Amor ou conveniência? A palavra “deserção” está entalada na garganta de Isobel Blake. Como Constantin de Severino ousa acusá-la de abandono? O casamento pode ter sido precipitado, mas a perda de seu bebê quase a destruiu e Constantin não estava por perto para consolá-la Agora, Isobel sabe que precisa confrontar o marido para virar de vez essa página dolorosa de sua vida. Porém, Constantin parece determinado a reconquistá-la, e a tentação de tê-lo de volta a domina. Contudo, quando os verdadeiros motivos de Constantin são revelados, ela terá de decidir se ele realmente merece uma segunda chance.
Franziu o cenho ao pensar que a palavra deserção, ironicamente, continha mais emoção do que Constantin demonstrara durante um ano de casamento. A quem ela queria enganar? Era impossível acreditar que Constantin tivesse um lado vulnerável. Emoções não eram com ele. Era mais provável que a razão dada por ele para justificar o divórcio tenha sido friamente calculada. Porém, Isobel não aceitaria toda a culpa pelo fracasso do matrimônio. Constantin precisava ver que ela não era mais a mulher ingênua com quem se casara e que não conseguiria as coisas do jeito dele.
Querida leitora, Dois anos após o conturbado fim de seu casamento, Isobel Blake recebe os papéis do divórcio e fica estarrecida. Seu ex-marido, o implacável Constantin de Severino, a acusara de abandono. Ela se recusa a aceitar toda a culpa pelo término do relacionamento e decide confrontá-lo. Mas quando o destino conspira para reuni-los, toda tristeza e rancor que sentem se transformam em combustível para reacender uma paixão que acharam ter se extinguido. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books
Chantelle Shaw
ALIANÇA DE TENTAÇÃO
Tradução Ana Death Duarte
2015
CAPÍTULO 1
– CHEGAMOS. GROSVENOR Square W1. – O taxista olhou de relance para a passageira no banco de trás, confuso, pois ela não desceu do carro. – É aqui mesmo? Deseja ir a algum outro lugar? Nervosa, Isobel sentiu-se tentada a pedir que o taxista seguisse em frente. A residência georgiana tinha a mesma aparência da qual se lembrava: os quatro andares de janelas arqueadas brilhavam ao sol primaveril, refletindo as árvores do parque em frente. Ela amava a casa quando morou ali com Constantin, mas, agora, sua elegante grandeza parecia zombar dela. Isobel ficou surpresa com sua reação emotiva ao voltar àquela casa, dois anos depois de sair pela porta da frente sem olhar para trás, dando as costas a seu casamento. Talvez devesse apenas assinar os papéis do divórcio, que pareciam querer furar sua bolsa, e enviá-los ao advogado de Constantin. Qual o propósito, afinal, de vê-lo de novo depois de todo esse tempo e desencavar o passado? Ela nunca conhecera o marido a fundo. Quando se conheceram, três anos atrás, Isobel fora seduzida pelo charme e pela ardente sensualidade de Constantin. Depois do casamento, com um início apaixonado e picante, Constantin passou a agir como um estranho. Analisando as coisas em retrospecto, Isobel percebeu que nunca realmente entendeu o enigmático italiano que atendia pelo exótico título de marchese Constantin de Severino. Isobel sentiu uma repentina onda de fúria com o motivo pelo qual Constantin pediu o divórcio: deserção. Tecnicamente ela o havia mesmo desertado, mas ele não lhe dera opção, afastando-a com sua frieza e inflexibilidade em relação à carreira dela. Franziu o cenho ao pensar que a palavra deserção, ironicamente, continha mais emoção do que Constantin demonstrara durante um ano de casamento. A quem ela queria enganar? Era impossível acreditar que Constantin tivesse um lado vulnerável. Emoções não eram com ele. Era mais provável que a razão dada por ele para justificar o divórcio tenha sido friamente calculada. Porém, Isobel não aceitaria toda a culpa pelo fracasso do matrimônio. Constantin precisava ver que ela não era mais a mulher ingênua com quem se casara e que não conseguiria as coisas do jeito dele. – Aqui mesmo, obrigada – disse ela ao taxista, pisando na calçada e pagando o homem. A brisa ergueu o cabelo cor de mel dos ombros dela, e então o taxista a reconheceu. – Você é Izzy Blake, a cantora daquela banda... Stone Ladies. Minha filha é uma grande fã sua! Posso ser cafona e pedir um autógrafo para a minha Lily?
Isobel pegou a caneta e o papel que ele lhe passou e autografou. Duvidava que algum dia se sentiria à vontade ao ser reconhecida pelo público, mas nunca se esquecia de que a banda devia seu sucesso aos milhares de fãs espalhados pelo mundo. – Vocês vão se apresentar aqui em Londres por esses dias? – Não, nossa turnê europeia terminou em Berlim, na semana passada, mas devemos tocar em Londres no outono. Isobel desistira de tentar lembrar os detalhes da agenda cheia da banda. Nos últimos dois anos, sua vida fora um borrão, passando de aeroportos a saguões de hotéis nas cidades, nos estados e nos continentes em que a banda se apresentava. – Dê-me seu e-mail, vou garantir que receba ingressos para levar sua filha ao próximo show da Stone Ladies. Depois de agradecer, o taxista foi embora. Isobel subiu os degraus da casa e tocou a campainha, apertando a alça de sua bolsa de mão. Apesar da determinação de manter a calma, sentia o coração bater dolorosamente contra o peito. Não estava nervosa porque veria Constantin novamente. A acusadora e condenadora palavra deserção tivera o mesmo efeito sobre ela do que um pano vermelho para um touro. – Maldito Constantin – murmurou ela, um pouco antes de o mordomo abrir a porta. – Madame – disse o homem, cujas feições não revelavam nenhuma surpresa com a repentina presença dela ali, mesmo após uma ausência de dois anos. – Olá, Whittaker. Meu... marido... está em casa? – disse ela, tropeçando na palavra marido, o que, em breve, ele não seria mais, deixando-a livre para seguir em frente com a vida. Isobel havia lido no jornal que Constantin estava em Londres para a abertura de uma nova loja De Severino Eccellenza, mais conhecida como DSE, na Oxford Street, e fora até ali na manhã de domingo. – O marquês está lá embaixo – disse o mordomo, recuando um passo para que ela entrasse. – Vou informá-lo de que a senhora está aqui. – Não! – Isobel queria manter o elemento surpresa. – Ele está me esperando. – O que era uma meia verdade. Sem dúvida Constantin esperava que ela assinasse a papelada do divórcio, mas não que fosse entregá-la pessoalmente. Isobel se apressou até o porão. Constantin montara uma sala de ginástica ali logo depois que se casaram, para exercitar-se em casa em vez de ir à academia depois de passar o dia todo no escritório. A porta da sala estava aberta, e ele golpeava um saco de boxe, totalmente concentrado para notar a presença dela. Isobel ficou com a boca seca, parada no corredor, analisando-o. Esquecera-se como ele era grande! Constantin devia seu mais de 1,80m de altura à mãe americana, que fora uma modelo de sucesso antes de casar-se com o pai dele. Ela suspeitava que as agudas maçãs do rosto e as feições classicamente esculpidas também vinham da mãe, mas, de resto, Constantin era um puro homem italiano. A exótica pele morena clara, o brilhante cabelo escuro, quase preto, crescendo em luxuriantes ondas e recusando-se a ser completamente domado pela tesoura. A roupa de ginástica revelava os poderosos músculos dos ombros e das coxas, e os pelos enrolados de seu peito estavam molhados de suor. Isobel ponderou que ele precisaria de um banho e então foi tomada por recordações dos primeiros dias de casamento, quando ia vê-lo malhar e depois eles dividiam o chuveiro. Os dois anos de separação desapareceram ao lembrar-se de suas mãos deslizando pelas coxas desnudas e musculosas dele, envolvendo a poderosa ereção, enquanto Constantin descia com um sabonete
pelos seus seios até ela implorar para que ele acabasse com o tormento e a possuísse bem ali, apoiada na parede do boxe do chuveiro. Pelo amor de Deus! Com o sangue fervendo nas veias, Isobel não conteve um som abafado, que acabou alertando Constantin de sua presença. Primeiramente, ficou pasmo; depois, assumiu uma expressão impossível de ser interpretada. Ele tirou as luvas de boxe e caminhou até ela. – Isabella! A voz rouca de Constantin era sensual como chocolate meio amargo, e quando ele usou a forma italiana do nome dela, Isobel encheu-se de desejo. Como era possível que tivesse tal efeito devastador sobre ela depois de todo aquele tempo? No mundo da música, ela frequentemente estava na companhia de homens atraentes, mas nunca sentira uma centelha que fosse de desejo por nenhum deles, atribuindo a falta de interesse ao fato de ainda estar legalmente casada. Porém, com um lampejo de quase desespero, se dera conta de que nenhum outro homem a excitava como Constantin. Bastou olhá-lo para acordar seu corpo de uma dormência de dois anos. Isobel sentira uma premência de sair correndo escada acima, mas Constantin estava logo à sua frente, perto demais. Todos os músculos no corpo dela se enrijeceram, na defensiva, enquanto ela lutava contra o efeito que ele exercia. – Não se esconda nas sombras, cara – disse Constantin com a fala arrastada. – Presumo que tenha um bom motivo para vir até aqui, dois anos depois de ter fugido – completou ele, com cinismo. – Não fugi – disse ela, irritada. Assim que o vira pela primeira vez, quando era secretária temporária enviada pela agência para trabalhar para o CEO no escritório londrino da De Severino Eccellenza, marca exclusiva de joias e artigos de luxo, Isobel ficara hipnotizada pelos olhos azuis e brilhantes dele, contraste inesperado com sua aparência latina. Constantin deu de ombros. – Certo, você não fugiu. Saiu de fininho enquanto eu viajava a negócios. Voltei para casa e me deparei com um bilhete informando-me que você havia saído em turnê com a banda e não voltaria. Isobel rangeu os dentes. – Você sabia que eu ia entrar em turnê com a banda... tínhamos discutido isso. Fui embora porque, se ficasse, destruiríamos um ao outro. Não se lembra da briga que tivemos na manhã anterior a sua ida para a França? Nem da discussão do dia anterior? Nem do dia anterior àquele? Eu não aguentava mais! – A voz dela ficou trêmula. – Não conseguíamos nem mesmo ficar no mesmo aposento sem tensão. Estava na hora de colocar um fim ao nosso casamento que mais parecia um trem desgovernado. E lá estavam eles, brigando novamente, instantes depois de se reencontrarem. – E eu não fui entrando na casa – disse ela com a voz cuidadosamente controlada. – Deixei minhas chaves e minha aliança de casamento na sua escrivaninha, dois anos atrás. – O gesto simbólico de tirar o anel do dedo foi a punhalada fatal em seu coração, lembrou Isobel com pesar. – Whittaker me deixou entrar. Vim devolver isso – disse ela, pegando a papelada do divórcio de dentro da bolsa. Constantin voltou os olhos para o documento.
– Você deve estar desesperada para pôr um fim oficial no nosso casamento já que não pode esperar até amanhã para levar a papelada aos correios – disse ele em tom de zombaria. Ainda que Isobel estivesse de salto alto, Constantin agigantava-se diante dela, que precisou inclinar a cabeça para encarar os olhos azul-cobalto dele. Logo percebera que não fora um movimento sábio abaixar o olhar para a boca carnuda e sensual, pois sua pulsação acelerou rapidamente. Então, viu um perigoso brilho nos olhos dele ao fitá-la, o que fez sua pele formigar. – Você está bonita, Isabella – disse ele, com a fala arrastada. – Obrigada – forçou-se a responder friamente. Mesmo com seu coração idiota dando pulinhos. A antiga Isobel lutara para aceitar elogios com graça, porém, a maturidade lhe dera autoconfiança para que fosse capaz de olhar-se no espelho e reconhecer que era atraente. O que não queria dizer que ela não passara muito tempo ponderando sobre o que vestir para o encontro com Constantin. Queria parecer sofisticada, e ainda assim dar a impressão de que não havia demorado muito na escolha das roupas. Acabara escolhendo uma calça jeans escura de seu estilista predileto, uma camiseta branca simples, e, para complementar o visual, uma jaqueta vermelha. Deixara o longo cabelo, cortado em camadas, solto, e usara o mínimo de maquiagem, apenas rímel para destacar os olhos cor de avelã, e um pouquinho de gloss cor-de-rosa nos lábios. Ela viu quando Constantin olhou de relance para sua bolsa. – Da nova coleção da De Severino Eccellenza. Um tanto quanto irônico, considerando que você sempre fazia alarde quando eu lhe dava itens da DSE no tempo em que estávamos juntos. Espero que tenha dito que era minha esposa ao comprar essa bolsa e pedido desconto. – Claro que não! Posso pagar o preço cheio. Não havia motivos para explicar que, quando estavam juntos, Isobel sentia-se culpada quando ele lhe dava joias e acessórios da DSE, pois tudo na coleção era tão incrivelmente caro e ela não queria que parecesse que se casara por dinheiro. Nos últimos dois anos, a carreira como cantora fizera com que ela recebesse uma renda inacreditável para uma garota que crescera em um antigo vilarejo de minas de carvão no Norte da Inglaterra, onde a pobreza assolava a vida e a alma dos moradores que ficaram desempregados após o fechamento dos poços havia mais de uma década. Isobel duvidava que Constantin entendesse como era bom para ela poder pagar pelas próprias roupas e joias, depois da vergonha que sentira quando adolescente, ao saber que sua família vivia com a ajuda do governo. Isobel sempre teve consciência da diferença social entre eles: Constantin fazia parte da aristocracia italiana, tinha origem nobre, era incrivelmente rico e sofisticado, e não era de se surpreender que a filha de um minerador tenha enfrentado dificuldades de se enquadrar no exclusivo estilo de vida do marido. Contudo, ela não se atormentava mais pelas inseguranças do passado; era uma mulher segura e orgulhosa de sua carreira bem-sucedida. – Não quero escavar o passado – disse ela, com firmeza. Isobel sentiu que Constantin estava surpreso com sua autoconfiança. – O que você quer então? Ela pretendia deixar claro que não aceitaria a responsabilidade pelo colapso do casamento deles, mas suas palavras cheias de fogo foram substituídas por outro tipo de sentimento enquanto observava Constantin pegar uma toalha e esfregá-la nos braços e nos ombros. Depois,
ele tirou a parte de cima da roupa de ginástica e arrastou a toalha nos pelos molhados de suor que cresciam em seu peito e desciam por sua barriga firme. Isobel desviou os olhos, com pesar, de onde os pelos desapareciam sob o cós do short, cerrando a mão para impedir-se de esticá-la e deslizá-la pelos músculos abdominais dele. Constantin era tão lindo que fazia suas entranhas derreterem. Sua pele formigava enquanto todas as extremidades nervosas sintonizavam-se ao sex appeal bruto de Constantin, instigando nela algo primitivo. Seu cérebro sabia que ele representava o perigo, mas o som de seus alarmes mentais era obliterado pelo barulho do sangue retumbando aos seus ouvidos. Silêncio. Constantin franziu o cenho para a falta de resposta de Isobel, mas conseguiu ler a expressão desprotegida nos olhos dela e curvou os lábios num sorriso predador. – Ah, acho que entendi, cara. Esperava que pudéssemos ficar juntos pelos velhos tempos antes de legalizarmos a separação? – Ficar juntos? – Por um instante, Isobel não entendeu. Contudo, quando o olhar contemplativo de Constantin demorou-se em seus seios, ela ficou ruborizada, e, para seu horror, sentiu os mamilos enrijecerem-se e rezou para que ele não notasse a resposta corporal. – Não havia nenhum problema com qualquer aspecto de nosso casamento – murmurou ele. – Nossa vida sexual era explosiva! Constantin estava falando de sexo! Os dedos dela coçavam para limpar a expressão de zombaria do rosto dele. – Você acha que vim aqui para... me oferecer a você? Vai sonhando! – disse ela, furiosa. O sangue de Isobel fervia. Como Constantin se atrevera a sugerir que o motivo da visita era o desejo de dormir com ele... pelos velhos tempos? Logo a mente traiçoeira de Isobel respondeu à sugestão provocadora e a fez visualizar ambos nus, contorcendo-se no tapete de ginástica, as pernas entrelaçadas enquanto ele a penetrava num ritmo implacável. Isobel não confiava em si para falar algo que não resultasse em mais uma das horríveis discussões que foram regulares nos últimos meses de casados. O silêncio dignificado parecia ser sua melhor estratégia, porém, o que ele disse impediu-a de subir marchando os degraus da escada. – Venho sonhando com você nesses últimos dois anos, Isabella. As noites podem ser longas e solitárias, não podem? Seria possível que estivesse ouvindo arrependimento na voz dele? Haveria alguma chance de Constantin ter sentido metade da saudade que ela sentira? Devagar, Isobel virou-se para encarálo e logo percebeu que sonhava acordada. Constantin estava encostado no batente da porta, sem camisa, lindo e totalmente ciente de que a deixara excitada. Como pôde achar que Constantin pudesse ter um lado vulnerável escondido sob toda sua arrogância? A ideia de que o magoara ao deixá-lo era risível, pensou Isobel com amargura. Se ele possuía um coração, o mantinha trancafiado atrás de uma parede de aço impenetrável. – Não creio que tenha passado muitas noites sozinho… não se eu for acreditar nos tabloides que estampavam você e diversas modelos e socialites nas capas. Ele deu de ombros. – Havia ocasiões em que se fez necessário convidar mulheres para eventos sociais, visto que minha esposa não estava por perto para me acompanhar – disse ele, voltando o olhar penetrante
para ela. – Infelizmente, a imprensa marrom vive de escândalos e intrigas que, se não existirem, são fabricados. – Está me dizendo que não teve casos com aquelas mulheres? – Se está tentando me fazer admitir adultério para justificar nosso divórcio, pode esquecer – disse ele com frieza. – Foi você que caiu fora. Isobel foi tomada por frustração. Morria de ciúmes só de pensar que ele poderia ter dormido com as mulheres com quem fora fotografado, mas, como ele mesmo disse, ela quem tinha ido embora, por isso, não tinha o direito de lhe fazer perguntas sobre sua vida pessoal. Era improvável que ele tivesse mantido celibato pelos últimos dois anos. De repente, toda a adrenalina se foi e ela se sentiu cansada e estranhamente vazia. Que ideia idiota de ir até ali! Isobel olhou a papelada do divórcio que tinha em mãos e a rasgou no meio. – Quero o divórcio tanto quanto você, mas porque vivemos separados por mais de dois anos. Se você insistir que o motivo é minha deserção, iniciarei os procedimentos de divórcio contra você, citando seu comportamento nada razoável. – Meu comportamento? E o seu? Dificilmente você era uma esposa devotada, não é, cara? Na verdade, você saía com seus amigos com tanta frequência que eu quase esquecia que tinha uma esposa. – Eu via meus amigos porque, por algum motivo que nunca entendi, você virou um homem de gelo! Éramos dois estranhos que por acaso moravam na mesma casa, e eu precisava de mais do que isso, Constantin. Precisava de você... – encarando os olhos dele, Isobel viu que estava perdendo tempo. – Está vendo? Não conseguimos nem concordar em como vamos pôr um fim ao nosso casamento... Ela subiu os degraus e seguiu em direção à porta da frente, mas foi forçada a parar quando o mordomo se pôs na frente dela após desligar o telefone. Whittaker mantinha aberta a porta que dava para a sala de visitas. – O marquês pediu que a senhora esperasse aqui enquanto ele toma um banho, e logo a encontrará. – Não, estou indo embora – disse ela, balançando a cabeça. Whittaker não tirou o sorriso educado do rosto. – O sr. De Severino espera que a senhora fique para que terminem a discussão. Deseja que eu lhe traga um chá, madame? O mordomo conduziu Isobel até a sala de visitas, fazendo-a ouvir o fraco clique da porta quando saiu. Ela não entendia qual era o jogo de Constantin. Estava claro que o que eles tivessem que discutir poderia ser feito pelos advogados. Recusava-se a ser uma marionete nas mãos dele, como acontecera com frequência no passado. Isobel alcançou a maçaneta no exato momento em que a porta se abriu e o mordomo entrou com uma bandeja de chá. – Lembrei que a senhora prefere Earl Grey, madame – disse ele, sorrindo enquanto estirava uma xícara e um pires. Bons modos impediram Isobel de sair tempestuosamente da casa. Sempre se dera bem com Whittaker, e ele não era culpado pelos problemas de seu casamento. Ela andou até a janela e a vista familiar do parque evocou lembranças dolorosas.
– Acabei de falar com meu advogado e ele vai lhe enviar a nova papelada de divórcio para que assine. Você também receberá uma declaração dizendo que não moramos juntos faz dois anos. Isobel ficou alarmada ao ouvir a voz de Constantin e derrubou um pouco de chá no pires. Ela se virou, desconcertada com a presença tão próxima dele. Para um homem grande, ele se movia como a ameaça silenciosa de uma pantera indo atrás da presa. A calça jeans e a camisa polo pretas que ele vestira enfatizavam sua bela aparência letal. A fragrância cítrica do sabonete misturada com a colônia picante provocava os sentidos dela. – Giles ainda acha que tenho base para pedir o divórcio por deserção, mas o conselho legal é que será mais rápido assim. Afinal, nós concordamos em um ponto: ambos queremos um fim rápido para o nosso casamento. Determinada a esconder a pontada de dor evocada pelas palavras dele, Isobel voltou o olhar para a janela e para o belo parque no centro da Grosvenor Square. – Quando eu estava grávida, costumava ficar aqui e me imaginava empurrando o carrinho de nosso bebê pelos jardins – disse ela baixinho. – Nossa garotinha estaria com quase 2 anos e meio agora. A dor que sentiu no peito não foi tão pungente quanto antes, mas era o bastante para deixar Isobel sem fôlego. A ferida que nunca se fechou se reabriu com a ida até aquela casa. Enquanto Constantin enchia uma xícara de café, Isobel sentiu raiva por ele não exibir reação alguma quando falou sobre a filha deles. Nada havia mudado! Quando perdeu o bebê, com 24 semanas de gestação, ficou amortecida pela dor. Nas poucas vezes em que tentou conversar com Constantin sobre o assunto, ele se recusou e ficou ainda mais distante. Até que, por fim, ela parou de tentar. – Você, em algum momento, pensa em Arianna? – A enfermeira no hospital os havia aconselhado a escolher um nome para a bebê, mesmo tendo nascido cedo demais para sobreviver. Constantin sorveu seu café, e Isobel notou que ele evitou o seu olhar. – Não há porque vivermos no passado. Nada pode mudar o que aconteceu. Tudo o que podemos fazer é seguir em frente. Dois anos atrás, Isobel ficaria abismada com a falta de emoção de Constantin, porém, olhando com atenção, ela pôde ver um nervo tremer na bochecha dele, e percebeu que estava mais tenso do que parecia. – Foi por isso que entrou com o pedido de divórcio? Para enterrar o passado? Constantin estremeceu com o uso deliberado da palavra enterrar. Será que visualizara, que nem ela, o pequeno túmulo de mármore branco na capela da Casa Celeste, lar histórico da família De Severino às margens do Lago Albano, onde Arianna estava enterrada? Constantin estreitou os olhos. – Essa conversa tem algum propósito? Ele não tentou disfarçar a frustração. A visita dela foi imprevista, e Constantin odiava surpresas. Ficou chocado quando a viu, o que atiçava a raiva que sentia por ela o ter deixado, mesmo reconhecendo que a havia afastado de si. Que audácia a de Isobel de entrar em sua casa, tão bonita a ponto de deixá-lo instantânea e embaraçosamente excitado! Constantin não a queria por perto, atiçando memórias que fizera questão de trancafiar. Uma imagem passou por sua mente: a minúscula e perfeitamente formada garotinha que nunca
vivera, aumentando impetuosamente a dor dentro dele. Contudo, ele a controlou, como sempre fazia, usando a força de vontade para bloquear as recordações. Mais difícil era controlar a reação de seu corpo a Isobel. Ela não estava apenas atiçando lembranças indesejadas, reconheceu Constantin, mudando de posição de forma a esconder sua excitação. Nenhuma outra mulher o deixava com uma ereção tão rapidamente quanto Isobel. Constantin se lembrou de quando a viu pela primeira vez, entrando em seu escritório uma hora atrasada para o trabalho, com o cabelo cor de mel emoldurando seu rosto estonteante, anunciando que havia sido enviada pela agência para ficar no lugar da assistente que estava em licença-maternidade. Ele cortou a explicação, mas sua impaciência morreu quando encarou os olhos dela e sentiu um desejo tão forte que literalmente o deixou sem fôlego. Daquele momento em diante, seu único objetivo foi levá-la para a cama, o que conseguiu em um mês. Descobrir que era o primeiro amante de Isobel extraiu dele emoções que não achava ser capaz de sentir. O fim de semana que passaram em Roma foi o melhor, e o pior, da vida de Constantin. Foi o começo dos pesadelos que o assombravam desde que acordou no meio da noite, suando e tremendo, totalmente horrorizado com a verdade revelada pelo sonho. Constantin olhou para Isobel, dormindo inocentemente ao seu lado, e concluiu que, para a segurança dela, não poderia permitir que o relacionamento continuasse.
CAPÍTULO 2
A LUZ do sol que passava pela janela deixou o cabelo de Isobel da cor de ouro. O peito de Constantin foi repuxado por uma sensação que ele não conseguia definir, mas ele ignorou isso e forçou-se a estudar a mulher com objetividade. As roupas que Isobel vestia eram de um design divino. A calça jeans justa chamava a atenção para as longas pernas e a camiseta moldava os seios firmes. Uma corrente de ouro em volta do pescoço era a única joia que ela usava. Ao olhar para a mão esquerda dela, Constantin visualizou a aliança e o anel de noivado de diamante que ela deixou para trás quando se foi. Fisicamente, Isobel mudara pouco em dois anos. Seu rosto era tão belo quanto ele lembrava, com maçãs do rosto altas e um maxilar firme, indicativos do caráter determinado dela, e seus olhos castanhos com longos cílios eram claros e inteligentes. Seu cabelo naturalmente louro tinha um corte sexy e aquele ar de quem acabou de sair da cama, que o fazia querer passar os dedos por suas camadas sedosas. Ele buscou os olhos dela e ficou intrigado ao ver ali a calma autoconfiança quando antes ela teria ruborizado e desviado o olhar. Uma mulher confortável em sua própria pele era atraente, e Constantin sentia desejo ao mesmo tempo em que estava irritado com a autoconfiança que ela desenvolveu depois de deixá-lo. – Não sou o único de quem a imprensa fala – disse ele, abruptamente. – O sucesso da sua banda, Stone Ladies, foi algo meteórico e vocês receberam vários prêmios. Como você se sente sendo uma estrela famosa? Isobel deu de ombros. – Francamente? Parece irreal. Em dois anos, passamos de tocar em barzinhos para imensas arenas com milhares de pessoas. Claro que o sucesso é incrível, mas acho difícil lidar com o interesse da mídia na minha vida particular. – Particularmente quando os paparazzi estão fascinados com seu relacionamento com um dos membros masculinos da banda – disse Constantin, sarcástico. – Acho que a gravadora quer que a imagem da banda fique extremamente limpa para seus fãs adolescentes, e por isso seus perfis nas mídias sociais não fazem nenhuma menção ao fato de você ser casada. Isobel suspirou, sentindo que eles voltariam a uma discussão antiga. – Expliquei que Ryan é só um amigo. Sou íntima de todos. Crescemos juntos, Ben, Carly e Ryan são como minha família. Você nunca entendeu a importância deles para mim e ressentia-
se das minhas amizades, mas quanto mais você me afastava, mais eu precisava estar com pessoas que se importassem comigo, em quem eu pudesse confiar. Constantin franziu o cenho. – Nunca lhe dei nenhum motivo para que você não confiasse em mim. – Não estou querendo dizer que eu achava que você se encontrava com outras mulheres pelas minhas costas. De certa forma, se ele tivesse sido infiel, teria sido mais fácil de entender, pensou Isobel, dolorosamente. Ela ficaria magoada, mas teria aceitado que errara ao casar-se com um playboy notório e em algum momento acabaria superando isso. Ela sentiu um aperto no coração ao fitar o belo rosto dele. Ela escrevera canções sobre apaixonar-se à primeira vista, mas nunca acreditara que isso realmente pudesse acontecer... até que conhecera Constantin. Quando, naquele primeiro dia, seus olhos colidiram com os olhos azul-cobalto dele, seu mundo saiu do eixo. Ela esperava que o CEO de uma empresa mundialmente famosa como aquela fosse mais velho, que estivesse ficando careca e gordo, mas Constantin era um exemplo divino da perfeição masculina, com uma aparência exótica de astro do cinema, e a presença imponente de um líder mundial. Ela sentira-se intimidada por sua altura, seu porte físico potente, sua ardente sensualidade. Quando ele sorriu, ela sentiu um anseio que sabia que só ele podia aplacar. Constantin estreitou os olhos para o rosto ruborizado de Isobel, imaginando que pensamentos ela estaria tentando esconder. Ela estava incrível. Depois da perda da criança, ela mal comia e perdeu muitíssimo peso, mas agora, sua silhueta esguia estava firme e tonificada. Será que teria um amante? Esse pensamento invadiu sua cabeça como veneno. Ela era bela e sensual. Era difícil acreditar que tenha vivido como uma freira pelos últimos dois anos. Ele a havia visto nos pôsteres de propaganda do novo álbum da banda. Em Londres, havia outdoors gigantes com fotos dela usando uma saia que mais parecia um cinto, expondo suas coxas esguias, elegantes e belas. Ela era uma pin-up, uma fantasia masculina, mas ele não precisava de fantasias quando tinha memórias proibidas para menores dela... fazendo amor... recordações estas que tomaram conta de sua mente, aumentando muito sua excitação. A atmosfera na sala alterou-se sutilmente. Ele ouvia o som de sua respiração que se acelerava... ou seria a dela? Olhando-a nos olhos, ele soube que Isobel estava lembrando-se da fome incandescente que os consumiu no passado e que fervia entre eles agora. Isobel ficou em pânico, mas também inegavelmente animada, ao notar que ele ainda a desejava. Ela desviou os olhos dele e ficou, desesperadamente, encarando a xícara vazia e o pires em sua mão, de repente se dando conta de que estava segurando a cerâmica delicada com tanta força que poderia quebrá-la. Ela deu um passo para colocar a xícara na mesinha de centro, mas tropeçou... sendo imediatamente amparada pelos fortes braços dele; quando recuperou o equilíbrio, estava tão perto de Constantin que as pontas de seus seios roçavam no peito dele. – Obrigada. – Ela gemeu por dentro quando sua voz saiu num sussurro rouco. Seu bom senso a dizia para se afastar dele, mas ela parecia ter perdido o controle das pernas enquanto sua mente voltava à primeira vez em que ele a beijou. Ele dera uma carona a ela do trabalho para casa. Sentada ao lado dele em seu carro esporte, ela sentira-se ainda mais sobrepujada por ele do que no escritório. Seu cargo limitava suas conversas com ele, praticamente apenas relacionadas ao trabalho, e ela presumira que ele mal a
notava. Quando Constantin lhe pedira para falar de si enquanto a levava para casa, ela entrara em pânico, mas ele era seu chefe, então ela relatou os detalhes nada excitantes de como crescera em um pequeno vilarejo de Derbyshire. Ao parar o carro do lado de fora do apartamento dela, ele virou-se, sorrindo, e murmurou: – Você é muito doce. Ela não queria que ele a achasse uma garota doce e tola, mas que pensasse nela como uma mulher. Talvez isso tenha transparecido em seus olhos, porque ele suspirou antes de abaixar a cabeça e cobrir a boca de Isobel com a sua. O corpo dela ganhou vida instantaneamente. Como se ao apertar um botão ele houvesse despertado a sensualidade que ela não testara até aquele instante. Constantin a beijara como ela imaginava que um homem beijaria uma mulher, como sonhara em ser beijada. Isobel ficara intoxicada com a mestria dele e respondera a suas demandas apaixonadas com uma intensidade que o fez gemer. – Muito em breve, vou fazer com que você seja minha, Isabella – disse ele baixinho, num tom de aviso. – O quão breve? – Fora a resposta dela, não se importando com o fato de que sua impaciência revelava sua falta de sofisticação. Agora Isobel estava três anos mais velha, mas caiu no magnetismo sexual de Constantin como se tivesse voltado no tempo e àquele primeiro beijo deles dois. Seu coração espancava suas costelas enquanto ele abaixava a cabeça, mas ficou desapontada quando ele parou a poucos centímetros de seus lábios. – Por que você me abandonou? Você nem mesmo teve a decência de dizer na minha cara que estava me deixando. Tudo que tive foi aquele bilhetinho insultante me dizendo que você tinha decidido que deveríamos pôr um fim no nosso casamento. Isobel engoliu em seco. Era impossível pensar direito com os lábios dele assim tão tentadoramente perto dos seus. Mais impossível ainda era acreditar que tinha ouvido uma ponta de mágoa na voz de Constantin. Ela ansiava por passar a mão em seu cabelo escuro e sedoso, segurá-lo pela nuca e beijá-lo. Foi preciso toda sua força de vontade para afastar-se dele. – Por que você se casou comigo? – disse ela, respondendo à pergunta dele com outra. – Só por que eu estava grávida de um filho seu? Eu acreditava que a base do nosso relacionamento era mais do que atração sexual, mas, depois que perdi a criança, você ficou tão distante... eu não conseguia me aproximar de você, que nunca queria falar sobre... o que aconteceu. Sua frieza parecia indicar que você gostaria que eu não fosse sua esposa. Constantin sempre conseguira ler as emoções nas feições expressivas de Isobel e a dor refletida nos olhos dela causou-lhe uma pontada de dor. Ele sabia que não a apoiara como deveria quando perdeu o bebê. Ele não conseguia falar sobre isso e lidou com suas emoções enterrandoas bem a fundo e concentrando-se no trabalho. Ele mal poderia culpá-la por buscar os amigos, mas sentia ciúmes da proximidade dela com os membros da banda, especialmente da afeição óbvia que ela sentia pelo guitarrista, Ryan Fellows. A capa do novo álbum da Stone Ladies era uma foto em preto e branco pretensiosamente artística dos dois membros mais fotogênicos da banda, Isobel e Fellows, cavalgando num unicórnio. Sem dúvida, a imagem romântica agradaria aos fãs, mas Constantin quis socar a cara do guitarrista logo que a viu.
