em seguida marcar o côncavo com sombra marrom. Use um lápis bom e macio, dê batidinhas nas pálpebras e, em seguida, esfume. Ao aplicar a sombra preta, o resultado será mais intenso. Para deixar o olhar bem marcante e com cara de balada, coloque também glitter preto. O delineador em gel levemente puxado para fora do olho é um excelente complemento ao look, assim como sombra escura na parte de baixo. Para não ficar tudo tão escuro, ilumine a região logo abaixo das sobrancelhas, é um toque especial.


BELEZA Um olho tão bem produzido merece uma pele muito preparada. Limpe, hidrate, passe primer e em seguida use uma base mousse para dar a primeira uniformizada. Depois, para que a pele fique bem lisinha, aplique sua base líquida. Como é noite, a especialista acredita que o contorno também cai bem: “Com um corretivo mais escuro, dê profundidade ou disfarce algumas áreas, como as bochechas e o nariz, que, se preferir, podem ser afinados. O corretivo claro ilumina as áreas centrais do rosto. Depois de todos os riscos, esfume bem para ficar sem marcas”. Depois disso, basta aplicar um blush bem natural, um iluminador logo acima do blush e escolher um batom que combine com o restante do look.

MAKE CLÁSSICA - FESTA Se quiser se arrumar para formaturas, aniversários e casamentos, o mais indicado é uma maquiagem clássica. Os olhos, nesse caso, vêm também bem esfumados, mas em tons de marrom, dourado e perolado. Além das sombras, que devem ser dispostas nas pálpebras em um

degradê, o glitter também é bemvindo nessa produção, mas, nesse caso, em um tom mais para o branco gelo, para combinar bem com as outras cores. O delineado com delineador em gel, seguido do líquido para fixar bastante, continua e dá mais destaque ao olhar. Não tenha medo de colocar cílios postiços, em um look mais elaborado é essencial. A pele também recebe base e pode ser feito o contorno, mas se não quiser algo muito forte, faça essa técnica usando apenas pó e blush, fica mais natural. O iluminador é essencial para que essa make fique perfeita, use tanto abaixo da sobrancelha quanto na área das bochechas e até no nariz, bem levemente. “Essa é uma maquiagem que fica bem em qualquer tipo de festa mais arrumada, é ideal para quem não quer errar e ainda assim gosta de chamar atenção e se sentir produzida. Mudando o batom, você já ganha um outro visual. Usamos o vermelho, que é o mais clássico, mas a mulher pode adaptar para o tom que mais gostar ou se sentir bem usando”, finaliza Clicia.

BALADA - SABRINE LIMA Base Mousse Efeito Pó Natura - R$74,90 Paleta de contorno Highlight & Contour Nyx - R$159,90 Paleta de sombra Catharine Hill - R$89,90

Lápis Preto Jumbo Nyx R$39,90 Pó bronzeador Tracta R$32,90 Iluminador em bastão Kiko R$37,80 Batom Líquido Efeito Matte Dailus Sapatilha R$16,50

FESTA - DANIELA MORAES Base Superstay 24h Maybelline R$55,00 Corretivo Quem Disse, Berenice? - R$25,90 Pó compacto Mineralize Skinfinish Mac R$129,00

Pó compacto duo bonzeador/ iluminador Vult - R$18,50 Delineador em gel Mary Kay R$59,00 Duo para sobrancelha Benefit R$ 159,00 Batom MAC Russian Red R$ 69,00

Clicia Pinheiro:

é maquiadora, especialista no atendimento de noivas, madrinhas, formandas e debutantes

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MODA

LOOKS PARA AMBIENTE DE TRABALHO

Antes de escolher a composição, é essencial entender as exigências da empresa e conhecer seu próprio corpo Por Pollyana Loureiro, Posto da Moda Fotos Divulgação

Certamente, a moda não está presente apenas nas passarelas dos fashion weeks, em revistas, ou, no próprio street style das fashionistas que desfilam tendências por aí. Diariamente enfrentamos o desafio de montar composições que sejam confortáveis, adequadas e, por que não, modernas?! Além de contribuir para a autoestima, se vestir bem é importante para a formação da sua imagem. Escolher o que vestir parece algo simples, mas, interfere diretamente na construção da sua identidade. Você pode argumentar que no trabalho o mais importante é a sua dedicação. Isso, com certeza, é essencial, todavia, a imagem que você transmite influencia diretamente a mensagem que você pretende emitir. Uma das dúvidas mais frequentes em relação à moda gira em torno da escolha de looks para o trabalho. 78

