12/7/2009
LUZ DIVINA Na nova história, o bandido passou 30 anos na cadeia e aparece transformado. “Luz Vermelha é coisa do passado, hoje sou só Luz Divina”, diz o personagem de Ney Matogrosso. O filho, contudo, inspira-se nas técnicas antigas do pai. Interpretado por André Guerreiro Lopes, faz par na tela com sua esposa na vida real: Djin, filha mais nova de Helena e Rogério. “Comédia presidiária ou comédia criminal é um título que Rogério dava a esse filme”, conta a diva, “que eu brinco que será metafísico e popular, porque é ambicioso no sentido espiritual. É shakespeareano, tem uma grandeza emocionante, é de arrepiar. Ao mesmo tempo, é engraçadíssimo e tem elementos de chanchada”.
Vai ser a segunda experiência de Helena como diretora. Em 2008, filmou Canção de Baal, cinema-guerrilha feito com menos de R$ 10 mil, baseado na primeira peça escrita por Bertold Brecht. “Para mim, é muito natural falar de Brecht, é como se fosse um amigo”, diz Helena, que tem contato com o autor desde os tempos de Martim Gonçalves, na Escola de Teatro da Ufba. O codiretor de Luz nas Trevas é Ícaro Martins, que conheceu o roteiro como jurado em um dos editais de financiamento em que o filme concorreu (e perdeu). Por meio de Joel Pizzini (marido de Paloma Rocha), amigo em comum dos dois, ele se aproximou da diva. Nos anos 80, Ícaro dirigiu três filmes em parceria com outro diretor, José Antônio
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«FOI UM FILME DE ROMPIMENTO DO ESTILO QUE EU VINHA FAZENDO» O BANDIDO DA LUZ VERMELHA, 1968 História livremente baseada na figura de um criminoso que ficou conhecido nos anos 1960 por sua audácia e irreverência. O filme estabelece um enredo inspirado nas narrativas policiais do rádio. Helena interpreta Janete Jane, uma musa marginal, que balança a cabeça do “Luz Vermelha” e o torna vulnerável.
Djin e André Guerreiro em Luz das Trevas
GABRIEL CHIARATELLI | DIVULGAÇÃO
GABRIEL CHIARATELLI | DIVULGAÇÃO
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Helena dirige Nadja Turenkko e André Guerreiro
Garcia. Sobre a experiência com a nova dupla, define: “É preciso haver uma afinidade de propósitos e um respeito muito grande. Helena tem uma capacidade de concentração incrível, uma instituição fantástica e uma energia impressionante”.
PERSEVERANTE Assim como O Bandido da Luz Vermelha, assistido por seis milhões de pessoas no final da década de 60, Luz nas Trevas será um filme para o grande público. As filmagens já aconteceram, 80% delas à noite, e agora o longa está na fase da montagem – que será ousada, remetendo à paixão de Sganzerla pela linguagem de Orson Welles. O orçamento dos dois filmes, contudo, é díspar. O primeiro custou US$ 100 mil. O segundo deve sair por R$ 2,8 milhões (cerca de US$ 1,42 milhão). De Ney Matogrosso a Arrigo Barnabé, são mais de 200 profissionais envolvidos em uma produção de grande porte, cuja distribuição está sendo disputada por multinacionais. “Luz nas Trevas envolve uma produção que meu pai nunca teve, até em termos de luz e maquinário”, revela Sinai Sganzerla, que atua como produtora-executiva do filme. Formada em musicoterapia, ela já havia trabalhado com produção musical em peças de teatro da mãe, quando, em 2004, entrou para o mundo do cinema. “Poderíamos ter dado o filme para uma empresa maior, mas eu quis muito fazer”, conta a produtora, que também trabalhou em Canção de Baal. Sinai viu os pais darem o que tinham pela sétima arte. Para viabilizar O Abismo (1977), venderam um apartamento no Leblon e uma casa na praia. “O filme não deu retorno, e eles não tinham mais onde morar”, conta. Ao fim da vida, Sganzerla se tornara, segundo a filha, um cineasta entristecido, sem reconhecimento nacional, dinheiro ou
«NEM PRECISO FALAR POR QUÊ»
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COPACABANA MON AMOUR, 1970-75 As anárquicas aventuras de Sônia, uma jovem que sonha em ser cantora da Rádio Nacional, mas que, para sobreviver, acaba se oferecendo a turistas que passeiam por Copacabana. A fita cuida de atualizar a rica fauna do lugar. Helena interpreta Sônia, contemplando o rico painel de significados da personagem: doçura, sensualidade e uma inocência quase chapliniana.