Voyeur
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# 2 | Julho a Novembro 2010
Lágrimas Lifestyle
jogo de sedução / passion play
Passion Play # 2 | Jul a Nov 2010 /July to Nov 2010
Life is an unmissable show
Jogo de sedução A vida é um espectáculo imperdível
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sumário | contents
66 Babette’s feast
20 Puro branco / Purest white
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# 2 | Julho a Novembro 2010
dUAS CAPAS NA MESMA EDIÇÃO Alternate cover available this issue
Capa 1
JOGO DE SEDUÇÃO / PASSION PLAY
Foto / Photo Paulo Segadães Produção / Production Luciane Coelho / Sandra Nascimento maquilhagem e cabelos / make up and hair Joana moreira local / location restaurante praia do peixe, praia do Pego / comporta PASSION PLAY
# 2 | Jul a Nov 2010 /July to Nov 2010
44 Tesouro Escondido / Hidden treasure
Capa 2
Life is an unmissable show
Foto / Photo Paulo Segadães maquilhagem / make up aNNE SOPHIE local / location VOYEUR CLUB, CASINO LISBOA
JOGO DE SEDUÇÃO A vida é um espectáculo imperdível
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caprichos / whims
Notícias e sugestões / News and suggestions
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retrato / portrait
A arte de ser David Fonseca / The art of being David Fonseca
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Tété diz que viveu – e como / Tété talks about her life – and what a life
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À conversa / a talk with Moda / fashion
Puro Branco / Purest white
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estilo / styling
Quatro triângulos de nada / Four triangles of nothing
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Tesouro Escondido / Hidden treasure
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passeio / outings especial / special espaço voyeur / voyeur
Lisboa Castiça / True Lisbon
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Encontro de todas as artes / A gathering of the arts
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Babette’s feast
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Grandes homens do vinho em Portugal / Great men of wine in Portugal
72
Bela adormecida / Sleeping beauty
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o princípio / a beginning
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New Tech / New Tech
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Olha para Mim... / Look at me...
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Cool Summer
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Obrigatório ir! / Must see!
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Locales gula / gourmandise vinhos / wines travessias / Crossings História para adormecer / A bedtime story fetiche / Fetish luxos / luxuries shopping / shopping Agenda / what’s on revelações / revelations rendidos / won over
Emoções Estivais / Summer emotions
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Aleksandar Protic, Lisboeta acidental /
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Aleksandar Protic, Accidental Lisbonian
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editorial | editorial
Segundo amor Second love MIGUEL JÚDICE CEO GRUPO LÁGRIMAS
Dizem
They say
que não há amor como o primeiro. Talvez não haja mesmo. É com o primeiro amor que aprendemos a amar, também é com ele que aprendemos a sofrer. O segundo amor, quando chega, arrebata de forma diferente, mais madura mas tão cheia como se amássemos pela primeira vez, de novo. Talvez seja esse o segredo: viver cada amor como se fosse o primeiro, porventura também como se fosse o último, para que o aproveitemos como se não houvesse amanhã. É assim com a VOYEUR. Se o primeiro número foi para nós tão pueril e inesquecível como um amor adolescente, o segundo, ainda que mais adulto, é igualmente fresco e memorável. Criámo-la como se fosse a primeira revista que fazemos, também como se fosse a que nos encerra, ainda que graças a Deus não seja. A VOYEUR nasceu como um flirt consequente e transformou-se num namoro estável mas cheio de surpresas e sangue quente, onde a rotina não entra. Só assim conseguimos orgulhar-nos dela e mantê-la excitante de fazer. É um projecto apaixonante para nós, que a criámos, e, esperamos, sedutor para quem a lê. Este novo número vai dar-vos a conhecer figuras castiças de Lisboa, outras maiores do que a vida, como Teresa Ricou e David Fonseca, artistas que são “more than meets the eye”. Esta VOYEUR leva-vos ainda até Moçambique, passando pelo Algarve e Comporta, entre muitos outros petiscos para mentes inquietas. Bon appétit… v
there’s no love like the first. Maybe that’s really true. It’s first love that teaches us to love, but also to suffer. When it happens the second time around, it sweeps you off your feet in a different way, more mellow, but just as powerful as if it were the first time all over again. Maybe that’s the secret: to live each love as if were the first, maybe even the last, in order to savour it as if there were no tomorrow. And that’s the case with Voyeur. The first issue was for us as childish and unforgettable as a teenage love; the second may be more grown-up, but it is equally fresh and memorable. We dove into it as if it were our first magazine, but also as if it were the last one we release, while thanking God that it isn’t. VOYEUR was born as a serious flirtation and became a stable relationship though one full of surprises and hot flashes, one in which routine doesn’t factor. And that’s the way it must be for us to be proud of it and keep it exciting. It is a labour of love for those of us who create it and, we hope the end result is a seductive one for those who read it. This new issue will introduce you to some of Lisbon’s colourful characters, some larger than life like Teresa Ricou and David Fonseca, artists who are much more than what meets the eye; it will offer up a trip to Mozambique, and a tour of the Algarve and Comporta, among myriad other delicacies for restless minds. Bon appétit... v
VOYEUR Ficha Técnica/Credits Propriedade/Proprietor: Lágrimas Hotels & Emotions. Morada/Address: Av. António Augusto de Aguiar, 11 – 3º Dtº - 1050-010 Lisboa. Telefone/Telephone: + 351 213 909 173 NIF: 503001490. Direcção/Director: Miguel Júdice. Site: www.lagrimashotels.com. Email: info@lagrimashotels.com Edição/Published by: HAVE A NICE DAY – Conteúdos Editoriais, Lda., Av. 5 de Outubro, 115, 3º D, 1050-052 Lisboa, Telefone/Telephone: + 351 217 950 389. Direcção/Director: Ana Rita Ramos. Coordenação/Coordinator: Sara Raquel Silva. Redacção/Editing: Ana Sofia Rodrigues, António Fontoura, Francisco Mendes Moreira, Miguel Júdice. Direcção de arte e Design/Art Directors and Design: Luciane Coelho, Sandra Nascimento. Edição de Moda/Fashion Editors: Luciane Coelho, Sandra Nascimento. Fotografia/Photography: Constantino Leite, Nuno Correia, Paulo Segadães. Ilustração/Illustrations: Margarida Girão, Rachel Caiano. Direcção comercial e publicidade/Commercial Directors and Advertising: HAVE A NICE DAY – Conteúdos Editoriais, Lda. Impressão/Printing: Cromaticamente. Tradução/Translation: Chico Laxmidas, Peter Taylor. Periodicity/Periodicidade: Semestral. Tiragem/Print run: 20.000 exemplares. Depósito legal/Legal Deposit: 303061/09
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Grupo Lágrimas no Casino Lisboa O Grupo Lágrimas assumiu a gestão dos restaurantes do Casino Lisboa, situado no Parque das Nações. O Casino dispõe de três espaços de restauração: Átrio, Spot e Suite Food&Dance, além de inúmeras áreas para a realização de eventos até 600 pessoas, possíveis de conciliar com espectáculos no Auditório dos Oceanos. www.casinolisboa.pt
Grupo Lágrimas at the Casino Lisboa Grupo Lágrimas now manages the restaurants at the Casino Lisboa in the Parque da Nações. The Casino has three dining areas: the Átrio, the Spot and the Suite Food&Dance, as well as several additional spaces that can host events for up to 600 people; events that can in turn be combined with shows or presentations at the Auditório dos Oceanos. www.casinolisboa.pt
Novas Clarissas O Mosteiro de Santa-Clara-a-Velha tem novo doce conventual – “As Clarissinhas de Coimbra”. Feito a partir de produtos que marcaram presença na mesa das clarissas de Coimbra – pinhão, abóbora chila, grão-de-bico, ovos e açúcar – a receita foi criada por Artur Côrte-Real, da Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC), e Albano Lourenço, Chef do Hotel Quinta das Lágrimas. www.lagrimashotels.com
Honras para Museu do Douro É incontornável para quem está de visita à região do Porto. O Museu do Douro recebeu uma Menção Honrosa nos Prémios Turismo de Portugal 2009, na categoria “Novo Projecto Público”. Inaugurado em Dezembro de 2008, reúne, além da área de exposições, um restaurante, biblioteca, sala de leitura, sala de conservação e restauro, esplanada e winebar com vista para o rio. www.museudodouro.pt
Honours for the Douro Museum A must-see for anyone visiting the Oporto region, the Douro Museum has received an Honourable Mention at the Portugal Tourism Awards 2009 in the “New Public Project” category. Besides space for exhibits, it also features a restaurant, library, reading room, conservation and restoration room, terrace, and a wine bar with a view of the river. www.museudodouro.pt
New Clarissas The Santa-Clara-a-Velha Monastery has launched their new pastry – the “Clarissinhas de Coimbra”. Made from pine nuts, pumpkin, chickpeas, eggs and sugar, this pastry was devised by Artur CôrteReal, on behalf of the Central Region Cultural Direction, and by Albano Lourenço, chef at the Quinta das Lágrimas Hotel. www.lagrimashotels.com
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Malas Longchamp por Kate Moss Depois de oito anos a figurar como rosto da Longshamp, Kate Moss lança esta estação a sua primeira colecção de malas, em estreita parceria com a directora criativa da marca, Sophie de La Fontaine. Confortáveis e leves, em vermelho, preto, beije, verde-esmeralda e zebra, todos os modelos personificam o estilo descontraído mas sempre elegante da eterna musa da moda. www.longchamp.com
Longchamp bags by Kate Moss Noite Voyeur Chama-se Voyeur Club e promete dar que falar. Espaço de requinte e sofisticação, está aberto apenas aos fins-de-semana, das 23:00 às 4:00 da manhã. É o primeiro club nocturno do Grupo Lágrimas Hotels & Emotions e situa-se no último piso do Casino Lisboa. “Todas as noites organizamos festas temáticas”, esclarece Miguel Júdice, CEO do Grupo e um dos responsáveis pelo espaço. “Além de que servimos refeições a horas tardias, o que funciona como um apelo ao convívio, num ambiente seleccionado”. O glamour chegou, finalmente, à noite do Parque das Nações. www.casinolisboa.pt
Voyeur Night It’s called Voyeur Club and it promises to be the talk of the town. This stylish and sophisticated nightclub is open only on weekends, from 11PM to 4AM. It’s also the Group Lágrimas Hotels & Emotions’ first venture into the club scene and is located on the top floor of the Casino Lisboa. “We hold themed parties every night,” explained Miguel Júdice, CEO of the Lágrimas Group and one of the driving forces behind Club Voyeur. “We also serve late night suppers, which act as an invitation to socialize and mingle in a select environment.” Nightlife glamour has found a new home in the Parque das Nações. www.casinolisboa.pt
This season, after eight years as the face of Longchamp, Kate Moss launches her first bag collection in a partnership with the brand’s creative director Sophie de La Fontaine. Comfortable and light, (decked means dressed) in red, black, beige, emerald-green and a zebra print, all the models exemplify the eternal fashion muse’s laid back but elegant style. www.longchamp.com
Uma nova estrela A partir deste mês de Agosto o grupo Lágrimas Hotels & Emotions vai gerir o Hotel da Estrela, no bairro com o mesmo nome, em Lisboa. Este hotel de charme, que ocupa o antigo palácio dos Condes de Paraty, tem interiores da autoria do premiado arquitecto Miguel Câncio Martins, e promete ser uma moradas mais hip da cidade. Com apenas 19 quartos e três salas de reuniões, a unidade conta ainda com restaurante, bar, jardim e espaços para eventos.
A new star Starting the coming month of August, the Lágrimas Hotels & Emotions Group will assumes management of the Hotel da Estrela, in the traditional Lisbon neighbourhood of the same name. This charme hotel, which occupies the old palace of the Count de Paraty and has an interior design by award-winning architect Miguel Câncio Martins, promises to be one of the hippest addresses in town. Numbering only 19 suites and three meeting rooms, the facilities include a restaurant, bar, garden, and spaces for private events.
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Caprichos | whims
Telling Jewels
Jóias Contadas A dupla Storytailors associou-se à exclusiva NOL Joalheiros para a criação da sua primeira linha de jóias. Desse casamento já nasceram peças únicas, entre as quais a Luxos Time – alfinete de peito em que a fantasia da marca se encontra bem patente. Feito em ouro branco, cravado com um subtil degradé de safiras púrpura, rosa e diamantes, pode ser usado como pendente num colar. www.storytailors.pt
The Storytailors duo has linked up with the exclusive NOL Joalheiros jeweller to create their first line of designer jewellery. This match made in heaven has already produced unique pieces, amongst which Luxos Time, a brooch which showcases the brand’s vibrant imagination. Made from white gold with a subtle degradé of purple and pink sapphires and diamonds, the piece can also be used as a pendant in a necklace. www.storytailors.pt
Revolução de platina A La Prairie lançou um novo sérum, Cellular Platinum Rare, que promete resultados anti-envelhecimento inovadores graças às singulares propriedades da platina. O produto agrega várias descobertas anti-idade, entre as quais um novo complexo aclarador da pele que combate a hiper pigmentação e um engenhoso polímero de açúcar, gerador de uma malha de alisamento invisível na superfície da pele. www.laprairie.com
Platinum Revolution La Prarie has unveiled a new serum, Cellular Platinum Rare, which promises innovative anti-ageing results thanks to platinum’s unique properties. The product combines various anti-ageing developments, amongst which are a new skin clearing complex which fights hyperpigmentation and an ingenious sugar polymer that creates an invisible smoothing micro-layer on the surface of the skin. www.laprairie.com
Artes Gourmet Depois do sucesso do restaurante DOC, no Douro, o Chef Rui Paula voltou à cidade natal, o Porto, para abrir o DOP (Degustar e Ousar no Porto). Funciona no Palácio das Artes - Fábrica de Talentos, no centro histórico. Amplo, com pé direito alto, divide-se por duas áreas principais: um show cooking, de serviço rápido e económico, e uma sala mais clássica, embora com toque urbano e cosmopolita, onde o Chef revisita com elegância a cozinha regional portuguesa. www.ruipaula.com/dop
Gourmet Art In the wake of the success of his DOC restaurant, in Douro, master chef Rui Paula returns to his native Oporto, to launch the DOP (shorthand for “Degustar e Ousar no Porto” or “Savour and Dare in Oporto”). DOP is located in the Palácio das Artes-Fábrica de Talentos, in the historic center of town. Boasting an ample space, DOP is split into two main dining areas: a show kitchen and a second, more traditional dining room, though one with a urban and cosmopolitan decor, where the chef stylishly reinterprets traditional Portuguese cuisine. www.ruipaulacom/dop
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retrato | portrait
A arte de ser
David Fonseca
The art of being David Fonseca Com o seu estilo profundo e melancólico, já vendeu 700 mil discos em pouco mais de dez anos de carreira. É muito provável que David Fonseca se tenha tornado numa estrela porque aprendeu a fazer o que quer, não o que os outros esperam… With his profound, melancholy style, David Fonseca has sold over 700 thousand records in a career that spans just over a decade. He very likely became a star because he learnt do to what he likes, and not what others expect of him… texto / text Ana Rita Ramos | Fotos / photos paulo Segadães
Apesar do seu discurso optimista, David
Fonseca tem qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade. Nele, a nostalgia nunca termina completamente, fica-lhe debaixo da pele, como uma marca. Sem ela hoje não se reconheceria se se visse ao espelho. Mas a capacidade de transformação do músico é impressionante. O seu quarto álbum a solo, Between Waves, editado no fim do ano passado, é totalmente diferente dos anteriores. São músicas cheias de arranjos improváveis, curvas e contracurvas a alta velocidade, em que tenta guardar os momentos em digressão, as histórias que lhe aconteceram fora de casa e que o motivaram a escrever canções. O CD nasceu de inúmeros takes, registados em pequenos gravadores, em hotéis, em carrinhas, nos backstages dos concertos, um pouco por todo o lado. De certa forma, é um album introspectivo, feito na ressaca da digressão, no pós-festa; um disco que viaja por um passado recente. E David, como sempre, mostra-se impudico para com as suas vivências: explora-as para criar canções inesquecíveis. “Nunca escrevi algo que não seja pessoal”, diz, com intensidade difícil de ignorar. Para David Fonseca compor é um processo de tentativa e erro, como se vivesse no caos, e que pouco tem a ver com a imagem idílica da inspiração, essa “insuflação divina”: no meio da bagunça sonora que vai guardando e produzindo tem de “conseguir expulsar o que não quer e, aí sim, nasce o mistério de se fazer canções”. Melómano assumido, é um músico numa procura constante de novas soluções e sonoridades. “Há canções que não sobrevivem aos discos. Acabam por ficar pelo caminho”, explica.
Despite his outward optimism, David Fonseca
has a sadness about him, something that cries, some sort of longing. His wistfulness is never completely gone; it’s there under his skin, like a scar. Without it, he would hardly recognize himself in the mirror. And yet David is an accomplished chameleon. Between Waves, his just-released fourth album, is completely different from the previous ones. It’s full of tunes with improbable orchestrations, high-speed twists and blind turns, in which he attempts to set down the moments lived on tour, the stories he experienced while away from home, and which drive him to write his songs. The record was born of countless takes, set down on small tapes, in hotels, on buses, backstage at his shows, here and there. It is also an introspective record, one born of the morning after the party, while on tour; a record that looks back and revisits times just past. And David, as always, shows no reservation in exploring his experiences to create unforgettable songs. “I never wrote anything that wasn’t personal” he says with an intensity that is difficult to ignore. Composing is a process of trial and error for David Fonseca, as though he lived in perpetual chaos, one that has little to do with the idyllic concept of inspiration, the “divine breath”: from the bewildering soundscape of creations that he collects, he has to “drive out what he doesn’t want, and that’s where the mystery of writing songs is born”. A self-confessed melomaniac, he considers himself a musician constantly questing for new solutions and sounds. “There are songs that don’t survive into records. They get left behind,” he explains. Each new record is a media event, but David never ceases to be amazed when he
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FUGIR DO REAL “Mesmo que não editasse discos faria música na mesma. O mundo é muito real, rotineiro, e as canções são a minha forma de agarrar o abstracto”, diz
REALITY FUGUE “I would make music even if I could not release records. The world is very real and routine, and songs are my way of reaching for the abstract,” David Fonseca says
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retrato | portrait
Cada novo disco editado torna-se num acontecimento mediático, mas o músico reaches the top of the charts. Between Waves is his third consecutive record ainda se surpreende quando alcança o topo. Between Waves é o terceiro disco to premiere at number one in the tops. “He is an esteemed author, composer, consecutivo de David Fonseca a alcançar o primeiro lugar do top logo na primeira photographer and film director, and those who know him are aware that he semana. “É um reconhecido autor, compositor, fotógrafo e realizador e, quem could be just as good at anything else if he just put his mind to it,” says Ricardo o conhece, sabe que seria capaz de executar qualquer outra actividade tão bem Fiel, the guitarist in his band. “He has a common sense, a talent for improvisacomo estas”, diz Ricardo Fiel, guitarrista da banda de David Fonseca. “Tem uma cation and leadership as I’ve only rarely seen. Not to mention his great soft skills, pacidade de raciocínio, improviso e liderança como raramente encontrei noutras and his brilliant sense of humour.” pessoas. Juntamente com muito boas soft skills, tem enorme sentido de humor”. The speed at which it all happened in David Fonseca’s career is astounding. Olhando para trás, é impressionante a velocidade com que tudo aconteceu na Born and raised in the town of Leiria, he earned a BA in Cinema – Image from the Lisbon Escola Superior de Teatro e Cinema, and attended the Fine Arts carreira de David Fonseca. Natural de Leiria, bacharelou-se em Cinema, variante Faculty in the same city. He actually began his professional career as a fashion de Imagem, na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, e chegou a frequentar a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Iniciou a sua vida photographer. What is truly amazing, however, is that he came to music by profissional como fotógrafo de moda. O mais extraordinário é que a música lhe chance. “I didn’t want to be a musician. I wanted to be a photographer. The aconteceu por acaso. “Não queria ser músico. Queria ser fotógrafo. O primeiro first Silence 4 record was released in June 1998, and we were playing the Padisco dos Silence 4 saiu em Junho de 1998 e em Dezembro estávamos a tocar no vilhão Atlântico [a large indoor arena in Lisbon] by December. That stripped Pavilhão Atlântico! A partir daí desdramatizei o sucesso. Ele nada tem de especial. success of its drama to me. It’s nothing special. I was immunised to the irresistible Não fiquei magneticamente atraído pelo draw of the summit,” he jokes. cume da montanha”, brinca. But life is not a photograph, where things De facto, a vida não é como uma fotografia, “Gosto muito das coisas pequenas, are staged to look good, recorded, and then em que preparamos o cenário na perfeição das coisas simples da vida” become an image for posterity: it’s a chaotic, e em seguida fixamos uma imagem para a messy, rapid, unpredictable process. The only posteridade: é um processo caótico, desorcertainty is that everything changes. “I never “I like small things, the simple denado, rápido, cheio de imprevistos. A única dreamed this would make a living of this. But things in life, very much” right on the first day on which I played with coisa certa é que tudo muda. “Nunca me pasSilence 4, in Reixida, a village near Leiria, in a sou pela cabeça fazer disto profissão. Mas no borrowed house, I knew I’d never stop doing it,” he recalls. “And when I saw that primeiro dia em que toquei com os Silence 4, em 1995, em Reixida, aldeia perto de music allowed me to dabble in other fields, such as photography and video, I realLeiria, numa casa emprestada, percebi que nunca mais deixaria de o fazer”, recorda. “E quando percebi que a música me permitia açambarcar outras áreas, como a ized it would be a dream job.” David Fonseca’s musical career began with Silence 4, a group he formed with fotografia e o vídeo, vi que seria o emprego de sonho”. A carreira musical de David Fonseca começou com os Silence 4, em conjunto com a few hometown friends. Their debut album, Silence Becomes It, was released amigos da sua terra natal. O álbum de estreia saiu em 1998 – Silence Becomes It. in 1998. To everyone’s amazement – including David himself – the record was a huge hit in Portugal, selling close to 250 thousand copies (six Platinum rePara grande surpresa de todos, incluindo do próprio David, o disco teve enorme cords). Two years later, in 2000, the band released its sophomore effort, Only sucesso à escala nacional, vendendo quase 250 mil cópias (seis discos de platina). Pain Is Real, which sold over 100 thousand copies. In 2002, the band broke up, Dois anos depois, em 2000, foi lançado o segundo álbum, Only Pain Is Real, com 100 mil cópias vendidas. Em 2002 a banda terminou, mas um ano depois David and the following year David Fonseca produced his first solo album, Sing Me Something New. Fonseca lançou o seu primeiro álbum a solo, Sing Me Something New. It is one of David’ traits: he is hyperactive, has many interests and several simulEsta é uma das características de David Fonseca: é hiperactivo, tem muitos interesses e projectos em simultâneo. “Quando li a biografia dos Queen percebi porque taneous projects. “When I read a biography of Queen, I realized why they were foram tão especiais: estavam sempre em digressão mundial, lançavam discos quase so special: they were always on a world tour, and released records almost every todos os anos”, explica. Em 2005 David Fonseca lançou o álbum Our Hearts Will year,” he explains. In 2005, David Fonseca released the album Our Hearts Will Beat As One que, na primeira semana de vendas, ganhou o estatuto de disco de Beat As One, which went to gold in its first week and was considered the best Pop ouro, e foi considerado melhor álbum Pop do ano em Portugal. Em Outubro de album of the year in Portugal. In October 2007, the release of Dreams In Colour would once again earn him the spotlight in Portuguese Pop. 2007, com o álbum Dreams In Colour, voltou a dar cartas na música nacional. In little over a decade, David Fonseca has produced four solo records, two with Em pouco mais de uma década, David Fonseca lançou quatro discos a solo, dois the band Silence 4, and one with the group Humanos; he has also released com os Silence 4, um com os Humanos, além de vários DVD. E ainda assim não se several DVDs. Still, he is bashful of his accomplishments. Whatever his field of dá demasiada importância. Seja qual for a actividade que escolha exercer, David é um juiz demasiado severo consigo mesmo, o que é sempre uma qualidade que choice, he is his harshest critic, a quality that often distinguishes exceptional distingue as pessoas de excepção. “Olho para o que faço de forma dura, ríspida”, individuals. “I look at what I do in a hard, harsh light,” he recognises. He is afirma. Sabe que dormir entre os louros é a melhor forma de os destruir e não well-aware that resting on one’s laurels is a sure way to spoil them, and has duvida que fazer as coisas o melhor possível neste momento o coloca no meno doubt whatsoever that doing his best right now puts him in the best posi-
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LÚCIDO “A música é importante, mas não o mais importante da vida. Se a casa arder, não é a guitarra que vou buscar” LUCID “Music is important, but it’s not the most important thing in my life. If my house were to burn down, I wouldn’t reach for my guitar first.”