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Homens e mulheres estão acostumados - diria até acomodados - a optar pelas mesmas composições sempre, se esquivando de tentar opções alternativas, capazes de proporcionar produções elegantes e modernas. É importante lembrar que antes de optar por qualquer composição, é muito importante conhecer o seu ambiente de trabalho, quais são as exigências que ele comporta e qual nível de liberdade você tem para escolher o que vai usar. Alguns exigem mais sofisticação, outros, são mais flexíveis; esse é o primeiro passo para acertar na escolha. O segundo passo é conhecer seu corpo, assim será possível escolher peças que combinem com você. O que chama mais atenção é pertinente disfarçar, para trazer equilíbrio e sobriedade à composição. Peças muito justas (para homens e mulheres) e decotes grandes não são boas opções.

Preparei algumas dicas básicas pra auxiliá-los na construção de looks de trabalho convenientes e, claro, modernos. Escolhi alguns elementos modernos e, outros, atemporais, para que as sugestões sejam úteis sempre.


MODA

► Camisa social: homens e mulheres podem ter essa peça como grande aliada. Alterações como dobrar um pouquinho a manga ou adicionar um acessório, deixam o look mais moderno. ► Blazer: troque os conjuntinhos de sempre por peças diferentes, alterne cores, cortes e tecidos. Assim você aproveita todas as peças que tem no armário. Tanto homens quanto mulheres podem fazer isso sem medo. Existem duas coisas que servem não apenas para montar looks de trabalho, mas para qualquer outra composição. Lembre-se dessas duas

DICAS MODERNINHAS PARA ELAS:

► Ouse no sapato: trocar o salto por um oxford; substituir o tradicional sapato social por uma alpargata ou usar um sapato sem meias. É uma maneira mais discreta de trazer informação de moda ao look.

1.Saias nas modelagens lápis e mídi, são ótimas opções para substituir a calça, principalmente no verão.

► Cor camelo: apesar de ser um must have atualmente, essa cor é clássica! Aposte em peças nessa cartela de cor e terá opções para qualquer estação do ano.

2.Insira estampas nas composições. Se você tem dificuldade em montar looks com mix de estampas, opte por uma única peça estampada, isso evita um visual carregado e facilita o acerto.

sugestões sempre que sentir vontade de inovar.

VARIE!! Tecidos, cores, modelagens. Tanto homens quanto mulheres têm um leque grande de opções, mas, preferem usar sempre a mesma coisa, geralmente por medo de errar. Se você se sente inseguro, opte por algo novo dentro de uma cartela de cores que você já costuma usar, por exemplo.

EXPERIMENTE!! Muitas vezes as pessoas deixam de vestir coisas incríveis por que deduzem que algo vai ficar ruim sem sequer provar. Se você viu uma proposta diferente e gostou dela, experimente antes de descartar a opção.

3. Calças flare estão em alta! Além de alongarem a silhueta, são sinônimos de elegância e sofisticação. Sempre que usá-las, combine-as com salto alto.

DICAS FASHIONISTAS PARA ELES:

1. Opte por gravatas slim (fininhas) e abuse dos prendedores. 2. Para quem tem dificuldade de substituir a camisa lisa, por que não sabe o que usar, xadrez e listras são ótimas opções de estampas. 3. Experimente fechar a gola da camisa, trás modernidade e informação de moda para a composição. Importante salientar que a camisa precisa ser justa.

