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Com o ator Paulo Villaça em O Bandido da Luz Vermelha, de Sganzerla
ARQUIVO TEMPO GLAUBER
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ascida nos Barris há 70 anos, em 23 de maio de 1939. Descendente dos Pinto de Melo e Silva e da mulher de Caramuru, Catarina Paraguaçu. Audaciosa, desde o início. Menina, sonhava ser noiva de Cristo. Adolescente, era linda e arrancava suspiros. Eleita Glamour Girl, ganhou joias de jade de um banqueiro. Aos 17, começou a estudar teatro. Então conheceu Glauber Rocha, segundo ele conta, em um baile regado a uísque e mambo. Casou aos 19. Cinco anos depois: separação. Helena o traíra com um colega da Escola de Teatro. “Foi um tesão destrutivo, só isso”, contaria depois. Em 1968, conheceu um novo amor, Rogério Sganzerla. Casaram durante as filmagens de O Bandido da Luz Vermelha. Foram quase 36 anos de paixão. Ele morreu em janeiro de 2004. Ficou Helena, a mulher de todos, de Rogério, de Glauber, de Júlio Bressane, do bandido, da arte. Aos 70 anos, “ligeiramente nervosa, radical com a mediocridade”, como classificou Glauber, Helena é uma diva.
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Uma diva que inspira gerações inteiras no cinema e no teatro. Só neste século, já foi homenageada em festivais de cinema na Suíça, Alemanha e Itália. Ainda em 2009, Helena vai receber homenagem nos festivais de Trieste e de Verona, na Itália, tanto pelo seu próprio legado artístico, quanto pelo do grande amor de sua vida. Mas não importa o glamour. Helena, a diva, é trabalhadora incansável. Neste momento, ao mesmo tempo em que finaliza um dos longas mais importantes da sua carreira, ensaia uma peça de teatro.
CORAJOSA
Cena de O Pátio, de 1959. O primeiro filme de Helena e de Glauber Rocha
NA SELEÇÃO, APENAS LONGAS DIRIGIDOS POR ROGÉRIO SGANZERLA, COMENTADOS POR ELA E PELO CRÍTICO JOÃO CARLOS SAMPAIO
filmes PREFERIDOS DE
Helena
Depois de fazer quase 30 filmes como atriz – a começar com O Pátio (1959), de Glauber, até O Signo do Caos, de Sganzerla (2003) –, sem falar de peças de teatro, Helena recebeu do marido a incumbência de dirigir a continuação do clássico O Bandido da Luz Vermelha (1968). Luz nas Trevas, a Revolta do Bandido da Luz Vermelha é um dos roteiros mais importantes que Sganzerla deixou. “O filme, na verdade, é uma HQ filosófica”, define Helena, em entrevista, por telefone. “Luz nas trevas... esse nome é explícito demais: as trevas do nosso tempo, as trevas da cultura brasileira, as trevas paulistas. Acho que está todo mundo por fora, as pessoas não estão entendendo nada. Não sabem o que estão fazendo. Não quero ser profeta em meio ao caos”, declarou Sganzerla poucos meses antes de morrer. Obra complexa, criada durante dez anos, feita de três mil páginas datilografadas, tinha inúmeras versões para as mesmas sequências. Em 2003, Sganzerla convidou um amigo, o baiano Guilherme Marback (diretor de Espeto), para ajudar a organizar o roteiro. As páginas começaram a ser divididas por blocos temáticos. Mas Rogério adoeceu: oito meses de luta contra
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ARQUIVO A TARDE
um câncer no cérebro. E oito meses de trabalho no roteiro. Do hospital, ele acompanhou o trabalho de Guilherme e Helena. “Já não falava mais, a gente lia e ele se comunicava”, descreve o baiano. Rogério morreu sem ver o texto final. Sinai, a filha mais velha do casal, conta que realizar este filme se tornou o grande foco da vida de Helena desde então. Coube à musa do Cinema Novo decidir se Jorge Bronze (codinome Tudo-ou-Nada) seria o bandido quando jovem ou o filho dele, protagonista de uma história paralela. Decisão mais coerente: a segunda opção. Afinal, a história do bandido jovem já havia sido contada em 1968.
«FOI UM PRESENTE EXTRAORDINÁRIO RECEBER ESTE PERSONAGEM»
A MULHER DE TODOS, 1969 Fábula de uma certa Ângela Carne e Osso, mulher liberada sexualmente, que experimenta playboys, vampiros e outros mais e menos cotados. Helena vive o papel central, musa sedutora, pin-up à brasileira, em meio a uma trama cheia de sensualidade, picardia, humor e um flerte com um tipo de cinema influenciado pelas vanguardas, especialmente a Nouvelle Vague francesa.