Revista Rascunho - Edição especial Mulher

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Edição 01 - ano 01 - n 01 24 de outubro de 2014 jornalismo.ufma.br/licristina

Rascunho

Câncer de mama: campanha de conscientização e prevenção acontece no mundo inteiro

Outubro é ROSA!


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO REITOR Natalino Salgado Filho DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL CHEFE DE DEPARTAMENTO Rose Ferreira COORDENADOR Sílvio Rogério Rocha DISCIPLINA Jornalismo de Revista PROFESSORA Li-Chang Shuen Cristina Silva Sousa DIAGRAMAÇÃO Lorena Araújo ALUNOS/REPÓRTERES Arlíria Frazão José Cordeiro Neto Julianne Saraiva Lorena Araújo Matheus Coimbra Sabryna Mendes Júnior Figueiredo


Índice Editorial: Feminilidades 4 Direitos das mulheres: “lacunas e entraves dificultam os trabalhos” 7 A tríplice função: elas e eles 8 Cor-de-rosa: campanha mundial de conscientização 9 A mulher e seu papel na sociedade 12 Elegância à la anos 50 16 O que vai na nécessaire 18 VOLTA & MEIA 20 O Telefone 22


Editorial

Feminilidades O mundo pós-moderno é, em grande medida, um mundo feminino. Feminino, não feminista. Ocupamos mais postos de trabalho, mas menos postos de comando. Aqueles que ocupamos, ocupamos sob contestação. Às vezes explícita, às vezes veladamente, sempre nos defrontamos com o patriarcalismo ditatorial do “lugar de mulher é na cozinha”. Basta fazermos algo errado que algum engraçadinho solte essa pérola. Nós podemos até governar um país, mas não somos presidentas. Somos presidentes, para que a palavra sem flexão de gênero nos lembre sempre que estamos ali, temporariamente, ocupando um espaço que tradicionalmente é para os homens. Mas nosso salto, nosso batom, nosso perfume e nossas inúmeras camadas de rímel insistem em ocupar o espaço do terno, do sapato invariavelmente preto combinando com o cinto, o perfume amadeirado e o gel pós-barba dos donos do mundo. Seria tão mais simples compartilhar responsabilidades. Alguns dos governantes e políticos mais influentes da Europa nas últimas três décadas usam saias. No Brasil, a presença feminina na política é oscilante. Nas eleições de 2014, as assembleias estaduais e o Congresso Nacional estão menos cor de rosa. Menos mulheres foram candidatas, menos mulheres foram eleitas. Falta espaço para nós dentro das estruturas partidárias. Poucas lideranças femininas surgiram nestas eleições porque o verdadeiro espaço de debate e de participação é dominado pelas tradicionais figuras masculinas, os caciques do voto. Obviamente, o menor protagonismo feminino também tem a ver com o desinteresse de boa parte das mulheres por esse modelo de política que barganha e loteia cargos públicos em detrimento da efetiva mudança social e das políticas que verdadeiramente contribuiriam para uma maior inserção da mulher nos espaços de poder. Apesar desse cenário de declínio da participação feminina na • 4

política partidária, tivemos três mulheres disputando as eleições presidenciais, sendo as três protagonistas, e não coadjuvantes, no pleito. O fato de uma ter ido para o segundo turno e o apoio de outra ter sido decisivo para o outro candidato nessa disputa diz muito sobre a força que as brasileiras que sabem encontrar seu espaço de luta na política têm no Brasil. É preciso capilarizar essa força, aumentando o número de mulheres em conselhos deliberativos de bancos e empresas, em cargos de direção na iniciativa privada, em cargos executivos nos órgãos públicos, em lugares de visibilidade nas artes e culturas para além da graça e da beleza. É um longo caminho, mas com avanços e retrocessos seguimos lutando.



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Direitos das mulheres: “lacunas e entraves dificultam os trabalhos” José Cordeiro Neto

No Brasil, os primeiros movimentos em prol dos direitos das mulheres começaram por volta da década de 1920. Conquistando aos poucos cada vez mais espaço, em 1932, as brasileiras conseguiram o direito de votar. Mas, somente após a promulgação da Constituição de 1988, as mulheres foram, efetivamente, ouvidas. A data 8 de março foi reconhecida, oficialmente, pela Organização das Nações Unidas (ONU), como dia Internacional da Mulher em 1977. A professora e pesquisadora de gênero da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Meire Ferreira classifica a data como histórica e simbólica. “Retrata a luta por direito das mulheres”, destaca. Meire, que, também, está à frente do Fórum Maranhense de Mulheres, responsável pela articulação de todos os grupos de feministas de São Luís, ressalta que apesar do todo o caminho de vitórias já percorrido, muito ainda pode ser conquistado pelas mulheres. “Vive-se um momento de implementação. Temos um plano avançado, mas existem lacunas e entraves que dificultam os trabalhos”, aponta.

