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Teu Filho, Meu Coração

Sue Swift

TEU FILHO, MEU CORAÇÃO His baby, her heart

Sue Swift Sabrina... a cegonha chegou! 84

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Teu Filho, Meu Coração

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Um bebê por testamento. Alex Chandler não mediria esforços para realizar o sonho de sua falecida esposa: que Diana gerasse o embrião por ela deixado. Mas por que Tâmara tivera de escolher, dentre todas as mulheres do mundo, sua excêntrica e irritante meia-irmã para ser a gestante da criança? Verdade que Diana era uma mãe dedicada... e em também feminina, sensual e... Não, ele não podia estar sonhando em formar uma família com ela! Diana nascera para ser mãe. Mas ser usada para gerar um bebê era demais! Até que começou a ter um contato maior com Alex... e começou a desejar mais do que apenas ter um filho dele!

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PRÓLOGO “Eu, Tâmara Cohen Chandler, em pleno domínio de minhas faculdades mentais...” Alex Chandler sentou-se, atordoado com aquele ritual logo após a morte da esposa. A leitura do testamento na presença de outros membros da família fez com que ele mergulhasse em pensamentos. Do escritório de advocacia, ele podia ouvir o trânsito barulhento, mas a hora do rush de Sacramento parecia estar a milhares de quilómetros de distância. “É meu desejo que meu esposo, Alexander Chandler, e minha amada meia-irmã, Diana Cohen Randolph, coloquem um ponto final na animosidade que reina entre eles.” A sua direita, Alex observava Diana tirando pêlos de cachorro da manga de sua jaqueta preta. Tentou mais uma vez conter seu desprezo por ela. Porque aquela mulher nunca estava apresentável? Em outras vezes, tentara esconder de Tâmara a antipatia que tinha pela cunhada, mas havia falhado. “É meu desejo que Diana se torne mãe substituta, levando até o fim a gestação de um de meus embriões fertilizados por Alexander Chandler.”. — O quê? — O choque espantou a tristeza e a resignação do rosto de Alex. Diana levantou-se abruptamente, como se tivesse levado um coice. — Como se eu já não tivesse problemas de sobra! — exclamou. Mesmo contra sua vontade, momentaneamente simpatizou com a idéia de Diana, mas logo pensou nos gêmeos de quatro anos e no marido desaparecido, fato que complicava ainda mais sua situação. Seus olhos verdes se arregalaram, desnorteados. — Você já sabia disso? Alex negou. — Tâmara mudou o testamento logo depois do diagnóstico. Na época, não fiquei sabendo o que exatamente foi alterado, mas também não me importei. Estava mais preocupado com a quimioterapia e com a esperança de que ela se recuperasse. Alex franziu as sobrancelhas. Adorava a esposa, mas sabia que a doce e bem-intencionada Tâmara também fora manipuladora e muito, muito esperta. O que ela havia planejado? Por quê? — Bem, eu... eu não posso. — Diana colocou a mão sobre o ventre como se acariciasse uma bebê imaginário. — Sei que Tâmara queria um filho. Mas... não posso dar à luz uma criança e depois simplesmente ir embora. Nem mesmo por Tami. Talvez você possa encontrar outra pessoa, Alex. Ele respirou profundamente, esforçando-se para manter a calma em meio ao repentino caos. Faria qualquer coisa para transformar em realidade o sonho de sua esposa, não importando o quão desagradável Diana Randolph pudesse ser. Por que ela não tinha o mesmo senso de compromisso para com a memória de Tâmara? — “Além disso” — continuou o advogado — “transfiro a parte que me pertence de meus embriões para Diana Randolph, com instruções específicas para que sejam implantados tão somente nela e em mais ninguém.” 3 Projeto Romances


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O rosto de Diana ficou pálido, contrastando com seus cabelos avermelhados. Alex não podia culpá-la. Sentia-se fraco também. O que Tâmara havia feito? Ela enganara a ambos e, agora, ele e Diana eram donos dos preciosos embriões. “Para os custos médicos, auxílio-maternidade durante a gravidez e sustento do bebê, deixo a quantia de trezentos mil dólares, a ser administrada por Alexander Chandler”. Diana piscou várias vezes, tentando de alguma forma reconectar-se com a realidade. A Tâmara — Decoração de Interiores, a empresa de sua irmã, devia ter sido um negócio bem lucrativo. Mas o mundo de Diana girava em torno de seus filhos, não de dinheiro. Abriu a boca para recusar definitivamente a oferta, quando o advogado leu: “Deixo também a quantia adicional de duzentos mil dólares a ser empregada por Diana em benefício de Miriam e Jackson Randolph, meus amados sobrinhos”. Diana afundou na cadeira. Tâmara sabia que ela cavaria trincheiras com os dentes pelos filhos, se necessário. Aquele dinheiro seria mais que suficiente para pagar escola, roupas, condução, e talvez ajudasse até a comprar uma casa, coisa que seu pequeno escritório de paisagismo jamais poderia proporcionar. Sua irmã sempre adorara as crianças, portanto, não havia condições implícitas na herança. Porém, a consciência de Diana não ficaria em paz se ela não levasse em consideração o pedido da irmã. Como poderia retribuir tamanha generosidade sem cumprir seu último desejo? Como recusar um dinheiro que tanto ajudaria na criação de seus dois amores? Respirou calma e profundamente e, então, olhou para Alex Chandler. Estava sentado a seu lado, imóvel, cada fio louro de seus cabelos, no lugar certo. Sim, ela poderia resistir. Diana não queria Alex, o andróide financeiro, em sua vida. Observando-o, ela hesitou. — Eu não vou ter que dormir com você, vou? Um sorriso passou bem rápido pelos lábios fechados dele. — Eu acho que não. Os embriões estão guardados no consultório do ginecologista de Tami. Ele os descongela, implanta dois em você e vamos cada qual para seu lado. — Alex gesticulava ao falar, exibindo as abotoaduras de ônix nos punhos da camisa branca. Diana enterrou o rosto nas mãos e depois passou-as pelos cabelos, desnorteada. — Eu ainda não acredito! E se um de nós disser não? — Nesse caso, não haverá um bebê e o sonho da vida de Tâmara não se realizará. — Oh, não... — Diana gemeu, as lágrimas embaçando seus olhos já inchados de tanto chorar. Remexeu na bolsa procurando lenços de papel. — Oh, Tami, por que eu? Alex limpou um grão de poeira imaginário da manga de seu impecável paletó, enquanto seu rosto atraente continuava impassível, sem qualquer sombra de emoção. — Você é meia-irmã de Tâmara e uma excelente mãe, na opinião dela. Ela sempre comentava comigo o quanto admirava a sua facilidade em cuidar dos gêmeos. — Isso é verdade. Foi bem fácil se levarmos tudo em consideração. — Diana havia sido abandonada por um marido trapaceiro. Ela estremeceu ao recordar. — Mas mais um filho? Os meus já me absorvem vinte e quatro horas por dia! — Não seria seu filho, Diana, e sim meu. O desejo de Tâmara é que você geste o bebê e o entregue a mim quando nascer, para que eu o crie e eduque. — Os olhos azuis vívidos de Alex brilhavam com intensidade. — Eu não sou uma... uma égua reprodutora. Nem ao menos sei se posso ter uma criança e depois desistir dela! — falou sem conseguir disfarçar a voz trêmula. — Mas você vai ter que fazer isso — Alex determinou. Foi esse o último desejo de sua irmã. Como dizer não? CAPITULO I 4 Projeto Romances


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Seis meses depois Naquele dia de março, ensolarado mas frio, Alex esperava impacientemente por Diana Randolph no escritório de seu advogado. Ela estava atrasada, como sempre. Se Tâmara não a tivesse escolhido como mãe-substituta, ele teria encontrado alguém mais pontual. Bebendo café velho de escritório, tentava controlar a irritação. Se ela tivesse chegado na hora marcada, a reunião já teria acabado ainda dentro da sua hora de almoço. O que ele mais queria agora era voltar ao escritório, enterrar-se em seu trabalho até a medula e esquecer o quanto sentia a falta de Tami. Seu advogado, Gary Newman, passou-lhe uma pasta, deslizando-a calmamente pela mesa. — Acalme-se, homem. Dê mais uma lida no contrato enquanto esperamos a srta. Randolph. Abrindo a pasta, ele leu superficialmente página por página. Ele quisera um contrato que fizesse Diana entender perfeitamente seu lugar no esquema das coisas. Ela, com a mania de interferir em tudo, tinha idéias ultrapassadas sobre como se criar filhos. E os filhos dela... Amava seus sobrinhos, mas eles pareciam estar sempre melados, sujos, perdidos ou metidos em alguma confusão. Não eram os melhores exemplos de uma boa educação familiar. Continuou a leitura e encontrou ali tudo o que requisitara a Gary: as cláusulas que declaravam o que ela deveria fazer durante a gravidez e o que ela não poderia fazer depois do parto, ou seja: contato não supervisionado com o filho dele ou controle sobre a criança.. Gary havia passado um longo tempo tentando esboçar o que era agora um contrato complexo. — E se ela não assinar? — Alex indagou. — Os embriões pertencem a vocês dois, percebe? Se ela não assinar, você não coopera, e se você não cooperar, nada de bebê, e o sonho de Tâmara acaba antes de começar. — Isso é muito triste... — Franziu a testa. — É a vida, Alex. Deixe-me dizer uma coisa... Naquele instante um estouro metálico interrompeu Gary. — Estão fazendo alguma reforma aqui no escritório? — Estão, mas só à noite. Mais uma explosão e o ruído de um motor superacelerado fez vibrar as janelas da sala. Alex levantou-se e olhou com cuidado pela janela em direção à rua. Passando pelos arbustos da entrada do estacionamento, podia ver uma caminhonete amarela meio amassada, pintada com motivos florais nas cores do arco-íris. Nas laterais podia-se ler "Diana Jardins" em letras roxas. O escapamento da caminhonete explodiu mais uma vez antes de o carro parar em uma vaga bem embaixo do escritório, soltando uma fumaça escura antes de morrer. Alex se perguntou se as condições daquela caminhonete estavam em acordo com as impiedosas leis antipoluentes do Estado. Conhecendo Diana, provavelmente não. Voltando-se para a mesa de Gary, levantou as sobrancelhas. — Adivinhe quem chegou? O advogado juntou-se a Alex na janela e comentou: — Ela precisa mandar essa caminhonete para o ferro-velho. — E é melhor que ela faça isso logo. Eu não quero a mãe do meu filho andando por aí nesse lixo. É muito perigoso. A porta da caminhonete rangeu quando Diana a abriu. No mínimo, as dobradiças deviam estar precisando de óleo. Ele cuidaria disso antes de ela ir embora, Alex comprometeu-se consigo mesmo. Observou Diana descendo da cabine, calçando pesadas botas de jardinagem e com o jeans sujo de terra até os joelhos, esgarçados. Inacreditável, pensou. 5 Projeto Romances


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Diana caminhava até o edifício e os passos pesados de suas botas de trabalho ecoavam pelos corredores do prédio, encobrindo a ansiedade em que mergulhava seu coração. Ela iria ter aquele bebê por amor à irmã, mas evitaria qualquer tipo de envolvimento com o cunhado. Infelizmente, os dois objetivos eram incompatíveis, colocando-a numa situação complicada, que duraria no mínimo nove meses. Mais do que isso, na realidade, porque após o nascimento do bebê ela não iria fugir das responsabilidade de mãe. E nem tentaria. Na verdade, pretendia tornar-se tia e, em sua mente, isso significava um vínculo de amor que iria unir a todos... incluindo Alex. Suspirou e, pela centésima vez, perguntou-se por que sua talentosa e esperta irmã tinha se casado com Alex. Claro, ele era bonitão, para quem apreciava o tipo nórdico, frio. Tâmara, que era mais bonita do que qualquer miss América que já existira, poderia ter escolhido o homem que quisesse. Por que justamente ele, o gélido Chandler? Ultimamente, ele se tornara distante, atendendo as chamadas telefônicas de um jeito seco e breve. Isso quando atendia. Tudo bem, sofrera muito com a morte de Tâmara e agora escondia-se dentro de uma concha protetora, de onde não sairia facilmente. Imersa em pensamentos, Diana não notou o elevador vazio esperando por ela. Ao entrar, perguntava-se que tipo de pai seria Alex. Chegando ao andar, parou em frente ao hall acarpetado, sentido-se desencorajada. Ela não queria seu bebê, sobrinho ou sobrinha, crescendo e transformando-se numa réplica de Alex. Era melhor certificar-se de que ele receberia todo o amor a que uma criança tinha direito. Esticou os ombros, apoiou-se em sua resolução e entrou no escritório do dr. Newman. Forçou um sorriso, para disfarçar no rosto a determinação de seu coração. Quando Diana entrou, Alex, que ficara irritado com o atraso, já não conseguia comportar-se cordialmente, por mais que se esforçasse. O coque vermelho, ajeitado desastrosamente no alto da cabeça de Diana, começava a despencar. Mechas de cabelo caíam sobre seu belo rosto de uma maneira que muitos homens achariam sensual, sexy. Não ele. Ela não era seu tipo, nunca seria. Jamais. — Alex, dr. Newman — cumprimentou ambos com uma voz de quem havia corrido para chegar ali. — Gary, por favor. — O advogado estufou o peito franzino. Diana deu-lhe um sorriso deslumbrante ao corrigir-se: — Gary. Era a sua imaginação ou ela estava se insinuando? pensou Alex. A mãe de seu filho não iria se envolver com nenhum outro homem, esperava que ela levasse uma vida tranquila e segura durante a gravidez. — Boa tarde, Diana. — Pigarreou. — Olá! — Ela deixou-se cair numa confortável cadeira, logo pegando o contrato em cima da mesa de reunião. — Então, é este o documento em que você trabalhou exaustivamente nestes últimos meses? Gary riu e Diana piscou para ele. Alex não apreciou aquele olhar oferecido. — Espero que não o ache exaustivo. — Gary sentou-se em sua cadeira. — Então, é um acordo amigável? — Ela abriu um belo sorriso. — Achamos que é mais do que razoável. — Alex sentou-se na cadeira ao lado de Diana e arrependeu-se na hora. Ela não cheirava como uma pessoa que tinha trabalhado duro por toda a manhã. Cheirava como uma mulher. Uma mulher muito sensual, com um aroma fresco e floral. Mudou-se de lugar para escapar daquela aura perfumada. Não queria desfrutar de seu aroma, sua aura ou de qualquer coisa dela. Ela era a irmã de sua esposa, meia-irmã... Mesmo assim... Diana, atraente? Não, nunca. Ela examinou rapidamente o contrato, e não parecia estar lendo com atenção. Mas perguntou, séria: 6 Projeto Romances


