RECICLAGEMURBANA
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO orientação Mário Antônio da Silva Guerra Roque
RECICLAGEM URBANA ATRIBUIÇÃO DE UM NOVO SENSO FUNCIONAL ÀS CAIXAS D’ÁGUA DO BENFICA
Karolinne Gomes Carvalho
Fortaleza Dezembro | 2015
Karolinne Gomes Carvalho
RECICLAGEM URBANA ATRIBUIÇÃO DE UM NOVO SENSO FUNCIONAL ÀS CAIXAS D’ÁGUA DO BENFICA
Banca Examinadora
__________________________________________ Prof. Mário Antônio da Silva Guerra Roque (Orientador) Universidade de Fortaleza
_________________________________________ Prof. Pedro Araujo Boaventura Filho Universidade de Fortaleza
_________________________________________ Prof. Dr. Jober José de Souza Pinto (Convidado)
Fortaleza Dezembro | 2015
reciclagem | s. f. (reciclar + -agem) substantivo feminino 1. Formação complementar dada aos quadros, aos técnicos, para lhes permitir adaptarem-se melhor ao progresso industrial e científico. 2. .Ação de reintroduzir numa .fração de um circuito ou num ciclo de tratamento um fluido ou matérias que o tenham já percorrido, quando a sua transformação é incompleta por uma passagem única. 3. [Ecologia] Transformação de uma substância ou de um material já usado para uma nova utilização (ex.: centro de reciclagem). 4. Adaptação de algo a novas circunstâncias. “RECICLAGEM”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013. Disponível em: < https://www.priberam.pt/ DLPO/RECICLAGEM> [consultado em 26-11-2015].
Agradeço à minha família pelo apoio. Meus pais, que me impediram de desistir do curso diversas vezes ao longo desses seis anos de graduação. Às minhas queridas colegas de faculdade Lora, Ariane, Morganna, Valesca e Laíde, que dividiram esse último ano comigo, compartilhando ideias e tornando o trabalho mais divertido. Ao pessoal do Expaa, que sempre esteve disposto a debater e contribuir para a materialização desse trabalho. Aos demais amigos de fora da faculdade. Foram muitas as conversas e contribuições. Ao meu orientador, Mário Roque, pela paciente orientação, incentivo e entusiasmo com o tema. À banca examinadora, por aceitar o convite e contrubuir com a discussão.
Muito obrigado.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO DO PROBLEMA JUSTIFICATIVA OBJETIVOS METODOLOGIA
OS RESERVATÓRIOS APRESENTAÇÃO CARACTERIZAÇÃO DEGRADAÇÃO E O PRIMEIRO PROJETO DE RESTAURO HOJE
NOVO USO MUSEU
O TERRITÓRIO TERRENO ENTORNO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
17 19 20 22 23 25 27 29
MEMÓRIA RECICLADA A MEMÓRIA DE UMA CIDADE RECICLAGEM DE ANTIGOS EDIFÍCIOS
31 33 35 37 44 47 49 54 55 58 59 64 67 73 75 76 81 83
85 86 92 117 118
HISTÓRICO ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM FORTALEZA
PROJETOS DE REFERÊNCIA BIBLIOTECA-PARQUE TORRE DE ÁGUA DE JAEGERSBORG MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO DIRETRIZES PARA O PROJETO DE RESTAURO PROJETO DE INTERVENÇÃO PROGRAMA O PARQUE MUSEU DO CENTRO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONSIDERAÇÕESINICIAIS
imagem_ estado atual das edificaçþes | acervo pessoal
Este trabalho tem como tema de estudo as Caixas d’água do Benfica, que ficam situadas no centro da cidade de Fortaleza, e busca compreender sua relevância histórica e arquitetônica para a capital, partindo do fato de que os reservatórios fizeram parte do primeiro sistema de abastecimento de água da capital cearense e hoje se encontram em ruínas. O objetivo do mesmo é produzir estudo de reabilitação das estruturas, adequando-as a um novo uso, que seja compatível às necessidades atuais da população local. Visando também a regeneração da área de entorno das edificações.
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Em Fortaleza, assim como em várias outras grandes capitais brasileiras, a região central foi aos poucos se esvaziando e tornando-se desqualificada para a maioria da população. A demolição, o abandono e a mudança de uso dos imóveis da área são os sinais mais reconhecidos dessa nova dinâmica urbana. Acontece que, no geral, esses velhos centros ocupam áreas dotadas de infraestrutura básica, com ampla acessibilidade ao transporte coletivo e possuem grande potencial econômico. Além disso, é nessa região onde normalmente se encontra grande parte do patrimônio histórico, artístico e arquitetônico da cidade. Desvalorizados pela lógica do mercado, esses espaços semi-abandonados abrigam hoje a memória do que já foi o local mais movimentado da metrópole.
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INTRODUÇÃO
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É o caso das Caixas d’água do Benfica, localizadas no centro de Fortaleza, que são antigos ícones do abastecimento de água na cidade e encontram-se abandonadas. Além da fragilidade da estrutura das edificações, o local agora serve como ponto de prostituição, tráfico e uso de drogas. Existe, por parte da Prefeitura de Fortaleza, um processo de tombamento, porém nunca foi concluído. Em tempos de valorização do novo, RIBEIRO (2005) fala que é necessária uma reavaliação dos valores, visto que as nossas cidades crescem como reflexo da consciência e do senso de cidadania do nosso povo, ou seja, mantendo-se a égide da efemeridade – da falta de memória.
JUSTIFICATIVA
A reciclagem de edifícios é um tema que vem sendo bastante abordado nos últimos tempos. Manifestada principalmente na Europa, essa tendência é hoje utilizada para preservar edificações que fazem parte do patrimônio histórico arquitetônico, com intenção de reciclar as mesmas através de novos usos. As cidades concluíram o seu ciclo de expansão, e agora é o momento de dar atenção às áreas construídas, aos grandes vazios urbanos e à centralidade do espaço público, reforçando sua identidade urbana, juntamente com o cuidado com o patrimônio histórico (MAGALHÃES apud LATTES, 2014). ‘ O tema proposto também é relevante devido ao fato de que a demolição de edificações gera um grande volume de resíduos sólidos, que acaba contribuindo com o desperdício e com a poluição nos grandes centros urbanos.
A reabilitação arquitetônica se dá no sentido de reverter processos de desvalorização e degradação de espaços já construídos, dinamizando e criando condições de atração. Esse tipo de ação, além de influenciar a valorização do ponto de vista imobiliário, trata também da questão social. As Caixas d’água do Benfica, além de serem um marco histórico, fazem parte da paisagem de Fortaleza há aproximadamente cem anos. Elas abasteceram a cidade até meados dos anos 60, e agora se encontram abandonadas. Sem uso específico e com localização privilegiada, na Rua Antônio Pompeu, as mesmas possuem um grande potencial para serem recicladas. Vivemos na era da reciclagem, da simplificação de processos, da economia de matéria prima, enfim, reflexo dos nossos dias, da escassez de recursos naturais e de combustível, do alto custo da produção de materiais de construção e do ônus deixado ao consumidor com o descarte de edificações para construção de edifícios. Reciclar é preciso. Restaurar é preciso (RIBEIRO, 2005).