REVISTA PERFIL

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EVENTOS

A AGENDA DA NOIVA

Para que a mulher tenha o grande dia do jeito que sempre imaginou, a chave é fazer um bom planejamento com boa antecedência Por Gabriella Martinelli, Vitória/ES

Um bom planejamento é o primeiro passo para que um evento saia conforme o imaginado, e para se organizar é preciso estabelecer prazos e metas. Para se ter um planejamento tranquilo de casamento, é bom que este seja iniciado com uns 18 meses de antecedência, mas, isso não quer dizer que não seja possível planejar um casamento com menos tempo. Por isso, hoje vamos mostrar um planejamento para se realizar no período de um ano. Caso precise fazer em menos tempo, ainda seria possível, porém, é preciso ter consciência de que para ter o grande dia como sempre sonhou, o ideal é ter bastante segurança do que se está organizando. Vamos a agenda de 12 meses, ela segue um planejamento geral que pode ser adaptado ao que se deseja:

1 ANO ANTES ● Marque a data do grande dia; ● Defina qual será o estilo do casamento;

● Estabeleça um orçamento; ● Faça uma lista prévia dos convidados; ● Defina onde será a cerimônia e a recepção; ● Defina o cardápio da festa; ● Contrate sua cerimonialista, mesmo que seja só para o mês ou para a semana do casamento; ● Comece a solicitar orçamento para foto, vídeo, decoração e DJ, ou, banda, e, se possível, comece a fechar os contratos. 80

• REVISTA PERFIL

8 MESES ANTES ● Finalize a lista de convidados com nomes e endereços completos; ● Convide padrinhos, madrinhas, damas e pajens; ● Prepare os documentos para o casamento civil; ● Comece a busca pelo vestido ideal; ● Faça o orçamento da lua-demel e veja quais destinos se encaixam com ele; ● Comece a montar o enxoval da casa nova; ● Solicite orçamento dos fornecedores, busque conhecer o seu trabalho e feche os contratos; ● Marque o curso de noivos.

6 MESES ANTES ● Escolha o convite; ● Pesquise imagens de decorações que lhe agradem e faça uma seleção de imagens para definir bem o que deseja; ● Comece a definir o set list junto com o DJ ou banda.

4 MESES ANTES ● Contrate o calígrafo para escrever os nomes nos convites; ● Compre as forminhas para os bombons; ● Defina a decoração da igreja, assim como boutonnieres e o buquê; ● Defina o modelo do bolo, assim como os recheios do bolo de corte; ● Providencie o topo do bolo; ● Realize a prova do vestido com o sapato que irá usar no dia; ● Crie o site do casamento.


Foto: perfeitocasamento.com.br

3 MESES ANTES ● Dê entrada no casamento civil; ● Escolha o traje do noivo; ● Defina lembranças de padrinhos e convidados; ● Faça a lista de presentes nas lojas de sua preferência; ● Defina a data e planeje os chás (panela, lingerie ou bar); ● Caso pretenda dar chinelos às convidadas, é a hora de encomendá-los.

2 MESES ANTES ● Envie os convites dos convidados de longe; ● Entregue pessoalmente o convite dos padrinhos; ● Encomende os bem-casados; ● O noivo deve agendar o local da noite de núpcias; ● Defina o motorista e o carro que irão levá-la à igreja; ● Faça o book fotográfico externo.

45 DIAS ANTES ● Entregue os convites restantes; ● Confirme a reserva da lua-de-mel e os fornecedores contratados;

1 MÊS ANTES ● Faça o teste de cabelo e maquiagem;

15 DIAS ANTES ● Faça a penúltima prova do vestido; ● Faça uma limpeza de pele; ● Verifique se está tudo certo com o traje do noivo.

3 DIAS ANTES ● Faça a depilação; ● Realize o ensaio da cerimônia; ● Faça o polimento das alianças.

1 DIA ANTES ● Faça massagem e as unhas; ● Descanse e durma bem.

7 DIAS ANTES

O GRANDE DIA

● Faça a última prova do vestido; ● Realize uma reunião com a cerimonialista para acertar os detalhes finais.

● Delegue as preocupações à sua cerimonialista; ● Faça refeições leves e curta bem o seu tão sonhado dia. REVISTA PERFIL

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FOTOGRAFIA - AMI VITALE

Ami Vitale Com licenciatura em Estudos Internacionais, começou como editora de fotos e tornou-se fotógrafa. Ganhou amplo reconhecimento por seu trabalho na Caxemira, em meados de 2000. Recentemente, sua fotografia se transformou de jornalismo para a defesa social com seu envolvimento no movimento anti-caça furtiva na África. Levantou US $ 25.000 em crowdfunding para continuar fotografando os grupos indígenas que atuam na linha de frente nessa guerra.




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