Cidades Estagnadas: Itararé-SP

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Cidades Estagnadas Itararé – SP



Cidades Estagnadas Itararé – SP

Carolina de Arruda Botelho Klocker Orientador: Prof . Sérgio Sandler

Escola da Cidade

Trabalho Final de Graduação

2009


Abertura de estrada para retirada de madeira, ItararĂŠ, 1937

fonte: Claro Jansson


A quem em nossa terra percorre tais e tais zonas, vivas outrora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de insanável caquexia, uma verdade, que é um desconsolo, ressurte de tantas ruínas: nosso progresso é nômade e sujeito a paralisias súbitas. Radica – se mal. Conjugado a um grupo de fatores sempre os mesmos, refluí com eles duma região para outra. Não emite peão. Progresso cigano, vive acampado. Emigra, deixando para trás de si um rastilho de taperas. A cidadezinha onde moro lembra um soldado que fraqueasse na marcha e, não podendo acompanhar o batalhão, á beira do caminho se deixasse ficar, exausto e só, com os olhos saudosos pousados na nuvem de poeira erguida além. Desviou – se de lá a civilização. Ali tudo foi, nada é. Não se conjugam verbos no presente. Tudo é pretérito.

Cidades Mortas, 1919 Monteiro Lobato

05


fonte: acervo pessoal


OBJETO

CIDADE

MUNICÍPIO

09

51

105

09 | Introdução 11 | Interiorizar 13 | Localização 15 | Escala 23 | Itararé 25 | Rio e Topografia 27 | Paisagem construída 29 | As Duas Torres

51 | A cidade e os caminhos 111 | Riqueza 57 | Rua São Pedro 61 | Conexões 65 | Evolução Histórica 69 | Transversais 71 | Ferrovia 73 | Questões 75 | Ocupação 79 | Meio Ambiente 81 | Água 85 | Intervenções 91 | Viário 97 | Plano

REGIÃO

ESTADO

PAÍS

LUGAR

121

125

157

169

121 | Pela rede de cidades

125 | Planejar 141 | Itararé - Fartura 155 | Somar

157 | Cidades Estagnadas 159 | A Árvore 161 | Lumber 165 | Na maneira da madeira

173 | Aqui. 175 | Marca 187 | Experimentações 189 | As fábricas 191 | Desenhar com branco 213 | O Projeto 233 | Laboratórios 243 | A Fábrica 253 | “Sou um guardador de rebanhos” 257 | Por que Itararé?

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INTRODUÇÃO Este exercício trata de um deslocamento do olhar. Uma proposta que busca no escuro uma compreensão do país. “Os pequenos núcleos há muito tempo perderam o caráter bucólico e pacato, onde a violência, as favelas e a poluição não existe. Mas enquanto tais problemas estão se alastrando, o poder público continua a administrar tais cidades sem conhecer a fundo suas necessidades sócio espaciais.” Sandra Cristina Ferreira Contribuição ao debate acerca de pequenas cidades na rede urbana

As cidades pequenas representam em quantidade 84% das cidades brasileiras. Grande parte da nação habita os pequenos núcleos, que permanecem desconhecidos tanto pelas administrações públicas, nas mais diversas escalas, quanto pela pesquisa acadêmica. O estudo aqui desenvolvido se aprofunda em um objeto – cidade, Itararé, cidade do interior de São Paulo, que pode ser compreendida como um exemplo comum de cidades deprimidas, desarticuladas, à margem. O trabalho começa e termina com projeto. Começa do ar e acaba de dentro da terra, e o faz percorrendo diferentes escalas e questões, enquanto no caminho vai se apropriando de elementos que se complementam e se explicam - do objeto a cidade, da cidade o município, do município uma região, estado, país – até retornar ao objeto. Uma metodologia ao revés. A partir da compreensão do território onde se estabelece a cidade de Itararé, uma analise histórica e propositiva para este centro urbano, derivando ao estudo do município e suas possibilidades, comuns também aos municípios vizinhos que fazem parte de um cenário ímpar do estado São Paulo – uma grande ilha de exclusão com características sócio-econômicas mais próximas ao Brasil norte e nordeste, após Brasília. Dentro do plano, o projeto que compõe a parte final deste caderno é uma experimentação em um espaço de grande significado para a cidade, o antigo pátio ferroviário, onde, mobilidade, produção e educação se fundem dando inicio a uma transformação quem vem de dentro com grande força. 09


Cruzamento dos eixos em BrasĂ­lia

fonte: braga, milton. o concurso de brasĂ­lia


INTERIORIZAR “Um território de dimensões continentais, um país em plena expansão democrática, mas também uma estrutura social arcaica, uma economia desequilibrada onde as formas de produção mais avançadas coexistem com técnicas atrasadas” Jean-Paul Sartre Les Temps Modernes

Junto ao revelar esta cidade paulista, fronteira com estado do Paraná, distante de ambas capitais e de qualquer outro centro pulsante, se revisita o conceito de interiorizar. Interiorizar para democratizar. A falta de um planejamento sério e contínuo, seja ele nacional, estadual ou regional, abre brechas aos jogos de interesses desenhando o espaço, de tal forma que determinados centros passam a receber uma sobreposição de investimentos, enquanto outros, sem força política, passam por um fenômeno inverso, o de decretada dormência. Não há projeto nacional que inclua as pequenas cidades brasileiras. O atual Plano de Aceleração do Crescimento, PAC, mais uma vez reforça o modelo histórico de premiação e esquecimento.

“Embora pareçam isoladas, enquanto dimensão espacial da sociedade, encontram – se relacionadas às transformações do modelo de consumo no mundo”. Sandra Cristina Ferreira Contribuição ao debate acerca de pequenas cidades na rede urbana

Desconhecemos o poder das trocas, a virtude e o papel que pode vir a ter toda e qualquer cidade, participando e contribuindo ativamente dos processos produtivos e construtivos do país. A continuação deste colocará possibilidades do desenho que cabe ao arquiteto e urbanista, dentro das analises que são responsabilidade deste profissional, uma vez que a discussão e suas respostas devem ser elaboradas em coletivo, no âmbito político, junto ao economista, ao geógrafo, ao cientista social, e por diante.

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São Paulo Itararé

Curitiba

fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

Localização

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Uma cidade entre a estação Barra Funda e a estação da Luz

Escala da Cidade

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fonte: montagem google e limite geolog


fonte: montagem google e limite prefeitura de itararĂŠ

Escala do MunicĂ­pio

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fonte: montagem google e dados ibge


fonte: montagem google e dados ibge

Escala da Região | População | Qualidade de vida

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Estádio de Futebol

Projeto “Building a sustentable world” Andrade e Morettin

50.000 pessoas

Projeto CECAP “Zezinho Magalhães Prado” Vilanova Artigas

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fonte: montagem google

ItararĂŠ

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levantamento: Carolina Klocker


“Sempre em qualquer viagem o rio é o companheiro melhor” João Cabral de Melo Neto Morte e Vida Severina

RIO E TOPOGRAFIA

Itararé, “pedra que o rio cavou” [ tupi-guarani ] , só pode ser introduzida de uma forma – Por meio do rio e da topografia. É devido à dificuldade de se transpor o Rio Itararé, afluente do rio Paranapanema, que se forma ali o povoado de São Pedro, origem da cidade que recebe do rio, o nome. Diferentemente dos rios que acompanhavam a viagem do retirante sertanejo, narrado por João Cabral de Melo Neto, o rio Itararé é uma barreira, um divisor que separa o oeste do leste. É ele que traça a divisa entre os dois estados – Paraná e São Paulo. Historicamente, foi sempre relatado pelos viajantes como um desafiador, por se tratar de um rio que corre por entre paredões de pedra de 30-40 metros de altura, em que ora se esconde, submerge, cria grutas visitáveis, ora se revela em leito caudaloso que corre por pedras pontiagudas por ele feitas. Quando finalmente o rio Itararé e o cânion que o contêm eram vencidos, os homens e mulas, exaustos, faziam pouso junto aos morros mais suaves onde hoje se constitui a cidade, que no traçado urbano e na arquitetura das pontes revela e potencializa essa geografia que lhe é tão própria.