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OBJETIVOS
Objetivo Geral Com o presente trabalho, objetiva-se chegar à proposição de um projeto de intervenção nas Caixas d’água do Benfica, buscando a revitalização de seu entorno, a partir da compreensão da relevância histórica e arquitetônica das edificações. Objetivos Específicos • Compreender a importância da memória edificada das Caixas d’água do Benfica para a cidade de Fortaleza • Perceber de que forma edificações históricas, como as Caixas d’água do Benfica, podem influenciar na identidade de um local • Discutir novas possibilidades de utilização para uma edificação de uso e características específicas • Redescobrir espaços perdidos através de estudo arquitetônico • Reciclar a estrutura das caixas d’água, adequando a novos usos • Buscar a valorização do território urbano no qual as edificações estão inseridas
Este trabalho se fundamenta em uma revisão de literatura, baseada na leitura de material diretamente ligado à história das Caixas d’água do Benfica e de seu papel na narrativa do surgimento do primeiro sistema de abastecimento de água na cidade de Fortaleza, com a finalidade de levantar dados e aplicá-los sob a adaptação das construções existentes a um novo programa de necessidades, que se adeque ao atual contexto urbano. Foram realizadas também visitas de campo para a elaboração de estudo sobre o entorno da área de intervenção e caracterização das edificações. Assim, este trabalho se enquadra como uma pesquisa bibliográfica e de campo.
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METODOLOGIA
MEMÃ&#x201C;RIARECICLADA
imagem_ estado atual das edificaçþes | acervo pessoal
A MEMÓRIA DE UMA CIDADE
A memória geralmente está relacionada a uma imagem, um fato ou algum evento, e é comumente associada ao passado. Fatos ocorridos há muito tempo, tendem a cair no esquecimento. Entretanto, existem objetos que nos permitem recuperar memórias e sensações, reavivando acontecimentos que ficaram guardados no íntimo do indivíduo. No caso de uma cidade, a memória encontra-se relacionada principalmente com a imagem transmitida para o observador através de suas construções. É a chamada memória edificada, que é formada por um conjunto de sensações experimentadas ao observar e viver em um determinado ambiente. De acordo com Lynch (1960), a percepção ambiental de uma cidade está diretamente relacionada a três componentes: estrutura, identidade e significado. Essa relação acontece a partir da conexão observador-objeto dentro de um contexto urbano, que é o que se denomina estrutura. Após esse contato estrutural, o observador “recebe” como informação a identidade do objeto, que pode ou não ter um significado para o mesmo. OBJETO
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OBSERVADOR
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Entre os principais conceitos trabalhados em “A imagem da cidade” (1960) encontra-se a legibilidade, estando ligada aos aspectos visuais que um lugar proporciona a um observador, e a imagebilidade, que corresponde à intensidade da imagem, a partir do fato de que imagens fortes aumentam a possibilidade de se obter uma percepção mais clara e estruturada da cidade.
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Além disso, Lynch (1960) também cita cinco elementos como sendo constituintes dessa imagem, sendo esses: caminhos, limites, bairros, pontos nodais e marcos. Os marcos, em especial, se destacam no contexto trabalhado, pois são elementos pontuais, que possuem singularidade (um aspecto único e memorável). Essa singularidade se define principalmente quando acontece um contraste local entre o marco e os elementos mais próximos dele. Acontece que esses marcos acabam virando “pontos de referência” na cidade. Ele destaca ainda que a localização dos mesmos em esquinas maximiza sua importância. A partir da definição do elemento “marco”, pode-se perceber sua importância na percepção urbana, na constituição da imagem de uma cidade e em como isso pode influenciar no comportamento dos usuários. A identificação de uma imagem pública ativa a memória coletiva e auxilia na hora de planejar qualquer intervenção urbana. Dessa forma, a avaliação da relação que um objeto ou edifício estabelece com um espaço e com a imagem que representa para os que circulam nessa área é de extrema importância na definição da identidade de um local, o que possui bastante relevância para o caso específico do espaço urbano.
A partir do entendimento da importância de se preservar a memória edificada de uma cidade, surge então a ideia da reciclagem de antigos edifícios, que aparece como alternativa á descaracterização sofrida pelas cidades trazida com a contemporaneidade. A busca pelo novo acaba “apagando” o registro da evolução de um local ou até mesmo ignorando algumas edificações antigas, que têm seu valor perdido ao longo do tempo pela falta de um uso específico e acaba comprometendo a identidade de um lugar. A ocupação de estruturas já consolidadas, que permanecem esquecidas em um contexto, exige a criação de um diálogo entre o novo e o antigo através de um esforço criativo. Intervenções e adaptações de edifícios antigos a funções compatíveis com os dias atuais ajudam a recuperar e valorizar o território urbano em que estão inseridos, auxiliando também no resgate da memória existente de uma construção. Além disso, a reabilitação de edificações abandonadas, ao invés de demoli-las, gerando toneladas de entulho, promove a sustentabilidade de uma construção e possibilita o testemunho das transformações sofridas por uma cidade ao longo dos anos.
imagem_ exemplo de edificação reciclada Selexyz Dominicanen, uma igreja abandonada, que se transformou em uma livraria | realworldfatos.blogspot.com.br
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RECICLAGEM DE ANTIGOS EDIFÍCIOS
OSRESERVATÃ&#x201C;RIOS
imagem_ estado atual das edificaçþes | acervo pessoal
APRESENTAÇÃO
As caixas d’água estão localizadas no centro da cidade de Fortaleza, fazendo limite com o bairro Benfica. Ficam na Rua Antônio Pompeu, por trás do prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), entre a Rua Senador Pompeu e a Rua General Sampaio. No entorno dos reservatórios existem várias edificações importantes para a cidade, como: o Instituto Doutor José Frota (IJF), a Praça Clóvis Beviláqua, o Palácio Maçônico e a Casa do Barão de Camocim. A ocupação da área tem o comércio como uso bem característico, e apresenta um fluxo de pedestres e veículos bastante considerável. Nota-se também a existência de ampla acessibilidade ao transporte público.
imagem_ esquema de localização das caixas d’água | acervo pessoal
A partir do fato de que o terreno em que os reservatórios estão inseridos faz limite com uma edificação educacional, pode-se perceber também a grande presença desse tipo de equipamento nos arredores da área. Com isso, nota-se que a região possui bastante potencial em se tornar um pólo de atração para esse tipo de público. É possível destacar, inclusive, a proximidade das caixas d’água ao campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) localizado no bairro Benfica, que gera uma grande quantidade de jovens estudantes circulando na área.