lhor lugar para o próximo. No seu caso, o segredo da alegria no trabalho parece estar contido numa só palavra: excelência. Saber como fazer alguma coisa bem e apreciá-la. E é tudo feito com leveza, sem manias de grandeza. Não tendo domínio sobre os acontecimentos mais importantes, aqueles que determinam o curso da existência, David pensa que mais vale que se descontraia. “Vivo uma vida dupla. Uma vida de casa, estranhamente rotineira, e uma vida de estrada, isolado do mundo, com certa dose de loucura. No palco sou eu vezes mil. Como se a minha personalidade não tivesse barreiras. De resto, empurro o carrinho do supermercado, como toda a gente”. Eis outra característica pouco comum em pessoas com o seu grau de exposição: não quer ser inatingível. Não quer ser um mito. “A minha relação com os fãs é maravilhosa e muito terrena. Das coisas mais enriquecedoras que me acontecem na vida é perceber como as pessoas se ligam às músicas, como as canções as ajudam a ultrapassar momentos difíceis. É arrepiante”, diz, com um olhar fulminante, capaz de despedaçar uma janela, mas sem nunca perder a simplicidade que o caracteriza. “A música tem muito mais a ver com o acto de enrolar cabos numa sala de ensaios do que atingir o estrelato num programa de televisão. Tal como considero mais fascinante o ateliê de pintura de um artista do que a galeria onde ele expõe. Identifico-me muito mais com a forma descomprometida como tudo acontece no terreno”.
tion to face the future. In his case, the secret of happiness on the job seems to boil down to just one word: excellence - knowing how to do something well, and appreciate it. But all this is done with lightness, devoid of delusions of grandeur. David is aware that he has little control over the big events, those that determine the course of a life, consequently he believes that he might as well relax. “I live a double life. A strangely routine home life, and a life on the road, cut off from the world, with a certain dose of craziness. That’s me ramped up a thousand on stage. As if my personality knew no bounds. But beyond that, I push my supermarket cart just like everybody else.” And this is something else that sets him apart from most of those who enjoy his degree of celebrity: he does not want to be inaccessible. He does not want to be a living myth. “My connection to the fans is wonderful, and very down to earth. It’s one of the most enriching things that’s ever happened to me, understanding how people connect to music, how a song will help someone overcome a difficult moment. It gives me gooseflesh”, he says with a piercing look, one that could shatter a windowpane, while maintaining the simplicity that is all his. “(To me) Real music has much more to do with rolling up cables in a rehearsal room than with stardom on TV. Just like I consider the artists` studio much more interesting than the gallery where he shows. I identify much more with the natural way in which things happen in the studio, or on the road.”
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David prevê um futuro incerto, mas a caminhar por entre várias artes. Cinema e fotografia são dois amores supremos que não exclui nos passos a dar. Em todos os projectos em que está envolvido procura deixar o seu traço. “Para ser músico, tenho de me esquecer de mim próprio. Não posso viver agarrado ao ego, tenho de me entregar aos outros. Antes de entrar no palco, olho em frente e imagino aquelas milhares de pessoas antes de irem para o concerto, a escolherem a roupa certa, a jantarem mais cedo para me irem ver. E isso dá-me força para sair de mim próprio, para dar ao público algo esmagador, muito maior do que foi o seu dia”. Longe vão os tempos dos Silence 4, em que David Fonseca nem sequer tirava os olhos do chão. “Há quem ainda pense que as minhas músicas são daquelas de isqueiro na mão e quentinho no coração. Houve uma mudança. Há uma espécie de revolta, de tensão pronta a explodir, no palco”. Explosivo ou não, a sua crença nunca fraqueja. David Fonseca é um optimista. Segundo Tiago Palma, responsável pela contratação e acompanhamento de artistas da Universal Music, editora que o representa, junta ao optimismo o humor, “que além de contagiante, é bastante negro”. E conta, a propósito, um episódio: “Numa cerimónia de entrega de prémios em que o David não pôde estar presente por ter um concerto na mesma noite, fazia questão que, caso ganhasse e eu recebesse o prémio por ele, eu fosse até à apresentadora a fazer o moonwalk, que o meu discurso fosse em tirolês e que saísse do palco a dançar a Kalinka!”. Com humor e optimismo, todos os dias David Fonseca reinicia a esperança de começar tudo de novo: de iniciar o que não teve início, de completar o que não foi completo… Pelo caminho, percebe-se que tudo nele tem asas – o seu riso, os seus passos, a sua música. www.lagrimashotels.com v David believes his future is uncertain, but will always include the intermingling of various arts. Cinema and photography are his greatest passions, the ones he won’t surrender. He endeavours to leave his mark on all the different projects he is involved in. “In order to be a musician, I have to forget myself. I cannot hold on to my ego; I have to give of myself to others. Before walking on stage, I look straight ahead and imagine those thousands of people before they came to the concert, picking the right outfit, having dinner early to come see us. And that gives me strength to step outside myself and offer the audience something overwhelming, much bigger than their day.” Long past are the Silence 4 years, when David Fonseca never even looked up. “There still are those who think that my songs are lighter-in-hand, heartwarming things. There has been a change. A sort of rebellion, of tension that is ready to explode on stage.” Explosive or otherwise, his belief never falters. David Fonseca is an optimist. According to Tiago Palma, A&R for Universal Music, David’s record company, he also has a “very contagious, very dark” sense of humour. Tiago recounts that, “When David was unable to attend an award ceremony because he had a concert on the same night, he insisted that, should he win and I receive the award in his name, I had to moonwalk up to the presenter, deliver my speech in Tyrolean, and leave the stage dancing to Kalinka!” With humour and optimism, day after day David Fonseca reignites the hope of beginning it all afresh: to start all that had no beginning, to complete all that had no end… And along the way, it becomes clear that everything about him has wings: his laughter, his steps, his music. www.lagrimashotels.com v
ECLÉTICO Composto e escrito na íntegra por David Fonseca, Between Waves marca o seu regresso à performance de praticamente todos os instrumentos incluídos no disco: baixo, guitarra eléctrica e acústica, piano, bateria, percussão, sintetizadores...
ECLETIC Written and composed entirely by David Fonseca, Between Waves marks his return to playing most of the instruments on the record: bass, acoustic and electric guitar, piano, drums, percussion, synthesizers...
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Tété diz que viveu – e como Tété talks about her life – and what a life Teresa Ricou tem uma fome que nada tem a ver com o estômago e que a devora por dentro. Numa conversa intimista com José Miguel Júdice fala de generosidade, amor e arte, desfiando memórias da sua incomparável história de vida. Teresa Ricou is afflicted by a hunger that has nothing to do with the stomach and which consumes her from within. In an intimate conversation with José Miguel Júdice she talks about generosity, love and art, summoning up memories of her incomparable life story. texto / text Ana Rita Ramos | Fotos / photos Paulo Segadães
Por vezes sente umas garras na garganta e o peso de um saco de chumbo
no peito. Tété, 63 anos, única mulher palhaço em Portugal e fundadora do Chapitô, instituição artística e social de referência no país, luta contra a vida real, usando o riso como arma de intervenção. Mais do que uma organização não-governamental de apoio a jovens em risco, o Chapitô é uma irmandade fundada no céu. Todas as pessoas desfavorecidas deveriam ter um círculo como este. Na família Chapitô partilham-se sofrimentos primordiais, conquistas tremendas, êxitos efémeros, zangas, sonhos, projectos. Em conversa cúmplice com José Miguel Júdice, no lindíssimo Palácio Belmonte, na costa do Castelo, Teresa Ricou prova mais uma vez que é omnívora: quer devorar a vida de todas as maneiras. Desde miúda, vinda de uma conceituada família da burguesia nortenha, que se recusou a ser uma figura da decoração, uma peça que entrava e saía de cena segundo os ditames do decoro. Rejeitou viver presa na camisa-de-forças das convenções sociais e tornou-se palhaço, contra a vontade do pai, que ainda hoje julga que a filha está perdida no mundo. A história de Teresa Ricou é a prova de que a vida se faz caminhando, sem mapa, e não é possível voltar atrás. Apaixonou-se pelas artes circenses e, pelo caminho, percebeu que o trabalho artístico poderia ser usado como forma de intervenção social. Ao longo dos últimos 30 anos esta mulher não mediu esforços para ajudar o próximo e insistiu alucinadamente nas suas causas, porque só assim se produz resultados. E ainda hoje não larga a espada, não vá o diabo tecê-las. Como julgas que te libertas da lei da morte? Da lei da morte ninguém se liberta. Estou cá para me render. Estou cá para me despachar e dar lugar a outros. Mas não estou zangada com a morte. Ela que venha logo para abreviarmos o assunto.
Sometimes
she feels claws at her throat and the weight of a bag of lead on her chest. At 63, Tété, the only Portuguese female clown and founder of the Chapitô, an artistic and social institution that has become a national reference, fights against real life, using laughter as her weapon of choice. More than a non-governmental organization aiding youths at risk, Chapitô is a brotherhood made in heaven. All under-privileged people should have a circle like this. Within the Chapitô family one shares primordial suffering, tremendous accomplishments, ephemeral successes, squabbles, dreams and projects. In an intimate chat with José Miguel Júdice, at the beautiful Palácio Belmonte, in the costa do Castelo neighbourhood, Teresa Ricou once again demonstrates she’s an omnivore: she wants to devour life in every way possible. Since she was a child — from a respectable family of the Northern bourgeoisie —, she has refused to be a living decoration, an extra that would step in and out of scene according to the dictates of decorum. She rejected a life jailed by the straight-jacket of social conventions and became a clown, against the will of her father, who still believes his daughter is lost to the world. Teresa Ricou’s story is evidence that life can be as one goes along, without a roadmap, and that turning back is not an option. Teresa fell in love with the circus and realized that the work of an artist could be used as a form of social intervention. For the past 30 years, this woman has spared no effort to help others and thrown herself fervently into her causes, because that’s the only way to get results. And even today she doesn’t sheath her sword — after all who knows what still lies in wait? How do you think you free yourself from the rule of death? No one escapes the rule of death. I’m ready to surrender myself. I’m ready to move on and pass the torch. But I’m not angry with death. Let it come swiftly
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Mas não estás cá há muito tempo… Estou em andamento, ainda com um caminho a percorrer. Tenho o Chapitô de boa saúde, e preparo-me para novo salto: a abertura de um espaço no Porto de Lisboa, cuja proposta é passar do ensino secundário para o ensino superior. Que belos planos! Sim, estamos a criar o plantel circense de palhaços profissionais. Lembro-me de ter visto na Gulbenkian uma peça do Chapitô e ter ficado impressionado com o fascínio do movimento. E já nessa altura queria perceber como é que consegues pegar naqueles miúdos para que saiam de si próprios em espantosas participações cénicas. Todos temos potencial, somos como argila, moldáveis? Eu não moldo, limito-me a dar oportunidades. Todos os jovens, mais ou menos esbeltos, mais ou menos integrados, têm alguma aptidão para as artes do espectáculo, que contribui para a cultura dos povos – que é onde a humanidade realmente se encontra. Quando se lhes dá a oportunidade, eles são muito desafiadores. Foi fascinante. Confesso que foi dos espectáculos mais belos a que assisti na vida. De nível realmente internacional… Obrigada. Quando ouço comentários assim fico feliz por, no passado, ter escutado em mim a voz da artista de intervenção, cujo som foi mais alto do que todas as outras vozes. É o som das gargalhadas. Que fazem rir as crianças ricas, unindo-as às pobres. Ando a ler de novo o Albert Camus da minha juventude, e por isso pergunto-te: fazes melhor trabalho com os miúdos rebeldes?
so we can get it over with. But you haven’t been here all that long... I am still in motion, and I still have a road to travel. The Chapitô is in good health, and I am getting ready for a new leap forward: the opening of a place at the Port of Lisbon, through which to bridge secondary and higher education. What great plans! Yes, we’re training a squad of professional clowns. I remember seeing you at the Gulbenkian (Foundation) in a Chapitô play and being enthralled by its fascination with movement. Even back then I wanted to understand how you could take those kids and enable them to step out of themselves on stage in amazing performances. We all have potential, are we like clay, mouldable? I don’t sculpt, I just offer opportunities. All youths, be they more or less graceful, more or less well-adjusted, have some aptitude for the performing arts that contributes to popular culture – which is where humanity really finds itself. When you offer them the opportunity, they rise to the challenge. It was fascinating. I must confess it was one of the most beautiful shows I’ve seen in my life. Even on an international level... When I hear such a comment I’m happy that, in the past, I listened to the voice of the intervention artist within, its sound was louder than all the others voices. It is the sound of laughter. It is the common denominator for rich children and poor. I’ve been re-reading the Albert Camus of my youth, so I put it to you: do you do your best work with the rebellious ones? I’m self-taught, spontaneous, impulsive, addicted to work. We were all born the
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Sou autodidacta, espontânea, adicta ao trabalho. Todos nascemos da mesma maneira e acredito que todos somos capazes. No Chapitô incentivamos o encontro entre os mais e os menos rebeldes, os mais e os menos ousados, os mais e os menos inteligentes. O importante é ter a capacidade de comunicar com eles, reforçando as suas competências. Não tenhamos dúvidas: todos têm competências. Julgo que nós, portugueses, não temos muita graça. Preocupamo-nos muito com o que os outros pensam de nós. Como é que, com esta massa humana, se põe os miúdos a serem tão diferentes, soltos, livres, flutuando no ar? Sabes qual é o segredo? Treinar todos os dias, injectar-lhes energia positiva, fazendo-os acreditar que são capazes, porque o ser humano é capaz de quase tudo. O Chapitô não é só uma escola. É um espaço aberto onde eles se integram com o público logo desde o início. Alguns destes jovens estão sob a tutela da justiça, mas convivem com outros que se candidatam vindos das mais importantes famílias do país. Julgo que consigo fazer um equilíbrio social interessantíssimo. Falando de ti. Estiveste em França, em busca de outras culturas, em busca de liberdade. Alguma coisa trouxeste de lá? Paris fez-me descobrir que era possível. Foi em França que verdadeiramente aprendi o que era a cultura e tive a certeza do que queria ser. Nem mulher recatada, nem mulher casada, antes Tété – mulher palhaço. Adquiri a fantasia de ser uma mulher livre de preconceitos, mas com sentido do mundo em que navegamos. A inspiração para o Chapitô veio da Maison de Jeunes et de la Culture de Gentilly. Inspirou-me também Aria-ne Mnouskine, grande mulher das artes e espectáculos, que em cima de uma fábrica abandonada criou a Cartoucherie de Vincennes, grande centro cultural de Paris. Estive na essência de tudo isso, aprendi sapateado, acrobacia e dança e bebi dos ensinamentos filosóficos e artísticos desta mulher. Apaixonei-me pelas artes circences. Em Paris tra- balhava na rua e no metro, que naquela cidade era algo muito digno… Na rua havia espaço para cada artista? Havia competição pelos melhores locais, mas a autarquia de Paris geria bem a coisa. A rua era vista como espaço de cultura. Devo dizer que nunca tentaram roubar-me o lugar. Ninguém quer ter o papel de palhaço… Ainda hoje há um estigma face à profissão de palhaço, é isso? Sim. A sociedade não a assume como profissão. Sou uma profissional! Os palhaços são mal interpretados. Chamam palhaço ao corrupto… Usam “palhaço” como insulto… E é o contrário. O palhaço é a pessoa que denuncia. É a voz do povo. Ultimamente fazem metáforas desagradáveis, como o “circo dos políticos”. Não há muita gente a querer transformar-se para fazer rir os outros. Mas eu gosto muito! Digo com franqueza, gosto de ser palhaço quando estou com as pessoas. Quando o ambiente está pesado digo umas piadas e tudo muda. Mas sejamos sinceros: quando decidiste ser palhaço não deste a maior alegria do mundo aos teus pais… Não. Nasci no seio de uma família burguesa da qual se esperava que tivesse filhos, todos burgueses – nos hábitos e nas escolhas. O meu pai ainda hoje pensa que
same and I believe we are all capable. At the Chapitô we promote the meeting of the more with the less rebellious, the more with the less daring, the more with the less intelligent. Everybody has something to contribute. The important thing is to have the ability to communicate with them, strengthening their skills. Let there be no doubt: everybody has some skill. I think that we, the Portuguese, aren’t naturally funny. We’re too concerned with what others think of us. With such human mass weighing you down, how can you turn out kids that are so different, untamed, free, floating on air? Do you know what the secret is? Practice every day, inject them with positive energy, make them believe they are able, because a human being is capable of almost anything. The Chapitô isn’t just a school. It is an open space where they mingle with the public right from the start. Some of these kids are charges of the Courts, but they mingle with other applicants who hail from some of the most important families in the country. I think I have an interesting social balancing act going on. Let’s get back to you though. You were in France, searching for other cultures, searching for freedom. Did you bring anything back with you? Paris allowed me to discover that it was all possible. It was in France that I learnt what truly culture was and that I became sure of what I wanted to be. Not a mild-mannered woman, nor a married woman, but Tété – woman clown. I developed the fantasy that I would be a woman free from preconceptions, but with a sense of the world which we navigate. The Chapitô was inspired by the Maison de Jeunes et de la Culture de Gentilly. Ariane Mnouchkine, a great woman of the arts and theatre, also inspired me. She created the Cartoucherie de Vincennes, a great Paris cultural commune, above an abandoned factory. I was in the heart of it all, I learnt tap-dancing, acrobatics and dance, and I drank in that great woman’s philosophical and artistic teachings. I fell in love with the circus arts. In Paris I worked on the street and in the metro, which in that city was considered something dignified... Was there a space for each artist on the streets? There was competition for the best spots, but the Paris authorities ran things well. The street was seen as a space for culture. I must say that no one ever tried to steal my place. No one wanted to be saddled with the role of the clown... Even these days there’s still a stigma around the profession of clown, is that it? Yes. Society doesn’t value it as a profession. But I am a professional! Clowns are misinterpreted. And they call the corrupt clowns... People use “clown” as an insult... When it’s quite the contrary. The clown is the jester, the person that denounces. It’s the voice of the people. Lately unpleasant metaphors have been all the fashion, like “political circus”. There are not a lot of people willing to dress up to make others laugh. But I still really like it! I say this in all frankness: I like being a clown around other people. When the atmosphere is charged, I tell a few jokes and everything changes. But let’s be blunt: when you decided to become a clown you didn’t give your
Foi em França que tive a certeza do que queria ser: nem mulher recatada, nem mulher casada, antes Tété – mulher palhaço
It was in France that I became sure of what I wanted to be. Not a quiet woman, nor a married woman, but Tété – woman clown
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estou perdida! E na verdade há muito tempo que me encontrei – e ajudei muita gente a encontrar-se. Gosto muito de fazer rir. Mas como dizia José Gomes Ferreira, “rir sempre também cansa”… É preciso ter a dosagem certa. Usei a arte do palhaço como forma de comunicar. Por exemplo, vou aos hospitais dar alento a quem precisa… Deves ter histórias inesquecíveis! Sim, isso alimenta a minha vontade de continuar, ensinando os outros, mas sempre que possível passando à acção. Ultimamente ando demasiado ocupada com a administração do Chapitô, que é o caos para quem não domina estas matérias… Mas não encontras alguém que seja melhor administrador do que palhaço? Não. Os portugueses não têm muito jeito para gerir. Não é por acaso que temos um problema crónico de administração do país. Passaste por várias dificuldades. Achas que isso te fortaleceu? Sim, claro. Em Portugal é difícil ser o único projecto artístico ligado às artes circenses, ser o único espaço que integra a justiça, a cultura, a educação, ser a única palhaço profissional. Ser único é um peso. Fui preso a seguir ao 28 de Setembro de 1974, e agradeço a todos os santos que isso tenha acontecido. A sério que sim. Defendo que os homens, em vez de fazerem o serviço militar, deveriam experimentar a prisão. Tu tens recuperado jovens em quem ninguém acreditava… Tenho dado um pequeno contributo. Este desajuste social em que vivemos ajuda a aumentar a delinquência. Quando se acredita nestes jovens percebe-se que tanto são capazes de assaltar um banco como de fazer piruetas acrobáticas num espectáculo deslumbrante. São heróis. Sobrevivem nesta sociedade tão feia, tão difícil. Mas somos poucos a fazer este trabalho de alto risco. É preciso não ter medo. É preciso encontrar formas alternativas para o ensino. Eu própria fui má aluna... Houve alguém que disse: “Não vale a pena salvar o mundo inteiro. Basta salvar uma pessoa”. Sentes que há uma epidemia derivada do teu trabalho? Um contágio? Não. Há algumas pessoas que descobrem o nicho da solidariedade, mas são poucas. Este é um trabalho de missionário, de persistência. Um trabalho de formiguinha. Uma opção de vida – e ainda para mais pouco rentável. As sementes demoraram mais tempo do que previ a dar frutos. Se tentares 100 consegues 50. Mas se tentares 50 só consegues 25… É verdade, precisamos de ambição. Há muito a fazer. Temos de estar disponíveis para olhar para as franjas da sociedade. As prisões são uma espécie de universidades de alto risco e estão cheias de jovens delinquentes que vêm dos centros educativos, sem rumo, sem futuro, sem sonhos. Estás em contacto permanente com a dor, o sofrimento, a frustração – e és palhaço. Às vezes, imagino, não é rir que te apetece. O palhaço chora? Chora na almofada. Achas que alguém vê? As pessoas gostavam de me ver chorar! Mas não! Choro sozinha. O palhaço é de carne e osso, tem sentimentos, não é um boneco. Mas também te ris muito… e comoves-te.