A ideia de que ele e Isobel pudessem ser amantes evocou uma queimação ácida e corrosiva em seu âmago. Isobel o acusou de ressentir-se dos amigos dela e ele reconhecia que era verdade. Tinha sido incapaz de controlar seus sentimentos possessivos, que o deixavam com medo de que tivesse herdado o ciúme perigoso de seu pai. Ele olhou para o rosto tenso dela e pensou em como deveria ter sido difícil para ela ir até aquela casa que lhe evocava tantas recordações pungentes. Pensou no mural de animais de fazenda, agora inacabado, que ela estivera pintando nas paredes do quarto do bebê, agora vazio e no qual ele nunca mais pusera os pés. O aborto tinha devastado Isobel. Era uma demonstração de sua força que ela tivesse se recuperado e se tornado essa mulher bela e confiante, embora um escrutínio bem atento relevasse fracas sombras nos olhos dela que, Constantin achava, nunca desapareceriam. Ela merecia sua honestidade. – Há três anos fomos amantes por um curto período de tempo. O fim de semana que passamos no meu apartamento em Roma foi divertido, mas eu não tinha desejo algum de ter um relacionamento prolongado e achei que você tivesse entendido isso. Quando terminou com ela logo depois de voltarem a Londres, Constantin disse a si mesmo que seria melhor assim, antes que as coisas saíssem do controle. E Isobel precisava entender que as palavras “a longo prazo” e “compromisso” não faziam parte do vocabulário dele. – Mas então o destino... quando você me disse que estava grávida... bem, casamento era a única opção. Eu não poderia deixar de cumprir com meu dever para com a criança ou você. Isobel encolheu-se. Dever era uma palavrinha feia. Ouvir que Constantin a pedira em casamento por sentir-se responsável por ela deixou um gosto amargo em sua boca. Ela havia lhe contado que estava grávida porque achava que ele tinha o direito de saber e ficou pasma quando ele a pediu em casamento, afinal, em pleno século XXI, ser mãe solteira não era mais tão incomum nem motivo de vergonha. Ela se convenceu de que ele sentia algo por ela. Mas a dura verdade era que ela viu o que quis ver. – Tivemos uns bons momentos no começo... – Não nego isso, íamos ser pais, e pelo bem da criança, era importante que desenvolvêssemos um relacionamento amigável, além da nossa compatibilidade sexual. Isobel engoliu em seco. Constantin estava apenas criando um relacionamento amigável quando encheu a casa de rosas amarelas depois que ela disse que eram suas flores prediletas? Será que ela havia imaginado que a proximidade entre eles ficava mais forte a cada dia nas três semanas da lua de mel deles em Seychelles? Ela ficou fitando-o e perguntando-se por que sempre acreditou haver calidez naqueles olhos que brilhavam tão duros quanto safiras. Que tola tinha sido! Lá no fundo ela acreditava que havia uma chance de que eles um dia pudessem voltar a ficar juntos. Sua frágil sensação de esperança agora se foi e doía muito. Ela voltou a cabeça na direção da janela. Como se estivesse olhando através de um caleidoscópio, viu as imagens fraturadas de uma mulher empurrando um carrinho de bebê pelo parque, com um homem alto e belo a seu lado, mas, quando piscou, a visão desapareceu, assim como seus sonhos. De alguma forma, ela até conseguiu abrir um frio sorriso quando voltou a olhar para Constantin.
– Nesse caso, não há mais nada a ser dito. Esperarei a nova papelada do divórcio para assinála e devolvê-la imediatamente. – Instruí meu advogado a oferecer-lhe um acordo financeiro. – Constantin franziu o cenho quando ela balançou a cabeça em negativa. – Não entendo por que você insistiu em assinar um acordo pré-nupcial que lhe deixava sem nada. – Porque não quero nada de você – disse Isobel com ferocidade. – Tenho sorte de ganhar uma renda alta, mas mesmo se a banda não tivesse feito sucesso, eu não teria aceitado nada de você. A impaciência reluzia nos olhos dele. – Estou vendo que você não perdeu nada de sua espinhenta independência. Você é a única mulher que conheci que ficava irritada quando eu lhe comprava presentes. Ela não queria presentes caros. Ele não foi capaz de lhe dar o que ela queria de verdade: amor, uma parceria verdadeira em forma de casamento. Será que tal coisa até mesmo existia? Ela viu poucos indícios disso no casamento de seus pais... talvez seu pai tivesse razão quando a acusou de perder tempo correndo atrás de um arco-íris, enquanto escrevia letras de música. Talvez finais felizes fossem mesmo só coisas de contos de fadas. Fixando os olhos no rosto de Constantin, ela viu a leve curva cínica nos lábios dele, o que evocava uma dor visceral em sua barriga. Isobel tinha que sair da casa agora, antes que sua fina compostura rachasse. Ela sentia-se mais do que agradecida pela ilusão de suprema confiança que tocar com a banda havia lhe dado. Saiu sem pressa da sala e olhou de relance para Constantin da entrada. – Instruirei meu advogado a rejeitar qualquer oferta financeira vinda de você. – Per l’amor di Dio! – disse ele, soltando xingamentos baixinho enquanto cruzava a sala a passos largos. – Caramba, Isobel, você tem direito a receber uma pensão minha. A indústria da música é incerta, e, embora a banda esteja no auge, ninguém sabe o que o futuro reserva. Isso não era verdade?, pensou Isobel emotiva, lembrando-se da minúscula bebê deles por um instante. Voltar àquela casa, onde sonhara em viver como uma família feliz com Constantin e a filha deles, fizera cair a camada protetora com a qual ela envolvera seu coração cicatrizado. – Não existe motivo para que você se sinta responsável por mim. Os olhos dela colidiram com os dele e algo no olhar de Constantin enviou um sinal para o cérebro de Isobel; ela o sentiu despi-la mentalmente e estava furiosa com sua resposta corporal. O som do celular tocando em sua bolsa foi uma distração bem-vinda. – Você se incomoda que eu atenda essa ligação? É a Carly, provavelmente para me lembrar de que combinamos fazer compras hoje de tarde. Isobel foi agraciada com a voz animada da amiga. – O fotógrafo da revista Rock Style quer fazer a sessão de fotos amanhã e não no meio da semana. Tudo bem para você? Ok, vou falar para ele – disse Carly quando Isobel confirmou que estaria livre no dia seguinte. Encerrou a ligação e estava prestes a colocar o celular na bolsa quando tocou de novo. Achou que fosse Carly outra vez, mas levou um susto ao ouvir uma voz assustadoramente familiar. – Olá, Izzy. É o David, seu querido. Lembra que você escreveu “Para meu querido David” quando me deu seu autógrafo? Eu sei que você está em Londres e esperava que pudéssemos jantar juntos.
– Como foi que você conseguiu o número do meu celular? – No instante em que fez essa pergunta sem pensar, Isobel amaldiçoou-se. A polícia a aconselhara a manter a calma e não revelar nenhuma emoção nem conversar com o homem que a estava perseguindo e incomodando nos últimos dois meses. Porém, ela ficou em pânico ao ouvir a voz do stalker. Será que David sabia exatamente onde ela estava em Londres? Embora fosse improvável que ele a tivesse seguido até ali... como havia conseguido o número de seu celular? Sem dizer mais nada, ela encerrou a ligação e verificou o número: não identificado. Desligou o celular e deixou-o cair na bolsa como se fosse uma granada. – O que foi isso? Ela encarou o olhar curioso de Constantin, sem saber que sua inquietação estava refletida em seus próprios olhos. – Nada. – Sua resposta foi automática. Não havia por que envolver Constantin nisso. Ela seguiria os conselhos da polícia, como fizera antes. Mudaria também o número do celular. Constantin franziu o cenho. – Pela sua reação, foi alguma coisa. Você parecia preocupada. – Ele pôs a mão no braço dela, impedindo-a de sair de fininho. – Você tem algum problema com quem lhe telefonou? – Não... era só alguém fazendo uma brincadeira. Agora Isobel tinha que lidar com a proximidade de Constantin. Com o coração acelerado, ela lutou contra a tentação insana de falar com ele sobre David, um fã que desenvolvera uma obsessão nada saudável por ela. A polícia sabia da situação e tudo estava sob controle. Não havia motivos para envolver seu futuro ex-marido nisso. Em poucas semanas eles estariam divorciados e provavelmente ela nunca o veria de novo. Ao dar-se conta disso, foi como se uma faca passasse por seu coração; Isobel soltou-se dele e foi quase correndo, aos tropeços, em direção à porta da frente da casa. – Adeus, Constantin – disse ela olhando de relance para ele. – Espero que um dia você encontre alguém que possa lhe dar o que quer que seja que você está procurando. – HISTORICAMENTE, O cargo de chairman da DSE sempre passou para o filho mais velho da próxima geração da família. É meu direito por nascimento, droga! Constantin andava de um lado para o outro na sede da DSE em Roma, com uma fúria suprimida como um tigre enjaulado. Ele encarava Alonso, calmamente sentado atrás de sua escrivaninha. – Se eu fosse um ano mais velho quando meu pai morreu, teria me tornado chairman uma década atrás, mas, como eu tinha 17 anos, as regras da empresa ditavam que o cargo fosse para o próximo De Severino maior de idade, no caso, você, irmão do meu pai. Mas agora você quer se aposentar e eu devo assumi-lo. Pretendo juntar os cargos de chairman e CEO, como meu pai fez. Alonso pigarreou. – Muitos membros da diretoria acreditam que as duas funções devam ser separadas. Um chairman independente da diretoria pode proteger melhor os interesses dos acionistas, deixando o CEO livre para concentrar-se em gerir os negócios, o que você faz extremamente bem, Constantin. – Os lucros aumentaram ano após ano desde que me tornei CEO, mas muitas vezes senti que estava trabalhando contra a diretoria em vez de contar com seu apoio. – Constantin mal
conseguia esconder sua frustração. – É crucial para a continuidade de nosso sucesso que a DSE aproveite mercados emergentes na Ásia e na América do Sul. A diretoria é lenta para abraçar mudanças, mas devemos nos mover rapidamente para nos mantermos à frente de nossos concorrentes. – Existe uma preocupação de que, com sua pressa de levar a empresa adiante, você tenha se esquecido dos padrões e da ética morais da DSE, que são a base da empresa desde que foi estabelecida pelo seu tataravô, quase um século atrás. Constantin bateu com as mãos fortemente na escrivaninha do tio. – Eu não esqueci nada! Vivo e respiro a DSE desde que eu era um garotinho, esperando que um dia fosse ser totalmente responsável pela empresa. Como foi que esqueci a ética moral da DSE? Em vez de responder, Alonso olhou incisivamente para uma popular revista de fofocas em cima de sua escrivaninha, em cuja capa havia uma foto de Constantin saindo de um cassino com uma glamourosa modelo italiana, Lia Gerodi, usando trajes minúsculos, notou Alonso, com cinismo. Constantin deu de ombros enquanto olhava de relance para a foto tirada uma semana antes. Ele só se lembrava daquela noite porque foi quando havia voltado para Roma depois da inesperada visita de Isobel. Estava com um humor péssimo. A imagem dela saindo da casa e entrando num táxi sem nem olhar para trás não saía de sua cabeça. Lia vinha ligando para ele fazia semanas, desde que se conheceram num evento do qual ele também mal se lembrava. Ao receber um telefonema dela, quando seu jatinho aterrissava em Roma, ele concordara em jantar com ela para parar de pensar em Isobel. A ida ao cassino fora ideia de Lia, e ele suspeitava que ela avisara os paparazzi de que eles estariam lá, pois uma foto dela com um dos mais ricos homens de negócios da Itália lhe daria uma valiosa exposição na mídia. – Essa não é a imagem da empresa que a diretoria deseja ver propagada pelo mundo – disse Alonso. – O público deve ver a DSE como uma empresa que provê excelência, confiança e honestidade. Mas como o público pode confiar que a empresa acredita nestes valores se o nosso CEO, mesmo sendo casado, leva uma vida de playboy? – Minha vida particular não afeta minha capacidade de administrar a DSE – rosnou Constantin. – Os acionistas só estão interessados nos lucros, não nos meus assuntos pessoais. – Infelizmente isso não é verdade, e você tem muitos assuntos pessoais. – Você sabe que a imprensa exagera. – Constantin cerrou o maxilar. – Se não for me nomear chairman, quem ficaria com o cargo? – O filho da minha irmã, Maurio, já que não tenho filhos. – Constantin ficou pasmo demais para tecer algum comentário. – Creio que Maurio tenha muitas qualidades que o tornam adequado para o cargo, além de ele ser um homem feliz no casamento, e é improvável que o fotografem saindo aos tropeços de um cassino, com uma garrafa de uísque na mão, acompanhado de uma mulher seminua. – Maurio é um fraco. Ele não se sairia bem no cargo. Constantin foi até a janela, olhar a vista, enquanto lutava contra a tentação de chacoalhar seu tio para que visse que ele era a melhor pessoa para combinar os cargos de CEO e chairman. Ele nascera para isso.
A DSE era mais do que um negócio: era a vida de Constantin, sua identidade. Depois de testemunhar as mortes de seu pai e de sua madrasta quando tinha 17 anos, havia se focado exclusivamente na empresa para não ficar pensando na tragédia. Durante dez anos ele planejara o dia em que assumiria controle pleno da DSE, mas agora havia um perigo real de que seu destino lhe fosse arrancado. De jeito nenhum, pensou ele. A DSE era dele, que não haveria de perdê-la. Ele voltou-se para o tio. – Então, se o único problema é a minha imagem, eu me torno um recluso, levarei uma vida de eremita se for necessário para que você me escolha como seu sucessor. – Eu não espero nada assim tão drástico, Constantin. Eu simplesmente peço para que os detalhes de sua vida amorosa não se tornem manchetes de jornal. Sugiro que retome seu casamento. Prove que consegue sustentar o compromisso pessoal que assumiu quando se casou e talvez você me convença de que posso lhe confiar o controle pleno da DSE. – Isso é chantagem. – Não me interessa. A responsabilidade de nomear o próximo chairman é minha e somente minha e, a menos que eu veja mudanças no seu estilo de vida de modo a refletir os valores essenciais da DSE, não posso ter certeza de que você seja o homem certo para o trabalho.
CAPÍTULO 3
FOI UMA pena, pensou amargamente Constantin ao entrar em casa na Grosvenor Square naquela noite, que essa conversa com meu tio não tenha ocorrido antes de eu deixar claro a Isobel que nosso casamento estava acabado. Passava da meia-noite e Whittaker havia ido para seus aposentos, mas deixara uma garrafa de uísque na mesa na sala de visitas, com um bilhete informando-o de que havia sanduíches na geladeira. Constantin não comera nada desde o almoço, mas o dia tinha sido infernal, com reuniões em Milão, Paris e Londres, e ele não estava com fome. Serviu-se de uma boa dose da bebida, afundou no sofá e pegou o controle remoto da TV para ficar zapeando pelos canais. Como Alonso podia sequer considerar entregar o cargo de chairman da DSE a Maurio? Seu primo era um jovem agradável, mas não duraria nem cinco minutos no mundo corporativo. Constantin bebeu um longo gole do uísque e saboreou sua sutil calidez no fundo de sua garganta. Sangue-frio, atrevimento e visão eram as qualidades necessárias para liderar o negócio bilionário que crescera na DSE desde que ele se tornara o CEO. Ele tinha grandes planos para o futuro da empresa, mas se Maurio assumisse o cargo, certos membros da diretoria tentariam jogá-lo contra Constantin. Ele tomou outro gole, e passou por sua cabeça que talvez bebesse demais. Deu de ombros. O álcool funcionava bem como anestésico quando precisava bloquear memórias dolorosas. Se bebesse o bastante, talvez conseguisse umas poucas horas de sono. Desde a visita de Isobel na semana anterior que seus antigos pesadelos haviam voltado para assombrá-lo e lembrá-lo do motivo pelo qual não poderia arriscar-se a ficar com ela. Constantin lembrou-se do telefonema que Isobel recebera quando estava prestes a sair dali. Ele não imaginara a expressão de medo nos olhos dela, mesmo que ela tivesse negado a existência de algum problema. Ele vira vulnerabilidade sob o ar de autoconfiança nela, o que fez com que ele se lembrasse da tímida secretária que ela fora. Engoliu o resto da bebida e encheu novamente o copo. Ele assumia a maior parte da responsabilidade pela desintegração do casamento deles, mas Isobel não era totalmente desprovida de culpa. Ele perdeu a conta de quantas vezes havia voltado para essa casa vazia, passando a noite sozinho enquanto Isobel cantava com a banda em pubs e casas noturnas. Isobel o acusou de não entender o quão importante era a música para ela, e ele se ressentia mesmo do fato de que a Stone Ladies se tornou cada vez mais uma parte considerável da vida da esposa.
Quando ela o deixou, Constantin disse a si mesmo que era melhor assim, para ambos. Isobel estabeleceu uma carreira de imenso sucesso, mas agora, era a dele que estava sendo ameaçada e a única maneira de salvá-la seria persuadindo a esposa a voltar para ele, dias depois de admitir que só havia se casado porque ela estava grávida dele. Sem interesse no documentário que estava passando, ele mudou de canal e sua atenção ficou subitamente presa na tela. – Stone Ladies é indiscutivelmente a banda britânica de folk rock de maior sucesso nos últimos cinco anos – dizia o apresentador do programa, que continuou listando os diversos prêmios da banda, mas Constantin não estava realmente ouvindo; estava com os olhos grudados na imagem de Isobel que enchia a tela de sua TV. Ela usava um minivestido de couro preto e botas cujos canos iam até as coxas. Mantinha seu adorável rosto animado enquanto encantava o apresentador do programa com sua inteligência e impressionante autoconfiança. Ele pacientemente havia feito com que ela deixasse o casulo, mas, ainda assim, tinha ficado chocado na primeira noite deles juntos ao saber que ela era virgem. Sentiu um nó no âmago enquanto as recordações inundavam sua mente. O que faltava de experiência nela era mais do que compensado por sua avidez em lhe proporcionar prazer. Na TV, o apresentador direcionou a entrevista com a banda para questões pessoais e de relacionamento. – Ben e Carly, vocês anunciaram seu noivado há alguns meses, e creio que estejam planejando o casamento para o fim deste ano, não? O casal, baterista e tecladista da banda, confirmou que estavam planejando se casar no outono. O entrevistador voltou-se então para Isobel e Ryan Fellows. – E vocês dois? Nunca confirmaram nem negaram os rumores de que são mais do que bons amigos. Qual é a natureza exata do relacionamento de vocês? Constantin rangeu os dentes enquanto via o guitarrista de cabelo comprido colocar o braço em volta dos ombros de Isobel. – É verdade que Izzy e eu somos muito bons amigos. – Fellows abriu um largo sorriso para Isobel, que retribuiu no mesmo tom. – Farei um anúncio num futuro próximo – acrescentou ele. O que aquele maldito garoto-bonito-astro-do-rock queria dizer com isso? O sangue de Constantin ferveu de raiva quando lembrou de um detalhe: o motivo pelo qual Isobel insistiu para que ele não citasse a deserção dela como motivo para o divórcio. Afinal, talvez ela não queria ficar mal perante os fãs quando o relacionamento deles se tornasse de conhecimento público. Santa Madre! Estava claro que ela já tinha outro homem na fila para tomar o lugar dele! Isobel insistia que só o que havia com Fellows era uma amizade inocente, mas enquanto Constantin via os dois na TV, a proximidade entre o casal de ouro ficava evidente para o mundo. Como Isobel se atrevia a fazer isso quando ainda estava casada com ele? Quando se casaram, a união passou despercebida pela imprensa. Mas, que diabos! Estou me sentindo um corno! Constantin bebeu mais uísque; sua cabeça girava a mil por hora. Se Isobel estava envolvida com Ryan Fellows, por que olhara para ele com uma fome nos olhos que o deixara tentado a jogá-la no sofá? Será que o menino bonito não a deixava satisfeita? Isobel era uma mulher altamente sensual. Dio! A química sexual abrasadora entre ele e Isobel foi além do que ele havia vivenciado com qualquer outra mulher. Será que Isobel sentia falta das sessões apaixonadas que eles faziam passando horas deleitando-se e fazendo amor de forma erótica e altamente
satisfatória? Na noite em que ela esteve ali, a química sexual entre eles mostrou-se tangível. Isobel negou que o quisesse, mas a linguagem corporal dela a havia traído. Constantin pensou de novo nas ameaças do tio. A DSE era seu direito por nascimento. O único motivo de orgulho por ser um De Severino. O que mais ele seria? Uma voz em sua cabeça provocava-o dizendo que ele era filho de um monstro. Constantin temia vasculhar dentro de si mesmo pelo medo do que poderia vir a descobrir. Não podia arriscar-se a ter um relacionamento que envolvesse emoções. A DSE era sua razão de viver e ele faria qualquer coisa para ter o que era seu por direito. Se ele conseguisse persuadir Isobel a voltar para ele, seu tio o nomearia chairman. Uma vez que estivesse garantido no cargo, não precisaria mais de sua bela e volúvel esposa. – ENTRE. – ISOBEL desviou-se do espelho ao ouvir alguém bater à porta do quarto de hotel que estava usando como camarim. – Uau! – disse Ryan ao vê-la. – Você está incrível! – Você não acha que esse vestido é exagerado? – Ela olhou de novo para o espelho, mirando o traje dourado que abraçava seu corpo como se fosse uma segunda pele, deixando um de seus ombros exposto. – O jantar de caridade do Duque de Beaufort é um dos eventos mais prestigiados do calendário social londrino, e tudo nessa noite será exagerado. Você está perfeita para a ocasião – garantiu Ryan. – Mal posso acreditar que nos chamaram para tocar nessa noite. Quando nos apresentávamos naqueles barzinhos pequenos, você imaginou que um dia estaríamos tocando aqui? Ele riu. – Foi uma loucura como as coisas aconteceram. Às vezes fico com medo de acordar e estar de volta em Derbyshire, trabalhando atrás do bar do clube social dos ex-mineiros. – Acho que seu pai sentiria orgulho de você. O sorriso dela se desfez. – Duvido. Isobel lembrou-se da conversa que tivera com a mãe no enterro de seu pai há três meses. Ann Blake chorava baixinho, mas Isobel achava impossível derramar uma lágrima que fosse pelo pai cujo comportamento abrasivo lançara uma sombra em sua infância de forma que ela tentava evitá-lo o máximo possível quando morava com eles. – Seu pai era um bom homem – dissera sua mãe no enterro. – Sei que não era fácil conviver com ele, especialmente quando estava mal-humorado, mas nem sempre seu pai era daquele jeito. Quando nos casamos, ele era divertido, tinha esperanças para nós e para o futuro. Mas mudou depois do acidente que sofreu. Quando a mina de carvão fechou e ele não conseguiu mais arrumar emprego, seu orgulho ficou destruído, e perder o sonho de uma vida melhor para sua família esmagou seu espírito. – Ele parecia determinado a esmagar o meu espírito e os meus sonhos de levar uma vida diferente – disse Isobel com ferocidade. – Sei que papai a deixava infeliz. Eu costumava ouvi-la chorando na cozinha quando você achava que eu estava dormindo. Nunca entendi por que você continuava com ele.
– Parte dele morreu junto com seu irmão. Ele nunca superou a perda de Simon... e ele precisava de mim. Eu levava meus votos de casamento a sério, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença. Você fez os mesmos votos... nunca me explicou porque seu casamento acabou. Não consigo não pensar que talvez você tenha desistido cedo demais. Um ano não é muito tempo, e no casamento, nem tudo são flores. É preciso trabalhar um relacionamento e fazer concessões na esperança de obter uma melhor compreensão do outro. Isobel havia tentado entender Constantin, mas não precisava ter se dado ao trabalho, já que agora ele assumiu só ter se casado com ela por causa da criança. Ela nunca contou à mãe sobre Arianna. Teria sido cruel saber que havia perdido uma neta além do marido. Isobel arrastou seus pensamentos de volta ao presente, ao perceber que Ryan ainda estava falando. – Eu nunca teria conhecido Emily se tivesse ficado em Eckerton. Izzy, eu pedi Emily em casamento... e ela aceitou! – Que ótimo! – disse Isobel, animada, envolvendo o pescoço de Ryan num abraço. – Vocês foram feitos um para o outro e sei que serão muito felizes juntos. A expressão de Ryan anuviou-se. – Emily faz de mim o homem mais feliz do mundo, mas não mereço isso. Vivo pensando no Simon, e em como ele nunca teve a chance de crescer e se apaixonar. Se eu apenas o tivesse impedido de ir ao reservatório naquele dia... – Pare com isso. – Isobel visualizou o sorriso travesso do irmão. Ela não conseguia imaginá-lo como um adulto; em sua mente, Simon teria 14 anos para sempre, com um riso eterno. – Você sabe como ele era. Não teria lhe dado ouvidos. Sei que você fez tudo que pôde para tentar salválo. Tem que parar de se culpar pelo acidente. Vocês eram melhores amigos. Ele ficaria feliz pelo seu casamento com a mulher que ama. – Acho que você está certa. Obrigado, Izzy. – Ele olhou para seu relógio. – Ei, é melhor irmos. Temos que estar no palco em dez minutos. Como está se sentindo? – Nervosa. Sempre fico assim antes de uma apresentação, mas ficarei bem logo que começar a cantar. Ela ia sair atrás de Ryan quando o telefone tocou. Como estava com pressa, atendeu sem verificar quem estava ligando, e ficou tensa ao ouvir a voz familiar. – Estarei observando você essa noite, Izzy. Está escrito nas estrelas que somos destinados a ficarmos juntos para sempre. Ela desligou o celular, que deslizou de seus dedos trêmulos. Será que David estava ali no hotel? Seria um dos convidados do evento? – Vamos – disse Ryan da porta. – Você está bem? Parece que viu um fantasma. – Ele olhou para o celular dela enquanto ela o guardava na bolsa. – Foi outro daqueles telefonemas? Não seria justo falar sobre o stalker com Ryan essa noite; ele estava em êxtase porque a namorada havia aceitado se casar com ele. Provavelmente não havia nada com que se preocupar. Ela deu de ombros. – Eu disse que fico um pouco nervosa antes de subir ao palco, só isso. É estranho, mas acho bem mais intimidador cantar na frente de um público de quinhentos convidados que pagaram uma fortuna pelos ingressos do que numa arena, diante de milhares de fãs. Você e a Emily vão anunciar seu noivado essa noite?
