Perfídia

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S達o Paulo 2012



PROJETO SENTIDOS O RELÓGIO DE OURO Trabalho apresentado como parte da avaliação do Projeto Sentidos, Interdisciplinar do 2º e 3º semestre do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, Universidade Cruzeiro do Sul.


Sumário 1. Agência

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2. Introdução

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3. Desenvolvimento

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4. Perfídia

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5. Gênero do Filme e Público Alvo

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6. Planejamento de Marketing

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7. Referências Estéticas

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8. Peças Gráficas

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9. Sinopse do Filme

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10. Anexos

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11. Referências

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1. AgĂŞncia

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2. Introdução

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achado de Assis (Joaquim Maria M. de A.), jornalista, contista, cronista,

romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. Ocupou por mais de dez anos a presidência da Academia Brasileira de Letras, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis. O primeiro livro publicado por Machado de Assis foi a tradução de Queda que as mulheres têm para os tolos (1861). Começou também a colaborar em O Futuro, órgão dirigido por Faustino Xavier de Novais, irmão de sua futura esposa. Seu primeiro livro de poesias, Crisálidas, saiu em 1864. Em 1867, foi nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial. Em 1881 saiu o livro que daria uma nova direção à carreira literária de Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas, que ele publicara em folhetins na Revista Brasileira de 15 de março a 15 de dezembro de 1880. Revelou-se também extraordinário contista em Papéis avulsos (1882) e nas várias coletâneas de contos que se seguiram. “O Relógio de Ouro”, foi um conto originalmente publicado em Jornal das Famílias no ano de 1873 e compilado em Histórias da meia-noite. E fala sobre um homem que encontra um relógio de ouro em casa e se questiona sobre a fidelidade de sua esposa. Partindo do conceito sobre fidelidade, adaptamos o conto para uma trama totalmente diferente, voltado para o suspense dramático, um triângulo amoroso, duas amantes e um homem com desvio de personalidade. O filme mostra uma complicada relação de bigamia, onde um pequeno deslize pode colocar tudo a perder. O Mobe Comunicação, através do filme, mostra como funciona a mente de uma pessoa com desvio de personalidade, como se fosse peças de engrenagens e uma falha pode causar um grande estrago. E em meio de três personagens, mostramos tramas como infidelidade, gravidez, desgaste de relacionamento e assassinato. Juntando todas as atitudes e os temas mostrados, decidimos que o título “Perfídia” seria perfeito para a história, pois é sinônimo de deslealdade, falsidade, infidelidade, traição, entre outros.

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3. Desenvolvimento

P

rimeiramente ao receber o conto O Relógio de Ouro, fizemos uma leitura geral

para conhecimento do enredo e depois uma leitura individualizada para entendimento do conto. Após a leitura finalizada concluímos que Machado de Assis foi um escritor que criava histórias com personagens espelhados na nossa própria personalidade, como se nos descrevesse. As situações apresentadas em suas histórias fazem parte do nosso cotidiano, casos que já ocorriam na época de publicação do conto e que até hoje são comuns e muitas vezes não são expostos, como no conto O Relógio de Ouro que aborda a temática de traição. Para mudar o contexto do conto, decidimos criar a mesma situação de traição, porém a história é passada na atualidade, na cidade de São Paulo, onde o personagem sofre os mesmos problemas que qualquer cidadão comum de uma megalópole, os mesmo desejos, anseios, sentimentos, preocupações, frustações e situações corriqueiras, porém com uma grande dose de paranoia e alucinações devido a sua dupla vida amorosa. O personagem principal da nossa história é um Luís de Negreiros do século XXI, um empresário que após viver um casamento regado com diversas frustações, encontra um novo sentido para sua vida ao conhecer a bela Maria, que se torna o seu outro grande amor, pois sua esposa Clara jamais deixará de ser sua para sempre, jamais deixará de ser seu grande amor. Luís age como se a sua vida dupla fosse comum e tudo estivesse bem, porém a primeira possibilidade em que Luís acha que foi descoberto, ele perde totalmente o controle e traz a tona a sua personalidade mais obscura, antes adormecida, inspirada no personagem Dexter de criação do escritor Jeff Lindsay. Com o personagem principal definido partimos para a construção da narrativa, para adaptação para filme. A nossa história se inicia descrevendo com detalhes a personalidade comum de Luís e seu relacionamento com seus dois grandes amores, Maria sua amante e Clara, sua esposa. Enquanto está tudo sob controle Luís acredita que sua vida está totalmente perfeita, vivendo suas duas vidas, seus dois amores, sem que uma saiba da outra e sem que jamais desconfiem de absolutamente nada. O eixo que faz aflorar a perversa personalidade paranoica e

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totalmente psicótica é uma simples demonstração de afeto que sua amante Maria faz a Luís lhe dando um relógio de pulso de ouro, presente este ele jura jamais tirar do braço como forma de agradecimento. A sua mente já perturbada pela falta de administração de suas duas vidas, o faz fantasiar em sua mente que foi descoberto pelo seu grande amor, a sua esposa Clara e num grande lapso de paranoia ele acaba cometendo a pior ação de sua vida que é acabar com a vida de seus grandes amores. Toda a história é narrada pelos próprios personagens e no ápice de sua loucura o desfecho da história ficará subentendido e o espectador que decidirá como será o fim de Luís, que ao fantasiar em sua mente que está tudo bem, perdeu totalmente a noção que está sem seus dois amores, pois achou melhor perder as duas o amando que o odiando.

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4. Perfídia

O

sol que entrava pela janela iluminava o quarto e aquecia a pele dela, seu rosto

adormecido repousava no travesseiro e seu corpo nu se enrolava no lençol e tomava conta da cama. Luis de Negreiros abaixou os lábios para seu pescoço e enrolava sua mão nos cabelos da mulher, afundou seu rosto em seus seios e sentiu seu cheiro. Por que não conheci você antes? Ela era perfeita, queria tê-la para si. Observou as curvas de seu corpo e concluiu que eram perfeitas, desde o dedo do pé até os fios de cabelos ruivos que neste momento caíam sobre suas costas como uma cachoeira em chamas. Os olhos grandes e verdes, o nariz pequeno e perfeito e sua boca com seus lábios grossos e rosados, as sardas faziam seu rosto ser milimetricamente perfeito e se estendiam por seu colo e seios fartos e duros. Passou a mão por suas costas descobrindo seu corpo do lençol, e esse movimento fez seus seios ficarem arrepiados e enrijecidos, e em seu sono levou um esboço de sorriso em sua boca. Ela me conhece, parece que adivinha meus pensamentos. Deus, como eu quero essa mulher! Ela começou a se mexer, estava acordando, suas pernas descobriram o resto do lençol em seu corpo deixando seu sexo a mostra, o que fez Luis quase perder a cabeça. Com movimentos suaves ela tirou uma mecha de cabelo que caia sobre seu rosto e abriu os olhos, o sol fez com que eles parecessem duas grandes esmeraldas e foi com o seu sorriso com todos os dentes brancos e perfeitos que fizeram com que Luis subisse em cima dela ainda com roupa e a beijasse, e mais tarde possuí-la ali mesmo, e depois na cozinha e debaixo do chuveiro. Foi um dia estressante no trabalho. Luis de Negreiros foi direto para sua casa, que ficava próxima ao centro histórico da cidade de São Paulo, em uma rua estreita de paralelepípedos e casas antigas. Ao passar pelo hall de entrada, deixou seu guarda-chuva e seu paletó na chapeleira, e foi para o quarto, onde sua esposa Clara estava na cama falando ao celular. —... Não, é claro. Por mim está perfeito, te espero, então. – Desligou o celular ao ver Luis entrar e deu o mesmo sorriso que dava todos os dias, mas o seu rosto já não era mais o mesmo, algumas marcas de idade já apareciam em sua pele apesar de não passar dos trinta e cinco. Mas isso não tirava de Clara a sua beleza. De pele morena, seus olhos castanhos claros, o nariz afilado com a