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Além da presença de várias outras universidades particulares e colégios de ensino fundamental e médio.
imagem_ esquema de localização e atração dos pólos educacionais | acervo pessoal
CARACTERIZAÇÃO
Os reservatórios possuem uma capacidade para abrigar 760.000 litros de água cada um. Sua estrutura foi originalmente feita exclusivamente de aço, porém devido ao alto grau de oxidação após algumas décadas da montagem, teve de ser capeada com concreto. Possuem em torno de 25 metros de altura.
imagem_ detalhe da estrutura dos reservatórios | acervo pessoal
A estrutura está organizada a partir de um pilar central de dimensão maior, com 1.30 m de diâmetro, que é o principal responsável por sustentar cargas provenientes do reservatório. Junto dele, na periferia de cada caixa, existem 24 pilares de menor seção, que ajudam na transmissão desses esforços ao solo. Esses pilares estão amarrados por cintas que trabalham a fim de evitar que eles “se abram” com o esforço exercido sobre eles. Além desses, vigas radiais, que existem em vários níveis desde o solo até o fundo do reservatório, funcionam como tirantes para impedir o deslocamento horizontal dos pilares periféricos inclinados. São de concreto, porém possuem uma armadura de aço treliçada como era comum nos projetos franceses da época da construção das caixas. Os dois reservatórios são ligados por uma base em concreto ao nível do solo, tendo essa ligação aproximadamente 1 m de altura.
No
topo
das
caixas
d’água
existem
passar-
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relas, que circundam os reservatórios cilíndricos. São apoiadas nas paredes dos mesmos perfis metálicos da altura destes cilindros, que servem como guarda-corpo. Já o acesso aos reservatórios acontece através de uma escada metálica do tipo helicoidal localizada entre as duas estruturas de concreto. Toda a estrutura das caixas encontra-se circundada por um gradil, que resguarda também o reservatório construído mais recentemente em concreto armado. O gradil foi fabricado em ferro fundido com formas inspiradas no estilo Art Nouveau, que está apoiado sobre uma mureta mais baixa em alvenaria. O controle de acesso se dava por um edifício em anexo também adornado no estilo Art Nouveau, composto por um bloco central de dois pavimentos e por dois blocos localizados ao lado de forma simétrica. Eles são interligados por circulações cobertas e com guarda-corpos em alvenaria.
imagem_ reservatórios já sem uso, em 1971 | www.leiaja.com
Devido aos reservatórios deixarem de possuir uso, foram esquecidos no centro da cidade durante anos, o que levou a grande degradação da estrutura. Com a vida contemporânea, a área começou a ser taxada como sendo perigosa, pois houve uma apropriação do espaço por usuários de drogas. Além disso, sem qualquer tipo de manutenção, a própria construção começou a se deteriorar e oferecer riscos de desabamento dos elementos que a constituíam. Na década de 90, os jornais noticiavam constantes quedas de pedaços de concreto e de aço, que se desprendiam do alto das caixas d’água. Havia o medo de que o colapso da estrutura pudesse causar danos aos transeuntes e aos prédios vizinhos. Com isso, em novembro de 1990, o governo do estado com Tasso Jereissati no comando, e sendo Secretario de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente o engenheiro Adolfo de Marinho Pontes, foi promovida a recuperação estrutural das duas caixas d’água, sendo concluída em dezembro de 1991, no governo de Ciro Gomes. O responsável pela obra foi o engenheiro civil José Emídio Alexandrino Bezerra, que trabalhou juntamente com a Construtora José Coelho LTDA.
imagem_ estado das caixas d’água antes de passarem pelo processo de restauro em 1990 | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
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DEGRADAÇÃO E O PRIMEIRO PROJETO DE RESTAURO
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Foi realizado um estudo sobre o grau de degradação da estrutura com documentação fotográfica e escrita do processo. A partir dai, detectaram diversos problemas referentes a rachaduras e a queda de concreto que capeava as vigas dos dois reservatórios, deixando a estrutura metálica exposta, propícia à oxidação. No reservatório localizado mais a leste, próximo da Rua Senador Pompeu, o estado de deterioração era maior do que no reservatório que fica mais ao centro do gradil, tendo perdido parte da coberta, da passarela e a capas de cobrimento das chapas metálicas estavam desprendidas.
imagem_ estado da coberta do reservatório mais deteriorado | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
Após análise, foi começada a obra de recuperação da estrutura dos reservatórios. Na primeira etapa, foi realizado todo o escoramento a fim de evitar acidentes durante o período de intervenção. Depois de efetuadas as medidas de segurança, foi necessário retomar todo o capeamento de concreto da estrutura, tendo, muitas vezes, que ser refeito por inteiro alguns elementos estruturais, como era o caso das vigas, que estavam em estado bastante precário. Apesar disso, foi feito um esforço para preservar o máximo da estrutura original, intervindo no bem apenas quando era estritamente necessário.
imagem_ processo de recuperação das vigas radiais | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
imagem_ processo de recuperação das vigas radiais | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
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imagem_ aplicação do adesivo epóxico semi-flexível para colagem das novas chapas na parede da cuba de um dos reservatórios | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
imagem_ limpeza das novas chapas | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
A coberta do reservatório mais a leste teve que passar por um processo maior de reconstrução e ser praticamente toda refeita. Houve a fabricação de todas as tesouras em estrutura metálica para compor a estrutura de sustentação da tampa em concreto. Foram substituídas também as luminárias, que estavam completamente destruídas, além de todos os guarda-corpos metálicos. Toda estrutura recebeu lavagem e nova pintura.
imagem_ execução das tesouras da coberta | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
imagem_ concretagem da tampa | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
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O edifício anexo também passou por um processo de restauração, pois seu estado não era muito diferente do das caixas d’água. Havia problemas com a alvenaria, principalmente do lado externo. A pintura já estava completamente gasta e seus elementos decorativos quebrados ou perdidos. Grande parte das esquadrias também estava danificada e algumas nem existiam mais. O piso do primeiro pavimento, que era em madeira, estava bastante degradado a ponto de desabar a qualquer momento. Após os reparos na edílica onde funcionava sala de controle, administração e depósito, suas paredes receberam uma nova camada de tinta acrílica nas cores e estilo originais. Foi feita uma raspagem de quatro camadas das mais diversas tintas e, por fim, foi descoberta a cor original da edificação.
imagem_ edifício anexo antes da restauração | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
imagem_ edifício anexo depois da restauração | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
imagem_ estrutura após o restauro, em janeiro de 1992 | acervo José Emídio Alexandrino Bezerra
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HOJE
Mais de 20 anos após a recuperação da estrutura, as caixas d’água voltam ao seu estado anterior de decadência. O fato de a edificação continuar sem uso, favoreceu os problemas de apropriação do espaço por traficantes, usuários de droga e transformou o local em ponto de prostituição. Além disso, a degradação da estrutura assusta quem passa por perto, a ferrugem já deteriorou toda a armação de metal, incluindo sua escada de acesso, propiciando que um acidente grave aconteça a qualquer momento. As edificações, antes testemunhas de uma bela Fortaleza antiga, hoje, encontram-se contornadas por um estacionamento, transformando um espaço com tanta potencialidade em uma área morta dentro da cidade. Há, por parte da Prefeitura de Fortaleza, um processo de tombamento municipal. A Secretária da Cultura de Fortaleza (Secultfor) está a frente da ação, categorizando as edificações como “Bens com processo de tombamento e/ou registro em aberto aguardando avaliação do Comphic”. Existem também projetos de revitalização para o espaço, como é o caso de uma proposta feita pela Secretária das Cidades, que prevê a implantação de sua subsede no local, implantando lajes de madeira e vidro, com fechamento dos vãos em esquadrias contínuas de alumínio e vidro duplo. A intenção era entregar as caixas d’água reformadas até dezembro de 2013, porém a ideia nunca saiu do papel.