– Não, só fiz o pedido ontem, ela foi até a casa dos pais para contar a eles. – Enquanto seguiam para os bastidores, para esperar a hora da entrada, Ryan segurou na mão de Isobel. – Obrigado por ajudar a manter meu relacionamento com ela fora da mídia. A especulação de que houvesse um envolvimento românico entre nós dois permitiu que Emily ficasse longe dos holofotes. Eles foram interrompidos por um dos técnicos de som. – Vocês entram em dois minutos. Quer testar seu microfone, Izzy? Quando o anfitrião da noite subiu ao palco para apresentar a banda, Isobel espiou pelas cortinas e sentiu um pouco de náusea. O brilho das luzes tornava impossível ver claramente o público, mas, mesmo que conseguisse, não reconheceria David. Em um dos telefonemas, ele dissera que se encontraram depois de um show da banda e que ela lhe deu um autógrafo. Só que, desde que a Stone Ladies se tornou famosa, Isobel encontrou milhares de fãs e deu incontáveis autógrafos. Ela presumia que David devia ter lhe pedido que escrevesse “ao meu querido” – fãs fazem os pedidos mais estranhos –, mas não se lembrava dele. Será que ele estava no meio do público ali? Ela estremeceu ao se lembrar do telefonema mais recente. O que ele queria dizer com “somos destinados a ficarmos juntos para sempre”? Será que estava imaginando coisas ou havia algo vagamente ameaçador naquelas palavras? As cortinas se abriram e o público os ovacionou, mas Isobel sentia como se tivesse criado raízes onde estava. A premência de sair correndo do palco era tão forte que ela se virou e bateu de frente em Ryan, que vinha logo atrás. – Esqueça todo o resto e concentre-se na música. Faça de conta que somos crianças novamente, fingindo ser astros do rock. As palavras de Ryan a acalmaram; ela olhou para Carly e Ben e sorriu para eles. Durante seu casamento, havia tentado explicar a Constantin que a banda se tornara sua família, que lhe dava o amor que não recebera do pai. Depois que perdeu sua filha, foram seus amigos mais chegados que a apoiaram nos dias mais sombrios de sua vida, porque seu marido recusava-se a falar sobre o assunto. Respirando fundo, Isobel foi para o palco e começou a cantar uma música que estivera recentemente em primeiro lugar nas paradas de sucesso. O público aplaudiu, mas Isobel bloqueou todo o resto e mergulhou na música, que sempre fora uma válvula de escape para suas emoções, seu grande amor, sua grande alegria e seu consolo, desde pequena. – ...CONSTANTIN? – O som de seu nome entrou em seus pensamentos, e ele desviou o olhar do desagradável espetáculo de sua esposa dançando com Fellows. Tendo passado uma vida inteira disfarçando e escondendo emoções, ele sorriu para a loura a seu lado, que olhava para ele com ares acusadores. – Você nem estava me ouvindo! Não havia porque mentir. A mulher, cujo nome ele já esquecera... seria Ginny? Jenny?... , estava sentada a seu lado durante o jantar e devia se achar com direito exclusivo sobre sua atenção pelo resto da noite. Mas ele foi rude e a ignorava. – Perdoe-me. Estou com a cabeça cheia e não sou uma companhia muito atenciosa essa noite, mas tenho certeza de que muitos outros homens adorariam conhecê-la – murmurou ele. A loura foi embora e Constantin ficou olhando para ela por dois segundos antes de voltar a atenção para Isobel na pista de dança.
Constantin nunca entendeu quando Isobel disse que a música fazia parte dela. No entanto, ao vê-la essa noite no palco, percebeu que ela cantava de coração, das profundezas de sua alma, e sentiu uma dor inexplicável no peito, um anseio por algo que poderia ter sido, se fosse um homem diferente. Olhando para o homem que dançava com Isobel, Constantin presumiu que as mulheres deveriam achar atraente aquele guitarrista de cabelo comprido. Fellows e Isobel formavam mesmo um casal formidável. Será que já eram amantes ou ela pelo menos teria a decência de esperar até estar livre do casamento antes de levar um outro homem para a cama? A potência de seu ciúme aterrorizava-o, mas ele não podia controlá-lo. Não era assim que seu pai se sentia ao ver sua segunda esposa rindo com os amigos? Será que Franco de Severino fora sobrepujado por uma fúria assassina quando ele e Lorena discutiram na varanda naquele dia fatídico? SERÁ QUE David estava em algum lugar no salão de baile observando-a? Isobel repassava em sua mente aquele telefonema assustador. Durante o show, ela conseguiu esquecê-lo, mas sua tensão voltou quando saiu do palco e juntou-se aos convidados da festa. De fato, não houve ameaça alguma, mas Isobel não conseguia livrar-se da sensação de inquietação e ficou perto de Ryan a noite toda, por segurança. – Não olhe – ele murmurou ao ouvido dela –, mas um homem com uma aparência extremamente perigosa está vindo na nossa direção. – O que você quer dizer com isso? Que homem? – disse Isobel, com o coração na boca. Será que David iria se revelar? Ela agarrou o braço de Ryan. – É Constantin, e tenho a distinta impressão de que ele quer me esquartejar. Achei que estivesse tudo acabado entre vocês. – Está... As palavras morreram nos lábios dela quando sentiu uma pesada mão em seu ombro, virou-se e deparou-se com o belo rosto de Constantin. O medo que sentiu quando achou que seria confrontada por David foi substituído por um tipo diferente de tensão quando seu marido se pôs entre ela e Ryan. – Com licença, Fellows. É minha vez de dançar com minha esposa – disse Constantin, num tom veladamente ameaçador. – Tudo bem para você, Izzy? Ela ia dizer que preferiria andar sobre carvão em brasa a dançar com Constantin, mas o brilho determinado nos olhos dele fizeram com que engolisse suas palavras. Não queria causar uma cena, e menos ainda que a imprensa publicasse algo sobre isso. De qualquer forma, ela não teve como pedir ajuda a Ryan porque Constantin a puxou pela cintura e a levou para dançar. – Que diabos você está fazendo? – disse ela, a aspereza de seu tom de voz sumindo quando ele deslizou os braços por ela e puxou-a para si de modo que o rosto dela ficasse junto a seu peito. Debaixo da imaculada camisa branca que ele vestia, ela podia ver a sombra de seus pelos escuros, e o calor de seu corpo e o cheiro picante de loção pós-barba dele intoxicavam os sentidos dela. E então a música animada deu lugar a uma balada. – Por que está aqui?
– Aceitei um convite para apoiar o evento de arrecadação de recursos para uma instituição de caridade digna. Além disso, eu sabia que você estaria aqui. Sua visita na semana passada fez com que eu reavaliasse nossa situação e concluí que você estava certa quando disse que havia muitas coisas boas em nosso relacionamento. Ela o fitou, confusa. – Então... o que você está dizendo? – Estou dizendo que mudei de ideia em relação ao divórcio. Acho que deveríamos dar uma segunda chance ao nosso casamento. O choque de Isobel deu lugar à raiva. – Assim, do nada, você simplesmente mudou de ideia? – Era típico dele não apresentar nenhuma explicação e esperar que ela apenas aceitasse suas decisões, dando-lhe as boas-vindas de volta, recebendo-o de braços abertos. – Na semana passada você estava firme na decisão de que deveríamos nos divorciar. O que houve para que milagrosamente mudasse de ideia? – disse ela com sarcasmo. De repente, tudo pareceu excessivo: a música romântica, a forma como Constantin a segurava junto a seu corpo, fazendo-a sentir tanto a batida constante do seu coração quanto a ereção dele em sua coxa. Seu cérebro lhe dizia que deveria se afastar dele, mas Isobel estava presa na armadilha do calor sensual nos olhos de Constantin, enquanto ele curvava a cabeça na direção dela. – Nós dois somos prisioneiros da incrível paixão que existe entre nós, Isabella – sussurrou ele junto aos lábios dela. – Que sempre existiu, desde que pusemos os olhos um no outro. Quando nos encontramos na semana passada, mal conseguimos ficar vestidos... não foi só você que nos imaginou fazendo amor na esteira de ginástica... – disse ele, com a fala arrastada, enquanto ela abria a boca para negar as imagens eróticas que povoaram sua mente. – Eu não quero... – Sim, bella, você quer. E eu também – disse ele, dando-lhe um beijo que exigia uma resposta a qual Isobel era incapaz de negar.
CAPÍTULO 4
FAZIA
desde que Constantin a tomara nos braços e beijara-a com uma paixão devastadora. Isobel estremeceu quando a pressão constante dos lábios dele evocaram nela uma fome que estivera latente até que ele reacendeu o desejo nela com apenas um olhar daqueles brilhantes olhos azuis. Quando Constantin puxou-a ainda mais para junto de si e ela pôde sentir novamente a ereção dele junto a sua pélvis, Isobel desistiu de lutar e sucumbiu às demandas sensuais dele. Todos os sons em volta deles esvaneceram-se e só havia a música e o homem que retinha a chave para seu coração. Ela mal sentia seus pés tocando o chão enquanto Constantin a guiava pela pista de dança, sem que desgrudassem as bocas. O beijo tornou-se tão docemente sedutor que seus olhos encheram-se de lágrimas. Ela sentia como se, depois de uma longa jornada, tivesse voltado para casa, e a flagrante sensualidade do beijo aplacava um pouco a solidão de seu coração. – Vão para um motel! Risadas seguiram-se ao comentário ruidoso e Isobel foi catapultada de volta à realidade. Ela olhou em volta, horrorizada ao ver que só eles estavam na pista de dança, sendo observados por um público ávido. O flash de uma câmera fez com que ela percebesse como havia sido tola. – A imprensa vai amar isso – murmurou ela, desferindo um olhar pungente de relance para Constantin, enfurecida com a expressão divertida dele. – Fotos nossas estarão nos jornais amanhã. Não tardará até os jornalistas descobrirem que somos casados, e então ficarão curiosos para saber por que vivemos separados pelos últimos dois anos. Ele deu de ombros. – Simplesmente vamos explicar a eles que passamos por dificuldades no nosso relacionamento, mas que agora estamos juntos de novo. – Mas não estamos! Você armou para mim, não foi? Deliberadamente preparou um espetáculo em público porque, por algum motivo, você decidiu que deveríamos nos reconciliar! – Não ouvi nenhuma objeção sua quando a beijei, cara. Isobel foi tomada por uma vergonha nauseante. Sem dizer mais nenhuma palavra, ela saiu da pista de dança, e Constantin a seguiu. – Vá embora! – disse Isobel ferozmente a Constantin quando cruzou o saguão do hotel. Ela estava desesperada para escapar dos olhares curiosos dos outros convidados, e enquanto descia TEMPO
correndo os degraus, rezava para que um táxi aparecesse. – Eu levo você em casa. Meu carro está logo ali. – Prefiro esperar um táxi. Ela estava furiosa com ele e consigo mesma. A amarga verdade era que Isobel não se arriscava a ficar sozinha com ele. O brilho de um flash cegou-a momentaneamente. Logo depois, um repórter empurrava um microfone em sua direção. – Izzy, qual é sua história com Constantin de Severino? Você largou Ryan Fellows? Se for este o caso, como ficará o futuro da Stone Ladies? Por que um táxi nunca aparece quando a gente precisa?, pensou Isobel, frustrada. – Você quer ficar aqui e falar com esse babaca ou prefere ir para casa? – disse Constantin no ouvido dela. Isobel escolheu a segunda opção quando mais dois repórteres chegaram. Ela acompanhou Constantin até o carro dele e sentou-se no banco do carona. Segundos depois, o potente motor do carro esporte rugia afastando-se dali. – Você ainda mora perto da Ponte da Torre? – Quando ela o deixou, Constantin ofereceu-se para comprar um lugar para ela morar, mas ela recusou a oferta, dizendo, orgulhosa, que tinha como pagar por um apartamento com o dinheiro do primeiro sucesso da banda. Ela frequentemente o acusava de ser frio e impessoal, mas quando Constantin tentava formar pontes entre eles, a independência espinhenta dela vinha à tona e Isobel parecia relutante a aceitar qualquer gesto que partisse dele. Isobel assentiu. Ela olhou para trás ao notar outro flash sendo disparado. – Viu o que você fez? Nosso “relacionamento” estará em todas as colunas de fofocas. Terei que avisar o Ryan – murmurou ela. – Isso pode deixar as coisas estranhas. Constantin franziu o cenho. – Estranhas no sentido de que a imprensa dirá que você é casada comigo ao mesmo tempo em que está saindo com o Fellows? Lamento por você, cara – disse ele com sarcasmo. – Não estou saindo com o Ryan. Cansei de lhe dizer que somos apenas amigos! – Você nunca negou em entrevistas que estavam tendo um caso. – Ele apertou a mão no volante ao lembrar dela grudada ao guitarrista na festa. – É óbvio que vocês são... íntimos. O sangue de Isobel fervia e ela jogou as mãos para o ar num gesto de raiva e frustração. – Sim, admito que somos íntimos. Amo o Ryan, mas como um irmão, não como um amante. E ele... tenta preencher o espaço deixado pelo irmão que perdi. – Ela não conseguia controlar o tremor em sua voz. – Eu não sabia que você tinha um irmão. Você nunca falou dele antes. Seus pais nunca falaram que tinham um filho quando os visitamos em Derbyshire. Isobel mordeu o lábio ao lembrar-se da única ocasião em que Constantin se encontrara com seus pais. Eles não tinham ido ao casamento porque seu pai não estava bem para viajar até Londres. Os recém-casados foram visitá-los quando voltaram da lua de mel. Sua mãe havia ficado bastante intimidada com Constantin e não parava de falar, nervosa, enquanto servia chá em suas melhores porcelanas chinesas. Seu pai foi o de sempre: melancólico e monossilábico. A visita enfatizou a difereça social entre ela e o aristocrata enigmático com quem havia se casado.
– Eles nunca falam do Simon. Ele morreu num acidente aos 14 anos e meu pai não deixava que minha mãe ou eu mencionasse o nome dele, nem que tivéssemos fotos dele na parede. Acho que era o jeito de ele lidar com a morte do filho. Você não fez muito diferente, recusandose a falar sobre Arianna – disse ela numa voz carregada de emoções às quais lutava para suprimir. – O que aconteceu com seu irmão? – ele quis saber, ignorando a parte sobre a filha. – Era um dia muito quente de verão e Simon e uns amigos decidiram ir nadar no reservatório perto de onde morávamos. Na verdade, foi sugestão do Ryan, que nunca se perdoou por isso. Meu irmão era um demoniozinho desafiador e, embora alguns dos meninos tivessem entrado na água e ficado perto da margem, Simon nadou para o fundo. Acham que ele teve cãibras. Em um minuto ele estava bem, e, de repente, começou a gritar, pedindo ajuda. Quando Ryan chegou nadando até onde ele estava, Simon tinha desaparecido sob a superfície. De alguma forma, Ryan conseguiu localizá-lo e levou-o de volta para a margem. Ele tentou ressuscitá-lo, mas não conseguiu... e Simon morreu. – Isobel tinha um nó na garganta. – Depois disso, Ryan entrou em grave depressão. Ele sentia-se culpado porque Simon tinha ido nadar no reservatório. Mas não foi culpa dele. Meu irmão sempre ultrapassava os limites, e seria típico dele nadar até o fundo. Não culpo Ryan. Eles eram melhores amigos e a morte de Simon criou um elo entre nós que sempre existirá. Mas amizade é tudo que existe entre nós dois. Ele é apaixonado pela namorada, Emily, e eles pretendem se casar. – Se isso é verdade, por que vocês dois não puseram um fim nos rumores de que estavam tendo um caso? Ela deu de ombros. – Nós falamos a verdade quando dissemos que éramos bons amigos. Não negamos os rumores porque, enquanto a atenção estivesse sobre nós dois, Emily ficaria afastada do interesse da mídia. Ryan anunciará o noivado em um ou dois dias. Se soubessem que eles estavam namorando, os paparazzi não os teriam deixado em paz. – Então, amiga leal que você é, permitiu que a especulação sobre seu relacionamento com Fellows continuasse. Você não estava nem aí para o fato de que eu ouvia os rumores de que a minha esposa estava envolvida com outro homem. Não acha que devia lealdade a mim, seu marido? – Não quando mal se passava uma semana sem que uma foto sua com uma bela mulher diferente saísse nos jornais. Como você se atreve a me acusar de deslealdade quando você desfilava com seu... harém em público? Isobel desviou o olhar dele. Nunca havia admitido ter ficado magoada ao ver fotos dele com outras mulheres. Se fosse ser honesta consigo, ela não negara aqueles rumores porque esperava que Constantin se tocasse de que ela não estava se consumindo por causa dele. A fervente tensão dentro do carro deixou-a no limite do nervosismo e ela sentiu-se aliviada quando ele estacionou do lado de fora do prédio onde ela morava. – Obrigada pela carona. Não entendo por que você mudou de ideia quanto ao divórcio. A separação permanente é a única decisão sensata a ser tomada. Nosso casamento está acabado. A verdade é que teria sido melhor se nunca tivéssemos nos conhecido. – Você não pode estar falando sério! Se eles nunca tivessem se conhecido, ela nunca teria segurado aquela minúscula bebê nos braços. Arianna nunca viveu no mundo, mas vivia no coração de Isobel.
– Nós éramos bons juntos. – Na cama! Mas é preciso mais do que sexo para que um casamento funcione. Confiança, por exemplo. Você se ressente das minhas amizades com os outros membros da banda. Isso ficou claro quando você acreditou prontamente que eu tinha um caso com o Ryan. Às vezes eu sentia que você queria me trancafiar numa torre, longe de todo contato humano. – A voz dela tremia. – Ainda assim, você era tão frio e impessoal comigo, e ainda me culpava por querer estar com meus amigos. Um lampejo de uma imagem passou pela mente de Constantin, de seu pai e de sua madrasta, e dentro de sua cabeça, ele ouviu a fala de Lorena. Eu me sinto sufocada, Franco. Você tem ciúmes dos meus amigos, e de qualquer homem para o qual eu olhe de relance que seja. Você tem ciúmes até mesmo de seu próprio filho! Dio! Será que Isobel se sentia sufocada por ele, como Lorena se sentia sufocada por seu pai? Constantin tentara lutar contra seus sentimentos possessivos e o sombrio ciúme que ele temia ter herdado do pai, mas, ao fazer isso, parecera frio. Isobel saiu do carro e caminhou até a porta do prédio. – Nosso casamento está acabado – insistiu ela. Constantin franziu o cenho ao pensar na ameaça de seu tio. Nada iria impedi-lo de clamar pela posição que era dele por direito. Grunhindo um xingamento, ele saiu do carro e foi atrás dela, alcançando-a quando ela procurava a chave para abrir a porta do prédio. – Isabella, me convide para entrar. Temos que conversar sobre isso. – Não temos nada para conversar. Isobel encontrou a chave e segurou-a com força. Estava no limite da sua compostura, desesperada para chegar a seu apartamento antes que fizesse algo idiota como envolver os braços em Constantin e implorar para que ele nunca a soltasse. – Não somos bons um para o outro – sussurrou ela. – Isso não é verdade, tesorino. Aquele termo afetuoso, que ele usava com frequência nos primeiros tempos do casamento, minou as defesas dela, que se mostrou despreparada quando ele deslizou o braço por sua cintura e puxou-a em sua direção. Ele baixou a cabeça e procurou os lábios dela, beijando-a com uma paixão fogosa que lhe acendeu uma chama interior. Isso sempre foi bom para ambos, reconheceu Isobel. Sexo incandescente e perversamente erótico! Ela era inexperiente quando o conheceu, mas ele havia descoberto seus desejos secretos e a levou diversas vezes a um nirvana sensual. Ela estava derretendo por dentro. Ela o desejava. Sempre o desejaria, pensou ela com desespero. Mas ele não era bom para ela. – Convide-me a entrar – murmurou ele ao pé do ouvido dela. – Deixe-me lembrá-la de como somos bons juntos. – Não! Sexo não é a solução! No nosso caso, era o problema – disse ela com a voz trêmula. – Éramos atraídos para ficarmos juntos pelo desejo, e se só tivéssemos tido um caso, provavelmente o fogo teria se apagado tão rapidamente quanto seus casos com outras mulheres. Quando engravidei, você se sentiu obrigado a se casar comigo. – Ela abriu um sorriso triste. – Nunca vou me esquecer de Arianna, mas está na hora de seguirmos em frente com nossas vidas, Constantin.
Era fácil para ela dizer isso, pensou ele. A banda era um imenso sucesso, mas a carreira dele na DSE... sua vida... estava prestes a entrar em queda livre a menos que conseguisse persuadi-la a voltar para ele. Não duvidava que conseguiria levá-la novamente para sua cama. Sentiu Isobel tremer quando a beijou e sabia que ela partilhava de sua fome. Mas sua consciência o segurava. Ele via confusão nos olhos dela. Não havia dúvida de que o desejava, mas, para ela, não era o bastante, e Constantin sabia que não era mais capaz de satisfazer as necessidades emocionais dela, ao contrário de dois anos atrás. Ao fechar a porta na cara dele, e depois ir andando até o elevador no saguão do prédio, Isobel ficou aliviada porque ele não tentou detê-la. Sabia que estava certa recusando-se a fazer sexo com ele, mas seu corpo doía com o desejo, tão forte quanto a dor em seu coração. – Boa noite, srta. Blake – disse o porteiro. – O pacote que esperava para hoje não chegou. – Verei isso amanhã, Boa noite, Albert. No elevador, ela pensou na referida encomenda, no almoço com amigos no dia seguinte. Pensou em tudo, menos em Constantin. Sua vida estava boa daquela forma. Por que alterar o status quo e permitir que ele virasse seu mundo de cabeça para baixo? Ela não fazia ideia do motivo que o levou a não querer mais o divórcio. Houve um tempo em que teria cedido imediatamente, na esperança desesperada de que talvez ele realmente tivesse sentimentos por ela. Que patética!, pensou Isobel. Mesmo suspeitando que sempre seria apaixonada por ele, Constantin não a surpreendia mais. Entendia que se tratava de um homem comum, sem dúvida complexo, mas com suas falhas, que nem ela. Infelizmente, Isobel não conseguia acreditar que conseguiriam resolver as diferenças que os haviam separado. O elevador parou e a porta se abriu. Ela estava a alguns metros de seu apartamento. Baixou os olhos para selecionar a chave certa no chaveiro quando alguma coisa, um sexto sentido, avisou-a de que não estava sozinha. – Quem está aí...? Isobel olhou por cima do ombro para o corredor vazio e bem iluminado e amaldiçoou sua imaginação superativa. – Olá, Izzy. Ela se virou e seu coração espancou suas costelas quando um homem saiu das sombras e foi andando em sua direção. Ela não o conhecia, mas reconheceu sua voz. – David? Ele era meio baixo, meio magro... genérico. Por um instante, Isobel se perguntou por que tinha ficado tão preocupada com aquele homem de meia-idade e de aparência comum. – Eu sabia que iria se lembrar de mim. – Ele abriu um sorriso, satisfeito. – Você sentiu a conexão entre nós quando nos encontramos no show da Stone Ladies. Estávamos juntos num mundo anterior e ficaremos juntos de novo no próximo, minha querida. A estranha expressão nos olhos dele fez com que um frisson de medo passasse por Isobel. – Comprei isso para você – disse ele, e ela notou que ele segurava uma caixa de papelão. Algo no comportamento do homem lhe dizia para ficar calma e fazer o jogo dele. Na esperança de que não notasse que suas mãos tremiam, ela pegou a caixa e abriu a tampa. O cheiro enjoativo e doce dos lírios orientais era tão forte que ela quase vomitou. – São adoráveis – murmurou ela, olhando para as flores brancas e reprimindo um tremor. – Você me lembra um lírio, bela e pura. – O tom da voz dele mudou repentinamente. – Na verdade, achei que você fosse pura, até que a vi beijando outro homem essa noite.
Isobel engoliu em seco. – Você estava... na festa? – Onde mais eu estaria senão com você, meu anjo? Você pertence a mim, Izzy, e nenhum outro homem deveria tentar roubá-la de mim. Isobel ficou tensa quando David avançou um passo. Ela olhou de relance ao longo do corredor, tentando calcular a distância até a porta de seu apartamento, imaginando qual seria sua chance de passar por David e conseguir chegar em segurança até lá. Mas não se atreveu a tentar. Ele não era fisicamente imponente, mas sem dúvida era mais forte do que parecia. David a encarava com olhos pálidos, que traziam tanta determinação e exalavam um brilho tão maníaco lhe ela sentiu o sangue gelar. – Venha embora comigo. – O tom de voz dele endureceu quando ela se recusou com um movimento de cabeça. – Está na hora de nós dois deixarmos este mundo terreno. De jeito nenhum! Isobel acionou seu instinto de sobrevivência. Atirou a caixa no rosto dele antes de girar e descer correndo o corredor. As flores não eram uma arma substancial, mas aquela atitude o surpreendeu, dando a ela segundos vitais em sua fuga. Ela ouviu o grito raivoso dele e seus passos enquanto a perseguia, mas resistiu à tentação de olhar para trás. Alcançou o elevador, que, felizmente, ainda estava parado naquele andar. Ela entrou e pressionou o botão do térreo, mas, antes que a porta se fechasse, ouviu uma respiração crescente às suas costas e gritou quando ele a tocou no ombro. Desesperada, ela o acertou com uma cotovelada na barriga. David a soltou, Isobel se atirou para dentro do elevador e apertou o botão para fechar as portas mais rápido. Só então, olhos injetados de pavor, conseguiu ter um vislumbre da expressão ensandecida dele antes que a porta de metal o obliterasse de sua vista. Enquanto o elevador descia, ela tentou organizar seus pensamentos. Como David havia conseguido acesso a seu prédio? O porteiro sempre barrava visitantes, e alguns de seus amigos brincavam dizendo que seria mais fácil entrar no Banco da Inglaterra do que passar de fininho por Albert. Ao desembarcar no térreo, Isobel sentia-se nauseada. – Srta. Blake? – O porteiro ergueu o olhar de sua escrivaninha. – Algum problema? Isobel não respondeu. Através da porta de vidro do prédio ela viu a silhueta de Constantin iluminada pelo poste da rua. Ele encerrou um telefonema e andava de volta até seu carro. Impelida pelo instinto, ela passou voando pelo saguão do prédio. – Constantin... espere! O som da voz de Isobel desviou Constantin dos pensamentos acerca da recém-encerrada conversa com o diretor financeiro do escritório de Nova York, que não parecia se importar com o fato de já ser meia-noite em Londres. Isobel foi correndo em direção a Constantin, que sentiu um aperto na virilha ao ver os firmes seios dela pulando enquanto ela corria. – Você mudou de ideia quanto a me convidar para entrar em seu apartamento, Isabella? – O sorriso dele desfez-se quando viu o terror estampado no rosto dela. – Santa Madre! – Ele a segurou quando ela, literalmente, se jogou nos braços dele, e a abraçou forte, enquanto o corpo dela era assolado por tremores. – Que diabos...? – Ele está esperando por mim do lado de fora do meu apartamento. Ele é tão esquisito. Queria que eu fosse com ele e me deu flores de funeral. Constantin segurou o queixo dela com a mão em concha e ergueu seu rosto.
– Quem está esperando por você, cara? – David... o stalker. – Isobel soltou o ar contido. Ela sentia-se segura com Constantin. Nem mesmo lhe passou pela cabeça que sua confiança cega nele talvez revelasse muito de seus sentimentos mais profundos. – Stalker? – Os olhos de Constantin brilhavam com ferocidade. – Está dizendo que sua segurança tem sido ameaçada por este homem? Há quanto tempo isso vem acontecendo? Por que você não me contou? Eu teria arranjado medidas de segurança, contratado um guardacostas para protegê-la. – Não preciso de guarda-costas. O absoluto terror que vivenciou quando David a confrontou no corredor parecia uma reação exagerada agora, e Isobel se envergonhava por ter envolvido Constantin no caso, mas era tarde: teria que contar tudo a ele. – Venho recebendo telefonemas de um homem chamado David há alguns meses. Mudei o número do meu telefone fixo e do celular, mas, de alguma forma, ele descobriu os números novos. Disse que nos conhecemos num show da banda... mas não me lembro disso. Ele me ligou um pouco antes de eu entrar no palco essa noite e disse que estaria me observando. Passei a noite toda me perguntando se ele seria um dos convidados. Depois que você me trouxe aqui, saí do elevador e ele estava no corredor, me esperando. Falou que era hora de deixarmos este mundo terreno. Não sei o que ele quis dizer com isso. Ela não tinha esperado para descobrir e estremeceu ao pensar naquela ameaça. Se eu ficasse dois minutos sozinho com aquele cara, ele não seria mais capaz de andar, menos ainda de perseguir uma mulher indefesa, pensou Constantin. O brilho das lágrimas nos olhos de Isobel e a percepção de que ela não estava tão calma quanto fingia impediram-no de sair correndo atrás de David. Ele puxou o celular do bolso. – Vou ligar para a polícia. – Deixe que eu faço isso – disse Isobel, com a voz trêmula. – Tenho um número direto para reportar quaisquer incidentes com David. O terror que a guiava quando David a cercou estava se esvanecendo, e Isobel sentiu raiva por não ter mandado o cara se ferrar. Ela dizia para si mesma que ele era um fã inofensivo e exageradamente entusiasmado, mas a expressão selvagem nos olhos dele sugeria que pudesse ter problemas mentais. Isobel permaneceu no saguão com Albert enquanto Constantin subia. O porteiro disse com firmeza que ninguém com a descrição de David havia entrado no prédio, e se mostrou profundamente chateado ao explicar que as câmeras de segurança apresentaram um defeito e seriam consertadas no dia seguinte. Quando a polícia chegou, um oficial juntou-se a Constantin na busca pelo prédio todo, mas só encontraram algumas pétalas de lírio branco. – O invasor deve ter entrado no prédio pela saída de incêndio – disse o oficial. – Sorte a dele e azar o nosso que as câmeras de segurança estão com defeito. Como David não atacou Isobel, nem fez qualquer ameaça específica, a polícia pouco pôde fazer além de aconselhá-la quanto às medidas para garantir sua segurança pessoal. Enquanto ela falava com o policial, Constantin estava saindo de seu apartamento. Isobel gostaria que ele tivesse ficado ali mais alguns minutos para que pudesse agradecer.
Depois que a polícia se foi, ela se concentrou em tarefas relaxantes, como tirar a maquiagem e lavar o rosto, antes de trocar de roupa e colocar seu pijama predileto: uma das camisetas de Constantin que havia levado quando saiu de casa. Embora se esforçasse para não pensar em David, a estranheza da situação permaneceu em sua mente, e, mesmo se sentindo ridícula, Isobel deu uma olhada dentro do guarda-roupa e do armário do corredor para certificar-se de que não havia ninguém, nem formas de entrar, no apartamento. Ela não dormiria agora. Prepararia uma bebida com leite, veria um pouco de televisão... ao entrar na sala, ela estacou e inspirou com espanto: – Como foi que você entrou aqui?
CAPÍTULO 5
CONSTANTIN ESTAVA sem o casaco e a gravata, com os botões superiores de sua camisa abertos. Reclinava-se nas almofadas do sofá, com as pernas esticadas e os braços cruzados atrás da cabeça, numa atitude de indolente relaxamento. – Eu vi quando você foi embora e presumi que tivesse ido para sua casa. – Fui ver uma coisa no meu carro e peguei emprestada a chave da sua porta, para que pudesse entrar no apartamento. Você estava falando com o policial e acho que não me viu entrar pela cozinha. – Ele assentiu para a xícara e o pires em cima da mesinha de centro. – Fiz chá para você. Isobel estava menos interessada no chá do que na bolsa de viagem que estava aos pés dele. – Sempre levo uma mochila no carro, uma espécie de kit de emergência para passar a noite fora de casa, caso eu assim decida ou haja alguma necessidade. Sem dúvida “alguma necessidade” queria dizer o convite de alguma mulher para passarem a noite juntos. Isobel sentiu uma pontada de dor ao pensar nele fazendo amor com uma das inúmeras e lindas mulheres com quem aparecera nos jornais. O ciúme ardia quente dentro dela, mais uma emoção indesejada na lista de experiências desagradáveis daquela noite. – Espero que você encontre algum outro lugar confortável para passar a noite. Ele riu baixinho e deu uns tapinhas na almofada. – Tenho certeza de que seu sofá é muito confortável. De manhã eu confirmo para você. – Não tem por que você ficar aqui. Ele me enerva mais do que David, mas de um jeito diferente, pensou Isobel, com tristeza. – Colocarei a tranca dupla na porta da frente, e, a menos que esse louco seja o HomemAranha, ele não vai conseguir subir e passar por uma janela no quarto andar. Constantin limitou-se a abrir um sorriso preguiçoso para ela. – Isso é ridículo! Não quero você aqui, Constantin! Ele levantou-se e foi até ela. – Se eu for embora, vou exigir a devolução imediata da minha propriedade pessoal, que você pegou sem meu consentimento. – Que propriedade pessoal...? – Ela enrijeceu quando ele segurou a barra da camiseta dela... da camiseta dele que ela estava vestindo, e que só ia até seus quadris, e o leve roçar dos dedos dele em sua coxa parecia uma chama queimando sua carne. Isobel ficou sem fôlego quando ele, lentamente, começou a erguer a camiseta.
