Ela chegou de surpresa… Tudo o que Morgan O’Connelli queria era um lar. Por isso, decidiu fincar raízes em Shoshone. Para realizar seu sonho, primeiro pendurou a tabuleta de agente imobiliária na porta e, depois, pegou emprestado o cavalo mais vistoso da cidade. Por acaso, o animal pertencia a Gabe Chance. Embora Gabe fosse o cowboy das suas fantasias mais secretas, entre os dois havia um conflito de interesses. Afinal, a família dele se tornara alvo de corretores desde que herdara o rancho Última Chance. Mas Gabe não se importava nem um pouco com o que pensariam de Morgan. Afinal, aquela ruiva exuberante e de seios fartos o hipnotizava, e não havia jeito de Gabe permitir que ela escapasse de sua pegada!
Gabe roçou os lábios nos dela. – Nós podemos melhorar esta posição. – Você está certo. – Recusando-se a se preocupar se ele iria considerar sua abordagem muito agressiva, Morgan deixou sua cadeira e se arrastou para o colo de Gabe. – Melhor? – Ao montá-lo, não teve mais dúvidas sobre o que se passava na cabeça dele. A prova era uma protuberância quente que se aninhava convenientemente entre suas coxas. E saber que havia sido a responsável por tal reação a empolgava e excitava. Gabe gemeu. – Depende da sua definição de melhor. O ângulo é bom, mas a tentação é pior. Morgan abraçou o pescoço dele e se inclinou para mordiscar seu lábio inferior. O desejo óbvio de Gabe lhe dava a coragem de ser a mulher tentadora que sempre desejara ser, especialmente com ele. – Admita, Gabe. Você não veio aqui para resistir à tentação. – Não. – Ele segurou a beirada da blusa dela. – Quero toda a tentação que eu puder conseguir. – Então suponho que você queira que eu tire a blusa. – Dentre outras coisas. Tremendo de emoção, Morgan se inclinou para trás e pôs os braços acima da cabeça. – Então vá em frente, sr. Chance.
Querida leitora, Bem-vida mais uma vez ao Rancho Última Chance! A cidade de Shoshone, uma pequena comunidade que faz parte da região do Jackson Hole, está celebrando o 4 de julho, e o Última Chance sempre tem um lugar no desfile. Então, pegue uma cadeira e procure o lugar perfeito. Não há nada como uma parada do Dia da Independência para elevar o patriotismo! E o que representa mais o espírito americano do que cowboys usando jeans justos e montando cavalos magníficos? Guarde o meu lugar, porque não quero perder nada, especialmente quando o Última Chance passar! Todos os Chance planejam montar os cavalos espetaculares que criam no rancho. Jack, o mais velho, irá no garanhão preto e branco, Bandit. Nick, o do meio, escolheu o favorito do pai, Gold Rush. E Gabe, o mais novo, certamente irá montar Top Drawer. A noiva de Nick, Dominique, veio passar o feriadão na cidade. Porém, Jack e Gabe ainda estão solteiros! Enquanto eles desfilam, você irá ouvir o suspiro das mulheres de Shoshone ecoar por toda a avenida. Afinal, são homens como eles que fazem esse país ser tão incrível. Venha, a parada está quase começando! Divirta-se! Vicki Lewis Thomas
Vicki Lewis Thompson
CILADA
Tradução Fernanda Lizardo
2015
Prólogo
3 de junho, 1937 Do diário de Eleanor Chance
QUEM DIRIA que sexo sobre o feno poderia ser tão divertido? Ou que eu seria tão feliz morando num celeiro? Mas o celeiro estava em melhor forma do que a casa quando chegamos ao Rancho Última Chance um mês atrás, então Archie e eu nos instalamos lá, e meu irmão Seth passou a dormir em uma das pilhas de forragem logo abaixo de nós. Não vou fingir que o último mês tem sido fácil para mim, com essa coisa de aprender a ser uma noiva e uma carpinteira de uma só vez. Archie diz que sou muito boa na função de noiva. Nós dois botamos fogo nos lençóis da nossa cama improvisada. Mas mesmo Archie, que me ama muito, admite que sou um pouco menos talentosa como carpinteira. Felizmente, Seth é melhor nisso do que eu. Entre os esforços de Archie, Seth e minhas contribuições insignificantes, construímos um lar temporário ao lado do celeiro e iniciamos a construção de uma casa. Demolimos a antiga, que era muito feia. Se trabalharmos como castores, é possível que a casa fique pronta antes de começar a nevar, o que seria bom. Os invernos são complicados em Jackson Hole, e, além do mais, eu gostaria de comemorar o Natal em uma casa de verdade, em vez de um celeiro. Mesmo que eu não seja tão boa com um martelo, minhas habilidades na costura nos ajudaram muito. Fiz um vestido de casamento para a filha de um fazendeiro vizinho e ganhei uma vaca como pagamento. O sistema de escambo funciona bem aqui, e em algum momento espero trocar minha costura por mais um bicho de quatro patas. Desta vez quero um touro. Archie e eu estamos adiando aumentar a família, pois antes queremos um rebanho bovino para garantir nossa renda. Mais notícias: Seth parece estar gostando de Joyce, a dona do bar Espora Enferrujada na cidade vizinha, Shoshone. Ele não pode pagar muito mais do que uma cerveja por noite, por isso se demora bebendo o mesmo copo e flerta com Joyce feito um louco. Ela é uma mulher muito gentil e sei que Seth está buscando o mesmo tipo de felicidade que Archie e eu temos. Archie me deu um apelido. Ele me chama de Nelsie. Eu gostei.
Nos intervalos do serviço na carpintaria, Archie tem me ajudado a plantar uma horta. Estamos no meio do nada, então ele precisou fazer uma cerca para proteger as plantas dos coelhos e cervos. As vinhas de tomate brotaram e as cenouras estão acenando com a brisa. É engraçado, mas a horta parece quase tão importante quanto ter um teto sobre minha cabeça. Sinto que estou criando raízes juntamente aos vegetais. Contrariando todas as adversidades, estamos construindo uma vida aqui. Acredito que este seja o lugar onde estamos destinados a ficar.
Capítulo 1
Presente
GABE CHANCE não esperava ficar tão emocionado por cavalgar no desfile anual do Dia da Independência em Shoshone. Nos últimos dez anos, ele tinha passado os verões competindo em provas de apartação, e não ficara em casa para participar daquela bobagem. Mas ele estava em casa agora, e era o primeiro desfile sem seu pai. Correr em volta da área de testes sem Jonathan Chance vociferando ordens parecia totalmente equivocado. Seus dois irmãos mais velhos estavam fingindo que não tinham sido afetados. Isso era mais fácil para Jack, quatro anos mais velho do que Gabe e uma eternidade mais evoluído do que a raça humana inteira em sua capacidade de esconder seus sentimentos. Já Nick estava se digladiando um pouco. Gabe enxergava isso nos olhos verdes do irmão. Quanto mãe, bem, Sarah tinha escolhido vestir máscaras para a ocasião. Boa pedida. Graças a Deus Jack havia vetado a ideia piegas de Nick de amarrar Gold Rush, o cavalo cor de caramelo que pertencera ao pai, atrás da carroça do Última Chance, a qual seria guiada por Emmett Sterling, o capataz da fazenda. Falando em pieguice… Cumprindo o protocolo, era Nick quem estava montando Gold Rush, porque um desfile de Dia da Independência não parecia certo sem a presença do cavalo vistoso trotando pela rua principal da cidade. Nick manteve-se perto da carroça porque sua namorada, Dominique Jeffries, estava nela. Ela era fotógrafa, morava em Indiana e estava ali apenas para o fim de semana prolongado – mas, pela forma como dos dois pombinhos vinham agindo, Gabe previa que ela logo se mudaria de vez. Naturalmente, ela estava tirando um monte de fotos de Nick sobre o cavalo. Ela não chegara a conhecer o pai deles, então não tinha qualquer motivo para ficar emotiva naquele dia; no entanto, toda vez que Gabe olhava para Gold Rush, tudo lhe lembrava da sela cravejada de prata de seu pai, criandolhe um nó na garganta do tamanho de uma bola de beisebol. Ele precisava de uma distração e tinha que ser agora. Bem, aleluia! Bem perto da área de preparação havia uma ruiva linda lutando para controlar um cavalo Appaloosa. Primeiro o bicho castrado tentou jogá-la contra um mastro. Em seguida, dirigiu-se
para um pedaço de grama a vários metros de distância e não prestou atenção quando ela tentou orientá-lo de volta. Gabe subiu nos estribos e apontou para a ruiva enquanto gritava para Jack: – Vou ajudar a moça ali. Já volto. Jack lançou ao irmão um olhar severo, totalmente ao estilo do velho Jonathan Chance. – Não suma. O desfile começa em quinze minutos. – Estarei aqui. – Gabe não era lá muito fã do jeito como Jack vinha dando ordens atualmente, mas a vontade de seu pai pusera seu irmão mais velho solidamente no comando do rancho. Aquilo colocava Jack e Gabe em rota de colisão, porque de repente Jack estava questionando se o Última Chance deveria patrocinar as provas de apartação de Gabe. Seu pai sempre dissera que a presença de Gabe no circuito impulsionava as vendas dos cavalos Paint do rancho, e o cavalo de Gabe, Top Drawer, estava apenas dez mil pratas abaixo dos rendimentos necessários para fazer parte do Hall da Fama da Associação de Cavalos de Apartação. Mas, aparentemente, Jack se irritava com as ausências de Gabe durante os verões. E talvez a falta de apoio estivesse afetando a concentração de Gabe, porque ele não estava ganhando tantos prêmios com Top Drawer nesta temporada, o que, por sua vez, acabava formando um ciclo vicioso. Ele inconscientemente trouxera o assunto à tona durante uma viagem não programada para casa para trazer uma égua lesionada que tinha salvado do matadouro. Jack aproveitara a oportunidade para segurar Gabe no rancho por um tempinho. Gabe imaginava que pudesse mudar a postura de seu irmão em algum momento, mas por ora ele deixaria o conflito de lado. Era feriado, o que deixava todos superconscientes de que seu pai tinha falecido. Ele tentaria manter a paz, principalmente por causa de sua mãe. Mas isso não significava que ele não poderia pegar Top Drawer e ajudar a ruiva que lutava contra um cavalo castrado aparentemente avesso a desfiles. Como Gabe estava seguindo a mulher, ele teve a oportunidade de ler o bordado atrás da camisa de cetim branco dela: Imobiliária Morgan O’Connelli. Ele reconhecia aquele sobrenome estranho de algum lugar. Até mesmo se lembrava de que era uma combinação esquisita de irlandês e italiano porque os pais não queriam hifenização nos sobrenomes dos filhos. Mas ele não sabia direito por que tinha conhecimento de tal informação. Antes que ele tivesse a chance de alcançar a mulher, o Appaloosa se pôs em movimento e começou a trotar, quase derrubando-a. Ela perdeu a calma, mas não o equilíbrio, embora estivesse claro que agora era apenas uma passageira e que o cavalo estava no comando, provavelmente voltando para o celeiro. Gabe cutucou Top Drawer, incentivando-o a galopar. Felizmente ele tinha escolhido esse cavalo, em especial, para montar hoje. O animal malhado da raça Paint tinha algo de puro-sangue e era muito mais veloz do que Finicky, seu outro cavalo de apartação. Quando o Appaloosa contraiu a traseira salpicada de manchinhas e explodiu numa velocidade característica, Gabe concluiu que estava cansado de brincar. Debruçando-se sobre o pescoço de Top Drawer, ele incitou seu cavalo e logo alcançou o castrado facilmente. – Segure-se! – berrou ele para a mulher, assim que surgiu à esquerda dela. Ela abandonou as rédeas e agarrou o pito da sela. Pegando a rédea do Appaloosa, Gabe se preparou. – Opa, filho! Opa, quietinho! O cavalo desacelerou juntamente a Top Drawer, revelando que era adestrado o suficiente, mas que simplesmente tinha escolhido tirar vantagem de uma condutora inexperiente. Os dois cavalos pararam
no meio da rua vazia. – Assim é melhor. – Largando os freios do Appaloosa e pegando as rédeas penduradas no pescoço do cavalo, Gabe olhou para a ruiva para ver como ela estava. – Você está bem? Ela lançou-lhe um grande sorriso, mas sua mandíbula estava mais apertada do que uma cinta num fardo de feno, e seu rosto estava mais alvo do que sua camisa. – Tudo bem! – Ela mal mexeu os lábios. Gabe concluiu que ela estava em choque. – Fique quietinha. Eu vou ajudá-la. – Tudo bem! – Ela ostentava aquele olhar de cervo na mira dos faróis de um carro e suas pupilas dilatadas deixavam aparecer apenas um leve toque do azul-esverdeado das íris. Segurando as rédeas do Appaloosa com firmeza, Gabe manobrou Top Drawer até ganhar espaço para desmontar. Daí amarrou o cavalo a um mastro para que pudesse se concentrar em auxiliar a ruiva a descer da sela. Ela estava agarrando o pito com força e estava ofegante, arfante o suficiente para chamar a atenção de Gabe para a fronte de sua camisa. Ele tinha um apreço especial por mulheres de seios grandes, mas sabia que era politicamente incorreto – para não mencionar rude – ficar encarando a região. Ainda assim, ele não conseguiu deixar de notar que os três primeiros botões de pressão estavam abertos e que o quarto estava ameaçando estourar a qualquer minuto. Ele olhou para ela. – Pronta para descer? – Claro! – Ela lhe concedeu mais um sorriso imenso. – Quer ajuda? – Não, obrigada! – Sem aviso, ela passou a perna direita sobre o lombo manchado do cavalo. Só que o Appaloosa era alto demais, e ela não era, sendo assim, a menos que ela afrouxasse a pegada na sela… Quando a desmontagem se mostrou ineficiente, Gabe entrou em cena e pegou a moça pela cintura. – Venha com cuidado. Só então ele ouviu um estalo e percebeu que o quarto botão da camisa dela tinha estourado de vez. – Mas que droga! Ele mordeu o interior da bochecha para não rir enquanto pousava a mocinha no chão, de costas para ele. E então se afastou para que ela tivesse privacidade para reabotoar a camisa. Resmungando xingamentos, ela prendeu os botões. – Camisa estúpida, um tamanho menor do que eu pedi. Quando chegou pelo correio, já não dava mais tempo de trocar. – Essas coisas acontecem – murmurou ele. – Prontinho! – Ela virou-se para encará-lo e agora definitivamente ostentava uma expressão confiante. – Agora posso agradecer adequadamente por você ter me socorrido, Gabriel Chance. Foi incrível mesmo. – Você sabe o meu nome? – Ele encarou aqueles olhos que não eram nem verdes nem azuis. Daí foi lembrado do tom turquesa das joias tribais, e mais uma vez suas recordações foram estimuladas. Ele podia jurar que já a conhecia. – Todo mundo conhece os meninos da família Chance. Mas, além disso, estudamos juntos na escola por um semestre, no primeiro ano do colegial.
– Você é Morgan O’Connelli! – Ele pronunciou o sobrenome com ênfase nas duas últimas sílabas, tal como um italiano o faria. – Eu mesma. A filha de Seamus O’Conner e Bianca Spinelli, o casal infame que criou esse sobrenome confuso, O’Connelli, garantindo assim que seus filhos sofressem toda vez que um professor fizesse a chamada. – Mas é um diferencial. – Como ela nunca o modificara, provavelmente não devia odiar o sobrenome tanto assim. Agora que sabia quem ela era, Gabe começou a peneirar entre suas lembranças. – Nós não trabalhamos juntos na organização do baile de formatura? – Sim. Passamos a tarde antes do baile enchendo balões de hélio e aspirando o gás para que pudéssemos cantar com voz fininha. – Isso. – Ele riu. E, num ímpeto, recuperou todas as lembranças com ela; os pais errantes, ciganos modernos, que iam de um lugar a outro numa van velha. Um bando de crianças, de uns 7 ou 8 anos. Morgan era a mais velha. Devia ter sido complicado chegar no meio do primeiro ano do colegial, sendo que a maioria da turma era formada por crianças nascidas e criadas em Jackson Hole. Mas ela se jogara nas atividades escolares, como se fosse uma retaliação, oferecendo-se para todas as atividades menos importantes que ninguém mais queria realizar. Gabe namorava outra garota naquela época, por isso nunca a convidara para sair. Além disso, diziam na escola que ela não tinha tempo para namorar porque precisava cuidar dos irmãos e irmãs mais novos. Gabe não se permitira pensar nela em situações românticas, mas lembrava-se daqueles olhos e daquele cabelo vermelho-fogo. Se ele fosse sincero, teria de admitir que também se lembrava dos seios dela. Morgan quase fora aceita como parte da turminha, mas aí, um dia… ela foi embora. – Eu me lembro de que você trabalhou na lanchonete por um tempo, durante as férias escolares. – Aham. Eu amava preparar milk-shakes. E era um ótimo pretexto para me livrar da função de babá dos meus irmãos. Ele adorava vê-la naquele uniformezinho branco, mas não mencionou isso, claro. – Um dia eu fui lá e eles falaram que você tinha ido embora. – Isso foi pouco antes da comemoração pelo Dia da Independência – disse ela. – E, por falar nisso, é melhor você voltar, ou vai se atrasar. – Ela tirou um celular do cinto de couro. – Vou ligar para o estábulo e pedir para buscarem este cavalo. Acho que Geronimo tem medo de desfiles, principalmente quando estou participando deles. Ah, bem. – Ela deu de ombros. – Chi non risica, non rosica. Gabe não falava absolutamente nada de italiano. – O que significa? – Quem não arrisca, não petisca. Gabe não se deixou enganar. Aquela aceitação de bom grado de seu destino não lhe soou sincera. Pelo que ele se lembrava dela, Morgan gostava de participar dos eventos, e um desfile do Dia da Independência tinha tudo a ver com ela. – Não precisa ligar para eles – disse Gabe. – Vamos simplesmente trocar nossos cavalos. Ela fez uma pausa no ato da discagem. – Isso é muito generoso da sua parte, mas eu não poderia aceitar. – Você não quer participar do desfile? – Bem, claro, mas acho que não percebi o quanto seria complicado. – Então este é o seu primeiro desfile? Ela sorriu.
– Sim. Sou uma virgem dos desfiles. – Então precisamos mudar essa condição hoje. – E, se o diálogo estava ganhando uma conotação sexual, Gabe não dava a mínima. Morgan tinha começado. Ainda sorrindo, ela balançou a cabeça. – Aposto que o seu cavalo vale um zilhão de dólares. – Não importa. – Gabe imaginou que Jack diria que importava, sim, e muito, mas Top Drawer era seu cavalo e ele podia muito bem emprestá-lo se quisesse. Isso significava que Gabe iria montar um Appaloosa em vez de usar um dos Paint do Última Chance, e Jack poderia não gostar nada disso também. O rancho aproveitava o desfile para exibir seus cavalos registrados, então eles sempre tinham utilizado os cavalos Paint. Mas Gabe não estava com vontade de agradar Jack agora. – Não, é sério, Gabe. Se acontecesse alguma coisa com ele, ou com alguém no desfile enquanto eu estivesse montada nele, eu nunca me perdoaria. – Não vai acontecer nada. – Gabe fez um gesto para seu cavalo. Top Drawer não tinha se mexido desde que Gabe largara as rédeas. – Ele é quase totalmente adestrado. Você não vai ter nenhum problema, mas, se estiver preocupada, pode seguir ao meu lado. A ansiedade brilhou naqueles olhinhos por um instante antes de Morgan desviá-los. – Eu realmente agradeço a oferta. Você não sabe o quanto. – Ela olhou para ele. – Mas isso não seria certo. – Por que não? – Eu estaria me intrometendo no seu desfile de abertura, interrompendo seu evento familiar, insinuando-me em uma situação que não é… – Ah, que inferno, Morgan. Você sabe que quer fazer isso, então é só pegar meu cavalo e se apressar, ou nós dois vamos chegar atrasados. Ela hesitou por mais um segundo e depois sorriu. – Tudo bem, Gabe. Você está certo. Eu realmente quero participar do desfile. Tenho pensado nisso desde… bem, desde que eu tinha 16 anos, acho. Graças a Deus que ele oferecera. – Então vamos lá. – Vou ter uma dívida eterna com você. – É mesmo? Isso soa promissor. Ela riu. – Não fique todo animadinho. Essa coisa de abrir um negócio minou boa parte do meu capital. Mas posso bancar um jantar no Espíritos e Esporas se você não pedir o filé. – Ela caminhou até Top Drawer e subiu. O quarto botão de sua camisa abriu novamente. De pronto, Gabe pensou numa alternativa para Morgan demonstrar sua gratidão, e imediatamente sentiu-se um babaca. Ele estava fazendo uma boa ação e não esperava nada em troca. Absolutamente nada. – Droga. – Ela juntou a camisa e fechou o botão. Esforçando-se ao máximo para não olhar, Gabe afastou o Appaloosa para que pudesse controlar o cavalo rebelde enquanto ajustava seus estribos. Sem dúvida ficar excitado por causa de um vislumbre daquele decote espetacular demonstrava uma pobreza de caráter. Mas era isso. Ele era superficial e imaturo o suficiente para desejar que o botãozinho continuasse aberto.
– Ah, você poderia, por favor, pegar minha bolsinha? – perguntou ela. – Deixei amarrada na sela e duvido que você queira desfilar com isso aí pendurado à vista de todos. – Isso seria um problema. – Ele pegou a pequena bolsa de couro, do tamanho de uma carteira, e entregou a Morgan. Quando ela se esticou para recebê-la, o botão da blusa abriu novamente. – Isso está ficando chato. – Talvez você devesse desistir e deixar aberto. – Gabe imaginou que todos os homens ao longo do percurso do desfile ficariam muito gratos por isso. Morgan enrolou a alça da bolsa no pito da sela e fechou a camisa novamente. – Agora você está falando como a minha mãe… Se você tem os atributos, tem mais é que exibi-los por aí mesmo. – Sua mãe disse isso? – Gabe não conseguia imaginar aquela frase cruzando os lábios de sua mãe, principalmente em relação a um dos próprios filhos. – Ela é italiana – justificou Morgan, como se isso explicasse tudo. Gabe pensou no assunto enquanto alongava os estribos e então montou no animal. As crianças tendiam a se parecer com seus pais, e obviamente Morgan tinha herdado seu cabelo ruivo e os olhos azul-esverdeados de seu pai irlandês, um sujeito que Gabe chegara a ver uma vez em algum evento da escola ao qual os pais compareceram. O que será que ela herdara da mãe italiana de cabelo castanho e personalidade fogosa? A natureza apaixonada? Na época da escola, ele não estivera disponível, mas agora, por acaso, estava totalmente livre. Muito embora não esperasse nada em troca daquela boa ação, Gabe não ia recusar se Morgan quisesse renovar a amizade. Aquela troca de cavalos poderia vir a ser um de seus melhores movimentos.
Capítulo 2
MESMO UMA otimista fervorosa como Morgan não poderia imaginar que alugar Geronimo, aquele cavalo teimoso, pudesse ser tão proveitoso. Embora estivesse um pouco tensa por irromper num evento da família Chance, ela havia sido convidada por um dos príncipes herdeiros exatamente para fazê-lo. Ela considerava os Chance uma espécie de família real de Shoshone. Gabe certamente se portava como a realeza, a postura descontraída e tranquila na sela enquanto cavalgava ao seu lado rumo à área de preparação do desfile. Morgan nunca soubera de nenhum episódio de insegurança dentro da família Chance, mas por que haveria? Todos tinham muita autoconfiança, um traço que ela vinha se esforçando para inserir em sua personalidade. Ela admirava Gabe desde o dia em que chegara à escola local, doze anos atrás. Não, admirava era uma palavra muito suave. Ela, na verdade, tinha uma queda por ele do tamanho da Cordilheira Teton. Obviamente nunca tivera chance com ele naquela época. Como presidente da turma e estrela do time de futebol americano, Gabe Chance poderia ter praticamente a garota que quisesse. E ele namorava uma garota chamada Jennifer. Por incrível que parecesse, agora ele parecia estar solteiro. Como ele estava todo bonitão, com seu cabelo loiro e olhos azuis risonhos, Morgan esperava que ele estivesse fora do mercado. Em vez disso, ele a convidara para cavalgar no desfile, e aquilo não lhe parecera um gesto típico de um sujeito com namorada. Ele também se mostrara muito interessado em sua camisa apertada. Ela lhe dava créditos por não encará-la, no entanto, pois já havia tolerado sua dose de olhares cobiçosos e cantadinhas grosseiras ao longo dos anos. Quando era adolescente, Morgan desejara muito ter seios menores, mas por fim ela aprendera a aceitar e até mesmo agradecer pelo corpo que tinha. Suas medidas generosas passaram a funcionar como um ótimo teste para ver se um sujeito tinha classe. Embora ela não pudesse esperar que os homens ignorassem seus seios imensos, agradecia por seus esforços para demonstrar sutileza. Gabe tinha feito tal esforço. Pensando bem, ele também tinha feito o mesmo na época da escola. Na tarde do baile em que ele a ajudara a encher mais de cem balões, não fizera nenhuma comparação entre os balões e suas “melancias”. Ela se apaixonara um pouquinho mais por ele naquele dia.
Morgan não se importava em exibir seus atrativos sob determinadas circunstâncias, mas um desfile voltado para a família definitivamente não era uma delas. Quando a camisa bordada que ela havia encomendado se revelara menor do que o esperado, Morgan cogitara não usá-la, mas daí ela não teria como anunciar seu negócio. A publicidade era seu pretexto para desfilar, muito embora não fosse o motivo principal. Ela havia sonhado com esse desfile e com as festividades que se seguiram desde o momento em que a experiência lhe fora negada, ainda na adolescência. Durante o breve momento em que morara na cidade, ela sentira uma ligação com o local, como se o lugar estivesse destinado a ser sua morada definitiva. Ela odiara ter de ir embora e prometera que um dia iria voltar. Foi necessário algum tempo para honrar a promessa, depois de cursar uma faculdade e de descobrir o que ela desejava ser quando crescesse. Uma vez que estava licenciada para trabalhar com imóveis, ela permaneceu em Jackson até sentir-se confiante o suficiente para abrir o próprio escritório em Shoshone, dois meses antes. Passar o Dia da Independência ali marcava o início de sua nova vida, uma vida em que ela finalmente criaria raízes. E, por meio da venda de casas, ela estaria ajudando outros a criarem raízes. Morgan era totalmente vidrara no conceito de lar. Encontrar Gabe Chance hoje, no entanto, tinha sido um bônus com o qual Morgan não havia contado. Mas daí, uma vez que uma garota constrói a vida que deseja, tudo pode acontecer. Inclusive essa mesma garota pode se flagrar cavalgando rua abaixo com o homem dos seus sonhos. Ao menos Gabe tinha sido o homem dos seus sonhos doze anos antes. Ela provavelmente precisava descobrir um pouco mais a respeito dele antes de escalá-lo para esse papel agora. E em algum momento ela também gostaria de expressar suas condolências, pois sabia que Gabe tinha perdido o pai no ano anterior. Morgan resolveu lançar-se numa conversa neutra: – Então… O que você tem feito desde o colégio? Ele olhou para ela. – Eu me formei em administração, mas passo a maior parte do tempo concentrado nas cavalgadas. Top Drawer é um dos dois cavalos que eu uso em provas de apartação. Ela não teve problemas em imaginá-lo no meio da arena, cheio de orgulho. – Aposto que você é bom no que faz. – Top Drawer é bom no que faz. Eu só tento não interferir. Então ele não tinha virado um presunçoso desde que ela o conhecera. Gabe tinha sido um tanto competitivo quando jovem, mas nunca fora de alardear suas vitórias. Ela estava feliz que ele não havia mudado. – E certamente você também está promovendo os cavalos Paint do Última Chance quando monta – disse ela. – Acho que sim, e meu pai costumava achar isso também, mas Jack pode levar um tempo para ser convencido disso. – Não tenho certeza se cheguei a conhecer Jack. – Talvez não. Ele já tinha concluído o ensino médio naquela época, e coincidiu com o período em que meu pai abandonou os negócios com gado e passou a vender cavalos. Ele precisou de Jack para ajudar na transição. Morgan percebeu a abertura e aproveitou a oportunidade.
– Sinto muito sobre o seu pai. – Sim, foi inesperado. – Com certeza. – Ela estava trabalhando em uma corretora em Jackson quando ficara sabendo que Jonathan Chance havia morrido em um capotamento. Entretanto, quando a notícia chegara, o funeral já havia acontecido, e ela provavelmente não teria comparecido, de qualquer forma. Ela nem mesmo chegara a conhecer Jonathan, e não tinha certeza se Gabe ou Nick iriam se lembrar dela. Um mês após o acidente, um representante da corretora de Morgan se dirigira a Shoshone para deixar seu cartão, no caso de a viúva de Jonathan resolver vender o rancho. Morgan ficara feliz em saber que isso não aconteceria, tanto para o bem da família quanto para o dela. Quando ela se mudasse de novo para Shoshone, queria que a comunidade estivesse exatamente como ela se lembrava, e isso incluía a família Chance morando no mesmo lugar. Pensando nisso agora, ela percebia que aquele desfile ia ser o primeiro desde a morte de Jonathan. – Gabe, eu demoro um pouco para entender as coisas, mas este não é o momento para você levar uma desconhecida a um evento familiar. Você provavelmente já tem problemas suficientes com eles. O olhar dele foi caloroso. – Isso é muito legal da sua parte, Morgan, mas, em primeiro lugar, você não é uma desconhecida. Você é uma amiga da escola. Em segundo lugar, acho que você é exatamente o que precisamos para não ficar atolados em nostalgia. – Bom, tudo bem, mas se alguém ficar chateado com isso ainda podemos trocar os cavalos e o desfile pode continuar sem mim. – Isso não vai acontecer. – Gabe dirigiu-se para o grupo de cavalos e cavaleiros perto da carroça do Última Chance. – Por aqui, srta. O’Connelli. Deixe-me apresentá-la. Morgan respirou fundo, mas não muito fundo. Aquele botãozinho desgraçado ia ficar bem fechado, ou ele ia ver só! Ela devia ter prendido com um alfinete de segurança, mas a camisa era de cetim e ia acabar marcando. Montar juntamente a Gabe era uma coisa. Ela o conhecia pelo menos um pouco. Mas enfrentar a família inteira era uma experiência assustadora. Ainda assim, ela era boa em experiências assustadoras. Ser arrastada de um lado a outro quando criança significara ter de aprender a se adaptar a quaisquer circunstâncias nas quais se encontrasse. E sua linha de defesa era seu sorriso, então Morgan expôs um sorriso feliz uma vez que ambos já estavam próximos o suficiente para ser notados pela família de Gabe. Gabe iniciou as apresentações com uma mulher que usava chapéu vermelho, camisa com franjas vermelhas, calça jeans preta e botas vermelhas. O cabelo branco brilhante espiava por debaixo do chapéu, mas os olhos estavam cobertos por óculos de sol. – Mãe – disse Gabe. – Eu gostaria que você conhecesse uma velha amiga da época da escola. Esta é Morgan O’Connelli. Morgan, esta é minha mãe, Sarah. Morgan manteve o sorriso enquanto murmurava uma saudação. Sarah retribuiu o sorriso, mas pareceu estar esforçando-se para fazê-lo. – Prazer em conhecê-la, Morgan. Você deve ser a nova corretora de imóveis da cidade. – Exatamente. – A julgar pela forma como Sarah dissera as palavras corretora de imóveis, Morgan teve a nítida impressão de que aquilo não era uma coisa boa. Talvez a empresa para a qual ela trabalhara não tivesse sido a única a bater à porta de Sarah após a morte de seu marido. – Você já teve problemas com corretores insistentes?
– Você não faz ideia. Morgan encolheu por dentro. – Lamento ouvir isso. – Não tem sido muito legal. – Só para você saber, não tenho interesse nenhum na sua propriedade. Sarah assentiu sem fazer comentários, e Morgan sentiu-se dispensada. Seu charme habitual não funcionara com aquela mulher, mas ela conseguia entender o porquê. Devia ser um dia difícil para Sarah, que também não ficaria nada satisfeita se soubesse que um dos cavaleiros no grupo estaria anunciando sua corretora de imóveis nas costas da camisa. – Ei, Morgan! – Nick, montado num cavalo Paint cor de caramelo ornado por uma sela cravejado de prata, chamou de seu lugar ao lado da carroça. – Quando vi a loja nova da imobiliária na cidade, fiquei me perguntando se seria você de volta. – Sou eu! – Morgan ficou muito grata pela simpatia de Nick. Ele meneou a cabeça em direção a uma mulher sentada na carroça. – Esta é minha boa amiga Dominique Jeffries, de Indiana. O cabelo curto e escuro de Dominique espiava sob um chapéu de palha de abas largas, e ela levava uma câmera de aparência cara pendurada no pescoço. Ela acenou para Morgan, a expressão alegre. – Oi! Pelo visto vocês dois trocaram de cavalo. Morgan começou a explicar, mas Gabe se adiantou: – Foi necessário – disse ele. – Caso contrário, Morgan não poderia desfilar. – Em seguida ele apresentou a outra mulher no vagão: Mary Lou Simms, a cozinheira do rancho, e Emmett Sterling, condutor da carroça e capataz da fazenda. Mary Lou estava encarregada de atirar balas para as crianças ao longo da rota. Tanto Mary Lou quando Emmett ofereceram uma saudação amigável, porém reservada. Morgan disse a si que era natural, dadas as circunstâncias. Mas até agora apenas Nick e a outra mulher, provavelmente namorada dele, tinham sido verdadeiramente afáveis. Finalmente Gabe olhou para um cowboy de cabelo escuro do outro lado da carroça. Estava todo de preto e montava um Paint preto e branco impressionante. Morgan não tinha dúvidas de que aquele era Jack, o novo patriarca do clã Chance. Gabe confirmou o que Morgan já sabia assim que os apresentou. – Jack, conheça Morgan. Eu a convidei para desfilar com a gente hoje. Jack semicerrou os olhos, mas a cumprimentou tocando a aba do chapéu. – Fico contente com sua companhia, senhorita. Morgan ouviu as palavras de boas-vindas, mas não acreditou nelas nem por um segundo. Assim que Gabe anunciara que ela estaria cavalgando com eles, uma frieza inegável se assentara entre o grupo. Ela manteve o sorriso, porém. Talvez ainda houvesse tempo para devolver o cavalo de Gabe e ligar para os estábulos para que buscassem Geronimo. – É hora de sair! – Jack levantou a mão como um líder de trilha antiquado. Tanto esforço para nada. Morgan teria de encarar a coisa toda, manter a cabeça erguida e a camisa fechada.
– MORGAN E eu vamos seguir Nick – disse Gabe, assim que o grupo começou a se enfileirar atrás de Jack. Aquela não era a ordem originalmente planejada, mas Gabe achava melhor assim. Quando tinham conversado a respeito na noite anterior, sua família havia estabelecido que Jack ficaria na liderança, seguido por sua mãe. Gabe iria atrás dela, e logo depois viria a carroça e a fila seria fechada por Nick montado em Gold Rush, como um tributo emocionante ao seu pai, que sempre fora responsável pelo grand finale da comissão de frente do desfile. Mas Gabe não queria ficar imprensado entre sua mãe e a carroça, no caso de Geronimo ficar arredio ou de Morgan ter problemas. Ele preferia ficar mais ao final, onde haveria algum espaço para manobras antes da entrada do grupo seguinte. Jack hesitou. – Eu não… – Então ele fez uma pausa e deu de ombros. – Tanto Faz. Precisamos ir. Pronta, Sarah? – Sim. – Ela guiou seu Paint ruço, muito semelhante ao de Gabe na cor, se não nas manchinhas também, para iniciar o percurso do desfile. Em seguida Emmett estalou as rédeas no lombo dos dois cavalos baios semelhantes que puxavam a carroça, a qual rangeu assim que foi dada a partida. Nick olhou para Gabe. – Você tem certeza de que quer ser o último da fila? – Sim. – Tudo bem, então. – Nick deu uma cutucada em Gold Rush com os calcanhares e o cavalo caramelo foi atrás da carroça, a sela de prata brilhando sob a luz do sol. – É só você permanecer do meu lado direito – disse Gabe para Morgan. – Nós vamos ficar bem. – Você mudou a ordem, não é? – Um pouco. Morgan manteve a voz baixa. – Isso foi um erro. – Não, não foi. – Gabe sabia do que ela estava falando. Exceto por Nick e Dominique, o grupo não se mostrara lá muito empolgado com a presença de Morgan. – É só por causa dessa coisa da imobiliária. Vai ficar tudo bem. Acene. – O quê? – Acene para as pessoas na calçada. É isso que a gente faz num desfile. – Oh! – Ela acionou seu charme imediatamente, virando-se na sela para poder prestar atenção aos cordiais cidadãos de Shoshone posicionados em ambos os lados do cortejo. Enquanto isso, Gabe se concentrava em manter o ritmo lento. Mary Lou atirava doces, e as crianças estavam causando um tumulto por isso. Ele observava cuidadosamente para ter certeza de que ninguém correria em direção à rua. – Ei, Gabe! – O grito veio de Elmer, dono do único posto de gasolina da cidade. – O que você tá fazendo num Appaloosa? – Só estou tentando ser diferente! – berrou Gabe de volta. – Eu nem sequer pensei nisso. – Morgan continuou sorrindo e acenando, mas pareceu chateada. – Você está no cavalo errado por minha causa. – Anime-se, Morgan. Eu não vou arruinar a reputação da família só porque estou num cavalo de raça diferente. Além disso, você deveria estar se divertindo por perder sua virgindade dos desfiles, e não ficar obcecada com a minha reputação. Aquilo a fez rir.
– Eu estou me divertindo. Mais ou menos. – É bom você começar a se divertir mais logo, logo. O desfile é curtinho. – Ele desejava que a mãe e Jack tivessem demonstrado mais entusiasmo com a presença de Morgan, mas conseguia entender por que eles não se empolgaram. Morgan soprava alguns beijos para a multidão enquanto continuava a conversa com Gabe. – Então… O quão ruim foi a abordagem dos corretores de imóveis querendo a sua casa? Ele soltou um suspiro. – Foi bem ruim. Depois que meu pai morreu, um zilhão deles bateram à nossa porta com todo tipo de plano e fantasia, achando que a gente ia querer vender o rancho inteiro, ou pelo menos parte dele, e que eles iam fazer uma fortuna. Eles enlouqueceram minha mãe, e por isso toda essa história de corretores foi um tabu durante meses. Até que finalmente eles desistiram. – Então sua família acha que vou fazer a mesma coisa, agora que eu o conheci e fui convidada a desfilar com vocês? – Talvez. – E Gabe não tinha certeza se ela iria fazê-lo ou não. Não tinha pensado tão além. – E você vai? – De jeito nenhum! Eu adoro a ideia de sua família ser proprietária do mesmo terreno há anos. Meus pais nunca tiveram nada além de uma vaga para estacionar a van. E Gabe notava que aquilo ainda a incomodava, mesmo agora que Morgan já era adulta e não precisava lidar com o estilo de vida errante mais. – Continue acenando. – Ah. Desculpe. – Ela voltou aos seus deveres no desfile. – O que está achando do desfile agora? – Melhor. Eu queria ter trazido doces para jogar para as crianças. Não pensei nisso. Gabe se aproveitou de uma parada temporária e chamou Nick. – Ei, irmãozinho, pode pegar um saco de balas na carroça e jogar para cá? – Claro que sim. – Nick trotou para a frente, pegou um saquinho com Mary Lou e deu ré até estar bem à esquerda de Gabe. – Aqui está. – Ele entregou o pacote a Gabe. – Vai impressionar os pirralhos? – Morgan quer jogar. – Gabe estendeu o saco para ela. Ela o pegou, dando um sorriso. – Obrigada! E obrigada a você também, Nick. – O prazer é meu, Morgan. – Nick tocou a aba do chapéu. Gabe aguardou Nick retornar para sua posição à frente deles, mas, em vez disso, ele permaneceu emparelhado a eles. – Está tudo bem aqui? – perguntou. – Estamos bem. – Gabe olhou para Morgan, que parecia totalmente absorta na tarefa de jogar balas para as crianças. – Obrigado por perguntar. Nick baixou a voz. – Você sabe que tem a ver com a coisa das imobiliárias. – Eu sei. Eu expliquei a ela. – Você também explicou que era melhor ela nem tentar vender seus serviços? – Não precisei. Ela tem um grande respeito pela herança da família Chance, provavelmente ainda mais do que eu.
– Ótimo. Então manda ver, maninho. – Nick incitou seu cavalo a prosseguir e voltou a ficar na dianteira de ambos. Gabe não tinha certeza do significado de manda ver naquele contexto. Nick havia encontrado uma mulher legal, uma com quem, sem dúvida, ele ia se casar algum dia. Talvez ele achasse que seus dois irmãos devessem fazer o mesmo. Gabe não estava pensando nisso para si. Ele gostava demais de competir, e nunca tinha se imaginado como chefe de família. Um dia, talvez depois que Top Drawer entrasse no Hall da Fama, ele pudesse se aposentar dos circuitos, mas por enquanto ele ainda amava o desafio. Claro, o pão-duro do Jack o havia afastado das competições temporariamente, mas Gabe não ia permitir que seu irmão o privasse permanentemente, nem que roubasse de Top Drawer sua chance de brilhar. Eles iam encontrar uma solução. Gabe acreditava que seu pai teria querido que ele continuasse a competir, especialmente com Top Drawer chegando mais perto daquele marco. Nesse meio-tempo, porém, Gabe permaneceria na cidade, e Morgan também. Ele admitia que a achava sexy. Toda vez que ela atirava um punhado de doces, seus seios balançavam. Gabe também não deixara de notar o ajuste da calça jeans dela. Sim, caso tivesse tal oportunidade, ele estaria mais do que disposto a se aconchegar a Morgan. Ela parecia gostar dele também. E aí eles poderiam ter uma diversãozinha de adultos até Gabe conseguir convencer Jack a mandá-lo de volta aos circuitos. Contanto que Morgan não esperasse sininhos de igreja anunciando o casamento, os dois poderiam se divertir muito.
