Kryptonit04

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CULTURA URBANA 01.10

KRYPTONIT




propriedade: krypton edição: krypton / coverdesign design: coverdesign / joana nina, luís silva coverdesignonline.com capa: fotografia de luís silva colaboradores: ana pais, carlos gomes, fred oliveira, joão catarino, joão menezes, nuno dias, paulo lagarto, rogério boldt, silvério do canto

primavera 2010


4 digital 6 krypton director’s choice 12 vai uma trinca? 16 a imagem no teatro 24 corto collection

28 cielo! cielo! 42 design your own 46 story board 64 personalidade 66 brazbom



intro

digital

É esta a nova forma da KRYPTONIT. A partir de agora, é no online que os leitores podem aceder às nossas sugestões sobre o que de interessante se passa no mundo urbano. Alterámos o formato, mas não mudámos a essência. A KRYPTONIT continua a disponibilizar os últimos projectos da Krypton, a partilhar a visão dos nossos realizadores, e a divulgar as últimas tendências de cultura urbana. E a isto acrescentámos uma nova vertente: o vídeo. A publicação de conteúdos multimédia, complementares aos artigos, reveste-os de outra cor e vida. Bem-vindo ao mundo digital da KRYPTONIT.


krypton

choice director’s


rogério

boldt

krypton

“O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial.” M. Andrade

A uma boa história, apenas basta que seja bem contada.


nuno

rocha Há filmes assim, curtas-metragens marcantes, ora pela simplicidade narrativa, ora pela forma como desenvolve as suas personagens, ou mesmo por todos os elementos que conjugam uma obra deste género, como o sound design, a fotografia etc. Com mais de uma dezena de prémios em festivais, “Spider” é um desses raros casos. Nash Edgerton, realizador e argumentista deste filme, explora de forma muito eficaz o momento de um jovem casal de namorados durante uma pequena zanga. Ao jeito de “road movie”, vamos conhecendo as personagens, se bem que de forma limitada, porque não sabemos o que está para trás, nem a razão efectiva do desentendimento. Apesar de esta peça conter uma curva dramática invulgar e com uma recta final surpreendente, começa com uma premissa interessante “It’s all fun and games until someone loses an eye”. Dito isto, é só colocar na barra de pesquisa do youtube “spider” e usufruir de 10 minutos de bom cinema.


Filmar com uma Phantom é filmar imagens minuciosas da vida em alta velocidade, no entanto, os resultados, muitas vezes para além de bonitos, não têm qualquer motivação real, na prática sente-se uma espécie de vazio, mas quando na concepção cinematográfica encontramos um ponto alto de motivação, isso é diferente. Daí este filme “Nuit Blanche” realizado por Arev Manoukian. O filme retrata um pouco o género filme Negro em Paris: é a captação de um momento surpreendentemente violento da ligação entre dois desconhecidos, atraídos um pelo outro com um magnetismo tal que nem as placas de vidro nem o veículos a alta velocidade podem separá-los. O filme, em slow-motion com explosões de esculturas em vidro e água consagra os dois supostos amantes numa expressão de tempo que parece ser uma das mais extraordinárias expressões de desejo... em 4 minutos.

fred

oliveira


dias

nuno

Não se brinca com coisas sérias! Pois é, todos sabemos disso, mas no que toca a comédia não é bem assim... Para mim, só de coisas sérias vale a pena rir! Aqui vemos um “sketch” feito para a BBC, para o “Red Nose Day” (um dia dedicado aos doentes), criado pela dupla Ricky Gervais e Stephen Merchant. E que tão bem sabe lidar com estas “coisas sérias”. Percebo-os tão bem e provavelmente partilho a mesma irritação ao ver o dramatismo e sentimentalismo normalmente associados a estas causas: é uma feira de vaidades para ver quem consegue transmitir mais pena... Mas, mais do que isso, é um dedo apontado a toda uma indústria que tira partido desse mesmo sentimentalismo, para arrecadar mais uma tarde de tempo de antena, vender mais umas canções no iTunes, ou vender mais uns detergentes para a roupa. É um oportunismo desenfreado, mas que poucos parecem ter em conta o tão ridículo e hilariante que é toda a situação. Mas o nosso país é mestre nisso, está no DNA dos ‘Tugas