Itararé

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01

03

02

01. Av. Joaquim Dias Tatit 02. Rua Coronel Frutuoso 03. Ponte ferroviária sobre o rio Itararé fonte: acervo pessoal

Paisagem construída

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AS DUAS TORRES

Como sendo um prolongamento dos morros mais altos da cidade de Itararé, nasce este projeto que se divide em duas partes, em duas torres. Situadas ambas a 65 metros acima do nível dos córregos que nascem na cidade e deságuam no rio Itararé, as peças verticais são réguas de 20 andares que medem a distância – da água ao cume - de forma espelhada. Arquitetura como uma vontade de dar continuidade à terra, de desenhar a topografia, ascendendo e despindo a paisagem itarareense de forma nunca experimentada. Entre as peças verticais é possível transitar por todas as escalas – cidade e território - e percorrer o tempo histórico e futuro a um só tempo. As torres contêm o dentro e o fora. De fora surpreendem o turista, instigam a curiosidade, chamam a atenção. De fora estabelecem um espaço, um percurso. De dentro, sob um nova perspectiva, constroem uma outra visão de cidade, ou ainda a refaz em novos ângulos – de dentro ela propõem um enfrentamento sobre a sua própria condição, uma vez que da torre – o todo, permanências e rupturas, feridas e possibilidades.

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fonte: prefeitura municipal de itararĂŠ


Do alto – a cidade de Itararé e o horizonte sem limites políticos – os estados de São Paulo e Paraná são um só, não existem mais fundos, e sim expedições na paisagens – por que a verdadeira riqueza de Itararé, não está nela. Esta nas áreas de agricultura, reflorestamento, entre cânions e lagos – Ao sul e ao norte. As torres fazem parte da rua transversal [ norte – sul ] mais importante da cidade de Itararé, a rua Rui Barbosa. Elas se colocam como objetos parte da rua, um desdobramento dela em direção ao nada e ao tudo, como se essa rua que desce, sobe até o morro central, desce, sobe, desce, voltasse a subir infinitamente, e vice e versa – e por isso duas. Duas torres que demarcam um lugar. Começo e Fim. Distantes 3 km uma da outra, a torre norte – das comunicações, e a torre sul – do aeroporto realizam uma operação que é colocar Itararé dentro delas, demarcam o espaço habitado. Entre as torres – o Recinto. Exatamente no centro das duas torres – a um quilometro e meio de cada – o pátio ferroviário lugar da maior intervenção contida no plano que aqui segue.

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fonte: prefeitura municipal de itararĂŠ


A torre das comunicações [ norte ] é implantada sob uma condição de divisa – de um lado a rodovia SP 258, do outro a cidade – por isso as várias possibilidades de acesso. Quem vem da praça São Pedro, centro da cidade, acessa a torre pelo belo, e hoje inacessível pátio interno do convento, que passa a integrar a base da torre, enquanto os estudantes do Instituto, maior escola pública da cidade, são recebidos por um volume que busca nos fundos do colégio uma abertura. Já os universitários da Fafit, caminham até a torre por entre o jardim dos padres. O programa da torre é então uma continuidade dos espaços da escola e da faculdade, e é também corpo que abriga a rádio FM, presente hoje no terreno. O edifício é composto por planos e rampas, que formam classes e pequenos auditórios que abrem janelas no fechamento de madeira que apontam cada uma, uma direção. A circulação vertical é feita pelo exterior do volume por meio de escadas suaves; nela contida a idéia do giro que vai desvendando a cidade a cada metro que se sobre, a cada esquina elevada que se passa. Oposto da torre das comunicações é a torre do aeroporto [ sul ]. Volume cego e fechado. Uma massa que só se abre quando chega ao topo, e ali dá lugar às atividades de logística da pista, mas principalmente de monitoramento das áreas de reflorestamento encontradas ao sul. O embasamento desta construção é uma continuidade da massa vertical que se dobra e vai buscar a extremidade da pista de pouso, lugar de onde é possível ver as curvas desenhadas pelo rio Itararé morro abaixo. 33


torre das comunicações rodovia rua são pedro córrego tatit

ferrovia córrego do prata


torre do aeroporto

c贸rrego do cai莽ara




Norte | punição ao fugitivo

fonte: acervo pessoal


Sul | caminho atĂŠ o aeroporto

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Norte | bairro rural, Cerrado

fonte: acervo pessoal


Sul | caminho atĂŠ o aeroporto

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Norte | decadĂŞncia, antiga fazenda

fonte: acervo pessoal


Sul | decadência, lixão municípal

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Norte | potencialidade

fonte: acervo pessoal


Sul | potencialidade

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Norte | fรกbrica de celulose

fonte: acervo pessoal


Sul | pedreira

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Norte | bairro rural, pedra branca

fonte: acervo pessoal


Sul | caminhĂŁo quebrado na estrada para o municĂ­pio bom sucesso

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Construção de ponte férrea sobre o rio itararé, 1933

fonte: claro jansson


Peabiru, XVI

Ferrovias, XX

desenho: carolina klocker

Tropeirismo, XVIII - XIX

Rodovias principais, XIX

A cidade e os caminhos

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1827. Debret

1938. Passagem da ultima boiada

1930. Passagem de Getulio Vargas


Triste Berrante Sérgio Reis

A CIDADE E OS CAMINHOS

Já vai bem longe este tempo, bem sei Tão longe que até penso que eu sonhei Que lindo quando a gente ouvia distante O som daquele triste berrante E um boiadeiro a gritar, êia! E eu ficava ali na beira da estrada Vendo caminhar a boiada até o último boi passar Ali passava boi, passava boiada Tinha uma palmeira na beira da estrada Onde foi gravado muito coração Onde foi gravado muito coração

Assim como a cidade é construída por sua geografia, ela também é feita e refeita a partir dos fluxos que por ela passam e a cada tempo lhe atribuem um sentido.

Lá, lá lá iá lá iá.... Mas sempre foi assim e sempre será O novo vem e o velho tem que parar O progresso cobriu a poeira da estrada E esse tudo que é o meu nada Eu hoje tenho que acatar e chorar Mas mesmo vendo gente, carros passando Meus olhos estão enxergando uma boiada passar

O apogeu e a decadência da cidade aqui estudada estão inerentemente relacionados à importância do que, de quem passava, de onde e para onde iam. Segundo os estudos realizados por Luiz Galdino, Itararé fazia parte do ramal mais importante do caminho inca, o Peabiru, rota que ligava o oceano Pacífico ao Atlântico - “O tronco, caminho principal, identifica – se pela rota São Vicente, Piratininga (São Paulo), Sorocaba, Itapetininga, Itapeva, Itararé”. É provável que as lendas indígenas sobre o nascimento da cidade venham desse período, ainda que oficialmente as primeiras datações sobre a origem da cidade são dos relatos de August de Saint Hilaire, sobre a presença de cabanas e construções de pau a pique junto ao córrego do Prata. Foram de fato os tropeiros os responsáveis pelo desenvolvimento da cidade. Durante o ciclo da mineração no Brasil, estes homens saiam de Viamão, cidade gaucha, rumo à grande feira realizada em Sorocaba, cavalgavam por entre as matas abertas, pelo cerrado, e à distância de um dia de percurso, faziam pouso e originavam cidades, às vezes permaneciam mais tempo, plantando e colhendo. Vem dos tropeiros toda uma carga cultural e genética presente na população Itarareense.

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fonte: claro jansson, 1930

fonte: acervo pessoal


Seguindo o mesmo caminho aberto pelos tropeiros, a ferrovia que chega a Itararé em 1909, tem o papel de maior aquecedor econômico da cidade. Itararé passou a ser entreposto das linhas paulistas e sulistas – Da Sorocabana e da RVPSC – esta que recebia o nome de Itararé - Uruguai . Deste período Itararé guarda a estação ferroviária, projeto do arquiteto Ramos de Azevedo. Durante os anos 1920 e 1930, Itararé foi o maior entreposto madeireiro da América Latina, hoje a região possui um conjunto de reflorestamento que é em área o 3º maior do mundo. Junto à madeira, despontava a produção de feijão, que fez da cidade durante as próximas décadas uma das maiores produtoras do Brasil. Tamanha a importância estratégica, política e econômica que a cidade assumia, era esperada que fosse travada em Itararé uma das mais sangrentas batalhas brasileiras, entre as tropas getulistas e paulistas pelo governo da nação, durante a revolução de 30, que por fim acabou não ocorrendo, ficando a cidade conhecida pelas palavras do “Barão de Itararé” – como a batalha que nunca houve. Com a rápida substituição nacional da matriz ferroviária pela rodoviária, com a tomada de uma política de concentração econômica nas grandes cidades – o fluxo de grande energia que passava por Itararé foi desaparecendo. Toda uma região se transformou em uma ilha. E dos diversos significados dos caminhos - fica o da ausência. Deslocada dos sistemas de articulação de produção, afligida pela situação de fronteira, onde compete com os impostos e leis paranaenses, a cidade não encontra sua vocação, dinâmica necessária ao desenvolvimento.

