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Devagar, mas intenso Parece só uma atividade física capaz de deixar todo mundo sarado, como a cantora Madonna, mas o yoga pode proporcionar bem mais que isso

Texto KATHERINE FUNKE kfunke@grupoatarde.com.br Fotos IRACEMA CHEQUER ichequer@grupoatarde.com.br

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io Vermelho, quinta-feira, oito da noite. Depois de uma aula de Hatha Yoga, a economista Lídia Vasconcelos, 58, se sente em um oásis. “Necessito de momentos como esse, para baixar a tensão e meditar. Saio daqui em paz”, diz Lídia, que começou a praticar yoga nos anos 1980 e agora é aluna de Adrian Villas Bôas, arquiteto baiano que se dedica ao ensino de Hatha Yoga há cinco anos em Salvador. De onde vem essa paz, esse oásis? Da sua prática de yoga, que dura uma hora, uma hora e meia. Sentada em um tapete fino de borracha, de pernas cruzadas, Lídia ouve instruções para fechar os olhos, ficar em contato com a própria respiração, perceber o corpo, ajustar a postura, esquecer preocupações. É hora de prestar atenção no ar entrando e saindo das narinas, no tra-

jeto do oxigênio para dentro do corpo, no movimento interno das costelas e da barriga, no som que tudo isso faz. Adrian, então, canta um mantra com letra em sânscrito: (“Conduza-me da falsidade para a verdade,/ das trevas para a luz,/ da morte para a imortalidade/ Que haja paz”). Ele pede para Lídia repetir os versos, da forma como entendeu o som, sem se preocupar se está dizendo as palavras corretamente. Então, conduz uma respiração ritmada, em que é preciso dar um golpe rápido e forte de ar pelo nariz, e novamente inspirar e golpear para fora de novo. É depois de tudo isso que Lídia começa a movimentar o corpo. O foco da atenção então vai para a posição dos metatarsos, das patelas dos joelhos, a direção dos dedos das mãos, a força aplicada a cada gesto, a flexibilidade alcançada a cada torção. Às vezes, é preciso sustentar a mesma posição

por instantes alongados e contrair os músculos do ânus, da uretra ou do abdômen, por exemplo. A aula segue devagar, mas intensa, até o fim, quando a aluna pode relaxar no escuro, por alguns instantes, antes de sentar novamente para falar (ou vibrar) o mantra “om” (fala-se “aum”). Lídia volta para casa com um sorriso calmo no rosto.

SEM PRESSA Toda prática de yoga exige disposição e disciplina. Em vez de corpos sarados, o que se busca é um corpo saudável capaz de proporcionar aquilo que alguns chamam de “mestre interior”, “estado de yoga”, “verdade” – ou o “oásis” de que fala Lídia. Para isso, não pode haver pressa ou impaciência. O praticante precisa ter atenção plena em cada gesto, cada respiração. “Não importa o que você consegue fazer,

mas como consegue fazer. Quer dizer: de nada adianta encostar a testa no joelho se sua mente estiver em outro lugar”, ensina Tatiana Furtado, instrutora de Hatha Yoga e de Sattva Yoga do Espaço Mahtama Gandhi, na Pituba. Para Tatiana, o verdadeiro sentido da vida é a sensação que o yoga traz. Mas, para entendê-lo, é preciso se libertar de atitudes como inveja, vaidade, competitividade e distração – que podem levar o praticante a não atingir todo o potencial de uma prática, ou mesmo se machucar. Com o tempo, essa atitude mental requerida durante a prática de qualquer tipo de yoga passa a ser utilizada para outras

Ana Maria, única baiana autorizada por Pathabbi Jois, o guru do Ashtanga

atividades da vida, para além dos tapetinhos. A filosofia do yoga conduz a alguns princípios éticos comuns. São dez os yamas principais (códigos de conduta): não-violência, veracidade, não roubar, ser fiel, paciência, estabilidade, compaixão, retidão, não comer demais (não comer carne) e pureza do corpo e da mente. Praticante de Ashtanga Vinyasa Yoga há 13 anos, a cantora Madonna tem uma boa definição pessoal para o fenômeno: “Yoga é uma metáfora para a vida. Você tem que estar nela realmente bem devagar. Não pode correr. Não pode pular para a próxima posição”, disse ela, “o yoga trabalha a mente, o corpo e a alma”. O Asthanga Yoga é sistema antigo que foi disseminado no século 20 pelo guru indiano Pathabbi Jois (1915-2009). Ao estilo Vinyasa, uma posição (ou ásana) é conectada à outra, em movimento contínuo, sem paradas para descanso. Para cada movimento, ocorre uma respiração. Fisicamente, o corpo se aquece e o sangue flui com mais facilidade.


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