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REVISTA
Edição 02 - JUNHO - 2015
Editorial
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Pedro Paulo da Silva Ayrosa
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No momento, a EAD pública brasileira passa por um profunda reflexão sobre o seu modo de fazer, seu marco regulatório e seu sistema de financiamento, objetivando desenvolver e garantir uma Educação a Distância ágil, desburocratizada e de qualidade. Aqui na UEL não poderia ser diferente, sendo parte das nossas reflexões expressas nos artigos desta edição. Oferecemos para o leitor o artigo sobre “Os Cincos Pilares da Gestão na EAD e outro sobre “Afinal, o que é EAD?”, cujos títulos são auto explicativos. Em entrevista para o NEAD, o Prof. Dr. Oscar Masssaru Fujita quebra paradigmas e preconceitos ao mostrar otimismo no setor que envolve a Educação a Distância. Outra matéria, sobre o papel do tutor e sua influência na efetiva participação dos alunos, traz esclarecimentos sobre tutoria e suas competências. A mestre em Educação, Claudinea Angélica dos Santos apresenta a história da EAD na UEL com o artigo: “Dos primeiros passos mediados por recurso tecnológico até a EAD: as experiências da UEL”. O Prof. Dr. Ronaldo José Nascimento, da UEL, em co-autoria com o Diretor Executivo do Instituto de Ensino e Formação a Distância da Universidade Católica Portuguesa , Prof. Dr. Antônio Augusto Fernandes, escreve sobre “ As falácias ou os grandes equívocos do e-Learning” E este é todo o conteúdo que pensamos e preparamos para você, uma boa leitura, Diretor
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o ano que o Laboratório de Tecnologia Educacional, órgão responsável pelo Núcleo de EAD da UEL, completa 40 anos, a edição número dois da nossa Revista Digital chega para iniciar as comemorações do aniversário.
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Índice
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Dos Primeiros Passos Mediados Por Recurso Tecnológico Até a EaD: As Experiências da UEL 06
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Os Cinco Pilares da Gestão na EaD 10 Afinal, o que é EaD? 12 Entrevista: Professor Oscar Fujita 14 Ser Tutor de um Aluno a Distância Soma, Subtrai, Multiplica ou Divide? 20 As Falácias ou os Grandes Equívocos do e-Learning 23
Bolsistas http://www.uel.br/nead/portal/ comunicacao@uel.br (43) 3371 4133
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Expediente Edição nº 02 - 2015 Reitora: Profa. Drª Berenice Quinzani Jordão Vice-reitor: Prof. Dr. Ludoviko Carnasciali Coordenador NEAD/UAB: Prof. Dr. Pedro Paulo da Silva Ayrosa - ayrosa@uel.br Equipe Comunicação Edição e reportagens: Cristiane Garcia Grande - crisgrande@uel.br Revisão: Eduardo Baccarin - eduardobaccarin@hotmail.com Design Gráfico Gabriel Sampaio - gabrielsampaiodesign@gmail.com Rafaela Boletti – rafaelaboletti@gmail.com Colaboração Antônio Augusto Fernandes Claudinea Angélica dos Santos Ronaldo José Nascimento
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Artigos
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Dos Primeiros Passos Mediados Por Recurso Tecnológico Até a EAD: As Experiências Da UEL
Dos Primeiros Passos Mediados Por Recurso Tecnológico Até a EAD: As Experiências Da UEL Claudinea Angélica dos Santos
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aprimoramento da tecnologia provocou alterações no modo de vida, e o homem se apropriou das mesmas para auxiliá-lo no desenvolvimento de suas atividades. As tecnologias, aplicadas especificamente na educação formal, ocasionaram alterações na forma de se organizar o espaço e o tempo, e muito se discute sobre as reverberações quanto à forma de ensinar e aprender. Entre os estudiosos da Educação a Distância, encontra-se um ponto convergente nas análises, que recai sobre a importância da tecnologia na educação formal que é permitir que mais pessoas tenham acesso ao conhecimento científico escolarizado.
Dos Primeiros Passos Mediados Por Recurso Tecnológico Até a EAD: As Experiências Da UEL Claudinea Angélica dos Santos
Artigos
A Universidade Estadual de Londrina, preocupada com a ampliação dos conhecimentos científico-tecnológicos nas décadas de 1970 e 1980, esteve sempre voltada para a utilização dos recursos tecnológicos disponíveis.
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curso de Tecnologia Educacional desenvolvido pelo Núcleo de Tecnologia para a Saúde e o Centro Latino-Americano de Tecnologia Educacional, NUTES/CLATES da UFRJ, que resultou no curso autoinstrucional organizado em módulos instrucionais, dividido em Em 27/05/1978 ocorre a implantação do 15 fases e enviado aos docentes da UEL. Curso de Metodologia do Ensino Superior¹ do Departamento de Educação, ComunicaO material disponibilizado aos docentes ção e Artes – CECA, com o intuito de tornar compunha-se de recursos impressos e mais dinâmica as aulas e o uso dos novos audiovisuais, como textos, fitas-cassete e recursos tecnológicos no espaço acadêmico. fitas de vídeo de programas televisivos³ . Nesse interim, a professora Estela Neste contexto, a professora Maria Nilce Okabayasky Fuzii, assumiu a coordenação do Missel, articula o SADIPE4 , um programa interno, vinculado ao PADES. PADES² - Projeto de Apoio ao Desenvolvi mento do Ensino. A importância das ações implantadas via SADIPE, podem ser medidas pela manuEm junho de 1978, a Folha de Londrina divulga que o PADES iniciava suas atividades tenção das mesmas, trinta e sete anos 7 na UEL, por meio da comissão instituída pelo depois. Atualmente o serviço de assessoreitor Oscar Alves, cumprindo o convênio ramento a comunidade externa e interna assinado com a CAPES. da UEL, é realizada pela equipe pedagógiO reconhecimento do curso de especializaca do LABTED – Laboratório de Tecnoloção e a inserção da universidade no PADES gia Educacional5. impulsionaram a elaboração de projetos, curso de aperfeiçoamento e capacitação de Em meados de 1980, o NTE – Núcleo de docentes da UEL. Tecnologia Educaciona6l inicia o curso de Microensino com ênfase nos recursos tec nológicos da época. Com o objetivo de trazer novas ideias para a UEL, a professora Maria Cauduro foi ao Rio de Janeiro no ano de 1978, para ver de perto o ¹ Atualmente o curso recebe a denominação de Curso de Especialização em Docência da Educação Superior – CEMAD ² Programa de capacitação do pessoal docente, que vislumbrasse o aperfeiçoamento das práticas pedagógicas em sala de aula. ³ Cabe ressaltar que segundo informações coletadas, os materiais do curso autoinstrucional se perderam ao longo dos anos. Registrase que uma pesquisa mais ampla e apurada sobre tais materiais e, em decorrência, a interpretação dos mesmos, podem ser caminhos investigativos interessantes para avançar nos estudos a respeito da utilização dos recursos tecnológicos nos cursos de capacitação para professores e técnicos da UEL. 4 O SADIPE era um Serviço de Assessoramento Didático Pedagógico para professores da UEL. 5 Curso de Intencionalidade Pedagógica como Estratégia de Ensino. Para maiores informações sobre o curso consultar a página da UEL na internet: www.uel.br/labted 6 Atualmente, Laboratório de Tecnologia Educacional da UEL - LABTED