Violência Doméstica Segundo ela, mais importante que a estrutura criada para amparar as vítimas de violência doméstica, por exemplo, é preciso que exista um ousado programa de cultura. “Nós temos vários organismos para punir, mas continua a violência. É preciso políticas de educação e cultura, que formem uma nova mentalidade nas escolas e nas famílias”, acrescenta. Poder

Ela lamenta, também, a distribuição do poder no país. “Apenas 12% do poder está nas mãos das mulheres. O poder ainda é, extremamente, masculino. Isso contribui para que as mudanças não aconteçam”, conclui.

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A tríplice função: elas e eles Júnior Figueiredo

Se não bastassem os preconceitos, o medo da criminalidade, os assédios sexuais e a constante preocupação com os cabelos, a mulher ainda é cobrada em assumir a tão famosa tríplice função social: mãe, esposa e profissional. Escrevendo isso me veio a imagem da minha mãe. Ela era meio que equilibrista. Segurava meu irmãozinho mais novo com uma mão, cozinhava com a outra, e vendia cosméticos por telefone, o segurado entre o ombro e o ouvido. Dentro desse malabarismo, a coitadinha ainda se preocupava se meu pai ia chegar e vê-la com seus bobes na cabeça. Ela era um tipo de Dona Florinda com seus tesouros. Já meu pai não era um Professor Girafales com um buquê de rosas à mão. Ele queria a comida preparada, as crianças arrumadas para a escola e, se possível, um mulher que ajudasse nas despesas no final do mês. Ufá... Só de escrever isso já me canso, mas, só hoje penso o quanto era cansativo para minha pobre mãe. Além de tudo isso, ela ainda tinha que sair recolhendo minhas meias, brinquedos e sapatos espalhados pelos corredores da casa. Contudo, os tempos mudaram. Os bobes foram substituídos pelos “Baby liss” e o aperfeiçoamento dos eletrodomésticos facilitou a vida das donas de casa. Entretanto, apesar de todos os avanços da classe feminina, principalmente no que tange a legislação, uma coisa não mudou: elas continuam acumulando, não somente três, mas, inúmeras funções simultâneas. O grande desafio desse século é superar preconceitos, ser mãe, igualarem seus direitos e ainda continuarem se preocupando com seus cabelos. Realmente não é fácil. Diferentemente do passado, hoje, muitas mulheres pensam duas vezes antes de engravidar, por exemplo. Em determinados setores, grandes empresas dão prioridade a homens, pois sabem que mulher grávida pode ser um problema trabalhista no futuro. Como os bons empregos estão cada vez mais con-

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corridos, o acúmulo de funções vem se tornando um desafio ainda mais árduo para elas. Para piorar, no que diz respeito as classes mais simples, existem trabalhos que são estereotipados exclusivamente para homens. Alguém já viu uma pedreira? Ou ajudante de pedreira? Encanadora? (até o word sublinhou como uma palavra que não existe). Alguém já viu uma estivadora? Enfim.... podem até ter visto, mas tenho certeza que com raridade. Mas, apesar de tudo isso, no fundo, o que importa não é qual a profissão, quanto elas ganham ou se conseguiram se igualar ao papel dos homens. Para as mulheres modernas o que importa é o quanto ela está realizada consigo mesma. De fato, preconceitos existem. Não só de homens. Muitas mulheres desdenham outras que optam por largar o emprego para cuidar das crianças e do marido. Elas a vêem como um retrocesso ao gênero. Sem dúvidas, isso incomoda as que traçaram por esse caminho, mas, definitivamente, não deve ser o fator determinante para uma escolha. Coerente mesmo é que homens e mulheres compreendam as mudanças da sociedade. Não é justo que apenas um gênero carregue as responsabilidades que devem ser compartilhadas. De fato, não se pode criar uma fórmula ou receita de bolo. Para alguns casais é conveniente que as mulheres assumam as funções domésticas e educacionais. Para outros, é oportuno que o homem o faça. De fato, já se foi o tempo dos bobes na cabeça e do malabarismo doméstico. Já não é mais obrigação da mulher assumir múltiplas funções sozinha. Como disse, não há receita de bolo. Cada casal com sua realidade e suas aplicações. Que deixemos a vida dos vizinhos e dialoguemos sobre a nossa. É quase certeza que a grama deles não está mais verde que a nossa....