imagem_ estado atual das caixas d’água | acervo pessoal
imagem_ estado atual das edificaçþes | acervo pessoal
HISTÃ&#x201C;RICO
imagem_ estado atual das edificaçþes | acervo pessoal
Até 1926, o fornecimento de água em Fortaleza ainda acontecia através dos lombos de jumentos com depósitos de madeira. Antes disso, em 1862, a assinatura de leis provinciais permitiu a exploração do fornecimento de água através da instalação de quatro chafarizes localizados nas seguintes praças: da Municipalidade (atual Praça do Ferreira), Garrote (atual Cidade da Criança), Carolina (atual Praça Waldemar Falcão) e Patrocínio (Marques de Herval, e posteriormente, José de Alencar). Foi, então, concedido a José Paulino Hoonholtz esse privilégio por 50 anos, a fim de realizar o encanamento de água do seu sítio no Benfica para os chafarizes espalhados pela cidade.
imagem_ aguadeiros se preparam para a distribuição de água em lombos de burro, no poço do bairro Benfica | www.fortalezaemfotos.com.br
Em 1867, uma companhia inglesa, a Ceará Water Company, tentou organizar esse serviço, por meio de um pequeno sistema de distribuição de água apanhada em cacimbões, de onde era captada por meio de bombas para dois reservatórios instalados no Benfica. Dali, a água era canalizada para o centro da cidade, aproveitando-se do declive do terreno, que facilitava o escoamento. Porém, com a seca de 1877, os cacimbões secaram e o abastecimento teve que ser suspenso.
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ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM FORTALEZA
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Após essa tentativa fracassada, em 1911, o presidente do Estado Antônio Pinto Nogueira Accioly, inicia as obras de abastecimento de água e esgoto de Fortaleza, com a montagem de duas caixas d’água de ferro, na Praça Visconde de Pelotas (depois Praça da Bandeira e hoje Praça Clóvis Beviláqua), com capacidade para 760.000 litros cada uma. Foi iniciada também a implantação de 42 km de canos pelas ruas, tendo à frente o engenheiro João Felipe Pereira. Porém, o trabalho foi interrompido com a deposição do governador, e as obras ficam suspensas até 1922. O prosseguimento dos trabalhos ocorreu em 1923, quando Idelfonso Albano contrata uma firma americana e o serviço de água e esgoto é inaugurado em 3 de maio de 1926. A água encanada vinha do açude Acarape, trabalho executado sob direção do engenheiro Vitoriano Borges de Melo. Depoimento de José Barros Maia No abastecimento d’água de Fortaleza tem uma nota que reporto com muita reminiscência. No dia na inauguração das caixas d’água da Praça de Pelotas, Vitoriano Borges de Melo, que era quem tinha feito a execução do projeto de Fortaleza, explicou que não havia perigo de vir peixe na adutora para Fortaleza, porque a estrutura do nosso peixe não suportaria a pressão d’água com três atmosferas como era a tomada d’água. Ele disse isso e, muito aplaudido na explanação técnica, ele passa a volante do registro ao Moreirinha (José Moreira da Rocha, Governador do Ceará entre 1924 e 1928), que era o governador do Estado. Quando Moreirinha dá a primeira volta ao volante, salta um peixe no calçamento! O povo gritava: “Pega o uiú”, e foi aquela festa toda. O Borges de Melo não tinha explicação para justificar a presença daquele uiú, já que ele tinha feito a demonstração que não podia aparecer nenhum peixe. Enquanto
a
gurizada
corria
pra
pegar
o
uiú,
Borges de Melo ficava pálido, sem ter saída para justificar aquilo. Mas ele não perdeu sua calma, continuou o registro aberto e ele foi até o fim. Bateu palmas pela inauguração e parou. No dia seguinte, em uma reunião que eu estava presente, foi que ele chegou à conclusão: na lagoa de Porangabuçu, na véspera da inauguração, tinha rompido o encanamento e esse uiú deve ter vindo em uma ampola de ar na cabeceira do jato d’água e, aí, na inauguração ele saltou. O peixe não foi esmagado pela pressão porque estava exatamente dentro da ampola de ar. Então Borges de Melo, no dia seguinte, voltou ao local para explicar ao povo o que tinha acontecido. (MAIA apud PONTE; SOUZA, 1996, p. 179)
imagem_ caixas d’água vistas da Praça Clóvis Beviláqua (antiga Praça Visconde de Pelotas) no início do século XX | arquivo Nirez
Sem que se registrasse uma ampliação da área atendida pelo sistema de água proveniente do Acarape, permaneceu a costumeira preocupação dos proprietários de imóveis em instalar uma cacimba para as necessidades domésticas.
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As caixas d’água do Benfica mantiveram-se em atividade, abastecendo parte da capital cearense, até o ano de 1967. Na mesma década, uma nova caixa d’água foi erguida ao lado dos reservatórios de ferro. Essa, ainda encontra-se em atividade armazenando e distribuindo água pela CAGECE – Companhia de Água e Esgotos do Estado do Ceará.
imagem_ nova caixa d’água na frente dos reservatórios antigos, em 1986 | arquivo O Povo
imagem_ estado atual do gradil que circunda os reservatรณrios | acervo pessoal
NOVOUSO
Segundo a definição do Conselho Internacional de Museus (ICOM, 2001) o museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade.
imagem_ Museu do Louvre, um dos mais famosos museus do mundo, em Paris | boards.cruisecritic.com
De acordo com Nassif (2013), sua etimologia vem do grego Museion – a casa das Musas que era designada a abrigar as nove filhas de Zeus e Mneumosine – a deusa da memória. As musas representavam a História, a Poesia Épica, a Poesia Romântica, a Música, a Tragédia, os Hinos, a Dança, a Comédia e a Astronomia, o que configurou sua casa como lugar de criação artística e memória. O termo designou o Mouseion de Alexandria, do século II a. C., também conhecida como Biblioteca de Alexandria, um complexo que apoiava a comunidade local e se destinava ao estudo em suas diversas faces. A origem dos museus surgiu a partir do hábito humano do colecionismo, que desde a antiguidade acompanha o homem através do acumulo de objetos, seja por valor afetivo, cultural ou
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MUSEU
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material. Milhares de anos atrás já se faziam registros de instituições semelhantes ao museu moderno. Porém, somente no século XVII se consolidou o museu como conhecemos hoje em dia. Existem diferentes tipologias de museus, essas variam de acordo com seu acervo. Segundo o Ministério da Cultura, são: 1. Antropologia e Etnografia coleções relacionadas às diversas etnias, voltadas para o estudo antropológico e social das diferentes culturas. 2. Arqueologia coleções de bens culturais portadores de valor histórico. 3. Artes Visuais - coleções de pintura, esculturas, gravuras, desenhos, incluindo a produção relacionada à Arte Sacra. 4. Ciências Naturais e História Natural - bens culturais relacionados às Ciências Biológicas, às Geociências e à Oceanografia 5. Ciência e Tecnologia – bens culturais que ilustram acontecimentos ou períodos da história. 6. Imagem e Som documentos sonoros, videográficos, filmográficos e fotográficos. 7. Virtual - bens culturais que se apresentam mediados pela tecnologia de interação cibernética (internet).