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No ano de 1984, a prof. Estela participou do 16º Congresso Brasileiro de Tecnologia Educacional, em Porto Alegre, onde se reuniram representantes de todos os estados para apresentar as experiências realizadas em suas instituições. Ainda na década de 1980, o Programa de Integração Universitária e Teleducação Capricórnio – PIUTEC; um consórcio entre 25 universidades, envolvendo países como Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Peru é desenvolvido na UEL sob a direção da Professora. Estela Okabayasky Fuzii. Neste período, intensifica-se também a realização de seminários para discutir o uso de tecnologias na educação e a UEL está presente em quase todos. Em 1981, o reitor José Carlos Pinotti, acompanhado do Professor José Aloyseo Bzuneck, do Departamento de Educação, representam a UEL em um evento sobre o PIUTEC, organizado pelo Instituto Profissional de Arica, no Chile. Em 1986, o Núcleo de Tecnologia Educacional, órgão ligado à reitoria da universidade, começou a exportar os materiais produzidos nas ações do PIUTEC, como a produção de vídeos instrucionais, blocos de slides, pois a UEL foi uma das instituições que, por estar envolvida nas atividades destas agências de fomento, montou
uma estrutura onde se produzia material didático, utilizado nas práticas de ensino a distância. Em 1987, a UEL foi convidada pelo Instituto para a América Latina – IPAL- e o Instituto para a América Latina no Peru, da UNESCO para coordenar o projeto nacional “Vídeo Universitário”, que deixou como saldo positivo para a Instituição, a videoteca da UEL, hoje denominada midiateca, detentora de um acervo aproximado de 5800 títulos, organizada por gênero ou título de filmes e documentários, cuja pesquisa sobre o acervo pode ser realizada pelo site www. uel.br/labted e a locação é realizada na secretaria da mesma. A UEL desenvolveu neste período, o Cinema Educativo, com o objetivo de produzir filmes educacionais7 , que são utilizados como materiais didáticos e sua aplicação como recurso tecnológico junto à educação, elevando a qualidade educacional. Segundo a profª Estela, os programas propiciaram diversos debates na UEL e, de certa forma, contribuíram para as ações que, posteriormente, culminaram na EAD. O NTE, na década de 1990, absorveu o PADES e outros programas relacionados ao uso da tecnologia na educação, dando continuidade, com algumas adaptações, aos projetos em desenvolvimento.
7 De acordo com Oliveira (2006), “No Brasil, em 1936, foi criado o Instituto Nacional do Cinema Educativo, sob a direção do antropólogo Roquette Pinto. Com a colaboração de cineastas como Humberto Mauro, o INCE realizou em torno de quatrocentos curtas-metragens até sua extinção em1966, sendo quase um terço deles voltado para temas de educação científica e de divulgação de ciência e tecnologia. Ao lado de iniciativas oficiais, havia também movimentos de pessoas engajadas na divulgação científica como um dos meios de modernização do país”.( p.137)
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Artigos
Assumindo a definição de Moore e Kearsley (2007), que definem EAD como: [...] o aprendizado planejado que ocorre normalmente em um lugar diferente do local de ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais. (p. 02)
Claudinea Angélica dos Santos, Mestre em Educação e pedagoga da UEL. Veja mais em: http:// goo.gl/LGoKqr REFERÊNCIAS BUCCI, Eugênio. É possível fazer televisão pública no Brasil? Novos estudos. - CEBRAP [online]. 2010, n.88, pp. 05-18. ISSN 0101-3300. | CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura, vol. 3, São Paulo: Paz e terra, 1999. FÁVERO, M. L. A. A Universidade no Brasil: das origens à Reforma Universitária de 1968. Educar, Curitiba, n. 28, p. 17-36, 2006. Editora UFPR | GUIMARÃES, Paulo Vicente. A Contribuição do Consórcio Interuniversitário de Educação Continuada e a Distância – BRASILEAD - para o desenvolvimento da educação nacional. Em Aberto, Brasília, ano 16, n.70. abr./ jun. 1996.JAMBEIRO, Othon. A TV no Brasil do século XX. Salvador: 2002, EDUFBA). | LITTO, F.; FORMIGA, M. (Org.). Educação a distância: O Estado da Arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. | MOORE, Michael; KEARSLEY, Greg. Educação a Distância: uma visão integrada. Tradução Roberto Galman. São Paulo: Thomson Learning, 2007. | MORAN, José Manuel. Desafios da educação com novas tecnologias. 1995 s/p. Disponível em: www.eca.usp.br/prof/moran. Acesso em:: 25/03/2012 | OLIVEIRA, B. J. Cinema e imaginário científico. História, Ciências, Saúde Manguinhos, v. 13 (suplemento), p. 133-50, outubro 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v13s0/08.pdf Acesso em: 10/05/2013>Acesso em:: 20/05/2013
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Conclui-se que as ações desenroladas no período de 1978 a 1988, pautadas no uso das tecnologias educacionais disponíveis naquele contexto, podem ser consideradas como precursoras de uma forma de se fazer Educação a Distância na UEL. Foram características das ações desenvolvidas: a preocupação com o processo de ensino e aprendizagem; a autonomia do aluno/docente; a realização de atividades síncronas nos momentos de atividades presenciais, para a solução de dúvidas e orientações e assíncronas, quando os docentes estudavam nos momentos oportunos, com os materiais de áudio e vídeo e os impressos; a predominância do planejamento no desenvolvimento das ações e o uso de diversas tecnologias. Finalmente, destaca-se que o trabalho desenvolvido por todos os envolvidos nos Projetos PADES e PIUTEC, conjugavam o uso das tecnologias em prol da educação superior, de acordo com o contexto da época. Tais ações projetaram o nome da instituição no cenário nacional e internacional e, como exposto, podem ser indicados como as principais ações, a partir das quais, se iniciou o caminho para a inserção definitiva da EAD na UEL.