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ponta arrebitada e lábios finos. Seus cuidados com o corpo já não eram mais os mesmos, e nem com as roupas que usava. Neste momento usava uma camiseta branca regata com um largo decote que marcava a pouca fartura de seus seios sem sutiã e uma calça jeans apertada. Seus cabelos estavam num coque, que foi desmanchado pouco depois de Luis entrar. Foi em sua direção e deu um beijo em sua boca. Ele está fumando de novo, pensou Clara. – Você me disse que ia parar... —Não me aborreça. Hoje foi um dia estressante. – Sentou na cama e descalçou os sapatos, seus pés doíam violentamente. Olhou para Clara, que agora estava em pé ao seu lado. – Fez o jantar, meu amor? —Não, pensei que poderíamos sair para jantar, talvez. – Luis virou seus olhos cansados para a esposa e analisou. Oito anos... Lembrou-se de como poderia ter sido tudo tão diferente. Os dois primeiros anos foram os melhores da sua vida, até que veio o primeiro aborto, depois o segundo, aí vieram às brigas e o que era amor se transformou em inferno. A cada minuto que passava ao lado de Clara tinha se tornado insuportável durante os últimos anos. O sexo se tornou escasso e quando tinha que fazê-lo, fazia por obrigação. A cada olhar vinha a mágoa de como sua mulher era podre por dentro, não conseguia lhe dar um filho e nem alegria de estar ao seu lado. Clara era uma desgraçada, não merecia seu amor... Maria, sim, merecia todo o amor que ele pudesse lhe dar. Mas não podia deixar isso claro, tinha que manter o relacionamento, porque apesar de tudo, Clara era a sua mulher, sua propriedade e Maria com sua jovem inocência era somente sua também. Quero minha mulher... A minha mulher de verdade, que me faz homem. E o sorriso irônico que Luis deu fez Clara soltar um profundo suspiro e como num tique insuportável, voltou a prender os cabelos. —Você não se lembra? Nove anos hoje... —Verdade, amor! Como eu poderia ter me esquecido, me desculpe, por favor. – Levantou, segurou o rosto de Clara com as mãos e beijou sua boca. - Eu acho ótimo irmos jantar... Já escolheu o restaurante? —Estava pensando se poderíamos ir naquele novo que abriu na Bela Vista.- Clara ficou radiante, parecia não se importar com o esquecimento do marido, porque afinal ele era um homem trabalhador

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e totalmente dedicado ao casamento, mesmo depois de tanto tempo,


tantos problemas e tantas brigas, ele permanecia imutável ao matrimônio. Ele era o homem de sua vida. —Por mim está ótimo, tenho que tomar um banho antes de ir, você me dá meia hora? – Era difícil, mas conseguia levar essa vida normalmente, sustentar duas mulheres ao mesmo tempo, duas vidas, duas cidades diferentes, aquilo era maravilhoso, funcionava como um jogo e para Luis é divertido demais quando se está ganhando. – Amor, amanhã terei uma viagem para Piracicaba, acho que devo voltar em três dias, tenho umas reuniões com alguns clientes e uns problemas para resolver no fórum. Clara já estava acostumada com as viagens do marido. Desde quando ele fora promovido, sua semana com a presença dele não era mais do que quatro dias. Mas agradecia a Deus por ele ser ótimo com ela e nunca faltar nada em casa. Lembrava-se do momento em que decidira largar a casa dos pais e viver seu grande amor. Lembrava-se de como sua mãe a olhou e disse que se ela saísse daquela porta, não voltaria nunca mais. E não voltou. Dois anos depois do casamento soube da notícia da morte dos pais e de como fora o último encontro. Luis tinha se tornado a única pessoa de sua vida, sem ele não teria nada. O jantar foi ótimo, sua noite maravilhosa e ao chegar a alvorada, estava sozinha, na cama, esperando seu marido voltar para seus braços. Mais uma vez. A mesa estava pronta para o jantar, o presente estava em cima da cama e tinha tomado banho e colocado o vestido que Luis mais gostava de ver nela. Penteou o cabelo para trás e prendeu com uma presilha de brilhantes que ele tinha dado em seu ultimo aniversário. E seus caracóis ruivos pendiam soltos por suas costas. Usava um vestido preto, simples, curto e sexy. Olhou para o relógio e pensou em Luis, de como que os dois se conheceram e tão cedo se tornaram amores, e se surpreendia a cada dia de como ela o amava, e também tinha certeza que era recíproco. Sentou no sofá e assistiu a novela das nove até terminar, e foi nessa hora que seu homem chegou. Entrando pela porta, Luis encontrou Maria sentada no sofá, mais linda do que nunca. Colocou o blazer na chapeleira, fechou a porta e foi recebido pela amada com um beijo demorado em sua boca. —Tenho uma surpresa pra você – Foi até o quarto e pegou a caixa que aguardava por Luis. – Eu espero que você goste, achei a sua cara! – Entregou a caixa e viu que ele não disfarçava a surpresa, estava

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tensa, não era muito difícil de agradá-lo, mas a ansiedade para que a pessoa goste do você dá é maior do que se pode segurar. A caixa continha um relógio de ouro de pulso. Tinha pequenos detalhes em verde escuro e gravado próximo aos ponteiros estava em grandes e desenhadas letras L & M e logo abaixo com o símbolo do infinito acabavam os adornos das letras. —É o presente mais lindo que eu poderia ganhar, meu amor! – Luis estava emocionado. – Não vou tirá-lo do pulso. – Perto de Clara seria uma exceção, mas Maria não precisava saber disso. Selou seu agradecimento com um beijo em sua boca. Maria se virou para arrumar a mesa para o jantar. Ajeitou seus cabelos com a mão, ligou o fogão de novo e colocou a travessa de lasanha e de peru de volta ao forno. Ao se virar, Luis já estava atrás dela e a tomou pela cintura. E uma música já tocava ao fundo... Reconheceu de primeira, Please, please, please, let me get what I want dos Smiths. E começaram a dançar ali na cozinha mesmo a balada que os levou ao primeiro beijo. Jantaram, tomaram banho, fizeram sexo e dormiram juntos e naquela noite Luis teve mais certeza ainda, de que Maria era dele para sempre, custasse o que custasse. E todas as semanas de Luis eram assim, a mentira tornou-se parte de seu cotidiano e ele não sabia o que era sentir o certo e o errado. Sua vida dupla sempre levava desculpas de um trabalho muito puxado, viagens. Mas de certa forma, sabia gerenciar duas mulheres ao mesmo tempo, mesmo amando mais uma do que a outra, as duas eram suas, Maria e Clara. Maria que era o seu nascer do sol, onde a beleza nunca repousava e seu corpo era um porto seguro. Clara já era o seu crepúsculo, o sol no fim de tarde, um lugar para descansar, se aliviar e refletir como sua vida foi, é e o que será. Era sua semana com Clara. Luis acordou, foi ao banheiro, tomou banho. Trocouse, tomou café, pegou seu carro na garagem e foi para o trabalho. Era cedo ainda, e o expediente ainda não tinha começado, mas achava melhor chegar antes porque geralmente em dias de reuniões de sócios os dias eram mais tensos, e teria que preparar uns relatórios antes que começasse. Olhou para o relógio como de costume, mas ele não estava em seu pulso. Pegou sua bolsa e também não estava lá. Refez seus últimos passos na mente e chegou a conclusão que teria o deixado em cima do

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criado-mudo.


De repente uma angústia tomou conta de si. Um sentimento de exposição, pelo medo do que poderia acontecer, do que seria se Clara descobrisse toda a verdade, como seria sua vida sem ela. Seu coração estava batendo forte. Um corvo pousou em sua janela e encarou Luis durante algum tempo, deu uma rápida e alta grasnada e no segundo seguinte não estava mais ali. A sala ficou pequena e ele não cabia ali, quando seu telefone tocou a sala girava para todas as direções ao mesmo tempo. As mãos trêmulas e suadas atenderam o telefone. Era a secretária avisando que Clara ligou e tinha uma coisa muito importante para conversar. Procurou pelo relógio de novo em seu pulso e não estava ali. O desespero era visível. Mas que diabos Clara quer tanto falar comigo? Tinha que chegar em casa, tinha que pegar o relógio, antes que qualquer coisa fora do controle pudesse acontecer. Se já não tivesse saído... Pegou a chave do carro, ao passar pela recepção avisou a secretária que precisava sair urgentemente. Foi correndo pelo estacionamento, e o barulho dos ponteiros do relógio não saia de sua cabeça e a cada segundo o som aumentava e ficava mais frenético, até um barulho surdo e ininterrupto fazia Luis querer bater a cabeça na parede até quebrar seu crânio e enfiar os dedos nos olhos para que pudesse morrer ali na hora. A imagem de Clara apareceu em sua frente, ela segurava o relógio e olhava para ele chorando e com a cara de ódio. Ela soluçava e dizia Por quê? Por quê? Estava ficando louco, só poderia ser... Porque no mesmo instante que ela estava ali chorando, não estava mais. Como podia ser tão filho da puta! Descuidado, depois de todos esses anos fazendo tudo certo, as regras, os costumes, tudo para não deixar nada escapar por suas mãos e agora um descuido tão idiota poderia colocar tudo a perder. Estou fodido, se Clara viu o relógio, acabou-se tudo. Abriu a porta do motorista, deu partida. Tudo perfeito... Até hoje. Deu um grito e socou a buzina por uns instantes. Reconheceu os cabelos ruivos no banco do carona, Maria estava ali, chorando desconsolada, colocou as mãos no rosto e dizia: Por quê? Respirou fundo, tentou se concentrar, a dor de cabeça não passa. Maria não está aqui. Não sabia explicar como, mas percebeu que seu erro despertou algo dentro de si, como se estivesse estilhaçando tudo o que cultivou durante anos. Ás vezes Clara nem vai se atentar ao relógio, um detalhe de letras tão discreto... Estou me apavorando por nada. Ela quer falar

