Ele é tudo o que ela não pode ter… A busca por um sonho levara Josie Keller até Shoshone, Wyoming. Já ouvir seu coração proporcionara muitas horas de prazer com o cowboy Jack Chance. Ele a deixou completamente louca… Até abandoná-la. Jack não era do tipo que se amarrava. Mas não conseguia entender por que sentia tanto a falta de Josie… Seria algo mais do que somente sexo? Mal sabem os dois que existe um plano em andamento para uni-los. E não demora muito para terminarem entre os lençóis! E antes que o passado volte para atormentá-los, Jack precisa decidir se laçará Josie de vez ou se perderá essa chance para sempre!
– Esta não é a primeira vez que você fez amor na floresta com cavalos observando, é? – Não, mas esta é a primeira vez que quero tanto a ponto de tremer. – Ele baixou a cabeça até que a boca quase tocasse a dela. – Você já fez amor na mata alguma vez, Josie? – Nunca. – Ela descobriu que estava tremendo um pouco também. A expectativa fazia esse tipo de coisa com uma garota. Os lábios dele roçaram nos dela. – Então você é virgem de sexo na floresta? A risada dela foi arfante por causa de todo o desejo se aglomerando no peito. – Acho que sim. – Então serei gentil. – Deus, eu espero que não. – Agarrando a parte de trás da cabeça de Jack, Josie o puxou para baixo e o beijou com urgência.
Querida leitora, As noites de verão são bastante frescas no Wyoming, mas o cowboy certo pode fazer a temperatura subir rapidamente! E eu tenho o homem perfeito para você. Junte-se a mim e acompanhe Jack, o mais velho dos irmãos Chance, tentando reconquistar sua exnamorada Josie, dona do Espíritos e Esporas. O bar já está fechado e a Main Street, deserta. Se você escutar com cuidado, ouvirá as corujas. A Lua aparece timidamente por trás de uma nuvem, mas Jack não precisa da luz para encontrar seu caminho. Já se passaram dez longos meses desde que subira a escada que leva ao apartamento de Josie, contudo, poderia fazer isso de olhos vendados. Muitas coisas mudaram durante o tempo em que estiveram separados. Agora Jack é o responsável pelo rancho da família, um lugar dedicado àqueles que merecem uma última chance de serem felizes. E, se existe uma pessoa que precisa encontrar a felicidade, é esse cowboy que sobe os degraus de madeira. Venha conhecer a história de Jack. E bem-vinda de volta a Shoshane. Divirta-se! Vicki
Vicki Lewis Thompson
CHANCE
Tradução Fernanda Lizardo
2015
Prólogo
20h32, 14 de maio de 1946
– EMPURRE, ELEANOR! – Delia, uma parteira da cidade de Jackson, estimulava o nascimento aos pés do leito conjugal de Archie e Nelsie Chance. – Este danadinho é dos teimosos. Archie agarrou a mão de sua esposa. – Não é tão teimoso quanto minha esposa – disse ele com orgulho. Ele já acompanhava a batalha dela para dar à luz há cinco horas. O palavreado de Nelsie tinha ficado bem mais sujo nesse meiotempo, mas ela jamais perdera o ânimo. Ele agachou-se e murmurou ao ouvido dela: – Vamos, Nelsie, minha menina. Você consegue. Uma Nelsie ofegante cravou as unhas na mão dele. – Claro que consigo. Esta criança vai nascer… Bem… Agora! – E ela soltou um grito que teria deixado um peão orgulhoso. Delia comemorou. – Assim mesmo! – E puxou o bebê. – Parabéns. Vocês ganharam um menino muito forte. Ainda agarrando a mão de Nelsie, Archie ficou de pé e admirou, maravilhado. O bebê estava vermelho como uma lagosta cozida e escorregadio de gosma. Assim que Delia passou um pano no rostinho enrugado, o bebê engasgou uma vez antes de soltar uma série de berros agudos, soluçando. A visão de Archie ficou turva e ele sentiu um aperto no peito. Um filho. Ele tinha um filho. – Archie? – Nelsie apertou a mão dele. – Você está bem? Pigarreando, ele piscou para afastar as lágrimas. – Eu nunca estive tão bem em toda a minha vida. – Ele se inclinou para lhe dar um beijo carinhoso. – E você, menina corajosa? – Muito melhor agora. – Obrigado por ter nosso bebê. Nelsie também parecia um pouco emocionada. – O prazer é todo meu. Bem, talvez não. Foi muito mais divertido fazer este bebê do que pari-lo. – Aposto que sim. – Ele a beijou novamente. – Você foi ótima.
– Então… Quem quer segurá-lo primeiro? – Delia aproximou-se com o bebê chorão enrolado num cobertor. Archie já tinha ajudado muitos bezerros a virem a este mundo, e alguns potros também, mas a ideia de segurar a criança o deixou muito apavorado. – Talvez seja melhor dá-lo a Nelsie. – Não. – A voz de Nelsie foi firme. – Você segura primeiro, Arch. Eu quero que Delia tire uma foto. A câmera está na cômoda. – Hum, tudo bem. – Archie não podia recusar depois de tudo que Nelsie tinha passado. Relutantemente, ele aceitou a criança de rostinho vermelho, a qual estava demonstrando toda a sua energia. – Só para a foto. – Apoie a cabecinha dele na dobra do seu braço. – Delia posicionou o bebê como lhe convinha. – Pronto. Vou pegar a câmera. A propósito, vocês já escolheram um nome? Archie ficou congelado e olhou para o rosto minúsculo, para os olhos espremidinhos e para a boca desdentada que emanava toda a angústia infantil. – Escolhemos Jonathan Edward – disse ele. – Jonathan por causa do pai de Nelsie, e Edward por causa do meu. – É um belo nome – disse Delia. – Combina com ele. Archie não tinha certeza. Parecia um nome muito grandioso para uma coisa tão pequenina. – Shhh – murmurou ele, ninando o bebê só um bocadinho, do jeito que tinha visto as pessoas fazerem. – Shhh, Jonathan. Como se numa mudança repentina, o bebê parou de chorar. Com um suspiro irregular, Jonathan Edward abriu os olhinhos. – Está vendo? – A voz de Nelsie tremeu. – Ele gosta do nome. – Acho que sim. – O peito de Archie inflou quando ele encarou os olhos desfocados do filho. – Fique quieto para que eu possa tirar a foto – disse Delia. Archie não olhou para cima quando o flash da câmera disparou. Aquele olhar do recém-nascido prendera totalmente sua atenção. Devagar, ele começou a contemplar algo no qual não havia ousado pensar até agora. A vida não tinha garantias, mas, com um pouco de sorte, aquele bebezinho ia crescer e carregar o nome da família. E com mais sorte ainda, Jonathan Edward Chance iria dar continuidade ao legado do Rancho Última Chance.
Capítulo 1
Momento presente
– JOSIE, TEM um cowboy bêbado na sua porta. Jack Chance olhou para a silhueta de um sujeito alto à porta da casa de Josie. Sua Josie. – Quem diabos é você? – Não é da sua conta. Olha, Josie fechou o bar há meia hora, e, além disso, você não parece precisar de mais uma… – É melhor você não ser o namorado dela. – Jack estava um pouquinho alcoolizado, mas sóbrio o suficiente para subir as escadas até o apartamento de Josie, acima dos Espíritos e Esporas, sem tropeçar. Ele também estava sóbrio o suficiente para entender o significado de um indivíduo atendendo à porta dela a essa hora da noite. O intruso mudou de postura. – E é melhor você ir embora, vaqueiro. Foi quando Jack percebeu que o desgraçado não estava usando sapatos ou meias. O sangue de Jack ferveu. Como aquele cara sem educação se atrevia a dar em cima da sua garota? É verdade que eles tinham rompido há alguns meses. Tudo bem, há dez meses. Mas quem aquele idiota achava que era para estar descalço no apartamento de Josie, como se fosse dono do lugar? – Alex? – A voz de Josie veio de algum lugar dos fundos do apartamento. Tipo do quarto. – Descubra quem é, está bem? Jack cerrou o punho direito. – O nome é Jonathan Edward Chance Jr., e Josie Keller é a minha garota. – Então ele deu um soco na boca do tal palhaço do Alex. Triste dizer, não foi exatamente um golpe. Jack não estava tão firme quanto poderia e o sujeito se esquivou no último minuto. Fracassando em sua tentativa de acertar um soco sólido, Jack baixou os ombros e lhe deu um empurrão. Isto se provou mais eficaz. Ambos caíram. Jack perdeu seu chapéu e boa parte de sua dignidade.
Alex xingou e se esforçou para se desvencilhar, mas Jack o havia travado ao chão. Foi uma vitória oca, no entanto, porque Jack bateu a barriga e ficou sem ar. – Em nome dos céus, o que está acontecendo? Estou defendendo meu território. O pensamento passou pela cabeça de Jack, mas ele não teve fôlego para dizê-lo. – Jack Chance, saia de cima do meu irmão agora! Graças a Deus ele não tinha dito nada. Irmão dela? Jesus! Ele sentiu a nuca esquentar quando ficou agachado. Alex olhou para ele. O sujeito não parecia feliz. Mas se parecia um pouco com Josie. O mesmo cabelo louro, os mesmos olhos cinzentos. Pensando bem, Josie tinha mencionado possuir um irmão mais velho chamado Alex, mas este deveria estar em Chicago, não em pé à soleira da porta, descalço e dando a impressão enganosa de estar se preparando para ser o substituto de Jack. – Desculpe por isso, cara. – Jack cambaleou e estendeu a mão para ajudar o sujeito a se levantar. Alex ignorou a mão estendida de Jack e ficou de pé por conta própria. Em seguida, virou-se para Josie. – Imagino que você conheça este idiota. Josie provavelmente estava se preparando para dormir. Ela vestia um roupão preto de seda, do qual Jack se lembrava, mas o jeans espiava por baixo da peça, sinal de que ela não havia se despido totalmente antes de Jack aparecer. Ela também não tinha soltado a trança do longo cabelo. Jack adorava quando ela fazia isso. Ele costumava adorar tudo que Josie fazia. Ela suspirou. – Sim, eu o conheço. Este é Jack Chance, o cara com quem eu estava saindo no ano passado. Saindo. Uma palavra tão imperfeita para tudo que eles tinham vivido. Josie fez soar como se eles tivessem saído para jantar meia dúzia de vezes e depois tivessem ido ao cinema para assistir a algum filme inadequado para menores de 12 anos. Em vez disso, eles tinham passado horas fazendo sexo selvagem naquele apartamento. Às vezes, eles até mesmo usavam a cama. Não havia uma peça de mobiliário no local que não fizesse Jack se lembrar de ter estado totalmente nu ali com Josie. Bem, talvez o fogão. Eles nunca tinha feito no fogão, porque certamente eles teriam acionado uma trempe no meio do ato e chamuscado alguma parte vital. Eles não se cansavam um do outro naquela época. Alex semicerrou os olhos e fechou os punhos junto às laterais do corpo. – Então é ele. Colocando-se entre Jack e Alex, Josie pousou a mão no peito de seu irmão. – Eu não estou mais com raiva disso, Alex. Jack deu uma fungada no perfume dela, o qual sempre o fazia lembrar licor de pêssego. Deus, como ele sentia saudade dela. – Você pode não estar com raiva mais, mas eu estou nervoso para diabo. –Alex cerrou a mandíbula. – Pelo que me lembro, este filho da mãe te largou feito uma batata quente quando o pai dele morreu. E agora ele tem o total desplante de entrar aqui, como se… – Eu pensei que você fosse o novo namorado dela, Keller. Desculpe. – Ninguém jamais tinha acusado Jack de cometer nenhum desplante. Quase ninguém em Shoshone, Wyoming, falava dessa maneira. Jack já tinha sido acusado de ter muita ousadia, mas nunca de cometer um desplante.
Da última vez que Jack ficara sabendo, Alex era locutor num programa matinal de uma rádio de Chicago. Era lógico que ele tinha um belo vocabulário para combinar com seu emprego. – E se eu fosse o namorado dela, figurão? – Alex oscilou nos calcanhares. – Você acha que pode ditar quem ela encontra? Alguém precisa te ensinar boas maneiras. Jack imaginou que o sujeito poderia agir a qualquer minuto. Embora Jack nunca tivesse tido uma irmã, ele conseguia imaginar como um irmão se sentiria em relação a alguém que havia tratado sua irmã do jeito que ele mesmo tinha tratado Josie. Ele não estava orgulhoso de suas atitudes, mas, na hora, aquilo parecera fazer algum sentido meio maluco. Ele estava na cama com Josie na manhã em que seu pai telefonara pedindo ajuda para buscar uma égua numa fazenda nas proximidades. Jack o dispensara com o pretexto de que uma tempestade estava se formando, sendo que, na verdade, ele não queria abandonar Josie. Seu pai então decidira ir sozinho, capotando com a caminhonete e falecendo. Tomado pela culpa, Jack se punira do único modo que conseguira formular. Ele rompera com Josie. Não era de admirar que Alex quisesse socá-lo. Qualquer irmão de valor sentiria o mesmo. Jack nunca fora de recuar numa briga quando acreditava na causa, mas, dessa vez, ele estava errado, e sabia disso. – Eu vou embora – disse ele. Josie relaxou um pouco. – Boa ideia, Jack. Ele foi para a porta e parou para olhar para trás. – Eu realmente achei que ele fosse seu novo namorado. Ela o encarou, os olhos da cor de uma nuvem de tempestade. – E isso te incomoda? O cérebro de Jack definitivamente não estava funcionando, porque ele não tinha percebido até então o quanto havia ficado exposto por suas táticas de homem das cavernas. – Reflexo – disse ele, tentando justificar o soco como nada mais do que mero hábito. – Entendo. – Pura reação instintiva. Vejo vocês mais tarde. – Poderia ter sido uma saída decente se ele não tivesse tropeçado na soleira. Ele não caiu, mas chegou bem perto disso. Com o rosto queimando, começou a descer a escada de madeira para o nível da rua. Se Josie não contasse a ninguém sobre isso, ele nunca ouviria o fim da história. – Jack, espere. – Josie o alcançou a meio caminho da descida e colocou a mão em seu braço. – Você não deveria dirigir para casa. Ele olhou para ela. O cabelo tinha se soltado um pouco da trança e a luz da varanda brilhava no topo da cabeça dela, criando uma espécie de halo. Ele sabia que ela não era nenhum anjo, mas, caramba, era linda. – Eu estou bem – disse ele. – Só um pouco torpe. – Ele não ia dizer a ela que estava sem carro. Não tinha sido sua intenção vir à cidade esta noite. Ele tinha passado o início da noite no rancho, bebendo tranquilamente. Era sua tentativa patética de aliviar o senso de responsabilidade esmagador que sentia, agora que estava no comando de tudo. Ele fora interrompido por tal esforço quando seu irmão mais novo, Gabe, voltara para casa arrasado porque Morgan, a mulher que ele amava, tinha recusado seu pedido de casamento. Jack o convencera a dirigir de volta para a cidade e repetir a proposta, indo a tiracolo para lhe dar apoio moral.
– Deixe sua caminhonete aqui, vou te levar para casa – disse Josie. – Desculpe. Humilhante demais. – Não seja estúpido, Jack. Sua família não precisa de mais uma tragédia. Um lembrete como aquele ainda tinha o poder de machucá-lo. – Isso é golpe baixo. – Talvez, mas eu não quero descobrir amanhã que você bateu numa árvore a caminho de casa, por isso estou disposta a jogar sujo. Sua caminhonete vai ficar bem aqui. – Ela olhou para o estacionamento. – Onde está seu carro, pelo caminho? Não estou vendo. Jack suspirou. Gabe iria pagar por isso. Quando o segundo pedido de casamento funcionou, Gabe desapareceu dentro da casa de Morgan, levando as chaves da caminhonete consigo. Antes de entrar, ele sugeriu a Jack bater à porta de Josie. Contaminado pelo sucesso de seu irmão com Morgan, Jack resolvera investir todos os recursos em seu objetivo. O que o fez acabar atolado naquele monte de esterco fedorento. – Josie, basta voltar para dentro e me deixar cuidar dos meus problemas, está bem? Ela cruzou os braços. – Não. – O que você quer dizer com não? Você está planejando me jogar no ombro e me enfiar no banco de trás do seu carro? – Quero dizer que você me deve uma, Jack Chance. Você me deve uma das boas pelo jeito como agiu comigo há dez meses. Eu não quero que as coisas piorem porque você saiu da minha casa dirigindo e se meteu num acidente. Sua família já me culpa pelo… – Eles não te culpam. – Não abertamente, mas foi por minha causa que você não foi buscar aquela égua com seu pai. Se eu não estivesse em cena, talvez ele ainda pudesse estar vivo. – Meu Deus, é isso que você acha? Que isso tudo, de algum modo, é culpa sua? – Jack estava atordoado. Ele pensava ser o detentor de toda a culpa, mas talvez não fosse assim. – Logicamente eu sei que não foi culpa minha. Você já é bem crescidinho. – É exatamente disso que estou falando. A respeito daquela manhã e de hoje à noite. Volte para dentro. Eu não sou problema seu. Ela não se moveu. – Logicamente, eu entendo. Mas emocionalmente… Aí a coisa muda de figura. Eu queria ter te chutado da cama naquela manhã, Jack. Eu queria ter dito a você para ir ajudar seu pai a levar a égua para o Última Chance. – Não era responsabilidade sua. – Então você não me culpa? Ele ouviu a dor na voz de Josie e soube que havia sido o causador dela. – Eu nunca culpei. – Então por que você rompeu nossa relação? – Algum tipo de penitência, acho. Imaginei que eu não merecia ser feliz. – E ele era feliz. Eles eram felizes. Em seu estado levemente embriagado esta noite, Jack se iludira achando que os problemas entre eles evaporariam magicamente e que poderiam ser felizes outra vez. Josie baixou a cabeça por um instante. Quando ela o encarou, seu olhar foi direto. – Vou te levar para casa. Fique aqui enquanto visto uma camisa e busco minha carteira e as chaves.
– Josie, eu posso… – Obedeça, Jack! Vamos parar com essa bobagem e fazer a coisa de um jeito sensato ao menos uma vez! Eu não te expulsei da cama dez meses atrás, mas, com certeza, não vou te deixar ir para casa dirigindo hoje. Eu não vou carregar isso na minha consciência. Josie estava exaltada, e Jack nem podia culpá-la. Afinal, tinha sido ele quem batera à porta dela. Gabe havia sugerido isso, mas ele não obrigara Jack a nada. Mais uma vez, Jack sabia quem era o culpado pelo desastre. – Tudo bem – disse ele. – Vou esperar aqui até você voltar. – DEIXE QUE eu o leve para casa – disse Alex assim que Josie anunciou suas intenções. – Você não deveria estar lidando com aquele idiota. – Agradeço sua preocupação, mas é melhor que seja eu do que você. – Josie sorriu para ele. Ela adorava ter seu único irmão por perto, embora odiasse o motivo da vinda dele. O divórcio de Alex e Crystal tinha transitado em julgado nesta semana e ele tirara suas férias vencidas para pensar e ter alguma perspectiva da situação toda. Crystal tinha dado entrada no processo e ele ainda não havia se recuperado do choque. Com apenas dois anos de diferença, Josie e Alex brigaram feito loucos quando crianças, mas, na vida adulta, se tornaram melhores amigos. Alex era a primeira pessoa a quem Josie procurava quando queria conselhos, e vice-versa. Eles estavam sempre presentes um para o outro, e ela estava feliz por tê-lo acampando em sua bicama pelo tempo que fosse necessário. – E se eu prometer não acabar com a raça dele? – perguntou Alex. Josie riu enquanto seguia para o quarto para tirar o roupão. – Eu não acreditaria em você. Você devia ter visto sua cara quando ficou sabendo quem ele era. Quase raspou o pé no chão como um touro bravo. Alex a acompanhou pelo pequeno corredor do apartamento. – Esqueceu-se de como você ficou arrasada quando ele acabou com o relacionamento? – Não, eu não me esqueci. – Ela se virou e olhou para seu irmão louro feito um Adônis. Crystal era uma idiota, que nunca o compreendera devidamente. – Diga-me, Alex. Se você achasse haver uma chance de recomeçar com Crystal, você aceitaria? Ele hesitou. – Não sei. Nós já dissemos algumas coisas que não podem ser desditas. – O mesmo vale para mim e para Jack. Mas nós já fomos muito importantes um para o outro um dia. – Mais do que muito. Jack tinha sido tudo para ela, e ela se enganara achando que ele sentia o mesmo. Mas daí ele falara aquelas palavras horríveis das quais ela jamais se esqueceria: Não é grande coisa, Josie. Era só sexo. – Tenha cuidado, maninha. – Terei. – E ela teria mesmo, tinha jurado isso ao entrar no quarto para tirar o roupão e vestir a camisa estilo cowboy, que havia jogado na cama. Dez meses atrás, quando ela era mais crédula, Jack seria capaz de deixá-la de quatro. Mas, desde então, ela admitira para si que havia criado uma fantasia do nada. Jack nunca dissera que a amava e nunca sugerira que eles pudessem passar a vida juntos. Independentemente do que acontecesse entre ela e Jack agora, Josie nunca mais ia se permitir enxergar um mundo cor-de-rosa.
No entanto, ela gostava de estar em vantagem, afinal, ele a havia procurado. Na verdade, ele estava um pouco bêbado e suas defesas estavam enfraquecidas. Desde o telefonema doloroso para avisar sobre a morte de Jonathan e para dar fim ao relacionamento, Jack evitara aparecer no Espíritos e Esporas. Josie esbarrara nele algumas vezes na cidade, e ele fora educado, porém distante. Ele não estava agindo assim agora, mas poderia voltar a fazê-lo. Na verdade, ela podia contar com isso. Jack não gostava de estar em posição vulnerável, e fora exatamente isso que acontecera esta noite. Ele não queria que Josie o levasse para casa, mas ela jogara seu trunfo, lembrando-lhe que seu pai tinha morrido atrás do volante. Josie jogara esta carta de bom grado. Jack até poderia estar em condições de percorrer a estrada rural de pista dupla entre Shoshone e o Rancho Última Chance, mas ela não ia arriscar. Se alguma coisa acontecesse a ele… Pegando sua carteira, seu celular e as chaves do carro, Josie seguiu pelo corredor. Alex levantou-se e jogou de lado a revista que estava lendo. – Eu vou. Mamãe e papai me disseram para ficar de olho em você enquanto eu estivesse aqui, e esta situação se qualifica. – Você não vai. – Eu não confio nele. – Eu estou em perfeita segurança, Alex. Jack pode ter partido meu coração, mas ele nunca me machucaria. Debaixo de toda aquela bravata existe uma alma muito gentil. Alex bufou. – Percebi quando ele me atacou. – Aquilo foi um erro. – Ah, foi um erro, tudo bem. Agora ele está na minha lista. – Por favor, não o julgue por esta noite. Ele não é esse tipo de cara. – Que tipo de homem ele é? – Do tipo confuso. A mãe o abandonou quando ele tinha três anos. Ele finge que não foi grande coisa, mas eu acho que isso explica tudo. Alex olhou para ela. – Você ainda está apaixonada por ele. Josie abriu a boca para protestar, mas sabia que seria uma mentira. Ela bem que tentara deixar de amar Jack, mas não tivera muita sorte. Ela se entrosara com ele de um jeito que nunca tinha ocorrido com qualquer outro homem. A conversa fluía facilmente e seus silêncios não eram desconfortáveis. E aí houve a ligação sexual. A voz grave dele ainda assombrava seus sonhos. Ela ainda acordava no meio da noite, excitada e ansiando pelo toque dele. Com Jack, ela perdera todas as inibições. Sentira-se viva, sensual, bonita. Várias pessoas haviam alertado que ele era um playboy que nunca ficava com mulher nenhuma por muito tempo. Algumas diziam que tinha a ver com o fato de a mãe tê-lo abandonado. Jack não queria ser desamparado novamente, imaginavam, então ele rompia antes que mais uma mulher pudesse magoálo. Mas seu caso com Josie tinha durado seis gloriosos meses, e ele não demonstrara sinais de querer cair fora. Circunstâncias extraordinárias puseram um fim ao relacionamento. Josie se perguntava o que teria acontecido se Jonathan Chance não tivesse morrido e reacendido todos aqueles temores de Jack de ser
abandonado por aqueles que amava. Estava claro que Jack não tinha se esquecido dela, já que havia aparecido esta noite pronto para brigar por ela. Alex suspirou. – Então você está apaixonada por ele. Infelizmente, eu não acho que ele… – Talvez ele não esteja apaixonado por mim, mas estávamos construindo algo juntos. E aí, quando o pai dele morreu, foi tudo para o inferno. – Ele foi cruel e insensível. Estas são palavras suas, a propósito, não minhas. – Eu sei, mas as pessoas podem mudar. Elas podem fugir do passado. – Ah, Josie, não caia nessa armadilha. – Então ele riu e esfregou a mão no rosto. – Veja só, eu te dando conselhos, sendo que minha vida amorosa está um lixo. Josie aproximou-se e lhe deu um abraço. – Eu vou ficar bem. Não se preocupe comigo. – Tarde demais. Eu já estou preocupado. Ouça, diga àquele cara que se ele não te tratar feito uma princesa, ele vai responder a mim. Ele não vai querer se meter com alguém que cresceu nas ruas de Chinatown, em Nova York. – Você não cresceu lá. Você cresceu em Arlington Heights, em Illinois. Ele sorriu. – Sim, mas isso não significa que eu não tenha contatos. Conheço pessoas que conhecem pessoas. Mencione sapatos de cimento para ele. Ela ficou na ponta dos pés e lhe deu um beijo no rosto. – Pode deixar. – Como se fizesse diferença, mas ela não disse isso a Alex. Jack Chance já tinha ido ao inferno e voltado. Ele não tinha medo de nada, nem de ninguém.
Capítulo 2
JACK ESCOLHEU aguardar por Josie ao lado do carro verde-escuro dela. Quando ele recostou-se no parachoque, o ar fresco da noite soprou a maior parte das teias de aranha do seu cérebro e o deixou com uma verdade nítida e presente. Ele tinha se comportado feito um idiota esta noite. Ele vinha fazendo isso bastante ultimamente, mas esta noite poderia ser qualificada como a exibição mais espetacular de idiotice ao longo de seus 32 anos de vida. Se distribuíssem medalhas aos babacas do mundo, ele ia ganhar o ouro, facilmente. Como punição, ele aceitaria a carona de Josie para casa, pois a verdade era que ele não tinha muita escolha. Arrastar Gabe da cama de Morgan e exigir as chaves da caminhonete só faria aumentar a lista de transgressões. Claro, ele poderia ir andando para casa, mas levaria uma boa hora, talvez mais próximo de duas. E, além disso, todos sabiam que cowboys não caminhavam. Sendo assim, ele aguardou por Josie e ficou olhando para a placa apagada de um vaqueiro montado num cavalo xucro, com o letreiro do Espíritos e Esporas logo abaixo. O bar costumava se chamar A Espora Enferrujada, mas Josie mudou o nome quando comprou o lugar, três anos antes. Recémchegados a Shoshone, presumiam que a parte dos Espíritos se referia ao ânimo necessário para se consumir álcool. Uma pessoa precisava passar um tempinho na cidade para descobrir que Josie considerava o bar assombrado. Muitos moradores entravam na brincadeira e chamavam os visitantes da madrugada de Fantasmas Bebedores do Bar. Jack não acreditava em fantasmas. Mais especificamente, não queria acreditar em fantasmas. Ele só precisava que seu pai voltasse dos mortos e dissesse que ele estava estragando a administração do rancho. E provavelmente estava. Todo mundo reclamava que ele lhes exigia demais, e que ele mesmo também estava trabalhando além da conta. Mas Jack estava no comando de toda a operação agora, e estaria ferrado se o Última Chance entrasse no vermelho sob sua gestão. Ele nunca quis estar no comando, mas seu pai presumira que um dia ele assumiria o cargo. Jack não soubera como dizer que não queria tal honraria, que preferia que Nick ou Gabe cuidassem do lugar. Mas isso lhe soara ingrato. Seu sonho tácito era assumir o cargo de capataz quando Emmett se aposentasse. Jack tivera a intenção de propor isso a Jonathan em algum momento, mas acabara procrastinando, e agora era tarde
demais. Sendo assim ele faria o que era esperado. Passos no cascalho alertaram que Josie tinha chegado. Jack virou-se e a viu caminhando em sua direção. Mesmo sob a luz fraca da lâmpada da varanda, dava para notar que a expressão dela era cautelosa. Jack ansiava por um retorno aos velhos tempos, quando ela o cumprimentava com um sorriso mais reluzente do que uma manhã de verão. Esses dias tinham se acabado, e se ele tivesse alguma ideia de como recuperá-los, certamente arruinara tudo ao atacar Alex e fazer papel de idiota durante o processo. – Um pedido de desculpas parece bastante insatisfatório sob as circunstâncias – disse ele. – Mas eu estou oferecendo um, mesmo assim. Desculpe por ter tentado socar seu irmão. A expressão cautelosa de Josie mudou e ela começou a rir. – Tentando é a palavra-chave aqui. Eu nunca vi você tão descoordenado, Jack. A risada dela ajudou a aliviar a tensão. – Ainda bem que eu não estava em minha melhor forma então. Você ficaria muito mais chateada comigo se eu tivesse estragado a cara dele. – Ele também teria estragado a sua. Ele pode ser um garoto da cidade, mas não é molenga quando o assunto é briga. Jack admirava a veia de lealdade dela. Dez meses atrás, ele também teria tido direito a essa lealdade. – Eu não duvido. Ele é seu irmão. Ela pareceu gostar daquilo e sorriu. – E ele é mais protetor do que eu me lembrava. Ele me disse para mencionar a possibilidade de sapatos de cimento. – Aqui no Wyoming? Ela deu de ombros. – Ele precisa se acostumar ao modo rural de fazer as coisas. Aqui nós enterramos as pessoas até o pescoço em formigueiros e jogamos mel em cima delas. – Devidamente anotado. – Ela tirou as chaves do bolso da calça jeans. – Pronto para ir? – Claro. – Ele preferia ficar ali e bater papo até o amanhecer, do mesmo jeito que eles tinham feito na primeira vez, quando reconheceram a atração mútua. Jack nunca se esqueceria daquela noite de primavera. Ele flertou com Josie no bar e ficou lá até o estabelecimento fechar. Ela o acompanhou ao estacionamento e eles conversaram até o sol nascer. Antes de ir embora, Jack a beijou e prometeu que na noite seguinte eles conversariam mais. E, rapaz, como conversaram. Eles botaram fogo nos lençóis naquela primeira noite, e em muitas noites depois. Enquanto Josie entrava no carro, Jack percebeu que ele nunca tinha andado de carona com ela. Eles tinham ido para Jackson algumas vezes durante os seis meses como amantes, mas ele sempre ia dirigindo. Essa inversão de papéis era esquisita. Deixava Jack sem jeito. Quando ela entrou, trazendo consigo o aroma de licor de pêssego, ele se preparou para a parte complicada – ficar muito próximo sem poder tocá-la. Eles costumavam descer a estrada com as mãos entrelaçadas. Algumas vezes estacionavam em algum lugar isolado e davam uns amassos, porque não conseguiam aguardar até chegar à privacidade do apartamento. – Aperte os cintos, vaqueiro. – Certo. – Jack havia sido flagrado olhando para ela, devaneando. Nada bom. Ele afivelou o cinto de segurança e respirou fundo. – Obrigado por me levar para casa.
– Sem problema. – Ela ligou o motor. – Onde está sua caminhonete, afinal? Eu duvido que você tenha vindo andando para a cidade. – Eu vim de carona com Gabe. Nós… tivemos uma missão na casa da Morgan. – Oh? – Ela entrou na pista principal, que estava deserta àquela hora. – Então onde está Gabe? – Ainda na casa da Morgan, com certeza. – Oh. – Ela pegou o sinal verde do único semáforo de Shoshone e seguiu em direção aos limites da cidade. – Então eles reataram? – Aparentemente sim. – Jack achava que Gabe e Morgan deveriam anunciar noivado, não ele. Embora o fim da noite pudesse ser bem melhor no seu caso, ele estava feliz porque os dois tinham resolvido as coisas. – Estou começando a entender. – Josie aumentou a velocidade assim que deixaram os limites da cidade. – Você não tinha outro lugar para ir, então veio até minha casa. – Você faz soar como um último recurso. – E não foi? – Não. Eu poderia ter… – Ela o encurralara. Jack tinha alguns amigos na cidade, mas andara bem ausente nos últimos tempos, em função das responsabilidades no rancho. Depois de dispensar seus amigos toda vez que eles o convidavam para tomar uma cerveja, Jack não poderia exatamente aparecer no meio da noite querendo uma carona para casa ou um lugar no sofá. – A boa e confiável Josie. – O bom humor dela pareceu ter murchado um pouco. – Um cara sempre pode contar com ela para acolhê-lo, certo? – Não era isso que eu estava pensando. – O fato era que Jack não estava pensando, ou ele teria descoberto uma alternativa. Se a coisa ficasse muito complicada, ele poderia ter ido para a casa da vovó Judy. Tecnicamente, ela não era sua avó. Ela era mãe de sua madrasta, Sarah. Ela o teria recebido, no entanto. E aí teria contado tudo a Sarah no dia seguinte. Ele poderia ter resistido a isso, mas não ia tirar uma mulher de 86 anos da cama, principalmente uma que tinha passado por uma cirurgia de enxerto no quadril há dois meses. – E pensar que eu achava que você tinha escolhido vir até minha casa – disse Josie. – Em vez disso, foi só porque eu era acessível. – Você entendeu tudo errado! – Quanto mais ela verbalizava a verdade, mais ele a negaria. – Não, não entendi errado. Seja homem e admita, Jack. Eu era a alternativa a dormir num banco de parque, nada mais. – É por isso que você se ofereceu para me levar para casa? Para ficar me dando bronca até lá? – Não que ele a culpasse. – Eu trabalho num bar e sou treinada para reconhecer quando alguém não tem condições de dirigir. Achei que você estivesse com sua caminhonete e que estivesse prestes a entrar nela. Eu não sabia que você estava preso na cidade. – Então se soubesse que eu não tinha um carro para dirigir, você teria me deixado ir a pé? Ela não respondeu. – Você teria, não é? Bem, nós podemos cuidar disso agora. Encoste. – Não. – Encoste, droga! – Eu disse que ia te levar para casa e eu vou te levar para casa. Eu honro meus compromissos. – O que você quer dizer com isso?
Ele cerrou a mandíbula. – Eu acho que você sabe. Josie havia provocado demais. Jack Chance sempre honrava sua palavra. – Nós não tínhamos um compromisso. – Ah, muito boa essa, Jack! Nenhuma mulher te segura, não é? Você pode passar todo seu tempo livre ficando nu com ela, mas acho que é só sexo, exatamente como você disse naquele dia, porque, quando se trata de assumir um compromisso, você não consegue se enxergar fazendo isso, não é? – A voz dela soou estranha, meio que engasgada. Ele olhou para ela sob a luz fraca do painel. – Josie, você está chorando? – Não! – Ela esfregou o rosto. – Tem algo no meu olho. Ele não acreditou. Ela estava chorando, e aquilo lhe dera um tranco. Em seis meses juntos, Jack nunca a tinha visto chorando. Claro, ele havia terminado com ela por telefone, pois não teria sido capaz de fazê-lo pessoalmente. Ao vivo, ele não teria conseguido dizer a única coisa que ele sabia ser capaz de convencê-la de que estava tudo acabado – que era só sexo. Depois disso, ele desligou depressa. E provavelmente fizera Josie chorar, mas ele evitou pensar nisso. – Josie. – Este é o meu nome. Não o diga em vão. Ele suspirou. – Eu sinto muito por… tudo. – Ele duvidava que um pedido de desculpas generalizado ajudasse, mas não ia arriscar dizer que estava arrependido. Ela pigarreou. – Não há razão para pedir desculpas, Jack. Você só está sendo você. Eu acho que você se cansou da vida de celibato, hum? – O quê? – Sei que você não saiu com ninguém desde que terminamos. Todo mundo diz que você se tornou um viciado em trabalho. É lógico que numa noite livre na cidade, sem um carro disponível, você procuraria pela mulher com quem costumava transar. Perfeitamente lógico. – Mas que inferno! Não foi por isso que eu vim te ver esta noite! – Mas foi, de certa forma. Ele tinha uma vaga ideia de que ela poderia ficar feliz em vê-lo depois de todo aquele tempo. Josie também não tinha saído com mais ninguém, ou pelo menos era isso que ele tinha pensado até ver um homem parado à soleira da porta dela. – Está tudo bem, Jack. Não, não estava. Estava uma confusão danada. Ele havia seguido a sugestão de Gabe na esperança de que seria capaz de fazer as pazes com Josie e voltar a uma relação descomplicada, baseada em risadas e sexo. Pelo menos ele sempre considerara a relação descomplicada. É evidente que estivera errado. Jack não sabia o que dizer para resolver a situação, e Josie parecia já ter discutido à exaustão, por isso eles prosseguiram em silêncio durante o restante do trajeto até o rancho. A longa estrada depois da rodovia não era asfaltada porque era assim que o pai de Jack gostava. Jonathan Chance imaginava que uma estrada de terra desencorajaria curiosos, ao passo que os verdadeiros cavaleiros e mulheres determinados a ver os cavalos da raça Paint criados pelo Última Chance não seriam dissuadidos por um pouco de sujeira e poeira.
Jack não ia pavimentar a estrada e ir de encontro à tradição, mas, enquanto o carro de Josie chacoalhava pelos buracos, ele prometeu para si arar a terra muito em breve. Talvez alugar um tratornivelador para ele mesmo fazê-lo. Finalmente Josie parou junto ao caminho circular de cascalho na frente da casa de dois andares. Construída por Archie, avô de Jack, a casa de toras foi sendo ampliada conforme a família se expandia. A ala direita foi erguida quando o pai de Jack nasceu, daí ele foi construindo a ala esquerda conforme seus três meninos foram crescendo e necessitando de mais espaço. Cada ala era angulada, de forma que a casa parecia oferecer um abraço. Ou uma armadilha. – Este lugar é imenso – disse Josie, quebrando o silêncio. – Sim. – Jack não precisava ser lembrado disso. Lugar imenso. Responsabilidade imensa. – Eu sei, já estive aqui em outra ocasião, mas tudo está… diferente. – Meu pai ainda estava vivo. – Certo. Mas esta noite, dirigindo pelas terras dos Chance, e então vendo a casa e as dependências de novo… Isso me fez perceber que você herdou um trabalho imenso em outubro passado. – Ela olhava para a frente, como se obcecada com a casa. – Eu lembro que você disse uma vez que não queria estar no comando do Última Chance. – Eu sei lidar com isso. – O que mais ele deveria dizer? Ele não ia jogar seus problemas aos pés dela como um idiota procurando por compaixão. – Eu tenho certeza de que sabe. – Ela olhou para ele. – Cuide-se, Jack. Ele reconhecia um comentário de despedida quando ouvia um. Josie estava lhe dando adeus. Jack não devia estar surpreso. Depois de dez meses de silêncio, ele simplesmente aparecera sem aviso, ligeiramente bêbado, e atacara o irmão dela. Ainda bem que ele não tinha contado com uma recepção de Josie para reatar. Aquilo havia sido só um experimento, e tinha falhado espetacularmente. Com uma facilidade hábil, ele trancou seu coração. – Vejo você por aí. – Era uma frase que ele tinha utilizado muito, mas, neste caso, soara bem inadequada. Jack não a veria por aí, não se ele pudesse evitar. Não se Josie pudesse evitar também, ele tinha certeza. Ele saiu do carro e caminhou em direção à casa escura. Atrás dele, o cascalho rangeu quando Josie foi embora. Bem, estava terminado. Completamente terminado. QUANDO VOLTOU para Shoshone, Josie se recusou a chorar de novo. Ela já tinha derramado lágrimas demais por causa de Jack Chance. No entanto, ela parecia não conseguir fazer nada em relação à dor em seu peito. Ela havia reaberto uma ferida que finalmente tinha começado a curar, e agora se lembrava de como era essa dor. Quando imaginara Jack voltando, e Josie tinha feito isso muito frequentemente em benefício próprio, ela esperava que ele fosse fazer algum gesto grandioso, algo digno de um homem da família Chance. Em vez disso, o reencontro se revelara uma reflexão tardia, o subproduto de tudo o que tinha acontecido entre Morgan e Gabe. Cara, isso doía. Ela chegou a Shoshone em tempo recorde. Felizmente não havia policiais na estrada para vê-la pisando fundo e disparando pela pista dupla, para longe do rancho Última Chance, para longe de Jack Chance e de suas meias desculpas. O inferno teria de congelar para Josie voltar a abrir espaço para aquele sujeito em seu coração.