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Matérias
Os Cinco Pilares da Gestão na EAD
Os Cinco Pilares da Gestão na EAD Revista Accio - edição n° 02 - Junho - 2015
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lém dos fatores tradicionais da educação presencial, somados à velocidade dos processos da sociedade contemporânea, a questão da Gestão da Educação a Distância apresenta-se como um objeto complexo devido às várias dimensões inerentes ao tema, principalmente quanto aos aspectos tecnológicos e logísticos envolvidos. Gestão é o mecanismo sistêmico responsável pelos processos de planejamento, organização, execução, acompanhamento e controle envolvidos no desenvolvimento de cursos a distância. Assim, sob uma visão macro, podemos classificar 5 grandes áreas que devem ser articuladas pelo processo de gestão, aqui chamados dos 5 pilares da gestão da EAD: o institucional, o organizacional, o pedagógico, o tecnológico e o logístico.. Vejamos cada um deles sob o viés dos cursos de graduação, aplicando-se, no conjunto, para cursos de extensão ou pós-graduação: O pilar institucional suporta principalmente as relações exteriores da instituição com
o meio-ambiente ou com ecossistema da EAD, trata da participação e representação nas entidades organizadas e envolvidas com a educação a distância, compartilhando experiências e boas práticas além de acompanhar, discutir e contribuir nas políticas de EAD extramuros que envolve os processos de regulação e supervisão. De uma forma geral, corresponde ao comprometimento da instituição com os aspectos coletivos e normativos da EAD. O pilar organizacional corresponde ao conjunto de orientações, diretrizes e a ações internas que demonstram o envolvimento efetivo da instituição com a estruturação e operação dos projetos e ações da Educação a Distância. Sob este pilar encontrase a proposição e aprovação de normas internas, definição de fluxo de processos,
planejamento organização execu
Os Cinco Pilares da Gestão da EAD Prof. Dr. Pedro Paulo Ayrosa
Ambiente Virtual de Aprendizagem e das interfaces deste com os outros sistemas institucionais. Por último, temos o pilar da logística. Considerando que sempre existem restrições a serem observadas na execução dos diversos processos da EAD, a logística assume uma importância capital, visto a flexibilidade de espaço-temporal da EAD, isto é, a possiblidade de “estudar em qualquer horário e em qualquer lugar”. Ela deve ser suportada por uma rede de ações otimizadas que envolvem planejamento, produção e distribuição do material didático, confecção, envio, aplicação, retorno e correção das provas presenciais, além das visitas, estágios e aulas práticas realizadas nos polos de apoio presencial. Na prática, os 5 pilares da gestão da EAD estão descritos, quase sempre de forma distribuída, nos documentos institucionais que são: Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), Projeto Pedagógico Institucional (PPI), Projeto Político-Pedagógico do Curso (PPC). Contudo, algumas informações são detalhadas em outros documentos específicos formados por planos (Plano de Logística, Plano de Uso de Mídias, Planos de Disciplina, Planos de Aula, entre outros), relatórios (Relatório de Avaliação, Relatório de Evasão e demais) além de documento coordenador que reúne e sintetiza todas as informações, muitas vezes esparsas nos vários documentos institucionais, chamado Plano de Gestão de EAD.
ução acompanhamento controle
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administração financeira e de pessoal, além de outros processos clássicos da administração. Outro eixo extremamente importante envolve os aspectos pedagógicos que devem ser estruturados em consonância com o Projeto Pedagógico Institucional, no qual as concepções do ensinar e aprender de forma global como entendido pela instituição estão delineados. Aqui, algumas escolhas envolvem paradigmas pedagógicos e processos avaliativos além de serem estabelecidas e explicitadas nos projetos pedagógicos dos cursos. Envolve também uma série de premissas e diretrizes na preparação do material didático a ser utilizado pelos cursos da modalidade EAD. O quarto pilar diz respeito às tecnologias de informação e comunicação. Este ponto é extremamente sensível pois envolve dois aspectos fundamentais: capacitação dos vários atores da EAD (professores, tutores, cursistas, etc.) na utilização das tecnologias, e investimentos constante na atualização da parque tecnológico englobando questões de hardware, software e pessoal técnico responsável pela gerência do
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Afinal, o que é EAD?