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de outra coisa, provavelmente de alguma viagem que esteja com vontade de fazer... Nada importante para me preocupar. Queria se sentir mais calmo, mas não conseguia. Sabia que Clara o amava e nunca desconfiou de sua vida dupla, mas pensar em perder tudo o deixava louco, completamente. Amava Clara e Maria, não poderia perder nenhuma das duas, não iria... Chegou a sua casa, estacionou o carro, entrou correndo. Clara estava na cozinha e se surpreendeu com a presença do marido. —Está tudo bem, amor? Você não tinha uma reunião com os sócios hoje? —Eu... Recebi seu recado... – Joguei a isca... Olhou para Clara e sorriu. Maldita dor de cabeça. —E você largou a reunião para falar comigo? Está tudo bem contigo? Eu disse que era importante, mas não precisava largar um compromisso sério... – Clara achava aquela atitude estranha e maravilhosa, viu como seu marido se importava com ela e estava louca para fazer uma surpresa para ele, mas o jeito que ele a olhava, parecia... Atormentado, seus olhos estavam para ela, mas eles não a via. —Vou lavar o rosto, estou com dor de cabeça. – Deixou a cozinha e foi para o quarto. Até agora tudo certo... Mas sua cama não estava vazia. Tinham duas pessoas deitadas ali, embaixo dos lençóis fazendo movimentos freneticamente regulares. A pessoa que estava por cima se descobriu por completo. E ali estava Clara, cavalgando no colo de alguém, a primeiro momento não reconheceu quem seria, estava desacreditado. Ao chegar mais perto, achou que estaria louco. Aqueles cabelos ondulados e ruivos... Aquele rosto perfeito... Era Maria que estava ali. As duas pareciam não notar sua presença no quarto, estavam completamente concentradas no ato sexual. Maria se sentou e se encaixou em uma coxa de Clara, e ela fez o mesmo. Se beijando e roçando o sexo uma perna da outra. Clara pegou um dos fartos seios de Maria e colocou na boca, massageou seu corpo e gemeu alto. Respirou fundo e deitou novamente, enquanto Clara enchia seu corpo de beijos e lambidas e ia cada vez mais para baixo. Luis não estava mais suportando ver aquela cena, para ele, aquilo estava fora do limite, nem ele fora tão baixo em todos esses anos. Agora Maria gritava de prazer e Clara terminou com um longo beijo na boca enquanto agitava

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seus dedos em seu sexo.


Luis virou-se, pegou o relógio em seu criado-mudo, e reparou que as duas não estavam mais na cama. Não havia ninguém no quarto. E a cama estava arrumada. Isso não pode ser verdade! O que está acontecendo? De repente, Clara estava do seu lado, com as mãos em seu rosto e falando coisas que Luis não entendia. A cabeça estava doendo violentamente e não conseguia ouvir mais nada a não ser o tic tac do relógio. Essa é a sua vingança, vadia? E num só golpe, virou um soco no meio do rosto de Clara, que caiu na hora. As duas descobriram e agora querem se vingar de mim! Só pode ser... Jogada no chão e chorando, sua mão estava segurando seu rosto. Estava sangrando, um corte que pegou do nariz até o olho. Não conseguia enxergar pelo olho esquerdo, o sangue estava tomando conta da visão. Berrou desesperada, e o grito foi recebido com um chute na boca. De repente um clarão tomou conta de sua visão, e sentiu o impacto do chão nas suas costas e cabeça. Não conseguia se mexer e o pouco que enxergava estava embaçado, mas reconhecia a silhueta de seu marido, que agora estava a atacando. Sentia o gosto metálico do sangue tomar conta da boca e junto sentia os dentes quebrados. Não conseguia cuspir, nem se mexer. Luis falava coisas sem sentido, como “Como você pode fazer isso comigo?”, “Como você pode fazer algo tão cruel!”, “Anos de dedicação...”. Clara só sabia que estava chorando, quando viu Luis sentar em suas pernas, puxá-la pela camisa e dar um soco na sua cara, e mais outro e outro. Viu um reflexo dourado nas mãos dele e deduziu que ele estava batendo nela com o relógio. Pegou-a pelos cabelos e bateu sua cabeça no chão, e levantava e batia cada vez mais forte, sentia seu crânio quebrar, e algo que não deveria sair de sua cabeça sendo esmagado contra o chão. Viu que ele chorava desesperadamente quando não conseguia mais suportar e fechou os olhos. Luis parou por um instante e vislumbrou a imagem de sua esposa morta. Olhou para o relógio que quebrara da cara da esposa, e seu ponteiro estava parado na meia-noite. Mas ainda era dia... Sua dor de cabeça havia sumido, e a casa estava em silêncio. Passou a mão no rosto para secar as lágrimas e se sujou com o sangue que agora era visível em boa parte do quarto. Voltou a si, e ver o estado de sua mulher o deixava doente. Seu coração batia forte, suas mãos tremiam e agora ele via que não tinha mais saída. Clara colocou tudo a perder... Como poderia ser tão... Tão... Não tinha palavras para descrever a cena que vira. Depois de algumas horas pensando no que fizera, decidiu por um fim

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no corpo de Clara. Pegou vários sacos de lixo na cozinha e levou para o quarto. Chegou à conclusão que ela não caberia inteira dentro deles. Pegou uma enxada e começou a cortála, mas não era eficaz e estava fazendo uma puta sujeira no quarto. Foi até o closet e pegou vários lençóis e a enrolou em todos que tinha e a arrastou até o porta-malas do carro. Pegou balde e esfregão e limpou minuciosamente todo o quarto. Tirou a roupa de cama e algo caiu no chão, pegou o objeto que parecia um termômetro e logo identificou o que era. Depois de tantos anos de casamento infértil, conseguia saber que aquilo era um teste de gravidez. Usado. E no visor tinha um sinal de positivo na cor roxa. Vomitou, não tinha nada no estômago, mas vomitou. Sentiu sua garganta fechar e o coração querer pular de sua boca. Chorava desesperadamente, não queria acreditar naquilo... Colocou em um saco de lixo e depositou junto com o cadáver no carro. Pegou seu revólver no criado mudo. Fechou a casa, pegou o carro e saiu. Maria voltou do trabalho, comprou a janta, comeu, tomou banho e se deitou para dormir. Um barulho vindo da cozinha a acordara à meia-noite. Pegou seu celular, levantou da cama, e acendeu a luz do quarto. Ouvia alguém tentando entrar pela porta, e viu que sem muito esforço a pessoa entrou. Sorriu aliviada ao ver Luis, mas não entendia o porquê dele chegar essa hora da noite, no meio da semana onde ele deveria estar viajando. Chegou perto dela com o mesmo sorriso de sempre e a beijou. O abraçou e viu o relógio que tinha dado de presente. Estava com o visor trincado e tinha manchas escuras por todo relógio, e estava parado. Meia-noite. —Você está bem, Luis? – Preocupada por ele estar ali, o que poderia ter acontecido? —Melhor impossível! E eu tenho uma notícia para te dar... – Luis pensou durante toda a viagem e decidiu que aquilo não iria ficar barato... Todo esse sacrifício, a vingança, teria um preço e iria ser pago. Ao contar, Maria estranhou por um momento toda aquela história de demissão, o jeito como ele a olhava, pareceu um tanto quanto... Atormentado. Ele trocou as roupas e deitou na cama e dormiu. Maria ficara inquieta desde a hora que ele chegou. Pegou o relógio dele, e decidiu que aquelas machas eram de sangue. Com medo, mas ainda sim curiosa para saber o que teria acontecido, pegou as chaves do carro. Ele não quis abrir o porta-

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malas perto de mim... Ele está escondendo algo lá.