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SP 258 PR 151 Rua S達o Pedro

Paran叩

Rua S達o Pedro

S達o Paulo


RUA SÃO PEDRO

A chegada da rodovia SP 258, na década de 70, simboliza este momento quando a cidade deixa de ser uma passagem. Ao traçar essa linha curva aos fundos da cidade se elimina qualquer possibilidade do pequeno fluxo ainda restante perceber a existência de Itararé. A rua São Pedro, de calha larga por onde passavam as boiadas, era o único caminho leste – oeste, além da ferrovia. Obrigatoriamente o viajante que se dirigia a um dos estados passava por ela, e ao penetrar a conhecia, e a cidade usufruía do visitante, porque dele deve sua existência. Esta rua segue sendo a principal de Itararé, dela é possível compreender a cidade, sua formação, seus vários momentos – Quem vem de São Paulo: Os serviços, as escolas, o comércio, os órgãos públicos, as grandes casas, os edifícios institucionais. Uma verdadeira vitrine, para onde se vai para ver e ser visto. Salvo os problemas referentes à padronização e largura das calçadas, ao posteamento elétrico que atravanca o caminho, a péssima organização visual das lojas – A rua São Pedro é o lugar mais interessante de Itararé, porque além de preservar na pavimentação a antiga pedra azul esculpida há quase um século, preserva também um ânimo, uma movimentação que lhe é única.

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PROJETO | Rua S達o Pedro


PROJETO RUA SÃO PEDRO

O protejo visa estender a rua São Pedro em direção à rodovia de tal forma a convidar o turista que por ali passa. Uma vontade de recuperar à rua o visitante. Para quem vem do Paraná [ oeste ] a continuidade suave do passeio sempre se manteve, enquanto o acesso leste é bastante complicado, envolve desvios, trevo mal desenhado, até mesmo perigoso. O novo desenho propõe que a cidade passe a fazer parte de um caminho natural daquele que por ali passa, evidentemente excluindo o transito de cargas, e controlando a velocidade, abrindo uma possibilidade de conhecer - la.

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Conex천es e acessos norte - sul


CONEXÕES

O raciocínio que segue avança dentro da necessidade de conectar, de buscar fluxos, de (re)estabelecer ligações dentro das mais diferentes hierarquias e ordens – fundamentadas na idéia da cidade como nó de diferentes tipos de articulações, e desta variedade a possibilidade de sua existência. A cidade pequena é por essência incompleta, depende de uma outra cidade, necessita da produção da zona rural e por isso investir em infra estrutura que aproxime os lugares isolados.

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santa cruz dos lopes

distrito industrial

linha itararĂŠ - fartura

ibiti

bom sucesso

PROJETO | ConexĂľes e acessos norte - sul


PROJETO CONEXÕES

Estabelecido o eixo leste – oeste como fluxo principal, o projeto melhor estrutura duas entradas norte – sul existentes que se conectam aos bairros rurais, entram na cidade e avançam até o aeroporto. Favorece a continuidade da via do distrito industrial por uma rua existente que leva ao bairro do Ibiti. Propõe a criação de uma linha férrea para transporte de pessoas e cargas – grãos produzidos ao norte, e madeira retirada ao sul – é a linha Itararé – Fartura, projeto de 1921, que atentava a importância de ligar cidades pequenas estratégicas dentro de uma lógica de produção e de distribuição de bens. A linha Itararé – Fartura facilitaria o transporte deficiente de cargas e pessoas não só do próprio município, mas também dos vizinhos – Bom Sucesso [sul], Riversul [norte], Itaporanga [Norte] e Fartura [Norte]. Este projeto será melhor comentado na escala do estado, página 141. Esta linha se tornaria um eixo para a instalação de cooperativas agrícolas, fabricas e empresas, aproximando a produção da cidade.

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1820

1900

1909_chegada da ferrovia

1960_23.671 habitantes

1970_30.507 habitantes

1980_37.765 habitantes

levantamento: carolina klocker


1920 e 1930

1940_14.772 habitantes

1950_16.531 habitantes

1990_41.838 habitantes

2007_48.732 habitantes

2009_projeto de condomínio habitacional

Aproximação da evolução histórica

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1881_1ª capela nossa senhora da conceição - desenho peri

1932_mortos da revolução

fonte: centro cultural de itararé e acervo das famílias itarareenses

1909_estação de trem arquiteto ramos de azevedo

1948_ponte sobre o rio itararé inauguração

1928_largo da matriz

1949_turma escolar


1928_rua são pedro

1929_casas pernambucanas

1930_estação

1951_praça matriz

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rua rui barbosa

PROJETO | Tranversais - Conex천es de bairro


TRANSVERSAIS

A partir de uma compreensão do crescimento da cidade e dos problemas que surgem pela falta de qualquer tipo de planejamento nasce uma necessidade de conectar bairros e áreas. Das péssimas administrações públicas recentes ficam desenhos de bairros habitacionais desarticulados, soltos, distantes. Como se não bastasse à falta de continuidade da malha, a maior parte destes loteamentos, criados para receber a população que vem da zona rural, fica sempre separada das áreas centrais por grandes vazios. Uma área enorme, desproporcional ao pequeno crescimento geográfico da cidade foi sendo loteada sem qualquer critério e limite, sobre áreas verdes, corpos d´água e topos de morro, gerando uma ocupação dispersa e de densidade baixíssima. As transversais, planejadas a partir de ruas existentes, estabelecem uma modulação de espaços internos para onde deve se voltar o crescimento da cidade. Estas integram bairros isolados – e junto às conexões norte-sul, já tratadas, desenham ritmadas a cada 600m aproximadamente eixos perpendiculares a rua São Pedro, que seriam paradas do ônibus circular que percorreria Itararé por elas.

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ferrovia

anel de trocas

PROJETO | Ferrovia


FERROVIA

É poética a idéia da cidade que vai se desenhando aguardando ansiosamente o retorno da ferrovia que para o seu desenvolvimento foi tão importante. Se ela nunca vier – que permaneça a sua marca. Este trabalho reforça a necessidade da retomada da matriz ferroviária como forma aliada as rodovias na aproximação e articulação dos territórios. Por isso o trabalho traz a ferrovia como projeto e cria junto a linha férrea norte e sul, também projetada, um anel de troca de cargas.

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entradas da cidade

c贸rregos

vazios urbanos

bairros isolados

patrim么nio ferrovi谩rio

limite campo cidade: perimetro urbano

Quest玫es

73


fonte: acervo pessoal


Quest천es

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trabalho 01 | produção 02 | serviços 03 | comércio

habitação 04 | lazer 05 | cultura 06 | educação

07 | 200 - 300 m² 08 | 100 - 200 m² 09 | 50 - 100 m²


01

04

07

02

05

08

03

06

09

levantamento: carolina klocker

Ocupação

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Áreas de não ocupação segundo o código florestal

levantamento: carolina klocker


MEIO AMBIENTE

“Isto aqui, ô, ô É um pouquinho de Brasil, Iaiá” Favela junto aos córregos poluídos, pobreza habitando a periferia, ocupação na beira da rodovia, conjuntos habitacionais carimbados, falta de arborização, lixão aberto nas áreas mais delicadas – este conjunto de preocupações habita um cenário onde não existem limites entre o urbano e o rural, é caipira como essência. Dos 645 municípios avaliados pela secretaria do meio ambiente do estado de São Paulo, segundo 10 diretivas: Esgoto Tratado, Lixo Mínimo, Recuperação da Mata Ciliar, Arborização Urbana, Educação Ambiental, Habitação Sustentável, Uso da Água, Poluição do Ar, Estrutura Ambiental e Conselho de Meio Ambiente – Itararé teve a PIOR colocação. Deslocada dos fluxos produtivos, exportadora de matéria prima não gera e distribui riqueza, possui índices assustadores de abandono do ensino, e a tudo isso somamos uma paisagem que vem sendo destruída e atropelada por administrações alienadas e corruptas. Itararé sofre uma avalanche interminável de problemas de todas as esferas.