parents the greatest of joys... No. I was born into a bourgeois family and I was expected to have children, all of them bourgeois – in habits and life choices. To this day my father thinks I am lost! In truth, I found myself a long time ago – and helped man y others find themselves too. I really like making people laugh. But as José Gomes Ferreira said, “to always laugh is tiresome”... You have to have the right dosage. I use the arts of the clown as a means to communicate. For instance, I go to hospitals to comfort those who need it... You must have the most incredible stories! Yes, they feed my drive to continue, teaching others, whenever possible getting my hands dirty. Lately I’ve been too busy with the Chapitô management, which is pure chaos to anyone who doesn’t have a handle on matters... Can’t you find someone who is a better administrator than a clown? No. It’s curious. The Portuguese aren’t particularly adept at management. It is no accident that our country’s government has a chronic management deficit. You’ve faced many difficulties. Do you think they have toughened you? Yes, of course. In Portugal it’s difficult to be the only artistic project linked to the circus arts, to be the only space which combines justice, culture, education; to be the only professional woman clown. Being unique is a burden. I was jailed after the 28th September 1974 (a coup attempt to restore the right-wing dictatorship), and today I thank all the Saints that it happened. Seriously, I do. I believe that men, instead of serving the military draft, should experience prison. You’ve recovered youths in whom nobody believed... I’ve made a small contribution. This social imbalance in which we live helps increase delinquency. When you believe in these kids, you come to understand that they are as capable of robbing a bank as of performing acrobatic pirouettes in a stunning show. They are heroes. They survive in this oh-sougly, difficult society. But it’s quite lonely in this high-risk line of work. You have to find alternative approaches to teaching. I myself was a bad student... Someone once said: “It’s not worth trying to save the whole world. Saving just one person is enough.” Do you feel you’ve sparked an epidemic with your work? A contagion? No. Some people discover the niche of solidarity, but they are few. It’s missionary’s work, you need persistence. The work of an ant. A life choice — and on top of that it’s not very profitable. The seeds take longer than I thought to bear fruit. If you try for 100, you get 50. But if you only aim for 50, you only get 25.... It’s true, we need ambition. There’s a lot to do. We have to be ready to look to the fringes of society. The prisons are like high-risk universities, full of young delinquents who come from the education centres, without a goal, a future, dreams. You constantly come in contact with pain, suffering, frustration – and you’re a clown. I imagine that at times laughter is the farthest thing from your mind. Does the clown weep? She weeps into her pillow. Do you think anyone notices? I’m sure people would
A arte é um veículo de comunicação entre os povos e, quando bem empregue, tem um efeito transformador nos seres humanos Art is a communication vehicle between peoples and has, when well-employed, a transforming effect on human beings
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Sim. Mas depois da missão cumprida gosto de curtir as coisas boas da vida. Este palácio, por exemplo, é uma maravilha! Gosto de apreciar as pequenas coisas. O que fazes é uma paixão? Uma paixão continuada. Eterna. Sou amante da vida. Diz-se que não devemos estar apaixonados por aquilo que fazemos profissionalmente. Pois eu estou. Sou pessoa de construir, reconstruir, criar, inventar. Gosto de tudo, do guarda-roupa, da costura, dos adereços, do palco, das luzes… Para mim a vida é uma transformação permanente. Neste momento estou com um novo desafio, que é a administração do Chapitô. Todo o projecto é muito bonito mas tem de haver uma retaguarda. Se ela não funcionar não há salários, não há futuro, não há projecto. Quantas pessoas tens no Chapitô? Entre colaboradores do centro educativo, da acção social, professores, os colaboradores do turno nocturno… 120. Começamos às 9:00 da manhã e acabamos às 2:00 ou 3:00 da madrugada. É um pelouro contínuo! Espanta-me haver tão pouca referência ao teu trabalho nos media... Mesmo assim temos tido mais visibilidade. Mas a comunicação social aproveita-se do lado bombástico. Sangue vende melhor. Tenho de proteger as histórias de vida daqueles miúdos, não quero expô-los. Concordo que deveríamos ter um incremento no marketing social. As pessoas olham para o Chapitô como cartão postal, levam lá os amigos estrangeiros para mostrar a vista e estão-se nas tintas para o trabalho que está por trás. Fico tristíssima. Quero que saibam que o Chapitô é uma casa sem
like to see me cry! But I don’t. I weep to myself. The clown is flesh and bone, she has feelings too, she’s not a puppet. But you also get to laugh a lot... and be moved. Yes. But after the mission is accomplished, I like to indulge in the good things in life. This palace, for example, is marvellous! I like to appreciate the small things. Is what you do a passion? An ongoing passion. Eternal. I’m a lover of life. It’s said we cannot be in love with what we do as a job. Well, I am. I am a person who builds, rebuilds, invents. I like pretty much everything, the wardrobe, the costumes, the props, the stage, the lights... For me life is a permanent transformation. At the moment I have a new challenge, which is the Chapitô management. The whole project is very beautiful, but there has to be a something to support it. If that doesn’t work there are no wages, no future, no project. How many people work with you at Chapitô? Counting collaborators working in the study centre, social intervention, teachers, the night shift workers... 120. We start at nine in the morning and wrap up at two or three in the morning. It’s a long day’s work! It always astounds me that there are so few mentions of your work in the media... Even so we’ve had our share of visibility. But the media focuses on the bombastic side of things. Blood sells. I believe I have to protect those kids’ life stories, I don’t want to expose them. I agree we should improve our social marketing though. People see Chapitô as a postcard, they take their foreign friends there to show them the view and couldn’t care less about all the work that goes on behind the scenes. It makes me sad, very, very sad. I want them to know Chapitô is a house
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à conversa | a talk with
portas. Façam favor de lá entrar, que ainda tenho tantas histórias para contar! Vou fazer uma confissão. O Chapitô está ligado a um dos momentos mais importantes da minha vida. A minha filha disse-me um dia: “Gostava de falar consigo sobre um assunto importante”. Fomos ao Chapitô ao fim da tarde. E foi aí que me revelou que o namoro que mantinha há algum tempo era capaz de dar em casamento. E deu! Tenho três netos que, de certa forma, para mim, nasceram no Chapitô. Isso é interessante, porque o Chapitô é uma família e um ponto de encontro de outras famílias. Saio de lá muito tarde e fico feliz por ver que os alunos fazem daquele espaço a sua casa. Estão ali até à noite. E eu sempre a dizer-lhes: “Atenção às horas, não se deitem tarde!”. Tens com eles uma relação de cumplicidade mas também de grande exigência. É uma disciplina aceite… Sim. Feita de forma informal, mas séria. Eles vêem-me lá todos os dias. Não comunico por mail. Faço-o olhos nos olhos. Corpo a corpo. Fiz a minha escola primária no ensino público. A minha mãe era viúva, vivíamos na zona mais pobre de Coimbra, a Sé Velha, e a minha escola era frequentada pelos miúdos mais problemáticos. Praticamente todos, no fim da quarta classe, foram trabalhar. E neste cenário desfavorecido assisti a impressionantes casos de sucesso. Um colega meu, filho de um sapateiro, tornou-se num grande advogado. Admiro quem faz o trabalho de puxar por esta gente. A burguesia deveria reger-se por esses princípios. Eu fiz isso. Estou satisfeita com as minhas escolhas. Em que é que o Chapitô é especial? Temos um projecto. Juntamos na mesma organização as valências de educação, reinserção, acção social, saúde, artes, cultura. Precisamos, claro, do apoio da sociedade civil. O que é que te falta para te sentires plenamente realizada? Ficar mais perto dos meus mais próximos: o meu filho e a família dele. Porque este projecto rouba-me muito tempo. Ainda não me consegui organizar para me focar na família. Mas o importante não é a quantidade do tempo, é a qualidade do tempo. Bom, digo isto para aligeirar a minha própria culpa… Sei do que falas, mas gostava que fosse diferente. Como é que a Tété está com a Teresa? Tenho muitas saudades da Tété, mas neste momento a Teresa está a mil à hora. Tenho de acelerar, para ver se consigo estar com a Tété daqui a uns dias. Preciso de respiração. Por acaso deixei de fumar há três anos, e o meu coração está óptimo. Fumava três maços de cigarros por dia! Chesterton falava das “virtudes enlouquecidas”. Em tudo na vida é preciso ter equilíbrio. As coisas boas, levadas em excesso, tornam-se más. Há um chá que se for servido com a água a 100 graus é horrível, mas com a água a 80 é excepcional… Claro que há excessos fantásticos! O teu excesso de generosidade é uma inspiração! Isso fica para uma outra conversa, num outro dia… www.palaciobelmonte.com v
with no doors. Please come in, I have plenty of stories to tell! I have a confession. The Chapitô is linked to one of the most important moments in my life. One day, my daughter told me: “I’d like to talk to you about something important”. We went to Chapitô at the end of the day. And it was there that she told me that the relationship she had been in for awhile, might lead to marriage. And it did! I have three grandchildren who, in a certain way, for me, were born at the Chapitô. That’s very interesting, because Chapitô is a family and a meeting point for other families. I usually leave very late and I’m happy to see that many students make that space their home. They’re there into the night. And I’m always telling them: “Watch the time, don’t go to bed too late!” You share a very close relationship with them, but also a demanding one... It’s an accepted discipline. It has to be. Forged in an informal, but serious, way. They see me in person every day. I don’t communicate by email. I do it face to face. Body to body. I attended primary school at a state school. My mother was a widow, we lived in the poorest neighbourhood in Coimbra, the Sé Velha, and my school was attended by the most difficult kids. Practically all of them got a job right out of fourth grade. And yet from this adverse background I witnessed impressive examples of personal success. A schoolmate of mine, the son of a cobbler, went on to become a great lawyer. I truly admire those who work to empower these people. The bourgeoisie should live by such principles. I know I did and I’m happy with my choices. What makes Chapitô special? We have a project. We gather within the same organisation the ideals of education, social reinsertion, social intervention, healthcare, arts, and culture. We need the support of society of course. So what’s missing to make you feel fulfilled? To spend time with my nearest and dearest: my son and his family. Because this project saps so much of my time. I haven’t been able to organise myself to focus on my family yet. But the important thing isn’t the amount of time, but the quality. Well, I say this to assuage my own guilt... I know what you mean, but still, I would like it to be different. How does Tété get along with Teresa? I miss Tété a lot, but right now Teresa is speeding along at a thousand per hour. I have to accelerate, to see if I meet up with Tété in a few days. I need to breathe. As it happens, I stopped smoking three years ago and my heart is doing fine. I used to smoke three packs a day! Chesterton spoke of the “maddened virtues”. In everything in life you have to find a balance. The good things, taken in excess, become bad. There is a tea that if served with water at 100 degrees is awful, but with water at 80 degrees it’s exceptional... Of course there are fantastic excesses! Your excess of generosity is an inspiration! That’s a topic for another conversation, another day... www.palaciobelmonte.com v
No Chapitô transformamos jovens marginalizados em líderes das artes performativas, privilegiando o espaço da rua e pisando os palcos do teatro
At Chapitô we transform marginalised youths into leaders in the performing arts, privileging the street space and stepping on the theatre stage
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puro branco Purest White Praia do Pego, comporta. A atmosfera chic do branco voltou em força com vestidos de tirar o fôlego para iluminar o Verão. Pego Beach, Comporta. Crisp, chic white is hip again with breathtaking ensembles to brighten your Summer Fotografia/photography paulo segadães Produção / production Luciane coelho / sandra nascimento
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Vestido / Dress, Loja das Meias, €245 Biquini / Bikini, Lenny/Fio d`Água €148 Echarpe / Scarf, Gerard Darel Pulseira Crochet / Crocheted bracelet, Tous, preço sob consulta / price on request Colares / Necklaces, Loja da Praia, €118 Brincos / Earrings, Ana Calheiros, Loja das Meias, €105
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Túnica / Tunic, Totem, €135 Óculos / Glasses, Carrera, preço sob consulta /price on request Carteira / Purse, Hugo Boss, €819 Pulseiras / Bracelets, Louis Vuitton, a partir de €200, starting at €200 Chapéu / Hat, Loja da Praia, €70 Colares / Necklaces, Loja da Praia, €120 Chinelas de vinil / Vynil slippers, Chanel na / at Stivali, €190
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Macacão / Jumpsuit, Cia Marítima, €239 Sandálias / Sandals, Hugo Boss, €189 Colar / Necklace, Ana Calheiros na / at Loja das Meias, €252
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Fato-de-banho / Bathing suit, La Perla na / at Loja das Meias, €330 Colar / Necklace, Loja da Praia, €118 Sandálias / Sandals, Cesare Paciotti na / at Stivali, €349
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Vestido / Dress, Gucci na Stivali, €1,656 Brincos / Earrings, Andrea na / at Loja das Meias, €63 Sapatos/Shoes, Luís Onofre, €369
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Biquíni / Bikini, Lenny Fio d`Água, €153 Calças / Trousers, Gerárd Darel na / at Loja das Meias, €143 Bracelete / Bracelet, Fio d´Água, €369 Carteira / Purse, Gucci na / at Stivali, € 1,760
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Blazer / Blazer, Dolce&Gabbana na / at Stivali, €843 Biquini Bikini, Lenny / Fio d`Água, €156 Pulseiras em madeira / Wooden bracelets, Nuno Baltazar, €60 e €45 Botins / Ankle boots, Weiber Steiger na / at Stivali, €616
Maquilhagem e Cabelos: Joana Moreira Modelo: Lúcia Custódio / Just Make up and hair: Joana Moreira Model: Lúcia Custódio / Just A produção foi realizada no restaurante Praia do Peixe, Praia do Pego, Comporta. 91 306 12 56 www.praiadopeixe.com The setting for our fashion section was the restaurant Praia do Peixe, Praia do Pego, Comporta. 913 061 256 www.praiadopeixe.com
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TRIÂNGULOS DE NADA
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“O VERDADEIRO BIQUíNI CONSEGUE PASSAR POR DENTRO DE UMA ALIANÇA DE CASAMENTO”, DISSE LOUIS RÉARD NA APRESENTAÇÃO DA SUA BOMBÁSTICA CRIAÇÃO. E PASSADOS 64 ANOS CONTINUA A SER UM ÍCONE DE LIBERTAÇÃO E SENSUALIDADE FEMININA. “THE TRUE BIKINI CAN BE PULLED THROUGH A WEDDING RING,” SAID LOUIS RÉARD WHEN INTRODUCING HIS BOMBASTIC CREATION. 64 YEARS ON, THE BIKINI REMAINS AN ICON OF FEMININE LIBERATION AND SENSUALITY. Texto/text Ana Sofia Rodrigues | Ilustração/Ilustrations Margarida girão | fotos/photos Getty Images
A culpa foi do umbigo.
The blame is ultimately the navel’s.
Estrelas conquistadas Em Maio de 1946 o estilista Jacques Heim anunciava o atome, o traje de banho mais pequeno do mundo. E se não fosse um engenheiro mecânico francês, hoje em dia as mulheres iriam mesmo para a praia vestidas com “átomos”. Num autêntico braço de ferro, Louis Réard respondeu, dois meses depois, com o biquíni. Ousou aquilo a que Heim não se atreveu: destapar o umbigo. O biquíni era de tal forma chocante para a época que nenhuma modelo o quis vestir. Foi uma stripper do Casino de Paris, Micheline Bernardini, que aceitou o desafio. No dia 5 de Julho, na piscina Molitor, usou o primeiro fato de banho de duas peças da história, perante um grupo de fotógrafos incrédulos. Um modelo em algodão, com estampado a imitar recortes de jornal e medidas semelhantes às usadas actualmente. O
Stars conquered In May 1946, designer Jacques Heim announced the atome, the world’s smallest bathing suit. And if it hadn’t been for a French mechanical engineer, today’s women would still be going to the beach sporting “atomes”. In a true tug-of-war, Louis Réard responded, two months later, by unveiling the bikini. He dared to do what Heim hadn’t: uncover the navel. The bikini was so shocking for the times that no model would wear it. It was Micheline Bernardini, a showgirl from the Paris Casino, who finally accepted the challenge. On July 5, at the Molitor swimming pool, the first bikini in history was shown off before a group of incredulous photographers. A cotton item, sporting a print imita-
Ombros descobertos, costas decotadas e até pernas desnudadas foram revelações aceites. Mas uma peça de roupa que tornava público o umbigo de uma mulher era “imoral”, “um ultraje”, “uma afronta aos bons costumes”. Os conservadores quiseram bani-lo, a imprensa previu o seu fim em quinze dias. Um equívoco. O biquíni – descrito por um jornal da época como “quatro triângulos de nada” – precisou de mais de dez anos para se impor, mas conseguiu. Diana Vreeland, editora de moda das revistas Vogue e Harper’s Bazaar, considerou-o, “depois da bomba atómica, a invenção mais importante do século XX”.
Exposed shoulders, deep-cut backs and even naked legs were acceptable revelations. But a piece of clothing that made public a woman’s navel was “immoral”, “an outrage”, “an affront to good manners”. Conservatives wanted it banned, the press predicted its end within 15 days. They couldn’t have been more wrong. The bikini – described by a newspaper at the time as “four triangles of nothing” – took more than 10 years to impose itself, but it inexorably did. Diana Vreeland, fashion editor at Vogue and Harper’s Bazaar magazines, said it was “after the atomic bomb, the most important invention of the 20th century”.