Andou na ponta dos pés até o hall de entrada, destrancou a porta cuidadosamente e foi para a garagem. Abriu o porta-malas do carro, estava cheio de roupas, uma sacola com seu terno, viu a camisa branca com mais manchas de sangue, e quando viu um monte de roupas de cama que seu coração acelerou. São só roupas. Hesitou por um segundo, suas mãos estavam suadas e tremiam incontrolavelmente. Puxou o monte de lençóis que estavam no fundo do porta-malas. Estava pesado. Um barulho extremamente alto tocou o alarme do carro. Tinha esquecido. Largou o monte e foi procurar a chave, não lembrava onde tinha colocado, mexeu na sacola, no chão e não achava. Pôs as mãos nos bolsos, olhou para a porta do carro e lá estava. Desesperadamente pegou a chave e desativou o alarme. Jogou as chaves no chão e sentou. Achava que estava enfartando, seu coração batia numa força e velocidade que não surpreenderia se ele pulasse de seu peito nesse exato momento. Sentiu as lágrimas caírem involuntariamente, o susto fez com que suasse frio. O jeito que ele chegou. O sangue... Aquilo era com certeza uma pessoa morta. Mas seria o amor de sua vida fazer tal coisa? Algo deve ter acontecido, porque aquilo não se encaixava. Não poderia ser. — O que você está fazendo essa hora acordada? – A expressão de Luis era séria, e ele a encarava, mas não a via. Um olhar vago, ele se aproximou. — Eu... Eu-u... – Viu um objeto preto nas mãos de Luis, o revólver dele. Sentiu uma sensação de frio e calor ao mesmo tempo e um mal estar pesava em seu estômago. Não sabia como reagir àquilo. — Você é curiosa... É isso que você quer me dizer, amor? – Um esboço de sorriso nasceu em seu rosto. Maria ouviu um clique vindo da direção de Luis, que agora estava vindo em sua direção. Levantou e saiu correndo para dentro de casa, e dessa vez Luis parecia muito nervoso, saiu correndo atrás dela e a pegou pelos cabelos e chutou suas costas. Caiu no sofá da sala de estar, mas continuou engatinhando, se arrastando em direção da cozinha. Pisou em suas costas e pressionou contra o chão. Sentiu uma dor nas costelas e gemeu. —É assim que você geme quando está com aquela vagabunda? – Maria não respondeu, apenas chorou. – ME RESPONDA, VADIA!

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– Enrolou suas mãos nos cabelos dela e puxou para cima. Encostou o cano gelado do revólver na sua bochecha e Luis encostou sua boca bem perto da dela. – Quanto tempo você me enganou? —Eu não sei do que você está falando... – Apertou o revólver contra o rosto dela. – AAAAI... Estou falando sério, SOCORRO! – Luis gritou junto com ela e deu uma coronhada na testa de Maria. Caiu aos pés da cadeira da cozinha, e tentou se afastar o máximo que podia de Luis. Olhou para trás e viu que ele estava parado no batente da porta. Levantou-se com dificuldade, abriu a gaveta e pegou uma faca e apontou para ele. —Não encoste em mim... Nunca mais! – Luis sorriu abafado – SAI DA MINHA CASA! Luis correu em direção dela, e num impulso ela cortou o braço dele e depois tentou atacar, quando ele pegou seus braços e deu uma cabeçada no rosto dela. Pegou a faca de suas mãos e jogou pela janela. Pegou-a pelo pescoço e colocou o revolver na sua testa. Ela chorou. Então ouviu o estalo e sentiu o impacto da pressão da bala atravessando sua cabeça, quebrando os ossos e perfurando seu cérebro. Está quente, pensou ela. Quando uma lágrima de sangue escorreu do ferimento e viu sua visão desaparecer e a sensação de sono tomar conta de seu corpo. Caiu no chão e não acordou. Como está bela! Pensou Luis. Seus cabelos ruivos sedosos estavam espalhados pelo travesseiro. O roxo dos machucados e o ferimento na sua testa estragavam a simetria de seu rosto. Mas mesmo assim está bela. Repousou-a nua na cama, e depois de possuir seu corpo, voltou a si. A cabeça não doía mais, e o silêncio da casa o agradava. Colocou o relógio de ouro no pulso de Maria, com as letras iniciais de seus nomes gravadas, selando o amor eterno dos dois. Ainda parado. Meia-noite. Meia-noite, o início de um novo dia... Foi melhor assim, antes perder as duas me amando do que perder as duas me odiando. Não aguentaria se fosse assim. Parou pra pensar por um instante, estava magoado. Um soluço veio no fundo do peito. Um choro. Entrou em desespero. As lágrimas caiam e seu coração estava partido. Pensou que poderia ter feito tudo diferente, pensou que poderia ter escolhido uma se não fosse tão egoísta. Ouviu uma movimentação do lado de fora da casa. Ao fundo ouvia também uma sirene vinda de longe. Não tinha saída, o final era óbvio,

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não poderia ser feita outra coisa.


Deu uma última olhada em Maria, tocou-a de novo. Sua pele estava fria feito mármore, e não era mais sedosa. A morte não é boa para ninguém, nem pra quem morre e nem pra quem fica. Virou para o lado, e lá estava o revolver. O impacto o fez deitar na cama e cair ao lado de sua amada. Clara estava deitada do outro lado. As duas o abraçaram e o beijaram. Sentiu o calor do corpo das duas. Repousou as mãos em seus cabelos e sentir o calor do corpo de Maria e Clara, o fazia sentir bem. Por ele estava tudo bem, por ele poderia ficar ali para sempre. Voltou a pensar no relógio. Meia-noite. Por mim pode ser o fim.

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5. Gênero do Filme e Público Alvo

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erfídia foi classificado como suspense por englobar características comuns a esse

elemento, pois utiliza a combinação da antecipação com a incerteza e obscuridade do futuro. Além disso, a obra atinge diretamente a percepção da audiência em um trabalho dramático, pois tem a tensão como sua emoção primária de trabalho, devido falta de conhecimento sobre o desenvolvimento de um evento significativo. O Publico-alvo a ser alcançado, é aquele publico mais jovem e liberal, casais do século XXI, e amantes de um bom suspense, aliás, são indefinidos os tipos de relacionamentos amorosos existentes hoje. Satisfaz-se com uma incursão ao estresse da modernidade, em que o dilema das pessoas passa pela contínua necessidade de optar por alguma coisa, quando tantas delas estão sendo oferecidas ao mesmo tempo - sejam elas informações, estímulos ou qualquer outro elemento. Alguns filmes e peças serviram de influência para nossa readaptação, como o filme “Triângulo Amoroso” dirigido por Tom Tykwer que é a historia de um casal que vive junto e simultaneamente se apaixonam e se envolvem com uma mesma pessoa, no entanto acontecem situações que os levam a tomar certas decisões. Dexter, obra de Jeff Lindsay, e seus exemplares: “A Mão Esquerda de Deus (Darkly Dreaming Dexter - 2004)”; “Querido e Devotado Dexter (Dearly Devoted Dexter – 2005)”; “Dexter no escuro (Dexter in the Dark – 2007)”; “Dexter: Design de um assassino (Dexter by Design – 2009)”; “Dexter é Delicioso (Dexter Is Delicious - 2010)”; e Double Dexter (2011), deram origem a uma série americana, que conta a história de um personagem que é especialista em amostras de sangue e trabalha para o Departamento de Polícia de Miami. Ele também é um assassino serial que mata as pessoas que a policia não consegue prender. Ele tem tendências homicidas e leva uma vida dupla, de dia ele consegue ser um sujeito muito educado, carismático, respeitado, mas a noite usa todo o conhecimento e instinto de serial killer para achar e matar os criminosos que ele caçou durante o dia. Isso faz com que ele viva um contraste diário entre o bem e o mal. Vanilla Sky, refilmagem do filme espanhol “Abre los ojos” - (1997),

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do diretor Alejandro Amenábar, é um filme com direção de Cameron Crowe, de suspense narrado em flashback, em Nova York, com


fatos angustiantes de um personagem jovem que aparentemente tinha uma vida estável, empresário, que se envolve com duas mulheres ao mesmo tempo, tal relacionamento desperta ciúmes em uma delas que em um ímpeto de loucura, por se sentir desprezada, ela lança o carro por cima de um viaduto. Ela não resiste ao impacto e morre. Ele sobrevive, mas fica com o rosto desfigurado e entra em coma, ficando neste estado por três semanas. O personagem fica traumatizado, sofre mudanças de humor e oferece qualquer quantia para reconstruírem seu rosto. Repentinamente a realidade e a fantasia se confundem de forma assustadora. Tais obras nos deram referências e influências para a readaptação de “O Relógio de Ouro”, transformamos a historia para os tempos modernos assim como nossas referências, pois fazem parte de nosso mundo atual, de um cotidiano totalmente novo e com novas experiências e diferentes situações, a mistura do real e o imaginário, do consciente e o subconsciente.