“Itararé teve a menor pontuação” fonte: O Estado de São Paulo, 02 dezembro 2009

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córrego lavapés

córrego tatit

córrego do prata

rio itararé córrego caiçara

Água - Rio Itararé e córregos


“Os rios têm, historicamente, funções múltiplas e vitais na formação e na organização das cidades, sejam elas ligadas à economia, à cultura, ao lazer ou à infraestrutura. (...) Simbolicamente, trazem consigo a discussão acerca da sustentabilidade de modo amplo, tanto em relação à água como recurso natural quanto em relação ao transporte fluvial como instrumento de integração e soberania nacional. No Brasil, como em quase todas as regiões do Novo Mundo que se “civilizaram” dentro de um regime colonial, as cidades se desenvolveram numa batalha contra o meio natural. Daí que a maioria delas tenha crescido de costas para os seus rios, tratados simbolicamente como o fundo do quintal (áreas técnicas e de serviço) dessas imensas casas, que são as cidades. (...) Os rios urbanos são, nesse sentido, típicos “não lugares”. (...) Mas por isso mesmo, suas orlas são ainda enormes reservatórios de urbanidade no coração dessas mesmas cidades. Guilherme Wisnik Projeto Margem Seminário internacional ´As cidades e Suas Margens´

ÁGUA

Ainda que três córregos nasçam dentro da cidade de Itararé [ do Prata, Tatit e Lavapés ], a concessionária Sabesp tem buscado água cada vez mais longe para abastecer população, isso porque a rede de captação de esgoto só atende a 70% das habitações, o restante é lançado diretamente nos córregos que percorrem toda a extensão da cidade e deságuam no rio Itararé. A empresa ainda alega que a estação de tratamento é obsoleta e em conseqüência ineficaz, o que compromete toda a qualidade da água que chega até as residências ou retorna ao rio. São enormes as repercussões da falta de saneamento público, principalmente quando são colocados juntos aos números acerca da mortalidade infantil. A SEHIG (Secretaria Municipal de Higiene e Saúde) traz as seguintes porcentagens de óbitos nos anos de 1992,93,94 e 95: 64%, 56%, 70% e 42% - números assustadoramente altos, comparado às médias nordestinas. Somada à grave questão de saúde pública, e dela a necessidade urgente de inversão do quadro, um grande um incentivo para o município é o fato dele pertencer a uma relação de localidades com potencial turístico prioritário anunciada pela EMBRATUR, em 1995 (!) – com isso investimentos no município serão feitos, além de facilidades de crédito para investidores – a única condição ao repasse é que a cidade toda tenha cobertura de saneamento básico.

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córrego lavapés

córrego tatit

córrego do prata

rio itararé córrego caiçara

PROJETO | Água - Rio Itararé, córregos e açudes


“É exatamente esse potencial que parece estar sendo percebido e valorizado hoje, de modo ambíguo, em algumas cidades do país, nas quais se nota uma corrida recente do poder público e do mercado e do mercado imobiliário para as orlas fluviais, projetando e construindo nelas centros turísticos, comerciais, ou condomínios de luxo. Há, portanto, sinais contraditórios de uma recente revisão desse legado histórico em um contexto dito pós – industrial e globalizado, embora ainda na periferia do capitalismo. Em que termos essa revisão crítica se dará? Superando o legado colonial ou aprofundando o seu caráter predatório e exclusivista?”

PROJETO ÁGUA

Guilherme Wisnik Projeto Margem Seminário internacional ´As cidades e Suas Margens´

Os açudes são feitos de maneira muito simples, através de barragens, que interrompem por determinado período o percurso da água, deixando o lago ser desenhado pela curva de nível.

O projeto coloca a água como elemento paisagístico de transformação destes “não lugares” entre o centro e a periferia. Os corpos d´água são aflorados se convertendo em açudes ou praças de água que escancaram a sua importância, potencializam a sua apreciação e uso, enquanto conformam um espaço líquido de união entre as duas diferentes margens.

Junto às nascentes dos córregos Lavapés e Prata são propostas praças com objetivos diferenciados. A do Lavapés é desenhada para drenar um solo pantanoso, do bairro que por essa razão ficou conhecido como “Sapolandia”, enquanto a do córrego do Prata mantém o desenho que vai se afunilando por entre a mata ciliar, e propõem peças de água, que estabelecem um caminho que vai de encontro a rua São Pedro, comunicando a presença da nascente deste córrego que tem a dimensão da cidade.

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torre das comunicações

rua sobre a água praça dos sapos caixa no açude

pátio ferroviario parque das nascentes

torre do aeroporto

PROJETO | Intervenções


“Casas ou museus?

INTERVENÇÕES

Primeiro as casas ou museus? Tudo de uma só vez: as casas, as escolas, os museus, as bibliotecas. Uma planificação urbanística não pode prescindir dos problemas culturais se a construção de novos bairros, de novas casas é a base do projeto de uma cidade (nas casas queremos incluir mercados, escolas, serviços coletivos, como saúde, correios etc.) - o programa, ou melhor, a planificação de uma cidade não pode esquecer dois edifícios públicos, que ainda hoje são considerado um luxo intelectual: o Museu e a Biblioteca.”

As intervenções são propostas de ocupação do vazio que acontecem como parte das transversais que organizam o território e também como uma continuação da rede hídrica.

Lina Bo Bardi Lina por escrito

Estas intervenções teriam caráter de uso misto, sempre contendo programas educacionais e espaços destinados a geração de emprego.

Assumem um papel de desencadeadoras de transformação do perímetro que as envolvem.

São projetos que podem ser desenvolvidos paralelamente, ou em tempos diferentes – neste sentido são independentes uns dos outros. O que os fazem integrar um plano comum é a necessidade de intervenções espalhadas em lugares estratégicos, pontos hoje de grande deficiência, e por isso com força irradiadora impactante. A primeira destas intervenções deve ser a do pátio ferroviário, projeto desenvolvido neste trabalho, seguida pelas demais – até as Duas Torres.

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cheio e vazio

PROJETO | Intervenções


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cheio e vazio

PROJETO | Intervenções Ampliado


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Viรกrio


VIÁRIO

O sistema viário de Itararé que foi acrescido à malha ortogonal nas ultimas três décadas é extremamente desrespeitoso com a história da ocupação da cidade. Mal feito, descontinuo e separador, é também desmedido devido à quantidade de áreas que foi tomando sem necessidade alguma. Desenho sem regra, sem rigor, repleto de interrupções. O que ocorre é que em bairros afastados, as ruas não têm pavimentação, passeio público, o posteamento elétrico feito para ser provisório, permanece há anos – e as ruas: vazias. Em alguns trechos parece que a cidade se interrompe e se transforma em uma incômoda entidade contida no entre urbano e rural. O maior agravante é que através da morfologia urbana é possível fazer um mapeamento bastante preciso das faixas econômicas – sociais. Do tipo da quadra – o seu morador.

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PROJETO | Costuras viรกrias


O PROJETO VIร RIO

O projeto para o viรกrio visa basicamente promover costuras, ampliar as possibilidades de acesso aos bairros hoje isolados, regularizar vazios e estabelecer limites para que a lรณgica do crescimento espraiado da cidade seja invertida e comece adensar a quadras existentes, seguidas pelos vazios particulares entre bairros; preservando assim รกreas mais frรกgeis, de relevo mais acidentado.

93


PROJETO | Sistema viรกrio


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PROJETO | Plano de intervenção


“Portanto a cidade é o espaço ideal do habitat humano. Ela precisa ser projetada. As coisas não podem acontecer como um acaso histórico, com desvios de interesses particulares; temos que acomodar as populações no seu melhor arranjo dentro das cidades, e não só vender terrenos, como querem os especuladores imobiliários; isso gera um desastre. A cidade é para todos. Devemos entender a dimensão política da nossa profissão, para que se mude a mentalidade da ocupação desse território, para que se adotem modelos mais novos, e pouco a pouco transformar esses lugares em algo melhor, para que se demonstre a grande virtude que é viver nesta ou naquela cidade.” PAULO MENDES DA ROCHA, 2006 Maquetes de Papel

97



Especulações | Caixa no açude

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Especulações | Rua sobre a água

101



Especulações | diversas

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Limite Municipal Santa Cruz dos Lopes

Pedra Branca

SÃO PAULO Cerrado

Cidade de Itararé

Cidade de Sengés

PARANÁ

Limite Municipal e Estadual

Horto Florestal Lumber

fonte: prefeitura municipal de itararé

Município

105



fonte: montagem google

MunicĂ­pio

107



fonte: secretária de agricultura

Município | Rede Hídrica e Topografia

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fonte: site uol | folha

fonte: infotur e coordenadoria de turismo de itararĂŠ


RIQUEZA

A maior riqueza de Itararé, como já colocado, não está dentro da cidade, está escondida por entre paredões de pedra, florestas de pinus, e em quedas d´água que são abismos sem fim. Situadas em áreas de limite político administrativo, junto aos municípios de Sengés – PR e Bom Sucesso – SP, este lugar deve receber um gestão séria intermunicipal, que proteja estes bens naturais que começam agora a ser explorados pouco a pouco pelas secretarias de turismo, ainda que de maneira bastante tímida e precária. Deve ser elaborado em acordo com as municipalidades um plano de manejo sustentável das áreas e de educação ambiental aos moradores, afim de manter o que até hoje permaneceu intacto devido ao isolamento da região das ondas devastadoras de progresso. O turismo, segundo o diagnóstico municipal de Itararé, realizado pelo SEBRAE, tem grandes possibilidades de se transformar em um propulsor da economia da região, diversificando a fonte de renda, que ainda hoje é essencialmente agropecuária, e disso a constante vulnerabilidade ligada ao comportamento das safras. Para que de fato o turismo tenha esse papel de agente transformador, é necessário que, diferentemente do que acontece hoje, o turista aproveite a cidade, faça pousada nela, dividindo com mais famílias a renda da visita - maior peso para as intervenções e projetos planejados.