fatores que estão associados ao aumento do risco de desenvolver a doença. A própria idade é um deles, pois a chance aumenta na medida em que se envelhece. Menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade (não ter filhos), primeiro filho em idade avançada, não amamentação e uso de terapia de reposição hormonal são fatores associados ao risco. Consumo excessivo de álcool, obesidade na pós-menopausa e sedentarismo também. Os fatores hereditários são responsáveis por menos de 10% dos cânceres de mama. O risco é maior quando os parenbilizar a sociedade e estimular tes acometidos são de primeiro a participação na luta contra a grau (pai, mãe, irmãos, filhos). doença, o segundo tipo de câncer mais comum no mundo. É sempre possível notar a doEntre as atividades do ença por meio do toque nos Outubro Rosa, este ano, des- seios? Não, existe uma fase em tacam-se o ensaio e exposição que as lesões são do tipo não-palfotográfica nos shoppings da ca- páveis. Por isso, é importante a pital – realizados pela Fundação realização de exames frequentes. Antônio Dino em parceria com alunos do Curso de Fotografia Prótese de silicone nos seios Roberto Sobrinho, do Centro de pode levar à doença? Não Criatividade do Odylo Costa Fi- há evidência científica de que lho – e o desfile de encerramento, exista associação entre imem 31 de outubro, eventos que plantes mamários de silicobuscam resgatar a feminilida- ne e o risco de desenvolvide da mulher mastectomizada. mento de câncer de mama.

Cor-de-rosa: Campanha mundial de conscientização Lorena Araújo

O Outubro Rosa é uma campanha mundial de conscientização do câncer de mama, realizado pela primeira vez em 1990. Hoje, o movimento é contemplado por diversas entidades de cuidado e tratamento oncológico, com a finalidade de informar a importância da prevenção e diagnóstico precoce da doença. Por todo o mundo, empresas e grandes marcas declaram apoio à causa e aproveitam a oportunidade para se destacar no mercado.; educadores e profissionais da saúde realizam palestras e ações sociais simbólicas que levam a campanha à população. Não faltam homenagens, lacinhos e monumentos enfeitados durante o mês cor-de-rosa. No Maranhão, a iniciativa de campanha é da Fundação Antônio Dino, instituição filantrópica, em conjunto com o Hospital do Câncer Aldenora Belo, referência em oncologia no estado. Assim, durante o mês de outubro, a fundação e o hospital promovem eventos para sensi-

Como é o tratamento de câncer de mama? O tratamento deve incluir a opinião de vários especialistas médicos, assim como enfermeira especializada, psicóloga, fisioterapeuta e assistente social. Habitualmente, pede cirurgia e é complementado pela radioterapia e quimioterapia/hormonioterapia. Quando O que causa o câncer de mama? diagnosticado precocemente, Na maioria dos casos não há tem 95% de chances de cura. uma causa específica. Há alguns Previna-se! A ocorrência do câncer de mama tem se tornado mais frequente a cada ano. No Maranhão, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, a taxa estimada é de 17,03 casos para cada 100 mil habitantes. Aproveite a campanha para tirar dúvidas:

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Salários estão desproporcionais ao preparo das mulheres História mostra lutas femininas por espaços no mercado de trabalho

“Todos são iguais perante a lei”, assim está disposto na constituição de 1988, porém as posturas adotadas pela sociedade brasileira não costumam acordar com o que está escrito na carta magna. Assim, as mulheres, por exemplo, são postas à margem da sociedade e exploradas de diversas formas. Estes comportamentos discriminatórios são percebidos até mesmo no ambiente de trabalho, ou seja, há uma falsa convenção do que seja emprego para homens e para mulheres, tendo a força física como prin• 10

cipal diferencial. Além disso, a qualificação ainda não os equipara, ainda que realizem as mesmas atividades. “Por mais que as mulheres tenham o mesmo grau de formação que os homens, elas sempre vão ganhar menos, mesmo ocupando os mesmos cargos”, afirma a integrante do movimento feminista em São Luís, Stephany Pinho. Para o professor Inácio Araújo, isso é fruto de um processo histórico, que começou a ser modificado durante a primeira guerra mundial, em que os homens foram obrigados a ir