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— Este é o contrato-padrão para este tipo de situação? — Não existe contrato-padrão para isso, na verdade. Mães-substitutas ou de aluguel não são de fato tão comum assim. Não existem contratos-padrões, acredite-me, eu procurei. — Gary apontou a pasta com a caneta. — Dei o meu sangue para redigi-lo. — Fim de todos os direitos maternais. — Ela leu em voz alta. — O que é isso? — Na essência, significa que Alex criará a criança e será financeiramente responsável por ela. — explicou Gary. Alex ficou tenso. Aquela cláusula significava muito mais do que isso... Se ela assinasse estaria desistindo do bebê definitivamente! — Não precisa explicar, isso é um dever. Eu adoraria ter mais filhos, mas não posso arcar com as despesas. Alex interrompeu-a, com calma. — Se tivermos sucesso no implante e na gravidez, talvez você possa. Tami deixou um valor substancial para os gêmeos. — Alex... isso não tem nada a ver com dinheiro. O bebê era o sonho de minha irmã e seu último desejo, — Sim, era. — Alex falou com voz bem suave para não irritá-la e atrapalhar tudo. — E o que significa "nenhum contato não supervisionado com a criança"? — Diana olhava-o fixamente, os olhos verdes faiscando. — Isto é alguma brincadeira? Nós estamos falando de uma criança que eu vou gestar e que, no mínimo, será meu sobrinho, ou sobrinha! Alex trocou um olhar com Gary, depois falou com a maior calma de que foi capaz: — Quantas tias passam tempo com seus sobrinhos sem ser supervisionadas? — Muitas, meu caro. Tâmara levava meus filhos ao zoológico e ao parque, lembra-se? E eu não estava lá para supervisioná-la! Ele suspirou. Ela estava certa. Tâmara adorava Jack e Miri. Os gêmeos eram a razão inicial de seu desejo de ser mãe, de ter seus próprios filhos. — Além disso, você vai querer que eu o ajude com o bebê. Alex tentou parecer superior. — Não creio. Ela perdeu o brilho feroz em seus olhos. — Ah! E você acha que você sabe tudo, não é, Alex? — fez a pergunta com ironia e começou a rir. — Claro que posso criar meu filho sem a sua ajuda. Você cria dois, não cria? Por que não posso criar um? Diana gargalhava, as lágrimas descendo de seus olhos. Procurou um lenço na bolsa e continuou com ironia: — Claro, nenhum problema. Você não vai ter nenhum problema. Tenho certeza de que pode criar uma criança sozinho. Afinal de contas, você se saiu tão bem com os gêmeos no passeio ao zoológico, não é mesmo? — Enxugou as lágrimas de riso que escorriam pelo canto dos olhos, tentando visivelmente controlar a satisfação. Alex enrubesceu, o que deixou Gary interessado. — O que aconteceu com os gêmeos?  Uma vez, quando Alex e minha irmã levaram as crianças para um passeio, Tami levou Miri ao Parque das Fadas e Alex ficou responsável por Jack. Quando ele se distraiu um pouco...  Ele saiu do banheiro masculino e sumiu. Eu estava... indisposto. Foi tão rápido, uma questão de segundos! Poderia ter acontecido com qualquer um... Diana sorria. — Jack encontrou o caminho para o zoológico do parque e tentou entrar na cova dos chipanzés. Os funcionários disseram que Jack deu um show. Aparentemente, ele distraiu uma porção de gente, dando aula de macaquices aos animais. Alex corou. 7 Projeto Romances


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— Meu filho não será assim. — Especialmente se eu mantiver você longe, pensou. — Claro que não — concordou ela em tom jocoso. — O seu bebê será o estandarte de todas as virtudes, sabiamente guiado por você. Quando Gary riu, Alex encarou-o, pois seu advogado deveria estar do seu lado. — E o que você me diz da amamentação? — Amamentação? Alex não havia pensado nisso. Amamentação. Olhou para os seios de Diana. E teve uma visão do bebê mamando em seus seios, escondidos sob a velha camiseta amarela onde se lia "Diana Jardins". Nunca havia prestado muita atenção nos seios dela, mas notava agora que eram firmes, redondos, vistosos e... tocáveis. Caberiam perfeitamente em suas mãos. Ele não queria pensar nisso, nessa fantasia. Afastou a imagem de sua mente e, sentindo calor, tentou afrouxar um pouco o colarinho. — E eu não vou amamentar o bebê na frente de uma platéia — avisou ela, cruzando os braços sobre os seios como se tentasse escondê-los. — Me deixa nervosa. E se fico nervosa, interfere no fluxo do leite. Você quer que a criança seja amamentada no peito, não quer? Isso é muito importante, Alex! — Ela tem razão, Alex. A amamentação é muito importante, é o que fornece os anticorpos ao bebê... — disse Gary desajeitadamente, olhando para Diana com ar interessado. Alex respirou profundamente e falou pausadamente, tentando acalmar-se: — Está bem, vocês estão certos. Risque esta cláusula. — Muito obrigada. Com um ar de triunfo, Diana tomou a caneta das mãos do advogado é riscou a cláusula. Tentando não ser contagiada pela presença nervosa de Alex, abaixou a cabeça e concentrou-se em ler o contrato. Desde o dia em que se conheceram, ele mexia com seus nervos, sempre com atitudes desaprovadoras e comentários dispensáveis. Decidira não permitir que ele a afetasse. Mas isso seria difícil. Alex era um homem bonito, embora frio. E a perda de Tâmara havia quebrado a casca protetora, revelando uma vulnerabilidade desconhecida. Seus olhos azuis pareciam revelar um amadurecimento... Pare com isso, Diana! Ele não serve para você! Alex aguardava ansioso que Diana acabasse a leitura. Ela descansava o queixo na palma da mão e a luz revelava as curvas elegantes de seu rosto. Tão parecido com o de Tami... Ele engoliu em seco. Tâmara fora uma deusa no frágil corpo de mulher, uma loura miúda e graciosa com traços delicados e cabelos que lembravam os raios da lua. Alta e voluptuosa, Diana sempre lhe parecera uma versão maior e mais rude de sua delicada esposa. E, agora, ele se descobria vendo Diana sob outro prisma. As maçãs e o formato de seu rosto, o brilho irradiado pelos olhos verdes... Na verdade... — Isto aqui está muito interessante, Alex. — Diana levantou os olhos do contrato, parecendo confusa. —Você quer me acompanhar durante o parto? — Claro que sim. E quem mais iria? — Minha mãe ficou comigo quando os gêmeos nasceram. — E por onde andava Steve? — Alex perguntou automaticamente, antes de se lembrar que o ex-marido a abandonara quando o ultra-som revelara uma gravidez de gêmeos. Preferia ter engolido a língua a ter mencionado aquele triste período da vida dela. — Me perdoe, Diana... sinceramente... — Está tudo bem. Eu estou bem, já superei. — Deu-lhe um sorriso despreocupado. — É que fiquei surpresa, só isso. — Não fique. Este bebê significa muito para mim, Diana. Eu vou ficar a seu lado a cada momento. Não precisará se preocupar com nada.

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— Um homem companheiro e leal. Que coisa mais novelesca! — Pegando a caneta na mesa, Diana assinou no pé da última página. — Certo. Acabamos e agora vamos tomar um lanchinho e descansar um pouco antes do próximo cliente. E viva o cliente! — Teríamos terminado mais cedo se você tivesse chegado na hora. E você teria lido todo o contrato com mais calma. — Eu li o suficiente. Ela levantou-se, caminhou na direção da porta e desapareceu atrás dela. Alex olhou para Gary, que estava boquiaberto. O advogado fechou a pasta de couro sobre a mesa, ruidosamente. — O que aconteceu com ela? — Não faço a menor idéia, mas vou descobrir. Alex deixou o escritório para seguir Diana, que já estava a poucos metros da caminhonete. Ele não pode deixar de notar o jeans surrado agarrado às formas firmes de suas coxas. Pare com isso, Alex!! Desviou o olhar daquela visão tentadora antes de alcançá-la no estacionamento. — O que está acontecendo? Eu achava que você ia analisar aquele contrato com uma lente de aumento. — E foi isso que eu fiz — disse ela, abrindo a porta da caminhonete. — Espere um pouco, fique aqui. Alex correu para o porta-malas de seu carro e pegou a caixa de ferramentas. Encontrou o frasco que procurava e voltou para perto do carro de Diana, já sentada dentro da cabine. — Vire o rosto lá e feche os olhos — instruiu ele, antes de aplicar o lubrificante nas dobradiças da porta. Fazia questão de que a mãe de seu filho estivesse em perfeito estado de saúde antes do implante e, usando a mão livre, fez um escudo improvisado para proteger-lhe o rosto e o nariz. Tocou acidentalmente a pele macia do rosto dela e, sentindo-se meio sem jeito, recuou. — Desculpe-me — murmurou, tremendo. Embora Diana trabalhasse na terra e sob o sol, nada disso havia maltratado sua pele. Ao contrário, era macia como seda e suave como uma pétala. Novamente sentiu aquele aroma. E tentou ignorar. Olhou para ela e notou que seus lábios estavam pálidos, cerrados. — Espirrei nos seus olhos? Desculpe, eu tentava protegê-los. — Ele tampou o frasco. — Está tudo bem, não se preocupe. — Mas seus olhos ainda pareciam lacrimejantes. — Me diga, então, por que você assinou o contrato? Diana encolheu-se no assento da caminhonete, embaraçada. — Bem, porque... eu confio em você. Ele ficou olhando um longo tempo para o rosto dela antes de sorrir. Diana Randolph tinha lhe feito um elogio! Era uma ocasião histórica. Até agora nunca dissera algo agradável sobre ele. Sabia que ela o chamava de "andróide financeiro". Alex, o clone corporativo. — Você está mesmo se sentindo bem? Ela deu uma gargalhada. — Na verdade, não. Estou faminta. Preciso comer antes de atender o próximo cliente. Você, na certa, precisa voltar ao trabalho. — Bem, claro. Eu... preciso. A língua de Alex parecia travada. Não podia acreditar que o contato com Diana pudesse causar-lhe a perda de voz ou da sanidade. Depois que ela se foi, ficou parado olhando a porta traseira da caminhonete quebrada e semi-aberta, afastando-se. Ficou ali imóvel, muito tempo depois que ela já havia sumido de vista. 9 Projeto Romances


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Não entendia. Não entendia nem a ironia nem a surpresa com a atitude dele. Homem companheiro e leal... que coisa mais novelesca!, ela dissera. O comentário azedo não fazia sentido. Tami lhe contara sobre a infância feliz que tiveram. Sua sogra não se separara de nenhum dos dois maridos, eles haviam falecido. Diana não vinha de um lar desfeito. Se ela realmente havia superado a separação de Steve, por que o cinismo? Mas agora Diana revelara uma personalidade que ele desconhecia. Que estranha nova relação eles iriam forjar? Sacudiu a cabeça para afugentar os pensamentos desencontrados. Só a criança importava, mas sabia que as emoções de Diana afetariam seu desenvolvimento durante a gravidez. Sua tarefa estava definida: protegeria Diana e a manteria feliz apesar de seus sentimentos confusos em relação a ela. E ela não iria dominá-lo de jeito nenhum. Inspirou profundamente, lembrando-se da mecha ruiva balançando sobre as maçãs do rosto dela, os seios voluptuosos fazendo pressão contra a camiseta justa. E o que dizer das pernas e dos quadris que recheavam aquele jeans tão apertado? Não conseguiu conter um gemido. Estava tendo pensamentos lascivos com a irmã de sua falecida esposa! O que estava acontecendo com ele? Segurando firme na direção, Diana saiu do estacionamento e entrou na avenida principal. Ele a atingira! De alguma maneira o andróide Alex tinha lhe picado e a fizera chorar. Como um inseto. Lembrou-se da reação de Steve quando soubera que estava grávida. Ficara alarmado e depois parecera aceitar. Mas tornara-se impaciente com as mudanças que a gravidez provocava em suas vidas. Ela dormia mais e se relacionava menos com todos. Parara de fazer café preto de manhã e tinha cortado o vinho e a cerveja. E pedira que ele fosse fumar fora da casa. Steve rebelara-se contra a idéia de assistir ao parto alegando que não iria suportar a visão de sangue. Ou seja, não iria estar ao seu lado. Quando vira dois corações batendo no monitor do ultrassom, emudecera. Diana se alegrara tanto que julgara que a reação dele fosse atordoamento, pela alegria e surpresa. Menos de um mês depois, seu marido, o homem com o qual assumira um compromisso para toda a vida, fora embora, depois de traí-la com cada mulher disponível na vizinhança. Geólogo formado, Steve largara seu enfadonho cargo público para assumir um cargo executivo nos campos petrolíferos da Arábia Saudita. Livrara-se da família do mesmo jeito que as cobras deixavam a pele velha para trás. Não contestara o divórcio quando fora notificado. Ocasionalmente, enviava-lhe o cheque da pensão, e telefonava para os gêmeos cada vez com menos frequência. Steve Randolph não conhecera seus filhos. Diana parou no semáforo e descansou a cabeça no volante. Ondas de raiva irradiaram-se por seu corpo, fazendo-a tremer. Ela tentava mas não conseguia conter sua fúria cada vez que pensava em Steve. Isso não me ajuda em nada, repetiu para si mesma. Não conseguiria crescer ou ter paz em sua vida enquanto não superasse Steve e suas traições. Teria de tirá-lo da mente, pois ele era o passado que não importava mais. No sinal verde, acelerou e atravessou o cruzamento. E agora Alex Chandler queria acompanhá-la no parto. Ela tivera de assinar o contrato. Ficara muito emocionada com a promessa de estar a seu lado quando o bebê nascesse! Mas agora se sentia arrependida. Será que fora impetuosa demais? Devia sentir-se grata por ele se importar com seu bem-estar, mas não confiava no cunhado, era simplesmente mais um com o hábito da independência masculina enraizado profundamente. 10 Projeto Romances