– Você realmente quer essa camiseta velha de volta? – perguntou ela com a voz engasgada. – Particularmente, gosto muito dela. Se continuasse naquele ritmo, logo Constantin a deixaria com os seios desnudos. Ela estremeceu, meio excitada, meio apreensiva, ao imaginá-lo despindo-a e empalmando-lhe os seios. Seria uma tola se seguisse por esse caminho de novo, mas quando foi havia se comportado com sensatez em se tratando de Constantin? Ele estava tentado a tirar a camiseta dela, puxá-la para junto de si e redescobrir todas suas deliciosas curvas com as mãos antes de fazer o mesmo com a boca. Era assim que se comunicavam melhor: dois corpos juntos movendo-se em perfeita harmonia. Porém, David havia deixado Isobel mais assustada do que admitiu a ele ou à polícia, e agora precisava de compaixão, não de paixão. – Pare de lutar comigo, Isabella – disse ele num tom gentil. – Você sabe que não vai ganhar. Sente-se e beba seu chá antes que esfrie. Se não estivesse se sentindo um trapo, ela teria mandado Constantin pastar, mas deve ter sido atingida por um raio retardado ou algo do gênero, porque suas pernas recusaram-se a sustentá-la e ela sentou-se abruptamente. Gostaria de ter se sentado na poltrona em vez do sofá quando Constantin se juntou a ela. Isobel bebeu um pouco do chá, tentando ignorar a proximidade dele. – Eu estava vendo suas fotos – disse ele, olhando para o painel de fotografias na parede. – Mantenho um registro pictórico de todas as cidades onde a Stone Ladies já tocou. É normal tocarmos num lugar por uma noite apenas e seguirmos para a próxima parada, mas tenho uma lista de lugares aos quais gostaria de retornar. – Sempre me perguntei por que vocês chamam a banda de Stone Ladies... Damas de Pedra... se há dois homens nela. Ela sorriu e Constantin ficou feliz ao notar que um pouco de sua tensão se fora. – O nome refere-se a um antigo círculo de pedra perto do vilarejo onde todos nós crescemos. Trata de uma lenda segundo a qual havia um grupo de damas da corte real que, por amor à dança, se arriscou a enfurecer o rei, dançando no sabá. Como punição, todas foram transformadas em pedra. Eu, Carly, Ben e Ryan sentimos muita empatia por elas porque tivemos problemas parecidos com nossa música. Nenhum de nós podia praticar em casa. – Ela suspirou. – Meu pai achava que eu deveria estudar, em vez de ficar cantando, e o pai do Ryan esperava que ele usasse o tempo livre trabalhando na fazenda da família. Eles não conseguiam entender o quanto a música significava para nós. Tive incontáveis discussões com meu pai, que achava que música era perda de tempo e que eu deveria concentrar-me em passar nas provas e conseguir um emprego de verdade. A desolação na voz dela chamou a atenção de Constantin. – Seu pai deve estar orgulhoso de você agora que a banda é um sucesso, não? – Meu pai morreu faz uns meses. Ele não tinha interesse na minha música nem na banda. Eu não atendia às expectativas que tinha de mim. – Como assim? – Meu irmão era o filho predileto. Simon era inteligente, ia bem na escola e queria ser médico. Meu pai tinha tanto orgulho do filho que ficou completamente devastado quando ele morreu... eu não tinha interesse em estudos acadêmicos e meu pai ridicularizava meus sonhos de ganhar a vida com música. Eu não tinha como ser a pessoa que ele queria que eu fosse. – Ela olhou de
relance para Constantin. – Quando nos casamos, eu também não consegui ser a pessoa que você queria que eu fosse. Ele franziu o cenho. – Eu não tinha expectativa nenhuma com você. Quando nos casamos, pensei... tinha esperanças de que você ficasse feliz assumindo o papel de minha esposa, mas acho que isso não era o bastante. – Você queria uma anfitriã glamourosa que organizasse jantares e impressionasse seus convidados com uma conversa inteligente e um sublime senso de estilo – disse Isobel, com amargura. – Falhei miseravelmente no primeiro papel, e as roupas de grife que eu vestia não faziam meu estilo, era você quem as julgava apropriadas para eu usar. – Admito que, em algumas ocasiões, sua preferência por um figurino flower power não era adequada. A DSE é sinônimo de estilo e alta qualidade, e eu precisava que minha esposa representasse tais valores. Aquele seu visual despojado não era boa propaganda para a empresa – disse ele, com sarcasmo. – Talvez, mas era eu. Aquele visual era meu estilo. Quando nos conhecemos, você não tinha objeções a como eu me vestia. Constantin reconheceu mentalmente que não prestou muita atenção nas roupas dela por estar mais interessado em tirá-las... – Você estava determinado a me moldar como a esposa perfeita, do mesmo jeito como meu pai tentava me fazer a filha perfeita, e nenhum dos dois estava interessado em mim como pessoa. E, assim como meu pai, você nunca mostrou nenhum interesse na minha música nem encorajou minha carreira de cantora. – Você não parecia tão interessada em fazer carreira na música, quando nos casamos. Admitiu que éramos felizes morando em Londres na época e deu a impressão de que estava contente em ser minha esposa e futura mãe de nossa filha. As palavras dele fatiaram o coração dela. – Mas não tive chance de ser mãe. Sim, nos primeiros meses eu estava absorta na minha gravidez... – E em você, pensou ela, lembrando-se do homem com quem se casara. Constantin foi um marido charmoso e atencioso e ela acreditou que sua felicidade duraria. – Depois que perdi Arianna, fiquei sem nada. Por motivos que eu não entendia, você se tornou um estranho distante e senti que mal o conhecia. Tudo que eu tinha era minha música. Compor e cantar com a banda foram meu único conforto naqueles dias terríveis quando, às vezes, eu me perguntava se enlouqueceria com o pesar. Ela engoliu em seco o nó em sua garganta. Revisitar o passado sempre era doloroso, mas, naquela noite, com as emoções fragmentadas depois do susto com David, era insuportável ser bombardeada por memórias. – Essa conversa não tem sentido – disse ela a Constantin, pondo-se de pé. – Se fosse há dois anos... agora é tarde demais. Um dos motivos pelos quais fui embora foi porque você se recusava a conversar sobre assuntos sérios, como a perda de nossa filha. Você pode ter conseguido esquecer nosso bebê, mas eu me sentia desolada e sem seu apoio. Ele levantou-se num pulo e passou a mão pelo cabelo. – Talvez pudéssemos ter conversado mais se você passasse mais tempo em casa. Perdi as contas de quantas vezes voltei do trabalho e Whittaker me disse que você havia saído com seus
amigos. Não coloque toda a culpa em mim, Isobel. Nós não tínhamos como lidar com os problemas no nosso casamento porque você nunca estava lá para isso. Ela balançou a cabeça em negativa. – Era você o ausente no nosso relacionamento. Não no sentido físico, mas emocional. Meus amigos me davam esse apoio que faltava. Até mesmo agora, sempre que menciono Arianna, você se fecha. – Qual é o propósito de ficar remoendo isso sem parar? O tom de voz elevado de Constantin fez Isobel encolher-se, alarmada com seu estouro violento. Bem, ele nunca perdia o controle... Apenas uma vez na vida, Constantin tinha visto seu pai demonstrar emoções: no dia do enterro de sua mãe. Ele tinha 8 anos e passou pelo velório e enterro de sua mãe sem derramar uma lágrima, porque sabia que era isso o que se esperava dele. – Os homens da família De Severino nunca choram – seu pai havia lhe dito muitas vezes, porém, mais tarde, ao ir para a cama, Constantin ouvira um barulho vindo do estúdio de seu pai, um som como de um animal ferido sentindo muita dor, o que gelou seu sangue. Espiando pela porta, ficou assustado ao ver seu pai enrolado no chão, chorando e soluçando descontroladamente. Uma imagem chocante e aterrorizante para um garotinho impressionável. Constantin sentira-se triste porque sua mãe morrera, mas a agonia de seu pai deixara-o espantado. Com 8 anos, decidiu que nunca sentiria tamanha dor. Nunca amaria tão intensamente de forma que o lado negro do amor, a perda, o levasse a ficar de joelhos. Constantin arrastou sua mente do passado e viu que Isobel o encarava com uma expressão amarga nos olhos. – Você é realmente feito de pedra, não? Por fora, é um homem que tem tudo: boa aparência, riqueza, poder, mas por dentro é uma casca vazia, Constantin. Por dentro, é um vácuo emocional, e eu realmente lamento por você. As palavras dela o magoaram. O que ela sabia das emoções que ele mantinha enterradas dentro de si? O que ela realmente sabia sobre ele? Mas o fato de Isobel não o conhecê-lo era culpa dele. Não se atrevia a abrir a caixa de Pandora de suas emoções a ela por medo do que poderia revelar sobre si. Ele olhou-a, vestida com a camiseta larguinha que disfarçava suas formas, e ficou enfurecido ao perceber que, ainda que estivesse usando um saco que a cobrisse da cabeça aos pés, ele a desejaria mais do que desejara qualquer outra mulher na vida. – Não preciso de sua piedade, mia bella. Sempre precisei de uma só coisa de você – disse ele, puxando-a em sua direção. – Você vive dizendo que gostaria que conversássemos mais, mas a verdade é que nenhum de nós queria perder tempo conversando porque vivíamos famintos um pelo outro. – Sexo não teria resolvido nossos problemas – disse ela, tentando em vão soltar-se dele. Na verdade, a pegada mais forte estava no coração, e não nas mãos, e era isso que a impedia de soltar-se. Isobel perguntava-se, quando o casamento deles estava se despedaçando, se o sexo poderia ter sido uma solução que lhes daria uma forma de se comunicarem novamente. Porém, depois que Constantin sugeriu que fizessem amor dois meses depois que ela havia perdido a criança, e ela o rejeitou, abriu-se um abismo entre eles e Constantin não tornou a procurar Isobel novamente.
Eu fiquei com raiva porque ele não me apoiava naquele momento mas talvez Constantin estivesse tentando me alcançar, pensou Isobel em retrospecto. Eles sempre tinham se entendido perfeitamente bem na cama e o desejo era mutuamente explosivo e satisfatório. Com a mente mais uma vez focada no passado, ela esqueceu-se do perigo de sua situação atual. Em que momento Constantin havia soltado seu pulso e envolvido sua cintura? O ar foi sugado de seus pulmões quando ele a puxou para junto de si. Ela olhou para o rosto dele, mas sua exigência de que a soltasse morreu na garganta quando ele a beijou, com ardor, potência e mestria. Ele levou uma das mãos para sob suas nádegas, forçando a pélvis dela a entrar em contato ardente com sua ereção. Por baixo da fachada civilizada, Constantin era um macho primitivo e apaixonado. Fazia tanto tempo que ela o sentira dentro de si... lembrar disso enfraqueceu sua resistência e, quando ele deslizou a mão sob a barra da camiseta, passando os dedos pela barriga dela, Isobel prendeu a respiração e, em silêncio, desejou que ele tocasse em seus seios. Ele sempre teve a habilidade de ler a mente dela; roçou o polegar num dos mamilos e ela soltou um grito abafado. Ele aproveitou-se daqueles lábios abertos e levou sua língua para dentro da boca de Isobel. O aroma da colônia dele era dolorosamente familiar. Ela lembrou-se da primeira vez em que fizeram amor, de como havia ficado sobrepujada com as respostas que ele arrancara de seu corpo, e depois, pressionara o rosto no pescoço dele, sentindo o sal na pele banhada de suor. Ele começou a provocar o outro mamilo dela, fazendo com que uma sensação inebriante a invadisse. Com um gemido baixo, ela derreteu-se junto a ele e inclinou a cabeça para trás enquanto ele descia com os lábios por seu pescoço, abrindo depois uma trilha de beijos por sua clavícula. – Mio Dio! O que aconteceu com seu ombro? A névoa sensual estilhaçou-se quando ele viu a lívida marca vermelha no ombro dela. Isobel havia esquecido o machucado enquanto Constantin a beijava. – Ele... David me segurou enquanto eu corria em direção ao elevador, mas consegui me soltar. – Ela estremeceu ao pensar naqueles momentos aterrorizantes antes que a porta do elevador se fechasse, quando se virou e viu a face contorcida e furiosa do perseguidor. Tentou convencer-se de que ele não lhe desejava mal algum, mas a lembrança da expressão selvagem naqueles olhos estava grudada em sua mente. Constantin teve um vislumbre do medo no olhar de Isobel e sentiu uma onda de raiva não só de David, mas também de si. Ela teve que correr para ficar em segurança. Ele abafou uma risada melancólica. A amarga verdade era que, longe de estar segura ali, ela não tinha ideia do perigo que Constantin representava para ela. O ciúme que sentiu de Fellows era prova de que havia herdado um lado negro da natureza de seu pai. O monstro que viveu dentro de Franco também habitava nele, e a única forma de controlá-lo era evitando que despertasse. Então, que diabos estou fazendo tentando seduzir Isobel? Ele afastou-se dela e passou a mão pelo cabelo. – Vou ficar aqui essa noite. Ela poderia discutir o quanto quisesse, mas a marca em seu ombro era um vívido lembrete do terror que devia ter sentido quando foi acuada pelo stalker. Constantin franziu o cenho ao lembrar-se de algo que ela dissera depois do ataque. – Como assim ele te deu flores de funeral?
– Ah, os lírios brancos. Não acho que David tivesse pensado em algo sinistro, mas sempre odiei lírios desde o enterro do meu irmão. A igreja estava repleta deles. Minha mais forte memória daquele dia é o perfume enjoativo dos lírios. – Ela estremeceu. – Desde então, sempre considerei esse o cheiro da morte. – Eu não fazia ideia de que você não gostava de lírios – disse Constantin, lentamente. Ele lembrou-se de que havia levado um buquê deles para Isobel no hospital depois que ela perdeu a criança. Claro que foi um gesto totalmente inadequado, mas ele não sabia mais o que fazer. Sentia-se impotente para confortá-la. Seu coração ficou estilhaçado por não poder entrar no quarto, ouvindo-a chorar e soluçar, mas havia aprendido, desde criança, a suprimir suas emoções. Não conseguiu responder a Isobel do modo como ela precisava e foi incapaz de falar sobre sua própria devastação com a perda da menininha deles. Quando viu o buquê de lírios no lixo, concluiu que ela o culpava pela perda da criança. A viagem à Itália tinha sido ideia dele, mas revelou-se desastrosa por muitos motivos. Ela já havia recusado as flores e parecia o estar rejeitando. Mas agora raciocinou uma rápida explicação de que talvez ela tivesse jogado os lírios fora porque não conseguia lidar com as lembranças tristes que eles evocavam do irmão morto. – É melhor você tentar dormir – disse ele, vendo que eram 2h. – Você está em segurança e ninguém pode machucá-la esta noite. Isobel abafou uma amarga risada. Será que Constantin não sabia que sua rejeição abrupta momentos antes era mil vezes mais dolorosa do que o hematoma provocado por David? As feições dele não revelavam emoção alguma. Isobel ruborizou-se, lembrando-se de como seu corpo a traiu, e uma ideia insinuou-se em sua mente de que talvez ele tivesse feito aquilo para humilhá-la de forma deliberada. Constantin era demais para ela, tudo era demais para ela. Ela não o queria ali, mas o conhecia bem para saber que seria perda de tempo pedir que fosse embora. – Tenho um travesseiro e um cobertor extras no armário do corredor – disse ela, orgulhosa por sua voz não trair sua turbulência interna. Sem nem olhar para ele, de relance que fosse, desceu o corredor até seu quarto e fechou a porta, desejando poder trancá-la. Mas zero é a probabilidade de que Constantin vá entrar aqui, pensou, lembrando-se de como ele recuara antes. Seu último pensamento antes de deitar foi que era tarde demais para recapturar a felicidade transitória que eles uma vez partilharam. O SOFÁ de Isobel era provavelmente muito confortável... como sofá. Mas talvez a culpa de sua noite cheia de inquietação não fosse pelo móvel em si, reconheceu mentalmente Constantin, enquanto se levantava e passava a mão pela barba por fazer que cobria seu maxilar. O insistente latejar de sua excitação o manteve acordado e sua mente estava ativa, enquanto relembrava os eventos da noite anterior. Cansado, esfregou a nuca. Havia um pouco de verdade na acusação de Isobel de que ele não entendia como a mulher havia buscado conforto de seu luto na música, compondo canções. Ele sentiu ciúme dos amigos da banda que recebiam a atenção dela, mas sua incapacidade de expressar-se sobre a perda do bebê evidenciava seu fracasso como marido, deixando de apoiá-la quando ela mais precisou. Ele olhou de relance para as fotos da banda tocando em diversos lugares ao redor do mundo. Apesar das tensões no casamento deles, Constantin não esperava que Isobel o deixasse. Ela construiu uma nova vida para si, e as fotos
pareciam zombar dele com a mensagem de que ela não precisava dele, nem financeira nem emocionalmente, nem de qualquer outra forma. Mas havia precisado dele na noite passada. Ela correra até ele em busca de ajuda. Depois do terrível confronto com David, Isobel se atirara nos braços dele, desesperada por proteção. A forma como havia respondido ao beijo era mais uma prova de que não era imune como gostaria de deixar transparecer. Constantin pensou na ameaça a seu sonho de virar chairman da DSE... não tinha opção, a não ser fazer o jogo de Alonso, e a dura verdade era que precisava mostrar ao tio que se reconciliara com a esposa. O incidente com David lhe proporcionou uma oportunidade ideal para se reaproximar de Isobel e persuadi-la a dar outra chance ao casamento deles. Só ele sabia que a reconciliação seria temporária...
CAPÍTULO 6
LEMBRANÇAS DA noite anterior estalaram na mente de Isobel no segundo em que ela abriu os olhos. Havia dormido profundamente e não sonhara com David, o que era incrível, mas, agora que estava acordada, lembrou-se do estranho ar de arrogante excitação dele, que rapidamente deu lugar à fúria quando ela se recusou a segui-lo. Isobel rolou na cama e apertou os olhos contra a luz do sol que passava pelas cortinas abertas, confusa, porque se lembrava de tê-las fechado na noite passada. – Desculpe-me por acordar você – disse Constantin da porta, e o coração dela deu um salto em seu peito quando ele foi se aproximando e colocou uma xícara de chá no criado-mudo. Era injusto que, mesmo tendo passado a noite no sofá, ele ainda parecesse um modelo. – Tudo bem. Estava na hora de eu acordar mesmo. – Eram 9h30. – Geralmente não durmo até tão tarde assim. Ele deu de ombros. – Você teve uma noite cheia. O brilho nos olhos dele fez com que Isobel pensasse que, da mesma forma que ela, Constantin estava se lembrando da paixão entre eles quando a beijou. Ele poderia tê-la levado para a cama, poderia tê-la jogado no sofá, e ela teria deixado que a tomasse com fúria. Mas Constantin não aceitara o que fora oferecido de livre e espontânea vontade, o que tornava as próximas palavras dele ainda mais surpreendentes. – Tenho que ir ao escritório de Nova York hoje. Eu poderia cancelar, mas surgiu um problema do qual preciso cuidar pessoalmente. Quero que venha comigo. O maníaco ainda está à solta. A polícia não tem muitas pistas para encontrá-lo, e até que eles o prendam, não creio que você deva ficar sozinha. Ela sentou-se na beirada da cama, e a proximidade dele fez sua pulsação ir às alturas. Obviamente ele havia tomado um banho, e o distinto aroma picante da loção pós-barba atiçava os sentidos dela. – Minha preocupação com a sua segurança não é o único motivo pelo qual quero que venha comigo para os Estados Unidos – murmurou ele. – Que tal recomeçarmos, Isabella? Assim que eu terminar de tratar de negócios por lá, poderíamos passar uns dias na cidade para nos conhecermos de novo.
O sorriso sexy de Constantin era quase a ruína de Isobel, cujo coração deu um pulo quando ouviu aquelas palavras; parte dela queria desesperadamente concordar. Mas notou que ele não havia sorrido com os olhos, e, sob aquele charme, ela sentia um ar de reserva que lhe dava calafrios. – Por quê? – disse ela com um tom frio. Constantin ficou abalado com a pergunta. Se quisesse ter alguma chance de persuadi-la a reconciliar-se com ele, teria que ser mais aberto com ela. – Admito que muitos dos problemas que levaram à nossa separação foram causados pela minha relutância em falar com você sobre meus sentimentos, especialmente sobre a perda do nosso bebê. – Ele visualizou Arianna, tão minúscula e perfeita, e ficou com o coração apertado. – Desde pequeno fui desestimulado a mostrar minhas emoções, hábito que trouxe para a minha vida adulta. – Sua atitude em relação a mim mudou depois que perdi o bebê. Você nunca queria falar sobre o assunto e eu não conseguia me aproximar. Não conseguia entender o motivo. Éramos felizes no início de nosso casamento. Passávamos tempo juntos, não só na cama. A perda da nossa filha foi devastadora, mas as coisas haviam mudado... você havia mudado... antes disso. Na Itália, quando ficamos na Casa Celeste... de repente... você não era mais o homem com quem me casei. Ela pensou na casa que fora o lar ancestral da família De Severino por 400 anos, mas Constantin preferia morar numa cobertura moderna no centro de Roma, ou, quando estava em Londres, na casa da Grosvenor Square. Na primeira vez que visitou a Casa Celeste, Isobel ficou embasbacada com a fachada elegante, e a miríade de quartos, banheiros e grandes e suntuosas salas de recepção. Ela comentou que a casa parecia um museu, e Constantin explicou que seu pai havia sido um ávido colecionador de arte e antiguidades. Estudando o retrato do anterior marchese De Severino, Isobel não viu nenhuma calidez nos olhos dele e se perguntou que tipo de pai ele havia sido para seu único filho. A expressão de Constantin quando ela lhe perguntou sobre o pai fez com que pensasse que não eram próximos. O corredor da entrada da Casa Celeste tinha fileiras de retratos dos ancestrais aristocratas de Constantin, e Isobel ficou abalada ao perceber que carregava a próxima geração na nobre linhagem da família De Severino na barriga. Olhando para as faces arrogantes dos predecessores de sua bebê, ela se perguntava se Constantin estava secretamente desapontado que a mãe de sua herdeira era a filha de um mineiro. – Quando ficamos na Casa Celeste, eu tive a sensação de que você achava que nosso casamento era um erro. Eu não me encaixava no seu sofisticado estilo de vida e não era uma socialite glamourosa como as mulheres com quem você estava acostumado. Eu... sentia que você tinha vergonha de mim. Ele parecia genuinamente surpreso. – Isso é bobagem! – É mesmo? Então me explique por que você se transformou num estranho naquela viagem e por que ficou tão frio e distante. Constantin franziu o cenho. – Nada mudou. Você está imaginando coisas. – Você dormia em outro quarto. No outro lado da casa.