para as frentes de batalha e as mulheres começaram a assumir o lugar deles, tanto na família quanto no mercado de trabalho. “Foi nesse período que as mulheres, já inseridas na indústria, fizeram sua primeira demonstração de insatisfação, onde se reuniram e protestaram por melhores condições de trabalho nas fábricas russas, após a morte de centenas de companheiras”, conta. Com a chegada do sistema capitalista, aconteceram diversas mudanças nos processos de produção e organização do trabalho feminino. “Algumas leis passaram a beneficiar as mulheres. Ficou estabelecido na Constituição de 32, por exemplo, que ‘sem distinção de sexo, a todo trabalho de igual valor correspondente salário igual; veda-se o trabalho feminino das 22 horas às 5 da manhã; é proibido o trabalho da mulher grávida durante o período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois; é proibido despedir mulher grávida pelo simples fato da gravidez’”, declara o professor. Atualmente, é cada vez mais evidente que o mundo vem apostando em valores e qualidades femininas, entre eles o trabalho em equipe, a persuasão e a cooperação. “Não resta dúvidas de que nos últimos anos a mulher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. Este fenômeno mundial tem ocorrido tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, e o Brasil não é exceção”, explica


a assistente social e pesquisadora do tema, Silvane Magali. Porém, vale ressaltar, que a ocupação de tantos espaços tem sido acompanhada por uma grande dose de desigualdade salarial. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Catho, empresa de recrutamento e seleção de executivos, no Brasil, as mulheres recebem o equivalente a 61% do salário dos homens. Elas somam 41% da força de trabalho, mas ocupam somente 24% dos cargos de gerência. Somado a isso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que as mulheres com algum tipo de ocupação formal e assalariada registraram aumento significativo nos últimos três anos, 58,5% (619,8 mil pessoas). Em termos salariais, embora em 2012 os homens tenham recebido, em média, R$2.126,67, e as mulheres, R$ 1.697,30, a pesquisa registrou que o salário feminino sofreu um aumento real superior ao masculino: 2,4% contra 2%. No setor público, as mulheres estão ocupando a maioria dos postos de trabalho. Segundo a pesquisa Central de Empresas (Cempre), divulgada pelo IBGE em março deste ano, 58,9% das pessoas ocupadas na administração pública são mulheres e 41,1% são homens. Outras pesquisas mostram que as mulheres são escolhidas para a maior parte das novas vagas. Ao mesmo tempo, elas têm se preocupado mais do que os homens com a instrução. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) mostrou que, em 2003, 44,7% das mulheres desocupadas tinham 11 anos ou mais de

estudo, em 2011, essa proporção aumentou significativamente, alcançando 61,3%. “A ocupação das mulheres no mercado de trabalho cresceu muito na última década. A isso se deve o aumento de escolarização e qualificação”, avalia a Silvane. É o caso de Patricia Coimbra, que trabalha há oito anos na Prefeitura Municipal de São José de Ribamar (MA), e atualmente compõe a equipe da assessoria de planejamento e gestão de metas, da Secretaria Municipal de Administração. Patricia ressalta que a conquista deste espaço se deu tão somente por seu mérito profissional. “Tive muita experiência em diversos cargos, de assessora técnica a chefe de setor. Paralelo a isso, me formei em Ciências Contábeis e cheguei à coordenação que hoje ocupo”.

Os números falam de importantes conquistas para elas, como a grande quantidade de emprego assalariado, porém a qualidade das condições de trabalho nem sempre são as desejadas. “É muito complicado pra uma mulher assumir uma função de liderança e, quando ela consegue, tem que lidar com críticas que não são feitas aos homens. O chefe rígido é só um chefe rígido e chato, mas uma mulher é sempre encarada como exagerada, histérica e rabugenta”, constata a feminista Stephany Pinho. Nesta perspectiva, a independência financeira foi uma importante vitória para elas, que além das tarefas profissionais acumulam a função de mãe, esposa e dona de casa. Porém, apesar dos esforços e da evolução conquistada, as mulheres ainda precisam lidar com discriminação e a desigualdade salarial, o que, sem dúvida, é um grande desafio para os próximos anos.

Matheus Coimbra

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A mulher e seu papel na sociedade Erika Alves

As mulheres vêm conquistando seu espaço na sociedade. O comportamento feminino apresentou significativas mudanças nas últimas décadas. Dos anos 50 até os anos 2000, várias conquistas marcaram a história da mulher na sociedade passando de boa dona de casa a presidente do Brasil. Porém a emancipação feminina foi conseguida aos poucos e por meio de muita luta. Na década de 50 a tradição e os valores conservadores eram predominantes, as mulheres casavam cedo e tinham filhos. A mulher dessa época, além de cuidar da casa, ser boa esposa e mãe, deveria estar sempre bela e bem cuidada. Ao analisar revistas dos anos 50 é comum observarmos frases como “O lugar da mulher é no lar, o trabalho fora masculiniza” (Revista Querida, 1955). No entanto é importante destacar que em 1951 foi aprovada pela Organização Internacional do Trabalho, a Igualdade de Remuneração entre o trabalho masculino e feminino para função igual, que foi um grande avanço para os direitos femininos. Porém, a igualdade de salá• 12