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Mas... se iria estar a seu lado, significava que estaria presente no parto. E não queria essa intimidade com Alex Chandler. Não estava gostando, sentia-se... invadida, violentada. Embora tivesse concordado em gestar o filho dele e de Tâmara, a criança seria dele, não sua. Diana não queria nenhum envolvimento emocional, de maneira alguma. Alex era o marido de sua irmã, e qualquer intimidade entre eles pareceria absurda. Lembrou-se do toque da mão dele em seu rosto, a primeira vez que um homem a tocara em anos. Sentira um calor subindo por seu corpo, um formigamento... Mas fora um toque acidental, a preocupação de Alex com ela baseava-se apenas no fato de ser a gestante de seu filho. Eles nunca haviam gostado um do outro e provavelmente nunca gostariam. CAPÍTULO II De um jeito que Alex não entendia muito bem, dirigir o Jaguar prateado de Tâmara fazia com que ele se sentisse mais próximo dela. A saudade, no entanto, não era suficiente para mascarar o nervosismo perante a idéia de rever Diana. Enquanto tentava escapar do tráfego pesado da hora do rush, lia o contrato. Diana se esquecera de levar sua cópia quando saíra apressadamente do escritório e, embora a secretária pudesse enviá-la pelo correio, era uma bom pretexto para fazer uma visita aos gêmeos. Alex precisava revê-la. Queria manter um certo controle sobre a mulher que carregaria sua criança no ventre durante nove meses. Mas por que Tami escolhera sua irmã, por que Diana? Não seria mais fácil contratar uma desconhecida?, ponderava ele. Talvez. Mas Diana era uma pessoa tão honesta que não quebraria a sua palavra. Quando chegasse a hora, entregaria o bebê e, então, ele poderia realizar o sonho de Tâmara. Dedicaria sua vida a criar o filho. Fez uma curva à direita e entrou na tranquila avenida que o levaria à casa de Diana em Shadownook. Chegando ao fim da rua arborizada, já podia ver a casa que os Randolph haviam comprado ao saber que a filha estava grávida de gêmeos. Recuada da rua, ao fundo de um extenso gramado, a velha casa de dois andares parecia ter sido construída para ser ocupada por crianças. Na garagem aberta estava a caminhonete e as ferramentas de jardinagem organizadas na parede. Logo ao estacionar, Alex notou a casinha dos gêmeos construída sobre os galhos de um dos imensos carvalhos que cercavam o terreno. O gramado era rodeado por cercas-vivas floridas muito bem cuidadas, que revelavam a exuberância da primavera e as mãos mágicas da paisagista. De joelhos, Diana trabalhava ao lado das cercas, cavando pequenos buracos com energia. Jack e Miriam brincavam com o labrador dourado no gramado, os cabelos despenteados, a calça jeans rasgadas e suja de terra na altura dos joelhos. Ao verem o tio saindo do carro, correram em sua direção, fazendo uma algazarra ensurdecedora. — Tio Alex, tio Alex!! — gritavam os dois, abraçando suas pernas sem se importarem com o impecável terno claro, agora marcado pelas mãozinhas sujas de terra. Alex não se irritou, pois sabia que o terno podia ser lavado. Mas magoar ou reprimir uma criança era algo que, às vezes, não tinha conserto. Pegou a garotinha no colo e ganhou um beijo melado com algum doce. Miriam abraçou-o pelo pescoço e deitou a cabecinha no ombro forte do tio. — Mãe! O tio Alex está aqui! — Jack corria gritando para Diana, ainda trabalhando nas cercas. Alex caminhou na direção dela com Miriam ainda em seu colo. — Olá, Diana. Ela levantou a cabeça. Com os joelhos quase enterrados na terra revirada onde plantava sementes de morango, era o retrato perfeito da jardineira eficiente. Usando um velho chapéu de palha, avental e luvas grossas, Diana estava vestida para matar... ervas daninhas! 11 Projeto Romances


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Afastou uma mecha de cabelo ruivo do rosto, deixando uma marca de terra na face. — Olá, Alex. — Mãe, o tio Alex pode ficar para o jantar? Você disse que a gente tinha que amar ele mais ainda, agora que a tia Tami foi para o céu... Sorrindo, Diana encontrou os olhos azuis de Alex encarando-a. — Claro que sim, filhinha. O tio Alex pode jantar com a gente. Se ele quiser. — Sim, gostaria de ficar, se não for inconveniente. Há algumas coisas que preciso conversar com você mais tarde — disse, embaraçado mas satisfeito com o convite. — Oba! Tio Alex, tio Alex! — cantarolava Jack enquanto tentava subir no colo do tio, junto com Miriam. — Jack, não se pendure no cinto de seu tio. Ele vai pegar você no colo logo. Miriam deu um sorrisinho maroto para o irmão. — Miri, pare com isso! Os dois, agora, vão brincar com o cachorro. Goldiiie! — E assobiou tão alto que os ouvidos de Alex doeram. A cadela surgiu correndo, com duas bolas de tênis presas nos dentes, esbarrando nas pernas de Alex e deixando sua calça cheia de pêlos dourados. Sacudia a cauda querendo brincar com ele. Colocando a sobrinha no chão, falou com um entusiasmo quase infantil: — Isso, Miri. Pegue a bola da Goldie e jogue para ela ir buscar. — Ele não queria baba de cachorro em suas mãos. Já bastavam os pêlos na calça. Os gêmeos saíram correndo com o cão pelo gramado. — Você podia dar uma olhada nos dois? — Diana perguntou. — Depois que acabar de plantar as sementes, preciso tomar um bom banho e preparar o jantar. — Ah, claro. — Se você quiser ficar fora da linha de tiro, sente-se lá na varanda — sugeriu, apontando para uma varanda coberta e cercada com tela, na frente da casa curtida pelo tempo. Enquanto as crianças brincavam ruidosamente com o labrador, Alex pegou sua maleta e a cópia do contrato no Jaguar, em seguida aconchegou-se no sofá de vime na varanda. Dividindo a atenção entre os sobrinhos e a cunhada, pegou o jornal na maleta e começou a folheá-lo. Diana logo acabou o plantio e entrou em casa. Reapareceu depois com duas latas de cerveja na mão. Sentou-se ao lado dele no sofá e ofereceu-lhe uma. — Quando você acha que poderá ir ao médico para iniciarmos o processo do implante? Alex entregou-lhe a cópia do contrato. Ela colocou-a sobre o sofá, entre os dois. Um ato simbólico de seus dois lados distintos, foi a primeira idéia que surgiu na mente de Alex. — Quando você quer que o bebê nasça, Alex? Ele podia sentir o perfume floral de Diana. Bebeu um gole de cerveja para disfarçar seu desconforto. — Nunca pensei nisso. Faz alguma diferença? — Pode ser apenas uma crença feminina, mas muitas mulheres acreditam que as crianças nascidas na primavera ou no verão têm melhores chances durante a vida. — Ela abriu sua lata de cerveja. — De que maneira? — Peso maior ao nascer, baixa taxa de mortalidade neo-natal nessas estações, esse tipo de coisa — explicou, bebendo o primeiro gole. Alex pensou por um momento. — Nós então teríamos de esperar até agosto, para que o bebê nascesse em maio. Ainda faltam cinco meses até lá. Não concordo, acho que deveríamos começar o mais rápido possível, pois o primeiro implante pode não funcionar. — Quer dizer que vou ter de fazer o implante mais de uma vez? — perguntou Diana atônita, colocando a cerveja no chão ao lado dos pés. 12 Projeto Romances


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— Eu acho que sim. Lembra-se do que acontecia com Tâmara? Os embriões não conseguiam se fixar no útero... Talvez com você consigamos na primeira vez. Diana comprimiu os lábios. — Sinto muito que vocês tenham passado por tudo aquilo. Podemos começar quando você quiser. Só preciso de um tempo para remanejar minha agenda, os clientes, sabe? Só me dê tempo suficiente para isso e conseguir uma babá para as crianças. — E Irina, não pode ficar com as crianças? Eu me ofereceria, mas quero estar perto de você. — Humm. Se quer que mamãe fique com os dois, acho melhor você mesmo falar com ela. Claro que ela seria a primeira a quem eu pediria, mas está com a agenda lotada, com o serviço de bufê e a produção do programa de tevê para cumprir. E... bem, o diretor de gravação não permite mais que as crianças fiquem no estúdio. A mãe de Diana era uma cozinheira famosa na região de Sacramento, tanto pela qualidade do serviço de seu bufê quanto pelo programa diário na emissora de tevê a cabo. — Por que não? — perguntou Alex curioso. — Você não soube? Ah! É que aconteceu quando você levou Tâmara à clínica para... — ...as aplicações de quimioterapia — Alex completou com amargura. Aquelas sessões tinham deixado Tami muito indisposta, e sem cabelos. Procurou afastar a lembrança. — Sim. Mamãe levou os dois à gravação naquele dia, certa de que todos iriam adorar seus adoráveis netos. — E eles são adoráveis mesmo. — Adoráveis e bagunceiros, pensou Alex enquanto observava Jack atiçando o cão com a bola e Goldie latindo e balançando a cauda, ambos correndo pelo gramado. — Bem — continuou Diana —, para encurtar a história, os dois começaram a correr e Miri derrubou um bolo e uma salada que estavam prontos para ser apresentados depois que minha mãe passou as receitas aos telespectadores. — Mas que danadinhos! — Alex riu. — E você sabe como Jack adora subir em tudo! Sem que ninguém notasse, ele subiu numa das gruas e daí para as torres de iluminação, no teto do estúdio! — Ela levantou-se e espreguiçou-se. O movimento levantou seus seios contra a camiseta apertada. — Bom, vou tomar meu banho e preparar o jantar. Até mais. A porta bateu atrás dela quando entrou. Alex abriu o jornal, mas as discussões sobre fundos mútuos de investimento e taxas de juros não prendiam sua atenção. Mesmo sem querer, seus pensamentos fluíam para Diana. Imaginou-a subindo a escada, entrando no quarto e tirando aos poucos a roupa suja de terra, revelando os seios perfeitos. Quando levantasse os braços para soltar os cabelos seus seios se pronunciariam ainda mais. Concentrou-se de novo em um artigo sobre a mudança nas taxas de dividendos nos Fundos Federais. Aquele tipo de pensamento era falta de respeito para com Tâmara. Além disso, ele não achava sua cunhada atraente. Será que não? Diana ligaria o chuveiro e entraria debaixo dele, nua, sentindo o prazer da água quente percorrendo seu corpo. Quando passasse o xampu, a espuma escorreria pelos cabelos, descendo pelos ombros e parando sobre o bico dos seios... Sem inibição, ela jogaria a cabeça para trás quando passasse o condicionador... Mas que idéia eram aquelas, por todos os santos?! Alex estava chocado com suas fantasias proibidas sobre Diana. Desde que Tâmara morrera ele nunca se sentira atraído por ninguém, na verdade não tivera impulsos eróticos desde que Tami começara a quimioterapia. Ela fora piorando cada vez mais, e Alex se dedicara de corpo e alma à esposa, fazendo o que estava a seu alcance para ajudá-la. Quando ficou claro que ela não se recuperaria, passou a se empenhar em tornar sua partida deste mundo a menos dolorosa possível.