ter pena. A religião, o fado, a mágoa e a submissão fácil à emoção estão connosco há tantas gerações, que tamanha manipulação emocional tinha de dar em qualquer coisinha má. Tornámo-nos num povo mesquinho, invejoso e sem mais nada para projectar a nossa energia e atenção, a não ser para nós próprios. Mas acho que não estamos sozinhos neste universo da melancolia, pelos vistos um tal país chamado Grã-Bretanha também sofre da mesma doença. Se calhar até é uma doença mundial! Felizmente, tenho a sensação de que os putos mais novos já estão a melhorar desta “condição”. Pois é, ter pena de nós próprios, ou dos outros, não é mesmo nada bom para a saúde, muito menos para os que se submetem à nossa caridade. É tão bom ver este vídeo e gozar com todo este fenómeno. A dupla faz um filme destes todos os anos; o de 2009 também é de partir a rir. Dos poucos de vocês que ainda não tiveram a oportunidade de ver, não percam mais tempo, porque vale mesmo a pena. Não há mesmo nada melhor do que rir de coisas sérias!


silvério do

canto Há filmes que nos remetem para determinados hábi- não passou de um sonho. Certamente que Gilliam e tos ou rituais, alguns deles bem banais e partilhados Burton guardam livros de notas na sua banquinha de pelo comum dos mortais. O ritual a que me refiro, cabeceira para que, ao acordar de um desses estageralmente passa-se entre o primeiro e o segun- dos, possam extrair as melhores ideias para as suas do toque do despertador. Aqueles minutos em que criações. É também nessa altura que os sonhos se afortunadamente uma pessoa se permite deixar en- misturam com as primeiras preocupações do dia. volver num misto de sonho e realidade. Num estado O filme a que faço referência, foi certamente conceem que a mente, por livre arbítrio, nos faz mergulhar bido numa destas manhãs, em que o seu autor, preonum mundo surreal. É de facto a única altura em cupado com os ovos que iria fazer ao pequeno almoque a mente nos permite recordar os caminhos para ço, mergulhou neste sonho inquieto. A meu ver, José onde nos leva sem autorização. Nestes escassos Miguel Ribeiro e Pierre Bouchon misturam o medo minutos, tudo é possível e com uma tal intensidade, com o desejo de um ovo, criando uma deliciosa hisque até a nós nos custa perceber que, afinal, tudo tória, repleta de surrealismo e humor negro.


Não se brinca com coisas sérias! Pois é, todos sabemos disso, mas no que toca a comedia não é bem assim... Para mim, só com coisas sérias que vale a pena rir! Aqui vemos um “sketch” feito para a BBC para o “Red Nose Day” (um dia dedicado aos doentes), criado pela dupla Ricky Gervais e Stephen Merchant. E que tão bem sabe lidar com estas “coisas sérias”. Percebo-os tão bem e provavelmente partilho a mesma irritação ao ver o dramatismo e sentimentalismo normalmente associado a estas causas, é uma feira de vaidades para ver quem consegue transmitir mais pena... Mas mais do que isso é um dedo apontado a toda uma industria que tira partido desse mesmo sentimentalismo para arrecadar mais uma tarde de tempo de antena, vender mais umas canções no iTunes, ou vender mais uns detergentes para a roupa. É um oportunismo desenfreado, mas que poucos parecem ter em conta o tão ridículo e hilariante que é toda a situação. Mas o nosso país é mestre nisso, está no DNA


música

vai uma

trinca?

Para quem gosta de música e gostava até de a compor, mas não tem arte nem engenho para o fazer, há agora alguma esperança e alguns espaços disponibilizados para o efeito no ciberespaço, onde qualquer pessoa – mais ou menos talentosa, mais ou menos destra, mais ou menos mouca, mais ou menos arguta, pode exercitar os seus dotes de composição. Para os mais exigentes, os melómanos, poderá parecer fast-food, saber a comida requentada, com ingredientes de fraca qualidade em evidente estado de deterioração. Mas para os aprendizes das sonoridades musicais, poderá ser como se de uma receita se tratasse: a escolha do prato; a selecção pormenorizada dos ingredientes; a combinação individual na dosagem correcta, seguindo uma ordem pré-estabelecida e, depois, servir em forma de audição, mais ou menos requintada, mais ou menos apaladada, mais ou menos apalavrada, e sempre com vestimentas musicais dignas de um qualquer Sergei Rachmaninov.