Capítulo 3
JOGAR BALAS para as crianças ao final do percurso do desfile levantou consideravelmente o astral de Morgan. No outro extremo da cidade, um terreno havia sido designado como ponto de encontro para os participantes. Aqueles que estavam a pé dispersaram. Estacionado do outro lado do campo, Morgan notou um reboque para cavalos imenso, com U e o C característicos gravados na carroceria. Jack levou seu grupo até o reboque, e, como Morgan estava no cavalo de Gabe, ela teve de ir junto. Então ela viu mais um reboque, consideravelmente menos elegante, pertencente ao estábulo do qual ela havia alugado Geronimo. Os proprietários haviam concordado em encontrá-la ao final do desfile. Tardiamente, ela se perguntava se teria qualquer responsabilidade por ter deixado outra pessoa montar o cavalo. Ela olhou para Gabe. – Como vamos fazer isso? – Simples. Eu subo no seu cavalo e você sobe no meu. – E se eles perguntarem o motivo de a gente… – Eu direi a eles que Geronimo precisava de um cavaleiro mais experiente numa situação como um desfile. Eles devem estar cientes disso. – Ótimo. Obrigada. – Morgan perguntou como seria viver tão segura de si o tempo todo. Ela nunca sentira-se assim, embora tivesse aprendido a se impor. Talvez, quando criasse uma situação sólida aqui em Shoshone, fosse sentir-se mais estabelecida. Até então, ela estava no território do finja-até-convencer. Ela se dirigiu até o reboque do rancho Última Chance. Pelo menos agora entendia por que Sarah e Jack não tinham sido tão calorosos como esperado. Eles achavam que ela ia tentar convencê-los a vender seu amado rancho. Sua camisa rebelde havia se comportado até então, principalmente porque Morgan aprendera a respirar mais calmamente. Ela manteve-se nesse ritmo enquanto cavalgava Top Drawer até o reboque, onde Jack já havia desmontado e estava organizando a operação de recarga dos animais. Ele olhou para cima quando ela se aproximou. – Gabe me pediu para trazer Top Drawer – disse ela. – Tudo bem. Obrigado. – O tom de Jack foi formal.
– Vou só desmontar e ele é todo seu. – Tudo bem. – O olhar sombrio de Jack estava ilegível quando ele se virou para ajudar sua mãe a descer do cavalo. Enrolando a alça da bolsa no ombro, Morgan preparou-se para desmontar. Nossa, como aquele cavalo era alto! Gabe tinha encurtado os estribos para ela, o que ajudara muito durante a cavalgada, mas agora ela precisava descer uma longa distância até o chão. Ela fez o possível, mas, claro, sua blusa se abriu novamente. Assim que retornasse à cidade, ela desviaria do caminho e passaria em casa – a uma quadra da rua principal – e trocaria a maldita camisa. Ela não estava disposta a aguentar aquilo durante o restante do dia. Enquanto ela tentava reabotoar a camisa rapidamente, Jack se aproximou e segurou seu cotovelo. – Só para você saber, nenhum pedaço do Última Chance está à venda. E, quando digo nenhum pedaço, me refiro até a área plantada mais próxima da estrada. Com os dedos ainda nos botões de pressão, Morgan olhou para cima. – Eu não tenho planos para o seu rancho – disse ela. – Entendo que vocês foram perturbados por corretores ávidos em ganhar um dinheirinho, mas eu não tenho nada a ver com isso. A expressão dele não se abrandou. – Espero que isso seja verdade. Mas vender propriedades é o seu trabalho, então logicamente o rancho pareceria uma boa oportunidade. – Talvez, mas não tenho planos nesse sentido. Jack olhou para o outro lado do campo, onde Gabe estava conversando com os proprietários do estábulo de equitação. – Só para você saber, ficar íntima de um dos rapazes da família Chance não vai fazer qualquer diferença. – Perdão? – A combinação do temperamento irlandês e do fogo italiano começava a criar uma sensação de queimação nas entranhas de Morgan. – Shoshone é uma cidade pequena e praticamente todo mundo sabe que Gabe prefere um determinado… atributo físico em uma mulher. – Ah? – Quando Morgan pôs a mão na frente da blusa, chamas de fúria dançaram pelo seu corpo. – Eu odiaria pensar que você estava usando a fraqueza de Gabe em seu favor. A fúria entrou em erupção. – Estamos falando sobre meus seios, sr. Chance? Jack teve a decência de corar. – Eu só estou preocupado com… – Bem, não se preocupe por nem mais um segundo! Sei que este é um momento difícil para sua família, e por respeitar tudo que o legado dos Chance representa nesta cidade não vou dizer exatamente o que penso das suas insinuações grosseiras. – Escute, eu… – Não, você é quem vai escutar. – A voz dela tremia de raiva. – Gabe me fez um favor para que eu pudesse participar do desfile, e eu sou muito grata a ele. Por favor, avise a ele o quanto foi importante para mim.
Jack ficou um pouco desorientado, como se a conversa tivesse tomado um rumo para o qual ele não se preparara. – Hum, você mesma pode dizer quando ele retornar. – Receio que não. Meus seios e eu não queremos causar nenhum tipo de desconforto para você ou sua família, portanto estamos indo embora. – Ah, o prazer de dar meia-volta e caminhar para longe. Morgan precisou segurar as beiradas da camisa, pois ainda não tinha conseguido prender os botões, mas mesmo assim foi uma saída excelente. A CONVERSA com o cowboy do estábulo demorou mais do que Gabe tinha previsto, mas agora finalmente ele estava voltando ao reboque do Última Chance para encontrar Morgan. O concurso de comedor mais veloz de melancia estava programado para dali a meia hora e ele tinha a sensação de que ela gostaria de participar. Depois aconteceria a corrida de sacos, caso as atividades seguissem o cronograma tradicional, e logo depois eles assariam salsicha na fogueira. Gabe ainda era um adolescente quando participara das comemorações de independência em Shoshone pela última vez, e ele descobrira com surpresa que estava ansioso pelos acontecimentos do dia. Morgan tinha muito a ver com isso. A empolgação dela era contagiante. Gabe queria passar o dia com ela e vislumbrar Shoshone através do olhar dela. Jack estava colocando seu cavalo no reboque, e aparentemente todo mundo já tinha saído dali. Gabe não via Morgan em lugar nenhum. Ele não tinha lhe pedido especificamente para aguardá-lo, mas imaginara que ela fosse fazê-lo. Sair sem dizer uma palavra não parecia do feitio dela. Claro, ele não a conhecia tão bem, mas era difícil imaginá-la tendo uma atitude tão mal-educada. Caminhando para a traseira do reboque, Gabe perguntou a Jack se ele tinha visto Morgan. – Sim. – Jack fechou o reboque e se virou para Gabe. – E ela agradeceu pelo que você fez por ela. – Só isso? – Basicamente. Tinha alguma coisa acontecendo. Gabe sentia isso, muito embora Jack fosse muito bom em esconder suas emoções. – Então ela não mencionou onde estaria depois, não me pediu para encontrá-la em algum lugar na cidade? – Não. – Talvez ela tenha deixado o número do celular. – Não. – Droga, Jack, isso não está me cheirando bem. Ela não me parece do tipo que deixa recado e vai embora. Emprestei meu cavalo a ela. – Não foi a decisão mais sábia que você já tomou. Gabe entrou em alerta. – Você disse alguma coisa para ela, não é? – Eu falei para ela que não vamos vender nem um pedacinho do Última Chance se é isso que você quer dizer. – Sim, bem, ela sabe disso e não está interessada. – Gabe não acreditava nem por um minuto que a conversa se resumia àquilo. – O que mais que você disse a ela? Jack soltou um suspiro.
– Olha, deu para notar que ela é exatamente o tipo de mulher que você gosta, mas… – Porque ela tem seios fartos. – Bem, sim. E não me diga que ela não está a fim de capitalizar em cima disso. Tudo que você precisa fazer é olhar para a camisa dela. – A loja mandou o modelo do tamanho errado. – É o que ela diz. – Você está chamando Morgan de mentirosa? – Gabe olhou para seu irmão com descrença. – O que lhe dá o direito de fazer esse tipo de juízo sobre uma pessoa que você nem sequer conhece? – Bom senso! O Última Chance é uma mina de ouro imobiliária. E ela trabalha no mercado de imóveis. Você realmente acredita que ela não está atrás de uma parte nesse negócio? – Não existe negócio nenhum! – De repente ela acha que ficar na horizontal com você pode mudar isso. Gabe apontou o dedo para Jack. – Você a acusou de ter segundas intenções, não é? Jack deu de ombros. – Eu só sugeri que… – Seu filho da mãe. Eu lhe daria um soco no nariz, e só não dou por dois motivos. Primeiro, eu preciso encontrar Morgan; segundo, não quero que a mãe saiba que nós dois tivemos uma briga. – Gabe se virou e saiu antes de explodir de raiva. Seria ótimo socar a cara de Jack, mas isso poderia trazer mais problemas do que soluções. Jack provavelmente revidaria, e Gabe precisava que seu rosto estivesse funcionando direitinho hoje. Ele tinha melancias e cachorros-quentes para comer. Mais tarde, se conseguisse reparar o dano que seu irmão havia feito, ele poderia ter até mesmo uns beijos para dar. Gabe não era um grande fã de caminhar, mas não ia pedir a Jack para levá-lo à cidade durante seu trajeto de volta para o rancho. Felizmente ele estava a menos de um quilômetro do centro. Shoshone não tinha uma praça como algumas cidades do interior, por isso tudo acontecia ao longo da rua principal. Tradicionalmente, fechavam um quarteirão inteiro para as comemorações do Dia da Independência. Gabe tinha esperanças de encontrar Morgan por lá. Ao aproximar-se da área isolada, ele avistou uma multidão reunida perto de uma longa mesa coberta com papel. Havia dez cadeiras dobráveis enfileiradas de um lado. Gabe sabia que tinha encontrado o local do concurso de comer melancia. Agora lhe restava esperar que seus instintos estivessem certos e que Morgan fosse comparecer. A banda que tocava no Espíritos e Esporas estava montada sobre um coreto improvisado perto da área do concurso e algumas pessoas estavam dançando no asfalto. Bandeirolas de papel crepom vermelhas, brancas e azuis enfeitavam janelas e portas ao longo de toda a rua, e todas as lojas ostentavam uma bandeira nacional. Crianças com pistolas de água perseguiam umas às outras em meio à multidão. Gabe procurava por Morgan, mas uma rápida olhadela na aglomeração lhe informara que ela não estava nas imediações. Ele teria encontrado aquele cabelo ruivo facilmente. Se Jack tivesse estragado o dia dela, aí talvez fosse o caso de Gabe voltar para o rancho para quebrar a cara do irmão, afinal. Mas daí ele a viu perto do restaurante Shoshone Diner, onde Madge e Edgar Perkins estavam distribuindo babadores de plástico com o slogan do estabelecimento. Aparentemente eles ainda estavam patrocinando o concurso, tal como faziam desde que Gabe se entendia por gente. Ele nunca
tinha prestado muita atenção a esse tipo de estabilidade reconfortante, mas, depois de conversar com Morgan, aprendera a desenvolver um novo apreço pela coisa toda. Quando Morgan amarrou seu babador, Gabe percebeu que ela estava usando uma camiseta larga em vez da camisa de cetim. Talvez ela tivesse resolvido trocar de roupa por causa dos botões que não paravam de abrir, mas ele também acreditava que os comentários de Jack pudessem ter algo a ver com isso. Seu irmão mais velho tinha muito a explicar. Ajustando a aba de seu chapéu cinza, Gabe foi até o restaurante. Morgan estava rindo de algo que Edgar tinha dito e obviamente ainda não havia notado a presença dele. – Ei, Gabe! – cumprimentou Madge. – Venha pegar um babador. Você sempre foi muito bom nisso. Morgan olhou para cima de súbito e o sorriso desapareceu assim que ela olhou para Gabe. O corpo dela ficou tenso, bem como a mandíbula. Sim, Jack iria pagar por isso. – Pode apostar que vou pegar um babador, sra. Perkins. – Gabe aceitou o pedaço de plástico e amarrou as extremidades em volta do pescoço. – Olá, Morgan. – Oi, Gabe. – Ei, vocês dois não estavam desfilando juntos agora há pouco? – quis saber Madge. – Sim. – Morgan virou-se para ela. – Gabe foi legal e trocou de cavalo comigo. O dele era mais bem treinado do que o meu, e eu não sou muito boa cavalgando. – Seu cavalo era muito teimoso – comentou Gabe. – Sim, bem… – Ela engoliu em seco. – Por acaso você falou com Jack? – Falei, sim. Imagino que você também tenha conversado com ele. – Sim. Tivemos uma… conversa. – A expressão dela estava cuidadosamente contida. – Vocês dois podem papear mais tarde – interrompeu Edgar. – É hora de comer melancia! – Ele ergueu um sino de escola antigo e começou a tocá-lo. – Concurso para escolher o comedor de melancia mais veloz! Última chance de entrar! Morgan fez menção de desamarrar os laços em torno do pescoço. – Quer saber? Acho que não vou fazer isso, afinal. Gabe segurou as mãos dela. – Não se atreva a se acovardar diante de mim, Morgan O’Connelli. – Ele não contava que mãos dela seriam tão quentes e macias. Ou que a boca estaria tão próxima e convidativa. Ela olhou para ele. – Gabe, não é uma boa ideia. – As pupilas de Morgan se dilataram do mesmo modo que fizeram quando Gabe perseguira Geronimo. Gabe não achava que tivesse algo a ver com medo desta vez. Ele apostaria um bom dinheiro que ela estava tão sexualmente consciente dele como ele estava dela. E, como mais uma prova disso, as bochechas de Morgan estavam coradas e a respiração, ofegante. – Vão, vocês dois. – Madge os enxotou para a mesa como se ambos tivessem 5 anos, e Gabe foi obrigado a soltar as mãos de Morgan. Ela se permitiu ser guiada em direção à mesa, mas se atrapalhou com a amarração do babador enquanto prosseguia. – Sério, eu estou me retirando da competição. – O problema é exatamente este – rebateu Madge. – Todo mundo está muito sério hoje em dia. É bom ser um pouco bobo de vez em quando. Sente-se ali, Morgan. Gabe, você toma o assento ao lado.
Gabe acomodou-se e olhou para Morgan, dando de ombros. – Acho que você é minoria aqui. – Tudo bem. – Morgan encontrou o olhar dele e um lampejo de seu bom humor habitual retornou. – Mas eu preciso avisar, passei muito tempo esperando por isto, e quando se trata de concursos para comer melancia, eu como para vencer. Gabe sorriu. – Então, guerra é guerra. Madge pousou as mãos no ombro de cada um deles. – Morgan, devo avisar que, quando Gabe estava no colegial, ele participou de quatro provas desse tipo e venceu três. – Porque em um dos anos eu o superei. – Nick deu um tapinha nas costas de Gabe e sentou-se ao lado dele. – Você está frito, camarada. Eu andei treinando. – Isso explica estes pneuzinhos aqui! – Gabe nunca tinha ficado tão feliz em ver Nick. Talvez a recepção animada de Nick para com Morgan fosse capaz de apagar a má impressão deixada por Jack. – Um homem deve fazer o que deve ser feito. – Nick inclinou-se por cima de Gabe para falar com Morgan. – Cuidado com meu irmãozinho aqui. Ele trapaceia. – Eu não! – Gabe olhou para Morgan e ficou satisfeito ao ver um sorriso de volta ao rosto dela. – Não dê ouvidos a ele. Isso é difamação, pura e simples. Nick é o irmão sorrateiro. – Vou registrar isso. – Mirando sua câmera para os dois homens, Dominique agachou-se em frente à mesa e fotografou. – Nick é muito sorrateiro. Encontrei isto colado à tampa da minha lente uma hora atrás. – Ela balançou o dedo anelar da mão esquerda, onde um diamante brilhou sob a luz solar. – Ei, ei, ei! – Gabe levantou-se e contornou a mesa. – Podemos atrasar o concurso um pouco? Meu irmão Nick acabou de ter o bom senso de pedir Dominique em casamento. – E eu tive o bom senso de aceitar – respondeu Dominique. Gabe a abraçou. – Bem-vinda à família. Nick é um cara de sorte. Nick se juntou a eles, do outro lado da mesa, e colocou um braço ao redor dos ombros da noiva. – Vovô Archie costumava dizer que os homens da família Chance têm sorte quando é preciso. – Mandou bem, Nick. – Gabe cumprimentou seu irmão, e as pessoas à mesa e nos arredores começaram a se aproximar para lhe dar os parabéns. Morgan juntou-se a todos com naturalidade, como se tivesse morado em Shoshone durante anos. Gabe gostou de vê-la relaxando, de volta à sua personalidade otimista de sempre. E o melhor de tudo: ele não detectou qualquer inveja ou melancolia da parte dela. Nenhum tipo de tensão por causa do noivado. Ela provavelmente queria manter o foco em sua carreira, e isso era bom. Finalmente Edgar Perkins tocou o sino novamente. – Isso tudo é muito emocionante, mas estamos atrasados na nossa programação. Preciso que os competidores se acomodem para que possamos trazer as melancias. Gabe ficou observando Morgan para ter certeza de que ela não aproveitaria a interrupção para escapulir, no entanto ela retornou correndo de volta à cadeira ao lado dele. Assim que Nick sentou-se, Gabe se inclinou para ele. – A mamãe já está sabendo? – Sim, e Jack, Emmett e Mary Lou também. Você também teria ficado sabendo, mas estava ocupado demais cuidando do cavalo Appaloosa.
– Deve ter sido um anúncio bastante tranquilo. Eu não ouvi qualquer comoção por lá. – Foi um anúncio silenciosamente emocionante, sem aquela gritaria louca. Mamãe estava meio sensível hoje, afinal, e isso a fez chorar novamente. Você sabe como Jack fica quando ela chora. Gabe sentiu um aperto por dentro. – Por falar em Jack, eu… – Aqui estão suas fatias de melancia, senhoras e senhores. – Edgar chegou com dois pratos e Madge apareceu logo atrás com mais dois. Cada prato continha um quarto de uma melancia, fatiada longitudinalmente. O processo foi repetido até que todos os dez participantes tivessem seu pedaço. – A gente vai conversar – disse Nick. – Mas não agora. – Não, agora não. – Gabe colocou o chapéu sob a cadeira antes de olhar com bravata para Nick e Morgan. – Espero que vocês saibam que vão perder. A empolgação brilhou nos olhos azul-esverdeados de Morgan. – Isso nós vamos ver, Gabe Chance. – Tirando um prendedor de cabelo do bolso, ela amarrou os fios num rabo de cavalo. – Pretendo devorar meu caminho para a vitória. Agora aquela era a Morgan que ele gostava de ver: toda animadinha e ousada. Ele pensou na mãe italiana dela outra vez. Aquele dia tinha tudo para ser muito interessante, e provavelmente a noite seria mais interessante ainda.
Capítulo 4
QUANDO MORGAN tinha ficado sabendo sobre o concurso de comedor de melancia mais veloz, uma semana atrás, ela resolvera se inscrever, assim como em qualquer outra atividade da comemoração. Ela sempre fora uma grande fã de competições, mas seus pais nunca foram muito a favor de tal comportamento. Além disso, a vida errante praticamente garantira a Morgan uma total incapacidade de praticar esportes frequentemente. Não que comer melancia fosse exatamente um esporte, mas ela ia aceitar o que tinha em mãos, embora não esperasse ser capaz de superar os irmãos Chance. Ela já tinha ouvido em algum lugar que uma mulher deveria ter cuidado com o ego masculino e nunca vencer um homem em competições. Ah, dane-se. Contanto que pudesse participar, ela pretendia acabar com todos à mesa, incluindo o lindo Gabe Chance. Edgar Perkins levantou a mão. – Eis as regras: vocês não podem segurar o prato. Podem puxá-lo para mais perto, mas não segurá-lo. Qualquer um que for pego segurando o prato será desclassificado. Vamos começar ao meu sinal. O sangue de Morgan subiu. Depois de seu desentendimento com Jack, ela se dirigira à cidade pronta para mostrar a todos que sabia como se divertir. Ela havia trocado de camisa porque estava sendo um pé no saco ter de se preocupar os botões abrindo o tempo todo, e sua intenção era se divertir. Então Gabe surgira e toda a bravata dela desaparecera. A família dele não gostava dela, então Morgan concluíra que também não gostava deles, e isso tinha de incluir Gabe. Sem dúvida ele escolheria agradar à própria família em vez de agradá-la, então por que se preocupar com ele? Isso só serviria para lhe causar desgosto. Só que Madge Perkins não facilitara sua tentativa de se esquivar, e agora Morgan estava comprometida com o concurso e com um dia de diversão. A mãe de Gabe e seu irmão mais velho não estavam por perto, por isso, se ele quisesse compartilhar esse dia com ela, ela não iria afastá-lo. Era um país de livre – e, afinal, eles estavam comemorando exatamente o aniversário da independência da pátria. – Ao meu sinal – disse Edgar. – Preparar, apontar, já! Morgan mergulhou na melancia. Ela comia sem parar, engolindo pedaços inteiros e mordendo nacos gigantescos da fruta doce. Ela engoliu uma boa cota de sementes no processo.
Talvez ela passasse mal depois, mas não estava dando a mínima para isso. Havia sumo de melancia em sua boca e queixo. E, quando ela enterrou o rosto no fundo da polpa fresca, até sua bochechas ficaram meladas e cor-de-rosa. Ela não prestou atenção a Gabe, que mastigava sua melancia ao lado dela. Concentração era o nome do jogo. Mas, mesmo em meio à sua concentração intensa, ela ouvia as pessoas berrando seu nome. Dominique estava torcendo para Nick, é claro. Todos os outros concorrentes, incluindo Gabe, tinham uma torcida. Mas Morgan não conhecia muita gente ali, por isso, se estavam gritando o nome dela, isso só podia significar que ela estava na frente. Ela comeu mais rápido e percebeu Edgar se aproximando, olhando atentamente para ela e para Gabe. Ela estava na parte branca da casca, quando ele berrou “Temos um vencedor!”. Olhando para cima, Morgan descobriu a mão de Edgar pairando sobre sua cabeça. Tinha vencido. – Parabéns, campeã. Morgan virou-se, o queixo pingando com sumo, e flagrou Gabe na mesma condição. E ele estava sorrindo para ela. – Você conseguiu. – Ele não parecia chateado. Parecia até mesmo feliz porque ela havia vencido. Então ele fez a coisa mais incrível. Colocou a mão atrás da cabeça de Morgan, puxou-a e a beijou, com meleca de melancia e tudo. Um urro subiu da multidão. No começo, Morgan ficou chocada demais para reagir. Gabe a estava beijando? Em público? Quando ambos estavam totalmente melados com suco de melancia? Em seguida, ela começou a registrar o calor do beijo. Ele estava usando a língua. E ela também. O sumo de melancia era perfeito para uma sessão sensual de beijos. Morgan se esqueceu de onde eles estavam. Esqueceu-se de respirar. Esqueceu-se do próprio nome. Assobios e barulhos de pés caminhando a faziam perceber vagamente que tal comportamento não era particularmente apropriado para aquele local. Mesmo assim, ela teve vontade de puxar Gabe para debaixo da mesa e prolongar o beijo por muito tempo. Felizmente, ele recuou antes que ela pudesse fazer algo realmente constrangedor. Uma risada baixinha e cheia de intenções deu a entender que ele também havia ficado um pouco surpreso com a intensidade da coisa toda. – Pode ser que a gente queira tentar isso de novo outra hora – murmurou ele. Ela ergueu as pálpebras pesadas e o encarou. – Estou dentro. – Então também estou. Edgar se aproximou com o prêmio, um vale-presente para dois almoços no Shoshone Diner. – Bem, Gabe, você com certeza é um bom perdedor. Eu não acho que já tenha visto um perdedor tão bom. – Não brinca – disse Nick. – Ainda bem que eu não venci. Acho que eu não ia gostar nada de jogar hóquei de amígdalas com meu irmão. Dominique se aproximou. – Quer ver as fotos? – Você tirou fotos? – Morgan não sabia se queria mesmo ver aquilo. – Acostume-se a isso – disse Nick. – Dominique fotografa tudo. Não se surpreenda se isso terminar em uma galeria em Jackson. Mas eu prometo que ela vai pedir autorização antes de publicar.
– Não se preocupe – disse Dominique. – Basta dizer, e eu apago. Mas espero que você não me peça para apagar, porque eu adorei. – Ela virou a câmera para que Morgan pudesse ver a foto na tela. Lá estava ela, beijando Gabe com toda intensidade. Ainda bem que ele também a estava beijando com o mesmo vigor, ou ela teria morrido de vergonha. Ali, tão exposta, a foto meio que a deixara… encantada. Ela nunca havia visto uma foto de si beijando ninguém, muito menos um sujeito lindo como Gabe Chance. Morgan não conseguia desviar o olhar. A foto captava exatamente o que ela sentira: espanto, paixão, descoberta. – Eu quero uma cópia – disse Gabe. Morgan olhou para ele. – Quer? – Sim. – Ele sorriu para ela. – Você não gostaria de uma, também? Para comemorar sua vitória no concurso de comer melancia? – Talvez. – Ela pensou no assunto. – Mas o que você estaria comemorando? O olhar dele era atento e a voz soou com sinceridade. – Nosso primeiro beijo. Um coro de Ownnnn subiu da multidão. Morgan sentiu como se alguém tivesse derramado calda quente em seu coração. Ela não conseguia se lembrar de qualquer sujeito dizendo-lhe algo tão doce. Avaliou Gabe para certificar-se de que ele não estava zombando dela, mas não viu nenhuma evidência de que estivesse. – Ficarei feliz em providenciar cópias para cada um de vocês – disse Dominique. – Mas o que vocês achariam se eu expusesse numa galeria? Gabe deu de ombros. – Por mim tudo bem. Morgan perguntava-se se ele tinha noção das possíveis consequências daquele gesto. – Talvez você devesse verificar com sua família, antes de qualquer coisa. Gabe não hesitou: – Não é da conta deles. – Assim que eu gosto. – Nick empurrou a cadeira para trás e aceitou o pano que Madge entregou a ele, bem como a cada um dos concorrentes, para que se limpassem. – Manter a reputação da família Chance é algo altamente superestimado, você não acha, maninho? – Com certeza, irmãozão. – Pelo seu tom de voz, Gabe pareceu estar fazendo mais do que uma observação casual. Morgan reconheceu o tipo de comunicação tácita que acontecia entre irmãos. Ela e seus irmãos e irmãs, todos os sete, compartilhavam certas verdades que só poderiam vir da aglutinação de um passado em comum. Pelo olhar entre Nick e Gabe, ela deduzia que os dois tivessem alguns problemas em relação aos acontecimentos daquele passado compartilhado. Ora, bem-vindos ao clube! – Corrida de saco em 15 minutos! – gritou alguém, da porta da loja de rações de Shoshone. – Quem for participar, venha pegar um saco! – Eu vou – disse Gabe. – Morgan, você vai? Ela sorriu para ele. – Você não conseguiria me impedir. – Eu tinha esperanças de que você dissesse isso. Nick? Você vem?
– Sim, ele vai – interveio Dominique. – Eu o fiz prometer participar de tudo para que eu pudesse tirar fotos. Nick resmungou. – Fotos que serão usadas contra mim quando tivermos filhos. – E netos! – disse Dominique, rindo. Morgan ouviu sem nem um pingo de inveja. Como era a mais velha de uma família grande, ela havia cuidado de todos os seus irmãos, e em muitas ocasiões sacrificara as próprias necessidades em prol deles. Ela não se importaria em ter um par para se divertir, mas queria aproveitar sua liberdade um pouco mais. A ideia de ter filhos não a empolgava nem um pouco. GABE NÃO se importara com a derrota no concurso de comer melancia, mas a corrida de saco estava no papo. Quando ele cruzou a linha de chegada apenas um pé à frente de Morgan, exigiu seu beijo da vitória. Brincadeiras que terminavam com um beijo de Morgan sempre eram boas. Divertir-se com Morgan, Nick e Dominique também era legal. Se Morgan não tivesse estado lá, Gabe poderia ter ficado sem graça por estar sozinho com Nick e Dominique. Um quarteto era bem melhor, e dessa forma eles conseguiram formar um time para a competição de carregar o ovo na colher. Gabe não conseguia se lembrar da última vez que havia experimentado um dia tão livre de pressões. Claro, ele participara das brincadeiras para vencer, mas, quando não ganhava nada, ainda podia arranjar um pretexto para beijar Morgan. E beijar Morgan era melhor do que vencer todo mundo. Ao final da tarde, os quatro ajudaram Josie, proprietária do bar Espíritos e Esporas, a levar as mesas para o lado de fora. Tradicionalmente, a comemoração pelo Dia da Independência em Shoshone terminava com um baile na rua, e Josie não era nada boba. Ela descobrira que servir comida e bebidas ao ar livre fazia muito mais sentido do que tentar persuadir as pessoas a entrarem no bar. Ela recompensara os quatro com garrafas de cerveja e uma mesa privilegiada junto ao trecho da rua onde as pessoas dançariam. Uma vez que estavam todos acomodados, Morgan e Dominique saíram para ajeitar o cabelo e a maquiagem no banheiro do bar. Aquilo proporcionou a Gabe a primeira oportunidade para conversar a sós com Nick. Talvez ele não fosse ter outra, então era hora de aproveitar. Bebendo um gole de cerveja, ele olhou para Nick. – Jack está ficando descontrolado. – Já tem um tempinho que ele anda descontrolado. Exigir que você parasse de competir foi só a façanha mais recente em uma longa linha de esquisitices. – Vou achar um jeito de competir para que Top Drawer possa entrar no Hall da Fama. Nick estava descolando o rótulo de sua garrafa de cerveja. – Eu sei que você vai dar um jeito. E deveria dar mesmo. – Ele olhou para cima. – De nós três, você é o que tem mais direito de representar a família competindo, e Top Drawer também merece esta chance. – Não vamos começar com essa porcaria de meio-irmão outra vez. No que diz respeito a mim, somos todos irmãos. – Gabe nunca sentira que fosse de outra forma, mas convencer Jack e Nick era uma batalha complicada. A mãe de Jack havia abandonado o rancho e seu casamento quando Jack era criança. Apesar dos pedidos constantes de Sarah, Jack nunca aceitara chamá-la de mãe; era como se ele se sentisse obrigado a fazer a distinção de que era apenas enteado dela.
Nick e Gabe pensavam ser filhos de Sarah, mas apenas recentemente Nick tinha encontrado um documento provando que Sarah também não era sua mãe biológica. No caso, ele fora resultado de um casinho breve que seu pai havia tido antes de conhecer Sarah. Depois que a mãe de Nick morreu, ele fora enviado ao rancho, quando ainda era um bebê. Seu pai e Sarah nunca contaram a verdade, e toda a comunidade ajudara a guardar tal segredo. Isso fazia de Gabe o único filho natural de Jonathan e Sarah. Três filhos, três mães diferentes. Não fazia diferença para Gabe. Na verdade, ele estava decidido a se agarrar a um senso de unidade, muito embora Jack costumasse se comportar como um babaca nesse sentido. Mas Nick e Jack não eram tão dedicados ao conceito. Jack era o mais teimoso nesse caso, mas Nick tinha seus momentos. Como agora. – Papai sentia algo especial por você – disse Nick. – Foi por isso que ele o incentivou a entrar nas competições de apartação, para começo de conversa. – Ele sentia algo especial por todos nós. Você sabe muito bem que ele não tinha favoritos. Ele explodia de orgulho por você ter se tornado veterinário de animais de grande porte. – Ah, não era a mesma coisa. Minha formação não é nada emocionante. Você ganha faixas e troféus, e ainda por cima recebe prêmios em dinheiro. Isso, sim, é empolgante. Ele sentia uma emoção sem igual por você ter conseguido chegar lá. Gabe ficou pensando enquanto bebia mais um gole de sua cerveja. – Existe alguma chance de Jack estar com ciúmes da forma como papai se sentia em relação às minhas competições, e por isso esteja tentando acabar com tudo? Nick balançou a cabeça. – Acho que não. Jack nunca pareceu ter ciúmes de qualquer um de nós. Acho que ele sempre estimou sua posição de primogênito. Mas, meu Deus, ele está se transformando num babaca! Só sabe pensar no orçamento das coisas, querendo preservar o rancho exatamente como papai o deixou. Ele está levando sua responsabilidade muito a sério. Gabe suspirou. – Sim, bem, a culpa é uma coisa poderosa. – E tão estúpida! O capotamento do carro foi culpa de papai. Ele devia ter esperado que o tempo melhorasse, ou que Jack ficasse disponível para buscar o cavalo. – Que cavalo? – perguntou Morgan, quando as mulheres retornaram à mesa e tomaram seus assentos. – Não é nada – disse Gabe. – Você conhece os cowboys. Sempre falando de cavalos. Morgan não insistiu. Gabe gostou daquela característica dela. Ela demonstrava interesse nas coisas sem ser intrometida. Ele não havia tido tempo de contar a Nick sobre o tratamento que Jack dispensara a Morgan, mas talvez isso devesse ficar entre ele e Jack, afinal. Gabe não sabia ao certo aonde essa nova amizade com Morgan ia dar, mas, toda vez que olhava para ela, ele pensava em emaranhá-la em alguns lençóis amarrotados. Mais importante: ele não enxergava um vestido de renda branca e promessas; sendo assim, talvez a relação entre Jack e Morgan não fosse importante. Que grande dia tinha sido aquele, no entanto. A noite estava chegando, leve e fresca, e os mosquitos não se mostravam um grande problema. Gabe estava ansioso para dançar com Morgan e arranjar um pretexto para abraçá-la. Nesse meio tempo, eles beberiam cerveja e comeriam os quitutes de Josie, provavelmente hambúrgueres. Era a imagem de uma noite perfeita.
– Querem saber? – Os olhos de Morgan brilharam de empolgação. – Dominique acabou de me contar sobre os fantasmas que supostamente vivem no bar. Quero ajudar a carregar os móveis de volta quando Josie estiver fechando, para que eu possa ver se algum deles vai aparecer hoje à noite. O Dia da Independência me parece uma ocasião bem nobre para isso. Gabe riu. – Não existe fantasma nenhum. Isso é uma jogada de marketing de Josie, e ela faz uso dela até o limite, tendo até mesmo trocado o nome do bar para Espíritos e Esporas. Devo admitir que é um sucesso. – Ah. – Morgan pareceu decepcionada. – Eu estava preparada para ver alguns… qual foi o termo que você usou, Dominique? – Nick disse que eles eram chamados de bebedores fantasmas no bar. – Isso. – Morgan sorriu. – Como na música Ghost Riders in the Sky, que fala de cavaleiros fantasmas no céu. Mesmo assim, eu ainda quero ajudar a guardar tudo hoje à noite. Isso pode ser invenção de Josie… ou não. Quantos anos tem este lugar, afinal? – Josie sabe ao certo – disse Nick. – Mas é algo em torno de 75 ou 80 anos, pelo menos. Ele já estava aqui quando vovô Archie e vovó Nelsie se mudaram para Shoshone, embora, na época, seu nome fosse Espora Enferrujada. – Nosso tio-avô, Seth, irmão da vovó Nelsie, casou-se com a antiga proprietária do bar – acrescentou Gabe –, mas depois eles se mudaram para o Arizona. Seus filhos e netos ainda estão lá, mas eles vêm visitar o Última Chance de vez em quando. – E a família Chance ficou toda aqui – disse Morgan. – Deve ser legal morar no mesmo lugar onde seus avós se estabeleceram. – Bem, é mesmo – disse Gabe –, a menos que você fique tão preso ao passado e à tradição que não consiga seguir em frente. – Ele estava pensando em Jack e se perguntava se Morgan se daria conta disso. Ela era uma mulher inteligente. – Você está certo – disse Nick. – Aposto que vovô Archie não era um fã de ideia rígidas no que dizia respeito ao rancho. Tenho certeza de que papai me disse que a mudança de criação de gado para criação de cavalos tinha sido ideia de Archie. Uma pena que vovô não viveu para ver isso acontecer… Morgan olhou para os dois. – Seu avô Archie gostava de beber? Gabe assentiu. – Não em excesso, e eu era muito jovem quando ele morreu, mas, pelo que eu soube, ele gostava de uma dose de uísque de vez em quando. – Sim, definitivamente – disse Nick. – Lembro-me de papai dizendo que Archie bebia uísque puro. – Será que ele teria pedido uísque neste bar? – Morgan apontou para a porta. – Acho que sim – disse Gabe. – Jack já nos contou que Archie ia para o Espora Enferrujada enquanto Nelsie saía para fazer compras. Archie não gostava de fazer compras, então vinha para cá para se revigorar. Nick levantou a garrafa de cerveja num gesto de concordância. – Lembro-me de Jack contando isso também. Com certeza vovô vinha aqui para uma bebida quando seu cunhado passou a ser sócio do bar. – Ele olhou para Morgan. – Por que você está perguntando isso? Morgan pareceu satisfeita consigo.
– Porque, se ele gostava de beber, e Josie não está inventando a história dos fantasmas, então vocês dois poderiam ir lá esta noite e pedir a opinião dele sobre o futuro do rancho. Gabe não acreditava em fantasmas, e de jeito nenhum ia querer passar a noite em um bar deserto com seu irmão. Mas, se Morgan topasse participar, ele estaria mais do que pronto a participar também. Ficar com ela em uma taverna escura não era uma ideia nem um pouco ruim. – Fantasmas não existem – disse ele. – Mas, se você quiser conferir, eu topo. Aposto que Josie nos daria a chave e deixaria que a gente trancasse o bar depois. – Só tem um problema neste plano, maninho. – Nick olhou para Dominique. – Estamos planejando ir embora às 22 horas, e de jeito nenhum Josie vai querer fechar tão cedo. – Vocês dois não precisam ficar – disse Gabe. Na verdade, ele esperava que eles não ficassem mesmo. Já havia imaginado o quanto a taverna ficaria aconchegante só com ele e Morgan lá dentro. – Mas eu vou lhe dar carona para casa. – Não se preocupe com isso – disse Morgan imediatamente. – Posso levar Gabe de volta para o rancho mais tarde. Não é longe. – Isso seria ótimo. – Gabe estava adorando a maneira como tudo aquilo se moldava. A noite estava em aberto, o que deixava espaço para todo tipo de desenrolar interessante.
Capítulo 5
UMA VIDA errante de fato ensinava uma garota a ser espontânea. Morgan podia até preferir uma existência mais planejada do que aquela na qual havia crescido, mas sabia acompanhar a maré quando necessário. Ou desejável, como era o caso das travessuras com os fantasmas. No minuto em que Dominique contara sobre a possibilidade de haver fantasmas no bar, Morgan quisera logo achar um pretexto para verificar a história. Gabe e Nick o providenciaram convenientemente, embora ambos tivessem alegado não acreditar em fantasmas. Morgan não acreditava nem desacreditava. Ela só achava que as pessoas deveriam estar abertas a novas experiências. E agora, cinco horas depois de ter proposto o plano, ela e Gabe estavam sentados na penumbra, iluminados apenas pelo neon de um letreiro solitário de uma marca de cerveja. Eles tinham como companhia apenas a presença um do outro, além de um engradado com seis cervejas. Bem, a menos que os fantasmas bebedores aparecessem. Josie, uma loira alta que usava o cabelo preso numa trança que escorria pelas costas, tinha achado a coisa toda divertida. Ela lhes dera a chave para que trancassem o bar quando fossem embora e lhes mostrara a caixa de correio onde poderiam deixá-la depois. Também lhes prometera bebidas grátis na noite seguinte, caso eles vissem ou ouvissem fantasmas e estivessem dispostos a testemunhar o fato. O cômodo cheirava a fumaça de cigarro e cerveja, algo que Morgan geralmente não associava a fantasias sexuais. E no entanto… havia algo ilícito e sutilmente romântico no ato de estar a sós naquele bar fechado com um homem tão poderoso como Gabe Chance. Mesmo sem uma presença fantasmagórica, o ambiente vibrava com a energia, só porque Gabe estava lá. Ela precisou se beliscar para ter certeza de que não estava sonhando. Tirando sua conversa com Jack, o dia tinha sido perfeito, e agora sua paixãozinha do colégio estava ao seu lado no escuro. E, falando em ocorrências paranormais, naquele momento ela sentia-se capaz de levitar. – Eu disse que não havia fantasmas. – Gabe abriu uma cerveja para cada um e as colocou sobre a mesa. – Josie inventou o boato para fins publicitários. Ela espera que a gente alegue que viu os fantasmas só para ganhar bebida. – Eu discordo. – Morgan bebericou da cerveja forte e colocou a lata em cima da mesa. – Ela o conhece, e está começando a me conhecer. Não acho que ela espere que a gente crie uma mentira só para ganhar bebidas.