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Agora ele se descobria tendo reações inesperadas e desconhecidas. Fazia muito tempo desde a última vez que ele e Tâmara fizeram amor e, dentre todas as mulheres do mundo, haveria de ser justamente Diana Randolph quem lhe despertara a libido adormecida. Logo ela! Alex repetiu para si mesmo que a cunhada não o atraía, que era apenas a carência de seu corpo que estava se manifestando. Por acaso, era ela quem estava por perto quando suas necessidades masculinas começaram a se tornar mais urgentes. Queria desesperadamente fazer amor, mas com Tâmara, sua querida esposa. Mas isto era impossível. Sentiu um nó apertar seu estômago ao dar-se conta de que nunca mais poderia tocá-la, acariciá-la e amá-la com paixão. Nunca mais. Alex pestanejou ao tentar conter as lágrimas. Como sentia falta dela! Enxugou os olhos e relembrou uma das últimas conversas que tiveram. Ela segurara seu rosto entre as mãos e, olhando-o no fundo dos olhos, dissera num tom de voz muito sério: — Alex, escute-me... Depois que eu me for, quero que você recomece sua vida... Ele desconversara, afirmando que logo ela estaria curada e que eles seriam felizes outra vez. Mas Tami descartara essa possibilidade. — Não. Por favor, não pense que eu não sei; estou morrendo, querido. Prometa-me uma coisa. — Qualquer coisa. — Prometa que você vai seguir em frente. A vida continua, amor. Prometa que vai encontrar alguém que você amará. Alex fechou os olhos e recostou-se no sofá com um suspiro desesperado. — Eu estou tentando, Tami! Mas é difícil demais e... — Sentiu um focinho úmido em sua mão e, com o susto, voltou à realidade. Era a cadela, convidando-o a jogar a bola. Olhou ao redor por todo o jardim procurando os gêmeos, mas não ouvia nenhum barulho. Onde estariam os dois? Levantou-se apressado, correu para o meio do gramado e olhou em várias direções. Não havia sinal deles. Praguejou baixinho, amaldiçoando a si mesmo pela falta de atenção. Apreensivo, correu até o jardim atrás da garagem. Escutou o barulho de água corrente da fonte que Diana mandara instalar no verão anterior. Caminhou até lá para certificar-se de que não tinham mergulhado na fonte. Não queria nem pensar na possibilidade... Ajoelhou-se, olhando para a água que caía sobre as pedras, no laguinho que ela criara. Goldie apareceu nesse instante e largou no chão aos pés dele a bola com que brincava. Alex pegou a bola e jogou-a longe, o que fez com que a cadela saísse em disparada. Ele a seguiu, vasculhando entre as folhagens, atrás dos vasos, em todos os cantos do jardim. O casal de gêmeos não estava em lugar algum, simplesmente desaparecera! Alex começou a suar frio. Onde haviam se metido? Olhou nos galhos das árvores. Jack era mestre em trepar em árvores, mas certamente não estava por ali. Chegou então à casinha construída numa das árvores pelo antigo proprietário. Alguém a tinha reformado, será que fora Diana? A corda pendurada para subir era nova, e as estruturas estavam reforçadas com madeira nova. — Jack? Miri? — Alex chamou os sobrinhos. Silêncio. Nenhuma resposta. Mas os pestinhas podiam estar escondidos! Apostava que a brincadeira predileta deles era se esconder do tio Alex. Resignado, colocou um pé no primeiro degrau e de um impulso foi subindo de dois em dois. Chegando lá em cima, olhou dentro da casa. Estava vazia. Preparava-se para descer, quando escutou a voz de Diana chamando-o da varanda. — Alex? Seus pés escorregaram. — Alex, o que você está... Um de seus pés enganchou na corda e ele despencou na grama macia ao pé da árvore. Embaraçado, mas sem ferir-se, lamentou-se pelo estado de seu terno novo. 14 Projeto Romances


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Olhando a varanda iluminada, viu Diana, já de banho tomado, descendo os degraus em sua direção. Vestia um roupão rosa e tinha os cabelos presos em um coque com uma mecha caída sobre a testa. Os gêmeos, também de roupão, o observavam curiosos. Alex não queria admitir que estivera à procura dos dois. Obviamente, tinham entrado na casa enquanto ele delirava com fantasias eróticas sobre a mãe deles! E agora estava ali, estirado no chão, com o cachorro malcheiroso querendo lamber seu rosto. Ajoelhou-se para levantar. Podia sentir a parte de trás da calça úmida e suja de grama, bem como os joelhos. Uma das mangas do paletó se rasgara na altura do cotovelo, o terno inteiro estava coberto de pêlos louros e saliva... de cachorro. Que estrago! A casa de Diana, iluminada e aconchegante, convidava-o a entrar. CAPÍTULO III Alex estava desorientado. E em um estado que Diana nunca vira antes durante o tempo em que ele estivera casado com Tâmara. — Você pode usar o lavabo aqui dentro para se lavar, Alex. O jantar estará pronto em cinco minutos. — Ela segurou a porta aberta para que ele entrasse. — Crianças, me ajudem a arrumar a mesa. Se eu me importasse com Alex, começaria a ficar preocupada de verdade, divagava enquanto voltava à cozinha. Tinha pena de vê-lo assim devastado com a perda de Tâmara. Diana sabia que uma dose de "gêmeos" elevaria o astral dele. Eles eram peraltas e um teste para a paciência de todos, mas eram boas crianças e adoravam o tio. Ela conseguira transformar a velha cozinha da casa em um lugar aconchegante e prático ao mesmo tempo. A copa ficara separada da cozinha por um longo balcão de madeira, e era ali, em uma enorme mesa de fazenda, que faziam a maioria das refeições. A geladeira fora coberta com desenhos dos gêmeos. Miri adorava desenhar flores, borboletas e tartarugas entre as árvores, enquanto Jack insistia em fazer casas com famílias de três pessoas ao lado da porta ou da janela. Tentara incluir Goldie, sem sucesso. Miri abriu o armário e começou a contar os pratos, xícaras e talheres. — Um, dois, três e... quatro, não é, mamãe? Para o tio Alex também? — Isso mesmo, querida — concordou Diana, que tirava da geladeira os ingredientes da salada, colocando todos no balcão da pia, ao lado de uma saladeira. Alex veio do hall, já com a aparência melhorada. Havia tirado o paletó e afrouxado a gravata. Como arregaçara as mangas da camisa, podiam-se ver os braços fortes e os pêlos louros sobre a pele bronzeada. O coração de Diana bateu mais forte. Ela tinha apenas um contrato com seu cunhado, e que não incluía ficar olhando para seu físico magnífico. — O cheiro está gostoso — disse ele, entrando na cozinha. — É frango? — Acertou — respondeu ela ao abrir a tampa da panela elétrica, liberando uma nuvem de vapor. Cutucou o conteúdo com uma faca para ter certeza de que a carne e os legumes estavam vem cozidos. Alex aproximou-se devagar, bem atrás dela, bem pertinho. Diana sentiu seu perfume másculo, dando-se conta de como era inebriante. A proximidade dele era sedutora e ao mesmo tempo irritante. Não gostava de se sentir acuada daquela forma, mas procurou ignorar o desconforto. Olhando sobre seus ombros, Alex cheirou o vapor da panela. — Quanto tempo ficou cozinhando? A respiração dele em seu pescoço lhe causou um arrepio. Engolindo em seco, procurou concentrar-se na pergunta. — Liguei a panela antes de sair de manhã. Você coloca tudo na panela e cozinha durante o dia, é muito fácil. Você tem uma panela dessas? — perguntou, recolocando a tampa. 15 Projeto Romances


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— Antes de conhecer Tami, eu era o rei das refeições rápidas. E!a cozinhava, mas eu logo avisei que não era bem-vinda na cozinha — ele brincou. — Posso ajudar em alguma coisa, Diana? — Claro. Porque não toma conta da salada? Você só tem que lavar a verdura e cortá-la em pedacinhos. Ele fez o que ela dizia. — Sabe, a última vez que comi uma refeição decente, preparada em casa, foi na casa de sua mãe, logo depois do enterro de Tâmara — lembrou Alex, enquanto picava a cenoura. — Pelo amor de Deus, isso foi há mais de seis meses, Alex! Você está trabalhando demais. Desculpe-me. Eu deveria ter convidado você antes, mas... Ele a interrompeu com a mão erguida. — Tudo bem. O tempo passou sem que notássemos. Além do mais, eu fazia força para me manter ocupado. Diana inspirou fundo, tentando colocar ar no peito comprimido, apertado. — Miri, pegue os pratos de sopa — comandou, tentando não se perturbar com a presença de Alex. — Jack, arrume as colheres... — Ela desligou a panela e despejou o caldo espesso dentro da sopeira. — Posso fingir que é sopa japonesa? — Jack perguntou, de pé na cadeira. — Sim, depois que se sentar — disse Diana, enquanto Alex colocava a saladeira na mesa. O jantar transcorreu tranquilamente, sem que as crianças fizessem algazarra ou bagunça na mesa. Alex estava admirado com a habilidade maternal que Diana demonstrava ao lidar com o casa de gêmeos. Andara lendo sobre o assunto, pois não queria repetir os erros básicos de seus pais. Sentia que Diana tinha as atitudes corretas. Talvez nem fosse sua culpa as eventuais travessuras de ambos. Lembrou-se do ex-marido dela, a quem considerava um sujeito de bom caráter e que chocara a todos quando desaparecera na Arábia Saudita. Como pudera abandonar a família? Olhou para os três e viu rostos felizes. Sempre quisera isso. Miri espetou uma cenoura no garfo e, levantando-a, disse solenemente para a mãe: — Cenoura! — Correto, Miri. Conte a seu tio sobre a cenoura que você plantou e colheu, querida, — Nós plantamos cenoura, tio. Lá na escolinha. — E eram cenouras grandes? — perguntou ele. — Não — respondeu ela virando a cabeça de um lado ao outro. Elas ficaram estranhas, as pontas pareciam um garfo. — Você se lembra por quê, filha? — Mamãe disse que a terra tinha pedras, e as raízes cresceram com as pedras. E aí ficaram estranhas! Jack estufou o peito. — Os meus cucas ficaram perfeitos. — Os seus cucas? — Alex perguntou, repetindo as palavras com calma. — Cookies, biscoitos — Diana explicou. — Miri, você vai comer esta cenoura ou não? Miri, que estivera brincando com a comida, largou o garfo no prato e falou com firmeza: — Não. Alex olhou de esguelha para Diana, tentando imaginar o que ela faria. — Ah, está bem. Então eu vou comer as suas cenouras... — E avançou para o prato da menina com o garfo. Miri cobriu o prato com as mãos. — Não! São minhas cenouras! — Talvez o Jack queira mais cenouras. Ela comeu todas que estavam no prato dele, você não viu? — Não! — Tirando o prato da mesa, ela espetou uma cenoura e a colocou rapidamente na boca. 16 Projeto Romances


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Diana olhou para Alex e deu uma piscadela. Ela piscara inocentemente ou estava flertando com ele?, perguntou-se. Não, não podia ser... Ele estava sonhando? — Eu já acabei, mamãe! — Jack tirou seu prato da mesa e colocou-o na pia, mais alta do que sua cabeça, empurrando-o para o fundo com muito cuidado. — Muito obrigado, Jackson, e se o senhor quiser pode pegar um livro. — Eu já acabei também. — Apontou para o prato. Usando o garfo, Diana levantou uma folha de alface grande, no canto do prato de Miri. E lá estava um pedaço de frango! — Não aguenta mais? — Não, mamãe — a menina gemeu, pedindo demência à mãe, com os olhos verdes iguais aos de Diana. Os cabelos castanhos, ela herdara do pai. Um dia, destruiria corações, pensou Alex. E Diana, já teria destruído corações? — Posso pegar um livro? — Está bem. Você comeu salada e frango suficiente e tomou sua sopa sem sujar a toalha. Pode ir que já vou ajudar você a escovar os dentes. — Não faça cerimônia comigo, Diana — apressou-se Alex a dizer. — Não é melhor você ir com eles? Diana sorriu. — Eles se comportam bem depois do jantar — explicou. — A rotina é acabar de comer, escovar os dentes e depois ler um livro. Alex levantou-se e levou os pratos vazios para a pia. — Posso lavar a louça? — ofereceu, refletindo que se fosse gentil teria chance de ser convidado outras vezes. — Apenas deixe na pia. Mais tarde dou um jeito em tudo. Quer me ajudar a ler para eles? Eu leio para Míriam e você pode ler para Jack. Alex decidiu que a experiência seria útil para ele mais tarde, quando estivesse criando seu filho. Ou filha. Adorou a idéia. — Você tem que ser firme. Se deixar, eles vão querer brincar e testar você a noite toda. Ele concordou e a seguiu até a sala. Jack estava deitado na poltrona, com um livro no colo porém a atenção na tevê. Míriam rolava sobre o tapete. — Agora nós vamos subir para escovar os dentes — avisou Diana, desligando a televisão. — Jack, o tio Alex vai ler para você hoje. O menino gritou e bateu palmas de alegria, enquanto corria para a escada, seguido por Diana, Míriam e Alex. Após o ritual de escovar os dentes, Alex levou Jack para o quarto. Era um dormitório típico de menino, com as paredes pintadas em tons claros de azul e verde. Junto ao pé da cama, havia uma caixa cheia de brinquedos: carrinhos, uma espada de plástico, peças de jogos, bolas, tacos e figuras de heróis. Jack subiu na cama e tirou o ursinho de cima do travesseiro, abraçando-o contra o peito. — Você dorme de roupa, Jack? — perguntou Alex enquanto levantava a coberta. — Não. Jack tirou a calça de moletom, que não saiu enquanto não tirou os tênis. Puxou a blusa pela cabeça com ajuda de Alex. Por baixo ele usava uma camiseta e cueca. Alex sentiu o coração derreter-se por aquelas criaturinhas que vira nascer, tão minúsculos e rosadinhos! As voltas que a vida dava agora o traziam ali, e ele se via pronto para ler uma história para o sobrinho dormir enquanto ensaiava uma estréia no papel de pai. Em breve estaria ninando seu próprio filho. Respirou fundo. — Que história nós vamos ler? — perguntou, começando a folhear o livro. — Esta! — Jack apontou o dedinho para uma ilustração. Alex recostou-se no travesseiro ao lado do garoto e leu a história de um gato estabanado que virara de cabeça para baixo a vida de uma família meio excêntrica. Pensou em como o último desejo de Tâmara também virara a sua vida e a de Diana de pernas para o ar. 17 Projeto Romances