Afinal, o que é EAD? Revista Accio - edição n° 02 - Junho - 2015
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urante as minhas aulas presencias para os estudantes do curso de Ciência da Computação, invariavelmente, alguns conteúdos envolviam um alto grau de abstração e síntese para a compreensão dos conceitos estudados. Um exercício que eu sempre propunha era que eles tentassem explicar de forma simplificada para algum familiar ou amigo, o que eles tinham aprendido na aula. Imaginávamos a seguinte situação: cada estudante chegando em casa e sendo questionado sobre o que tinha aprendido naquele dia, desta maneira tentava explicar de forma simplificada o que havia estudado e muita vezes utilizando-se de analogias ou metáforas. O importante era esquecer os detalhes (abstração) e focar nos pontos essenciais (síntese) do conteúdo apresentado e discutido em classe. A proposta de texto segue a mesmo orientação: tentar expor a essência da EAD atual sem aprofundar as questões específicas desta modalidade de ensino que, como peças de Lego, podem gerar os diferentes modelos. Então, o que significa EAD? Vamos começar pela abreviação. Pode referir-se ao Ensino a Distância ou Estudo a Distância, mas a legislação brasileira refere-se a ela como Educação a Distância. Só esta questão da adoção do significado das 3 letras EAD já envolve profundas questões filosóficas e metodológicas mas que fogem do escopo de texto, assim EAD para nós é o que a Legislação estabelece: “modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvol-
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liações, computações de notas, relatórios de participação nas atividades propostas e outros. Bem, o conceito básico de EAD é bem acessível, contudo a modalidade envolve uma alta complexidade devido ao planejamento necessário para que tudo ocorra sem grandes problemas considerando o número de estudantes envolvidos no processo, normalmente bem superior ao de matriculados em um disciplina presencial. Aqui também cabe destacar o perfil desejado do estudante da modalidade a distância. Algumas habilidades e competências colaboram de forma efetiva para a permanência e sucesso nos estudos. A principal, com certeza, é a capacidade de autogestão dos estudos. A EAD exige disciplina e organização por parte do estudante nem sempre desenvolvidas anteriormente, além da necessidade de conhecimentos prévios de informática, comumente chamado de letramento digital. Assim, a EAD é um modalidade educacional que traz a flexibilidade na realização dos estudos e que exige uma autonomia do estudante e além um planejamento complexo e detalhado de todas as etapas do processo de ensino e aprendizagem nas suas várias granularidades e dimensões. Pedro Paulo da Silva Ayosa, Doutor em Engenharia de Sistemas e Computação, diretor do Labted e coordenador geral do NEAD. Veja mais em http://goo.gl/a4mhTM
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vendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos ” (Art. 1o. do decreto n. 5622/2005). Esta definição é bem clara e destaca a utilização das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) como meio utilizado para a mediação do processo educacional em que existe a separação espaçotemporal entre estudantes e professores. Neste ponto cabem logo duas perguntas: e os tutores? TIC e AVA são sinônimos? Então vamos lá. Pensem em uma turma com 500 alunos. Seria muito difícil um atendimento personalizado e de qualidade por um único professor. Assim, a figura do professor-tutor ou simplesmente tutor irá desempenhar esta mediação com um número bem menor de alunos, mais especificamente 1 tutor para 25 estudantes. Desta forma, teríamos um professor responsável pela disciplina com 500 estudantes inscritos e um corpo de 20 tutores dando o apoio didático-pedagógico aos estudantes, como por exemplo, tirando dúvidas, corrigindo trabalhos, etc. Quanto ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), é um programa de computador acessado pelos atores da EAD (estudantes, tutores, professores, etc) por meio da internet. Este programa também chamado de plataforma é responsável em manter uma sala de aula virtual gerenciando vários processos didático-pedagógicos e administrativos, como por exemplo: comunicação entre os atores, disponibilidade de vários objetos de aprendizagem (vídeos, textos, animações, etc.), aplicação de ava-
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Entrevista
Entrevista - Professor Oscar Fujita Da Redação
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Entrevista
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Professor Oscar Fujita
Accio: Como o senhor vê a EAD, qual a sua importância hoje? Prof. Fujita: Vejo como um caminho sem volta, que vai ao encontro das necessidades do ser humano nos tempos atuais. Outro aspecto importante é que a EAD não é apenas voltada para a Educação Básica ou Graduação. Está sendo utilizada principalmente para a Educação de Adultos, para a qual usamos o termo Andragogia. Em 2009, prevalecia em EAD uma faixa etária de alunos entre 30 a 34 anos, ou seja, adultos. Mas a cada ano que passa, a média de idade está diminuindo porque as pessoas estão tendo cada vez mais acesso as tecnologias e a metodologia da EAD vem sendo difundida dia a dia. Na EAD o aluno pode escolher o horário, o lugar, o tempo e o espaço, mas ele não pode confundir e pensar que a EAD é uma aprendizagem somente de final de semana e no tempo de folga. Ele precisa organizar seu horário e ter disciplina. A EAD tem como maior destaque a flexibilidade.
Accio: Quais são os paradigmas da EAD? Prof. Fujita: Um dos principais paradigmas é em relação ao conhecimento que as pessoas tem em relação a EAD. A Educação a distância já existia por meio dos livros, das apostilas, da fita cassete, do vídeo e outras tecnologias em sala de aula, mas as pessoas perderam esta noção do que é EAD realmente. Por isso, entrevistas e depoimentos são importantes para desmitificar o termo. Inclusive, o termo “Ensino a Distância” se diferencia de Educação a distância. O Ensino a Distância é um termo que nos remete ao professor que apenas repassa a informação sem se importar com o recebimento do conteúdo, em que o professor era o centro. É unidirecional. A Educação a Distância tem a preocupação com a aprendizagem com foco no aluno. Por isso, as pessoas acham que EAD é simplesmente aulas em vídeo, mas Educação a Distância é muito mais complexa que isso. Gosto do termo life
Entrevista - Professor Oscar Fujita Da Redação