Desta vez, ela apagaria qualquer faísca de esperança de que eles pudessem reacender a chama. Jack era uma causa perdida. Ela devia ter percebido isso há muito tempo, mas só se dava conta agora. Se os problemas dele eram originados pelo abandono da mãe quando ele era criança ou pelo acidente do pai, o qual Jack imaginava poder ter evitado, o sujeito obviamente não estava preparado para lidar com seus demônios. Josie estacionou ao lado do Espíritos e Esporas e subiu a escadaria até seu apartamento. Embora amasse a distração proporcionada pelo irmão, neste momento ela queria ficar sozinha. Mas ela precisava deixá-lo ciente de que havia chegado em casa, ou ele ficaria preocupado. Quando ela entrou, Alex estava sentado no sofá lendo a mesma revista que tinha folheado mais cedo. Ele olhou para cima de pronto. – Bem? – Acabou para sempre dessa vez. – Ela ignorou o modo como seu peito se apertou quando disse aquilo. – Você não parece feliz, mas, provavelmente, é o melhor. No longo prazo, quero dizer. – É. – Ela respirou fundo, trêmula. – Eu pensei que ele ia refletir ao vir aqui. Eu até mesmo disse para mim mesma que ele tinha bebido para ganhar coragem para me enfrentar. Mas ele só apareceu porque o irmão o deixou preso na cidade. Ele não tinha outro lugar para ir. – Ah, maninha. – Alex se levantou e foi até ela, como se quisesse lhe dar um abraço. Ela levantou uma das mãos. – Não seja complacente demais ou eu posso desabar, e eu estou determinada a não fazer isso. O desgraçado não merece minhas lágrimas. – Não, ele não merece. Mas ele merece que eu lhe cause algum desgosto. Se você me disser onde é o tal rancho, eu gostaria de… – Obrigada, mas não, obrigada, Alex. Agradeço sua atitude. Eu realmente agradeço. Mas ver você num confronto físico com Jack não vai ajudar em nada. Além disso, ele… Ele está em muito boa forma. Josie ficou evitando pensar naquele corpo rijo durante o tempo inteirinho em que permaneceram juntos no carro. Falhou. No minuto em que aspirou o cheiro dele, uma combinação de couro, especiarias e macho viril, ela recordou-se nitidamente do que aquele corpo era capaz de fazer com uma mulher disposta. Se Jack a tivesse tocado, ela poderia tê-lo perdoado por tudo. Foi muita sorte ele não ter tentado. – Estou em boa forma também – disse Alex em voz baixa. – E me traria uma satisfação imensa causar algum tipo de dor nele depois do que ele te fez passar. Ela balançou a cabeça. – Isso só iria colocar lenha na fogueira. A melhor maneira de lidar com Jack Chance é ignorando-o completamente. Pretendo fazer isso, e eu gostaria que você fizesse o mesmo. – Mas… – Por favor, Alex. – Tudo bem. – Ele deu de ombros. – A cidade é sua. – Na verdade, não. Se tem alguém que é dono desta cidade, é a família Chance. Eles são a realeza reinante por aqui. Alex cruzou os braços e a avaliou. – Aposto que existe um barzinho pitoresco à venda em algum lugar no centro de Chicago.
– Eu não daria esta satisfação a Jack, fugindo. Eu amo isto aqui, e o bar está indo muito bem. Nesse ritmo, vou conseguir quitar o imóvel em cinco anos. Eu vou ficar. – Ela empinou o queixo. – E Jack Chance pode ir para o quinto dos infernos.
Capítulo 3
– VOCÊS JÁ vão se casar? – No meio da manhã, Jack entrou na imensa cozinha do rancho em busca de café, só para flagrar sua madrasta, Sarah, e seu irmão, Gabe, atolados em planos de casamento. Mary Lou Simms, a cozinheira do rancho, estava no meio da coisa toda também, oferecendo comentários ao mesmo tempo que cuidava de uma panela enorme de chili no fogão. A caminhonete de Gabe não tinha estado na garagem mais cedo, mas agora ele estava em casa, desalinhado e bastante satisfeito consigo. Jack não estava acostumado a ver seu irmão caçula com a barba por fazer ou com o cabelo louro-escuro apontando para mil direções. Por sorte, Gabe estava tão embriagado de sua amada que se esqueceu de perguntar como a noite de Jack tinha se desenrolado. – Morgan e eu não vemos motivo para esperar. – Gabe sentou-se próximo à bancada da cozinha para beber café com Sarah. – E eu estou feliz por isso. – Sarah parecia atordoada com a perspectiva. Ela sempre detivera uma aparência jovem, embora tivesse deixado o cabelo no tom naturalmente branco, mas esta manhã parecia quase uma menina. – Sua ideia de fazer a cerimônia a cavalo significa que não precisaremos decorar a festa para o casamento, só para a recepção. – Em cima de cavalos, hein? – Jack caminhou até o cabide de chapéus no canto da cozinha. – Isso é coisa de Morgan – disse Gabe –, então deixei, que seja. O evento pode muito bem tirar proveito da famosa paisagem de Jackson Hole. – Agora entendi por que apressar as coisas. – Jack pendurou o chapéu ao lado do de Gabe. – Uma cerimônia ao ar livre não iria funcionar tão bem na neve. – Exatamente – disse Sarah. – Além disso, vai ser um desafio divertido organizar tudo em… Uau, menos de duas semanas. – Fico contente que você pense assim. – Jack estava feliz porque Gabe e Morgan iam se casar. Ele também estava satisfeito por ver Sarah tão animada com o casamento. No entanto, a própria tristeza se movimentava como uma nuvem negra, encobrindo qualquer alegria em potencial. Ele precisava sair daquele mau humor e entrar no clima. Mary Lou deixou seu chili fervendo, serviu uma caneca de café e entregou a Jack. – Acho que você veio aqui para isto. – Isso mesmo. Obrigado. – Talvez a cafeína pudesse ajudar.
Mary Lou apontou para a garrafa. – Gabe? Sarah? – Pode pôr para mim. – Gabe estendeu sua caneca. – Não dormi muito na noite passada. – Ele piscou para Jack. – Você também não parece ter dormido. – Não muito. – Na verdade, nada. – Vocês, meninos. – Mary Lou fez um “tsc” de reprovação. – Achei que os dois já tivessem passado da fase de ficar fora a noite inteira. Sarah? Café? – Não, obrigada. Estou elétrica com todas essas notícias boas. – Seus olhos azuis brilharam quando ela deu um sorriso para Jack. – Você encontrou Josie ontem à noite? Jack olhou para Gabe. Algumas pessoas não conseguiam manter a boquinha fechada. Gabe deu de ombros. – Ela quis saber da história toda. Você sabe como são as mães. – Certo. – Jack na verdade não sabia como eram as mães. Às vezes, elas eram ótimas, como sua madrasta, Sarah, mas, por vezes, elas iam embora. Durante anos, Sarah pedira a Jack para chamá-la de mãe, mas ele gostava de chamá-la de Sarah para distanciá-la da outra mãe que ele conhecera, aquela que o havia abandonado. – Então você encontrou Josie mesmo? – perguntou Gabe. Jack pensou então em como Gabe e Sarah eram muito parecidos, não só na aparência, pois ambos tinham olhos azuis, mas também por serem pessoas tão alegres e curiosas. Sarah sabia guardar um segredo quando necessário, apesar de tudo. Até algumas semanas atrás, ela havia escondido uma grande mentira. Acontece que Nick, filho do meio de Jonathan, não era filho dela. Na verdade, ele era fruto de um casinho de Jonathan logo após a separação da mãe de Jack e pouco antes de conhecer Sarah. Mas Nick tinha sido criado no rancho como o filho de Sarah, e descobrir a verdade sobre seu nascimento foi um baque no mundo dele. Mas graças à sua noiva, Dominique, Nick estava se recuperando do golpe emocional. Os dois estavam adiando o casamento até Dominique transferir sua empresa de fotografia de Indiana para o Wyoming, mas, aparentemente, dois dos três rapazes Chance estavam sossegando. Como de costume, Jack era o lobo solitário, o filho que não se encaixava. – Então? O que está rolando com Josie? – Gabe não era nada senão persistente. – Eu a encontrei um pouquinho – disse Jack. – O irmão dela, Alex, está na cidade de visita. – Aquela era a mais pura verdade, e deveria cessar as perguntas por um tempo. – Que azar – disse Gabe com um brilho nos olhos. – Tanto faz. – Jack terminou o café, colocou a caneca na pia e pegou o chapéu. – Preciso voltar ao trabalho. – Tem um detalhe do casamento para resolver antes de você ir – disse Gabe. – Qual? – Jack pôs o chapéu, em preparação para sair o mais depressa possível. Talvez ele faria um passeio até o pasto norte para verificar a cerca. Ficar meio longe dos planos de casamento soava bem. – Eu ia gostar se você e Nick fossem padrinhos. Tudo bem para você? – Claro. Ficarei feliz. – Dividir a tarefa seria um alívio. Ele não precisaria cuidar de tudo, e Nick era bom nessa coisa da pieguice. – Excelente. Morgan vai ter duas madrinhas, então vai ficar equilibrado. Jack assentiu, sem prestar atenção de fato. – Ótimo. Bem, se é só isso então…
– Você provavelmente vai querer meu alerta sobre quem serão as madrinhas. – Gabe tinha um brilho nos olhos. Jack tinha esperanças de que Gabe não estivesse na expectativa de promover um romance entre ele e uma das irmãs de Morgan. Poderia haver várias para se escolher, afinal Morgan vinha de uma família de sete filhos. Jack virou-se para fazer sua fuga. – Você pode me informar esses pormenores mais tarde. – Eu só achei que você gostaria de saber que Morgan vai convidar Josie. Jack congelou. Seu cérebro também congelou. Mas quando descongelou, alguns segundos depois, o horror jorrou em grandes quantidades. Não. Ele não poderia participar de um casamento com Josie. Isso era completamente inaceitável. Fazendo o melhor possível para encobrir sua reação, ele se virou para Gabe. – Estou surpreso. – Você parece mais do que surpreso. – Gabe retorceu a boca, como se estivesse doido para rir. – Parece que alguém bateu na sua cabeça com um porrete. – Por que a Josie? Eu pensei que Morgan tivesse um bando de irmãos e irmãs. – Ela tem, mas sua irmã, Tyler, é a única que ela quer na festa de casamento. Morgan e Josie se deram bem. Imagino que Morgan esteja lá agora fazendo o convite. Achei que você gostaria de saber, caso fale com Josie em algum momento. Jack preferiria não confessar que ele não esperava falar com Josie… Nunca mais. Gabe provavelmente presumia que eles tinham voltado a se falar e que o irmão de Josie havia sido o único obstáculo para um reencontro feliz. Aquilo não ia funcionar, mas Jack não sabia como dizer isso sem revelar seus assuntos pessoais na frente de Sarah e de Mary Lou. Então ele teve uma ideia brilhante. – Eu pensei que vocês quisessem fazer o casamento montados em cavalos. – E queremos. Morgan está animada com isso e é provável que assim o planejamento seja muito mais fácil. – Então Morgan terá de escolher outra madrinha. Josie não sabe cavalgar. Gabe arqueou as sobrancelhas. – Tem certeza? – Totalmente. Ela nunca montou num cavalo na vida. Nós conversamos sobre a possibilidade de eu ensinar a ela, mas nunca chegamos a tentar. – Porque estavam muito “ocupados”. Sarah acenou. – Então temos a solução. Ela não precisa ser uma perfeita amazona, sendo assim, você tem tempo de sobra para lhe ensinar o básico antes do casamento. Deus do céu, ele só fez piorar as coisas. – Não posso. Sarah o encarou com afinco. – Claro que pode. O pânico fez Jack soar desesperado. – Não, sério, Sarah. Já tenho ocupações suficientes administrando as coisas por aqui, e agora ainda tenho que pensar nesse negócio de padrinho. Aulas de montaria estão fora de cogitação.
Sarah e Gabe trocaram um olhar. Jack conhecia aquele olhar. Ele havia se delatado ao protestar com veemência demais sobre as aulas de equitação. – Tenho certeza de que conseguiremos arranjar um tempinho – disse Sarah. – Afinal de contas, isso é importante. Jack não via saída. Ele teria de abrir o jogo. – O negócio é: Josie não vai querer ter aulas de equitação comigo. Gabe semicerrou os olhos. – Por que não? – Ontem à noite, eu confundi o irmão dela com um novo namorado e eu… meio que… o ataquei. Gabe e Sarah engasgaram e Mary Lou deixou uma colher cair no fogão, fazendo um barulho alto. Os três deles olharam para ele como se Jack tivesse desenvolvido chifres e uma cauda. – Ele não está machucado nem nada. Conforme Gabe sabe, eu tomei… Tomei umas doses, por isso minha mira estava ruim. Gabe conteve um bufar, o que significava que ele estava tentando não rir. Sarah, no entanto, pareceu escandalizada. – Você agrediu o irmão de Josie? Não consigo acreditar que fez isso. – Eu também não acredito – disse Mary Lou. – Isso não faz o seu estilo, Jack. – Foi um erro. Os olhos de Gabe lacrimejavam em seus esforços para conter o riso. – Sem brincadeira agora. – Ele pigarreou. – Isso oferece um panorama novo para a situação. Jack suspirou. – Se Morgan quiser muito que seja Josie, então tenho certeza de que nós dois podemos dar um jeito durante o casamento, mas alguém vai ter que ensiná-la a montar. Talvez um dos peões possa fazê-lo. – Talvez. – Retorcendo os lábios, Gabe continuou a avaliar Jack. – Mas você tem certeza de que consegue lidar com isso? – O que você quer dizer? Claro que consigo. É isso que estou dizendo, não é? Arranje outra pessoa. – Sim, mas, ontem à noite, você pensou que tivesse um rival e resolveu levá-lo a nocaute. – Gabe parecia pronto para desatar a rir. – Eu odiaria se você partisse para cima de um dos nossos vaqueiros. – Ah, pelo amor de Deus! Só porque eu fiz besteira uma vez, isso não significa que… – Que você ainda considere Josie sua namorada? Acho que significa, sim. – Gabe olhou para Sarah e Mary Lou. – O que vocês duas acham? – Eu acho que você precisa fazer as pazes com Josie – disse Sarah. – E tem que ser antes do casamento, assim não teremos qualquer aborrecimento para estragar o grande dia de Gabe e de Morgan. Ensiná-la a montar seria a oportunidade perfeita. Mary Lou assentiu. – Boa ideia. – Ela não vai topar. – Jack sentiu a armadilha se fechando em torno dele. Ele sabia que ia pagar pelo desastre da noite anterior, mas jamais tinha sonhado que seria dessa maneira. – Ela vai topar se você falar do jeito certo – disse Sarah. – Conversem como dois adultos, diga a ela que vocês precisam resolver suas diferenças em particular, para que não estraguem acidentalmente o casamento de Gabe e de Morgan. – Você quer que eu me aproxime dela para isso? – Jack não conseguia nem mesmo conceber aquilo. Sarah continuou sua argumentação devastadoramente lógica.
– Se você não puder fazer isso, como espera ser capaz de enfrentar as festividades do casamento? Não é apenas a cerimônia, você sabe. Vamos precisar de um ensaio na tarde de sexta-feira, na véspera do casamento, e vai haver um jantar na sexta-feira à noite. – Ela está certa, maninho. – A voz de Gabe carregava só um bocadinho de dó. – Você e Josie precisam resolver o que quer que esteja incomodando vocês antes do casamento. Jack arriscou a última tentativa: – Prometo a vocês que não vai acontecer nada. Vocês têm a minha palavra. – Tenho certeza de que Josie vai prometer a mesma coisa – disse Gabe –, mas, quando o assunto é a tensão entre um homem e uma mulher, não existem garantias, tudo pode mudar. Eu realmente quero você lá, e Morgan realmente quer Josie lá. Elas se deram bem. – Isso me parece meio rápido – disse Jack. – Ora, faz sentido. Elas têm mais ou menos a mesma idade e ambas são proprietárias de pequenas empresas. E… As duas estão envolvidas com um irmão da família Chance. Jack soltou um muxoxo de desprezo. – Eu me perguntei se isso seria um problema quando Morgan convidasse Josie – disse seu irmão. – Não se preocupe, Gabe. – Sarah pegou sua caneca de café. – Jack vai cuidar disso quando for ensinar Josie a montar, não é, Jack? Ele não via um jeito de sair daquele canto no qual havia sido encurralado. – Sim, eu vou cuidar disso. – Ótimo. – Sarah ergueu a caneca em saudação. Jack achou que ela estava alegrinha demais com o plano das aulas de montaria. Mas, daí, ela nunca fora avessa a Josie tal como seu pai. Na verdade, Sarah defendera Josie algumas vezes quando Jonathan fizera comentários depreciativos. – Ah, e obrigada por me contar sobre o irmão dela – acrescentou Sarah. – Se ele for ficar um tempo na cidade, devemos convidá-lo para o casamento. – Vou descobrir quais são os planos dele – disse Jack. Ah, sim, ele ia pagar por seu momento de loucura, quando batera à porta de Josie e tentara nocautear o irmão dela. Ele se perguntava o quão alto o preço ia acabar se revelando. – Na verdade, eu poderia muito bem ir à cidade agora e dar início aos planos. – Poderia muito bem. – Gabe pareceu tão alegre quanto Sarah. Estranhamente, Jack estava se sentindo um pouco mais leve também. – Vejo vocês mais tarde. – Ele tocou a aba do chapéu quando olhou para Sarah e Mary Lou. – Tchau, Jack! – Mary Lou sorriu abertamente para ele. – E obrigada – acrescentou Sarah. – Sem problemas. – Seria um problema, mas Jack resolveria a situação com o máximo de decoro possível. Talvez não fosse tão ruim assim. Ele saiu da cozinha sabendo muito bem que Gabe, Sarah e Mary Lou iriam discutir sua situação com Josie no minuto em que ele estivesse fora de alcance. Enquanto caminhava pelo corredor e adentrava na sala de estar com seu teto com vigas, uma lareira de pedra gigantesca e um monte de fotos da família, Jack pensava na ironia da situação. Sarah estava obrigando-o a interagir com Josie. Quando era vivo, Jonathan tinha tentado ativamente desestimular o relacionamento. Para ser justo, seu pai não desgostava de Josie tanto quanto desgostava do sujeito que Jack havia se tornado depois que ele começara a sair com ela. Até então, Jack costumava madrugar todas as manhãs,
auxiliando o pai e agindo como um verdadeiro filho de rancheiro. Mas Josie modificara tudo isso. Jack começara a ajudá-la a fechar o bar e então a passar a noite com ela. Como proprietária de um bar, os horários de Josie eram opostos aos de um rancheiro. Ela ficava acordada até tarde e dormia bastante. Quando Jack começou a seguir a programação dela, Jonathan expôs seu desagrado. Avesso a receber ordens, Jack continuou com sua nova rotina. Ele chegou a discutir com o pai por causa disso muitas vezes. A insistência de Jonathan em buscar a égua naquela manhã fatídica tivera menos a ver com o cavalo em si do que com a necessidade de provar quem estava no comando. Jack não queria que seu pai vencesse, mas o custo daquela guerra de vontades fora muito alto. Jack se recusava a entrar numa batalha similar com Sarah. Ele faria o que ela quisesse, e se ele soubesse expor a situação de maneira adequada para Josie, esta também concordaria em colaborar. Quando saiu da casa do rancho e entrou na caminhonete, Jack percebeu que Sarah lhe havia feito um favor. Seu orgulho não lhe teria permitido entrar em contato com Josie, mas o tal plano das aulas de montaria funcionava como um pretexto. E apesar de suas dúvidas, Jack estava feliz por causa do plano.
Capítulo 4
JOSIE MAL teve tempo para compreender o pedido de Morgan para ser sua madrinha antes de descer para receber uma entrega de cervejas. Ainda bem que seu cozinheiro, Andy, estava lá para verificar tudo, pois Josie estava com dificuldade para se concentrar. Ela só conseguia pensar que o tal casamento ia acontecer em menos de duas semanas, um casamento que envolveria Jack. E cavalos. Morgan tinha lhe prometido que a parte da montaria não seria grande coisa. Josie poderia ir a qualquer um dos muitos estábulos na região e conseguir algumas instruções básicas. Mas a parte dos cavalos não preocupava Josie tanto assim. Ela havia aprendido a esquiar depois de adulta, então poderia muito bem aprender a cavalgar. Na verdade, as férias para esquiar tinham sido seu preâmbulo para Jackson Hole. Ela retornara várias vezes antes de perceber que, se realmente quisesse comprar um bar, ia querer que fosse nesta região. E tal decisão a levou a conhecer Jack Chance. Quando o caminhão de cerveja se foi, ela olhou para o relógio. O bar abria para o almoço às 11h30, o que lhe daria 15 minutos para começar a agir. Pelo menos, alguém estaria no balcão. Durante a semana, Josie entregava esta função a Tracy Gibbons e aí ocupava-se com o computador no escritório. Havia contas para pagar e livros contábeis para acertar, mas ela se perguntava o quanto conseguiria concluir das tarefas, quando só conseguia pensar no casamento enervante… e em Jack. Ela teria gostado de conversar sobre isso com o Alex, mas ele tinha saído de manhã bem cedinho para caminhar na Cordilheira Teton. Pensando bem, ela deveria resolver como planejava lidar com o rumo dos acontecimentos antes de conversar com Alex. Ele poderia querer confrontar Jack, agora que sua irmãzinha teria de ficar na companhia dele durante boa parte de um fim de semana. Josie não queria que Alex e Jack brigassem novamente. Uma única vez já tinha sido o suficiente. Então Alex teria de esfriar a cabeça e, de algum modo, Josie daria um jeito de tolerar o casamento sem deixar que Jack notasse que ele havia reaberto a ferida que ela vinha tão desesperadamente tentando curar. Com um suspiro de resignação, Josie passou pela porta dos fundos do bar, até seu pequeno escritório, e ligou o computador.
O cheiro de cebola fritando no azeite lhe dizia que Andy tinha começado a cozinhar as entradas para o almoço. Normalmente, ela estaria com fome a essa hora, mas hoje não. Sua barriga se retorcia em nós diante da ideia de comer. Ela teria de controlar seus nervos nos próximos dez dias, pois então não seria uma madrinha muito boa para Morgan. A noiva era a única autorizada a ficar tensa. Enquanto esperava que o computador carregasse seus vários programas, uma batida angustiantemente familiar soou à porta dos fundos. Josie e Jack tinham inventado um código para que ela soubesse de antemão que era ele – três batidas suaves e duas mais fortes. Dez meses antes, aquela batida teria sido um sinal para escancarar a porta dos fundos do escritório e puxá-lo para um beijo ardente. Às vezes, eles iam além de um mero beijo. Em pelo menos três ocasiões, Josie trancara as duas portas – uma que levava à saída e outra que levava ao bar –, e eles fizeram sexo no escritório. Esta manhã, a porta do bar estava aberta e ela podia ouvir Andy com sua barulhada na cozinha. Tracy chegaria a qualquer minuto, junto com todos os clientes que gostavam de almoçar cedo ou de beber uma cerveja no meio do dia. Josie podia imaginar por que Jack estava ali. Sem dúvida, tinha algo a ver com o casamento. E assim começava a interação necessária. Respirando fundo, ela levantou-se da cadeira e abriu a porta dos fundos. Dez meses se passaram em sua cabeça quando ela varreu o olhar sobre aquele vaqueiro parado de pé ali. O chapéu preto quase cobriam os olhos, fazendo com que suas profundezas escuras parecessem sensuais e misteriosas. O chapéu estava um pouco empoeirado, assim como o restante do corpo, incluindo a camisa xadrez azul, o jeans desbotado e as botas gastas. Jack não tinha se arrumado para a ocasião. Ele tinha vindo diretamente de qualquer que fosse o trabalho que estivesse fazendo naquela manhã. O cheiro de couro e suor havia se transformado num afrodisíaco para Josie durante os meses que eles ficaram juntos, e seu poder não havia reduzido em nada. Droga, ela ainda o desejava com uma ferocidade que a deixava trêmula. Mas desejá-lo não era o único problema. Estar a sós com ele a deixara toda nostálgica naqueles dias em que Jack representara seu mundo inteiro. Ela ficara tonta de felicidade, flutuando através de sua rotina diária, na expectativa de passar as noites com Jack. Josie tinha de acreditar que ele gostava dela na mesma intensidade, pois ele inventava todo tipo de pretexto possível para ficar com ela. Ela deu um suspiro longo e restaurador. – É sobre o casamento? – Pronto, e ela conseguira ser sucinta e profissional o suficiente. – Sim. – O olhar sombrio a examinou da mesma forma que ela havia feito com ele. Agora ela desejava ter sido mais cuidadosa com o cabelo, as roupas, a maquiagem. Ela havia vestido um velho par de jeans, suas botas mais confortáveis e uma blusa que – infelizmente – continha os dizeres: “Salve um cavalo; cavalgue um vaqueiro.” – Eu me lembro desta blusa – comentou Jack. E Josie se lembrava de ter feito exatamente o que a blusa recomendava. Mas ela não repetiria o ato com Jack, independentemente do quanto o desejasse. Eles precisavam permanecer nos trilhos. – Você queria falar comigo a respeito do casamento? – Ah, sim. Certo. Nós… É que… Ouça, eu posso entrar para conversarmos? – Claro. – Josie deu um passo para trás para permitir que ele entrasse. Ela podia muito se testar e ver se seria capaz de ficar a portas fechadas com ele. Não era como se estivessem realmente a sós, afinal de
contas. Andy estava ali por perto e Tracy chegaria a qualquer momento. Toda aquela racionalização desapareceu no minuto em que Josie fechou a porta e se virou para encará-lo. Todos os beijos, todos os toques, todos os minutos fazendo amor retornaram à sua mente. Se ela achava que havia alguma esperança de administrar sua atração por Jack, estava fatalmente enganada. Ela queria muito que as coisas fossem como antes. Talvez se ela se refugiasse atrás de sua mesa, ajudaria um pouco. Josie recolheu-se em sua cadeira e indicou uma cadeira de madeira sem braços no lado oposto da mesa. Era o móvel utilizado durante as entrevistas de novos funcionários. – Sente-se. Bem ao seu estilo, Jack girou a cadeira e se sentou, apoiando os antebraços no encosto. Mas é claro que ele ia se sentar assim. Deus do céu, por que a calça jeans tinha de se encaixar tão adoravelmente em torno de seu equipamento? Ele cutucou o chapéu para trás com o polegar e olhou para ela. – Parece que vamos ter que nos aguentar durante as festividades. – Acho que sim. – Aquela voz acariciou as terminações nervosas de Josie. Ela pegou uma caneta e começou a estalar o mecanismo de retração antes de perceber o quanto estava parecendo boba. Então largou a caneta. – Tenho certeza de que podemos fazer isso. – Também tenho certeza de que podemos, mas Gabe soube que eu fui ao seu apartamento ontem à noite, e eu acabei tendo de contar a ele e a Sarah o que aconteceu com seu irmão. – Oh. – Josie teria adorado um vídeo da cena. – Por causa disso, eles estão convencidos de que você e eu somos um barril de pólvora em potencial que poderia explodir no meio da festa. – Jack tamborilava o polegar ociosamente no encosto da cadeira. Ela sabia o quão talentoso ele era com aquele polegar. Sim, eles podiam ser um barril de pólvora, mas Josie temia que a explosão tivesse a ver com luxúria, não com raiva. Só de ficar sentada naquele escritoriozinho com Jack, ela já estava ofegante e com a calcinha úmida. – Eles não dão muito crédito ao nosso autocontrole, né? – Talvez dessem se eu não tivesse tentado socar seu irmão. Mas, depois de saberem da história, eles fizeram um pedido, e acho que devemos honrá-lo. – Eu prometi a Morgan que estaria no casamento, Jack. Não posso recuar na promessa. – Ninguém está pedindo para você recuar. Mas Gabe e Sarah querem uma prova de que podemos agir como dois adultos civilizados. Então eles imaginaram se eu poderia ser a pessoa a ensinar você a montar, para a gente ir resolvendo nossas diferenças e ficarmos bem para o casamento. – Você está louco? Eu não quero que você me ensine a montar. Isso é um desastre iminente. – Nunca, nem em um milhão de anos, ela conseguiria manter as mãos longe dele caso embarcassem num projeto desses. – Não, não vai ser um desastre. Vamos fazer funcionar e, quando o casamento rolar, vai ser menos provável que a gente queira atacar um ao outro. Ele era um gostosão, mas um gostosão irritante. – Que negócio é esse de “a gente”. O que é tudo isso mesmo? Eu não soquei ninguém. Por que você simplesmente não diz que eles estão preocupados com você e para de insinuar que o problema também é meu? Ele suspirou.
– Tudo bem. Eles estão preocupados comigo, mas, para que não se sintam assim, pediram para que eu ensinasse você a montar. – Eu ouvi dizer que banhos gelados são capazes de diminuir o nível de testosterona. – Não seja engraçadinha. Isso é sério. – Não, não é. É bobagem. Eu vou me comportar durante o casamento e, se você não for capaz de fazer isso, tome um calmante. O olhar dele ficou raivoso. – Olha, eu disse a eles que eu faria isso, caramba. Basta concordar, está bem? – Por que eu deveria? – Você precisa aprender a cavalgar, para começo de conversa. – Eu vou fazer o que Morgan sugeriu e utilizar os serviços de um dos estábulos locais. Eu não quero que você me ensine a montar, Jack, e ponto final. – Josie conseguia imaginar a cena. Jack demonstrando o jeito certo de sentar-se, ela hipnotizada pelo bumbum dele, ele montado na sela, ela desejando que ele montasse em seu corpo. – Por que não? Josie preferiria enfiar farpas debaixo das unhas a revelar o motivo para ele. – Porque você é mandão. Ele assentiu. – Justo. Que tal isso? Você terá liberdade para me mandar para o inferno sempre que eu agir como um mandão. – Eu sempre tive liberdade para te mandar para o inferno. Um espectro de sorriso lampejou no rosto dele. – Verdade. Aquele sorriso causou um tranco no coração dela. Jack costumava sorrir o tempo todo. Eles costumavam rir e brincar, até mesmo na cama. Ele pigarreou. – Vamos fazer o seguinte. Que tal se tentarmos uma aula apenas? Se você realmente não gostar, aí a gente desiste. Josie notava que ele queria que ela concordasse, mas ela não sabia bem o porquê disso. Aparentemente, Jack tinha dito a Gabe e Sarah que faria isso, então talvez fosse uma questão de orgulho; no entanto, ela pressentia algo mais, uma ânsia que não tinha nada a ver com o pedido da família. – Por que isso é tão importante para você? – Bem, eu disse que faria, para começar. Mas… – Ele fez uma pausa e olhou para as próprias mãos. – Eu te passei a impressão de que só estou interessado em sexo. – É mais do que uma impressão. Você disse isso claramente em outubro. Ele levantou a cabeça e ofereceu um olhar digno de lhe derreter a alma. – Eu gostaria de ter uma chance de consertar isso. Ai, Deus. Era a única coisa que ele poderia dizer que iria fazer diferença. E quando ele olhava para ela daquele jeito, Josie não conseguia recusar nada. Ele provavelmente sabia disso, provavelmente tinha usado seu carisma poderoso com o propósito de conseguir o que queria. A pulsação dela disparou, mas ela fez o melhor possível para parecer aborrecida com o assunto. – Tudo bem, Jack.
Será que ele realmente pretendia provar que era capaz de estar com ela e de não agir de acordo com a tensão sexual que sempre existira entre eles, que existia ainda agora, bem ali no escritório? E se ele conseguia ser forte o suficiente para resistir à tentação, será que ela também conseguiria? Desmontando suavemente da cadeira, ele se pôs de pé. – A gente podia começar com uma aula de uma hora. Ela também se levantou, mas não saiu de detrás da mesa. Perigoso demais. – Apenas lembre-se, pode ser que acabe em cinco minutos. – Não vai acabar. Josie sempre considerara a confiança de Jack muito sexy, e agora não era uma exceção. – Se você está dizendo. – Vai dar tudo certo. Você pode estar no rancho às 9h? Eu sei que é cedo para você, mas… – Eu estarei lá. Pode ser que a gente descubra imediatamente se isso é uma boa ideia ou um erro colossal. Ele sorriu, um sorriso aberto e genuíno desta vez. – Obrigado, Josie. Devo-lhe uma. – Você me deve várias, cowboy. – Entendido. – Ele puxou o chapéu para frente e tocou a aba com dois dedos em despedida. – Vejo você de manhã. Depois que ele se foi, Josie afundou de volta em sua cadeira, dando um gemido, seu corpo todo tremendo. Que Deus a ajudasse, ela ia passar uma hora com Jack durante a manhã. E mal podia esperar. Jack dirigiu de volta ao rancho num bom humor dos diabos. Ele não conseguia se lembrar da última vez que se sentira tão feliz. Daí novamente, talvez ele se lembrasse. Dez meses atrás, ele e Josie tinham rolado na cama dela até a madrugada, fazendo amor, fazendo guerra de travesseiros, comendo batatas fritas com molho, nus, e fazendo amor novamente. Eles tinham se divertido em outras noites também, mas ele particularmente se recordava dessa. Ou talvez fosse tão nítida por causa do horror do dia seguinte. As lembranças de Josie ainda estavam atreladas à morte do pai dele, e Jack se perguntava se isso nunca iria mudar. O remorso continuava a apunhalá-lo sempre que ele pensava na recusa ao pedido de seu pai só para poder ficar mais na cama com ela. A conversa raivosa por telefone tinha sido a última com seu velho. Quando Jonathan morreu, estava amargamente decepcionado com seu filho mais velho. Jack tinha expectativas de conviver com essa culpa por muito, muito tempo. Ele também precisava fazer alguma coisa a respeito da égua. Ela não fora montada desde o acidente. Embora ela tivesse escapado com apenas alguns arranhões, ninguém fora capaz de cavalgá-la. Consequentemente, ela havia passado os últimos dez meses ou em sua baia ou no pasto. Isso era uma vergonha. Ela era uma bela Paint marrom e branca com boa origem e o infeliz nome de Bertha Mae. O qual também não dava para reduzir a iniciais. Jack pensou em como esse tipo de coisa faria Josie dar risada, e sorriu para si. Ele gostava de fazê-la rir, pois ela se entregava ao ato de corpo inteiro. Ele adorava principalmente sentir Josie rindo quando seu membro estava enterrado profundamente dentro dela. Quando ele cogitou a prossibilidade de ter essa experiência novamente, seu sorriso desapareceu. Não importava o quão desesperadamente Jack ainda desejasse Josie; ele certamente não ia usar as aulas de
equitação com pretexto para voltar à cama dela. Ele tinha sido responsável por fazê-la achar que ele só queria sexo, no entanto, isso o incomodava. Muito. O sexo entre eles era bom, mas não tinha sido a única razão para mantê-los juntos, apesar do que ele dissera a ela. Josie significava muito mais para Jack, e de alguma forma ele achava que ela deveria saber disso. Por mais arrogante que pudesse parecer, ele inconscientemente se imaginava saindo com Josie outra vez, um dia, quando estivesse pronto. E ele achava que ela o aceitaria de volta caso ele se desculpasse por seu comportamento. Sim, isso era extremamente insolente. Ficar sabendo que ela nunca o aceitaria de volta o obrigara a descer uns bons degraus na escada da realidade. Jack encostou no anexo designado como garagem das caminhonetes. A manhã tinha sido bem ruim, rendendo-lhe uns parcos trinta minutos de trabalho. O almoço era sempre caprichado no Última Chance, e Jack geralmente tentava comparecer. Cinquenta anos antes, seu avô Archie estabelecera a tradição de juntar os funcionários do rancho e a família para almoçar. As outras duas refeições eram servidas a eles no galpão, mas, no almoço, todo mundo comparecia à casa principal. Em algum momento, a sala de jantar da família ficou apinhada de gente, por isso, quando Jonathan acrescentou a ala esquerda da casa, Sarah insistiu num espaço específico para reuniões grandiosas. Com quatro mesas redondas que acomodavam oito pessoas, o cômodo dava conta de todos os funcionários, e também era útil quando os potenciais compradores vinham ver os cavalos Paint. O almoço sempre fora um ponto alto do dia de Jack, até ele começar a namorar Josie. Desde então, a refeição se transformou em uma oportunidade para seu pai comentar sobre seus deveres negligenciados. Mas hoje Jack estava ansioso pelo almoço, tanto por causa do chili que Mary Lou havia preparado de manhã quanto pela oportunidade de informar a Gabe e a Sarah que ele tinha sido bem-sucedido em sua missão com Josie. Primeiro, porém, Jack ia prestar uma visitinha a Bertha Mae. Talvez esta tarde ele arranjasse tempo para trabalhar com ela. Enfiando as chaves da caminhonete no bolso, ele desceu para o celeiro. Os cães de Nick, Butch e Sundance, estavam esparramados um de cada lado da porta do celeiro, sinal de que Nick devia estar lá dentro em seus afazeres de veterinário. Seu irmão tinha encontrado os cães vagando na estrada alguns anos atrás, ambos desgrenhados. Agora a pelagem marrom e branca de Butch brilhava e os longos pelos negros de Sundance estavam livres de carrapichos. Jack acarinhou as orelhas de cada um dos cães antes de adentrar no celeiro ventilado. – Nick, você está aqui? A voz de Nick veio de uma baia nas proximidades: – Sim. Fazendo um exame de rotina em Calamity Sam. Adiando sua visita a Bertha Mae, Jack foi até a baia que Calamity Sam dividia com sua mãe, Calamity Jane. Tanto a mãe quanto o potro de dois meses de idade eram da raça Paint e nas cores cinza e branca. – Como ele está? – Ótimo. – Nick olhou para cima quando Jack apoiou os antebraços na porteira da baia. – Saudável como um… Jack gemeu, abafando o restante do clichê cansativo que havia se tornado uma piada permanente da família. Os cavalos eram muito mais delicados do que pareciam, e a menor coisinha, tal como um lote
ruim de ração, poderia matá-los rapidamente. A criação de cavalos era muito mais desafiadora do que a criação de gado, e essa poderia ser uma das razões pela qual seu pai gradualmente foi abandonando o gado para se especializar em cavalos Paint, optando também por treiná-los para competições de apartação. Jonathan Chance adorava um desafio. Nick passou a mão hábil ao longo do pescoço de Calamity Sam e deu um tapinha no potro antes de fechar sua maleta de veterinário. – Este vai ser um cavalo rentável. – Espero que sim. – Jack afastou-se da porteira da baia para que Nick pudesse sair. – Conte com isso. – Nick tirou seu chapéu do gancho e olhou para Jack enquanto o colocava na cabeça. – Como foi com Josie esta manhã? A irritação afetou o bom humor de Jack assim que ele imaginou Gabe espalhando a notícia. Jack odiava ver seus problemas particulares tornarem-se públicos. – Será que toda bendita alma neste racho já está sabendo da história? – Praticamente todo mundo. – Algo nos olhos verdes de Nick sempre fazia parecer como se ele estivesse prestes a fazer uma travessura, mas agora eles estavam especialmente cheios de malícia. – Ora, Jack. Você passou meses exigindo muito da gente. Não culpe os rapazes por se divertirem com isso. – O que você quer dizer com divertirem? – Tem uma aposta rolando para saber se Josie vai concordar em tomar as aulas de equitação com você. Jack soltou um suspiro. – E eu suponho que você esteja nela. – Claro que sim. E eu também fiz um interurbano para Dominique, para que ela também pudesse participar. Nós dois apostamos que você não ia conseguir convencer Josie. – Que legal. Obrigado pelo voto de confiança, Nick. – Uma vez que você levar em consideração o incidente no qual você tentou nocautear o irmão dela, nossa aposta é bem razoável. – Já está todo mundo sabendo disso? – Jack semicerrou os olhos. – Eu vou matar Gabe. – Então você também pode ir atrás da mamãe e de Mary Lou, porque elas ajudaram a espalhar a notícia. E aí, Josie te deu um fora? Eu apostei vinte paus nisso, maninho. – Não, ela não me deu um fora. – Pelo menos Jack teve a satisfação de provar que os pessimistas estavam errados. Mas, de repente, o almoço não lhe pareceu uma boa ideia. Por outro lado, se ele não aparecesse, seria impossível determinar as fofocas que surgiriam. – Ela topou? Acho que você não perdeu o jeito, afinal. – Nick lhe deu um soquinho no ombro. – Muito bem, irmãozão. É bom vê-lo de volta à ativa. – Eu não estou de volta à ativa, como você diz. Eu só vou dar aulas de montaria a Josie, ponto. Nada além disso. Nick sorriu. – Sim claro. Estritamente platônico. – Isso mesmo. – Continue dizendo isso para si, camarada. Continue dizendo. Jack prometeu que o faria. Ele iria mostrar a Josie – inferno, ele ia mostrar a todos – que Jack Chance era capaz de passar o tempo com uma mulher e não envolver sexo na jogada.
