![](https://assets.isu.pub/document-structure/220124200406-5c7625410e1eb63f9e952282b4d24609/v1/1c54f61a4b3bab0d2599bcc827aa4c49.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
6 minute read
Capítulo III –O Patrão
CAPÍTULO III
O PATRÃO
Advertisement
Era uma figura diferente no seu modo de agir, compenetrado e interessado em tudo aquilo que dizia respeito à Empresa. Não ficava só na sua sala da Diretoria; percorria a fábrica rotineiramente para ver o andamento da produção e anotar alguma coisa que deveria ser melhorada.
Não poderia ser diferente, pois foi a peça chave na fundação da Refrigeração Paraná: JOÃO ANTÔNIO POSDÓCIMO, tratado carinhosamente como “Seu Joanin”.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/220124200406-5c7625410e1eb63f9e952282b4d24609/v1/1e7c1736a7ef16a561316a05336bc49f.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente e de tê-lo um dia, sentado ao meu lado, conversando comigo e procurando resolver na prancheta um pequeno problema surgido no novo Projeto que estava começando.
UM FATO DIGNO DE NOTA
Alguém já disse: “Uma imagem vale por mil palavras” - Como não tenho a imagem daquela ocasião, vou descrevê-la a seguir.
Naquele dia – impossível lembrar a data; acho que era no fim de 1966 ou no início do ano de 1967 – eu, com 20 anos de idade, era funcionário recente na Engenharia (menos de um ano) e estava já às voltas com o projeto de uma nova versão da geladeira denominadas 129 e 134, que nós chamávamos apenas de “02” e “03”, ou 290 e 340 litros. Esses parâmetros de capacidade volumétrica determinavam as dimensões do gabinete interno (caixa interna) e do gabinete externo (caixa externa).
Nos novos projetos, era recomendado que –na medida do possível –usássemos componentes já em uso nos modelos anteriores, a fim de economizar em ferramentais. Quando comecei o desenho na escala natural (1:1) da parte inferior daquele produto, (fundo) já apareceu o primeiro problema a ser solucionado. Essa peça que fechava o gabinete por baixo era levemente inclinada de trás para frente, tendo ainda uma inclinação maior na traseira, de modo que houvesse espaço para acomodar o compressor. Ocorre que esse compressor ficava alojado numa estrutura que era padrão,chamada de “berço”, o qual era fixado no Gabinete. Do jeito pretendido, o canto traseiro da caixa interna quase encostava a esse fundo, não dando muito espaço para o isolante térmico. Para piorar, o compressor ficava muito próximo desse ponto crítico, o que não era recomendado, devido ao calor desprendido pelo compressor durante o funcionamento.
Bem sei que uma ilustração seria mais explicativa, por isso fiz esse desenho para melhor entendimento.
Como havia chegado a um impasse nesse particular, a menos que mudasse radicalmente alguns parâmetros pré-estabelecidos, não havia como levar a bom termo o projeto.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/220124200406-5c7625410e1eb63f9e952282b4d24609/v1/7f4261c05a149fbccdb479b3505277ea.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
PROCURANDO UMA SOLUÇÃO
É nesse ponto que entra em ação aquela figura carismática mencionada acima. Naquele dia,o Sr. João Antônio Prosdócimo fazia uma das visitas à Engenharia, e queria saber como estava indo o novo Projeto. Quando o vi acompanhado pelo Dr. Vieira e o Dr. August se aproximando da minha prancheta, -(para quem não conheceu essas duas pessoas, tratava-se do Diretor Técnico Luiz Carlos Baeta Vieira e do Diretor Industrial e August Jacques Vanhazebrouck) -fiquei um pouco nervoso e pensei: Ué, o que será que o Patrão está fazendo aqui?
Ele educada e firmemente me perguntou sobre o andamento do Projeto; eu expliquei que estava indo bem de um modo geral, mostrando alguns detalhes, mas tendo dificuldade de achar uma solução para o problema surgido, devido a ter que usar o “berço” padrão. Mostrei a ele algumas simulações de montagem como alternativas. Ele olhou os desenhos, pensou um pouco, em seguida pediu-me a lapiseira e a banqueta; Sentou no meu lugar, baixou os óculos até a ponta do nariz e, meio sem prática no manejo do Tecnígrafo, começou movimentá-lo e a riscar em cima do meu desenho (Ai ai ai, pensei!) tentando achar uma solução. Não demorou mais que uns minutos e desistiu. Entregou-me a lapiseira, saiu da banqueta e disse: continue tentando. E foi embora.