– Fui para outro quarto porque você se sentia desconfortável, com muito calor, quando dividíamos uma cama, por causa do estágio da sua gravidez. Isobel não se convenceu, especialmente quando se lembrava muito bem do sistema de arcondicionado da casa. A única explicação que julgava plausível era que ele não achava atraentes os sinais visíveis de sua gravidez. Ela adorava sua barriga redonda, e quando, animada, levou a mão de Constantin até ali, para que ele sentisse o bebê se mexendo, ele ficou tenso e rapidamente se afastou. Foi uma reação ainda mais surpreendente porque, uns dias antes, ele a havia acompanhado à segunda ultrassonografia e as feições de Constantin ficaram suavizadas quando viu a imagem da filhinha deles na tela. Arianna havia se formado perfeitamente e parecia saudável. Seu coraçãozinho batia forte. Não havia nenhum motivo para achar que a gravidez seria interrompida, nenhum indicativo dos terríveis eventos que se seguiram dias depois que eles chegaram à Casa Celeste. – Você vivia inquieto. Eles tinham ido para a Itália por causa de uma reunião da diretoria em Roma, mas, em agosto, Isobel achou a temperatura da cidade causticante, e eles foram então para a Casa Celeste, onde era mais fresco, perto do lago. No instante em que cruzaram a porta da casa, ela sentiu uma mudança em Constantin, e ficou confusa com sua relutância em passar um tempo no lar de sua infância. Na primeira noite na casa, ela acordou com o choro noturno dele, enquanto dormia, mas posteriormente ele justificou o pesadelo como resultado de ter bebido muito vinho tinto, dizendo ainda que não conseguia se lembrar da natureza do sonho. Daquele dia em diante, dormiram em quartos diferentes, mas Isobel sabia que as noites dele não eram calmas. – Você tinha pesadelos. Eu o ouvia gritando enquanto dormia. Ele deu de ombros. – Eu me lembro de um que tive na nossa primeira noite lá. Também me lembro que o resto do vinho que bebi estava estranho, parecia azedo, o que provavelmente causou os meus distúrbios de sono. – Não. Você teve pesadelos em outras noites também. – Ela estremeceu. – Seus gritos... eram como de um animal com terríveis dores. Você devia sonhar com coisas realmente horríveis. Constantin enrijeceu. – Como você podia ter me ouvido? Meu quarto ficava longe do seu e as paredes da Casa Celeste não vazam som. – Eu... – ela ficou ruborizada, mas não tinha como voltar atrás agora – eu estava parada do lado de fora do seu quarto numa noite e ouvi você gritando. Suas palavras não faziam sentido. Você ficava dizendo “Ele queria fazer aquilo, ele pretendia matá-la.” Eu não tinha a mínima ideia do que você queria dizer com isso e imaginei que estivesse sonhando. Constantin sabia exatamente o que seus gritos significavam e o que seu sonho revelava, mas não tinha nenhuma intenção de explicar isso a Isobel. – Por que você foi até o meu quarto? Não estava se sentindo bem? Estava preocupada com a bebê? Notou algum sinal de que havia algo errado com a gravidez? – Não... não foi nada disso. – Ela suspirou. – Fui ao seu quarto porque... eu queria fazer amor com você. Ela captou um lampejo de alguma emoção indefinível nos olhos dele. Quando ele curvou a boca num sorriso de satisfação arrogante, ela lutou contra a premência de cobrir o rosto quente
com as mãos. – Por que isso é tão surpreendente? – disse ela na defensiva. – Até aquela viagem, nós tínhamos uma vida cheia de paixão. – Sim, com certeza você refutou a teoria de que a gravidez pode ter um efeito negativo na libido de uma mulher – disse ele com a fala arrastada. Constantin visualizou Isobel no segundo trimestre de sua gravidez. O enjoo matinal que a atingiu com força nos primeiros meses havia acabado. Sua pele reluzia, seu cabelo brilhava e seu corpo havia desenvolvido curvas luxuriantes que ele achava intensamente desejáveis. Logo de cara, a paixão deles foi alucinante, e, para surpresa dele, a gravidez aumentou o prazer que ela sentia no sexo. Antes da viagem para a Itália, eles faziam amor todas as noites, mas a volta dos pesadelos eram um lembrete sombrio de que ele nunca deveria ter se envolvido com ela. – Não tenho vergonha de admitir que sentia falta de fazer sexo quando você decidiu que deveríamos ficar em quartos separados. Eles só estavam dormindo separados por algumas noites antes de ela perder o bebê, e Constantin lembrou-se que a vida nunca mais foi a mesma. Quando voltaram para Londres, tentou confortá-la, mas Isobel estava inconsolável e ele disse a si mesmo que merecia sua rejeição. – Por que você não entrou no meu quarto quando estávamos na Casa Celeste e me disse que queria fazer amor? Isobel deu de ombros. – Eu não podia fazer isso. – Ela não queria admitir que sentira medo de que ele pudesse rejeitá-la por causa de seu físico de grávida. – Quando percebi que você estava tendo um pesadelo, fiquei pensando se deveria acordá-lo, mas então você parou de gritar e achei melhor não incomodar. – A voz dela tremia. – Dois dias depois, perdi o bebê, e não havia nenhum motivo para ficarmos juntos. Você mesmo me disse na semana passada que só se casou comigo porque eu estava grávida. Por isso, estou surpresa com a sua sugestão de que poderíamos tentar recomeçar. Ela viu os olhos dele estreitarem-se e sentiu que ele estava tentando pensar num motivo que a convenceria a dar uma segunda chance ao casamento deles. – Seja como for, não posso ir a Nova York. Estou compondo umas canções para o novo álbum da banda e trabalhando com o pessoal no estúdio de gravações essa semana. – Você não pode adiar as sessões? Ela ficou irritada com o tom casual dele. – Não, não posso. Tem muita gente envolvida nisso, engenheiros de som, técnicos de estúdio. Somos músicos profissionais. Minha carreira é tão importante para mim quando a DSE é para você. Constantin esforçou-se para esconder a raiva em sua voz. – Estou ciente de que sua carreira é prioridade máxima, mas, pelo amor de Deus, Isobel, aquele doido a machucou na noite passada quando tentou segurá-la. Certamente você leva a questão de sua segurança a sério, não? – Claro que sim, e aprecio sua preocupação, mas é desnecessária. Enviei um SMS para o Ryan na noite passada, contando a ele sobre o ocorrido, e ele me convidou a ficar alguns dias com ele
e Emily. – Ela olhou para o relógio de pulso. – Na verdade, eles virão aqui me pegar a qualquer minuto. Ryan disse que vai tocar a campainha duas vezes para que eu saiba que é ele. Constantin sentiu o ácido do ciúme queimando em sua barriga só de pensar no menino bonito vindo correndo resgatar Isobel como um cavaleiro branco numa armadura brilhante. Ele lembrou-se de que o guitarrista estava noivo e ouviu a voz de sua madrasta em sua mente: Você sente ciúmes de qualquer homem para quem eu olhe de relance que seja, Franco. Dio! O ciúme dele das amizades de Isobel era a prova de que ele não era melhor do que o pai. O sangue dos De Severino corria em suas veias e era possível que um monstro violento e imprevisível vivesse dentro dele, tal qual foi com seu pai. A ideia lhe provocava náuseas. Era imperativo que persuadisse Isobel a retomar o casamento até que tivesse garantido o cargo de chairman da DSE, mas o motivo pelo qual ele se afastara dela no primeiro ano de casamento ainda estava lá. Ela era a única mulher que já incitara sentimentos de posse e ciúmes nele. Ele visualizou o pai esticando a mão em direção a Lorena enquanto eles estavam na varanda. Segundos depois, ela estava morta. O grito dela assombraria Constantin eternamente. O som de dois toques da campainha tirou a mente dele do passado. Ele ficou olhando para Isobel e suas entranhas doíam com um anseio que era mais do que apenas desejo físico. No entanto, sua voz não entregou nada de seus pensamentos. – A cavalaria chegou – disse ele, com a fala arrastada e sardônica. Ele andou e parou perto da porta, olhando de relance para trás. – Prometa que vai se cuidar, piccola? Isobel se perguntava como Constantin podia falar como se importasse com ela quando sabia que ele não estava nem aí. – Prometo. – Bene. A voz de Constantin era suave, e seu sorriso roubou o coração dela, que cerrou os olhos enquanto lutava para se recompor; quando os abriu de novo, ele havia ido embora. – JEZEBEL! – O som agudo da voz de David tremia com fúria. – Eu li nos jornais que você é casada. Mas você é minha, Izzy. Você não deveria ter permitido que este outro homem colocasse as mãos no seu corpo. Você me traiu, e você deve pagar por isso, vadia... Os dedos de Isobel tremiam quando ela pressionou a tecla no celular para encerrar a ligação, cortando a fala do stalker enquanto ele desfiava obscenidades. Era a primeira vez em que ele realmente a havia ameaçado, mas, ainda assim, a polícia não conseguiu rastreá-lo e não tinha como ajudá-la. Restavam conselhos para que rejeitasse chamadas de números não identificados. Isso é tão injusto, pensou Isobel, frustrada. Ela sentia-se caçada e sua preocupação aumentava. Havia mudado o número do celular novamente, e mais uma vez David o havia descoberto. Seu coração saltou da boca quando a mensagem número não identificado apareceu na tela, mas, movida por uma curiosidade temerosa, ela atendeu e ouviu o mais recente acesso histérico do maníaco. No dia seguinte ao do evento de caridade, fotos de Isobel e Constantin se beijando na pista de dança estavam em todos os tabloides. A revelação de que ela era casada com o chefe bilionário da DSE ocupava todas as colunas de fofocas, assim como especulações sobre o estado de seu atual relacionamento com Constantin. Felizmente, o relações-públicas da banda havia saciado o
interesse da imprensa, mas David voltara a ligar, e, nos últimos dias, suas mensagens vinham ficando cada vez mais ameaçadoras. – Tem certeza de que vai ficar tudo bem enquanto eu e Emily estivermos no Caribe? Você pode ficar aqui até que a polícia tenha pegado o maluco responsável pelos telefonemas incômodos que anda recebendo. Ele ligou de novo? Emily não vai se importar se adiarmos nossa viagem... – Não – mentiu Isobel. – E certamente vocês não vão querer adiar os planos de vocês. Sei o quanto estão esperando por essa viagem, especialmente desde que anunciaram o noivado. Ryan ainda parecia preocupado. – Eu não gosto da ideia de você voltar para seu apartamento. Ficaria mais feliz se você ficasse com Carly e Ben. Ela balançou a cabeça em negativa. – Eu teria que contar a Carly sobre David. Não quero causar a ela nenhum estresse, especialmente nas primeiras e cruciais semanas de gravidez. Isobel escondera a pontada de dor que sentiu quando a amiga lhe revelou que estava grávida. Ela estava realmente deleitada por Carly e Ben, que já haviam feito o convite para que ela fosse a madrinha do primeiro filho deles. Aquele problema com David estava fugindo do controle. Já era ruim o bastante como sua vida estava atrapalhada, e não permitiria que seus problemas afetassem seus amigos. O telefone tocou e ela pulou como uma gazela assustada, o que desfez seu fingimento de que não estava preocupada com David. Ela soltou o ar, aliviada ao reconhecer o número, ao mesmo tempo em que seu coração ficou acelerado. – Aquele maníaco fez novo contato desde que nos falamos ontem? – disse Constantin, ignorando a pergunta dela sobre o tempo em Nova York. – Presumo que você tenha contado à polícia que ele descobriu seu novo número e que ligou várias vezes essa semana, não? – Reportei as ligações – confirmou Isobel. – Ele ligou hoje? Isobel olhou de relance para Ryan, que estava perto e podia ouvir o que ela dizia. Ela não podia contar a Constantin sobre o mais recente e ameaçador telefonema do stalker quando havia sonegado a informação a Ryan. Se falasse a verdade, ela sabia que o amigo cancelaria a viagem com sua noiva. – Ele não ligou hoje. Vai ver David cansou-se de seu joguinho. Uma bufada de descrença foi seguida de um tenso silêncio do outro lado da linha enquanto Constantin lutava para controlar sua frustração. Ele sentia uma forte premência de voltar a Londres para que pudesse colocar algum bom senso em Isobel. – Eu não acho que David esteja brincando. Gostaria que você me deixasse contratar um guarda-costas para protegê-la enquanto este homem ainda for uma ameaça em potencial. – Você está exagerando. Não preciso de guarda-costas. Ele suspirou exasperado. – Eu deveria saber que você não aceitaria minha ajuda, mas, nesse caso, sua determinação de ser independente é uma tolice! – Não tenho seis anos. Posso muito bem cuidar de mim mesma. – Ela encolheu-se quando ele soltou xingamentos ao telefone. – Verdade, não precisa se preocupar comigo. Vou a Derbyshire visitar minha mãe. Acho que ela fica muito sozinha agora que meu pai morreu, e talvez David
perca o interesse em mim enquanto eu estiver longe de Londres. – Percebendo que poderia passar o dia todo discutindo com ele, disse: – Tenho que ir. Espero que sua viagem de negócios seja bem-sucedida – ela acrescentou num tom conciliatório antes de desligar. AS RUAS no centro de Londres estavam relativamente quietas no meio da tarde, antes do início da hora do rush. Quando Isobel passou pela frente de seu prédio, ela acenou para o novo porteiro que havia conhecido uns dias atrás, quando Ryan a acompanhou até o apartamento para pegar sua correspondência. O funcionário apresentou-se como sendo Bill. Aparentemente, era ex-membro do exército e boxeador campeão em seu regimento, declaração corroborada por sua massiva constituição física e um nariz torto que parecia ter sido quebrado várias vezes. Ela desceu a rampa para o estacionamento subterrâneo do prédio, estacionou em sua vaga, saiu do carro e abriu o porta-malas para pegar a bolsa que levou para ficar com Ryan e Emily. No outro lado do estacionamento, um motor foi ligado e Isobel percebeu, pela sua visão periférica, uma van branca vindo em sua direção, mas não deu muita atenção a isso; a mente estava ocupada em pensar nas roupas que levaria na visita à sua mãe. Fechou o porta-malas e virou-se para ir até o elevador, mas a van bloqueou seu caminho. Quando o motorista saltou do veículo, Isobel sentiu seu coração dolorosamente esmagado no peito. – Você! David não respondeu, e o silêncio dele deixou-a tão tensa quanto se houvesse proferido aquelas conhecidas ofensas ao telefone. Ele ficou fitando Isobel com olhos selvagens e, quando finalmente se pronunciou, seu tom era friamente ameaçador. – Você tem que vir comigo, Izzy. Ela voltou os olhos para a traseira aberta da van e viu um rolo de corda lá dentro. Lembrou-se das palavras de Constantin, dizendo que David não estava brincando. Isobel ficou paralisada pelo medo, mas quando David, de repente, se lançou para cima dela e a agarrou pelos braços, Isobel teve uma reação instintiva e chutou a canela dele. Ele gritou, mas não a soltou e ainda redobrou a força com que a continha, arfando. – Você será minha por toda a eternidade. A morte nos unirá para sempre. – Solte-me! Ela lutou freneticamente enquanto David a empurrava para a traseira da van. Ele era surpreendentemente forte. Precisava chamar a atenção de alguém, mas o estacionamento estava vazio, e seu grito desesperado ecoou pelo lugar. O perseguidor afundava os dedos nos braços dela, cuja jaqueta fina não servia muito como proteção. Isobel tentou novamente escapar, mas ele estava obcecado em seu propósito e a empurrou com tanta força que ela foi praticamente arremessada dentro da van. Sentiu náuseas de terror. Se ele conseguisse dominá-la mais um pouco e amarrá-la, ninguém saberia o que poderia lhe acontecer depois... Desesperada, Isobel lutou como uma gata selvagem, chutando-o; David soltou xingamentos e se afastou. Mas logo retomou o ataque. A adrenalina que corria pelas veias de Isobel, de certa forma, a impedia de sentir os golpes. Então, ouviu o som de fortes passadas ao longe e gritos de uma grossa voz masculina. Em segundos, Bill se materializou atrás de David.
– Solte ela! Com um rugido de fúria, David empurrou-a para o fundo da van. Isobel bateu a cabeça no piso com tanta violência que sentiu uma dor agonizante passar por seu crânio antes de perder a consciência.
CAPÍTULO 7
PASSARAM-SE 24 horas do ataque. Isobel fora levada para um hospital por uma ambulância e ouviu o médico que a atendeu explicar que, depois de um episódio de concussão, era comum sentir uma dor de cabeça de intensidade entre média e severa. – Você foi trazida para cá por precaução. Será logo liberada, mas caso sua visão fique borrada, ou comece a vomitar, deve retornar. A senhora ficou inconsciente apenas por uns poucos minutos e não deve ter nenhum dano permanente. Isobel assentiu e encolhia-se a cada mínimo movimento que lhe provocava dores loucas. Ela se perguntava se o médico chamaria de média a dor que sentia, como se uma furadeira estivesse atravessando sua cabeça. Mas, dadas as circunstâncias, ela sabia que podia ter sido pior. Os hematomas nos braços, nas costelas e nas têmporas sumiriam, e a equipe médica garantiu que a náusea e a sensação de choro iminente eram efeitos colaterais do choque. – Não consigo acreditar que uma coisa tão horrível assim aconteceu – disse Carly, provavelmente pela décima vez. – Graças a Deus que o novo porteiro viu o ataque pelas câmeras de segurança e foi correndo salvá-la. Você deveria ter me contado sobre esse maluco, Izzy! – Eu não queria preocupá-la. – Ela olhou de relance para sua melhor amiga, a tecladista da banda, que estava visivelmente chateada, e acrescentou culpa à lista de emoções que se revolviam dentro dela. Ben e Carly correram até o hospital assim que ficaram sabendo do que tinha acontecido. O empresário da banda, Mike Jones, e vários outros amigos também foram visitá-la e expressaram seu choque e empatia. Ryan havia lhe telefonado quando soube do ataque, mas ainda bem que ela havia conseguido dissuadi-lo de voltar mais cedo da viagem. Isobel estava grata pela preocupação de todos, mas ansiava por ficar sozinha e ter um pouco de paz. Ela cerrou os olhos, mas o som de uma voz familiar fez com que os abrisse de novo, e ela se deparou com o brilhante olhar azul de Constantin. Por vários segundos, foi como se não houvesse mais ninguém no universo, e estivessem conectados por uma incrível força mística. – Dio! Isabella. – A voz de Constantin tinha uma nuance de curiosidade, e Isobel ficou chocada com sua aparência exausta, sua palidez e seu casaco amassado, como se tivesse dormido com aquelas roupas. – Você está em Nova York. – Ela fez uma careta por causa da declaração tola e disse a si mesma que era efeito do ataque, e não o choque de ver Constantin, aquela confusão em seu
cérebro. – Peguei um voo de volta assim que recebi a ligação de Carly. Isobel voltou um olhar reprovador à amiga. – Não precisava... – Precisava sim! – disse Constantin, fechando a cara. – Sou seu marido. O que ele não disse foi que, quando soube do ataque, pôde jurar que seu coração tinha parado de bater pelo que parecia uma vida inteira. – Graças a Deus que Bill chegou antes que você sofresse algo sério! Ela arregalou os olhos. – Como sabe o nome do porteiro do meu prédio? – Bill Judd é um segurança particular. Como se recusou a permitir que eu contratasse um guarda-costas para você, fiz o que era possível e pedi a ele que ficasse de olho no seu apartamento, caso David voltasse. Eu não sabia que você havia aprendido a dirigir enquanto estávamos separados, e Bill não esperava que você estivesse no estacionamento. Felizmente, ele ficou bem atento a todas as telas das câmeras de segurança e conseguiu chegar antes que o maníaco a dominasse na van. Infelizmente, não foi rápido o bastante para impedir que você se machucasse. Mais uma vez, Isobel notou algo na voz dele, como se Constantin estivesse lutando para conter suas emoções, mas ela concluiu que isso era um golpe de sua imaginação; ela sabia que seu enigmático marido nunca ficava perturbado por fortes emoções. – Você está com seu passaporte aqui? Ela olhou-o, confusa. – Está na minha bolsa. Sempre o carrego comigo. – Que bom. Então não teremos que passar pelo seu apartamento a caminho do aeroporto. Ela ergueu a cabeça dos travesseiros e sentiu como se seu crânio tivesse sido perfurado por um atiçador de fogo. – Por que preciso do meu passaporte? – Meu jatinho está sendo reabastecido e preparado para nos levar até Roma. Nem pense em discutir, cara. O perseguidor fugiu. Quando a atacou, ele mostrou-se perturbado e perigoso. – Você quer dizer que ele poderia tentar machucar Izzy de novo? – perguntou Carly. – C... como foi que ele conseguiu fugir? – perguntou Isobel, tremendo. – Antes de eu apagar, vi o porteiro... guarda-costas segurá-lo. Constantin hesitou, relutante em deixar Isobel ainda mais assustada, mas não podia esconder a verdade dela. – David estava com uma faca. Ele esfaqueou a mão de Bill e conseguiu fugir na van. A polícia foi imediatamente alertada e encontrou a van, que era alugada, abandonada a algumas ruas de distância de seu prédio, mas, infelizmente, ainda não conseguiram localizar o homem. Aliás, o nome dele é David Archibald. Foi possível identificá-lo pelas câmeras de segurança. Ele era zelador nos escritórios da empresa de assessoria de sua banda. Deve ter conseguido acesso a arquivos pessoais e registros no computador depois que o pessoal saía de lá, à noite, no fim do expediente, o que explica como descobriu seu telefone e endereço. O homem tem um histórico de comportamento psicótico e a polícia acredita que ele representa uma ameaça à sua segurança. – Izzy, você tem que ir com Constantin até que a polícia prenda este louco – disse Carly com ferocidade. O rosto dela estava branco sob seus brilhantes cachos vermelhos e Isobel sentiu uma
dor por dentro ao ver uma lágrima escorrendo pelo rosto dela. Ambas eram amigas desde crianças, quase irmãs. – Não se preocupe, eu cuidarei dela – Constantin garantiu a Carly. Isobel ficou surpresa com o tom gentil dele, que antes costumava se ressentir da proximidade da esposa com os outros membros da banda. Depois de arrancar uma promessa de Isobel de que aceitaria a ajuda de Constantin, Ben e Carly foram embora. – Não tenho por que ir à Itália com você – disse ela, assim que ficaram sozinhos. – Sei que não seria sensato voltar ao meu apartamento até que David seja preso, mas por que não posso ficar na casa de Grosvenor Square? – Whittaker tirou férias estendidas para visitar a sobrinha na Nova Zelândia. Preciso estar na sede da DSE para supervisionar um projeto novo e quero que você fique em Roma comigo para que eu possa mantê-la em segurança. Isobel fez uma careta. – Você não é responsável por mim. Preciso ficar em Londres para trabalhar. – Chequei com seu empresário. Vocês terminaram as gravações do novo álbum, e o próximo show da Stone Ladies é só em setembro. Nesse caso, eu sou sim responsável por você, Isabella. – Constantin cerrou o maxilar. – Eu culpo a mim mesmo pelo ataque. O maníaco só começou a agir de forma agressiva depois que fotos dos nossos beijos saíram nos jornais. Isso, mais a revelação de que somos casados, provavelmente foi o bastante para levar aquele sujeito mentalmente perturbado ao limite. – Ele inclinou a cabeça e segurou no queixo dela. – Nunca me perdoarei por colocá-la em perigo. Se for preciso, carrego você para fora daqui e para dentro do meu avião. Constantin leu as observações médicas e sabia da extensão dos ferimentos dela. Poderia ter sido pior, sim. Ele estremeceu só de pensar no que poderia ter acontecido se David tivesse conseguido sequestrá-la. Decidiu não revelar a Isobel que o perseguidor era esquizofrênico e tinha um histórico de comportamento violento. – Não lute comigo, tesorino – murmurou ele. Ela sentia dores pelo corpo todo, como se tivesse saído de uma luta com um campeão de boxe. Não tinha forças, nem físicas, nem mentais, para entrar numa batalha de vontades com Constantin, especialmente quando o rosto dele estava tão próximo ao dela. Os olhos de Isobel encheram-se de lágrimas e ela sentiu o sussurro da respiração de Constantin por sua pele antes de ele grudar seus lábios num beijo sensual que lhe tocou a alma. Depois do terror vivenciado quando foi atacada por David, a sensação de segurança que tinha nos braços dele diminuía sua resistência, e ela cedeu ao prazer do beijo. A memória da paixão e da ternura daquele gesto carinhoso de Constantin permaneceu com Isobel enquanto eles seguiam até o aeroporto e entravam a bordo do jatinho particular dele. Ela havia tomado fortes analgésicos para sua dor de cabeça e, assim que o avião levantou voo, Isobel reclinou-se em seu assento e cerrou os olhos. Instantes depois, ela os abriu de novo quando Constantin soltou seu cinto de segurança e ergueu-a em seus braços. Ela olhou grogue para ele enquanto os analgésicos faziam efeito. – O que está fazendo? – Levando-a para a cama – disse ele, carregando-a para o quarto nos fundos do avião. Recordações dos dois fazendo amor durante a viagem entre Londres e Roma vieram à mente
dela. – De jeito nenhum! Concordei em ir para Roma mas só isso! – Ela o olhou com ódio enquanto ele a colocava na cama. Ele tirou os sapatos e esticou-se ao lado dela, cujo coração traidor deu um pulo. – Não serei sua diversão durante o voo – disse Isobel. Ela sentou-se e soltou um gemido quando a dor espalhou-se por sua cabeça. – Relaxe – disse ele com a fala arrastada. – Estou acordado há 36 horas. Quando Carly me ligou contando o que aconteceu com você, eu fiquei... extremamente preocupado. Estou exausto. Quando eu fizer amor com você, pretendo estar bem acordado e no pique. Isobel franziu o cenho quando se deu conta do significado daquelas palavras. – Você não quis dizer se em vez de quando? – Nós dois sabemos que eu poderia fazer sexo ardente e gratificante quando eu bem quisesse, mia bela, mas me contento em esperar até que você esteja pronta a aceitar que sou o único homem que pode deixá-la extasiada. – Seu ego é gigantesco! Ele riu, puxando-a de forma que a cabeça dela ficasse em seu peito. Envolveu-a com os braços, prendendo-a com seu corpo forte. – E há outras partes de mim que também são enormes – sussurrou ele, malicioso. Contra sua vontade, Isobel torceu os lábios numa risada. No início do casamento, Constantin a provocava com frequência e a fazia rir. Eles riam e se divertiam muito juntos. Perguntava-se o que teria acontecido com eles. Tudo começou a dar errado quando visitaram o lar ancestral da família De Severino, a Casa Celeste; desde então, seu charmoso e risonho marido transformouse num frio estranho. O LAR romano de Constantin era uma estonteante cobertura no coração da cidade com vista para a Piazza Navona e suas famosas fontes. Do lado de fora, a propriedade era um magnífico edifício histórico, belamente restaurado por um famoso arquiteto italiano. Por dentro, contudo, a decoração era ultramoderna, com imensos aposentos abertos com paredes de vidro que proporcionavam vistas espetaculares de Roma. Quando Isobel foi ao apartamento dele pela primeira vez, ficou encantada pelos arredores luxuosos e ainda mais com ele, que era extremamente charmoso e dissipou sua timidez tão rapidamente quanto a havia despido, e, logo depois, a desvirginou. Agora, enquanto caminhava pelo apartamento, Isobel lamentava pela inocente garota que ficou perdidamente apaixonada pelo amante italiano. Como foi ingênua em acreditar que seus sentimentos eram correspondidos. A feia verdade era que ela não passava de mais um nome na lista, até que Constantin descobriu que ela estava grávida. Ela nunca se sentiu confortável com o título de Marchesa De Severino. Julgava-se uma impostora entre os amigos aristocráticos dele, e, depois que perdeu o bebê, sentiu-se uma fraude. – Guardei as roupas que você deixou para trás quando foi embora – disse ele, abrindo o guarda-roupa e exibindo as elegantes peças de grife que ela usava quando o acompanhava a glamourosos eventos sociais. Pelo menos não teria que fazer compras imediatamente, visto que não levara quase nada além de umas poucas peças de roupas e artigos de maquiagem. Isobel voltou os olhos para um vaso de rosas amarelas sobre a penteadeira.
– Pedi que a governanta colocasse essas flores no seu quarto porque sei que são suas prediletas. Ela se lembrou de que, quando voltaram da lua de mel, ele encheu a casa em Londres de rosas amarelas e seu tolo coração havia pulado dentro do peito, presumindo que o gesto era um sinal de que ele se importava com ela. – Você lembrou – sussurrou ela, sentindo as lágrimas vindo a seus olhos. Precisando de tempo para recuperar a compostura, ela inclinou-se para sentir o perfume das rosas. – São lindas. Obrigada. Ele fez uma careta. – Talvez eu não devesse ter contado do meu envolvimento nisso, sabendo como você se recusa a aceitar qualquer coisa vinda de mim. Sem dúvida, elas irão para o lixo. Ela ficou magoada com a amargura na voz dele. – Como assim? – Quando foi embora, você deixou para trás todos os presentes que lhe dei, inclusive o colar de diamantes do aniversário. Ela lembrava-se daquela noite. Havia escolhido comemorar seu aniversário de forma simples, talvez com um jantar num bar country, mas ele insistiu em um evento extravagante em sua honra. – Só os diamantes da alto quilate servem para minha esposa – disse Constantin, enquanto ela olhava no espelho para o reluzente mimo, frio e duro em sua pele. Ela imaginou que a motivação de tal presente fosse uma declaração de sua riqueza. – O colar deve ter custado uma fortuna. Eu não me sentia bem usando algo tão valioso. – Por que você não é honesta e diz que não queria o colar nem outras joias e roupas que comprei? Já que, embora aceitasse feliz presentes de aniversário dos amigos, odiava qualquer coisa que eu desse – Constantin grunhiu. – Você me acusou de ser distante, mas quando eu tentava me aproximar, você me afastava. – Eu não queria presentes, eu queria... Isobel sentia-se frustrada. Constantin não conseguia entender o desapego dela por coisas materiais. – Eu queria que você se interessasse em mim como pessoa. Queria que nosso casamento fosse uma parceria de iguais, mas você pensava que eu ficaria contente se recebesse presentes caros, e esqueceria todo o resto, como ver meus amigos e tentar seguir carreira na música. Seu ressentimento e sua infelicidade aumentaram até que a única solução foi deixá-lo. – Tudo tinha que ser do seu jeito, Constantin. – A acusação dela era amarga. – Minhas esperanças e meus sonhos não contavam. Você me lembrava meu pai. Minha mãe era uma pianista maravilhosa, e anos atrás ela teve a oportunidade de tocar profissionalmente em uma orquestra, mas meu pai a persuadiu de que ela não era boa o bastante. Disse que ela deveria continuar dando aulas de piano e não desistir do trabalho por causa de um sonho tolo. – No seu caso, você não tinha necessidade de trabalhar. Eu lhe proporcionava um bom estilo de vida. Isobel inspirou fundo, tentando se controlar. – Isso mostra o quão pouco me conhece. Não queria ser sustentada. Era e é importante para mim que eu garanta meu próprio sustento, sinta-me independente... – Seu desejo por independência não ajudou em nada nosso casamento.
– Nosso casamento não tinha como ser ajudado. Depois que perdemos nossa bebê, não havia mais nada que nos mantivesse juntos. – Ela virou-se e teve um vislumbre da dor nos olhos dele, mas rapidamente ele baixou os cílios e escondeu suas emoções. – Admito que me sentia desconfortável quando você me dava presentes caros. Eu me sentia como a Cinderela. Eu era a pobre secretária que se casara com um bilionário. – Ela mordeu o lábio. – Quando anunciamos nosso noivado, sua assistente, Julie, comentou na frente de muitas pessoas no escritório que eu devia ter planejado a gravidez para que você se casasse comigo. – Por que deu importância para o que ela disse? Você sabia tão bem quanto eu que a culpa da sua gravidez era minha. Você disse que não tomava pílula. Era minha responsabilidade usar proteção, mas fui um tanto descuidado. Isobel lembrou-se de quando fizeram amor no chuveiro. Somente após ver o resultado do teste de gravidez foi que ela se lembrou que Constantin não havia usado proteção daquela vez. Sentiu-se nauseada só de pensar em contar ao pai que seria mãe solteira. – Julie estava certa quando disse que você só se casou comigo porque engravidei. Quando ela falou aquilo tudo no escritório, me senti humilhada. Durante a maior parte da minha infância, meu pai viveu desempregado. Ele se machucou num acidente na mina de carvão, e não recebeu a indenização que lhe era devida. Os ferimentos limitavam o tipo de trabalho que ele podia fazer, então nossa família vivia com os benefícios do governo. Minha mãe recebia uma pequena renda pelas aulas de piano, mas eu sabia que meus pais se esforçavam para fazer o dinheiro durar todo o mês. – Ela soltou um suspiro. – As crianças na escola podem ser cruéis. Eu era chamada de parasita, embora não fosse a única. Era assim que os alunos de famílias mais abastadas chamavam aqueles que dependiam da ajuda federal. Eu tinha vergonha, e quando saí da escola, jurei que sempre trabalharia e seria independente. Talvez fosse uma questão de orgulho, mas estava determinada a nunca aceitar nada de ninguém. – Certamente isso não incluía presentes do seu marido, não? Eu gostava de lhe comprar presentes. Sentia prazer ao vê-la em belas roupas e escolhia as joias que achava que combinavam com você porque esperava vê-la feliz com isso. Mas você agia como se eu a tivesse insultado. – Eu não queria que você achasse que eu tinha me casado com você por dinheiro. – Ela viu a incompreensão nos olhos dele. – Eu não fazia parte do seu mundo. – Você podia achar isso, mas eu, com certeza, não. Ali Constantin percebeu que Isobel fora profundamente afetada por sua infância e pela situação financeira de sua família, mas ele não sabia que ela era sensível à opinião de outras pessoas que achavam que se casara com ele por dinheiro. Definitivamente, Isobel não era esse tipo de mulher. – Como está a sua dor de cabeça? – perguntou-lhe ele. – Passou por completo. As horinhas que dormi no avião fizeram maravilhas. – Se quiser, podemos sair para jantar. Nunca achei que você tivesse se casado comigo pelo dinheiro, Isabella. E, ao contrário do que falou quando foi me ver em Londres algumas semanas atrás, não foi sua gravidez o que me motivou a casar com você. Isobel ficou pasmada e silenciosa com a declaração enigmática de Constantin, e, enquanto ele saía do quarto, pensou: “Será que me atrevo a acreditar nele?”
CAPÍTULO 8
– TRATTORIA PEPE! – Isobel sorriu ao reconhecer a charmosa trattoria na esquina de uma pequena piazza, que raramente era descoberta por turistas. Constantin havia lhe mostrado uma das várias joias ocultas de Roma quando eles moravam juntos, e aquele era seu lugar predileto para degustar uma boa comida romana tradicional preparada por especialistas. – Você me trouxe aqui na primeira vez em que visitei Roma. – A marca registrada do Pepe, a porchetta servida com ervas, azeitonas e mozzarella, ainda é o melhor prato que se pode encontrar em Roma, na minha opinião – disse Constantin, conduzindo-a para dentro do minúsculo restaurante. O próprio Pepe deu as boas-vindas, cumprimentando Isobel como se fosse um parente que não via há tempos, beijando-a nas duas bochechas enquanto falava com ela principalmente em italiano, com estranhas palavras em inglês no meio. – Sono lieto di incontrarvi di nuovo. Fico feliz de encontrá-lo de novo – respondeu ela quando Pepe finalmente parou para respirar. A conversa continuou por vários minutos antes de Pepe voltar para a cozinha. Um jovem e atraente garçom veio anotar os pedidos e flertou escandalosamente com Isobel, até que viu o brilho de aviso nos olhos de Constantin e bateu em retirada. – Estou impressionado com sua fluência em italiano – disse ele a Isobel, num tom seco, quando ficaram sozinhos. Ela deu de ombros. – Parecia-me vergonhoso não continuar com as aulas que comecei quando estávamos juntos. O garçom voltou com os primeiros pratos e demorou-se olhando para Isobel, antes de uma única palavra de Constantin fazer com que saísse correndo dali. Ela franziu o cenho. – Por que você foi rude com o garçom? Ele só estava sendo amigável. – Se ele fosse um pouco mais amigável, teria feito amor com você em cima da mesa. – Constantin cerrou o maxilar enquanto lutava para controlar a quente onda de possessividade que o inundou quando o rapaz sorriu para Isobel. Sentiu um ardente desejo de rearranjar as belas feições dele usando seu punho fechado. – Talvez o serviço corresse mais rápido se você não flertasse com os funcionários do restaurante. – Eu não estava flertando com ele! Você está sendo ridículo!