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long learning – aprendizagem ao longo cado não discrimina. As instituições de da vida, porque EAD não trabalha apenas ensino não diferenciam o certificado, com o ensino, mas com a aprendizagem, não importa se o curso foi a distância ou com a troca, com a valorização da interanão – estamos falando sim de qualidade tividade e da experiência do aluno. Além de curso. Um currículo com cursos EAD do ensino e aprendizagem eu me preotem sido valorizado pelos profissionais cupo com a participação, cooperação e de RH, porque sinaliza que temos um colaboração do aluno. Além de participar candidato diferenciado: uma pessoa do curso, quando há apenas cooperação pró-ativa, organizada, disciplinada e que cada aluno faz uma parte do trabalho possui de certa forma uma autonomia em grupo. Se existe adicionalmente a intelectual. Todas essas habilidades são colaboração, tudo se altera, pois características que requisitamos todos os alunos sabem sobre o no mundo do trabalho. “Ao todo e existe aí um adicional, contrário do que que é o comprometimenAccio: No AVA, qual a as pessoas pensam, to com o aprendizado do metodologia que o senhor os profissionais de colega que está na equipe. sugere? Chamamos de aprendiRH estão valorizando a zagem colaborativa (web contratação de quem faz Prof. Fujita: Ultimamen2.0). te temos realizado muitas curso a distância”. Além disso, para pesquisas e temos aplicado Prof. Oscar Fujita alguns, a presença física do as Metodologias Ativas de professor ainda é importante. Aprendizagem com muito sucesAlgumas pessoas têm necessidade de ver so, tanto no ensino presencial quanto na o professor, de estar com o professor e EAD. Nesta metodologia, o aluno é um ter um lugar para estudar. Para este aluser ativo, ele participa ativamente das no a flexibilidade é ruim. Evidentemente aulas. Temos, por exemplo, a instrução que, para essas pessoas é mais difícil a por pares (Peer Instruction), a aprendiadequação, porque a adequação hoje zagem baseada em problemas (PBL), em depende muito da necessidade e é muito projetos (PBL – Project) e em equipes particular. (Team Based Learning). Essas metodo Quando não conhecemos algo, logias possuem características diferenprecisamos nos informar ao invés de falar ciadas da metodologia tradicional. O mal. É preciso perceber como a EAD está professor trabalha com muita interação crescendo e formando bons profissiocom o aluno. Passa a ser muito mais um nais. As pessoas acham que quem faz consultor, um instigador do processo de curso EAD não será bem contratada, mas aprendizagem do aluno. Na estratégia de é ao contrário. Primeiramente, o certifisala invertida, por exemplo, o professor +
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Entrevista - Professor Oscar Fujita Da Redação
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a sua aula e o aluno deve assistir antes de ir para a aula presencial, para depois debater, discutir e realizar trocas com o professor. Evidentemente que não existe a melhor metodologia, o professor precisa ser sensível para adequar a metodologia e as estratégias didáticas às diferentes situações de sala de aula. Accio: O B-learning na EaD, ou Blended Learning, uma mescla de encontros presenciais e virtuais utilizado em cursos a distância, é melhor estrategicamente do que os cursos 100% on-line? Prof. Fujita: Nada substitui o olho a olho e o contato pessoal. No entanto, esses aspectos não são imprescindíveis, insubstituíveis, pois nem sempre é possível esse contato, devido principalmente a distância existente nos grandes centros. Mas recomendo, na medida do possível, ter esse contato pessoal. A quantidade de encontros presenciais em EAD depende evidentemente das estratégias adotadas em cada curso. Existem cursos que são 100% online, principalmente cursos abertos para o Brasil inteiro. Quanto à avaliação, ainda são realizadas provas – devido à legislação - no formato presencial. Accio: Qual a importância do aluno compreender seu Estilo de Aprendizagem, conceituado em Ativo, Pragmático, Reflexivo e Teórico?
Prof. Fujita: Esta é uma discussão antiga, mas que pouco tem se falado na Educação. Nossas recentes pesquisas têm demonstrado que identificar qual o estilo de aprendizagem do aluno é importante para que possamos definir que estratégias didáticas podem melhor atingir e facilitar o seu aprendizado, visto que, esse é o principal objetivo, isto é, a aprendizagem focada no aluno. Se você der uma atividade para um aluno ativo, por exemplo, ele vai querer partir direto para a ação, ir direto pro computador. Já o teórico vai querer pensar, refletir, ler. A Metodologia Ativa de Aprendizagem, por exemplo, procura contemplar todos os estilos. Já a metodologia tradicional tem um enfoque mais teórico. Accio: O senhor busca em seus cursos um contato mais próximo com o aluno de EaD. Por quê? Prof. Fujita: Quanto mais próximo eu estiver do aluno, menor será a distância transacional (sensação de distância física) e intuo que menor será a evasão. Acredito que somente por meio da interatividade é que podemos diminuir as distâncias. Este contato mais próximo, não é muito diferente do contato que tenho com meus alunos em cursos presenciais. Manter uma proximidade com um aluno a distância pode ser difícil de compreender. Digo sempre que não é preciso compreender, e sim sentir.
Entrevista - Professor Oscar Fujita Da Redação
O aluno quer e necessita desta proximidade, seja do professor, do tutor ou até mesmo dos seus colegas de turma.
Prof. Fujita: Sou favorável a tudo aquilo que possa aproximar as pessoas, pois como Paulo Freire disse: “Ninguém aprende sozinho, aprendemos em comunhão”. Portanto, necessitamos estar “perto” mesmo que distantes fisicamente. Tudo o que for benéfico para diminuir as distâncias é bem vindo. Somente recomendamos em nossos cursos que as comunicações preferencialmente sejam realizadas por meio dos AVAS, porque tudo o que for feito neste ambiente é gravado e pode ser recuperado posteriormente. Podemos avaliar se o aluno está participando do curso e interagindo com os colegas, se ele entra no AVA, quanto tempo permanece em cada atividade, um verdadeiro “big-brother” do bem. Por meio deste monitoramento, por parte do professor e do tutor, é possível recuperar processos e avaliar de forma diagnóstica e formativa o aluno durante todo o curso. Caso isto seja
realizado fora deste ambiente, embora positivo, o professor e o tutor do curso perdem dados e informações importantes. A não participação do aluno no AVA significa para o professor uma ausência. Accio: Qual o papel do tutor? Prof. Fujita: Eu considero o papel do tutor a distância como uma das mais importantes do processo EAD. Eu tenho muito critério nas seleções destes profissionais. A maneira como ele se comporta e dialoga com os alunos, pode criar vínculos muito positivos. Como já disse, a sensação transacional é a diminuição da distância física. Quanto mais próximo o tutor estiver do aluno, menor será a sensação do aluno de abandono. O aluno se sente tutorado, monitorado. Em média temos observado que os números de alunos por tutor têm aumentado gradativamente. Antigamente tínhamos uma média de 25 alunos para um tutor. Atualmente temos visto cursos com 40, 45 alunos por tutor. Aliás, temos vistos cursos com 400 alunos por tutor. Estes cursos estão fadados ao fracasso e dificilmente permanecerão no mercado. +
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Accio: Mesmo com as ferramentas, como fórum, chat e wiki, alguns alunos de EAD ainda criam grupos em outras locais “não oficiais” para tratar das aulas, de trabalhos e manter outros contatos com a turma, como grupos no facebook, por exemplo. Como o senhor vê isso? É positivo ou não?
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Entrevista
Entrevista - Professor Oscar Fujita Da Redação
> Accio:
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Para finalizar, que dica o senhor daria para os estudantes em EAD.