111


fonte: http://www.rasturitarare.com.br/


“Todo ello nos lleva a pensar que los sintomas de aparente debilidad de tantos escenarios em crisis pueden ocultar las claves de su futura transformación. Las muestras de decadencia, los vestígios de um esplendor pasado (fábricas cerrdas, puentes abandonados, rios contaminados...), pueden ser vistos como uma condena, o bien entenderse como fortalezas, como activos para construir um nuevo futuro, como recursos para ser revalorizados y estructurados em aras a conformar uma base adecuada de desarrollo. Está empezando a atesorarse uma cierta experiência, tanto em Europa como em Estados Unidos y, más recientemente, em Latinoamérica em relación com los planes de impulso regional basados em El patrimônio, estendido este em su más amplia acepción: natural y construído. (...) Um paisaje cultural es um ámbito geográfico asociado a um evento, a uma actividad o a um personaje histórico, y que contiene, por tanto valores estéticos y culturales.

O projeto da Linha Itararé – Fartura prevê uma ligação norte e sul de todo o município que apenas existe hoje por meio de vias deficitárias. Planejada de forma a ser uma rota perpendicular a rodovia SP258 e PR151 e a ferrovia Sorocabana, eixo de fluxo principal – esta linha desenhada junto às cotas mais planas do município, prevê parada em Itararé, junto à linha férrea para a troca de cargas, e junto à rua São Pedro para estação de passageiros, assim como paradas estratégicas nos bairros rurais, imaginando que com políticas de estímulo e crédito ao agronegócio estes bairros ganharão maior importância, por serem postos de saída das produções agrícolas envoltórias A linha também deve realizar parada turística junto a Lumber, antiga madeireira, e ao Horto Florestal, local de onde saem as trilhas para os cânions e cachoeiras. É portanto uma nova conexão que liga povoados, locais de distribuição de carga e também pontos turísticos

(...) La gestión inteligente de los resursos patrimoniales está suponiendo em diversos territórios uno de los factores clave para su desarrollo económico, porque refuerza la autoestima de la comunidad.” Joaquín Sabaté Bel Paisajes culturales El patrimonio como recurso básico para um nuevo modelo de desarrollo 113


fonte: http://www.rasturitarare.com.br/


fonte: http://www.rasturitarare.com.br/

115



fonte: prefeitura municipal de itararĂŠ

PROJETO | Linha ItararĂŠ - Fartura

117



Parada Santa Cruz dos Lopes

Parada Cerrado

Parada ItararĂŠ

Parada Lumber e Horto Florestal

PROJETO | Linha ItararĂŠ - Fartura. Paradas

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fonte: montagem google e dados ibge


“O que importa é entender que o futuro dessas populações dependerá cada vez mais de articulações intermunicipais capazes de diagnosticar as vocações do território que compartilham, formular um plano de desenvolvimento microregional, e viabilizar seu financiamento com o imprescindível apoio das esferas governamentais superiores. (...) Trata - se de encorajar os municípios rurais a se associarem com o objetivo de valorizar o território que compartilham, fornecendo às articulações os meios necessários ao desencadeamento do processo. Ou seja, o papel dos governos federal e estaduais deve ser estimular iniciativas que no futuro poderão ser autofinanciadas, mas que dificilmente surgirão, ou demorarão muito para surgir, se não houver o indispensável empurrão inicial (...) Em outras palavras, o que se propõe aqui é o surgimento de um contrato territorial de desenvolvimento, a ser firmado com articulações intermunicipais cujos planos microrregionais de desenvolvimento rural sejam selecionados por instâncias competentes.” José Eli da Veiga Cidades Imaginárias

PELA REDE DE CIDADES Ao traçar o panorama de Itararé, exemplifica – se a condição de toda uma região de cidades pobres e despercebidas. Sem poder político e intelectual ativo este colar de cidades junto à divisa dos estados de São Paulo e Paraná enfrenta uma situação de esquecimento das esferas governamentais por não serem contempladas com nenhum tipo de investimento ou projeto de inclusão. Estas cidades devem ser lidas como peças de um quebra cabeça, de tal forma que nenhuma peça é igual a outra e juntas elas se complementam. Devem dentro de uma vocação comum – reflorestamento, agropecuária e turismo encontrar cada uma seu papel para que não existam competições, mas trocas. O papel de estimulador que cabe ao estado, deve investir de forma espalhada em cada uma dessas cidades, para que uma não passe a receber mais projetos que outra, e conseqüentemente se transformar em um pólo catalisador, prejudicial às demais. Quanto ao crescimento demográfico, como uma decorrência da qualidade de vida e receita orçamentária, vemos que as cidades menores são as que mais tem perdido habitantes [ Riversul, Itaberá e Wenceslau Brás ]. Cidades como Itaporanga, Itararé e Itapeva mantém um quadro de crescimento bastante estável, crescendo a metade da média estadual e nacional. Enquanto as cidades que vem crescendo são, não por coincidência, as cidades Paranaenses [ Arapoti, Sengés e Jaguariaiva ] que fornecem incentivos fiscais para a instalação de indústrias.

121


fonte: O Estado de S達o Paulo 2 de dezembro 2009


Crescimento das cidades Crescimento dos estados e paĂ­s fonte: IBGE

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fonte: Fundação Seade. Índice Paulista de Responsabilidade Social - IPRS

Abandono no ensino em Itararé alfabetização 94% ensino médio 43% fonte: índice firjan de desenvolvimento municipal,

ensino superior 4% especialização 1%

fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil


“As malformações da sociedade brasileira são tão evidentes, tão grande o contraste entre a penúria e o desperdício, que todos devemos questionar-nos como foi possível que chegássemos a isso. Como conciliar essa realidade com as potencialidades do país e com o notável esforço de desenvolvimento já realizado? E como é possível que estas questões não ocupem a mente de todas as pessoas que pretendem estudar problemas sociais, ou simplesmente se interessar pela coisa pública? Não implica deslizar em idealismo reconhecer que um país que pouco reflete sobre si mesmo está condenado a repetir erros e a entrar em becos sem saída.” Celso Furtado O Brasil Pós- Milagre

“Grupo 5: formado por localidades tradicionalmentes pobres, caracterizadas por baixos níveis de riqueza municipal, longevidade e escolaridade. Este grupo concentra os piores minicípios de Estado, tanto em riqueza como nos indicadores sociais. Seus 114 municípios localizam - se em áreas bem específicas do Estado, como o Vale do Ribeira e as Serras do Mar e da Mantiqueira. Sua população total é de apenas 2 milhões de habitantes.”

PLANEJAR

A importância do planejamento é a de se evitar a concentração e a sobreposição demasiada de infra-estrutura em determinados centros, em substituição a outros – isso acaba gerando contrastes violentos e na maioria das vezes irreversíveis. De um lado os grandes centros sobrecarregados, esgotados e caóticos; Do outro o esvaziamento e a pobreza dos pequenos núcleos. Mobilidade, Produção e Educação formam um tripé de elementos intrinsicamente relacionados que explicam o porquê das disparidades entre as regiões, de onde advém a relação de dependência hierárquica do pequeno centro ao médio e do médio às áreas metropolitanas.