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6. Planejamento de Marketing •

CENA DO CRIME – A GRANDE AÇÃO DE MARKETING

A

Agência Mobe Comunicação criou uma Ação de Marketing bastante ousada e um

pouco sangrenta para promover o lançamento nacional do filme Perfídia (2012) em DVD.

A IDEIA

E

m uma das cenas mais polêmicas do filme, o empresário Luis de Negreiros acaba

perdendo o controle mental, depois de ter algumas alucinações de sua esposa o traindo, e se transforma num terrível psicopata. Logo em seguida, ele mata a própria mulher e para se livrar do corpo, tenta esquarteja lá, mas a tentativa não dá muito certo. Até então, Luis enrola num lençol de cama, o que sobrou do cadáver de Clara e o coloca dentro do portamalas de seu carro. Depois disso, decide abandonar a cena do crime e fugir para a casa de sua amante. E lá temos o grande final da história. A ideia principal da nossa ação de marketing é recriar a cena do crime em alguns pontos específicos da cidade de São Paulo, usando todos os elementos presentes na própria cena do crime, com o objetivo de chamar a atenção do nosso público alvo para o lançamento nacional do filme Perfídia (2012) em DVD, no dia onze de Maio do ano de 2012.

MONTANDO A CENA DO CRIME

P

ara recriar a cena do crime, a agência vai usar todos os elementos que estão

presentes na própria cena. O carro que será utilizado para representar o modelo usado por Luis de Negreiros na história, será um modelo Volkswagen New Beatle, com as seguintes dimensões: 4,08m de comprimento; 1,72m de largura; 1,49m de altura e 2,50m de entre eixos. Ele será colocado em três pontos específicos (pesquisados e

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escolhidos pela agência) da cidade de São Paulo e estará desligado,


com o pisca alerta ligado, as portas e porta-malas estarão abertos. Dentro do porta-malas, vamos colocar um cadáver falso de uma mulher, todo ensanguentado e enrolado num lençol de cama, com algumas partes do corpo totalmente esquartejadas, para a representação da personagem Clara, que foi assassinada pelo próprio marido Luis de Negreiros. A área ao redor do carro será interditada por uma Faixa de isolamento plástica, zebrada, não adesiva e nas cores amarelo e preto. A intenção de usar a fita para demarcar o local da cena do crime, é fazer com que certo desejo de curiosidade seja criado em cada pessoa que estiver passando por ali, naquele exato momento da ação, e como consequência, que elas se aproximem para tentar descobrir o que realmente está acontecendo. Ao se aproximar da cena do crime, a pessoa vai se deparar com um grupo de atores figurantes, que vão interpretar Detetives, Policiais, como se eles tivessem fazendo toda a parte de investigação do crime cometido por Luis de Negreiros. Os atores figurantes vão ser os principais responsáveis por dar todas as informações do lançamento nacional do filme Perfídia (2012) em DVD, para todos os curiosos que perguntarem alguma coisa diante da ação. Também, na área ao redor do carro, teremos banners oficiais do filme Perfídia, com todas as informações sobre o DVD.

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PONTOS ESTRATÉGICOS DE DIVULGAÇÃO

P

ensamos em alguns pontos específicos da cidade de São Paulo, para serem

utilizados como o grande palco de nossa divulgação do lançamento nacional do filme Perfídia (2012) em DVD. É importante ressaltar que todas as ações de marketing vão ocorrer simultaneamente em cada ponto. Ponto estratégico um: O Conjunto Nacional. O Conjunto Nacional é um importante edifício e centro comercial da cidade de São Paulo,

Brasil.

Ocupa

a

quadra

delimitada pela Avenida Paulista, Rua Augusta, Alameda Santos e Rua Padre João Manuel. O projeto é de autoria do arquiteto David Libeskind e caracteriza-se por ser um dos primeiros grandes edifícios modernos multifuncionais implantados na cidade de São Paulo. Na frente dele, centenas de pessoas passam diariamente. Pessoas que estão indo para o trabalho ou passeando próximo ao local. Isso chamou imediatamente a atenção da agência. Por isso, o Conjunto Nacional foi um dos nossos três pontos estratégicos escolhidos para a divulgação do lançamento do DVD. Data: 11.05.2012 Horário que será realizado a ação de Marketing: 19h00min. Lembrando que a escolha do horário é muito importante e pode ser um fator determinante na hora de alcançar certa quantidade de pessoas durante o exato momento da divulgação.

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Ponto estratégico dois: A Catedral da Sé. A Catedral da Sé, criada em 10 de agosto de 1591, está localizada no marco zero de São Paulo. Ela é um símbolo da cidade, tanto por sua importância histórica, quanto religiosa. Ela foi o segundo ponto estratégico de divulgação escolhido para a realização da ação de marketing. O motivo pela escolha, além de ser um tremendo ponto turístico da cidade, está extremamente relacionada com os princípios religiosos. Geralmente, a imagem da igreja está ligada com toda excelência de um matrimonio. No filme Perfídia, temos a questão do casamento em risco, sendo tratada entre os personagens principais. Algumas atitudes dos personagens no decorrer da trama, também são bastantes polêmicas e entram em conflito direto com esses princípios religiosos. Por isso, nada mais, nada menos, do que representar toda a cena do crime cometido por Luis de Negreiros no pátio da Catedral da Sé. Data: 11.05.2012 Horário que será realizado a ação de Marketing: 19h00min. Ponto estratégico três: Viaduto do Chá. Em novembro de 1892, a cidade de São Paulo recebia o primeiro viaduto, atualmente conhecido como Viaduto do Chá. A obra levou 15 anos para ser concluída e o objetivo era ligar a Rua Direita ao Morro do Chá. Algumas curiosidades bizarras sempre tiveram ligação com a história do Viaduto. Por exemplo, o Viaduto já foi usado por pessoas que queriam cometer suicídio. Essa questão simples e bizarra de terror em relação aos suicidas foi um dos motivos da agência Mobe

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Comunicação pela escolha do local, para a representação da cena do crime como ação de marketing. Data: 11.05.2012 Horário que será realizado a ação de Marketing: 19h00min.

BRINDE: MARCA PÁGINA PREMIADO

A

representação da cena

do crime que será realizada no Conjunto Nacional é bem próxima à entrada da famosa Livraria Cultura. A agência vai usar este pequeno detalhe para construir uma forma de entretenimento com o público alvo do filme. Para isso, será realizado um sorteio no qual o ganhador ou ganhadora, receberá um vale livro no valor de R$ 30,00 reais para gastar dentro da livraria Cultura. O sorteio será realizado da seguinte forma: • No momento em que a ação de marketing estiver sendo realizada numa área especifica do Conjunto Nacional, um promotor do filme estará lá e vai distribuir gratuitamente para as pessoas, modelos exclusivos de Marca Páginas do filme Perfídia (2012). • Horário da realização do Sorteio: 19h30min. •

Para a distribuição gratuita dos marca páginas, serão produzidas 100 unidades exclusivas. • Apenas um marca página, entre as 100 unidades, estará com um pequeno símbolo de premiação no design.

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• O sortudo ou a sortuda que receber o marca página premiado,


será presenteado com um vale livro no valor de R$ 30,00 para ser usado na Livraria Cultura. • Lembrando que o sorteio do marca página premiado, será realizado somente na Livraria Cultura – Conjunto Nacional – Av. Paulista, 2073 - Bela Vista – São Paulo – SP. • Faixa etária do sorteio: Livre.