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efeito foi bombástico, tal como Louis Réard pretendia. Não fora por acaso que escolhera o nome biquíni para a sua criação. Uns dias antes, os Estados Unidos tinham realizado os primeiros testes nucleares em tempo de paz, no atol Bikini. E esta peça de roupa, que se transformou numa bomba atómica para o conservadorismo do pós-guerra, foi posta à venda numa caixa de fósforos. Acendeu o rastilho das críticas. O Vaticano considerou-o imoral e divulgou uma nota, assinada pelo Papa Pio XII, contra o seu uso. Países como Portugal, Espanha e Itália responderam com a sua proibição. Como seria de esperar, as vendas foram um fracasso. “Réard estava 15 a 20 anos à frente do seu tempo. Só algumas mu-lheres da classe alta europeia acolheram a sua criação. Tal como aconteceu com o abandono do espartilho, após a I Guerra Mundial”, considera Kevin Jones, historiador de moda do Fashion Institute of Design & Merchandising de Los Angeles. A aceitação do biquíni esteve intimamente ligada ao cinema. Na década de 50 foi novamente uma francesa que o colocou na ribalta. No filme E Deus Criou a Mulher Brigitte Bardot surpreendeu com um atrevido modelo xadrez vichy e iniciou uma moda. St Tropez tornou-se a casa espiritual desta peça, conquistando elites e estrelas de cinema. Marlyn Monroe, Jane Mansfield, Rita Hayworth e Ava Gardner desfilaram pelas praias com os seus pequenos biquinis. No Brasil foram também as artistas quem começou a usá-lo, atraindo multidões curiosas ao areal carioca em frente ao Copacabana Palace. Símbolo de libertação Nos anos 60, em plena revolução sócio-cultural, a mulher encontrou no biquíni uma forma de expressar a sua liberdade. “Impôs-se em função da força das mulheres e não da força da moda”, defende o historiador de moda Olivier Saillard. Na rádio Brian Hyland cantava Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini. Um pequeno biquíni às bolinhas amarelas que continua a acompanhar o imaginário de gerações. Em 1962 a revista Playboy usou pela primeira vez na capa uma modelo com o novo traje sensação e Ursula Andress, no emblemático filme Dr No, encanta o espião 007 com as curvas reveladas pelo seu poderoso e minúsculo traje de banho branco. A partir da década de 70 os mais de 7.000 quilómetros de praias brasileiras tornaram-se laboratórios de novas ideias. Com a loucura do fitness e do culto do corpo os biquinis não pararam de diminuir de tamanho. Primeiro com o modelo tanga, e, quando já se pensava que era impossível ficar mais pequeno, surgiu o famoso fio dental. Os modelos multiplicaram-se: “enroladinho”, “cortininha”, “asa-delta”, “lacinho nas laterais”, “meia-taça”, “tomara-que-caia”. A praia transformou-se em espaço democrático, onde se misturam opções mais reduzidas com modelos mais discretos, estampados com lisos, algodões com tricots. Isabel Costa, consultora de moda, considera que o biquíni continua a apelar à criatividade: “É uma peça que se reinventa com aplicações, bordados, padrões, novos tecidos, texturas e formatos”. Para este Verão destaca duas tendências: “Uma desportiva, com cores fortes, contrastantes, com tecidos tipo látex e fecho-éclair, e uma linha retro, vichy, com padrões florais, cintura subida e pouco cavada. O uso de aplicações como cordas, missangas e cristais também se mantém”. E aconselha: “Há básicos que vale a pena ter sempre. Um biquíni em forma de triângulo clássico, com fitas de lado, em cores sólidas como o preto, branco e vermelho, fica sempre bem. Depois pode ser combinado com padrões que surjam em cada ano”. A oferta é variada e flexível. “Hoje as lojas permitem combinações de tamanhos à
Brigitte Bardot em St Tropez: ícone da moda Brigitte Bardot in St Tropez: fashion icon Marilyn Monroe desfilava nas praia com os seus pequenos biquinis Marilyn Monroe would strut her small bikinis on the beach
ting newspaper cuttings, and with measurements similar to those used today. Its effect was bombastic, just as Louis Réard had wished. It wasn’t by chance that he had chosen the name bikini for his creation. A few days earlier, the United States had conducted the first peace time nuclear tests - at the Bikini Atoll. Here was a piece of clothing that was itself an atom bomb aimed at post-War conservatism. It was sold in a matchbox and lit the fuse of censorship. The Vatican considered it immoral and published a note, signed by Pope Pius XII, against the use of the bikini. As expected, sales were a flop. “Réard was 15 to 20 years ahead of his time. Only a handful of upper class European women took to his creation. Much the same happened when the corset fell
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out of favour, after World War One,” says Kevin Jones, a fashion historian at Los Angeles’ Fashion Institute of Design & Merchandising. The widespread acceptance of the bikini was intimately connected to the power of cinema. In the 1950s, it was (once again) a Frenchwoman who placed it in the limelight. In the movie And God Created Woman, Brigitte Bardot titillated sporting a daring gingham print bikini and kickstarted a fashion trend. St. Tropez quickly became the spiritual home of the bikini, conquering elites and movie stars. Marilyn Monroe, Jane Mansfield, Rita Hayworth and Ava Gardner paraded the beaches with their small bikinis. In Brazil, it would also be actresses that champion the bikini, drawing crowds of curious onlookers to the Rio beaches in front of the Copacabana Palace.
A actirz Rita Hayworth pousa em fato de banho no deck de sua casa Actress Rita Hayworth posing in bathing suit as she sits on deck at home
A actriz Rita Hayworth pousa em biquíni na piscina de sua casa Actress Rita Hayworth poses next to her pool in a two piecebathing suit
Uma peça de roupa que tornava público o umbigo de uma mulher era “imoral”, “um ultraje”, “uma afronta aos bons costumes” A piece of clothing that made public a woman’s navel was “immoral”, “an outrage”, “and affront to good customs” medida. Fazer o mix and match adequado é muito importante para valorizar cada corpo”, salienta. Ana Machado, que vende biquinis há cerca de quatorze anos, na loja Grão d’Areia, em Lisboa, concorda: “Há sempre um modelo que fica bem a cada mulher. Temos clientes de todas as idades, e mesmo gordinhas, que ficam lindas”. Será que o segredo para se usar biquíni é a confiança? Vânia Beliz, psicóloga e especialista em questões de sexologia, considera que “é natural que uma mulher com um biquíni se sinta mais sexy e que para ela seja uma vitória e um prazer usá-lo”. Mas revela: “Ainda existem muitos que confessam ter saudades de usar a imaginação para despir o corpo na fantasia e idealizar cada centímetro escondido…”. v
Symbol of liberation In the 1960s, in full-blown socio-cultural revolution, women found a way of expressing their independence in the bikini. As fashion historian Olivier Saillard says: “The bikini imposed itself thanks to the power of women and the power of fashion”. On the radio, Brian Hyland sang Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini – burning a tiny yellow dot bikini into the vivid imaginations of generations to follow. In 1962, Playboy magazine sported on its cover for the first time a model wearing the sensational new piece of beachwear, and in the emblematic film Dr No, Ursula Andress charms 007 with a white two piece-bathing suit. Since the 1970s, the over 7,000 kilometres of Brazilian beaches have become laboratories for new bikini concepts. With the fitness craze and the cult of the body of recent years, bikinis haven’t stopped shrinking. First came the thong, and just when you thought it was impossible to get smaller, the famous g-string models appear. The variations multiply: “rolled”. “tank-top”, “delta wing”, “lateral bow”, “half-cup”, “strapless”. The beach becomes a democratic space, where smaller alternatives share space with more modest models, printed or plain, cotton-fabric or knitted. Isabel Costa, fashion consultant, says the bikini continues to appeal to creativity: “It’s a piece that re-invents itself with embellishments, embroidery, patterns, new fabrics, textures and cuts.” For this summer, she highlights two key trends: “A sporty one, with strong, contrasting colours, with zippers and in fabrics such as latex, and a retro trend, with gingham or floral prints, high-waisted, with shorts rather than panties. The use of decorative elements like strings, beads and crystals will also continue”. She advises: “There are basics which are always worth having: a bikini in a classic triangle shape, with bows on the side, in solid colours like black, white and red, always looks good. Then it can be combined with the designs that appear each year.” The offer is varied and eclectic. “Today the shops allow combinations of all sizes to fit. The right mix and match is very important to suit each body,” she explains. Ana Machado, who has been selling bikinis for around 14 years at the Grão d’Areia store in Lisbon agrees, “There’s always a model to suit each woman. We have clients of all ages and even chubby ones that look beautiful in a bikini!” Can it be that the secret to wearing a bikini is confidence? Psychologist and a specialist on sexuality Vânia Beliz, considers that “it is natural that a woman wearing a bikini feels sexier and that for her it is a victory and pleasure to wear it”. But she reveals: “There are still many who confess to missing using their imaginations to undress the body in the fantasy of idealizing each hidden centimetre…” v
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1. Biquíni/Bikini, Companhia Marítima, €79,90 2. Vestido/Dress, Custo Barcelona, El Corte Inglés, €201 3. Colar/Necklace, Mango, €35 4. Óculos/Glasses, Dior, €200 5. Pulseiras/ Bracelets, Flamenco €19,99 6. Sandálias/Sandals, Mango, €39
1. Biquíni/Bikini Lenny, Espace Canelle, €135 2. Vestido/Dress, Flamenco, €109,99. 3. Colar/Necklace, Mango,€25 4. Cesta/Basket, Loja da Praia, €55 5. Bálsamo para depois do Sol/After Sun Balm, Lancaster, €54,33 6. Relógio/Watch, Michael Kors, €220 7. Sandálias/Sandals, Gerard Darel, €153
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1. Fato de banho/Swim suit, Companhia Marítima, € 74, 90 2. Cachecol/Scarf, Gant, € 38, 3. Óculos/Glasses, Marc Jacobs, € 120 4. Túnica/Tunic, Mango 5. Calções/Shorts, H&M, € 19,95 6. Óleo protector de cabelo/ Protective hair oil, Kerastase 7. Havaianas/Flipflops, € 40, Cª Brasil 8. Panamá/Panama hat, Loja da Praia , € 65. 9. Blush, L’Oreal
edição / edition: Luciane Coelho e Sandra Nascimento
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Tesouro escondido
UMA VIAGEM ATRAVÉS DE PRAIAS IMPOLUTAS, VILAS PISCATÓRIAS E CIDADES COM HISTÓRIA E CARÁCTER. O RETRATO DE UM ALGARVE ENCANTADO, EM TORNO DE UM resort DE CHARME, EVOCATIVO DE PAISAGENS MOURISCAS: O VILA MONTE.
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texto / text sara raquel silva Fotos / photos constantino leite
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SEASIDE AND COUNTRYSIDE A mere ten minutes from the best beaches, Vila Monte Resort promises tranquil days in the midst of the Algarve’s hills
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Até meados do século passado a costa algarvia pertencia aos pes-
cadores, aos agricultores e a meia dúzia de visionários. Entretanto, abriram-se as portas ao turismo de massas, parte das cidades descaracterizou-se e os areais abarrotaram de viajantes de pele dourada. Mas esse não é o Algarve que aconselhamos a visitar. Aquele por onde deambulámos – em torno do Vila Monte Resort, do Grupo Lágrimas Hotels&Emotions, em Moncarapacho –, conserva o aroma da maresia, quilómetros de paisagem de pomares ou barrocal, praias quase desertas e povoações pitorescas. Onde as férias se fazem de silêncio, cozinha aromática e mergulhos quase solitários em águas límpidas. No Vila Monte Resort os dias correm pacatos, ao ritmo do coaxar das relas e do trinado das andorinhas. Acorda-se devagarinho para descobrir nove hectares de jardins coloridos, o campo de golfe, o court de ténis ou a frescura de uma das três piscinas dispersas pela propriedade. Neste resort de charme com 53 quartos decorados com motivos andaluzes, pressa talvez só para chegar ao Spa, onde se pode usufruir desde um singelo banho turco a uma terapia ayurvédica ou tratamento facial anti-envelhecimento. Mundo de cuidados de saúde e beleza – alguns dos quais ao estilo magrebino, com direito a esfoliação com sabão negro e massagem com óleos essenciais. Quase poderíamos passar uma semana sem transpor as fronteiras deste pequeno reduto de bem-estar integrado na conceituada cadeia internacional Relais&Chatêaux. No entanto, a beleza e sossego das praias, cidades e vilas vizinhas lançam um apelo ao qual seria crime resistir. Olhão, apenas dez minutos a oeste, é a primeira sugestão de passeio. A passagem pelo mercado de arquitectura neo-árabe, levantado junto à Ria Formosa e à marina, deixa-nos participar no ritmo quotidiano dos locais – experiência a rematar por breve incursão pelo Bairro do Levante, de todos o mais antigo, com as suas casinhas de pescadores revestidas a azulejo. Abre caminho para o edifício do Compromisso Marítimo, onde foi instalado o museu municipal e se pode aprender um pouco mais da história da cidade. Claro que no Verão todos os caminhos vão dar à praia. A de Olhão fica na ilha da Culatra e, tal como a maioria das da zona, é acessível apenas de barco – a Ria, reserva natural, traça uma linha de água entre o mar e terra firme. A viagem, no entanto, é um preço muito pequeno a pagar pelo prazer de mergulhar num mar cálido pontilhado por peixinhos curiosos e curiosamente amigáveis – inegável
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As late as the mid 20th century the Algarve coast was simply
the home to fisherman, farmers and a handful of visionaries. Since then the floodgates have opened to mass tourism, the cities have lost much of their original character, and the sand dunes have become crowded with golden skinned vacationers. But that’s not the Algarve we suggest for your destination. There’s another Algarve, the one surrounding Moncarapacho and its Vila Monte – a Lágrimas Hotels&Emotions Group resort. It’s a place to leisurely wander through, a place where the wind carries the smell of brine, of orchards and wooded gullies sprawling for miles, of almost-deserted beaches and picturesque towns. A place where the visitor can indulge in the natural silences, the fragrant cuisine, and swims in pristine waters. Around the Vila Monte Resort the days roll by placidly, to a gentle soundtrack of tweeting sparrows and croaking tree frogs. One wakes unhurriedly to leisurely explore the nine hectares of blooming gardens, golf course, tennis courts and the coolness of one of the three pools dotted throughout the grounds. At this charme resort, boasting 53 rooms elegantly decked in Andalusian motifs, the only rush is to get to the Spa, where you can indulge in a simple steam bath, Ayurvedic therapy, or a anti-aging facial. In fact there’s a world of health and beauty care at your service – like the Magheb-style exfoliation with black soap and essential oil massage. One could easily wile away an entire week without exiting the grounds of this small sanctuary of well-being, part of the renowned international resort chain Relais&Chatêaux. However, the beauty and peacefulness of the neighbouring beaches, towns and villages are a temptation that one would be hard pressed to ignore. Olhão, just 10 minutes to the west, is our first daytrip suggestion. A tour of the market with its neo-Arabic architecture, standing next to the Ria Formosa and the marina, will let you tap into the rhythms of local everyday life. This should be followed up with a side trip to the Bairro do Levante, the town’s oldest neighbourhood, with its fisherman cottages decked in beautiful azulejo. The Levante leads naturally to the Compromisso Marítimo building, where one can find the municipal museum and learn a little bit more about the city’s history.
PRAIAS IMPOLUTAS Atravessando a Ria Formosa descobrem-se praias com areais a perder de vista e águas cálidas povoadas por peixinhos PRISTINE BEACHES Across the Ria Formosa, the beaches that are revealed boast endless expanses of sand and warm waters teeming with tiny fish
Com quatro edifícios dispersos pelos jardins, o Vila Monte Resort possui cerca de 200 obras de arte, o que o torna único no mundo Spread out over four separate buildings rising from the well-tended gardens, the Vila Monte Resort possesses a collection of 200 works of art on show, making it unique in the world
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passeio | outings
Marinhas da Ria Formosa Saltworks on Ria Formosa
Restaurante Crispim, Fuzeta Sorbet na cataplana, Vila Monte Resort
Crispim Restaurant, Fuzeta
In Summer all roads in the Algarve lead to the beach, of course. Olhão’s certificado ambiental. Quase ao lado, a partir da vila piscatória da Fuzeta, a ilha seafront beach lies on the island of Culatra. As with many beaches in the area de Armona oferece cenário semelhante. one can only get there by boat — the Ria, a nature reserve, cuts a fresh water Tavira, na direcção oposta, convida a caminhadas displicentes pelo emaradivide between the sea and land — but the cost of the trip is a small price for nhado de ruas estreitas e pequenas praças coloridasMarinhas por buganvílias e gatos da Ria Formosa a swim in the warm seawaters speckled with curiously friendly schools of fish preguiçosos. Atravessada pelo rio Gilão, guarda, entre o casario popular, deze– nature’s own certificate of eco-consciousness. A short hop along the coast, nas de palacetes renascentistas evocativos de uma época de fausto, elegância e the isle of Armona accessible from the fishing village of Fuzeta, also offers a amores corteses – as ruas dos Pelames e José Pires Padrinha são incontornáveis. comparable experience. Tem, também, a maior concentração de igrejas por terras algarvias. A mais imTavira, which lies in the opposite direction, is the type of place that invites ponente é a de Santa Maria do Castelo que, ao que se sabe, antes de os mouros long casual walks through a labyrinth of narrow streets and small squares entregarem Tavira ao comandante português D. Paio Peres Correia, servia como colour-speckled with buganvilia blooms mesquita. Aproveite a visita e passe em and indolent-cats. Divided by the river seguida pelas ruínas do castelo, hoje Nesta zona do Algarve adormece-se ao Gilão, it hosts, amongst its fisherman dominadas por um jardim perfumado a som das relas e partilha-se as ondas com cottages, dozens of Renaissance-like rosas e jasmim e com vista para as saos peixes – um privilégio único palaces that conjure images of a bygone linas, antigas fábricas de conservas de era of splendour, pomp, and courtly love. atum e curiosos telhados oitocentistas The Pelames and José Pires Padrinha em forma piramidal – característica In this corner of the Algarve one can fall asleep streets are must-sees. Tavira also hosts marcante do barlavento algarvio. Melhor to the song of tree frogs and share the waves the greatest number of churches of any perspectiva só mesmo a partir do topo with the fish – a unique privilege Algarve town. The most imposing is the da Câmara Obscura, na rua ao lado, anSanta Maria do Castelo, which, according tigo depósito de água equipado com um to the histories, was a mosque before the Moors handed over the town to the sistema de lentes e espelhos que permitem uma visão panorâmica de 360º. Portuguese captain D. Paio Peres Correia. While in town, don’t miss a chance to Conhecidas as principais cidades, desvendamos os segredos das pequenas visit the ruins of the old keep, these days dominated by a garden fragrant with povoações, memórias de um passado que gostaríamos de ver preservado. Em rose and jasmine blooms and a breathtaking view of the town’s saltworks, Luz de Tavira as casas mantêm o pitoresco das platibandas, muitas delas obrasthe old tuna canneries and the curious pyramidal 18th century rooftops – one -primas de trabalhos em argamassa com evidentes influências da Arte-Nova. Já Conceição merece visita sobretudo pela igreja matriz, de origem gótica, com of the traditional Algarvian architectonic features. The only better lookout admiráveis imagens e custódia setecentistas. Santa Catarina, rodeada por popoint is from the top of the Câmara Obscura, across the street, an ancient mares e laranjais, reflecte o típico ambiente rural do Barrocal, e Cabanas perwater tank equipped with a system of mirrors and lenses that allow for a 360º manece desde há décadas como o ponto de encontro entre a vila piscatória e panoramic view. a estância de veraneio. Talvez a mais encantadora seja Cacela-a-Velha, onde After we’ve enticed you with treasures of the cities, let’s delve into the sese pensa que o concelho de Vila Real de Santo António foi fundado. Provavelcrets of the small towns, living remnants of bygone days that we would like to mente povoada pelos fenícios, conserva o antigo forte e o casario de alvura see preserved. In Luz de Tavira you’ll find the cottages retain the traditional intocável. Hoje não passa de uma pequena aldeia miradouro debruçada sobre platbanda (typically a colourful fascia in azulejo or plaster), many of them
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RIA FORMOSA Junto a Cacela-a-Velha, a Ria Formosa faz a transição entre o barrocal e a praia da Fábrica, um dos segredos mais bem guardados da região RIA FORMOSA Close to the village of Cacela-a-Velha, the Ria Formosa transitions between the hinterland and the Fábrica beach, one of the area’s best-kept secrets
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TAVIRA... ...convida a caminhadas displicentes pelo emaranhado de ruelas e praças coloridas
TAVIRA... ...invites long casual walks through a labyrinth of narrow streets and coloured squares
Atravessada pelo rio Gilão, Tavira guarda, entre o casario, dezenas de palacetes renascentistas evocativos de uma época de fausto e amores corteses Divided by the river Gilão, Tavira hosts, amongst the fisherman cottages, dozens of Renaissance-like palaces that conjure images of a bygone era of splendour, pomp, and courtly love
a ria, proporcionando um dos mais belos pôres-do-sol de todo o Sul. Reserva uma surpresa: a praia com o nome de Fábrica. Tão deliciosamente exclusiva quanto a do Barril, Terra Estreita, ou Cabanas – talvez porque fica à distância de uma passagem de barco e não consta na maioria dos guias turísticos – pergunte no hotel como chegar. Está reservada aos espíritos curiosos, exigentes, amantes da natureza, que após um dia a banhos têm à espera no Vila Monte o conforto de um resort de charme e a possibilidade de jantar no restaurante Orangerie iguarias originais com base na cozinha mediterrânica. De preferência no terraço, de olhos postos nos jardins, na imensidão do céu estrelado, a absorver os perfumes da natureza. v
A não perder/Must sees Libris Gourmet, Tavira (www.exlibrisgourmet.com) Um paraíso para quem não dispensa os prazeres do palato. Esta loja situa-se num edifício com séculos de história, onde Sandra Duarte e Tiago Centeno comercializam alguns dos melhores produtos da região, tais como flor de sal, azeite, vinho e mel, entre outras iguarias provenientes dos quatro cantos do mundo. Rua 5 de Outubro, 10 e 12, Tavira
Libris Gourmet, Tavira (www.exlibrisgourmet.com)
An Eden for those tempted by the pleasures of the palate, this store is located in a centuries old building. Sandra Duarte e Tiago Centeno sell some of the very best local produce and more. Local flor de sal (fleur de sel), olive oil, wine and honey hold their own among a selection of delicacies from around the world. Rua 5 de Outubro, 10 e 12, Tavira
masterpieces of plasterwork of Arte Noveau inspiration. Conceição is well worth a visit for its gothic main church with its fascinating statuary, murals and 17th century altarpiece. Santa Catarina is a sample of the traditional rustic environment of the area, surrounded by its orange tree orchards and groves, while nearby Cabanas has for decades now been the stepchild of an old-style fishing village and a resort town. However, likely the most charming locale is Cacela-a-Velha, where the Vila Real de Santo António municipality was originally established. Today it is reduced to a small sight-seeing village overlooking the Ria. Believed to have been founded by Phoenician traders, it preserves its ancient fort and unblemished white cottages, and provides one of the most beautiful sunsets in all the coast. It also has a well-kept secret, a beach by the name of Fábrica. As delightfully exclusive as Barril, Terra Estreita, or Cabanas, Fábrica is not listed on most guidebooks and lies a short boat trip out (ask for directions at the hotel), meaning it is reserved to only the most nature-loving, demanding, and inquisitive vacationers. The type of visitor who after a day at the beach, will find all the comfort of a boutique resort waiting for them at the Vila Monte; not to mention an exceptional dining experience at the Orangerie restaurant where one can feast on a number of original dishes of Mediterranean inspiration. Our suggestion: try the terrace, with a view of the gardens under the starry night sky and the wafting scents of nature itself. v
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passeio | outings RESERVA NATURAL A Ria Formosa é habitat de espécies animais e vegetais protegidas VILA MONTE RESORT Refúgio de tranquilidade e bem-estar
NATURAL PRESERVE The Ria Formosa is home to several protected animal and vegetal species
Onde comer Restaurante O Costa – Sítio da Fábrica, Vila Nova de Cacela, Tel. 281 951 467 Mesmo em frente à Ria Formosa, onde se apanha os barcos para a praia, este restaurante serve há quarenta anos o mais afamado arroz de lingueirão da região. As ostras e o peixe fresco são também especialidade da casa, e razão da sua popularidade. Restaurante Crispim, Rua da Liberdade, 126, Fuzeta, Tel. 289 798 045 Saladas, pratos vegetarianos, massadas de peixe ou peixe grelhado, servido com generosidade, acompanhado com legumes, saladas e batatinhas a murro. O serviço destaca-se pela extraordinária simpatia. A Ver Tavira, Calçada da Galeria,13, Tavira, Tel. 281 381 363 Junto ao castelo, com soberba vista sobre a cidade e a Ria Formosa, este restaurante apresenta uma ementa original com especialidades tão suculentas como camarão no forno com molho de manjericão, ou polvo no forno. Para sobremesa pode pedir bolo de milho ou tarte de alfarroba. Onde dormir: Vila Monte Resort, Sítio dos Caliços, Moncarapacho, Tel. 289 790 790, www.vilamonte.com
VILA MONTE RESORT A refuge of tranquility and well-being
Where to eat O Costa Restaurant – Sítio da Fábrica, Vila Nova de Cacela, Tel. 281 951 467 Abutting the Ria Formosa itself, next to where one catches the ferries to the beach, this restaurant has served some of the most renowned arroz de lingueirão (a rice dish using a delicious local clam-like mollusc) for more than forty years. Oysters and fish fresh from the nets are among the restaurant’s other specialties - and an obvious reason for its enduring popularity. Crispim Restaurant, Rua da Liberdade, 126, Fuzeta, Tel. 289 798 045 Serves warm salads, vegetarian dishes, pasta and fish dishes, or grilled fish, all in generous amounts, accompanied by side dishes of vegetables, salads, and roasted potatoes. The service is notably amiable and pleasant. A Ver Tavira, Calçada da Galeria,13, Tavira, Tel. 281 381 363 Nestled up to the castle and offering an superb view of the city and the Ria Formosa, this establishment boasts an exclusive menu with such mouth-watering specialties as their oven-cooked shrimp with basil or octopus dishes. For dessert be sure to order corn or carob cakes.