– Então talvez ela pense que não conseguiremos resistir a criar uma boa história só pelo entretenimento mesmo. – Isso também não faz sentido, Gabe. Eu estou tentando prosperar com minha imobiliária e você é da família Chance, pelo amor de Deus. Homens da família Chance não mentem sobre coisas como fantasmas para obter ganhos pessoais ou entreter seus amigos. Vocês são mais honrados do que isso. A risada baixinha de Gabe estimulou as terminações nervosas de Morgan. – Acho que você tem uma ideia exagerada sobre a nobreza dos homens da família Chance. – Você não é nobre? – A cadeira dela estava bem ao lado da dele e ambos estavam posicionados de forma que ficaram de frente para o pequeno palco onde a banda country normalmente tocava. Por algum motivo Morgan achou que os fantasmas escolheriam surgir no palco, caso eles aparecessem mesmo. Gabe tirou o chapéu e o colocou sobre a mesa antes de deslizar um braço em volta dos ombros de Morgan. – Nem tão nobre assim. Eu tinha uma motivação oculta para concordar com esta caça aos fantasmas. – E qual seria? – Morgan resistiu ao impulso de aconchegar-se de encontro a Gabe e assim transmitir seu desejo. Ele podia até ter sido o homem de seus sonhos durante anos, mas isso era segredo. – Ficar a sós com você num lugar escurinho. Ela olhou para ele e permitiu-se flertar um pouco. – E se eu dissesse que pensei a mesma coisa? Os dedos dele começaram a desenhar círculos no braço dela. – Então eu tenho que perguntar por que estamos aqui sentados aguardando por fantasmas, quando poderíamos estar fazendo algo mais… satisfatório. O coração de Morgan disparou. Ela estava adorando saber que ele a desejava. – Não podemos fazer tudo ao mesmo tempo? Ficar atentos aos fantasmas enquanto exploramos outras opções? Puxando-a, Gabe tomou o rosto delicado com a mão livre. – Não se eu estiver fazendo a coisa certa. Nossa. Essa era a resposta de um sujeito autoconfiante. Ela podia até ter previsto que ele seria confiante, mas experimentar tal confiança em primeira mão a empolgava. Todo seu interesse no paranormal desapareceu. Se os fantasmas surgissem, eles teriam de se entreter sozinhos. Gabe Chance estava prestes a beijá-la, e isso era prioridade em relação a todo o restante. A boca dele pairou pertinho da dela. – Isso faz me lembrar de situações como estar sentando na última fila do cinema ou em um carro estacionado. O mesmo ângulo esquisito. – A mesma expectativa agonizante. – Morgan tentava manter-se tranquila, tentava respirar normalmente, mas era uma batalha perdida. Embora já tivesse beijado Gabe várias vezes naquele dia, em todas as vezes eles estavam em público, fato que funcionara como um freio. Agora eles não tinha nenhum impedimento. Gabe roçou os lábios nos dela. – Nós podemos melhorar esta posição. – Você está certo. – Recusando-se a se preocupar se ele iria considerar sua abordagem muito agressiva, Morgan deixou sua cadeira e se arrastou para o colo de Gabe.
– Melhor? – Ao montá-lo, ela não teve mais dúvidas sobre o que se passava na cabeça dele. A prova era uma protuberância quente que se aninhava convenientemente entre suas coxas. E saber que ela havia sido a responsável por tal reação a empolgava e excitava. Ele gemeu. – Depende da sua definição de melhor. O ângulo é bom, mas a tentação é pior. Ela abraçou o pescoço dele e se inclinou para mordiscar seu lábio inferior. O desejo óbvio dele lhe dava a coragem de ser a mulher tentadora que ela sempre desejara ser, especialmente com ele. – Admita, Gabe. Você não veio aqui para resistir à tentação. – Não. – Ele segurou a beirada da blusa dela. – Quero toda a tentação que eu puder conseguir. – Então suponho que você queira que eu tire a blusa. – Dentre outras coisas. Tremendo de emoção, Morgan se inclinou para trás e pôs os braços acima da cabeça. – Então vá em frente, sr. Chance. Ele retirou a blusa dela por sobre a cabeça e jogou a peça em cima da mesa. – Droga, agora eu gostaria que tivéssemos mais luz do que aquela plaquinha de néon. – Eu não. As janelas dão para a rua. – Arqueando as costas, Morgan estendeu a mão para os ganchos do sutiã dela. Seus seios eram grandes e eram necessários ao menos quatro ganchos para sustentá-los. Ela não esperava que Gabe fosse dar conta de abrir todos. – Verdade. – A voz dele soou rouca, como se ele também estivesse com um pouco de dificuldade para respirar. – Além disso, a luz iria espantar os fantasmas. – Ela tirou o sutiã e o jogou em direção à mesa, sem mirar. Ele engoliu em seco. – Nesse momento eu não dou a mínima nem se o Gasparzinho e todos os seus amigos aparecerem voando. Você é magnífica, mulher. – No entanto, ele não a tocou de imediato, nem sequer esticou os braços. Era como se estivesse aguardando ser convidado. Abarcando os próprios seios, Morgan olhou para o rosto sombrio dele. – Seu irmão me acusou de usar estes recursos aqui para cumprir minha meta de dominar a família Chance. Ele me disse que você tinha certa fraqueza. Gabe inspirou de maneira trêmula. – Ele está certo. Fiquei sonhando em tocar você desde que os botões da sua blusa abriram. – No entanto, você está se contendo. – Estou… Eu estou com medo de não conseguir parar depois que começar a tocá-la. A decepção disparou dentro dela. – E você não veio preparado. – Ela certamente não se preparara. Correr em casa para pegar preservativos lhe parecera uma suposição inimaginável, quase como se ela estivesse tentando o destino e fixando suas esperanças em algo fora do alcance. – Eu não vim preparado. – Ah. – Sentindo-se boba, Morgan deixou os braços caírem junto ao corpo. Gabe pigarreou. – Mas o banheiro masculino daqui está sempre preparado. Eu, hum, fiz uma aquisição na última vez em que estive lá. – Oh.
– Então se você… – Gabe Chance, se você não me tocar agora, eu vou entrar em combustão. Com um gemido de puro deleite, ele segurou os seios dela. – Nossa, como você é gostosa. – Você também. – Ela fechou os olhos para aproveitar melhor o tato doce daquelas mãos calejadas, massageando, acariciando, como se ele soubesse exatamente o que ela desejava. Indo de encontro a toda lógica, Morgan já sabia que poderia ser assim com ele. A respiração de Gabe ficava mais ofegante conforme ele roçava os polegares sobre os mamilos dela. – Sua pele é tão macia. Minhas mãos estão ásperas por causa do… – Eu gosto disso. – Apoiando as mãos nos joelhos, ela se arqueou para a carícia dele. – Gosto de saber que você tem mãos calejadas pelo trabalho. – Você está proporcionando uma bela folga a elas. – Ótimo. – Morgan firmou as botas nas pernas da cadeira a fim de obter estabilidade. Ver seu sonho se realizando a deixou confiante. – Sua boca também merece essa folga. – Pousando as mãos nos ombros de Gabe, ela ergueu-se sobre o colo dele, de modo que agora estava na posição perfeita para ele… ah, sim. Gabe sabia muito bem como fazer uso daquela posição. Morgan sentiu um aperto na barriga quando ele lambeu e sugou seus seios, murmurando palavras lisonjeiras pela recompensa que ela estava lhe oferecendo. Morgan soubera, desde o beijo sabor melancia, que estivera certa havia anos. Aquele era um homem que tinha o poder de deixá-la louca. E ela precisava de mais do que a boca de Gabe em seus seios. Precisava de libertação, a qual não estava muito longe. Se ao menos ela pudesse voltar para onde… Lentamente, ela abaixou-se no colo dele e lhe deu um beijo de língua caprichado para compensar toda aquela gratificação oral recebida. Pelo menos as mãos dele ainda estavam ocupadas com seus seios. Agarrando os joelhos dele novamente, Morgan impulsionou os quadris e encaixou intimamente seu ponto sensível na ereção que esticava o jeans. Em seguida, ela tombou a cabeça para trás e começou a oscilar de encontro à protuberância tentadora. – Hum. Ele arfou. – Morgan… – O que foi, Gabe? – Com o coração acelerado, ela chegou um pouquinho mais perto. – Estou machucando você? – Deus, não. Mas eu… – Apenas me deixe… – Bem ali. Ela nem sequer precisava se mexer muito, se pudesse pressionar contra ele por um segundo mais… A pulsação dela começou a martelar assim que os movimentos se aceleraram. Quase lá. Ela lutava para respirar. – Belisque… meus mamilos. Gabe obedeceu, e Morgan sentiu o primeiro espasmo. Ela gemeu e balançou de encontro ele. – Mais uma vez. Ele os pinçou uma vez, duas, e ela engasgou quando o tremor começou para valer. – Ah, sim. Isso. – Agarrando os joelhos dele, ela impulsionou com força contra o jeans rígido enquanto seu corpo estremecia em reação à pressão gloriosa. Ela cerrou a mandíbula para não gritar. O clímax a deixou mole e ofegante. Ela caiu para a frente. – Muito… obrigada.
– Ah, Morgan. – Aninhando o rosto dela entre as mãos, Gabe a cobriu de beijos. – Você é incrível, e eu a desejo tanto. Preciso ter você agora. – Sim… eu sei… – Em seu estado de torpor, Morgan não tinha certeza de como fazer aquilo acontecer. Eles não tinham uma cama, e fazer no chão não parecia uma boa ideia. Mas, aparentemente, um caso intenso de luxúria inspirou Gabe a improvisar. Ele colocou Morgan sobre a mesa redonda e rapidamente cuidou das botas, do jeans e da calcinha úmida dela. Ele não se deu ao trabalho de tirar as próprias roupas. Através de pálpebras pesadas, ela o observou abrir o cinto e baixar o zíper. A camisinha foi colocada em segundos. Com a respiração irregular, Gabe ergueu os quadris de Morgan e mergulhou fundo. Seu gemido de satisfação veio entre dentes cerrados, mas falou muito sobre o estado de sua consciência, ou inconsciência. Instintivamente, ela enrolou as pernas em volta da cintura dele, de modo a ganhar alavancagem e ser mais do que mera passageira naquele cruzeiro rumo ao paraíso. – Vou ficar aqui paradinho por um minuto. – Ele parecia sem fôlego, como se tivesse disputado uma corrida. – Oriente-me. Envolvendo uma das mãos ao redor do pescoço dele, Morgan contornou os lábios masculinos com um dedo. Gabe, então, capturou o dedo entre os dentes, o enfiou-o boca e começou a sugar. – Uau. Isso é… isso é bom. – Ela não sabia bem o motivo, mas vê-lo sugando seu dedo ritmicamente ao mesmo tempo em que ele investia o membro bem fundo dentro dela tinha quase o mesmo efeito das estocadas de uma penetração. Lentamente, ele foi libertando o dedo dela. – Deus, você é sensível. – Nem sempre, mas hoje… hoje parece que não consigo evitar. – Porque eu estou com você. – Eu quero tudo. – Ela usou a mão livre para desabotoar a camisa de dele. Quando ela se abriu, Morgan acariciou o peito suado e arfante. Até mesmo o punhado de pelinhos que cobria o peitoral estava úmido de suor. Gabe gemeu de novo, e seu membro se contraiu dentro dela. – Eu estou por um fio. A voz de Morgan baixou para um ronronar suave. – Então, liberte-se. – Ela começou a desenhar círculos lânguidos ao redor dos mamilos rijos dele. – Ainda não. – Tomando os lábios dela, Gabe a segurou pelos ombros e a deitou na mesa. Então a beijou profundamente enquanto corria as mãos pelos braços macios. Em uma manobra saída de um filme de piratas, ele entrelaçou os dedos aos dela e posicionou seus braços acima da cabeça, ancorandoos à mesa. Gabe a estava arrebatando. E Morgan adorava aquilo. Ele recuou a boca, pairando pertinho da dela, a respiração arfante soprando nos lábios molhados dela. – Acho que é isso que chamam de fantasia sexual – murmurou ele. – Entretenimento adulto para fantasmas. – Fantasmas não existem. – Gabe roçou o nariz na curva do pescoço de Morgan e lhe deu vários beijos ao longo da clavícula. – Aqui só temos uma mulher gostosa e um homem desesperado. – Desesperado? – Ah, sim. Estou no limite, mas quero fazer você gozar primeiro.
– Você fez. – Não, você fez. Esse é por minha conta. Vamos ver se aprendi alguma coisa. – Envolvendo um mamilo com a boca, ele investiu os quadris, aumentando a conexão entre eles. Em seguida afagou um mamilo entre a língua e o céu da boca assim que impulsionou com os quadris. O movimento foi sutil. Mas foi o suficiente. Gabe tinha encontrado o ponto exato e estava aplicando pressão. E tudo sem parar de brincar com o mamilo na boca, usando de um pouco mais de força, e um pouco mais, e então um pouco mais… – Oh, Gabe! Beije-me. Beije-me agora antes que eu… eu vou gritar! Ele abafou o som dos gritos de Morgan quando o orgasmo a invadiu feito uma enchente, fazendo-a erguer os quadris e enviando ondas de prazer trêmulo pelo seu corpo. Morgan ainda estava tremendo e curvada feito um arco quando Gabe começou a bombear, suas estocadas rápidas e seguras, seu ritmo ganhando velocidade até ele precisar recuar os lábios dos dela, ofegante. Ele apertou mais ainda as mãos dela e a encarou, embora seu rosto estivesse escondido nas sombras. Morgan mal conseguia enxergar os olhos de Gabe. Ela só conseguia captar vagamente a mechinha loura do cabelo dele grudada na testa úmida. E agora ela também queria que o lugar estivesse mais bem iluminado. – Tão… bom… Tão… – Gabe a beijou novamente enquanto afundava dentro dela mais uma vez, o corpo todo estremecendo. Ela absorveu a pulsação espaçada do clímax dele com um sentimento satisfeito de realização. Ela havia sido responsável por dar prazer a ele. Não importava o que mais acontecesse entre eles – mesmo que nada acontecesse –, Morgan sabia que, naquele momento, Gabe não teria desejado estar no lugar de nenhuma outra pessoa do planeta. Nem ela. DESDE O momento em que vira Morgan em cima de Geronimo, Gabe desconfiara que ela não era uma mulher qualquer. Com aquele nome diferente e aquele atributo considerável, ela já se destacava na multidão. Mas agora ele tinha uma ideia melhor do que a tornava tão especial. Ela dava cem por cento de si em tudo que fazia, e isso incluía – uau, era sempre assim? – sexo. Sua mãe italiana ficaria orgulhosa. Soltando as mãos dela, Gabe segurou seu rosto e lhe deu um beijo longo e delicado. Ela reagiu do jeito esperado, retribuindo como se sentisse a mesma gratidão que ele. Lentamente, Gabe foi finalizando o beijo e então apoiou as mãos na mesa, uma de cada lado da cabeça de Morgan. – Esse… Esse foi o melhor sexo da minha vida. – Eu digo o mesmo. – Acho que agora temos que decidir o que queremos fazer a respeito. – Faremos mais? Ele riu. – Bem, sim, obviamente. Mas temos que decidir a parte do quando e do onde. Você está cansada? – Se você está perguntando se eu escolheria o sono em vez do sexo com você, então você não está prestando atenção nas coisas. – Ah, Morgan, você me lisonjeia.
– Ah, Gabe, você me excita. Mas nós provavelmente não devemos ficar aqui. – Não. – Estou pensando em irmos para a minha casa. Ele sorriu para ela. – Você tem fantasmas lá? – Não que eu saiba, mas tenho um pacote de camisinhas. – Troco os fantasmas por camisinhas em qualquer ocasião. – Com algum pesar, mas com a promessa de mais momentos felizes muito em breve, Gabe se afastou dela. – Vou fazer uma breve visita ao banheiro masculino e já volto. – Vou aproveitar para me recompor enquanto você vai lá. – Se aparecer algum fantasma, ofereça uma cerveja. Acho que não vamos precisar daquela embalagem com seis, afinal de contas. – Gabe ficou pensando nisso enquanto ia para os fundos para fazer o que tinha que fazer. Ele havia presumido que eles beberiam pelo menos uma parte das cervejas, como forma de relaxar e entrar num clima de brincadeiras. Cada um bebeu apenas dois golinhos antes de eles começarem a se agarrar feito loucos. Fazia muito tempo que ele não sentia aquele tipo de atração por qualquer mulher. E a atração foi sucedida por um sexo da melhor qualidade. Mas, como queria se concentrar nas competições por enquanto – uma vez que conseguisse resolver as coisas com Jack –, Gabe não estava interessado em se prender a ninguém. Porém, caso estivesse, Morgan seria perfeita. E então ele teve um pensamento inquietante. Ela poderia estar pensando a mesma coisa, que eles eram perfeitos um para o outro. E talvez ela não fosse contrária à ideia de transformar o caso em algo permanente. Isso significava que em algum momento eles teriam de discutir o assunto. Ele seria completamente honesto com ela e esperava que ela lhe oferecesse a mesma cortesia. De certa forma, Gabe desejava têla conhecido uns dois ou três anos antes, época em que havia alcançado os objetivos que tinha para si e para Top Drawer. Mas ele não podia lamentar o que havia acontecido nessa noite. Um cara podia viver uma vida inteira e nunca experimentar aquele tipo de sexo tão maravilhoso. Ele era um cowboy de sorte. Apagando a luz do banheiro, Gabe retornou ao salão escuro e fez uma pausa para deixar que seus olhos se adaptassem e ele não trombasse nas coisas. – Gabe? – A voz de Morgan soou um pouco trêmula, como se ela estivesse tensa com alguma coisa. – O quê? – Ele tinha esperanças de que ela ainda não estivesse pronta para ter uma conversa sobre o possível desfecho daquilo tudo. – Eu não sei o que você vai pensar sobre isso… Ele optou por antecipar o que quer que ela estivesse tentando dizer a fim de salvá-la do constrangimento. – Olhe, Morgan, adorei fazer sexo com você, mas não quero nada sério com ninguém neste momento. – Nem eu! Você acha que era isso que eu ia falar? Que estou caçando um marido? – Bem… Sim. – Isso está muito longe da minha cabeça agora. Mas acho que tem uma coisa que eu deveria lhe dizer. Gabe estava aliviado, mas queria saber que outra bomba Morgan tinha para despejar. – O que foi?
– Acabei de ver um fantasma.
Capítulo 6
PARA UM sujeito que supostamente não acreditava em fantasmas, Gabe arrastou Morgan para fora bar tão depressa que eles quase se esqueceram de deixar a chave na caixa de correio. Morgan tinha uma desconfiança furtiva de que debaixo daquela pose viril havia um garotinho que acreditava em assombrações. – Você não viu um fantasma – insistiu Gabe, enquanto caminhavam rapidamente pela rua principal, que agora estava deserta. Ele segurava a mão de Morgan com firmeza, como se não confiasse na capacidade dela de fugir do bar assombrado. – Alguém fez uma manobra na rua e os faróis brilharam pela janela. Só isso. – Não, não foi só isso. – Morgan ficara um pouco assustada, mas mesmo assim queria continuar no bar e ver o que o fantasma faria. A luz cintilante que brilhara perto da porta da frente trancada e se locomovera até uma mesinha num canto definitivamente não tinha nada a ver com os faróis de um carro. – Você passou bem no meio dela. Não percebeu nada? A resposta de Gabe veio num tom simples e direto: – Não. Não vi nada. – Ele acelerou o passo. – Então, para onde vamos agora? – Para a sua casa. – Tudo bem. Mas estou me perguntando aqui… Você sabe onde fica? Ele reduziu a velocidade. – Hum, não exatamente. – Imaginei que não. – Morgan se esforçou para não rir. – Vamos ter que voltar para o outro lado. – Ah. – Ele olhou para a rua, em direção ao Espíritos e Esporas. Uma leve neblina havia se assentado e o bar parecia ainda mais assustador do que no momento em que eles o deixaram. Gabe apontou para o lugar. – Eu sei o que aconteceu. Josie armou uma pegadinha para a gente. Aposto que ela tem um sistema de projeção com um temporizador, e tudo que precisou fazer foi ativá-lo. – Então eu gostaria que a gente tivesse ficado lá. A gente poderia descobrir exatamente de onde vinha a luz cintilante. Agora nunca teremos certeza.
– Tenho certeza. Foi Josie. Em algum momento vou fazê-la confessar. Pensando bem, estou surpreso por ela ter tentado algo assim. – Por quê? Ele não respondeu de pronto, o que estimulou ainda mais a curiosidade de Morgan. – Existe alguma regra implícita de que ninguém prega peças em um membro da família Chance? – Dificilmente. Meu pai estava sempre brincando com as pessoas, e elas sempre retribuíam. – Gabe apontou em direção à loja de rações. – Está vendo aquele cavalo de plástico no telhado da varanda, ao lado da placa da loja de rações? Morgan olhou para a estátua em tamanho natural. – Lembro-me dela da época em que morei aqui, só que sempre achei que fosse branca. – Sim, foi branca durante anos. E também é um garanhão anatomicamente correto. – Hum. Nunca percebi. – Você teria notado depois que meu pai veio até aqui sorrateiramente numa noite escura e pintou os testículos do cavalo de azul. Morgan gargalhou. – Quando ele era um adolescente danado, aposto. – Hum, não. Tinha 57 anos nas costas, mas alma de 17. Ele e Ronald, o dono da loja de ração, eram amigos desde a escola e nunca se cansavam de pregar peças um no outro. Na semana anterior, meu pai tinha flagrado um de seus búfalos com um laço vermelho na cabeça e amarrado ao poste ao lado do celeiro. – Um presente de Ronald. – Isso. Então a pintura dos testículos do cavalo foi uma vingança. Papai levou Jack com ele para ter alguém para segurar a escada e servir de vigia. – Jack, hein? – Morgan teve dificuldade de imaginar aquele cowboy pregando peças. – Ah, sim. Jack era o braço direito de papai no que dizia respeito a isso. Mas eles não se davam bem em todas as frentes, especialmente quando se tratava de Josie. Meu pai não gostava quando Jack ficava com ela. – Jack e Josie? – Aquilo surpreendeu Morgan. Josie gostava de rir e de se divertir, mas Jack não parecia conhecer o significado de tais palavras. – Eles ainda estão juntos? – Não desde que meu pai morreu. – Gabe olhou para o bar como se estivesse relutante em passar em frente a ele outra vez. Morgan finalmente teve pena dele. – Dá para cortar caminho por este beco para chegar à minha casa. – Isso realmente não importa. – Vamos fazer isso. Na verdade, é mais perto assim. – Aquilo foi uma mentirinha, mas Morgan achou a relutância de Gabe cativante. O cowboy grande e malvado tinha medo de fantasmas. – Então tudo bem. Se é mais perto assim… – Ele a guiou pelo beco. Morgan tomou a estradinha de terra que havia entre as construções. – O que aconteceu com Jack e Josie? Gabe suspirou. – Provavelmente já estava fadado a dar errado desde o início. Josie adora ser dona de bar. De jeito nenhum que ela abriria mão disso para se tornar uma esposa típica num rancho. Mas Jack começou a
faltar no trabalho do rancho para estar com ela. Ela sempre folgava no período da manhã, o pior horário para se ausentar quando se é um rancheiro. – Faz sentido. – Bem, resumindo, Jack estava na cama com Josie quando papai ligou e exigiu que ele voltasse para casa para ajudá-lo a buscar um cavalo que ele havia comprado. Jack se recusou, alegando que o tempo estava ruim, e estava mesmo. Só que papai era muito teimoso, resolveu ir sozinho e… morreu quando o carro capotou. Morgan gemeu. – E agora Jack se culpa. – Sim. – Isso explica muita coisa. – Explicar é fácil. Lidar com ele no dia a dia é que é um pé no saco. Ele não tinha nenhum motivo para ser rude com você, e pretendo deixá-lo ciente disso quando eu chegar em casa. Morgan odiava essa ideia. – Não faça isso, Gabe. Não quero ser a causa de mais atrito entre vocês dois. – Desculpe, mas eu não funciono assim. Eu a convidei para participar do desfile, e o mínimo que poderia esperar da minha família era um pouco de gentileza para com você. – Mas eu sou corretora de imóveis. – Jack precisa respeitar qualquer mulher que aparecer comigo, mesmo que ela seja uma feiticeira das profundezas do inferno. Aquela visão fez Morgan rir, e com isso ela parou de ver para onde estava indo e tropeçou. Gabe reagiu rapidamente, agarrando-a pela cintura para evitar que caísse. – Calma aí, mocinha. Tão naturalmente como um girassol em busca do sol, ela se virou nos braços dele e se aconchegou. – Uma feiticeira das profundezas do inferno, hein? Gabe agarrou o bumbum de Morgan e a apertou com força suficiente para fazê-la sentir o cume sólido de seu membro sob o jeans. – A parte da feiticeira pode não estar tão errada. Ao menor contato com você eu fico duro feito um cabo de machado. Ela passou os braços em volta do pescoço dele. – Você deve ser um feiticeiro então, porque ao menor contato com você eu fico úmida feito uma melancia madura. – Claro que você me faria lembrar da melancia. – Gabe inclinou a aba do chapéu para trás e deslizou os dedos pelos cabelo de Morgan até ajeitá-los para trás. – Agora vou ter que lhe dar um beijo. – Ah, que chato. – Eu sei. – Ele baixou a boca até ficar a um sopro de distância da dela. – Achei que a gente fosse dar uns amassos durante o trajeto até sua casa antes de fazer tudo de novo. – Estamos em um beco escuro à uma da madrugada – murmurou ela. – Não vejo problemas nisso. – Pensando bem, nem eu. – Os lábios de Gabe encontraram os dela. Não importava quantas vezes Gabe a havia beijado ao longo do dia: Morgan ainda ficava tonta ao contato dele. Ele lhe roubava o fôlego e qualquer coisa semelhante a um pensamento racional. O mundo se comprimia até nada mais importar, só o calor gerado pela boca macia e pela língua talentosa de Gabe.
Morgan já tinha sido beijada por homens em quantidade suficiente para saber que Gabe era acima da média com aquela habilidade em especial. Ou isso, ou ambos eram perfeitamente compatíveis. Talvez fosse uma combinação dos dois fatores. Fosse qual fosse a explicação, ela não conseguia limitar a ação a um simples beijo. Quando Gabe lhe saqueou a boca, ela logo enfiou as mãos nos bolsos de trás da calça jeans dele. O belo bumbum flexionou ao contato. Com as mãos firmes nos bolsos de Gabe, Morgan posicionou a pélvis contra a dele e sorveu seu gemido de luxúria. Ele reagiu enfiando a mão debaixo da blusa dela e desabotoando-lhe o sutiã. No momento em que ele começou a acariciar os seios dela, Morgan transformou-se numa massa de hormônios furiosos. Ele levantou a cabeça. – Isso é loucura. – Então me enlouqueça um pouco mais, cowboy. – Acho que vou enlouquecer, sim. – Ele se reposicionou para mais um beijo e começou a desafivelar o próprio cinto, ao mesmo tempo que incitava Morgan a apoiar-se na parede mais próxima. Ela não estava com vontade de protestar. E, no momento que sentiu o tijolo frio em suas costas, Gabe já estava com a mão dentro de sua calcinha, fazendo mágica com aqueles dedos tão talentosos quanto o restante de seu corpo. Abandonando os lábios de Morgan, ele foi beijando até a orelha e mordiscou o lóbulo, puxando suavemente a argolinha de ouro ali, ao mesmo tempo que mergulhava os dedos bem fundo e encontrava o ponto G. – Isto é louco o suficiente para você? Ela engoliu em seco. – Quase. Morgan se refestelou na pressão áspera dos tijolos em suas costas, na natureza proibida do sexo em um lugar praticamente público. Talvez ela devesse estar preocupada com sua reputação, mas era impossível se preocupar com outra coisa quando o polegar de Gabe estava estimulando seu clitóris. Então ele dobrou os dedos e começou a acariciá-la num ritmo constante que derreteu qualquer inibição remanescente. Ela gemeu de prazer. – Shhh. – É… sua… culpa. Ele riu baixinho. – Vai reclamar? – Só se você… parar. Ah, Gabe, assim. – Ela começou a ofegar. – Eu vou gozar. Eu… Ele a beijou no momento crítico, abafando seu gemido quando a mandou aos tropeços à iminência de mais um orgasmo violento. Daí deslizou os dedos lentamente para a frente e para trás, até a última contração gloriosa. Então, demorou-se um tempo ninando Morgan de volta à sanidade. Pouco depois, Gabe recuou com tranquilidade, e, quando desgrudou a boca da de Morgan, contornou-lhe os lábios com um dedo úmido. Daí refez o mesmo trajeto com a língua. – Quase tão bom quanto estar lá – murmurou ele. – Mas não totalmente. Quando tivermos uma cama… O corpo dela cantarolava de ansiedade enquanto imaginava os prazeres que a aguardavam uma vez que ele conseguisse cumprir sua promessa silenciosa.
– Estou tão ávido por você. – Mais uma vez ele umedeceu os lábios dela com os dedos. – Tão ávido. – E aí a beijou, usando a língua para externar como satisfaria sua fome. Morgan se perguntava quanto sexo uma pessoa era capaz de suportar em uma única noite. Ela estava mais do que disposta a descobrir. GABE TEMIA ter deixado suas boas maneiras à porta da bela casinha de Morgan. Ele não prestara atenção à sala de estar, à sala de jantar ou à cozinha. E não seria capaz de descrever a ninguém as padronagens ou o tipo de mobiliário do lugar. Sua atenção estava totalmente concentrada no quarto, e ele tampouco estava particularmente interessado nos esquemas de cores e no mobiliário dali. A cama queen-size de Morgan poderia ser um colchão no chão, e tudo bem para ele. Seu objetivo era vê-la nua e na horizontal. Felizmente Morgan parecia ter o mesmo objetivo. Ela não lhe ofereceu café ou cerveja, não tentou lhe mostrar o lugar, nem sequer acendeu as luzes, com exceção do interruptor que ativava os dois abajures nas mesinhas de cabeceira. Daquele jeito estava ótimo para Gabe. Como se num acordo mútuo, ambos tiraram suas botas e cintos antes de cair juntos na cama, sem nem se dar ao trabalho de remover o edredom. Gabe tirou a blusa e o sutiã de Morgan antes que pudesse recobrar o juízo. – É melhor você me dizer onde está aquele pacote de camisinhas – falou ele, entre beijos. – Deixe-me pegar. Ele odiava cortar o contato que estava em curso, mas, obviamente, os preservativos não estavam convenientemente guardados em uma as gavetas de cabeceira, ou Morgan teria mencionado. Desvencilhando-se dos braços dele, ela desceu da cama e ajeitou o cabelo para trás com os dedos. E, Deus do céu, ela era a fantasia transformada em realidade – uma mulher de seios fartos vestindo nada além de um jeans apertado. Talvez fosse bom que ela se levantasse para buscar os preservativos. Gabe tivera várias oportunidades de tocar aqueles seios magníficos, mas até então não tinha conferido os montes desnudos sob a claridade. Um homem, principalmente um homem fã de seios, devia ter o direito de aproveitar um instante para estimar o que lhe estava sendo oferecido. Agindo de acordo, ele sorveu a visão dos belos gêmeos nus. A pele macia, umedecida pela boca e língua dele, parecia brilhar à luz dos abajures. O peso daqueles dotes dados pela Mãe Natureza os fazia balançar de maneira convidativa enquanto Morgan caminhava, e os mamilos cor de vinho lhe acenavam docemente. Gabe ficou com a boca cheia d’água e seu membro latejou. Quando Morgan se virou para sair, ele gemeu baixinho, inundado pela luxúria quase incontrolável. Ela se voltou para ele. – Algum problema? – Deus, não. É só que eu nunca vi você sem sutiã num ambiente claro e isso me deixou sem fôlego. Ela sorriu. – E eu nunca vi você sem calça num ambiente claro, então faça bom uso do seu tempo enquanto eu estiver fora? Ele não precisou ser alertado duas vezes. – Pode apostar.
Enquanto Morgan remexia no armário do banheiro, Gabe removia o restante de suas roupas e tirava o edredom e a coberta da cama, esticando o lençol que cobria o colchão. Mas ele tinha a sensação de que o tecido não ia permanecer lisinho por muito tempo. Gabe esperava que Morgan retornasse para o quarto rebolando, com um brilho nos olhos e um sorriso naqueles lábios rosados. Em vez disso, ela voltou ostentando o prometido pacote de camisinhas e um olhar preocupado. – Precisamos programar o despertador. – Hein? Ela fez uma pausa e seu olhar varreu o corpo de Gabe, demorando-se com óbvio interesse no membro rígido feito tábua. O brilho pelo qual ele estivera aguardando finalmente apareceu naqueles olhos. – Ah, sim. Definitivamente precisamos programar o despertador. – Espero que você não determine meu tempo para ficar. – Não, mas você precisa estar de pé antes do amanhecer. – Caso você não tenha notado, eu estou “de pé” agora. – Acredite, eu notei. – Ela passou a língua nos lábios. – E eu quero isso daí. Ela sentiu o ar abandonar seus pulmões num sopro e a voz de Gabe soou como uma dobradiça enferrujada: – Você pode ter o que quiser. – Ótimo. – Ela colocou os preservativos na mesa de cabeceira e virou o rádio-relógio para que pudesse vê-lo. – Mas, primeiro, vou acertar o despertador. – Morgan, não precisa, a menos que… Ou você tem algum compromisso de manhã cedo? – Ele devia ter imaginado que um feriado prolongado poderia não ser exatamente um período de folga para uma corretora de imóveis. – Não tenho compromisso. Tirei folga durante o feriado. – Então não vai fazer diferença a gente… – Ah, vai, sim. – Ela apertou alguns botões. – Muito bem, quatro e meia. Prontinho. – Quatro e meia? – Rolando para o lado, Gabe apoiou-se no cotovelo e estendeu a mão para o relógio. – Vamos desligar isto. – Não, não vamos. – Morgan tirou o despertador do alcance de Gabe. – Olha, eu não estou planejando entrar em casa sorrateiramente e fingir que passei a noite inteira na minha cama, se é isso que você está pensando. Eu sou adulto e tenho o direito a passar a noite com uma mulher, caso eu queira. – Não é isso. Eu não quero que a história se repita, que você não esteja no rancho a tempo de cumprir suas obrigações. – Minhas obrigações? Eu tenho 28 anos, não 6! – Obrigações, como alimentar as galinhas, recolher os ovos, ordenhar as vacas… O que quer que Jack não estivesse lá para fazer porque estava ocupado demais na cama com Josie. Rindo, Gabe puxou Morgan para o colchão. – Eu sou um cowboy, não um ajudante de fazenda. Eu faço coisas viris como montaria. Eu não colho ovos e ordenho vacas. – Então, quem dá comida às galinhas?
– Ninguém. – Ele montou nos quadris de Morgan e estendeu a mão abrir o botão da calça dela. – Nós não temos galinhas. – Eu tinha certeza de que você… – Nós também não temos vacas leiteiras. – Ele abriu o zíper da calça jeans dela. –Levante o quadril. Isto aqui vai sair. Ela ergueu os quadris do colchão. – Que tipo de rancho é esse que não tem vacas e galinhas? – Ficarei feliz em explicar depois. – Arrancando a calça e a calcinha dela e jogando-as no chão ao lado da cama, Gabe fitou Morgan nos olhos. – Quando eu não estiver tão ocupado. – Em seguida, ele permitiu que seu olhar percorresse uma trajetória descendente desde os seios exuberantes até a zona da felicidade entre as coxas acetinadas. – Ah. – O corpo de Morgan tremia conforme o ritmo de sua respiração aumentava. Gabe concentrou-se novamente nos olhos dela, cujas pupilas estavam dilatadas de expectativa. – Pretendo cumprir a promessa que lhe fiz no beco. Ela engoliu em seco. – Está bem. Com as mãos apoiadas de cada lado dos ombros dela e um joelho de cada lado dos quadris, Gabe se inclinou e a beijou, provocando-a com a língua, de modo que ela não teve dúvidas sobre as intenções dele. Levantando a cabeça, ele notou que os lábios dela permaneceram entreabertos em sinal de rendição completa. – Podemos falar de vacas e galinhas quando eu terminar – murmurou ele, sorrindo. Morgan abriu os olhos lentamente, revelando aos poucos as profundezas da paixão refletida ali. Sua reação foi um ronronar suave: – Ou não. – Ou não. – Com o coração acelerado de empolgação, ele começou sua jornada. A boca nunca havia experimentado viagem tão luxuosa. Gabe se demorou sobre a pele macia e perfumada dos seios e sobre a textura rija de cada mamilo antes de seguir descendo, contornando cada costela. A pele de Morgan tinha um sabor de leite e mel misturado ao gosto travoso e salgado do sexo violento que eles haviam feito antes. Ela estremeceu quando Gabe mergulhou a língua em seu umbigo, como se soubesse que ele estava oferecendo mais uma prévia do que estava por vir. No momento em que Gabe se estabeleceu entre suas coxas, ele estava pronto para explodir em função do próprio desejo. Amá-la daquela maneira seria como dar água do mar a um homem sedento. Quanto mais sorvia, maior era a cobiça. Mas ele desejava o néctar dela, e o teria, mesmo que a pressão que sentia aumentasse até o ponto da dor. Separando os cachos sedosos, Gabe encontrou seu tesouro rosado, já encharcado e trêmulo. O primeiro golpe da língua estimulou um gemido urgente. – Diga – sussurrou ele, a respiração refrescando a entrada úmida para todos os segredos de Morgan. A relação dela foi mais um apelo do que um comando. – Possua-me. E então ele o fez, concedendo-lhe os beijos mais íntimos e profundos. E, enquanto ele se banqueteava, seu corpo ia ficando cada vez mais desejoso, cada vez mais exigente, mas mesmo assim ele continuou. Quando Morgan começou a se debater debaixo dele, Gabe capturou seus quadris e a conteve rapidamente para que ele pudesse concluir o que havia começado.
Os gemidos de Morgan, abafados no início, foram ficando mais altos, até que ela arqueou e berrou o nome de Gabe. O nome dele. Um sentimento feroz de triunfo o dominou, e, quando os tremores dela diminuíram, ele virou a cabeça e mordeu a pele macia da coxa, não o suficiente para machucar, mas definitivamente o suficiente para deixar sua marca. Ela suspirou baixinho, porém não protestou. Gabe estava vagamente ciente de que sua atitude fora completamente fora do comum, algo que nunca havia cogitado com qualquer outra mulher. Mas ele não tinha como retirar o que estava feito. Uma espécie de instinto o impelira a marcá-la. Respirando pesadamente, dolorido devido ao esforço para atrasar a própria gratificação, ele mudou de posição para alcançar os preservativos. Daí deu uma espiadela para o lado e flagrou Morgan observando-o. – Desculpe. – Ele engoliu em seco. – Eu não tive a intenção de… – Mas ele não conseguiu terminar a mentira. – Isso não é verdade. Eu tive a intenção, sim. – Eu sei. Ele se atrapalhou com o pacote. – E agora estou tão louco de desejo por você que perdi minha coordenação. Rolando para o lado, Morgan apoiou-se em um dos braços. – Basta deitar-se, Gabe. Eu cuido disso. Ele congelou. O sorriso dela foi pura sedução, e aquele brilho promissor estava de volta aos olhos. – Tudo bem. – Ele entregou a embalagem a ela e afundou no colchão. Em vez de pegar um preservativo, Morgan inclinou-se para o outro lado da cama e colocou o pacotinho na outra cabeceira. Quando ela se voltou para ele, o olhar estava focado no pênis em brasa. – Conforme eu já disse, eu quero isto daí.
Capítulo 7
MORGAN CONSIDERAVA justo dedicar o mesmo tempo para virar Gabe do avesso, tal qual ele havia feito com ela. E, além de tudo, ele tinha lhe dado uma mordidinha. Considerando sua determinação em permanecer solteira até estar firmemente enraizada com uma casa e um negócio próspero, Morgan não deveria gostar da atitude dele. Mas por algum motivo que não queria analisar agora, ela havia adorado o gesto. E o encontro que era para ser um simples caso de luxúria mútua talvez não fosse tão simples, afinal. No entanto, os minutos seguintes poderiam ser muito simples. Ela ofereceria a Gabe o melhor sexo oral da vida dele. A julgar pela forma como o peito de Gabe arfava e seu corpo tremia, ele poderia lidar com isso de bom grado. Entretanto, Morgan não planejava fazer o processo rapidamente, independentemente do quanto ele já estivesse dolorido. Embora o orgasmo que ele havia proporcionado a ela tivesse lhe minado as forças, a adrenalina por saber que ela estava prestes a assumir o comando de seu clímax acabara por bombear a energia de volta ao seu organismo. Antes de assumir sua posição, montado nas coxas de Gabe, Morgan lhe entregou um travesseiro. – Coloque atrás da cabeça. Ele ergueu as sobrancelhas. – É mais divertido se você observar. – Querida, vai ser um espetáculo curto. Morgan examinou o corpo dele, escorregadio de suor. Ela planejava fazê-lo suar mais um pouco. – Talvez não. – Garanto. – Ele ficou mais ofegante. – Na verdade, se você não começar logo… – Certo. – Apoiando-se nas coxas dele, ela estudou seu objeto de afeto. Era tão bem moldado que Gabe provavelmente poderia vender um molde de gesso de seu pênis para uma empresa de apetrechos sexuais. Ela mal podia esperar para colocar as mãos nele, mas precisava ter cuidado. Por isso sua primeira ação foi apertar a base do membro grosso com o polegar e o indicador. – Deus, Morgan, eu vou… Ela apertou um pouco mais. Ele soltou um suspiro. – Tudo bem, talvez ainda não. Mas em breve.