Mulheres exercem os mais altos cargos. Foto: Reprodução

rios até hoje não foi totalmente conquistada pelas brasileiras. Já os anos 60 foram marcados por uma grande conquista: o surgimento da pílula anticoncepcional. Graças à pílula o comportamento sexual feminino tornou-se mais liberal e a mulher passou a escolher não ter filhos. O Movimento Feminista se fortaleceu com as ideias da norte americana Betty Friedan e deram início a um movimento de autonomia e profissionalização feminina. As mulheres ousaram pela primeira vez, se vestir com roupas masculinas, como o smoking. E a cantora Elis Regina usou pela primeira vez uma minissaia na TV. O estilista Yves

Saint meiro às

Laurent,foi o pria dar de presente um smoking mulheres, em 1966

Também na década de 60 foi sancionado o Estatuto da Mulher Casada, que garantiu que a mulher não precisava mais de autorização do marido para trabalhar, receber herança e em caso de separação ela poderia requerer a guarda dos filhos. Nos anos 70, houve um crescimento da participação feminina no mercado de trabalho. A incorporação das mulheres foi ocasionada pelo crescimento econômico do país. Surgiram ainda novos grupos de mulheres que buscavam discutir a ques-


tão da condição feminina. E a partir de 1979, começam a ser organizados encontros com o objetivo de discutir os direitos e o papel da mulher na sociedade. As mulheres dessa época trabalhavam fora, mas o mercado de trabalho ainda era bem restrito. Segundo a professora aposentada, Creusa Pereira, “as mulheres geralmente estudavam para ser professora, faziam o curso Normal que hoje equivale ao ensino médio”. Os anos 80 foram marcados pela luta do movimento feminista contra a violência às mulheres e pelo princípio de que os gêneros são diferentes, mas não desiguais. Em 1988, a Constituição Federal consagrou, pela primeira vez na história do país, a igualdade de gênero como direito fundamental . Movimento feminista no Brasil A década de 90 foi um marco na história da mulher no mercado de trabalho, pois esta conseguiu mais espaço e direitos e se mostrou tão capaz quanto o homem de exercer qualquer tarefa. No entanto, mesmo quando são mais instruídas ganham menos que os homens. Mas, no que diz respeito à liberdade as mulheres passaram a ser mais livres até para se vestir com roupas masculinas como, o bermudão. Mulheres exercendo os mais altos cargos Já nos anos 2000 o perfil das mulheres é bem diferente daquele da década de 50. Ela

ocupa altos cargos, que antes eram ocupados somente pelos homens, além de ser mãe e dona de casa. A mulher também passou a ter mais instrução, e mesmo com a discriminação em relação ao trabalho feminino ganhou respeito mostrando profissionalismo. Outra grande conquista da mulher foi a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, que visa proteger as mulheres vítimas de abuso e agressão. Ao longo dos últimos 60 anos as mulheres conseguiram mudar de forma significativa o seu papel na sociedade, porém ainda precisam reverter algumas desigualdades, como a salarial entre os homens. No entanto já provaram que são capazes de provocar profundas mudanças no curso da história.

Movimento feminista no Brasil. Foto: Reprodução

O estilista Yves Saint Laurent foi o primeiro a dar de presente um smoking às mulheres, em 1966. Foto: Reprodução

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Julianne Saraiva

O vestuário já teve diversas funções ao longo da história da humanidade, como proteger o homem do frio, indicar distinção social e hoje é um meio de expressão individual e coletivo. Essa capacidade de expressão se intensificou a partir da década de 50, quando a moda foi democratizada devido a uma série de acontecimentos.

A década de 1950 é uma das épocas mais glamourosas! Época que finda a guerra mundial e o racionamento de cosméticos e tecidos. Quando todos previam simplicidade e conforto, Christian Dior, em 1947, propôs o luxo através do “new look” que revolucionou a moda e marcou a volta da feminilidade,. De silhueta marcada e decotes, as

Christian Dior, fundador do New Look, 1947

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mulheres abusavam em vestidos e saias rodadas, confeccionados com metros de tecido. Também investiam nos acessórios, como luvas, joias, cintos finos, lenços amarrados no pescoço, salto alto, chapéu, batom vermelho, olhos marcados com delineador e máscara para cílios. As primeiras calças femininas foram criadas nesse período, entretanto, as mulheres que as usavam eram julgadas devido ao estereótipo de que a calça era somente roupa de homem. Demorou para que o preconceito fosse superado, mas, ao ser deixado de lado, a calça virou febre. O luxo foi um elemen-


to essencial nessa década: a alta costura atingiu seu auge através do cinema. Os maiores nomes da época foram Marilyn Monroe, Audrey Hepburn e Grace Kelly, intituladas as divas da década. As personagens do cinema tinham como características a independência e coragem, em contraste com a mulher de 1950, cuja função era ser uma bela e boa dona de casa, esposa e mãe. A moda na atualidade é vista como: “nada