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Prof. Fujita: A EAD está presente e crescendo, este é um fato. Novas formas de ensinar e de aprender estão surgindo a todo o momento. O modelo tradicional de ensino, não está mais contemplando as requisições dos alunos e do mundo do trabalho. Portanto, se faz necessário adequar as metodologias para este novo universo que desponta. A EAD possui estas características. O perfil do aluno também deve ser diferente, pois ele deve ser mais ativo, mais participativo. “Não aprendi por causa do professor” é geralmente a frase que muito se ouvia anteriormente. No entanto, o aprendizado na EAD é de responsabilidade do aluno compartilhada com o professor. Pois eles são “parceiros” no ensino e também na aprendizagem. A busca por conhecimento, por exemplo, deixa de ser apenas nos livros didáticos e passa a ter a internet como sua principal fonte de consulta. Mas, na internet sabemos que existem dados bons e ruins. Cabe ao aluno saber discernir sobre uma ou outra. Para isto, é necessária muita leitura e pesquisa – aspecto que os jovens não gostam muito de fazer. Tudo parece ser muito “fast”. A educação
não funciona desta forma. Podemos aprimorar as ferramentas para aprender mais e melhor. No entanto, a aprendizagem somente se faz com estudo, estudo e muito estudo. Por isso que acredito na Educação como meio de transformação social, seja ela presencial ou à distância. Currículo do entrevistado: Prof. Fujita é Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo - USP/SP com tese voltada para a Educação a Distância, Mestre em Educação pela UNESP na linha de Formação de Professores e Novas Tecnologias. Pós-Graduado em Consultoria Empresarial pela FIAETPP. Possui estágio profissional em Tecnologias pelo Distrito de Saitama-ken, Toquio – Japão. Graduado em Matemática pela UNESP. Já foi Coordenador de Curso de Graduação em Marketing e atua como professor dos cursos de Sistemas de Informação e Marketing. Na Pós-Graduação, é professor convidado e ministra aulas em diversas instituições de ensino. Como Consultor Educacional desenvolve Projetos de Educação a Distância (EAD) e atua como Professor-Pesquisador da Univ. Aberta do Brasil (UAB). Membro da ABED e SBEM. Atua principalmente na área de Educação com os seguintes temas: Educação a Distância, Formação de Professores, Novas Tecnologias na Educação, Didática no Ensino Superior, Marketing Digital, Metodologias de Ensino e Aprendizagem na Educação Matemática.
Entrevista - Professor Oscar Fujita Da Redação
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“Acredito na Educação como meio de transformação social, seja ela presencial ou a distância”. Prof. Oscar Fujita
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efletir sobre a quatro operações matemáticas na mediação entre o tutor e o aluno em EAD implica em: somar aprendizado, subtrair dúvidas, multiplicar conhecimento e dividir descobertas. Esta seria uma visão ideal e bem positiva. Porém, se o curso a distância não for bem estruturado em cima de um projeto pedagógico com uma metodologia efetiva, somam-se as dúvidas, subtrai-se o aprendizado, divide-se mais do que se multiplica e a qualidade do curso e da entidade que o oferece cai em descrédito. O tutor a distância ou e-tutor tem uma boa parcela de colaboração para o sucesso de todas as operações acima e precisa estar ciente de seu papel e função. Ao se candidatar para a tutoria em EAD, o profissional deve saber que não se trata de um emprego e sim algo que agrega uma bolsa de R$ 765,00 do MEC/CAPES em seus recursos financeiros no final do mês e ocupa algumas horas do seu dia (em média quatro, 20 horas semanais), as quais ele terá que conciliar com as outras atividades que já possui se estiver inserido no mercado de trabalho ou mesmo se for estudante de especialização e/ou pesquisador. A tutoria, portanto, não gera vínculos empregatícios, e, raramente, é a única atividade do candidato, uma vez que o tutor deve ser graduado na área do conteúdo e, as vezes, pós-graduado, exigências estas
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Olá, sou o seu Tutor!
É por meio de tecnologias de informação e comunicação (TICs), que o tutor acompanha virtualmente os educandos a distância. (MILL, 2007) Logo, o tutor é um diferencial na aprendizagem do aluno, um guia, o qual precisa estar bem preparado e conhecer o modelo e as práticas da tutoria para a disciplina em que vai atuar. Segundo Morgado (2003, p.78), o tutor não é, pois, um professor no sentido tradicional do termo, ou seja, quem ministra o ensino, muito embora seja um especialista na área de conhecimento dos conteúdos. Ele é antes quem faz a mediação entre os conteúdos e o estudante através das tecnologias, definindo-se o seu papel em torno de um diálogo individualizado, com a função de estimular, manter o interesse e motivar, apoiar, dar feedback, ou seja, facilitar e guiar a aprendizagem através da sua relação com o estudante”. Por isso, assim como o aluno de EAD, o e-tutor não precisa estar presente para que ocorra a comunicação. A tutoria se dá com o uso de ferramentas síncronas e assíncronas, as quais permitem atendimento individualizado ou coletivo, por meio de fórum, email, chat, entre outros. Carla Martins, tutora já experiente, explica que um dos enfoques quanto ao uso das ferramentas pelos cursistas é que
Quem é o tutor? É o profissional selecionado pela IES vinculada ao Sistema UAB para o exercício das seguinte atividades: • Mediar a comunicação de conteúdos entre o professor e os estudantes; • Acompanhar as atividades discentes, conforme o cronograma do curso; • Apoiar o professor da disciplina no desenvolvimento das atividades docentes; • Manter regularidade de acesso ao Ambiente Virtual de Aprendizagem - AVA e responder às solicitações dos alunos no prazo máximo de 24 horas; • Estabelecer contato permanente com os alunos e mediar as atividades discentes; • Colaborar com a coordenação do curso na avaliação dos estudantes; • Participar das atividades de capacitação e atualização promovidas pela instituição de ensino; • Elaborar relatórios mensais de acompanhamento dos alunos e encaminhar à coordenação de tutoria; • Participar do processo de avaliação da disciplina sob orientação do professor responsável; • Apoiar operacionalmente a coordenação do curso nas atividades presenciais nos polos, em especial na aplicação de avaliações. (crédito: uab.capes.gov.br)
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essenciais para poder exercer a função e fazer jus a bolsa.
