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FOTOS REJANE CARNEIRO | AG. A TARDE

CINCO MANIAS 1. Ficar o dia inteiro de pijama dentro de casa 2. Pegar violões emprestados 3. Não atender ao telefone, nem a visitas, mas ligar de madrugada e passar horas falando 4. Pedir comida todos os dias no mesmo lugar 5. Assistir a lutas de boxe pela TV

trevista serviu para João esclarecer, com simplicidade, as linhas estéticas da sua invenção: "É preciso que o som da voz encaixe bem no do violão com a precisão de um golpe de caratê, e a letra não perca sua coerência poética". O jornalista ficou impressionado: "Eu o considero, só, a cabeça mais poderosa do Brasil. Ele faz o que quer, do jeito que quer, impõe a vontade dele a outras pessoas". Nara Leão, no programa Ensaio, gravado em 1973, afirma que João exerce grande fascínio sobre outras pessoas a ponto de fazê-las atender a todos os seus desejos, como o de passar a madrugada inteira ao telefone. "Ele tem o poder de hipnotizar as pessoas. É tão poderoso que você passa a querer ser escravo dele", analisa Roberto Menescal, 70, que decidiu "se libertar" em 1962. "Falei: ´João, vou ouvir teus discos, acompanhar tua história, mas vou seguir minha vida´. Ele entendeu". Depois, poderia ter retomado a relação, mas não o fez. Explica: "É como uma droga, se você volta, não sai mais". Mas, como todos os que estiveram com o baiano, Menescal guarda boas recordações. "Ele me mostrou o tocar violão sem ansiedade. Dizia: rapaz, você estava sendo rápido, mas não bonito. Vê bem, qual o dedo que tem que vir antes nesse acorde... ".

JUAZEIRO Ao que se sabe, João Gilberto esteve quatro vezes em Juazeiro depois da fama: em 1971, 1980, 1981 e 2003. A família não confirma a informação. A irmã mais nova, Vivinha (a única dos oito filhos de Juveniano que permanece na cidade), diz que ele vem pouco e, quando vem, só sai pela cidade acompanhado dela. Sua última visita teria sido para o enterro da mãe. No começo deste ano, mandou a filha mais nova, Luísa, passar uns dias com Vivinha. Na terra natal, lendas sobre ele é que não faltam. Segundo Regina Cussa, que não fala com ele desde os anos 80, mas segue amiga da família, é verdade que João mandava distribuir dinheiro em suas visitas, repetindo assim a caridade da mãe, Patu. E o músico também conseguiu emprego para Alexandre, um pernambucano

1. Bim Bom (1958) Baião de letra curta e simples, foi a primeira composição gravada de João 2. Hô-bá-lá-lá (1958) Segunda composição gravada, fala de amor e tem levada sensual 3. João Marcelo (1970) Feita para seu filho com Astrud Gilberto, foi gravada com orquestra, no México 4. Undiú (1973) Vocalização da palavra "Undiú", brinca com o baixo duplamente marcado do violão 5. Valsa (Como são lindos os youguis) (1973) Leitor de Paramahansa Yogananda, João homenageia aqui os estudiosos do yoga

Manuca Almeida, 44, e Márcio Ribeiro, 37: juazeirenses oscilam entre reverência e distanciamento de João Gilberto

que queria ir morar em São Paulo, mas encontrou João no caminho e virou vigia da Praça Aprígio Duarte. O publicitário e compositor Maurício Dias, 52, conta que, em 1980, João Gilberto andou pelos festejos juninos nas ruas da cidade. Às três da manhã, foi à casa de Pedro Pirulito, no Piranga, só para comer mocotó frio. E visitou João Duarte – um amigo que ele não via desde que saiu da cidade, aos 18 anos. "Vim só para ver você imitar o trem", teria dito o artista, na época, tema de um programa especial na Rede Globo. Sem hesitar, Duarte repetiu a brincadeira de menino: tirou a camisa, ficou de quatro, acendeu um cigarro e o colocou inteiro na boca – e, então, fez a simulação do trem, feliz da vida, para João dar risada... Mas, se o artista andasse pelas ruas de Juazeiro hoje, quase ninguém o reconheceria, na opinião de Maria de Lourdes Duarte, 91. Ela foi professora dele por dois meses no Clube dos Artistas, mas achou o menino muito inquieto e pediu a dona Patu para retirá-lo da turma. No Centro de Cultura João Gilberto, fundado pelo governo do Estado em 1986, não há sequer uma foto dele. Com 307 lugares, o teatro nunca o recebeu, embora seja palco de homenagens, como a realizada em junho sob a coordenação de Fred

A MINITURNÊ São Paulo: 14 e 15 de agosto. Parque do Ibirapuera, 21h. Platéia - R$ 360,00 (inteira). Setor Superior fileiras de M a P - R$ 30 Rio de Janeiro: 24 de agosto. Theatro Municipal, 21h. Frisa + Camarotes R$ 2.100 (inteira). Platéia + Balcão Nobre - R$ 350. Balcão simples - R$ 120. Galeria - R$ 30 Salvador: 5 de setembro. Platéia I - R$ 180 (inteira). Platéia II R$ 100. Platéia III R$ 30. Todos os ingressos possuem versão meia-entrada. Mais informações: 4003-2050

Pontes, 32. "A nova geração de Juazeiro foi criada com distanciamento de João Gilberto", conta o coordenador do centro, Márcio Ângelo Ribeiro, 37, o Marcinho. Em outros espaços da cidade, a distância é substituída por pura reverência. É o caso do Quintal do Poeta, uma casa de shows mantida pelo compositor de Esperando na Janela, Manuca Almeida, 44, onde a imagem do criador da batida da bossa-nova está grafitada na parede do palco. "Se eu fosse gravado por ele, mudaria minha vida", diz o conterrâneo, e se abaixa para fazer carinho no seu cachorro, um pincher batizado de João Gilberto. O cão, conta Manuca, tem a mesma rotina há três anos: ao som da hipnótica versão do baiano para Me Chama , de Lobão, estica as patas à frente, deita o focinho entre elas, fecha os olhinhos e suspira. «

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Jesus Chediak, 66, mostra as cravelhas do violão de João, trocadas e guardadas pelo irmão Almir

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