imagem_ Museu de História Natural, em Londres | mapadelondres.org
Apesar de que, em alguns casos, museus ainda funcionem como depósito de antiguidades, hoje, já existe uma maior dinamização desses espaços, que estão incorporando atividades de interação entre o público e o edifício em que se encontra instalado.
imagens_ sala da exaltação, no Museu do Futebol e beco das palavras, no Museu da Língua Portuguesa | www.superuber.com
Nessa linha, Costa (2006) afirma que o museu é um espaço ativo, dinâmico, onde acontecem eventos, exposições e palestras. É um local de pesquisa e estudos, com salas específicas para o desenvolvimento de atividades técnicas, artísticas ou programas educacionais, exigindo, para tanto, que o edifício destinado a este uso seja projetado ou ambientado para convenientemente atender estas expectativas. Hoje, a crescente necessidade de lazer ra, é um dos motivos que possibilita ao museu pel de destaque nas cidades. E, além disso, é portante seguimento regenerador de centros
e cultuum paum imurbanos.
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PROJETOSDEREFERÃ&#x160;NCIA
BIBLIOTECA-PARQUE Opera Prima 2013 “Reciclagem Urbana: Biblioteca-Parque como Elemento Regenerador” é o tema do projeto de reabilitação de um conjunto de silos em desuso na capital gaúcha. Defendido na Uniritter, em 2011, pela aluna Camila Thiesen, foi um dos vencedores do Opera Prima de 2013.
imagem_ implantação do projeto | ArcoWeb
O trabalho fica situado no cais dos Navegantes, em Porto Alegre, próximo ao centro da cidade e margeando o lago Guaíba. A escolha do local deve-se à existência de um conjunto abandonado de silos, construídos em 1954 pela Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), mas inoperantes desde os anos 1970. O programa é de uma biblioteca-parque, com uma área aberta implantada no entorno dos silos. O projeto abrigaria um local de expansão para a Biblioteca Pública Estadual do Rio Grande do Sul e a conectaria à
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cidade através do parque, que é composto por uma área de vegetação e por uma praça seca/esplanada de acesso à edificação.
imagem_ vista do novo complexo (à direita, a torre externa de escadas e elevadores permite acesso direto ao terraço da cobertura) através da esplanada | ArcoWeb
imagem_ vista da área inferior ao silos e o mezanino | ArcoWeb
O conceito do projeto baseia-se na ideia de trocar os grãos pelos livros, ou seja, implantar acervos e salas de leitura no interior dos silos. A biblioteca teria uma ocupação vertical, totalizando seis pavimentos ao longo das estruturas circulares de concreto, onde dezesseis cilindros são reservados ao acervo e intercomunicáveis, enquanto oito deles dedicados às salas de leitura.
imagem_ planta tipo de ocupação dos silos | ArcoWeb
Restam dois silos ocupados por escadas helicoidais, que servem de auxilio ao deslocamento vertical da torre central de administração e outros sete vazios para promover a experiência da verticalidade dessas estruturas.
imagem_ planta da sala de leitura criada acima dos silos | ArcoWeb
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Na coberta, foi criada ainda uma grande sala retangular de leitura, que por ser envidraçada proporciona vista para a cidade e para o lago. E, sobre ela, um terraço com acesso interno ou direto, pelo parque. Já o térreo é o local de acesso e de transição do parque para a biblioteca, que funciona através de um pé direito elevado resultante do rebaixamento parcial do térreo para a cota do subsolo existente.
imagem_ planta baixa do mezanino | ArcoWeb
Na projeção dos silos, o nível inferior foi reservado ao auditório o foyer, enquanto o superior abriga o mezanino de acesso à biblioteca. Sobre o restante do subsolo, reservado ao estacionamento de veículos, estão localizados a praça seca e um espelho d’água. No interior, o acervo seria constituído por estantes de MDF afastadas das paredes de concreto, que acomodariam os livros nos silos. Já os pisos seriam de chapa perfurada e vidro.
imagem_ perspectiva interna da grande sala de leitura, localizada na cobertura da edificação | ArcoWeb
imagem_ vista interna do acervo no interior dos silos | ArcoWeb
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TORRE DE ÁGUA DE JAEGERSBORG
Em 2004, o escritório Dorte Mandrup Arkitekter Aps venceu um concurso para transformar a torre de água de Jaegersborg, construída na década de 50, em Copenhague, Dinamarca, em um prédio de uso misto voltado para acolher habitações estudantis.
imagem_ torre de água na paisagem local | Archdaily
Uma das premissas do projeto foi a conservação da estrutura original do reservatório de água, que era uma marco na paisagem urbana local. Em 2006, o projeto foi realizado, preservando a concepção original das doze colunas exteriores, e das seis colunas interiores, bem como o coroamento do reservatório.
imagem_ esquema de demonstração processo aditivo e transformação | Archdaily
Os apoios estruturais continuaram como estrutura portante em que são acoplados quatro pavimentos de lazer e entretenimento na base, e aproximadamente 40 unidades habitacionais de 32 m² e 36 m², em 5 pavimentos, com diferentes arranjos. A forma das unidades foi concebida de forma variada com o intuito de proporcionar uma fachada dinâmica, com projeções que favorecem a contemplação da paisagem exterior através de amplos planos de vidro. A transposição dos limites estruturais, a partir de pequenos balanços externos, permitiu ainda um espaço adicional incorporado às compactas habitações.
imagem_ esquema de incorporação do balanço | Archdaily
O espaço interior das unidades adota uma solução não convencional e compatível ao estilo de vida dos estudantes, com design compacto de banheiro, cozinha, roupeiro, superfície de estudo-trabalho e cama suspensa.
imagens_ corte e interior das unidades | Archdaily
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Apesar da proposta convencional de torre multifuncional, com base coletiva (serviços, lazer e entretenimento) e corpo habitacional, a torre sustenta o conceito de flexibilidade, adaptabilidade e sustentabilidade, ao comprovar a capacidade de transmutação e vitalidade, através da intervenção.
imagem_ esquema de ocupação da torre | Archdaily
imagens_ elevação e corte da torre | Archdaily
Inaugurado em 2006, o museu é resultado da reciclagem do edifício da Estação da Luz. Ele ocupa espaços onde anteriormente funcionavam escritórios administrativos da estação de trem, localizada no bairro da Luz, na região central de São Paulo. Os responsáveis pelo projeto são Paulo Mendes da Rocha e seu filho Pedro.
imagem_ prédio da Estação da Luz, onde atualmente funciona o Museu da Língua Portuguesa | www.saopaulo.sp.gov.br
A construção data de 1901 e foi construída nos moldes da arquitetura inglesa. Sofreu diversas intervenções, sendo a maior dela após um incêndio em 1946, que destruiu uma boa parte do prédio, deixando intacta apenas a ala oeste. A obra durou de 1947 a 1951 e nela foi feito o acréscimo de um andar em concreto armado, que alterou a volumetria original. O tombamento do edifício é dado nas esferas estadual (Condephaat), municipal (Conpresp) e federal (Iphan), desde 1982, 1991 e 1996, respectivamente. O projeto localizou a entrada e a saída nas extremidades do edifício, onde existiam pátios de carga. O pavimento térreo possui caráter público e um fluxo intenso de passageiros no centro da edificação, onde se dá o acesso aos trens, foram previs-
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MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA
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tos nesse andar a instalação de uma loja, uma livraria e um café, nos saguões laterais pensando em atender à cidade e ao museu de forma simultânea, porém o café nunca chegou a ser ativado.