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se “faça o contato com os alunos pelas mensagens e um contato mais intensivo pelos fóruns. Se não responderem às mensagens, mandamos emails”, afirma. Carla explica que o próprio ambiente virtual de aprendizagem fornece a estatística do acesso dos alunos, possibilitando entender o padrão de cada aluno e saber quando ele precisa ser influenciado ou não. “Tem que se colocar um pouco na realidade do cursista e auxiliá-lo”, diz. Por isso, a tutora reforça ainda a empatia necessária ao profissional: “Alguns tutores são mais técnicos. O meu perfil é me mostrar como ser humano para chegar no ser humano que está no outro lado”. Para o tutor Rodrigo Bischoff Belli, o tratamento com os alunos acontece da mesma forma que no curso presencial, o cuidado é o mesmo, “pois o que se trabalha é o conteúdo”, afirma. Belli é cientista social e teve sua primeira experiência como e-tutor no ano de 2014. Para exercer a atividade, ele se preparou com um curso oferecido pelo próprio Labted e NEAD da UEL. Segundo ele, a formação recebida foi essencial para aprender quais sãos as características dos alunos que estão na atividade e como se dá o processo metodológico em EAD. A atividade de tutoria foi, para Belli, “uma experiência que permitiu entrar em contato com as plataformas virtuais e verificar as aspirações dos próprios alunos na EAD”. No entanto, ele destaca
que a falta de vínculo empregatício e como se dá o trabalho de tutoria é algo que o tutor deve refletir antes de optar pela atividade. Assim, a lide diária do tutor virtual exige um perfil que inclua identificação com a filosofia da EAD para um bom desempenho do tutor e para que o mesmo atue com afinco, tendo bom relacionamento com os alunos e busncando o sucesso da disciplina. Sem consciência das condições expostas, o tutor ficará rapidamente insatisfeito, enxergando a tutoria apenas como um bico, sem conseguir fazer uso das operações matemáticas (somar, subtrair, multiplicar e dividir) importantes para o ensino-aprendizagem do aluno e agregadoras para o próprio tutor, o qual diversifica o currículo, ganha experiência e aumenta o seu networking , este último algo diretamente relacionado a rede de computadores, sendo possível por meio da tutoria a distância de forma infinitamente maior que os vínculos criados por meio do ensino presencial. MILL, D.; FIDALGO, F. Sobre tutoria virtual na Educação a Distância: caracterizando o teletrabalho docente. Virtual Educa 2007, São José dos Campos, 2007. Disponível em: . Acesso em 01 mar. 2015. MORGADO, L. (2003). Os novos desafios do tutor a distância: o regresso ao paradigma da sala de aula. Discursos Perspectivas Em Educação Lisboa, 77–89.
As Falácias ou os Grandes Equívocos do e-Learning
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As Falácias ou os Grandes Equívocos do e-Learning
Por e-Learning deve se entender aprendizagem por meios eletrônicos, logo, todos os processos de ensino/formação colocados em suportes tecnológico-informáticos: CD-ROM, DVD, e-mail, Internet, PODCAST, telemóvel, etc., são passíveis de serem identificados por esta modalidade didático-pedagógica, mas na verdade devido à World Wide Web é quase sempre interpretado como Ensino a Distância. Outro grande equívoco nasceu com o próprio e-Learning e com os seus principais divulgadores, os engenheiros do MIT, da Stanford University e da Harvard University, quando no distante ano de 1995 disseram ao Mundo: “viva o e-Learning, morra o Presencial” e avançaram para as grandes empresas e organizações de importância nacional, como as forças armadas, com toda a auréola e prestígio que lhes era outorgada pelas universidades de onde eram oriundos. Estes homens e mulheres espalharam a “boa nova” aos quatro ventos, mas os resultados foram muito diferentes do que era esperado, porque “nada” do que foi prometido se cumpriu: aprendizagem mais rápida de acordo com as exigências do nosso tempo, custos mais reduzidos, formação generalizada e célere, democratização do saber, fontes inesgotáveis de conhecimento, etc. Passaram os anos e os gestores de
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topo das organizações tiveram de mandar os seus “exércitos formativos” regressar aos meios convencionais de aprendizagem, porque as profecias não tinham se tornado realidade. Pedindo emprestado o conceito a Alvin Toffler, é o que eu chamo de a 1ª. Vaga do e-Learning. Os engenheiros de sistemas tinham gasto muitas horas do seu caro e precioso tempo a desenharem Plataformas de e-Learning, e era indispensável rentabilizar. Por esse e outros fatos nasceu o b-Learning, ou seja, um processo que eu costumo comparar aos primeiros garrafões de plástico dos anos 60: eram de vidro, mas tinham um plástico creme a imitar vime (invólucro). Depois, deixaram de ter vidro e, o invólucro, imitava apenas o vime e o formato cilíndrico, mas davam mal sabor aos produtos que continham. Moral da história: o Plástico nos anos 60 era um produto saído das tecnologias de ponta, mas umbilicalmente agarrado aos artefatos do passado. Só quando se libertou do vidro, do desenho do vime creme e do plástico com cheiro intenso, é que foi possível evoluir para um suporte inodoro, de resina adequada ao produto a transportar e com um formato quadrado ou retangular, capaz de ocupar menos espaço no transporte e nos locais de armazenamento. Para ocorrer esta evolução tão simples num garrafão de plástico, foram necessários 20 anos.
