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Capítulo XVIII –Um Susto na Linha de Montagem

CAPÍTULO XVIII

UM SUSTO NA LINHA DE MONTAGEM

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Quando adquirimos um produto, seja um veículo, um remédio ou uma ferramenta, o fabricante, por meio de seu manual ou bula, nos alerta sobre como usá-locorretamente e nos adverte de consequências pelo uso indevido. Nem sempre damos atenção a tais advertências e muitas vezes só vamos ler o manual depois do estrago feito.

Falta de atenção numa recomendação, na manipulação de algo perigoso, desvio de atenção aos sinais de que algo pode dar errado, um produto defeituoso, são inúmeras as causas de um acidente, que pode ser dentro da nossa casa, na rua ou no trabalho. Acidentes acontecem em qualquer lugar, mas as causas geralmente são por falha humana. Claro que o imponderável ronda qualquer atividade, e num piscar de olho tudo pode acontecer. Aprendemos com os erros, então, depois do ocorrido vamos descobrir o porquê do acontecido e tomar as precauções para que tal fato não se repita.

Por que digo isso?

Não lembro com exatidão, mas acho que foi em 1977, a Refrigeração Paraná procurou se modernizar adquirindo uma Injetora de Poliuretano, para substituir o isolante de lã de vidroaté então usado nos freezers horizontais.

Para que isso fosse implantado na fábrica, foram necessárias algumas modificações no gabinete interno e no externo do produto, a fim de se adaptar ao novo sistema de isolante. Alguns protótipos foram feitos do modelo menor para testes e, para isso também foi feito um molde em madeira, dentro do qual ficava o produto para receber a espuma.

Certo dia, impossível precisar a data, a rotina da fábrica era a de sempre. Mas de repente, ouviu-se um estrondo na linha de montagem. O pessoal do Escritório Técnico, eu inclusive, descemos rapidamente para ver o que estava acontecendo. Da mesma forma, o pessoal das linhas de montagem próximas também se dirigia naquela direção; já outros se afastavam rapidamente do local. Pareciam meio confusos.

Logo deu para perceber o que havia acontecido no local; onde se aplicava a Espuma de Poliuretano no gabinete de teste era o caos. O molde dentro do qual estava o corpo do freezer, explodiu, jogando a tampa -do molde -a vários metros de altura e distância, e espalhando espuma para todo lado, inclusive no teto do pavilhão a 5 metros de altura, sujando até o telhado. A cena era impressionante; felizmente ninguém se feriu porque naquele momento não havia ninguém nas proximidades.

Para ficar mais claro para os amigos não familiarizados com esse processo, cabe aqui uma explicação:

A Espuma de Poliuretano é o resultado de uma reação química entre dois componentes chamados de: Poliol e Isocianato, que são bombeados isoladamente pela máquina através de duas mangueiras, mas que só vão ser misturados na extremidade do bico do injetorjá dentro da cavidade do produto, entre a parede interna e a parede externa do corpo de freezer. Isso é feito com o molde fechado em todas as faces. Quando ocorre essa mistura na cavidade, rapidamente se forma uma espuma de cor bege, que cresce em poucos segundos, preenchendo todo o espaço vazio circundante. Depois disso, leva alguns minutos para a cura completa da mistura, resfriamento e estabilização da pressão. Só então é possível abrir o molde para retirar o gabinete (Imagine você agitando uma garrafa aberta de refrigerante gaseificado. É bem parecido).

Ocorre que a dosagem desses componentes é calibrada conforme o volume vazio no qual ele vai se expandir, e da densidade requerida para satisfazer o fator exigido de isolamento térmico do produto. É um cálculo da quantidade que tem de ser muito preciso, pois a pressão resultante durante a reação é alta. Se a quantidade injetada do material for abaixo de especificado, a espuma não preencherá totalmente a cavidade; se o material injetado for em excesso, fatalmente a pressão será muito alta dentro do molde, podendo explodir.

Foi o que aconteceu naquele dia na Linha de freezers. O molde, apesar de reforçado, sabendo-se que haveria pressão interna, não resistiu, causando a ruptura da tampa e destruição do moldee do protótipo em teste.

Foto Internet

Alguma coisa fora do normal aconteceu naquela ocasião. A Injetora era nova, recém-adquirida – ainda me lembro da cor azul e da marca VIKING estampada nela –mas dependia do controle manual do operador para programar a quantidade de material a ser injetado, conforme já calculado anteriormente. Pode ter sido nesse ponto que houve o erro que causou aquele acidente, ou talvez uma falha do próprio equipamento que injetou em excesso. Não fiquei sabendo o real motivo. Esse tipo de acidente já não acontece com os novos equipamentos que são automatizados e controlados eletronicamente.

Já nos testes seguintes, foram feitos novos moldes e mais reforçados e dada mais atenção no funcionamento da injetora. Também novas recomendações foram dadas ao pessoal daquele posto de trabalho, no sentido de não permanecerem próximos a cada operação da máquina. Não houve mais esse tipo de incidente na fábrica. Enquanto não erramos, não aprendemos.

Quando foi para começar a produção de fato, os moldes foram feitos de placas de alumínio fundido com respeitável espessura e nervurados, a fim de oferecer maior resistência à pressão interna durante a expansão da espuma. Muito tempo depois, restos da espuma ainda permaneciam grudados na madeira do telhado. Acredito que, se hoje em dia for examinar bem o local, deve ainda ter algum vestígio como testemunha daquele acidente, felizmente sem vítimas e sem grandes consequências.

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