imagem_ planta baixa do pavimento térreo | www.arquimuseus.arq.br
Os acessos pelos pátios de carga foram viabilizados através da implantação de uma cobertura em estrutura metálica e vidro, que não tocam o prédio, mas resolvem o abrigo dos visitantes antes de entrar no museu. Foram instalados também quatro elevadores com capacidade para trinta passageiros cada, sendo dois na entrada e dois na saída. O percurso sugerido aos visitantes é ir de elevador direto para o terceiro pavimento, onde ficam o auditório e a praça da língua, em seguida descer para o segundo pavimento pelos mesmos elevadores (ala leste) e percorrer toda a extensão do prédio descendo pelos elevadores da ala oeste até chegar ao pátio de saída.
imagem_ planta baixa do terceiro pavimento | www.arquimuseus.arq.br
A chegada ao terceiro pavimento acontece em um piso elevado, que proporciona uma relação espacial diferente devido à proximidade com o teto e à criação de novas visadas externas uma vez que as janelas ficaram praticamente sem peitoris, possibilitando maior ângulo de visão da rua.
imagem_ corte longitudinal | www.arquimuseus.arq.br
Começa, então, a apresentação inicial da língua portuguesa no auditório com um filme que mostra a origem e a transformação da linguagem. Ao terminar a projeção, a tela se abre e convida os visitantes a entrarem no próximo espaço da praça da língua. Nesse ambiente, o público assiste às obras de literatura declamadas em projeções que invadem todo o espaço, paredes, pisos e telhados.
imagem_ praça da língua | sp.viajantebrasileiro.com.br
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Ao fundo da praça existe um pequeno palco para uso múltiplo e apoio de banheiro, camarim e copa. No segundo pavimento, foi montado um grande corredor expositivo de 110m de comprimento chamado de grande galeria, onde 34 projetores interligados apresentam filmes de diversos temas.
imagem_ planta baixa do segundo pavimento | www.arquimuseus.arq.br
Na metade da galeria, uma pequena praça, chamada galeria das influências, se abre, dando um respiro ao percurso. Nesse ambiente está o único acervo físico do museu, apresentado em vitrines, além de um painel com a linha do tempo das principais línguas que influenciaram a formação da língua portuguesa. E então, o percurso segue pelo segundo trecho da galeria.
imagem_ planta baixa do primeiro pavimento | www.arquimuseus.arq.br
Na ala leste do primeiro pavimento, o último do percurso, localiza-se a sala de exposições temporárias e na ala oeste foram instalados os escritórios administrativos do museu, junto a salas educacionais e de pesquisa, que preservam quase na íntegra os elementos originais da construção de 1901.
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OTERRITÃ&#x201C;RIO
imagem_ esquina Ant. Pompeu com General Sampaio | acervo pessoal
TERRENO
O terreno em que as caixas d’água ficam localizadas não possui um desnível muito notável, ele é praticamente todo plano. Encontra-se circundado por vias de grande fluxo, tendo seus acessos principais pela Rua Senador Pompeu pra quem vem no sentido norte-sul e pela Rua General Sampaio no sentido sul-norte. Ele é ocupado atualmente por dois estacionamentos de veículos, um deles particular e outro que funciona para os alunos e funcionários da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), edificação que faz limite com o terreno. Além disso, ao lado das duas caixas d’água de ferro, objetos de estudo dessa pesquisa, existe ainda outro reservatório, que se encontra em funcionamento, distribuindo água pela Companhia de água e Esgotos do Estado do Ceará (CAGECE).
imagem_ localização do terreno de intervenção | acervo pessoal
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ENTORNO
Uso do Solo No entorno da área de intervenção, pode-se encontrar um estilo de ocupação diversificado, é possível notar que com a mudança de bairro entre o Centro e o Benfica, modifica-se também a dinâmica local. A porção que engloba parte do Centro da cidade abriga mais edificações de interesse comercial e que oferecem algum tipo de serviço, além da presença de construções institucionais e de duas áreas livres.
imagem_ estudo de ocupação do entorno das caixas d’água | acervo pessoal
Já na parte que se encontra no bairro Benfica, pode-se notar a adição de um maior número edificações residenciais entre os comércios e serviços, que também se fazem presente, o que leva a uma maior diversificação de movimento gerado no local. Nota-se ainda uma característica comum entre as duas porções, que é a presença de espaços subutilizados, esses no geral correspondem aos estacionamentos de veículos. Esse tipo de ocupação pode ser observado, inclusive, no entorno imediato das caixas d’água, que são os objetos
principais do estudo. Esse é um fato que colabora fortemente com a degradação do local e com a falta de vitalidade das mesmas. Equipamentos No que se refere a equipamentos, a presença de um grande equipamento de saúde, como é o caso do Instituto Doutor José Frota (IJF), influencia bastante da dinâmica de movimentação da área.
imagem_ estudo de localização de equipamentos presentes no entorno das caixas d’água do Benfica | acervo pessoal
Além disso, é relevante destacar a presença de edificações educacionais e a escassez de equipamentos culturais no entorno dos reservatórios. Porém, aumentando o raio de alcance, já é possível localizar vários pólos culturais alternando-se com os educacionais, principalmente na região do centro de Fortaleza. Entre eles, encontram-se equipamentos como museus, teatros e duas bibliotecas públicas (do Bnb e a Biblioteca Municipal Dolor Barreira).
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A partir desse fato, pode-se concluir a importância desse tipo de equipamento para movimentar centros urbanos, ainda mais quando existe uma grande quantidade de público a ser atingido, como é o caso da área do entorno dos reservatórios, que possui um número bastante considerável de equipamentos educacionais.
imagem_ localização de pólos educacionais e culturais | acervo pessoal
Sistema Viário As caixas d’água do Benfica encontram-se localizadas em uma quadra dividida por vias arteriais do tipo 1, correspondendo às ruas General Sampaio e Senador Pompeu, e por uma via arterial do tipo 2, que é a Rua Antônio Pompeu, via que separa os dois bairros (Centro e Benfica). Ambas a ruas possuem tráfego bastante intenso em todos os turnos do dia. Nota-se também que a região possui um grande número de paradas de ônibus,
possibilitando uma maior facilidade de acesso.