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Mas ele não se arrependia de nada e lembrava-se de cada momento, de cada dia, com felicidade. Cada segundo com Tami fora um presente divino, mais valioso ainda agora que ela se fora. Só queria, se possível, recuperar aquela incrível magia do amor que uma vez sentira. Será que teria sorte duas vezes? Diana enfiou a cabeça no vão da porta. — Tem um garotinho por aí que quer um beijo de boa-noite da mamãe? — Sim! — exclamou Jack, não querendo deixar escapar a oportunidade de ser engraçadinho. — Sim! — gritou Jack, estendendo os braços para ela, e Jack sentiu vontade de se esconder debaixo das cobertas. Sentando-se ao lado de Alex, Diana abraçou o filho com força. Ao assistir à cena, ele sentiu um aperto no coração. Sua mãe, sempre fria, seca e distante, nunca o abraçara com tamanha afeição. Naquele instante prometeu a si mesmo que seria um pai extremamente carinhoso. Seu filho talvez nunca tivesse mãe, mas teria amor de sobra. Diana levantou-se e olhou para Alex. — Miri está esperando você ir lá dar um beijo nela. O quarto de Míriam estava iluminado por um abajur com desenhos do Mickey. Toda a decoração do quarto era baseada em Mickey e Minnie, desde o barrado de papel na parede até os lençóis. — Olá, doçura. — Alex entrou no quarto e sentou-se na beira da cama. — Tio Alex... — Já vestida com o pijaminha, estendeu os braços para o tio. Ele inclinou-se, sentindo o aroma da pasta de dente e a pele de criança limpinha. — Tenha bons sonhos, meu anjo! — Boa noite... — murmurou e abraçou o travesseiro. Deu um suspiro e fechou os olhos, aparentemente caindo no sono. Segurando a mão da sobrinha, Alex ficou observando-a por alguns minutos, encantado com a capacidade das crianças de relaxar no fim do dia. Ela o aceitava como parte de seu mundo, pensou, mas que responsabilidade o amor e aceitação dela exigiriam? Diana surgiu na porta e observou-o, com uma nova expressão na face, soltar a mão de Míriam e afastar-se da cama sem fazer ruído. Ela sentiu-se leve. Embora não fossem perfeitos, seus filhos tinham facilidade para conquistar o coração das pessoas. Percebeu que a dor da perda de Tami ainda afetava Alex. Talvez os gêmeos, com seu amor incondicional, inocente e puro, pudessem dar algum conforto àquele coração destroçado pela perda. Talvez Alex não fosse o único a ser beneficiado. Seus pequeninos precisavam de uma figura paterna, e Alex encaixava-se bem nesse papel. Diana queria dar tudo a eles, mas sabia que era deficiente em algumas coisas. Sabia que poderia ser uma boa mãe, mas nunca poderia substituir um pai. Como um tio muito querido pelos dois, Alex poderia cooperar. Talvez desse certo. Mas não se atrevia a pensar que se tornaria algo mais para eles. E se ele simplesmente for embora? — perguntou-se. Agora tudo que sentia era o medo revirando seu estômago. O pai deles fugira. Iriam sofrer muito se Alex se casasse novamente e saísse de suas vidas? Alex levantou-se da cama e caminhou silenciosamente até a porta. Segurou o braço de Diana e levou-a para fora. Mesmo coberta com o roupão felpudo, ela sentiu o calor da mão dele subindo direto para o seu coração. Ele não vai nos deixar. Era uma espécie de sexto sentido. Mas eu pensei a mesma coisa sobre o pai delas, não pensei? CAPÍTULO IV

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Diana desceu a escada e Alex a seguiu. Observava seus cabelos ruivos caídos sobre os ombros, em cascata. A pele clara de sua nuca parecia macia, vulnerável. Beijável. Quando o telefone tocou, ela deu um suspirou de desagrado. — Ah, meu Deus! Você me faria um grande favor? Sirva-nos um vinho enquanto eu procuro o telefone e vejo quem é. Tem um Chardonnay na geladeira. — Procurar o telefone, Diana? — As crianças adoram o telefone sem fio. O que quer... O telefone tocou novamente perto de um dos sofás da sala. Enquanto Diana se inclinava para procurá-lo no chão, Alex não pôde deixar de repara nas curvas de seus quadris. — Eles se divertem vendo a mãe de um lado para outro enquanto o telefone toca sem parar. Nunca está onde tem... ah, achei. Aqui está. Alô? Alex saiu da sala. Quando voltou, com dois copos de vinho tinto ela ainda estava ao telefone, sentada na ponta do sofá, atenta. — Blanche, você sabe que vou fazer o impossível para estar lá... Fez uma pausa enquanto abria e fechava a mão imitando um pato falastrão. Blanche Desmond, a noiva do sócio de Alex, tinha aquele costume de ficar horas falando sem dar chance ao interlocutor de dizer uma única sílaba. Enquanto escutava, Diana fez uma careta, bebeu um gole de vinho e colocou o copo sobre a mesa de centro. Alex pôs um descanso sob o copo. — Imagine se estou insultada, menina! Tâmara era uma boa amiga de vocês e eu entendo que você me queira no lugar dela na cerimônia, claro... — Cobriu o fone com a mão. — Quer falar com Blanche, Alex? Ele fez que não e levou os dedos ao pecoço imitando uma faca cortando-o lentamente. Um sorriso apareceu nos lábios de Diana. Terminou a conversa e desligou o aparelho antes de olhar para ele. — Até que enfim! Por que não quis falar com Blanche? — Ela sempre começa com aquela conversa dramática e deprimente sobre Tâmara e a pena que ela sente acaba me deprimindo. Ao menos quando estou com você, não falamos sobre Tami o tempo todo. Os olhos de Diana se arredondaram. Endireitou o corpo e procurou uma posição mais confortável, colocando os pés descalços sobre o sofá. — Mas eu penso nela o dia todo. Sinto uma falta que você nem imagina. — Eu também sinto. Mas não quero passar o resto da minha vida neste pranto. Tami não gostaria disso também, mas Blanche acha que devo ficar chorando o resto de minha vida. — Bem, Blanche quer que eu vá ao casamento e fique no lugar de Tami na festa. Até lá eu devo estar bem adiantada na gravidez, mas não tive coragem de recusar. — Acho que vou acompanhar você no casamento, então, A boca de Alex ficou seca. Bebeu mais um gole de vinho. Nunca havia estado em um evento com Diana, que era casada com Steve quando ele conhecera Tâmara. Os comentários sobre as núpcias de Diana e Steve viraram folclore familiar, então, ele e Tami decidiram se casar em segredo em Lake Tahoe. Nenhum casamento ou festa que planejassem iria satisfazer a família dela, especialmente os pais, extremamente refinados e esnobes. — Escute, Alex, precisamos conversar sobre os gêmeos e precisamos chegar a um acordo sobre o que vamos dizer a eles. — Sobre o bebê? Bem... não acha melhor esperar o resultado do implante para então conversar com eles? — Não. Eu não posso esconder deles. Seria mentir e não se pode mentir para os filhos. Além disso, o implante não inclui várias visitas ao médico? Tenho que explicar a eles o que está acontecendo, ou pensarão que estou com alguma doença grave. 19 Projeto Romances


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— Sim, eu sei. Li que as crianças têm uma forte intuição a esse respeito. — E esses dois são observadores ao extremo. — Diana bebeu mais gole de vinho. — Sim. E se um não notar, o outro comentará. — Teremos que lhes contar a verdade. — Que a mãe deles vai ter um bebê da tia Tâmara e do tio Alex? — Ele colocou o copo na mesa com um baque e passou os dedos pela testa, confuso. — Como é que eles vão encarar isso? — Só Deus sabe. Talvez mamãe esteja certa, todo este negócio é uma loucura. Alex entrou em pânico. Chegou mais perto dela, imaginando se devia abraçá-la de novo. Ele não sabia se ela iria gostar. Será que outro abraço encorajador seria demais? Aproximou-se com cautela. — Ei, Diana, você está querendo desistir? — Eu não sei... E se não der certo e passarmos por tudo isso a troco de nada? Você já pensou como eu me sentiria se não conseguisse ter esse filho? Sentindo-se desanimado, Alex afundou nas almofadas macias. Faltou-lhe ar como se tivesse levado um murro no meio do peito. — Não, não pensei. Nunca me ocorreu falhar. — Alex, esse bebê era o sonho de minha irmã. Por que você quer continuar com isso? Eu a amava, claro que sim. Mas você não acha que é fidelidade demasiada por alguém que já se foi? — Você não entende. — Ele não pôde evitar o tom furioso de sua voz. — Eu quero uma família mais do que tudo! O tipo de família que jamais tive. Não quero essa criança somente pela memória de Tami, embora isso seja importante também. Quero esse bebê por... por mim! Quero ter uma família. Ele fez uma breve pausa antes de acrescentar, sem jeito: — Você conhece meus pais. Sabe que não somos uma... família amorosa. — Alex... Você também sabe que tem em nós uma família... — Eu sei, Diana, adoro sua mãe, e sei que me tem, como um filho, mas... por favor, eu.., quero muito o bebê de Tâmara. É o meu futuro, entende? Ela suspirou. — Está bem. Só espero que estejamos fazendo a coisa certa e que tudo corra bem. — Só me importo com a sua saúde e a do bebê — Alex disse com uma ênfase especial. — Oh, não se preocupe comigo. Sou forte como um cavalo. O médico me disse que eu poderia ter dez filhos se quisesse. Se eu puder engravidar através da fertilização in vitro, o bebê será muito saudável. Ela levantou-se e Alex fez o mesmo. Não eram nove horas ainda, mas se ela trabalhara o dia todo no jardim, e cuidar dos gêmeos era uma verdadeira tourada. — Obrigado, Diana... Muito obrigado, mesmo. Ele segurou a mão dela. — Então, agora, somos você e eu, sócio! — Ela sorriu. Alex notou que ela tinha mãos suaves para quem trabalhava no jardim. Levantou-as para examiná-las melhor. A luz da varanda refletia no vitral da porta. O vidro facetado, em forma de uma estrela de seis pontas, formava prismas que se transformavam em arco-íris sobre as mãos unidas. Ele beijou-lhe as palmas. Com dedos trêmulos, Diana segurou suavemente o rosto de Alex, numa carícia inesperada que o deixou quase em pânico. — Boa noite, Alex — ela sussurrou. — Boa noite, Diana. — A voz dele saiu com dificuldade, e ele pigarreou. — Ligarei quando tiver marcado o horário na clínica. — Esta bem, e... bem, talvez não precisemos nos preocupar tanto com as crianças. Quando eu for ao médico, direi que vou para saber sobre um bebê. Eles farão perguntas se quiserem e então aí diremos a verdade. Alex concordou. — Está ótimo. São seus filhos, você sabe o que é melhor. Mas gostaria que você sempre soubesse minha opinião. 20 Projeto Romances


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Ela abriu a porta, e a brisa noturna, impregnada com o aroma do, acalmou Alex, clareando sua mente. O que acontecera? Quase beijara Diana Randolph? Só podia ser o vinho. Não iria beijar a irmã de sua esposa, falecida há menos de um ano. Não era certo, e Diana nem gostava dele. Nunca se deram bem. Era verdade que passaram momentos agradáveis, mas não o suficiente para mudar a opinião sobre ela. Ou não? Pegou sua maleta na varanda, caminhou com dificuldade até o carro, entrou e foi-se. Diana trancou a porta e encostou-se nela, pressionando a mão sobre os lábios. Ficou imóvel até seu coração voltar ao normal. O que acontecera? Não tinha certeza, mas talvez Alex Chandler quisera beijar mais do que suas mãos... Ele olhara fixamente para sua boca... Um arrepio subiu por suas costas. Ela mordeu o lábio. Devia estar ficando louca. Alex não gostava dela. E nem ela dele. Claro, tiveram uma noite agradável, mas só isso. Nada de alma gêmea. Nada de sinos, nem violinos, nem a terra mudando de rota. Tâmara e ela, filhas de pais diferentes, eram uma o oposto da outra. Se Alex preferia louras delicadas por que iria querer uma ruiva alta? Estou imaginando coisas. Deve ser o vinho. Deu uma arrumada geral na sala e na cozinha, pegando em seguida a garrafa aberta de Chardonnay. Se ia fazer o implante em breve, era melhor se livrar de tudo que pudesse fazer mal a ela e ao bebê. Virou a garrafa na pia, mas manteve a meia dúzia de latinhas de cerveja para o caso de Alex querer beber. Abriu o freezer e tirou um pacote de café expresso instantâneo. Sua mãe adorava. Levaria para ela no dia seguinte. O andróide Alex quisera dar-lhe um beijo, coisa que ela jamais deixaria. Um não servia para o outro. Sua irmã delicada e elegante tinha se encaixado na família Chandler como uma pedra de gelo num congelador. Ela acreditava que os pais de Alex a veriam como uma estranha no ninho de Tâmara. Patrícia e Walther Chandler toleravam Irina porque era uma celebridade, mas Diana, a jardineira maluca, não fazia parte do restrito e imaculado mundo dos dois. Abriu o armário e tirou um pacote de chá, colocando-o ao lado do café. Simpatizava com o desejo do filho deles de ter uma família como nunca tivera. Uma vez fora à mansão dos Chandler para uma recepção em homenagem a Tâmara. Não tinham gostado muito da maneira como haviam se casado, mas decidiram que era de bom-tom apresentar a bela e talentosa esposa do filho à nata da sociedade de São Francisco. Retraindo-se, Diana lembrou-se dos pais dele ostentando os objetos que haviam comprado ao redor do mundo. Quando Alex cumprimentou a cozinheira da casa com mais afeição do que a seus pais, ela teve certeza que as viagens dos Chandlers não incluíam seu único filho. Pobre Alex. Imaginou um menininho solitário criado por empregados naquela casa que mais parecia um museu. Goldie estava arranhando a porta de trás. Deixou-a entrar e acariciou um pouco o pêlo macio da cadela. Queria que o filho de sua irmã fosse criado com o amor e a afeição que todos em sua casa sempre tiveram. E tudo indicava que esse também era o desejo de Alex. — Que bom, não é, garota? — disse para Goldie. CAPÍTULO V - Pelo amor de Deus, o que está errado com você? — Diana tocou os dedos de Alex, tensos, segurando firme na direção do carro prateado. Era tanta a pressão que o nó do dedo estava branco. — Hoje é o grande dia, você deveria estar feliz. 21 Projeto Romances