A VER TAVIRA Restaurante de charme com vista sobre a cidadeVIL
Where to stay Vila Monte Resort, Sítio dos Caliços, Moncarapacho, Tel. 289 790 790, www.vilamonte.com
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A VER TAVIRA Restaurant de charme with a view overlooking TaviraVILA MONTE RESORT
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especial | special
Lisboa Castiça TRUE LISBON
Já não é possível encontrar a lavadeira, o posticeiro, o dactilógrafo ou a governanta de casas. Mas ainda existem sapateiros, fadistas, taberneiros, barbeiros ou floristas. Homenagem ao território mágico das recordações, no coração de Lisboa. gone from the cityscape are the washerwomen, the wig-makers, the typists, and the housekeepers. And yet the cobblers, fado singers, barbers, or flower-sellers of old persist, even in the very heart of Lisbon, a living homage to this magical land of memories and history. texto / text Ana Rita Ramos e Sara Raquel Silva Fotos / photos Paulo Segadães
Sobrevivente crónico
Entre a Praça da Figueira e a Praça do Rossio, entre velhos edifícios encostados uns aos outros, cosidos com uma teia de roupa estendida, está o engraxador José Luís Silva, figura castiça da cidade de Lisboa, quase em vias de extinção. Ao contrário de alguns dos seus colegas de profissão está neste ofício há apenas um ano, para fugir ao desemprego e à pobreza, mas nem por isso a sua convicção nas graxas e nas escovas esmorece. É possível encontrá-lo sempre nesta esquina, desde que, há um ano, fabricou com as suas próprias mãos a caixa para engraxar os sapatos e o banco adaptado para os clientes. “Era serralheiro mecânico e soldador. Quando perdi o emprego precisei de fazer alguma coisa. Um homem sem coragem não vale nada”, afirma ele, com um sorriso encantador, aliviado, porque durante muito tempo não teve outra memória senão a incerteza. Os engraxadores são cada vez em menor número e só os mais velhos permanecem. O que o leva a continuar? “Não passo fome, não durmo na rua. Há dias em que faço cinco graxas, noutros chego a fazer 10 ou 12. Cobro dois euros e meio pelo trabalho, sempre dá para ganhar uns troquitos”. José Luís Silva não prevê que a profissão acabe, porque os clientes, “as pessoas importantes dos bancos e das classes mais altas, precisam sempre de nós”, afirma, enquanto uma brisa com hálito a esperança varre o Rossio e um bando de pombas se congrega no centro da praça.
Chronic Survivor
Between the Praça da Figueira and the Praça do Rossio, among old buildings leaning on one another, José Luís Silva, shoeshine, is a representative of an authentic but disappearing Lisbon archetype. Unlike many of his colleagues, José Luís only took up the age-old profession a year ago, to escape unemployment and poverty, but his passion for shoe polish and brushes is strong. He has been a fixture on this corner ever since, a year ago, he built the box that holds the tools of his trade and the stool for his clients with his own hands. “I used to be a machinesmith and welder. When I lost my job, I needed to find something else to do. A man with no courage is worth nothing,” he comments relieved to finally have something to look forward to. Shoeshines are a disappearing breed, and only the older ones linger. So what drives him? “I don’t go hungry, I don’t sleep on the streets. Some days, I shine five pairs, others 10 or 12. I charge 2.5€ per pair, and it all adds up.” José Luís Silva believes shoeshines will survive, thanks to their clients, “important people from the banks and the higher classes will always need us”, he observes, while a hopeful breeze sweeps the Rossio and a flock of pigeons converges on the centre of the square.
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PERFIL NOME: José Luís Silva PROFISSÃO: Engraxador LOCAL DE TRABALHO: Na esquina entre a Praça do Figueira e a Praça do Rossio CITAÇÃO: “As pessoas importantes dos bancos e das classes mais altas precisam sempre de nós”.
PROFILE NAME: José Luís Silva OCCUPATION: Shoeshine Workplace: The corner between the Praça da Figueira and Praça do Rossio QUOTE: “Important people from the banks and the highest classes will always need us”.
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Alta fidelidade
PERFIL NOME: João Santos
A porta da barbearia abriu-se com queixume. João Santos, 74 anos, um dos sócios do Salão Carmo, ao Rossio, iniciou-se aos 11 na arte de cortar cabelos. Queixa-se de que o negócio não está famoso. “A culpa é dos centros comerciais. Mas a nossa casa é antiga, bem ‘afreguesada’”, diz ele, sorrindo interiormente, porque até as piores notícias são um alívio quando não passam de uma confirmação de algo que já sabíamos sem querer sabê-lo. Pode não parecer, mas uma barbearia é um território de enredos intensos: intimidades, cumplicidades, tensões. “Tenho clientes de todas as classes sociais. Sentam-se aqui generais, almirantes, políticos… Sei alguns segredos, porque os clientes vêm cá contar. Tenho um cliente a quem corto o cabelo há 55 anos. Ele tem 70”. Quando saímos da barbearia, fizemo-lo com a certeza de que o Salão Carmo faz parte da história genuína de Lisboa.
PROFISSÃO: Barbeiro LOCAL DE TRABALHO: Salão Carmo (ao Rossio) CITAÇÃO: “Tenho clientes de todas as classes sociais. Sentam-se aqui generais, almirantes, políticos… Sei alguns segredos marcantes, porque os clientes vêm cá contar”.
PROFILE NOME: João Santos OCCUPATION: Barber
High Fidelity
The barbershop door groans open as if in pain. João Santos, 74-years old, one of the partners that run the Carmo salon took up the art of the barber at the tender age of 11. He complains that business has seen better days. “It’s all the fault of shopping malls. But our establishment has a lot of history to it, and we have our own ‘faithful’,” he explains with an inner smile. One might not think it, but a barbershop is a stage of myriad intrigues: personal stories, complicities, tension. “I have clients from all walks of life. Generals, admirals, politicians, I attend them all… I’m privileged to more than a few secrets, because clients drop by to talk as much as anything. I’ve got a regular whose hair I’ve cut for 55 years. He’s 70.” As we step out of the barbershop, its with the feeling that the Salão Carmo is an authentic slice of Lisbon.
O nome dela é trabalho
Sentia-se o aroma a flores que convidava ao optimismo. O quiosque de Maria Isabel Santos é uma referência na Praça do Rossio. A florista de 73 anos, alfacinha de gema, anda ali a vender desde os sete, idade em que perdeu a mãe. “O meu pai… nunca o conheci. Fui criada aos pontapés”, diz ela, remexendo as poucas lembranças toleráveis da sua infância. “Não sei ler nem escrever. Mas nem por isso estou zangada. Tenho-me desembaraçado sem fazer mal a alguém”, diz ela. Maria compra as flores em Loures, à noite, levanta-se às seis da manhã e cedo monta a sua banca. “Não ganho muito, mas sempre vai pingando para a sopa”. Apesar dos seus 73 anos Maria brilha como uma lanterna. Ficamos convictos de que se isto acabar talvez se perca parte do espírito lisboeta.
Workplace: Salão Carmo (off the
Rossio) Quote: “I have clients from all walks of life. Generals, admirals, politicians, all take a turn in my chair … I’m privileged to more than a few secrets, because clients drop by to talk as much as anything”.
PERFIL NOME: Maria Isabel Santos PROFISSÃO: Florista LOCAL DE TRABALHO: Rossio CITAÇÃO: “O que é preciso é trabalhar honestamente. Tenho fregueses que me conhecem desde menina”.
PROFILE NAME: Maria Isabel Santos OCCUPATION: Florist WORKPLACE: Rossio QUOTE: “An honest day’s work is what matters. Some clients have known me since I was a child”.
Her middle name is work
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The door to the kiosk stands open, and from it wafts the perfume of flowers, inviting optimism. Maria Isabel Santos is a reference in the Praça do Rossio square. This 73-year-old florist, born and bred in Lisbon, has been selling flowers in the same location since she was 7 years old and she lost her mother. “I never met my father. I was raised almost a slave, knowing nothing but violence”, she says, skimming the few bearable memories of her childhood. “I can’t read or write. But I’m not angry or anything. I’ve managed to get by without hurting anyone.” Maria buys her flowers at night in Loures, on the outskirts of Lisbon; she gets up at six in the morning. “I don’t make much, but it’s enough.” Despite her 73 years, she is a beacon of shining light. Once she’s gone, we’re sure that part of the Lisbon spirit will be lost for good.
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Brinde alfacinha
PERFIL NOME: Fernando Portelada Profissão: Taberneiro Local de Trabalho: Ginginha do Rossio, Praça do Rossio Citação: “Tenho clientes que são quase amigos e vêm cá ano após ano, directamente do aeroporto”.
PROFILE Name: Fernando Portelada Profession: Tavern-keeper Workplace: Ginjinha do Rossio, Praça do Rossio Quote: “I have clients who are almost personal friends and who come here year after year, straight from the airport” .
PERFIL NOME: Maria João Quadros Profissão: Fadista e proprietária do
restaurante “A Casa da Mariquinhas”. Local de Trabalho: Alcântara,
Praça da Armada Citação: “É através do fado que transmito o que me vai na alma”. PROFILE NAME: Maria João Quadros Profession: Fado singer and owner
of the “A Casa da Mariquinhas” restaurant”. Workplace: Alcântara, Praça da Armada Quote: “It’s through fado that I communicate what I carry in my soul” .
“Com ou sem elas”. É assim que é servida a ginjinha do Rossio: com ou sem o fruto (a ginja) curtido em aguardente perfumada a canela, num pequeno copo de vidro. Tal como em 1840, quando a emblemática casa foi inaugurada por Francisco Espinheira. Autêntico monumento nacional, esta pequena taberna/quiosque situada no Largo de São Domingos, aos pés do Teatro Nacional D. Maria, não tem mais de 5m2, pelo que se junta à porta uma pequena multidão, com frequência, em clima de festa ou à procura de esquecimento. É por este motivo que quem aqui trabalha não conhece a palavra tédio. Esse é o parecer de Fernando Portelada (à direita na foto), há 26 anos a servir este néctar açucarado no coração lisboeta. Natural de Trás-os-Montes, já nem imagina a vida longe dos amigos que anualmente o visitam. Desembarcam no aeroporto da Portela, provenientes dos quatro cantos do mundo, e vêm directamente à Ginginha, para um saudoso brinde.
A toast to Lisbon
“With or without them.” That’s how the Rossio ginjinha (a liqueur made from sour cherries) is served: with or without the fruit, infused in alcohol perfumed with cinnamon, in a small glass. Just the way it’s been since 1840, when the celebrated establishment was first opened by Francisco Espinheira. A genuine national monument, this traditional hole in the wall - located in the Largo de São Domingos, next to the Teatro Nacional D. Maria - occupies a mere 5 square metres, but regularly gathers at its door a small crowd, in a festive mood but, sometimes, looking to drown their sorrows. That’s why those who work here aren’t familiar with the word boredom. That’s the view of Fernando Portelada (pictured, right), who has been serving this sweet nectar in the heart of Lisbon for 26 years. Born in Vila Real de Trás-os-Montes, he can no longer imagine life away from the friends who visit him yearly. They come directly from Lisbon airport, travelling from all corners of the world for a cheerful toast of ginjinha.
A cantar a vida
Maria João Quadros nasceu em Moçambique há 62 anos, mas com os pais aprendeu a amar a canção nacional. “Porque lá em casa só se ouvia o que há de bom”, recorda. Hoje expressa o que lhe vai na alma quando canta o fado – de Lisboa – no seu restaurante A Casa da Mariquinhas, em Alcântara. Tem como referências a incontornável Amália Rodrigues, e outros nomes menos sonantes como Fernanda Maria, Beatriz da Conceição ou Lucília do Carmo. “Eu não canto só”, diz. “Expresso o meu estado de alma, rasgando o peito de quem está comigo”. E com esta paixão antiga dá futuro à melodia melancólica que se diz herdada dos mouros, do antigo bairro da mouraria, ou das modinhas de Lisboa que celebravam a vida dos marinheiros, plenas de tragédia, desgraça e amores perdidos.
A life in song
Maria João Quadros was born in Mozambique 62 years ago, and her parents taught her to love fado. “Because we only listened to the good stuff at home,” she recalls. Today she lets her very soul sing by belting out Lisbon-style fado in her own restaurant, A Casa da Mariquinhas in Alcantâra. Her references are the unforgettable Amália Rodrigues, and other lesser-known names like Fernanda Maria, Beatriz da Conceição, and Lucília do Carmo. “I don’t just sing,” she says. “It’s my soul you’re listening to, and with it I reach right into people’s hearts”. And with this old passion she offers a future to that so-Portuguese melancholic melody that is said to be inherited from the Moors, its roots in the old Mouraria district, and the Lisbon songs that celebrated sailors’ lives, filled with tragedies, disgrace and lost loves. v
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MAGIA AO AR LIVRE Parte do Festival das Artes decorre no anfiteatro Colina de Camões, Quinta das Lágrimas, galardoado com o Prémio Nacional de Arquitectura MAGIC IN THE AIR Part of the Festival takes place in the Colina de Camões amphitheatre, in the Quinta das Lágrimas, which received the National Prize for Architecture
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ENCONTRO DE TODAS
ARTES
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A GATHERING OF THE ARTS O FESTIVAL DAS ARTES PROMETE ANIMAR AS NOITES DE VERÃO DA CIDADE DE COIMBRA, E FAZER REFLECTIR, NESTA SEGUNDA EDIÇÃO, SOBRE O MAIS PRECIOSO BEM DO PLANETA: A ÁGUA. COIMBRA’S ARTS FESTIVAL PROMISES TO LIVEN UP THE SUMMER NIGHTS, AND REFLECT, IN ITS SECOND EDITION, ON THE PLANET’S MOST PRECIOUS RESOURCE: WATER. texto / text Sara Raquel Silva | Fotos / photos D.R.
Será nos jardins mágicos
do Hotel Quinta das Lágrimas Relais & Chatêaux, a ouvir o sussurro das árvores e o grito do vento, que assistiremos à segunda edição do Festival das Artes, organizado pela Fundação Inês de Castro. Em pleno Verão, Coimbra vibrará com uma intensa oferta cultural, que promete atrair novos públicos para a fruição, ao ar livre, de um programa inesquecível. Porque a arte precisa de artistas, não de gente bem-intencionada e banal. A decorrer entre os dias 16 de Julho e 1 de Agosto, com particular exuberância entre terça-feira e domingo, o festival oferece uma programação invulgarmente transversal, fazendo confluir diversos olhares e estéticas, este ano em redor do tema “Águas Infindas”. O programa desdobra-se em vários ciclos: da música, do cinema, da palavra, das artes, do património e da gastronomia, entre outros, congregando dezenas de artistas de renome internacional, além de especialistas na área do ambiente. “E é este carácter pluridisciplinar que
The enchanted gardens of the Hotel Quinta das
Lágrimas Relais & Chatêaux will host, to the whispering of the trees and the cry of the wind in the background, the second edition of the Arts Festival organised by the Inês de Castro Foundation. At the peak of summer, Coimbra will come alive with an intense cultural offering that promises to enthral new audiences with an unforgettable open-air programme. Because what art needs most are artists, and not well-meaning but ultimately shallow people. The event runs between 16th July and 1st August, with greater focus between Tuesdays and Sundays. This year’s festival offers an unusually multifaceted programme, combining diverse perspectives and aesthetics around the theme “Endless Waters”. The programme is split into several cycles: music, cinema, readings, exhibitions, heritage and gastronomy, among others. It will bring together not only dozens of internationally acclaimed artists, but
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torna o Festival das Artes único não só em Portugal, mas creio que também na Europa”, afirma José Miguel Júdice, principal instituidor da Fundação Inês de Castro. Nada mais nada menos do que, segundo Manuel Ivo Cruz, presidente da direcção do evento, “uma digressão por algumas dessas manifestações da imaginação e da inteligência humana na criação de sons, imagens, palavras, sabores, ideias, práticas, comportamentos, a pretexto da água, das suas cores e formas, transparências e opacidades, fúrias e acalmias, rugidos e silêncios”.
also experts on the environment. “And it’s this multidisciplinary character that makes the Arts Festival unique not only in Portugal, but, I believe, in Europe as well,” says José Miguel Júdice, driving force behind the Inês de Castro Foundation. Nothing less than, in the words of the event’s president Manuel Ivo Cruz, “A tour of just a few of the expressions of human imagination and intellect applied to sounds, images, words, flavours, ideas, practices, behaviours, variations on the theme of water, its colours and forms, transparencies playing opacities, storms and calms, roars and silences”.