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7. Referências Estéticas

M

ETRÓPOLIS (Metropolis, 1927) é um filme expressionista alemão de ficção

científica, dirigido por Fritz Lang. Produzido na Alemanha, durante um período estável da República de Weimar. Metropolis é definido em uma distopia futurista urbana e faz uso deste contexto para explorar a crise social entre os trabalhadores e proprietários inerentes ao capitalismo, como expresso por Karl Marx e Friedrich Engels. O pôster acima foi feito por um fã anônimo do filme e encontrado através de uma visita a um perfil do site Tumblr, um site onde as pessoas podem compartilhar imagens de filmes, séries e etc. O pôster feito pelo fã, inicialmente, serviu de inspiração para os criadores da arte final do banner do filme Perfídia (2012). Podemos notar a presença de várias engrenagens formando um corpo de uma mulher, deixando subtendido o controle e exploração dos operários do filme, feito pela alta elite da cidade de Metropolis. Agora a inspiração para o banner de Perfídia foi despertada, porque todas as engrenagens lembram engrenagens de relógio. Relógio lembra bastante à questão do tempo. E todas essas analogias estão presentes em todo o enredo de Perfídia. O livro Perfume: A História de um Assassino foi publicado em 1985 e causou furor no mundo literário. Hoje, a obra escrita por Patrick Süskind é considerada um dos maiores sucessos literários de todos os tempos ao ter vendido mais de 20 milhões de exemplares em mais de 40 países. Inegavelmente, trata-se de um Best Seller e todos sabemos que o cinema está sempre à procura de

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histórias a serem recontadas. A obra ganhou uma adaptação ao


cinema no ano de 2006 e conta a história de Jean Baptiste Grenouille (Ben Whishaw) que nasceu com o olfato mais apurado do mundo. Por isso, encontrou uma prolífica - porém nada reconhecida - carreira como criador de perfumes. No entanto, sua constante busca pelo aroma perfeito o leva a caminhos perigosos. O banner do filme serviu de tremenda inspiração para os criadores da arte dos banners de Perfídia (2012). Nele podemos notar a presença de uma mulher de pele branca deitada sobre uma cama com o seu corpo todo enrolando num lençol branco. Seus cabelos longos, encaracolados e ruivos caindo para o lado. Na mão dela, uma flor. Por ser ruiva, a mulher aparentemente morta do banner do filme Perfume remete a imagem da amante do personagem Luís de Negreiros, do filme Perfídia. A série de terror American Horror Story estreou nos Estados Unidos, no canal FX, no dia 5 de Outubro de 2011. A série começou a ser transmitida no Brasil a partir do dia 8 de novembro pelo canal de TV fechada, FOX Brasil. Ela foi desenvolvida pelos antigos produtores executivos de Nip/Tuck e atuais co-criadores/ produtores executivos de Glee, Ryan Murphy e Brad Falchuck. Todo o enredo gira em torno dos Harmon, uma família que se muda de Boston para uma misteriosa casa na cidade de Los Angeles, com o objeto de terem uma vida sossegada. O problema é que coisas estranhas começam a acontecer na casa e logo eles descobrem que o lugar já teve alguns moradores bastante esquisitos que deixaram a sua história marcada lá. Uma das grandes semelhanças que o enredo da série tem com o enredo do filme Perfídia (2012) são os diversos conflitos que os personagens enfrentam no decorrer da trama como: Casos de infidelidade, suicídio, assassinato e etc. Os roteiristas de American Horror Story colocam elementos bastante ousados, sensuais e polêmicos em volta de cada mistério que é apresentado nos episódios. Esses elementos que invocam ao sexual

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estão explícitos no pôster que foi usado para divulgar a primeira temporada da série. Alias, foi o pôster que também serviu de tremenda inspiração para a criação da arte do filme Perfídia. Dexter é uma série televisiva americana dramática centrada em Dexter Morgan (Michael C. Hall), um assassino em série que trabalha como analista forense especialista em padrões de dispersão de sangue no departamento de polícia do Condado de Miami-Dade. O programa estreou em 1 de outubro de 2006 no canal Showtime. Situado em Miami, sua primeira temporada foi largamente baseada no livro Darkly Dreaming Dexter de Jeff Lindsay, o primeiro de sua série de romances Dexter. Temporadas posteriores apresentaram uma evolução distinta das obras de Lindsay. O livro foi adaptado para a televisão pelo roteirista James Manos Jr., que escreveu o episódio piloto. Dexter, de um modo bem meticuloso e sem pistas, mata criminosos que a polícia não consegue trazer à Justiça. Ele organiza seus assassinatos em torno do “Código de Harry”, um apanhado de regras e procedimentos desenvolvidos por seu pai adotivo, Harry, para garantir que seu filho nunca seja preso e assegurar que ele mate apenas outros assassinos. Harry também treinou Dexter quanto a interagir convincentemente com outras pessoas apesar de ser um sociopata. Seus relacionamentos desenvolvidos durante a série, no entanto, acabam por complicar seu estilo de vida duplo e a levantar dúvidas quanto a sua necessidade de matar. Podemos encontrar semelhanças no perfil psicológico de Dexter com o personagem principal, Luís de Negreiros, do filme Perfídia (2012): Os dois apresentam um instinto assassino e também tentam administrar seus segredos. O banner acima também serviu de inspiração para os criadores da arte do filme Perfídia e foi usado para divulgar a sexta temporada da série Dexter.

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Nele podemos ver a face sádica do assassino, suas mãos fazendo


um gesto religioso e ao mesmo tempo segurando uma faca. Atrás dele, temos um par de asas que são feitas de sangue espirrado na parede (Asas que quando vistas pelo público, lembram um par de asas de Anjos). A tipografia usada nos pôsteres da série é bem sanguenta, simples e direta.

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8. Peças Gráficas •

Banner No primeiro banner, temos a foto de duas pessoas, que propositalmente não dá. Para saber o sexo, pra deixar o receptor pensar sobre o que o pôster representaria, um

homem e uma mulher? Dois homens? O mesmo homem representado como se a sua mente estivesse dividida? A fumaça deixa um ar misterioso e claustrofóbico, o que nos remete ao drama vivido pelo seu personagem em sua vida dupla e com seu desvio de personalidade, a cada passo o sufocando mais e mais.

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No segundo banner temos três figuras em vermelho, de costas. Nesse passamos a ideia de um triangulo de amantes e o fundo preto ainda deixa um ar de mistério.

Cartaz No cartaz temos a imagem com efeito de pintura, de um homem deitado na cama e

sua expressão e posição nos dá várias possibilidades de interpretação: dor, excitação, desespero, entre outros sentimentos que passamos quando vemos Perfídia.

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Marcador de Página No marca páginas usamos a mesma imagem do segundo banner, e reforçamos a ideia

dos amantes em um triangulo amoroso, e ainda os rastros de sangue deixa indícios do trágico final da trama.

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Capa do DVD Na capa do dvd temos a imagem do primeiro banner, que trás as duas pessoas na

fotografia em um ambiente esfumaçado para dar sensação de claustrofobia e de desespero. No logo e em algumas frases temos respingos de sangue, que ao mesmo tempo dá suspense e também nos indica sobre como a trama vai se encaminhar. Temos também uns ‘shots’ fictícios do filme, e na contra capa temos os créditos e a sinopse e todas as especificações do dvd.

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Cartão Postal No cartão postal, a foto retrata duas mãos, uma masculina e outra feminina, e as duas

juntas formam o símbolo do infinito. Que fica a livre interpretação do receptor que ainda não viu o filme, e que se torna totalmente significativa para quem já o fez.

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Adesivo No adesivo deixamos o rastro de sangue apenas para indicar a tragédia e o suspense do

filme, e despertar a curiosidade do expectador. No caso o adesivo seria usado em espelhos de elevadores, para que quando se fechasse, o lugar fechado e o sangue dessem a sensação de pavor e de claustrofobia.

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9. Sinopse do Filme

L

uís de Negreiros, um empresário de sucesso, mantém uma vida dupla e, após

ganhar um presente inesperado, passa a ter um estranho comportamento. Um drama de suspense de tirar o fôlego. Mobe Comunicação apresenta a adaptação do conto “O Relógio de Ouro”, de um dos maiores mestres da literatura nacional, Machado de Assis.

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10. Anexos •

Conto Original O Relógio de Ouro, de Machado de Assis Agora contarei a história do relógio de ouro. Era um grande cronômetro, inteiramente

novo, preso a uma elegante cadeia. Luís Negreiros tinha muita razão em ficar boquiaberto quando viu o relógio em casa, um relógio que não era dele, nem podia ser de sua mulher. Seria ilusão dos seus olhos? Não era; o relógio ali estava sobre uma mesa da alcova, a olhar para ele, talvez tão espantado como ele, do lugar e da situação. Clarinha não estava na alcova quando Luís Negreiros ali entrou. Deixou-se ficar na sala, a folhear um romance, sem compreender muito nem pouco aos ósculo com que o marido a cumprimentou logo à entrada. Era uma bonita moça esta Clarinha, ainda que um tanto pálida, ou por isso mesmo. Era pequena e delgada; de longe parecia uma criança; de perto, quem lhe examinasse os olhos, veria bem que era mulher como poucas. Estava molemente reclinada no sofá, com o livro aberto e, os olhos no livro, os olhos apenas, porque o pensamento, não tenho certeza se estava no livro, se em outra parte. Em todo o caso parecia alheia ao marido e ao relógio. Luís Negreiros lançou mão do relógio com uma expressão que eu não me atrevo a descrever. Nem o relógio, nem a corrente eram dele; também não eram das pessoas suas conhecidas. Tratava-se de uma charada. Luís Negreiros gostava de charadas, e passava por ser decifrador intrépido; mas gostava de charadas nas folhinhas ou nos jornais. Charadas palpáveis e sobretudo sem conceito, não as apreciava Luís Negreiros. Por este motivo, e outros que são óbvios, compreenderá o leitor que o esposo de Clarinha se atirasse sobre uma cadeira, puxasse raivosamente os cabelos, batesse com o pé no chão, e lançasse o relógio e a corrente para cima da mesa. Terminada esta primeira manifestação de furor, Luís Negreiros pegou de novo nos fatais objetos, e de novo os examinou. Ficou na mesma. Cruzou os braços durante algum tempo e refletiu sobre o caso, interrogou todas as suas recordações, e

