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32 SALVADOR DOMINGO 13/ 7/2008

1, 2, 3 e 7 Arquivo A TARDE 4 Acervo Museu Regional do São Francisco 5 Acervo pessoal Maria Figueiredo 6 Acervo pessoal Acyr Bastos de Mello

DE JUAZEIRO PARA O MUNDO 1

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1. Com o irmão mais velho, Ederval; 2. A casa onde a família morava; 3. Patu, mãe amorosa e católica; 4. Clube 28 de Setembro, local do primeiro show; 5. Amigos na música: João, Walter Souza, Pedrito e Joel. No meio, a irmã Maria; 6. A Garotos da Lua, banda que o levou ao Rio de Janeiro; 7. Nos anos 60

São Paulo. No Carnegie Hall, em Nova York, em sua primeira apresentação fora do Brasil, em 1962, quase não entra em cena porque suas calças estavam sem vinco. E assim por diante. Compreender um artista tão detalhista pode ser tarefa complexa, mas ele também não faz grandes esforços para ser fácil. Tal qual o homem na terceira margem do rio, do conto de Guimarães Rosa, ele se isola em seu apartamento no bairro carioca do Leblon, com cada vez mais escassas aparições fora do contexto profissional e raríssimas entrevistas. Nem mesmo os vizinhos do edifício Jardim Leblon cruzam com o morador do 802. Alguns lamentam porque o músico instalou isolamento acústico. Outros reparam no descuido aparente de sua pequena área de serviço, onde um vaso de margaridas ressecadas paira, esquecido, ao lado de uma escova e de um pano velho. O vizinho parece inacessível: a socióloga Eliane Mattos, 58, conta que as portas do apartamento dele estão vedadas. Há algumas semanas, tentou passar-lhe um bilhete (estratégia usada com sucesso uma vez), mas não conseguiu encontrar uma brechinha. As fibras endurecidas do capacho e a campainha redonda, design anos 80, diante da humilde porta branca que leva à cozinha de João, são mais desgastadas por entregadores de comida do que por amigos. Quase todos os dias, o artista almoça e janta o tempero do mesmo restaurante, o Degrau, instalado há 50 anos a uma quadra dali, que entrega até duas da manhã. Gosta de bacalhau com batata e brócolis, ou filé de linguado, ou um bom tornedor, sempre acompanhado de Coca Cola light. Dá gorjetas aos entregadores e, às vezes, convida-os a entrar na copa para um cafezinho, como fez com o gerente Sebastião Alves, 56. "Ele é uma boa pessoa. Sempre

Acyr Bastos Mello, 83, o homem que expulsou João Gilberto da Garotos da Lua

«Ele faz o que quer, do jeito que quer, impõe a vontade dele a outras pessoas» Tárik de Souza, 60, crítico musical

pergunta pelo meu filho, o Alex, e me chama de Tiãozinho", conta. Amigos contam que não adianta telefonar ou tentar visitá-lo. O acreano João Donato, 73, parceiro antigo e precursor da batida da bossa-nova, revela: "Eu ligo às vezes, mas ele não atende. Ligo para a filha dele, que diz que também não tem conseguido falar com ele; ligo para Miúcha, e ela diz a mesma coisa. Antes da tecnologia, quando eu estava com ele, às vezes, só dei-

xava o telefone tocar e adivinhava quem era. Eu perguntava: 'João, mas você não vai atender?' Ele dizia: 'Não. Eu sei quem é'. Imagine agora, com a tecnologia, deve olhar o número de quem liga e pronto, deixa tocar. É o estilo dele". Em casa ou nos hotéis em que se hospeda durante as apresentações, Joãozinho passa o dia inteiro de pijama de algodão, de mangas longas e calças compridas, sentado no sofá diante da televisão ligada e sem som, com o violão nas mãos. Miúcha, 70, ex-mulher e mãe de Bebel Gilberto, conta que "a televisão é a janelinha dele para o mundo. E ele tem uma rede de amigos por telefone, que lhe permite saber o que está acontecendo". A irmã mais nova sempre recebe telefonemas carinhosos e demorados do irmão famoso. "Às vezes, o telefone toca às onze da noite e conversamos até uma da manhã", conta Maria Oliva, a Vivinha, que ainda mora em Juazeiro


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