Capítulo 5
NA MANHÃ seguinte, Josie dirigia pela estrada de terra esburacada que levava ao rancho com o estômago em nós e os avisos de Alex ecoando em seus ouvidos. Seu irmão não tinha ficado nada feliz por ela ter concordado em receber ao menos uma aula de montaria com Jack. Alex se oferecera para acompanhá-la, mas ela o convencera a não ir. Antes de sair para mais um dia de caminhada, ele a advertira a ter cuidado, pois a aula provavelmente era um plano maligno de Jack para atraí-la de volta para a cama. Josie não podia admitir para Alex, e mal conseguia admitir para si que, na verdade, ela quase tinha esperanças de que fosse isso mesmo. Sentia saudade de Jack, tanto na cama quanto fora dela. Ele provavelmente não fazia bem para ela, mas meses de celibato também não lhe faziam nada bem. Depois de passar dez meses praticamente sem fazer nenhum contato, ela conseguira se convencer de que estava melhor sem ele. A façanha dele há duas noites tinha sido ridícula, e Josie fizera seu máximo para colocar mais um pontinho negativo ao lado do nome dele por causa disso. Mas então ele apareceu em seu escritório trazendo consigo toda a sua sensualidade e arrependimento. Ela realizou um bom combate, tentando ser sarcástica, inteligente e desdenhosa, mas, no final, acabou cedendo. Ela ficara fascinada ao ouvir Jack afirmar que o sexo não fazia parte do acordo, como se ele tivesse algo a provar a ela. Josie não mencionara isso a Alex. Ele poderia ter insistido de que era algum tipo de manobra para fazê-la baixar a guarda. Mas nada disso importava agora, pois Josie estava chegando ao rancho. Sua pulsação disparou quando ela notou Jack perto do celeiro, de pé ao lado de dois cavalos selados e presos a um poste de amarração. Havia mais alguns vaqueiros na área, mas Josie não conseguia se concentrar em ninguém além de Jack. Ele usava a camisa preta favorita dela – Josie tinha mencionado a Jack que a peça o fazia parecer um pistoleiro, principalmente quando combinada com o chapéu também preto que ele adorava. Como sempre, seus quadris estreitos estavam abrigados numa calça jeans gasta que, ela sabia por experiência própria, era macia feito o cobertor de um bebê devido às lavagens frequentes. Jack era uma bela imagem, ali parado ao lado de seu cavalo Paint preto e branco, mas Josie precisava parar de cobiçá-lo e agir. Havia duas caminhonetes estacionadas ao lado do celeiro, então ela dirigiu até lá e encostou ao lado delas.
Ela havia se vestido com esmero para a aula de montaria. Felizmente, Josie possuía todas as roupas certas. Apesar de não saber nada sobre equitação, ela queria se encaixar na cultura do campo e comprara botas, calça jeans, camisas em estilo country e até mesmo um chapéu, o qual estava no assento ao seu lado, com as abas para baixo. Logo no início, ela aprendera que vaqueiros – e vaqueiras – estimavam seus chapéus e eram minuciosos com o modo como esses objetos eram tratados. Nenhum cowboy de respeito deixaria seu chapéu com a aba virada para baixo durante muito tempo. Um bom chapéu devia ficar num gancho ou repousando com a aba virada para cima, a fim de manter o formato moldado pela cabeça de seu dono. Pegando seu chapéu cinza, Josie deixou as chaves na ignição e saiu do carro. Ela acomodou o chapéu na cabeça enquanto caminhava em direção a Jack. Jack, o cavaleiro. Por mais incrível que isso parecesse agora, ela nunca o tinha visto montar. E ao imaginá-lo sobre o Paint preto e branco, com a calça jeans justa moldando todos os seus atributos enquanto suas coxas se agarravam à sela, Josie começou a bambear de desejo. Naquele momento, ela percebeu que Jack teria de ser o guardião da coisa toda quando o assunto fosse renunciar ao sexo. Sendo obrigada a confrontar aquela figura viril no modo vaqueiro completo, ela simplesmente não teria força de vontade para resistir. O olhar sombrio de Jack não o delatou em nada quando ele olhou para ela. – Você chegou bem na hora. – Ele não deu nenhuma indicação de ter notado que Josie estava usando a calça jeans mais sexy que possuía e uma camisa ajustada. Ela havia escolhido a roupa com cuidado, porque, com Jack tomando a iniciativa ou não, ela ao menos queria que ele sentisse vontade de fazê-lo. Se ele quisesse e se esforçasse para se conter, aquilo meio que seria uma perspectiva excitante. Josie gostava de ser o fruto proibido. – Eu disse que estaria aqui. – Ela soou mais rabugenta do que se sentia. Por dentro, era um marshmallow grudento de desejos não saciados. – Tudo bem então. – Ele puxou a aba do chapéu preto sobre os olhos. – Podemos começar no curral se você quiser, mas Destino é um cavalo castrado muito tranquilo, então acho que você vai ficar bem se formos pela trilha. Josie conseguiu afastar o olhar de Jack por tempo suficiente para fitar o cavalo que ele tinha escolhido para ela – um Paint marrom e branco alto, com uma manchinha branca ao longo do focinho. – Então o nome dele é Destino? – Eu o escolhi pelo comportamento dele, não por causa do nome. Ele tem 22 anos, e tanto Gabe quanto Nick aprenderam a cavalgar nele. Ele é o mais parecido com um animal de estimação do que qualquer outro cavalo do rancho. – Quem deu o nome Destino a ele? – Eu dei, mas não me condene. Eu tinha dez anos e gostava de nomes dramáticos. – Então tá. – Ela já devia saber, em vez de atribuir motrizes sentimentais a um sujeito como Jack. – Qual é o nome do seu cavalo? – Josie não conseguia acreditar que ainda não sabia depois de todo o tempo que tinha passado com ele. – Bandido. Ao som de seu nome, o cavalo virou a cabeça e exibiu a razão da alcunha. O bicho tinha um desenho em preto e branco na carinha semelhante a uma máscara. – Estou vendo – disse Josie. – É um cavalo perfeito para um pistoleiro. Obrigada por usar minha camisa preta favorita, a propósito.
– Era a que estava limpa. Ela não acreditou naquilo nem por um minuto. – Tenho certeza de que isso é verdade, Jack. Deus te livre de usar determinada camisa só porque você sabe que gosto dela. – Eu nem sonharia com isso. – Mas havia um sorriso na voz dele. – Tudo bem, o que você acha de começarmos a festa? – Por mim, tudo bem. – Ela olhou para a sela, que parecia bastante elevada. – Como eu subo nisso? – Pelo lado esquerdo. Coloque seu pé esquerdo no estribo, agarre a sela e impulsione a perna direita por cima. Josie fez como lhe foi dito e flagrou-se montada num cavalo pela primeira vez na vida. Ela lembrouse de sua primeira vez num teleférico na estância de esqui – começar algo novo era ao mesmo tempo assustador e empolgante. – Tire os pés dos estribos um minutinho. Eles estão muito compridos. Segurando a sela de couro com força, Josie olhou para Jack enquanto tirava os pés dos estribos. Ele mexeu na fivela do estribo esquerdo e ficou roçando na perna dela durante o processo. Josie poderia ter afastado a perna, mas não quis. O toque lhe causava aquele tipo de arrepio que ela não sentia havia dez meses. Jack terminou com o estribo esquerdo e contornou o cavalo para repetir o procedimento no lado direito. Josie podia jurar que a respiração dele tinha mudado. – Experimente. – A voz de Jack soou calma como sempre, mas ele não olhou para ela. – O que é que eu tenho que sentir? Ele olhou para ela então, e seu olhar ficou muito mais intenso do que antes. – Você deve se sentir… – A voz dele ficou rouca. – Tem que estar gostoso. Ela prendeu a respiração. – Eu não sei avaliar quando está gostoso. Resmungando baixinho, ele fechou os olhos. – Mas que droga, Josie. – Eu estou falando da sela. Ele abriu os olhos e a encarou. – Não, não está, nem eu. O calor escoou dentro dela. – Talvez devêssemos ficar no curral – disse ele. – Parece chato. – Parece seguro. Você nunca cavalgou, então andar em torno do curral provavelmente é melhor. – Eu prefiro andar na trilha. Ele lhe lançou um olhar demorado. – Tudo bem. Então vamos verificar seus estribos para que possamos ir. Erga o corpo. Tem que haver claridade entre a sela e o seu… E você. – Ele xingou baixinho de novo e desviou o olhar. – Você sabe o que eu quero dizer. – Sim. – Ela pressionou os calcanhares nos estribos e ergueu-se. – Está bom assim? – Está. – Você não olhou.
– Sim, eu olhei. Você que não me viu. – Ele desatou as rédeas do poste de amarração, as amarrou e lançou sobre a cabeça de Destino. – Segure isto com a sua mão esquerda. Josie pegou as rédeas de Jack e as mãos de ambos roçaram. Mais uma vez, as terminações nervosas dela cantaram “Aleluia”. Como se necessitando de distância, Jack deu um passo atrás para oferecer mais instruções. – Este cavalo tem rédeas no pescoço. Isso significa que você puxa as rédeas do lado direito para ele virar à direita, e vice-versa. – Entendi. Como posso fazê-lo parar? – Diga “opa” e puxe as rédeas para trás com delicadeza e calma. Não vai demorar muito. Ele tem uma boca sensível. – Daí, como se não conseguisse evitar, Jack olhou para a boca de Josie. Agindo sem pensar, Josie passou a língua nos lábios repentinamente secos. Jack ficou olhando para eles e ela se flagrou inclinando-se para a frente. Não dava para saber o que poderia ter acontecido em seguida caso um vaqueiro rústico aparentando seus 50 e tantos anos não tivesse chamado da porta do celeiro. – Ei, Jack, vou dar uma corridinha à cidade e comprar algumas pás. Jack piscou e balançou a cabeça levemente antes de se virar. – Tudo bem, Emmett. – Ah, e tenha um bom passeio, Josie – disse Emmett. – Você vai gostar do Destino. A marcha dele é tranquila, é como estar sentado numa cadeira de balanço. – Obrigada, Emmett. – Josie o reconhecia agora. Aquele era Emmett Sterling, o capataz do rancho. De vez em quando, ele ia ao Espíritos e Esporas para uma cerveja, mas normalmente ficava na dele, por isso Josie nunca puxara conversa. – Duvido que eu consiga chegar a tempo para o almoço – disse Emmett. – A menos que você tenha alguma objeção, vou parar no Beliche e Boia a caminho de casa e verificar um problema no sistema de drenagem da horta de Pam. Jack sorriu. – Sem problemas. Divirta-se. – Não é bem assim, Jack. Eu só estou sendo cortês, só isso. – Eu entendo, Emmett. Nós certamente não queremos que Pam ache que você é um mau vizinho. Estou feliz que você esteja ajudando. Emmett bufou e acenou com desdém antes de se dirigir para uma das duas caminhonetes estacionadas ao lado do celeiro. Assim que Jack desamarrou Bandido, ele baixou a voz para que apenas Josie pudesse ouvir. – Ele tem uma quedinha por Pam, mas não vai admitir isso. – Por que não? – Josie gostava muito de Pam, a dona de uma pensão local. – Ela é maravilhosa, e eles têm mais ou menos a mesma idade. – Ela também é cheia da grana, e Emmett tem algumas ideias muito antiquadas em relação a dinheiro. – Que pena. – Mas eles ainda podem se resolver. – Juntando as rédeas em uma das mãos, Jack subiu em seu cavalo com facilidade. – Pronta? Ah, sim. Não era a perspectiva de um passeio a cavalo que estava fazendo Josie tremer feito uma bacia de gelatina. Quando ela olhou para Jack montando aquele magnífico Paint preto e branco tal qual
um antigo guerreiro sombrio, ela se viu pronta para o que quer que ele tivesse em mente. Josie ficou olhando para ele com admiração total. O cavalo de Jack deu uma requebrada e jogou sua crina branca, ao passo que Destino simplesmente permaneceu como se plantado no chão. Josie não se importou nem um pouco. Ela se contentava em observar os músculos rijos da coxa de Jack se contraindo sob o tecido da calça jeans. Ela poderia ficar admirando aquilo o dia todo. – Você precisa cutucá-lo com os calcanhares para fazê-lo andar – disse Jack com suavidade. – Ah. – Josie estimulou Destino com delicadeza. O cavalo seguiu na direção para o qual foi guiado, rumo à porta aberta do celeiro. – Mande-o virar à direita! – gritou Jack. Josie tentou se lembrar de como fazer isso, mas, por alguma razão, Destino simplesmente continuou andando até o celeiro. – Aqui. – Jack trotou e pegou a rédea do cavalo do lado direito. – Para cá, filho. – Ele conduziu Destino e continuou segurando a rédea até eles passarem do celeiro, em direção a um prado cheio de flores silvestres. Logo adiante, havia uma trilha de terra que levava às árvores. A trilha tinha largura suficiente para acomodar apenas um cavalo de cada vez. Josie não teve a oportunidade de admirar as flores silvestres. Ela agarrava a sela usando as duas mãos. Ela havia enrolado as rédeas em torno de um pulso, mas ninguém poderia acusá-la de estar guiando o cavalo de qualquer forma. Seu pé escorregou do estribo direito e ela usou a ponta da bota para tentar recuperá-lo. – Deixe comigo. – Jack parou ambos os cavalos, então se inclinou e segurou o estribo de Josie até ela conseguir enfiar o pé de volta nele. – Eu me sinto como uma desastrada completa. – É a sua primeira vez. – Ele sorriu para ela. – Vá com calma. Afinal, você é uma virgem no hipismo. Ela revirou os olhos. – E eu que pensava que meus dias virginais tinham ficado para trás. – Não se preocupe. Serei gentil. Era o tipo de brincadeira na qual eles tinham se especializado quando eram um casal, e ambos entraram nela naturalmente, talvez com naturalidade até demais. O fato de ficarem à vontade um com o outro era uma das coisas mais sedutoras do relacionamento. Com Jack, Josie podia ser ela mesma. Podia soltar o cabelo, literal e figurativamente. Mas daí ele a pegara de surpresa, abandonando-a abruptamente no ano anterior. Seria bom ela se lembrar disso. – Incentive-o com os calcanhares de novo – disse Jack. – Quero que você desça pela trilha na minha frente, para que eu possa observar sua técnica. Josie fez como lhe foi dito e Destino seguiu à frente de Jack e Bandido. – Você quer admirar meu bumbum, isso sim – disse Josie, olhando para trás. Ela provavelmente não deveria ter feito tal observação, mas os velhos hábitos persistiam. – Pare com isso, Josie. Estou me esforçando para me comportar. Ela soltou a mão direita da sela para poder controlar as rédeas com mais habilidade. – Meu irmão acha que você armou este passeio para me seduzir. – Seu irmão pregaria meu couro na parede do celeiro se pudesse. – Acho que sim.
– Eu não o culpo. Josie sentiu um arrepio de emoção. – Você está confessando que armou isto para me seduzir, afinal? – Não, exatamente o contrário. Você está totalmente segura comigo. Droga. – E que fique registrado, eu não armei isto – continuou ele. – Eu estou fazendo isso porque Gabe e Sarah me pediram. Mas agora que topei, prometo a você que não existe nenhum plano de sedução. Droga de novo. Mas ela acreditava nele. Jack podia ter agido como um babaca ao romper com ela por telefone dez meses antes, mas ele não era mentiroso. – Então acho que é melhor você me dar alguma instrução de montaria Jack. – Eu ia fazer isso agora. Mantenha os calcanhares para baixo se não quiser perder os estribos de novo. Ela angulou os pés para que os saltos ficassem mais baixos do que os dedos dos pés. – Melhor? – Muito melhor. Como você está se saindo? – Estou bem. – Ela achou o movimento rítmico do cavalo bastante erótico, mas não quis dizer isso a Jack. Se ele era capaz de guardar segredos, então ela também era. E se uma garota se concentrasse num determinado vaqueiro a cavalo bem atrás dela e inclinasse sua pélvis um pouco para a frente, ela conseguiria obter exatamente a pressão certa para… Hum. Que delícia. – Você está se inclinando demais para frente. Sente-se na sela e a agarre com as pernas. Desmancha-prazeres. Ocorreu a Josie que havia negligenciado sua vida sexual desde o dia em que Jack rompera o relacionamento. Ela achou mais fácil ensimesmar-se e adentrar num convento mental. Mas Jack estava de volta, mesmo depois de ter jurado que não ficariam na horizontal. A presença dele na vida dela despertara sua sexualidade adormecida, e as fantasias estavam girando em sua cabeça. Ela se perguntava se ele ainda guardava camisinhas no bolso de trás da calça. Durante seu período juntos, ele nunca saíra de casa sem elas. A partir do prado, a trilha dava numa floresta de pinhos, álamos e alguns carvalhos. Josie se perguntava se Jack tinha planejado este passeio para que eles pudessem ir para uma área isolada. A luz do sol salpicada e o trinado dos pássaros seriam um bom pano de fundo para duas pessoas nuas mandando ver num cobertor. Uau, ela realmente pensou isso? Josie precisava saltar daquele trem imediatamente. Mais daquela fantasia e ela estaria sugerindo o ato para Jack. Ele tinha deixado claro que não ia tentar seduzi-la, de modo que, se ela sugerisse que eles se desnudassem, a coisa toda seria um erro em muitos aspectos. E ela sairia da situação como carente e patética. – Você parece confortável aí em cima – disse Jack. – Acho que está pronta para um trote. – Isso não é aquela coisa de saltitar? – Não, se você sentar-se com cuidado e conforto e movimentar-se no mesmo ritmo do cavalo. Bata os calcanhares nos flancos de Destino e ele vai trotar para você. Concluindo que um novo desafio a faria parar de pensar em sexo, Josie bateu os calcanhares nas costelas do cavalo. O resultado foi abaixo do ideal. Em vez de fluir como na caminhada lenta anterior, Josie se viu subitamente sentada sobre uma britadeira. Ela agarrou a sela quando seus dentes começaram a trincar e suas nádegas começaram a bater repetidamente no couro liso embaixo de si. Fantasias com palmadinhas não eram parte de seu
repertório, e ela não estava se divertindo. – Eu não gosto disso, Jack! Ele pareceu completamente indiferente ao sofrimento dela. – Sente-se na sela e permita-se sentir o ritmo do cavalo. Ela tentou, mas ainda quicava para todo lado. – Este ritmo… não… funciona… para mim. – Então ignore o trote e vá direto para o galope. – Como? – Bata os calcanhares outra vez. – Existe… uma alavanca de câmbio… nas costelas… dele? Jack riu, gesto que Josie considerou extremamente rude, então ela bateu os calcanhares em Destino com um pouco mais de força do que pretendia. Ela sentiu os músculos se enrijecerem sob seu corpo, e logo ela estava voando pela estrada a uma velocidade que transformava a paisagem num belo borrão. Embora tivesse perdido o chapéu, de alguma forma Josie conseguiu manter os pés nos estribos, e então os encaixou bem. Agora conseguia combinar seu ritmo de marcha ao do cavalo; sendo assim, ela inclinou para frente, usando as duas mãos para agarrar a sela, empolgada demais para sentir medo. Então isso era cavalgar! O vento fustigava seus ouvidos, deixando-a surda para todos os sons, exceto o da própria respiração ofegante. Em sua visão periférica, ela notou um lampejo em preto e branco em meio às árvores, e logo Jack estava na sua frente, bloqueando o caminho enquanto desacelerava seu cavalo, o que obrigou Destino a abrandar. Finalmente Jack parou, saltou de seu cavalo e largou as rédeas. Voltando-se para Destino rapidamente, ele arrancou Josie da sela de forma tão abrupta que o chapéu dele caiu. – Você está bem? Deus, Josie, eu não quis dizer para você fazê-lo correr! Você deve ter ficado apavorada! Rindo, ela balançou a cabeça. – Eu adorei. – Estendendo a mão, ela correu os dedos pelo cabelo despenteado. – É melhor você recolher seu chapéu. Eu sei como vocês vaqueiros são com seus chapéus. – Esqueça o chapéu. – Esquecer? Você está louco? – Sem dúvida. Josie, perdoe-me. – Por causa do passeio selvagem? Foi divertido! – Não é por causa do passeio selvagem. É por causa disso. E então ele a beijou.
Capítulo 6
VINTE MINUTOS de aula de montaria, e Jack já tinha quebrado sua promessa de manter as mãos longe de Josie. Mas quando Destino disparou com ela ele entrou em pânico, enlouquecido diante da ideia de que ela poderia se machucar. Porém, ela não se ferira, e ele ficou tão grato que simplesmente necessitou… da boca de Josie. Deus do céu, aquela boca. Ele se banqueteou com a avidez de um homem que havia renunciado a si durante muito tempo. Se ela tivesse recuado ou resistido de algum modo, ele poderia ter encontrado forças para minar tal absurdo. Em vez disso, ela abriu a boca gloriosa e segurou a nuca dele, fazendo questão de usar as duas mãos para contê-lo rapidamente. Josie. Tão linda, tão incrivelmente delicada e flexível em seus braços. Jack não merecia aquela recepção enternecedora, mas ele não conseguia parar de aceitá-la. Eles tinham aperfeiçoado aquela dança em horas de prática, e ele retornava à maravilha familiar que era beijar Josie como se tivesse feito isso na véspera. Mas ele não a tinha beijado no dia anterior. Durante dez meses longos e sombrios, ele ficara carente daquela experiência incrível. Durante o tempo em que estiveram juntos, Jack desenvolvera certo autocontrole para ser capaz de abraçá-la e beijá-la sem ser consumido pelo desejo de lhe rasgar as roupas de pronto. Depois de dez meses de celibato, esse tal autocontrole desaparecera. Subitamente, ele ardia em chamas, o coração batendo e o membro rijo. Ele gemeu e a abraçou ainda mais, desejando-a com uma ferocidade que ameaçava dominar todas as suas honestas intenções. Josie não estava ajudando em nada. Moldando-se a ele de forma que a ereção se encaixasse entre suas coxas, ela gemeu de encontro à boca máscula. Aquele som familiar fez Jack se lembrar de todos os sons especiais que ela emitia quando ele a deixava louca. Ele queria ouvi-la arfar, gemer, implorar e gritar seu nome quando lhe proporcionasse um orgasmo, e berrar quando ele lhe proporcionasse mais um, e… Algo, ou alguém, deu uma cutucada nas costas de Jack. Seu primeiro pensamento foi que o irmão de Josie tinha chegado e estava pronto para socá-lo. Relutantemente, ele finalizou o beijo e olhou para trás. Destino o cutucou de novo, mais forte desta vez. Jack não ficou sem saber se ria ou se xingava. – Jack?
Ele encarou os olhos acinzentados que agora estavam brandos e sonhadores. Josie iria permitir que ele fizesse amor com ela de imediato caso ele lhe pedisse. Depois de todos aqueles meses juntos, Jack conhecia bem o estado de espírito dela. Mas ele tinha jurado que não ia deixar o sexo fazer parte deste projeto. – Destino é um pouco mimado devido aos seus anos de convivência com crianças – disse ele. – Ele não gosta de ser ignorado, então está lembrando-me de sua presença. Josie vasculhou a expressão de Jack por um instante antes de se afastar dele. – Considerando seu plano de não se envolver, isso provavelmente é uma coisa boa, hein? – Sim. – Jack soltou um suspiro e tentou se orientar. Ele só sabia que seus braços pareciam muito vazios sem Josie no meio deles. Bem, foi conveniente ter as coisas estragadas tão rapidamente. – Eu não vou inventar pretextos. Eu não deveria ter feito isso. – E eu não deveria ter deixado você fazer. – A malícia dançou nos olhos dela. – Quer fazer de novo? Ele gemeu. – Não me tente. – Ei, você começou. – Josie enfiou as mãos nos bolsos de trás da própria calça e inflou o peito, o que a fez parecer adoravelmente desafiante e sexy para diabo. – Eu só estava aqui tomando uma aula de equitação quando você resolveu brincar de hóquei de amígdalas. Como evitar, se você mesmo coloca ideias na minha cabeça? – Você está certa. – Olhando em volta, ele encontrou seu chapéu no chão, o recolheu e espanou a poeira. – Foi totalmente minha culpa. – Com certeza. – Ela abrandou o tom. – Eu me pergunto se estamos tentando o impossível, Jack. Como podemos agir como amigos depois de termos sido amantes? – Não sei. – Destino o cutucou novamente. Jack se virou e bateu de leve no focinho do cavalo com o chapéu. – Comporte-se. Destino esticou o pescoço e fuçou no bolso de Jack, obviamente, à procura de um petisco. – Ei, pare! – Jack deu um passo para o lado e pegou o cavalo pela rédea. – Não tenho petiscos. Você ganhou alguns hábitos bem ruins, filho. Josie sorriu. – Nós não somos muito diferentes deste cavalo, sabe. – O que você quer dizer? – Temos o mau hábito de esperar sexo quando estamos juntos. – Isso é ridículo. – Ele bateu o chapéu contra a coxa. – Nós somos seres humanos pensantes, não animais treinados. Podemos exercer a moderação. – Ah, é mesmo? – Ela arqueou as sobrancelhas. – Só porque eu te beijei não significa que devo continuar fazendo isso. – Então acho que você é mais forte do que eu, porque, agora que você me beijou, eu só consigo pensar em fazer sexo com você. O calor emanou dentro dele em ondas. – Eu queria que você não tivesse dito isso. – Você pode muito bem saber a verdade. Não é como se eu fosse conseguir esconder isso de você. Nós nos entendemos muito bem. – Josie apontou um dedo para ele. – E eu não acho que seja tão difícil
para mim decifrar você. Neste exato minuto, você está desejando ter me apoiado na superfície plana mais próxima para fazer amor comigo, mas você é teimoso demais para admitir isso. Jack devia ganhar uma medalha por seu autocontrole, porque quanto mais Josie falava, mais ele desejava exatamente o que ela descrevia. Ainda bem que ele não estava carregando um preservativo de emergência, tal como costumava fazer quando estavam juntos. Isso ajudava. Ainda assim, ele era capaz de imaginar algumas coisas que eles poderiam fazer, as quais não exigiam camisinha. Jack agarrou as rédeas de Destino para evitar tocar em Josie. – Mesmo que isso seja verdade, e não estou dizendo que seja, eu falei que não faria sexo com você e pretendo manter minha palavra. Josie revirou os olhos. – Muito nobre da sua parte. Se é assim que você se sente, então vamos esquecer as aulas de montaria, porque eu não quero ser obrigada a passar por isso. – Passar pelo quê? – Alô-ô? Pela frustração sexual! Eu não quero ficar vendo seu traseiro esquentando o assento da sela se a diversão está proibida, está bem? Vamos simplesmente desistir da coisa toda. Nós vamos fazer o melhor possível durante o casamento, dadas as circunstâncias. Desistir não era algo que Jack enxergava favoravelmente e, nesse caso, todo mundo – seu irmão, o irmão dela – ficaria sabendo. – Desistir não é uma opção. – Desculpe, mas não é você quem controla nossa desistência. Gostaria de lembrar que eu controlo. – Mas Josie… – Não me venha com mas Josie! Talvez se você não tivesse me beijado, eu estivesse mais tranquila, mas o fato é que você me beijou, e agora estou pronta para a festa. Porém, se eu passar a próxima semana ou algo assim longe de você, vou conseguir superar isso. Mesmo que vivesse até os 150 anos, Jack nunca iria compreender as mulheres. Ele soltou a rédea de Destino e gesticulou com o chapéu. – Agora deixe-me ver se entendi. Na outra noite, você achou que eu fosse uma espécie de tarado, por aparecer na sua casa no calor do momento. Você deixou bem claro que estava cortando contato comigo e com o meu comportamento sexual. Agora você está perfeitamente disposta a ficar na horizontal comigo. O que mudou? Ela soltou um suspiro. – Eu já disse, mas, aparentemente, não serviu de nada. Você me beijou. – E você não pode simplesmente esquecer isso? – Não, não posso. – Ela cruzou os braços. – Você pode? – Não sei, mas estou disposto a tentar pelo bem de todos os interessados. Precisamos demonstrar que podemos nos dar bem, e as aulas de equitação supostamente são… – Você já pensou que não existe outra opção? – Tipo o quê? – Primeiro de tudo, vamos continuar com as aulas de montaria e aumentá-las para duas horas. Você pode dizer para todo mundo que eu aprendo devagar. – Os olhos cinzentos brilharam. Jack conhecia aquele olhar; ele geralmente indicava que precisava ser cauteloso. – Você não aprende devagar. Tem uma habilidade atlética natural e não vai demorar muito para se tornar uma amazona decente.
– Bom saber. Porque à revelia de todos, nós vamos usar todo nosso tempo livre para fazer sexo. SE ELA ao menos tivesse uma câmera. A expressão de Jack foi absolutamente impagável. Ele sempre fora orgulhoso de sua habilidade de esconder suas reações e, consequentemente, Josie gostava de fazer joguinhos para tentar chocá-lo e obrigá-lo a revelar seus verdadeiros sentimentos. Ela fora bem-sucedida nesta manhã. Jack arregalou os olhos escuros numa descrença óbvia, mas a incredulidade logo deu lugar à empolgação. Sem dúvida, sua mente fértil já estava imaginando as possibilidades. No entanto, ele hesitou. – Não é assim que deveria ser. – Ele parecia tão esperançoso quanto confuso. – Eu prometi a você… Que inferno, eu prometi a mim mesmo que não faria sexo. Lá estava ele de novo, uma pitada de vulnerabilidade, como se Jack se importasse demais com o que Josie pensaria caso ele quebrasse a promessa. Aquilo a tocou além da conta. Talvez os últimos dez meses tivessem exercido algum tipo de mudança nele, afinal. – Eu sei – disse ela baixinho. – Sou eu quem está sugerindo a mudança de planos, não você. Ele olhou para o chapéu em sua mão e tirou uma folha da copa. Daí olhou para cima. – Você está planejando esconder este segredo do seu irmão? Ela não achava isso legal, mas contar a Alex só iria causar mais problemas. – Não vejo nenhuma razão para que ele saiba. Eu não acho que alguém tenha que saber, na verdade. Dessa forma, não haverá quaisquer conselhos indesejados para nos alertar se este é um movimento sábio ou não. – Provavelmente não é. – Mesmo assim, Jack pendurou o chapéu na sela de Destino e se aproximou de Josie. – Provavelmente não. – Josie sustentou o olhar dele, sabendo que Jack pretendia beijá-la de novo e sabendo que necessitava disso mais do que oxigênio. – Então você chamaria isso de medida paliativa? – Ele avançou mais um passo. – Exatamente. – Quanto mais ele se aproximava, mais o coração dela acelerava. – É uma espécie de medida temporária para a gente conseguir chegar a uma boa até o casamento, assim não vai ter um monte de tensão sexual rolando. Depois disso… – Josie não tinha certeza do que viria depois disso. – Talvez a gente não devesse se preocupar com o que virá depois disso. – Ele ficou a poucos centímetros de distância, seu calor provocando-a. – Talvez devêssemos encarar um dia de cada vez. – Boa ideia. – A intensidade do olhar de Jack fez Josie estremecer. – Nosso objetivo… – Ela engoliu em seco. – Nosso objetivo é ficar numa boa até o casamento. Depois a gente vê o que acontece. – E, enquanto isso, vamos fazer o máximo de sexo possível? – Esta era minha ideia. Lenta e deliberadamente, ele a tomou nos braços. – Eu gosto do seu jeito de pensar. Mas, quando a boca de Jack colou à sua, Josie não conseguiu pensar em mais nada, só sentir. Durante seis meses, beijar Jack fora uma de suas atividades favoritas, e ela sentira uma saudade terrível disso. Josie adorava o jeito como Jack beijava, adorava ser enlaçada por aqueles braços fortes e, principalmente, adorava a sensação de se derreter quando ele a enlouquecia devagarzinho.
Quando beijava Jack, ela se esquecia de tudo, exceto disso: do desejo e da promessa de prazer. O corpo dela cantarolava de deleite quando ele abarcava seu bumbum e a puxava para si. Hum, isso. Ela queria o que estava sob o jeans macio, e queria agora. Ele ergueu os lábios a uma fração dos dela, o hálito quente carregava o cheiro do creme dental mentolado do qual Jack gostava. – Não pode ser agora. Ela se esfregou nele para demonstrar que ambos estavam preparados para aquele encontro. – Isso não é o que o restante de você diz. Ele mordiscou a boca delicada. – O restante de mim não tem nada para vestir para a ocasião. Ela não conseguiu conter um suspiro de decepção. – Mas eu pensei que você sempre levasse no bolso… – Não desde que rompemos. – Agora eu me sinto especial. – Você sempre foi, Josie. Ela sentiu um aperto no peito. Estava precisando ouvir aquilo. Ele passou a língua no lábio inferior dela. – Eu poderia fazer algo legal para você, no entanto. – A-hã. – Ela pôs a mão entre eles e acariciou a extensão do membro através do jeans. – Eu quero esta enchilada inteirinha, por assim dizer. Ele aninhou o nariz na orelha dela. – Então você vai ter que esperar. Ela gemeu. – Talvez… talvez você pudesse desabotoar minha blusa. – Eu poderia fazer isso. – Com habilidade, Jack abriu os botões de pressão e enfiou a mão sob a blusa para abarcar um seio coberto pelo sutiã de renda. Daí acariciou sobre o tecido. – Pelo que estou sentindo, o sutiã é cor de creme. Josie arqueou na palma da mão dele enquanto se deleitava outra vez sob aquele toque. – Errado. Você nunca viu este. É cor-de-rosa. – Então eu tenho que ver. – Recuando, ele abriu a blusa dela. – Muito bom. – Daí cutucou o fecho frontal e a fitou nos olhos. – Ainda aguenta esperar pela enchilada? – Talvez se você pudesse desabotoar meu sutiã. Ele deu um sorriso lento quando mexeu no fecho. – Não fique tão convencido, Jack Chance, como se você fosse tudo isso e um pouco mais. Ele balançou a cabeça enquanto afastava o sutiã e segurava os seios. – Eu não sou, mas você é. – Ele roçou os polegares languidamente sobre os mamilos e os notou se contraindo. – Senti saudade de tocar você, Josie. Ela fechou os olhos enquanto sensações disparavam dos mamilos ao ventre. – Eu não senti nenhuma saudade de você. – Mentirosa. – Mas já que está aqui, talvez você pudesse… – Eu estava esperançoso de que você fosse pedir. – Inclinando-se, ele contornou o mamilo com a língua.
– Isso é muito… agradável. Ele levantou a cabeça. – Agradável não é bom o suficiente. Envolvendo-a em seus braços fortes, Jack a ergueu e tomou o mamilo mais firmemente na boca. Como Josie amava aquelas táticas másculas. Somente um homem com uma estrutura física como a de Jack teria forças para levantá-la e segurá-la ao mesmo tempo que gozava da generosidade de seus seios. Depois de Jack, ela ficara completamente arruinada para os fracos. Ela envolveu os quadris dele com as pernas e se deixou abandonar à delícia que era sentir a boca e a língua dele. Mas agarrá-lo com as pernas a deixou consciente do desejo tépido numa parte dela, a qual pressionava a fivela do cinto. Ela queria a enchilada inteirinha, e teria sido maravilhoso se Jack ainda carregasse os preservativos de emergência. Mas saber que ele só tinha feito isso enquanto estava com ela realmente fez Josie sentir-se especial. Ela não podia culpá-lo por não tê-los agora. As intenções dele eram boas. Quanto mais ele brincava com seus seios, mais a tensão crescia dentro dela, fazendo-a desejar que a atenção dele fosse um pouco mais específica. Mas talvez ela tivesse de se contentar com menos do que tinha esperado originalmente. – Jack… – Hum? – Ele fez uma pausa no meio da carícia mais gostosa. – Talvez… você pudesse desafivelar meu cinto e abrir meu jeans. A risada baixa e triunfante dele deveria tê-la irritado, mas Josie estava muito além disso. Quando Jack a colocou de pé e desafivelou seu cinto, ela se agarrou aos ombros dele e choramingou. – Depressa. – Serei rápido. Só não continue sem mim. E ela poderia continuar, Josie percebeu. No momento em que ele enfiou a mão dentro da calcinha, um espasmo lhe atingiu. – Oh, Jack. – Peguei você. – Com a outra mão espalmada na lombar dela, ele impulsionou dois dedos e pressionou o clitóris com o polegar. Algumas investidas rápidas com os dedos talentosos e Josie chegou ao clímax, gritando de alívio e gratidão. – Olhe para mim, Josie. – Jack girou o polegar sobre seu ponto inflamado. Josie levantou o olhar para ele conforme a tensão se enrolava dentro dela outra vez. – De novo. – Ele começou num ritmo tranquilo, deslizando os dedos para frente e para trás, criando um som tanto erótico quanto primitivo. – Faz muito tempo. – Sim. – A voz de Josie estava ofegante, a força de vontade totalmente ausente. Ninguém nunca a havia feito se entregar a tal abandono, até Jack aparecer. Ele despertava algo primitivo em sua psique, e ela se rendia mais uma vez, permitindo que ele acariciasse seu corpo à prontidão enquanto os olhos escuros faziam amor com sua alma. Ela gemeu quando o momento se aproximou. – Está gostoso? – Você sabe que está. – Amanhã eu quero minha boca bem aí.