O b-Learning também está umbilicalmente agarrado aos modelos de formação do passado e procura manter o status quo, principalmente nas universidades e nas empresas, sem ser capaz de fazer a ruptura com os modelos tradicionais e gerar novos paradigmas. Usa o professor e o formador naquilo que eles sabem fazer: dar aulas presenciais e depois lhes exige que coloquem numa Plataforma qualquer de e-Learning os seus materiais, que mais não são do que versões digitalizadas das antigas sebentas brochuras ou fotocópias. Os alunos/formandos têm, através do citado processo, acesso mais rápido aos conteúdos, com melhor ou pior apresentação, desde documentos pdf a PowerPoint, mas não podem explorar o que há realmente de novo: a utilização integrada de imagens animadas, da voz, da música, de processos capazes de gerar emoções e de captar a atenção selectiva ou, mesmo, de simular as realidades e os contextos profissionais, onde seja possível aprender por tentativa e erro, por imitação, por observação ou, até mesmo, através de desempenhos simulados. O b-Learning, tal como é produzido na maioria das escolas e empresas, cumpre a sua função como o fez o primeiro garrafão de plástico: é mais barato porque não há investimento na concepção de conteúdos desenhados com apoio da pedagogia e do multimídia, é mais barato porque não há investimento no professor/formador
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25 25 e este pode até ver diminuído em 50% ou mais o seu tempo letivo, devido à redução do número de aulas e porque a Plataforma de e-Learning é transformada num gestor documental e numa rede on-line de comunicação, dando ao aluno/formando algumas horas a mais para o estudo ou para o ócio e poupando papel ao guardarem digitalmente os conteúdos dos cursos. Todavia, não cumpre uma das preocupações centrais do nosso tempo, para os quais a variável tempo assume poderes ditatoriais: aprender em menos tempo. Em suma, esta é a 2ª Vaga do e-Learning. Como Alvin Toffler, defendo que a 3ª Vaga seja sinônimo de modernidade, de integração, de compatibilização. Enfim, é neste âmbito que temos de criar um e-Learning e um b-Learning que correspondam aos atuais garrafões de plástico: leves, eficazes, a ocuparem menor espaço e a darem um suporte adequado e ajustado aos diferentes produtos que contêm. As Tecnologias Distribuídas fazem chegar a informação ao aluno/formando em formatos muito próximos da realidade, onde vão ser aplicados, dando origem a um processo de ensino e aprendizagem centrado no professor/formador. Aqui, são claramente
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utilizáveis os modelos de aprendizagem estudados pelos Behavioristas: estímulo/ resposta, associação e reforço, bem como a imitação, a tentativa e erro e a observação, tão claramente investigados pelo ensino programado e pelo ensino assistido por computador (CBT).
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As Tecnologias Interativas, se associadas aos Estilos de Aprendizagem, podem simular todas as realidades, permitindo que essa máquina fabulosa que é o computador possa recriar no espaço virtual tudo o que queiramos, desde a contabilidade de uma empresa, a um motor de gasolina com todas as suas peças em movimento ou, uma intervenção cirúrgica onde o mouse ser um bisturi. Aqui, já estamos numa vertente mais cognitiva, na qual o estudante é dono do seu percurso de aprendizagem. Dito de outro modo, embora existam Casos, PBL (Problem Based Learning), Jogos e Simulações desenhadas sob a orientação do professor/formador, na verdade, os caminhos alternativos, as estratégias e as soluções são inúmeras, o que faz com que esta modalidade esteja centrada naquele que aprende. As Tecnologias Colaborativas dão a este modelo de e-Learning/b-Learning, de que o SAFEM-D (Sistema Aberto de Formação e Ensino a Distância) é um exemplo, o seu elo holístico e eclético, pois aproximam o ato de aprender com a equipe e com a
realidade vivida nas organizações, bem como fecham o circuito do saber, do saber fazer e do saber estar/ser. Aqui, todo o processo de aprendizagem está centrado no grupo, nas suas sinergias e nas vantagens em se trabalhar de forma cooperativa, o que facilita o modo de como se podem alcançar objetivos e aumentar a produtividade, devido a processos de empowerment. A última das grandes ilusões do e-Learning nasceu, principalmente, nos países nórdicos. Simularam no virtual exatamente o “espaço” presencial, com salas, carteiras, projetor e professor/formador, etc., onde em 3D recriam toda a ambiência de uma turma ou de uma ação de formação profissional. Gastaram nestas animações vastos recursos em Web Designer e Programação, que tiveram implicações financeiras totalmente incomportáveis, mesmo para países ricos. São produtos multimídia de inegável valor estético e de investigação minuciosa. Direi até, de grande magia para quem os concebe ou mesmo utiliza, mas o valor acrescentado que exibem fica-se pela curiosidade e atrativamente dos primeiros momentos de utilização. Depois, numa óptica de aprendizagem, constatamos que este modelo não é superior a outras experiências didático-multimídias muito menos onerosas, apresentado até desvantagens numa utilização diária, pois as
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Obviamente, estamos na infância do e-Learning e do b-Learning e, mais ainda, do m-Learning, mas já hoje é possível, depois de 10 anos de investigação, criar produtos educacionais para todas as idades e de formação profissional para todas as áreas, a custos atrativos mesmo no curto prazo, mas com uma eficácia jamais alcançada por todos os modelos presenciais, mesmo os de melhor escol, como os sustentados pelos Métodos Ativos. Não podemos usar receitas generalistas, temos de analisar caso a caso. Numas situações podemos utilizar o “feito à medida” (aqui a metáfora mais próxima é a da alta costura) e noutras o padronizado (seguindo a metáfora do pronto para usar). Estas duas estratégias são faces da mesma moeda, que advêm da sua especificidade: do que as pessoas necessitam de aprender, da sua idade, das necessidades de treino, da sua função, do grau de abstração que é necessário gerar, da modalidade pedagógica que devemos eleger, da natureza dos conteúdos e da necessidade de criar ou
não simuladores. Em suma, é errado desenhar uma sala para que o aluno se sinta identificado com o ambiente, quando o que ele necessita é, por exemplo, de aprender Biologia. Para isso, temos de simular uma célula em que seja possível ver o funcionamento reale dinâmico dos seus organelos e da sua membrana. Se queremos ensinar ação comercial demonstramos boas e más vendas, podendo o formando, como ator, intervir diretamente na simulação; se queremos que o cardiologista estude um ecocardiograma temos de lhe dar todas as possibilidades para ele manipular este exame como se estivesse num ecógrafo do hospital; se queremos ensinar mecânica automóvel temos de dar a possibilidade ao técnico de interagir com todas as peças do veículo, mesmo que seja virtualmente; se queremos que um estudante de medicina ou de enfermagem perceba como agem os agentes da quimioterapia, temos de criar um gif animado onde seja possível observar como estes atuam no DNA ou na membrana citoplasmática. António Augusto Fernandes, Professor da Universidade Católica Portuguesa e Diretor Executivo do Instituto de Ensino e Formação a Distância da UCP. Ronaldo José Nascimento, Pós-Doutorando em Motricidade Humana de Lisboa-Portugal, Coordenador do PACC-UEL. Veja mais em http://goo.gl/pFtdA9
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rotinas inerentes a este processo agem de um modo cansativo e desmotivador. Os pedagogos há muito que investigam e conhecem a eficácia destes produtos, o que não foi impeditivo de uma prestigiada organização internacional, ainda recentemente, ter atribuído o prêmio de excelência a um Site de Higiene e Segurança criado nestes moldes: http://www. travelersinsynch.com/challenge_popup.html
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