Haroldo da Gama Torres, Maria Paula Ferreira e Nádia Pinheiro Dini

São Paulo em Perspectiva

Indicadores Sociais - por que construir novos indicadores como o IPRS

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SĂŁo Paulo ItararĂŠ

Curitiba

Ă­ndice de desenvolvimento humano

fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

IDH

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fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

IDH + Mobilidade [ rodovias principais e aeroportos ]

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fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

IDH + Mobilidade + Produção [ indústrias ]

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fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge + guia do estudante

IDH + Mobilidade + Produção + Educação [ aculdades públicas ]

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fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

IDH + Rede de influĂŞncia das cidades

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fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

IDH + Ferrovias e Rios

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fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

Ferrovias e Rios

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ITARARÉ - FARTURA

As ferrovias e as hidrovias trazem outra possibilidade de leitura do território – a descentralização. O projeto da linha Itararé - Fartura, de 1921, ainda que pequeno, segue sendo ousado para aqueles que voltam a revisitar o modelo de ocupação e de distribuição de bens por trilhos e pela água. Parte de um discurso já amplamente divulgado por parte de economistas, geógrafos e urbanistas de estruturar o país pelo intermodal, mas ainda sem efeito nos planos governamentais. A linha proposta se ligaria transversalmente ao importante eixo leste oeste, formado pela Sorocabana e buscaria, ao norte, o Rio Paranapanema, e dele a possibilidade de transporte náutico através do Rio do Paraná – de escala internacional. Estas redes abrem possibilidades inúmeras ao desenvolvimento das cidades, por que são abertas possibilidades de fluxos por todas as direções, deixam de existir as regiões ilhas, hierarquias de passagem, congestionamentos em anéis sufocados. O projeto aqui colocado apresenta uma continuidade da Itararé – Fartura, em busca de um ramal sul, onde existe estudo do PAC para a construção do trem expresso São Paulo – Curitiba, ampliando assim a potencialidade da linha.

141



fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

Projeto ItararĂŠ - Fartura, 1921

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fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

PROJETO | ItararÊ - Fartura, amarração com ramal ferroviario sul

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fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge + PAC

IDH + Ferrovias + Rios + Portos [ existententes e em projeto ]

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inclinação

fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

Relevo

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densidade de vegetação

fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

Vegetação

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qualidade do solo

fonte: redesenho apartir das bases fornecidas pela embrapa e ibge

Potencialidade do solo

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fonte: ministério dos transportes

fonte: revista em quadrinhos, Itararé para crianças, 1987


“Completamente esquecidas durante os anos do surto rodoviário, as redes ferroviárias foram redescobertas em decorrência da ênfase nas exportações como base econômica do país, e revitalizadas, com a concessão de trechos para iniciativa privada a partir de 1997. O movimento no modal cresce significativamente a 12% ao ano desde a privatização e as concessionárias, em parceria com empresas logísticas e embarcadores, invertem em terminarias intermodais eu conferem agilidade para cargas que trafeguem tanto por rodovias, como por ferrovias ou hidrovias.

SOMAR

Atualmente, a participação da ferrovia na matriz de transportes brasileira é de aproximadamente 20% do volume total de cargas (ANTT 2005). Os problemas estão na malha segmentada, visando apenas ligar a área produtora ao porto, nas diferenças de bitola e custos que exigem grandes e regulares volumes de tráfego.

Com base nesta visão otimista difundida pela mídia, redimensionar a matriz de forma adequada significa oferecer mais transporte ferroviário ao embarcador da carga, isto é, à área produtora.”

Diante da possibilidade de abertura política colocada pelo Mercosul, e a existência de ampla rede ferroviária na Argentina, Uruguai e Chile, a América do Sul ganha uma unidade aferida pela trama férrea onde cada país ganha um oceano.

Plano Nacional de Ordenamento do Território - PNOT

E todo o território entre os oceanos passa a ser ativado pela passagem do modal – interiorização.

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fonte: ibge, 2006

fonte: política nacional do desenvolvimento urbano, PNDU, 1976

“estagnada e/ou decadente, onde a urbanização e o nível de desenvolvimento são extremamente frágeis, mas que haviam conhecido um apogeu em ciclos precedentes da economia brasileira.” (PNDU)


“Sob a luz da teoria das Localidades Centrais (Christaller, 1933), muitos estudos sobre rede e hierarquia urbana tem sido elaborado, empregando conceitos como centralidade, localidade central, polarização, influencia de cidades, e as pequenas cidades aparecem como núcleos dependentes de bens e serviços polarizados no contexto regional por uma cidade primaz. No entanto, cabe ressaltar que trocas são estabelecidas e, nem uma cidade permanece isolada, por menor que seja sua participação, e exercer algum papel na rede é condição fundamental para viabilizar a existência da urbe.” Roberto Lobato Corrêa A rede urbana

“A heterogeneidade das urbes e da própria rede, não inviabiliza o desenvolvimento sócio-econômico, pois este isoladamente não define a participação da cidade na rede urbana, mas associado á outros fatores como o capital social e a interação com outras cidades e regiões fazendo a mediação no sentido vertical do processo. Dessa maneira, os níveis hierárquicos diminuem o significado a partir do momento em que “cada cidade passa a ter uma relação direta com a demanda de sua região, e a proporção que cada região se especializa.”

CIDADES ESTAGNADAS

São cidades estagnadas as localidades que sofreram interrupções e cortes, perderam determinado fluxo e| ou de produção. Cidades sem as ferramentas necessárias ao desenvolvimento: desarticuladas do território, sem consciência da própria vocação, e sem atributos para promover iniciativas. Estas localidades passam ou tendem a passar por processos de encolhimento, uma vez que as populações seguem em direção aos centros com melhor estrutura que absorvem os investimentos regionais e nacionais. A região estudada é tratada como área estagnada desde 1976, um bolsão de pobreza situado no estado mais rico união. Os índices qualitativos apontam condições sociais próximas ao norte e nordeste. Ainda assim estão contidos nos elementos de sua paisagem a carga necessária à transformação – A madeira de reflorestamento, os tesouros esculpidos da geografia, os bairros rurais e toda agropecuária.

Milton Santos A Urbanização Brasileira

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fonte: claro jansson, 1910 - 20


“A madeira está tradicionalmente ligada ao artesanato. E o artesanato diz respeito ao que está ao alcance da mão. Doméstica por uso e por natureza, a madeira veio a se tornar o símbolo de um material dócil e caseiro, disponível aos mais variados formatos e destinações. O que Elisa Bracher faz é deslocar radicalmente esse sentido comezinho da madeira. Essa sua nova presença, acintosa e taxativa, coloca – a num novo patamar, afirmativo e voluntarioso. E seu tratamento industrial – sem a lembrança da mão que docemente submete a matéria a seus desígnios – lhe fornece uma feição mais resistente, uma tenacidade que a afasta de sua plasticidade tradicional. E não custa lembrar que industrial não significa industrializado: nas peças a madeira mantém – se no limite de seu aspecto primitivo, sem submeter – se também à domesticidade mecânica, imposta pelo manuseio industrial dos elementos.

A ÁRVORE

A araucária é um signo que representa toda essa região de cidades estagnadas. Exploradas de maneira voraz, florestas inteiras, tanto de araucárias como de imbuias que nasciam sob a proteção da sombra das araucárias, foram consumidas, gerando enorme riqueza aos seus proprietários e que para as cidades não deixaram nada.

Essas inversões do uso corriqueiro da madeira fazem os trabalhos adquirirem uma força inesperada. Aquilo que sempre esteve sob o domínio da mão bruscamente assume uma nova dimensão.”

A empresa inglesa responsável pela extinção das florestas itarareenses, a Lumber, criou cidades – serrarias, ao longo de linha férrea particular por todo o sul do país para a retirada da árvore. Estas cidades permaneciam durante o período de corte junto a uma floresta, até quando houvesse madeira para ser cortada e processada, e acabada a matéria – as unidades habitacionais de madeira era colocadas sobre o trilhos e partiam rumo a outra floresta.

Rodrigo Naves Texto a respeito da obra da artista Elisa Bracher Madeira sobre a madeira

É provável que tenha sido o ciclo de extermínio mais eficiente que o Brasil conheceu, devido a sofisticação do maquinário, a habilidade do trabalhador, e uma tecnologia de montagem e desmontagem de cidades inteiras que eram transportadas pela linha do trem.

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fonte: claro jansson, 1910 - 20


assista:

LUMBER

Southern Brazil Lumber Colonization Parte 01 - 04 http://www.youtube.com/watch?v=78H4czJ-anI http://www.youtube.com/watch?v=VztSodjtKZA http://www.youtube.com/watch?v=Q6iI9ZOO_Gc http://www.youtube.com/watch?v=mHOR2K96MK8&feature=playe r_embedded

Uma cidade ou uma serraria? Os elementos contem significados dúbios, duplos, confundem, surpreendem. A indescritível beleza da arquitetura e o poder das construções feitas a partir de uma lógica ligada à produção.