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concluiu no fim de tudo que, sem uma explicação de Clarinha qualquer


procedimento fora baldado ou precipitado. Foi ter com ela. Clarinha acabava justamente de ler uma página e voltava a folha com ar indiferente e tranqüilo de quem não pensa em decifrar charadas de cronômetro. Luís negreiros encarou-a; seus olhos pareciam dois reluzentes punhais. – Que tens? perguntou a moça com a voz doce e meiga que toda a gente concordava em lhe achar. Luís negreiros não respondeu a interrogação da mulher; olhou algum tempo para ela; depois deu duas voltas na sala, passando a mão pelos cabelos, por modo que a moça de novo lhe perguntou: – Que tens? Luís negreiros parou defronte dela. – Que é isto? disse ele, tirando do bolso o fatal relógio e apresentando-lho diante dos olhos. Que é isto? repetiu ele com voz de trovão. Clarinha mordeu os beiços e não respondeu. Luís negreiros esteve algum tempo com o relógio na mão e os olhos na mulher, a qual tinha os seus olhos no livro. O silêncio era profundo. Luís Negreiros foi o primeiro que o rompeu, atirando estrepitosamente o relógio ao chão, e dizendo em seguida à esposa: – Vamos, de quem é aquele relógio? Clarinha ergueu lentamente os olhos para ele, abaixou-os depois, e murmurou: – Não sei. Luís negreiros fez um gesto como de quem queria esganá-la; conteve-se. A mulher levantou-se, apanhou o relógio e pô-lo sobre uma mesa pequena. Não se pode sofrear Luís negreiros. Caminhou para ela, e segurando-lhe nos pulsos com força, lhe disse: – Não me responderás, demônio? Não me explicarás esse enigma? Clarinha fez um gesto de dor, e Luís Negreiros imediatamente lhe soltou os pulsos que estavam arrochados. Noutras circunstâncias é provável que Luís negreiros lhe caísse aos pés e pedisse perdão de a haver machucado. Naquele momento, nem se lembrou disso; deixou-a no meio da sala e entrou a passear de novo, sempre agitado, parando de quando em

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quando, como se meditasse algum desfecho trágico. Clarinha saiu da sala. Pouco depois veio um escravo dizer que o jantar estava na mesa. – Onde está a senhora? – Não sei, não senhor. Luís negreiros foi procurar a mulher; achou-a numa saleta de costura, sentada numa cadeira baixa, com a cabeça nas mãos a soluçar. Ao ruído que ele fez na ocasião defechar a porta atrás de si, Clarinha levantou a cabeça, e Luís Negreiros pode ver-lhe as faces úmidas de lágrimas. Esta situação foi ainda pior para ele que a da sala. Luís negreiros não podia ver chorar uma mulher, sobretudo a dele. Ia enxugar-lhe as lágrimas com um beijo, mas reprimiu o gesto, e caminhou frio para ela; puxou uma cadeira e sentou-se em frente a Clarinha. – Estou tranqüilo, como vês, disse ele, responde-me ao que te perguntei com a franqueza que sempre usaste comigo. Eu não te acuso nem suspeito nada de ti. Quisera simplesmente saber como foi parar ali aquele relógio. Foi teu pai que o esqueceu cá? – Mas então? – Oh! não me perguntes nada! exclamou Clarinha. Ignoro como esse relógio se acha ali... Não sei de quem é... deixa-me. – É demais! urrou Luís negreiros, levantando-se e atirando a cadeira ao chão. Clarinha estremeceu, e deixou-se ficar aonde estava. A situação tornava-se cada vez mais grave; Luís Negreiros passeava cada vez mais agitado, revolvendo os olhos nas órbitas, e, parecendo prestes a atirar-se sobre a infeliz esposa. Esta, com os cotovelos no regaço e a cabeça nas mãos, tinha os olhos encravados na parede. Correu assim cerca de um quarto de hora. Luís Negreiros ia de novo interrogar a esposa, quando ouviu a voz do sogro, que subia as escadas gritando: – Ó “seu” Luís! ó “seu” malandrim! – Ai vem teu pai! disse Luís Negreiros; logo me pagarás. Saiu da sala de costura e foi receber o sogro, que já estava no meio da sala, fazendo viravoltas com o chapéu-de-sol, com grande riscos

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das jarras e do candelabro.


– Vocês estavam dormindo? perguntou o Sr. Meireles tirando o chapéu e limpando a testa com um grande lenço encarnado. – Não, senhor, estávamos conversando... – Conversando?... repetiu Meireles. E acrescentou consigo: – Estavam de arrufos... é o que há de ser. – Não vim cá para outra coisa, acudiu Meireles; janto hoje e amanhã também. Não me convidaste, mas é o mesmo. – Não o convidei?... – Sim, não fazes anos amanhã? – Ah! é verdade... Não havia razão aparente para que, depois destas palavras ditas com um tom lúgubre, Luís Negreiros repetisse, mas desta vez com um tom descomunalmente alegre: – Ah! é verdade!... Meireles, que já por o chapéu num cabide do corredor, voltou-se para o genro, em cujo rosto leu a mais franca, súbita e inexplicável alegria. – Está maluco! Disse baixinho Meireles. – Vamos jantar, bradou o genro, indo logo para dentro, enquanto Meireles, seguindo pelo corredor, ia ter à sala de jantar. Luís Negreiros foi ter com a mulher na sala de costura, e achou-a de pé, compondo os cabelos diante de um espelho: – Obrigado, disse. A moça olhou para ele admirada. – Obrigado, repetiu Luís negreiros, obrigado e perdoa-me. Dizendo isto, procurou Luís Negreiros abraçá-la; mas a moça, com um gesto nobre, repeliu o afago e foi para a sala de jantar. – Tem razão! murmurou Luís negreiros. Daí a pouco achavam-se todos três à mesa do jantar, e foi servida a sopa, que Meireles achou, como era natural, de gelo. Ia já fazer um discurso a respeito da incúria dos criados, quando Luís Negreiros confessou que toda a culpa era dele, porque o jantar estava há muito na

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mesa. A declaração apenas mudou o assunto do discurso, que versou então sobre a terrível coisa que era um jantar requentado, - qui ne valut jamais rien. Meireles era um homem alegre, pilhérico, talvez frívolo demais para a idade, mas em todo o caso interessante pessoa. Luís Negreiros gostava muito dele, e via correspondida essa afeição de parente e amigo, tanto mais sincera quanto que Meireles só tarde e de má vontade lhe dera a filha. Durou o namoro cerca de quatro anos, gastando o pai de Clarinha, mais de dois em meditar e resolver o assunto do casamento. Afinal deu a sua decisão, levado antes das lágrimas da filha que dos predicados do genro, dizia ele. A causa da longa hesitação eram os costumes poucos austeros de Luís Negreiros, não os que ele tinha durante o namoro, mas os que tivera antes e os que poderia vir a ter depois. Meireles confessava ingenuamente que fora marido pouco exemplar, e achava que por isso, mesmo devia dar à filha melhor esposo do que ele. Luís Negreiros desmentiu as apreensões do sogro; o leão impetuoso dos outros dias, tornou-se um pacato cordeiro. A amizade nasceu franca entre o sogro e o genro, e Clarinha passou a ser uma das mais invejadas moças da cidade. E era tanto maior o mérito de Luís Negreiros quanto que não lhe faltavam tentações. O diabo metia-se às vezes na pele de um amigo e ia convidá-lo a uma recordação dos antigos tempos. Mas Luís Negreiros dizia que se recolhera a bom porto e não queria arriscar-se outra vez às tormentas do alto mar. Clarinha amava ternamente o marido e era a mais dócil e afável criatura que por aqueles tempos respirava o ar fluminense. Nunca entre ambos se dera o menor arrufo; a limpidez do céu conjugal era sempre a mesma e parecia vir a ser duradoura. Que mau destino lhe soprou ali a primeira nuvem? Durante o jantar Clarinha não disse palavra, - ou poucas dissera, ainda assim as mais breves e em tom seco. – Estão de arrufo, não há dúvida, pensou Meireles ao ver a pertinaz mudez da filha. Ou a arrufada é só ela, porque ele pareceu-me lépido. Luís Negreiros efetivamente desfazia-se todo em agrados, mimos e cortesias com a mulher, que nem sequer olhava em cheio para ele. O