– Veremos. Você não quer se divertir um pouco primeiro? – Adoraria. – Ele sugou o ar. – Provavelmente não vou conseguir. Ela manteve uma pressão firme, ainda usando os dois dedos. – Descreva uma de suas provas de apartação para mim. – Você está brincando. – Não, não estou. Distraia-se um pouco. Aí você vai poder desfrutar disso ainda mais. – Eu nunca conheci uma mulher assim como você, O’Connelli. – Isso é um elogio? O sorriso dele pareceu um pouco tenso. – Você acha que eu ia insultá-la enquanto você está segurando meu equipamento? – Imagino que não. – Foi um elogio. Eu gosto de você. Muito. – Eu também gosto de você, Gabe. Agora me conte como é uma prova de apartação. – Isso é loucura. Basta pegar a camisinha e a gente… – Não. – Ela apertou novamente. – Fale comigo, cowboy. Os olhos de Gabe ficaram muito azuis ao sustentar o olhar de Morgan. – Você tem dois minutos e meio. – Ah, eu acho que posso me estender por mais do que isso. – Não, durante a competição. É esse o tempo que você tem. Ela sorriu. – Então você resolveu aderir à brincadeira. – Sim, que inferno. Pode ser que isso funcione. – Então você tem dois minutos e meio…? – Isso. Nesse tempo você e seu cavalo devem apartar pelo menos uma vaca do rebanho. Aos poucos, Morgan foi relaxando o aperto. – Parece simples. – Não é. – O olhar dele continuou a sustentar o dela. – Imagino que nada nunca seja simples. – Só parece simples. – Conte-me mais. – Ela correu a ponta da unha ao longo da pele logo abaixo da glande. – Eu não controlo nada. É tudo por conta do cavalo. – Achei que os homens gostassem de controlar o que eles têm entre as pernas. – Ela o agarrou suavemente e acariciou para cima e para baixo, para cima e para baixo. – E gostamos. – As pupilas de Gabe se dilataram. – Mas na competição… não podemos. – O cavalo controla. – Isso. – Ele engoliu em seco. – Ele fica paralelo à vaca, virando quando ela vira, manobrando. – Parece ser uma questão de segundos. – Morgan se inclinou para baixo e deixou seus seios cutucarem o membro. – É… é um trabalho de precisão. – Ele gemeu. – Você está me matando. – Mas você está se segurando. – Languidamente, ela se movimentou para a direita, depois para a esquerda, sua maciez roçando a rigidez dele. – Muito mal, querida. Mal. – Conte-me mais.
– Ah… O gado pode ser complicado… – Sério? – Ela roçou os cílios no membro dele. – Difícil de separar. Costumamos dizer que eles são… viscosos. – Hum. – Cerrando os dedos ao redor do membro, Morgan acariciou em direção ao cume. Uma gota de umidade se juntou na ponta da glande. – Às vezes, viscoso é bom. – Ela lambeu a gotinha. Gabe inspirou. – Eu não vou conseguir… aguentar… por muito mais tempo. – Continue falando. – Levando-o à boca, Morgan aplicou pressão enquanto rodopiava a língua sobre a pele lisa. – Uma parada brusca é… Ah, Morgan, isso é… gostoso… Lentamente, ela o soltou. – O que é uma parada brusca? – Gabe arqueou as costas contra o travesseiro e fechou os olhos. Suas palavras vieram num fluxo: – Abandonar uma vaca no meio da ação. – Eu não gostaria disso. – Ela tomou o membro na boca outra vez e roçou os dentes delicadamente na pele. Ele gemeu outra vez. – Claro… não mesmo. Erguendo a cabeça, Morgan soprou a ponta sensível. – Nada mais a acrescentar? – Ela abarcou os testículos e massageou com cautela. – Quando uma vaca é… apartada, o cavalo se compromete a trabalhar naquela vaca. – Ele enrijeceu a mandíbula. – E eu espero que você esteja comprometida a trabalhar em mim… – Ah, estou, cowboy. Chega de provocação. Está na hora. – Com um propósito firme, ela o levou à boca e começou a sugar. Ele era grande, mas Morgan conseguira acomodar boa parte dentro da boca. Pelo jeito como Gabe estava gemendo e ofegando, ela imaginou estar fazendo um trabalho decente. E, quando ele finalmente chegou ao clímax, seu grito de libertação foi acompanhado por duas sílabas murmuradas proferidas em voz tão baixa que Morgan quase não as captou. Mas ela conseguiu ouvir. Ele dissera o nome dela. E essa foi a deixa para ela deslizar para baixo entre as pernas trêmulas dele e lhe dar uma mordida afiada, assim Gabe sempre se lembraria dela. GABE NÃO tivera a intenção de cair no sono, mas o clímax que Morgan lhe proporcionara o deixara extenuado. Ele mal sentira a pressão quando ela mordera sua coxa, no entanto aquilo o fizera sorrir. Ela era uma mulher ousada, e ele gostava disso. Gostava até demais. No entanto, ele ficara muito exausto para debater qualquer coisa antes de apagar. Morgan deve ter dormido imediatamente também, porque as luzes de cabeceira ainda estavam acesas quando o despertador tocou, às quatro e meia da manhã. No segundo em que o alarme ressoou, Gabe lembrou-se de sua intenção frustrada de desligar aquela coisa antes de ir dormir. Como acabara se esquecendo, agora estava sendo arrancado de um sonho fabuloso no qual ele e Morgan caminhavam nus por uma praia tropical. Ele nunca tinha estado nu em uma praia, mas conseguia se imaginar fazendo isso com Morgan. Gabe queria o sonho de volta, então ele golpeou o alarme numa tentativa de desligá-lo.
– Não faça isso. – Ela estendeu a mão e agarrou o braço dele. – Eu preciso levá-lo de volta para o rancho. Gabe rolou para encará-la. Morgan estava corada e despenteada de sono – não exatamente o tipo de pessoa que um sujeito gostaria de abandonar, sendo que ela estava nua igual no sonho e ainda havia uma embalagem intocada de preservativos à vista na mesa de cabeceira. – Vamos. – Ela deu um beijo breve perto da boca de Gabe e saiu da cama. – Levante-se e vista-se. Vou levá-lo para casa. – Mas eu não quero ir embora. – Gabe soou meio chorão. Pigarreando, ele engrossou a voz. – Volte para a cama. Vou fazer valer a pena. Ela começou a se movimentar pelo quarto, recolhendo as roupas. – Tenho certeza de que você seria capaz, e não pense que não estou tentada, mas não vamos fazer isso. Jack poderia lhe dizer que não vale a pena causar um problema na família. – Que droga de manhã. – Gabe sentou-se na beirada da cama, mas não tinha qualquer interesse em vestir as roupas que Morgan atirara em sua direção. – No caso de Jack, era uma coisa recorrente, e ele recusou um pedido direto do nosso pai. Ninguém me ligou para pedir para fazer qualquer coisa. – Não importa. Jack e sua mãe devem estar supersensíveis em relação a esse assunto. Eu já sou vista como uma ameaça por ambos e me recuso a piorar as coisas. – Você vai mesmo me chutar para fora, não é? Morgan fechou o sutiã e cobriu os seios que Gabe tanto desejava acariciar pelo menos mais uma vez. – Sim, vou. Nós nos divertimos muito e eu não quero estragar tudo incitando um clima ruim porque você ficou aqui por muito tempo. Relutante, Gabe começou a se vestir. – Então pelo menos prometa que vai jantar comigo hoje à noite. – Claro. – Ela sorriu, obviamente feliz com o convite. – Mas vai ser por minha conta para retribuir o fato de você ter me deixado montar seu cavalo. Ele olhou para ela e começou a rir. – Quero dizer… Ah, você sabe o que quero dizer. – Você pode cavalgar meu cavalo sempre que quiser. – Ele riu. – Mas não precisa pagar meu jantar. – Mas eu disse que pagaria. – Mas você também disse que teria uma dívida eterna comigo. – Ele meneou as sobrancelhas. – Eu não vou deixar você se safar com algo simples como um jantar. Além disso, eu a convidei, então eu pago. – Veremos. – Não, eu preciso pagar porque esse convite para jantar vem com alguns vínculos. – É mesmo? Agora? Ele assentiu. – Vínculos definitivos. Eu sei que não é legal um sujeito convidar uma mulher para jantar com uma motivação oculta, então vou ser sincero. Não existe nenhuma motivação implícita. Estou convidando-a para jantar porque quero fazer sexo depois. Se você tiver algum problema com isso, então… – Problema? – Morgan sorriu. – Eu ficaria chateada se você não quisesse mais fazer sexo comigo. Eu ia ficar achando que você não se divertiu tanto quanto pareceu. Gabe vestiu a camisa e o jeans e fechou o botão. – Eu gostei mais do que pareceu.
– Ótimo. Mas… Ele fez uma pausa antes de enfiar o cinto nos passadores. – O quê? – Eu não estou buscando um namorado. Aquilo era exatamente o que Gabe queria ouvir. Então por que ele não ficou eufórico com a declaração? Talvez porque ainda estivesse tomado pelos hormônios. Sua resposta não veio tão facilmente quanto ele gostaria, mas Gabe sabia qual tinha de ser. Ele já tinha falado aquilo vezes suficientes a outras mulheres. – Eu também não estou buscando uma namorada. – Que alívio. Nós não estamos querendo compromisso. Estamos querendo só… – Morgan hesitou, aparentemente indisposta a concluir a frase. Gabe também não sabia muito bem como terminá-la. Havia um termo comum para definir o que eles eram, mas era um termo vulgar, e o que Gabe tinha com Morgan não era vulgar. – Acho que temos uma amizade colorida – disse ela. – Sim. Isso funciona. – Exatamente. Estamos nessa pela diversão. Se sua mãe ou Jack perguntarem, e eles podem muito bem perguntar, diga isso a eles. O bom humor de Gabe desapareceu. – Eu não planejo dizer porcaria nenhuma a eles. A expressão de Morgan ficou amavelmente séria. – Mas deveria, Gabe. Eles estão preocupados com a possibilidade de eu me aproveitar de você, e dessa forma você acabaria com os temores deles. – E isso meio que me incomoda. Eles parecem não ter fé na minha capacidade de julgamento. – Mais um motivo para eu levá-lo para casa agora cedo. Vamos lá. – Espere. – Ele agarrou o pulso dela e a puxou para seus braços. – Não é preciso dizer que não vamos ficar dando amassos no seu carro enquanto ele estiver estacionado na frente da casa do rancho. – Não, não vamos. – Ela passou os braços ao redor do pescoço dele. – Isso não seria uma boa ideia. Além disso, eu já estou velha demais para fazer sexo no carro. – Eu também. – Ele afastou o cabelo de Morgan do rosto. – Mas fico feliz por você não estar velha demais para fazer sexo num bar. – Devo dizer que foi minha primeira vez. – Que tal isso? Também foi minha primeira vez. – Ele abaixou a cabeça até as bocas quase se tocarem. – Então perdemos a virgindade de bar juntos. – Sim. – Havia divertimento na voz de Morgan. Quando Gabe a beijou, ele sentiu algo novo, uma emoção que não costumava associar a uma mulher com quem estava apenas fazendo sexo. Talvez houvesse uma razão para ele rejeitar o termo vulgar em favor de um termo mais limpo para definir a relação deles. Embora os dois tivessem uma química ardente e ele estimasse isso, ela oferecia algo que era ainda mais difícil de se encontrar. Aparentemente, ela queria ser sua amiga também. E, com Jack agindo feito um ditador ultimamente, Gabe poderia precisar mesmo de uma.
MORGAN NUNCA havia entrado no rancho Última Chance. Embora estivesse tentando manter uma postura casual, ela ficou impressionada com o lugar desde o momento em que saiu da estrada principal e passou pela entrada suntuosa. Sob a luz cinza-perolada da madrugada, dois pinheiros enormes conectados por um terceiro poste horizontal alcançavam o céu, criando uma silhueta assustadora. Havia uma placa de madeira pendurada no poste horizontal. A luz era fraca, mas Morgan sabia o que estava escrito ali, então ela não teve problemas para ler os dizeres Rancho Última Chance ladeados em cada extremidade pelo “U” entrelaçado ao “C” que havia se tornado a marca registrada do lugar. Ela passou por uma grade de gado de metal na estrada de terra. – E eis mais uma coisa – disse Gabe. – Esta estrada deveria ter sido pavimentada anos atrás, mas meu pai não quis. Isso provavelmente significa que nunca vai ser feito. Acho que Jack quer transformar este lugar num santuário em memória ao nosso velho. – Estradas são caras. – Morgan dirigia um utilitário verde-escuro que lhe servira bem para mostrar as propriedades em Jackson Hole. O veículo encarava os buracos na estrada de terra sem nenhum problema, contanto que ela mantivesse a velocidade baixa. Aquela era uma estrada longa. Ela apertou os botões para baixar os vidros elétricos. Seria bom aproveitar o ar fresco da manhã. A estrada passava por entre prados cobertos de sálvia e cercados ao estilo do Wyoming: dois troncos fincados no chão formando um “X” e o tronco da cerca propriamente dita passando na intersecção do “X”. Não dava para ver nenhuma luzinha ali. No ramo imobiliário, uma estrada dava ideia de reclusão e indicava que a casa ao final fazia valer a espera. – Você está certa. Estradas são caras – disse Gabe. – Caras de se construir e caras de se manter. Mas essa não era a objeção do meu pai. Ele nunca foi pão-duro. Ele só não queria bisbilhoteiros entrando aqui com muita facilidade. Segundo ele, uma estrada de terra desencoraja as pessoas a passarem de carro. – Então por que não colocar um portão trancado na estrada principal? – Isso era parte da lógica distorcida do meu pai. Ele achava que um portão faria parecer que tínhamos algo tão precioso que necessitava ser trancafiado, e estimularia as pessoas a ficarem se esgueirando em torno do portão trancado por pura curiosidade. Além disso, ele odiava a ideia de ter de parar e descer da caminhonete para abri-lo. A estrada de terra funcionava bem para ele. Morgan estava começando a se sentir como se tivesse conhecido Jonathan Chance, afinal. – Mas não funciona para você? – Por um lado, é um inferno puxar um reboque de cavalos carregado por aqui, mesmo com tempo bom. Você deve imaginar o tipo de pesadelo que é depois que começa a nevar. Quando chove forte, também não é muito divertido. Morgan teve um pensamento horrível. – Gabe, não me diga que o capotamento foi nesta… – Não, não foi aqui, graças a Deus. Foi a uns bons trinta quilômetros daqui, numa estrada pavimentada que estava escorregadia por causa da chuva. Eu estava fora da cidade, fazendo uma demonstração com um cavalo de apartação em um evento beneficente em Cody. – Ele fez uma pausa. – Não consegui participar de nenhum evento do tipo desde então. Morgan esticou o braço e apertou de leve o joelho dele. – Dizem que o primeiro ano é o mais difícil. – Não precisaria ser tão difícil se Jack pegasse um pouco mais leve.
– Talvez ele só precise de tempo. – Morgan tinha ficado furiosa com Jack no dia anterior, mas agora que o compreendia um pouco melhor sua raiva havia diminuído. – Ou de um chute no traseiro. E pode ser que eu seja a pessoa a lhe dar um. Agora que já passou os dos trinta, ele podia ficar um pouco mais mole. Morgan duvidava disso, mas sua mente estava em outras coisas, como o imenso celeiro pelo qual ela havia acabado de passar, as dependências para além dele e, finalmente, a imensa casa diante de si. Ela sempre imaginara casas de rancho como estruturas desconexas de um andar só. E aquela ali parecia mais uma estância de esqui de dois andares, ou talvez a fantasia criativa de uma criança com versões luxuosas de blocos de montar. Quando os pneus do carro rangeram na estradinha circular de cascalho, Morgan olhou para a direita, focando na seção central da casa, com sua porta gigantesca. Duas asas ramificavam para as laterais e formavam um ângulo que lhe fazia lembrar de braços abertos em saudação. Uma varanda decorada com cadeiras de balanço acompanhava todo o comprimento da casa, e flores desabrochavam nas jardineiras junto aos degraus da entrada. Embora a casa de madeira fosse imensa, o efeito era atenuado pela iluminação da paisagem estratégica e pela presença acolhedora das cadeiras de balanço. Ninguém jamais chamaria o lugar de aconchegante, mas sem dúvida era hospitaleiro. Morgan estava morrendo de vontade de ver o interior, mas isso não aconteceria naquela manhã, e talvez nunca. Ela se virou para Gabe. – É linda. – Eu sei. Ela representa 73 anos de esforço. Morgan sentiu um caroço de emoção preso na garganta. – Gabe, você sabe o quanto invejo esse tipo de herança? Debruçando-se sobre o console, ele tomou o rosto dela nas mãos. – Ela vem com um preço – disse ele suavemente. – Você inveja minha herança, mas eu invejo sua liberdade. – Ele a beijou com ternura e então a soltou. – Estarei à sua porta hoje, às seis da tarde. – Parece bom. – Parece mais do que bom. Estarei contando os minutos. – Ele estava descendo do carro, quando a porta da frente foi aberta. Sarah Chance, usando jeans e uma camisa de manga comprida, saiu na varanda. – Gabe? – Oi, mãe. – É melhor você ir para o celeiro. Jack está lá com Nick. Tem um problema com Doozie. – Já estou indo. – Gabe se virou para Morgan. – Doozie é a égua que eu trouxe para casa e ela tem sido um motivo de discórdia desde então. Escute, se isso virar um problemão, pode ser que eu me atrase hoje à noite, mas eu vou estar lá. – Não se preocupe em prometer nada. Faça o que for preciso para manter a paz. – Farei o que for preciso para preservar minha sanidade mental, o que significa passar a noite na sua cama. – Gabe, não tão alto. Sua mãe pode ouvir. – Quer saber? Eu meio que espero que ela ouça. Estou orgulhoso por conhecer você, Morgan O’Connelli. – Com isso, ele fechou a porta do carona e acenou antes de caminhar em direção ao celeiro.
Morgan estava tão absorta em vê-lo indo embora que ignorou totalmente a aproximação de Sarah do carro. Quando a mulher falou alguma coisa, já de pé ao lado da janela do motorista, Morgan sobressaltou-se. – Desculpe, eu não queria assustá-la. – Sarah pigarreou. – Mas achei melhor aproveitar a oportunidade enquanto você estava aqui. Morgan encontrou o olhar da mulher mais velha e, para sua surpresa, descobriu que Gabe havia puxado os olhos dela. A semelhança era desconcertante, considerando todo o tempo que Morgan tinha passado totalmente enredada na rede dos olhos azuis de Gabe. Durante o desfile, os óculos de sol de Sarah haviam escondido a semelhança. – É óbvio que Gabe passou a noite com você. – Sim, passou. – Morgan concluiu que não havia mal nenhum em contar uma mentirinha branca: – Mas ele quis certificar-se de que chegaria cedo para fazer… o que quer que fosse necessário nesta manhã. – Morgan não sabia muito bem quais eram as obrigações dele no rancho e esperava que sua imprecisão não o prejudicasse. – Bom saber, mas eu realmente não estou preocupada com isso. Já estamos acostumados com a ausência de Gabe. Ele não é tão ligado a este lugar como os outros dois. Eu já me preparei para o dia em que ele vai dizer que deseja morar em outro local. – Não consigo imaginar ninguém desejando morar em outro lugar. – Uma vez que as palavras saíram, Morgan percebeu que provavelmente não deveria tê-las dito, principalmente por causa do tom de cobiça que impostara na voz. Sarah ficou em silêncio por um instante. – Eu espero duas coisas para os meus filhos. Uma delas é que eles encontrem uma mulher que possam amar com todo o coração. A segunda é que a mulher escolhida por cada um deles seja capaz de retribuir esse amor na mesma medida. Morgan desejou informar que ela Gabe só queriam diversão, não amor. Mas dizer àquilo à mãe dele não seria tão fácil quanto ela imaginara. – A questão é… – continuou Sarah – eu odiaria que alguém se envolvesse com um dos meus filhos só porque se apaixonou por tudo isto aqui. – Ela gesticulou em direção à casa e ao celeiro. Talvez a honestidade fosse a melhor política. – Eu já estou apaixonada pelo que você tem aqui. Mas eu não sou uma oportunista, e, mesmo que fosse, Gabe é inteligente demais para se apaixonar por alguém que está apenas o usando. As sobrancelhas de Sarah se arquearam num gestual tão similar ao de Gabe que Morgan prendeu a respiração. – Deixe-me tranquilizá-la, sra. Chance. Sinto um pouco de ciúmes do fato de sua família viver aqui há três gerações, mas eu não estou apaixonada pelo seu filho e ele não está apaixonado por mim. Estamos nos divertindo juntos, mas não é nada sério. – Se você diz isso, então não compreende Gabe totalmente, e isso me preocupa. – Como disse? – Quando meu filho tem consideração suficiente por uma mulher a ponto de lhe emprestar seu cavalo, é sinal de que a coisa é muito séria.
Capítulo 8
GABE PASSOU a mão na barba de um dia enquanto se dirigia para o celeiro. Ele provavelmente parecia um vaqueiro azarado, quando, na verdade, nunca havia se sentido tão bem em toda a sua vida. Um bom sexo tinha a capacidade de causar isto a um homem. Mas ele precisava esquecer Morgan por enquanto e se concentrar em Doozie, a égua baia que havia salvado num leilão algumas semanas atrás. Seu proprietário, Brad Bennington, tinha desistido dela, convencido de que seus ferimentos, os quais a fizeram mancar, lhe custariam mais tempo e dinheiro do que ele gostaria de investir. Gabe sabia o que teria acontecido após o leilão. Um cavalo na condição de Doozie acabaria no matadouro, e ele não iria permitir que isso acontecesse. É verdade, a mancada tinha sido o mesmo motivo que precipitara a morte do grande cavalo de corrida Barbaro, mas Gabe não acreditava que Doozie morreria. Então ele a trouxera para casa, para o Última Chance, porque o rancho era exatamente dedicado a oferecer chances derradeiras. As luzes estavam acesas no celeiro quando ele se aproximou. Butch e Sundance, os dois cães que Nick tinha encontrado vagando na rodovia, estavam de sentinela em cada lado da porta do celeiro. Butch era um vira-lata com fortes traços de boxer, e Sundance parecia um border collie, embora houvesse grandes chances de também ser um vira-lata. Gabe fez uma breve pausa para lhes fazer um carinho. Se Nick era capaz de salvar cães, então Gabe imaginava que ele também poderia salvar um cavalo. Entretanto, Jack não se mostrara nada satisfeito quando Gabe trouxera Doozie. Além de estar ferida, ela não era da raça Paint, sendo assim Jack não ia aceitá-la para procriar. Gabe sabia de tudo isso, mas, quando ficara sabendo que a jovem égua estava destinada a virar comida de cachorro, ele não fora capaz de lhe dar as costas. Doozie tinha uma vida inteira pela frente, contanto que Nick conseguisse curá-la. E Nick era um veterinário excelente. Dentro do celeiro, Gabe aspirou a mistura doce de feno e cavalos. Enxergar o lugar sob a perspectiva de Morgan lhe dava uma nova estima pelo velho celeiro, o qual já estava na propriedade quando seu avô Archie trouxera sua noiva para o rancho. O celeiro tinha passado por várias reformas desde então, mas a maior parte da estrutura ainda era original.
Gabe se flagrou pensando no quanto Morgan iria desfrutar de uma caminhada nos arredores, ouvindo histórias de seus avós, cuja vida conjugal havia começado naquele celeiro. Ele queria compartilhar isso com ela, mas trazê-la ali só serviria para deixá-la desconfortável. Jack presumiria naturalmente que Morgan estaria se espreitando apenas para estudar um jeito de lucrar com sua união com um dos rapazes da família Chance. Quanto à sua mãe, ela sempre dissera que desejava que ele encontrasse uma mulher capaz de amá-lo além da razão, e essa mulher não era Morgan. Jack inclinou-se sobre a porta aberta da baia de Doozie, conversando com alguém, provavelmente Nick, que estava agachado mexendo no casco da égua. Doozie aguardava pacientemente, seu casaco brilhando à luz da lâmpada no teto. Gabe caminhou pelo corredor entre as baias, parando para acariciar os focinhos dos cavalos que colocavam suas cabeças para fora para ver quem estava ali. Calamity Jane, a égua Paint que tinha parido no mês anterior e o animal favorito de Gabe naquele celeiro, claramente aguardava por um petisco. Gabe teria de trazer algo para ela mais tarde. Jack olhou para cima. – Aí vem o garanhão com cara de quem acabou de sair da cama. Você se divertiu? – Isso não é da porcaria da sua conta. Seu irmão assentiu. – Vou encarar isso como um “sim”. Um sujeito falante normalmente está inventando coisas. Já o silêncio prova que ele conseguiu o que queria. Gabe cerrou a mandíbula. – Eu não acho que a gente devia falar sobre Morgan, não depois da maneira como você a tratou. Os olhos escuros de Jack eram ilegíveis. – Você provavelmente está certo sobre isso. – Ele puxou a aba do chapéu preto e fez um gesto em direção à baia. – Sua égua não está melhorando no tempo previsto, maninho. Isso significa que ela pode ou não se recuperar, e enquanto isso ela está custando uma grana ao rancho. – Desde quando você se interessa só pelo orçamento das coisas, Jack? – Desde que papai me colocou no comando de tudo. Tenho a intenção de fazer com que este lugar continue podendo se pagar, e não tem como fazer isso se o dinheiro começar a escoar sem um bom motivo. Gabe resolveu não gastar seu fôlego discutindo. Houve uma época em que Jack achava que salvar um cavalo já era motivo suficiente, mesmo que o cavalo nunca fosse render um centavo para o Última Chance. Seu coração costumava ter um fraco por animais doentes. O novo Jack havia se tornado amargo, e Gabe ainda estava tentando concluir o que fazer a respeito. Nesse meio-tempo, ele precisava ver sua égua, por isso entrou na baia. Nick estava no meio da montagem da tala especial que permitia a Doozie ficar de pé sem sentir tanta dor. – Estou fazendo o que posso. – Nick encontrou o olhar de Gabe. – Mas ela não está reagindo como eu esperava. – Sinto muito por ouvir isso. – Gabe segurou o cabresto da égua e acariciou a mancha branca perfeita que ia da crina ao focinho, como uma faixa numa estrada. – Ei, menina. Você tem que lutar, certo? Nick pode fazer muita coisa, mas parte desse processo envolve seu desejo de melhorar. Jack soltou um suspiro. – Jesus. Estamos acreditando em cura sobrenatural agora?
– Por que não? Se funcionar… – disse Nick, assim que terminou de ajeitar a tala da égua e se levantou. – Ela tem um ar de resignação, como se tivesse desistido. Odeio dizer isso, mas ela não parece feliz aqui. Jack ergueu as mãos. – Obviamente precisamos melhorar as acomodações dela, então! Vamos transformar o celeiro num spa equino. Ei, podemos colocar música e talvez contratar um terapeuta para analisar os sentimentos dela. Gabe olhou para ele. – Vá se danar, Jack. – Ah, cresça, Gabe. – Ei, é você quem está sendo imaturo e se doendo aqui. Jack revirou os olhos. – Eu, imaturo? Tudo bem, talvez a gente precise trazer vários terapeutas, um para o cavalo e um para cada um de nós, para que todos possamos entrar em contato com nossos sentimentos. Nick guardou seus equipamentos veterinários. – Talvez não seja uma má ideia. – Deus, não comece você também! – Jack olhou para ambos. – Olha, você deu uma chance a ela, Gabe. Você a trouxe para o melhor veterinário do Wyoming, provavelmente o melhor veterinário do oeste do país. Se ela não conseguir se recuperar aqui, é porque não é para ser. Todos nós devemos cortar despesas e… – Ela precisa de um bode. – Gabe deu um tapa mental na própria testa. – Por que não pensei nisso antes? Ela está acostumada a ter um na baia! Eu devia ter comprado o bode quando adquiri a égua, mas eu nem sequer pensei nisso. Deixe-me dar alguns telefonemas e ver se o bode ainda está disponível. Jack olhou para Gabe como se este tivesse perdido a cabeça. – Ei. Por acaso você não vai ter que pagar por esse bode? – É óbvio que vou. Vou ter que comprá-lo de Bennington. Presumindo que ele ainda esteja com o bicho, claro. – Se você negociar o bode tão bem quanto negociou a égua, já posso pedir falência de uma vez e nos poupar bastante tempo. – Droga, Jack, é só um bode! – E eu não vou aprovar a compra do tal bode! Nós já gastamos mais dinheiro do que eu gostaria de imaginar com este cavalo. Gabe tirou o chapéu e correu os dedos pela aba enquanto lutava para se controlar. – Então você não vai aprovar a aquisição do bode – disse ele, em voz baixa. Nick pegou suas coisas e se levantou. – Não importa. Eu vou comprar o bode. – Não, você não vai – disse Gabe. – Agradeço seu gesto para manter a paz, mas eu vou comprar o bode. Vou receber algumas restituições de inscrições de eventos que devem cobrir o valor. – Mas, mesmo quando disse aquilo, Gabe estava ciente de que era um dinheiro pertencente ao rancho. Nesse ponto, Jack tinha total controle sobre suas finanças. Quando o pai deles era vivo, cada filho tinha um salário por seu trabalho no rancho. Jack sempre ganhava mais porque lidava com mais responsabilidades, ou costumava lidar até se envolver com Josie, no verão anterior.
Gabe normalmente não estava em casa para ouvir as brigas entre seu pai e Jack, mas Nick costumava relatar que eram bem ruidosas e furiosas, com o pai ameaçando cortar o salário de Jack e Jack ameaçando abandonar o rancho. A questão continuara pendente e em fogo brando até a chegada do outono. Logo depois Jonathan Chance faleceu. Assim que Nick conseguiu a licença para clinicar, ele começou a obter uma renda além daquela recebida no rancho. Ele possuía alguns clientes na região, por isso, se o rancho acabasse no dia seguinte, ele ainda estaria bem financeiramente. Quanto a Gabe, ele nunca tinha pensado muito na questão do dinheiro. Tinha o suficiente para suas necessidades básicas e o Última Chance costumava pagar por suas participações nas provas e pela manutenção de seus cavalos. Ele doava todos os prêmios em dinheiro ao rancho. O sistema tinha funcionado bem assim. Até agora. Talvez Jack estivesse certo. Talvez Gabe precisasse amadurecer. Durante dez anos ele concentrara toda sua energia treinando cavalos de apartação e vencendo competições. Sem o apoio do Última Chance, ele não teria feito nada disso e, certamente, não poderia continuar a fazê-lo. Talvez precisasse dar um rumo na vida e decidir quem tinha as rédeas das suas decisões. Mas ele também percebia outra coisa. Na leitura do testamento de seu pai ficara claramente especificado que o rancho pertencia a todos eles, não apenas a Jack. Caso houvesse um litígio, todos deles, incluindo sua mãe, ficariam com uma parte da propriedade. Se alguém desejasse vender um pedaço, os outros três teriam de comprá-lo da quarta pessoa, e isso sem dúvida exigiria a tomada de um empréstimo ou a venda de alguma área plantada. Gabe imaginava que seu pai não desejaria que isso acontecesse, mas havia colocado tal cláusula no testamento por precaução, assim ninguém seria obrigado a permanecer ali. Gabe queria ficar, pelo menos por parte do tempo, mas Jack estava tornando essa opção cada vez menos palatável. – Ah, pelo amor de Deus. – Jack soltou um suspiro. – Compre a porcaria de bode. Mas é bom que isso dê certo. – Ou o quê, Jack? – Gabe saiu da baia e enfrentou seu irmão mais velho. – Vamos colocar todas as cartas na mesa. Eu trouxe Doozie aqui para oferecer um refúgio a ela. Você parece estar querendo cobrar um preço por isso. – Alguém precisa fazer isso! – Precisa mesmo? – Gabe sustentou o olhar de Jack. – O Última Chance está numa situação financeira tão ruim assim? – Não no momento, mas isso não significa que podemos nos dar ao luxo de jogar dinheiro fora. Além de nos garantir um teto e comida na mesa, este rancho fornece um pé de meia para um monte de cowboys, além de Mary Lou. Tenho a responsabilidade de manter a gente no azul para que tudo continue como sempre foi. – Belo discurso. – Gabe colocou o chapéu e puxou a aba para baixo. – Mas, se eu bem me lembro da história, Archie e Nelsie se dedicaram para que este lugar pudesse dar uma última chance de felicidade a pessoas e animais. Você não tem como calcular isso monetariamente. – Ele se preparou para sair, mas virou para trás quando pensou em mais uma coisa. – E em relação a Morgan… Nick resmungou: – Não acho que seja hora de discutir isso… – Não, pode deixá-lo falar. – Jack cruzou os braços. – O que tem a corretora de imóveis, Gabe?
– Eu resolvi convidá-la para vir aqui hoje. Se ela vier, vamos selar dois cavalos e sair para um passeio pelo rancho. Jack semicerrou os olhos. – Por quê? – Porque ela é minha amiga e adoraria ver o rancho. O bufar zombeteiro de Jack disse tudo. – Então colabore, Jack. Se você fizer qualquer coisa que a faça sentir-se desconfortável, vai se ver comigo. – Tente. – Não me dê um motivo. – Gabe quase desejou que Jack o provocasse para que houvesse logo uma briga. Anos atrás, Gabe não teria sido capaz de partir para cima do irmão, mas agora com certeza teria sangue-frio para fazê-lo, e ele estava se coçando para provar isso. ÀS TRÊS da tarde, contrariando todo seu bom senso, Morgan tomou a longa estrada de terra que levava à casa do rancho. Gabe havia lhe prometido um passeio pela casa antes de eles saírem para cavalgar. A ânsia para ver o interior da construção e as áreas plantadas nos arredores disputava com seu medo de trombar com Jack ou Sarah. Gabe tinha prometido que ela não ia seria tratada feito um pedaço de esterco grudado no solado da bota de alguém. Morgan não estava convencida, mas não conseguira resistir a dar uma espiadinha dentro da casa e depois passar o restante da tarde cavalgando com o cowboy Gabe. Conforme ela pudera conferir durante o desfile, ele ficava muito poderoso montado num cavalo. Gabe estava sentado em uma das cadeiras de balanço da varanda, quando Morgan encostou o carro; usava o chapéu inclinado para trás, estava com os pés calçados com botas esticados diante de si e ostentava um sorriso que fez o coração dela saltitar de alegria. Ela estava assustadoramente contente por vê-lo. Em uma escala de alegria de um a dez, Morgan diria que a dela estava em torno de cinquenta. Levantando-se, ele pegou um chapéu de palha na cadeira ao lado e desceu pelos degraus da varanda. Morgan apostava que ele havia trazido aquele chapéu para ela, para que não se queimasse ao sol durante o passeio. O gesto atencioso a deixou tocada. Quando saiu do carro, ela lutou contra o impulso de correr e se jogar nos braços de Gabe. Afinal, eles estavam bem em frente à casa, com suas muitas janelas. Se Morgan fosse a mãe de Gabe, ela certamente estaria diante de uma delas observando a chegada da intrusa. Conviver com a reprovação da mãe dele era uma experiência nova para Morgan. Ela fazia amigos com facilidade, e as mães dos sujeitos que ela havia namorado sempre gostaram dela. Morgan até mantinha contato com algumas delas ainda, mesmo depois de seus respectivos filhos terem se casado com outras mulheres. Mas, em tais casos, as mães ficavam muito satisfeitas por Morgan não demonstrar desejo de se casar de imediato. Elas queriam que seus filhos se formassem ou alcançassem determinados objetivos profissionais antes de se estabelecer afetivamente. Pelo visto, Sarah detinha uma postura oposta. Ela pensava que Gabe tinha sérias intenções com Morgan, o que significava que Morgan deveria levá-lo a sério também. No entanto, não era assim que Morgan entendia a situação. Gabe tinha deixado bem claro que não estava buscando compromisso. Talvez ele precisasse dizer o mesmo a sua mãe. Morgan sentia-se mal
interpretada, e isso não era nem um pouco agradável. Por causa da mãe de Gabe, ela se vestira de maneira conservadora, disfarçando seus dotes consideráveis com uma blusa de listinhas verticais, cuja bainha ficara para fora, e não enfiada no cós da calça. Gabe a encontrou antes mesmo que de ela dar a volta completa no carro e chegar ao para-choque traseiro. Colocando tanto seu chapéu quanto o dela em cima do capô do veículo, ele bloqueou o caminho de Morgan. – Eu só preciso de um beijo. – Gabe, a gente não devia… – Foi o máximo que ela conseguiu protestar, antes de ser envolvida por aqueles braços fortes e ter a boca coberta pela dele. Em vez de afastá-lo tal como havia planejado, Morgan enredou os dedos no algodão macio da camisa recém-lavada de Gabe. Obviamente ele havia tomado banho e feito a barba recentemente. Tinha um cheiro ótimo e o sabor era ainda melhor. Quando ela segurou a parte de trás da cabeça dele, sentiu seu cabelo ainda úmido. – Hum. – Ele a persuadiu a abrir os lábios e a penetrou com a língua de um jeito muito sexy. Quando Gabe finalmente a libertou, Morgan cambaleou um pouco, as pernas totalmente bambas. Ele a segurou pelos ombros. – Tudo bem? Ela fitou os olhos azuis risonhos e não conseguiu evitar sorrir de volta. – Você é um diabinho. Dirigi até aqui toda serena e composta, pronta para fazer um passeio tranquilo pela propriedade, e você… – Quem disse que seria tranquilo? – Gabe. Estou tentando causar uma boa impressão aqui. Ele a examinou. – E você está ótima. As listras turquesa desta blusa combinam com seus olhos. Ótima escolha. Pessoalmente, prefiro a blusa enfiada na calça, mas esta é só minha opinião. – E foi precisamente por isso que eu não enfiei a bainha na calça. Eu não estou aqui para agradar a você. – Isso nós veremos. – Ele deu um sorriso lento. – O que você quer dizer? – Não se preocupe. Aqui está seu chapéu. Vamos ver a casa. – Gabe também pegou seu chapéu e o colocou na cabeça. Morgan se enganchou no braço dele antes mesmo de ele contornar a traseira do utilitário. – Gabe Chance, o que você está fazendo? Ele ofereceu um olhar inocente. – Quem, eu? – Olhe, a gente não vai ficar dando amassos dentro da casa. Não faz diferença se ela é grande ou se as trancas das portas são robustas. Ainda é a casa da sua mãe, além disso, ainda estamos em pleno dia. – Tudo bem. Não vai rolar dentro da casa. Que tal no celeiro? A gente pode fazer lá? – Não! Se é isso que você tem em mente, eu vou embora agora. Sei que pelo menos dois dos membros da sua família estão preocupados com a minha presença e eu não vou piorar as coisas fazendo sexo com você bem debaixo do nariz deles. Gabe assentiu, parecendo um garotinho arrependido. Ele quase chutou a terra com o dedão do pé.
– Você está totalmente certa. Não sei o que eu estava pensando. Morgan não acreditou naquele tom de zombaria séria nem por um minuto. Aliás, ela não confiava nem em si mesma para se conter. Uma vez que Gabe se apoderasse dela, ela derreteria nas mãos dele. Era necessário definir as regras do jogo antes de eles prosseguirem com o passeio. – É o seguinte, Gabe. Eu quero que você prometa que não vai pensar em sedução. Ele olhou para ela, os lábios se contorcendo como se ele quisesse rir. – Morgan, sempre que pousar os olhos em você, eu vou pensar sedução. É assim que funciona. – Então eu vou voltar para a cidade e vamos esquecer esse passeio. – Ei. – Ele acariciou os braços dela. – Eu estava brincando com você. Eu não a envergonharia tentando transar na casa ou no celeiro. – Ótimo. Fico feliz em saber que você tem algum bom senso, afinal. O sorriso dele finalmente irrompeu. – Sim, seria estúpido transar na casa ou no celeiro. Mas no meio do mato… isso é outra história.
Capítulo 9
QUANDO FIZERA o convite, Gabe tinha intenções bem claras. Ele queria mostrar a propriedade e aguardar até a noite, após o jantar no Espíritos e Esporas, para se deleitar com Morgan O’Connelli. Mas, depois que ela concordou em ir até o rancho, ele cogitou fazer um longo passeio a cavalo e pensou no quanto seria agradável circular pelas regiões remotas do terreno. Possibilidades começaram a se formar em seu cérebro encharcado de hormônios. Ainda assim, Gabe não ia apressá-la durante o passeio pela casa e pelo celeiro. Ele nunca perguntara por que ela havia acabado no ramo de imóveis, mas não precisava ser um gênio para descobrir isso. A família de Morgan nunca tinha possuído uma casa, e ela, obviamente, ansiava por uma. Trabalhando com imóveis, ela poderia mergulhar na alegria de encontrar lares para os outros. Dentre o que quer que o Última Chance pudesse representar, certamente uma delas era um lar. Quando Gabe guiou Morgan pela porta da frente e ela deu um pequeno suspiro de prazer, ele fez uma pausa e deu uma nova olhada no lugar, tentando enxergar a sala de estar pela perspectiva dela. Depois de tantos anos, Gabe achava aquele ambiente confortável normal, mas Morgan não. Ela era capaz de se imaginar relaxada em uma das poltronas estofadas em frente à enorme lareira de pedra. Ou talvez imaginasse os dois na namoradeira, bebericando chocolate quente enquanto as chamas crepitavam. Gabe gostava da ideia. – Que sala espetacular. – Ela olhou para o lustre de roda de carroça com lâmpadas antigas a óleo, as quais tinham sido adaptadas para receber eletricidade. – Isso é muito legal. – Foi meu avô quem fez. – Gabe sentiu uma onda inesperada de orgulho e descobriu que estava ansioso para contar os detalhes. – Ele e seu cunhado, Seth, construíram esta seção central praticamente sozinhos, só com uma pequena ajuda da minha avó. – A lareira, também? – Sim. Meu avô era carpinteiro, com formação em alvenaria, mas aí chegou a Grande Depressão e ele ficou desempregado. Ele ganhou o rancho num jogo de cartas e resolveu se mudar para cá. Pelo menos assim teria um teto e comida vinda da horta. – Admiro esse tipo de determinação. – Ela colocou a mão no corrimão da escada em curva que levava ao segundo andar. – Que elegante.