Constantin tomou um longo gole de vinho. – Não é de se surpreender que você chame a atenção de outros homens. Você é bonita. Mas não é só sua aparência que a torna notável, é algo mais. Você era bela quando a conheci, mas também dolorosamente tímida. Ficava ruborizada sempre que eu falava com você, e agora tem um ar de autoconfiança que a maioria dos homens acharia inegavelmente atraente. Isobel teve vontade de perguntar se ele se incluía entre esses homens. – Adquiri mais confiança. Precisei superar minha timidez quando a banda ficou famosa e eu tinha que cantar na frente de uma grande plateia. – Ela lembrou-se de que na primeira vez em que esteve ali com Constantin, ficou tão nervosa que, desajeitada, derrubou sua taça de vinho. – Quando o conheci, eu não passava de uma auxiliar de escritório que sonhava em ser uma cantora de sucesso, mas que não acreditava realmente que isso fosse acontecer. Quando engravidei, meus planos para o futuro ficaram centrados em ser mãe e nada mais parecia tão importante quanto isso. Porém, depois que perdemos Arianna, eu me senti... irrelevante. Eu não era mãe e sentia, pela distância que aumentava entre nós dois, que eu não atendia a suas expectativas de uma boa esposa. Nós dois sabíamos que nosso casamento não estava dando certo. Lidávamos de formas diferentes com a perda. Eu queria conversar sobre Arianna, mas você se retraía, e eu não fazia ideia do que você estava sentindo... nem pensando. – Então você se voltou para os seus amigos que conhecia desde quando era criança – disse Constantin, sabendo que não fora capaz de dar o apoio de que ela precisava. Para ele, era mais fácil trancafiar e ignorar suas emoções, como fez quando sua mãe morreu; porém, ao optar por esse caminho, também ignorou a necessidade de Isobel de que vivenciassem juntos o luto por Arianna. – Despejei meus sentimentos nas canções que escrevi e encontrei um pouco de conforto tocando piano e criando música. Quando me mudei para Londres com o restante da banda, tocava em pubs, mas parei de me apresentar depois que me casei com você. Eu não achava que nos tornaríamos famosos quando começamos a nos apresentar de novo, era só para tirar a minha cabeça da perda do bebê, mas o produtor de uma gravadora descobriu a Stone Ladies e as coisas aconteceram rapidamente. Quando a gravadora nos ofereceu um contrato, foi a chance de termos a carreira musical pela qual ansiávamos desde que éramos adolescentes. O sonho estava se tornando realidade. Eu tinha uma oportunidade de ser alguém por mim, não filha, nem esposa, mas eu, uma garota de lugar nenhum que de repente era uma artista reconhecida ganhando mais dinheiro do que jamais achou que fosse ganhar. Constantin franziu o cenho. – Você era casada com um bilionário. Não precisava ganhar dinheiro para viver. – Sim, eu precisava – disse Isobel, feroz. – Para mim, era importante trilhar meu próprio caminho no mundo. Ser uma cantora profissional me deu um senso de orgulho. Eu queria que meu pai sentisse orgulho de mim, embora não tenha certeza de que ele, em algum momento, sentisse isso. Eu... eu também esperava que você pudesse ficar mais interessado em mim se eu tivesse uma carreira de sucesso – ela admitiu. – As mulheres que encontrávamos em eventos sociais, as esposas de seus amigos, todas eram sofisticadas e tinham boa educação. Eu sentia como se não fosse capaz de competir com elas. – Eu jamais quis que você competisse com elas. Eu estava feliz com o jeito como você era. – Se isso era verdade, por que você se tornou tão frio comigo? A verdade é que você não se orgulhava de mim como esposa e não havia roupas nem joias de grife que me transformassem
numa glamourosa marchesa. Assim como o seu grande feito é ter se tornado o CEO bemsucedido da De Severino Eccellenza, o meu é fazer parte de uma banda de sucesso. Mas minha carreira foi um dos motivos pelos quais nos afastamos. – Nós não nos afastamos. Você caiu fora! De repente, Isobel perdeu o apetite. Parecia que Constantin também não estava mais com fome porque chamou o garçom e pediu a conta. Voltaram silenciosos para a cobertura, ambos absortos em seus pensamentos. Constantin era assombrado pelo trauma de ter testemunhado o acidente fatal de seu pai e sua madrasta e a terrível suspeita de que Franco poderia ser o responsável pela tragédia. Desde aquele dia terrível, evitava relacionamentos que exigissem algum envolvimento emocional e focara sua energia e paixão na empresa. Mas seu tio estava ameaçando fazer de seu primo Maurio o chairman da DSE. Quando pediu a Isobel para dar outra chance ao casamento deles, estava unicamente motivado para garantir o cargo. Olhando para trás enquanto caminhavam lado a lado, notou os olhares de admiração que ela atraía dos homens e reconheceu que suas prioridades haviam mudado. Isobel olhou para a lua cheia, suspensa como um imenso disco num céu índigo. Era a primeira vez em meses que ela caminhava pelas ruas sem olhar por cima do ombro para ver se algum perseguidor a observava. A polícia ainda não havia prendido David, mas ela se sentia capaz de relaxar quando estava em Roma com Constantin. Embora não tenha se sentido muito relaxada quando ele envolveu sua cintura com o braço ao passarem por um grupo de rapazes. O contato próximo com o corpo masculino evocava lembranças de tempos mais felizes... – Gostaria de tomar um drinque antes de dormir? – ele perguntou quando entraram na cobertura. – Não, obrigada, vou direto para a cama. – Isobel não conseguia olhar nos olhos dele quando sua mente estava cheia das imagens de ambos fazendo amor. – Tomara que amanhã tenhamos notícias da polícia britânica dizendo que prenderam David. Vou poder voltar para casa e, assim que o divórcio estiver finalizado, estaremos livres um do outro. – É isso o que você realmente deseja, Isabella? – Sim. Admito ter pensado que talvez houvesse uma chance de voltarmos a ficar juntos, mas nossa conversa essa noite provou que nossas diferenças são grandes demais. – Ela desviou-se dele antes que Constantin visse as lágrimas em seus olhos. – É como você disse, Constantin. Não temos por que viver no passado. Precisamos seguir em frente, no nosso caso, seguir caminhos separados. ESTAVA ACONTECENDO de novo. Ele havia passado menos de 24 horas na companhia de Isobel e sua resolução de manter distância dela mostrava-se ameaçada. Engoliu um bom gole do uísque e cogitou seriamente a hipótese de beber a garrafa inteira na esperança de que fosse embotar a dor em seu âmago. Isobel era a única mulher que ele conhecia que preferia rosas a diamantes. Ele lembrou-se da história que ela havia contado sobre o pai e finalmente entendeu porque era tão independente.
O ciúme é uma emoção venenosa, intoxica a alma como um verme vil. Era um segredo vergonhoso que ele estava determinado a esconder. Pela segurança dela, Constantin tinha que controlar o monstro que estava convencido de ter herdado do pai. Dio, essa noite, no restaurante, ele quis matar o garçom que havia flertado com ela! Foi assim que seu pai se sentiu quando sua bela e jovem esposa sorria para outros homens? Constantin visualizou o rosto sorridente de sua madrasta. Ele foi para a Casa Celeste nas férias escolares e passou todo o verão tendo sonhos eróticos com ela. Seu pai notou que ele vivia atrás de Lorena, que nem um cachorrinho apaixonado, e a briga foi feia. Constantin nunca havia visto Franco tão enraivecido quanto naquele dia. Mais tarde, ele ouviu a discussão entre os dois na varanda. Santa Madonna! Será que essas imagens nunca sumiriam da sua mente? Constantin terminou de beber seu drinque, e viu quando Isobel foi para a varanda. Ficou hipnotizado quando a brisa moldou a longa camisola branca de seda junto a seu corpo esguio. Ela era etérea ao luar, e tão adorável que a dor que sentia por dentro se intensificou. Quando ela inclinou-se mais para a frente na varanda, uma visão do passado lanpejou em sua mente... Lorena caindo... e o grito dela ecoando em sua cabeça. – Saia daí! – A calma do ar aveludado da noite foi estilhaçada pelo grito de Constantin. Alarmada, Isobel girou e soltou um grito de medo quando ele a segurou pela cintura e a ergueu do chão. – O que você está fazendo? – O que eu estou fazendo? Mio Dio, o que você estava fazendo inclinando-se daquele jeito no corrimão da varanda? – Isobel notou que a mão de Constantin tremia e que ele empalidecera. Por alguns segundos, viu o terror nos olhos dele, antes de Constantin afastar-se e servir-se da garrafa de uísque, virando-a de uma só vez. – Eu estava tentando ver melhor as fontes, Constantin... o corrimão é bem alto. Eu não ia cair. Constantin voltou-se para Isobel, que ficou aliviada ao vê-lo menos pálido, e, para sua surpresa, ele parecia quase envergonhado por seu estranho comportamento. – Acho que minha reação foi exagerada. É só que eu odeio altura. – Você odeia altura e mora numa cobertura com varanda... – Não é engraçado – disse ele, irritado. – Ah, Constantin, é um pouco – disse Isobel, rindo. – Você deve ter uma das melhores vistas de Roma, mas tem medo de aproveitá-la. – Ela riu mais. – Essa é a emoção mais humana que você já demonstrou. Constantin cerrou os olhos e tentou bloquear as lembranças que eram como nuvens negras em sua mente. Constantin tinha 17 anos e estava passando o verão na Casa Celeste. Ele viu o pai e a jovem e bela segunda esposa de Franco na varanda. Ele ouviu a voz áspera do pai e os tons agudos de Lorena. Lá embaixo, no quintal, notou que eles discutiam de novo. Durante anos ele não foi capaz de lembrar quem se movera primeiro, seu pai ou Lorena. Seu coração encheu-se de medo quando viu Lorena caindo. Jamais esqueceria o som daquele grito. Instantes depois, seu pai caiu também. Tudo parecia estar acontecendo em câmera lenta, mas deve ter sido coisa de segundos. Ainda bem que havia fechado os olhos para não ver o impacto dos corpos caindo. Durante anos ele havia bloqueado os detalhes daquele dia, até que seus pesadelos revelaram exatamente o que aconteceu.
– Certamente que não, cara, eu nunca deixei de reagir como um homem normal quando estou com você. Isobel percebeu tardiamente que ele estava furioso com as provocações dela. – Sinto muito – murmurou ela, mas seu pedido de desculpas veio tarde demais. O clima entre eles tremia com a tensão acumulada, até que esta se tornou uma força explosiva. Ele segurou-a e arrastou-a para junto de si. – Será um prazer demonstrar que tenho todas as reações de um ser humano normal, mia bela. Sem lhe dar uma chance de responder, ele levou sua boca junto à dela, beijando-a selvagemente. Constantin pregou as mãos nas nádegas de Isobel, declarando sua audácia. Ela sentiu o calor do toque dele e ficou ofegante enquanto ele esfregava sua ereção nela, forçando sua pélvis a entrar em contato com ela. Ele não lhe deu chance de apresentar objeções, beijandoa com um erotismo que liquefazia seus ossos. A fome que eles tinham um pelo outro sempre fora uma força motriz naquele relacionamento, e por mais que seu bom senso tentasse impedir a loucura de seu corpo, que o reconhecia como mestre, ela era de boa vontade uma escrava das sensações deliciosas que ele lhe proporcionava com as mãos e a boca. Ele trilhou o pescoço de Isobel com os lábios, cada beijo fazendo com que uma onda de choque passasse por ela, que arqueou o pescoço e cedeu ao prazer hedonista, intensificado quando ele baixou as alças da camisola do ombro dela e lhe afastou o tecido de seda dos seios. Isobel sabia que deveria fazer com que ele parasse, mas a sensação era tão boa... a necessidade foi ficando tão ardente que ela pressionou os quadris junto à ereção dele. Constantin grunhiu algo junto a sua boca, arrancou sua camisola, deixando-a nua. Ela soltou um leve murmúrio de vergonha quando ele deslizou a mão por entre suas pernas e sorriu ao descobrir o calor úmido de sua excitação. – Parece que suas reações humanas também estão boas, tesorino. Ela cerrou os olhos para bloquear a expressão cínica dele. – Constantin... não faça isso! Provocá-la por sua fraqueza por ele era ruim, mas o uso casual da palavra afetuosa que ela pensava significar que ele se importava com ela era de partir o coração. Ele a segurou pelo queixo e ergueu seu rosto. – Lágrimas, Isabella? Uma expressão de dor passou pelo rosto dele. Ela parecia frágil e dolorosamente vulnerável, e os hematomas em seus braços eram um sombrio lembrete de que escapara por pouco do homem mentalmente perturbado que se tornara obcecado por ela. – Você honestamente acredita que eu a machucaria? – Eu sei que você estava tentando me proteger quando me viu na varanda. Sei que estou segura com você. Santa Madre! Ele não queria pensar no passado e em todos aqueles mistérios. O que ele queria, do que precisava, era perder-se na doce sedução do corpo de Isobel. Beijá-la e senti-la retribuir seus beijos, acariciar sua pele sedosa e sentir suas mãos em seu corpo enquanto ela o levava ao êxtase. Isobel soltou um suspiro partido quando Constantin procurou por sua boca de novo, porém, dessa vez, a paixão dele trazia também uma ternura suplicante que estilhaçava a alma dela. Ele era tudo. O amor de sua vida.
Ele passou os lábios pela clavícula dela e emitiu um som abafado, quase como se ele mesmo sentisse dor ao beijar aqueles hematomas. Ela sentiu um calafrio de prazer na espinha enquanto ele acariciava seus seios, antes de sugar seus mamilos. Isobel cerrava os olhos e cedia por completo à magia sensual dele. A realidade se esvaneceu e foi substituída por outro cenário em que apenas ela e Constantin existiam. Ele jogou-a na cama e ela o ficou olhando se despir. O corpo dele era como uma obra de arte esculpida, só que, ao contrário das estátuas, sua pele era cálida sob seus dedos. – Está mudando de ideia, tesorino? – murmurou ele. – Dois anos é muito tempo... e estou sem prática... – Você não teve mais ninguém? – Não. – Eu também não. Isobel ficou chocada. – Você quer dizer que não... em dois anos? – Estávamos separados, mas você era... você é minha esposa. Não é de se admirar que ele esteja tão excitado, sussurrava uma voz na cabeça de Isobel. – Acredite em mim – disse ele, num tom seco. Apesar de todo o tempo passado, Constantin tinha plena lembrança de como agradá-la, sabia o exato momento em que ela suplicava pelo dedo dele deslizando para seu íntimo, depois dois, movendo-os numa dança implacável até que Isobel soltou um grito rouco de deleite e desespero. Quando estava prestes a explodir, Constantin sentiu seu controle de ferro estilhaçar-se, deslizou as mãos sob as nádegas dela e penetrou-a com força, arrancando um ofego. – Dio, machuquei você? – Não, só que isso é tão bom... O sorriso tímido dela fez com que ele se lembrasse da primeira vez em que fizeram amor, quando o prazer ingênuo dela fez com que ele gozasse muito mais rápido do que pretendia. Seus corpos moviam-se em plena harmonia, numa montanha-russa sensual que ganhava velocidade, cada vez mais rápido, levando-os ao ápice e deixando-os por lá um momento antes da explosão, quando eles gozaram simultaneamente. Pouco depois, Constantin envolveu-a e aninhou-a em seu peito. As batidas regulares do coração dele aliviavam o nó de apreensão que Isobel tinha no estômago. Eles precisavam conversar, e ela não estava mais certa do que esperar da conversa. Será que Constantin havia feito amor com ela só para aliviar sua frustração sexual? – Constantin...? – Durma agora, tesorino – murmurou ele. Estaria ela imaginando coisas ou ele estava relutante em quebrar a onda langorosa? ISOBEL NÃO sabia por quanto tempo dormira, até ser despertada por um ruído. Saindo das brumas do sono, sua memória voltou. Ela havia feito sexo com Constantin. Por que as lembranças nunca pareciam uma boa ideia na manhã seguinte? Isobel viu o relógio acusar 4h. Constantin estava sentado na cama, respirando com dificuldade, como se tivesse corrido uma maratona. Ela colocou a mão no ombro dele, que deu
um pulo. – Dio! Isobel... eu não sabia que você estava acordada. – Ouvi um barulho. – Ela franziu o cenho quando uma lembrança surgiu em seu subconsciente. – Por que você estava gritando? – Derrubei a droga do jarro de água. Desculpe-me, cara, não percebi que estava xingando tão alto. Ela não acreditou muito naquela explicação. – Acho que ouvi você dizer “Ele queria matá-la”, ou algo do gênero. – Lembrava-se vagamente de ter ouvido aquelas mesmas palavras no passado. – Você ainda está sofrendo com pesadelos como aconteceu na Casa Celeste há dois anos? – Acho que você devia estar sonhando. Isobel franziu o cenho. – Não estava, não. Pensar se tornava cada vez mais difícil quando ele ficava esfregando o nariz no pescoço dela. Isobel tentou afastá-lo, mas, em vez disso, ergueu a mão para os ombros dele enquanto Constantin fazia uma trilha de doces beijos por seu pescoço e por seus seios. Ela ficou sem fôlego quando ele lambeu as pontas de seus mamilos. – Constantin... Um deles andou sonhando e Isobel tinha certeza de que não era ela, mas Constantin estava com a mão entre suas pernas e quando ele achou seu clitóris com dedos habilidosos ela soltou um gemido. Constantin abaixou a cabeça e substituiu os dedos pela boca, e instintivamente Isobel arqueou os quadris, e estremecendo antes do doce êxtase do orgasmo. Eram quase 6h e Constantin estava grato porque não teria como voltar a dormir agora, mas seu pesadelo fora tão vívido que ele suava frio só de se lembrar dos detalhes. Havia sonhado com duas silhuetas numa varada. Só que não na Casa Celeste, e sim ali, na cobertura. E não eram seu pai e Lorena, mas ele e Isobel. No sonho, Isobel balançava o cabelo, rindo enquanto o provocava, dizendo que preferia o belo garçom do restaurante e não ele. Basta! As provocações dela o encheram da raiva. Uma raiva violenta! Fervendo dentro dele como a lava saindo de um vulcão. Ele estirou a mão e então... ela estava caindo, caindo... Mio Dio! Foi apenas um sonho, Constantin disse a si mesmo. Isso não significava nada. Ele virou a cabeça e fitou o rosto de Isobel no travesseiro ao lado dele. Ela era tão bonita! Não deveria tê-la trazido até Roma. Apenas queria protegê-la enquanto David estava solto, mas talvez seu sonho fosse um aviso de que ela estava correndo muito mais perigo com ele.
CAPÍTULO 9
ISOBEL AFASTOU-SE de um ruidoso grupo de turistas do lado de fora da Igreja de Sant’Agnese in Agone e segurou o celular mais próximo a seu ouvido. – Desculpe, não ouvi direito. – Perguntei se você lembra de que fomos convidados para a festa de inauguração do novo hotel dos Bonuccis essa noite? A voz sexy de Constantin fez com que ela inspirasse antes de responder. – Não esqueci – disse ela num tom seco. Isobel estava em Roma fazia uma semana e aquele seria o quinto evento social ao qual eles iam. Quase não passavam tempo juntos. Constantin trabalhava o dia todo e eles saíam à noite. Sempre voltavam para a cobertura depois da meia-noite e, invariavelmente, ele parecia ter um motivo para não ir direto para a cama até que ela estivesse dormindo. Seria fácil pensar que ele a estava evitando. A antiga e insegura Isobel teria acreditado nisso. Em vez de tirar conclusões precipitadas, ela lembrou-se de que Constantin era o CEO de uma das empresas mais proeminentes da Itália e que socializar e fazer conexões era parte do trabalho dele. – Você deve receber uma entrega hoje... comprei um vestido para você usar essa noite. – Já foi entregue e é bem bonito, obrigada. – Você não ficou incomodada com isso? – Ela sentiu a surpresa dele com a pergunta. – Fico feliz que tenha gostado. Eu o vi na vitrine e imediatamente soube que seria perfeito para você. – Se chegar em casa a tempo, eu posso desfilar com ele só para você – murmurou ela. – Desculpe-me, cara, mas eu tenho uma reunião agendada. Você consegue estar pronta às 19h30? – disse ele, e desligou. – Cons... Alguma coisa que ela não entendia estava acontecendo. As poucas vezes em que haviam feito sexo foram incríveis para ambos. Constantin não tinha como fingir os gemidos de prazer que soltava quando a penetrava, nem era concebível que já estivesse cansado dela. Ela via o brilho selvagem nos olhos dele quando a olhava, mas por que não se juntava a ela na cama? Será que era pressão no trabalho ou alguma outra coisa? Eles não haviam conversado sobre o casamento, mas Constantin não negou à mídia italiana que estavam reconciliados, assim como havia várias fotos deles juntos nos jornais.
Constantin chegou em casa dez minutos depois das 19h, entrou no quarto e deparou com Isobel apenas de lingerie, arrumando-se para a festa. Ele ficou olhando para o conjunto preto de renda antes de murmurar algo incompreensível e entrar em disparada no banheiro. Já chega!, pensou Isobel. Quando seu viril marido agia como um tímido virgem, estava na hora de exigir algumas respostas. Constantin enrijeceu quando sentiu os braços dela envolvendo-o. Agora ele estava encrencado. Rijo era uma descrição perfeita para certa parte de sua anatomia. O murmúrio gutural dela só piorava a situação. Ele tentara evitá-la a semana toda. O pesadelo deixara-o intensamente assustado. Isobel era a única mulher que instigava ciúme doentio nele. Aquele garçom só havia sorrido para ela e Constantin teve fantasias de arrancar a cabeça do homem! Ele não queria sentir aquele ciúme maníaco e possessivo. Não queria sentir emoção alguma que fosse. Todas as vezes em que fazia amor com Isobel, pensava estar cada vez mais subjugado pelo feitiço sensual dela. Ele concluiu que a solução seria resistir à tentação do lindo corpo dela, mas... ele não conseguiu resistir e gemeu quando Isobel passou os dedos por sua barriga e suas coxas e ao longo de sua ereção. – Isa...bella – disse ele entredentes – , nós não temos tempo antes da festa. – A festa só começa depois das 20h. Você deve ter lido o horário errado no convite. De qualquer forma, tenho a sensação de que isso não vai levar muito tempo. Constantin sugou o ar com dificuldade quando ela se pôs de joelhos e substituiu as mãos pela boca. Madonna, como ele poderia lutar contra o desejo quando ela estava passando a língua pela ponta sensível? Somente um homem de gelo conseguiria resistir àquela bela, linda e ousada Isobel, mas o sangue dele estava fervendo. Quando ergueu-a nos braços, ela enganchou as pernas em volta da cintura dele enquanto Constantin a penetrava, o que quase os levou à loucura. Depois de uma semana de frustração sexual, a excitação primitiva entre eles era eletrizante. Ele levou-a a um orgasmo incrível que enviou ondas de um prazer indescritível pelo corpo dela. O clímax dele não foi menos espetacular, e o fez soltar um gemido selvagem antes de enterrar o rosto no pescoço dela enquanto seus corações batiam forte e em uníssono. Depois, Isobel precisou se apressar para ficar pronta. Por sorte ela estava bronzeada e não precisava de mais do que uma camada de rímel para definir seus cílios e um pouco de gloss corde-rosa nos lábios. – Você está estonteante – comentou Constantin baixinho quando ela se juntou a ele no lounge. – Este é um belo vestido. – Ela deu uma voltinha na frente do espelho e voltou um sorriso travesso para ele. – Tenho um presente para você. Ela entregou a ele uma caixa de couro preta com o distinto logotipo da DSE em relevo na tampa. O relógio de pulso de platina, aninhado numa almofada de veludo, era o mais prestigioso e mais caro da DSE, e um dos prediletos dele. – Você disse que seu relógio estava com defeito e achei que este poderia substituir o antigo. – Não sei o que dizer. Este é o primeiro presente que recebo desde os meus 8 anos. – Sem contar presentes de Natal e de aniversário, certo? – Meu pai não acreditava mais na celebração de feriados ou marcos pessoais depois que minha mãe morreu. Madre me deu um modelo de carrinho esporte naquele meu aniversário. O câncer
dela era intratável e ela morreu algumas semanas depois. Isobel ficou tocada com a emoção na voz dele. – Deve ter sido um tempo terrivelmente triste para você e seu pai quando sua mãe morreu... Uma expressão indefinível passou por um breve instante pelo rosto dele, mas Constantin deu de ombros e disse: – A vida continua. – Ele colocou o relógio no pulso. – Obrigado. É o melhor presente que já recebi. CONSIDERANDO QUE o único outro presente que ganhara havia sido um carrinho de brinquedo aos 8 anos, não era de se admirar que estivesse entusiasmado com o relógio. Isobel olhou de relance para o salão de bailes lotado do hotel cinco estrelas, todo reformado pela fabulosamente rica família Bonucci. A decoração era opulenta, e os convidados da festa de inauguração incluíam vários membros da elite social, não só de Roma, mas também de outros lugares da Europa. Era o tipo de evento que ela temia logo que haviam se casado, onde se sentia deslocada e convencida de que eles achavam que era uma esposa por interesse. Enquanto Constantin a guiava pelo salão e a apresentava aos outros convidados, ela notava que os modos deles ao cumprimentá-la não escondiam seus olhares especulativos. Isobel disse a si mesma que estava imaginando a frieza que sentia de um ou dois convidados, mas quando Constantin murmurou ao seu ouvido que avistara um parceiro de negócios com quem queria falar, ela teve que lutar contra a tentação de grudar no braço dele, como fazia no passado. Ela lembrou-se das inúmeras festas e eventos a que havia comparecido nos últimos dois anos; conseguia se virar sozinha em qualquer situação social. Ela não precisava de Constantin como muleta. Mas a vista de uma figura familiar cruzando o salão em linha reta até ela fez com que seu coração afundasse no peito. – Isobel! Devo admitir que não esperava ver você aqui essa noite. – Ghislaine Montenocci casara-se recentemente, e fotos de seu fabuloso matrimônio com um duque francês encheram as páginas de uma bem conhecida revista de celebridades. – Meu marido, o duc Alphonse de Cavarre, está logo ali – ela não perdeu tempo em dizer a Isobel, acenando para um homem de cabelo ruivo que parecia uns bons 20 anos mais velho do que ela. Isobel se perguntava se a alpinista social Ghislaine sentira-se atraída pelo título do marido. – Ouvi rumores sobre a reconciliação entre você e Constantin, mas não tinha acreditado nisso. Você deve estar tão aliviada por ele tê-la aceitado de volta. Ghislaine pode ter mudado de nome com seu casamento, mas, infelizmente, a personalidade dela continua a mesma, pensou Isobel, lembrando-se de quando havia se casado com Constantin e a mulher disse que ela garantira o almoço pela vida toda. Antes Isobel era insegura, mas agora sorriu com frieza. – Aliviada por quê? – Bem, tendo se casado com um bilionário, imagino que não ia querer perdê-lo... – Para falar a verdade, Constantin apoiou minha decisão de estabelecer a minha carreira durante os últimos dois anos. – Isso estava risivelmente longe da verdade, mas Isobel recusava-se a ser derrubada por Ghislaine. – Acho importante que as mulheres tenham aspirações e um propósito na vida, em vez de simplesmente serem esposas, você não concorda? – Isobel não pôde evitar uma leve sensação de vitória quando Ghislaine ruborizou. – Um casamento forte é aquele
em que ambos os parceiros são capazes de realizar seus sonhos. Admito que estou orgulhosa da minha carreira de sucesso. – E deveria mesmo. – A voz grave de Constantin fez com que Isobel desse um pulo. Seu coração também pulou quando ele envolveu sua cintura com o braço e abriu um sorriso sexy antes de dirigir-se a Ghislaine. – Isobel e a banda dela, Stone Ladies, são incríveis, não são? Estou incrivelmente orgulhoso da minha talentosa esposa. Ghislaine murmurou algo sobre juntar-se a seu marido e afastou-se deles. Isobel franziu o cenho para Constantin. – Você não precisava fingir que está orgulhoso de mim. Posso lutar minhas próprias batalhas – disse ela num tom seco. – Eu não estava fingindo. Estou orgulhoso de você, Isabella. Você não nasceu na riqueza e no privilégio, como eu ou Ghislaine. Tudo que você conseguiu foi através do seu talento, trabalho árduo e determinação. Isobel engoliu em seco. – Mas você se ressentia do tempo que eu passava tocando com a banda. Você culpava a minha carreira por nos afastarmos. Constantin fez uma careta. – Eu não entendia o quão importante a música era para você. Acreditava que você preferia passar um tempo com seus amigos em vez de ficar comigo, e lá no fundo eu sabia que não podia culpá-la por isso. Eu tive meus motivos para me afastar e agora vejo que você achava que eu a estava rejeitando. – Ele olhou ao redor do salão de baile lotado. – Aqui não é lugar para discutirmos nosso relacionamento, cara. Vou pegar um drinque para nós. Isobel ficou pasmada ao ouvi-lo dizer que sentia orgulho de sua carreira. A admiração dele significava muito para ela. Por muito tempo vivera à sombra do irmão mais esperto e sentia-se inútil e indigna do rico, belo e bem-sucedido homem com quem se casara. Agora ela sentia que estava em pé de igualdade com Constantin... mas será que era tarde demais para eles se tornarem parceiros para a vida toda? Eles perderam uma criança, e não havia mais obrigação nenhuma de continuarem casados. Então, por que mudaria de ideia em relação ao casamento, a menos que ele sentisse algo por ela? – Seu marido é um belo de um diabo! Eu me lembro que ele era um menino atraente, mas isso não é de se admirar nem um pouco, considerando-se que a mãe dele foi uma das modelos mais fotografadas de sua época. Isobel virou-se para Diane Rivolli, a mulher que havia se aproximado. Constantin havia apresentado as duas num jantar duas noites atrás, dizendo que Diane morava perto da Casa Celeste, às margens do Lago Albano. – Você conhecia a mãe de Constantin, Diane? – Eu a conheci quando ela ainda era Susie Hoffman. Nós trabalhávamos na mesma agência de modelos em Nova York, mas Susie era linda e tinha muito mais trabalhos do que quaisquer das outras meninas. – Diane deu de ombros. – Na verdade, conheci meu marido quando Susie me convidou para ficar na Casa Celeste depois que ela se casou com Franco de Severino. Acho que ela se sentia sozinha naquela imensa casa que mais parecia um museu do que um lar. Quanto ao marido dela... Diane fez uma pausa e Isobel ficou mais curiosa.
– O que é que tem o pai do Constantin? – Franco era frio. Eu tinha a impressão de que ele só se importava com Susie... mas ele a amava demais... se é que isso faz sentido, sabe? – Vendo a expressão confusa de Isobel, Diane tentou explicar. – Franco era obcecado por Susie. Ele não gostava que ela tivesse amigos, e embora meu marido e eu morássemos a uma curta distância, raramente éramos convidados para irmos à Casa Celeste. Nas poucas ocasiões em que fomos até lá, Franco sempre ficava irritado. Ele odiava que outros homens olhassem para a esposa. Acho que ele sentia ciúmes até do próprio filho. Susie adorava Constantin, mas, mesmo quando ele era bebê, parecia que Franco se ressentia do tempo que ela passava com ele. Eu peguei Franco olhando para Constantin uma vez com uma expressão tão estranha... como se ele odiasse a criança. Isobel ficou fascinada ao ouvir sobre a família de Constantin. Frequentemente se perguntava por que ele relutava em falar sobre sua infância. – Franco deve ter ficado devastado quando Susie morreu. – Se ficou, não deixou transparecer nada. No enterro dela, ficou lá na igreja como se fosse uma estátua fria, sem qualquer emoção no rosto. Achei ainda mais estranho que Constantin nunca tivesse chorado pela mãe. Ele parecia uma miniatura do pai, sem derramar nenhuma lágrima que fosse. Não o vi por anos porque Franco mandou-o para um colégio interno. Constantin devia ter uns 16 anos quando o pai se casou pela segunda vez. – Eu não fazia ideia de que Constantin teve uma madrasta. Ele nunca falou dela. – Deve ser porque ele era apaixonado por Lorena. – Constantin era apaixonado pela madrasta? Diane deu de ombros. – Por que não seria? Lorena era muito mais nova do que Franco. Ela devia ter uns 20 e poucos anos, era muito atraente... e sabia disso! Obviamente se casou com Franco por dinheiro. Ela gostava de socializar e frequentemente convidava a mim e ao meu marido para festas na piscina, embora Franco claramente odiasse visitas. Imagino que não dê para culpar Lorena por querer divertir-se com Constantin, com o marido que tinha. Ela virou a cabeça do menino, flertando com ele e dando-lhe atenção. – Diane franziu o cenho. – Havia algo de cruel no jeito como Lorena deliberadamente encorajava a paixonite de Constantin por ela, e o modo como jogava pai contra filho e vice-versa. Franco sentia ciúmes da segunda esposa da mesma forma como sentira de Susie. A devoção canina de Constantin a Lorena criou muitos atritos ente ele e Franco. Não sei o que teria acontecido se a situação tivesse continuado... mas então Franco e Lorena morreram naquele acidente terrível. Pobre Constantin, além de testemunhar o que aconteceu... ainda deveria ter se tornado, automaticamente, chairman e CEO da DSE quando o pai morreu, mas, como ainda não tinha 18 anos, foi seu tio Alonso quem assumiu o controle da empresa. Constantin foi subindo por meio de seu trabalho até ser CEO, e não é segredo algum que ele quer o controle completo da DSE. – Diane tomou um gole de champanhe antes de continuar. – Creio que Constantin faria qualquer coisa para conseguir isso. A cabeça de Isobel estava girando com tudo o que Diane havia dito, e apenas vagamente ela registrara o fato de que Constantin queria ser chairman da DSE. Por que não lhe contou que o pai e a madrasta morreram num acidente quando ele era novo? A tragédia deve ter causado um impacto profundo nele, especialmente se estivesse apaixonado por Lorena. Seria por isso que ele se comportara de um jeito estranho quando a levou à Casa Celeste? Havia ficado frio e se afastado por ainda estar apaixonado pela madrasta?