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Ele olhava fixo à frente, para a clínica de tijolos que se aproximava. Entrou no estacionamento, parou e desligou o motor do carro, virando o rosto sombrio para ela. — Desculpe-me... Este lugar me traz péssimas recordações. — Oh! O oncologista de Tami fica neste prédio? — Soltou o cinto de segurança e saiu do carro para olhar a clínica da qual Tami lhe falara. Enquanto caminhavam até a recepção, Alex explicou: — Além de o médico dela atender neste prédio, foi neste mesmo lugar que tentamos a fertilização. Meu Deus, uma meia dúzia de tentativas... O coração de Diana se oprimiu com a voz angustiada de Alex. — Ai veio o diagnóstico, a quimioterapia, e seis meses depois ela se foi. Fim da história. Odeio este lugar. Enquanto ele abria a porta de vidro, Diana segurou no braço dele. — Espere. Existem outras clínicas, podemos procurar. — Sim, mas o dr. Mujedin é o melhor especialista no assunto. Escreveu o primeiro livro sobre fertilização in vitro — disse ele automaticamente virando à esquerda e descendo por um corredor acarpetado. Diana notara a placa ao lado do elevador "Obstetrícia — Segundo Andar". — Mas... não temos que subir? Alex parou com os olhos fechados, a resignação estampada no rosto. — Desculpe-me. Foi automático. A quimio... a terapia era no fim deste corredor. Diana mordeu o lábio, imaginando seus problemas insignificantes, como pagar a hipoteca, o dentista, trocar de carro. Não eram nada em comparação com o que Tâmara e Alex haviam enfrentado. Quando saíram do elevador, entraram em um corredor que terminava em uma porta de vidro decorada com fotos coloridas. — Bom dia, sr. Chandler. — Surpresa, Diana percebeu que a recepcionista com ares de avó lembrava-se dele, embora vários meses tivessem se passado desde a última visita. — Olá, sra. Nakano. — Ele também se lembrava dela. Diana concluiu que deviam ter passado muito tempo naquele consultório. — Esta é a srta. Randolph — ele apresentou. — Muito prazer. Vocês chegaram na hora. Sente-se um pouco. A senhorita me acompanhe, por favor. — Sr. Chandler? Alex reconheceu a mulher alta de cabelos mechados e com um sorriso calmo parada a sua frente. Pertencia à equipe do famoso médico. — Sim, doutora? — Seria bom se o senhor ficasse ao lado da srta. Randolph. O dr. Mujedin me disse que ela está bastante ansiosa — explicava enquanto desciam pelo corredor e entravam no laboratório. Alex estava suando apesar do ar-condicionado. Encostou-se ao lado da porta e tirou um lenço para enxugar a testa. Acalme-se, vamos! Ela é fértil. Ela é saudável. Tudo vai dar certo! Tomou coragem e entrou. Diana estava deitada na mesa de observação. Virou-se quando o viu, falando alto e parecendo nervosa. — Até que enfim, Alex! Devia estar quase nua sob o lençol, vestindo apenas um avental hospitalar que cobria as partes essenciais. A cintura estava mais elevada do que a cabeça, como se fosse fazer um exame ginecológico. — O... olá. Como está se sentindo? — Era difícil falar qualquer coisa. — Como uma idiota. Não esperava por isso. Por que estou aqui com as pernas para cima? — N-Não sei. Acho que torna a fertilização mais fácil. Ele não explicou os procedimentos? 22 Projeto Romances


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— Sim, mas não entrou em detalhes. — Posso fazer algo para ajudar, para você ficar mais confortável? — Não. Bem, pode. Me traga um cobertor, por favor. Estou com frio nos pés — disse, mexendo vigorosamente os dedos. Alex nunca havia visto a prepotente Diana tão vulnerável como agora. Sem resisitir, fez cócegas nos pés dela. Ela gritou, sacudindo as pernas. — Alex, não! Rindo, ele se afastou. Achou o cobertor numa gaveta da cômoda e balançou-o no ar. — Sem chutes, mocinha. Certo? — Está feito o trato. Alex cobriu-a. — Isto está demorando demais. — Na verdade, não. A espera só parece demorada. Mas não é. Daqui a uns minutos os embriões estarão prontos e aí serão implantados. Relaxe. — Ah... as coisas que já fiz por minha irmã! — falou com afeto, mas austera. Ambos se viraram para a porta quando o médico entrou, inspirando confiança na roupa imaculadamente branca. — Como vai, sr. Chandler? E a srta. Randolph, como se sente? — Nervosa, doutor. Diana se mexia debaixo dos lençóis, não encontrava uma posição confortável. Queria fazer aquilo por Tami, mas queria que acabasse logo. No fundo, estava apavorada. — Oh, mas não há o que temer. É um procedimento experimental, sem dúvida, mas sem nenhum risco para você, não importa o que aconteça. — Eu sei. A fertilização por aqui já virou rotina — disse ela, tentando descontrair. — Nós criamos a vida, srta. Diana. — O rosto do médico estava sério. — Isso nunca é rotina, e envolve risco para os embriões. A probabilidade de sucesso é de trinta por cento para cada um. Por isso vamos inserir três, esperando que um sobreviva. — Ah, tudo bem. Eu sou muito saudável. Aposto que vou ficar grávida na primeira tentativa. — Tentava convencer-se de que não precisaria voltar. — Espero que você esteja certa, Diana. — O dr. Mujedin pegou um espéculo e um tubo de lubrificante da mesinha. Alex inclinou-se para afastar as mechas de cabelo do rosto dela, deixando-a surpresa. — Você quer que eu saia? — Ah, sim. Não. Eu não sei... — Precisava de alguém a seu lado, mas será que o andróide a ajudaria a enfrentar aquilo? — O que você quiser está bem. Eu sempre ficava com Tami nestas horas. Apenas feche os olhos e tente relaxar — murmurou em tom paternal. Diana respirou fundo e inspirou bem devagar. — Esta bem. Fique, acho que é bom. — Por favor, relaxe as pernas, srta. Randolph — o médico pediu, puxando a coberta até a altura dos quadris. Embora tensa, ela cooperou. Sentiu um ar frio soprar nas pernas e tentou relaxar a cabeça sobre as mãos cruzadas. Fez uma careta de dor quando o médico começou a inserção. Alex tocou-lhe os cabelos, alisando-os, — Está tudo bem. Tami me disse que está é a pior parte, e já está acabando. — O que ela disse que sentia? Apavorada, viu o médico pegar um tubo de vidro com presilhas antes de prosseguir. Fechou os olhos. — Ela disse que sentia um puxão e um empurrão, mas nada com muita força. — Alex arrumou mais uma mecha de cabelo atrás da orelha de Diana. — Respire fundo, e devagar. E continue assim. 23 Projeto Romances


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Ela sentiu uma sonda penetrar seu corpo e uma espécie de câimbra interna. Involuntariamente, contraiu os quadris. Sentiu lágrimas nos olhos. — Calma, calma — o médico repetia devagar para acalmá-la. — Está se saindo bem. A pior parte acabou. Deite bem a cabeça e fique assim, por favor. — Levantando-se, apertou um botão no controle. Ao lado de Diana, Alex acariciou o rosto dela. — Está tudo bem — ele murmurou. — Você é maravilhosa, doçura. Só mais um pouquinho. Tão real quanto a ternura e o carinho de Alex beijando seu rosto, a sensação da compaixão dele invadiu sua alma. Respirava profundamente ajudada pela voz calma e pela desconhecida intensidade de sua preocupação com ela. Como ela nunca percebera tanta ternura? Abriu os olhos e encontrou o olhar dele dentro do seu, olhos azuis como o mar. Adoraria navegar com ele para sempre naquele oceano... Naqueles olhos ela podia ver o mesmo amor e preocupação que ela sentia. Sabia que ele estaria a seu lado naquela busca pelo sonho de Tami. Duas batidas na porta precederam a entrada de uma mulher alta e forte. Alex recostou-se na cadeira, ainda com as mãos no rosto de Diana. — Srta. Randolph, eu sou a dra. Frida — ela apresentou-se. — Temos três embriões para você aqui. A jovem médica carregava uma seringa conectada a um tubo. Posicionou-se atrás de Diana enquanto explicava o procedimento. — Estou conectando o cateter ao tubo que o dr. Mujedin inseriu em seu útero. Agora... só uma pressãozinha... e... pronto! — Embriões transferidos. — A voz de Mujedin era mais séria do que a da embriologista. — Mísseis lançados! — Diana brincou. Então inspirou profundamente para não rir, com receio que o movimento pudesse expelir os embriões. Para sua surpresa, Alex estava fazendo graça também. — Até mais tarde, garotos. — Ou garotas! — ela emendou. — É verdade — a médica ressaltou. — Agora vamos mudar de posição. O médico apertou outro botão de controle e a cama ficou reta. — Agora vire-se e encontre uma posição para relaxar. Pode tirar um cochilo se quiser, pois terá de ficar imóvel umas duas horas. — A médica dirigiu-se à porta. Alex ajudou Diana a virar-se lentamente, com cuidado. — Faça o seguinte, Diana, Mentalize nossos garotinhos... ou garotinhas... sendo implantados. — Sonhe um pequeno sonho, sonhe, sonhe... — a bem-humorada médica saiu cantarolando do quarto. Sozinha, Diana ajeitou-se e tentou descansar. Embora a mesa fosse macia, não conseguia sentir-se confortável. Não estava nem um pouco sonolenta, mas ainda trêmula com a intensidade dos acontecimentos. Se tivermos sorte, estou com uma nova vida dentro de mim, pensou. Ainda estava surpresa com a atitude de Alex. Lembrou-se da intensidade de seu olhar enquanto lhe acariciava o rosto e os cabelos para acalmá-la. Agira como se ela fosse o centro do mundo e nada mais importasse. Só ela. Estava arrepiada. Não me admiro que Tâmara tenha se apaixonado por ele. Nunca entendera a atração que sua meia-irmã sentira por Alex Chandler, mas agora o via com outros olhos. Diferente do homem frio que ela sempre conhecera, Alex demonstrara interesse e gentileza. Naquele momento em que beijara seus olhos e enxugara as lágrimas, ficara tão surpresa que se esqueceu do implante em andamento. Lembrar-se daquela inesperada ternura fez Diana querer... querer... Não, tinha de parar com aquilo! Não importava o que ela sentisse, Alex não gostava dela. Apenas preocupava-se com o bebê. Queria que ela estivesse calma no momento da fertilização para aumentar as chances de sucesso. E esta criança será dele, não minha. Fechando os olhos, visualizou um pequenino bebê formando-se em seu útero. Tinha os belos traços de Alex e alguns fios de cabelo louro. Sorriu com a imagem de um Alex em miniatura crescendo dentro dela. 24 Projeto Romances