Marilyn Monroe à esquerda, Audrey Hepburn acima e Grace Kelly abaixo

se cria, tudo se reinventa”, ou seja, as tendências de hoje são, na verdade, releituras da moda de décadas atrás. Portanto, o que se usa hoje pode ser considerado de extremo bom gosto e, daqui a um tempo, pode não ser mais. Esse “vai e vem” da moda é normalmente intensificado pelo momento em que vive a sociedade. As mudanças constantes de conceito do corpo, do gosto e da opinião na moda são características que marcam a transição de uma tendência à outra. Hoje a exposição do corpo é muito mais abordada e observada na moda. A procura pela sensualidade, elegância e sofisticação é nítida quando se fala de “modismo”. A frase “tudo que é bonito, é pra se mostrar” faz referência à permissividade da mulher na pós-modernidade, tendo em vista a

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valorização da mulher em seu aspecto mais feminino. A variedade de estilos, por sua vez, é uma questão que envolve a personalidade do indivíduo e a tendência a qual ele se adequa.

LINHA DO TEMPO DA MODA

Anos 50

A feminilidade era expressa através dos vestidos e conjuntos amplos, na altura das canelas, com a cintura extremamente marcada. Acessórios não poderiam faltar, como chapéus, luvas, joias e claro, salto alto estava sempre presente.

Anos 60 Nessa época o uso de vestidos do tipo trapézio, com linhas retas, geométricas e românticas, se tornaram os preferidos entre as mulheres. Entre elas, a primeira modelo estrela, Twiggy (na foto acima).

ANOS 50

Anos 70 Explosão de cores, brilho e estampas psicodélicas. O movimento Hippie surgiu, juntamente com as discotecas, com o propósito de uma revolução comportamental. Considerada a “era do individualismo”, os anos 70 ficou marcado pelas roupas artesanais, cabelos compridos e diversos acessórios. • 16

ANOS 70

ANOS 60


Anos 80 As roupas ao estilo hippie da década anterior dão lugar às proporções avantajadas. O exagero (penteados volumosos, joias grandes, chapéus grandes e bolsas grandes) era marca registrada. Foi o grande marco e popularização da moda, com sobreposição de roupas rodeadas por um cinto, uso de roupas de ginásticas e muitas cores alegres.

ANOS 90

Anos 90 O ciclo da moda é encerrado, todos os anos se misturam em um só. Não havia mais tribos urbanas ou identidade ideológica, nessa época a personalidade do indivíduo decide o que vai vestir. Roupas largas, xadrez, estampas, jeans, cintura alta, meiacalça, cabelos soltos, tudo se une.

Anos 2000 Temos a releitura de peças e tecidos existentes desde o iníicio do século, como por exemplo, a silhueta marcada e o decote, salto alto, maquiagem e joias. Há quem segue a tendência da moda, seguindo a moda da estação ou look do momento, e também quem adota um estilo próprio, sem regras ou rótulos.

2000

ANOS 80 • 17


O que vai na nécessaire Li-Chang Shuen

Impossível imaginar a vida sem um cremezinho, um batonzinho, um perfume. Vida sem rímel e delineador? Tão impossível que as egípcias, há milhares de anos antes de nós, já tinham seus estojinhos de maquiagem e cosméticos entre seus pertences mais valiosos. O que seria do olhar perfeito se não fossem as egípcias, aliás? Ah, Cleópatra, temos um segredinho para compartilhar com você: os cosméticos evoluíram e se naquela época, com os recursos disponíveis, você já era considerada a mulher mais bonita do mundo, imagine o que seria de você hoje? Podia não ser a mais bela, porque a concorrência está braba, mas seria certamente a rainha da vaidade. Não é à toa que minha nécessaire se chama Cleópatra! Todos os itens que carrego comigo são essenciais, mas vou mostrar aqueles segredinhos responsáveis pelos meus cílios longos e volumosos, minha pele sequinha, radiante, sem manchas e viçosa e meus lábios de matar Angelina Jolie de inveja. Prontas? Item de necessidade básica número um na minha vida: rímel. Quis a natureza que meus cílios naturais fossem curtos, ralos e castanhos claríssimos, quase loiros. Não dá pra ter um olhar fatal assim, né? Para tapear a natureza, eis o segredo: rímel High Im• 18