www.thebluesmaker.com

A vantagem ĂŠ que aqui os ingredientes podem ser uma e outra vez colocados e retirados, sem se perderem qualidades significativas no produto final. Vai uma trinca?


mĂşsica

www.incredibox.fr


a

imagem no teatro por Ana Pais

www.teatropraga.com


Dois exemplos significativos da mais nova geração teatral

teatro

A partir do momento em que a cena teatral começou a ser concebida como espaço arquitectónico, com qualidades plásticas e sensoriais particulares, a imagem no teatro deixou de se poder resumir à ilustração visual de um texto. Pelo contrário, hoje são por vezes as palavras que parecem ilustrar o universo materializado na cena. O primeiro grande marco desta história é o encenador Robert Wilson, cujas famosas partituras cromáticas, rítmicas e arquitectónicas (quem não se lembra de “Alice”, na Lisboa’94, ou a ópera “O Corvo Branco” no Festival dos Cem Dias, 1998?) revolucionaram a forma de pensar e criar o espaço cénico. Caso emblemático do conceito que nasce disruptivamente nos finais dos anos 70, Wilson é o grande mago do Teatro de Imagens. Evoluindo ao longo de décadas, este conceito tornou-se, de certo modo, no formato de culto das artes performativas pós-modernistas.


Não obstante a sua proximidade perigosa com a imagem mediatizada e o discurso dominante dos media, o suporte vídeo e a câmara na mão, tanto ou mais do que o cenário tradicional, tiveram um impacte visual enorme, irreversível para a percepção do espectáculo. Seja para os pequenos teatros alternativos, preocupados com o detalhe e a ambivalência das captações de imagem em tempo real do que acontecia “realmente” em cena, seja para os espectáculos de grande escala, cuja dinâmica e intimidade possibilitada por este meio é essencial, o vídeo passou a ser uma ferramenta (e uma linguagem típica da contemporaneidade. O teatro português não foi excepção, rendendo-se aos poucos à abertura potencial da imagem cénica, aos recursos que poderia utilizar – criticamente ou não – e à centralidade que o discurso da imagem conquistara no nosso mundo mediático. Fatalmente, a imagem mediada, à qual estamos expostos diariamente, tornou-se não só facilitadora da comunicação com os novos públicos, com novos hábitos, mas também eficaz na criação de um estilo estético, identificável e articulado. Dois exemplos significativos da mais nova geração teatral em que a problemática da imagem está presente são, por razões distintas, a companhia Teatro Praga e Patrícia Portela.


teatro


Embora existindo desde 1995, foi com a adaptação do clássico russo “Um Mês no Campo”, de Turgueniev, em 2002 (valendo-lhes o Prémio de Teatro da Década), que a sua imagem de marca se começou a evidenciar e o grupo foi conquistando terreno dentro das novas tendências do teatro português. Companhia de teatro residente do Centro Cultural de Belém para o ano de 2010, o Teatro Praga caracteriza-se por criar espectáculos com um registo explosivo e uma velocidade estonteante. Este colectivo, assumidamente sem encenador, já levou à cena projectos com diferentes pressupostos, alguns partindo de textos ou recriações desses textos (“Private Lives”, de Neil Coward, “Avarento” ou a “Última Festa” de José Maria Vieira Mendes a partir do clássico de Molière), outros de temas que procuram interrogar (“Eurovision” – sobre a identidade europeia, “Padam Padam” - sobre catástrofes), outros ainda de parcerias com

outros artistas (“Shall we dance”, ciclo de duetos). No entanto, todos eles, sem excepção, encontram na exuberante concepção plástica da cena, bem como numa estrutura fragmentária e, por vezes, desconcertante, uma linha de pesquisa do seu projecto estético. Nos seus mais recentes trabalhos, os Praga atingiram o clímax da composição imagética em cena (facto a que não será alheio o upgrade logístico dos espaços de apresentação dos espectáculos – Teatro São Luiz e CCB), sistematicamente associada à forte componente musical e às atmosferas de luz dos seus espectáculos. Em “Avarento”, um statement geracional sobre a necessidade de matar a figura do pai, a cena apresentava-se com uma parafernália de objectos coloridos: desde um Volkswagen vermelho até às televisões empilhadas, sofás e casotas de cães que marcavam o espaço de jardim e de interior da peça.