– Eu sei. Estou convencido de que tanto Archie quanto Nelsie tinham talento artístico. Meu pai sabia desenhar, mas achava que não tinha tempo para isso. Ele tinha planejado começar a se dedicar aos desenhos depois da aposentadoria. Nick é igual a ele nesse sentido. Mas esse tipo de coisa não é para mim. – Você é criativo em outros aspectos. – O sorriso solto explicou exatamente a que ela se referia. Ah, Morgan não tinha ideia. Os alforjes já estavam preparados, com tudo de que eles precisariam para ser criativos na floresta. – O que tem lá dentro? – Ela gesticulou para uma porta no lado direito da sala. – O escritório do meu pai. Agora é o escritório de Jack, embora eu ainda pense nele como sendo do meu pai. – Seu pai sempre vai ser parte deste lugar, assim como seu avô, sua avó e sua mãe. Isso é incrível, Gabe. – Sim, acho que é. – Ele estava contente por tê-la trazido. Morgan estava lhe oferecendo uma nova perspectiva, lembrando-o do que estava em jogo. Ela começou a passear pela sala, admirando os enormes tapetes nativo-americanos na parede. Eram três, e cada um tinha pelo menos 3,0 por 2,0 metros, embora Gabe nunca os tivesse medido. – Parece tapeçaria Navajo autêntica – disse ela. – Direto da reserva no Arizona. Depois que Seth se mudou para Phoenix com sua esposa, Joyce, meus avós foram fazer uma visita e voltaram com muitos vasos de cactos e três grandes tapetes. Os cactos morreram, mas os tapetes estão pendurados aí desde então. – E agora eles valem uma fortuna – comentou Morgan. A mãe de Gabe chegou pelo corredor da ala da esquerda, onde ficavam a cozinha e a sala de jantar, juntamente aos aposentos particulares de Mary Lou. Como eram as duas únicas mulheres no rancho, Sarah e Mary Lou tinham desenvolvido uma amizade profunda. Normalmente, quando Gabe queria encontrar sua mãe, sua primeira parada era na cozinha. Se a mãe não estivesse lá, Mary Lou sempre saberia dizer onde encontrá-la. – Mas você já deve saber disso – acrescentou a mãe de Gabe, caminhando em direção a Morgan. – Bem-vinda à nossa casa. Gabe prendeu a respiração e esperou que tudo desse certo. Aquela declaração sobre os tapetes poderia ser tomada como um desafio, como se Sarah fosse achar que Morgan estava avaliando os tesouros da casa. Ou poderia ser nada mais do que um comentário casual. Gabe prometera a Morgan que ninguém iria perturbá-la enquanto ela estivesse ali, mas tinha sido uma promessa vazia, ele percebia agora. Um sujeito não era capaz de controlar o comportamento de sua família. Morgan sorriu agradavelmente. – Obrigada. E, na verdade, nem sei se esses tapetes são valiosos mesmo. Eu me mudei muito quando criança. Passamos alguns meses acampados perto de um posto de troca. Fiquei fascinada com os teares. Ainda sou. – Eu também. – A mãe de Gabe tocou a beiradinha de um tapete com estampa em creme, vermelho e preto. – Gosto de achar que eu conseguiria aprender a fazer isto, mas não sei se teria paciência. Gabe relaxou um pouco. Sua mãe puxando conversa. Bom sinal. Talvez ela tivesse percebido que sua primeira reação a Morgan havia sido intempestiva.
– Só sei que eu não conseguiria tecer um. – Morgan passou um dedo sobre uma parte intrincada do desenho. – Basta olhar para isto. Conseguir tecer e alcançar este padrão exigiria um dom matemático, além de paciência infinita. – Ela olhou para a mãe de Gabe. – O talento dessas mulheres era espantoso. Deixa minhas almofadinhas em ponto-cruz no chinelo. Sarah encontrou o olhar de Morgan. – Você faz ponto-cruz? – Quando tenho tempo, coisa que não tem ocorrido ultimamente. É um passatempo relaxante. – Eu a entendo bem. Também preciso voltar a ele. Gabe conhecia sua mãe o suficiente para perceber que ela estava ficando mais calorosa com Morgan. Ele relaxou um pouco mais. – A propósito – continuou Sarah. – Você já viu os troféus de Gabe? – Ela fez um gesto em direção a uma estante no canto. – Ainda não. – Este garoto nos deixa muito orgulhosos. Venha até aqui dar uma olhada. Gabe ficou de queixo caído. A mãe não estava só puxando papo, ela estava dando muita abertura! Bem, isso era bom, não era? Confuso, mas feliz, ele seguiu as mulheres até a estante. Sua mãe poderia ter simplesmente apontado para o que havia lá dentro, mas não, ela abriu as portas duplas e pegou os troféus, um a um, para Morgan poder segurá-los. A cada troféu, Sarah informava a época em que Gabe o havia conquistado e mencionava a importância do prêmio. Gabe começou a se contorcer. Era quase como se sua mãe tivesse resolvido atuar como uma vendedora para convencer Morgan a levar o partidão do ano. E então lhe veio a luz. Shoshone era uma cidade pequena e sua mãe conhecia muita gente. Ela provavelmente tinha passado a manhã ao telefone descobrindo tudo que fosse possível sobre Morgan O’Connelli. Os relatórios deviam ter sido bons, então Sarah resolveu repensar sua postura. Ela e Morgan tinham descoberto um terreno comum na admiração mútua pelos tapetes Navajo e pelo ponto-cruz. E agora… claro que sua mãe estava agindo como se estivesse de olho numa futura nora em potencial. Deus do céu. Mas Gabe conseguia entender o impulso. O mundo de Sarah tinha ficado de cabeça para baixo depois do último outono, e ele entendia por que ela buscava conforto tentando estabelecer uma família para cada um dos filhos. Desta forma, ela poderia criar um futuro e ter expectativas quanto a uma quarta geração para crescer no Última Chance. Felizmente Nick e Dominique estavam na fila para fazer esse sonho se concretizar. Gabe não estava pronto, nem Morgan. Mas ele temia o momento em que teria de desiludir a mãe e informar que ele e Morgan não iam seguir tal rumo. E essa catástrofe iminente era principalmente culpa de Gabe. Ele havia trazido Morgan para o rancho, gesto que sua mãe interpretara erroneamente como um sinal de que ele sentia algo sério por ela. A verdade é que ele a havia convidado para mostrar Jack e à mãe que ambos não poderiam controlá-lo. Mas que droga, a coisa estava ficando complicada. Finalmente Sarah esgotou o assunto dos troféus. – Gabe já lhe mostrou a cozinha e a sala de jantar? – perguntou. – Ela acabou de chegar, mãe – interrompeu ele. – Pouco antes de você entrar. Não tive a oportunidade de mostrar nada.
– Então venha comigo, Morgan. Você também, Gabe, se quiser, mas você já viu tudo isso mil vezes, então pode ficar relaxando aqui até a gente voltar. – Não, eu vou com vocês. – Ele não estava disposto a deixar que sua mãe roubasse aquele passeio mais ainda. Havia grande risco de ela começar a mostrar as fotos de Gabe quando bebê. – Mary Lou! – chamou Sarah, enquanto todos seguiam pelo corredor. – Sirva o café! Nós temos visita! Gabe abafou um gemido. Ele teria ficado feliz com um cumprimento educado seguido por um sumiço discreto. Em vez disso, sua mãe estava estendendo o tapete vermelho e transformando a coisa toda numa reunião social. Gabe pensou em Top Drawer e Finicky selados e à espera perto do celeiro. Pensou no preservativo que tinha escondido nos alforjes. Naquele ritmo, ele nunca iria conseguir usálo. MORGAN SORRIU para si enquanto seguia pelo corredor com Sarah, e Gabe arrastando-se atrás delas. O pobre rapaz não conseguia uma folga. Primeiro sua mãe agira de forma fria, atitude que o constrangera. Agora ela havia tomado a direção oposta e parecia determinada a acolher Morgan na família. A expressão de Gabe era impagável. Ele não estava nada contente com o novo roteiro. A pobre mulher aparentemente achava que seu filho tinha sininhos de casamento em mente, sendo que tudo que ele queria era apenas sexo e algumas risadas. Morgan só queria isso também. Claro, ela estava cativada pela casa do rancho e sua história, mas não estava preparada para ser uma esposa ou para criar os netos de ninguém. Aquela casa pedia por netos para continuar o legado dos Chance. O corredor era tomado por janelas do lado esquerdo, as quais davam para a varanda e para uma vista espetacular da Cordilheira Teton. À direita havia uma galeria de fotos de família intercaladas com portas – diversos armários, segundo Sarah explicara. Morgan desacelerou, querendo observar melhor as fotos na parede. Uma delas era de um garoto muito novinho montado num enorme cavalo. Ela podia jurar que aquele lourinho era… – Este é Gabe em seu primeiro cavalo – disse Sarah. – Jonathan não acreditava em iniciá-los em pôneis, então os meninos começaram a andar em cavalos grandes desde que tinham 3 anos. – Impressionante. – Morgan olhou para trás, para Gabe, que revirou os olhos. – Veja esta – disse Sarah. – É dos três meninos, e Gabe não tinha nem 1 ano ainda. Ele era um adorável… Gabe pigarrou ruidosamente. Sarah virou-se para ele. – Gabriel Archibald Chance, pare com isso. É sério. – Mãe, tenho certeza de que Morgan não está interessada nas minhas fotos de bebê. – Claro que estou. – No minuto em que Morgan admitiu sua curiosidade, percebeu que havia cometido um erro tático. Desejar ver as fotos de infância de um sujeito era coisa de mulher que sonhava com os bebês que poderia fabricar com ele. E esse não era o caso dela. Morgan simplesmente queria ver as fotos porque… bem, porque Gabe tinha sido um menino muito bonitinho. Todo mundo gostava de admirar crianças bonitas. – Está vendo? – Sarah gesticulou para Morgan. – Ela não está nem um pouco entediada. Gabe suspirou. – Ela só está sendo educada.
Sarah sacudiu um dedo para ele. – E você está sendo chato por algum motivo. Tudo bem, vou deixar vocês dois terminarem de ver as fotos e vou descobrir se Mary Lou fez brownies para acompanhar o café. Isso deve lhe agradar, Gabe. – Obrigado, mãe. Assim que a mãe de Gabe saiu pelo corredor, ele pegou a mão de Morgan e baixou a voz de modo que apenas ela pudesse ouvi-lo. – Desculpe por isso. Acho que, de algum jeito, ela interpretou tudo errado. Morgan apertou a mão dele. – Sem problemas. – Eu só não quero que você pense que eu falei alguma coisa que pudesse levá-la a pensar que a gente é um casal. – Não é o que você disse a ela. É o que você fez. Ele pareceu confuso. – Não entendi. – Você me deixou montar seu cavalo. Na cabeça dela, foi como me dar um anel de noivado. – Isso é ridículo. – Claro que é, mas ela fez um rebuliço por causa disso quando falou comigo hoje de manhã. – Ela falou com você? Morgan não tivera a intenção de discutir a tal conversa com Gabe, mas agora não dava mais para recuar. – Depois que você foi para o celeiro, ela deu a volta no carro e veio dar uma palavrinha comigo. Várias palavrinhas, na verdade. – Sobre o quê? – Ela quer que você encontre uma mulher que o ame sinceramente e que não esteja interessada só na beleza do rancho. – Isso foi descarado da parte dela. – A expressão de Gabe era ilegível. – E o que você respondeu? – Eu disse a verdade, que não estávamos apaixonados um pelo outro. Uma emoção lampejou naquele olhos azuis e então se foi. – Aposto que você não falou que nosso relacionamento era só sexo. – Não, eu não sou tão corajosa assim. Mas ela não teria acreditado em mim, de qualquer forma. Ela disse que, quando você se importa o suficiente com uma mulher, você empresta seu cavalo para ela, e que por isso o relacionamento era sério. – Ai, cara. – Gabe massageou a própria nuca. – Eu não fazia ideia de que ela estava enxergando esse tipo de coisa nas entrelinhas. – Eu não soube o que dizer porque não conheço seu histórico com as mulheres e cavalos. Talvez, se você explicar para ela que emprestou o cavalo várias vezes antes, e que isso não rendeu nenhum pedido de casamento, pode ser que ela recue. – Bem, eu poderia fazer isso, só que… – Só que o quê? – Você é a primeira mulher para quem já emprestei um dos meus cavalos. – Oh. – Aquilo a emocionou, o que provavelmente não era bom. Morgan não deveria adorar saber que estava numa categoria exclusiva no que dizia respeito às mulheres que Gabe conhecia.
– Pior ainda, eu estava planejando lhe emprestar Top Drawer outra vez quando a gente saísse para o nosso passeio pelo rancho. Se minha mãe por acaso espiou o celeiro pela janela, ela já viu os dois cavalos selados e prontos para sair. – Acho que você devia ter selado um pangaré velho para mim. Ele riu. – Nós não temos cavalos assim. As montarias do Última Chance são de primeira, pelo menos nas propagandas que divulgamos. Meu pai não aceitaria que fosse diferente, e Jack mantém a tradição. Acho que é por isso que ele tem tantos problemas com a égua que eu trouxe para casa. Ela nunca vai ser de primeira linha. – Doozie, certo? – Isso. Eu liguei para o Bennington, o sujeito que a vendeu, para ver se consigo comprar um bode dele. Morgan piscou. – Como assim? – Eu preciso do bode que ele tem, pois ele era companheiro de Doozie. Acho que a égua está de luto por causa do tal bode. Muitas vezes os cavalos e bodes saem juntos por aí, e eu devia ter percebido que Doozie precisava do amigo. Isso pode mudar as coisas para ela e recuperar sua vontade de viver. – Isso é legal, Gabe. – Morgan sorriu para ele. – Eu gosto dessa sua ligação com os animais. Foi outra coisa que perdi na infância. A gente não podia ter animais de estimação porque vivia mudando de casa e nunca sabia se eles seriam permitidos na nossa próxima moradia. – Se a gente conseguir retomar os rumos do nosso passeio, eu vou levá-la até o celeiro para conhecer Doozie, além dos cães do rancho, e talvez alguns dos outros cavalos. Eu não estava pensando em gastar todo esse tempo na casa. – Há quanto tempo os cavalos estão selados? – Eu os selei pouco antes de você chegar aqui, então não faz muito tempo, e eles não se importam em ficar lá. Tem sombra. Morgan olhou para o relógio. – Mas vamos ter tempo para fazer o passeio? – O passeio pode levar o tempo que a gente quiser, pode ser breve ou demorado. A gente só precisa garantir que vai chegar a um determinado ponto perto do riacho. – Por quê? Existe algo especial que você queira me mostrar lá? O sorriso dele ficou pecaminosamente sexy. – Sim, senhora, com certeza tem. E, para aproveitá-lo por completo, você vai ter de ficar nua. O calor crepitou dentro de Morgan, estabelecendo-se entre suas coxas. – Vamos ver se podemos pegar o café e os brownies para viagem.
Capítulo 10
GABE SENTIA-SE um pouco culpado por ter pedido que o café fosse colocado em uma garrafa térmica e os brownies em um pacote, mas não culpado demais. Ele não precisava que Mary Lou também inventasse de virar íntima de Morgan, e ambas pareciam aptas a fazê-lo rapidamente. – Para onde vocês vão? – A pergunta astuta de Mary Lou foi do tipo que ela teria feito quando Gabe tinha 17 anos e estivesse levando uma garota para um passeio ao luar. Mas, diferentemente de quando tinha 17 anos, Gabe não corou quando respondeu. – Provavelmente vamos passear pelos prados, ou mais longe. As flores silvestres são bonitas lá e a vista é legal. Depois disso, vamos ver quanto tempo temos. Mary Lou assentiu. Gabe tinha certeza de que ela sabia muito bem o que ele tinha em mente. Embora Mary Lou estivesse na meia-idade e já não se preocupasse mais em retocar seu cabelo cinzento desgrenhado, Gabe tinha uma imagem vívida da cozinheira na enseada usando maiô vermelho, havia muitos anos. Muito embora, naquela época, ainda fosse um garoto de uns 8 anos, ele já reconhecia que Mary Lou ficava bem bonita naquele maiô vermelho. Sem dúvida ela colecionara sua parcela de amantes, no entanto nunca chegara a se casar. Ela sempre dizia que, como não podia ter filhos e sempre tivera a intenção de se sustentar sozinha, não via vantagem alguma em um contrato legal de matrimônio. Sarah bebeu um gole de café. – Você vai emprestar Top Drawer ou Finicky a Morgan? Mais uma pergunta cheia de significado. Agora Gabe sabia que sua mãe considerava a coisa toda com os cavalos um sinal de que em breve ele iria se ajoelhar e propor casamento à linda srta. O’Connelli. – Morgan se acostumou com Top Drawer, então acho que ela deve ficar com o cavalo que já conhece. Sorrindo de maneira benevolente, Sarah apontou o chapéu que Morgan levava em uma das mãos. – Vejo que você está emprestando-lhe um dos chapéus de Roni. – Sim, este é dos velhos. Não acho que ela se importaria. Morgan se virou para ele. – Roni? Você tem uma irmã que eu não conheço? – Não exatamente. Ela apareceu por aqui há alguns anos. Era uma adolescente fugitiva.
Sarah pousou a caneca. – Meu marido foi um coração mole. A garota fez uma ligação direta em uma das nossas caminhonetes e ia usá-la para fugir. Jonathan a flagrou, mas, em vez de entregá-la ao xerife, ele lhe prometeu hospedagem e refeições em troca da manutenção dos nossos veículos. Mary Lou serviu-se de mais café. – Roni é gente boa. Sinto falta dela, agora que foi trabalhar no circuito de NASCAR. Eu esperava que ela fosse ficar por aqui. – Nada, o lance dela é com pistões e engrenagens, não com selas e rédeas. – Gabe pensou na determinação de Roni para se tornar mecânica da NASCAR, independentemente do que fosse preciso fazer para realizar seu sonho. Ele amava as competições de apartação, mas se perguntava se gostava delas da mesma forma que Roni adorava as corridas. Morgan levantou o chapéu. – Fico feliz que ela tenha deixado isto aqui. Agradeço pelo empréstimo. – E nós temos que ir. – Gabe calculava que o passeio pelo celeiro ia ficando mais curto a cada minuto que passava. Ele precisaria de pelo menos uma hora para seus outros planos, e o tempo estava correndo de encontro à hora do jantar. – Você tem alguma coisa para os mosquitos? – perguntou Mary Lou. – Não. – Gabe percebeu que a mulher o estava sondando. – Não acho que a gente vá precisar de repelente em plena luz do dia – disse Morgan. – Depende. – Mary Lou foi até um armário e pegou uma lata de spray. – Este é ecologicamente correto e não tem um cheiro muito ruim. Eu nunca testei de verdade, mas é melhor do que nada. Se vocês forem passar um tempo perto do riacho, vão precisar dele. – Mary Lou entregou a lata a Morgan, daí se virou e piscou para Gabe. Ah, sim. Mary Lou sabia exatamente o que estava acontecendo. O lugarzinho especial para amassos de Gabe era perto do riacho. Todos os garotos tinham a própria área para dar uns beijinhos numa garota. O de Nick era numa pequena clareira na floresta e o de Gabe era num banco de areia ao lado do riacho. Jack também tinha seu refúgio, mas nunca chegara a mencionar a respeito, exceto para provocar os seus irmãos e dizer que eles nunca iriam encontrá-lo. – Você vai mostrar o local sagrado em Shoshone a Morgan? – perguntou sua mãe. – Talvez não desta vez. – Gabe não queria dar ao passeio mais importância do que ele já tinha. Morgan olhou para ele. – Que lugar é esse? – No caminho eu conto. Vamos lá. – Ele lançou um sorriso para Sarah e Mary Lou. – Obrigado pelo café e pelos brownies. – Prazer em conhecê-la, Mary Lou – disse Morgan, olhando para trás enquanto Gabe a agarrava pela mão e a estimulava a sair da cozinha. – Obrigada por mostrar a casa, sra. Chance! – Pode me chamar de Sarah! – berrou ela, da cozinha. – Ah, espere um minuto! – E então Sarah apareceu à porta. – Esta é a última noite de Dominique aqui antes do retorno a Indiana, por isso vamos fazer um belo jantar para ela aqui. Gabe, você devia trazer Morgan. Ele estava encurralado. – Bem, o negócio é que… – Tenho certeza de que você pode dar um jeito, Gabe – disse sua mãe. – Pam vai estar aqui. – Ela se virou para Morgan. – Você já conheceu Pam Mulholland?
– Ainda não. Mas sei que ela é dona da pousada Beliche e Boia, na entrada da cidade. – Ela mesma, e ela sempre está por aqui. Pam é como se fosse da família. Bem, tecnicamente, ela é da família, mas essa é uma longa história. – E nós devemos ir – disse Gabe. – Eu sei, eu sei. Como é que dizem mesmo? Vocês estão perdendo tempo. Mas, Morgan, você deveria conhecer Pam. Alguns de seus hóspedes até já se mudaram para cá. Você pode deixar uns cartões da imobiliária com ela. – Isso seria maravilhoso – disse Morgan. – Então vocês dois vão jantar aqui? Gabe reconhecia quando estava derrotado. – Claro, mamãe. Estaremos aqui. A gente se vê! – Ele guiou Morgan pela imensa sala de jantar, com suas quatro mesas de madeira redondas que davam conta de acomodar trinta e duas pessoas, caso necessário. O jantar em família naquela noite seria na outra sala, adjacente àquela e mais intimista. – Divirtam-se! – gritou Sarah. Finalmente chegaram ao corredor. – Meu Deus, o que foi que eu fiz? – Gabe manteve um ritmo acelerado para evitar dar à sua mãe a oportunidade de surgir com algum recado crítico digno de ser entregue imediatamente. – Você é a mais nova melhor amiga dela. – Aparentemente eu passei no teste, então ela quer me convencer de que você é um bom partido. – E eu que pensei que precisaria protegê-la dela. – Você ainda precisa, de certa forma. Você vai ter de dizer a ela, com cuidado, que eu não estou pronta sossegar e amamentar seus filhos, ou seja, os netos dela. Gabe parou bruscamente e olhou para Morgan. – O que você disse? – Eu posso estar errada, mas inconscientemente ela pode estar me enxergando rodeada por bebês. – Isso é loucura. – Mas, agora que Morgan tinha mencionado isso, a visão dela aninhada a um bebê mamando alegremente num seio grudou no cérebro de Gabe. Ele não tinha a intenção de se casar agora, e muito menos de se tornar pai, mas, se fosse fazer um ou outro, iria querer que fosse com uma mulher como Morgan. Morgan seria perfeita. Só que ele não estava disponível para isso. – Você sabe do que precisamos? – Ele abriu a porta da frente. – Precisamos de ar fresco. Podemos visitar o celeiro quando voltarmos. – O que você disser. Você é o guia de turismo. – Exatamente. E eu digo: vamos passear. Morgan exibiu a lata de repelente de mosquitos. – Quer que eu guarde isto em seu alforje? – perguntou ele. – Sim. – Gabe pegou a lata enquanto eles atravessavam o pátio para chegar aos cavalos selados. – Pode vir a calhar. – Mas, se o riacho atrai mosquitos, podemos evitar aquela região. – Não, não podemos. Você vai gostar de lá. – É lá que você vai me mostrar algo especial? Gabe fitou os olhos risonhos de Morgan. – Exatamente.
MORGAN SENTIA como se tivesse entrado numa foto publicitária do Wyoming: montanhas com neve no topo, um prado coberto de flores e um cowboy e uma vaqueira montando cavalos de raça circulando pela paisagem. Ela estava se apegando ao cavalo ruão de Gabe e sentia-se vaidosa quando parava para pensar que Top Drawer provavelmente combinava com seu cabelo. Ao lado dela, Gabe era uma figura impressionante, montado em seu outro cavalo de apartação. Finicky era um Paint branco e cor de chocolate que escolhia seu caminho cuidadosamente em torno das poças de lama. Por isso ele tinha aquele nome, explicara Gabe. Finicky significava “meticuloso” em inglês. Morgan tentava não perder muito tempo reparando no jeito como o bumbum de Gabe se encaixava à sela de couro. O balanço suave da cavalgada já a fazia pensar em sexo, principalmente quando ela se concentrava no ajuste da calça jeans de Gabe. Uma conversa podia ser a resposta para seu problema, e Sarah havia suscitado um monte de tópicos que haviam deixado Morgan curiosa. – Então… Que local sagrado é esse que eu não vou ver hoje? – É uma rocha de granito plana com veios de quartzo branco. – Só isso? Só uma rocha? – É uma rocha grande. Dá para dançar valsa em cima dela. – Você já dançou? – Morgan havia experimentado as habilidades de Gabe na valsa durante o baile na rua. – Não, mas seria divertido. A gente pode tentar, um dia desses. Creio que os Shoshone costumavam dançar sobre a rocha antigamente, mas eu não acho que muitos membros da tribo continuem a frequentar o local. – Mas eles podem ir lá? O acesso é permitido? – Com certeza. Uma vez que vovô Archie descobriu que o rancho possuía uma área considerada sagrada pelos Shoshone, ele os incentivou a visitá-la sempre que sentissem vontade. Eles até visitaram durante algum tempo, mas hoje não fazem mais isso. Agora Morgan realmente queria ver a tal rocha. – Estamos longe dela? – Estamos indo na direção oposta. – Oh. – Ei, é só uma rocha. Nick vai dizer que tem poderes místicos, mas acho uma bobagem. – Morgan sorriu para si. Gabe era o mesmo sujeito que tinha surtado quando ela relatara ter visto um fantasma. Aparentemente, ele morria de medo de ocorrências paranormais. Ela não ia pressionar. Mas a marcha lenta de seu cavalo ainda estava lhe tentando, e ela ainda não conseguia ouvir o som de um riacho, sendo assim eles não deviam estar muito perto do local onde Gabe iria lhe mostrar algo especial. Morgan estava mais do que pronta para aquele algo especial, mas não dava exatamente para recebêlo no meio de um campo aberto. Por isso era melhor eles conversarem. – Sua mãe mencionou algo sobre Pam e uma longa história. O que era? – Você não quer mesmo ouvir toda essa história de família, quer? – Estamos longe do riacho? – Mais quinze ou vinte minutos.
– Então me conte a história. Caso contrário, ficarei muito propensa a me jogar em cima de você aqui mesmo. Gabe riu e permitiu que seu olhar fizesse um lento passeio sobre o corpo cálido e desejoso de Morgan. – Bom saber. – Pare de me provocar. Converse. Ele sorriu. – Odeio ter de apagar essas chamas. Quanto mais excitada você estiver, melhor. – Fale, caramba! – Está bem, está bem. Vou lhe dar a versão curta da história. Você já percebeu que Jack é enteado da minha mãe? – Imaginei que fosse. Ele a chama pelo nome. – Algo que causa muito pesar a ela. A mãe dele foi embora quando ele era criança ainda, e ninguém sabe onde ela está. Mas Nick e eu crescemos pensando que Sarah fosse nossa mãe. – Ela não é? – Agora isso era chocante. – Mas vocês dois são tão parecidos! – Isso é porque ela é minha mãe, mas não de Nick. Nick descobriu apenas recentemente que sua mãe tinha sido um casinho breve do papai antes de ele conhecer Sarah. A mãe de Nick abandonou a cidade e nunca falou com meu pai sobre a gravidez. Morgan teve que readaptar seu pensamento rapidamente. Ela imaginara a família Chance tão perfeita em todos os sentidos, mas aparentemente eles possuíam seus segredos, como todas as outras famílias. – Então, onde está a mãe dele agora? Não é Pam, é? – Não, Pam é a tia dele, algo que nós também acabamos de descobrir. A mãe de Nick, Nicole, morreu quando ele tinha apenas meses de idade. Ela havia deixado instruções pedindo que Nick fosse entregue ao meu pai caso algo lhe acontecesse, então de repente lá estava aquele bebê à nossa porta, na mesma época que Sarah estava grávida de mim. Então eles criaram Nick fazendo-o pensar que Sarah também era sua mãe. – Como Pam entrou nessa história? – Ela continuou a rastrear os passos de Nick, seu sobrinho, sem que ele soubesse que ela estava fazendo isso. Ela nunca teve filhos, por isso, depois do divórcio, ela se mudou para cá para ficar perto dele, mas manteve o silêncio até tudo vir à tona, no mês passado. – Uau. – Sim, tudo isso é uma droga. Creio que meu pai achou que seria melhor se Nick pensasse em Sarah como sua mãe biológica. Pessoalmente, acho que ele estava se isentando das responsabilidades. Ele não gostava de admitir que tinha transado sem camisinha e engravidado uma mulher que mal conhecia. – Seu pai era um homem complicado, não era? Gabe assentiu. – Demais. E cá estamos, no limite das árvores. Mais um pouco e você deve começar a ouvir o riacho. Mas a primeira coisa que Morgan ouviu foi o zunido de um mosquito. Ela tentou matá-lo e errou. – Devemos pegar o repelente? – Vamos chegar lá primeiro. Eu tenho um plano. – Gabe deu um tapa no próprio rosto, onde um mosquito havia pousado.
– Espero que seu plano seja bom. – Morgan tentou pegar outro mosquito. – Eles estão me comendo viva. – É porque nós estamos na floresta. É território deles. Morgan deu um tapa na própria orelha quando ouviu o lamento agudo de outro danadinho, e agora seus ouvidos também zuniam. – Percebi. Mas, ignorando a coisa dos mosquitos, coisa difícil de fazer, a floresta era de tirar o fôlego. Ela viu um arco-íris de flores silvestres espalhadas entre samambaias e videiras. Borboletas amarelo-lima dançavam por entre as árvores e libélulas agitavam suas asas translúcidas enquanto passavam por ela. – Libélulas comem mosquitos? – Morgan quis saber. – Por acaso, comem sim. – Então nós poderíamos usar um esquadrão delas o mais rápido possível. – Já estamos quase lá. Você já consegue ouvir o rio? – Não. Fiquei surda quando estapeei um mosquito na minha orelha. Gabe ergueu-se nos estribos e apontou. – É bem ali. Por entre as árvores. Morgan olhou e a luz do sol brilhou na correnteza uma vez que decaiu sobre as rochas lisas e desceu por uma cachoeira de mais ou menos um metro de altura. Abaixo, as cascatas em miniatura formavam uma piscina, e ao lado dela havia um banco de areia que parecia bem reservado. O murmúrio da água, o qual Morgan conseguia ouvir agora, acolheu-os enquanto eles guiavam os cavalos por um declive até o riacho. Gabe desmontou e amarrou as rédeas de Finicky num galho de árvore. Tirando um cobertor xadrez azul e branco de seu alforje, ele o sacudiu e o abriu na areia. Então pegou o repelente de mosquitos e leu o rótulo antes de borrifar o produto no cobertor. – Este plano não me parece muito bom, Gabe. Dá para ver os mosquitos amarrando pequenos babadores em seus pescocinhos. – O plano é ótimo. – Ele jogou um pacote de preservativos no cobertor antes de caminhar até onde Morgan aguardava, sobre Top Drawer. Daí estendeu os braços. – Eu vou ajudá-la a descer, e, assim que você está estiver no cobertor, pode começar a tirar a roupa. Ela recuou de pavor. – Tirar a roupa? Você está louco? Não vou expor mais nenhum pedacinho de pele além do necessário para estes vampiros! – Eu estarei lá com o repelente. Isso vai funcionar. – O quê? Você vai pulverizá-lo por todo o meu corpo nu? – Aham. Eu li o rótulo, e vai dar certo. No entanto, você pode querer fechar os olhos. – Gabe fez sinal para que Morgan viesse para seus braços. – Não seja medrosa, Morgan. Prometo que vou fazer valer a pena. Mas temos que agir rápido. Ela olhou para ele e balançou a cabeça em admiração. – Você é realmente doido, Gabriel Archibald Chance. – Sim, e é por isso que vai ser muito divertido. – Ele inclinou seu chapéu para trás e lhe ofereceu o tipo de sorriso convencido que poderia fazer uma mulher concordar com qualquer plano besta, incluindo fazer sexo durante uma invasão de mosquitos.
– Tudo bem, mas você tem que prometer que vai coçar minhas costas durante toda a noite se eu precisar. – Ela se inclinou para ele. – Querida, vai ser um prazer. – Ele a tirou do cavalo como se Morgan fosse uma pena, então a pousou sobre o cobertor. – Agora tire tudo! Depressa! – Ele pegou a lata. Morgan começou pelas botas e chapéu, mas, assim que tirou a camisa, percebeu que a velocidade era realmente essencial. Quanto mais rápido agisse, menos tempo aqueles pestinhas teriam para tirar uma lasquinha. Logo ela estava nua sobre o cobertor. – Borrife em mim, Gabe! – Pode deixar! – Ele mirou a lata. Enquanto Gabe pulverizava, Morgan rodopiava, estendendo os braços e dançando sobre o cobertor para o caso de qualquer mosquito conseguir ultrapassar a névoa. – Isso deve bastar. – Com a lata oscilando livremente em seu aperto, Gabe ficou admirando Morgan por um instante. – O que foi? Não é como se você já não tivesse me visto nua. – Eu não a vi dançando nua sob a luz do sol e ao lado do riacho, meu lugar favorito para dar uns amassos. Eis uma imagem para se guardar. – Este é o seu lugar favorito? – Desde a época de escola. – Então você trouxe outras meninas aqui? – Morgan não morreu de amores ao saber daquilo. Até agora ela havia participado de diversas estreias com Gabe e gostaria que continuasse assim. Ele pareceu perceber que ela não havia ficado satisfeita por ser levada para o mesmo ponto de encontro que ele utilizara com outras. – Bem, sim, mas não durante o dia. E definitivamente não quando os mosquitos estão rondando. Morgan riu. – Agora eu me senti especial. – Ela estendeu a mão e mexeu os dedos. – A lata, por favor. Sua vez, garoto natureba. Assistir a Gabe arrancando suas roupas quase fez as picadas dos mosquitos valerem a pena, mas, para o alívio de Morgan, eles não estavam pousando nela mais, pelo menos não ainda. Sendo assim, ela estava livre para admirar os contornos do peitoral de Gabe enquanto ele arrancava a camisa e a jogava no chão. Um mosquito pousou no peito dele e ela se aproximou e deu um tapa no inseto. – Ai. – Ah, tenho certeza de que doeu muitíssimo. Bater em você equivale a bater num pedaço de granito. Você tem um corpo tão rijo, Gabe. – A luz do sol fazia os pelos no peito dele reluzirem, transformandoos em ouro. Ela cedeu à tentação e acariciou-lhe o tórax. Ele deteve a mão dela. – Afaste-se, senhorita. Eu tenho que finalizar este striptease antes que os mosquitos voltem a atacar. – Vá em frente. – Ela recuou um passo, a lata a postos. Assim que Gabe tirou a calça jeans e a cueca e revelou o que havia debaixo do tecido apertado, Morgan concluiu que aquele plano dele poderia não ser tão equivocado, afinal. O corpo dela zuniu sob a expectativa de colocar aquele belo equipamento a serviço do seu prazer. Mas primeiro Gabe precisava ser untado com o repelente. – Abra os braços.
Gabe cobriu a virilha com as mãos. – Borrife assim. Morgan olhou para ele. – Eu simplesmente permiti que você pulverizasse cada centímetro do meu corpo com esse negócio. Você está preocupado com a possibilidade de cair um pouco no seu equipamento? – Na verdade, estou. – Por quê? Você disse que o produto era ecologicamente correto. – Isso não significa que é genitalmente correto. Suas partes especiais estão escondidas, mas a minha está bem exposta, e eu não ligo para o que diz no rótulo, eu não confio que isso não vá… me deixar estéril ou algo assim. Ela sufocou uma risada. Ele estava falando sério, tal como a maioria dos homens falaria a respeito de seu orgulho e fonte de alegria. Mas Gabe não ia gostar de saber que ela estava achando tudo aquilo muito engraçado. E, pelo que Morgan sabia, o repelente poderia ser irritante para as mucosas. – Você pode colocar uma camisinha primeiro. – Não, porque ela pode ficar molhada de repelente, e eu não vou arriscar as suas partes especiais, que em breve estarão em contato direto com as minhas partes especiais. – Sabe, isso é tocante, mas de um jeito meio estranho. – Apenas borrife, está bem? – Pode apostar. – Morgan se postou atrás de Gabe. Ali estava uma bela vista. As montanhas e flores silvestres eram legais e tudo o mais, mas ela sempre iria preferir ter uma proteção de tela com a foto do traseiro de Gabe. As nádegas dele eram tão rígidas quanto seus peitorais. Morgan lhe deu um tapinha para conferir. – Ei! Exatamente como ela imaginava. Agradavelmente firme. – Desculpe. Mosquito. – Então começou a pulverizar porque os mosquitos começaram a surgir de verdade. – Já está bom. – Mas eu não tenho certeza se passei em todos os… – Vou correr o risco. – Gabe tomou a lata da mão de Morgan e a jogou no chão. – Você está me torturando. – Com repelente? Quem é o medroso agora? – Não com o repelente. Com essas balançadinhas. – Ele a tomou nos braços e agarrou um seio ligeiramente pegajoso. – Eles estavam saltitando totalmente. Eu não ia conseguir esperar nem mais um segundo para pôr minhas mãos em você. Você é tão gostosa, Morgan. Não me admira que os mosquitos queiram tanto chupar você. – Mas é melhor você não fazer isso. Provavelmente o sabor vai ser horrível. – Provavelmente. – Ele passou as mãos nos seios dela, acariciando-os com um prazer óbvio. – Mas eu posso tocar. Antes de voltar, a gente dá um mergulho rápido no riacho. – Gabe deslizou as mãos até a cintura dela. – Tinha mesmo um mosquito no meu bumbum? – Não. – Então você merece o troco. – Ele lhe deu um tapinha no traseiro. – Ei!
– Eu daria um beijinho para melhorar, mas você provavelmente está com gosto de terebintina, por isso vou ter que me contentar com uma massagem no local, em vez disso. – Gabe começou um movimento lento que estimulou nela todos os pontos que ele classificava como partes especiais. Em pouco tempo ela já estava respirando como um corredor de longa distância. – Hum. – Morgan fechou os olhos e tombou a cabeça para trás enquanto Gabe estimulava a tensão em seu corpo. – Gosta disso? – Aham. Mas esse jogo é para dois. – Abrindo os olhos, ela pousou a mão entre as pernas dele. Gabe gemeu. – É para dois mesmo. – Era isso que você tinha em mente quando me trouxe aqui? – Estamos nos aproximando da minha imaginação. Ela acariciou e o provocou até seus testículos começarem a se contrair e seu membro ficar escorregadio devido à umidade. – Como assim? – Precisamos daquela camisinha. – Permita-me. – Desvencilhando-se dos braços dele, Morgan ajoelhou-se no cobertor e encontrou os preservativos. Quando ela se virou de costas para Gabe, Morgan se viu na posição perfeita para ser penetrada, mas daí ela não conseguiu resistir à tentação de primeiro envolvê-lo com a mão e mordiscálo um pouco. – Morgan… – Nós não passamos repelente aqui. Você tem um gosto delicioso. – Você está brincando com fogo. – Não, eu estou brincando com seu maravilhoso p… – Ponha a camisinha – falou ele, entre dentes cerrados. – Por Favor. – É para já. – Ela estava tremendo um pouco de emoção e se atrapalhou com a tarefa, mas finalmente conseguiu cumpri-la. Segurando-a pelos ombros, Gabe a incitou a ficar de pé e lhe cobriu a boca num beijo cheio de desespero. Em seguida recuou, ofegante. – Necessito ver você deitada neste cobertor, Morgan. E sem brincadeiras. A urgência dele a empolgou até os dedinhos dos pés. Ela aninhou o rosto dele entre as mãos. – Alguém está um pouquinho tenso. – E alguém tem o remédio para isso bem entre as coxas macias. No cobertor, Morgan. – Da próxima vez, eu darei as ordens. – Secretamente, porém, ela gostava da postura autoritária dele. Quando se tratava de sexo, receber ordens poderia ser emocionante. Agachando-se, Morgan sentou-se sobre o cobertor e então se deitou. A areia rangeu debaixo dela e ela se remexeu um pouco, moldando o corpo ao terreno. Então ela espiou quando a luz solar infiltrouse por entre folhas verdes dos galhos das árvores que arqueavam sobre a pequena praia. E, naquele intervalo que Morgan levou para tomar fôlego, Gabe já estava lá juntinho a ela. Apoiando os braços de cada lado dos ombros delgados, ele a sondou uma vez, e então penetrou profundamente, soltando um grunhido de satisfação. Morgan suspirou de prazer e o abraçou. Daí o envolveu com as pernas para completar. Mesmo estando pegajosos por causa do repelente, a sensação de estar nua com Gabe havia se tornado a coisa
favorita de Morgan. A conexão era mágica, e dali a alguns instantes se tornaria transcendental. Exceto pelo mosquito que tinha acabado de pousar no ombro de Gabe. – Gabe, tem um mosquito no seu… – Eu não ligo. – Os olhos dele eram chamas azuis gêmeas quando ele recuou e investiu outra vez. – Nada mais importa, só isto aqui.