imagem_ sistema viário do entorno das caixas d’água do Benfica | acervo pessoal
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PROPOSTADEINTERVENÇÃO
imagem_ estado atual de um dos reservatรณrios | acervo pessoal
No caso das caixas d’água do Benfica, é necessário que a estrutura passe primeiramente por um processo de recuperação de acordo com o elementos descritos no mapa de danos abaixo, para que posteriormente possa receber a intervenção. Mapa de danos: • Chapas de aço dos reservatórios descolando • Algumas vigas radiais apresentam rachaduras • Cobertas com rachaduras • Guarda-corpos, escada helicoidal, refletores e tubulação original oxidados • Presença de pichações • Gradil de ferro deteriorado • Edifício anexo sofreu perda de elementos decorativos, pintura e esquadrias PROJETO DE INTERVENÇÃO
A proposta consiste em uma adequação das edificações históricas a uma nova função. As caixas d’água do Benfica, que outrora fizeram parte do primeiro sistema de distribuição de água da cidade, se ajustam ao programa de um Museu do Centro associado à um parque urbano. A intenção é utilizar a própria edificação como elemento de exposição, visto que se trata de uma construção que possui uma história própria a ser contada dentro do contexto urbano do centro da cidade de Fortaleza. Além de apresentar características bastante singulares, pois exercia uma função bem específica servindo a uma sociedade de outra época. Dessa forma, objetiva-se principalmente a afirmação desse espaço, que foi esquecido ao longo do tempo, porém fez-se presente na paisagem da cidade,
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DIRETRIZES PARA O PROJETO DE RESTAURO
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auxiliando na definição da identidade local.
A intervenção estrutura-se em duas partes:
1) Área de entorno imediato dos reservatórios, que funcionará como Parque Urbano. 2) Interior e corpo dos reservatórios, que engloba o núcleo de atividades voltadas para o museu.
imagem_ diagrama de estruturação do programa de necessidades | acervo pessoal
É importante destacar que as edificações não possuem um decreto de tombamento, pelo fato de ainda se encontrarem sob proteção provisória desde 2005. Dessa forma, serão levadas em consideração para guiar a proposta de intervenção: a Lei do Patrimônio Municipal Nº 9347 de 11 de Março de 2008 e os princípios descritos nas cartas de restauro de Veneza e de Burra.
PROGRAMA
Parque Urbano Área: 2307,88m² Área de convívio Quiosque de vendas Bicicletário Playground Área de estacionamento Edifício anexo
Área: 55,78m²
Recepção Segurança/Controle Depósito Administração Reservatório 01 Área: 326,21m² Memorial do abatecimento de água em Fortaleza Acervo bibliotecário Área de pesquisa Reservatório 02 Área: 494,74m² Espaço Multiuso Banheiro Masculino Banheiro Feminino Banheiro Acessível Café/Bar/Exposição temporária Sala de projeção Área Total: 3184.61 m²
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O PARQUE
Diante da existência de dois estacionamentos de veículos no entorno das caixas d’água, propõe-se a retirada de um deles para a implantação de uma praça térrea. O outro, que serve aos alunos da Faculdade de Direito, instalada no prédio vizinho aos reservatórios, continuará servindo à instituição e também aos visitantes do museu, porém será em parte coberto por uma estrutura, que funcionará como uma praça elevada.
imagem_ perspectiva geral da intervenção | acervo pessoal | edição: Lucas Tavares
Essa estrutura foi pensada para transformar a dinâmica da área de estacionamento, que se mostra como agravante para a atual situação do entorno dos reservatórios. Ela se projeta ao longo das vagas, fazendo limite com o prédio da faculdade, mas mantendo uma distancia segura dos elementos históricos, crescendo apenas em uma das extremidades, após liberar visualmente a paisagem de fundo das caixas d’água.
imagem_ perspectiva da área de estacionamento | acervo pessoal
A praça elevada possui acesso direto através de escada e elevador, localizados próximos à entrada de veículos do estacionamento, além de possuir conexão com a praça térrea, por meio de uma escadaria/arquibancada, e também com o 1° pavimento da intervenção proposta para as caixas d’água.
imagem_ perspectiva da parte mais estreira da praça elevada | acervo pessoal
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FACULDADE DE D
PRO
EMBARQUE / DESEMB.
ACESSO VEÍCULO
RUA GENERAL SAMPAIO
PARADA DE ONIBUS
Os demais acessos aos reservatórios acontecem com a retirada de dois módulos da grade que compõem o gradil que os circunda, porém suas marcações originais serão mantidas na paginação. Um deles retirado mais a leste, o que possibilita que ocorra o acesso direto da praça térrea com os dois reservatórios, e o outro mais ao norte, proporcionando fácil conexão entre a área de estacionamento, embarque/desembarque com o interior do gradil.
ACESSO PRAÇA ELEV.
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ACESSO PEDESTRE
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ACE PEDE
RUA ANTÔN
_ implantação 1 estacionamento 2 playground 3 quiosque/comércio 4 bicicletário
Essa área de parque contará com a presença de mobiliário urbano voltado para o lazer, quiosques de comércio e bicicletário. A implantação desses elementos foi pensada de modo que valorizasse as edificações históricas. Dessa forma, a praça térrea, que fica na lateral leste dos reservatórios, uma visada importante para quem vem do Instituto Doutor José Frota (IJF), receberá apenas vegetação e mobiliário de pequeno porte para não com-
ACESSO PEDESTRE
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ACESSO PRAÇA ELEV.
RUA SENADOR POMPEU
SAÍDA VEÍCULO
OJEÇÃO PRAÇA ELEVADA
INSTITUTO DR. JOSÉ FROTA (IJF)
DIREITO DA UFC
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ESSO ESTRE
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prometer a visibilidade dos reservatórios. Enquanto elementos como quiosques e playground foram locados abaixo da estrutura da caixa d’água mais nova, que se encontra em funcionamento.
imagem_ perspectiva da área de quiosques | acervo pessoal
imagem_ perspectiva da área de playgound | acervo pessoal
A paginação de piso e desenho dos canteiros também seguiram esse raciocínio de exaltação das caixas d’água de ferro, apresentando uma centralidade a ser alcançada através de elementos radiais. Com exceção do estacionamento, que a própria paginação se transforma na demarcação das vagas de veículos. Foram propostos materiais como o concreto permeável em dois tons para a praça térrea e o para o estacionamento. Já a estrutura elevada, que compõe a outra praça, seria revestida com madeira plástica também em dois tons, um mais acinzentado e outro avermelhado.
imagens_ perspectivas da praça elevada | acervo pessoal
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MUSEU DO CENTRO
O programa do museu começa a partir do edifício anexo, que funcionará como uma espécie de área de controle do parque e dos reservatórios. No térreo do bloco central foi locada a recepção e no pavimento superior a administração, que tem conexão com o 1° pavimento das caixas d’água. Já nos outros dois blocos encontram-se uma sala de segurança e um depósito. Foi adicionada a ele uma rampa para tornar a recepção um local acessível.
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_ térreo 1 recepção 2 segurança/controle 3 depósito 4 banheiros 5 espaço multiuso
O mesmo acontece com o térreo das caixas d’água, que além das escadas originais em concreto, que permitem a chegada até a escada helicoidal, acesso original ao topo dos reservatórios, ganha também uma rampa, que segue a forma da base que une as duas caixas d’água. Nesse pavimento, foram locados os banheiros masculino, feminino, PNE e um espaço multiuso a ser apropriado de diversas formas por seu público frequentador.