O jeito foi modificar o “berço” a fim de afastar o compressor, dando mais espaço naquele ponto crítico. E assim foi feito.
Como se vê, era uma pessoa participativa. Um Presidente de Empresa, envolvido em grandes decisões, responsável pelo emprego de centenas de pessoas, ainda achando tempo para dar palpites no desenho de uma peça de produto. Coisa rara! –Lembrado ainda que o Sérgio, seu filho, não foi diferente do pai. Também tinha os mesmos hábitos na fábrica, inclusive dando palpites nos meus desenhos! Estava no DNA da família; ser atuante e participativo nas atividades da Empresa, e ter respeito por todos, sem estrelismo.
UM CASO CURIOSO
Certa vez ouvi um relato, no qual o Sr. João Antônio Prosdócimo quase sofreu um acidente dentro da fábrica. Naquela época, sempre no início, no intervalo para almoço, e no final do expediente, ouvia-se a sirene tocar. Como é comum, até mesmo em escolas, o pessoal, ao ouvir aquele som, saia correndo de seus postos de trabalho, afunilando-se no corredor de saída. Conta-se que o Sr. João observava isso e não gostava dessa atitude dos trabalhadores.
Num certo dia, resolveu enfrentar aquela situação, pondo-se de frente ao fluxo naquele corredor, a fim de evitar a correria no horário de saída. Mal tocou o sinal, e lá vem aquela turba disparada a “60 km por hora” pelo corredor. Os primeiros “atletas” logo notaram a presença parada daquela figura conhecida e desafiadora pela frente e “pisaram no freio” diminuindo a velocidade; mas os que vinham atrás não entenderam o que ocorria lá na frente e se chocaram com os mais lentos, justamente a poucos passos do Sr. João, que por pouco não foi derrubado e pisoteado! Imagine se tal ocorresse de fato, seria um acidente sério.
Daí para frente, o pessoal foi orientado a não correr, mas isso era difícil de controlar. Era até engraçado ver o pessoal não correndo, mas andando com passos largos e rápidos, parecidos com aqueles atletas da “Marcha Atlética”.
O DESCANSO DO GUERREIRO
Naquela manhã um pouco nublada de 12 de novembro de 1967, cheguei de bicicleta no portão da fábrica e notei que havia alguma coisa incomum, diferente; Trabalhadores parados por ali cabisbaixos, outros voltando para suas casas, e nenhum som vindo da fábrica. Aquela sirene que todos os dias chamava os trabalhadores para assumirem seus postos, agora estava calada. Fiquei sabendo, naquele momento, que o Sr. João Antônio Prosdócimo havia nos deixado para sempre. A família refripariana estava de luto pelo seu grande Líder.
A HOMENAGEM PÓSTUMA.
Mais tarde, já com a superintendência do Sr. Sergio Prosdócimo, foi criada a Fundação Joanin Prosdócimo – que trouxe muitos benefícios para todos os funcionários,em homenagem àquele grande pioneiro da Refrigeração Paraná.
UM MOMENTO FELIZ.
Certo dia estive envolvido involuntariamente naquele empreendimento (Fundação Joanin Prosdócimo). Na ocasião, foi solicitada a uma empresa de propaganda, a confecção de um símbolo gráfico como identidade visual para a Fundação. Lembro que o Sr. Sérgio Prosdócimo analisou algumas propostas recebidas daquela empresa, mas não decidiu de imediato por nenhuma. Então ele me mostrou aqueles desenhos e me pediu para que fizesse mais algumas sugestões. Fiz três propostas e apresentei a ele. Em seguida ele convocou uma reunião dele com outras pessoas na Fundação, a fim de escolher uma das propostasque seria usada.
Desnecessário dizer – mas já dizendo - que fiquei feliz ao saber que um dos meus desenhos foi o escolhido. A seguir, foi usado na impressão dos artigos da Fundação como, bolsas, mochilas etc. Era um círculo formado pelas letras estilizadas FJ-P.