MAGIA NOS JARDINS MAGIC IN THE GARDENS O evento arranca com a Orquestra Clássica do Centro e o Coro dos AntiThe event kicks off with the Orquestra Clássica do Centro and the Coro dos gos Orfeonistas da Universidade de Coimbra que, sob a direcção de Virgílio Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra which, under the direction Caseiro, interpretam, numa abordagem eclética e original, obras de Mozart, of Virgílio Caseiro, will perform an eclectic and singular rendering of the Wagner e Zeca Afonso. Apenas um “amuse bouche” para a leitura de trechos works of Mozart, Wagner, and Zeca Afonso. This is but an “amuse bouche” de Caminha, Pêro Vaz – proposta de André Gago, com música improvisada for the reading of excerpts of Caminha, Pêro Vaz, a recital by André Gago de Carlos Barretto. Ambas as actuações boasting an improvised score by Carlos decorrem no anfiteatro ao ar livre Colina Barretto. Both performances take place in de Camões, na Quinta das Lágrimas, proO Festival das Artes é uma digressão the Colina de Camões open air amphitheatre, at the Quinta das Lágrimas, designed jectado pela arquitecta Cristina Castelpor algumas das manifestações da -Branco e galardoado em 2008 com o Préimaginação e da inteligência humana by architect Cristina Castel-Branco and winner of the 2008 National Landscape mio Nacional de Arquitectura Paisagística. Architecture Award. In fact, with the exAliás, é neste espaço feérico que o festival The Arts Festival is a tour through ception of the Cinema Cycle, a few exhibisome of the expressions of human decorre, à excepção do ciclo de cinema, tions, conferences, and the tourist routes algumas exposições e conferências, e dos imagination and intelligence that will put the public in touch with the circuitos turísticos que visam fazer o públiCoimbra region, it is against this fairytale co interagir com a região de Coimbra. Entre os artistas portugueses convidados para o Ciclo da Palavra são de desbackdrop that the festival takes place. tacar, além de André Gago, a actriz Beatriz Batarda e o compositor Bernardo The noteworthy Portuguese artists invited to the Ciclo da Palavra (Word CySassetti –, que se propõem homenagear a poetisa Sophia de Mello Breyner cle) include – aside from the aforementioned André Gago – the actress Beatriz Batarda and composer Bernardo Sassetti – who pay homage to poetess Socom uma interpretação musicada do livro infantil Menina do Mar. Diz a actriz, já repetente neste evento: “O espectáculo evidenciará o carácter mágico dos phia de Mello Breyner with a musical interpretation of her classic children’s book “Menina do Mar”. According to the actress, who is a repeat performer jardins, cuja vida me comove”. O Ciclo Melómano é dos mais ambiciosos e conta com nomes sonantes at the festival, the show promises to spotlight the “magical nature of the do panorama musical nacional e estrangeiro. António Pinho Vargas, congardens, whose life moves me”. The ambitious Musical Cycle numbers several notables from both the nadecorado por três vezes com o Prémio de Imprensa Sete de Ouro e com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, interpreta um conjunto de tional and international music panorama: António Pinho Vargas, thrice-winner of the Sete de Ouro Press Prize and honoured with the Order of the peças contemporâneas – a maioria da sua autoria e representativas “da poderosa atracção que a água exerce, desencadeando o acto criativo dos Infante Dom Henrique, will perform a set of contemporary pieces (mostly aucompositores” – a que deu o título de “Momentos fugidios”. Já Pedro Burthored by himself) which he calls “Momentos fugidios” (Fleeting moments), mester, outra importante figura portuense, apresenta peças de Haydn (A rã) and representative, according to the pianist, “of the powerful attraction that e Shubert (A truta). water exerts, as the trigger of a composers’ creative act. Pedro Burmester, Procurando representar equitativamente os grandes centros culturais a norte celebrated Oporto pianist will present pieces by Haydn and Schubert. Seeking to equitably represent the large cultural centres to the north and e a sul de Coimbra, o Festival das Artes tem como grandes mandatários da south of Coimbra, the Arts Festival has the Orquestra Gulbenkian and the vida cultural lisboeta a Orquestra Gulbenkian e a Orquestra Metropolitana de Orchestra Metropolitana de Lisboa as its great representatives of Lisbon’s Lisboa. A primeira, sob direcção de Joana Carneiro, escolheu apresentar Sibecultural scene. The former, under the direction of Joana Carneiro, chose to lius, Chausson e Beethoven. Quanto à Orquestra Metropolitana, interpreta, present Sibelius, Chausson and Beethoven. The Orquestra Metropolitana, in acompanhando o Coro Sinfónico Lisboa Cantat, obras que vão desde Puccini collaboration with the Coro Sinfónico Lisboa Cantat, will perform works by a Mahler, passando por Shubert e Verdi. “Todas as peças são atravessadas various composers, from Puccini to Mahler, from Schubert to Verdi. “All the por um profundo lirismo, ainda que de carácter diverso entre si”, observa o maestro Cesário Costa. “Além de que têm a água como fonte de inspiração pieces are linked by a profound lyricism, despite their diverse characters,”
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ECLETISMO Com carácter pluridisciplinar, este evento faz confluir diversos olhares e estéticas, reunindo os mais aclamados artistas nacionais e estrangeiros. No ano passado, Luis Miguel Cintra (em cima) e Beatriz Batarda (à dir.) foram duas presenças de destaque
SINGULAR José Miguel Júdice (em cima à dir.) acredita que este é um festival único na Europa. “Mais nenhum reúne ciclos dedicados ao cinema, artes plásticas, teatro e música, atraindo os mais distintos públicos”, diz
ECLECTICISM This multi-media event showcases different aesthetic modes and perspectives, gathering renowned Portuguese and international artists. In 2009, Luis Miguel Cintra (top) and Beatriz Batarda (right) were among the most notable participants
SINGULAR José Miguel Júdice (top, right) believes this festival has no equivalent in Europe. “No other festival presents cinema, plastic arts, theatre and music, thus drawing the most eclectic audience”, he explains
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espaço voyeur | voyeur locales
PENSAR A ÁGUA Em 2008, André Gago (à dir.) leu um poema de Álvaro de Campos, dedicado às Noites Infindas, o tema do Festival. Este ano regressa aos jardins da Quinta das Lágrimas para, tal como os restantes participantes, reflectir sobre a Água
THINKING WATER In 2008, André Gago (right) recited a poem by Álvaro de Campos invoking the Infinite Nights, the theme of the Festival. This year, he revisits the gardens of the Quinta das Lágrimas to join other participants in reflection upon Water
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– elemento também fulcral para a definição de toda a mística que envolve a Quinta das Lágrimas e a relação de Pedro e Inês, que muitos consideram o mais simbólico episódio de amor que alguma vez terá acontecido”. Com grande expectativa é, ainda, aguardada a presença de Concerto Köln, uma das mais aclamadas orquestras do momento no que toca à restituição das práticas interpretativas do Barroco. “Maiorca”, coreografia de Paulo Ribeiro na qual se evoca, a partir dos 24 Prelúdios de Chopin interpretados por Pedro Burmester, um Inverno tenebroso que o músico passou naquela ilha, é a escolha de destaque para o Ciclo da Coreografia, que conta também com a participação do Grupo de Teatro da Universidade de Coimbra, numa encenação do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente. O trabalho, segundo Ricardo Correia, “privilegia a proximidade física e a comunicação olhos nos olhos”. O Ciclo Cinéfilo, a decorrer no auditório do mosteiro de Santa-Clara-a-Velha, tem como ponto alto a exibição da multipremiada curta-metragem “Respirar (debaixo de água)”, de António Ferreira, seguida de debate com realizador.
says director Cesário Costa. “And they also have water as a source of inspiration – an element key to defining all the mystique that surrounds the Quinta das Lágrimas and the tragic love of Pedro and Inês, which many consider to be the most symbolic love story ever.” Great expectations also surround the presence of Concerto Köln, one of the most acclaimed orchestras currently devoted to restoring the interpretative practices of the Baroque period. “Maiorca,” a choreography by Paulo Ribeiro, on Chopin’s 24 Preludes played by Pedro Burmester, recalls a gloomy winter which the composer spent on that island. It is the highlight of the Choreography Cycle, which also sees the participation of the Grupo de Teatro da Universidade de Coimbra, in a production of the Auto da Barca do Inferno by Gil Vicente. The work, in Ricardo Correia’s words,” privileges physical proximity and eye-to-eye communication”. The highlight of the Cinema Cycle, held at the auditorium at the Santa-Clara-a-Velha monastery, is the exhibition of the multi-award winning short “Respirar (Debaixo de Água)” by António Ferreira, followed by an open debate with the director.
TURISMO E PALADARES ESTELARES “A gastronomia é cada vez mais encarada como forma de arte. Trata-se de TOURISM AND STELLAR FLAVOURS cultura”, avança José Miguel Júdice, justificando assim a integração dos “Gastronomy is increasingly seen as an art form. It’s an aspect of culture,” prazeres do palato no Festival das Artes. Os convidados para este ciclo vão says José Miguel Júdice, to explain the integration of the pleasures of the palate in the wider Arts Festival. The invited chefs will prove it with their offeprová-lo com as suas propostas, servidas em jantares distintos concebidos especialmente para a ocasião pelo catalão Santi Santamaria, chef ibérico rings, served in three distinct dinners conceived especially for the occasion by que há mais tempo conserva três estrelas Michelin; Albano Lourenço, chef Catalan Santi Santamaria, the Iberian chef who has held three Michelin stars do Hotel Quinta das Lágrimas, premiado the longest; Albano Lourenço, chef at the Hotel Quinta das Lágrimas and winner of a com uma estrela Michelin; e Joachim Koerper, chef do Restaurante Eleven, em Michelin star; and Joachim Koerper, chef at Com o Festival das Artes, Lisboa, considerado um dos dez melhores the Eleven restaurant in Lisbon, also holder Coimbra ressurge no calendário cozinheiros da Península Ibérica, também artístico nacional of a Michelin star, and considered one of dono de uma estrela Michelin. Um festim the 10 best chefs in Portugal and Spain. A The Arts Festival re-establishes para os sentidos é o resultado provável do feast for the senses is the likeliest outcome Coimbra on the national encontro destes três mestres. of the meeting of the three masters. E se a água serve de pretexto para reunir And if water serves as a pretext to unite artistic calendar (e inspirar) grandes músicos, actores, chefs (and inspire) great musicians, actors, exde cozinha e especialistas em questões perts on the environment, and foodies, ambientais, por que não servir para dar a conhecer aos visitantes a Coimbra e why not also use it as an inspiration to show visitors Coimbra and its sura região adjacente? É essa a proposta do Ciclo do Património, com iniciativas rounding region? This is the idea behind the Heritage Cycle, with initiatives as diverse as a regatta on the Mondego River, a walk through the lesser-known tão diversas quanto uma regata no Mondego, um percurso pedonal por artéstreets of the oldest part of the town, or a visit to the Luso and Palácio do rias menos exploradas da alta da cidade, ou uma visita ao complexo termal do Luso e Palácio do Buçaco. Até porque a cultura é também a celebração da Buçaco thermal bath complexes. Because culture can also be a celebration of history, practices, and customs. história, usos e costumes. Art exists to blaze a trail. A trail that can and should awaken emotion, beA arte existe para se deixar um traço. Existe para que esse traço desperte no outro qualquer emoção, qualquer perplexidade, qualquer repulsa. Por isso, wilderment, or repulsion. So, we encourage you not to miss out, because the não deixe de participar, porque o Festival das Artes é muito mais do que um Arts Festival is so much more than an unforgettable event: it is a proof of evento inesquecível: é uma prova de amor ao talento sem fronteiras. love for talent without borders. Consulte o programa integral em www.festivaldasartes.com v Check the complete programme at: www.festivaldasartes.com v
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gula | gourmandise
Bfeastabette’s
O restaurante Eleven, em Lisboa, reeditou A festa de Babette, sob a luz da Gastronomia, Filosofia e Religião. Com um misto de pecado, vaidade e orgulho, este foi o jantar mais memorável dos últimos tempos. The Eleven restaurant in Lisbon revisited Babette’s Feast through the illuminating prisms of Gastronomy, Philosophy and Religion. Blending sin, vanity and pride, this was definitely the most memorable supper in recent times.
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Texto/text Miguel Júdice | fotos/photos nuno correia
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restaurante Eleven
Potage a la tortue, Jerez Amontillado
organizou o jantar do ano, inspirado no filme A Festa de Babette, realizado por Gabriel Axel e baseado no romance de Isak Dinesen (pseudónimo da baronesa Karen Blixen). O filme conta a história de um grande jantar, talvez o melhor de todos os tempos, saboreado nos finais do século XIX numa pequena aldeia protestante dinamarquesa da costa da Jutlândia. A aldeia é liderada informalmente por duas doces irmãs solteironas, filhas de um emblemático, e já falecido, pastor protestante. A meia dúzia de almas que ali vivem parecem ter parado de viver, limitando-se a vegetar ao sabor do vento que permanentemente assola tão inóspita região. A comunidade é dominada por uma religião castradora, espartana, à luz da qual os desvios à monotonia do quotidiano são vistos como obras do Diabo. Um dia a rotina é quebrada pela chegada de Babette, uma jovem francesa que ali aparece com uma mala de viagem e pouco mais. Babette por lá fica, cozinhando para as irmãs, durante 14 anos, sem qualquer ligação à sua vida anterior além de um bilhete de lotaria que um amigo renova anualmente em Paris. Um dia Babette descobre que ganhou o primeiro prémio, 10.000 francos, e decide gastar a fortuna num grande jantar de agradecimento à comunidade que a acolheu. O jantar, solene como uma celebração eucarística, foi recebido com desconfiança pelos aldeões. Mas estes foram-se aos poucos soltando – à medida que os pratos desfilavam à frente dos seus olhos e os sabores exóticos e quase eróticos explodiam na sua boca. À medida que o jantar se desenrola os convivas vão experimentando um prazer que durante tanto tempo reprimiram, e conseguem até sarar velhas feridas e desavenças pessoais. No final Babette revela que tinha sido Chef de cozinha no restaurante mais famoso de Paris, e que abandonara o cargo por um desgosto de amor. O filme traça um paralelo irónico entre aquelas vidas vazias e austeras, dominadas por rígidos costumes que anulavam quaisquer deleites mundanos, e o prazer extravagante que a mesa proporciona quando é elevada ao nível de arte. No restaurante Eleven, em Lisboa, o festim preparado pelo Chef Joachim Koerper respeitou totalmente as receitas originais – excepto a sopa de tartaruga, animal em vias de extinção –, os rituais de serviço e os vinhos servidos naquele mítico jantar, algo que nunca fora feito em Portugal. O jantar teve ainda a presença de José Bento dos Santos, produtor de vinhos e especialista em gastronomia, que apresentou a história e as estórias por detrás de cada ingrediente e de cada vinho. www.restauranteleven.pt v
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Baba au rhum avec les figues, Dow’s Vintage 2007
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The Eleven restaurant
Prato de queijos Cheese platter
organized the dinner of the year inspired by the film Babette’s Feast, directed by Gabriel Axel and based on the novel by Isak Dinesen (a pseudonym of baroness Karen Blixen). The film tells the story of an imposing dinner, maybe the best of all times, savoured at the end of the 19th century in a small Danish Protestant village on the coast of Jutland. The village is informally led by two sweet spinster sisters, the orphans of the emblematic local Protestant pastor. The half dozen souls who live there seem to have become frozen in time, limiting themselves to surviving the winds that permanently blow through this inhospitable region. The community is dominated by a castrating, Spartan religion where deviations from the daily monotony are seen as the work of the Devil. One day, the routine is broken by the arrival of Babette, a young Frenchwoman who appears with a suitcase and little more. Babette decides to stay, becoming a cook for the sisters for 14 years. The only connection she maintains to her former life is a lottery ticket, renewed annually by a friend in Paris. One day, Babette finds out that she has won the lottery, 10,000 francs, and decides to spend the fortune on a large thank you dinner for the community that welcomed her. The dinner, as solemn as a religious ritual, is received with mistrust on the part the villagers. However, the parade of dishes that appears in front of their eyes, and the exotic and almost erotic flavours that explode in their mouths conspire to loosen them up. During the dinner, the guests experience the pleasure they had repressed for so long, and even manage to bridge old rifts and misunderstandings. At the end of the dinner, Babette reveals she once was a chef at the most famous restaurant in Paris, and that heartbreak had made her she leave the job. The film traces an ironic parallel between the empty and austere lives of the villagers, dominated by rigid customs that cancel any mundane pleasures, and the extravagant pleasure cooking offers when taken to the level of art. At the Eleven restaurant in Lisbon, the feast prepared by Chef Joachim Koerper faithfully reproduced the original recipes (except for the soup of turtle, an endangered animal), the service rituals, and the wines offered at that now-mythical dinner, for the first time in Portugal. The dinner also counted with the presence of José Bento dos Santos, wine producer and gastronomic specialist, who recounted the history and the stories behind each ingredient and wine. www.restauranteleven.com v
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Caille en sarcophage avec sauce Perigourdine, Clos de Vougeot 2000โ ฏ
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Blinis Demidoff au caviar Ossetra, Champagne Veuve Clicquot Vintage 2002โ ฏ
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Grandes Homens do vinho em Portugal
Great men of wine in Portugal
Chamam-se a si próprios “Douro Boys” e é assim que são designados em revistas especializadas de vinhos. estão ligados a alguns dos melhores, mais famosos e mais recentes néctares do Douro. They call themselves “Douro Boys”, and that’s how they are known in the trade magazines. They are associated with some of the best, most well-known and newest nectars from the Douro region. texto/text Miguel Júdice | Foto/photo Michel Vaerewijck
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Quem são
Da esquerda para a direita / From left to right: Franciso Ferreira (Quinta do Vallado), Dirk Niepoort (Niepoort), Sandra Tavares Silva (winemaker Quinta Vale D. Maria), Francisco Olazabal (Quinta Vale do Meão), Miguel Roquette (Quinta do Crasto)
estes “rapazes” do Douro, além de “um grupo informal de produtores de vinhos de mesa e do Porto, que se juntaram para promover os seus vinhos, mantendo-se fiéis às castas originais da região mas imprimindo modernidade, qualidade, distinção, e fazendo prevalecer a autenticidade conferida pelo terroir e pela tradição”? A definição está correcta, coerente com o que fazem, mas fica aquém do que são. Acrescento alguns “pormaiores” essenciais. Tenho tido a felicidade de conviver com os “Douro Boys” e os seus vinhos. Muito se poderia dizer sobre a qualidade do que produzem, o excelente design dos seus rótulos, os prémios internacionais, a inteligente estratégia de distribuição, o valioso saber acumulado dos enólogos e demais trabalhadores da vinha que com eles trabalham. Mas o essencial é invisível. Além de profissionais de mão cheia, o valor destes rapazes ultrapassa os frutos, ou melhor, os néctares do seu trabalho. O mundo do vinho, pelo qual me apaixonei perdidamente, tem a característica de atrair pessoas interessantes e que, regra geral, estão bem com a vida. Os jantares de vinhos, as provas, as feiras, as apresentações de novas colheitas, são momentos regados de boa disposição, em que invariavelmente se come bem e se bebe melhor. É sempre assim no sector vinícola nacional, mas quando estes cinco “boys y sus muchachos/as” estão envolvidos tudo adquire ainda mais charme. Cultos, delirantemente divertidos, animados, hospitaleiros, quando recebem nas suas casas têm um encanto incomum. Do berço, pendem para a boa educação, jamais para a arrogância. O seu ser e estar resume o que de melhor o Vinho tem. Homens, não rapazes Apesar de “Boys” não estão na brincadeira de fazer vinhos desde ontem. Poderíamos pespegar-lhes o slogan publicitário de uma famosa marca de relógios: “Os Douro Boys não são verdadeiramente donos das suas quintas, limitam-se a tomar conta delas para a próxima geração”. É este sentido do eterno, do trabalho que será perpetuado no futuro e que receberam de trás, valorizando o património material e imaterial para os que virão depois. O que lhes dá uma dimensão de Homens e não de apenas Boys. Mais do que pelas suas Casas (Quinta do Vale Meão, Quinta do Crasto, Quinta Vale Dona Maria, Quinta do Vallado e Niepoort Vinhos), valem pelo que são. Sem querer imitar a cerimónia dos Óscares, agradeço a João Álvares Ribeiro, Francisco Ferreira, Dirk van der Niepoort, Tomás Roquette, Cristiano van Zeller, Sandra Tavares da Silva, Francisco (Xito) Olazabal, e, last but not least, Francisco (Vito) Olazabal (o mais jovem destes Boys), os momentos mágicos que tive e que terei na sua companhia e dos seus vinhos. O vinho, ou melhor, o Vinho, é muito mais que apenas uma bebida. Na verdade, é uma forma de vida, um prazer multi-sensorial feito de uva e de afecto. Nesta dimensão intangível do prazer hedonisto-sibarita, estes Boys são verdadeiros Homens. v
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Who are
these “Douro boys” besides an “informal group of table and Port wine producers, who’ve come together to promote their wines, remaining faithful to the region’s original grapes but adding modernity, quality, distinction and ensuring the authenticity offered by the terroir and tradition prevail”? The definition is quite complete, illuminating their goals, but as is still falls short of the big picture. What follows are some not-so-minor details that might help. I’ve had the good fortune of spending time with the Douro Boys and their wines. Much could be said about the quality of their prodution, the excellent design of their labels, the international awards, the clever distribution strategy, the invaluable knowledge accumulated by their oenologists and vintners. But ultimately the key is invisible to the eye; for despite being top professionals, the importance of the boys surpasses the fruits, or rather, the nectars of their labours. The world of wine, with which I fell hopelessly in love, has the habit of drawing interesting people who, generally, are happy with life. The wine dinners, the tastings, the fairs, the presentation of new vintages, are moments fed with positive vibes, where one invariably eats well and drinks even better. If this is a truism in the national wine sector, when these five “Boys y sus muchachos/as” are involved, well, everything takes on an extra charm. They are all fascinating characters, cultured, deliriously funny, lively and welcoming. Particularly when they host at home, they bring to bear an extraordinary charm. Their upbringing draws them to politeness and never arrogance. Their way of life sums up the best that Wine has to offer. MEN, NOT BOYS Despite being “Boys”, they haven’t been playing around at making wine, nor looking to fatten the cow to sell it off at next Sunday’s market. In fact, we could paraphrase a certain watch-makers’ slogan to describe them: the Douro Boys aren’t really owners of their vineyards, they are merely caretakers for the next generation. It is this sense of the eternal, of the work that will be perpetuated into the future and which they inherited, valuing the material and immaterial heritage for those who come next, that offers them the measure of Men and not just Boys. More than their Casas (Quinta do Vale Meão, Quinta do Crasto, Quinta Vale Dona Maria, Quinta do Vallado and Niepoort Vinhos) they are worthy for who they are. Not to copy the Oscars ceremonies (in which you thank many and always leave someone out), I want to thank João Álvares Ribeiro, Francisco Ferreira, Dirk van der Niepoort, Tomás Roquette, Cristiano van Zeller, Sandra Tavares da Silva, Francisco (Xito) Olazabal, and last but not least, Francisco (Vito) Olazabal (the youngest of the Boys) for the magical moments I’ve partaken and will partake in their (both the Boys and their wines) company. Wine, with a capital “W”, is much more than just a drink. In truth, it is a way of life, a multi-sensory pleasure made from grapes and affections. In that unassailable hedonist-sybarite pleasure, these Boys are real Men. v