Capítulo 11
NADA MAIS importa, só isto aqui. As palavras pareceram ecoar na floresta quando Gabe encarou os olhos de Morgan e deu início ao velho ritmo de acasalamento que ele almejava com cada grama de seu ser. Ele nunca estivera tão concentrado em sua vida, e aquilo significava alguma coisa para um sujeito acostumado a competições ferozes. Quando Morgan chegou ao clímax, arqueando as costas com um grito de alegria, a felicidade brotou dentro de Gabe por saber que ele havia sido a pessoa a lhe dar aquele prazer. Em seguida o próprio orgasmo dele explodiu, estreitando o universo até o momento presente, até aquela mulher, até aquele desejo potente de se unir a ela. Durante longos segundos, ele ficou cego e surdo para tudo ao redor enquanto seu corpo absorvia o choque do ápice. No entanto, os tremores diminuíram gradualmente e ele foi ficando consciente da luz solar em suas costas, do cheiro barrento das mudinhas e da água deslizando sobre as pedras. Ele fitou os olhos de Morgan e encontrou um contentamento lânguido ali, o que lhe agradou. No entanto, o olhar azul-esverdeado estava tomado por algo mais, algo afável e novo. Gabe se perguntava se Morgan tinha noção do quanto estava revelando a ele, do quando aquilo a tornava vulnerável. Ele sentiu um calor no peito, como se alguém o tivesse coberto com um manto macio. E, assim, o relacionamento deles foi para além da luxúria, adentrando um território que Gabe não chegara a explorar com frequência durante sua vida adulta. Ele deveria estar preocupado com isso, mas não conseguia se preocupar quando o ar cheirava a sempre-vivas e sexo de qualidade. Inclinando-se, ele roçou os lábios nos de Morgan. – Pronta para um mergulho no riacho? – Aposto que a água está um gelo. – Sim. – Abandonando o calor dela, ele retirou o preservativo. Jogaria no lixo mais tarde, depois que eles lavassem o repelente pegajoso. – Nós não temos toalhas. – Vamos usar o cobertor. Vamos lá! – Ele a tomou nos braços. – Gabe! Sou capaz de entrar sozinha. – Ah, mas você vai entrar? – Ele a carregou para a beira da piscina natural e arfou quando entrou na água. Gabe nem mesmo tinha certeza se era capaz de fazer aquilo, mas eles precisavam tanto de um
mergulho! – Eu ouvi isso! Ouvi você arfar. Se está fria assim, então eu não vou entrar. – Ela tentou escapar dos braços dele. – Sim, você vai, e eu também. – Ele entrou naquela água gelada o suficiente para congelar seus testículos. – Pare de lutar ou… – E então ele perdeu o equilíbrio e ambos caíram na água, acompanhados pelo grito ensurdecedor de consternação de Morgan e pelos xingamentos de Gabe. Ele se levantou de forma atabalhoada, a água batendo na cintura. Conseguia sentir suas partes íntimas encolhendo em protesto. Morgan o encarou, a boca aberta num grito silencioso enquanto a água pingava do cabelo a escorria no rosto. Ela arquejava, o que era um bônus, e seus mamilos estavam rosados feito framboesas. Por mais frio que estivesse sentindo, Gabe gostou daquela visão. Descobrindo que a melhor defesa era o ataque, ele sorriu para ela. – Refrescante, hein? Ela engoliu em seco. – Refrescante? Tente hipotermia! – Ah, faz bem para a saúde. – Você acha? Então tome isto! – Morgan esguichou água gelada em cima dele. – Esse jogo é para dois! – Ele espirrou água de volta nela e a guerra começou. Em algum momento durante a batalha, Morgan começou a gargalhar, provavelmente porque tinha se adaptado à temperatura da água e o exercício havia feito o corpo se aquecer. Gabe concluiu que já era seguro avançar até ela, sem perigo de levar uma joelhada na virilha, e então, sob o abrigo dos muitos jatos de água, ele conseguiu chegar perto o suficiente para agarrá-la. Morgan gritou e fingiu lutar, mas ao fim puxou a cabeça de Gabe para um beijo muito molhado e com muita língua. Aparentemente ele estava perdoado. Acariciar o corpo dela, escorregadio devido à água, lhe dava ideias para o futuro, as quais envolviam chuveiros e banheiras de água quente. Mas, se eles não parassem de se beijar daquele jeito, Gabe teria que fazer algo mais imediato para satisfazer a ambos, e ele não estava disposto a lidar com os mosquitos pela segunda vez. Relutantemente, ele recuou a boca uma fração da dela. – Precisamos ir embora. O hálito de Morgan era quente nos lábios dele. – O típico exemplar masculino. Joga você no lago, mas depois não a deixa ficar. – Debaixo d’água, ela acariciou o membro que já estava ficando rígido. – O típico exemplar feminino. Reclama porque tem que entrar e depois reclama porque tem que sair. – Ele deveria deter a carícia, e ia… dali a um minutinho. – O típico exemplar masculino. O cérebro diz para ir e o pênis pede para ficar. Gabe não teve como argumentar contra aquilo. E precisava sair logo enquanto ainda era capaz de andar. Ah, mas o toque de Morgan era o paraíso. – Como você está se sentindo? – murmurou ela. – Enraizado ao chão. – Ótimo. Porque eu quero usar o cobertor primeiro. – Soltando o membro dele, Morgan acelerou em direção à margem, espirrando água para todos os lados. E, antes que Gabe pudesse dar o próximo suspiro, ela já estava enrolada no tecido azul e branco. – Você armou uma cilada para mim!
– Foi seu troco! – cantarolou ela. Morgan parecia tão presunçosa que Gabe não conseguiu evitar rir. Talvez ele já tivesse se divertido assim com outras mulheres, mas, se já havia mesmo, não conseguia se lembrar. Aquela relação estava dominando o centro do palco da sua vida rapidamente, e estava na mesma posição que costumava ser ocupada pelos eventos de apartação de cavalos. E essa era uma noção surpreendente. E talvez não fosse coincidência Morgan estar se revelando tão importante para ele de repente. Gabe tinha permitido que Jack interferisse em seus planos nas competições e Morgan surgira logo depois. Ao distrair-se com Morgan, ele evitava ter de desafiar Jack. Isso não era bom, não era nada bom. MORGAN ESTIVERA tão ocupada secando-se e vestindo-se depressa a fim de evitar os mosquitos que nem prestara muita atenção em Gabe. Ele também parecera estar bastante ocupado fazendo o mesmo que ela, de modo que eles nem mesmo aproveitaram o tempo para ter uma conversa agradável. Enquanto ele se vestia, Morgan abanava seu chapéu a fim de manter os mosquitos afastados. Ambos conseguiram escapar de boa parte das picadas no trajeto de volta pela floresta e pelas campinas. Mas, uma vez que chegaram ao prado, Morgan notou que havia algo perturbando Gabe, algo muito mais incômodo do que algumas picadas de mosquito. Como ela fazia o tipo direta, resolveu perguntar a respeito: – Você está chateado porque eu o abandonei na água? Ele sorriu para ela, o primeiro sorriso desde que saíra do lago. – Não. Foi divertido. – Então, qual é o problema? O suspiro dele pareceu vir de algum lugar profundo. – Como você provavelmente já notou, eu adorei cada minuto com você nos últimos dois dias. Opa. Era assim que os caras começavam o discurso de adeus. Morgan disse a si para não entrar em pânico, mas pânico era exatamente o que estava sentindo. Mesmo que não estivesse interessada num compromisso permanente, ela ainda havia se disponibilizado para a conquista. E agora Gabe parecia pronto para virar o jogo. – Se é a postura de cupido da sua mãe que o está aborrecendo, eu posso consertar isso – disse ela. – Eu não vou passar mais tempo na sua casa, e provavelmente não devia estar montada no seu cavalo, em nenhum deles. Ela está vendo coisas demais nisso tudo. – Não é minha mãe. Sou eu. Dediquei os últimos dez anos aperfeiçoando minhas habilidades na arena. Competi em todos os verões e treinei para melhorar em todos os invernos. Eu como, durmo e sonho em função das competições. Essa sempre foi a única coisa que importou para mim desde que me formei na escola. – Admiro esse tipo de intensidade. Gabe olhou para a Cordilheira Teton, delineada contra o céu azul. – Eu também, e perdi minhas habilidades. – Perdeu? Desde quando? Ele se virou para ela. – Neste verão. E o fato é que eu estava preocupado com essa crise, mas, quanto mais tempo passo com você, menos que eu me importo com ela.
– Espere um minuto. – O senso de justiça de Morgan prevaleceu. – Foram só dois dias. E não é como se eu estivesse monopolizando sua atenção. Hoje mesmo, eu não tinha planejado encontrar você antes do anoitecer. Foi você quem me ligou para perguntar se eu poderia vir… – Ei, ei, eu sei. Eu disse que o problema era comigo. Você não fez nada além de ser a pessoa maravilhosa e sexy que sempre foi. Fui eu quem permitiu que isso se tornasse essa obsessão que está me fazendo perder o rumo. Uma sensação de mal-estar se alojou na boca do estômago de Morgan. Se Gabe estava perdendo o foco, não importava se ela havia sido a agente direta disso ou não. Ela ainda seria rotulada como o motivo principal, a mosca na sopa, a falha no plano. O resultado era que, com ela por perto para tentálo, Gabe perderia sua motivação para fazer o que tinha passado uma vida inteira treinando para fazer. – Gabe, se você precisa voltar e competir, então vá! Eu vou ser a primeira a incentivá-lo a sair pela porta. Que inferno, eu vou empurrá-lo para fora e trancar a porta atrás de você. Ele ajeitou Finicky de modo que os dois cavalos se emparelhassem, e então puxou as rédeas. – Vamos parar um minuto. Esse não é o tipo de conversa que devemos ter sem eu poder tocar em você. – Não é esse o cerne do problema? O fato de você não conseguir manter suas mãos longe de mim? – Não, esse não é o problema. Tocar em você é um privilégio e eu adoro fazer isso. – Ele pegou a mão dela. – Não se aproxime, cowboy. – Morgan guiou Top Drawer para que se afastasse um pouco. – Você fez eu me sentir como se tivesse alguma doença. Pode falar daí de onde está. Ele gemeu em frustração óbvia. – Eu não estou me expressando direito. Os problemas começaram antes de eu conhecê-la e vieram à tona quando deixei o circuito para levar um cavalo ferido para casa. – Doozie. – Sim. Eu fiquei em casa para cuidar dela, mas agora Jack está questionando se eu deveria voltar para os circuitos… definitivamente. – É ele quem decide? – Tecnicamente, ele controla as finanças. – Gabe coçou o ombro. Morgan lembrou-se do mosquito que havia pousado ali quando eles estavam fazendo amor. Pela forma como a discussão estava sendo conduzida, eles não voltariam a ir para a cama tão cedo. – Mas vinte e cinco por cento do rancho é meu – acrescentou Gabe –, e eu poderia utilizar minha parte como alavanca. – E forçar a coisa toda. Agora que eu já conheci Jack, não consigo enxergar como isso poderia terminar bem. – Não importa. Ou eu quero isso com fervor suficiente para lutar, ou não mereço estar lá competindo. – E você quer estar lá competindo. Ele olhou para ela, os olhos azuis conturbados. – Foi assim durante a minha vida inteira, Morgan. E Top Drawer tem chance de entrar no Hall da Fama caso eu consiga me aprumar e vencer mais alguns prêmios. Ele tem o talento e a capacidade. Ele só precisa de mim para se concentrar melhor. – Esse tal Hall da Fama parece importante. – E é.
– Eu estou começando a enxergar por que sua mãe considerou o empréstimo do cavalo uma coisa tão importante. O que diabos você estava pensando ao me deixar montá-lo? – Eu não me arrependo disso nem por um minuto. – Ele fez uma pausa. – Mas você está certa. Emprestá-lo a alguém que eu mal conhecia não foi muito inteligente. Ainda assim, se eu não tivesse feito isso, a gente não teria desfrutado desses dois dias juntos. Morgan engoliu em seco. – Está claro, no entanto, que você precisa dar um basta nisso. Colocar sua vida no prumo. – Morgan soou um pouco rouca; não conseguira evitar. Gabe a havia levado para a loja de doces, permitido que provasse as melhores trufas, e agora estava tudo acabado. Havia motivos para se decepcionar. – É o que estou pensando em fazer – disse ele suavemente. – Desculpe. – Tudo bem, Gabe. Mesmo. Tudo que a gente queria era um pouco de diversão, e é exatamente isso que tivemos. Sem arrependimentos. – Pelo menos nenhum que ela fosse admitir na presença dele. – Precisamos voltar para o rancho, ou eles vão querer saber o que aconteceu. – Ela cutucou Top Drawer para que o cavalo andasse. – Mamãe ainda vai querer que você fique para o jantar. – Gabe guiou Finicky para o lado de Morgan. – Obrigada, mas eu não acho que seja uma boa ideia. Para começar, eu estou um desastre. – Além disso, ela não ia conseguir comer sabendo que em breve Gabe teria que enfrentar Jack. Caso ele conseguisse o que desejava, passaria o restante do verão fora da cidade. Embora Morgan pudesse se enganar dizendo-se que eles retomariam o contato no outono, ela duvidava disso. Uma vez que ele a havia rotulado como uma distração de, Gabe não ia querer correr o risco de voltar a se envolver. – Droga, Morgan. Não era minha intenção magoá-la. – Ah, mas você não magoou! – Ela estampou um sorriso para provar seu ponto. – Eu sou muito mais durona do que isso. Pensando bem, prefiro não ficar para o jantar, mas vou aceitar os brownies, se não tiver problema para você. – Ah, sim. Eu me esqueci completamente dos brownies e do café. – Eu me pergunto por quê. – Ela se virou e piscou para ele, frisando que ainda era a mesma garota selvagem e louca capaz de provocá-lo em função do sexo. Seria preciso mais do que isso para partir o coração dela. GABE ODIAVA o jeito como tivera de deixar as coisas com Morgan. Ela havia aceitado os brownies, porém rejeitara o passeio pelo celeiro. Ele não poderia culpá-la, considerando as circunstâncias. Quando ele a ajudara a descer de Top Drawer e a abraçara durante um breve instante antes de seus pezinhos tocarem o chão, Gabe se perguntara o que diabos estava fazendo, mandando-a embora daquele jeito. Ela era um sonho transformado em realidade. Ele nunca estivera tão feliz. E era esse o problema. Ele conseguia enxergar-se facilmente preenchendo o restante do verão com sexo quente. Como um sujeito poderia reclamar, quando tinha uma garota como Morgan bem à vontade em seus braços? E então ele passaria o verão à toa, fazendo serviços bobos pelo rancho e aproveitando o tempo livre com Morgan. Daí, gradativamente, perderia a vontade de competir. Noites acolhedoras de inverno com ela seriam capazes de convencê-lo a não treinar com tanto afinco. No verão seguinte, se Jack
continuasse a reclamar dos valores das taxas de inscrição das provas, Gabe provavelmente desistiria totalmente de competir. Afinal de contas, ele teria Morgan para confortá-lo. Enquanto parte dele ansiava por isso, principalmente aquela parte abaixo do seu cinto, seu cérebro e coração questionavam se ele havia se esgotado, se permitiria que seu irmão mais velho determinasse seu futuro em vez de tomar as rédeas da situação. Ele não precisava pensar nisso agora, no entanto. Enquanto Gabe estava removendo as selas dos cavalos e os escovando antes de colocá-los de volta em suas baias, Jack saiu do celeiro. O espetáculo ia começar. Jack apoiou o quadril no poste de amarração e tirou o chapéu preto. Daí fingiu examinar a faixa do chapéu. – O que Morgan achou do passeio pelo rancho? – Ela gostou. Mas tem outra coisa que preciso discutir com você. – Gabe terminou e jogou a escova no balde de plástico que eles usavam para guardar os apetrechos de beleza dos cavalos. Ele virou-se para Jack. – Imagino que Doozie vá ficar bem até o final do mês. Pretendo inscrever Top Drawer em todos os eventos de apartação que forem acontecer em agosto, para compensar esse período afastado. Jack colocou o chapéu e ajeitou a aba. – É um desperdício de dinheiro, Gabe. Eu fiz uma pesquisa e neste verão nós só tivemos uma venda direta resultante dos seus contatos no circuito. – Você não pode julgar as coisas assim. – Gabe agarrou-se à própria disposição, determinado a prosseguir, ainda que fosse para bater de frente com Jack. – Se Top Drawer entrar no Hall da Fama, vai ser algo grandioso para os cavalos do Última Chance. Pode ser que eu consiga neste ano ainda. – Talvez sim, talvez não. Eu não acho que seja um bom uso dos recursos do rancho. A rigidez na mandíbula de Gabe foi até suas têmporas e se alojou em sua nuca. Ele flexionou os dedos. – Você está dizendo que não vai aprovar as despesas? – Sim, é o que estou dizendo. Isso não está no orçamento. Embora Gabe quisesse desesperadamente indicar a Jack um lugar para enfiar seu precioso orçamento, ele manteve seu nível de voz. Queria continuar sereno para terminar de argumentar. – Então pode ser que nosso advogado entre nessa história. Jack encarou o irmão. Uma luz escura e perigosa brilhou naqueles olhos. – Advogado? – perguntou ele, em voz baixa. – Sim, Jack, advogado. O sujeito que elaborou o testamento de papai e que o leu para nós enquanto estávamos todos sentados no escritório, um dia após o funeral. Jack se afastou do poste de amarração. – Você está desafiando meu direito de administrar o rancho do jeito que eu acho melhor? Porque o testamento afirma claramente que papai deu essa função a mim. – Ele também deu um pedaço igual do rancho a cada um de nós, para você, para mim, para Nick e para mamãe. Pretendo usar a minha parte para financiar as taxas de inscrição de Top Drawer nas competições. – Impossível. Os ativos não são líquidos. Nós teríamos que vender… – Jack semicerrou os olhos. – Isso foi ideia daquela corretora, não foi? – Morgan? Ela não tem nada a ver com isso. – O diabo que não! Você passa a tarde passeando pelo rancho com ela e agora vem me dizer que temos de vender parte do terreno para financiar taxas de inscrição?! Qualquer idiota seria capaz de
deduzir a verdade. – Você está errado. Na verdade, ela está saindo da minha vida para que eu possa me concentrar nessa coisa de entrar no Hall da Fama. – Mentira! Ela quer uma parcela do lucro! Gabe queria bater nele. E imaginava o quanto seria prazeroso socar aquela expressão de sabichão. – Você é tão presunçoso, Jack. Eu não estou planejando ver Morgan tão cedo. – Até parece. Ela o seduziu completamente. Tudo o que ela tem de fazer é balançar as tet… – Cuidado, Jack. – As mãos de Gabe se fecharam. – Sua boca está prestes a ficar bem machucada. Jack se encurvou e exibiu os punhos. – Manda ver, maninho. Pode vir. Gabe imitou a postura de Jack. O sujeito tinha lhe ensinado a lutar. Gabe estava prestes a mostrar ao seu professor o quanto tinha aprendido. – Com prazer. – Olá, rapazes. – Emmett Sterling apareceu cavalgando, daí desmontou do animal, ainda sem olhar para eles enquanto passava as rédeas no poste de amarração. – Achei que vocês dois fossem estar lá dentro se preparando para o grande jantar de despedida de Dominique. Gabe olhou para Jack, que se aprumou e deu de ombros. – Gabe, agradeço se você puder desencilhar meu cavalo – disse Emmett. – Jack, vamos lá no celeiro um minutinho. Acho que estamos com um caso de fungo nas paredes e quero sua opinião para saber se vamos precisar resolver isso amanhã cedo. Aí, tudo que a gente vai precisar fazer é chegar em casa antes de Mary Lou ter um ataque. – Claro, Emmett. – Jack passou por Gabe, os polegares enfiados casualmente nos passadores do cinto, como se ele não tivesse nada em mente, exceto a verificação dos fungos no celeiro. – Mais tarde – disse Gabe, em voz baixa. – Quando você quiser, filho – murmurou Jack. – Quando você quiser.
Capítulo 12
– ONDE ESTÁ Morgan? – A mãe de Gabe se jogou em cima dele no minuto em que o filho apareceu na salinha de jantar adjacente àquela utilizada quando os operários do rancho vinham comer ou quando havia uma grande festa. – Ela me pediu para avisar que lamenta, mas não pôde vir. – Gabe foi inventando a história enquanto se justificava: – Ela não está se sentindo bem e resolveu ir embora, pois temia que pudesse ser contagioso. Jack segurou a cadeira para Sarah. – Eu aposto mesmo que é contagioso – disse ele. – Se eu fosse você, Gabe, ficaria de olho na saúde. Você pode estar contaminado também. Sarah olhou para Gabe com surpresa. – Deve ter sido algo súbito. Ela parecia bem esta tarde. – Isso foi antes de ela passear pelo rancho – disse Jack, enquanto se sentava. –Gabe, talvez você devesse dizer a Sarah o mesmo que me falou hoje, sobre o contato com o advogado. – Não é um bom momento para discutir isso. – Gabe olhou feio para seu irmão. Eles tinham contas a acertar, mas não iam fazê-lo à mesa de jantar. A mãe de Gabe suspirou. – Jack, eu realmente acho, principalmente agora, que você poderia me chamar de mamãe em vez de Sarah. – Sim, Jack. – Nick ajudou Dominique a se acomodar. – Já está na hora. – Vou acrescentar meu voto. – Pam Mulholland estava sentada ao lado de Emmett. Gabe não tinha pensado nisso antes, mas desconfiava que sua mãe também estivesse bancando o cupido com Pam e Emmett. Pensando bem, eles tinham quase a mesma idade. Pam parecia ter caprichado mais no visual esta noite. Ela havia feito algo diferente no cabelo loiro, colocado algumas bijuterias alinhadas, e a blusa azul-clara tinha um leve decote. Emmett tinha tirado um tempinho para tomar um banho e se barbear. Suas orelhas ficavam coradas toda vez que ele olhava para Pam, e Pam olhava para ele como se ele fosse o último pedaço de doce no prato. Gabe se perguntava há quanto tempo vinha rolando aquele clima entre eles. Emmett pigarreou e olhou para Jack, do outro lado da mesa.
– Seria uma cortesia se você fizesse isso por Sarah, filho. Se Gabe não tivesse ficado tão irritado com Jack, ele poderia ter sentido pena do sujeito. Jack não estava acostumado a ser repreendido na frente de toda a família. Bem, a culpa era dele mesmo. – Ah, não importa. – A mãe de Gabe desdobrou o guardanapo e o colocou no colo. – Acho que isso não é tão importante. Nick olhou para os dois. – Eu acho que é. E agora estou numa posição mais conveniente para entender isso do que eu costumava estar, Jack. – Eu acho que não – retrucou Jack calmamente. – Você cresceu pensando que Sarah era sua mãe, e, só porque descobriu que isso não era exatamente verdade, não quer dizer que as coisas mudaram. Cresci sabendo que minha mãe ainda está por aí, em algum lugar. Gabe não aguentava ver a dor nos olhos de sua mãe. – Não, não está. Sua mãe está bem aí. Sarah Chance é a única pessoa que já o amou como um filho. O filho dela. O certo seria… – Você vai me dar um sermão sobre que é certo? – Jack empurrou a cadeira para trás. – Você não é o cara que trouxe uma corretora de imóveis para a propriedade hoje? – Ele se levantou. – Jack. – Sarah colocou a mão no braço dele. – Tenha um pouco de confiança no julgamento de Gabe. Se ele diz que Morgan não está tirando partido dessa amizade, devemos acreditar nele. Quero que você pare já com esse comportamento preconceituoso. Jack virou-se para ela. – Então me explique por que, minutos depois de ela escapulir… – Ela não escapuliu! – Foi a vez de Gabe empurrar a cadeira para trás. – Já chega. – Emmett se levantou. – Se vocês dois estão determinados a chegar às vias de fato, então que o façam lá fora. – Mas nós estamos jantando! – Sarah também se levantou. – Eu exijo saber o que está acontecendo. Jack atirou o guardanapo na mesa e deixou seu assento. – Vou dizer o que está acontecendo. Gabe quer vender a parte dele do rancho. – Mas que droga, eu não disse isso! Jack apontou o dedo para ele. – Com certeza disse. – Ei! – Nick saltou de sua cadeira. – Parem com isso! Eu não culparia Dominique se ela mudasse de ideia a respeito de se tornar parte desta família, já que não conseguimos passar um simples jantar sem gritar uns com os outros! Jack protestou alegando inocência e Gabe se intrometeu, determinado a não deixar que o irmão difundisse mais mentiras. Quando eles tentaram se sobrepor um ao outro, aos berros, um assobio cortante trouxe silêncio à mesa. Sarah estava com os dedos na boca. Gabe não ouvia aquele assobio havia anos. Ele tinha se esquecido de que sua mãe sabia como fazê-lo, e ouvi-lo agora trazia muitas lembranças da época em que ela o utilizava para trazer ordem quando seus meninos saíam da linha. Semicerrando os olhos, ela enviou um olhar cortante a cada um de seus filhos. – Jack. Nick. Gabe. Sentem-se. Gabe obedeceu, e ele percebeu que Nick e Jack fizeram o mesmo.
– Tudo bem. Não sei o que está acontecendo e não quero saber agora. Qualquer que seja o problema, podemos resolvê-lo depois do jantar, como pessoas civilizadas. Estamos comemorando um noivado hoje à noite, e espero que vocês três sentem aqui e se comportem. Está claro? Gabe balançou a cabeça, tal como fizeram Jack e Nick. – Ótimo. – Sarah pegou sua taça de vinho. – Vamos começar brindando ao casal feliz. A Nick e Dominique. Que vocês tenham uma vida longa e próspera juntos. Gabe ergueu a taça juntamente a todos os outros à mesa. Mas, enquanto bebia, ele olhou por cima da borda e flagrou Jack encarando-o de volta. A mensagem nos olhos escuros de seu irmão era perfeitamente decifrável. Isso não acabou. MORGAN PENSOU em fazer uma refeição composta por brownies e uma garrafa de vinho tinto que tinha no armário, mas por fim percebeu que não queria ficar sozinha. Beber vinho e pensar em Gabe provavelmente não renderia nada de útil, apenas lágrimas, e ela não estavam nem um pouco a fim de chorar até cair no sono. Uma coisa na qual ela era boa – provavelmente a campeã mundial da categoria – era em despedidas. Depois de todas aquelas mudanças quando criança – ela parou de contar na trigésima –, Morgan conseguia sair de qualquer situação como ninguém, e logo já estava ligada em outra coisa. A dor oca que ela sentia agora muito provavelmente era mais fome do que tristeza. Então ela tomou um banho longo e quente, arrumou o cabelo e caminhou até o Espíritos e Esporas. Uma vez lá, escolheu sentar-se junto ao balcão em vez de ir para uma mesa, pois tinha esperanças de conversar com Josie sobre fantasmas. Elas não precisavam mencionar os homens da família Chance. Não havia motivos para desperdiçar fôlego com aqueles rapazes. Morgan estava interessada em fantasmas. Algumas pessoas a cumprimentaram durante seu trajeto até o banquinho e um casal até mesmo a convidou para juntar-se a eles à mesa. Ela ficou satisfeita com a oferta, mas não surpresa. Estava acostumada a chegar em uma cidade e fazer amigos, e já estava em condições de negociar com a maioria dos comerciantes de Shoshone, bem como com alguns dos moradores. Acrescentar Pam Mulholland do Beliche e Boia à sua lista de contatos seria bom, mas ela podia cuidar disso sem a ajuda de Sarah Chance. Ela não precisava de Sarah nem do filho dela. Ele tinha sido apenas uma diversão agradável para um par de dias, nada mais. Escolhendo um banco vazio ao final do balcão, perto da caixa registradora, Morgan subiu nele e viu Josie trabalhando. A trança loura e longa balançava enquanto ela colocava gelo nos copos, servia qualquer combinação de bebidas que lhe fosse pedida e decorava os drinques com um floreio. Se a coisa no ramo imobiliário não desse certo, Morgan poderia aprender o ofício dos bares. Ela se daria bem no atendimento, o qual envolvia tanto interagir com pessoas quanto saber misturar bebidas. – Ei, Morgan. – Josie colocou um guardanapo na frente dela. – O que vai querer? – Algo novo e diferente. – Que tal um Martini do rancheiro alegre? – Hum, acho que não. – A ideia de relacionar a bebida a um rancho a deixou nauseada. Josie a fitou com uma expressão sábia. – Que tal um drinque chamado Analgésico? Morgan estremeceu.
– É tão óbvio assim? – Não para todos, certamente. Mas eu trabalho num bar e percebo as coisas. Além disso, também fui atropelada por um dos rapazes Chance. – Eis um bom jeito de se colocar. Atropelada. Josie suspirou. – Sinto muito. Vocês dois pareciam felizes ontem. – Sim, bem. – Morgan forçou um sorriso e deu de ombros. – O que vem fácil, vai fácil. E juro que não vim aqui para falar sobre isso. Vim conversar sobre fantasmas. – Legal! É claro que podemos fazer isso. Deixe-me preparar sua bebida. Você vai gostar: rum escuro, rum aromatizado com coco, suco de laranja e suco de abacaxi. Morgan assentiu em aprovação. – Rum para me ajudar a esquecer e vitamina C para me manter saudável para quando um cara novo surgir. Parece perfeito. – Alguma coisa para comer? Você precisa de energia, sabe. – Você falou como uma veterana das guerras Chance. Josie revirou os olhos. – E tenho as cicatrizes para provar que estive nelas. Que tal um cheeseburguer com batata frita? Uma comidinha que traz conforto faz maravilhas nessas horas. – Então eu provavelmente deveria pedir um milk-shake de chocolate para acompanhar. Josie sorriu e balançou a cabeça. – Descobri que o drinque Analgésico vai muito bem com o cheeseburguer e a batata frita. – Ela deu um tapinha no balcão, diante de Morgan. – Aguente firme, amiga. Estarei de volta rapidinho com a prescrição da dra. Josie. Amiga. Soava legal. Morgan tinha feito amigos na cidade, mas não o que poderia chamar de amigas, mulheres com quem pudesse sair, com quem pudesse dividir segredos e dicas de beleza. Isso levava tempo, e em uma cidade daquele tamanho as conexões praticamente eram formadas no ensino médio. Durante sua adolescência, Morgan não havia morado ali por tempo suficiente para dar tempo de ser aceita em um grupo. A demonstração de solidariedade feminina de Josie era mais do que bem-vinda. Morgan se perguntava se Josie teria um grupo de amigas, e, se não tivesse, se iria gostar de criar um com ela. Poucos minutos depois, Josie colocou na frente de Morgan uma bebida radiante, decorada com uma fatia de abacaxi. – Beba. Já pedi seu sanduíche para a cozinha. – Obrigada, Josie. – Se você me der licença por só um segundinho, tenho que pegar um refil para o casal ali no cantinho do balcão. De repente Morgan se perguntou se parecia patética e carente. – Ei, eu estou bem. Você tem trabalho a fazer. Não precisa bancar a babá comigo. – Pensei que você quisesse falar sobre fantasmas…? – Ah! Eu quero! – Ótimo. – Josie sorriu e mandou um “Eu voltarei” ao estilo Arnold Schwarzenegger no filme O exterminador do futuro antes de correr para repor as bebidas do casal.
Morgan bebeu um gole do Analgésico, cujo sabor combinava com o clima de uma piscina ou de uma praia. Essa visão era muito melhor do que qualquer coisa que pudesse emergir caso ela tivesse bebido o tal do Martini do rancheiro alegre. Não que Gabe não representasse uma alegria. Ele a fizera sorrir bastante… até o momento em resolvera que Morgan era um impedimento para sua carreira na apartação. Mas que droga, mesmo assim. Ela não havia pedido a ele para chegar cavalgando e salvá-la das xucrices de Geronimo. Na verdade, ela tentara dissuadi-lo da ideia de vir em seu socorro. Fora ele quem ficara atrás dela… até que de repente ele desistiu. Que Gabe e seu cavalo fossem para o inferno. Literalmente. Morgan estivera se saindo muito bem antes de Gabe aparecer e ficaria bem agora que ele estava prestes a ir embora para vencer mais campeonatos e enfiar seu cavalo na porcaria do Hall da Fama. Ela não queria mesmo o que ele estava oferecendo. Ele podia até fingir que não queria compromisso, mas era um membro do clã dos Chance, um homem com um legado a defender. Considerando a velocidade com que as coisas se desenvolveram entre eles, Morgan poderia acabar casada e grávida antes mesmo de perceber o que a atingira. Tinha sido uma boa se livrar de Gabe Chance. Uma. Boa. Se. Livrar. – Pronta para mais um? – Josie apareceu na frente de Morgan e apontou para o copo. Morgan olhou para baixo e ficou espantada ao descobrir que tinha bebido o Analgésico todinho. Ela também estava se sentindo muito bem. Se Gabe Chance aparecesse ali agora, ela lhe daria um fora. Ela encontrou o olhar interrogativo de Josie. – Claro! Por que não? Não estou dirigindo. E isto é uma comemoração. – Hein?! – Eu estou comemorando o fato de ter me livrado de uma boa. – Saquei. – Josie tomou o copo vazio e se pôs a preparar mais uma dose. – Deixe-me ver se seu sanduíche está vindo – disse ela, quando lhe entregou a segunda bebida. – Estou meio enrolada, mas a gente vai poder conversar sobre os fantasmas quando eu voltar. – Tudo bem. – Morgan desejava agora não ter permitido que Gabe a tivesse arrancado do bar tão depressa depois de ela ter visto a luz cintilante. Se soubesse que ele ia chutá-la, ela teria sido menos condescendente… em relação a um monte de coisas. – Aqui está seu sanduíche. Cuidado. O prato está quente. – Josie o colocou junto ao copo de Morgan, juntamente a um guardanapo e talheres. – Então você viu alguma coisa aqui na noite passada? – Acho que sim. – Morgan contou a ela sobre a luz fantasmagórica que parecera vir pela porta da frente e que depois parara junto à mesa de canto, ao lado do corredor que levava aos banheiros. Os olhos cinzentos de Josie se iluminavam conforme a história progredia. – Eu já vi essa mesma luz! O que aconteceu depois? O que Gabe disse? – Ele estava no banheiro e quando saiu… passou por ela sem perceber. – Mas então ele virou para trás e viu a tal luz, certo? Isso é maravilhoso. Ele não vai mais poder zombar dos meus fantasmas se ele de fato… – Essa é a parte frustrante. Eu disse a ele para virar-se e olhar, mas, quando ele o fez, a luz se foi. Josie encolheu os ombros. – Droga. Ele provavelmente acha que você estava de brincadeira. – Acho que não. Ele me arrastou para fora daqui num piscar de olhos. Acho que ele estava apavorado, embora tivesse ficado insistindo que aquilo era só efeito dos faróis de um carro entrando pelas janelas.
– Você está dizendo que ele ficou com medo? – Josie pareceu desconfiada. – O machão Gabe Chance? Morgan deu uma risadinha. – Eu acho que ele ficou apavorado. – Por alguma razão, ela achou aquilo engraçado. – Acho que, se ele tivesse realmente visto a luz cintilante, teria gritado feito uma menininha. – Fantástico. – Josie bateu um dedinho no queixo, pensativa. – Sempre pensei que os meninos Chance estivessem convencidos de eu inventava essa coisa de fantasmas para fazer uma jogada de marketing. Mas a verdade é que eles podem estar tensos com a possibilidade de ficar cara a cara com um. – Não posso falar pelos outros dois, mas estou convencida de que Gabe acredita que os fantasmas são reais. Ele não vai admitir isso nem para ele mesmo nem para qualquer outra pessoa, mas, se não acreditasse neles, não teria saído daqui tão depressa ontem à noite. – Jack costumava zombar também. Eu disse a ele que os fantasmas sempre estiveram aqui, provavelmente muito antes de eu comprar o lugar. – Você acha? – Faz sentido. Opa. Aí vem mais um pedido. E você precisa comer antes que isso aí esfrie. – Josie foi até o final do balcão e pegou um papel das mãos da garçonete. Morgan mordeu seu cheeseburguer, que estava ótimo. Ou o Analgésico tinha funcionado ou ela não estava tão arrasada por causa de Gabe, porque seu apetite estava em plena forma. E ela estava se divertindo no papo com Josie sobre as assombrações. Talvez as duas pudessem formar uma dupla de caça-fantasmas. Quando Josie voltou, Morgan tinha comido a maior parte do sanduíche e cerca de metade das batatas fritas. – Então você acha que os fantasmas estão aqui há anos? – Acho. – Com um pano úmido, Josie limpou o balcão, então se apoiou nele. – Aqui sempre foi o ponto de encontro da cidade durante muito, muito tempo. O prédio no qual estamos agora tem quase 100 anos, mas, pelas fotos antigas da cidade, concluí que havia outro bar neste terreno antes. – Você acha que as pessoas que o venderam para você sabiam sobre os fantasmas? – Morgan enfiou uma batata na boca. – Ah, sim. Mas você não revela a um comprador em potencial que o prédio que ele está prestes a adquirir é assombrado. Eles não tinham como adivinhar que isso teria tornado a transação ainda mais empolgante para mim. Morgan sorriu para ela. – Acho legal o fato de você não esquentar a cabeça com os fantasmas. Pena que Gabe não é assim. – Que pena. Ele provavelmente é parente de pelo menos uns dois deles que vêm aqui de madrugada. Quanto mais eu penso nisso, mais aposto ser esse o motivo pelo qual ele não deseja confrontar nenhum deles. Um fantasma sem nome é uma coisa, mas se é alguém que você conhecia… – E aí a coisa toda se transforma em uma versão de Um conto de Natal, de Charles Dickens. Dá para entender por que pode ser mais assustador, mas ainda acho que seria fascinante. Ah, bem. Gabe é quem está perdendo. Josie assentiu. – E isso vale em dobro quando se trata de você, amiga. Gabe realmente saiu perdendo.
– Agradeço. – Morgan sentiu-se acolhida e confortável outra vez. – Jack obviamente também não sabia o que tinha em mãos. – Não, com certeza não. – Josie se endireitou. – E, pelo jeito como ele vem agindo ultimamente, acho que também me livrei de uma boa. Morgan levantou a mão. – Toca aqui! – Poder feminino! – Josie bateu na mão de Morgan e sorriu. – Quem precisa dos rapazes Chance, afinal? – A gente não, isso é certo. – Morgan bebeu o restinho do Analgésico e pousou o copo no balcão com um baque sólido. Teve vontade de limpar a boca com as costas da mão, mas não o fez. E, se tivesse duas pistolas presas junto aos quadris, ela as teria rodopiado nas mãos antes de enfiá-las de volta nos coldres. Era bom Gabe Chance não aparecer à porta dela de novo, embora ela quase desejasse que ele o fizesse só para poder lhe dar um fora. E um fora era a única coisa que ela daria a ele a partir de agora. Isso era para lá de garantido.