trícia Portela vem apresentando, porém, um trabalho singular. A dramaturga, cenógrafa, figurinista, documentarista e performer posiciona-se muito claramente face ao registo fragmentário e excessivo, típico do pós-modernismo, demarcando-se dele por meio de uma voz pessoal e de uma polivalência transversal da sua formação. Actualmente, o hibridismo já não existe enquanto objectivo estético, mas enquanto pano de fundo da formação destes artistas. Estigmatizado por uma noção de espectacularidade instrumentalizada pelos media, o mundo contemse transformava num vídeo-clip colorido e espam- porâneo vive numa dimensão de realidade filtrada, panante, com uma projecção no fundo do palco que fabricada, mediada. No projecto trilogia “Flatland”, ocupava todo o espaço onde a banda tocava ao vivo cuja primeira parte “Para Cima e Não para Norte” e os actores se multiplicavam em danças e canções, foi agraciada com a menção especial do Prémio da com uma piscina com crocodilos de plástico no fos- Crítica de 2006, Patrícia Portela mostra-nos que, muito provavelmente, o mundo sempre foi assim, so da orquestra… Pertencente à mesma geração do Teatro Praga, Pa- apenas o modo como se fabrica o real vai mudando Rodeado por cinco ecrãs gigantes, onde imagens vídeo eram constantemente projectadas, o espectáculo insistia na presença de hits musicais da pop francesa (e não só) e de efeitos de luz a condizer, convocando o universo veloz e imparável dos vídeoclips, relativamente aos quais o texto parecia ganhar uma actualidade (do tema) bizarra (em relação ao conflito dramático). No que toca à relação entre música e imagem, o recente “Demo” foi o espectáculo mais arrojado, em escala e concepção. Tratava-se, justamente, de um musical em que a toda a cena


ao longo dos tempos. Com inventividade luminosa, Portela concebeu um espectáculo sobre a realidade e a aparência, sobre os modos como criamos o real com várias camadas de leitura e fruição. A história do Homem Plano (um ponto numa letra de um livro) surge como pretexto para falar destes temas. Não vemos o actor em cena, escutamos somente a sua voz, que vai surgindo escrita, simultaneamente, num gigante livro cénico, onde imagens e palavras são projectadas. Noutro espectáculo mais recente, “O Banquete”, Portela leva ao extremo a utilização da imagem na medida em que dissipa qualquer superfície que se possa contemplar, constituindo-se num espaço e num acontecimento em que o espectador participa, quer queira quer não. Ele é o convidado de honra de um jantar requintado, sentando-se ao longo de mesas luminosas com a forma do ADN, onde lhe será apresentado um projecto de ciência genética ­­— Second Chance. O que é proposto ao público é a experiência vivida a partir de uma questão polémica que diz respeito a toda a humanidade. Do anterior projecto mantém-se, curiosamente, a ideia de uma voz ausente que o espectador (textos complexos sobre a história de Fausto e de um paraíso reeinventado em voz off), só que desta vez o espectador, rodeado por tantos estímulos, tem de escolher se lhe quer dar atenção. A questão é que, ao se retirar a acção da cena (em termos do teatro tradicional, na verdade, não acontece nada ao longo do espectáculo a não ser o jantar), colocam-se uma série de opções em cima da mesa para o público fazer: degustar? Conversar? Ouvir? Espreitar? Questionar? Por experiência própria posso dizê-lo: quanto mais se quer compreender o que se passa, mais se perde a oportunidade de o fruir e de tomar as decisões certas.


teatro


collection www.hugoprattforcortomaltese.com


Colecção inspirada na arte do desenho de Hugo Pratt

moda

Todos os pormenores do vestuário das personagens de Hugo Pratt, principalmente Corto Maltese, parecem sair da mão de uma grande estilista. Tendo como base o traço único das ilustrações de Hugo Pratt, será lançada uma colecção Outono Inverno 2009/2010 e apresentada na Colette, em Paris. Tecidos de grande qualidade e adequados serão características das várias peças. Sobretudos e casacos, como os de Corto Maltese, deixaram de existir apenas em duas dimensões. Vamos poder sentir-nos mais perto da pele do nosso herói: é que uma das iconográficas criações será o CABAN (peacoat), símbolo de Corto, com faixas douradas e botões personalizados. Existem também outros modelos baseados nas várias aventuras desenhadas, entre eles vestuário usado por Corto nas suas viagens à Sibéria, e até t-shirts. Poderemos não conseguir ter o aspecto blasée de Corto Maltese, mas agora será possível imitá-lo com muito mais estilo.