A mera sugestão a catapultou a mais um clímax. Josie arqueou as costas e suspirou o nome de Jack. Ele a segurou com firmeza quando os tremores a tomaram. – É isso – murmurou ele. – Solte-se. Liberte-se. E ela o fez. Libertou sua raiva, seus medos e suas inibições. Jack lhe causava esse efeito. No dia seguinte, ela ia analisar se a cessão ao desejo por ele era uma ideia estúpida de fato. Mas hoje Josie sentia-se sensual, satisfeita e gloriosamente livre. Isso não poderia ser de todo ruim.
Capítulo 7
JACK FICOU extremamente grato por ninguém ter passado perto do celeiro quando ele e Josie voltaram a montar nos cavalos. Ele não tinha certeza de como iriam interpretar as bochechas rosadas, os cabelos desgrenhados e as roupas amarrotadas de Josie, mas era melhor não saber mesmo. Josie estava em segurança em seu carro e já voltava para a cidade quando Gabe chegou cavalgando em Finicky, um Paint branco e cor de chocolate que ele utilizava nas competições de apartação. – Como foi? – Gabe desmontou e passou as rédeas de Finicky no poste de amarração. – Foi tudo bem. – Quando Jack tirou a sela e o cobertor de Destino, pensou em Josie subindo de volta no cavalo depois de abotoar as roupas. Ela deu uma requebrada sobre a sela e sorriu para ele. – Prefiro montar em você – falou, dando uma piscadela. – Então não se esqueça da camisinha, vaqueiro. Como se ele fosse esquecer. Todas as suas nobres intenções haviam sido varridas pela perspectiva de fazer amor com Josie todas as manhãs durante uma semana. Durante meia hora de passeio, ele já tinha pensado em todos os lugares isolados. Alguns pontos ficavam a apenas 15 minutos do celeiro, o que lhes renderia tempo extra de ação. – Ei, Jack. – O quê? – Ele olhou para cima e flagrou Gabe encarando-o. – Eu não quero te dizer como fazer seu trabalho, mas você acabou de tirar a sela do cavalo. Estou um pouco confuso por você ter voltado e colocado a sela nele outra vez. Destino parece um pouco confuso também. O calor subiu a partir do colarinho da camisa de Jack. Claro, ele havia voltado a selar Destino e estava ocupado apertando a correia. O cavalo o fitava com curiosidade. Jack estendeu a mão para oferecer uma explicação – qualquer explicação. – Quando tirei a sela, lembrei que a correia não estava muito boa, como se algo estivesse rasgando. Eu quis verificar. – Geralmente é melhor fazer isso no depósito de arreios. – Eu gosto de fazer no cavalo. – Ele fez toda uma cena, agachando-se e examinando a correia e a fivela de todos os lados. – Parece que está tudo bem, afinal de contas. – Ele deu um tapinha carinhoso
em Destino. – Obrigado, filho. A risada de Gabe dizia a Jack que ele não tinha enganado seu irmão. – Estamos um pouco distraídos, não é, Jack? – Gabe tirou a sela de Finicky. – É possível. – Jack fez o melhor possível para evitar o olhar de cumplicidade de Gabe enquanto removia a sela de Destino pela segunda vez. – Que bom que você está saindo com Josie agora. Talvez em mais ou menos uma semana você esteja menos sensível e seu cérebro volte a funcionar. – Gabe levou o cobertor de sela até o celeiro. Jack apoiou a sela de Destino na cerca, assim não precisaria acompanhar Gabe e aguentar mais gozações. Ele precisava se aprumar. Se continuasse a vagar em transe por aí, as pessoas iriam perceber, e poderiam começar a fazer perguntas. Perguntas poderiam levar a suposições, que poderiam incitar todos a prestar mais atenção no que ele e Josie estavam fazendo. Jack queria que ninguém soubesse sobre o novo acordo, por motivos óbvios. Sua família já estava de olho para ter certeza de que ele e Josie iam chegar ao casamento sem nenhum incidente. Se fizessem alguma ideia de que ele e Josie estavam indo à floresta para algo além de aulas de montaria, Jack não ia sobreviver para saber o fim da história. JOSIE JÁ estava atrás do balcão servindo as bebidas do happy hour quando seu irmão voltou de sua caminhada diária. Quando ele entrou no bar vestindo short e camiseta, várias mulheres deram uma olhadinha. Josie às vezes se esquecia de que seu irmão era um pedaço de mau caminho, porque, para ela, ele era apenas o Alex, seu amado e também chatíssimo irmão mais velho. Mas com sua bela aparência loura, ombros largos e quadris estreitos, ele poderia facilmente ser uma das estrelas de cinema que passavam férias na região de Jackson Hole. No dia anterior, Josie tinha respondido a algumas perguntas de clientes que queriam saber se Alex era de Hollywood. Dava para notar que ele não era local. Os homens de Shoshone nunca vestiriam short e camiseta. Calça jeans, botas e camisas de mangas compridas de estilo country eram o uniforme por ali, fosse o sujeito um verdadeiro vaqueiro ou apenas quisesse se assemelhar a um. Alex não era de fazer pose. Ele rejeitava a ideia de tentar ser algo que não era, então se apegava aos seus shorts e camisetas durante o dia e só trocava para calças de brim quando as noites esfriavam. Josie se oferecera para comprar um chapéu de cowboy enquanto ele estivesse na cidade, como uma lembrança da visita, mas ele achara uma bobagem, afinal nunca iria usá-lo. Ele preferia bonés. E o modelo de hoje ostentava as siglas da estação de rádio onde ele trabalhava, em Chicago. Josie se perguntava se Alex havia recebido o recado da rádio. Eles tinham ligado para o telefone do apartamento mais cedo e disseram que tentariam falar com ele pelo celular. Ela desconfiava que eles quisessem saber quando ele voltaria. Josie mesma estava um pouco curiosa sobre isso. Alex estava na cidade havia quase uma semana, e embora não quisesse apressá-lo, ela também não queria que ele colocasse seu emprego em risco. Além disso – odiava admitir, pois soava egoísta –, ele poderia limitá-la. Seria mais complicado manter um caso com Jack enquanto Alex estivesse por perto. Ele sentou-se num banquinho junto ao balcão e sorriu para ela. – Como foi a aula de montaria? Josie sabia que esta seria a primeira pergunta, e tinha ensaiado a resposta mentalmente várias vezes. Ela deu de ombros numa indiferença fingida.
– Foi tudo bem, acho. – Sem problemas? – Sem problemas. – Ela virou-se para encher um copo com a cerveja favorita dele, o que lhe rendeu uma oportunidade de se recompor. Para Josie, mentir não era fácil, e Alex a conhecia desde sempre. Geralmente ele conseguia perceber sempre que ela tentava enganá-lo. – Que bom. Josie sentia-se como um inseto sob um microscópio e resolveu mudar de assunto. Aqueles olhos cinzentos de Alex enxergavam demais. – Você conseguiu pegar o recado da rádio no seu celular? – Sim. – Ele suspirou e pegou sua cerveja. – Meu substituto não está dando certo. O sujeito tem zero senso de humor e os ouvintes estão ligando para reclamar. – Então, eles querem que você volte. Ele assentiu e bebericou um gole da cerveja. – Foi o que disseram. – Então isso quer dizer… – Josie interrompeu a pergunta para pegar alguns pedidos de bebida de clientes. Ela notou que Alex não parecia muito empolgado com o fato de a rádio estar implorando a ele para voltar. Finalmente ela conseguiu retornar para perto dele no balcão. – Então, se o pessoal da estação quer você de volta, isso significa que você precisa ir embora? Ele olhou para ela e sorriu. – Você não está tentando se livrar de mim, não é, irmãzinha? – Não! Eu adoro ter você aqui. – Ela correu um pano úmido pelo tampo de madeira do balcão para limpar alguns anéis de condensação. – Eu só não quero que você perca seu emprego. Ele continuou a olhar para ela com aquele sorriso sabichão. – E quando se trata de você e daquele cowboy, eu sou uma mosca na sopa. – Jack não tem nada a ver com coisa alguma. – Ela poliu o balcão mais um pouco, mesmo sabendo ser desnecessário. – A mentira faz o nariz crescer. Josie resmungou e jogou o pano no balcão atrás dela. – Está bem. Eu posso estar um pouquinho preocupada porque quanto mais você ficar, maiores são as chances de você cruzar com Jack. – Pode ser. – Prometo a você que está tudo sob controle. – Você? Josie baixou a voz. – Pare de me olhar assim, Alex. Ele riu. – De que jeito eu estou olhando para você? – Você sabe perfeitamente bem. É o mesmo jeito como você costumava me olhar quando eu tinha 16 anos e escapulia para encontrar Billy Flannigan. Você também não gostava dele. Na verdade, eu não acho que você tenha gostado de nenhum cara com quem já saí. – Não posso evitar se você só namorou perdedores que não merecem beijar a barra da sua saia.
– Ah, olha o roto falando do esfarrapado. Sua escolha de mulheres tem sido péssima. Não consigo entender o que você viu na Tiffany, ou na Sue, ou… – Ela se conteve, como se tivesse percebido que estivera a ponto de criticar a ex dele. Ela podia zombar das antigas namoradas, mas o rompimento com Crystal era recente demais, muito doloroso para ser transformado em piada. – Pode falar. Ou na Crystal. Todas essas caminhadas que andei fazendo me deram uma nova perspectiva. O ar puro da montanha e essa coisa toda. Crystal nunca foi a mulher certa para mim. Eu ignorei os sinais de alerta e mandei bala. Mamãe e papai não gostavam muito dela, e eu sei que você também não, embora você tivesse tentado ser agradável, e eu sou grato por isso. – Sempre às ordens. – De soslaio, ela notou um cliente gesticulando para pedir uma bebida. – Dê-me licença um minuto. Tenho que cuidar das pessoas na outra ponta do balcão. Volto logo. – Não tenha pressa. Josie preencheu os pedidos com a alegria costumeira, mas sua mente estava em Alex. Ele estava começando a aceitar o divórcio, mas não parecia pronto para voltar e recuperar sua vida. Ela puxou o assunto quando retornou a ele. – Você não acha que deveria voltar? Eles não podem manter esse outro cara se os ouvintes estão reclamando, e se você ficar fazendo corpo mole, eles podem… – Me demitir? É possível. – Ele pegou sua cerveja. – Pensei que você gostasse do seu emprego. – Eu gostava. – Ele bebeu um gole e colocou o copo sobre o guardanapo na sua frente. – Esse telefonema da rádio era o que eu precisava para tomar a decisão. Eu não vou voltar. Eu vou me mudar para cá. Josie abriu a boca, mas não disse palavra. Alex riu. – Percebo que você está emocionada. – Estou. Claro que estou! Mas o que você vai fazer? Onde vai trabalhar? Onde vai morar? – Agora essa última parte soou desagradável. – Quero dizer, você pode ficar comigo pelo tempo que quiser. Eu só achei que você fosse querer um lugar só seu. – Não se preocupe, maninha. – Seus olhos cinzentos dançavam numa risada. – Eu não planejo me isolar da sociedade e viver à sua custa. Acontece que uma estação de rádio em Jackson está à procura de um locutor. Eu já liguei para eles e vou fazer uma entrevista amanhã. – Isso é maravilhoso, Alex. De verdade. – Josie percebeu que estava sendo sincera, apesar das complicações que Alex poderia trazer no que dizia respeito a Jack. – Tenho sentido uma saudade terrível desde que você se mudou para lá. Mas você sabe que mamãe e papai vão ter um ataque se você deixar Chicago. – Vamos convencê-los a se aposentar aqui no Wyoming. – Alex parecia mais animado do que Josie jamais vira desde que ele chegara à cidade. – Eu odeio o que aconteceu entre mim e Crystal, mas, se não tivesse acontecido, eu nunca teria ido embora de Chicago. Você teria que tirar Cristal de lá com um pé de cabra. Eu não fazia ideia de que ficaria tão apaixonado por esta região, mas eu adoro isto aqui. Josie riu, feliz porque ele estava tão feliz. – Talvez você tenha de comprar um chapéu de vaqueiro. – Duvido. A menos que esse seja o único jeito de arranjar uma mulher por aqui. – A julgar pela reação das minhas clientes em relação a você, um chapéu de cowboy pode ser um exagero. Consigo me ver sendo obrigada a interferir para que você não seja atacado uma vez que a
notícia da sua solteirice se espalhar. Alex terminou de beber sua cerveja. – Sinta-se livre para interferir o quanto quiser. E se você não gostar de alguém, pelo amor de Deus, diga. Depois do fiasco com Crystal, não tenho certeza se posso confiar em meus instintos. – Tudo bem. – Mas só para você saber, eu me reservo o direito de cuidar de seus interesses também. O que nos leva de volta a esse cara, o tal Jack. Quando vai ser sua próxima aula de montaria? – Hum, amanhã. – Josie fez o máximo esforço para agir como se não fosse grande coisa. Ela não achava que tivesse conseguido. – Acho que eu deveria ir, só para garantir que o sujeito vai se comportar. Por dentro, Josie estava gritando não, mas ela lutou para manter a calma. – Que bobagem. Eu vou ficar bem. – Não tenho tanta certeza assim. Duas noites atrás, ele estava bêbado e descoordenado. Acho que seria bom eu manter um olho nesse sujeito. Eu poderia… Ah, espere. Que horas vai ser a aula? – Ainda não definimos o horário exato. Preciso ligar para ele. – Josie com certeza ia ligar para ele caso não conseguisse demover Alex da ideia. – Minha entrevista na estação de rádio é às 9h30. Ela quase suspirou de alívio. – Nós provavelmente vamos nos encontrar às 9h. – Achei que você não tivesse certeza do horário. – Eu sabia que seria algo em torno desse horário… Nove, 9h30, 10h. – Ela não se atreveu a mencionar que a lição havia sido prorrogada em mais uma hora. Isso definitivamente deixaria Alex desconfiado. – Tudo bem. Eu provavelmente estou sendo paranoico por causa dos conflitos com Crystal. – Ele colocou dinheiro no balcão e se levantou. Josie devolveu o dinheiro. – Guarde isto. Você ainda está sem emprego. – Mas terei um. – Seu sorriso arrogante cintilou. – Sim, eu sou bom assim no que faço. – E tão modesto. – Mas Josie sabia que ele estava certo. Se a estação precisava de um locutor, Alex ia conseguir o trabalho. – Vou lá em cima telefonar para a mamãe e o papai. Algum recado para eles? – Diga que amo os dois e que sua mudança para cá não foi ideia minha. – Eu estava planejando colocar a culpa toda em você. Ela riu. – Pestinha. – Praguinha. – Desça de novo mais tarde para jantar. – Parece bom. E obrigado, Josie. Você me ajudou a recuperar minha vida. – O prazer é meu. – Sorrindo, ela observou enquanto ele saía do bar. Ter Alex por perto permanentemente seria divertido… Exceto pelo probleminha com Jack. Ela precisava manter os dois longe um do outro.
NA MANHÃ seguinte, Jack caminhou até o celeiro e anunciou a Emmett que a lição de montaria com Josie duraria duas horas em vez de uma. Ele levaria o celular no caso de alguém precisar falar com ele durante o período, mas pediu a Emmett para lidar com qualquer coisa que não fosse uma emergência. Jack escolhera Emmett para ser avisado sobre a aula com duração de duas horas porque ele não era fofoqueiro. Se Jack tivesse mencionado isso para Sarah ou Gabe, ou mesmo Nick, o assunto seria tema das conversas durante a maior parte da manhã. Mas Emmett não compartilhava informações, a menos que alguém perguntasse. Jack estava contando com o fato de que ninguém perguntaria. Afinal, as pessoas tinham um casamento para planejar. Não tinham tempo para ficar no encalço dele. Ou assim ele esperava. Jack imaginava que Emmett fosse ficar surpreso com o período de tempo que ele estava planejando gastar em algo que, a rigor, não era atividade fim do rancho. Se Jack não tivesse se revelado tão viciado em trabalho nos últimos dez meses, Emmett provavelmente não teria nem piscado. Mas, conforme esperado, ele olhou para Jack como se este tivesse sugerido transformar o pasto norte num campo de pouso de óvnis. – Algum problema se eu ficar ausente entre 9h e 11h? – perguntou Jack. – Não, sem problema. – O capataz esfregou o queixo, um sinal claro de que estava pensando. – Eu só não esperava que você fosse levar essas aulas de equitação tão a sério. Jack deu a resposta padrão: – Eu não quero que qualquer problema interfira no casamento. – Eu entendo, mas ela só vai precisar andar sobre o cavalo um pouquinho, e depois vai ficar sentada nele quando o bicho estiver parado. Não é como se ela fosse participar de uma corrida de barris com o cavalo. – Não é só a cavalgada. – Jack percebia que Emmett, um pensador lógico, necessitava de mais pano de fundo. – Gabe e Sarah querem ter certeza de que Josie e eu não temos nenhum tipo de mágoa por causa do nosso rompimento. Eles estão se questionando se sou capaz de ensiná-la a montar sem que a gente exploda um com o outro, e assim o casamento prossiga direitinho, pelo menos no que diz respeito a mim e a Josie. Emmett assentiu. – Parece que você e Josie estão se dando bem então, se você está esticando o horário. – Estamos bem. – É bom ver você agindo um pouco mais como você mesmo. Jack percebeu que não havia como enganar Emmett. O capataz o conhecia praticamente desde sempre. Ele estivera presente quando a mãe de Jack abandonara a família, por isso era uma das poucas pessoas cientes das motivações de Jack para não gostar da mulher que tinha lhe dado à luz. Emmett provavelmente o compreendia melhor do que ninguém, o que significava que ele havia sacado o que estava rolando com Josie. Jack preferiria que Emmett não prolongasse o assunto, então tomou a ofensiva. – Como está indo a horta no Beliche e Boia? Conseguiu consertar o sistema de drenagem para Pam? Emmett desviou o olhar e pigarreou. – Acho que sim. Foi preciso escavar um pouco, mas ela não deverá ter mais problemas. Jack pressionou. – Ela é louca por você, Emmett. Você sabe disso, certo? Emmett encontrou o olhar de Jack.
– Sim. E se ela quiser um acordo que satisfaça a nós dois, estarei disposto. Mas temo que a mulher deseje mais do que isso. Uau. Jack nunca tinha ouvido Emmett confessar que estava dormindo com Pam, mas aparentemente ele estava mesmo. Bem, que bom para eles. Eles mereciam ser felizes, ambos. – Por acaso eu choquei você, Jack? – Não – mentiu Jack. Ele sempre ficava chocado ao se dar conta de que as pessoas com mais de 50 anos faziam sexo. – Bem, eu estou um pouco chocado por uma mulher como Pam estar interessada num homem como eu. O negócio é que ela quer se casar. – Casar? – Foi isso que ela disse. E eu não quero isso. Eu topo ser o brinquedo sexual dela, mas não vou me tornar o marido de uma mulher que vale quatro ou cinco vezes mais do que eu. Isso é um mau negócio. Jack ainda estava pensando no fato de Emmett ter usado o termo brinquedo sexual. Ele nunca imaginara que tais palavras sairiam da boca do capataz, muito menos como uma referência a si mesmo. O mundo de Jack definitivamente estava mudando. – Estou ouvindo o barulho de um carro chegando – disse Emmett. – Aposto que é Josie e, pelo que estou vendo, você não está pronto. – Os cavalos não estão selados, se é isso que você quer dizer. – Mas Jack estava pronto de outras formas. Ele tinha colocado um cobertor em seu alforje e guardado preservativos no bolso da calça jeans. – Então vamos fazer isso – disse Emmett. – Eu não quero que você perca tempo. Do jeito como Emmett falou, Jack estava convencido de que o capataz tinha noção do quanto o tempo para tal esforço era precioso. – Obrigado – disse ele. – Agradeço a ajuda. – Eles caminharam juntos até o depósito de selas quando uma porta de carro foi batida. Josie tinha chegado. E durante a hora seguinte, Jack ia fazer amor com ela. Ele afastou tal pensamento. Se ficasse pensando no que estava por vir, ia tremer tanto que jamais ia ter destreza para selar os cavalos. – As mulheres mudam tudo – disse Emmett. Jack pegou um cobertor de sela. – Sim, Emmett, elas com certeza mudam.
Capítulo 8
JOSIE FICOU um pouco desconcertada ao descobrir Emmett ajudando Jack a selar os cavalos antes do encontro supostamente secreto, mas o capataz não deu nenhuma indicação de ter notado algo de incomum no passeio de duas horas. Josie presumia que Jack tivesse mencionado o período de tempo mais longo. Com suas funções no rancho, ele precisava fazê-lo. Emmett definitivamente era um vaqueiro da velha-guarda. Suas roupas gastas e chapéu amassado indicavam um homem que se preocupava mais com sua função do que com estilo, e Josie tinha certeza de que o lenço vermelho espiando pelo bolso de trás de Emmett estava lá por alguma razão prática, e não para conferir um respingo garboso de cor ao visual. As escolhas de vestuário de Josie tinham sido muito mais deliberadas. Debaixo de seu jeans apertado ela usava seu conjunto mais sexy de lingerie de renda preta. Ela teria adorado aparecer usando sua blusa de seda vermelha, pois Jack costumava dizer que ela ficava uma gata com a peça, mas não quis correr o risco de fornecer a Alex pistas das motivações ocultas daquela aula de equitação. Então vestiu uma camisa azul-escura e, uma vez dentro do carro, abriu os três botões superiores. Porém, assim que notou Emmett com Jack, voltou a fechar os botões. Ela também pôs o chapéu, em perfeito estado, mesmo depois da queda durante a cavalgada selvagem no dia anterior. Jack o recuperara no caminho de volta ao celeiro. Ela precisava acreditar que Jack tinha guardado os planos da manhã para si, no entanto, Emmett devia ser um sujeito experiente, afinal era o capataz de um grande rancho como o Última Chance. Embora se considerasse uma mulher valente, Josie não conseguia evitar sentir-se intimidada por uma figura de autoridade como ele. Finalmente, ela puxou Jack de lado e falou em voz baixa: – Será que Emmett sabe de alguma coisa? – cochichou ela. A resposta de Jack foi rápida e sucinta. – Não. – Tem certeza? Porque ele olha para as pessoas de um jeito que faz você pensar que ele sabe de tudo. – Ele pode desconfiar, mas não sabe. – Imagino que não faça diferença.
– Não. – Jack verificou as rédeas de seu cavalo preto e branco, ajustando a correia com uma segurança tranquila. Observar Jack aprontando seu cavalo para o passeio enviou calafrios de consciência sensual pelo corpo de Josie. Havia algo de muito sexy nos homens que trabalhavam com cavalos. Tendo crescido nos subúrbios de Chicago, Josie sempre fora cercada por contadores e geeks de computador. Caras legais, caras inteligentes; mas daí ela viera para o oeste e encontrara o equivalente a cavaleiros de armadura brilhante. Jack era o epítome da classe: forte, taciturno, básico. Ela não se enganava dizendo que teria a mesma reação caso ele trocasse a roupa de vaqueiro por um terno chique. Ela suspirava pelo jeans, pelo couro, pela inclinação jovial do chapéu e pelo tilintar ocasional de uma espora. Quando Jack apareceu usando as calças de cowboy, ela quase teve um orgasmo no ato. Emmett deu um tapinha na garupa de Destino. – Ele está prontinho para você, Josie. – Obrigada, Emmett. – Ela se lembrou de caminhar para o lado esquerdo do cavalo alto. – Se eu pretendo continuar cavalgando, deveria aprender a selar o cavalo. – Não é difícil – disse Emmett. – O bom senso te leva longe quando se trata de cavalos. Josie sorriu para ele. Ela gostava do sujeito. E não se importaria se eles virassem amigos, caso surgisse uma oportunidade. – O bom senso te leva longe na maioria das coisas – disse ela. – Isso é fato. Precisa de ajuda para subir neste cavalo? – Não, obrigada. Jack me ensinou como fazer. – Apoiando o pé esquerdo no estribo, Josie agarrou a sela e impulsionou a perna direita sobre o dorso de Destino. Quando ela se acomodou na sela curva, o couro aquecido pelo sol tocou os lugares já sensibilizados pelos pensamentos do que a manhã traria. Uma vez a bordo, porém, Josie percebeu que Destino ainda estava amarrado ao poste e que não havia muito o que fazer a respeito da posição de onde ela estava. – Deixe-me pegar suas rédeas. – Emmett fez soar como se todos fizessem assim: montassem e então tivessem alguém para desamarrar o cavalo. Josie sabia que não era assim, mas quando o capataz passou as rédeas ao redor do pescoço de Destino e as entrelaçou antes de entregá-las a Josie, ela se permitiu sentir-se como uma amazona de verdade. – Muito agradecida – disse ela, pois era esse tipo de linguagem que ela havia escutado em filmes do velho oeste, e a qual parecia muito adequada a uma pessoa montada num cavalo. – Ao seu dispor. Você parece bem natural aí em cima. – Emmett tocou a aba do chapéu. – Faça um bom passeio. – Tenho certeza de que farei. – Josie concentrou-se no sentido inocente da declaração, porque, se pensasse nas implicações sexuais, ela ficaria mais vermelha do que o lenço no bolso do quadril do vaqueiro. Ela olhou para o lado e flagrou Jack observando sua interação com Emmett, um sorriso divertido no rosto. – Pronta para ir? – perguntou ele. – Sim. – Ela foi veemente. Tinha acordado antes do amanhecer. Embora estivesse preocupada com a possibilidade de Alex atribuir um significado especial ao seu comportamento, ela se entregou a uma longa chuveirada, tomando o cuidado de conceder às pernas um depilar mais rente.
Ela ficara tentada a enrolar o cabelo e deixá-lo solto sobre os ombros, mas, dessa forma, seu irmão realmente saberia que ela estava se arrumando para a suposta aula de equitação. Em vez disso, ela prendeu o cabelo na trança habitual após lavá-lo e secá-lo. – Então vamos. – Jack girou Bandido e indicou para Josie ir à frente dele. – Quer experimentar trotar outra vez? – berrou ele. Ela se perguntava se aquilo era por causa de Emmett, de modo que o capataz ficaria convencido de que eles estavam concentrados em suas habilidades equestres. – Claro – respondeu ela, olhando para trás, e cravou os calcanhares nos flancos de Destino. Os solavancos se iniciaram imediatamente e o bumbum de Josie quicou contra a sela exatamente do jeito que tinha feito no dia anterior. Tanta esperança de ser capaz de trotar magicamente hoje. Ela perdeu um estribo e corria o risco de perder o outro. Se não houvesse o pito da sela para segurar-se, ela teria terminado no chão. Jack a alcançou e agarrou as rédeas de Destino. – Opa, filho. – Ele reduziu o cavalo ao ritmo de um passeio. – Certo, Josie, recupere os estribos e vamos tentar de novo. – Eu não quero. – Ora, vamos lá. – Ele lançou um sorriso para ela. – Ser capaz de se sentar num trote é uma habilidade básica. – Mas é constrangedor saber que Emmett está me vendo quicar desse jeito. – Eu nem sei se ele ficou por perto para assistir, mas espero que sim. Ela se irritou. – Você quer mostrar minha ignorância? Isso não é muito legal, Jack. – Depende do ângulo que você olha. Quanto mais ele enxergar você como uma novata, mais ele vai compreender a necessidade de lições de duas horas. – Oh. – Agora você está disposta a trotar, apenas no caso de Emmett ainda estar nos observando? Josie firmou os pés nos estribos e bateu os calcanhares nas costelas de Destino. – Vamos cavalgar! – É claro que ela se saiu mal como sempre, mas Jack tinha feito uma observação excelente. Justamente quando ela achou que seus dentes fossem trincar a ponto de cair da cabeça, Jack pôs-se ao seu lado e pegou as rédeas. – Calma, filho. – Ele trouxe a marcha do cavalo ao ritmo de passeio de novo. – Já saímos da vista do celeiro, para que você não precise se punir mais. – Imaginei que fosse o caso, mas eu estava muito ocupada me segurando para encontrar os freios. – Agora que não estava mais sentada num bate-estacas, Josie conseguia admirar os arredores. O zumbido suave das abelhas se misturava ao chilrear dos pássaros e ao bater constante de cascos dos cavalos na terra. Sob os aromas e sons da natureza havia o zunir da percepção constante da presença de Jack, uma nota grave de emoção na paisagem outrora pacífica. Ele formava uma bela imagem naquele cavalo preto e branco imenso. Hoje sua camisa era verde-escura, o que realçava sua morenice herdada da mãe, que era parte Shoshone. Eles estavam seguindo para as árvores, e Josie se perguntava o quão longe Jack os guiaria antes de sugerir uma parada. Ela não tinha praticamente nenhum controle sobre a empreitada, e não estava
acostumada a ser passiva. – Preciso aprender a parar meu cavalo sozinha quando ele estiver trotando, você não acha? – Acho que sim. – Jack olhou para ela, seu rosto sombreado pela aba do chapéu preto. – Embora Emmett tenha observado que o casamento não vai ser um rodeio. Se você for capaz de fazer um ritmo de passeio e de ficar em cima do cavalo quando ele estiver parado, vai ser o suficiente para a cerimônia. – Então eu realmente não preciso aprender a cavalgar muito bem. – Para sua surpresa, Josie ficou decepcionada. Talvez a decisão de Alex de ficar tivesse algo a ver com isso, mas Josie percebia que o Wyoming era seu lar agora. E uma garota do Wyoming deveria sentir-se confortável com cavalos. Ela sentou-se ereta. – Quer saber, Jack? Eu quero aprender a cavalgar. Quero dizer, de verdade. – Quer? Mas você mora aqui há três anos e nunca tentou. Ficamos seis meses juntos e você nunca disse uma palavra sobre montaria, mesmo sabendo que eu praticamente morava no lombo de um cavalo sempre que não estava com você. – Eu acho que não era uma prioridade. Além disso, você estava ocupado e eu também. A voz dele saiu baixinha e íntima. – Encare. Passamos a maior parte do nosso tempo juntos na cama. Imagens correram na mente de Josie, aquecendo seu sangue. Ela encontrou o olhar de Jack e a tensão se enrolou dentro dela. – O que não era uma coisa ruim. – Definitivamente nada ruim. – As pupilas dele se dilataram até se tornarem poças de intensidade. Por fim, ele gemeu e virou a cabeça para o outro lado. – Eu juro, tudo que você tem a fazer é olhar para mim desse jeito, e aí eu não consigo pensar em mais nada, só em você nua. – Eu estou no mesmo estado, Jack – murmurou ela. – Eu te desejo tanto nesse momento que estou suscetível a chapinhar enquanto estou montada aqui. Ele freou seu cavalo a uma parada súbita e agarrou as rédeas de Destino. – Espere. – O que… – Vamos nos preocupar com as aulas de montaria depois. Vamos agir. Quando Jack incitou Bandido a avançar, Josie agarrou o pito da sela dela e se preparou para sair aos trancos até eles alcançarem as árvores, mas, em vez disso, o movimento mudou para uma marcha que não chegava a ser um trote, mas também não era o galope que ela havia testado no dia anterior. – O que estamos fazendo? – berrou ela para Jack enquanto ele cavalgava ao seu lado. – Buscando um pouco de privacidade! – berrou ele de volta sobre o som dos cascos dos cavalos. – Eu me refiro aos cavalos! O que é isso que eles estão fazendo? – Sem saber como, ela aderiu ao ritmo de Destino e logo estavam tão bem sincronizados que ela mal podia acreditar. Ela não sabia cavalgar, não de verdade, mas aquilo era fantástico. – Estamos a meio-galope! Cuidado com os galhos! – Ele os guiou para as árvores. – Eu amo o meio-galope! – Josie se esquivou de um galho de pinheiro à direita antes de Destino desacelerar para o temido trote novamente. Não por muito tempo, no entanto. Jack cessou ambos os cavalos. – Onde estamos? – Não faz diferença. Estamos fora do campo aberto, e é só isso que me importa. – Jack saltou da sela, as botas fazendo um barulho de crocância quando ele pisou no chão da floresta repleta de folhas,
agulhas de pinheiro e pequenos ramos. Ele amarrou as rédeas de Bandido a uma árvore rapidamente. Josie também desceu, o coração disparado por causa do passeio e dos seus motivos. Jack tinha decidido parar de flertar. Seguindo o exemplo, Josie amarrou as rédeas de Destino num galho de árvore. No tempo que levou para fazer isso, Jack já havia sacado um cobertor de algum lugar e o estendido no chão. – Vejo que você veio preparado. Ele olhou para ela antes de pendurar seu chapéu no pito da sela. – Acho que eu gostei da sua sugestão. – Ele diminuiu a distância entre eles e puxou Josie. – Você precisa tirar esse chapéu, senhorita. Eu pretendo fazer amor de forma quente e doce com você, e seu chapéu vai atrapalhar. A pulsação dela martelou quando Jack a puxou perto o suficiente para ela sentir o cume duro de seu membro pressionando contra o jeans. – Talvez você possa se livrar disso para mim, vaqueiro. – Ficarei feliz em fazê-lo. – Segurando-a apertadamente com um braço, ele pegou o chapéu e o pendurou na sela de Destino sem sequer se dar ao trabalho de olhar para o que estava fazendo. – Esta não é a primeira vez que você fez amor na floresta com cavalos observando, não é? – Não, mas esta é a primeira vez que eu quis tanto a ponto de tremer. – Ele abaixou a cabeça até que a boca quase tocasse a dela. – Você já fez amor na mata alguma vez, Josie? – Nunca, Jack. – Ela descobriu que estava tremendo um pouco também. A expectativa fazia esse tipo de coisa com uma garota. Os lábios dele roçaram os dela. – Então você é virgem de sexo na floresta? A risada dela foi arfante por causa de todo o desejo se aglomerando no peito. – Acho que sim. – Então serei gentil. – Deus, eu espero que não. – Agarrando a parte de trás da cabeça de Jack, Josie o puxou para baixo e o beijou com toda a urgência que ela vinha economizando nas últimas 24 horas. Ele pareceu entender o recado. Sem parar de beijá-la, ele a carregou e a levou para o cobertor. Em seguida, a pôs no chão lentamente ao mesmo tempo que a língua explorava a boca de Josie de uma forma que não deixava dúvidas quanto ao seu próximo movimento uma vez que suas roupas fossem retiradas. Ofegante, Jack a soltou com uma relutância óbvia e começou a remover as botas. Josie fez o mesmo. Eles se despiram com eficiência, jogando todos os itens de lado. Eles já tinham passado da fase de despir um ao outro de forma lenta e provocante. Depois de seis meses como amantes, ambos sabiam exatamente como ficar nus no espaço mais curto de tempo. No entanto, mesmo durante o turbilhão da atividade, Josie não conseguiu evitar uma espiadinha em Jack enquanto ele tirava as roupas. Ele sempre tivera um corpo magnífico, mas, aparentemente, havia se exercitado mais do que o habitual nos últimos dez meses, pois agora ele era puro músculo. E ele não estava brincando sobre desejá-la. Aparentemente, ela teria de esperar antes de poder desfrutar dos benefícios daquele membro fantasticamente ereto. Jack a guiou até o cobertor com beijos que começaram na boca e viajaram ao sul, até ele finalmente estar cariciando as coxas dela com a língua.
O cobertor era macio, os galhos e as folhas embaixo, irregulares, mas Josie não se importaria nem se estivesse deitada numa cama de pedras. Ela tremia de desejo. Jack tinha muitos talentos como amante, aquele poderia ser o maior deles. Sem dúvida ele sabia disso, porque ela o elogiara a respeito muitas vezes. Se ele queria lembrá-la do que ela havia perdido desde que se separaram, não poderia ter escolhido um método mais potente. Ele começou, como sempre fazia, com um beijo suave exatamente no local que gerava uma reação incrível por todo o corpo desejoso de Josie. Ela engasgou quando um toque agradável dos lábios dele enviou solavancos da sensação vertiginosa pelo organismo dela. – Senti saudade – sussurrou Jack, o hálito quente de encontro à umidade dela. – Senti falta de fazer isso. – Ele contornou o clitóris com a língua. Josie gemeu e agarrou o cobertor macio. Ela perdeu a conta do número de noites em que sonhou com Jack fazendo amor com ela daquela forma. Agora ele estava ali, e ela precisava… Necessitava… Sim, disso – das investidas da língua dele, da pressão de seus dedos, da carícia úmida de sua boca, do arranhar delicado de seus dentes. Ela se contorcia, ela implorava… E então ela se rendeu a um clímax que rugiu em seu corpo com a força de uma tempestade de verão. Quase surda e muda de prazer, Josie perdeu a noção do tempo, mas aparentemente foram apenas alguns segundos antes de Jack penetrá-la profundamente. Ela arqueou-se, usando a inclinação dos quadris para convidá-lo a ir mais fundo. Ele disse o nome dela num gemido de satisfação quando agarrou seu traseiro utilizando as duas mãos e a apertou mais, prendendo-os juntos. Sempre que se uniam assim, eles pareciam se encaixar tão perfeitamente, completavam um ao outro tão bem, que Josie ficava surpresa por conseguirem existir separadamente. Abraçando-o, Josie aguardou por seu segundo momento favorito: quando Jack começava a se movimentar. Ele acariciou a curva do pescoço delicado enquanto permanecia silenciosamente dentro dela. – Eu adoro isso – murmurou ele. – Adoro quando ficamos juntos assim. – Eu também. – Eu tenho sido um idiota. Ela sorriu. – Sim. Ele beliscou a orelha dela. – Você deveria dizer eu também, igual da última vez. Ela levantou os quadris, unindo os dois ainda mais. – Mas eu não tenho sido uma idiota. – Não. – O hálito dele fez cócegas no pescoço dela. – Só eu. E então Jack começou a se movimentar e Josie não conseguiu falar mais. O prazer era muito grande para ela conseguir formular palavras ou pensar, ou fazer qualquer coisa que não fosse gemer. Ela absorveu o ritmo constante e seu corpo reagiu como da primeira vez em que eles fizeram amor. Erguendo-se para encontrar cada estocada, ela se juntou a ele na dança que tinham criado desde o início, a dança que tinham aperfeiçoado durante as horas gastas daquele modo, oferecendo… e recebendo. A mola de expectativa se encolhia dentro dela, tal como sempre acontecia quando Jack lhe acariciava daquele jeito.
Talvez fosse química ou talvez fosse mágica. Mas fazer amor com Jack a nutria de um modo inédito até então. Quando o orgasmo de Josie se aproximou, ela se agarrou a Jack, ancorando-se para não voar em milhões de pedaços. No entanto, quando chegou o momento, ela fez exatamente isso. Mas Jack estava lá para recolher os pedaços e exortá-la a outro clímax. Ela estendeu a mão para ele no instante em que ele encontrou a própria libertação. Juntos, caíram no turbilhão, seus gritos de alegria misturados aos sons da floresta. Josie estava num torpor de felicidade, sem se importar em sair do lugar, ou até mesmo daquela posição. – Josie. – Jack a beijou no nariz. – Nós temos um problema. – Isso é impossível. – Ela manteve os olhos fechados e saboreava o brilho pós-sexo que Jack tinha ajudado a criar. – Talvez não um enorme problema, mas vamos precisar nos levantar. – Eu não quero. – Bem, você vai ter que se levantar. Destino fugiu.