161


fonte: claro jansson, 1910 - 20


Lumber, ItararĂŠ - SP

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fonte: acervo pessoal


“Pensar o Brasil Engolfado nas contradições tipificadoras do subdesenvolvimento, o Brasil necessita como nunca se pensar, para que a ação daí consequente não incorra nos erros de teoria e tática da atividade política, que o levaram à situação atual. Pensar - se em todos os campos, do econômico ao cultural, do social e político ao das ciências. Pensar livremente, levando em conta suas circunstâncias específicas dentro de uma estrutura de semelhanças que caracteriza o momento da América Latina.” Roberto Pontual Apresentação do livro Brasil: Tempos Modernos de Celso Furtado

NA MANEIRA DA MADEIRA

A madeira se embutiu como parte da identidade do Itarareense. Cerca de 60% da população trabalha direta ou indiretamente nas atividades que envolvem a produção de mudas, plantio, extração de resina, corte e secagem do pinus ou do eucalipto. Porém assim como na agropecuária, a atividade apenas exporta matéria prima sem passar por processos tecnológicos, de manufatura e atribuição de valor – o resultado é um produto barato, que gera pouca renda, e deixa de envolver mais pessoas durante o processo até o produto final, que é feito em outras cidades, mais desenvolvidas como Limeira e Cordeirópolis, por exemplo. Uma vez que o produto vendido pela cidade não passa por etapas de industrialização – a cidade não forma mão de obra especializada. Com isso o abandono do ensino em Itararé é muito grande. Apenas 43% das pessoas completam o ensino médio, e apenas 4% (!) conclui o ensino superior. Compreensível então o estado de dormência e inércia da cidade – pois não há fundamentação para o crescimento, para transformação, para novas iniciativas geradoras de emprego e renda.

165


fonte: acervo pessoal


Na maneira da madeira

167


fonte: acervo pessoal


O lugar

169


geografia e ferrovia

quadras

edifĂ­cios importantes


O lugar

171


fonte: acervo pessoal


“Desviou – se de lá a civilização.

AQUI.

Ali tudo foi, nada é. Não se conjugam verbos no presente. Tudo é pretérito.”

O antigo pátio ferroviário representa a decadência da cidade.

Monteiro Lobato Cidades Mortas, 1919

Lugar de especial significado histórico destaca tudo aquilo que Itararé poderia ser sido. Ele reúne os elementos e questões colocadas dentro do plano - A água, a topografia, o vazio separador do centro e da vila, o patrimônio histórico e ainda duas importantes transversais, uma que o conecta com os bairros rurais, e a rua Barbosa, onde estão locadas as duas torres. Este espaço apresenta três condições topográficas bastantes distintas: A várzea do córrego do Prata, ocupada por construções irregulares; O plano construído para ser o pátio de manobras, onde no aniversário da cidade acontece a festa do peão, que desrespeita e ignora por completo as construções ferroviárias ali presentes; O aterro e o morro, grande vazio sem uso, junto às casas dos ferroviários, estas em grande maioria, alteradas. Por se tratar de um espaço com essas características, que marcam uma condição de abandono e ruína, é nesta ferida que a transformação causará maior impacto e vem com mais força.

173



fonte: acervo pessoal

Marca

175


fonte: acervo pessoal

levantamento: carolina klocker


levantamento: carolina klocker

Estação Arq. Ramos de Azevedo

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fonte: acervo pessoal

levantamento: carolina klocker


levantamento: carolina klocker

Galpรฃo Paranรก

179


fonte: acervo pessoal

levantamento: carolina klocker


levantamento: carolina klocker

Galp達o S達o Paulo

181


fonte: acervo pessoal

levantamento: carolina klocker


levantamento: carolina klocker

Oficina de trens

183


fonte: acervo pessoal


casas dos ferroviรกrios paulistas

casas dos ferroviรกrios sulistas

fonte: acervo pessoal

casas dos ferroviรกrios

185



EXPERIMENTAÇÕES

O partido do projeto é criar um parque tecnológico no coração da cidade. Misturar ócio e trabalho. Fundir mobilidade, produção e educação. Caminhos transversais à água, à ferrovia e ao patrimônio, espaçados a cada 90m, ligam dois lados bastante diferentes – a área central, e a vila Santa Terezinha – esta projeto feito pela prefeitura da década de 70 para a população que vinha dos bairros rurais completamente desarticulada da malha existente. Os caminhos, bastantes diferenciados um do outro seja pelo desenho, largura, seja pelos eventos que percorrem, vão estabelecendo entre eles programas públicos parte deste parque tecnológico – laboratórios, salas de aula, auditório – destas transversais as atividades vão sendo descobertas e apreendidas ao longo do percurso. Um destes caminhos é uma fabrica de peças pré – fabricadas de madeira. A passagem cotidiana de um lado ao outro ganha uma experiência poderosa, que insere o cidadão dentro dos processos produtivos que a cidade tanto necessita.

187


marcenaria barauna, sĂŁo paulo, sp

construtora ita, vargem grande, sp

lidercascos, portugal

holzabau – berg, alemanha

wooden factory, eua

holzabau – enzinger, alemanha


AS FÁBRICAS

Qual é lugar destinado à produção nas cidades? Se é ela que aquece toda a economia e que mantém a cidade viva, por que não ser o espaço principal? Uma vez que é necessário incrementar a produção existente de Itararé, agregar valor e tecnologia à matéria aqui produzida, gerar mais empregos, renda, ao mesmo tempo especializar e educar a mão de obra, a proposta aqui colocada é o fazer no recinto mais especial e único que a cidade possui. Independentemente da forma de gestão que terá esta fábrica, seja ela uma cooperativa municipal, gerida pelos cidadãos, que sem dúvida seria de maior interesse, ela pode ser também uma multinacional como a Arauco chilena, que tem uma filial de chapas laminadas na cidade vizinha, Jaguariaiva – PR, o que aqui cabe é colocar a possibilidade deste espaço se transformar em um grande canteiro experimental junto a um parque de água. O plano de eventos festivos da cidade de Itararé passa a dividir espaço com praças de chegada e saída de cargas, praças formadas por cubos de madeira empilhada que aguardam o trem, com estudantes desenvolvendo estruturas que se transformarão em pontes, em habitação, em peças que vão transformar este e outros pontos de intervenção da cidade de Itararé e das cidades vizinhas.

189


croqui e maquetes de argila


“E é o processo que vai dar forma ao espetáculo.”

DESENHAR COM BRANCO

Paulo Pederneiras Grupo Corpo Este projeto será uma intervenção radical na TOPOGRAFIA. Arquitetura será construída da maneira mais simples, por tratores, escavadeiras e patrolas, da mesma forma em que são abertas as estradas para se plantar pinus e eucalipto. Após a movimentação de terra, o trabalho de recortar o terreno, a arquitetura já existe. Já estão colocados todos os espaços – planos, buracos, rampas. Um edifício feito com terra – terra que o homem cavou. A terra ora divide, isola – outra cria destaque, conduz. Ascende às construções ali existentes, o patrimônio ferroviário, ao mesmo tempo revela a paisagem desta cidade que é entendida em corte. Em meio aquela variação de formas esculpidas do solo vão se distribuindo os programas mais variados – Da grande fabrica e todo seu maquinário ao lance de escadas por entre as sombras dos volumes chão. Um desenho feito com branco – que existe pela ausência.

191



fonte: acervo pessoal

Da terra - ITA | sul do municĂ­pio

193


Seções


NĂ­veis

195


situação atual

fase 01 | construção dos planos

fase 02 | escavações


Experimentações

197



Experimentaçþes | corte museu

199



Experimentações | corte biblioteca

201



Experimentaçþes | salas da aula

203



Experimentações | laboratórios

205



Experimentações | caminhos

207



Experimentações | auditório

209



Experimentações | fábrica

211



“PROJETO COMO CAMINHO”

O PROJETO

Álvaro Luis Puntoni O projeto se resume a operações estratégicas em pontos precisos de atuação. São eles parte dos eixos norte sul principais contidos no plano para a cidade: A fábrica junto à rua Rui Barbosa, que se amarra a oficina de trens e o conjunto de laboratórios como parte da ligação bairros rurais e aeroporto que se apropria da estação. O parque demarcado por estes dois programas. Entre eles o prolongamento do plano que estabelece um espaço geométrico único entre as edificações ferroviárias, hoje dividas em duas, galpões e estação de um lado e oficina do outro. O plano - praça de esculturas de madeira dançantes – é palco para já mencionadas experiências de estrutura e também continuação dos postos de trabalho cavados nos muros de arrimo que deram origem a esta superfície.