pact Extreme Volume da Clinique. Custa uma pequena fortuna (R$ 95,00), mas vale cada centavo. O olhar de boneca é garantido. Para a maquiagem do dia-a-dia, a invenção do milênio, sem dúvida, é o BB Cream. Essa base com protetor solar que ainda por cima hidrata e trata a pele tem todos os atributos para ser beatificada pelo Vaticano. O da marca L’Oreal é imbatível. Custa R$ 30,00. Tão bom que não precisava ser tão barato. O envelhecimento precoce e o tom desigual da pele exposta ao sol são dois problemas que ataco com um produto simples: Bio Oil, da PurCellin Oil. Outro produto de trinta dinheiros. É um óleo natural. Mas, ao contrário do que possa parecer, ele não deixa o rosto parecendo com uma frigideira. O produto é todo absorvido rapidamente pela pele. Os poros dilatados começam a se reduzir com quatro semanas de uso. A pele ganha um tom radiante e aqueles pés de galinha chatos, típicos dos 30 e poucos anos, são empurrados para a próxima década.


Batons Avon, linha Renew

Bio Oil, da PurCellin Oil, R$ 30,00 BB Cream L’Oreal, R$ 30,00 Máscara para cílios High Impact Extreme Volume da Clinique, R$ 95,00

Depois de lavar o rosto com um bom gel de limpeza, a pele fica pedindo um tônico. A L’Occitane en Provence tem um tônico incrível de nome chique em francês: Eau Radieuse Face Toner, com extrato de Angélica e óleos essenciais. O cheiro é suave, não queima a pele e prepara pra receber o creme reparador Creme Radieuse, da mesma linha Angélica. O tônico custa R$ 30,00 (versão de 50ml) e o creme R$ 175,00 (50ml). Os lábios requerem cuidados especiais em nosso país de clima tropical. Para evitar ressecamentos ainda não inventaram batom melhor que os da linha Renew da Avon. Os meus variam entre o nude e o vermelho-quasevinho. Ok, batom da MAC é legal, mas não hidrata tanto quanto o Renew. O preço fica em torno de R$ 40,00. A beleza vale cada centavo que você investir nela.

Tônico e creme reparador faciais, L’Occitane en Provence, R$ 30,00 e R$ 175,00 • 19


VOLTA & MEIA Arlíria Frazão

Ana Paula Arósio está de volta!

Hora de matar as saudades da talentosa Ana Paula Arósio. Previsto para chegar aos cinemas em outubro de 2015, A Floresta que se Move, novo filme de Vinicius Coimbra, contará com a presença da bela. A atriz volta ao trabalho após uma pausa de quatro anos.

Noiva Encantada

Já pensou entrar no altar trajando um vestido baseado na sua princesa favorita? É possível. A Disney lançou recentemente uma linha que usa como inspiração as personagens do mundo encantado. São oito modelos, de diferentes tecidos e texturas, baseados nas personalidades de cada princesa. Tem para todos os gostos: desde a corajosa Ariel, de A Pequena Sereia, até a simpática Tiana de A Princesa e o Sapo.

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30 anos de BB

No dia 28 de setembro Brigitte Bardot completou oitenta anos. A atriz tornouse um mito por sua beleza e autenticidade e mudou toda uma geração. Há mais de trinta anos, luta em causas pelo bem-estar dos animais.


Melhore sua vida ouvindo música

E se fosse possível usar apenas a música como um remédio para aliviar a ansiedade, ajudar na memorização de um trabalho, diminuir a depressão ou manter a calma no trânsito? De acordo com o livro Sua playlist pode mudar sua vida, escrito pela psiquiatra Galina Mindlin, ouvir as canções favoritas e algumas melodias primitivas (sons de cachoeira, folhas de árvores balançando ao vento), é importante para ter uma vida mais equilibrada.

Abstenção pode gerar vício

Cuidado com dietas restritivas, como aquelas que pregam eliminar o glúten ou o açúcar. Existe o risco de desenvolver compulsão alimentar após o final da dieta, ou seja, ficar viciada naqueles alimentos que foram vetados. Lembre que os inimigos da saúde são o sedentarismo, o estresse e uma alimentação desequilibrada.

A it-bag Le Pliage Heritage está chegando

A bolsa Le Pliage Heritage, da Longchamp, encantou as famosas lá no hemisfério norte. As atrizes Katie Holmes e Jessica Alba e a fashionista Alexa Chung já foram fotografadas desfilando com seus modelos coloridos. Lançada em setembro, a it-bag de couro liso da marca francesa desembarca no Brasil nas próximas semanas e custará R$ 3.240,00.