moda


Tierra, tierra! Aunque mejor diria Cielo,

porque sin duda estamos en el paraje de la famosa Lisboa. Cervantes


fotografia













Em 1994, Luís Silva dedicou parte do ano a registar imagens de uma parcela de Lisboa que a Expo98 viria a ocupar. Hoje, Parque das Nações. www.flickr.com/photos/luissilvaphoto


www.converse.com

your own design


Um ícone urbano que ultrapassa fronteiras da moda

ícone

Converse transporta a imagem de marca para além da própria marca, tranversal a várias gerações, personifica descontração com muito estilo. Não se trata quanto antigos são, mas da qualidade intemporal que têm para conseguirem ser referência durante tanto tempo. Um nome que se ouve desde 1908, quando Marquis Mills Converse decidiu iniciar uma empresa de calçado de borracha, numa época em que eram um sub-produto das empresas de sapatos. Converse desenvolve uma marca independente, apenas desse tipo de sapatos, inovadora o suficiente para se aliar ao desporto: o basquetebol. Em 35, Jack Purcell empresta o seu nome a um modelo, desta vez de badminton, e ganha cinco campeonatos consecutivos, garantindo uma enorme popularidade para a marca. Com a Segunda Guerra surgiu a oportunidade singular de produzir produtos destinados a militares: calçado, vestuário, botas


para pilotos e soldados do exército, parkas, fatos de protecção e de borracha. Nos anos do Rock & Roll o uniforme era o blusão de cabedal, os jeans e, claro, os ténis, e assim os Converse passam dos campos de basquetebol para os passeios. Muitos anos depois, o seu lugar no desporto e cultura continua a desafiar a concorrência, honrando um património de ver as coisas de um modo diferente, de querer mudar o mundo e de celebrar o espírito de rebeldia e originalidade, no basquetebol, no badminton, no Rock & Roll, ou onde quer que seja. O seu legado ultrapassa gosto, estilo ou performance, é uma forma de estar, que vem de há um século

Well baby, that’s just me”, muito nova para ter uns Converse? Não parece! O ícone urbano que ultrapassa fronteiras da moda, criando colecções sob temas como arte, música, entre outros, permite-nos agora criar os nossos próprios converse. Escolhendo os sapatos, o estilo e os materiais, personalizamos à nossa maneira o que queremos nuns ténis perfeitos, sejam eles, Chuck Taylor All Star, (Hi Canvas; Ox Canvas; double tongue…) Jack Purcell ou Skate. Para além de usarmos modelos elaborados por vários artistas, ilustradores e designers, podemos, agora, ser criadores da imagem dos nossos modelos.

até hoje. Prova da sua actualidade é a letra de uma Aqui ficam algumas propostas que, a par do espiríto música da jovem estrela da Disney, Demmi lovato: da marca, poderíam preconizar a imagem da Kryp“Who said i can’t wear my Converse with my dress? ton.


Ă­cone



Filme para o qual gostaria de ter feito o storyboard. Projecto pessoal concretizado ou ainda na gaveta. Boa publicidade feita com ilustração.


joão

catarino

“Duel” foi imediatamente o filme que me ocorreu, e nestas questões acho bem seguir a energia do primeiro impulso. “Duel”, de 1971, foi a 1.ª longa metragem de Steven Spielperg, o filme que o fez sobresair na indústria de Holywood, numa altura particularmente difícil e concorrida para os jovens realizadores se imporem. Com poucos meios, um orçamento ridículo e um argumento básico fez com que plateias de todo o mundo se colassem às cadeiras para verem um camião a perseguir um carro, usando com mestria uma fórmula clássica e muito simples de criar “suspense”, como num “triller”, mas neste caso num “road movie”. O filme vive sobretudo dessa grande qualidade evidenciada pelo realizador para criar uma sequência de planos fantástica, com uma montagem altamente cuidada e bem articulada com os sons ambiente, com a expressão da PRESA em fuga, bem descrita na figura inocente de um comerciante de meia idade, que guiava pelo deserto da Califórnia um impotente Plymouth Valiant laranja, e um PREDADOR potente monstruoso de ferro ferrugento mas sem rosto. Este filme é uma revelação directa das folhas de um “story board” para uma película de cinema.