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TRAVESSIAS | CROSSINGS
MEMร RIAS Igreja de Santo Antรณnio, um dos testemunhos portugueses na ilha MEMORIES The Church of Saint Anthony, a reminder of the Portuguese presence on the island
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Bela
adormecida
Sleeping beauty Classificada como Património da Humanidade devido à sua riquíssima herança cultural, a Ilha de Moçambique está impregnada do insólito charme da decadência e da esperança. Classified as a World Heritage site due to its rich cultural heritage, the Mozambique island boasts a peculiar charm, blending decadence and hope. texto e fotos / text and photos | miguel júdice
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travessias | crossings
A Ilha de Moçambique
é um exemplo ímpar de monumentalidade e decadência, de exotismo e pureza. Pelas suas ruas de terra ecoa o charme do passado, fantasma vivo da presença portuguesa em África. É uma populosa cidade abandonada, uma bela adormecida, cheia de gente e repleta de vazios, de almas penadas, de silêncios, presa num limbo arquitectónico e social entre o apogeu de outrora e a dura realidade dos nossos dias. A estrada desde Nampula é longa, uma recta com duzentos monótonos quilómetros que são um teste à perseverança de quem demanda a ilha. No meu caso não haveria distância que me detivesse, porque desde que me conheço lá queria ir. Nas deliciosas viagens imaginárias de criança costumava sonhar com esta fortaleza perdida na costa de África, adormecida depois de séculos de protagonismo. Por, dessa maneira, lá ter ido muitas vezes, e apesar de nunca lá ter estado, sentia-me a regressar a casa, talvez também por terem por lá passado tantos dos meus que viveram antes de mim. A Ilha de Moçambique foi o primeiro entreposto comercial português na costa oriental de África. Vasco da Gama acostou ali em 1498. A ilha era na altura ocupada por swahilis e negros, dependentes do Sultão de Zanzibar. Entendida a sua importância geo-estratégica, nunca mais o Império português largou mão desta ilha-fortaleza, tendo mesmo sido aqui, até 1898, a capital da colónia de Moçambique. Durante 400 anos a cidade viveu afluente, aristocrática, poderosa, dominando o comércio no Índico, raison d’être de tantas riquezas da metrópole. Foram séculos de apogeu, durante os quais a ilha foi sede de poder político, militar e religioso, albergou grandes figuras da nossa história, como Camões, e serviu de base à voracidade colonialista dos nossos antepassados, insaciáveis por terra, mão-de-obra e riqueza. Nas palavras de Dickens, “It was the best of times, it was the worst of times”. O património edificado da Ilha de Moçambique inclui a Fortaleza de São Sebastião, a capela de Nossa Senhora do Baluarte, o mais antigo edifício europeu do hemisfério sul, e um sem número de igrejas e casas apalaçadas. Esta riqueza deu-lhe a honra de entrar em 1991 na exclusiva lista de sítios Património da Humanidade da UNESCO, o que desencadeou um tímido processo de reabilitação, minado primeiro pela guerra civil e depois pela falta de fundos locais e pela crise da cooperação internacional. A ilha está sobrelotada. Mais de 50.000 habitantes competem pelos escassos metros quadrados desse rectângulo de três quilómetros de comprimento por 400 metros de largura. O cenário dantesco é agravado pelas miseráveis infra-estruturas, ruas de terra batida, um hospital a céu aberto, praias poluídas pela população que as usa para tudo menos para fins balneares, e ruínas atrás de ruínas. Com esta descrição poderia parecer que a Ilha de Moçambique é um local a evitar… Muito pelo contrário. Esta decadência é afinal o que a torna irresistível, ainda que não seja para toda a gente. Não é um destino para turistas exigentes e susceptíveis a estilos de vida que saiam fora do seu formato de vida “posto por ordem” de país desenvolvido. Aqui só devem vir viajantes com estômago para aguentar a precariedade local, com jogo de cintura para lidar com os seus contrastes, com abertura de espírito para entender a sua beleza improvável e para se deixar seduzir pelo inebriante ambiente da ilha. Os corajosos que aqui cheguem, estóicos viajantes
Moçambique island
is a unique example of monumental grandeur and decadence, exotic and pure. Down its earthen streets echoes the charm of the past, the lingering ghost of the Portuguese presence in Africa. It is a populous ghost town, a sleeping beauty, full of people and replete with absences, sorrowful souls, silences, trapped in an architectural and social limbo between the erstwhile glory days and the tough reality of the present. The road from Nampula is long, a straight line, 200 monotonous kilometres long that tests the perseverance of those who seek out the island. In my case no such distance would impede me, since as long as I have known myself I have wanted to go there. In delightful childhood imaginary travels, I used to dream of this lost fortress on the African coast, asleep after centuries of protagonism. For having gone there many times in my mind, and despite never having been there, I felt like I was returning home – perhaps also because I was following in the footsteps of so many of my people who lived there before me. The Ilha de Moçambique was the first Portuguese trading post on the eastern coast of Africa. Vasco da Gama laid anchor here in 1498, when the island was occupied by Swahilis and blacks, vassals of the Sultan of Zanzibar. Having understood its geo-strategic importance, the Portuguese empire kept a tight grip on this fortress-island, which was the capital of the Mozambique colony until 1898. For 400 years the city thrived, affluent, aristocratic, powerful, dominating trade in the Indian Ocean, the raison d’être of so much of the metropolis’ wealth. During the centuries of the island’s heyday, it was the focal point of political, military, religious power, it hosted great historical figures, like Camões, and was a base for our forbearers’ colonial voracity, their insatiable lust for land, labour and wealth. In the words of Dickens, “It was the best of times, it was the worst of times”. Mozambique island’s architectural heritage includes the São Sebastião Fortress, the Nossa Senhora do Baluart chapel - the oldest European building in the southern hemisphere-, and an endless number of churches and palatial mansions. This wealth brought it the honour of being included in UNESCO’s exclusive list of World Heritage sites in 1991. This in turn triggered a timid rehabilitation process, undermined first by civil war and then by the lack of local funds and the hurdles of international cooperation. The island itself is overcrowded, with over 50,000 inhabitants competing for the scarce few square metres of that three kilometre long and 400 metre wide rectangle. The Dantesque scenario is worsened by the miserable infrastructures, earth roads, an open-air hospital, beaches polluted by a population that uses them for everything but leisure, and ruins and more ruins. This description might paint the Mozambique island as a place to avoid... Quite the contrary. This decadence is in fact what makes it irresistible, though it’s definitely not for everyone. It’s not a destination for tourists susceptible to anything that’s out of step with their orderly first world lifestyles. This is a place for travellers able to stomach the local precariousness, those able to adapt to the stark contrasts, those with the openness of spirit to understand its unlikely beauty, to let themselves be seduced by the island’s intoxicating atmosphere. The brave who arrive here, stoic travellers, proud descendents of the remarkable Portuguese grandparents who through the centuries claimed these coasts
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MULTICULTURAL Mesquitas, igrejas, palรกcios, ruas de areia, fortalezas, hรก de tudo nesta pequena ilha MULTICULTURAL Mosques, churches, palaces, sandy trails, fortresses: this small island has it all
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NOSTALGIA Rituais de antigamente que ainda vivem neste canto do Índico
NOSTALGIA Age-old rituals live on in this corner of the Indian Ocean
que trazem orgulho pelos egrégios avós lusitanos que ao longo dos séculos demandaram estas costas com o peito cheio de coragem, serão brindados pelas memórias do passado glorioso da ilha e pelas suas gentes, puras e cativantes por ainda pouco terem sido tocadas pelo mundo exterior. O despertar toca perto das cinco da manhã, vindo do minarete da mesquita verde esmeralda, vizinha do hotel-casa onde fiquei. O muezzin chama os fiéis, que constituem 95% da população da ilha, para a primeira oração do dia. “Allahu Akbar, Allahu Akbar”… Alá é Grande. Gabriele Melazzi, dono desse singular micro-hotel chamado Pátio dos Quintalinhos, aprendeu a conviver com o clamor de mais de mil anos que lhe entra casa adentro cinco vezes por dia, ao ritmo das orações do Salah, pilar essencial do Islamismo. Gabriele vive na ilha há vários anos, num cenário que não poderia ser mais diferente da sua Milão natal. Globetrotter por natureza, este italiano virado ilhéu formou-se em Arquitectura e viveu na década de 90 em Lisboa, trabalhando num dos famosos gabinetes da cidade que projectavam a nova Lisboa a Oriente, no Parque das Nações. Nessa altura a sua casa era em Alfama, no Pátio dos Quintalinhos, nome que levou para aquele Oriente longínquo, refazendo a ligação ancestral entre a Alfama de onde tantos marinheiros partiram e a costa de África, aonde alguns deles chegaram. Nos últimos anos outros viajantes perdidos encalharam por vontade própria neste pequeno pedaço de terra no Índico. Portugueses, suecos, franceses, sul-africanos, não mais que umas dezenas de almas mas o suficiente para trazer algum Primeiro Mundo para este Terceiro. Paredes meias com a deliciosa decadência da ilha convivem agora pequenos oásis de charme tropical, dos quais o “Escondidinho” é a pièce de résistance. Ali, na tranquilidade de uma casa colonial do início do século XIX, um casal parisiense recebe hóspedes com a sofisticação de um hôtel do Marais, ao mesmo tempo que serve a melhor cozinha da ilha, fusão de ingredientes locais e mão francesa. Aqui, neste inusitado ambiente franco-moçambicano, ou num dos pequenos restaurantes locais, recebem-nos com um “salaam aleikum” hospitaleiro. Sentimo-nos sempre em casa, neste pedaço de terra que já não sendo nossa sabe como se ainda o fosse. v
as their own, will be greeted with the memories of the island’s and its people’s glorious past, pure and captivating, barely touched by the outside world. The wake-up call sounds close to five in the morning, coming from the minaret of the green emerald mosque, neighbour of the hotel-home where I stayed. The muezzin calls the faithful, which constitute 95 percent of the island’s population, for the first prayer of the day. “Allahu Akbar, Allahu Akbar”... Allah is Great. Gabriele Melazzi, owner of the singular micro-hotel called Pátio dos Quintalinhos, has learned to live with the 1000-year old clamour that inundates his house five times a day to the rhythm of Salah’s prayer, an essential pillar of Islam. Gabriele has lived on the island for several years, against a backdrop that couldn’t be more different from his native Milan. A globetrotter by nature, this Italianturned-islander took a degree in architecture and lived in Lisbon for a while in the 1990s, working at one of the famous studios projecting the renovated Lisbon Oriente, around the Parque das Nações. At that time his home was in the historic Alfama neighbourhood, in the Pátio dos Quintalinhos, a name which he brought with him to this faraway place, making the ancestral connection between Alfama, from where so many departed, and the African coast to which some arrived. Over the past few years, other lost travellers have come ashore of their own volition on this small strip of land on the Indian Ocean. Portuguese, Swedes, French, South Africans, no more than a few dozen souls, but enough to bring some of the First World to this Third one. Next to the delicious decadence of the island there are now lie small tropical oases, among which the “Escondinho” is the pièce de résistance. In the tranquillity of a colonial house that dates back to the early 19th century, a Parisian couple hosts guests with the sophistication of a Marais hotel, whilst the same time serving the best cuisine on the island, a fusion of local ingredients with a distinct French touch. Be it here, in this unusual Franco-Mozambican atmosphere, or in one of the small local restaurants where we are received with a welcoming “Salaam Aleikum”, we always feel at home in this piece of land which feels like it is still ours even though it isn’t. v
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história para adormecer | A bedtime Story
a beginning
um princípio
naquele tempo os insubmissos eram ainda uma lei. sabiam a terra que tinham e não perdiam tempo com silêncios nem lamentações. conheciam o nome dos caminhos e as serras que percorriam. vingavam-se. tinham medos e trabalhavam o solo. na presença da enfermidade não consultavam oráculos nem o método científico serviam-se de si mesmos. encaravam. a sombra era-lhes aprazível como o eram as estações do ano, pois eles aceitavam. e muito embora os seus gestos fossem à imagem do planeta, neles era a luta e o instinto da sobrevivência. um dia os eloquentes tomaram conta dos mapas e verteram-nos de medo e de certezas – assim seria a lei. tudo estaria previsto, tudo teria um número. o sucesso seria a obrigatoriedade e o homem a medida do mundo. a grande lei saberia todos os nomes e submeteria todos os fenómenos. a própria hospitalidade seria um projecto de vida. o progresso tornou-se monopólio da ganância e do ressentimento. então as crianças tornaram-se menores. o sofrimento passou a legitimar qualquer debilidade, e as pequenas mitologias pessoais fizeram dele pedra angular e da queixa ferramenta predilecta. dizem que hoje não têm os insubmissos para onde fugir. que este não é mais um mundo livre. a própria estepe está registada. que a teoria da civilização os condenou ao desaparecimento. mas o deles não é um mundo de respostas, é feito de afirmações. sim é a sua palavra, a seriedade o seu método e a alegria o seu contentamento. agem não na possibilidade mas pelo dever. amam e sorriem pois a gentileza é o seu preconceito e o amor o seu instinto natural. v
in those days the unsubmitted were still a law unto themselves. they knew the lay of the land and didn’t waste time with silences nor lamentations. they knew the names of the trails and the ranges they travelled. they exacted revenge. they were fearful and worked the soil. confronted by infirmity they made use of themselves and didn’t consult oracles or the scientific method. they stood firm. the shade was pleasant to them as were the seasons of the year, for they accepted them. and although their actions were in the image of the planet, in them it was but struggle and the survival instinct. one day the eloquent took charge of the maps and filled them with fear and certainty – and this would become the law. everything would be predicted, everything would have a number. success would be compulsory and man the measure of the world. the higher law would know all names and would subdue all phenomena. hospitality itself would be a life project. progress became the monopoly of greed and resentment. then children became minors. suffering was able to legitimize any weakness, and small personal mythologies made of it their keystone and of grievance their preferred tool. they say that today the unsubmitted have nowhere to run. that it is no longer a free world. the steppe itself is mapped out. that the theory of civilization has condemned them to extinction. but theirs is not a world of answers, but one of affirmations. yes is their byword, seriousness their method and joy their contentment. they act not on possibility but out of duty. they love and smile for kindness is their bias and love their innate instinct. v texto / text Francisco Mendes Moreira Ilustração / ilustration Rachel Caiano
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fetiche | fetish
New Tech O futuro e o presente unidos pelo DESIGN, tecnologias de ponta e inquietações ecológicas. Um mundo de novas experiências, onde o luxo tem sempre lugar. The present and the future, linked by DESIGN, emerging technologies, and a concern for the environment. A world of new experiences, where there`s always room for luxury. Egg Bed Inspirado em estudos sobre a ciência do sono, Günther Thöny desenvolveu uma cama em forma de ovo com tecnologias favoráveis à criação de uma noite de profundo descanso: arco de protecção sonora, LEDs escondidos que simulam o nascer e o pôr-do-sol, assim como sistema de massagem integrado no colchão. A partir de €42.000. www.moebelthoeny.li
Egg Bed Inspired by recent studies into the science of sleep, Günther Thöny developed an eggshaped bed which incorporates technological sleep aids: a sound baffle band, hidden LEDs that simulate sunrise and sunset, and a massage system integrated in the mattress. Prices from €42.000. www.moebelthoeny.li
Virtual glasses Silhouette now offers the Virtual Mirror programme as a free iPhone app which lets you try on their eyewear and sunglasses, just by selecting a photo of yourself. Available for download at www.silhouette.com/iphoneapp
Pasta Solar Ao serem expostas ao sol as malas da Voltaic Systems acumulam energia, armazenando-a numa bateria de polímero de lítio. Incluem adaptadores, inclusive para o carro, e porta USB. Disponíveis através da Bio Future House. A partir de €195 www.biofuturehouse.com. Solar Bag When exposed to sunlight, Voltaic Systems handbags store energy in a lithium polymer battery. They come with adapters, which can even be plugged into your car and USB ports. Available through Bio Future House, prices from €195. www.biofuturehouse.com.
óculos virtuais A Silhouette disponibilizou o programa Virtual Mirror numa versão exclusiva para o iPhone. A aplicação permite experimentar/simular os modelos das linhas oftálmicas e de sol da marca, através da selecção, por parte do utilizador, de uma simples foto. Disponível para download em www.silhouette.com/iphoneapp
Cruzeiro Futurista Aguardamos com expectativa por um passeio no Physalia. Embarcação, jardim flutuante e espaço de lazer, tem grau zero de emissões de carbono e trata a água por onde passa, deixando-a própria para consumo. www.vincent.callebaut.org Futuristic Cruise We’re looking forward to a trip on the Physalia: a carbon-neutral ship, floating garden, and entertainment centre, which also treats and purifies the water it sails on. www.vincent.callebaut.org
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luxos | luxuries
Olha para mim... … aqui sentado na poltrona da Munna Design! Concebida por Amândio Pereira, para a colecção Look at Me, esta peça manufacturada seguindo técnicas de estofo tradicionais em estilo vintage reinventado, estrutura em madeira maciça e estofo em seda é feita para desfrutar e impressionar. Preço: 1700€ (também disponível noutros materiais e acabamentos).
Look at me… … sitting here in a Munna Design armchair! Designed by Amândio Pereira, for the Look at Me collection, the armchair is manufactured using traditional upholstery techniques in reinvented vintage style. The wooden framework and silk upholstery are made to be enjoyed and to impress. Price: €1,700 (also available in other materials and finishings). MUNNA www.munnadesign.com
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shopping | shopping
Cool Summer
Perfumes, vestidos e acessórios para celebrar em grande estilo os dias quentes de Verão.
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Perfumes, dresses, and accessories to celebrate the hot Summer days in style.
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edição / editing Luciane coelho / sandra nascimento
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1. Vestido / Dress, Henry Cotton, preço sob consulta / price on request 2. Perfume, Escale à Portofino, preço sob consulta / price on request 3. Máscara / Face mask, Dior Extase, preço sob consulta / price on request 4. Fato de Banho / Bathing suit, Cia Marítima, €197 5. Carteira / Handbag Louis Vuitton, preço sob consulta / price on request 6. Óculos / Glasses, Armani, €440 7. Escovas de cabelo / Hairbrush, Samuel Rocher a partir de / starting at €8 8. Sapatos / Shoes, Barbara Bui, no / at Espace Cannelle, €670 9. Relógio / Watch, Emporio Armani, €330 10. Botões de punho / Cufflinks, Emporio Armani, €85.
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1. Óculos / Glasses, Gucci, €165. 2. Blush Ambiance Kaleidoscope, Lancaster, €48.78 3. Relógio / Watch, Michael Kors, €220 4. Perfumes Eaux de Fleurs, Chloé, 100 ml, €104.90 5. Carteira / Bag, Lancel, €950 6 Perfume CK One / Summer, 100ml, €48,90 7. Perfumes de Histoire de Parfums de Gérald Ghislain, na / at Wrong Weather 8. Óculos / Glasses, Franz by Mykita, €299 na André Opticas 9. Relógio / Watch, Burberry, €385 10. Carteira / Handbag, Furla, €163 11. Pulseira / Bracelet, Tous, €269
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1. Clutch Britannia de / by Alexander McQueen, €900, em/at www.alexandermcqueen.com 2. Blush, Dior 3. Óculos / Glasses, Marc Jacobs, €130 4. Colar / Necklace, Gerard Darel, €182 5. Dark Spot Corrector, Clinique, €53 6. Lip Polish, Dior, €29,80 7. Anel / Ring, Eugénio Campos, preço sob consulta / price on request 8. Clutch, Louis Vuitton, preço sob consulta / price on request 9. Casaco / Coat, Mango, preço sob consulta / price on request 10. Perfume, Garden Party, Carolina Herrera 11. Perfume, Diesel Pink, 75 ml 12. Pendente em ouro branco e ametista / Gold and amethyst pendant, Tous, €1055 13. Sandálias / Sandals, Diesel, preço sob consulta / price on request
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O Dia de Todos os Pescadores
Jun 2010 a Dez 2010 Jun 2010 to Dec 2010
Caetano Veloso Cê
For the Blind Man
Obrigatório ir! Must See! De 1 a 10 de Julho
O Ginjal
Integrada no Festival de Almada, esta peça de Mónica Calle propõe uma reflexão sobre a obra homónima de Tchekov. Centra-se num texto que nos permite continuar a afirmar o direito à utopia, o direito ao inútil, paradigma do teatro e da arte. Conta histórias a rir, enquanto a casa é destruída… www.teatromariamatos.pt
De 9 a 25 de Julho
Julho e Agosto
O Dia de Todos os Pescadores Esta peça propõe-se remediar uma omissão do calendário canónico, que não prevê um dia dedicado à encomenda das almas dos pescadores. Aqui, essa encomenda decorre num quarto de hospital e está a cargo de um doente não diagnosticado… Com encenação de João Cardoso tem lugar no Teatro Carlos Alberto, Porto. www.tnsj.pt
21 de Agosto
CCB Fora de Si
FOLKFARO
Belém estará ao rubro com música, dança, vídeo, performance, teatro e uma tenda de novo circo, já que o programa é orientado para a diversidade da criação artística nacional nas suas múltiplas expressões. A decorrer no interior do edifício e nos jardins, tendo como vista privilegiada o rio Tejo, em Lisboa. www.ccb.pt
O FolkFaro 2010 decorre de dia 21 a 29 de Agosto, reunindo o trabalho de dançarinos de quatro continentes. A gala de abertura tem lugar no Teatro das Figuras, Faro, dia 21, pelas 21:30, mas ao longo de nove dias a cidade vibrará com desfiles, animações de rua, ateliês de dança e animação infantil. www.folkfaro.com
July and August
21 August
O Ginjal
9 to 25 July
The Day of All Fishermen
CCB Out of Bounds
FOLKFARO
Part of the Almada Festival, this play by Monica Calle offers up a timely reflection on the homonymous work by Tchekov. It builds of a text that allow us continue to affirm the right to utopia, the right to the futile, the paradigm of the theatre and art. Thought-provoking stories are told between laughs, and still bringing the house down … www.teatromariamatos.pt
This play attempts to rectify an omission in the religious calendar - the lack of a day devoted to the commendation of the souls of fishermen. Here, that commendation takes place in a hospital room and an undiagnosed patient is at the helm… Directed by João Cardoso is staged at the Carlos Alberto Theater in Porto. www.tnsj.pt
Intent on taking Belém by storm with music, dance, video, street theatre and a new circus tent, these festivities are designed to spotlight the diversity of national artistic creation in all its multifarious expressions. With a privileged view over the Tagus as backdrop, the events will take place within and without the CCB proper and its gardens, in Lisbon. www.ccb.pt
The FolkFaro 2010 festival runs from 21 to 29 August and showcases the work of dancers from four continents. The opening gala takes place in Faro’s Teatro das Figuras at 21:30 on the 21st, but for nine days thereafter the city thrill with parades, street performances, dance workshops and children’s activities. www.folkfaro.com
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Marlene Dumas
A NÃO PERDER! NOT TO BE MISSED Até 10 de Outubro
Dumas em Serralves, Porto Pinturas e desenhos de Marlene Dumas, artista que revela forte preocupação com questões conceptuais, como a posição do autor, interpretação, universo artístico, família, género, erotismo e morte. www.serralves.pt
CCB Fora de Si FolkFaro
Until 10 October
Dumas in Serralves, Oporto Paintings and drawings by Marlene Dumas, whose work reveals a strong concern for conceptual issues, such as the role of the artist/author, interpretation, artistic context, family, gender, eroticism and death. www.serralves.pt
Celebrar o Barroco Ton Koopman
Até 29 de Agosto
12 e 13 Outubro
2 Novembro
O Ginjal
Todo o ano
For the Blind Man ….