Capítulo 13
DE ALGUM modo, todos sobreviveram à refeição, embora Gabe tivesse sentido muita dificuldade para comer por causa do nó de raiva em seu estômago. Já era ruim o suficiente ver Jack acusando-o de tentar vender parte do rancho sem enfiar o nome de Morgan no meio. Ela era completamente inocente, mas Jack estava determinado a transformá-la numa oportunista gananciosa. A conversa se concentrou principalmente na casa que Nick queria construir e na decisão sobre o melhor local para fazê-lo. Jack participou do debate com entusiasmo e não perdeu a chance de disparar um olhar de desdém para Gabe. A implicação era clara: enquanto Gabe estava tentando arrancar um pedaço da fazenda, seu irmão Nick estava planejado aumentar seu valor através da construção de uma casa para si e sua noiva. Depois da sobremesa e do café, momento que Gabe prolongou até não poder mais, Nick anunciou que ia levar Dominique para um passeio ao luar a fim de discutir os planos sobre a casa. Depois de pedirem licença, Pam manifestou interesse em ver como estava Calamity Sam, o potrinho de Calamity Jane, então Emmett se ofereceu para levá-la até o celeiro e apresentar-lhe o mais novo morador do rancho. Antes de Emmett deixar a mesa, ele se inclinou e cochichou algo para Sarah. Ela assentiu, antes de enfrentar Gabe e Jack do outro lado da mesa cheia de restos da refeição. – Emmett me disse para gritar se eu precisar de alguma ajuda com vocês dois, mas confio que não será necessário. – Ela empurrou a cadeira para trás e se levantou. – Quero os dois no escritório do papai agora. Quando Sarah seguiu pelo corredor, Gabe a acompanhou. Jack, obviamente, não querendo ser o retardatário, logo se pôs ao lado dele. Gabe o fitou furtivamente, mas seu irmão estava olhando para a frente, então ele apenas imitou seu gesto. A caminhada até o escritório teve um quê de uma caminhada final pelo corredor da morte. Gabe considerou a escolha do local uma jogada brilhante por parte de sua mãe. O escritório era relativamente pequeno e havia se tornado um santuário desde a morte de seu pai. Ninguém ousaria iniciar uma briga lá dentro. Por um lado, seria desrespeitoso. Por outro, havia muita chance de alguma coisa terminar quebrada, como a luminária verde antiga que Sarah havia garimpado para Jonathan muitos anos antes, ou a foto
emoldurada de todos os cinco na festança do 60ª aniversário de Jonathan Chance no Espíritos e Esporas. Era difícil acreditar que aquela festa tinha sido apenas quatro anos antes – antes de Jack se envolver com Josie, antes do fatídico dia do capotamento, antes de Nick descobrir que Sarah não era sua mãe biológica e que sua vizinha Pam era sua tia. Agora eles tinham perdido um membro da família e estavam prestes a acrescentar outro: Dominique. Gabe lamentava por Dominique ter estado lá para ouvir a discussão entre ele e Jack, mas ela provavelmente precisava ficar ciente de que nem tudo eram rosas no Última Chance nos últimos tempos. Ela precisava saber onde estava se metendo. Pelo que ele vira de Dominique, ela seria capaz de lidar com muitos percalços sem choramingar. Gabe não queria pensar em Morgan agora, mas ela surgiu em sua mente mesmo assim. Aquela mulher também não era chorona. E ele tinha descoberto isso ainda na época da escola, quando ela aceitara de bom grado o estilo de vida de seus pais. Não era fácil derrotá-la. Mudar-se para lá e para cá e abrir uma empresa exigiam coragem. Ele admirava isso. Sarah sentou-se na cadeira giratória de carvalho de Jonathan, posicionada atrás da mesa, e fez sinal para Gabe e Jack tomarem as duas cadeiras diante dela. Então cruzou as mãos sobre o tampo velho e arranhado do móvel que tinha pertencido a Archie Chance antes de ser herdado por Jonathan. Em seguida, avaliou cada um deles. – Quando o pai de vocês era vivo, ele gostava de pegar os brigões, levá-los para um curral vazio e largá-los lá. Estou tentada a fazer isso agora porque minha frustração com vocês dois é imensa. – Por mim tudo bem. – Jack começou a se levantar. – Não tão depressa, Jonathan. Gabe piscou. Ninguém nunca costumava chamar Jack pelo nome de batismo, mas, sim, aquele era o nome dele, muito embora ele tivesse um “Júnior” como último sobrenome. A mãe deles raramente fazia coisas sem motivo, portanto Gabe concluiu que ela mencionara o nome de propósito, para lembrar a Jack quem ele era. Jack sentou-se novamente. Sarah pigarreou. – Sempre considerei que uma troca de socos até tirar sangue nunca serviu para provar nada, exceto que um dos dois andou malhando mais que o outro. Pessoalmente, Jack, acho que você pode querer repensar essa coisa de desafiar seu irmão caçula. Ele cresceu muito desde a última vez que você lhe deu uns cascudos. Gabe começou a rir e pensou melhor. – O negócio é: o pai de vocês não está aqui – continuou ela. – E, embora eu sinta falta dele todos os dias, estou feliz por ele não estar presente esta noite. Se tivesse ouvido aquele tipo de gritaria de seus meninos à mesa do jantar, ele mesmo teria dado um jeito nos dois. – Você está certa – disse Jack. – Peço desculpas por isso. Gabe concordou. – Peço desculpas também. – Mas eu não vou retirar o que eu disse – acrescentou Jack. – Eu queria que você estivesse lá quando Gabe voltou do passeio com aquela corretora de imóveis. Eu queria que você tivesse ouvido em primeira mão o que ele disse. Gabe estava determinado a manter a calma, por amor a sua mãe. Ele virou-se para seu irmão.
– Jack, você está distorcendo a história para que pareça outra coisa. E é melhor você deixar Morgan fora disso ou… – Como posso deixar? Você apareceu com aquela exigência imediatamente depois de passar um tempo com ela. Ela obviamente sugeriu que… – Ela não sugeriu nada! Sarah bateu um peso de papel de metal na mesa. – Parem com isso, vocês dois. Gabe, conte-me o que você falou para Jack para deixá-lo assim tão irritado. – Eu disse que ia voltar para as competições de apartação no mês que vem, para poder dar a Top Drawer uma chance de entrar no Hall da Fama. Jack se recusou a pagar pelas inscrições. Eu disse então que a gente ia ter que envolver nosso advogado nisso porque um quarto deste rancho é meu e eu quero usar minha parte para pagar as taxas e despesas. – O que significa vender a área plantada! – berrou Jack. Sarah arqueou as sobrancelhas. – Será, Jack? Estamos vivendo tão apertados assim? – O problema não é a despesa imediata com as taxas de inscrição de Gabe, ou bancar as diárias dele por mais um mês. – Jack soltou um suspiro. – Mas não estou convencido de que ele esteja nos ajudando a vender cavalos, e isso significa que as competições são um dreno desnecessário. Sarah avaliou os dois antes de se concentrar em Gabe. – Morgan o incentivou a recobrar seu patrimônio de alguma forma? Ela tem intenções de ser a corretora do nosso terreno? – Não! A ideia foi totalmente minha. Não vejo como Jack pode me impedir de competir, sendo que possuo parte deste rancho. Só estou pedindo a minha parte para que eu possa dar continuidade ao que tenho feito há dez anos. Pessoalmente, acho que é uma grande propaganda para os cavalos do Última chance e vai ser ainda melhor se Top Drawer entrar no Hall da Fama. Mas, se Jack não me apoiar, vou ter que pensar numa alternativa. Jack apontou o dedo para Gabe. – Não finja que Morgan não pôs isso na sua cabeça. Você só está tentando protegê-la. Sarah suspirou. – Sabe, Jack, não importa se Morgan está envolvida ou não. Gabe tem o direito de liquidar sua parte do rancho, se ele quiser isso mesmo. Ou vendemos o suficiente para lhe dar o dinheiro, ou podemos comprar a parte dele. Seria assim que seu pai resolveria. Jack apertou as mãos sobre o colo. – E então, Sarah? Você vai entrar com sua parte do dinheiro para comprar a parte de Gabe? – Acho que sim. Posso tomar um empréstimo e usar minha parte do rancho como garantia. Jack virou-se para ele. – Você ouviu isso? Você está pedindo a sua mãe para se endividar e financiar suas necessidades egoístas. Como se sente? – Eu não estou pedindo para ninguém se endividar. – Gabe olhou altivamente para Jack. – Mas não vou desistir de uma habilidade que aperfeiçoei durante dez anos e negar esse remate a Top Drawer porque você está concentrado demais em orçamentos. Não era assim que papai administrava o… – Não se atreva a jogar isso na minha cara. – Jack fez menção de se levantar.
– Parem com isso, vocês dois! – Sarah se levantou. – Jack, eu deixei você cuidar dos livros contábeis desde que Jonathan morreu porque essa me parecia a vontade dele. Mas pretendo passar o dia de amanhã avaliando nossas finanças para ver se podemos custear as despesas e taxas de inscrição de Gabe. Gabe ficou de pé. – Obrigado, mãe. – Não me agradeça ainda. Posso acabar ficando do lado de Jack nisso tudo. E, se eu fizer isso, vamos ter de convocar uma reunião de família e pedir a Nick para opinar. Mas não vou permitir esse tipo de briga entre vocês. Jack também se levantou. – Tudo começou por causa daquela corretora de imóveis. – Ela não tem nada a ver com isso! Sarah cruzou os braços, um sinal certeiro de que era o fim da discussão. – Gabe, por favor, peça a Morgan para vir aqui amanhã. O nome dela foi citado a noite inteira e eu não tenho como saber a verdade até conversar diretamente com ela. Espero que ela possa vir. Gabe não tinha certeza se seria capaz de cumprir tal solicitação, mas ia fazer o possível. – Eu vou falar com ela. – E agora, se vocês me dão licença, vou preparar uma xícara de chá de hortelã e levá-la para o meu quarto, juntamente com um bom livro. Boa noite. – Ela sorriu para ambos e saiu do escritório. Gabe olhou para Jack. – Acho que por enquanto estamos resolvidos. – Ah, estamos longe disso. – Jack contraiu a mandíbula. – Só que eu amo aquela mulher e não vou lhe causar um estresse desnecessário socando a sua cara. – Se você a ama tanto assim, por que, em nome de Deus, não pode chamá-la de mãe? – Você não entenderia. – Experimente. – Se eu falar, você vai parar de me encher por causa desse assunto? – Sim. Sim, vou. Jack contraiu o rosto como se estivesse se preparando para levar um golpe. – Tudo bem, então. Quando eu era moleque, aprendi a dizer mamã e papá, como toda criança. Papá funcionou bem para mim, mas mamã, nem tanto. A pessoa que eu associava a essa palavra provou se importar tão pouco comigo que foi embora. Para você, a palavra é carregada de afagos carinhosos. Para mim, é o rótulo ideal para se colocar em alguém que não dá a mínima. Por que eu iria me referir a Sarah desse jeito? Aquilo teve o efeito de um longo discurso para Jack, e ele pareceu drenado por ele. Pousando o chapéu na cabeça, ele se virou e saiu do escritório. Então era isso. Gabe queria ir atrás dele e implorar para que confidenciasse tudo aquilo à mulher a quem ele se recusava a chamar de mãe. Mas Gabe tinha prometido não perturbar Jack sobre o assunto e ia honrar essa promessa. Ia ser uma tarefa difícil, no entanto. A explicação de Jack também tornava difícil para Gabe continuar furioso com seu irmão mais velho. Tendo Jack percebido ou não, ele havia acabado de admitir que tinha uma ferida aberta e nunca curada. Gabe nunca tinha enxergado Jack como um homem vulnerável. Aquilo colocava uma nova luz sobre as coisas.
POR VOLTA das nove e meia da noite, Morgan sentiu-se suficientemente leve para voltar para casa e enfrentar a realidade de que iria dormir na mesma cama onde ela e Gabe tinham brincado não há muito tempo. Ela já trocara os lençóis naquela manhã, na expectativa de haver mais brincadeiras naquela noite. Até mesmo acrescentara um vaso de flores silvestres no quarto, além de algumas velas perfumadas. Pegando seu isqueiro, ela acendeu as velas. Uma garota podia criar um clima mesmo quando o homem dos seus sonhos… quer dizer… o babaca que a havia chutado não estava presente. Uma garota também podia ouvir música. Ela ligou o som, o qual já estava preparado com um CD de música ambiente. O lamento de um sax e o baque de um piano jazzístico preencheram o quarto. Bem melhor. Flutuando com a música, ela foi dançando até a cômoda, tirou suas roupas no ritmo da batida e abriu uma gaveta. Lá estava, um negligé de seda preta comprado em Jackson no ano anterior e nunca usado. Ela o estava guardando para uma ocasião especial. Naquela manhã a dita ocasião dera sinais de que iria envolver Gabe, mas Morgan errara feio o placar. E daí? Ela ia usar a peça mesmo assim. Tirando-a da gaveta, ela levantou os braços e deslizou o tecido sobre a cabeça, dando um suspiro de prazer. Um rodopio na frente da porta do armário confirmou o que ela já havia comprovado no provador quando comprara aquele número. O decote profundo era feito para uma garota bem-dotada, e a saia curta tinha o poder de distrair um homem. Se Gabe de alguma forma pudesse saber sobre as possibilidades sedutoras que estava perdendo, ele ia se consumir de tristeza. Mas ele nunca saberia. O Analgésico receitado por Josie ainda cantarolava em sua corrente sanguínea, relaxando-a a tal ponto que Morgan contemplou desembalar seu vibrador e fazer uma festa sozinha. Afinal, ela ainda estaria de folga até a manhã seguinte. O feriado prolongado pelo Dia da Independência era o primeiro no qual Morgan folgava desde que chegara em Shoshone. Ela vinha trabalhando arduamente para impulsionar seu negócio. Havia vasculhado a cidade em busca de imóveis para anunciar e passara vários fins de semana mostrando casas. À noite, ela atualizava seu website e fazia cursos online para aprender a ser uma vendedora melhor. Ela se concentrara tão completamente na empresa que ainda tinha algumas caixas da mudança lacradas e entulhadas no armário do corredor, e seu vibrador estava em uma delas. Era hora de desenterrar aquele estimulador de alegrias, agora que Gabe Chance tinha sumido do mapa. Ela não precisava dele para se divertir. Naturalmente, o vibrador estava no fundo da última caixa que Morgan abriu. Quando finalmente o encontrou, ela havia bagunçado todo o corredor com CDs antigos, bichos de pelúcia que sobraram de sua infância, um cubo mágico, uma mola maluca, vasos de flores variados, alguns livros de bolso e um exemplar antigo de uma revista de nu masculino. Ela folheou a revista e descobriu que nenhum dos modelos a fazia tremer de luxúria do jeito como Gabe fazia. Claro, todos eles tinham um equipamento impressionante. Um homem não poderia estar numa revista daquela sem tal dote. Mas nenhum deles tinha o sorriso presunçoso de Gabe ou olhos azuis brilhantes capazes de fazê-la crepitar em dois segundos. Ah, droga. Jogando a revista de volta na caixa, Morgan pegou o vibrador e o ligou para certificar-se de que as pilhas ainda funcionavam. Ela ficou grata por saber que sim, porque duvidava que tivesse alguma pilha sobressalente na casa.
Normalmente, ela guardaria suas tralhas de volta nas caixas em vez de deixá-las espalhadas por todo o piso do corredor. Mas isso parecia uma tarefa chata considerando que ela estava segurando um vibrador funcionando e usando um negligé que dizia “transe comigo agora”. Quando ela se levantou para retornar ao quarto, a campainha tocou. Morgan fez uma pausa quando a intuição lhe golpeou. Ninguém na cidade a conhecia bem o suficiente para aparecer à sua porta às dez da noite. Mas fora dos limites da cidade havia uma pessoa que se achava capaz de fazer o que bem quisesse sem sofrer as consequências. Se era isso que ele pensava, estava muito enganado, e logo mudaria de opinião. Vibrador na mão, Morgan caminhou até a porta e verificou o olho-mágico só para ter certeza de que seu palpite estava correto. Estava. Ela abriu a porta e ficou ali, o quadril inclinado enquanto ela batia o vibrador contra a coxa nua. Mudo, Gabe a encarou. Inspirando fundo, ele abriu a boca. Então a fechou novamente. Duas doses do drinque Analgésico tinham sido o suficiente para despertar a engraçadinha em Morgan. – Olá, Gabriel. Procurando alguém para tocar o seu berrante?
Capítulo 14
GABE NÃO tinha certeza do que esperava encontrar quando Morgan abrisse a porta, mas certamente não era aquilo. Mas que diabo, ela estava… ele não conseguia nem mesmo encontrar uma palavra para lhe fazer justiça. Mas, se tinha uma coisa que ela não estava, no entanto, era feliz em vê-lo. Por um momento louco ele se perguntou se ela já estava com outra pessoa, mas o vibrador, um pedaço de plástico cor de pele com o diâmetro e o comprimento de um pênis, contava uma história diferente. Gabe não tinha muita experiência nessas coisas, mas sempre achara que as mulheres usavam vibradores como um paliativo entre um sujeito e outro. Ele nunca tinha imaginado uma mulher fazendo uma grande produção para usar um, com direito a uma camisola curta, música e velas perfumadas, cujo cheiro ele podia sentir dali, embora não tivesse entrado ainda. Naturalmente, ao vê-la daquele jeito, Gabe ficou excitado de uma forma inacreditável. Ele imaginava que ela ainda não tinha começado sua noite de autoestimulação, mas só de saber o que Morgan tinha em mente o fator luxúria quadruplicava. Gabe tinha dito a si que seria uma visita breve para entregar o recado de sua mãe, e depois ele iria embora rapidinho. Ele tinha dito a si que, apesar de estar relativamente tarde, precisava relatar os últimos acontecimentos e explicar por que Sarah queria vê-la. Sim, ele poderia ter telefonado, mas não tinha certeza se Morgan teria atendido. Mesmo que atendesse, seria complicado convencê-la a ir ao rancho no dia seguinte apenas com uma conversa telefônica. Uma visita pessoal lhe parecera ser a única resposta. Mas tudo o que ele dissera a si sobre a ida à cidade, cada racionalização para estar ali, tinha sido uma mentira deslavada. Ele tinha ido até a casa de Morgan porque queria vê-la. Não, isso não era verdade. Ele aparecera em sua porta porque desejava tudo o que aquela mulher tinha para oferecer, especialmente no sentido sexual, mas emocionalmente também. Sabendo o quão fraco era quando se tratava de Morgan, Gabe não tinha nada que estar ali e deveria ir embora de pronto. Mas daí, novamente, ele talvez nem precisasse se preocupar em se comprometer indo para a cama com ela. A julgar pelo modo como Morgan o encarava, ela não ia permitir que isso acontecesse nem nos próximos milhões de anos.
Ela parecia prestes a espancá-lo com o vibrador. Obviamente estava chateada, e Gabe compreendia. Mas, pelo visto, não fazia diferença alguma para ele ser recebido de braços abertos ou não. Sorrindo ou franzindo a testa, ela era a mulher mais deliciosa que ele já tinha conhecido, e ele a desejava loucamente. Ela continuou batendo o vibrador na coxa. – É melhor você dizer o que quer, cowboy, antes que um vizinho apareça e tenha a impressão errada. – Eu preciso falar com você. – Ele inclinou a aba do chapéu para cima usando o polegar. – E então… Posso entrar? – Depende. – Tap, tap, tap, fazia o vibrador. – Quanto tempo você vai levar para dizer o que precisa? – Não muito, mas, conforme você apontou, com você assim desse jeito e eu de pé à sua porta, parece que estamos negociando um preço. – Tudo bem. – Ela deu um passo para trás e usou o vibrador do mesmo jeito que um lanterninha usava sua lanterna, apontando o caminho para Gabe. Daí fechou a porta e olhou para ele. Bateu o vibrador na coxa mais uma vez. – Muito bem, fale. – Você poderia baixar essa porcaria? Está me deixando tenso. Em vez de obedecer, Morgan ligou o aparelhinho. – Ah, desculpe – disse ela com ironia. Ela avançou para ele, o vibrador zumbindo, em riste como um punhal. – Eu odiaria deixá-lo tenso. – Ela cutucou o peito dele com aquela coisa. O breve contato fez o corpo de Gabe formigar, e não foi uma sensação ruim, e meio que o fez unir os lábios trêmulos. Ele teve uma visão instantânea de Morgan deslizando o aparelho entre as pernas, e ficou duro como uma rocha. E, por falar em lábios trêmulos, os de Morgan estavam brilhando porque ela havia acabado de lambêlos lenta e muito deliberadamente enquanto o encarava. Ela o estava seduzindo de propósito. Gabe pigarreou. – Pare com isso, Morgan. – Parar com o quê? De ser eu mesma? – Ela voltou a cutucá-lo no peito com o vibrador ainda ligado. – Você pode muito bem admitir a verdade. Eu sou muito mulher para você. Você não aguenta. – Ela mirou o vibrador mais para baixo. Gabe agarrou a ponta do aparelho antes que ele atingisse seu alvo óbvio: a braguilha de sua calça jeans. A vibração do aparelho de plástico enviou sensações de formigamento pelo braço dele. – Pare de brincar. – Mas é para isso que ele serve, Gabe. – Morgan se agarrou ao vibrador com firmeza. – Você precisa ir agora para que eu possa voltar ao quarto e começar minha brincadeira. – Ela o fitou nos olhos. – E eu vou ter tantos orgasmos… quanto… eu… quiser. Ele podia jurar que o vibrador estava lhe causando um curto-circuito no cérebro, porque não conseguia pensar de jeito nenhum. Ou talvez fosse culpa da ausência de sangue circulando o que o fez paralisar. Ouvir Morgan falar sobre orgasmos era como colocar uma pressão sobre suas partes íntimas, uma pressão diferente de tudo que ele já tinha sentido. A voz dela baixou para um ronronar. – Ou talvez você não queira ir embora. Talvez você queira ficar e assistir. Com um gemido de rendição, Gabe soltou o vibrador e a tomou nos braços. Seu último pensamento racional antes de a boca se grudar à dela foi que ele só iria embora caso ela resistisse.
Mas ela não resistiu. Em vez disso, ela retribuiu o beijo com a mesma qualidade desesperada que rugia dentro dele. Durante alguns segundos, a mão dela, ainda agarrada ao vibrador, pousou entre eles. A pulsação abafada levou os nervos de Gabe à loucura. Mantendo aquela conexão boca a boca essencial, Gabe abraçou Morgan, e o vibrador, ainda ligado, caiu no tapete. O chapéu de Gabe também caiu em algum lugar entre a sala de estar e o quarto, e ele não deu a mínima. Tudo que importava era manter a boca soldada à de Morgan até o fim, porque ele não queria conversar. Conversar só serviria confundir as coisas. E a questão era simples: seu pênis, e não uma porcaria de plástico vibrante, deveria penetrá-la profundamente e fazê-la chegar ao clímax. Assim que deitou Morgan na cama, Gabe a acompanhou, a língua acariciando as reentrâncias da boca com sabor de fruta. Ele conhecia bem aquele gosto. Morgan havia bebido pelo menos um, talvez mais de um, dos famosos Analgésicos de Josie. Não era surpresa que Morgan estivesse usando vibradores e vestindo seda preta… e desafivelando o cinto e desabotoando a calça dele. Cooperação era uma coisa linda. Gabe estendeu a mão para o pacote de preservativos e esperava que ele não tivesse sido retirado da mesinha de cabeceira desde a noite anterior. Ainda estava lá, no entanto Gabe espalhou todo seu conteúdo pelo quarto na tentativa de abri-lo. Não importava. Ele pegou uma única camisinha lacrada, e isso era tudo de que precisava para completar a missão. Gabe colocou a embalagem nas mãos ocupadas de Morgan enquanto continuava a demonstrar com a língua o que tinha em mente, uma vez que ela o deixasse no ponto. Ela não perdeu tempo, o que era bom, porque não havia um segundo a perder. Ele a desejava com uma certeza fervorosa e inédita. E não se importava se a casa pegasse fogo ou fosse invadida por uma enchente. Ele a possuiria, e o faria agora. Uma vez que sentiu o contato bem-vindo do látex em seu membro latejante, Gabe afastou qualquer pedaço de seda preta de seu caminho e, com o coração batendo como uma britadeira, possuiu Morgan com uma investida certeira. Tudo bem. Aquilo era o que importava na vida. Girando a língua dentro da boca de Morgan, ele começou a penetrá-la. Ela reagiu erguendo o quadril para encontrá-lo. Estando o jeans na altura dos joelhos, o cinto de Gabe tilintava toda vez que eles se encontravam. O ruído se misturava ao deslizar líquido dos corpos em uma cadência cada vez mais veloz. Um som ritmado brotou da garganta de Gabe e acompanhou os ruídos da penetração, conforme ele investia e Morgan reagia. Ainda assim ele manteve a boca colada à dela, a língua dele imitando o movimento de seus quadris. Ela cravou os dedos nas nádegas dele. Daí gemeu e mordeu o lábio inferior ao mesmo tempo que empurrou a pélvis contra a dele. Gabe sentiu a primeira contração apertando seu pênis e acelerou, aumentando o atrito prestes a incendiá-lo. Morgan ergueu mais os lábios, arqueando de encontro a ele enquanto oferecia tudo que tinha e chegava ao ápice, seu gritinho agudo abafado contra a boca exigente de Gabe. O orgasmo o atingiu com a força de um touro de carga, deixando-o sem ar. Por fim, ele desgrudou a boca da de Morgan. Com um som metade suspiro, metade gemido, ele estremeceu no rescaldo da paixão que nem mesmo sabia existir. Atordoado e humilhado pelo poder de seu desejo por ela, ele mirou em seus olhos. – Eu não consigo ficar sem você… Eu achei que conseguisse, mas não consigo.
Ela estendeu a mão e segurou o rosto dele, o olhar confuso. – Então eu faço tão mal para você quanto você disse que eu fazia. – Não. Você é do que eu preciso. – Ele se inclinou e roçou os lábios nos dela enquanto penetrava mais fundo. – É disto que eu preciso. – Você não está pensando direito agora. Admito que fiquei com raiva quando você me deu o fora hoje, mas não quero ser o motivo da sua desistência das competições. – Por que não? Quer melhor motivo do que esse? – Ele lhe deu beijos no rosto, nos olhos, no cabelo. – Hoje à noite fiquei vendo Nick com Dominique, e quer saber? Senti inveja dos planos deles. Eles estão escolhendo um local para construir uma casa. Ainda não falaram no assunto, mas tenho certeza de que vão ter filhos. – Que bom para eles. – A voz de Morgan saiu sem emoção. – Seria bom para a gente. Você daria uma ótima mãe. – Não, Gabe! – Ela lutou para sair de debaixo dele. – Solte-me. – Qual é o problema? – Ele rolou para longe e Morgan saiu da cama aos trancos. – Você não quer ter filhos? – Não agora! Não num futuro próximo! – Ela abarcou os seios cobertos pelo negligé de seda. – Como mencionei esta tarde, quando sua mãe estava bancando o cupido, eu não sou a Mãe Natureza, que mal pode esperar para ficar grávida e amamentar bebês. – Bem, com certeza você disse isso, mas pensei que só estivesse dizendo que não queria filhos imediatamente. Eu não estou falando de nada em curto prazo. – Eu não sei se vou querer filhos um dia. Fui a mais velha de sete filhos, o que significa que ajudei a criar todos eles. Eu não estou ansiosa para trocar fraldas. E, se eu não sou louca por bebês, então por que me casar? O cérebro de Gabe estava girando. – Bem, eis uma bela mudança. Pensei que fosse eu que estivesse evitando o compromisso. – Não imaginei que precisasse ser específica sobre meus sentimentos. – Ela atravessou o quarto. – Até que você apareceu esta noite e começou a falar sobre bebês. Isso me dá arrepios na espinha, Gabe. – Então, o que você quer? Pensei que você quisesse criar raízes. – E é o que estou fazendo! Eu comprei esta casa. E estou me fixando nesta comunidade construindo uma empresa. Pretendo ficar aqui por muito, muito tempo, talvez pelo restante da minha vida. Isso não significa que eu queira me casar ou me reproduzir. – Isso é … Quero dizer, a maioria das mulheres quer… – Eu não sei sobre a maioria das mulheres, Gabe. Só sei de mim. – Sim, mas quando você se mostrou tão ansiosa para ir para a cama comigo agora há pouco, eu pensei que… – Que eu queria casamento e bebês? Eu fui para a cama com você porque era empolgante saber que você não conseguia resistir a mim. Meu pobre ego estava machucado quando você me mandou embora esta tarde, e agora me sinto muito melhor. – Estou vendo. Ainda bem que pude ajudar. – Cara, aquilo era deprimente para diabo. – Gabe, eu também adoro fazer sexo com você. Ele olhou para cima e a flagrou sorrindo. Era um consolo. Morgan não queria se casar com ele, mas pelo menos gostava do sexo. – Eu também adoro fazer sexo com você, mas…
– Mas o quê? Ele a avaliou. – Não tenho certeza. Sexo bom sempre foi o suficiente para mim. – Ele respirou fundo. – Deixe-me me ajeitar um pouco antes de continuar. Não estou lá essas coisas amarrado feito um porco com as minhas próprias roupas. – Ele apontou para a calça jeans na altura do joelho. E ainda estava de botas, pelo amor de Deus. – Claro. Fique à vontade. Vou desligar o vibrador. – Ela saiu do quarto. Gabe esperou até Morgan sair antes de se dirigir ao banheiro. Uma vez lá, ele se inclinou contra a pia e olhou para o espelho. Qual diabos era o problema dele? Em essência, ele havia pedido Morgan em casamento. E ela recusara. Para todos os efeitos, ele nunca tinha pedido uma mulher em casamento, com exceção de Cheryl Danbury, na segunda série. Será que ele realmente queria se casar com Morgan? Temia que quisesse, o que não fazia sentido lógico, mas aquilo ressoava dentro dele como o passo certo. Já como a coisa seria compatível com sua campanha para voltar às competições e levar Top Drawer ao Hall da Fama, isso não estava claro no momento. Mas uma coisa estava clara: Gabe não conseguia pensar em nada quando estava com Morgan. Uma fungada naquele perfume especial, um olhar para aqueles olhos azul-esverdeados, um vislumbre das curvas exuberantes, e ele começava a almejá-la da maneira mais básica. Talvez fosse daí que tivesse surgido a coisa de casamento e bebês. Ela incitava sua necessidade de acasalar. Nenhuma mulher tinha feito isso até então, e ele não sabia como lidar com a situação. Precisava de distância e perspectiva, especialmente porque ela não parecia compartilhar de seu instinto de acasalamento. Enfiando a camisa e fechando o zíper das calças, Gabe afivelou o cinto e saiu para a sala de estar. Morgan estava sentada em uma poltrona de couro marrom, usando a camisola preta que exibia seus seios espetaculares de forma tão adorável. Ela estava usando o chapéu dele. E ele queria possuí-la novamente. Queria possuí-la naquela poltrona. Ele se sentaria no lugar dela e Morgan montaria nele, com as pernas enganchadas nos braços da poltrona e a camisola arregaçada até a cintura. Ela estaria usando o chapéu dele e berrando seu nome enquanto movimentava os quadris para cima e para baixo, para cima e para baixo. – O que é isso? – perguntou ela, em voz baixa. – Você. – Ele engoliu em seco. – Eu nunca… – Ele massageou a própria nuca e desejou que sua ereção fosse embora. – Eu nunca quis uma mulher… tanto assim. – Sinto-me lisonjeada. – E eu estou completamente desorientado. Mas o sujeito do bode ligou enquanto eu estava no jantar com a minha família. – Gabe percebeu que ele ainda não tinha dado o recado da mãe. Falando em cérebro congelado… – O bode para Doozie? – Isso. Vou viajar amanhã cedinho para o Colorado para buscá-lo. Vou passar uns dias fora. Acho que um pouco de tempo longe vai fazer bem para nós agora. Morgan assentiu. – Também acho. – Mas preciso lhe pedir um grande favor nesse meio-tempo. – Hein?
Ele notou que ela não concordou imediatamente com o que quer que fosse. Morgan estava conseguindo manter a calma, bem mais do que Gabe podia dizer sobre si. – Minha mãe queria saber se você estaria disposta a ir até o rancho amanhã para conversar com ela. No horário que for melhor para você. – Por quê? Respirando fundo, Gabe a deixou a par do que tinha acontecido quando ele dissera a Jack que ia retornar às arenas. – Jack tem certeza de que você me influenciou para exigir minha parte do rancho. Os olhos dela crepitaram de indignação. – Isso é tão injusto, principalmente quando eu já falei tantas vezes que acho que as suas necessidades ligadas ao rancho não devem mudar. Você não está falando sério sobre essa coisa de vender uma parte das terras, não é? – Claro que não. – No entanto, no calor de sua discussão com Jack, Gabe pensara no assunto. Havia uma área cultivada que eles não usavam para muita coisa. Mas dizer isso a Morgan seria o equivalente a cometer blasfêmia, por isso ele não o fez. – Bem, isso é bom. Eu odiaria ver seus pedaços desmembrados e distribuídos. – Opinião esquisita para uma corretora de imóveis. Ela empinou o queixo. – Talvez você tenha saído com as corretoras erradas. Nós não estamos todos sempre prontos para estuprar uma terra. Alguns de nós acreditamos no trabalho com habitações já existentes sempre que possível. – Esse seria um bom argumento para usar com minha mãe. Ela realmente quer ouvir o seu lado. – Será que vai acreditar em mim? – Acho que vai. Mas não posso falar por Jack. Ele segue o próprio conjunto de regras. Morgan assentiu. – Foi isso que Josie disse. Gabe sentiu um mal-estar ao pensar em Morgan e Josie comparando impressões sobre os irmãos Chance. – Eu não sou como Jack. Morgan olhou para ele, sem responder, mas Gabe podia notar as engrenagens se movimentando naquele cérebro fértil dela. – Não sou! Ele vai aos extremos com as coisas, tipo deixar de se encontrar com Josie só porque estava na cama com ela quando meu pai morreu. E agora ele está se matando de trabalhar e guardando cada moedinha, e esse é o exato oposto de quem ele era antes. Jack não consegue fazer nada com moderação. Morgan se levantou e tirou o chapéu. – Já você, por outro lado, faz tudo com moderação. – Bem, sim. Bastante. Na maior parte do tempo. – Nas competições, por exemplo? – Esse não é um bom exemplo. Você precisa ousar se quiser chegar a algum lugar no circuito de apartação. Não dá para competir com uma postura meia-boca. – Ou, como você colocou esta manhã, você come, dorme e sonha em função das competições. Gabe passou a mão pelo cabelo.
– Olha, eu sei aonde você está indo com esse raciocínio, mas eu não sou como Jack. Ele difama o significado de obstinação. – Tudo bem. – Ela lhe estendeu o chapéu. Gabe o aceitou e colocou na cabeça. – Quero dizer, talvez eu tenha exagerado um pouco a seu respeito, mas isso também é compreensível. – É? – Claro. Você é tudo que eu sempre imaginei, e isso chega a me assustar. Você é como um bufê do tipo “coma à vontade” só com as minhas comidas prediletas. Isso a fez sorrir. – Acho que isso também descreve como eu me sinto em relação a você. – É? – Ele gostou de saber daquilo. – Hum. Você é um verdadeiro banquete, Gabriel Archibald Chance. Um banquete sem fim. – Morgan estava exibindo aquele olhar, aquele que fazia Gabe se esquecer de tudo, exceto de levá-la de volta para a cama. Ele empurrou a aba do chapéu para trás. – Sabe, Morgan, nem está tão tarde assim. A gente podia voltar à mesa do bufê outra vez e encher nossos pratos. – Não. – Não? Mas você acabou de dizer que… – Eu sei o que acabei de dizer. – Ela encarou os olhos dele. – Você pode não ser como Jack, mas eu sou. E esta noite eu vou praticar a moderação, mesmo que isso me mate. Vá para casa, Gabe.
Capítulo 15
MANDAR GABE para casa foi uma das coisas mais difíceis que Morgan já tinha feito há algum tempo. Dirigir para ver Sarah Chance na manhã seguinte vinha logo em seguida. Morgan não era culpada do oportunismo grosseiro do qual Jack a acusava, mas era culpada de recusar a proposta de casamento de Gabe, ou aquele gesto que se fizera passar por uma. Durante todo o trajeto pela estrada de terra, ela tentou se convencer de que a proposta de Gabe não tinha sido genuína. Ele só dissera que eles poderiam ter filhos e que ela seria uma ótima mãe. Isso não era o mesmo que prometer seu amor eterno e implorar por sua mão. Pensando bem, a palavra amor não tinha feito parte da discussão. Gabe havia sido honesto sobre seu caso incansável de luxúria, mas a tal palavrinha com A jamais fora mencionada. Fora Sarah quem tinha dito que queria que Gabe encontrasse alguém a quem ele fosse capaz de amar apaixonadamente e que correspondesse com paixão equivalente. Tudo bem, então. Morgan não precisava sentir como se tivesse esmagado o sonho de Sarah de tê-la como a mais nova candidata a nora. Sarah não gostaria que quaisquer planos de casamento viessem desprovidos de baldes de amor. Gabe não a amava e Morgan não o amava. Ela não poderia amá-lo. Isso seria totalmente ilógico, contra as leis da natureza. Eles se viram durante seis meses na escola e só tinham voltado a ter contato dois dias atrás. O amor exigia mais tempo do que isso para se desenvolver. Todo mundo sabia disso. Mas… ela não podia negar que tivera uma quedinha daquelas por Gabe na época do colégio, ou que pensara nele muitas vezes desde então. Ela não tinha se mudado para Jackson Hole especificamente por causa de Gabe Chance, mas, uma vez que chegara à cidade, ela correra para verificar o estado civil dele. Desde que viera para Shoshone, Morgan tivera esperanças de vê-lo. Ela desistira depois de descobrir que ele passava seus verões fora da cidade participando de competições de apartação. Mas, se fosse ser totalmente honesta consigo, admitiria que ficara sabendo que ele sempre retornava no final de junho, e que ficara esperando que eles trombassem durante os eventos do Dia da Independência. Se existisse o conceito da pessoa prestes a se apaixonar, então Morgan se encaixava nessa categoria. E Gabe tinha se provado nobre, engraçado, dotado de espírito esportivo, um ótimo dançarino e um amante explosivo. Toda vez que ele surgia em sua mente, coisa que, vergonhosamente, acontecia muitas vezes, o coração de Morgan vibrava. Toda vez que eles se encontravam, o coração dela
disparava. E, quando estavam juntos, nus, seus batimentos cardíacos ultrapassavam os índices aceitáveis. Ai, que inferno. Ela estava apaixonada por ele. Como isso acontecera? E como ela ia conseguir evitar que os outros descobrissem, especialmente Sarah, mas principalmente o próprio Gabe? O quão constrangedor seria se Gabe descobrisse que ela estava apaixonada por ele, quando tudo o que ele sentia era apenas luxúria? O quão patética ela ia se sentir? Bem, ele não ia descobrir. Quando tinha 8 anos, Morgan aperfeiçoara a arte de fingir que não se importava. Quando seus pais a arrancavam várias vezes de um lugar exatamente depois de ela começar a sentir-se à vontade nele, Morgan aprendera a agir como se isso não fizesse diferença. Ela usaria tal habilidade para proteger seu segredo. O Última Chance era um lugar lindo, e, uma vez que essa poderia ser sua visita derradeira ao local, Morgan se demorou admirando a casa durante sua aproximação. A rotatória de cascalho diante da casa criava uma ilha de vegetação ancorada por dois pinheiros azuis. Seus galhos aveludados mergulhavam graciosamente, como se indicando a porta maciça na entrada. A julgar pela altura das árvores, que eram mais altas do que a casa, Morgan imaginava que os avós de Gabe as haviam plantado. Aquela casa tinha sido construída para acolher casais apaixonados. Não era à toa que Sarah desejava isso para todos os seus filhos. Falando em Sarah, ela estava sentada em uma cadeira de balanço na varanda, acompanhada de uma mulher mais ou menos da mesma idade dela. Embora Sarah tivesse escolhido deixar seu cabelo sedoso no tom branco natural, a outra mulher tinha optado pelo louro dourado. Ambas estavam vestidas com jeans e camisas quadriculadas. Morgan ficou surpresa ao ver alguém lá. Ela esperava que Sarah fosse querer manter aquela conversa confidencial. Se Morgan tivesse de adivinhar, diria que a loira curvilínea era Pam Mulholland, do Beliche e Boia. Quando Morgan saiu do carro, as duas se levantaram e caminharam em direção aos degraus da frente. Sarah sorriu como se estivesse cumprimentando uma velha amiga. – Ei, Morgan! Pam veio verificar nosso suprimento de ovos e pedi a ela para ficar e conhecê-la, já que o encontro da noite passada não deu certo. – Eu sou a moça que fornece os ovos – disse Pam. – Eu sempre quis ter um galinheiro, e agora, com o Beliche e Boia, eu posso. – E ela concordou gentilmente em vender seu excedente para nós. Você trouxe cartões de visita, Morgan? – Eu… hum, claro. Tenho alguns aqui. – Morgan nunca saía de casa sem seu porta-cartões, mas ela não achara que precisaria dele nessa manhã. Pescou-o na bolsa enquanto subia os degraus da varanda. – Acho que uma apresentação formal é dispensável – falou Sarah. – Diga-me, Pam, você notou algum chifre brotando da cabeça de Morgan? Morgan piscou. Aparentemente, elas estavam indo direto ao ponto. Pam não pareceu menos surpresa pelo comentário direto de Sarah. – Chifres, não. Mas é um belo tom de cabelo ruivo, Morgan. Presumo que tenha vindo do lado irlandês dos O’Connelli. – Meu visual é herança dos parentes do lado do meu pai, os O’Conner, e minha personalidade tem mais a ver com o lado Spinelli. – Ela entregou a Pam todos os cartões que carregava e entrou no modo profissional: – Obrigada por pegar meus cartões e por me recomendar. Você gosta de vinho?