– O que realmente aconteceu com o pai e a madrasta de Constantin? Diane voltou um olhar estranho para ela. – Ele não lhe contou? – Ela pareceu ruborizar-se quando o avistou cruzando o baile na direção delas. – Provavelmente já falei demais. Por que você não pergunta a Constantin?
CAPÍTULO 10
– A CASA está fechada e sem empregados praticamente porque quase nunca vou lá. Não entendo por que você quer ir até a Casa Celeste. – Já lhe disse o motivo. Quero visitar o túmulo da Arianna. Não preciso de empregados. Sou perfeitamente capaz de arrumar uma cama e preparar refeições. – Não entendo... – Sua falta de entendimento revela muita coisa – ela o interrompeu. – Obviamente você conseguiu esquecer nossa filha, mas eu não. Nem quero. Gostaria de passar um tempo na capela onde ela está enterrada. Na noite anterior, quando voltaram para casa depois da festa, ela havia tentado falar do passado, especialmente sobre os assuntos que Diane lhe revelou acerca do acidente com o pai e a madrasta dele na Casa Celeste, mas Constantin se recusou a discutir e distraiu Isobel tomando-a nos braços e sussurrando em seus ouvidos exatamente o que faria com ela assim que tirasse seu vestido e sua lingerie rendada. Avisou ainda que seria inútil resistir. Mas Isobel não tinha nenhuma intenção de resistir a ele e esqueceu completamente o assunto quando Constantin começou uma trilha de beijos pelo corpo dela abaixo até uma carícia íntima com a língua que resultou num delirante orgasmo. Quando fizeram amor na noite passada, ela se sentiu mais próxima dele do que nunca, acordando em seus braços naquela manhã, otimista de que teriam um futuro juntos, mas seu pedido para que fossem à Casa Celeste abalou o clima de felicidade dos dois. – Nunca é uma boa ideia revisitar o passado. – É assim que você lida com as coisas, não é? Fingindo que nunca aconteceram e recusando-se a falar sobre elas. Você vai continuar fugindo para sempre, Constantin? Nossa bebê sempre terá um lugar especial no meu coração. Vou à Casa Celeste, com ou sem você. Constantin cerrou o maxilar. Ele não sabia como lidar com essa confiante Isobel que não temia discutir com ele. Havia mudado muitíssimo nos dois anos em que ficaram separados, embora sua sensualidade e generosidade quando faziam amor a separasse de quaisquer das amantes anteriores que ele teve. – Não posso ficar longe do escritório agora. Não quero que você vá até a casa sozinha enquanto David ainda é uma ameaça à sua segurança.
– A polícia inglesa já o prendeu. Ele está recebendo tratamento psiquiátrico. Fiquei sabendo disso ontem e ia lhe contar, mas... estávamos distraídos. – Humm... distraídos é uma forma de descrever o que estávamos fazendo – murmurou Constantin. Ele deu a volta na mesa do café da manhã e ergueu-a da banqueta, abraçando-a de forma que sua pélvis ficasse em contato ardente com a dela. – Por que não voltamos para a cama e nos distraímos um pouco mais, mia bella? – Ficava difícil pensar direito quando os lábios dele faziam uma trilha sensual ao longo da clavícula dela. Porém, Isobel reconheceu as táticas dele e recusava-se a ser distraída e demovida de sua determinação de ir até a Casa Celeste. Ela queria, sim, visitar o túmulo da bebê, mas também sentia que havia segredos no lar ancestral dos De Severino que precisava descobrir se quisesse ter uma chance que fosse de entender seu enigmático marido. – Conheço esse seu jogo, Constantin. – Soltou-se dele e arrumou a saia. – Não vai funcionar. Ou você vem comigo à Casa Celeste, ou vou sozinha, antes de pegar o próximo voo de volta à Inglaterra. Constantin olhou frustrado para ela. – Isso é chantagem! Ele lembrava-se de, recentemente, ter feito essa mesma acusação a seu tio. DE REPENTE, Constantin decidiu que tinha que dar vários telefonemas urgentes de negócios e passou a tarde toda em seu escritório, de modo que eles só foram para a Casa Celeste no início da noite. Não se mostrou comunicativo durante a viagem, e quando o carro passou pelos portões da casa, ele apertou tanto o volante que os nós de seus dedos ficaram brancos. Diane havia sugerido a Isobel que perguntasse a ele sobre o acidente que resultou na morte de seu pai e de sua madrasta, mas não era tão simples quanto parecia, ela pensou, ao olhar de relance para Constantin, cuja expressão desgostosa não a encorajava a lhe sondar o passado. Porém, ela estava convencida de que eles somente poderiam ter um futuro juntos se conseguisse encontrar a chave para destrancar as emoções dele. Os pensamentos dela mudaram de rumo quando eles se aproximaram da frente da casa, que era grandiosa por dentro e por fora. Mas Diane estava certa quando disse que a Casa Celeste era mais um museu do que uma casa, reconheceu Isobel ao passar pela fileira de retratos dos ancestrais de Constantin. Ela mesma pensou isso quando esteve lá no passado. Os lençóis que cobriam os móveis aumentavam a impressão de que aquela era uma morada de fantasmas. Isobel estremeceu. Foi ali que perdera sua filha. Certa noite, havia se sentido violentamente nauseada depois do jantar e o médico chamado por Constantin achou que podia ser por causa da comida, mas as dores pioraram, e quando ela começou a sangrar, foi levada até o hospital, mas nada pôde ser feito para salvar a bebê. Antes de deixarem Roma, Constantin lembrou Isobel de que nunca era uma boa ideia revisitar o passado. Ela se perguntava que memórias encheriam a mente dele quando ia à Casa Celeste. Piscando para conter as lágrimas, ela foi até o quintal atrás da casa e encontrou-o sentado num muro baixo que cercava uma fonte ornamental.
– Por que você não me contou que seu pai e a segunda esposa dele morreram aqui na Casa Celeste? – Imagino que Diane tenha fofocado com você – disse ele, tenso. – Sem dúvida ela encheu sua cabeça com contos macabros. – Ela não me disse nada, exceto que eles tinham morrido num acidente e que você testemunhou a morte deles. – O frio brilho nos olhos de Constantin era um aviso de que queria que Isobel deixasse esse assunto para lá, mas a determinação dela em resolver os problemas entre eles fez com que o pressionasse para obter uma resposta. – O que aconteceu realmente? – Você tem certeza de que quer saber? Cuidado, Isobel. Seria melhor que alguns segredos permanecessem ocultos. Ela não sabia como reagir diante daquela frase, mas, depois de uns instantes, deu de ombros e ele começou a falar, a voz desprovida de emoção. – Meu pai e minha madrasta caíram daquela varanda ali e morreram na hora. Ambos. Creio que isso foi misericordioso. Ela suspirou, horrorizada. – Você viu isso acontecer? – Sim. Não foi nada bonito, como você deve imaginar. – O tom dele era o mesmo que alguém usaria se estivesse falando sobre algo tão banal quanto o clima. Isobel ficou sem palavras, chocada não só com os detalhes do acidente, mas também com a frieza de Constantin. – Que coisa horrível de se ver. Você deve ter tido pesadelos depois... – Só então que ela se lembrou de como o ouviu gritar durante a noite que passaram na Casa Celeste. Não era de se admirar que os gritos dele fossem tão terríveis se ele sonhava com tal horror! – Você deveria ter me contado. Pelo menos eu teria entendido porque você não gostava de vir até aqui. – Ela mordeu o lábio. – Diane disse que você era apaixonado por Lorena. – Mio Dio! Aquela mulher deveria ter a língua cortada! Ela não sabe de nada e não tem nenhum direito de fazer acusações difamatórias contra mim! Ele empalideceu, e a mão que passou pelo cabelo tremia. Era a primeira vez que ela o via tão emocionado, sem seu ar de desprendimento frio. Seus olhos brilhavam com raiva. – Eu avisei você de que era melhor deixar o passado morto e enterrado! – Constantin... Ela o ficou olhando enquanto ele saía por um portão que dava para a densa floresta que cercava a casa, habitada por javalis. Porém, um javali provavelmente não seria tão perigoso quanto o humor de Constantin agora... sua reação violenta quando ela mencionou a jovem esposa do pai apontava para a possibilidade de que ele realmente fosse apaixonado por Lorena. A atmosfera era estranha onde Franco e Lorena morreram. O sol que afundava no horizonte estava vermelho como sangue e lançava longas sombras sobre a casa. Apesar do ar cálido da noite, Isobel sentia calafrios e resolveu voltar para dentro, mas não havia conforto algum nas salas friamente elegantes. Ela pegou no carro a comida que eles tinham trazido e levou-a para a cozinha, forçando-se a comer um pouco e guardando o restante na geladeira para Constantin. Ele ainda não havia voltado quando ela arrumou a cama no quarto principal, antes de escolher um dos quartos de hóspedes para si, evitando aquele em que ficara dois anos atrás.
Ainda havia muitas coisas que Isobel não entendia, apesar da declaração de hoje. Seu casamento era tão cheio de segredos... e ela não estava mais próxima de descobrir o que Constantin sentia por ela, se é que ele sentia alguma coisa. Devia estar dormindo profundamente, pois não ouviu quando Constantin entrou mais tarde no quarto, ficando por um bom tempo perto da cama, com uma expressão quase torturada no rosto enquanto a via dormir. Quando Isobel abriu os olhos, a luz brilhante do sol enchia o quarto e imediatamente viu Constantin sentado numa das poltronas perto da janela. – Você está com uma aparência terrível. Conseguiu dormir? – Vamos voltar para Roma – disse ele. – Há algo de malévolo nesta casa. Ela assentiu, devagar. – Posso entender porque você pensa assim, mas nossa filha está aqui. Não vou embora antes de visitar o túmulo de Arianna. A MINÚSCULA capela particular, onde durante séculos os membros da família De Severino foram batizados e enterrados, ficava um pouco afastada da casa. Quando Isobel estivera lá antes, no dia do funeral de Arianna, ela se sentia oca com o luto e completamente sozinha. Constantin a acompanhava, com sua falta de emoção, enquanto despediam-se de sua bebê. Isobel avistou um jardineiro idoso podando uma cerca-viva e aproximou-se dele. – As rosas são bonitas. Deve ter dado muito trabalho plantar tantas assim. Ele sorriu. – Foi Il marchese que plantou essas rosas para sua bambina. Ele vem com frequência aqui. Não à casa. Ele fica sentado aqui. – O velho apontou para o banco. – É um lugar de paz. Isobel entendeu. Os únicos sons ali eram o canto dos pássaros e os sussurros da brisa que agitava gentilmente o chorão. O jardineiro afastou-se, deixando-a sozinha para admirar as flores que desabrochavam. Todos os botões eram cor-de-rosa... para uma menina. Na imobilidade silenciosa do jardim, ela achou ter ouvido uma risada. Sua visão anuviou-se com as lágrimas e, por um instante, ela teve certeza de ver uma pequena silhueta ao longo do caminho. – Arianna! Ela virou-se, mas não havia ninguém ali. A dor em sua garganta tornou-se insuportável e ela afundou no banco, deixando as lágrimas caírem. – Eu sabia que era um erro vir até aqui. – A voz de Constantin, profunda como o oceano, soou perto. Isobel não viu que ele a seguira. – Eu sabia que você ia achar tudo isso muito doloroso. – Ele sentou-se no banco ao lado dela e puxou-a para seus braços, sem mais nada a dizer. Apenas a abraçou e fez carinho em seu cabelo enquanto ela chorava. Quando ergueu por fim a cabeça, Isobel disse: – Não estou chorando apenas por Arianna. Estou triste porque não sabia como a perda dela o havia magoado. Você criou este belo jardim em memória a ela, mas eu não fazia ideia de que você se importava... você era tão distante... contido e não emotivo. Eu precisava de você... eu gostaria que tivéssemos passado juntos pelo luto. Cheguei a pensar que você não queria nossa filha. Por que não me disse que estava triste também? – Não consigo explicar... – Por favor, tente, porque quero entender.
Ele não disse nada. – Diane me disse que você não chorou no funeral de sua mãe. Não entendo. Você tinha 8 anos e sei que a amava. – Meu pai me disse que eu não deveria chorar. Ele disse que choro era um sinal de fraqueza, e os homens da nossa família não eram fracos. – Foi por isso que seu pai não demonstrou emoção alguma no túmulo da sua mãe. Diane disse... – Obviamente Diane falou mais que a boca! Quando Constantin andava ali perto e ouviu Isobel chorando, a dor que sentiu era como se seu coração fosse rasgado. Seu primeiro instinto foi deixá-la vivenciar seu luto sozinha, como havia feito antes, mas algo o impelira para junto dela. Afinal, ela lhe perguntou se ele ficaria fugindo eternamente... Dio! Desde menino, ele acreditara que as emoções eram um sinal de fraqueza. Mas quem era o covarde? Isobel era valente e forte, honesta em relação a seus sentimentos. Ele era um homem crescido com medo dos altos e baixos emocionais que fazem parte da vida e que ele negava. – Diane não vi o que eu vi. – O que foi que você viu? – Vi meu pai chorando. Na noite em que minha mãe foi enterrada, ouvi barulhos estranhos vindos do escritório dele. Entrei e o vi rolando no chão como se estivesse em agonia. Nunca vi ninguém chorar daquele jeito antes. Eu era apenas uma criança... e fiquei assustado. Meu pai dissera que só homens fracos choravam. Ele ergueu o olhar, me viu e ficou com raiva, gritando para que eu fosse embora. Saí correndo até a porta, mas ele me chamou e me disse o quão cruel era o amor, que levava um homem ao supremo desespero e infortúnio. Constantin podia ouvir a voz do pai. Olhando de relance para Isobel, deparou-se com uma mistura de choque e empatia nos olhos dela. – No dia seguinte, ele voltou a ser o Franco frio de sempre. Nenhum de nós dois falou sobre o que aconteceu, mas eu senti que ele estava envergonhado porque eu o tinha visto tendo um colapso. Depois que ele me mandou para o colégio, quase não o vi mais, mas a lembrança dele chorando aos soluços e a percepção de que o amor reduzira meu orgulhoso pai a um homem partido permaneceu na minha cabeça. Fiquei assustado com o poder destrutivo do amor. Com 8 anos, aprendi a trancafiar minhas emoções dentro de mim. – Mas você se importava com nossa bebê. Você não conseguiu chorar por Arianna, mas plantou este jardim para ela. O coração de Isobel doía. Ela sentia-se tocada pela admissão de Constantin quanto a suas emoções trancafiadas, mas o jardim de Arianna era prova de que ele partilhava da mesma devastação que ela. Constantin partiu um botão de rosa que deu a ela antes de tomá-la em seus braços. – O que você está fazendo? – O que deveria ter feito dois anos atrás. Cuidando de você, tesorino. Vou lhe preparar um banho, o jantar... e depois vou fazer amor com você. – Você não pode me carregar pelo caminho todo até a casa... Mas foi exatamente o que ele fez! E depois encheu a banheira de água e colocou nela um punhado de cristais com aroma de rosas. Ele desabotoou a blusa de Isobel com mãos gentis. Depois tirou sua saia e a lingerie.
– Você é bonita. No momento em que a vi, sabia que estava encrencado. Ele virou-se para sair do banheiro, mas ela pôs a mão no braço dele. – Depois que perdi o bebê, fiquei com raiva quando você sugeriu que fizéssemos amor, porque achei que isso fosse prova de que você não ligava. – Eu não sabia de outra forma para chegar até você. A cama era o único lugar onde entendíamos perfeitamente as necessidades um do outro, e eu queria mostrar a você o que não conseguia dizer com palavras. Quando você me afastou, eu disse a mim mesmo que não era mais do que merecido. Decidi esperar até que você desse algum sinal de que me queria. Isobel olhou para seus mamilos e disse: – Caso não tenha notado os sinais do meu corpo, eu quero você. – Você precisa de comida, precisa descansar... Ela roçou de leve sua boca na dele. – Eu preciso de você. Por sorte a banheira era grande. Ele ajudou-a a entrar primeiro e depois a seguiu. Isobel se apoiou no peito de Constantin e afundou num mundo de prazer, onde nada existia além das mãos dele em seu corpo enquanto Constantin acariciava seus seios, antes de seguir mais para baixo. – Veja bem onde você passa esse sabonete – murmurou ela enquanto ele soltava o sabonete e usava os dedos numa exploração íntima que fez com que Isobel ficasse sem fôlego. – Constantin... Ele movimentava seus dedos para um conseguir um efeito travesso enquanto levava a outra mão até os seios dela, provocando seus mamilos até que a respiração de Isobel ficou acelerada. Ele sentiu a repentina tensão nos músculos dela, deixou-a a ponto de gozar por alguns segundos e depois deslizou os dedos bem fundo para captar a frenética pulsação do orgasmo dela. Depois ele a secou com uma toalha macia e passou um óleo cheiroso sobre cada centímetro de sua pele. Já no quarto, ele a equilibrou na beirada da cama e se posicionou entre suas pernas, deslizando as mãos sob suas nádegas. Os olhares deles encontraram-se e o tempo parou. Ainda havia muitas perguntas sem respostas, mas ele estava certo ao dizer que quando eles faziam amor, entendiam-se perfeitamente, sem necessidade de palavras. Seus corpos moviam-se em plena harmonia e ela arqueava-se debaixo dele a cada potente penetração. Ela sentiu que ele estava se contendo, e os infinitos cuidados dele levaram lágrimas aos olhos dela. Ternura era um elemento novo no desejo dele e ela o amava ainda mais por isso, mas precisava com urgência de sua fome, de sua necessidade primitiva de reclamar a posse dela. Não havia necessidade de palavras. Ela disse exatamente o que queria dele num beijo evocativo que o abalou com sua sensualidade inata. Paixão crua e honesta, que exigia resposta que ela deu a ele de um jeito que o abalou nas profundezas de sua alma enquanto eles chegavam ao orgasmo simultaneamente e caíam juntos numa gloriosa queda livre. Bem depois, Constantin desceu para preparar o jantar prometido a Isobel. Ele escolheu uma safra de vinho da adega da casa, um Barolo de 15 anos, pegou taças e talheres e preparou a mesa no terraço que dava para um jardim florido informal. Isobel foi saudada pelos aromas mesclados de jasmim e do jantar quando se sentou em frente a Constantin. Seu coração agitava-se como um pássaro preso numa gaiola quando viu a caixinha de joia que ele colocou à sua frente. O solitário de diamante amarelo que ele lhe dera quando a
pedira em casamento estava ao lado da aliança de ouro que ela arrancara do dedo quando o deixou, há dois anos. Ela ergueu os olhos para fitar os dele, questionando-o dessa forma. – Eu queria que você voltasse a usar seu anel de noivado e sua aliança, Isabella. Ele não embelezou a declaração com floreios, nem disse que a amava, mas ela não esperava nada disso. Talvez Constantin nunca fosse capaz de partilhar seus sentimentos com palavras, mas ele lhe mostrara quando fizeram amor que acreditava que havia algo especial entre eles, não? Mas seria isso o bastante? Ela mordeu o lábio. – E minha carreira? – Estou confiante de que continuará a crescer. Ouvi o último álbum da Stone Ladies enquanto preparava o jantar e sem dúvida o pessoal da banda é talentoso, mas especialmente você, cara. Tem uma voz excepcional. Ele ficou pasmado com o talento dela. Isobel tinha o dom para cantar e compor, mas quando estavam juntos antes, ele sentia ciúmes do tempo que ela passava com os outros membros da banda e não a apoiava nem entendia por que ter uma carreira era tão importante para ela. Ele pegou a aliança de casamento dela e colocou-a em seu dedo anular. O anel de noivado reluzia ao luar com um brilho que refletia o fogo nos olhos dela. – Comida... algo me diz que vamos precisar de muita proteína para termos força e energia essa noite. – É... você tem que compensar por dois anos... – Vou me empenhar para satisfazê-la completamente, tesorino.
CAPÍTULO 11
A SEQUÊNCIA de eventos era familiar. O som de vozes alteradas que vinha da torre. Constantin olhou para cima e viu seu pai e sua madrasta. Lorena estava caindo, gritando... e então seus gritos pararam. Havia tanto sangue. O sangue estava em sua mão quando ele se ajoelhou ao lado dela, rolou o corpo e viu que não era Lorena, mas sim Isobel, que jazia sem vida no chão. E agora ele estava na varanda lá em cima, esticando as mãos na direção de Isobel. Havia sangue nelas. NÃO! MIO Dio, não! Constantin ficou ereto na cama, arfando, a respiração curta como um maratonista forçando-se até a linha de chegada. Virou a cabeça devagar, quase com medo do que poderia ver no travesseiro a seu lado. A pálida luz da aurora passava pelas cortinas meio abertas e brincava com o cabelo e o rosto sereno e adorável de Isobel. Não havia sangue algum, e ela não estava morta. Fora só um sonho. Tomando cuidado para não acordá-la, ele se levantou e foi até a janela. O quarto dava para o quintal. O sangue tinha sido limpo há tempos, mas as imagens em sua cabeça... Dio! Ele nunca se esqueceria delas! Nunca esqueceria que viu seu pai esticar a mão na direção de Lorena segundos antes de ela ter caído. Seu pesadelo, como todos os outros, era um aviso. E se ele fosse mesmo como o pai? E se tivesse herdado o ciúme monstruoso que transformara Franco num assassino? Olhou para Isobel que dormia em paz... ele sabia, desde a primeira noite, quando se tornaram amantes e teve seu primeiro pesadelo, que nunca deveria ter se envolvido com ela. Constantin ficou muito tempo perto da janela, perdido em seus pensamentos sombrios, os quais nem o sol que se erguia no horizonte podia iluminar. Pensava na noite que passaram juntos proporcionando prazer um ao outro... no doce sorriso dela enquanto a penetrava a fundo até que os dois corpos se tornaram um só. O som de um carro entrando no pátio o trouxe de volta ao presente. Seu tio estava adiantado para a reunião. Ele demorou-se ainda no quarto para olhar Isobel. Havia chegado a hora em que tomaria o controle de seu futuro. ISOBEL ESTIROU-SE langorosamente e sentiu uma dor prazerosa em certos músculos. Seu corpo inteiro formigava, especialmente seus seios e entre suas pernas, onde Constantin havia devotado
sua generosa atenção. Ela voltou-se para o travesseiro vazio, desejando ter acordado nos braços dele. Mas viu no relógio que a tarde já começava e Constantin obviamente decidiu que ela precisava dormir depois da noite enérgica que vivenciaram. Ela abriu então um sorriso de pura felicidade, com o anel de noivado e a aliança de volta nos dedos, e um futuro cheio de esperança pela frente. Ouviu a voz dele no escritório lá embaixo, achou que falava ao telefone e decidiu não incomodar, dirigindo-se à cozinha para tomar café. A cafeteira estava borbulhando. Ela voltou os olhos para o homem que estava sentado à mesa, sorvendo uma xícara de café, e reconheceu-o como sendo o tio de Constantin, Alonso, a quem identificou como convidado no casamento deles. Alonso levantou-se quando ela entrou na cozinha e esticou a mão para cumprimentá-la. – Isobel, fico encantado em saber que você está aqui na Casa Celeste com seu marido – disse Alonso com um forte sotaque italiano, olhando para o anel de noivado e a aliança que Isobel estava usando. – Fico feliz de estar aqui com Constantin – murmurou ela, servindo-se de uma xícara de café e sentando-se à mesa. – Então vocês se reconciliaram e está tudo bem agora. Que boas-novas. A diretoria da DSE fica feliz porque os jornais estão mostrando Constantin como um respeitável homem casado e não um playboy. É incrível o que um pouco de coerção pode fazer. Isobel colocou a xícara cuidadosamente de volta no pires. – Coerção...? – Sim, dei um empurrãozinho para que meu sobrinho retomasse o casamento. – Alonso sorriu para ela. – Acho que lhe fiz um favor, não? Eu disse a Constantin que somente o nomearia chairman se ele mudasse seus modos selvagens e voltasse para a esposa. – Quando... – ela engoliu em seco, tentando impedir que a náusea a varresse – quando foi que disse isso a Constantin? Ele deu de ombros. – Eu sei o dia exato. Foi no dia 15 desse mês, meu septuagésimo aniversário. Eu disse a ele que queria me aposentar e considerava fazer do primo dele o chairman, a menos que ele comprovasse estar comprometido com a DSE, honrando seu casamento. Ele a havia beijado em público no dia 16 de junho. Um dia depois! Isobel bebeu o resto de seu café no piloto automático. Constantin lhe disse que havia mudado de ideia e queria dar uma chance ao casamento deles depois do ultimato de seu tio! Como foi tola! – Não consigo acreditar nisso – sussurrou ela. Alonso riu, não percebendo que acabara de soltar uma bomba. – Sì, para mim também é difícil acreditar que eu já esteja com 70 anos. Pretendo passar mais tempo no campo de golfe agora que Constantin será o chairman da DSE. Isobel empalideceu e Alonso ficou preocupado. – Você está doente? – Estou me sentindo um pouco... nauseata. – Ah. – Alonso assentiu. – Un bambino, talvez? Minha nossa! O coração dela pulou uma batida. O destino não pregaria uma peça tão cruel, agora que tinha prova da duplicidade de Constantin... mas ela lembrou que havia deixado as
pílulas anticoncepcionais no apartamento em Londres quando ele a levou direto do hospital para o aeroporto antes de pegarem o voo para Roma. Ela estava no meio do corredor, marchando em direção ao seu escritório, quando a porta se abriu. – Tesorino. – O sorriso de Constantin esvaneceu-se quando viu a expressão de Isobel. – Não venha com essa de tesorino para cima de mim! – disse ela com raiva, mas com os olhos absortos na beleza masculina dele. Ela o amaria até morrer e saber disso a enfurecia. – Eu quero a verdade! – Nunca menti para você, Isabella. – Você pediu para que eu desse mais uma chance ao nosso casamento para que seu tio lhe desse o cargo de chairman da DSE? O sol tocava o cabelo de Isobel, banhando-o num halo de luz dourada, e de repente, Constantin soube o que tinha que fazer. Ele deu de ombros. – Mea culpa. Presumo que você falou com Alonso, então seria inútil negar. – Seu canalha! – disse ela com a voz engasgada. – Imagino que você tenha devolvido meu anel de noivado e minha aliança na noite passada porque sabia que Alonso viria para cá hoje! Ela lembrou-se de quando Diane disse que Constantin faria de tudo para se tornar chairman da DSE e então arrancou as peças dos dedos e jogou-as em cima dele. – Fique com eles! – Sua garganta doía como se tivesse engolido vidro. – Talvez no futuro você consiga enganar uma mulher, levando-a a pensar que você tem realmente um coração em vez de uma pedra, e os dê a ela. Mas esse seu disfarce logo vai ser desfeito e ela verá o grande canalha que você é. Os anéis caíram no chão e deslizaram pelo chão de mármore. Isobel não viu aonde foram parar. Virou-se e saiu correndo pelo corredor. Apanhou as chaves do carro dele na mesa e saiu pela porta da frente. – Isobel! Pelo amor de Deus, tome cuidado! Você não está acostumada a dirigir um carro assim tão potente! Era típico dele preocupar-se mais com o carro do que com ela, pensou Isobel com amargura enquanto punha a chave na ignição. O motor rugiu e ganhou vida. Ela engasgou com as lágrimas. Seu casamento foi uma farsa desde o início e agora estava acabado para sempre. O CARRO esporte era uma besta que precisava ser firmemente controlada e, ao sair da Casa Celeste e seguir pela estrada estreita, Isobel concentrou-se em ficar viva. Mas, a cada quilômetro que se afastava de Constantin, a dor dentro dela intensificava-se até que mal conseguia respirar nem refrear as lágrimas. Ela acabou estacionando o carro na praça central de um vilarejo, deserta no meio do dia, quando o sol estava mais quente e os moradores do lugar haviam se recolhido a suas casas. Ela chorou até seu peito doer. Quando Constantin lhe disse, alguns dias atrás, que não havia se casado com ela só por causa da gravidez, Isobel acreditou. A raiva ardia em seu âmago. Ela queria arrancar o coração do peito dele como fizera com o dela. Queria que ele sofresse da mesma forma que ela estava sofrendo, mas isso nunca aconteceria, porque o coração dele era feito de pedra.