Capítulo 9
JACK TERIA gostado de passar mais tempo no cobertor abraçadinho a Josie, mas Destino não estava à vista. Eles não estavam muito longe do celeiro e o cavalo poderia ter se soltado e se dirigido para lá. Jack não era louco de deixar Destino aparecer sem um cavaleiro. Isso poderia ser difícil de explicar. Dando um beijo breve em Josie, ele levantou-se do cobertor, tirou o preservativo e começou a vestir as roupas. – Como ele pode ter ido embora? – Josie seguiu o exemplo e recolheu suas roupas de onde quer que tivessem caído. – Eu o amarrei num galho de árvore, assim como você fez com Bandido. – Eu sei, mas às vezes ele consegue se soltar e voltar para casa, principalmente se sabe que está perto. – Jack saltitava num pé enquanto calçava a bota. – Ele até quebra o galho se precisar. Eu deveria ter me lembrado disso. – Com certeza deveria. Anos atrás, ele havia incentivado o bicho a fazê-lo porque achara engraçado. – Então você acha que ele voltou para o celeiro? – Provavelmente seguiu naquela direção. – Ele resmungou algumas palavras bem escolhidas. – Talvez eu consiga alcançá-lo antes que ele chegue lá. – Ou antes que Emmett ou algum dos funcionários o visse. Josie fechou os botões da blusa e enfiou a bainha na calça. – E eu faço o quê? – Espere aqui. Se conseguir, vou trazê-lo de volta e vamos montar como se nada tivesse acontecido. – E se ele já tiver chegado ao celeiro? Jack olhou para ela. Josie estava linda toda desarrumada, mas qualquer idiota saberia dizer por que ela se encontrava em tal estado. – Você é boa em inventar histórias? – Não muito. – Que pena. – Ele desamarrou Bandido e subiu na sela. – Volto assim que puder. Você pode dobrar o cobertor e… – Ele ofereceu um olhar desamparado. Não sabia bem o que Josie poderia fazer. O rubor de satisfação no rosto dela era uma delação óbvia. – Não se preocupe. Vou ficar apresentável. Boa sorte, Jack.
– Obrigado. – Ele virou Bandido e saiu pelo caminho de onde tinham vindo, xingando Destino baixinho. Eles haviam mimado demais o cavalo, ele e seus irmãos, mas ele era o maior culpado. Jack adorava quando Gabe ou Nick levavam Destino para a pescaria no riacho e Destino se soltava calmamente e caminhava para casa sem ninguém perceber. Jack costumava lhe dar uma maçã como recompensa pela façanha. Mas isso tinha sido há muitos anos, e Jack estivera concentrado demais em Josie, focado demais em fazer amor com ela. Os truques de salão de Destino passaram longe da sua mente. Mas a porcaria do cavalo poderia estragar o disfarce. Ele incitou Bandido a galopar depois de passar das árvores. Quando teve uma boa linha de visão, fez o cavalo parar e se ergueu nos estribos para examinar o prado em busca de qualquer sinal de um Paint marrom e branco. Talvez o cavalo tivesse parado para pastar. Jack sabia que estava se agarrando ao último fio de esperança. Uma vez que Destino tinha a brilhante ideia de voltar para casa, ele sempre ia direto para o celeiro. Quando Jack não conseguiu ver nenhum sinal do cavalo ausente, tentou pensar numa história plausível para explicar o que tinha acontecido. Ele poderia inventar um milhão de razões para Josie ter desmontado – problemas com a sela, com os estribos, com o freio, um seixo na bota, um cisco no olho. Mas ele não conseguia pensar numa única razão para ela ter amarrado Destino a uma árvore e não ter notado que ele havia sumido de cena. Só no verdadeiro motivo. Instando Bandido a um trote rápido, Jack cavalgou até conseguir enxergar o celeiro. Claro, o bendito cavalo estava junto ao poste de amarração. O chapéu de Josie ainda estava pendurado na sela, felizmente, e um pedaço do galho que tinha sido usado para amarrá-lo pendia das rédeas. Mais provas incriminadoras. Jack soltou alguns palavrões. Naquele momento, Emmett saiu do celeiro, notando Destino, e deu uma olhada ao redor. Aparentemente, ele percebeu Jack e Bandido se aproximando, pois levantou a mão em saudação. Em seguida, voltou-se para o cavalo e começou a desatar o galho das rédeas. O cérebro de Jack era um deserto enquanto ele cavalgava e desmontava ao lado deles. Ele tinha esperanças de surgir com uma ideia brilhante. Não aconteceu. Emmett olhou para cima. – Josie está bem? – Ela está bem. – Excelente. Emmett assentiu. – Imaginei, pois você não estava correndo com Bandido. – Ele removeu o pedaço de galho e se endireitou para olhar para Jack. – Então onde ela está? – Você se refere a Josie? – A-hã. – A expressão de Emmett permaneceu vaga, como se eles estivessem discutindo um assunto desinteressante a ambos. – Alguma chance de ela vir andando? – Não, não. Eu vou… vou levar Destino de volta e buscá-la. – Jack evitou o olhar de Emmett. – Tivemos um leve… Isto é, ela… Quer dizer, eu… – Porcaria. Ele estava se enrolando todo. – Uma briga? – Não! – Jack não queria que ninguém chegasse a tal conclusão também. Ele não tinha cogitado que alguém poderia supor que ele e Josie tivessem brigado. Emmett colocou a mão em seu ombro.
– Sob o meu ponto de vista, este é exatamente o problema que você foi escalado para consertar, então vá pedir desculpas por qualquer que tenha sido a bobagem que você tenha feito. – Mas eu não… – Jack se conteve e recomeçou. Talvez aquilo pudesse funcionar em seu favor. – Você está certo, Emmett. Eu preciso pedir desculpas. – Fico feliz em ouvir você dizer isso, filho. Você tende a ser um pouco teimoso quando as pessoas te irritam. Jack começou a protestar. – Tal como seu pai. – Emmett apertou o ombro de Jack. – Mas ser teimoso não é de todo ruim. Pelo menos agarre-se ao que se propôs a fazer. De qualquer forma, é melhor começar a se mexer antes que alguém perceba que Josie não está por aqui. Sarah teria um ataque. – Certo. – Jack pegou o chapéu de Josie e montou em Bandido. Aceitando as rédeas de Destino de Emmett, ele as amarrou em sua sela. – Obrigado por guardar segredo, Emmett. – É o que eu gostaria que fizessem por mim. Agora, vá. Jack saiu num trote rápido, Destino empinando ao lado como se satisfeito com sua pequena traquinagem. Jack olhou para ele. – Da próxima vez, seu sarnento danadinho, sou eu quem vai te amarrar à árvore, e acredite, não vai ter jeito de se soltar. Essa brincadeira acabou. Quando Jack se aproximou do limite das árvores, perguntou-se que horas eram, e se Josie ainda estaria interessada em abrir o cobertor outra vez. Mas quando chegou ao local onde a havia deixado, percebeu que não ia rolar. Ela estava sentada num tronco caído com ninguém menos que seu irmão, Gabe. Finicky estava por perto mastigando alguns tufos de grama. Jack observou que o cavalo estava solto e à espera, tal como tinha sido treinado para fazer, tal como todos os cavalos do Última Chance tinham sido treinados para fazer, com a notável exceção de Destino. – Ei, mano. – Gabe olhou para cima quando Jack entrou na pequena clareira. – Eu estava pesquisando um local para o casamento quando vi Destino indo para o celeiro. Resolvi retornar pela trilha para me certificar de que Josie estava bem. – Obrigado. – Jack ficou irritado pela falta de confiança de Gabe em sua capacidade de cuidar de Josie, mas não havia por que mencionar isso agora. Ele desmontou e largou as rédeas. Se Bandido ficasse quieto, Destino teria de fazer o mesmo. Pena que Jack não cogitara amarrá-los juntos antes. Se ele tivesse feito isso, ele e Josie ainda poderiam estar nus sobre o cobertor. Falando em cobertor, onde estava a peça? Josie estivera ocupada, aparentemente, pois havia desamassado as roupas, retrançado o cabelo e feito algo misterioso com o cobertor, graças a Deus. Uma olhadinha para a manta Gabe teria sabido de tudo. Cobertores na floresta eram o código dos encontros sexuais. – Fiquei temeroso de vocês terem brigado quando vi Destino voltando sem cavaleiro – disse Gabe. – Mas Josie me disse que vocês pararam para procurar a lente de contato dela e não perceberam quando Destino saiu. – Gabe não parecia totalmente convencido. Lente de contato? Josie não usava lentes de contato. Aquela tinha sido a maior mentira que Jack já ouvira, mas ele entrou na brincadeira. – Sim, foi isso que aconteceu, tudo bem. – Você encontrou? – perguntou Gabe.
Josie disse sim ao mesmo tempo que Jack disse não. – Eu achei logo depois que você saiu, Jack. – Ela lhe deu uma olhada feia para claramente mandá-lo calar a boca antes que ele estragasse aquele disfarce perfeitamente bem bolado. Jack ficou impressionado. Para alguém que dizia ser ruim para inventar histórias, Josie estava indo bem. – Acho que tudo está bem quando acaba bem, então. – Gabe levantou-se e caminhou até Finicky. – Como estão as aulas? Jack teve o bom senso de deixar Josie responder, provavelmente a atitude mais inteligente da parte dele nos últimos tempos. – Logo vou estar montando bem o suficiente para conseguir participar do casamento – disse ela. – Mas eu descobri que quero aprender a cavalgar melhor do que isso. Tenho sorte por Jack estar disposto a me ensinar, e de graça. É muito hospitaleiro da parte dele. Jack achou aquele papo de hospitalidade meio exagerado e lançou um olhar de advertência a Josie. Ela simplesmente sorriu. Gabe, entretanto, ainda parecia desconfiado. – É melhor eu não ficar sabendo que ele está causando problemas, Josie. Talvez você tenha perdido uma lente de contato, talvez não, mas Jack pode ser teimoso às vezes, certamente eu não preciso dizer isso a você. – Não, não precisa. – Ela continuou a sorrir. Jack estava ficando um pouco cansado de ver todo mundo chamando-o de teimoso. Ele tinha concordado com as aulas de equitação, não tinha? Ele tinha desistido de seu plano original para manter as aulas estritamente separadas de suas necessidades sexuais também. Se isso não era ser flexível, o que era? Gabe montou em Finicky e juntou as rédeas em preparação para sair. Já não era sem tempo, pelo menos na cabeça de Jack. – Vou sair de fininho e deixá-los voltar à aula então. – Gabe tocou a aba do chapéu em saudação para Josie e saiu cavalgando por entre as árvores. – Obrigada por ter vindo em meu socorro! – berrou Josie para ele. – Sem problema. – Enxerido filho da mãe – resmungou Jack. – Ele só estava tentando ajudar. – Ele só estava tentando me vigiar e certificar-se de que eu não estou perturbando sua vida. Josie se aproximou e passou os braços em volta do pescoço dele, trazendo o aroma de licor de pêssego consigo. – Você não está. – Bom saber. – Ele preencheu seu abraço com aquela mulher cálida, macia e bem disposta. – A propósito, o que diabos você fez com o cobertor? – Enterrei sob alguns galhos de pinheiro, no caso de alguém aparecer. – Pensou rápido, porque acontece que alguém apareceu. Meu irmão intrometido. – Ele está preocupado com o casamento, Jack. – Ela massageou a nuca dele. – Você não pode culpálo por isso. Morgan quer que transcorra sem problemas, e ela também quer que eu seja a madrinha principal, e que você seja o padrinho principal. Gabe sabe que poderia ser problemático. Jack fechou os olhos e saboreou o toque dela.
– Não vai ser. – Ele queria beijá-la, mas também sabia que eles estavam correndo contra o tempo, graças à pequena travessura de Destino. Ele suspirou. – Nós não tivemos tempo suficiente hoje. Josie continuou a massagear-lhe a nuca. – Sempre teremos amanhã. Jack sentia os nós de dez meses de tensão devido às responsabilidades aliviando um pouco. Ele não tinha imaginado que alguém, certo alguém, seria capaz de tornar seu fardo mais fácil de suportar. – Gosto de saber que vou te ver amanhã. – Idem. Ele abriu os olhos. – Vamos pegar o cobertor. – Nós não temos tempo para… – Eu sei disso. – Ele lhe deu um beijo breve e seco e a soltou. – Mas eu preciso guardar o cobertor de volta no meu alforje. Não podemos esquecer que está aqui e correr o risco de alguém tropeçar nele. Isso seria uma bandeira vermelha, com certeza. – Está bem ali, atrás daquele pinheiro grande. – Josie apontou para um lugar na borda da pequena clareira. Jack contornou a árvore e desenterrou o cobertor de debaixo dos galhos de pinheiro espalhados aleatoriamente. – Bom trabalho. – Ele espanou as agulhas de pinheiro. – E a história das lentes de contato foi ótima. Como você fez para pensar nisso? – Uma das minhas amigas de Chicago usava lentes de contato e as perdia sempre. Imaginei que Gabe não saberia se eu usava ou não. Caminhando até Bandido, que permaneceu quietinho como o cavalo bem treinado que era, Jack enfiou o cobertor de volta no saco da sela. – Eu nunca percebi que você tinha uma mente tão errante. – E não tenho mesmo. Mas eu não quero que as pessoas fiquem sabendo da gente, tanto quanto você não quer. Jack afivelou o alforje antes de olhar para ela. – Pessoas como o seu irmão, por exemplo? – Sim. – Ah, eu precisava dizer que Sarah mandou convidá-lo, caso ele ainda esteja aqui no fim de semana do casamento. – Você ainda a chama de Sarah, então. Jack franziu a testa. – Eu sempre a chamei de Sarah. – Eu sei, e não convivi tanto assim com sua família, já que eu tinha um ponto sensível em relação a seu pai, mas me lembro de Sarah querendo que você a chamasse de mãe. Eu pensei que talvez, depois da morte do seu pai, você… – Ela não é minha mãe. Na verdade, ela é muito mais honrada do que minha mãe, então acho que chamá-la pelo nome na verdade é positivo. Josie olhou para ele sem dizer nada. – O quê?
– Nada. Não importa. Mas, falando em Alex, tem uma coisa que você provavelmente deveria saber. Esta manhã ele está sendo entrevistado para um emprego numa estação de rádio em Jackson. Ele resolveu sair de Chicago e se mudar para cá. – Oh. – Jack não estava exatamente feliz com aquilo, mas provavelmente Josie estava. – Eu não mencionei isso, mas ele saiu para algumas caminhadas depois do divórcio. E se apaixonou pela região de Jackson Hole. – Isso é fácil de acontecer. – Jack tentou desenterrar algum entusiasmo, por apreço a Josie. – Ter um familiar aqui vai ser bom para você. – Você não precisa ser cortês sobre isso, Jack. Estou bem ciente de que você não tem como ficar empolgado com a ideia. Com Alex morando aqui, nós dois temos um problema em potencial, a menos que… A menos que vocês dois possam se tornar amigos. – Considerando a forma como começamos, vai ser uma batalha complicada. – Provavelmente. Jack olhou ao redor da pequena clareira onde ele usufruíra de um sexo incrível com Josie. – Imagino que esse nosso projeto não seja a melhor maneira de fazer seu irmão gostar de mim. – Não. Ele não aprovaria. Ele está convencido de que você é um desgosto iminente. Jack virou-se para encará-la. – Eu não planejo te magoar outra vez, Josie. – Eu não planejo deixar que você me magoe. – Ela parou diante dele, firme e forte, seus olhos cinzaclaro tomados por uma autoconfiança que Jack não reconhecera dez meses atrás. Talvez não estivesse ali dez meses atrás. – Eu acredito em você – disse ele. Quando olhou para ela, Jack teve um pensamento inquietante. A pessoa sob risco de ser magoada poderia não ser Josie mais.
Capítulo 10
– PREPARE-SE, JO! – Alex entrou no bar ao meio-dia ostentando um sorriso maior do que Josie se lembrava de ter visto em muito tempo. – Consegui o emprego. – Parabéns! – Sinalizando a Tracy para trazer uma cerveja para Alex, Josie contornou o balcão para lhe dar um abraço de urso. Talvez a dor do divórcio estivesse desaparecendo. – Fantástico! – Eles querem que eu comece imediatamente. Vou ver se mamãe e papai estariam dispostos a supervisionar caso eu contrate alguém para embalar minhas coisas e enviá-las para cá. Josie sentiu uma pontada de compaixão por seus pais. – Eles provavelmente vão entrar numa caixa e vir junto. – Espero que façam isso mesmo. – Alex estava nas nuvens, seu belo sorriso brilhando. – Eu quero vender a eles a ideia de cogitar este lugar para viver durante a aposentadoria, daqui a alguns anos. Tem aquela pensão ótima, o Beliche e Boia. Eles poderiam se hospedar lá enquanto estivessem aqui. Iriam adorar. – Ele olhou para o bar onde Tracy tinha colocado um copo de cerveja sobre um guardanapo de coquetel. – Obrigado. – Ele ergueu o copo. – Ao emprego. – Um brinde a isto, mas eu prometi a Tracy que ajudaria com a multidão do meio-dia. – Josie se inclinou e deu um beijo na bochecha do irmão. – Estou muito feliz por você, porém… – Estou muito feliz por isso. – Alex bebeu um gole de sua cerveja. – Na verdade, vou sugerir aos nossos pais que tirem férias e venham o mais rápido possível, para que possam ver por que estou tão empolgado com o lugar. Josie tentou se concentrar nos aspectos positivos de ter sua família reunida outra vez, e não nos negativos. Seus pais odiaram o modo como Jack rompera com ela no outono passado, de modo que não ficariam felizes por ela ter começado a sair com ele de novo. Não querendo estragar a festa de Alex, ela deu uma sugestão no meio-termo: – Se você convidá-los, pode sugerir que eles venham depois do casamento de Morgan. Eu gostaria de passar mais tempo com eles e, como madrinha, vou estar muito ocupada até o dia da cerimônia. – Bem lembrado. – Além disso, você está convidado para o casamento. Descobri isso esta manhã. – Certo. Sua lição de montaria. Como foi?
– Excelente. – Ela bloqueou todos os pensamentos nos quais se encontrava nua num cobertor com Jack e concentrou-se na experiência de galope por entre as árvores. – Resolvi que quero ficar boa nisso. Eu gosto de cavalgar. – Sério? – Sério. – Então esse tal Jack está mesmo a ensinando a cavalgar em vez de usar as lições como pretexto para dar em cima de você? Josie esperava não ficar vesga enquanto lutava para pensar numa resposta diplomática àquela pergunta capciosa. – Ele… – O telefone celular preso ao seu cinto tocou e Josie nunca ficou tão feliz na vida com uma interrupção. E então ela reconheceu o toque. Era Jack. – Com licença, Alex. – Ela afastou-se do balcão. – Claro. – Ele se voltou para sua cerveja e Tracy apareceu para oferecer suas felicitações. Josie ficou observando Alex e Tracy enquanto atendia ao telefonema de Jack. Tracy tinha uma quedinha daquelas por Alex, mas ele não parecia notar. Josie não pensara muito no assunto porque estava esperando que Alex fosse embora. Mas agora ele ia ficar; e estava se recuperando do divórcio com Crystal. Josie não tinha certeza do que achava do interesse de Tracy, a qual aliás era uns bons dez anos mais nova do que Alex. Ela entrou no escritório para atender a ligação de Jack. – Oi. – Oi, você. Ocorreu-me que seu irmão já poderia estar sabendo se ele conseguiu ou não o emprego para o qual estava sendo entrevistado. – Ele conseguiu. – Ela estava um pouco surpresa por Jack ainda se lembrar disso. – Então tenho um grande favor para pedir. Você me deixa falar com ele? – Sobre o quê? – A pulsação de Josie subiu diante da ideia de ver os dois tendo mais uma conversa, ainda que por telefone. Da primeira vez que se encontraram, foi um desastre completo. – Para começar, eu mencionei a entrevista para Gabe, e ele quer pedir a Alex para escolher as músicas da festa. Eu disse que poderia cuidar disso e descobrir quanto ele cobraria. – Você é um intermediário meio esquisito se a intenção é fazê-lo aceitar. Mas talvez você não queira. – Não, eu quero. Eu não estou planejando perguntar por telefone. Vou ver se pago uma bebida para ele esta noite. Josie fechou os olhos. – Olha, quando eu falei que vocês dois deviam se tornar amigos, não quis dizer que você precisava sair para beber com ele hoje à noite. Não há pressa. Talvez depois do casamento, quando as coisas se ajeitarem, vocês pudessem… – Não, tem que ser agora. Eu devia ter pedido desculpas a ele antes, mas a culpa é minha porque achei que estava indo embora e que toda essa situação estúpida entre nós fosse perder importância. Mas ele não vai mais embora e já passou da hora de eu falar com ele. Durante os seis meses juntos, Jack nunca ficara ávido para se desculpar por qualquer coisa que fosse. Embora a morte de seu pai obviamente tivesse modificado sua postura, Josie esperava que não o tivesse deixado propenso a realizar confissões imprudentes de culpa. – Você não está pensando em contar a ele sobre nós dois, né? – Ela quis saber. Visões de uma briga de bar grandiosa passaram pela cabeça de Josie.
– Eu não sou um idiota completo, Josie. Preciso fazê-lo ao menos me tolerar antes de ele descobrir que eu… – Ótimo, mas eu ainda não tenho certeza sobre isso, Jack. – Dê-me um pouco de crédito, pode ser? Vai dar certo. Ele está aí? Ela cogitou fingir que Alex não estava por perto, mas isso só iria prolongar a agonia. Ela conhecia Jack, ou pelo menos o velho Jack, e uma vez que ele se agarrava a alguma ideia, ninguém conseguia demovê-lo. Jack estava resoluto a entrar em contato com Alex, e faria isso até mesmo se precisasse recorrer a sinais de fumaça. – Espere um segundo – disse ela. – Ele está no bar, mas vocês não vão conseguir se ouvir lá. Vou chamá-lo para vir ao escritório. – Obrigado, Josie. – Não me agradeça ainda. Ele pode não querer falar com você. – Se você pedir a ele, ele vai falar, principalmente se estiver de bom humor por causa do emprego. As pessoas fazem todo tipo de coisa quando estão de bom humor. Veja só. Estou ligando para falar com seu irmão, um sujeito que atualmente me odeia. Aquilo a fez rir. – Então você está de bom humor? – Depois da manhã com você, meu corpo inteiro está sorrindo. – O meu também. – Basta pensar em como você vai se sentir amanhã nesse horário. Tenho grandes planos para você. O calor a invadiu e se estabeleceu em todos os lugares recônditos. – Não fale esse tipo de coisa. Eu consegui deixar Alex convencido de que a única coisa que a gente faz é cavalgar, então se eu ficar alegre demais, ele vai desconfiar que fazemos mais do que isso. – A gente só faz isso, Josie. Primeiro a gente monta nos cavalos, depois a gente monta um no outro. – Pare com isso, Jack. Estou falando sério. Eu não posso levar o celular para o Alex se estiver vermelha. – Eu queria estar aí para te ver corar. Sabia que você fica toda vermelha? Suas bochechas, seu pescoço, seus seios, sua barriga e principalmente sua… – Ou você para com isso ou vou ter que desligar. Estou avisando, meu irmão tem sexto sentido. Não se esqueça de que você quer que ele te tolere antes de descobrir o que você está fazendo com a irmã dele. – Você está certa, mas eu tinha me esquecido de como é divertido provocar você. Vou fechar o bico se você colocar Alex na linha para conversar comigo. – Tudo bem. Eu vou buscá-lo agora. – Josie colocou o celular na mesa e caminhou de volta ao bar, respirando fundo durante todo o trajeto. Ela queria aparentar calma e tranquilidade. Talvez Jack estivesse certo em abordar isso imediatamente depois de Alex conseguir o emprego. Se ela continuasse saindo com Jack, seu irmão teria uma grande chance de descobrir a relação e de acusála de ter escondido a verdade. Mas, se Alex aprendesse a conviver com Jack, daí talvez a revelação de que ela estava envolvida com ele não viesse a ser grande coisa. Quando Josie se aproximou do bar, Tracy estava rindo de alguma coisa que Alex tinha dito, e ele estava olhando para Tracy com muito mais interesse do que havia demonstrado um dia atrás. Ai, cara. O coração dele podia ter sido partido recentemente, mas ele era plenamente capaz de partir o de outra pessoa.
Josie lhe deu um tapinha no ombro. – Posso falar com você no meu escritório um minuto? Alex virou-se e lhe deu um beijo na bochecha. – Pode apostar. Posso levar minha cerveja? Estou comemorando. – Claro que você pode trazer sua cerveja. – E se ele trouxesse seu espírito de benevolência também, seria um tanto melhor. Josie foi na frente, e uma vez que Alex estava lá dentro, ela fechou a porta e pegou o celular. Ela pousou o dedo sobre o pequeno bocal. – Jack está na linha. Ele quer falar com você. – Jack? Jack Chance? – Sim. Eu comentei sobre a entrevista e ele… – Claro, eu vou falar com ele. – Alex pegou o telefone. – Ei, Jack? Minha irmã disse que está curtindo as aulas de montaria, mas eu só quero reiterar que estou de olho em você, amigo. Se Josie chegar em casa com uma única queixa sobre o seu comportamento, eu baterei à sua porta com um balde de cimento. Josie revirou os olhos. Tanto esforço para fazer os dois fumarem um cachimbo da paz. – Não, ela não falou nada sobre o formigueiro e o mel. – Um sorriso cruzou o rosto de Alex. – Você quer o quê? – Ele olhou para Josie e balançou a cabeça. – Eu não sei, Chance. Aceitar beber com você pode comprometer meus princípios. Assim que Josie se resignou de que o telefonema terminaria em discussão, Alex riu. – Eu odiaria perder isso. Ah, que diabos. Vamos tomar uma porcaria de uma cerveja, e se isso não funcionar, podemos ir lá fora e resolver da maneira mais viril. O quê? Não, eu não acho que duelos sejam legalizados. Nós vamos ter que fazer pedra, papel e tesoura. Algo assim. Quer falar com a Josie agora? Ela olhou para ele. Eles estavam brincando um com o outro? Alex deu de ombros e lhe entregou o telefone. – O que posso dizer? Ele me fez rir. É difícil odiar um cara que te faz rir. – Então abriu a porta do escritório e caminhou de volta ao bar. Josie levou o telefone ao ouvido. – O que você falou para ele? – Que se ele me encontrar no bar para beber hoje à noite, vou mostrar como pendurar uma colher na ponta do nariz. – Você não fez isso. – Fiz, sim. Funcionou com você, e ele é seu irmão, então imaginei que funcionaria com ele. – Jack, você é maluco. – Mas Josie se lembrou de que, na primeira noite em que Jack começou a flertar com ela no bar, seu primeiro gesto foi pendurar uma colher na ponta do nariz. Ela concluíra então que valia a pena conhecer qualquer indivíduo disposto a fazer palhaçadas na frente da mulher por quem estava interessado. E Josie estava certa. Ela se divertira mais com Jack do que com qualquer homem com quem já tivesse saído, e foi por isso que o fim abrupto do relacionamento a abalara tanto. Ela se viu incapaz de acreditar que Jack pudesse mudar tão rápido, indo de um sujeito boa-praça a um recluso pensativo. Talvez ele finalmente estivesse emergindo da escuridão.
– Eu sou maluco por você – disse ele baixinho. – E não quero que a confusão com seu irmão nos atrapalhe. Eu criei o problema, então agora vou resolvê-lo. – Pendurando uma colher no nariz… – Você tem uma ideia melhor? – Não. E pode acreditar que vou presenciar o ato. Faz tempo que não te vejo executando esse truque em especial. – Eu estava contando com a sua presença. – Só para ficar claro para você… Você vai precisar tomar cuidado e me tratar como uma boa amiga e nada mais. Jack suspirou. – Eu sei, e não vai ser fácil, mas vou conseguir dar um jeito. Só para ficar claro para você… Vou ficar lhe despindo mentalmente o tempo todo. QUANDO JACK dirigiu para a cidade naquela noite, ele se lembrou da frequência com que costumava fazer isso, tanto antes de ficar com Josie quanto depois, principalmente. Mas ele não havia socializado muito nos últimos dez meses. Agora que estava oficialmente encarregado de todas as operações do rancho, aquilo parecia um luxo que ele não podia bancar. E, no entanto, só porque Sarah e Gabe tinham insistido, ele se comprometera nas aulas de montaria com Josie, o que estava tomando certo tempo de seu cargo na supervisão. Mas, por incrível que pareça, não ocorrera nenhum problema durante sua ausência. Na verdade, o pessoal parecia estar trabalhando de forma mais eficiente nos últimos dois dias. Ou pelo menos era o que parecia estar acontecendo. Jack não tinha certeza se podia confiar no próprio julgamento, já que estava se sentindo tão bem. O rancho poderia estar desabando que ele talvez não fosse notar. Isso era preocupante, pois era esse tipo de desatenção que tinha feito seu pai ir contra o seu relacionamento com Josie. Administrar o rancho havia sido a preocupação principal de Jonathan desde que Jack se lembrava. No entanto, Emmett insinuara sobre lapsos no registro perfeito de Jonathan. De acordo com o capataz de longa data, Jonathan perdera o foco após seu divórcio com a mãe de Jack, Diane. Houve também o breve caso com Nicole O’Leary, a mãe de Nick. Mas a partir do momento que Jonathan se casara com Sarah, e até o dia de sua morte, ele concentrara quase todas as suas energias no rancho e nos cavalos Paint que faziam a fama do lugar. E ele parecia saborear cada minuto disso. Jack não era assim. Ele nunca quis realmente estar no comando das operações do rancho, apesar de seu pai sempre dizer que seria dessa forma. Jack resistira à ideia desde o início. Ele até tentou demonstrar que não era a pessoa certa para o cargo, fazendo corpo mole, principalmente depois de se envolver com Josie. Ironicamente, tal comportamento acabara por colocá-lo bem onde ele não queria estar: no comando. Porém, nos últimos dias, agora que ele estava saindo com Josie outra vez, a carga não lhe parecera tão pesada. Parte disso podia ser porque Jack permitira que outros no rancho assumissem a responsabilidade enquanto ele estava fora. Então talvez ele não precisasse supervisionar todos os detalhes, afinal. E parte poderia ser por causa de Josie em si, a qual lhe oferecia todo o seu apoio silenciosamente.
Fosse qual fosse o motivo, Jack sentia-se mais como seu velho esta noite, o que significava que ele estava pronto para mostrar ao irmão de Josie que Jack Chance era um cara legal. E se ele precisasse fazer o truque da colher no nariz, então que assim fosse. E Josie estaria lá. A perspectiva de vê-la novamente era o suficiente para fazê-lo ultrapassar o único sinal vermelho da cidade. Elmer Crookshanks era a pessoa por trás da campanha para instalar o sinal há alguns anos, o qual ficava convenientemente localizado no cruzamento de seu posto de gasolina. Jack, junto a várias outras pessoas da cidade, sempre desconfiara que Elmer exigira o sinal a fim de forçar as pessoas a pararem por tempo suficiente para notar o posto ali. Certamente os negócios da Elmer tinham melhorado depois da instalação do sinal. E havia um motivo. Independentemente de um veículo estar chegando ao cruzamento, ou de haver algum tráfego no lado oposto, o sinal sempre ficava vermelho. Isso dava às pessoas tempo para notar a presença do posto de gasolina, verificar o medidor de combustível e talvez optar por encher o tanque. Jack tinha criado o hábito de ultrapassar o sinal de propósito, só para infernizar. Elmer iria denunciálo para o conselho do município e Jack iria se divertir contestando a multa. Ele estava no clima para criar um pouco de caos esta noite. Não havia ninguém no cruzamento, exceto Jack. Pisando no acelerador, ele ultrapassou o sinal. No minuto em que o fez, viu um flash, como se alguém tivesse tirado uma foto. Agora isso estava indo longe demais. Virando rapidamente, ele encostou no posto de gasolina, saiu da caminhonete e entrou no pequeno prédio com seu odor permanente de combustível e óleo. Elmer mastigava um palito de dentes enquanto estava sentado atrás da mesa de metal forjado que era parte do mobiliário do posto desde sempre. Ninguém sabia exatamente a idade de Elmer. Seu cabelo era grisalho e a pele maltratada, e as pessoas estimavam que ele tivesse entre 45 e 60 anos. – Peguei você – disse Elmer. – Foi você com a câmera, Elmer? – Eu a configurei com um controle remoto aqui no escritório, então, se qualquer um ultrapassar o sinal vermelho, posso tirar uma foto e enviar ao departamento do xerife. Eles disseram que precisavam de provas concretas. – Pelo amor de Deus, estamos em Shoshone, não em Nova York! Elmer deslocou o palito para o outro lado da boca. – As leis têm que ser obedecidas em todos os lugares. Você ultrapassou um sinal vermelho, Jack. – O que nos leva a outro ponto. Por que o sinal fica vermelho toda vez que eu chego ao cruzamento? Elmer deu de ombros. – Momento ruim. – Acho que você encontrou algum jeito de alterar aquele sinal, ou talvez você possa operá-lo manualmente, assim como faz com a câmera, então ele fica vermelho sempre que alguém se aproxima. – Como você poderia saber? Você nunca mais veio à cidade. – Isso está prestes a mudar, e essa doideira de sinal de trânsito também. Vou te dar alguns dias para resolver, para que ele funcione do jeito que tem de ser. Mas da próxima vez que eu passar aqui e não houver nenhuma viva alma no cruzamento, com exceção de mim, espero que a luz esteja verde. Elmer mastigou o palito um pouco mais depressa. – Talvez esteja, talvez não. Não posso garantir. – Ele parecia preocupado, no entanto. – Eu posso, e é melhor que esteja verde. – Assim que saiu, Jack se permitiu sorrir. Agora isso era divertido. Próxima parada, Espíritos e Esporas. O velho Jack estava de volta.
Capítulo 11
JOSIE SEMPRE conseguia sentir quando Jack adentrava num ambiente, de modo que ela percebeu imediatamente quando ele passou pela porta dianteira do Espíritos e Esporas. Ele olhou para o balcão e ela encontrou seu olhar. O sorriso pretensioso oferecido por ele foi como nos velhos tempos. Aquele era o Jack do qual ela se lembrava. Por acaso, o quarteto de música country no pequeno palco estava tocando uma música de Martina McBride, que ambos costumavam dançar, o que só fazia aumentar a sensação de déjà vu. Josie não era boba o suficiente para acreditar que poderia recapturar o passado tão facilmente, mas ver Jack ali, parecendo com seu antigo eu, já era um começo promissor. Inclinando o chapéu para trás com o polegar, ele contornou por entre os casais na pequena pista de dança e se apoiou no balcão. – Oi, linda. – Olá, você. – Seu irmão está aqui? – Ele está na mesa de canto, atrás de você. Jack encolheu os ombros e falou dando uma entortadinha na boca, como um gângster dos velhos tempos: – Obrigado pela dica, boneca. Ele está armado? Josie riu. – Você está num humor raro. Ele olhou para ela, seus olhos escuros brilhando de alegria. – Eu ultrapassei o sinal vermelho. – Oh-oh. Você sabe que Elmer usa uma câmera com controle remoto agora. – Eu não sabia, até ultrapassar o sinal. Ele diz que o município precisa de provas. Isso é verdade ou ele só está nos perturbando? – Provavelmente é verdade. Aposto que o município cansou-se dos relatos dele e de todas as contestações das multas. Você foi quem mais infringiu a regra, se bem me lembro. – Eu considerava um esporte! De qualquer forma, esse sinal é manipulado, e se ele não consertar o problema, vou provar que existe fraude. Além disso, a câmera tem que sumir. Isso me ofende.
Ela sorriu quando lhe entregou sua bebida favorita. – Sentimos sua falta, Jack. – Obviamente isso é verdade, já que ninguém mais tem colhões para tomar providências em relação ao danado do sinal. Bem… Você tem uma colher para me emprestar? – Você não vai mesmo fazer o truque da colher, vai? – Eu não só vou fazer, como vou pendurar a colher no nariz aqui e caminhar até a mesa do seu irmão sem deixá-la cair. – Aqui está a colher, mas espere um minuto. Eu ainda tenho alguns drinques para preparar, só que eu quero ir até lá com você. – Tudo bem, então eu vou praticar. – Ele começou a esfregar o côncavo da colher no nariz. – Meu Deus. Que pena que deixei minha câmera lá em cima. – A imagem estática de uma câmera nunca seria capaz de captar o talento artístico deste movimento. Você precisa de uma equipe de filmagem de Hollywood. – Vou me lembrar de te ligar da próxima vez que aparecer algum tipo de Hollywood aqui no bar. – Vá preparar suas bebidas. – Jack desabotoou os punhos da camisa e arregaçou as mangas. – Eu tenho trabalho a fazer. Josie conseguiu dar um jeito de preparar um gin fizz e uma margarita de morango, embora tivesse levado o dobro do tempo porque não parava de olhar para onde Jack estava treinando com a colher, muito para a diversão dos outros presentes junto ao balcão. Depois de colocar as bebidas numa bandeja para Carolyn, a garçonete daquela noite, Josie correu de volta para Jack e levantou a parte articulada do balcão para se juntar a ele do outro lado. – Vamos lá. – O quê? – Ele se virou para ela, vesgo e com a colher pendurada no nariz. Ela se descontrolou, rindo tanto que as costelas chegaram a doer. – Você precisa ir na frente e me anunciar. – Jack virou-se lentamente e a colher permaneceu suspensa em seu nariz. – Me deixe tomar fôlego pelo menos. – Ofegando, impotente, Josie começou a caminhar até a mesa de Alex. Alex olhou para Josie como se ela tivesse perdido a cabeça, coisa que provavelmente tinha acontecido mesmo. Jack causava aquele tipo de efeito nela. – Apresentando Jonathan Chance Jr. e seu famoso truque da colher suspensa – disse ela. – Não tente isto em casa. – Ela deu um passo para o lado e gesticulou para Jack. Jack foi andando devagarzinho para a frente, e agora metade dos clientes do bar estavam assistindo ao seu progresso e aplaudindo-o. – Estou ferrado. – Alex começou a sorrir. – Você não estava brincando. – Eu não brinco com uma habilidade tão impressionante – disse Jack. – E desafio você a tentar, Keller. – Ainda equilibrando a colher, Jack sentou-se diante de Alex. Com um floreio, ele removeu o talher. Alex olhou para Jack do outro lado da mesa. – Vou aceitar o desafio, Chance. Josie, mais uma colher, por favor. – Eu tenho uma! – berrou alguém numa mesa vizinha. – Eu sempre quis aprender a fazer isso. Jack olhou ao redor, como se avaliasse a multidão. – Muitos são os convocados. Poucos são os escolhidos.