Crianças correm riscos na internet

Compartilhar as atividades dos filhos nas redes sociais é muito comum nos dias atuais. Porém, é necessário certo cuidado ao divulgar imagens das crianças na internet. Sequestro, pedofilia, buylling e roubo estão entre os principais riscos. Evite postar fotos das crianças sem roupa, usando o uniforme da escola ou na frente da casa em que mora.

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O Telefone Sabryna Mendes

Domingo, nove horas da manhã, no auge da clareza do dia, onde o céu é tão azul e o sol tão amarelo que parecem pintados à mão, Dulce está sentada na cadeira de balanço do quarto pouco se importando com as cores do sol e do céu lá fora. Com a TV desligada, o rádio desligado e as janelas fechadas para bloquear o som, ela está em um silêncio melódico e profundo. Silêncio armado para poder ouvir o telefone tocar. Nada pode atrapalhar o barulho do telefone. Ele precisa soar alto e estridente pelo cômodo inteiro. Está esperando uma notícia. Não desgrudou do telefone desde a noite anterior e muito menos cochilou na cadeira enquanto esperava. Teve medo de fechar os olhos e por conseguinte os ouvidos. Imagina se o telefone toca e ela está dormindo? Que tragédia! Dulce está ansiosa, nos últimos dias tem andando de um lado para o outro com a sensação de que as horas não passam nunca. Uma aflição. No começo, o relógio também parecia não colaborar, tudo era lento. Cada movimento, cada progresso, era uma novidade e ao mesmo tempo uma ânsia. Por que demorava tanto? Por que não podia ver logo o resultado daquilo tudo? Ela se perguntava, totalmente esquecida das leis da natureza. Ela continua ali com os tímpanos atentos enquanto lembranças resgatam o momento em que ela soube por uns papéis carimbados que não poderia gerar seus próprios filhos. Foi uma dor tão dilacerante quanto perdê-los já crescidos. No entanto, infelizmente, eles não haviam nem nascido. Dulce sonhava com suas crianças brincando no jardim da casa, arrumadas para o primeiro dia na escola, abrindo seus presentes na noite de Natal e via uma • 22


felicidade imensa nisso. Quando soube que não poderia engravidar caiu em prantos, não quis saber das alternativas, queria nascer de novo e apta para ser mãe. O tempo foi passando, Dulce se acostumou, mas não se conformou, achava a vida muito injusta até o dia que sua irmã apareceu e apresentou uma ideia que mudaria tudo: ter seus filhos no seu lugar. Mas como? Iria tomar seu marido emprestado? Não, não. Ciência. Tecnologia. Modernidade. Sua irmã, dotada de toda a generosidade que só uma irmã pode ter, emprestaria sua barriga magra e bem cuidada para ter os filhos que Dulce tanto queria. Um gesto de amor incalculável. Deram início aos procedimentos e em pouco tempo estava tudo pronto: começava a contagem regressiva para o nascimento. Durante o primeiro mês tudo parecia intacto e Dulce, mãe de primeira viagem, ficava preocupada: ele não vai crescer logo? Um misto de agonia e ansiedade que aos poucos ia chegando ao fim. Ninguém sabia ao certo quando o bebê ia chegar, mas as expectativas eram enormes. Na última semana, Dulce foi enviada para uma outra cidade a trabalho. Pensou em recusar porque sabia que seu filho ia nascer logo, logo, e queria estar por perto. Mas não podia, se recusasse, perdia o emprego. Então no terceiro dia de viagem, o bendito telefone tocou avisando que sua irmã entrara em trabalho de parto. Justo quando ela estava longe. Agora estava ali, sentada, esperando novamente pela voz no outro lado da linha que diria entre sorrisos o que ela queria ouvir há tanto tempo. Mais uma olhadinha no relógio, uma checada para ver se tudo estava funcionando, e nada. Então decidiu ligar ela mesma e o que ouviu foi a mesma coisa das últimas quatro vezes: “Ainda não, Dulce. Vamos ligar assim que ele chorar pela primeira vez.” Miguel. Já tinha escolhido o nome antes mesmo de saber que não poderia criá-lo em seu próprio ventre. Um nome lindo, homenagem ao avô. Queria que seu filho fosse um homem bom e íntegro, como ele: um exemplo. Miguel estava demorando demais. Dulce se balança pra frente e para trás, confere os movimentos, vai até a cozinha, toma um copo d’água, abre a geladeira, fecha a geladeira, volta para a sala, senta na cadeira, checa o telefone, volta a se balançar. No primeiro impulso, um som invade o quarto de uma parede a outra por um décimo de segundo, porque Dulce sequer deixa o toque se completar. Do outro lado, uma voz doce e materna tal qual ela teria dali pra frente: Nasceu, minha querida. Nasceu.

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