o story board


o projecto

Tal como foi sugerido, escolho a série de desenhos que ilustram um percurso de quatro dias que fiz numa carrinha VW “pão de forma”, de 1973, de norte a sul de Portugal, pelo eixo equidistante entre Espanha e o Atlântico, feito pela Estrada Nacional n.º 2, publicada em Setembro de forma sequencial em quatro edições do jornal “i”. Uma reportagem também ela num tom road movie.


ilustração




a publicidade

De facto tive de me direccionar: os exemplos bem sucedidos de ilustração na publicidade são muitos, se ainda considerarmos toda a publicidade feita até aos anos 60, altura em que esta passa a recorrer sobretudo à fotografia, então aí o leque de possibilidades é infindável. Por ligações “afectivas” à marca lembrei-me imediatamente do bom exemplo da publicidade Volkswagen que tem atravessado décadas com uma identidade gráfica bastante forte, de boa legibilidade e coerência e, por consequência, todos os exemplos que foram a génese desse conceito publicitário, feitos até à década de sessenta, utilizando a ilustração como principal suporte visual de comunicação. O exemplo que mostro será eventualmente um dos primeiros anúncios que se conhecem do VW, antes da 2.ª Guerra rebentar, quando em 1938, pela primeira vez, saiu das linhas de montagem com o nome de KDF e, só mais tarde, popularizado com o nome Volkswagen. Esta ilustração é muito descritiva e cla-

ra, tal como desde aí sempre foi. Numa só imagem, mostra, para que toda a gente perceba, que o KDF foi um projecto de um veículo para o povo, (vêem-se vários KDF na mesma imagem) numa altura em que ter automóvel era inacessível para um alemão de classe média. Um carro para toda a família, onde se sentassem comodamente quatro pessoas, (exemplo de um agregado familiar “tipo ideal” de classe média (pai mãe e dois filhos). Repare-se na “publicidade enganosa”: a família aparece subdimencionada para dar ideia de que o carro é muito maior! Finalmente, o terceiro requisito: era necessário que o carro pudesse rolar à velocidade estabilizada de 100 km/h para circular rapidamente na mais recente criação alemã, as auto-estradas. Curiosamente, o VW foi criado ao abrigo dessa conjuntura de política social, mas também sobretudo com a finalidade de criar um instrumento gigante de propaganda nacional alemã desenvolvida antes do início da guerra.



joão

menezes

o story board

Quando me perguntaram qual o storyboard que gostaria de ter desenhado, pensei logo em dois ou três filmes de que gosto muito. Talvez o “Oito e Meio” do Fellini, ou o “Dias do Paraíso” (Days of Heaven), do Terrence Malick. No entanto, se queria tirar o maior partido de desenhar coisas de que gosto e com a dinâmica que um storybord transmite, não seria exactamente nenhum destes o eleito. ”Heat”, de Michael Mann, seria a escolha acertada. É um filme com um ritmo impressionante, com uma montagem perfeita. Mann é exímio na utilização da luz mais intensa, tornando os seus filmes mais clean e estilizados, é perfeito no design também. Gosto do minimalismo que os seus cenários têm. Acima de tudo, poderia desenhar cenas de acção, com carro de polícia voltados ao contrário, por exemplo, e movimentos de câmara fantásticos. Enfim, um divertimento.


ilustração


o projecto Tenho em mente fazer duas BD's sobre histórias de guerra. Aquele a que vou dar mais importância, em breve, é a adaptação do livro de José Rodrigues dos Santos “A Filha do Capitão”. Sempre desejei fazer uma história sobre a 1.ª Guerra Mundial, talvez por ouvir desde sempre histórias sobre o meu avô, que participou na “batalha de La Lys”. É também uma das guerras mais peculiares e mortíferas de sempre. Também é um tema muito gráfico, já tratado impecavelmente em filmes como “Paths of Glory”, de Kubrick, ou mais recentemente no filme “Um Longo Domingo de Noivado”, de Jeunet. O cinema tem uma importância enorme no meu trabalho, tanto na motivação, como na informação que estou sempre a absorver. Uma overdose de imagens. Tenho por isso uma quantidade enorme de DVD's que não raramente são uma ajuda preciosa.Como tenho boa memória, volta não volta, sei exactamente em que filme posso ver determinado guarda-roupa ou certa sequência de planos.




ilustração



a publicidade A ilustração utilizada em publicidade, da qual gosto muito, é o trabalho de Hugo Pratt para a Dior.