“Quando eu quero imaginar alguma coisa eu fico pensando: Será que é luz ou que é areia, ou que é água. Gosto sempre de conseguir só aquilo, o mais resumido possível. Limpar, limpar, limpar.” Paulo Pederneiras Grupo Corpo

Deste parque vão se vendo frestas que contam com a presença de decks de madeira que vão se desdobrando em busca das cotas superiores, e que chegam nas antigas casas dos ferroviários, agora tomadas por cafés, docerias, ateliês. A fabrica é um conjunto de escavações paralelas que ora vão até a rua Rui Barbosa, ora até o ginásio esportivo e que recebe como cobertura um passeio inclinado que passa sobre o trem, permeia por entre a oficina, cruza o córrego e recebe o centro de Itararé. Para a Vila Novo Horizonte ela é uma janela, que emoldura a colina central e também ao alto a torre das comunicações. 213


hotel

atracadoro

galpão paraná casa do semeador

oficina de trens

galpão são paulo

estação

postos de trabalho relógio de araucárias

postos de trabalho

exposições ginásio de esportes laboratórios

lotes

fábrica

lotes

lotes

lotes

PROJETO | implantação

lotes


O conjunto dos laboratórios de pesquisa, relativos à produção de sementes e mudas de reflorestamento, é formado por 5 réguas de 40 x 10m, implantadas ora sobrevoando, ora sobre um terreno esculpido que vence o desnível. O percurso deste conjunto é feito de variadas formas, pelas coberturas das peças, por dentro, por baixo. O piso e suas deformações chegam junto ao plano de eventos através de furos, rasgos que ligam térreo-praça ao subsolo de exposições agrícolas, e continua por entre as fundações da estação de Ramos de Azevedo em direção a água do Prata, que atravessa por uma placa deslizante, atribuindo a esta dimensão do tempo e percepção do espaço. Pode se também caminhar em direção ao tablado sobre o açude, onde as canoas ficam atracadas, e passar por entre o projeto relógio, um bosque de araucárias, espaçadas em 10 x 10m. Uma faixa contínua de árvores, que tem toda a dimensão transversal do parque, 300m, que apenas se interrompe para dar lugar à água e à ferrovia. As intervenções nos edifícios ferroviários tem o sentido de torná – los elementos do nó central que faz a articulação entre as diferentes cotas que atravessam os trilhos. A estação pelo subsolo e a oficina pelo mezanino. O galpão São Paulo é parte também de um caminho transversal, a continuação da rua Newton Prado, por onde antigamente se acessava a plataforma de embarque. O projeto substitui a construção existente que divide os dois lados da várzea, por uma passarela suspensa que nasce a partir dos muros de pedra contraventados do início do século. Junto ao galpão é acoplada uma caixa de circulação vertical, feita com tábuas de madeira espaçadas, que permitem com que de dentro do galpão se veja a estação e o galpão do Paraná. O galpão do Paraná – casa do semeador – é um espaço de arquivamento para consulta da documentação histórica acerca da ferrovia. Um acervo entre um pátio que guarda uma árvore de araucária, que se desprendeu do bosque. 215


situação atual


PROJETO | implantação

217


escola pública

clube fronteira

prefeitura

praça da igreja

rua quinze de novembro

escola pública

rua rui barbosa

galpão paraná

estação

oficina de trens

galpão são paulo casas dos ferroviários

ginásio de esportes

escola apae

casas dos ferroviários

escola pública

situação atual


escola pública

praça da igreja

clube fronteira

prefeitura

rua quinze de novembro

escola pública

estação

rua rui barbosa postos de trabalho

postos de trabalho ginásio de esportes

fabrica

escola apae

laboratórios

escola pública

PROJETO | implantação

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situação atual


PROJETO

221


situação atual


PROJETO

223


situação atual


PROJETO

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situação atual


fabrica

postos de trabalho

galp茫o s茫o paulo

PROJETO

laborat贸rios

casa do semeador

rel贸gio de araucarias

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corte a | Rel贸gio de arauc谩rias

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corte b | Laborat贸rios de pesquisa

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situação atual

movimentação da terra

estrutura, apoios

estrutura


Laborat贸rios de pesquisa

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corte c | Galp達o S達o Paulo - Apoio

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corte d | Posto de trabalho

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corte e | Posto de trabalho

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corte f | Fabrica de peรงas de madeira

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Fabrica de peรงas de madeira

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situação atual

movimentação da terra

estrutura principal do plano inclinado

mesaninos e circulações


Fabrica de peรงas de madeira

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249



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Sou um guardador de rebanhos Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei da verdade e sou feliz. Alberto Caeiro

lina bo bardi

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fonte: artigo de jornal, 1960


“Todo se me há precipitado. Me encuentro felizmente extraviado, doblemente huérfano. Paris me há traicionado y me há enseñado sus caras. Pero ya no soy el mocoso de la ocasión cuando nos presentaron. Ahora me doy cuenta de sus enganos y de mis errores. Ya que nos volvemos a encontrar, al menos, podría ayudarme a salis de esta desesperación. Me ahoga la idea de volver a construir pues no sabría por donde empezar.” Luis Barragán Apuntes desde Paris

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Por que Itararé? O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, A memória das naus. O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele. Alberto Caeiro

Começou com um convite. Convite chamado “estudos urbanísticos para Itararé”. Tratava-se de um conjunto de 8 tópicos que me foi entregue pelo senhor Gigio Martins, secretário de finanças do município, no início da atual gestão. Consistiam em ações práticas e rápidas de embelezamento, que se tornariam o registro da prefeitura que se iniciava. O último tópico permitia a liberdade de sugestão, reflexão a ser feita das questões anteriores que por serem inocentes revelavam a urgência de um olhar aprofundado e propositivo. O fato então se tornou a oportunidade impensada de revisitar, daquela deslumbrada pela grande São Paulo. A reaproximação à cidade natal no trabalho final de graduação trouxe de início um desconforto por três motivos: Poderia se tratar apenas de uma busca pessoal, desinteressante do ponto de vista acadêmico; Da aparente facilidade pelo fato de pertencer aquele espaço; Um risco saudosista e pouco crítico. Quanto ao interesse da pesquisa, passo a acreditar que as pequenas coisas falam alto. Que o retorno traz a cidade sob novos ângulos, e ensina que a compreensão era parcial, ou ainda somente da Rua 15 e da Rua São Pedro. Saudosista, Sim. Acabará com um convite. 257



Bibliografia: Alessio, Vito D`, Cralo Jansson, O fotografo Viajante Bacelar, Tania, Classificação das cidades Bandoni, Lazara Aparecida Fogaça, Antologia poética de Itararé Baniski, Renata, A importância das ruas São Pedro, XV do Novembro e Newton Prado como elementos históricos culturais de Itararé. Bel, Joaquín Sabaté, Paisajes culturales Braga, Roberto, Cidades Médias e Aglomerações urbanas no estado de São Paulo Caiado, Aurílio Sérgio Costa, Urbano ou rural? Um olhar sobre processos sócio-espaciais em curso no Estado de São Paulo] Deák, Cseba e Schiffer, Suile Ramos, O processo de urbanização no Brasil Ferreira, Sandra Cristina, Contribuição ao debate acerca de pequenas cidades Gonçalves, Marcos Tadeu Tibúrcio, Processamento da madeira Keating, Vallandro e Maranhão, Ricardo, Caminhos da conquista Koga, Dirce e Nakano, Kazuo, Perspectivas territoriais e regionais para políticas públicas brasileiras Leite, Silas Corrêa, Porta – Lapsos Matos, Ralfo, Aglomeração Urbanas, Rede de Cidades e Desconcentração Demográfica no Brasil Marcicato, Ermínia, Brasil-cidades Martins, Terezinha de Jesus Mello, Nossa Gente – Nossa Terra & Retratando Pantaleão, Sandra Catharinne, Pequenas Cidades Paranaenses. Transitoriedade e redefinições espaciais: 1940-2000 Pimentel, Adriano Quiroz Apontamentos Históricos de Itararé, Rodrigues, Juciano Martins, Polarização e heterogeneidade: aspectos recentes da evolução populacional da rede urbana brasileira. Ruiz, Ricardo Machado, Redes de cidades comparadas: Estados Unidos, Brasil e Minas Gerais Santos, Milton, A urbanização brasileira SEBRAE E PRODER, Diagnóstico municipal de Itararé Silva, José Maria, As Batalhas de Itararé, Toledo, Silvia Rodrigues Bio de, Indicadores da capacidade de gestão ambiental urbana dos governos locais nas cidades médias do estado de São Paulo Veiga, José Eli da, Cidades Imaginarias Wirth, Louis. O urbanismo como modo de vida. In: VELHO, Otávio G. (Org.). O fenômeno urbano

Sites: http://antigo.revistaescola.abril.com.br/ http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br/ http://edsoncapitanio.sites.uol.com.br/ http://www.ibge.gov.br/ http://ifdm.firjan.org.br/ http://orbis.org.br http://www.cepam.sp.gov.br/ http://www.cidadesdobrasil.com.br/ http://www.estacoesferroviarias.com.br/ http://www.fiesp.com.br/ http://www.integracao.gov.br/ http://www.ipea.gov.br/ http://www.pnud.org.br/atlas/ http://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/publicacoes/

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