– Sou uma grande fã de chardonnay. Por quê? – Se indicar alguém e essa pessoa me procurar, eu gostaria de demonstrar minha gratidão. Pam assentiu. – Parece-me uma ótima negociação. – Ela olhou atentamente para Morgan. – Presumo então que Jack esteja pensando que você é um tubarão imobiliário tentando vender o rancho? Sarah revirou os olhos. – Acho que é isso que Jack pensa – disse Morgan. – Mas eu não… – Ah, todos nós sabemos disso – retrucou Sarah. – Gabe é um bom julgador de caráter, além disso, ontem, antes de você vir, liguei para todos os meus amigos na cidade para descobrir o que eles sabiam a seu respeito. Todos foram extremamente corteses e asseguraram que você não era uma empresária gananciosa. – Bom saber. Sarah assentiu. – Fiquei aliviada, para dizer o mínimo. De qualquer forma, tive de convocar esta reunião para convencer Jack de que coloquei o devido empenho na questão. – Então você não está preocupada com a minha influência sobre Gabe? – Minha única preocupação é se você e Gabe vão descobrir que estão loucamente apaixonados um pelo outro, ou se você vai vacilar e estragar tudo. Morgan prendeu a respiração, mas daí assumiu uma postura indiferente, como se fosse uma armadura. – Meu Deus, não tem jeito de estarmos apaixonados. Só saímos por dois dias. – Às vezes, isso é o suficiente. Você não estava lá ontem à noite para ouvir como Gabe defendeu-a quando Jack quis massacrá-la. – Agradeço a postura dele. – Certamente aquilo dava a Morgan uma sensação de acolhimento, mas ela não se atreveria a lhe dar demasiada importância. Jack iria discordar de Gabe de qualquer maneira. – Eu me apaixonei por Jonathan depois de três dias de namoro intenso – continuou Sarah. – E você não pode negar que há certa… intensidade entre vocês dois. – Ela sorriu conscientemente. Pam suspirou. – Eu queira poder pegar um pouquinho disso emprestado e polvilhar em cima de Emmett. Se eu não fosse tão louca por ele, daria com uma tora naquela cabeça. Mas isso é outro assunto. – Podemos falar sobre isso também. – Sarah apontou a cadeira de balanço vazia ao seu lado. – Venha sentar-se conosco e apreciar a vista, Morgan. Vamos fofocar sobre homens. – Pensei que você quisesse ouvir sobre a minha filosofia na venda de imóveis. Gabe disse que… – Tenho certeza de que ele deu indicações sobre o assunto a ser discutido para causar uma boa impressão, mas na verdade só precisei ver sua reação diante das fotos de bebê dele ontem. Morgan corou. – Tenho certeza de que qualquer pessoa teria achado as fotos bonitas. – Talvez, mas você se demorou nelas. E observei seu rosto. Sou mãe. Conheço essas coisas. Você está apaixonada por ele. Sentindo-se desorientada, Morgan só conseguiu dizer um “entendi” bem baixinho. – De qualquer forma – continuou Sarah –, pedi a Mary Lou para trazer café e seus famosos bolinhos doces. Podemos não ser capazes de resolver todos os problemas relacionados ao sexo masculino por
aqui, mas, se nós quatro botarmos nossas cabeças para funcionar, juntas podemos descobrir o que diabos fazer a respeito da nossa maior criança problema, ou seja, Jack. Enquanto Morgan lutava para recuperar a compostura, Mary Lou chegava com uma garrafa de café e seus bolinhos caseiros. Ganhando energia com a comida e a bebida, as mulheres passaram a dissecar o comportamento de Jack ao longo dos últimos nove meses, desde a morte de seu pai. Todas concordavam que ele precisava abandonar a culpa e voltar a se juntar à raça humana. Morgan perdeu a vergonha rapidamente entre aquelas mulheres sábias e amigáveis. Fazia séculos que ela não ria tanto. Pela primeira vez desde que se mudara para Shoshone, ela realmente sentia-se parte da vida ali. Todo mundo tinha sido muito gentil, mas aquelas três mulheres a acolheram de uma forma que ela nunca havia experimentado. Ela sabia o motivo também. Sarah havia lhe dado o selo Chance de aprovação. Tinha concluído que Morgan e seu filho estavam apaixonados e que era só uma questão de tempo antes de perceberem isso e se casar. Morgan via um milhão de armadilhas naquele cenário, mas não ia estragar o clima daquela bela manhã. Pam se voltou para Sarah e perguntou: – Será que Nick e Dominique conseguirão escolher um terreno para a casa antes de ela viajar? – Eles estão cogitando fazer no local onde se conheceram. É um prado rochoso, mas eles poderiam usar as pedras para construir uma bela lareira. Também é longe o suficiente para lhes garantir privacidade. – E perto o suficiente para a gente ir visitar e mimar os netos – disse Mary Lou. – Sim. – A expressão de Sarah ficou sonhadora. – Nick vai ser um ótimo pai. O mesmo acontecerá com todos os meninos, na verdade. Mesmo nosso Jack ranzinza, uma vez que ele encontrar a mulher certa. Morgan teria adorado jogar o nome de Josie na conversa. Ela imaginava que Josie tivesse pulso para lidar com um sujeito como Jack. Mas não seria adequado lançar uma granada no meio daquele grupo acolhedor. Além disso, o assunto “crianças” era sensível para ela. Gostando ou não, qualquer outro tipo de relacionamento com Gabe era problemático. Claro, o interesse sexual dele poderia desabrochar para o amor em algum momento. Mas seria tolice ter esperanças porque, mais cedo ou mais tarde, a questão das crianças ia se tornar um ponto de discórdia. Gabe ia querer filhos. E Sarah ia ansiar por netos. Mas Morgan apenas… não sentia qualquer entusiasmo pelo projeto. E principalmente não era fã da ideia de ter filhos enquanto o pai deles viajava para eventos de apartação. Ela não queria ser a chata que ficava insistindo para o marido ficar em casa, mas também não gostaria de ser o burro de carga deixado para trás. Era melhor terminar sua relação com Gabe e ter esperanças de manter a amizade com Sarah, uma mulher de quem ela realmente gostava. Se Morgan planejava permanecer em Shoshone, ela não deveria se envolver com Gabe, a menos que estivesse preparada para ir até o fim, incluindo a parte dos bebês. Ela não estava disposta a fazer tal sacrifício. Mas ela preferia não ser o portador das más notícias. Gabe poderia dizer a sua mãe que Morgan era uma ótima pessoa, mas que eles não estavam destinados a ficar juntos. Sarah iria encarar melhor se a notícia viesse do filho, e talvez Morgan pudesse estabelecer um relacionamento com Sarah do mesmo jeito que sempre fizera com as mães de outros sujeitos com quem não chegara a se casar. Talvez essa tática funcionasse.
E, se a ideia de desistir de um homem por quem ela viera a se apaixonar ferisse seu coração, ela superaria isso. Ela cresceria e desabrocharia nessa cidade que havia escolhido, com ou sem Gabe Chance. Independentemente de quem ela era, Morgan era uma sobrevivente. GABE LEVOU o único reboque de cavalos do rancho para buscar Hornswaggled, o bode marrom e branco tão amigo de Doozie. É claro que Bennington insistira num preço ridículo, pois ele sabia Gabe precisava daquele bode especificamente para acalmar Doozie, e não de algum modelo genérico. Se Gabe pudesse usar qualquer bode velho, teria comprado um em Jackson; teria sido mais barato e daria menos trabalho. A ida e a volta ao Colorado lhe deram tempo para pensar e para sentir saudades de Morgan. E sentir saudade dela foi basicamente o que ele fez durante todo o trajeto de ida e de volta. Ele notou, com algum interesse, que sentia mais falta daquela mulher do que de competir. Uma descoberta surpreendente. Numa jogada inevitável do destino, em qualquer estação de rádio que ele sintonizava estavam tocando canções de amor. Gabe geralmente gostava de música agitada e alta, mas aquele clima sentimental funcionou bem para ele. Canções de amor eram capazes de fazer um sujeito pensar que sua atração por uma mulher poderia ir além do sexo. Ele talvez estivesse começando a perceber que certa mulher, também conhecida como Morgan O’Connelli, possuía a honestidade e a lealdade para fazer valer um relacionamento. Um sujeito poderia começar a estimar a generosidade e a coragem de uma mulher. Uma mulher que sabia como lidar com os altos e baixos da vida. Quando Gabe estava a pouco mais de trinta quilômetros de casa, ele já havia chegado a algumas conclusões. Tanto a música quanto a situação com o bode tinham ajudado a organizar seus pensamentos. Ele não sabia como Doozie e o bode tinham se vinculado inicialmente, mas eles possuíam um laço agora. Quando Gabe encontrara o bode, estava tão tristonho quanto Doozie. Era uma necessidade mútua. Hornswaggled não se contentaria em se vincular a outro cavalo, e Doozie não ia dividir sua baia com qualquer outro bode. Gostando disso ou não, Gabe tinha formado o mesmo tipo de vínculo com Morgan, embora ela talvez não fosse gostar de ser comparada a um bode. Então ele seria o bode e ela poderia ser a égua baia bonita. Não importava. O que importava era o conceito da união. Fosse para oficializar com um clérigo ou simplesmente ficarem juntos até estar velhinhos e grisalhos, ele precisava daquela mulher em especial. Ela era sua escolhida, e uma substituta não ia funcionar. No entanto, ele não estava tão certo dos sentimentos de Morgan. Ela era uma mulher mais livre do que ele havia percebido no início. Ele confundira o anseio dela por uma casa própria com o anseio por um marido e filhos. E ela não era muito fã desta opção. E agora Gabe tinha certeza disso porque Morgan havia lhe mandado uma mensagem de texto logo depois do encontro com Sarah. Sempre que parava para abastecer ou para comer alguma coisa, ele relia o torpedo. Ele não chegou a responder a ela, pois uma mensagem daquele tipo precisava ser respondida pessoalmente.
Encontrei sua mãe. Ela merece netos. Vc merece filhos. Acabou. Não, certamente não estava acabado. Tendo ciência disso ou não, Morgan era sua Doozie, aquela com quem Gabe estava destinado a partilhar sua baia pelo restante de suas vidas. E ele descobrira isso ao passar pelo teste da vida-sem-Morgan. Ele imaginara sua vida sem ela, exatamente o que ela sugerira em sua mensagem de texto. Totalmente inaceitável. Então Gabe imaginou a vida com Morgan, mesmo que ele precisasse desistir de toda a opção de casamento-e-filhos, mesmo se tivesse de retroceder nos treinamentos com os cavalos e… bem, ele o faria. Morgan era mais importante do que qualquer uma daquelas coisas. A viagem de volta de Boulder levava mais de oito horas, e Gabe saiu tarde porque Bennington ficou perturbando, receoso durante o carregamento. Por isso, já estava escuro quando Gabe parou a caminhonete e o reboque ao lado do celeiro para descarregar Hornswaggled. Ele estava ansioso pela felicidade que traria tanto para a égua quanto para o bode, mas depois que concluísse tal reunião ele teria a sua para resolver. Ele planejava desengatar o trailer e dirigir sua caminhonete até a cidade. Uma única luz queimava dentro do celeiro, e Gabe notou que o jipe vermelho de Pam estava estacionado ao lado do prédio. Ele não tinha certeza do motivo. Incitando Hornswaggled a descer a rampa, ele se dirigiu para as portas fechadas do celeiro. Os dois cães, Butch e Sundance, já deviam estar em casa para passar a noite, dormindo. Nick fazia questão disso, para que eles não ficassem tentados a arrumar confusão com os lobos que percorriam as colinas perto do rancho. Pela mesma razão, os potros e éguas paridas eram mantidos no celeiro, bem como qualquer outra criatura vulnerável, como Doozie, que estava ferida. Segurando a rédea de Hornswaggled na mão esquerda, Gabe se aproximou das portas duplas do celeiro e abriu a da direita. Provavelmente alguém havia lubrificado as dobradiças porque a porta não rangeu. Isso explicava por que as duas pessoas envolvidas num beijo monumental não ouviram Gabe. Ele olhou para Emmett e Pam, metidos num corpo a corpo mais ou menos obsceno. Emmett tinha as duas mãos no traseiro de Pam, os dedos espalmados enquanto ele alinhava os quadris aos dela. Felizmente, ambos ainda estavam com todas as roupas, mas, pela forma como estavam colados, essa situação poderia mudar a qualquer momento. Gabe não tinha certeza de como lidar com isso. Ele precisava colocar Hornswaggled na baia de Doozie, mas para fazê-lo teria de passar por Emmett e Pam. Eles poderiam até não tê-lo notado ainda, mas, caso ele desfilasse por eles levando um bode, com certeza iriam notar. Ou talvez não, considerando a respiração ofegante que rolava ali. Hornswaggled tomou a frente na decisão e baliu lamentavelmente. Doozie respondeu com um relincho. Emmett e Pam se separaram num sobressalto, como se estivessem em chamas. E, de certo modo, estavam mesmo. Eles estavam consumidos pelas chamas da paixão, e agora as chamas do constrangimento lambiam seus rostos vermelhos. – Hum, me desculpe. – Gabe abaixou a cabeça para esconder um sorriso. Sarah ficaria contente em saber daquilo. Emmett pigarreou.
– Eu ficaria muito grato se você guardasse isso para si. A culpa é minha. Eu… eu me excedi. – Ele olhou para Pam. – Por favor, aceite minhas desculpas. – Não mesmo! – Pam colocou as mãos nos quadris. – Você pode fingir que lamenta o quanto quiser, Emmett Sterling, mas você estava envolvido na coisa toda. Doozie relinchou novamente e Hornswaggled respondeu com um berro alto. – Gabe precisa juntar esses animais. – Emmett se postou no corredor, mas manteve pelo menos um metro de distância de Pam. – E eu… eu devia estar na cama. Pam parecia muito chateada. – Isso, fuja para a cama, Emmett. Sozinho. – Ela levantou a voz para que pudesse ser ouvida sobre os berros agora contínuos de Doozie e Hornswaggled. – Mas lembre-se, é essa sua maldita teimosia que está condenando as coisas a ficarem do jeito que estão! – Dando meia-volta, ela saiu do celeiro. Um instante depois, ouviu-se o som de pneus cuspindo cascalho, uma indicação do arranque do jipe. Emmett soltou um suspiro e balançou a cabeça enquanto olhava para o piso de madeira. Por respeito a todos os anos em que Emmett fora como um segundo pai para ele, Gabe ficou onde estava, apesar do tumulto. Ele quis dar ao homem uma oportunidade de reunir os frangalhos de seu orgulho. Por fim, o capataz se endireitou e olhou para Gabe. – Hora de juntar esse bode e a égua antes que eles acordem toda a porcaria do rancho. – Ele se virou e caminhou em direção à baia de Doozie. – Com certeza. – Gabe foi até ele, conduzindo um bode muito ansioso. O bode e a égua tocaram seus focinhos, e Hornswaggled mexeu muito as orelhas. Doozie soltou um enorme suspiro cavalar, o qual informava a Gabe que ele havia feito a coisa certa. Emmett deu-lhe um tapinha no ombro. – Bela jogada, filho. Aposto que agora Doozie vai melhorar. – Espero que sim. – Acho que vou para a cama. – Certo. – Gabe não ia para a cama, pelo menos não para a dele. Emmett parou à porta do celeiro. – Você deve achar que alguém na minha idade teria mais bom senso. – Eu não acho que a lógica e o bom senso se encaixem nisso, Emmett. – Obviamente não. Aquela mulher é mais rica do que eu. Eu não tinha nada que beijá-la, e ela certamente não tinha nada que me deixar fazê-lo. Gabe teve de processar a declaração antes de perceber que a mentalidade antiquada de Emmett não permitiria que ele se envolvesse com uma mulher que tinha muito mais dinheiro do que ele. – Isso é meio chato para Pam, você não acha? – O que você quer dizer? – Pelo jeito como eu entendo a coisa toda, ela teve um marido infiel que mereceu ser obrigado a pagar a ela todo aquele dinheiro. Emmett fez uma careta. – Com certeza, aquele desgraçado. Se ela tivesse recebido só aquele dinheiro, não seria tão ruim, mas tem a herança também. Os pais dela eram muito ricos. – Então ela precisa doar toda a herança para a caridade. – O quê?
– Para você ficar confortável em relação ao namoro com ela. – Gabe deu de ombros. – Parece ser a única solução. Ficarei feliz em sugerir isso a ela se você… – Você não vai fazer isso! Ela já doa a várias causas, mas a herança inteira? Isso é loucura. Uma parte precisa ir para Nick, de qualquer maneira, porque pertenceu aos avós dele. E Nick provavelmente terá filhos, então Pam não pode sair distribuindo tudo. Gabe sorriu para ele. – Exatamente. E não vejo nenhuma razão para aquela pobre mulher ser penalizada só porque ela teve a infelicidade de nascer de pais ricos. Não é culpa dela. – Penalizada? – Ela quer você, Emmett. E, pelo que acabei de ver, você também a quer. Dê uma folguinha a ela. Emmett esfregou o rosto. – Vou pensar no assunto, Gabe. – Faça isso. E eu tenho que ir. Tenho uma coisa muito importante para fazer. – O quê? – Convencer Morgan O’Connelli a se casar comigo.
Capítulo 16
NUM CONTRASTE intenso com a noite anterior, nessa noite Morgan estava usando um pijama azul-claro de flanela decorado com ursinhos de pelúcia. Ela o havia comprado numa liquidação porque era um conjunto feito para uma noite fria de inverno. Mas em Shoshone qualquer noite era ideal para se usar flanela, principalmente se a pessoa que o vestia estivesse se lamuriando e precisasse de um abraço. Mas o abraço do qual ela necessitava era do tipo perigoso, emitido por certo cowboy que permanecia em sua mente independentemente do DVD ao qual ela assistisse ou de quantas xícaras de chocolate quente bebesse. Abrir mão dele ia lhe causar muita dor de cabeça. E no coração. Mas era a coisa certa a se fazer. Ele devia estar achando a mesma coisa, porque não tinha respondido ao torpedo que ela havia mandado. Morgan tinha pensado que seria difícil romper a relação, tal qual sempre diziam nas velhas canções de amor, mas aparentemente não. Bastaram algumas palavras via celular e pronto. Ela deveria estar aliviada. Em vez disso, desejava que houvesse alguma forma de poder saber que Gabe já estava seguro em casa. Esse tipo de pensamento tinha de parar, em algum momento, porque futuramente ela não poderia manter o controle das idas e vindas de Gabe. Mas dessa vez, já que sabia da viagem dele, ela gostaria de saber que ele havia trazido o tal bode com sucesso e que estava seguro na própria cama. Ela ia descobrir isso nos próximos dias. Shoshone era uma cidade pequena e alguém iria mencionar a viagem de Gabe enquanto eles estivessem comendo no restaurante ou bebendo no Espíritos e Esporas. Ou um dos funcionários do Última Chance iria falar sobre isso quando fosse à loja de rações. A notícia ia chegar pelo boca a boca. Mas ela queria saber agora. Quando Morgan tornou a encher a caneca com o chocolate que estava na panela em cima do fogão, a campainha tocou e ela espirrou o líquido quente por todos os lados. Suas mãos tremeram quando ela pousou a caneca e pegou um pano de prato para limpar seu pijama. Ela sabia quem estava à porta. Um visitante às nove e meia da noite só poderia ser uma pessoa. Talvez ela não tivesse rompido com ele tão completamente como imaginara. Mas pelo menos ele chegara em casa são e salvo. O nó apertado em seu estômago afrouxou. A campainha tocou pela segunda vez. Tudo bem, ela terminaria tudo com ele pessoalmente, e dessa vez ia ser permanente. Ela não seria a nora perfeita, e as consequências disso poderiam ser grandiosas
numa cidade onde os Chance eram a família real titular. Ela podia dar adeus ao seu negócio imobiliário. Morgan abriu a porta, seu discurso de despedida na ponta da língua. Gabe, obviamente, tinha outros planos para a língua dela, porque ele a puxou antes Morgan pudesse dizer uma palavra, esmagou-a contra ele e a beijou como se fosse um soldado voltando para casa depois da guerra. Ele a abraçou com força e toda a resistência dela foi em vão. Ela nunca tinha percebido o quanto ele era forte. Naturalmente, quanto mais tempo ele passava beijando-a, menos ela se debatia. Beijar Gabe era sua segunda atividade favorita no mundo. Mas ela não ia permitir que aquela atividade fosse conduzir à sua principal atividade favorita. Por fim, ele parou para respirar e olhou para ela, o peito arfando. – Senti saudade. Você é minha Doozie. – Perdão? Por acaso o beijo acabou com o oxigênio do seu cérebro? – Vamos entrar. Morgan não tinha certeza de como Gabe conseguira seu intento, mas em segundos eles estavam na sala de estar e ele havia fechado a porta com um chute para trás. Ele manteve Morgan presa em seu abraço apertado, recusando-se a soltá-la. Sua expressão era carinhosamente concentrada. – Você é minha Doozie. Eu sou seu bode. Ela descobriu que a reunião da égua e do bode tinha virado um ato simbólico para ele. – Por mais romântico que isso soe, eu tenho que discordar. Você ainda não encontrou sua Doozie. – Encontrei. É você. Morgan, por favor, case-se comigo. Nós pertencemos um ao outro. – Não, não pertencemos. – Ela empurrou o peito rijo, mas foi em vão. – Quando mandei o torpedo, eu estava falando sério. A coisa entre a gente não vai funcionar. – Funcionou muito bem na outra noite. – Ele encaixou a pélvis à dela. – Aposto que poderia funcionar bem esta noite também. E não pense que ursos de pelúcia vão afetar alguma coisa. Eu quero você, e não ligo para o que está vestindo. Dava para notar. Ele estava pronto para começar a ação e, naturalmente, uma vez nos braços dele, Morgan também estava. Mas uma nova brincadeira em sua cama só iria piorar as coisas para os dois. Segurando o rosto de Gabe, ela olhou dentro daqueles olhos muito, muito azuis. – Ouça-me. Você é parte de um legado. O que você precisa é de uma esposa de rancho que não se importe de mandá-lo para as competições enquanto ela cria os netos que sua mãe deseja tão desesperadamente. – Nick pode ser responsável pela produção de crianças. Ela balançou a cabeça. – Não apenas Nick. Todos vocês. Você está destinado a carregar o nome dos Chance, e eu entendo isso. Mas, quando se trata das mulheres certas para se casar com os rapazes Chance, eu não me encaixo no molde. Não quero ser uma decepção para sua mãe, mas, principalmente, não quero ser uma decepção para você. – Não teria como ser. – Ah, sim, teria. – O coração dela doía, mas aquilo precisava ser dito. – Não no início, quando o sexo é ótimo e eu posso viajar um pouco com você. Mas só podemos ser recém-casados por um tempo antes de todo mundo começa a perguntar: “E agora?” A resposta óbvia é: filhos.
Ele cerrou a mandíbula. – Se você não quiser, então não teremos nenhum. – Seja honesto com você mesmo. Você estava com inveja de Nick e Dominique quando eles estavam planejando a construção da casa. Como vai se sentir quando eles tiverem um bebê? E quando sua mãe ficar toda chorosa e feliz com isso? A incerteza dançou nos olhos dele. – Você poderia mudar de ideia. Morgan queria manter aquela sensação de incerteza viva, por amor a ele. – Talvez eu mude de ideia, mas essa é uma questão muito séria, Gabe. Não podemos basear uma vida na possibilidade de um dia eu ficar animada com a ideia de ter filhos. Eu posso não mudar. Olhe, nenhum de nós entrou nessa buscando um futuro juntos. Não force a barra. Deixe-me ir. A dor na expressão dele quase derrubou a determinação de Morgan. – Eu não quero. – E eu não quero continuar com isso. Eu… eu estou começando a gostar de você. – Ela não teve coragem de usar a palavra com A àquela altura do campeonato. – Se nós estamos entrando num beco sem saída, precisamos voltar agora, antes de batermos na parede. Ele engoliu em seco. – Morgan… – Você sabe que eu estou certa. Apenas vá. Vá agora, antes que a gente machuque um ao outro mais ainda. Eu não sou a pessoa da qual você precisa. – E você não quer ser. Aquela era a parte mais difícil. – Não, não quero. – Ela desejava poder fechar os olhos e bloquear o olhar torturado de Gabe, mas isso não seria justo. A hesitação indicaria que ela estava insegura sobre sua resposta. E estava. Ela estava. – Tudo bem, então. – Soltando-a, Gabe virou-se para a porta. – Mas eu ainda acho que você é minha Doozie. – Você conseguiu trazer o bode? – Sim. Doozie ficou muito feliz em vê-lo. – Gabe abriu a porta e saiu, o desânimo e a derrota expostos em cada contorno do seu corpo. Morgan comprimiu os lábios para não chamá-lo de volta. Mas ela o amava demais para lhe dar falsas esperanças. Algum dia ele ia encontrar uma mulher mais adequada, e então iria lhe agradecer por tê-lo mandado embora naquela noite. Se ao menos Morgan conseguisse encontrar algum consolo nisso… GABE NÃO se lembrava da sua volta para casa. Ele ficou sentado no carro, junto à rotatória da entrada, durante algum tempo, tentando reunir energia para entrar, mas tudo parecia tão inútil agora. Infelizmente ele compreendia exatamente o que Morgan quisera dizer, e ela estava certa. Ele conseguia se ver casado com ela, sob a promessa de que não se importava com filhos, apenas para poder satisfazer àquele desejo intenso de estar com ela. Mas ele se importava com filhos, sim, e se casaria sob o desejo secreto de que um dia Morgan fosse mudar de ideia. E se não mudasse… eles estariam em apuros.
Batendo as mãos no volante da caminhonete, ele xingou os pais de Morgan por azedarem o conceito dela sobre filhos. No entanto, não havia muito que fazer agora. Ele podia muito bem continuar sua vida. Quando entrou, Gabe percebeu que alguém tinha deixado uma luz acesa na sala de estar. Provavelmente sua mãe, para que ele não tropeçasse na escuridão. Ele caminhou e fez menção de desligá-la antes de ir para o andar de cima. A voz de Jack o assustou. – Você foi à cidade ver Morgan? Gabe olhou e encontrou seu irmão mais velho em uma das poltronas de couro que cercavam uma mesinha de centro redonda na frente da lareira. Havia uma garrafa de uísque ao seu lado, e ele segurava um copo. Gabe não estava com vontade de ouvir mais uma das tiradas de Jack sobre Morgan. Ele começou a sair da sala. – Eu estava errado a respeito dela – disse Jack. Gabe parou e aguardou por trombetas anunciando o milagre: Jack admitindo que tinha cometido um erro de julgamento. – Não fique tão chocado. – Jack esvaziou o copo e o colocou sobre a mesa, ao lado da garrafa. – Eu já errei uma ou duas vezes na vida. – Estou ciente. Eu só nunca esperava que você fosse admitir isso. – Sim, bem… prepare-se, porque aí vem mais uma confissão. Eu também estava errado sobre o pagamento das suas competições. Eu estava me esquecendo de algo importante. Sarah fica feliz em saber que você está usando as habilidades que papai lhe ensinou. Isso vale o preço, e, se você ajudar a vender alguns cavalos no processo, melhor ainda. – Certo. – Naquele momento, Gabe não dava a mínima para suas competições, mas não ia dizer isso. – Você realmente tem chances de colocar Top Drawer no Hall da Fama, o que seria um bônus. Além disso, você é um bom meio para se deduzir impostos. – U-huuu. – Gabe fez um círculo no ar com um dedo. – Você entendeu? Estou dizendo que você pode voltar. – Ótimo. – Gabe não conseguia acreditar no quanto aquilo soava desimportante em comparação à perda de Morgan. Ele devia estar grato, no entanto, porque a competição ia servir para ajudá-lo a parar de pensar nela. – Você não parece muito feliz com isso. Algum problema? Quero dizer, você chegou um bocado cedo. Morgan está doente ou algo assim? – Não. É que… acabou. A gente terminou tudo. Jack soltou uma série de palavrões. – É minha culpa, não é? Por eu ter sido um babaca. – Não, não é sua culpa. Nem tudo gira em torno de você, Jack. Ele deu de ombros. – Se você está dizendo. Então qual é o problema? – Eu realmente não quero falar sobre… – Ah, mas que inferno, Gabe. Em quem mais você vai descontar? Nick está nas nuvens, então você não vai querer jogar esse peso nele. Com isso sobramos eu e Sarah, e é perigoso dar informação demais a sua mãe.
Gabe não conseguiu evitar rir diante da veracidade do comentário. E, naquele instante, foi transportado de volta a uma época mais feliz, quando Jack era o sujeito certo com quem discutir problemas com mulheres. Ambos, Gabe e Nick, dependeram muito do conhecimento secular de Jack para enfrentar o labirinto dos relacionamentos entre homem e mulher. Só que o próprio Jack não havia se saído tão bem nesse departamento. Ele se afastara de uma mulher maravilhosa, e Gabe se perguntava se Josie ainda lamentava por isso. Ela também não estava namorando ninguém. Jack acenou para a cadeira ao seu lado. – Você não vai dormir, então pode sentar-se aqui em vez de ficar passeando pelo quarto. Com um suspiro de resignação, Gabe afundou no couro liso da cadeira ao lado de Jack. – Quer beber? Gabe balançou a cabeça. – Então… Por que ela o chutou? – Quem disse que foi ela quem terminou? – Não tem mistério algum nisso aí, irmãozinho. Parece que você foi atropelado por um touro. – Depois de criar seus irmãos e irmãs, ela está cansada de toda essa coisa com crianças. É possível que nunca queira filhos. – E você quer? Gabe passou a mão no rosto. – Sim. Um dia. Eu tentei me convencer de que não fazia diferença, mas Morgan é astuta. Ela sabia que teria importância, mais cedo ou mais tarde. – Ponto para o time das mulheres. – Eu sei. É só que… Acho que ela é a mulher certa para mim. – Então você está apaixonado por ela. Gabe vinha evitando admitir aquilo para si, pois só iria piorar as coisas. – Sim. Ainda bem que eu não lhe disse isso. – Ainda bem? Você está louco? Você a pediu em casamento e não disse que a amava antes? – Achei que ela fosse deduzir. – Deus do céu. – Jack balançou a cabeça. – Você é mais burro do que eu pensava. – Não me chame de burro. Pelo menos eu pedi a mão dela. Você é o espertinho que fugiu da melhor coisa que já aconteceu com você. Jack olhou para ele em silêncio antes de respirar fundo. – Pode ser. Mas isso não pode ser corrigido num curto prazo. Você, por outro lado, precisa agir enquanto o ferro está quente. – Esqueça. Ela me mandou embora. – Não importa. Você tem dois problemas a superar. – Jack ergueu o dedo indicador. – Um, você cometeu um erro tático grave ao não declarar seu amor. Nós podemos consertar isso. – Ele levantou o dedo do meio. – Dois, ela não quer ter filhos. Mas, pelo que Sarah me contou, ela… – Você e mamãe conversaram a respeito de Morgan? – Sarah falou comigo. Eu levei uma bronca, na verdade. Resolvemos algumas coisas. Mas a família de Morgan mudou-se para tudo que é lado enquanto os filhos eram pequenos, certo? – Aham. É por isso que ela está tão determinada a permanecer em Shoshone para sempre.
– Pronto, aí está. Quando ela estava cuidando dos irmãos e irmãs, eu aposto que a família ficava isolada. Sem avós, tias ou tios para ajudar. Gabe pensou. – Faz sentido. – Mas no Última Chance temos Sarah, Mary Lou, Emmett, os outros vaqueiros, Pam, Nick e Dominique, e até mesmo Jack, o ranzinza. Neste lugar aqui, a criança sempre vai ter um colo. – Você está certo. – Pela primeira vez desde que havia deixado a casa de Morgan, Gabe viu um vislumbre de esperança. – Você acha que ela vai comprar esse argumento? – Só tem um jeito de descobrir. – Jack ficou de pé. – Vamos. – Para onde? – Para a casa de Morgan. Você dirige. Eu já bebi um pouco. MORGAN SENTOU-SE na cama, ajeitou o travesseiro e deixou-se cair novamente. Tinha duas reuniões de manhã e outra à tarde. Se não conseguisse dormir logo, ia ser complicado manter o bom humor. E isso seria ruim. Ela contava com seu bom humor. Era uma de suas ferramentas de venda. Mas toda essa situação horrorosa com Gabe tinha sugado toda sua alegria. Mas não sua adrenalina. Quando a campainha tocou, ela pulou da cama como se tivesse ouvido um tiro de um canhão, daí parou no meio do quarto escuro para tomar ar. Tinha que ser Gabe, mas ela simplesmente não podia enfrentá-lo novamente. O simples ato de abrir a porta iria mandá-la de volta aos seus braços, e ela não queria que isso acontecesse. Ela era durona, mas não tão durona assim. Claro que Gabe não era do tipo que desistia fácil, por isso a campainha não parou de tocar… e tocar… Finalmente, Morgan não aguentou mais. Entrou na sala de estar, mas não acendeu as luzes. Consequentemente, bateu o dedinho do pé na perna do sofá enquanto seguia até uma janela na frente da casa. Ela xingou baixinho enquanto foi mancando até a janela, a qual havia deixado parcialmente aberta, com a trava de segurança. Agachando-se, afastou as cortinas e gritou através da abertura: – Vá embora! – Morgan, é o Jack. Jack? Ela correu para destrancar a porta. – Gabe está bem? – Então ela viu os dois em pé sobre sua varandinha. Morgan teria de estar morta para não apreciar a vista, ambos de botas, usando jeans apertados, camisas bem cortadas e chapéus inclinados de um jeito confiante. Ainda assim, havia prioridades a se resolver ali. – Você me matou de susto. Agora vá embora. – Ela começou a fechar a porta. – Acho que você tem cupins – disse Jack. – O quê? – Cupins. – Ele deu uma cotovelada nas costelas Gabe. Morgan suspirou. – Entendi. Você está inventando coisas para me impedir de fechar a porta. Boa noite, rapazes.
– Não, é sério! Sinta como está oco. – Jack saltitou e as tábuas rangeram. – Ouviu isso? – Ele acotovelou Gabe uma segunda vez. – Olha, eu não sei o que você pretende, mas… – Pelo amor de Deus, Gabe! – Jack o empurrou para a frente. – Diga! Gabe engoliu em seco. – Morgan, eu amo você. Aquele cowboy com certeza sabia como desferir um golpe surpresa. Morgan estremeceu, em seguida sentiu um calor, uma sensação doce que se espalhou dentro dela como rios de calda quente. Ela ainda não podia se casar com ele, mas nunca se esqueceria desse momento. Ela respirou fundo. – Isso é… é bom ouvir isso. Jack bateu no ombro do irmão. – Mas não é tudo, não é, Gabe? – Não, não é. – Gabe focou aqueles olhos azuis diretamente em cima dela. – Eu devia ter dito isso primeiro, antes de vir com toda a conversa sobre casamento-e-bebês, antes de dizer que você era minha Doozie. Eu… – Espere. – Jack passou um braço em volta dos ombros de Gabe e o chamou de lado. – Isso está saindo dos trilhos. Doozie? O que diabos aquele seu pangaré manco tem a ver com isso? – Nós pertencemos um ao outro, assim como Doozie e Hornswaggled, só que eu não acho que Morgan gostaria de ser comparada a um bode, e ela é uma mulher, e Doozie é uma égua, então… – Deus do céu. – Jack olhou para Morgan. – Você poderia nos dar licença por um segundo? – Claro. – Morgan ficou observando enquanto os dois irmãos uniam suas cabeças, as vozes baixas, porém intensas. Enquanto isso, sua determinação ia derretendo mais rápido do que um cubo de gelo num forno de micro-ondas. Como ela poderia resistir a uma campanha como aquela, na qual o apelo fervoroso e levemente pateta de Gabe estava sendo guiado pelo seu irmão mais velho? Ela nunca tinha visto nada tão carinhoso em sua vida. Mas, caso cedesse, Morgan conseguiria ser a esposa da qual Gabe precisava? Esse era o ponto de discórdia. No entanto, como ela amava o sujeito! Amava-o ainda mais por insistir naquilo, sendo que ele provavelmente já esperava a rejeição total. Ele havia se colocado em posição tão vulnerável. Gabe e Jack provavelmente resolveram uma estratégia, porque se separaram e voltaram-se para ela novamente. Gabe tirou o chapéu e enxugou a testa com a manga. Se ela em algum momento duvidara que ele estivesse totalmente comprometido àquela batalha, as dúvidas já não existiam mais. Ele voltou a pousar o chapéu na cabeça e ficou diante dela, as pernas um pouco abertas, como se estivesse se preparando para o que estava por vir. – Sobre a coisa dos filhos. – Ainda é um problema, Gabe. – Ela lhe devia a verdade. – Eu sei, mas… – Tio Jack está por aqui. – Jack se equilibrou na ponta dos pés e acenou para ela. Gabe se virou para ele. – Eu dou conta, Jack. – Só para ter certeza de que você está nos trilhos, mano. – Eu sei o que dizer, então caia fora. – Gabe olhou para ela novamente. – Eu não estou pressionando você, Morgan.
Ela assentiu. – Ótimo. – Porque a mínima pressão seria capaz de mandá-la para os braços dele. – Mas quero que você pense numa coisa. Quando você era responsável por todas aquelas crianças, você não tinha outros parentes para aliviar a carga. – Não. Estávamos sempre nos mudando. – Exatamente. Mas, conforme Jack observou, nosso filho teria toneladas de assistência: minha mãe, Mary Lou, Nick e Dominique, Emmett, Pam e o próprio Jack, acredite ou não. Mesmo os vaqueiros iam gostar de ajudar. Você teria babás saindo pelo ladrão. – A criança sempre vai ter um colo! – Jack riu. – Nossa criança – disse Morgan suavemente, quase com medo de imaginar, mas… de repente a ideia não lhe pareceu um conceito abstrato que ela seria capaz de rejeitar facilmente. Gabe estava discutindo se o bebê teria o cabelo e os olhos como os dele, ou o cabelo de Morgan e os olhos dele, ou o cabelo dele e os olhos dela. O filho deles. – Você provavelmente precisa de tempo para pensar. – O olhar dele era suave, repleto daquele amor tão recentemente declarado. – Não lhe dê tempo para pensar, idiota! – Jack sacudiu os braços no alto. – Você não percebe que ela está hesitante? Feche o negócio! Morgan deu um passo adiante. – Eu vou fechar o negócio. Eu amo você, Gabriel Archibald Chance. Vamos nos casar e ter um bebê para torturar o tio Jack. O sorriso de Gabe iluminou a escuridão. – Sim, vamos. – Ele a tomou nos braços. – Eu voto comemoramos esta decisão. – Ei! – berrou Jack. – Não se esqueça de mim! Eu preciso ir para casa, sabe. E eu não posso dirigir. – Então vá bater à porta de Josie – disse Gabe. Morgan não fez ideia de como Jack reagiu à sugestão, porque Gabe a levou rapidamente para dentro de casa e começou a abrir os botões de seu pijama de flanela decorado com ursinhos. – Eu já lhe disso o quanto amo ursos de pelúcia? – murmurou ele, ao ouvido dela. – Não. – Ela o arrastou para o quarto. – Não tanto quanto eu a amo. – E, com isso, eles caíram no colchão. Depois de uma vida errante, Morgan finalmente sabia onde era o seu lugar: nos braços de Gabe. Algum dia, quando chegasse a hora certa, o amor entre eles daria origem a um bebê para o Última Chance. E a criança sempre teria um colo.
ARREPIO LESLIE KELLY Lebeaux não seria assim, eu sabia disso. Ele saberia exatamente como me tocar para provocar apenas sentimentos de prazer e puro erotismo. Eu queria isso. Eu queria que aquele desconhecido moreno e sensual me acariciasse, corresse as pontas dos dedos pelo meu decote, e então capturasse meus mamilos entre os dedos e os apertasse levemente. Estremeci, sentindo as pontas dos meus seios enrijecendo contra a seda, então não consegui pensar em mais nada, só no quanto seria incrível se ele me lambesse ali, sugando com força ao mesmo tempo em que pousava uma das mãos entre minhas pernas. – O que você está fazendo aqui de fato? – questionou ele, a voz baixa, quase um rosnado. – Eu já te disse. – Você desceu vestida desse jeito só para fazer alguma coisa no carro? Finalmente uma pergunta à qual eu poderia responder honestamente. – Sim, juro, foi isso. Eu não tinha a intenção de ficar aqui fora e já estava voltando para o calor do... para a cama. Mas aí você apareceu. – E você resolveu... ficar? – Sem aguardar por uma resposta, ele levantou a mão e passou as costas dos dedos pelo meu ombro. – Você está congelando. Congelando? Ah não. Eu estava com muito, muito calor. Eu poderia ter feito algum comentário bem brega, tipo, bem, você poderia me esquentar, mas a gente há muito já tinha ultrapassado esse nível de flerte leve e bobo. Em vez disso, cheguei mais perto dele, usando seu corpo para bloquear o vento, sentindo o cheiro do perfume quente e másculo de sua pele. A camisa continuava a chicotear em volta e agora dava para ver mais da cicatriz logo abaixo da clavícula. Isso sem mencionar as ondulações de músculos e os cachos de pelos escuros. Não resisti. Erguendo a mão, eu a pousei bem aberta no peito dele, sentindo a batida de seu coração. E seu calor. Ele não disse nada. Simplesmente agiu. Sem aviso, pôs as mãos no meu cabelo, segurando minha cabeça e me puxando para a frente. Qualquer arfar de surpresa que eu pudesse ter soltado foi abafado pelo meu próprio coração, que martelou feito louco quando o sr. Lebeaux baixou a boca para a minha.
E então nossos lábios se encontraram. Abriram-se. Provaram-se. Um trovão ribombou... ou talvez fosse apenas o rugido baixo de prazer percorrendo meu corpo. A chuva ganhou força novamente e relâmpagos cintilaram em algum lugar nas proximidades. Eu não estava ciente de nada disso. Eu não conseguia me concentrar em mais nada, exceto nos lábios quentes e na língua macia que estavam me dando tanto prazer. Já fui beijada nessa vida. Muito. Mas aquilo não era beijar. Era sexo bucal.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ T389c Thompson, Vicki Lewis Cilada [recurso eletrônico] / Vicki Lewis Thompson; tradução Fernanda Lizardo. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2015. recurso digital Tradução de: Ambushed Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-1949-2 (recurso eletrônico) 1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Lizardo, Fernanda. II. Título. 15-23754
CDD: 813 CDU: 821.111(73)-3
PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: AMBUSHED! Copyright © 2010 by Vicki Lewis Thompson Originalmente publicado em 2010 por Harlequin Blaze Arte-final de capa: Ô de Casa Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
Capa Texto de capa Teaser Querida leitora Rosto Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Próximos lançamentos Créditos