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imagem_ perspectiva do edifício anexo | acervo pessoal
imagem_ perspectiva do espaço multiuso | acervo pessoal | edição: Lucas Tavares
imagem_ perspectiva rampa de acesso do tĂŠrreo | acervo pessoal
imagem_ acesso torre de circulação vertical | acervo pessoal
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O acesso principal às caixas d’água acontece através de uma torre de elevadores panorâmicos e escada, localizada logo a frente dos portões de entrada do gradil que cerca os reservatórios. A intenção é tomar como partido esse contato direto e inicial com o elemento de intervenção para exaltar o contraste entre o novo e o existente. Com esse objetivo, foi proposta também a utilização de materiais como estrutura metálica pintada na cor vinho, que se opõe ao concreto desgastado da edificação existente, e o vidro como fechamento, que permite certa permeabilidade visual, pensando em resguardar o máximo a visibilidade da estrutura original. Optou-se por criar um nível acima do primeiro lance de vigas radiais, com estrutura auxiliar completamente independente com perfis metálicos em “I”, pois as vigas existentes não suportariam o peso de um laje, visto que foram projetadas para cumpri-
imagem_ fachada sul da intervenção | acervo pessoal
rem uma função específica, além do fato de serem muito antigas. Foram utilizados 8 novos pilares posicionados entre os originais, de onde saem 8 novas vigas, que se encontram no pilar central.
imagem_ perspectiva estrutura auxiliar | acervo pessoal
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Nesse pavimento, no reservatório R1, foi proposta a criação de um memorial do abastecimento de água em Fortaleza, onde será contada a história das caixas d’água em expositores radiais, além de possuir área para contemplação do contexto urbano do entorno e um pequeno acervo de pesquisa referente ao tema. A laje desse ambiente possui ainda rasgos que possibilitarão a visualização da estrutura original abaixo da nova. O memorial possui ainda ligação direta com a praça elevada, que cobre o estacionamento.
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_ 1° pavimento intervenção 1 administração 2 memorial do abastecimento de água em Fortaleza 3 café/bar/exposição temporária/eventos 4 quiosque/comércio
Já no reservatório R2, funcionará um café/bar, que dividirá seu espaço com eventuais exposições temporárias e eventos. A ideia é que a cozinha sirva lanches rápidos de serem preparados, que cheguem até o local parcialmente prontos, possibilitando assim, que não haja necessidade de uma estrutura maior para a realização desse serviço. Sendo a disposição das mesas intercalada com os expositores, o que proporciona maior facilidade no acesso às obras.
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imagem_ perspectiva memorial do abastecimento de água em Fortaleza | acervo pessoal | edição: Lucas Tavares
imagem_ perspectiva memorial | acervo pessoal
imagem_ perspectiva café/bar | acervo pessoal | edição: Lucas Tavares
imagem_ perspectiva café/bar | acervo pessoal
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A ventilação desses ambientes ocorrerá através da coberta de vidro, que possui aberturas com apoios metálicos para instalação das máquinas de ar-condicionado. Essas receberão o resfriamento vindo por baixo pela tubulação original das caixas d’água, que foi conservada com o intuito de servir de caminho para as demais instalações.
_ coberta 2° lance de vigas
imagem_ detalhe coberta de vidro | acervo pessoal
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Ao longo do corpo estrutural dos reservatórios, optou-se por ocupar apenas um nível acima das vigas, com a intenção de não esconder completamente a estrutura original, que é o que dar as caixas d’águas essa singularidade. R2
1° pavimento intervenção (café/bar e memorial) térreo (espaço multiuso e banheiros) imagem_ diagrama de ocupação | acervo pessoal
imagem_ vista do café a partir da plataforma de circulação | acervo pessoal
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A conexão entre os dois reservatórios ocorre por meio de uma plataforma em estrutura metálica. Quando não existe um pavimento a ser acessado, a escada se transforma em um patamar mais extenso, que serve como ponto de contemplação da edificação e do seu entorno. Subindo até os reservatórios, foi proposta a criação de aberturas para colocação de esquadrias de entrada e a implantação de lajes. A espessura da estrutura possibilita que sejam feitas as intervenções sem necessidade de um reforço estrutural, visto que suportava uma carga tão grande quando exercia a função de armazenamento de água.
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imagem_ corte em perspectiva | acervo pessoal
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O interior do reservatório R1 abriga um pequeno acervo bibliotecário físico e digital. Além disso, aproveitando o pé direito mais elevado no centro da estrutura, foi criado um mezanino para que no pavimento superior possa funcionar uma área de pesquisa. Ele acontece através de um pilar circular, que abaixo da laje recebe um pequeno reforço, acompanhado de uma escada helicoidal.
CAIXA D’ÁGUA EM FUNCIONAMENTO
_ intervenção reservatórios 1 acervo bibliotecário 2 sala de projeção
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Já no R2, encontra-se a sala de projeção, onde serão projetadas em suas paredes imagens do centro da cidade de Fortaleza em diversas épocas, permitindo ao visitante que se sinta em uma espécie de planetário. Existe a opção de percorrer a circunferência a pé ou assistir sentado no mobiliário proposto no centro da laje. Essas projeções acontecem a partir de projetores locados abaixo da tampa, que se repetem ao longo do reservatório
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imagem_ perspectiva acervo bibliotecário | acervo pessoal
CAIXA D’ÁGUA EM FUNCIONAMENTO
_ intervenção reservatórios (mezanino) 1 área de pesquisa
imagem_ perspectiva mezanino | acervo pessoal
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imagem_ perspectiva do interior do acervo bibliotecário | acervo pessoal | edição: Lucas Tavares
imagem_ perspectiva do interior do acervo bibliotecário | acervo pessoal
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imagem_ perspectiva sala de projeção | acervo pessoal | edição: Lucas Tavares
imagem_ perspectiva sala de projeção | acervo pessoal
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Por fim, acima do nível das tampas, telhas metálicas fazem a cobertura da área de circulação vertical e de conexão entre as caixas d’água. As intervenções propostas estão de acordo com o artigo 5 da carta de Veneza, onde revela que devem ser autorizadas adaptações necessárias exigidas pela evolução dos usos e costumes.
CAIXA D’ÁGUA EM FUNCIONAMENTO
_ coberta
imagem_ vista circulação vertical | acervo pessoal
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imagem_ perspectiva geral | acervo pessoal
Com o presente trabalho buscou-se discutir sobre a deterioração de edificações que não são mais adequadas aos seus usos propostos originalmente e as formas de intervenção nas mesmas, procurando meios de interromper o processo de declínio no espaço urbano, observado principalmente em áreas centrais. A reciclagem de antigas estruturas surge como uma alternativa a ociosidade de construções abandonas, além de auxiliar contra a degradação de uma região e promover a preservação da mémoria de um local. Foi proposta então a adequação das Caixas d’água do Benfica à um programa de necessidades que atenda ao público frenquentador de um museu, o que é bastante pertinente, visto que a edificação em questão possui uma história própria a ser contada, podendo fazer parte assim do material a ser exposto, contando com o fato de que elas são um importante elemento participante da história do centro de Fortaleza.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
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Trabalho Final de Graduação | Reciclagem Urbana | Caixas d’água do Benfica
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Karolinne Carvalho Dezembro | 2015