– Eu consigo fazer isso. – Alex virou a colher nas mãos. – Eu me lembro de que você tem que esfregar o côncavo da colher no nariz algumas vezes. – Quer algumas dicas? – perguntou Jack, solícito. – Não, obrigado. Vou descobrir como é. A essa altura, a banda já havia captado o momento e estava tocando uma música acaipirada. A primeira tentativa de Alex falhou, mas, na segunda, ele foi mais bem-sucedido, mantendo a colher por vários segundos. – Tudo bem – disse ele. – Estou pronto. Alguém tem um cronômetro? – Aposto cinco pratas que Chance pode vencê-lo! – gritou alguém. – Eu aposto dez no irmão de Josie! – berrou outra pessoa. – Ele é de Chicago, como eu! Josie deu um passo atrás e observou com admiração enquanto Jack e Alex competiam no primeiro concurso anual de suspensão da colher do Espíritos e Esporas. Os clientes se reuniram em torno dos competidores enquanto a cerveja e as risadas fluíam livremente. Foi o grupo mais animado que ela vira em… bem, dez meses. Alex e Jack fizeram muitas pausas para beber bons goles de suas cervejas. Depois de uma hora, os dois homens estavam rindo tanto que precisaram interromper o concurso. Mas Jack tinha conseguido seu objetivo. Eles se tornaram companheiros de copo, e Alex tinha concordado em ser o DJ no casamento de Gabe e Morgan. Alex chegou a dar tapinhas nas costas de seu novo melhor amigo e a agradecer por lhe render tanto entretenimento. Depois Alex puxou Josie de lado. – Agora eu entendo. Eu entendo por que você gosta do cara. Ele é divertido, mas… ainda quero que você seja cuidadosa. – Serei. – Josie olhou para a mesa, onde Jack estava tentando ensinar o truque da colher a outros clientes. – Aprendi uma lição dura em outubro do ano passado, e é improvável que eu a esqueça. JACK TINHA alcançado sua intenção declarada. Ele e Alex já podiam conviver e seu irmão tinha aceitado trabalhar como DJ na recepção do casamento. Jack também encontrara um instante para pedir desculpas por ter tentado socá-lo quando eles se conheceram, e Alex não parecera guardar rancor. Mas Jack sabia que isso não faria Alex necessariamente confiar nele a ponto de aprovar o envolvimento com sua irmã. Isso significava que a outra intenção de Jack, aquela um pouco mais íntima, se provaria difícil de se alcançar. Ele queria uma oportunidade para abraçar Josie antes de ir para casa. Na verdade, ele queria fazer mais do que abraçá-la. Mas não havia local disponível e, além disso, Alex não poderia tomar conhecimento do caso deles. Jack tinha decidido ficar por ali e ver se talvez Alex subiria para a cama antes de o bar ser fechado. Mas era como se o sujeito estivesse pressentindo o plano, então grudou feito cola. Jack tinha de lhe dar o crédito: o homem era resistente. Alex não sabia dançar música country e parecia um principiante usando jeans e camisa de time, mas, mesmo assim, ele foi para a pista, como se determinado a aprender a quadrilha. Muitas mulheres estavam dispostas a lhe ensinar. Jack via um futuro brilhante para aquele rapaz no que dizia respeito às mulheres do Shoshone. Quando o horário de fechar se aproximou, Jack serpenteou até o balcão, onde Josie preparava as últimas doses da noite.
– Eu estava esperançoso de que seu irmão fosse desistir e ir para a cama, mas não tive essa sorte. Josie ergueu as sobrancelhas. – E por que você estava esperançoso, Jack? Sentindo-se ousado? – Sentindo-me desesperado. Passei a noite toda observando você, e tirando uma roçadinha ocasional de corpos aqui e ali, não fiz qualquer contato físico notável. – Ele baixou a voz e se inclinou mais perto. – Eu estou acostumado a finalizar esse tipo de noite na sua cama. – Não vai acontecer. – Ela se ocupou com as bebidas. – Se eu esperar seu irmão ir embora, sempre tem seu escritório. As bochechas de Josie coraram. – Não. Eu não vou correr o risco de Alex resolver descer para saber como estou. – Ela colocou três drinques numa bandeja e se voltou ao preparo de outros. – Mas você gostaria que a gente pudesse dar uma escapada. Dá para notar que está corando. – Está calor aqui. – Ela se movimentava de forma eficiente, derramando caldas em copos a partir dos injetores anexados a frascos sob o balcão. Jack se imaginou esguichando aquelas caldas sobre o corpo nu de Josie, e então lambendo-as. – Com um pouco de imaginação, pode ficar bem quente aqui. Só precisamos de um pouco de privacidade. Como é que nunca fizemos aqui no bar? – Porque as janelas não são cobertas, caso você não tenha notado. Com a luz dos postes entrando, alguém poderia ver a gente. – Excêntrico. – Jack, desista. Nós não podemos fazer nada esta noite, ponto. – Eu não sou do tipo de cara que desiste facilmente. Vou ficar por aqui um pouco mais e ver o que acontece. – Você está desperdiçando seu tempo. – Veremos. Ela fez uma pausa para oferecer um sorriso confuso. – Gabe está certo. Você é teimoso feito uma mula. Aparentemente, eu nunca te disse um não antes. – E por que diria? O que rolava entre a gente era legal. – Era mesmo, mas agora que estou pensando no assunto, eu concordei com tudo que você sugeriu. Nunca neguei uma única coisinha. Ele se inclinou mais, sorvendo-a. – E eu gosto disso numa mulher. – Aposto que sim. – Ela espetou uma cebola e uma azeitona num palito de plástico e o jogou num copo de martíni. – Mas você vai sair de mãos vazias hoje, Jack, então pode encarar sua derrota e voltar para o rancho. Jack se virou para a pista de dança. – Seu irmão está se matando tentando aprender a quadrilha, isso sem mencionar o esgotamento mental devido à entrevista de emprego hoje. Eu prevejo que ele vai dormir feito uma pedra. – Vá para casa, Jack. – Ainda não, Josie. – Ele sabia que, mesmo que ela não cedesse, aquela persistência normalmente compensava. As pessoas podiam até rotulá-lo de teimoso, mas ele se considerava um mestre da persistência. A única pessoa que Jack nunca conseguira superar nisso fora seu pai, que havia sido o grande mestre.
Sua mãe, pelo pouco que ele sabia dela, não compreendia nada desse conceito. Ela desistira ao primeiro sinal de que a vida no rancho seria complicada e que poderia exigir alguns sacrifícios, ou pelo menos assim seu pai lhe dissera. Jack não respeitava esse tipo de atitude. A banda tocou a última música e começou a guardar os instrumentos. Os clientes começavam a sair, alguns vindo até Jack para agradecer pelas aulas de suspensão de colher. Toda aquela proeza trouxera lembranças de seu pai. Jonathan Chance adorava render assunto às pessoas. Jack sorriu quando se lembrou da brincadeira anual que envolvia o cavalo de gesso em tamanho natural no telhado da loja de rações. Em todo outono, Jonathan e Jack se esgueiravam na cidade com uma escada e uma lata de tinta azul. Quando iam embora, as partes pudendas do cavalo estavam azuis. Ninguém jamais os flagrara, mas todos na cidade conheciam os culpados. Alex foi até o balcão. – Cansei. – Ele estendeu a mão. – Mas eu queria agradecer pela noite muito interessante. – Você me inspirou a voltar ao treinamento. – Jack encontrou o olhar de Alex enquanto apertava sua mão. – Estou pensando em fazer uma campanha para transformar a suspensão de colher em esporte olímpico. – Elabore a petição e eu assino. – Alex fez uma pausa. – Então acho que você vai aparecer agora, certo? – Em breve. Alex olhou para Josie. – Precisa de ajuda para fechar o bar? – Eu vou ficar bem. Vá para a cama. – Eu ajudo se ela precisar – disse Jack. Alex hesitou. – Pensando bem, acho que vou ficar aqui e empilhar as cadeiras. Josie foi para a frente do balcão e agarrou o braço dele. – Sério, Alex, está tudo sob controle. – Tem certeza? – Tenho. Não aja como uma dama de companhia. Eu sei me cuidar. Alex olhou para Jack como se tivesse dúvidas. – Se você está dizendo. Eu realmente estou exausto. Vejo você depois, Jack. – Pode apostar que sim. – Jack levantou a mão num gesto de despedida. Sim. Ele começou a se movimentar pelo salão, empilhando cadeiras em cima das mesas enquanto Josie pegava a vassoura de tamanho industrial. Eles haviam feito isso juntos uma centena de vezes. Mais de uma centena. Jack foi buscar a pá de cabo longo. – É legal fazer isso de novo. – Só não espere uma recompensa depois que a gente acabar. – Josie varreu os restos de lixo numa pilha para poder colocar na pá e despejar no cesto. – Eu me contento com um beijo. – Ou pelo menos ele começaria por aí. Ela pousou a vassoura num canto. – Você está forçando a barra, Jack. – Um beijo. Isso não parece pedir demais. – Ele esvaziou a pá de lixo e a guardou de volta no armário, que por acaso ficava ao lado do interruptor principal. Então ele apagou as luzes, imaginando que a penumbra seria capaz de esconder uma infinidade de pecados, ou uma infinidade de prazeres.
A voz de Josie soou cavernosa no salão agora vazio. – Eu conheço essas suas jogadas, e não vou colaborar com seu plano maligno. – Não é maligno. – Seus olhos se adaptaram à penumbra e ele caminhou até onde ela estava, junto ao balcão. – Certamente você pode me dar um beijinho. – Jack sentiu o calor de Josie antes mesmo de alcançá-la. Ela estava ofegante. Desejava o toque dele tanto quanto ele desejava o dela. – Eu não acho que a gente seja capaz de ficar só no beijo, Jack. – Então daremos dois beijos caprichados. E aí eu vou para casa. – Ele a tomou nos braços e gemeu. – Deus, você é uma delícia. – Essa é uma péssima ideia. – Mesmo assim, ela segurou a cabeça dele e o puxou para baixo. – Sim, simplesmente terrível. – Jack a encontrou no meio do caminho e gemeu outra vez quando provou aquela boca doce, doce. Nenhum beijo jamais fora tão longamente esperado ou tão cuidadosamente desfrutado. No início, ele usou a língua apenas para explorar e acariciar, mas impulsos primitivos logo o fizeram invadir a boca de Josie e buscar os botões da camisa dela. Ela separou-se dele, ofegante. – Jack, a gente realmente não devia fazer isso. – Eu sei. Mas estou morrendo aqui. – Eu também. – Ela pegou a mão dele e o afastou do balcão. – Meu escritório. Vamos trancar a porta. Jack conseguiu engolir um grito de triunfo. Graças a Deus Josie ansiava por ele tanto quanto Jack ansiava por ela. O escritório estava ainda mais escuro do que o salão principal do bar, e uma vez que Josie fechou e trancou a porta, Jack não conseguiu enxergar muita coisa. Mas ele podia sentir, e assim que localizou Josie, não teve dificuldade para encontrar a boca ávida que ela lhe oferecia, ou a fivela do cinto, o botão e o zíper da calça jeans dela. Ela ajudou removendo uma bota para que ele pudesse puxar uma perna da calça. De fato, ele só precisava daquilo. – Sua cadeira – disse Jack entre beijos frenéticos. – Vamos usá-la. A resposta de Josie foi arfante. – Tudo bem. – Ela o ajudou a procurar a cadeira em meio à escuridão. – Aqui está. – Daí o guiou até o assento. Quando sentou-se, Jack já estava desafivelando seu cinto e abrindo a calça. A cadeira sem braços rangeu quando ele se inclinou para trás e pescou as camisinhas no bolso da calça de brim, as quais tinham sido trazidas na esperança de serem utilizadas. Abrindo um pacotinho, ele enfiou a embalagem vazia no bolso. Não queria deixar nenhuma evidência. – Agora? – A voz de Josie tremia de ânsia. – Quase. – Ele desenrolou o preservativo no membro e estendeu a mão para ela. – Onde você está? – Aqui. – Ela segurou a mão dele e a colocou entre suas coxas abertas. Ele arquejou quando a acariciou, deslizando os dedos para cima e para dentro. – Você está tão molhada. – Passei a noite inteira assim. – Se eu soubesse disso… – Agora você sabe. E como já sabe, você poderia por favor tomar uma providência? – Com prazer. – Abarcando o bumbum dela com a mão livre, ele a posicionou de modo que ela pudesse montá-lo na cadeira. Então retirou os dedos lentamente e os substituiu por seu membro.
Josie foi deslizando para baixo com um gemido suave de prazer. – Pensei que a gente não fosse conseguir. – Mas conseguimos. – Aninhando-a, Jack fechou os olhos e murmurou seus sinceros agradecimentos por aquele momento. – Sempre às ordens. – Ela apoiou as mãos nos ombros dele. – Não preciso de aulas para esse tipo de montaria. – Não. Pelo que me lembro, você é uma especialista. – O coração de Jack martelava rapidamente no peito enquanto ele aguardava, porque aquele espetáculo era de Josie. Ela deveria fazer acontecer. – Até mesmo os especialistas podem praticar mais. – Quando se ergueu, ela contraiu os músculos em torno dele. Ah, sim. Ele se lembrava bem disso, e estava prestes a fazer a viagem de sua vida. Ela começou devagar, deslizando para cima e para baixo com os músculos contraídos, os quais massageavam o membro latejante e proporcionavam a tortura mais requintada que se poderia imaginar. Jack queria que ela fosse mais depressa, mas estaria ferrado se lhe pedisse isso. Ela aumentaria o ritmo quando estivesse pronta. Ela acelerou um pouco mais e então… Esgotou todos os recursos disponíveis, o bumbum batendo nas coxas dele como num movimento de pistão, o qual fez Jack cerrar os dentes para evitar o clímax que pairava cada vez mais perto. Ele não conseguia segurar. Ele queria, no entanto… – Eu vou… gozar – disse ele, ofegante. – Eu… também… – Respirando com dificuldade, Josie mudou o ângulo, e então… Os espasmos a atingiram assim que ela soltou um gemido longo, os dentes trincados. Jack explodiu, os quadris impulsionando para cima e empurrando ainda mais fundo enquanto ele estremecia nas contrações do orgasmo que ultrapassara os níveis da escala Richter. Algum instinto de autopreservação profundamente arraigado o impediu de gritar. – Oh, Jack. – Josie tombou para frente e apoiou a testa na dele. – Isso foi tão insensato. E tão maravilhoso. – Vai ficar tudo bem. Ninguém precisa saber. – Não podemos manter este segredo para sempre. Mais cedo ou mais tarde, vamos ter que vir a público. – A decisão é sua. É você quem tem o irmão possessivo. – E você tem a noiva e o noivo nervosos. Jack tinha de admitir que Gabe poderia encarar aquele desenrolar com certo ceticismo. Um caso de amor sempre tinha potencial para explodir, principalmente no tipo de história que ele possuía com Josie. Ele suspirou. – É melhor mantermos segredo, pelo menos por enquanto. – Concordo. E eu preciso subir antes que Alex fique desconfiado. – Há grandes chances de ele estar num sono pesado. Ele nem mesmo vai ouvir você entrar. Jack desejava muito estar certo sobre isso, mas, quando ele e Josie finalmente se arrumaram e abriram a porta do escritório, notaram alguém sentado junto a uma das mesas, no salão apagado. Poderia ter sido um fantasma, caso Jack acreditasse em fantasmas. Ele desejou muitíssimo acreditar. Pois preferia lidar com um fantasma a lidar com aquele sujeito.
– Muito bem, Chance – disse Alex. – Nós precisamos conversar.
Capítulo 12
JOSIE JÁ devia saber. Na verdade, ela sabia, mas acabara por permitir que a luxúria superasse seu bom senso. Mas uma coisa era certa: ela não ia deixar Jack levar toda a culpa. – Eu sou a única pessoa com quem você precisa conversar, Alex. – Ela caminhou até a mesa. Após a completa ausência de luz no escritório, estava mais fácil de enxergar na penumbra do bar. Os postes lá fora conferiam um brilho suave ao cômodo. – Deixe Jack fora disso. – Não dá. – Alex arrastou para trás a cadeira que havia tirado de uma das mesas e se levantou. Ele era quase da mesma altura que Jack, e Josie sabia que ele estava em boa forma devido às caminhadas e escaladas recentes. Numa luta corporal, uma luta que ela juraria evitar, não dava para prever quem iria se dar bem. Jack se pôs ao lado dela, seu olhar firme em Alex. Pela tensão que irradiava dele, Jack obviamente esperava por uma contenda física. – Suba, Josie. Seu irmão e eu vamos lá para fora. Nada vai ser quebrado aqui. – Você está louco? Estou preocupado com a possibilidade de vocês se quebrarem! Eu não dou a mínima para a mobília. Alex mudou sua postura. – Não há nada que eu gostaria mais do que socar você, Chance, mas isso não adiantaria de nada. Eu fui literal no que eu disse. E quero conversar. – Ele olhou para Josie. – Acho que cabe a você permanecer aqui ou não. – Com certeza cabe a mim, e eu vou ficar. – Ela ficou aliviada por Alex não estar com a violência em mente, mas não confiava em nenhum dos dois para manter a conversa cordial caso os deixasse por conta. – Tudo bem. – Alex pegou outra cadeira em cima da mesa e a colocou na posição vertical. – Sente-se. Chance pode pegar uma cadeira para ele. Jack não se mexeu. – Eu prefiro ficar de pé. – Entendo. Então também vou ficar. – Alex fez um gesto para a cadeira. – Josie? – Eu também vou ficar de pé. – Assim seria mais fácil se colocar entre eles caso fosse necessário.
– Muito bem, eu acho – disse Alex. – Isso não vai demorar muito. Tudo se resume a uma coisa, na verdade. Tenho certeza de que você não arrastou Josie para o escritório, então devo presumir que ela gosta de você. Josie não estava nada à vontade por ver suas emoções sendo discutidas casualmente. – Você não sabe de nada, Alex. Poderia simplesmente ser uma atração física esmagadora. – Ora bolas, Josie. Você passou seis meses com este cara no ano passado. Quando ele te abandonou, você ficou arrasada. Ela fez uma careta. – Arrasada, não. Chateada, talvez. Alex pareceu perceber que não deveria ter revelado tanto assim. – Bem, tudo bem, você ficou chateada, muito mais do que teria ficado se fosse só uma atração física. Além disso, você não é do tipo que faz sexo casual. – Você tem certeza disso? – Josie encarou seu irmão. – Bem, sim. Tenho. – Sabe o que eu acho? Acho que você não gosta da ideia de ver sua irmãzinha fazendo sexo sem compromisso, então você presume que eu não seja desse tipo. Jack pigarreou. – Ele está certo, Josie. Isso não faz seu estilo. Ela se voltou para ele. – Você também? Ouçam-me, rapazes. Meninas podem muito bem estar interessadas só em sexo, assim como vocês, machões. – Eu não disse que não poderia – protestou Alex. – Eu só disse que não é do seu feitio, e reafirmo isso. Não é. Especialmente considerando seu histórico com Jack. Alex estava certo, e Josie sabia que estava, mas, droga, ela não gostava de ter seus sentimentos expostos quando não fazia ideia de como Jack enxergava a situação toda. Ela cruzou os braços protetoramente sobre o peito. – Você tem um algum objetivo com essa dissecação do meu tipo de envolvimento emocional? – Sim. Porque eu acho que você está emocionalmente envolvida, e quero saber a posição de Jack a respeito. Josie queria morrer. Alex estava tentando forçar alguma confissão de Jack. – Você está mesmo querendo saber sobre as intenções dele para comigo? – É exatamente o que estou fazendo. Na maioria das vezes, Josie amava muito seu irmão. Mas agora ela queria estrangulá-lo. – Isso não é da sua conta, Alex. É antiquado, arcaico, patriarcal e… Jack deu um passo adiante. – Eu não tenho tanta certeza. Na verdade, se eu tivesse uma irmã, principalmente se ela já tivesse um histórico de problemas com determinado sujeito, eu estaria fazendo as mesmas perguntas. Josie olhou para ele. – De que lado você está? – Do seu, e é por isso que eu vou responder à pergunta do seu irmão da forma mais honesta que puder. A verdade é que eu não sei como me sinto sobre o nosso relacionamento. O coração de Josie se contorceu. Ela não queria que Alex forçasse uma declaração de amor, mas teria gostado de algo um pouco mais animador do que eu não sei como me sinto.
– Era isso que eu temia – disse Alex. – E é por isso que fiquei preocupado por minha irmã voltar a sair com você. Você já deu um fora nela uma vez, por isso, se não está exatamente investindo, o que o impediria de repetir o desempenho do passado? Jack ficou tenso. – Eu já disse que não a machucaria outra vez. – E isso significa o que exatamente? Que você vai pegar mais leve na decepção desta vez, avisando com mais antecedência que vai cair fora do relacionamento? – Não foi isso que eu quis dizer. – Andei pesquisando por aí, Chance. Não é nenhum segredo que, sempre que você arruma uma namorada, é você quem termina a relação. De tudo que eu ouvi, você é aquilo que os psicólogos chamam de fobia a compromissos. Então quais são seus planos para com Josie? – Eu não sei. Josie concluiu que já era o suficiente. – Alex, agradeço sua preocupação, mas sou grandinha e sei me cuidar. – Ela se voltou para Jack. – Vejo você amanhã às 9h para nossa aula de montaria. – Talvez não seja uma boa… – Estarei lá às 9h. Esse era o nosso acordo. Jack suspirou. – Tudo bem. Eu estarei lá. – Eu espero que você saiba o que está fazendo, Josie. – Alex concentrou a atenção em Jack. – Vou respeitar seus desejos e cair fora, mas, juro, se ela acabar em lágrimas, você vai ter notícias minhas, e eu não dou a mínima para o quão antiquado, arcaico e paternalista isso vá parecer. – Entendido. – Jack cutucou o chapéu num cumprimento a Josie. – Vejo você de manhã. – Então saiu do bar sem olhar para trás. – Josie, eu, com certeza, gostaria que você… – Não diga nada, Alex. Eu sei bem quais são os riscos depois desta noite. Se você me dá licença, eu vou para a cama. Fique à vontade para pegar uma bebida. – Eu poderia fazer isso mesmo. – Então tranque tudo depois que acabar. – Josie saiu pela porta da frente, a mesma que Jack tinha usado. Era a rota mais próxima da escada na lateral do edifício, a qual levava ao seu apartamento. Ela sempre desejara ter uma escada interna que ligasse o escritório ao apartamento no segundo andar. Se houvesse uma, Josie nunca teria feito amor com Jack no escritório hoje, sabendo que Alex poderia descer a qualquer momento. Mas o escritório era uma unidade autossuficiente, por isso ela e Jack tinham feito amor ali tantas vezes, incluindo esta noite. Obviamente Alex começou a ficar desconfiado quando ela não subiu, logo depois de fechar o bar. Ele se nomeara uma espécie de seu protetor, e depois da forma como ela chorara ao telefone com ele dez meses atrás, Josie não podia culpá-lo. Ela não podia simplesmente derramar seus problemas nele e depois criticá-lo por interferir em sua vida. Isso não era justo, e ela diria isso a ele… amanhã. Esta noite ela precisava de um banho quente e de um tempo sozinha para pensar. Alex estava certo ao observar que Jack tinha se esquivado de compromissos durante toda a sua vida adulta. Isso valia para seus relacionamentos românticos e para sua dedicação ao rancho. Quando Jonathan faleceu, Jack fora obrigado a assumir o controle do rancho, mas Josie sentia que ele não estava feliz com isso.
Ela não ia obrigá-lo a assumir um compromisso. Talvez ela até tivesse se enganado, achando que ele vinha tomando tal direção, mas as perguntas de Alex, por mais indesejadas que tivessem sido, se revelaram um grande negócio para ela. Quando fechou a porta de seu banheiro e abriu a torneira da banheira, Josie pensou na reação de Jack quando Alex o pressionou para obter respostas. Ele não sabia. Josie acreditava que Jack estava dizendo a verdade, e isso significava que ela precisava tomar algumas decisões. As quais não seriam nada fáceis. JACK NÃO tinha certeza do que esperar quando Josie aparecesse na manhã seguinte, então se preparou para todo tipo de contingência. A alegria dela quando desceu do carro e foi de encontro a ele junto ao poste de amarração também não lhe forneceu quaisquer pistas. Dez meses atrás, ele teria sido capaz de decifrar o humor dela facilmente, mas Josie tinha mudado. Ela não era mais tão aberta como costumava ser, e Jack só poderia culpar a si mesmo por isso. Mas lá estava ela, pronta para cavalgar. Alex não conseguira convencê-la a dispensá-lo. Isso era bom, de qualquer forma. Josie desamarrou Destino do poste antes de montar nele. Com apenas dois dias de aula, e algumas interrupções, ela captara uma boa quantidade de informações sobre como lidar com cavalos. Jack não estava surpreso por isso. Ela era esperta, e essa era uma das coisas que o atraíam nela. Ele deu um tapinha em seu alforje. – Sarah embalou alguns brownies caseiros, então eu trouxe garrafas de água. – Que legal da parte dela. – Sim, é. – Ele se esquivara das perguntas de Sarah sobre as aulas de montaria. Ela estava bem ciente de que Jack tinha ido à cidade na noite anterior. Sua madrasta deixava passar pouca coisa, mas ele evitara qualquer conversa sobre o passeio. Jack nunca fora de tagarelar, portanto a contenção ao falar sobre si não era bem uma novidade. No entanto, Sarah estava de olho nele, e Jack não conseguia afastar a sensação de estar enfrentando algum tipo de período de testes. Uma brisa suave soprava através do prado enquanto Josie e Jack cavalgavam. Mais uma vez, estava um dia lindo, com céu azul e nuvens fofas, com um cheiro adocicado de sálvia e um falcão sobrevoando a área. No entanto, havia algo errado ali, e Jack desconfiava que o confronto da noite anterior tivesse algo a ver com aquela sensação desconfortável entre ele e Josie. Ele pensou em sugerir um trote, mas resolveu não fazê-lo. Por motivos que preferiria não analisar, ele queria pegar leve hoje. Queria que Josie ficasse contente com sua cavalgada e contente com ele. Não estava convencido da felicidade dela, muito embora ela estivesse agindo como tal. Ela virou-se para olhar para ele. – Diga-me outra vez por que você insiste em chamar sua madrasta pelo primeiro nome. Ele encontrou seu olhar firme. – Isso é uma pergunta capciosa? – Talvez. – Eu não sou bom com perguntas capciosas. – Na verdade, ele as odiava. – Diga-me por que você quer saber.
– Em parte, para esclarecer mesmo. Lembro-me vagamente de você ter dito que não conseguia chamá-la de mãe porque era assim que você chamava a mulher que foi uma decepção para você. – Foi isso mesmo que eu disse, e ainda é verdade. Mas sinto algo por trás de toda essa discussão, algo que tem a ver com a noite passada. – Imagino que tenha. – Josie parecia bastante confortável na sela enquanto olhava para ele. – Quer saber? Acho que deveríamos conversar sobre isso mais tarde. – Por mim, a gente não falaria sobre isso nunca. Ela sorriu. – Falou como o Jack que eu conheço. Ei, podemos galopar? Eu adorei a parte do galope e quero fazer de novo. Aliviado por abandonarem um assunto tão delicado, ele apontou para um pinheiro alto no canto direito do prado. – É para lá que vamos. Tem uma trilha por entre as árvores que leva a um lugar realmente bonito. Eu queria mostrar para você. – Eis aí uma coisa legal sobre cavalos. Você consegue enxergar lugares distantes, os quais poderia não ver de outra forma. – Exatamente. – Jack estava mais satisfeito do que gostaria de admitir por Josie estar encarando a cavalgada com tanto entusiasmo. Ele adorava ficar ao ar livre, e compartilhar a experiência com ela era… legal. Queria sentir raiva de Alex por perturbar o status quo, mas o sujeito tinha suas razões, e Jack compreendia isso. Ele também possuía uma veia protetora. Ele olhou para Josie. – Pronta para ir? – Os olhos cinzentos brilharam de expectativa. – Sim. – Então bata os calcanhares e Destino vai captar o recado. – Jack só precisou cutucar Bandido e estalar a língua para o cavalo imenso entrar num galope. Destino era do time dos preguiçosos, mas também gostava de acompanhar qualquer que fosse o cavalo ao seu lado. Jack decolou e virou-se para encontrar Josie ao seu lado, as bochechas rosadas e os olhos brilhando de alegria enquanto Destino entrava num galope. Naquele momento, Jack percebeu que a felicidade de Josie tinha se tornado muito importante para ele. Ele lembrava-se de ter sentido a mesma coisa dez meses antes, mas daí a morte de seu pai amortecera tantas emoções, incluindo seus sentimentos por Josie. Agora elas estavam voltando, e era exatamente como sentir o formigamento nas mãos ou nos pés depois que a circulação retornava após um período de dormência. Ele não conseguia concluir se ele gostava ou não daquela sensação. Em sua experiência, muito daquela sensação de formigamento podia ser perigosa. Mas ali estava Josie, cavalgando ao seu lado, cheia de vida e mais sexy do que qualquer mulher que Jack havia conhecido. Estar com ela o fazia se esquecer um pouco de suas responsabilidades e simplesmente existir. E ele era grato por isso. Ao chegarem aos limites das árvores, ele a chamou, então Josie desacelerou. Se ela não conseguisse fazê-lo sozinha, ele estava preparado para agarrar as rédeas de Destino e ajudá-la, mas ela manteve os pés nos estribos e a mão nas rédeas. Daí incitou Destino a uma caminhada, sem ajuda. – Você está pegando o jeito – disse ele. – Espero que sim. Não temos muito tempo.
– Nós ainda temos quase uma semana antes do casamento. – Certo. É este o caminho? – Ela apontou para uma trilha estreita por entre as árvores. – Sim. Siga por aí. Estarei bem atrás de você. – Então você pode me treinar. Eu quero tentar trotar de novo. – Não se torture, Josie. Você pode treinar isso outro dia. Ela olhou para trás. – Eu quero aprender agora. Estou inspirada depois do galope. Apenas me observe, está bem? – Se você está dizendo. – Jack teria preferido um ritmo vagaroso enquanto eles se aproximavam da clareira que ele havia escolhido para o encontro do dia. Sacudir-se no lombo de Destino não parecia ser um prelúdio adequado para um sexo de qualidade. Mas o que ele sabia? Talvez Josie fosse achar estimulante. Ela cutucou Destino para um trote, e, no início, seu belo bumbum quicou na sela no mesmo jeito que havia feito nos últimos dois dias. Jack se encolhia toda vez que ela descia e estava esperançoso de que Josie não estivesse prejudicando quaisquer partes sensíveis. – Firme os pés nos estribos e baixe os calcanhares – disse ele. – Afunde seu centro gravitacional no assento e aperte as pernas. Josie baixou os saltos das botas ao mesmo tempo que firmou o cóccix e sentou-se ereta. E então, milagre dos milagres, ela parou de quicar. Em vez disso, acompanhou aquele ritmo delicioso do cavalo. Observá-la era tão erótico que Jack questionava se conseguiria chegar à clareira sem reduzir a distância entre eles e arrancar Josie de seu cavalo. Ela movimentava-se com facilidade para frente e para trás, para frente e para trás, e aquilo tudo estava muito semelhante ao ato sexual, para a satisfação de Jack. – Jack, eu consegui! – Sim, com certeza conseguiu. – Ela estava fazendo aquilo para ele também. Ele sentiu os testículos doerem. – Parabéns. Você está se tornando uma bela amazona. – Eu não fazia ideia de que isso poderia ser tão divertido. Estou pensando até em comprar um cavalo. – Agora isso é simplesmente uma bobagem. Temos muitos cavalos no rancho. Você pode montar Destino sempre que quiser, e agora que está mais confortável na sela, você pode experimentar outros. – Obrigada, Jack, mas eu… Pode ser que eu precise ter meu cavalo. – Eu entendo, mas, pelo menos, você poderia deixar seu cavalo no rancho. – Jack gostava muito daquela ideia. O Última Chance normalmente não acomodava cavalos que não pertencessem ao rancho, mas Jack estava disposto a abrir uma exceção no caso de Josie. Ter um cavalo no celeiro daria a ela um motivo para aparecer muitas vezes. Sair juntos para cavalgar poderia se tornar uma coisa regular. – Vamos ver. – Ela guiou Destino para a clareira. – Ah, Jack, isto é adorável. Ele tinha de admitir que ela estava certa. Um dossel de pinheiros e carvalhos protegia uma área repleta de flores silvestres e samambaias. Um riacho corria ao longo da extremidade mais distante da clareira, desaparecendo sob a vegetação rasteira. A água borbulhando sobre pedras lisas emitia um barulho de sussurros, como duas pessoas fazendo sexo. O sexo ao ar livre remetia aos dias de juventude de Jack, antes de ele ter acesso a oportunidades recreativas em ambientes fechados. Com o irmão de Josie na casa dela, não havia muita escolha agora, porém o cenário natural se revelara excelente. Combinava com Josie.
E era conveniente para ele também, pensando bem. Jack tinha se esquecido de como poderia ser libertador fazer amor a céu aberto com uma brisa acariciando a pele nua. Ele estava ansioso para começar. Josie desmontou e amarrou Destino, separando as rédeas e passando-as ao redor do tronco de uma árvore. Caso quisesse fugir, o cavalo precisaria arrancar toda a porcaria da árvore. Jack sorriu. Obviamente Josie não queria ser interrompida. Talvez a noite passada tivesse sido apenas um pontinho no radar, nada com que se preocupar. Josie estava agindo como se não houvesse problema algum, como se eles fossem dar continuidade ao plano de se reunir todas as manhãs para uma aula de montaria e muito sexo. Jack amarrou Bandido a outra árvore e tirou o cobertor, os brownies e as garrafas de água do alforje. – Você devia colocar o cobertor aqui, perto do riacho – disse Josie. – A água parece… – Eu sei. Parece barulho de sexo. – Hoje eles teriam muito tempo e não precisariam se apressar. O corpo de Jack havia começado a zunir de expectativa e ele gostava do acúmulo de tensão. Isso era bom. Muito bom. Colocando o saco plástico de brownies e as garrafas de água de lado, ele sacudiu o cobertor e o estendeu perto do córrego. – O que acha? – Perfeito. – Apoiando-se numa árvore, Josie tirou as botas e meias. Jack a imitou e teve que rir do que estavam fazendo. – Estamos parecendo duas pessoas casadas se preparando para dormir – disse ele sem pensar, mas, uma vez que as palavras saíram, ele quis recuar, especialmente quando notou a expressão de Josie. – Isso foi uma bobagem. Esqueça. – Mas é verdade. – Ela caminhou até ele com os pés descalços. – De certa forma, é como se a gente se conhecesse desde sempre. – Ela segurou o rosto dele usando as duas mãos. – Mas, em outros aspectos, a gente não se conhece de jeito nenhum. – Ah, Josie. – Ele a puxou e a fitou nos olhos. Algo no jeito como ela o encarava era inquietante, mas Jack estava com medo de dar um nome àquilo. Em vez disso, ele tentou recriar a magia antes conhecida por ambos. – Vamos soltar seu cabelo. Sem dizer uma palavra, sem quebrar o contato visual, Josie estendeu a mão para a trança e tirou o elástico, deixando-o cair no chão. – Melhor assim. – Como sempre fazia, Jack passou os dedos desde o couro cabeludo até os cabelos trançados, soltando os fios louros sedosos até caírem pelos ombros dela em ondas suaves. Ele deixou todo aquele lindo cabelo passar por entre seus dedos. Soltar o cabelo de Josie era quase tão erótico quanto remover as roupas dela. E então Jack resolvera fazer isso também, embora eles geralmente se despissem por conta própria. Conforme revelava mais e mais da pele alva, ele ia fazendo pausas para tocar, acariciar, beijar. No início, eles costumavam se demorar despindo um ao outro, mas aquilo começou a parecer bobagem, já que ambos podiam se desnudar muito mais depressa caso o fizessem individualmente. Talvez não fosse bobagem, afinal. Os suspiros de prazer de Josie enquanto Jack a livrava das restrições das roupas mexiam com ele de um jeito que o arremesso das roupas para todos os lados era incapaz de fazer. Quando Jack terminou e Josie ficou nua diante dele, o cabelo fluindo sobre as curvas dos seios, ele parou um instantinho para admirar… Simplesmente admirar.
– Minha vez. – Josie pôs a mão no botão de cima da camisa dele. Enquanto ela seguia lentamente pelo mesmo processo, dando beijos em seu peito, Jack fechou os olhos e se concentrou nos movimentos delicados. Quando é que o mundo tinha se transformado num lugar tão ocupado, a ponto de ele abandonar aquele ritual simples em busca de eficiência? Ele adorava cada segundo daquilo, e mesmo assim… não conseguia afastar a sensação de que Josie estava memorizando seu corpo enquanto prosseguia. Uma mulher não faria isso, a menos que… Não, ele não iria chamar problemas. Se houvesse algo errado, o ato de fazer amor ia consertar. Sempre fora assim no passado. Mas, pela primeira vez desde que conhecera Josie, Jack não tinha certeza se fazer amor era a resposta. Ainda assim, era a única que ele possuía.
Capítulo 13
JOSIE SEMPRE dissera a si que Jack fazia amor com todo o seu ser, e que isso provava que ele estava comprometido com ela. Mas depois de sua resposta à pergunta de Alex na noite anterior, ela já não tinha certeza se aquela dedicação ao fazer amor era tão significativa quanto ela pensava. Talvez ele tivesse feito isso com todas as namoradas. Talvez ela não fosse mais especial do que qualquer outra tinha sido. Havia um jeito de descobrir, mas ela não queria pensar nisso agora, deitada nua e ofegante sobre o cobertor, enquanto Jack beijava cada pedacinho do seu corpo. Ela não conseguia pensar em nada, pois Jack era, de longe, o melhor amante com quem ela já tivera o prazer de dividir um cobertor. Não que sua lista de parceiros fosse muito longa, mas Josie tinha o palpite de que Jack ia liderar a lista pelo restante de sua vida. Ele também tinha o equipamento mais impressionante do que o de qualquer homem que ela já havia conhecido. E ela não dera a devida atenção a ele nos últimos dois dias. Quando ele ficou de quatro e procurou por um preservativo na borda do cobertor, ela espalmou a mão no peito forte. – Ainda não. Os músculos dele flexionaram sob a pressão da mão dela e sua voz saiu baixa e sedutora. – Mas eu quero você. – Em breve – Ela empurrou o peito dele, instando-o a ficar de joelhos enquanto ela sentava-se na frente dele. – Primeiro, eu quero isso. – Ela colocou os dedos ao redor do membro rígido. O inspirar intenso de Jack informou a Josie que talvez ele não se importasse tanto assim com o atraso. O gemido quando ela envolveu seus testículos dizia que ele de fato poderia estar feliz com o atraso. E quando ela usou a língua para remover a única gota de umidade na ponta do membro e ele enredou os dedos pelo cabelo louro para agarrar a parte de trás da cabeça dela, Josie soube que ele estava em total acordo com a demora. Quando fez amor de forma lenta e doce com ele daquele jeito íntimo, ela percebeu por que vinha ansiando tanto para tocá-lo de tal maneira. Era nesse momento, quando ela detinha o controle total das reações de Jack, que ele se tornava mais vulnerável. O desejo cru vinha à tona conforme a respiração dele ficava mais ofegante. Cada gemido era mais intenso do que o anterior. Josie se perguntava se,
dessa vez, ele se entregaria ao abandono por completo. Durante os seis meses que eles passaram juntos, Jack nunca tinha feito isso. E nem faria hoje. Agarrando a cabeça dela com mais firmeza, ele se afastou. – Já chega. – A voz dele estava rouca. – Eu adorei, mas já chega. Ele não conseguia se soltar, nem mesmo ali, onde ninguém saberia, exceto ela. E isso, Josie percebeu, foi o que mais a magoara quando Jonathan falecera. À época, ela quis abraçar Jack e abrandar a agonia que ele vinha suportando. Mas ele não permitira que ela se aproximasse dessa forma. Ele não se permitira tal conforto. Assim que Jack vestiu o preservativo e guiou Josie de volta para o cobertor, ela encarou os olhos escuros. Eles estavam cálidos de paixão, como ela sabia que estariam, mas ele estava de volta ao controle. Ela era a única vulnerável agora, a única pessoa que iria perder o controle. E ela perdeu, impotente para impedir seu corpo de reagir ao ritmo suave de Jack, aos beijos urgentes, às penetrações profundas e cuidadosas que fizeram seus lábios inchados pelos beijos soltarem gritos de êxtase. Ao lado dela, o riacho ecoava o som líquido do membro deslizando para dentro e para fora, deixando-a cada vez mais próxima do torpor. Josie fitou Jack nos olhos, à procura de uma conexão mais profunda do que aquela ligação física que compartilhavam. Por um momento, ela imaginou ter visto – um vislumbre temporário de vulnerabilidade e necessidade. Mas daí se foi, substituído pela determinação feroz de lhe conceder o orgasmo perfeito. Aquele objetivo obstinado a fez se arquear do cobertor. Jack a levou ao ápice, e a fez gozar pela segunda vez antes de finalmente ceder ao próprio clímax. Quando Jack estremeceu nos braços de Josie, ela o abraçou com força e desejou que… Não, não fazia sentido desejar que Jack estivesse diferente. Em vez disso, ela simplesmente desejou ter forças para fazer o que era necessário. JACK DERA tudo o que tinha, mas, enquanto ele e Josie se vestiam, ele percebia que todos os seus esforços não tinham sido capazes de consertar qualquer que fosse o problema a incomodá-la. Ele sempre poderia tentar novamente, entretanto eles estavam com pouco tempo para isso, e, além disso, ele não acreditava que uma segunda rodada pudesse fazer qualquer diferença. No dia anterior, Josie se revelara radiante depois do sexo com ele, mas hoje ela parecia… triste. Essa era a palavra para definir, e com certeza não era a reação que Jack estivera buscando. Mas ele não era do tipo que gostava de ficar perguntando a uma mulher qual era o problema. E nem tinha certeza se queria mesmo saber, de qualquer forma. Sendo assim, uma vez vestidos, ele ofereceu os brownies. – Obrigada. – Ela pegou um no pacote e ficou ao lado do córrego enquanto comia. – Estão gostosos. Foi Sarah quem fez? – Acho que sim. – Jack provou um dos brownies, e Josie estava certa. Estava mesmo uma delícia. Pena que ele não estava no clima para saboreá-los. – Mary Lou cozinha a maioria das coisas, pois alimentamos uma multidão, mas, de vez em quando, Sarah gosta de assar alguma coisa só para a família. – Que bacana. – Sim, é. Pronta para montar?