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marido já dava o sogro a todos os diabos, desejoso de ficar a sós com


a esposa, para a explicação que reconciliaria os ânimos. Clarinha parecia não deseja-lo; comeu pouco e duas ou três vezes soltou-se-lhe do peito um suspiro. Já se vê que o jantar, por maiores que fossem os esforços, não podia ser como nos outros dias. Meireles sobretudo achava-se acanhado. Não era que receasse algum grande acontecimento em casa; sua idéia é que sem arrufos não se aprecia a felicidade, como sem tempestade não se aprecia o bom tempo. Contudo, a tristeza da filha sempre lhe punha água na fervura. Quando veio o café, Meireles propôs que fossem todos três ao teatro; Luís Negreiros aceitou a idéia com entusiasmo. Clarinha recusou secamente. – Não te entendo hoje, Clarinha, disse o pai com um modo impaciente. Teu marido está alegre e tu pareces-me abatida e preocupada. Que tens? Clarinha não respondeu; Luís Negreiros, sem saber o que havia de dizer, tomou a resolução de fazer bolinhas de miolo de pão. Meireles levantou os ombros. – Vocês lá se entendem, disse ele. Se amanhã, apesar de ser o dia que é, vocês tiverem do mesmo modo, prometo-lhe que nem a sombra me verão. – Oh! há de vir, ia dizendo Luís Negreiros, mas foi interrompido pela mulher que desatou a chorar. O jantar acabou assim triste e aborrecido, Meireles pediu ao genro que lhe explicasse o que aquilo era, e este prometeu que lhe diria tudo na ocasião oportuna. Pouco depois saía o pai de Clarinha protestando de novo que, se no dia seguinte os achasse do mesmo modo, nunca mais voltaria a casa deles, e que se havia coisa pior que um jantar frio ou requentado, era um jantar mal digerido. Este axioma valia o de Boileau, mas ninguém lhe prestou atenção. Clarinha fora para o quarto; o marido, apenas se despediu do sogro, foi ter com ela. Achou-a sentada na cama, com a cabeça sobre uma almofada, e soluçando. Luís Negreiros ajoelhou-se diante dela e pegou-lhe numa das mãos. – Clarinha, disse ele, perdoa-me tudo. Já tenho a explicação do relógio; se teu pai não me fala em vir jantar amanhã, eu não era capaz de adivinhar que o relógio era um presente de anos que tu me fazias. Não me atrevo a descrever o soberbo gesto de indignação com que a moça se pôs de pé quando ouviu estas palavras do marido. Luís

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Negreiros olhou para ela sem compreender nada. A moça não disse uma nem duas; saiu do quarto e deixou o infeliz consorte mais admirado que nunca. – Mas que enigma é este? perguntava a si mesmo Luís Negreiros. Se não era um mimo de anos, que explicação pode ter o tal relógio? A situação era a mesma que antes do jantar. Luís Negreiros assentou de descobrir tudo naquela noite. Achou, entretanto, que era conveniente refletir maduramente no caso e assentar numa resolução que fosse decisiva. Com este propósito recolheu-se ao seu gabinete, e ali recordou tudo o que se havia passado desde que chegara a casa. Pesou friamente todas as razões, todos os incidentes, e buscou reproduzir na memória a expressão do rosto da moça, em toda aquela tarde. O gesto de indignação e a repulsa quando ela a foi abraçar na sala de costura, eram a favor dela; mas o movimento com que mordera os lábios no momento em que ele lhe apresentou o relógio, as lágrimas que lhe rebentaram à mesa, e mais que tudo o silêncio que ela conservava a respeito da procedência do fatal objeto, tudo isso falava contra a moça. Luís Negreiros, depois de muito cogitar, inclinou-se à mais triste e deplorável das hipóteses. Uma idéia má começou a enterrar-se-lhe no espírito, à maneira de verruma, e tão fundo penetrou, que se apoderou dele um poucos instantes. Luís negreiros era homem assomado quando a ocasião o pedia. Proferiu duas ou três ameaças, saiu do gabinete e foi ter com a mulher. Clarinha recolhera-se de novo ao quarto. A porta estava apenas cerrada. Eram nove horas da noite. A moça estava outra vez assentada na cama, mas já não chorava; tinha os olhos fitos no chão. Nem os levantou quando sentiu entrar o marido. Houve um momento de silêncio. Luís Negreiros foi o primeiro que falou. – Clarinha, disse ele, este momento é solene. Respondes-me ao que te pergunto desde esta tarde? A moça não respondeu. – Reflete bem, Clarinha, continuou o marido. Podes arriscar a tua vida. A moça levantou os ombros.

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Uma nuvem passou pelos olhos de Luís Negreiros. O infeliz marido


lançou as mãos ao colo da esposa e rugiu: – Responde, demônio, ou morres! Clarinha soltou um grito. – Espera! Disse ela. Luís Negreiros recuou. – Mata-me, disse ela, mas lê isto primeiro. Quando esta carta foi ao teu escritório já te não achou lá; foi o que o portador me disse. Luís Negreiros recebeu a carta, chegou-se à lamparina e leu estupefato estas linhas. “Meu nhonhô. Sei que amanhã fazes anos; mando-te esta lembrança. – Tia Iaiá”. Assim acabou a história do relógio de ouro.

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Trilha Sonora Sex On Fire Sexo Em Chamas Lay where you’re laying Don’t make a sound I know they’re watching (they’re watching) All the commotion The kiddie-like play Has people talking (talking)

Deito onde você está deitada Não faça um som Eu sei que eles estão assistindo (eles estão assistindo) Toda a comoção O jeito criança de brincar Tem gente falando (falando)

You Você ... Your Sex is on fire Seu sexo está em chamas The dark of the alley The breaking of the day The head while I’m driving (I’m driving) Soft lips are open Nuckles are pale Feels like you’re dying (you’re dying)

A escuridão do beco O romper do dia A cabeça enquanto eu estou dirigindo (eu estou dirigindo) Os Lábios macios estão abertos Suas juntas estão pálidas Parece que estou morrendo (você está morrendo)

You Você ... Your sex is on fire Seu sexo está em chamas Consumed with what’s to transpire Consumida com as palavras que você transpire Hot as a fever Rattling bones I could just taste it (taste it) If it’s not forever If it’s just tonight Oh, it still the greatest (the greatest, the greatest)

Quente como uma febre Ossos tremendo Eu poderia apenas provar (provar) Se não é para sempre... Se é só esta noite... Continua sendo o melhor (o melhor, o melhor)

You Você ... Your sex is on fire Seu sexo está em chamas ... You Você ... Your sex is on fire Seu sexo está em chamas Consumed with what’s to transpire (2x) Consumida com as palavras que você transpira (2x)

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11. Referências •

LIVROS: LINDSAY, Jeff. Dexter - A Mão Esquerda de Deus. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008. LINDSAY, Jeff. Querido e Devotado Dexter. São Paulo: Planeta do Brasil, 2009. LINDSAY, Jeff. Dexter no Escuro. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. LINDSAY, Jeff. Dexter: Design de um assassino. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011. LINDSAY, Jeff. Dexter é Delicioso. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011. DALBY, Richard. O Grande Livro das Histórias de Fantasmas. Rio de Janeiro: Suma

das Letras, 2010. ASSIS, Machado de. Histórias da meia-noite. São Paulo: WMF, 2007.

SITES: pt.wikipedia.org/wiki/Dexter pt.wikipedia.org/wiki/Vanilla_Sky www.favodomellone.com.br/resenha/triangulo-amoroso-filme-discute-o-amor-no-

seculo-xxi/ www.fxbrasil.com.br/br/series/dexter/ pt.wikisource.org/wiki/O_relogio_de_ouro

FILMES: - SKY, Vanilla. Direção: Cameron Crowe. Paramount Pictures, 2001. 146 min. Col.,

Formato: 35mm. - METROPOLIS. Direção: Fritz Lang. 1927. 210 min. PB. - ASSASSINO,Perfume – A história de um. Direção: Tom Tykwer. 2006. 147 min. Col., Formato: 35 mm - AMOROSO, Triângulo. Direção: Tom Tykwer. 2010. 119 min. Col., Formato: 35 mm.

SÉRIES: - STORY, American Horror. Ryan Murphy. 2011. Estados Unidos,

Fox - DEXTER. James Manos Jr. 2006. Estados Unidos. Showtime

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