Cê de Caetano Veloso
Celebrar o Barroco
Mude
Exposição com obras de cerca de duas dezenas de artistas plásticos, entre os quais Hans-Peter Feldmann, Peter Fischli & David Weiss e Rachel Harrison, Giorgio Morandi, For the Blind Man celebra a natureza especulativa do conhecimento. O tema dos trabalhos reflecte sobre a mente inquisitiva e o prazer de encontrar o nosso caminho na escuridão. www.culturgest.pt
Caetano apresenta no Coliseu dos Recreios, Lisboa, o álbum Cê – trabalho que o fez regressar ao que já tinha abordado nos anos 80: o formato rock e a distorção – companhia de letras cortantes e cruas, evidência de que, além da carapaça de estrela global de Caetano Veloso existe um homem atento aos pormenores da vida e desligado da fama. www.coliseulisboa.com
Na Casa da Música, Porto, é altura de celebrar o Barroco. Sugerimos o concerto de Ton Koopman (18:00, Sala Suggia), maestro e cravista que nos leva a conhecer grandes mestres num fascinante percurso por obras-primas de Bach, Scarlatti e do mais prestigiado cravista e autor do barroco português, Carlos Seixas. www.casadamusica.pt
Espaço para o debate entre a criação experimental e a produção industrial, o Mude – Museu do Design e da Moda –, situado em plena baixa lisboeta, tem patente, entre mostras itinerantes, um acervo de milhares de peças de criadores como Jean Paul Gaultier, Joh Galliano, Vivienne Westwood, Russel Wright, Jean Prouvé, Hans Wegner ou Olivier Mendini. www.mude.pt
12 to 13 October
Until 29th August
Cê by Caetano Veloso
Celebrating the Baroque
An exhibit that celebrates the speculative nature of knowledge, For the Blind Man showcases the works of about two dozen artists - including Hans-Peter Fledmann, Peter Fischli & David Weiss and Rachel Harrison. The pieces on show explore the inquisitive mind and the pleasures of finding our path through darkness. www.culturgest.pt
Brazil’s Caetano brings his Cê album live to Lisbon’s Coliseu - a work that brought him back to a style he was best known for in the Eighties: the rock format, the canonic ensemble of bass-drums-guitars, the reverb, all matched to raw and incisive lyrics. Evidence that behind the music star is a man aware of minutae of life and unattached to the tropes of fame. www.coliseulisboa.com
It’s time to celebrate the Baroque at the Casa da Música, Oporto. We suggest the Ton Koopman concert (18:00 Sala Suggia), with the maestro and renowned harpsichordist acting as our guide on a fascinating tour of the Barroque. Included are masterpieces by Bach, Scarlatti, as well as the most prestigious harpsichordist and composer of the Portuguese Baroque, Carlos Seixas. www.casadamusica.pt
For the blind man
2 November
All over the year
Mude
Located right in downtown Lisbon, the Mude – Fashion and Design Museum – is a space dedicated to debate between experimental creation and industrial production. Currently on show, as a collection of travelling exhibits, are thousands of creations by names such as Jean Paul Gaultier, John Galliano, Vivienne Westwood, Russel Wright, Jean Prouvé, Hans Wegner, and Olivier Mendini. www.mude.pt
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revelações | revelations
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e vo b ierr house ca P d h o n ug he t ing ré. T thro ublish ue dar. sic a e is p And ion s q a d w e n u ne el ct oa or in m No s, a re-r edr ntrodu i es a rec The Edition José P w. w d a a ne e at ww eist hed by s l s d K e i l v leases to blis clud ilab s em esta itself in er. Ava no men w re ade o de d e i l g k a o ic ed ne boo rry Bad t.com a ê qu écn e is lho o p de m nds ber. ue v edro, t morad q ã , ari by G vonkle l e i a P u d ç c n ; a q á s as n f m re o A re ta em hi em em pier lhe o se díac . Um Alvim so hom as mu ustrad e, car de A es mpan on d o rem o s a s rio fon o s r m lta s, Assí José A rnalist ida t oda ática f uilher o perig rse of o t o s V o e e j c l e t av s d / t G m r o e v s r a i A , s : n o les e seas ers nfo cida, e despo he un ont s de to T mória e i h e t a C T l i c . h r s t r a e m a O o T do or Vi he ar ato to ye de m Viri á priva togram or, xo p eus con f ch t Leon yE e in mo r s o ivro as por o se limps ul o s M gh M f e L f o nt l t s in d o a m s ,c ai te u an ho elo 4 he eg tad lA
o 7 ah nt qu st w ga thro con uem m passa p olitári que uni com ição I tu ugh cologi Lúcia o easys s q A o r a l r m ão m n , em m a e e ed Po g co s ági n th he on o Ana , an each dad amigo o qu o hom 0 p co e de al Ao me sto t e ci rtu ell m t , n u 6 o i o d e m o o i 1 g c g r s – u P e n – u w ns ie lov Au er ioná lme uina Afo xo d o e bra s, Port uporte alit ch, l Se kes is car; sing m fi evoluc da esq a t s Me o de lu s qu n IT te ma e , o u h e r e t e r d f a m e r l d 2 p n o s ã 1 p a ,a t ca rm a te . s, e e or, ho em lhe sea dro Ediç rafias me o de aut va: em aldade e devo les, th gen ack man, w an; Pe nd Gui 0 ex g xtre e a ma o long c b o 0 u i e o T h n d g 5 t a i ntly a n o n l a g o e a f e br so sto is a riat freque h oin ry wom nely, i as a ngent ém, m o x g ada os rev e d V r t e a i y a s o m t r b ug st lim lh eve cad k of re nd l om cap re abra do, po told he mo as thro and ated a for wh us O igital, b s oo , as an – a b m o m t , r i s d Me e o u t d t A f l e n n ger fo wh e e li vis el e me frus patien esp , sin ho gr sé A st with ls of th e n e r t pap Dá um erno, r . Enco / o a J r r l a e w l m li eA re d ra s. he , Pi t te ely zen rna ano gal mo e cultu ooksto ste artins t. jou iated. I he lon nd citi er a Tri por b u t s a a c t / e M i f rn r r y o le Po ad ira sta ass tills – o tionar ery co stó com tab ime Cid nd Co a hi blurb. r s v u e , l u p e e a ity. s o f . a film r, rev : at equal bo alla a cof de a ma hite s s s ww 665 r m n e w e Li o w a v P h d e 0 es áu re itio culo d em aut tor 725 hardco lack an to 50 o d ery fac do j o Cort t Ed sé Vic ail/ era r ed t v r d d leis meio i e a e s K det -page g 74 b limited Eyes n P d n s o 0 von lando vro, co l, José rin ar o e nd, on My ital, A 18 featu li frie edit na diti ina a gh e e l o e s g t i l r u i s , s c a n d o k A e a m a r a rP boo es, in ão d l Th lm and ers up tern ros idira cto f ur uga ediç ncia in pe dec que Vi os bair fi i ê pict s, Port , both rs. It of erview n s r c 9. a refe ré Prín gráfico lveram e 195 ie ov es por d cop s imag elve ye lectic ich 6 o o t n A fo c env re 195 ndada h s e w e w s t o w e o . d r , h t d h s re fu s al an ve lui en gal ultu store/ trab Martin isboa, editora ns. Inc en o ensive Portu c d k tak o L h a ta o an ti ry pre Cos icos de ravés d ist Edi dução m /bo ora ory com temp ts hist b.com t e le ór a K t s o ntro i i n n i r das h s o u m-n rre vo ova omen a of c espect ww.bl n r e e r w Fiz a Pi to com er. Enc also ble at 5 os, g en mb a l 6 a i Bad ipe lem a 6 Av sup r Gerry ist.com é Princ 725 / l m i r e e u o h a l t d t p s k n o 50t de en ix on dA rita s Qu s hom esc pierrev tes an ate the f this o m o . o im d or or nal w no Ínt osa, D verso em ww edro C itio ernatio e m d d i a r e Os t m a n P d o u st ei int gis n of José ed to c the fir s Pe ar ao o ch ncolo cia e an llectio ã p f Inê m d m i o o m o ,o m a Lú and dec ersary ma ta í is co bec Visi és de u Afonso ma An usto, u has uing th r Palla s niv h n c a g : o i a v s a s t u h s Vic rei ,w l are atra nagen onor e vel; A ook ce, by ken by itiona 9. ó e o b L s m r pe 95 deu ren uto s ta trad per refe graph of the 6 and 1 do a o que ancos s 5 t n 9 i o b ph art en 1 nos ta M twe Cos on be isb of L
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revelações | revelations
s ieve ach e e h t ic ma nam inti t dy more n e d er coh rock an the n e we , bet d s. em ose und p nt o s m O ! o k ar day re d, c , To mp hã cor lness. D other y e e a S r l O te erd ce an a an r’s i ma est FAD e Am the ows , inti s! Y ifferen rativa je mo c, it sh y n a s a and o i i H mo /D sic llw gh oli mu eeling o A orrow a come sentaurin lanch r e d i d a a l f F l. u bb re , ne me hen Tom pop ocia Ro , ap faixas ctâ and the iated w htly as ht’s and e cole o Fado 0 o ly & o 8 uês t S g and anos d D com portu vs idisc side apprec nd slig ainwrig rms o r c r i G i g e ória ea 4 C o, em 50 /V onfi cla sW stál hist to b pectiv os 1 livro e x ark , and c a Sin maica foi no s d u l a m s b t o s e a at ty em ção de resen Bo ao intr , . in J sempr afia d th maturi -se par -os de edi vro ap fotogr rimeira cor iano e a o p r t Ma inclair tou-se visitou e i a m e l , A n t l h ap nu S ol ad an Re at t sitio iona ês. O os n lia, Bob a vez v ggae. onorid tran tuosity &M ingl ão nac munh e t má t e s s r r A r r i ónio anç , teste is vi ou ) / mo e de cos do es uma hes fer c h o c a Ant c s d n a i s l e h n s e v a l i a s t u m e riz oà tis lus clá ett the R ndo mas se mista ant exc a de ar do a, , Ma oB i feri da sbo o mo ros. Qu ectiva o o i r s iag ga (On ords L con ctual, te, opt a ban a s T e e C t p d ã p á s a c o u ç é o n u d o s a i F tan a sd pa tr Re eo erã um ma a. Vibr Em ersal Can partici a re s, apon s. arlo o, entr o), álb ia do V o C b m e e t u m o m r v o s l r i c os inh nt Co rdi ma aa l, e lên Un futu Cha a, dá-n primó do e nta co (Dead ersa xce hos n c s ava ked i i 150 o s r s o o univ a por e e c e g m r ú G o e m uga onçalv encast atin ook ys l time, a ca esd or r r F a e d n o a , w o o o s ix is al ). Em dro G ep em as a b oL fad (ba al has ork; th , ent 0. Joã iano mm aia e Pe THA alm ion co sented bilingu 201 inclair r (p s w e d M u l c e s i i i e g n s o i h N t h t s k e , S g r n c A a w c s n a l b i e i e p k a ll el o, ac y Bo ast ggae c g them t, os M ria) e T enny L exc A co of Fad xur 0 tr iago he p e s th 8 glish lu he ate s), e B firma a ão de T e atin Vibran um i r to t ns to r b d a w ( p e t s a n ç y n b st ur du rit. CD tarr do co mposi coeren is al nd E resent uese he t ing an eir spi gui nd 4 uese a o l, th 2010. a p lta a c e t a h c i k i u t s s e k s rtug rsti r o r c d g e e rev fi me de rtug he bo que Po inâm re o ro Or inin d univ a o d m a as d P t i os, a T u in rs an uni hot ts such on. pac ourt e ue ent as. o i f c e a p ma t i i t h c k e d s t t , c i s c v s i f e g i a i , t n s r o e m r i t s a te im rmo on ry clu opt sound Bet ste con ais int d Lisb isto , ex es from s do Ca ong or h n e f l o e n i t y e m s i h a h g at rlo am gst on is t que idades anada rig Son ticip mbo), son testim ues, Ca ainho, ctive C or par ain ghts: rds o e h n g n a d i e i C t o r C W n h s s d i i io od s, rosp ha e de ts t (Dead fus are n l Reco intim lia R Antón er a ret its root astr cor oas s c á e Ru b s e o e n a R m a y v g d s e f o l g r f A L a o n n . d a t i o u e a d o ç o l F Ds on ack olution Joã (bass riza All / Univ is desp ôs ao Em ers Ma s. The C wayt b ro G v r a a e p b d i e u e e l a o m m m e n e er bl Lu co cur of P ha me ago M y Lack um oth o all th s possi álb , que o e. Obs nova nn d d Ti ant it e d a n Éo r s ã f o B M a a o t u f d t o em uf am um rec ms) , an iar poin de R ença d evela (dru uitars) sulting ourt’s nd rec e and p r o c a a e o g d r n s ic e te da o, a ecção arca kill and cól Bet ). Th al s úsic lan sp iano s Tiago osition ue m me a do m intro p ( q o r de et mp firm alh nto o fac entos con rful co trab r e ca a v e m m t o o s r mo são. U o aut ma mp d lu e co . e rec sagem d o n da as pia own iori ap ma mo ao ssed-d a a s e par rtuosi ost dr vi m seu nger’s si e h T
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moradas | addresses
Restaurante Eleven Rua Marquês de Fronteira, Jardim Amália Rodrigues, 1070 Lisboa Tel. 213862211, Fax: 213862214 www.restauranteleven.com Hotel Infante Sagres Praça D. Filipa de Lencastre, 62, 4050-259 Porto Tel. 223 398 500, Fax: 223 398 599 www.hotelinfantesagres.pt Hotel Quinta das Lágrimas Rua António Augusto Gonçalves, P-3041-901 Coimbra Tel. 239 802 380, Fax: 239 441 695 www.quintadaslagrimas.pt Vila Monte Resort Sitio dos Caliços 8700-069 Moncarapacho Tel. 289 790 790 Fax: 289 790 799 www.vilamonte.com Restaurante Praia do Peixe Praia do Pego, Carvalhal, Tm. 913 061 256 www.praiadopeixe.com
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Voyeur Club Casino Lisboa, Rossio dos Olivais 2.13.01, 1990-204 Lisboa www.lagrimashotels.com Palacio Belmonte Páteo Dom Fradique, 14, 1100-624 Lisboa Tel. 218 816 600, Fax: 218 816 609 www.palaciobelmonte.com ........................................................ BURBERRY Av. da Liberdade, 196 EF, Lisboa Tel. 213 174 444 Cia Marítima www.ciamaritima.com.br
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rendidos | won over
Lisboeta acidental Accidental Lisbonian O DESIGNER DE MODA ALEKSANDAR PROTIC NASCEU SÉRVIO, COM A CERTEZA PRECOCE DE NÃO PERTENCER A UMA SÓ CIDADE OU PAÍS. CHEGOU A PORTUGAL POR MERO ACASO, MAS HÁ 11 ANOS RENDEU-se A LISBOA. FASHION DESIGNER ALEKSANDAR PROTIC WAS BORN A SERB, WITH THE PRECOCIOUS CERTAINTY THAT HE DID NOT BELONG TO ONE CITY OR COUNTRY ALONE. HE ARRIVED IN PORTUGAL BY CHANCE, BUT SURRENDERED TO LISBON 11 YEARS AGO. texto / text Ana Sofia Rodrigues | Fotos / photos Paulo Segadães
BOAS INFLUÊNCIAS Aos 36 anos, Protic não tenciona sair de Portugal. O seu trabalho é bem aceite e o país tornou-o mais sensível A GOOD INFLUENCE At 36, Protic has no plans to leave Portugal. His work is welcomed, and he claims the country has made him much more sensitive
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It’s the view from his fourth floor
É a vista do seu quarto andar
, em pleno Bairro Alto, que lhe enche as medidas. De lá espreita o castelo e a cidade inteira. A janela da sua casa-ateliê é o mais bonito miradouro que conhece. “Lisboa é lindíssima. Não há na Europa outra cidade assim”, confessa. Desde criança tinha uma certeza inexplicável: sabia que não ficaria a viver em Belgrado, onde nasceu. Mas Portugal nunca esteve nos seus planos. Terminado o curso de Design de Moda e Figurinismo deu asas à intuição e partiu rumo a Antuérpia. Queria saber como lá se aprendia e ensinava. Mas não se adaptou. As saudades de casa foram mais fortes do que pensava e questionou-se: “Será que noutro país me sentirei mal outra vez? Vou querer voltar para casa?” Paris ou Londres eram as hipóteses mais óbvias. Mas, contrariando qualquer lógica, veio parar a Portugal. Um amigo sérvio convidou-o para passar férias. Aleksandar chegou e foi ficando. “Nunca tinha pensado em Portugal como um país onde quisesse viver. Não era um local ligado à moda e, na altura, só queria um destino que tivesse a ver com o meu trabalho”, recorda. Viveu sempre no Bairro Alto e é na carismática Rua da Rosa que tem a sua loja, um antigo talho totalmente recuperado, onde pendura as suas criações nos ganchos da carne. “Não quero chocar ninguém. Só preservar o espírito e as lembranças que têm a ver com as lojas típicas do Bairro. Sinto que devo manter essas memórias para os lisboetas”, explica. Vários factores contribuíram para a sua fácil e rápida adaptação a Portugal. “Nunca me senti estrangeiro. Tive sorte com as pessoas que conheci e fiz muitos e bons amigos, o que foi decisivo. Apercebi-me também de que os portugueses são muito mais parecidos com os sérvios do que com o resto do mundo latino. Há muitas semelhanças na maneira de ser e estar e na forma como aceitam as outras pessoas”. Profissionalmente também foi surpreendido: “Lisboa não é ainda um importante centro de moda, mas aqui sinto a vantagem de estar perto e longe da Europa. Não estou na confusão do centro, mas tenho acesso rápido a todas as informações e posso trabalhar com mais calma, sem pressões”. Os portugueses renderam-se ao talento de Aleksandar, à perfeição do corte e ao cuidado na escolha dos tecidos. As suas criações podem sair da passerelle para as ruas de qualquer cidade do mundo. “A moda não é algo que se possa nacionalizar. É internacional. Aquilo que faço é para toda a gente, não só para os sérvios ou para os portugueses”. Como todos os designers de moda,
, in the heart of Bairro Alto, that satisfies him. From there he looks out towards the castle and the entire city. The window of his home-atelier is the most beautiful view he knows. “Lisbon is extremely beautiful. There is no other city in Europe like it,” he confesses. As a child he had an inexplicable certainty: he knew he would not continue living in Belgrade, where he was born. But Portugal was never in his plans. After finishing the Fashion and Figure Design course he followed his intuition and headed to Antwerp. He wanted to know how one learned and taught there, but he didn’t fit in. Homesickness was stronger than he thought and he asked himself: “Will I feel bad again in another country? Will I want to return home? Paris or London were the most obvious choices. But, defying logic, he ended up in Portugal. A Serbian friend invited him for a holiday. Aleksandar arrived and stayed. “I had never thought of Portugal as a country where I wanted to live. It was not a place linked to fashion and, at the time, I only wanted a destination that was related to my work,” he recalls. He has always lived in Bairro Alto and it’s in the charismatic Rua da Rosa that he has his shop, a former butcher’s that was totally renovated, where he hangs his creations on meat hooks. “I don’t want to shock anyone. Just preserve the spirit and the memories that have to do with Bairro’s typical shops. I feel I should maintain those memories for the people of Lisbon”, he explains. Various factors contributed for his easy and fast adaptation to Portugal. “I never felt a foreigner. I was lucky with the people I met and made many and good friends, which was decisive. I realised also that the Portuguese are much more similar to the Serbs than to the rest of the Latin world. There are many similarities in the way of being and in how people are accepted.” He was also surprised professionally: “Lisbon is still not an important fashion centre, but here I feel the advantage of being both close and far from Europe. I am not in the confusion of the hub, but I have rapid access to all the information and I can work more calmly, without pressures”. The Portuguese have surrendered to Aleksandar’s talent, to the perfection of the cut and care in the choice of cloths. His creations can come out of the catwalks to the streets of any city in the world. “Fashion is not something
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rendidos | won over
quando trabalha foge do dia-a-dia e inventa o futuro. Gosta de convocar artes como a música, a pintura e a dança, de misturá-las e fundi-las em obras “que não são penduradas na parede. São vividas, num corpo, a três dimensões”. Volta várias vezes a Belgrado e, curiosamente, nota com agrado que lá se fala cada vez mais da sua nova cidade. “Há um tempo, quando entrei numa das ruas principais, já não sabia se estava em Lisboa ou em Belgrado. Nas lojas de música ouvia-se Mariza e Amália Rodrigues! Na minha rádio sérvia preferida agora ouço fado e os espectáculos em Belgrado esgotam”. Para o futuro não faz planos de sair de Lisboa. “Já gosto muito desta cidade e sinto-me bem cá”. Aos 36 anos, confidencia que viver em Portugal fê-lo mudar. “Tornei-me uma pessoa muito mais sensível”. v
you can nationalise. It’s international. What I do is for everyone and not just for the Serbs or the Portuguese”. Like all fashion designers, when he works he escapes the present of the day-to-day and invents the future. He likes to summon the arts like music, painting and dance, mix them up and merge them into works “which are not hung on the wall. They are lived in, on a body, in three dimensions”. He returns to Belgrade several times and, curiously, notes with pleasure that his new city is often spoken about there. “Some time ago, when I turned down one of the main roads, I couldn`t whether I was in Lisbon or Belgrade. The music shops played Mariza and Amália Rodrigues! On my favourite Serbian radio station I now hear fado and the shows in Belgrade sell out”. For the future, he has no plans of leaving Lisbon. “I have come to like this city very much and I feel well here.” At 36, he confides timidly that living in Portugal has made him change. “I became a much more sensitive person”. v
VESTIR LISBOA DE PROTIC A pedido da VOYEUR, Aleksandar Protic criou o esquisso de um figurino com que gostaria de vestir Lisboa. Cidade carismática e acolhedora, onde se sente em casa e já fez bons amigos
CL0THING LISBON IN PROTIC At VOYEUR’s request Aleksandar Protic sketched the outfit he’d like to see on Lisbon, a charismatic and welcoming city where he feels at home and has made many good friends
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