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Achava difícil imaginar alguém que ainda não existia quando tivera Alex em carne e osso confortando-a tão docemente momentos atrás. Seus mamilos endureceram, fazendo pressão sob a coberta. Um calor sensual fluía de seu corpo. Como seria Alex na cama, fazendo amor? Diana abriu os olhos de repente quando percebeu que sonhava acordada. Estou tendo uma fantasia erótica com Alex! Quero que ele faça amor comigo! Esfregou bem os olhos, com uma certeza em mente. Não podia desejar o homem que fora marido de sua irmã. Além do mais, não era hora de pensar em romance. Em poucos meses, estaria gorda, barriguda, inchada. E depois do parto, teria um recém-nascido para cuidar, além de seus dois filhos, E havia ainda um outro fator, Alex ainda chorava por Tâmara. Precisava tirá-lo da cabeça. Emocionalmente exausto, Alex sentou-se em uma das cadeiras da recepção, fechou os olhos e tentou relaxar. Não conseguia esquecer a expressão de Diana durante o processo de fertilização, O mesmo misto de espanto e medo que vira no rosto de Tami, apenas disfarçado de coragem. A personalidade de Diana sempre o surpreendera, mas ele havia descoberto nela qualidades de caráter que desconhecia. Talvez tivesse sido injusto cora ela no passado. Nunca entendera o vínculo entre as duas irmãs, totalmente opostas. Agora sabia que ambas possuíam determinação, inteligência e coragem. Seu filho teria sorte. As duas mães, a biológica e a substituta, eram mulheres especialíssimas. Quão próximos seriam Diana e o bebê? Nessa decisão sabia que tinha todas as cartas na mão. O contrato lhe dava total controle, mas o panorama mudara. Será que os sentimentos de Diana para com ele tinham se transformado também? Moveu-se desconfortavelmente na cadeira. Tinha de certificar-se de que o bebê desenvolvesse uma relação sadia com Diana sem se envolver demais cora ela. Seria difícil, mas daria um jeito. Uma porta se abriu e Diana, parecendo reanimada com o descanso, entrou na sala de espera. Vestindo a costumeira camiseta e jeans, não olhou diretamente em seus olhos quando foi para a saída. — Vamos? Alex apontou para uma sacola que ela carregava, — O que é isso? — Supositórios de progesterona — falou com uma careta. — Ah! Mas que maravilha! Ambos riram. — Para que servem? — indagou curioso enquanto abria a porta. — A dra. Frida disse que vão reforçar o forro uterino para manter os embriões fixos. Preciso comprar mais na farmácia. Ela caminhou vagarosa pelo corredor. — Eu levo para você. Alex correu atrás dela. O que estava acontecendo? Pouco antes pareciam tão próximos, tão ligados... e agora ela agia daquele jeito frio, distante. Diana parou de andar e apertou o botão do elevador. — Tudo bem, eu posso lidar com tudo, Alex. — Mas você não precisa. Posso tomar conta de você. — Estou engravidando, Alex, não estou aleijada. Não preciso que você nem ninguém mais tome conta de mim. As portas do elevador se abriram e Alex a seguiu para dentro, com a sensação de ter levado um tapa. — Você não está entendendo. Se você não se aquietar os embriões não se fixarão. — Você está certo. — Ela fechou os olhos e apoiou-se na parede do elevador para apertar o botão. Alex não sabia o que fazer para acabar com a tensão e o mal-estar. Tentou expressar-se com muita calma. 25 Projeto Romances


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— Olhe aqui, Diana. Eu sei bem que você não quer depender de homem nenhum, mas eu não sou Steve. Eu não vou embora. Ela sentiu o rosto arder. — Você está certo — admitiu quando o elevador abriu no andar térreo. — Me desculpe, não quis ser indelicada. — Não precisa pedir desculpas. Tudo isso, Diana, tem a ver com a gestação de uma criança muito especial. Ele pegou nas mãos dela e apertou-as. — Está sendo difícil para mim, sabe, me acostumar. — Com o quê? — Com você, Alex. Com você fazendo parte da minha vida. Sempre me pareceu tão afastado, distante... e agora sou o foco de toda a sua atenção. Alex abriu a porta para ela. — Vai ter que se acostumar, Diana. Você está carregando três filhos meus e eu não pretendo sair de perto de você. CAPÍTULO VI -Adivinhe, Alex! Diana levou dois copos de limonada para a mesa de madeira da cozinha e entregou um para Alex. O sorriso dela atiçava seus nervos. — O quê? — Podia escutar os gritos e risadas dos gêmeos lá fora sob o suave sol de maio. — Acho que engravidei. Para ser mais sincera, eu tenho certeza. — Mesmo? Que maravilha! Ele saltou da cadeira e abraçou Diana. Ela também o abraçou, os olhos um pouco úmidos. Impulsivamente, ele beijou as lágrimas que rolavam. Parou e observou-a de cima a baixo, um pensamento em sua mente: ela não parecia diferente. — Você tem certeza? — Claro que tenho certeza! Já fiquei grávida antes, esqueceu? O teste de gravidez vai apenas confirmar o que eu já sei. — Então, ótimo. Aqui está o pagamento conforme combinamos. Ou parte dele. Alex abriu a carteira e tirou um cheque, segurando-o na mão. — Não estou fazendo isso por dinheiro, Alex — disse ao pegar um pacote de batata frita e esvaziá-lo numa tigela de cerâmica azul. — Eu sei que não. Mas não tem estado apta a trabalhar desde o implante. Isto deve ajudar. Por falar nisso... já pensou em trocar sua caminhonete? Diana olhou rapidamente o cheque. — Oh! Isso não é suficiente para comprar um utilitário. Mas pagará as contas atrasadas. — Abriu uma vasilha de molho e mergulhou uma batatinha dentro. — Isso me lembra algo. — Alex se levantou e abriu o armário da copa, espiando em todas as prateleiras. Não estava gostando do que vira. Melhor, do que não vira. — Onde estão as suas vitaminas pré-natais? — É só perguntar, não precisa sair espionando por aí! — disse ela zangada. — Vamos, sente-se, por favor. — O que é que você tem comido ultimamente? — Olhou para o salgadinho sobre a mesa. — Batatinha frita e molho com salsa não são uma dieta balanceada. — É verdade. Mas comi uma lata de atum uma hora atrás. — Uma lata inteira? — Sim, claro. Tenho um desejo insaciável por proteína. — E isso é normal? — ele perguntou e bebeu um gole da limonada, gelada e com hortelã, no ponto. 26 Projeto Romances


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— Você conhece as histórias sobre as mulheres grávidas. Umas querem picles e sorvete de morango. Outras, amoras. Eu gosto mesmo é de atum, batatinha e molho de salsa. Gosto de comida salgada e picante. — Ela fez uma careta. — Verdade que depois boto tudo para fora. Ambos explodiram numa gargalhada. Alex observou-a por alguns instantes, refletindo como era diferente da irmã. — O que diremos a meus pais? — perguntou de repente. Os olhos dela se arregalaram. — Você não contou a eles? — Ainda não. Não quis dar falsas esperanças antes de ter certeza. Ela o olhou desconfiada. — Ou não sabe como dizer a eles que a cunhada jardineira vai ter o bebê de Tâmara? — Bem, você tem de admitir que minha mãe não vai encarar isso facilmente. No mínimo, não vai gostar de tornar-se avó. Com cinco plásticas no rosto e o vício de tingir os cabelos, a mãe de Alex lutava com unhas e dentes contra o envelhecimento. — E o que dirão os amigos, então? Mãe-substituta, a única chance de ascensão social. Posso até ver Patrícia agora. — Diana elevou a voz, imitando o sotaque artificial da mãe dele. — Mas, Alexander querido, tenho certeza que jamais algo assim aconteceu na família antes! — Teremos que contar, mais cedo ou mais tarde. Eles virão para o casamento de Gregg e Blanche. Em julho, a barriga já estará aparecendo? — Pode apostar que sim. Já estou usando meu jeans mais largo. Em julho devo estar uma pipa — disse ao morder uma batata atolada no molho de salsa. — Tão cedo assim? — A segunda gravidez sempre aparece mais cedo, porque os músculos estão mais distendidos. — Bem, vamos conversar com o dr. Mujedin para saber se você pode ir ao casamento, nesse estado. — Alex, não seja ridículo! — Essa não é uma gravidez normal, lembre-se. — Ora, não seja alarmista! Ele apoiou os cotovelos na mesa, os olhos soltando faíscas. — Você tem os meus embriões dentro de você. Espero que respeite a minha opinião. — Não quero discutir com você. O estresse é ruim para o bebê. Podemos conversar sobre isso em outro momento. — Eu sinto muito. Você está absolutamente certa. — Alex levantou-se e caminhou até a porta. — Ligo para você depois que falar com o médico. Ele saiu e fechou a porta com firmeza atrás de si. Vários segundos se passaram até que Diana cruzou os braços sobre a mesa e enterrou neles o rosto, soluçando. Seu sentimento por Alex estava realmente mudando. Estava se apaixonando por ele! Dias depois, debaixo de um sol brilhante de domingo, Alex fazia seu jogging no parque municipal. De repente, lembrou-se das inúmeras vezes que correra junto com Tami naquela pista. Faziam sempre o mesmo caminho e frequentemente paravam na casa de Diana para descansar um pouco antes de voltar. Teve uma idéia repentina. Iria fazer uma parada para refrescar-se na casa de Diana. Saiu do parque tomando a ciclovia que corria junto à avenida Central e continuou o exercício. Estava muito quente e ele já bebera toda a água da garrafa. Acelerou o passo e logo avistou a casa. Encharcado de suor, foi desacelerando o passo em direção à porta até apoiar-se na caixa de correio para recuperar o fôlego. Não sabia como seria recebido, pois não a vira desde o dia da discussão. No momento, não tinha outra alternativa e mesmo sabendo que ela ainda poderia estar magoada, esperava que refletisse e reconhecesse que estava agindo de forma errada. E, claro, não iria negar-lhe um copo de água e uma visita rápida ao toalete. 27 Projeto Romances


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Bateu na porta, mas ninguém respondeu a não ser Goldie. Foi até a porta dos fundos, de onde pôde ouvir a voz clara e alta dos gêmeos, e bateu de novo, girando a maçaneta. Fez-se um silêncio repentino. — A gente não pode abrir a porta sem a mamãe aqui! — gritou Miriani, com voz desconfiada. — É o tio Alex, Miri. — Tio Alex! No mesmo instante a porta se abriu e as duas crianças pularam de alegria ao vê-lo, Alex sentiu cheiro de queimado e olhou ao redor. Então viu a fumaça saindo da torradeira. — Falem mais baixo, crianças! — sussurrou. — Vocês vão acordar sua mãe. — Acho que ela já acordou — Miri falou mais baixo e pegou na mão do tio, puxando-o para dentro. — O que é que está acontecendo aqui? — perguntou ao apertar o botão da torradeira. Duas torradas da cor de carvão saltaram para fora. — Não! Esse é o café da manhã dela! — Onde ela está, querida? — Dormindo, tio — Jack falou. — Hoje é dia das mães, a gente desligou o despertador dela! — Estamos fazendo o café da manhã para ela. — Miri arrumava uma bandeja, decorando-a com um guardanapo azul passado e limpo, em cima do balcão. — Ah, sei... Alguém já deu comida para Goldie? Jack e Miriam se entreolharam, embaraçados. — A gente esqueceu! Desculpe, Goldie. — A menina abraçou carinhosamente o cão. — Eu vou dar! Vem, Goldie! — Jack saiu correndo para o jardim com a cadela em seu encalço. Alex segurou a porta de mola antes que batesse. — Traga uma flor para colocar na bandeja, Jack! O menino parou no meio do caminho, sacudindo a cabeça com exagero como se considerasse o pedido. — Está bem, tio Alex! Alex virou-se para Miriam. — E você, vá buscar talheres para colocarmos na bandeja. Quinze minutos mais tarde tinham preparado uma bandeja com suco de laranja, torradas normais e ovos mexidos. Jack colhera uma rosa cor-de-rosa que Míriam envolvera em um guardanapo colorido de papel. Alex entrou no lavabo para lavar o rosto e pentear o cabelo antes de subir com os gêmeos até o quarto de Diana. Em seguida pegou a bandeja e carregou-a escada acima, seguido pelas duas crianças saltitantes. Parou em frente à porta do quarto e fez um sinal afirmativo com a cabeça, para que Jack abrisse a porta. As duas crianças entraram no quarto e correram para Diana, que aparentemente acabara de se levantar e amarrava o roupão cor-de-rosa na cintura. Ela virou-se para a porta, surpresa, e estendeu os braços para abraçar os gémeos. Depois endireitou-se e sorriu para Alex. Ele evitou olhar na direção dela enquanto colocava a bandeja sobre a mesinha redonda perto da janela. Miri estava abraçada com a mãe, que brincava com os cabelos escuros da menina. — Queridos, que surpresa! Obrigada... a você também, Alex. Só então ele relaxou. Sentiu que Diana não guardara nenhum rancor do último encontro. — Bem, acho que vou... — Ah, não! Diana esticou os braços em sua direção. O movimento fez com que o roupão abrisse ligeiramente, expondo parcialmente a curva dos seios. Alex engoliu em seco. — Por favor, não vá embora. Alex aproximou-se e segurou as mãos dela, apertando-as calorosamente. 28 Projeto Romances