– Não. Oh-oh. Lá vem. Ele se preparou. – Eu quero saber por que você a chama de Sarah. Ele relaxou um pouco. Talvez aquilo não fosse A Grande Discussão, afinal de contas. – É como eu disse da última vez que conversamos a respeito. Para mim, a palavra mãe tem um significado diferente daquele definido pelas outras pessoas. Minha mãe biológica foi embora, então eu não tenho boas lembranças para associar à palavra. Melhor usar Sarah. – Lógico. – Ela se agachou para lavar os dedos na correnteza. – É o que eu sinto. Ela secou as mãos na calça jeans e o encarou. – É? Ou é o que você acha? – Não entendo o que você está dizendo. – Acredito que essa explicação seja o que você acha, mas duvido muito que seja o que você sente. – Você está dando voltas, Josie. – Vamos abordar por outro ângulo então. Eu já ouvi várias vezes que Sarah adoraria que você a chamasse de mãe. Ela tem desejado isso há anos. Ele tentava descobrir aonde ela queria chegar. – Acho que ela ainda não entende meus motivos. – Acho que ela entende, sim, Jack, e esse é o problema. Você é um sujeito inteligente, e racionalizou isso lindamente, mas o fato é que, ao se recusar a chamá-la de mãe, você tem mantido uma distância entre vocês dois. – Não existe distância. – A raiva subiu dentro dele. – Eu tenho adoração por aquela mulher. – Então por que não fazê-la feliz? Por que não chamá-la do jeito que ela prefere ser chamada? – Porque iria doer! – Ele prendeu a respiração. Não tinha sido sua intenção falar aquilo. – O que eu quero dizer é que… – O que você quer dizer é que iria doer – disse Josie calmamente. – E você está morrendo de medo de ser magoado. O corpo de Jack ficou tenso, começando pela mandíbula e descendo até os dedos dos pés. – Você não faz ideia do que está falando. – Talvez não. Mas de uma coisa eu sei. Esse muro que você construiu em torno de si para não ser magoado outra vez, da mesma forma que foi magoado pela sua mãe, da mesma forma que foi magoado pelo seu pai quando ele morreu… Esse muro é alto o suficiente para me manter afastada também. Eu só vou entrar na sua vida quando você estiver disposto a derrubar esse muro para sempre. – Ela foi até Destino e o desamarrou da árvore. – É melhor a gente voltar. O pânico apoderou-se dele. – Josie, o que diabos você está dizendo? Que porcaria de muro? Nós acabamos de fazer amor! – Eu sempre pensei que era isso o que estávamos fazendo, Jack, e foi isso que me manteve esperançosa de que teríamos um futuro juntos. Mas acho que só estávamos fazendo sexo. – Afastandose, ela montou em Destino num movimento fluido digno de um cavaleiro mais experiente. Aquela conversa não podia estar acontecendo. Tudo estava indo tão bem, com exceção do conflito com Alex na noite anterior. Mas Josie não se referira à noite anterior, então Jack não achava que fosse esse o problema. Ele caminhou até Destino e pegou as rédeas do cavalo.
– Josie, não faça isso. Dê um tempo. Nós reatamos há poucos dias. Ela olhou para ele. – Quanto tempo eu deveria te dar, Jack? Seis meses? Já fiz isso. Eu não gostei da maneira como Alex te interrogou ontem à noite, mas aquilo me deixou ciente de que você realmente não sabe como se sente a meu respeito. Então Alex e as porcarias de questionamentos estavam por trás de tudo, afinal de contas. Jack odiava esse tipo de confronto, mas precisava encontrar um jeito de sair dessa. – Eu estava sendo interrogado ontem à noite e não conseguia pensar direito. Mas você sabe que eu gosto de estar com você. Isso deveria ser óbvio. Nós nos divertimos muito juntos. – Tenho certeza de que você gosta de ficar com sua madrasta também. – Claro que gosto. Ela é uma mulher fantástica. – E ela quer ser sua mãe, tanto nas palavras quanto nas atitudes. – Droga! – Jack bufou. – O que tem de tão importante no termo que eu uso para me referir a minha madrasta? – Quando descobrir isso, talvez você vá entender por que eu estou caindo fora. – Ela olhou para a mão dele, que ainda segurava as rédeas de Destino. – Deixe-me ir, Jack. – Isso não é bom, Josie. Temos o casamento daqui a poucos dias. Todo mundo espera que nós… – Não se preocupe com o casamento. Eu vou ficar bem, e você também. Nenhum de nós vai ser capaz de estragar o grande dia de Morgan e Gabe. – Será que a gente não podia simplesmente continuar o que estava fazendo? Por que você está abordando isso agora? Ela o encarou bem nos olhos. – Repetindo suas palavras, porque dói. Dói muito, Jack. Agora solte o freio. Jack concluiu que não havia motivos para segurá-la ali, então afastou-se de Destino. Josie estava decidida a respeito dele e da porcaria de muro sobre o qual ela se convencera de que ele construíra em torno de si. Que coisa sem sentido. Jack não tinha construído nenhum muro, do contrário ele nunca teria rolado no cobertor com ela. Mas nada do que ele dissesse iria influenciá-la neste momento. Bem, a menos que, de repente, ele concordasse em começar a usar a palavra mãe quando se referisse a Sarah. Ele não conseguia decifrar de jeito nenhum o que isso tinha a ver com qualquer coisa, e também não ia ser coagido a fazer algo que ia lhe parecer tão esquisito, especialmente depois de tanto tempo. Observar Josie cavalgando além da clareira foi uma experiência surreal. Uma experiência horrível, para ser sincero. Jack sentiu um aperto no peito e falta de ar. Por um breve instante, ele se perguntou se estaria enfartando, embora isso fosse ridículo. Não havia problemas cardíacos na família e ele era um jovem saudável de 32 anos. Aquilo o deixou com a conclusão óbvia de que ele estava reagindo emocionalmente por ter levado um fora de Josie. Isso também era ridículo. Ele tinha ficado muito bem sem ela durante dez meses, e poderia ficar muito bem sem ela de novo. Mas, se isso era verdade, por que diabos havia aquela dor imensa em seu peito? E o topo de sua cabeça parecia prestes a sair. Ele não sentia dor de cabeça há meses, não desde… Desde o dia em que seu pai falecera. Aquela foi a última vez que ele se sentiu tão mal. Mas aquilo era diferente. Ele tinha perdido seu único parente, então é claro que ficaria… Jack fez uma pausa quando percebeu a frase que havia acabado de usar. Seu único parente restante.
Estritamente falando, essa era uma verdade, ainda que Sarah tivesse sido o equivalente a um genitor desde que ele tinha 4 anos. No entanto, ele não pensava nela dessa maneira. Ela era apenas… Sarah. E por que Josie estava tão presa a isso era um verdadeiro mistério para ele. Mas, com certeza agora, a coisa com Josie tinha terminado. Totalmente. Ela o abandonara. Ela o abandonara. Jack sentou-se no chão e olhou para o ponto da trilha onde ela desaparecera. Ela o abandonara. Ele sentiu aquele aperto no peito outra vez, e a pressão atrás dos olhos era intensa. Talvez passasse se ficasse um tempinho sentado ali. Em algum momento ia passar. Jack se lembrava de ter sentido aquilo no dia da morte de seu pai e novamente no funeral. A pressão ia se acumular até ele achar que sua cabeça fosse explodir, mas, se simplesmente aguardasse, ia ficar tudo bem. Ele só precisava ficar ali sentado um pouquinho. JOSIE DEIXOU Destino escolher o caminho ao longo da trilha enquanto ela enxugava os olhos marejados. Ela havia conseguido ocultar as emoções até ir embora, mas agora as lágrimas continuavam a cair. Precisava controlá-las antes de chegar ao celeiro. Ela também precisava de uma história para explicar por que estava voltando sem Jack. Ninguém acreditaria nela, porém, não importasse o que dissesse, a menos que ela lhes contasse a verdade. Ela sempre poderia contar a verdade. Que bela ideia. Mas durante o processo Josie precisaria acalmar os temores sobre um possível fiasco no casamento iminente. Se Sarah, por acaso, estivesse em casa quando Josie chegasse lá, elas iriam conversar. Isso poderia ajudar, ou não, mas Sarah tinha sido casada com um sujeito muito parecido com Jack, e havia lidado com o próprio Jack regularmente. Talvez ela fosse a única pessoa que iria entender. Uma vez que Destino saiu da floresta e pisou no prado aberto adiante, Josie cutucou suas costelas. Como estava chegando em casa, ele decolou imediatamente, galopando pela campina. O vento açoitava as lágrimas, e a emoção de montar naquele animal poderoso acalmava o coração dolorido de Josie. No meio do caminho, seu chapéu saiu voando, mas ela continuou. Alguém iria encontrá-lo, e se não encontrasse, era só um chapéu. Era fácil substituir um chapéu. Já o amor da sua vida, nem tanto. Daí novamente, era melhor ela não ter esperanças de que Jack era o amor de sua vida. Se assim fosse, estava totalmente ferrada. Jack, até onde ela podia dizer, era uma causa perdida. Se ela tivesse falado em chinês com ele lá na clareira, teria dado na mesma. Pelo menos Alex ficaria feliz com isso. Ele provavelmente ia parabenizá-la por tomar a decisão certa. E ela havia tomado mesmo. Definitivamente. Mas até mesmo boas decisões podiam ser dolorosas para diabo. Quando avistou o celeiro, Josie desacelerou Destino, mas, em vez de seguir em ritmo de passeio, ela o incitou a trotar. Embora ainda tivesse quicado no início, ela conseguiu encontrar o ritmo e seguir até o celeiro, balançando no mesmo ritmo do cavalo. Ela estava orgulhosa disso. Infelizmente, ninguém estava por perto para notar. Desmontando do bicho, ela o amarrou no poste. Agora era preciso ir até a casa e encontrar alguém para avisar que o cavalo tinha sido trazido de volta. Se por acaso esse alguém fosse Sarah, melhor. Josie estava com sorte. Quando tocou a campainha, Sarah atendeu. A senhora usava o tipo de roupa que Josie normalmente associava à imagem dela: jeans e camisa em estilo country em cores claras que contrastam bem com o cabelo grisalho de comprimento médio.
O cabelo. Josie percebeu apavorada que o dela ainda estava solto e caído nos ombros, e que devia estar uma bagunça agora. Some-se isso aos olhos vermelhos de tanto chorar durante a maior parte do trajeto e ela provavelmente parecia uma criança abandonada em estado lastimável. Mas não havia muito o que fazer agora, exceto endireitar os ombros e empinar o queixo. – Eu queria avisar que trouxe Destino de volta e que ele está amarrado no poste perto do celeiro. Ainda não aprendi a desencilhar um cavalo, ou eu teria… – Entre. – Sarah estendeu a mão e pegou o braço de Josie, como se para garantir que seria obedecida. – O que aconteceu? – Está tudo bem, sra. Chance. Não se preocupe com o casamento. Nada vai dar errado, eu prometo. – Por favor, me chame de Sarah, e, no momento, eu estou menos preocupada com o casamento do que com você. Jack disse alguma coisa? Fez alguma coisa? – Não. Jack não fez nada. – Josie parou na sala de estar imensa, com seu teto cheio de vigas, sua lareira de pedra gigantesca e seus tapetes nativo-americanos pendurados nas paredes. Havia móveis de couro confortáveis em frente à lareira e um lustre de roda de carroça pendurado no teto. Josie só havia estado ali poucas vezes, mas sempre adorara aquele cômodo. – Vamos voltar para a cozinha. Deixe-me pegar um café para você, chá, água, qualquer coisa. Josie se permitiu ser guiada por um corredor à esquerda. Ela se lembrava de que levava à cozinha e às salas de jantar, tanto a uma grandiosa onde os funcionários e convidados comiam, quanto a uma pequenina, para a família. Havia sido convidada para um jantar em família certa vez, mas a reprovação de Jonathan Chance arruinara a refeição para ela. – Peço desculpas pela minha aparência – disse Josie. – Eu queria avisar sobre Destino e me esqueci completamente do estado do meu cabelo. – Ela não fazia ideia de como explicar por que seu cabelo estava daquele jeito, então nem tentou. – Não peça desculpas. Eu me sinto um pouco responsável por isso, pois fomos Gabe e eu que sugerimos as aulas de montaria. Eu tinha esperanças de que… Bem, não importa. – Ela guiou o caminho através da sala de jantar imensa, vazia àquela hora da manhã. Quatro mesas redondas com capacidade para acomodar oito pessoas estavam postas para o almoço. O que fez Josie se lembrar de que ela não podia perder tempo. Andy e Tracy poderiam abrir o Espíritos e Esporas sem ela, mas ela não gostava de sair sem avisá-los de onde estava. – Eu não posso ficar por muito tempo – disse ela enquanto acompanhava Sarah até a cozinha, onde Mary Lou comandava o fogão industrial. Josie sentiu o cheiro de frango assado. – Espero que você possa ficar por tempo suficiente para me contar o que aconteceu. – Sarah foi até o balcão onde havia uma cafeteira. – Mary Lou, você se lembra de Josie Keller, do Espíritos e Esporas. – Claro que sim. – Mary Lou virou-se. – Você também esteve num jantar aqui no verão passado. – Estive, e foi delicioso. – Josie tentou não pensar no malfadado jantar em família no qual o pai de Jack deixara claro que ela não era bem-vinda. – Agradeço. – Mary Lou encontrou o olhar de Josie e sorriu. – Acho que você precisa de alguma coisa para beber. Josie descartou a ideia de pedir uísque, puro. – Um copo de água seria ótimo. Sarah fez um gesto para a cafeteira. – Nós temos café. Podemos fazer chá. – Não, obrigada. Eu realmente tenho que ir.
Sarah lhe entregou um copo de água e apontou para uma cadeira a uma mesinha. – Sente-se um minuto. Recupere o fôlego. Josie não tinha percebido como estivera trêmula até se afundar na cadeira de encosto reto. – É claro que você e Jack tiveram uma briga. – Na verdade, não. – Josie agarrou seu copo de água como uma tábua de salvação. – Mas resolvi que, no nosso caso, não era para ser. Sarah arqueou as sobrancelhas. – Não é da minha conta, mas eu adoraria saber por que você pensa isso. – Não me leve a mal. – Josie precisava se lembrar de que aquela mulher amava Jack tal como uma mãe amava um filho. – Jack é um homem fantástico. Mas ele parece estar sempre se segurando, se é que você me entende. Pelo menos comigo. Os olhos azuis de Sarah se abrandaram de compaixão. – Ele faz isso com todo mundo, querida. Até comigo. – Eu sei. – Ela se conteve. – Quero dizer, eu imaginei que ele fizesse. Sarah passou um dedo pela fibra de madeira da antiga mesa de carvalho. – Eu tinha esperanças de que você pudesse romper essa barreira que ele ergueu. – Eu não sei como. – Ela fez uma pausa. – Então estou desistindo. – Que pena. – Mas eu quero que você saiba que isso não vai afetar o casamento. Eu prometo. Tenho certeza de que você pode contar com Jack também. – Ah, eu tenho certeza de que posso. – Sarah parecia melancólica. – Mas essa teria sido uma grande oportunidade para… Bem, não importa. – Eu queria que tivesse dado certo. – Aquele foi o eufemismo do ano, pensou Josie. – Eu também, Josie. Eu também.
Capítulo 14
JACK TERIA gostado de sair da cidade, até mesmo do país, durante as próximas semanas. Mas ele ainda tinha seus deveres no rancho, e havia o casamento, é claro. Ele e Nick estavam encarregados da festa de despedida de solteiro na noite da quinta-feira anterior ao casamento, no sábado. Jack sabia, antes mesmo de Nick propor, que a reunião seria no Espíritos e Esporas. Era o único local bom na cidade – e foi por isso que a festa de despedida de solteira na noite anterior também tinha sido realizada lá. Em Shoshone, ou você fazia sua festança no Espíritos e Esporas, ou organizava o evento fora da cidade. A única pessoa a favor disso era Jack, e ele fora voto vencido. Sendo assim, lá estava ele, fazendo palhaçadas com seus dois irmãos, alguns funcionários do rancho, vários homens da cidade, o irmão de Josie, Alex, e dois dos irmãos de Morgan que tinham vindo com seus pais na van da família, uma lata velha decorada com adesivos. Aquele troço devia ter uns vinte anos, talvez mais. Por sugestão de Sarah, a família de Morgan estacionou a van no rancho e hospedou-se lá no fim de semana prolongado do casamento. Jack notava que Morgan estava um pouco envergonhada pelos pais hippies modernos, mas eles pareciam agradáveis o bastante. A região de Jackson Hole atraía todo tipo de gente, então as roupas “ripongas”, sandálias e miçangas dos O’Connelli não se destacavam tanto assim. De sua parte, Jack acolheu bem a confusão de convidados e a mesa de jantar cheia. A algazarra com os preparativos do casamento camuflava sua tristeza, tornando-a menos óbvia para todos, exceto para um grupo seleto: Gabe, Nick, Emmett e Sarah. Desde de manhã, quando Josie retornara para a casa sozinha depois do encontro na clareira, Jack fizera um esforço danado para evitar ser atacado por sua madrasta, pelo capataz ou por qualquer um de seus irmãos. Até agora, ele tinha sido bem-sucedido e ninguém conseguira encurralá-lo para uma conversa franca sobre Josie. E ele queria que continuasse assim. O plano vinha funcionando bem até esta noite, afinal ele ia precisar encontrá-la de fato. Embora Josie tivesse preenchido seus sonhos e a maioria de seus momentos de vigília, Jack não fora obrigado a encará-la em pessoa. Duas horas na despedida de solteiro e ele ainda não havia lidado diretamente com ela. Tracy levara as bebidas e ele se mantivera longe do balcão onde Josie trabalhava febrilmente para atender aos pedidos.
Alguns diriam que ele era um covarde, mas ele sustentava que estava fazendo um favor a ela. Josie não precisava que ele lhe rendesse uma distração indesejada. Ah! Até parece. Jack tinha uma faixa amarela de um quilômetro nas costas e podia muito bem admitir isso. Jack estava só começando a pensar que poderia muito bem enfrentar a noite barulhenta sem precisar falar com ela, quando ele foi até uma mesa para cumprimentar um amigo que não via há semanas; e lá estava ela, bem diante dele. A bandeja que Josie equilibrava cuidadosamente na mão aberta inclinou e ela perdeu o equilíbrio tentando pegá-la. Jack teve que escolher entre segurar a bandeja ou a mulher, e ele pegou a mulher. Por um instante incrível, ele a aninhou nos braços, firmando-se para que ela caísse de encontro a ele, e não no chão. A bandeja, no entanto, desabou, espirrando bebidas grudentas e muito lixo no chão por causa do vidro quebrado. Josie praguejou baixinho. Então levantou o olhar para ele, e Jack notou a agonia que sentiu refletida naqueles olhos. Droga. Ele vinha se enganando achando que ela estava bem depois do rompimento. – Desculpe – disse ele. – Não foi culpa sua. – Ajeitando-se, ela se afastou e pediu um esfregão e um balde. Mas tinha sido culpa dele, sim. Não pela bandeja derrubada ou pelas bebidas derramadas, mas pela dor nos olhos dela. Ele era o culpado por isso, pois não soubera oferecer o que ela desejara. A festa continuou, mas Jack não estava no clima para festejar. Ele ajudou Josie a limpar a bagunça e ela agradeceu sem voltar a olhar para ele. Ela provavelmente sabia que baixaria a guarda se o fizesse, e certamente não estava planejando se repetir. Jack queria oferecer consolo, mas não fazia ideia do que dizer. Eles terminaram de limpar e se separaram sem se falar. Depois de mais duas horas intermináveis, a festa começou a desanimar. Jack imaginava que ele e Nick estivessem encarregados de levar Gabe para casa inteiro, sendo assim, Jack foi em busca do noivo. Mas ele não estava em lugar nenhum. Jack olhou em volta, procurando alguém sóbrio o suficiente para perguntar sobre Gabe. Essa pessoa acabou sendo Alex. Embora Jack não estivesse louco para falar com o irmão de Josie, ele não tinha muita escolha. – Estou procurando Gabe – disse ele. – Você o viu? – Na verdade, sim. – Alex apontou para a porta da frente. – Saiu há uns cinco minutos. Disse algo sobre encontrar sua linda noiva. – Oh. – Jack esfregou a nuca. – Acho que ele não vai precisar de carona para casa, então. Obrigado pela informação. – Sem problemas. Jack se virou para achar Nick e informar que eles poderiam ir embora, quando Alex voltou a falar. – Josie me contou que ela rompeu com você. Jack olhou para trás. – Isso mesmo. Ela rompeu. – Acho que foi melhor assim. Eu não conseguia enxergar futuro entre vocês. Muita história. Jack poderia ter ficado sem aquela opinião não solicitada. Ele deu de ombros. – Pode ser. – Estou impressionado, Chance. Foi preciso coragem para aparecer aqui esta noite. – Nada. Você não soube? Sou imune a essa coisa toda. Nada me afeta. Vejo vocês no casamento no sábado, Keller. – Ele desviou o olhar, procurando por Nick.
Enquanto vasculhava o cômodo, o ar se movimentou como se alguém tivesse passado atrás dele. Nick, provavelmente. – Ei, vamos para casa, meu chapa. – Jack se virou, esperando ver seu irmão, mas não tinha ninguém lá. E, no entanto, ele sentiu uma presença. Os pelinhos de sua nuca se eriçaram. – Pai? – Ei, Jack! – Nick berrou de um canto do bar. – Já está pronto? – Com certeza! – A sensação esquisita de que alguém havia parado perto dele desapareceu. Jack passou a mão no rosto. Cara, a pressão do casamento devia estar chegando nele. Agora ele estava imaginando fantasmas. Instantes depois, ele se posicionou detrás do volante de sua caminhonete enquanto Nick se acomodava no banco do carona. Nick levantou uma embalagem com seis cervejas. – Surrupiei isto para nós. – Para quê? – Imaginei que poderia ser útil. Dominique só chega amanhã e você acabou de ser chutado na sarjeta por Josie, então… – Obrigado por me lembrar, idiota. – Não há de quê. O ponto é, nós dois estamos sem nossas mulheres hoje à noite, ao contrário do nosso irmãozinho. Proponho encontrarmos um lugar tranquilo para enchermos a cara. Jack riu. – Eu não acho que dê para encher a cara com três cervejas para cada um. – Talvez a gente tenha que se contentar em ficar alegrinhos. – Posso conviver com isso. Para onde? – Estou pensando em ir até a Rocha. Jack assentiu. A Rocha era o apelido que eles tinham dado a um terreno sagrado dos Shoshone localizado no rancho. O nome no idioma dos Shoshone era longo e difícil de se pronunciar, portanto a Rocha era adequado, pois a principal característica do lugar era uma rocha plana imensa de granito manchada de quartzo branco. A tal rocha era grande o suficiente para acomodar uma caminhonete, embora ninguém jamais tivesse feito isso. Jack não ia lá desde a morte do pai, e dividir algumas cervejas com Nick poderia ser o jeito perfeito de finalizar a noite. Talvez a Rocha pudesse fornecer algumas respostas para seus problemas. – Pena que Gabe não está com a gente. – Sim, mas você sabe como é. Ele só pensa na Morgan. Sim, Jack sabia como era. Ele só conseguia pensar em Josie. Ele deu marcha à ré e saiu do estacionamento do Espíritos e Esporas antes de tomar a estrada de duas pistas que levava para fora da cidade. Ao se aproximarem do cruzamento, Nick soltou um assobio de surpresa. – Caramba! – O quê? – O sinal está verde. Nunca fica verde. – Prevejo que vai ficar verde muito mais vezes de agora em diante. – Jack sorriu. – Acho que Elmer percebeu o erro de seus métodos. – Você falou algo para ele?
– Ele é um tiranozinho que só precisava de alguém para desafiá-lo. Nick sorriu. – Muito bem. – Ele baixou o vidro quando eles passaram pelo posto e tirou o chapéu para poder se inclinar para fora. – Boa decisão, Elmer! – Daí manteve o vidro abaixado e ligou o rádio. – Já estava na hora de os rapazes Chance voltarem à ativa. Jack entendia o que Nick queria dizer. Todos os três tinham sido surpreendidos pela perda do pai no auge da vida. Nenhum deles esperava por algo assim, muito menos Jack. Mas a vida continuava, e Jonathan Chance teria sido o primeiro a dizer isso. Ele iria querer que seus filhos deixassem sua marca na cidade. Iria querer que todos soubessem que os rapazes Chance tinham estado ali. Ele também iria querer que eles olhassem para a frente, não para trás. Jonathan sempre vislumbrava o futuro, respeitando o legado que seu pai e sua mãe tinham deixado. Jack estava começando a achar que estava se preocupando demais em manter as coisas como elas eram. Ele ficou pensando em tal possibilidade enquanto eles dirigiam pela estrada rural tranquila ao som do rádio, do mesmo jeito que costumavam fazer quando eram adolescentes. Logo chegaram ao desvio com seus dois postes gigantescos e a viga que marcava a entrada do rancho. Jack tomou a estrada de terra e se preparou para os solavancos enquanto passavam pelos buracos. – Ei, Nick, o que você acha de pavimentarmos esta estrada? – Esta noite? Acho que vamos precisar de muito mais cerveja para isso, camarada. Além disso, teríamos que roubar uma motoniveladora, uma pavimentadora, um pouco de asfalto e… – Não hoje à noite, bobão. Mas em breve. Antes de nevar. – Acho que seria sábio esperar até depois do casamento. Piche fresco e buquês de noiva não se misturam, se é que você me entende. Jack soltou um suspiro. – Sim, depois do casamento. Quantas cervejas você bebeu no bar, afinal? – Uma. Eu estava consciente dos meus deveres de padrinho. – Eu só estava me perguntando, pois você está num humor raro. – Foi uma noite interessante. – Nick fez uma pausa. – Eu senti a presença dele no bar com a gente, Jack. Um arrepio percorreu a espinha de Jack. – Foram apenas recordações. Essa foi a primeira festa que demos desde que ele morreu, e você provavelmente estava se lembrando da festança do aniversário de 60 anos dele. – Bem, claro, eu lembrei, mas… Você me conhece. Eu não acredito nessas coisas. Dominique tentou me convencer de que fantasmas realmente existem. – Não existem. É pura imaginação. – Ou pelo menos era o que Jack dizia a si mesmo. – Eu não tenho mais tanta certeza assim. Não sei se Gabe mencionou, mas Morgan jura que viu um fantasma lá depois que o bar fechou, no feriado do Dia da Independência. – Aí está. – Jack passou por um barranco sem desacelerar e teve de agarrar o volante para manter a caminhonete na estrada. – As mulheres adoram essa coisa de fantasmas, então Dominique e Morgan estão entrando na onda de Josie, que alega que eles rondam o bar. – Então você não sentiu alguma coisa, como se papai estivesse lá hoje à noite? Jack não queria responder àquilo. – Você sentiu, não foi?
– Foi minha imaginação. – Jack passou pela casa do rancho, a qual assomava na escuridão, diante da estrada que levava à Rocha. – Papai adorava aquele bar, então naturalmente penso nele toda vez que vou lá, principalmente quando está lotado e tem algo de especial acontecendo, como a festa desta noite. – Quer saber? Eu resolvi acreditar que o fantasma de papai frequenta o bar de vez em quando. Isso me faz sentir… melhor, de alguma forma. – Sim, você sempre foi a seiva sentimental da família, Nick. – E você sempre foi o cara durão, Jack. – E eu ostento esse rótulo com orgulho. – Ou pelo menos ostentava, até Josie acusá-lo de construir muros impenetráveis ao redor de seu coração. Eles não falaram mais nada até Jack estacionar ao lado da rocha plana de granito que provavelmente não tinha poderes de qualquer natureza. Jack gostava do lugar, mesmo não acreditando muito na superstição local de que uma pessoa poderia encontrar clareza ao sentar-se na rocha. A lua brincava de esconde-esconde entre as nuvens e, toda vez que ela espiava, fazia as raias de quartzo branco brilharem. Jack adorava aquele efeito quando criança, e ainda o considerava bem bonito. Os membros da tribo Shoshone não visitavam mais o local com frequência, embora tivessem direito permanente ao trânsito livre. Nick desceu da caminhonete e foi até a rocha, a embalagem com as cervejas nas mãos. – Gabe está perdendo. Ele só tem mais duas noites para ser louco e solteiro. – Sim, ele é o primeiro a cair. – Jack estava sentado de pernas cruzadas no granito, ao lado de Nick. Ele sempre ficava surpreso com a quantidade de calor que a rocha retinha, mesmo após o pôr do sol. Ele abriu a cerveja que Nick lhe entregou. – Acho que você vai ser o próximo. – Dominique não quer se casar enquanto não resolver todas as pendências em Indiana. – Nick bebeu um gole demorado de sua cerveja. – Ela ainda não resolveu se vai vender o estúdio de fotografia ou se vai entregar para outra pessoa administrar. Ela não está tendo muito sorte para encontrar a pessoa certa. – Mas está tudo bem entre vocês dois, certo? – Jack não sentava para beber umas cervejas com Nick havia muito tempo. – Está. Eu odeio o fato de ela não estar aqui comigo, mas nós dois sabíamos que ia ser preciso tempo e alguns artifícios para a gente ficar junto. – Acho que Dominique está fazendo a coisa certa, indo com calma. Devo dizer que eu não esperava que Gabe e Morgan fossem dar esse passo tão depressa. Espero que eles não estejam se precipitando. – Você está brincando? Você já viu a cara dele quando fala nela? Diabo, se Dominique morasse aqui em tempo integral, eu também ia estar nos preparativos para me casar com ela. Não se preocupe. Eles vão ser muito felizes. – Nick ergueu a lata de cerveja. – A Gabe e a Morgan. Jack bateu sua lata na de Nick, brindando, e bebeu o restinho. – Dê-me mais uma cerveja, Nick. Essa foi uma ótima ideia. – Eu tenho boas ideias de vez em quando. – Ele entregou outra lata a Jack. – Ah, aproveitando que estamos no assunto, vamos beber a Emmett e a Pam. Jack engasgou com a cerveja. – Eles vão se casar? – Não, mas deveriam. Ou deveriam simplesmente morar juntos. Eu não dou a mínima para a parte legal da coisa toda, mas Emmett está enrolando feito um idiota. – Ele é orgulhoso.
– O orgulho não vai esquentar a cama dele à noite. – Nick abriu a segunda cerveja e ergueu a latinha. – A Emmett, para que ele se dê conta disso. Jack bateu a lata na de Nick, mas ele não estava pensando em Emmett. Quase duas cervejas e ele já estava falando meio embolado. – Josie me disse que eu preciso parar de chamar Sarah pelo primeiro nome. – Ela quer que você a chame de sra. Chance? – Não, bobão. Você sabe o que ela quer dizer. Nick olhou para ele, a expressão difícil de decifrar sob a luz fraca da lua e das estrelas. – Sim, eu sei. Josie está certa. – Mas que inferno, Nick, como posso começar a fazer isso depois de todos esses anos? Vai ser muito esquisito. – Já é muito esquisito agora – disse Nick com serenidade. – Se você acha que ela gosta de ouvir Sarah, sendo que ela gosta, e merece, ouvir mãe, então você é mais estúpido do que eu pensava. Jack olhou para a parte sombria da Cordilheira Teton. – Eu não sei se consigo fazer isso. – Ele permaneceu sentado, em silêncio, terminando a cerveja. – Quer mais uma? – Não. Eu preciso pensar nessa coisa toda. – Como quiser. – Nick abriu a terceira cerveja. – Qual foi a principal queixa de Josie? O fato de você não reconhecer Sarah como sua mãe? Jack se aprumou. – Ei, eu a reconheço como mãe! Eu sempre me lembro do aniversário dela, sempre compro um bom presente para ela no Natal e encomendo flores no Dia das Mães. – Ah, você na verdade tergiversa no Dia das Mães. O cartão sempre diz apenas Jack. A menos que eu não tenha notado, você nunca disse Feliz Dia das Mães, nem uma vez, fosse pessoalmente ou num cartão. Encare, Jack, você não a reconhece como sua mãe. Jack praguejou baixinho. Ele já sabia que Josie estava sofrendo por causa dele. E odiava pensar que também vinha fazendo Sarah sofrer durante todos esses anos. Nick suspirou. – Eu provavelmente não teria coragem de dizer isso sem beber algumas cervejas, mas Josie foi a primeira mulher que se recusou a tolerar suas bobagens, o que a torna perfeita para você. Não a deixe escapar. – É tarde demais, Nick. Eu já fiz isso. – Bobagem. Só é tarde demais quando você está a sete palmos embaixo da terra.
Capítulo 15
JOSIE TINHA contabilizado as horas que seria obrigada a passar ao lado de Jack, de modo que pudesse marcá-las na cabeça e assim conseguir enxergar um fim possível para sua agonia. O ensaio a cavalo na sexta-feira à tarde já havia passado e agora eles estavam no jantar de ensaio no Espíritos e Esporas, por isso era provável que ela fosse lidar com ele só por mais uma horinha esta noite. Era difícil prever a duração do casamento e da recepção, mas ela imaginava no máximo cinco horas. Pelo menos a recepção seria no rancho, e não aqui. Ela poderia escapar uma vez que seus deveres de madrinha terminassem. Ela adorava entreter as pessoas, a razão pela qual escolhera essa carreira, em primeiro lugar, mas Jack não era apenas uma pessoa. Jack era… o homem mais sensual e atraente que ela já havia conhecido, e era totalmente errado para ela. As mesas no bar estavam posicionadas no formato de uma ferradura, assim todos os convidados da festa podiam ver uns ao outros. Morgan e Gabe ocuparam as duas cadeiras bem na curvatura, com Nick de um lado e Tyler, a irmã de cabelo escuro de Morgan, entre ele e Gabe. Josie do outro lado, com Jack à sua direita. Josie havia cogitado pedir a Morgan para trocar as combinações entre padrinhos e madrinhas, de modo que ela pudesse ser escoltada por Nick, e Tyler por Jack. Mas isso teria alertado Morgan de que nem tudo estava bem. Josie não queria alarmá-la, então aceitou Jack como seu acompanhante e fingiu que estar grudada a ele no fim de semana não era grande coisa. Claro que aquilo a estava deixando louca, principalmente quando ela ficava perto o suficiente para sentir o calor do corpo dele, tal como agora. Todos os garçons disponíveis tinham sido chamados para a festa particular e Tracy estava coordenando as refeições, que funcionaram sem problemas. Mas toda hora Josie buscava qualquer pretexto para deixar a mesa e verificar as coisas na cozinha e atrás do balcão. No entanto, ela não podia ficar longe por muito tempo, ou sua ausência seria notada. Isso significava passar longos minutos pertinho de Jack. Durante o jantar, eles roçaram mãos ou colidiram os joelhos acidentalmente inúmeras vezes. E ele foi infalivelmente educado e insistiu em se levantar sempre que Josie saía ou para ajudá-la com sua cadeira quando ela retornava. Finalmente, ela estava farta. Inclinou-se para ele e falou em voz baixa:
– Você não precisa fazer isso. – Fazer o quê? – Ele olhou para ela. Os homens haviam deixado seus chapéus nos cabides perto da porta, em deferência para a ocasião, por isso não havia uma aba para sombrear a intensidade dos olhos dele. – Essa coisa de me ajudar com a cadeira o tempo todo. Eu vou precisar levantar e sentar muitas vezes para verificar o serviço de comida e de bebidas. Não é uma situação social normal. Ele sustentou o olhar dela. – Isso é verdade em muitos aspectos. O estômago dela deu algumas cambalhotas. – Eu só estou dizendo que… – Eu sei o que você está dizendo. – A voz dele a envolvia, cativando-a como sempre. – Você não quer que eu te dê tanta atenção. Encarando-o bem nos olhos, ela sentiu-se acariciada, provocada, excitada de maneiras que desejava reprimir e não conseguia. – Sim. Exatamente. – Eu peço a Deus para conseguir evitar isso, Josie. – Com isso, ele se virou e disse algo para Morgan, a futura noiva, algo que a fez rir. Embora Josie não conseguisse entender o que era, o timbre das palavras de Jack acariciaram cada terminação nervosa de seu corpo. Apesar de saber – saber! – que ele fazia mal para ela, Josie o desejava mais do que nunca. Respirando fundo e bebendo um gole de água, ela lutou para manter a compostura. Ela havia acabado de fazer uma visita à cozinha, então precisava se aquietar. O nível de barulho estava alto e ela tentava satisfazer-se com isso: muito barulho significava que todos estavam se divertindo. No lado esquerdo da ferradura, Sarah estava absorta numa conversa com Bianca Spinelli, a mãe de Morgan. O cabelo grisalho e o terninho em estilo country de Sarah contrastavam fortemente com os cachos escuros indomáveis de Bianca e seu vestido de camponesa alegremente colorido, mas as duas pareciam velhas amigas. Bianca era cem por cento italiana e orgulhosa de suas curvas generosas. Na festa de despedida de solteira na quarta-feira à noite, ela alardeou sua postura: “O que é bonito é para se mostrar.” Ela ensinou alguns movimentos de dança bem sensuais a todas e esperava que suas alunas mostrassem o que aprenderam na recepção do casamento, no sábado. O pai ruivo de Morgan, Seamus O’Conner, conversava com o pastor local, Ed Frye, que tinha sido convidado a realizar a cerimônia. Seamus era cem por cento irlandês e orgulhoso de seu dom para a bajulação, ou assim dissera sua esposa. Nenhum dos dois quisera desistir de seus sobrenomes preciosos, então, quando as crianças chegaram, todas as sete, Bianca e Seamus rejeitaram a hifenização em favor de um sobrenome híbrido para os filhos: O’Connelli. Pelas conversas com Morgan, Josie sabia que crescer com aqueles pais não conformistas não havia sido fácil. Errantes e idealistas da contracultura, eles tinham viajado o país com sua ninhada, nunca ficando mais do que alguns meses em cada lugar. Todos os filhos tinham nomes que serviam tanto ao gênero masculino quanto ao feminino, a fim de evitar estereótipos de gênero, mas que rendiam uma grande confusão enquanto Josie tentava distinguir cada um.