Paulo


Nasceu em 1966; estreou-se em 1984. Actor de teatro, cinema, televisão, desenhos animados, jogos, publicidade e o que mais houver. Cavalo no zodíaco chinês (lebre na “Underland”).

o

personalidade caso, interpretam o papel de um locutor; mas nunca é a mesma coisa: o estilo e a maneira de inflexionar de um actor e de um locutor são facilmente perceptíveis, é uma questão de escolha ou de gosto. Há também muitos actores que fazem publicidade e que fazem dobragens, estes têm, normalmente, uma amplitude vocal mais vasta e são capazes de registos muito diferentes. 2. Bem e recomendam-se! Sempre tivemos a sorte,

em Portugal, de ter bons actores a dobrar (ao contrário de alguns países em que a dobragem é de tal maneira uma indústria, que os actores dobradores são aqueles que não chegam ao teatro ou à televisão). É necessário, no entanto, ter cuidado com a chegada do “star sistem” à nossa cultura; é uma coisa que terá uns dez anos, mais ou menos, e neste 1. Qual é a diferença entre um actor e um locutor? momento ser “star” não é equivalente a ter qualida2. Por falar em dobragens, como é que estão as de; lamentavelmente, este sistema está a entrar em dobragens em Portugal? todos os campos e, enquanto esse equilíbrio (star/ 3. Mas falando de publicidade também se pode falar qualidade) não se estabelecer, os produtos (publicide um produto artístico? dade, filmes e até espectáculos teatrais) vão sofrer efeitos negativos. 1. Sem querer generalizar (nem para um lado nem para o outro), os locutores têm geralmente uma 3. Porque não? Se pensarmos nos vários ramos da colocação da voz mais cheia, menos projectada, publicidade, temos bons exemplos de criação artísmuito colocada em função do microfone; têm um tica: ao nível do grafismo, um logótipo terá de transtimbre muito regular e facilmente reconhecível; têm mitir uma imagem comercial, mas deve ser feito por tendência para fazer inflexões parecidas e com uma um designer gráfico, que é também um artista, pométrica muito regular; é um estilo antigo, mas que demos dizer o mesmo da fotografia; e se formos à ainda é muito pedido hoje em dia. publicidade para televisão, aí então temos um leque Os actores interpretam. Têm inflexões mais varia- interminável de artistas, da cenografia À realização, das (e podem ser capazes de ter vários registos vo- da iluminação À interpretação, etc.; se voltarmos à cais) e são o ideal para o caso de haver diálogos; os locução para rádio, uma interpretação é também um actores também fazem vozes de companhia e, nesse trabalho artístico.


Brazbom Paulo Lagarto


gastronomia

Cortam-se as cebolas em rodelas finas, os cogumelos pleurotos e os espargos verdes em pedaços. Frita-se o alho no azeite até alourar. Juntam-se as rodelas de cebola. No mesmo azeite, fritam-se depois os cogumelos pleurotos, ou de outro tipo, juntamente com as pontas dos espargos verdes até corarem. Após estas operações misturam-se a batata palha com o refogado previamente cozinhado. Retira-se do lume. Batem-se os ovos, junta-se uma colher de natas azedas, temperando-os com sal e pimenta e juntando-os ao preparado. Leva-se de novo ao lume, mexendo-se constantemente com uma colher até que os ovos fiquem macios. Serve-se de imediato numa travessa aquecida, polvilhando com folhas de violeta. 750 gr. de batata-palha frita 0,5 kg de cebolas 200 gr. de espargos verdes 200 gr. de cogumelos 1 alho esborrachado 6 ovos 3,5 dl. de azeite 3 ou 4 folhas de violeta Pimenta q.b. Recomenda-se ser servido com salada de rúcula.





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