Deliberada e friamente, ele a havia usado para tornar-se o chairman da DSE. Ele a havia seduzido e feito amor com ela, indo tão longe a ponto de pedir que ela usasse a aliança de novo... mas tudo isso era um monte de mentiras! Ela nunca haveria de perdoá-lo por essa crueldade. Antigas feridas foram reabertas: ela nunca foi boa o bastante, nem inteligente o bastante para seu pai que amava seu irmão, mas não ela. Era amargamente irônico que Constantin, o único homem por quem ela se apaixonara, também nunca a tivesse amado. Cansada, Isobel pegou um lenço na bolsa e secou os olhos. O que esperava de Constantin? Ele havia confessado que achava difícil demonstrar suas emoções, mas, na verdade, só se importava com a DSE. Era ambicioso e absurdamente impiedoso. Ela inspirou e estava prestes a virar a chave na ignição quando visualizou mentalmente o jardim de rosas que ele criara em memória da filha deles. Havia escolhido rosas cor-de-rosa para Arianna, e ele mesmo as plantara, para criar um lugar de beleza e paz onde pudesse sentar-se e lembrar-se de uma garotinha que nunca vivera, mas que tinha um lugar especial em seu coração. Aquelas não eram ações de um homem impiedoso. Isobel mordeu o lábio, lembrando-se de como ele cuidara dela depois do ataque de David. Estava determinado a protegê-la, e tinha até mesmo contratado um guarda-costas, mesmo com a negativa dela nesse sentido. Mas era do interesse dele protegê-la. Ele precisava mostrar ao tio que se reconciliara em seu casamento, e ela era só uma peça naquela ambição de assumir o controle da DSE, não era? Estava quente demais dentro do carro para que Isobel conseguisse pensar direito. Ela saiu do veículo e o trancou. O luxuoso carro esporte chamava muito a atenção na praça do vilarejo, e um grupo de meninos o encarava, fascinados. Talvez todos os meninos amem carros esporte, pensou ela, refugiando-se na sombra de um carvalho, lembrando-se do carrinho de brinquedo que a mãe de Constantin dera a ele em seu aniversário de 8 anos e que ele havia trancado num gabinete como se fosse tão precioso quanto as joias da coroa. Constantin amava sua mãe, mas seu pai o proibira de chorar no enterro dela. Isobel soltou um gemido. Como esperava que ele mostrasse suas emoções quando havia sido ensinado a ocultar seus sentimentos? Ele não chorou no enterro de Arianna, mas talvez chorasse sozinho quando se sentava no jardim que fizera para ela. Ela abraçou seu corpo, tentando conter as próprias emoções quando se lembrou da ternura com que ele a carregara escadas acima até o quarto na noite passada. As mãos delas tremiam quando ele a despiu antes de tomá-la em seus braços e beijá-la com tanta doçura e sensualidade que ela chegou a perder o fôlego e encher os olhos de lágrimas. As ações de Constantin não eram ações de um homem sem coração, nem de um homem que não se importava. Isobel disse a si mesma que seria a maior tola do mundo se voltasse à Casa Celeste. A decisão mais sensata a se tomar era prosseguir com sua viagem de volta a Roma e pegar o próximo voo para Londres, para dar início aos procedimentos do divórcio. Constantin não merecia outra chance. Ele não merecia seu amor. Mas ela não conseguia tirar da cabeça a imagem de um garotinho proibido de chorar no enterro da mãe. Não conseguia esquecer a doçura do beijo de Constantin. Ela merecia saber por que ele se casara com ela! Não demorou e voltou correndo para o carro, determinada a descobrir os segredos que, ela estava certa, ele ainda ocultava.
CAPÍTULO 12
A CASA parecia estar deserta. Os passos de Isobel ecoavam no chão de mármore enquanto ela entrava no corredor. Passou por sua cabeça que Constantin pudesse ter pedido a seu tio que lhe desse uma carona de volta a Roma, mas, neste caso, por que a porta da frente estaria destrancada? Não havia sinal dele lá embaixo, e ela estava no segundo andar quando ouviu um barulho que fez seu sangue congelar nas veias. O gemido de dor vinha do quarto principal. Ela precipitou-se até lá, abriu a porta, e ficou chocada com o que viu. Constantin estava sentado na cama, curvado, com o rosto enterrado nas mãos, chorando e soluçando intensamente. Apenas uma vez antes Isobel tinha visto um homem com o coração tão partido assim. Seu pai uivara como um animal sentindo uma dor terrível quando eles arrastaram o corpo de Simon do reservatório. Ela não soube como confortar o pai e lá no fundo se perguntava se ele gostaria que ela tivesse morrido em vez do irmão. Quando se casou com Constantin, sua insegurança não ajudou no relacionamento deles. Ela acreditava que não era boa o bastante para ele, assim como não o era para o pai. Mas nunca questionou Constantin sobre a falta de emoção no enterro de Arianna porque estava envolvida demais em seus próprios sentimentos para importar-se com os dele. – Ah, meu querido, o que houve? – sussurrou ela, ajoelhando-se na frente dele. Ele tirou as mãos da cabeça e ficou olhando para ela com os olhos vermelhos do choro. – Isobel? Por que está aqui? – Ele passou a mão pelo cabelo. – Você tem que ir embora. Você tem que fugir de mim... e nunca mais voltar. Ela levou a mão à bochecha molhada dele, a mesma que havia estapeado antes de sair correndo da Casa Celeste. – Por que você quer que eu o deixe? – Porque... tenho medo que eu possa machucar você. – A única forma de você me machucar seria me mandando embora – disse ela com uma crua honestidade. – Quando você me pediu para usar sua aliança ontem, imaginei que fosse um desejo de que nosso casamento desse certo. Quando fiquei sabendo que você tinha sido forçado por seu tio a reconciliar-se comigo para assumir o cargo de chairman da DSE, achei que não se importasse com meus sentimentos... mas isso não é verdade, é? Acho que você se importa um pouco... não?
Em vez de responder, ele se levantou e foi até o banheiro da suíte, voltando instantes depois, esfregando o rosto com uma toalha. Parecia mais controlado, mas seu peito subia e descia como se a respiração fosse um exercício difícil de realizar. – Há coisas que você não sabe – disse ele abruptamente. – Um segredo que venho guardando desde os meus 17 anos. – Se quisermos que nosso casamento tenha uma chance, não podemos ter segredos um do outro. Um nervo saltou no maxilar de Constantin. – Se eu lhe contar este segredo, garanto que você vai embora desejando nunca ter ouvido o nome De Severino. Por um instante, Isobel sentiu medo do que ele pudesse revelar naquela casa de fantasmas. Fosse o que fosse, claramente assombrava Constantin, que havia carregado o fardo de tal segredo sozinho por toda sua vida adulta. – Acho que ambos temos que assumir esse risco – disse ela baixinho. Constantin ficou em silêncio por alguns instantes e então disse, com um tom pesado: – Que assim seja então. – Ele foi até a janela que dava para o quintal e ficou de costas para ela. – Estou convencido de que meu pai matou Lorena. O choque fez com que Isobel sentisse um frio na espinha. – Mas eu achei que Franco amasse Lorena. – Ele realmente a amava. Era obcecado por ela e não conseguia suportar que nenhum outro homem a olhasse. – Incluindo você? Mais uma vez, as palavras de Diane Rivolli vieram à mente de Isobel. Havia algo de cruel no jeito como Lorena deliberadamente encorajava a paixonite de Constantin por ela, e o modo como jogava pai contra filho e vice-versa. Constantin suspirou. – Eu tinha 17 anos quando meu pai se casou de novo. Voltei para a Casa Celeste, vindo de um colégio interno só de meninos, e deparei-me com uma madrasta que era apenas alguns anos mais velha do que eu. Lorena vestia um sarongue por cima do biquíni na hora do jantar – disse ele, com pesada ironia. – Ela flertava com qualquer coisa que usasse calça. Era a suprema fantasia masculina para um adolescente cheio de hormônios e sexualmente inexperiente. – Seu pai não pode ter gostado do seu interesse na esposa dele. – Ele odiava que eu passasse algum tempo com ela. Houve muitas discussões entre nós, e entre ele e Lorena. – Constantin ficou em silêncio de novo, antes de forçar-se a continuar. – No dia em que o acidente aconteceu... eu tinha ido até o quintal e ouvi vozes do alto da torre. Meu pai e Lorena estavam brigando, como de costume. Ela o estava provocando, dizendo que ele era velho demais e que ela desejava a mim mais do que a ele. – Constantin fez uma careta. – Idiota como eu era, na verdade fiquei lisonjeado com isso. Meu pai ficou furioso. Ele estava gritando com Lorena e, logo depois, eu a vi caindo da varanda, poucos segundos antes de Franco também cair. – Não consigo imaginar o quão terrível deve ter sido para você ver uma coisa dessa, sem poder fazer nada – murmurou Isobel. – Eu fui a única testemunha. Na investigação, falei que vi Lorena cair e que meu pai esticou a mão para tentar salvá-la, mas caiu também. O caso foi registrado como morte acidental dupla.
– Certamente seu pai foi um herói que morreu tentando salvar a esposa, não? – Isso era o que todo mundo acreditava que tinha acontecido. Eu me convenci de que os eventos se deram tais como narrei, mas bloqueei muito do que de fato houve porque não conseguia suportar lembrar daquilo. – Imagens horrendas passaram por sua cabeça e Constantin não conseguiu conter um tremor. – Sempre houve alguma coisa... havia algo errado em relação ao que eu tinha visto, mas eu não sabia o que me incomodava... até que os pesadelos começaram. Ele virou-se e olhou de relance para Isobel. – Foi no fim de semana em que levei você para Roma e nos tornamos amantes. Você era diferente de qualquer mulher que conheci antes, bela, inocente e, conforme descobri quando a levei para a cama, incrivelmente sensual. Eu não deveria ter gostado tanto disso, mas me senti como um rei por ser seu primeiro amante. Isobel engoliu em seco. – Se isso é verdade, por que me largou no minuto em que voltamos para Londres? Você disse que tinha sido um fim de semana divertido, mas que não estava procurando um relacionamento e, logo depois, fiquei sabendo que tinha saído do escritório de Londres e voltado para Roma. Constantin desviou o olhar da expressão magoada dela. – Enquanto estávamos em Roma, tive um pesadelo horrível sobre o que tinha acontecido com o meu pai e Lorena na Casa Celeste. Vi os dois na varanda, no alto da torre. Na investigação, falei que vi Lorena cair e meu pai esticar a mão na direção dela, mas, no meu sonho, vi meu pai esticar a mão na direção dela antes de ela cair. Era a peça que faltava no quebra-cabeça que me perturbara por tanto tempo. Meus pesadelos me mostravam o que minha mente consciente havia bloqueado. Meu pai não tentou salvar Lorena. Ele a empurrou do alto da torre num ataque furioso de ciúmes, pulando ele mesmo para a morte em seguida. – Que coisa horrível! – As palavras de Isobel eram uma resposta instintiva à chocante revelação de Constantin. – Parece inacreditável. – Gostaria que fosse, mas infelizmente, é verdade. Meus pesadelos sempre me mostram a mesma sequência de eventos. Meu pai foi responsável pela morte da minha madrasta. – Se isso é mesmo verdade, seu pai fez uma coisa terrível, mas por que seus pesadelos só começaram quando você me conheceu? Eu me pareço com Lorena? – Não, você não se parece nem um pouco com ela. – Então por que eu fui o elemento que fez com que você se lembrasse do que tinha acontecido? – Creio que os pesadelos eram um aviso do meu subconsciente. A confusão dela aumentou. – Um aviso sobre o quê? – De que eu poderia ter herdado o ciúme maníaco que transformou meu pai num assassino. – Você tem medo de que possa se apaixonar por alguém de forma tão obsessiva quanto seu pai amava Lorena? – Não alguém. Você, Isabella, eu amo você. E é por esse motivo que vamos nos divorciar. O coração de Isobel deu pulos dentro do peito como se estivesse numa montanha-russa. – Você me ama? Mas admitiu antes que tinha me pedido para voltar porque seu tio lhe disse que só o nomearia chairman da DSE se você se reconciliasse comigo.
– Eu tinha que fazer com que você fosse embora porque era a única maneira de garantir sua segurança. Você fica melhor sem mim na sua vida. Eu não imaginava que você voltaria para cá... – Ele tirou o cabelo da frente do rosto com a mão trêmula. – Quando nos tornamos amantes em Roma, três anos atrás, eu percebi que estava encrencado. Você me abalou de um jeito como nenhuma mulher tinha feito antes. O pesadelo me deixou aterrorizado porque eu me perguntava se eu poderia ter um ataque de ciúmes como o do meu pai, então pus um fim ao nosso caso. Quando você me disse que estava grávida, parecia coisa do destino. Falei para mim mesmo que era meu dever casar-me com você, mas em segredo, eu estava feliz com a desculpa para continuarmos com nosso relacionamento. – Nós éramos felizes nos primeiros meses do nosso casamento – lembrou-se Isobel. – Mas tudo mudou quando viemos para a Casa Celeste. – Os pesadelos recomeçaram, mas ficaram piores, porque eu sonhava que éramos nós dois no alto da torre, e que eu a empurrava da varanda num acesso de ciúmes. Nunca me senti possessivo em relação a mulher nenhuma além de você. Achei que, se me impedisse de amá-la, então você estaria a salvo do meu ciúme. Mas, depois que você perdeu nossa filha, eu não sabia como ajudá-la. Não podia culpá-la por voltar-se para seus amigos em busca de apoio, mas odiava o fato de que você preferia ficar com eles a ficar comigo. O ciúme é o pior tipo de veneno. Entra no sangue e corrói a alma. Quando você saiu em turnê com a Stone Ladies, foi quase um alívio saber que não corria mais perigo ao meu lado. Você tinha uma vida nova, uma carreira de sucesso, e presumi que Ryan era seu amante. – Constantin fez uma pausa, ciente de que precisava ser totalmente honesto com Isobel. – Fiquei furioso com meu tio por me dar um ultimato para que retomássemos nosso casamento. Eu tinha visto você e Fellows num programa de TV sugerindo que estavam num relacionamento. Quando a beijei na festa em Londres, só pretendia persuadi-la a voltar para mim apenas para que Alonso me nomeasse chairman da DSE. Isobel mordeu o lábio. – Então era tudo fingimento? Sua bondade, as rosas amarelas que você comprou para mim? – Quando você foi atacada pelo perseguidor, meu único pensamento era proteger você. Eu a trouxe para Roma e imediatamente caí sob seu encanto de novo. Porém, na noite em que jantamos na trattoria do Pepe, fui forçado a aceitar que eu ainda era uma ameaça a você. – Tivemos uma noite agradável – disse ela, confusa. – Eu me senti a salvo de David pela primeira vez em meses! Você fez com que eu me sentisse segura. – O garçom sorriu para você e eu quis arrancar a cabeça dele. – Constantin cerrou o maxilar. – Odeio quando homens olham para você. – Bem, eu odeio quando mulheres olham para você. Morria de ciúmes cada vez que via as fotos nos jornais de você com aquelas modelos maravilhosas. É uma reação humana normal – disse Isobel, num tom gentil. – Meu pai matou a própria esposa por ciúmes. Você não tem como dizer que aquilo foi um comportamento normal. – Constantin balançou a cabeça. – Recusei o cargo de chairman da DSE e larguei o cargo de CEO. Pedi a meu tio que se encontrasse comigo aqui hoje de manhã para informá-lo disso, mas você falou com ele primeiro, antecipando-se a mim. – E quais são seus planos? A DSE é mais importante para você do que qualquer outra coisa e não consigo acreditar que tenha largado o cargo de CEO. – Não tenho a mínima ideia do que vou fazer. Achei que, se deixasse a empresa e a Casa Celeste, se me desligasse de tudo que é conectado ao meu pai, nós dois poderíamos começar
uma nova vida juntos, mas na noite passada eu tive outro pesadelo e percebi que não tenho como me esconder do passado nem mudar o fato de que sou filho de Franco de Severino. Herdei o caráter ciumento do meu pai e não faço a menor questão de descobrir o que isso me torna capaz de fazer. Ele ficou fitando o belo rosto de Isobel e visualizou o corpo quebrado de sua madrasta na base da torre. – Você não está vendo, Isabella? Não posso arriscar-me a amar você. Pelo amor de Deus, e, mais importante ainda, para o seu próprio bem, deixe-me e siga em frente com sua vida! POR UM longo tempo depois que Constantin ouvira a porta do quarto fechar-se atrás de Isobel, ele ficou em pé, olhando para o pátio lá embaixo sem vê-lo realmente. Estava acabado. Agora ela sabia que tinha se casado com o filho de um assassino. Ela entendia que o sangue dos De Severino era ruim e não era de se admirar que tivesse ido embora. Se existisse o inferno, talvez não fosse pior de onde ele estava agora. Seu único consolo era de que fizera tudo que podia para proteger Isobel. Contar aquilo sobre seu pai o fez se sentir sujo, então ele se despiu e foi para o chuveiro. O potente borrifo de água limpava seu corpo, mas não podia fazer nada quanto à escuridão em sua alma. Sua mente ficou cheia de lembranças de Isobel. Dio, ela se fora, e a vida dele não tinha nenhum propósito. Inclinou a cabeça para trás e deixou a água escorrer pelo rosto abaixo, porque assim poderia enganar-se de que não eram lágrimas que caíam de seus olhos. O vapor da água quente e o barulho das gotas caindo cegaram-no e ensurdeceram-no, e somente quando sentiu a mão de alguém em seu ombro foi que descobriu não estar mais sozinho. – Santa Madre! Você quase me matou do coração! – Ele pegou a toalha que Isobel lhe entregou e secou-se, depois enrolou-a na cintura, mas era apenas uma toalha de rosto que mal cobria suas coxas. – Por que ainda está aqui? Se ela não fosse embora, Constantin temia que poderia nunca deixar que isso acontecesse. – Eu não vou a lugar nenhum – disse Isobel com calma. – Fui até o quintal e olhei para a torre. Não estou certa de que você poderia ter visto com clareza o que aconteceu na varanda todos aqueles anos atrás. Você testemunhou um evento terrivelmente traumático quando tinha apenas 17 anos. Acho que se sentiu culpado, pois nutria uma paixonite por sua madrasta e ouviu seu pai discutindo com ela por sua causa. Quando viu Lorena cair, acreditou que seu pai pudesse tê-la empurrado num ataque de ciúmes, mas não sabe realmente se ele fez isso ou não. – Meus pesadelos sempre mostram a mesma coisa. Às vezes, nos meus sonhos, eu vejo você caindo da torre – murmurou ele. – Acordo com o coração na boca, de medo, porque eu não poderia aguentar se algo tão terrível acontecesse com você, como aconteceu com Lorena. O coração de Isobel contraiu-se quando ela viu os olhos dele escurecem com a dor. Como ela pôde, em algum momento, achar que ele era frio e desprovido de emoções? – Você ficou profundamente traumatizado com o que viu naquele dia, mas, Constantin, mesmo que realmente tenha visto seu pai empurrar Lorena, isso não significa que você tenha herdado as tendências homicidas dele. Você não é o Franco, você é você e, pelo que ouvi sobre seu pai, é bem diferente dele. Cada um de nós está encarregado do próprio destino – disse ela
com ferocidade. – Deve se orgulhar do homem que é e de tudo que conseguiu na DSE, assim como eu me orgulho de você. – Virou psicóloga agora? – Não, sou sua esposa que o ama com todo meu coração. – Isobel olhou nos olhos dele. – Encontrei isso na sua escrivaninha. – Ela ergueu a nova petição de divórcio que o advogado dele havia enviado e a rasgou. – Vou continuar sendo sua esposa até que a morte nos separe, como nós dois prometemos. Por segundos que pareceram eternos, Constantin não disse nada, e Isobel temia que o tivesse entendido errado antes, temia que ele não estivesse realmente falando sério quando disse que a amava. Mas então ele se moveu e puxou-a para junto de seu peito. – Droga, Isobel, não consigo lutar contra você quando não joga limpo. – Por que você quer lutar contra mim? Ele inspirou, estremecendo. – Porque tenho medo de amar você – ele admitiu num tom de voz baixo que revelava a intensidade de suas emoções. – Porque morro de medo de perder você. – Você não vai me perder – ela disse com veemência. – Vou amá-lo eternamente. Isobel segurou o rosto dele com as mãos em concha e buscou sua boca, beijando-o com todo o amor que tinha dentro de si, com o coração e com a alma, desejando que Constantin se arriscasse e encontrasse a felicidade que ela sabia que pertencia a eles. – Ti amo, Isabella. – A voz dele saiu trêmula. – Juro que a manterei em segurança e que nunca irei machucá-la. – Então você deve prometer que sempre vai me amar. – Deixe-me mostrar isso a você. Ele tomou-a nos braços e carregou-a até o quarto onde fez amor com ela com uma paixão terna, de modo que ela não conseguiu conter as lágrimas. – Não chore, tesorino – disse ele com a voz rouca –, ou vai me fazer chorar também. Ela viu o brilho nos olhos azuis dele, a vulnerabilidade que ele não mais tentava esconder, e seu coração encheu-se a ponto de transbordar de amor. – Haverá vezes em que vamos rir e sorrir, mas haverá outras vezes em que vamos chorar, porque a vida é assim. Mas vamos rir e chorar juntos. E sempre vamos amar um ao outro – ela jurou. Constantin sorriu. – Sempre, meu amor.
EPÍLOGO
Dezoito meses depois.
O PÚBLICO na Wembley Arena pedia o retorno da Stone Ladies ao palco. Mais um! Mais um!, gritava a plateia, mas a banda já tinha tocado três bis e houve alguns gemidos vindos da multidão quando as luzes se acenderam, sinalizando que o show estava encerrado. Os bastidores estavam uma loucura, como de costume. Os técnicos de som desmontavam os equipamentos, o empresário dava uma entrevista ao vivo para a televisão. Isobel dava autógrafos para fãs que tinham acesso aos bastidores, parando para conversar uns minutinhos com eles. Ryan foi ao encontro dela. – Izzy, você e Constantin querem vir tomar um drinque comigo e Emily? – Acho que vamos direto para casa essa noite, mas vocês dois vão vir jantar conosco e com a Carly e o Ben, não? Constantin quer lhe mostrar o novo carro dele. Vocês dois parecem crianças quando o assunto é carros velozes – disse ela num tom seco. Ryan abriu um largo sorriso. – Mal podemos esperar. Ele desapareceu no camarim, e Isobel se afastou para um lado. – Que sorte você ser mais alto do que todo o resto do pessoal. Fica fácil avistá-lo em meio à multidão. Constantin beijou de leve a boca de Isobel, aprofundando o beijo depois que ela abriu os lábios, o que se tornou um prelúdio sensual da paixão que viria em breve. – Foi outro show incrível, mas você deve estar exausta depois de quatro noites seguidas. Está na hora de levar você e nosso filho para casa, tesorino. Isobel sentiu suas entranhas derreterem quando olhou para o bebê de 4 meses, preso com segurança entre os braços de Constantin, que adormecera rapidamente. – Como Theo se comportou durante o show? – Ele dormiu o tempo todo. – Constantin deu risada. – Obviamente os fãs amam sua música, mas receio que seu filho não ache nada demais o fato de a mãe dele ser uma estrela do rock. Ela riu. – Espere até ele ter idade para aprender a tocar bateria.
– Já estou planejando deixar o quarto dele à prova de som. Whittaker esperava do lado de fora para levá-los de volta à casa na Grosvenor Square. Constantin ajustou Theo firmemente no bebê-conforto, depois entrou no carro e Isobel repousou a cabeça no ombro dele. – Ir para casa parece uma boa ideia – disse ela, sonolenta. – Não vai demorar muito até que nossa casa nova esteja pronta. Falei com o arquiteto hoje, e ele disse que poderemos mudar para lá antes do Natal. – Theo vai passar seu primeiro Natal na Casa Rosa. Mal posso esperar. Constantin sorriu para si ao pensar na surpresa que tinha guardado para Isobel: havia incluído na planta um estúdio de gravação, construído anexo à casa nova. A Casa Celeste, com seus 400 anos de idade, agora era um museu gerenciado por um grupo de historiadores que estavam restaurando a imensa coleção de arte adquirida pelas gerações passadas da família De Severino. A Casa Rosa era moderna, erguida próxima à capela onde a filha deles estava enterrada. Constantin envolvera-se com a construção da casa que ajudara a projetar para sua esposa e seus filhos, o atual e os que esperavam ter no futuro. Agora, por decisão dele, Constantin dividia os cargos de chairman e CEO com seu primo Maurio, o que lhe deixava tempo para acompanhar Isobel nos shows e cuidar de Theo enquanto ela se apresentava. Ela ergueu a cabeça do ombro dele. – Por que está sorrindo? – Eu estava só pensando no quão a vida é perfeita. – Ele olhou nos olhos dela e soube que o amor era refletido em seus próprios olhos. – Nunca achei que eu pudesse ser assim tão feliz, mio amore. Isobel olhou para seu bebezinho, que chegara a este mundo sem alarde e ajudara a curar a dor em seu coração. Quando Theo tivesse idade suficiente, eles contariam a ele sobre sua irmã mais velha e o levariam para brincar no jardim de rosas de Arianna. Ela voltou a olhar para o marido e viu a emoção crua revelada nos brilhantes olhos azuis. Não havia mais nenhum segredo entre eles agora, apenas um amor que duraria a vida toda. – Eu amo você – disse ela. Eram apenas três palavrinhas, mas que significavam o mundo.
VERDADE REVELADA Sharon Kendrick
– Será que acabei de ouvir meu nome ser mencionado em vão? – perguntou ela com leveza. – Prefere que eu saia e entre de novo? – Está livre para sair a hora que quiser – respondeu ele com frieza. – Mas por que não faz um favor a todos nós e pula a segunda parte da sugestão? Alannah ergueu o queixo de um jeito que fez o cabelo negro escorrer pelas costas como uma cascata. – Vejo que não perdeu nada do seu charme natural, Niccolò. Havia esquecido como você consegue dar à palavra “insulto” um sentido todo próprio. Niccolò sentiu um pulsar sob suas têmporas e seu sangue esquentou. Mas ainda pior era o espasmo de desejo que deixava sua virilha insuportavelmente tensa. Que o fazia querer esmagar a boca sobre os lábios dela e apagar aquelas palavras insolentes com beijos, e penetrar fundo dentro dela até que gritasse seu nome sem parar. Que se dane, pensou, irado. Que se dane, com toda aquela segurança fácil e moral duvidosa. E que se danem as curvas pecaminosas que impeliriam um homem adulto a rastejar sobre vidro picado apenas para ter a chance de tocá-las. – Perdoe-me – disse devagar –, mas por um instante não a reconheci, vestida. Observou o breve constrangimento que passou pelo seu rosto e algo primitivo trouxe-lhe uma onda inebriante de prazer ao pensar que devia ter tocado em um ponto sensível, ferindo-a como ela uma vez ferira sua família e ameaçara arruinar seu nome. Mas Alannah transformou a expressão em um sorriso aberto e sem sentimento. – Não vou responder à altura – disse enquanto se voltava para a irmã dele. – Está pronta para a última prova do vestido? Michela assentiu, mas seus olhos ainda estavam fixos em Niccolò. – Queria que vocês dois fossem educados um com o outro, pelo menos até o final do casamento. Não poderiam fazer isso por mim, só desta vez? Depois não precisam se ver nunca mais! Niccolò cruzou o olhar especulativo de Alannah. A ideia dela sorrindo serenamente em um vestido de madrinha fez seu sangue ferver. Será que não reconhecia que era hipocrisia fazer o
papel da ingênua de olhos arregalados em uma ocasião importante como aquela? Será que não via que seria melhor para todos se apenas desaparecesse no cenário em vez de assumir um papel de destaque? Pensou nos poderosos avós do noivo e em como poderiam reagir caso se dessem conta que aquela era a mesma mulher que massageara os próprios mamilos, vestida em um desleixado uniforme de estudante. Trincou os dentes. Quanto seria necessário para convencê-la de que era uma persona non grata? – Por que não deixa que Alannah e eu tenhamos uma conversa a sós, mia sorella? Aí poderemos ver se conseguimos resolver esse assunto a contento de todos. Michela lançou um olhar interrogativo à amiga, mas Alannah fez que sim com a cabeça. – Está tudo bem – disse ela. – Pode ficar tranquila ao me deixar sozinha com seu irmão, Michela. Tenho certeza de que ele não morde. Niccolò ficou tenso quando Michela saiu da suíte e seu lamentável desejo elevou-se como uma maré sombria e perseverante. Tinha dúvidas se Alannah fizera aquela observação para ser deliberadamente provocante. Certamente adoraria mordê-la. Adoraria enterrar os dentes naquele pescoço esguio e sugar avidamente a pele suave e macia. Os olhos de Alannah estavam fixos nele, com aquele olhar irritante de divertimento ainda persistindo em suas profundezas acinzentadas. – Então vamos lá, Niccolò – disse ela despreocupadamente. – Faça o seu pior. Por que não tira do peito o que quer que esteja perturbando-o para que possamos clarear o ar e dar à sua irmã o casamento que ela merece? – Pelo menos estamos de acordo em alguma coisa – disse ele, ríspido. – Minha irmã merece mesmo um casamento perfeito, que não envolva uma mulher que vai atrair todo tipo de publicidade nefasta. Você sempre foi rebelde, desde antes de decidir tirar a roupa diante das câmeras. E não acho que seja aceitável que todos os homens na cerimônia estejam despindo mentalmente a madrinha, em vez de concentrar-se nos votos solenes dos noivos. – Para alguém que parece ter passado a vida toda evitando comprometer-se, aplaudo a súbita dedicação à cerimônia. Mas não acho que a maioria dos homens seja tão obsessiva com meu passado quanto você.
464 – O SEGREDO DO SEU TOQUE – CATHY WILLIAMS Giancarlo de Vito precisa da bela Caroline para finalizar o seu plano de vingança. Porém, ela se recusa a colaborar. E Giancarlo terá de usar todo o seu poder de sedução para conseguir o que deseja. 465 – O ÚLTIMO PRÍNCIPE DE DAHAAR – TARA PAMMI A única maneira de o príncipe Ayaan Al-Sharif conseguir restaurar a ordem e calar os rumores do povo é casando-se com Zohra Naasar. Porém, ela não quer perder sua liberdade e impõe uma condição: Seria sua esposa, mas não se deitaria com ele. Será que Zohra conseguirá manter a própria promessa? 466 – ACORDO ULTRAJANTE – SHARON KENDRICK A vida de Ellie Brooks mudou completamente depois da noite que teve com Alek Sarantos. Além de perder o emprego, ela descobriu estar grávida do poderoso magnata. Agora, quer que Alek faça da criança seu herdeiro legítimo… 467 – O REI LEGÍTIMO DE DAHAAR – TARA PAMMI Após uma decepção, o príncipe Azeez cai em desgraça. E, para ser o futuro rei de Dahaar, ele vai em busca da única mulher que pode ajudá-lo, a doutora Nikhat Zakhari.
Últimos lançamentos: 461 – SALVA PELA PAIXÃO – JANE PORTER 462 – SEGREDOS DE AMANTE – LYNNE GRAHAM 463 – SALVA PELA SEDUÇÃO – JANE PORTER
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S542a Shaw, Chantelle Aliança de tentação [recurso eletrônico] / Chantelle Shaw; tradução Ana Death Duarte. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2015. recurso digital Tradução de: To wear his ring again Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-2022-1 (recurso eletrônico) 1. Romance inglês. 2. Livros eletrônicos. I. Duarte, Ana Death. II. Título. 15-25481
CDD: 823 CDU: 821.111-3
PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: TO WEAR HIS RING AGAIN Copyright © 2015 by Chantelle Shaw Originalmente publicado em 2015 por Mills & Boon Modern Romance Arte-final de capa: Isabelle Paiva Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso, Rio de Janeiro, RJ – 21042-235 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
ALIANÇA DE TENTAÇÃO Texto de capa Teaser Querida leitora Rosto Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Epílogo Próximos lançamentos Créditos