Além de Tyler, dois dos irmãos de Morgan tinham feito a viagem ao Wyoming: Regan, o gêmeo de cabelo escuro de Tyler, e Cassidy, uma ruiva de 14 anos de idade. Estes estavam sentados no lado direito da ferradura, junto a Alex, que os manteve entretidos, provavelmente com histórias sobre estrelas do rock que ele conhecera ao trabalhar na rádio. – Seu irmão tem sido bem amigável comigo recentemente – disse Jack. Josie virou-se e notou que ele a observava. – Ele sabe que você não é mais uma ameaça para a minha felicidade. – Se ela ao menos acreditasse nisso. Se ao menos tivesse segurado seu coração ao dispensá-lo. Os olhos de Jack brilharam com uma emoção ilegível. – Eu sou tão perigoso assim? Sim. Ainda. Ela obrigou sua a voz a sair calma. – Não mais. Pareceu que ele ia dizer alguma coisa, mas uma colher tilintando numa taça chamou a atenção de todos. Nick se pôs de pé. – Eu quero agradecer a todos por estarem aqui hoje à noite, principalmente a Bianca e a Seamus por fazerem esta viagem com Tyler, Regan e Cassidy. Para quem nunca cavalgou, vocês se saíram muito bem no ensaio hoje. – Exceto quando Tyler esmagou as petúnias – disse Cassidy. Sarah acenou com despreocupação. – Elas vão morrer na primeira geada, de qualquer maneira. Não se preocupe com o canteiro de flores, Tyler. – Minha mãe está certa, Tyler – disse Nick. – Você ficou em cima do cavalo. É só isso que importa. Então eu só queria fazer um brinde e dizer: bom trabalho, pessoal. Taças tilintaram. Josie só tinha Jack para brindar, e não fazê-lo seria mesquinho. Ela fez o gesto e os dedos de ambos se tocaram. Ela sentiu o calor percorrer seu corpo. – A você – disse Jack. Não querendo parecer uma covarde, Josie encontrou o olhar dele. – Obrigada por me ensinar a cavalgar. – O prazer foi meu. O corpo inteiro de Josie formigava. Nada bom. – Os brindes oficiais serão amanhã – disse Nick. – Eu sei que Josie e Tyler criaram seus discursos de felicitações, e Jack me garantiu que escreveu o dele, então eu… – Jack escreveu um discurso? – Gabe inclinou-se em torno de Morgan para encarar seu irmão mais velho. – Não se anime, Gabe. – Jack jogou seu guardanapo na mesa. – Vou deixar toda a parte sentimental a cargo de Nick. – Que alívio – disse seu irmão com um sorriso. – Eu não saberia como agir se você começasse a ficar todo sentimental com a gente. Josie queria gritar: mas ele precisa ficar sentimental! Ela controlou o impulso. A dinâmica da família de Chance já estava em vigor muito antes de ela entrar em cena. Durante toda a sua vida, Jack tinha fugido através do desligamento das emoções. Esperar algo diferente disso era bobagem, e Josie resolveu deixar de ser boba. Agora, se ela pudesse deixar de amar Jack, seria ótimo.
Seamus O’Conner, o pai de Morgan, levantou-se. – Eu nunca escrevo meus discursos, mas vou querer fazer um amanhã. Sua esposa revirou os olhos. – Ah, que comovente. – Na verdade – continuou Seamus –, eu não me importaria em dizer uma ou duas palavrinhas agora. – Amanhã seria muito melhor, papai – disse Morgan. – Hoje à noite nós realmente não temos tempo para… – Claro que temos, Morgan. – Gabe, que tinha bebido sua parcela de vinho, sorriu para seu futuro sogro. – Manda ver, Seamus. Jack inclinou a cabeça para Josie. – Puxa-saco. – Hum-hum. – Eles costumavam ter essas conversas particulares na época em que pareciam compartilhar da mesma visão de mundo. – Aposto cinco pratas que Morgan vai chutá-lo sob a mesa. – Não. Aposto dez que Bianca vai chutar Seamus. – Não quero apostar isso. Quantos minutos você acha que o brinde dura? – Quinze. – Josie se perguntava se Jack estava ciente de que havia deslizado o braço sobre as costas de sua cadeira. – Aposto cinco pratas que Bianca vai interrompê-lo em dez minutos. – Topo. – Ela não deveria ter mantido a conversa e definitivamente não deveria ter aceitado a aposta. Era difícil matar velhos hábitos. Quando Seamus deu início ao que obviamente era uma divagação desmedida sobre a infância de Morgan, Josie olhou para o relógio e se acomodou em sua cadeira. Os dedos de Jack dobraram-se ligeiramente em torno do braço dela. Ela deveria repeli-lo. Mas o toque sutil era tão celestial, inofensivo… Talvez não tão inofensivo assim. Enquanto Seamus continuava, Jack roçava os dedos languidamente no braço de Josie. Ela usava uma blusa de seda, então ele não estava tocando a pele nua, mas o tecido transmitia aquela carícia de uma forma cada vez mais erótica. Josie olhou para seu prato, onde a comida estava praticamente intocada. Daí olhou ao redor do salão e notou Alex a observá-la. Desviando o olhar de imediato, ela tentou fingir que o toque de Jack tinha sido acidental, algo do qual nem mesmo ele estava ciente. Mas ela sabia que não era por aí. Josie conhecia o estilo dele muito bem. Jack estava tentando arrancar uma reação dela, e estava sendo muito bem-sucedido. O corpo dela zunia e a calcinha umedecia. Visões de seus corpos nus lampejavam com cada vez mais frequência em sua mente. E Seamus ainda tagarelava. – Jack – murmurou ela. – Seis minutos e contando. – Ele manteve a atenção em Seamus. – Guarde minhas palavras, Bianca está pronta para explodir. Josie respirou fundo, aí inspirou de novo. – O que você está fazendo? – Aproveitando-me de uma oportunidade de ouro. – Ele desenhava círculos lânguidos no braço dela. – Jack, por favor. A pressão do toque dele aumentou imperceptivelmente.
– Por favor, o quê? Por favor, não pare. Por favor, faça amor comigo até a gente destruir todas as razões pelas quais não podemos ficar juntos. – Por favor, pare. Ele obedeceu. Quando ele tirou o braço e recostou-se na cadeira, Josie quis chorar. – Seamus, pelo amor de Deus, resuma – disse Bianca. – Amanhã vai ser um grande dia e todos nós precisamos ir para casa e para a cama. – Então vou concluir fazendo um brinde a estas excelentes companhias. – Seamus ergueu o caneco que tinha trazido consigo para dar sorte. – E ao casal feliz, Morgan e Gabriel. Que a sorte os acompanhe todos os seus dias. Todos ecoaram o sentimento e, mais uma vez, Josie foi obrigada a brindar com Jack. Ela tentou recuperar o bom humor. – Dez minutos, em ponto. Você venceu. Ele deu um leve sorriso, o qual desapareceu logo em seguida. – Depende de como você encara isso. – Colocando a taça na mesa, ele arrastou a cadeira para trás. – Você pode me pagar amanhã. Josie queria sacudi-lo até seus dentes trincarem. Jack esperava mesmo que seu magnetismo sexual, o qual ele possuía aos borbotões, iria fazê-la se esquecer de que ele cederia seu corpo de bom grado, mas nunca seu coração? Ele nunca saberia que seu plano quase funcionara. JACK SÓ tomou a decisão poucas horas antes do casamento. Ele não tinha certeza do porquê estar fazendo isso, exceto que parecia certo e que ele ia se entregar por completo. Bandido ficaria em seu estábulo durante a cerimônia e Jack iria montar a égua marrom e branca que seu pai estava transportando no dia de sua morte. Bertha Mae estava em forma. Jack havia trabalhado com ela durante a semana anterior e, quando Josie o dispensara, dedicara ainda mais tempo à potranca. Ela era um amor e ele achava que já tinha passado da hora de torná-la um membro oficial do Última Chance. A bichinha já havia sido condenada ao ostracismo por muito tempo. Mas ele concluiu que os membros da família precisavam saber disso. Gabe estava no celeiro ajudando Emmett a trançar fitas nas crinas e caudas dos cavalos que ele e Morgan iriam montar na cerimônia. Ele mal olhou para cima quando Jack anunciou seu plano de montar Bertha Mae. – Isso é bom – disse ele. Já Emmett olhou para cima e semicerrou os olhos para Jack. – Eu não tenho certeza se é a melhor ideia que você já teve. – Talvez não, mas eu quero fazer isso, a menos que alguém vá ter um ataque. – Eu não – disse Gabe. – Mas Emmett está certo. Pergunte a Nick e a mamãe antes de fazer algo assim. – Era isso que eu planejava fazer. – Jack se dirigiu até a casa e encontrou Nick saindo pela porta da frente. – Exatamente o homem que eu procurava. O que você acha de eu montar Bertha Mae na cerimônia, em vez de Bandido? Nick piscou.
– Por quê? – Não tenho certeza se consigo explicar isso. É só que a presença dela tem sido como uma ferida que não cicatriza, então eu andei treinando com ela na semana passada. Ela é um ótimo cavalo e eu… Acho que este é o momento perfeito para torná-la parte das coisas. Nick inclinou o chapéu para trás com o polegar. – Mais alguém sabe disso? – Gabe disse que por ele tudo bem. Emmett queria que eu falasse com você e com Sarah. Nick o observou em silêncio. – É algo que você precisa fazer, não é? – Sim, acho que sim. Mas eu vou repensar se você… – Não, eu não vou te impedir. Mas não faço ideia do que a mamãe vai dizer. Pode ser difícil para ela. Ou talvez não. – Nick esfregou o queixo. – Provavelmente ela mesma pensou bastante naquele cavalo. Vá perguntar a ela. Ela está na cozinha com Pam e Mary Lou. – Obrigado. – Jack começou a subir os degraus até a varanda. – Só para constar – disse Nick –, quanto mais eu penso nisso, mais eu gosto da ideia. Jack fez uma pausa para olhar para Nick, que estava sorrindo. – Que bom. – É o tipo de coisa que o pai teria feito – disse Nick –, dar àquela potranca a oportunidade de ser útil outra vez em vez de isolá-la. Ele odiava desperdícios. – Espero que Sarah pense assim também. Eu te conto. – Então Jack se virou e seguiu para o interior arejado da casa. A cozinha não estava arejada, no entanto. Pam não aceitou nenhum hóspede no Beliche e Boia naquele fim de semana para que pudesse ajudar Mary Lou com a comida para a recepção. O evento seria realizado no prado, onde uma empresa de Jackson havia erguido uma enorme plataforma de madeira coberta por um dossel. A comida feita por Mary Lou, Pam e Sarah naquela manhã seria transportada até a plataforma por alguns dos funcionários do rancho, uma vez que a festa de casamento estivesse acontecendo. As três mulheres se movimentavam de balcão em balcão, empilhando bandejas de comida e levandoas para o depósito refrigerado que Sarah insistira em instalar quando a cozinha fora reformada. Jack odiava interromper, mas o dia inteiro seria uma loucura, então era melhor fazer isso agora do que mais tarde. – Sarah? Ela se virou, uma colher na mão. – Oi, Jack. Está com fome? Tem um pouco de… – Não, estou bem, obrigado. Mas eu poderia falar com você um minuto? Ela ofereceu um olhar intrigado e colocou a colher de volta na tigela de salada de frango que estava misturando. – Tudo bem. Jack se deu conta de que ele raramente pedia para conversar com Sarah em particular. E, ultimamente, nunca pedia. Nick e Gabe conversavam bastante com ela, mas Jack não. Não era de se admirar que ela tivesse olhado para ele com curiosidade. – Vamos lá para a varanda dos fundos. – Sarah secou as mãos numa toalha e abriu o caminho pela porta traseira da cozinha até uma varandinha com duas cadeiras de vime. Mary Lou gostava de se
sentar ali em dias de tempo bom quando fazia uma pausa, e às vezes ela e Sarah tomavam café lá fora. Mary Lou mantinha uma pequena horta nos arredores também, juntamente a um canteiro de flores adorado pelas abelhas. No verão, a varanda dos fundos sempre ficava com um cheiro delicioso por causa das flores e do cozimento de alimentos. A última vez que Jack havia estado ali tinha sido no outono, frio demais para desfrutar da varanda. Poucas semanas após a morte de seu pai, ele estava procurando Sarah para perguntar sobre algum detalhe dos livros contábeis do rancho. Daí ele a encontrou ali na varanda, chorando. E ele fora um desastre ao consolá-la. Deveria ter se agachado e oferecido um abraço, mas, em vez disso, se pôs ao lado da cadeira e lhe deu tapinhas no ombro. Ela parou de chorar muito rapidamente, e agora Jack se perguntava se ela havia feito isso por causa dele, por saber que ele estava desconfortável com suas lágrimas. – Sente-se. – Sarah ocupou a cadeira mais distante e gesticulou para que Jack sentasse naquela mais próxima da porta. – Hum, que bom poder sentar um pouquinho. Obrigada pelo pretexto. – Talvez devêssemos ter contratado um serviço de bufê. – Nada. – Ela sorriu. – Pam estava morrendo de vontade de vir para ajudar com a comida. É um pretexto para ela aparecer e dar de cara com Emmett. Além disso, acho que Mary Lou teria ficado altamente insultada se a gente tivesse trazido alguém para a cozinha dela. – Ela olhou para ele. – Então, o que houve? – Eu já falei com Nick e Gabe a respeito e eles parecem tranquilos, mas a decisão final cabe a você. – Jack, você não vai fazer nenhuma brincadeira com Gabe e Morgan. Eu não quero que você pinte coisas na caminhonete ou amarre tranqueiras no para-choque e ponto final. Jack andava tão preocupado com Josie que tinha até se esquecido de que casamentos eram perfeitos para esse tipo de coisa. – Tudo bem, nada de rabiscos no carro e nada de porcarias amarradas no para-choque. – Ele se perguntava do que mais poderia esperar para se safar razoavelmente. – Estou falando sério, Jack. – Ela tentou parecer severa, mas seus olhos azuis brilhavam com um sorriso. – Se foi isso que você veio perguntar, a resposta é não. – Não era isso que eu queria perguntar. Gostaria de saber se você tem alguma objeção se eu montar Bertha Mae na cerimônia de hoje. O brilho desapareceu dos olhos de Sarah e eles ficaram serenos, e então cheios d’água. Uma única lágrima escapou, mas ela a conteve de pronto. – Claro. Por que não? – Ela fungou. Jack ficou consternado. – Desculpe. Esqueça. Eu sou um completo idiota. Eu devia ter percebido que você… – Não, não. Eu quero que você faça isso. Acho uma ótima ideia. – Ela caçou um lenço de papel no bolso do avental. – Eu não me importo. – E assoou o nariz. – Não é uma ótima ideia se isso te incomoda. Hoje era para ser um dia feliz para você, e eu não quero causar nenhuma dor. – As palavras de Josie correram pela mente dele. Josie achava que Jack causava algum tipo de dor em Sarah toda vez que usava seu primeiro nome, em vez de chamá-la de mãe. Será mesmo? Ela olhou para ele, a expressão resoluta. – É uma ótima ideia, exatamente como seu pai teria lidado com a situação. Fazendo um gesto grandioso, drenando a ferida e seguindo em frente. Eu tenho… tenho ido vê-la de vez em quando,
sabe. – Bertha Mae? – Jack ficou atônito. – Você nunca falou nada. Eu nunca vi você lá. – Ah, eu sempre me certifiquei para que ninguém me visse. Às vezes vou pouco antes do amanhecer ou tarde da noite. Eu disse a ela o quanto é difícil para mim, saber que ela está viva e que Jonathan está morto. Ela é… é uma boa ouvinte. – Sarah sorriu fracamente. – Talvez sim, mas ela não vai à cerimônia. É demais. Sarah balançou a cabeça. – É totalmente correto. Eu queria que a gente tivesse alguma coisa para simbolizar seu pai no casamento. Achei que, se Nick montasse o cavalo do seu pai, Gold Rush seria o suficiente, mas, se você aparecer com Bertha Mae, vai ser ainda melhor… – Ela inspirou de maneira instável. – Além disso, acho que seria muito bom para você. Ele sentiu um aperto no peito. – Isso não tem nada a ver comigo. – Ah, tem, sim. Com você, comigo, com Gabe e Nick. – Ela se aproximou e pôs a mão no braço dele. – Faça isso, Jack. Eu ficaria grata. Ele envolveu a mão dela com as suas. – Eu não quero fazer você chorar. – Chorar nem sempre é uma coisa ruim. Além disso, todas as mães choram em casamentos. Ninguém vai pensar em nada disso.
Capítulo 16
– VOCÊ PODE beijar a noiva. Mais fácil falar do que fazer. Josie estava montada em Destino, segurando o buquê de Morgan, enquanto Gabe tirava seu chapéu e tentava manobrar em torno de Morgan, com seu chapéu ornado com véu e as saias volumosas cor de marfim. Eles tinham praticado o movimento no dia anterior, mas não com todos os aparatos. Josie concluiu que, caso se casasse um dia, o que não estava no topo de sua pauta naquele momento, ela não o faria em cima de um cavalo. Ou, caso se casasse montada num cavalo, ela iria especificar que todas as mulheres poderiam usar calças jeans em vez de vestidos, os quais requereram pantalonas de babados embaixo deles para que nenhum convidado visse o que não devia durante o ato de montar e desmontar dos bichos. Josie sentia-se uma figurante do filme E o vento levou. A coisa era bem mais fácil para os homens. A camisa de babados, a gravata, o chapéu e o fraque de Gabe não dificultavam o movimento como o vestido de Morgan. Josie estava tentando ignorar como Jack estava sexy, usando vestes semelhantes às de Gabe. Para um homem tão viril, ele ficava surpreendentemente bem de camisa de babados. Ele estava montado num cavalo marrom e branco, em vez de Bandido, o que a surpreendeu. Mas ver Jack sobre um cavalo era excitante, estando ele montado em seu Paint preto e branco ou não. O cavalo se remexeu um pouco, o que incitou Jack a flexionar as coxas e a utilizar aquelas mãos hábeis para apertar as rédeas. Não que Josie estivesse prestando atenção. Não muito. Quando ele falou em voz baixa, ela precisou desviar o olhar, pois o tom a fez se lembrar da maneira como ele falava com ela quando eles estavam… Opa, é melhor não pensar nisso. Sarah Chance estava prestando atenção em tudo, sem deixar passar nada. Lágrimas rolavam livremente, como se ela nem tivesse reparado que estava chorando. Seu foco ia de Gabe a Morgan, depois para Jack e então para Nick. Bianca também estava chorando, mas ela enxugava as lágrimas com cuidado, como se preocupada com a maquiagem. Era provável que o acontecimento não fosse tão triste para a mãe de Morgan, já que ela estava com o marido a tiracolo. Eles também estavam ladeados pelos dois filhos, do mesmo jeito que Emmett e Pam tinham feito com Sarah. Mas os bons amigos de Sarah jamais poderiam substituir o homem que ela amara por quase trinta anos.
Morgan finalmente tirou o chapéu com véu, passou um braço em volta do pescoço de Gabe e o puxou para um beijo caprichado. Todos aplaudiram, e Dominique, que era a fotógrafa oficial da festa, registrou várias imagens sucessivamente. A comoção fez o cavalo de Jack balançar a cabeça e empinar nervosamente. Quando Jack puxou as rédeas, ele olhou para Sarah. Ela soprou-lhe um beijo e murmurou um obrigada. Em troca, Jack tocou dois dedos na aba do chapéu em saudação. Josie não conseguiu evitar se perguntar o que era aquilo tudo. Gabe e Morgan finalizaram o beijo apaixonado. – Pronto! – berrou Gabe. – Vamos cavalgar! Com isso, ele e Morgan saíram num trote rápido. Jack acenou para Josie e os dois se encontraram no meio do corredor improvisado. Ele olhou para ela. – Pronta? – Sim. – Cutucando Destino com seus saltos, ela seguiu ao lado dele num trote muito hábil na sua própria opinião. – Muito bom. Ela olhava para a frente. – Obrigada. – Apesar de não estar olhando para Jack, Josie estava totalmente ciente de todos os movimentos dele. Jack num cavalo tinha se tornado sinônimo de seus encontros matinais, e ela nunca mais conseguiria montar sem pensar em fazer amor com ele naquele cobertor macio que ficava escondido no alforje. – Você está linda. A pulsação dela acelerou. – Obrigada. – Então talvez os vestidos não tivessem sido uma ideia tão estúpida, afinal. Antes de subir no cavalo, Josie gostara da nostalgia romântica do vestido azul de gola alta, com seu corpete apertado e saia rodada. Não era o traje de equitação mais confortável do mundo, mas a fazia se sentir feminina e sensual. Mesmo que não tivesse a intenção de se envolver com Jack outra vez, Josie gostava de saber que ele a estava achando bonita hoje. Ambos seguiram num silêncio tenso, ao mesmo tempo que, na retaguarda, todos riam e conversavam sobre a cerimônia. Josie percebeu que a formalidade entre eles poderia vir a ser motivo de preocupação. Ela podia muito bem conversar agora e aliviar qualquer constrangimento. Então ela perguntou a primeira coisa que lhe veio à cabeça. – Por que você não está montando Bandido hoje? – Pareceu a hora certa de apresentar Bertha Mae. Ela olhou para o Paint marrom e branco. – Esse é o nome dela? – Receio que sim, pobre garota. Já era o nome dela quando chegou e ninguém pensou em mudá-lo. – Então ela é nova? – Josie não conseguia entender por que Jack escolheria um cavalo novo para uma ocasião tão importante. – Ela está aqui há pouco mais de dez meses. Algo no tom dele a alertou para a importância daquilo. E então ela se deu conta. – Esse é o cavalo que seu pai estava transportando quando morreu, não é? Jack assentiu. – Achei que montá-la hoje poderia… Bem, ajudar de alguma forma.
A insegurança na voz dele fez Josie prender a respiração. Jack não se permitia ser inseguro. – Então é por isso que Sarah lhe soprou um beijo e disse obrigada. – Isso. – Ele suspirou. – Mas eu a fiz chorar, e eu odeio isso. Josie olhou para ele – tão alto, tão forte, tão vulnerável. – Tenho certeza de que não foi só porque você montou nesse cavalo – disse ela suavemente. – Casamentos sempre são emocionantes. – Verdade, e é por isso que eu não deveria ter dado a ela mais um motivo para chorar. – Ela sabia dos seus planos? – Eu perguntei a ela e ela disse que era uma ótima ideia, que seria mais um jeito de incluir papai no grande dia. Ainda assim, eu me pergunto se foi um erro. – Ele fez uma pausa. – Ela é uma senhora valente. É só o que posso dizer. Josie sentiu um aperto na garganta. O coração que ela havia fechado e bloqueado com cuidado contra Jack estava se abrindo novamente. – Ela é uma mulher de sorte por ter três filhos que a amam. – Nós somos os sortudos, Josie. – Sim. Sim, vocês são. – Ela poderia ter dito mais, mas o passeio havia terminado. Eles chegaram às plataformas cobertas pelo dossel, onde mesas e cadeiras haviam sido montadas e Alex comandava um sistema móvel de som alugado em Jackson. Uma canção romântica preencheu o prado. Uma hora antes, Josie teria resistido à letra e à melodia, mas isso antes de ela descobrir que Jack havia tomado uma atitude deliberada para curar as feridas criadas quando seu pai falecera. Se Jack podia correr esse risco emocional, então talvez os muros que ele tinha construído em torno de seu coração estivessem rachando. – Dance comigo. Josie se virou para ele, esperando ver naqueles olhos o calor familiar ao qual ela achava tão difícil de resistir. Em vez disso, o olhar de Jack era sereno, o sorriso, gentil. O coração dela começou a bater forte. Talvez Jack estivesse disposto a assumir o maior risco emocional de todos. – Acho que você deveria mesmo dançar comigo – disse ela. – Sabe como é, padrinho e madrinha. – Ah, sim. Verdade. Eu só quis dizer que… – Não se preocupe. – Ela retribuiu o sorriso. – Eu vou dançar com você. – Josie dançaria com ele em todas as ocasiões porque, mais uma vez, ela começava a ter esperanças. JACK TINHA escrito um discurso para o brinde repleto de gracinhas e piadas internas. Nick concordara em fazer seu brinde cheio de sentimentalismo, o tipo de baboseira piegas na qual ele era tão bom. Mas quando Jack se levantou, taça de champanhe na mão, olhou para as palavras que tinha escrito e soube que não eram adequadas. Embora Josie estivesse sentada ao seu lado na mesa principal, ele conversara muito pouco com ela logo após a cavalgada. Evitara falar com ela de propósito, pois não conseguia se entregar a conversas despretensiosas nesse momento. Seu coração estava muito pesado. Ele também nunca seria capaz de ler o discurso que havia preparado. Amassando o papel, inspecionou os convidados reunidos antes de se voltar para Gabe e Morgan. – Gabe, eu lhe devo um pedido de desculpas. Aliás, a você também, Morgan.
Gabe olhou para ele. – Por quê? – Por pensar que vocês estavam se precipitando para este casamento. Eu não entendia, não compreendia. Achei que estivessem loucos. Mas agora eu entendo. Vocês não perderam a cabeça, perderam seus corações. Eu vos saúdo por ter a coragem de confiar em si mesmos e por confiar um no outro. – Ele ergueu a taça. – Ouçam, ouçam! – berrou Seamus O’Conner. Taças tilintaram. Jack bebeu um gole e permaneceu de pé. – Há um homem que não está conosco hoje em corpo, mas definitivamente está presente em espírito. Meu pai teria adorado esta festa, que foi principalmente planejada e organizada por uma mulher maravilhosa, a qual também tem sido a melhor mãe que qualquer criança poderia ter, Sarah Chance. – Jack encontrou o olhar de Sarah enquanto levantava seu copo. – A você, mãe. O suspiro espantado de Sarah foi seguido por lágrimas, conforme Jack já imaginava. E tudo bem. Pousando sua taça, ele caminhou até ela, ao mesmo tempo que as emoções que ele controlara durante anos transbordavam, afastando toda a amargura, todo o medo. De pé, ela estendeu os braços e ele a envolveu. – Eu te amo, mamãe – murmurou ele, a voz embargada. – Eu também te amo, Jack. – Ela lhe deu um abraço tão apertado que ele não conseguiu respirar, mas tudo bem. Daí ela recuou e sorriu em meio às lágrimas. – E agora eu estou realmente pronta para a festa. – Eu também. – Dando-lhe um beijo breve na bochecha, ele voltou para a mesa principal. E lá estava Josie, sua doce e sensual Josie, chorando também. E aquilo não era problema nenhum, afinal, Jack sabia que eram lágrimas de alegria. Ele desejava limpar as lágrimas com beijos, mas ainda tinha um brinde para finalizar. Ele ergueu a taça outra vez. – A Morgan e Gabe, e a uma vida inteira de amor. Taças tilintaram mais uma vez, e Jack retornou ao seu lugar e se sentou. Josie o encarou, os olhos ainda marejados. – Aquilo foi lindo. Ele queria beijá-la, mais do que queria respirar, mas agora não era o momento. – Não, você é linda. Aquilo… estava muito atrasado. – Jack, eu queria que a gente… – Eu sei. Eu também. – Ele estendeu a mão e apertou a dela. – Mais tarde. Nick se levantou. – Eu sempre persegui Jack por toda a minha vida, e nunca foi tão difícil quanto agora. Belo trabalho, mano. – Eu aprendi tudo que sei sobre sentimentalismo com você, garoto. O comentário rendeu uma risada, a qual Jack já esperava. Mas não era hora de clima pesado mais. Era hora de abrandar as coisas. Mas Jack ainda não tinha conseguido largar a mão de Josie, a qual ele ficou segurando durante o brinde de Nick e ao longo do discurso interminável de Seamus. Quando Bianca finalmente pôs um fim à tagarelice do marido, os brindes terminaram e a dança começou. Depois que os noivos dançaram juntos, e que Morgan dançou com Seamus e Gabe com Sarah, Jack arrastou sua cadeira para trás.
– Nossa vez. Seus braços ansiavam para envolver Josie, por isso as manobras entre as mesas para chegar à pista de dança pareceram durar uma eternidade. Mas finalmente eles conseguiram. Quando ela se virou para encará-lo e se encaixou em seu abraço, Jack se esqueceu completamente da dança. Finalmente Josie estava em seus braços, e ele nunca mais ia soltá-la. Ele olhou para aqueles olhos cinzentos delicados. – Eu tenho sido um tolo, Josie. – As palavras saíram sem aviso. Ele não tinha planejado dizer nada até eles dançarem por um tempinho, mas Jack parecia não conseguir controlar as emoções que brotavam dentro dele ou a vontade de falar tudo. – Não há perdão para o jeito como eu te tratei em outubro do ano passado, mas é isso que estou te pedindo. O brilho nos olhos de Josie forneceu esperança a ele. Ele continuou: – Na verdade, estou te implorando para me perdoar. – Claro que perdoo. A tensão que o esmagava desde de manhã diminuiu, deixando suas pernas um pouco bambas. – Graças a Deus por isso. O negócio é… – Ele estudou a expressão dela, tentando se convencer de que não ia levar um fora, embora Josie ainda pudesse dispensá-lo. Que diabos, ele precisava falar assim mesmo: – O negócio é… Eu te amo. O sorriso dela tremia. – Ótimo, porque eu te amo desde o verão passado. – Oh, Josie. – Ele emoldurou o rosto dela com as mãos trêmulas. – Eu te amei desde a primeira noite que passamos juntos, mas eu era muito estúpido… Não, eu era teimoso demais… para admitir isso. – Algumas coisas levam tempo. Jack absorveu a felicidade que irradiava dela. Como ele sentira saudade disso. – Algumas coisas levam uma vida inteira. – Sim. – Os olhos cinzentos brilharam. – Você vai me conceder uma vida inteira, Josie? O sorriso dela o cegava. – Você sabe que vou. – Eu não tinha noção disso antes. – Ele acariciou as bochechas dela com os polegares. – Eu não me permitia enxergar o amor em seus olhos. Mas agora eu vejo. – Ei! – chamou Nick. – Vocês dois vão dançar ou o quê? Jack ignorou seu irmão enquanto se concentrava em Josie. – Nós vamos dançar num minuto, está bem? – Está bem. – Primeiro, tem uma coisa que eu preciso fazer. – Pouco antes de beijá-la, ele fechou os olhos e prometeu silenciosamente manter seu coração aberto para Gabe, para Nick, para Sarah e, acima de tudo, para Josie, a mulher que afinal o havia reivindicado para si.
Epílogo
LIDAR COM as funções de DJ num casamento estava sendo surreal para Alex, considerando que o último casamento no qual ele tocara tinha sido o próprio, quatro anos antes. O divórcio fora um golpe, mas ele estava começando a se recuperar. Ainda assim, não estava exatamente pronto para acreditar no felizes para sempre. Sua irmã, Josie, no entanto, acreditava, e depois de ouvir o brinde de Jack, Alex não está mais preocupado com a possibilidade de Josie estar cometendo um erro ao se meter com o sujeito. Eles tinham uma chance de construir uma vida juntos, que era tudo o que alguém poderia pedir. Aparentemente, Jack enxergara seus erros e compreendera que o amor era isso. Alex desejava poder dizer o mesmo. Quando o assunto era luxúria, porém, ele entendia bem. No minuto em que fora apresentado à irmã de Morgan, Tyler, no jantar de ensaio, Alex se flagrara atingido por um caso gigantesco de luxúria à moda antiga. Ele passara a noite de sexta-feira sonhando com aquele corpo maravilhoso. Graças ao seu trabalho de DJ, ele tinha uma visão perfeita da pista de dança, onde podia ver os movimentos sensuais dela. Ele era o culpado por ignorar as músicas country às vezes e escolher deliberadamente ritmos que clamassem por requebradas de quadris e seios balançando. A mãe de Tyler, Bianca, sabia dançar, mas Tyler levava aquele senso rítmico a um nível totalmente novo. Alex adoraria experimentar um pouco daquela habilidade. A ideia era pura fantasia. Tyler estaria indo embora do Wyoming no dia seguinte, junto ao restante de sua família. Alex não sabia nada da vida dela ou mesmo se possuía um namorado em casa, onde quer que a casa dela fosse. Ele sabia apenas que a moça tinha 26 anos, pois havia conversado com seu irmão gêmeo, Regan, no jantar de ensaio. Alex não interrogara Regan sobre sua gêmea porque isso teria sido demasiado óbvio. E estúpido. Ele e Tyler estariam ocupando o mesmo espaço geográfico por mais umas 12 horas apenas, no máximo. Em alguns aspectos, isso seria ideal para ele, no entanto. A saída com Tyler envolveria apenas sexo, nada mais. Ele não tinha energia psíquica para um relacionamento de verdade. Isso sem mencionar os planos dela, ou ao menos se ela o havia notado. Mas ele achava que sim. Alex a flagrara dando umas olhadinhas para ele de vez em quando.
De qualquer modo, fantasiar com ela nua servira para animar a festa. Ele quase odiava perceber que estava acabando, pois, dessa forma, não poderia mais devorá-la com os olhos na pista de dança. Mas a festa acabou assim mesmo. A escuridão chegou ao prado, os convidados começaram a ir embora e Alex começou a guardar seu equipamento. – Você fez um trabalho fantástico. Ele olhou para cima e flagrou o objeto de seus sonhos eróticos da noite anterior bem ali, na sua frente, os cachos negros desalinhados e os olhos escuros com cílios longos brilhando de satisfação. – Obrigado. – Ele não conseguia pensar em mais nada para dizer. Aquele não era o tipo de situação em que ele poderia convidá-la para uma bebida. O único bar ficava a quilômetros de distância. – Você tocou um monte das minhas músicas favoritas. – É bom saber. – Ele tentava não olhar para a boca farta, a boca que ele beijaria em seus sonhos esta noite. – Eu estava esperançosa de que teríamos uma oportunidade para conversar, mas você precisava cuidar da música e eu precisava ajudar na festa. – Claro. – Deus, ela era deliciosa. – Mas agora já acabamos. – A-hã. – A pulsação dele acelerou. Tyler pretendia chegar a algum lugar com aquilo, e para onde quer que ela estivesse indo, ele ficaria feliz em acompanhá-la. Ela ergueu uma garrafa de champanhe e duas taças. – Já bebeu champanhe num palheiro? A resposta de Alex ficou presa na garganta e ele precisou pigarrear antes de responder. – Não. – Nem eu, mas pretendo fazer isso hoje à noite. – Parece… divertido. – Brilhante, simplesmente brilhante. – Bem, estarei lá daqui a uns 15 minutos. – Ela piscou para ele. – E estou levando mais uma taça. Alex tentou dizer a si que era muito sensato para aceitar o convite. Mas, em seu coração, ele sabia que havia um palheiro em seu futuro imediato. Caramba.
SUBMISSA TIFFANY REISZ – Shhh... – A boca de Kingsley estava junto ao ouvido dela outra vez. – Sou eu. Saber que era Kingsley não fez nada para acalmar seus temores. Charlotte tentou se afastar de novo, mas ele ainda a segurava com firmeza contra o corpo. Ela gritou contra a mão dele. O som mal saiu. – Charlie, eu sei que você está com medo agora. Você tem permissão para sentir medo. Eu quero que você tenha medo. – A voz dele era baixa e íntima. Ela o empurrava na esperança de desequilibrá-lo e fugir. Mas ele era muito alto, muito forte. Ela virou a cabeça, tentando gritar, mas a mão dele era como um torno mecânico em sua boca. – Nesse estilo de vida, todos nós temos uma palavra de segurança. É a palavra que você diz quando quer que o jogo acabe. Sua palavra de segurança é “dragão”, já que você é minha ruiva cuspidora de fogo. E no segundo em que eu tirar minha mão você pode dizer “dragão”, e eu vou deixar você ir. Ou... Ou você pode optar por não temer seu medo. Sexo sem graça é uma questão de confiança. Já o estupro é uma questão de medo. Nós estamos naquele lugar entre o medo e a confiança. Confie em mim, Charlie. Não pense que o medo significa que você precisa parar. Charlotte fechou os olhos. Ela contorceu-se para o lado, mas ainda não conseguia se livrar dele. – Vou tirar minha mão da sua boca agora. Diga a sua palavra de segurança se necessário. Mas antes de dizer, pergunte-se como você se sentiu quando me afastei de você esta noite. Pergunte a si mesma como você vai se sentir amanhã, se você se afastar de mim agora. Ela ofegava contra a palma de Kingsley. Ele afastou a mão da boca de Charlotte levemente, que começou a falar e depois engoliu as palavras. Ouviu o riso presunçoso de Kingsley junto à sua orelha. – Tenho bom gosto para mulheres, não tenho? Charlie abriu a boca para discutir, mas Kingsley a empurrou com força sobre a cama. Ele pegou os braços dela e os prendeu atrás das costas. Com uma das mãos ele segurava os pulsos dela, e a outra ele enfiava debaixo do vestido. Ele correu a mão até a parte de trás das coxas e deslizou sobre os quadris e para dentro da calcinha. – Seu clitóris está inchado de e você está encharcada – disse ele enquanto a examinava. Ela cerrou a mandíbula, porém sentia-se humilhada demais para dizer qualquer coisa. Os dedos de Kingsley
roçavam por todo o corpo dela. Charlotte se encolheu quando ele rasgou sua calcinha frágil num movimento rápido. Agora nua por baixo do vestido, não havia nada entre ele e ela. Kingsley usou os joelhos para abrir mais as pernas dela. Daí a mão voltou à intimidade e Charlotte gemeu quando ele deslizou um dedo ali para dentro.
E leia também nessa edição especial de Flor da Pele, Dominada, de Lisa Renée Jones e Aprisionada, de Portia da Costa.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ T393c Thompson, Vicki Lewis Chance [recurso eletrônico] / Vicki Lewis Thompson; tradução Fernanda Lizardo. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2015. recurso digital Tradução de: Claimed! Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-2031-3 (recurso eletrônico) 1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Lizardo, Fernanda. II. Título. 15-26671
CDD: 813 CDU: 821.111(73)-3
PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: CLAIMED! Copyright © 2010 by Vicki Lewis Thompson Originalmente publicado em 2010 por Harlequin Blaze Arte-final de capa: Ô de Casa Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso, Rio de Janeiro, RJ – 21042-235 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
Capa Texto de capa Teaser Querida leitora Rosto Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Epílogo Próximo lançamento Créditos