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Um tremor atravessou seu braço e atingiu-lhe o coração. Aquilo era um erro, pensou. Olhou ao redor e não tinha certeza se queria estar ali. Aquela cena familiar estava lhe provocando emoções indesejadas. Contemplou a cama de casal no meio do quarto, a roupa de cama ainda desarrumada, e perguntou-se se os gêmeos haviam sido concebidos ali. Uma imagem de Diana, ofegante e excitada, contorcendo-se sobre a cama, veio a sua mente. Mas o homem naquela imagem não era Steve e, sim, ele. Pare, Alex! — Sentem-se todos na cama enquanto eu como esta deliciosa surpresa de dia das mães. Você também, Alex! — Pegou o garfo e começou pelos ovos mexidos. — Mas isto está muito bom. Obrigado a todos vocês! Crianças, vocês já comeram? Alex? — Nós comemos biscoito e tomamos leite, mamãe! — avisou Míriam. — Obrigado — disse Alex, recusando. — Estava correndo até agora. — Por que você não está em São Francisco, com sua mãe? Onde estão seus pais? — Viajaram. Ele preferia mudar de assunto. Sua mãe nunca se empolgara com a maternidade ou qualquer assunto relacionado, incluindo o dia das mães. E quando Tâmara e ele estavam juntos, tentando ter um filho, a data era reservada para uma espécie de cerimônia íntima programada: fazer amor. — E você, porque não está com Irina? Diana continuou sua refeição, sem perceber que ele desconversara. — Normalmente, nós tomamos um lanche com ela, de tarde. Assim as crianças podem brincar um pouco na piscina e ela não tem que fazer nada mais trabalhoso. Alex sentiu a pressão de Míriam tentando sair de seu lado, mas antes que pudesse entender o que estava acontecendo, Jack. bateu na cabeça dela com um travesseiro. Miriam imediatamente acertou o irmão com outro, e o quarto virou um campo de guerra... de travesseiros! Diana engoliu o último pedaço de torrada, se ajeitou na poltrona e ficou admirando Alex interagindo com os dois. Adorava estar no meio da família e, então, percebeu que ele se tornara-se parte da equação. Ele era sua família. Sentia um aconchego familiar combinado com uma faísca sensual, resultado de estar observando o corpo musculoso e os movimentos viris de Alex tão perto dela. Emoções contraditórias se chocavam em seu íntimo, produzindo um louco e desconhecido sentimento, diferente de tudo que jamais sentira. Diana abraçou sua barriga, ciente da nova vida que crescia ali dentro. Quando estava esperando os gêmeos, sonhara com cenas como aquela. Mas o personagem de seus sonhos era um moreno sorridente, Steve, namorado firme e primeiro amante e, posteriormente, seu adversário no divórcio. Ele a deixara. E Alex, a deixaria também? Tâmara sempre o achara um ótimo marido e foram felizes até descobrirem que não podia gerar filhos. Logo descobriram a doença fatal e tudo desmoronara ao redor deles. Da mesma maneira que sua vida, refletiu. Sentiu um sorriso infeliz em seus lábios. Eram sobreviventes desgastados de uma inacreditável fatalidade emocional: tinham mesmo muitas coisas em comum. Mas isto seria suficiente? Deixou os sonhos de lado e lembrou-se que, para Alex, ela não era nada mais do que uma hospedeira para o feto dele e de Tami. Sem dúvida alguma, depois que ela desse a luz, ele pegaria seu filho e correria para longe, muito longe. CAPÍTULO VII O coração de Diana deu um salto quando o Jaguar prateado estacionou. A campainha tocou e ela pegou a bolsa antes de abrir a porta para Alex. Mesmo naquela abafada tarde de terça-feira, ele vestira terno e gravata com colete, sem fazer concessões ao clima de junho. — Você está bem — ele falou sem entusiasmo. — É raro ver você de saia. 29 Projeto Romances


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Qual era o problema com ele? Talvez estivesse nervoso com o ultra-som. — Você ainda acha que está grávida? — perguntou ele enquanto dirigia para a avenida. — Bem... o teste deu positivo, mas testes de farmácia podem falhar. Digamos que me sinto grávida, mas só vou sossegar ao ver o bebê no ultra-som. — Claro. Diana sentiu um certo estresse na voz dele. Bem, podia ser o trânsito, terrível naquela hora, mas ela suspeitava que estivesse ansioso. A tensão pairava no ar, e como não sabia o que dizer, ficou em silêncio. Pouco falaram até o momento em que Diana entrou na sala de ultra-som. Após vestir o avental hospitalar, deitou-se na mesa de exames, e o dr. Mujedin começou a aplicar um gel sobre a barriga dela, o que facilitaria o teste. A dra. Frida só observava. — Alex não devia estar comigo, doutor? Pensei que ele quisesse entrar só depois que eu me trocasse... — Claro, Diana. Vou chamá-lo — prontificou-se a médica, saindo da sala. O dr. Mujedin deslizou o visualizador gelado sobre sua pele, e ela sentiu um calafrio. — Calma, tenha paciência enquanto localizo seu útero — falou Mujedin. — Eu tenho certeza que está aí — ela brincou. — Usei-o quatro anos atrás para ter gêmeos! Escutou um movimento na porta antes que Alex entrasse com a dra. Frida. Ele aproximou-se, pegou sua mão e lhe acariciou os cabelos. — Como ela está, doutor? — Bem, muito bem. Pronto, achamos! — O médico parecia contente. — Parece que dois dos implantes deram certo! Parabéns, o senhor vai ser pai! Alex encostou-se na mesa, incrédulo. Sentiu que não conseguia respirar. Tirou um lenço do bolso e enxugou os olhos e a testa. Era inacreditável! — Dois, dr. Mujedin? — Eu vou ter gêmeos novamente? — Diana quase gritou enquanto tentava levantar a cabeça para acompanhar a imagem no monitor. — Tem certeza? — Talvez não. — A médica inclinou-se para ajustar a imagem da tela. — Você ajustou o controle errado, Albert — falou para o médico. Quando Diana viu a dupla imagem borrada tornar-se uma e com mais foco, respirou aliviada. — Deixe-me ver! — Alex aproximou-se do monitor. — Então, onde ele está? A dra. Frida apontou um borrão. — Este é o seu bebê... não podemos dizer o sexo ainda. — Nós não queremos saber! — Alex e Diana gritaram ao mesmo tempo e em seguida riram da coincidência. A médica apertou um dos botões do aparelho. Uma folha de papel começou a sair da impressora conectada ao aparelho. — Você já passou por isso, não é? — Piscou para Diana. — Você está brincando? Adoro meus filhos, mas a gestação foi muito difícil. Eu estava imensa, tudo foi duas vezes mais complicado do que as outras gestantes me diziam. — Tenho certeza que o sr. Chandler vai ajudar bastante. Ele estava exultante. — Ah! Claro. Cada segundo. — Ele andava de um lado para outro, voltava à tela para olhar de novo a manchinha, visivelmente excitado. Diana estava perplexa, pois nunca o vira tão feliz. Recebeu a cópia do ultra-som e levou para Diana, as mãos trêmulas. — Vou fazer uma cópia para a senhora. Pode se trocar agora — disse a dra. Frida enquanto Alex saía do quarto. — Algum problema com ele, dra. Frida? — Ah! Com o sr. Alex? Já vi isso acontecer muito. Ele passou pela tortura que é acompanhar tentativas de fertilização. Não acredita que está acontecendo de verdade, e está com medo de que a gravidez não vá até o fim. 30 Projeto Romances


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Voltando para a sala de espera, Alex sentou-se e aguardou que Diana saísse. Atordoado ainda, não podia crer no que acabara de ver. Tremia e deixou cair mais uma vez a cópia do ultra-som no chão ao procurar o lenço no bolso. Diana estava grávida. Na primeira tentativa o bebê de Tâmara fora implantado! Pegou o papel do chão e observou a mancha triangular impressa no centro dele. Seu coração parecia inchar a cada batida como se fosse explodir. O bebê dele. Este era o seu bebê. Limpou as lágrimas. Ele ia ser pai, finalmente. Mas muita coisa ainda poderia acontecer até janeiro, mês previsto para o nascimento. Sabia que de algumas fertilizações in vitro nasciam crianças prematuras. Abaixou a cabeça, fechou os olhos e rezou pela segurança de seu filho. Incluiu Diana na oração quando entendeu que a estrada mais segura para a saúde de seu filho estava nela, em seu corpo. Por que demorava a sair? Queria demais dividir o momento de felicidade com ela. Conscientemente, procurou fazer com que seu coração batesse mais devagar. Respirava mais lentamente, tentando relaxar. Levantou e pediu um pedaço de papel e caneta à recepcionista. Tinha uma boa memória, mas, às vezes, escrever ajudava a organizar suas idéias. Dobrou a folha ao meio e escreveu: "Diana — Prós e Contras", E começou a escrever em duas colunas. Do lado "contras" escreveu, "mãe-substituta". Suspirou. Qualquer tipo de intimidade com a mãe-substituta de seu filho seria procurar confusão. E se a relação acabasse em desastre? Diana não faria mal à criança deliberadamente, mas o desgaste emocional poderia atrapalhar o desenvolvimento do feto. E se por causa da relação de amizade ela quisesse estar sempre perto da criança? Um pressentimento gelou seu coração. Não arriscaria uma batalha pela custódia da criança. Era seu filho. Na coluna "prós" escreveu: "honestidade". Diana não quebraria sua palavra e sabia a importância da criança para ele. Sabia que corria um grande risco tendo um filho por uma substituta e Gary já o prevenira: algumas tentavam ficar com as crianças que geravam através de batalhas judiciais demoradas. A maneira como Diana acariciava sua barriga sugeria pos-sessividade e aquela alegria excessiva com as boas novas pareceu maternal demais. Não gostava disso. Além do mais, ela não tinha apenas um compromisso com ele. Ela estava honrando a memória da irmã ao levar a criança no ventre. Desenhou uma estrela ao lado da palavra "honestidade". Diana nunca o decepcionaria. Escreveu no lado dos "contras": "vida sempre parece bagunçada". Mas talvez não fosse culpa dela, ele sabia. Criar dois filhos sem um pai não podia ser fácil. Decidiu que devia simpatizar mais do que criticar Diana pela maneira como enfrentava os desafios de sua vida. Já fora muito severo com ela no passado. Voltou para o lado prós. Razoavelmente atraente, escreveu. Quem ele estava tentando enganar? Chamá-la de razoavelmente atraente era como classificar Magic Johnson de bom jogador. Ela era estonteante, um nocaute, uma maravilha. Cabelos ruivos viçosos, que ele se sentia impelido a tocar. Um corpo curvilíneo e sensual que desejava acariciar. Desde que ele tivera uma rápida visão de seus incríveis seios não podia tirá-los do pensamento. Sonhara com eles! Como seria tê-los em suas mãos? Alex gemeu e arrumou sua calça. Com lábios sensuais, olhos verdes de nocautear qualquer homem, em um rosto iluminado como o sol, ela não lembrava muito Tâmara. Tinha uma beleza muito especial. As duas herdaram a maçã do rosto da mãe, e Irina, já cinquentona, ainda virava a cabeça dos homens. 31 Projeto Romances


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Tâmara fora uma esposa perfeita em muitos aspectos. Sua empresa e seus negócios exigiam que ela o acompanhasse em vários eventos sociais e de negócios. Não podia imaginar Diana, jardineira, em um vestido de noite e saltos na Câmara de Comércio ou num jantar político. Mas talvez estivesse errado. Quem sabe devia dar uma chance a ela? Estalou os dedos ao se lembrar que Diana e ele participariam do casamento de Greg e Blanche. Só então veria se ela poderia... O que estava se passando em sua cabeça? Estava pensando por acaso que Diana poderia ser sua esposa? O papel e caneta caíram de seus dedos nervosos, de novo. Isso era indecente! Tâmara morrera a menos de um ano e já estava pensando em substituí-la, por ninguém menos do que sua irmã. Mas não podia deixar de cuidar da mulher que carregava seu filho. Isto estava certo, não estava? Era fim de julho e Alex aguardava na entrada do Hotel Radisson, onde aconteceria o casamento de Greg, e observava o Mercedes dourado de seus pais aproximando-se. Seu pai, alto e com cabelos prateados, vestindo uma casaca de corte impecável, saiu do carro entregando a chave ao manobrista meio a contragosto. Após cumprimentá-lo, abriu a porta para sua mãe. Os cabelos platinados de Patrícia e suas unhas sempre bem-feitas combinavam com o longo vestido de seda bege. — Mamãe... — Alexander, querido. Apoiando-se ligeiramente na mão dele, saiu do carro. Alex beijou-a no rosto e sentiu a fragrância de Chanel nº 5, seu perfume predileto. De braço dado com a mãe, acompanhou os pais ao salão do hotel, para a cerimônia. Decorado com rosas cor-de-rosa em buquês por todo o salão, o imenso local estava repleto de convidados. Deu uma olhada para Patrícia. Como vou contar a eles? Desde que Diana tocara nesse assunto tão delicado, passara horas pensando nisso. Apesar da zombaria, ela havia descrito seus pais com absoluta fidelidade. Sem dúvida, achariam que seu bebê, nascido de uma mãe-substituta, era mais uma experiência científica indesejável do que seu neto. A primeira preocupação de Patrícia seria Como vou contar isso para nossos amigos?! Seu pai sairia estrategicamente para pegar um uísque em vez de enfrentar as lamentações a respeito da conduta do filho. — O que foi, Alexander? — ela perguntou. — Nada, mamãe — respondeu levando-a para sentar-se. Seu pai também quis saber. — Ainda sentindo falta de Tami, filho? — Os olhos de Leighton brilhavam de compreensão. — Sim, pai. Eu sinto. — Alex passou a observar a multidão movimentando-se a sua frente num desfile enfadonho de trajes luxuosos escolhidos para o evento. — Eu não iria suportar se tivesse me casado formalmente. Nunca fomos mais felizes do que quando resolvemos fugir para Lake Tahoe e ter uma cerimônia íntima. Sentiu o olhar reprovador da mãe. Ela não gostara nada de suas núpcias informais. Deu um grande sorriso para a mãe, só para aborrecê-la um pouco. — Desculpem-me, mas vou ter que receber alguns convidados. Vejo vocês mais tarde na recepção. — Retornou à entrada do salão e logo não havia cadeiras disponíveis. A caminho do lugar que lhe fora designado, Alex procurou por Diana na multidão de mulheres. Trajando conjuntos estampados com vários motivos florais e saias longas, as damas de honra pareciam um imenso buquê de flores cor-de-rosa vivo, pulsante. Não conseguia no entanto localizar Diana entre elas. Onde estava? No fundo do salão, a harpista começou a dedilhar uma música de casamento vagamente familiar. As damas de honra e seus acompanhantes formavam pares e, ao ritmo da música, começaram a percorrer o corredor central. 32 Projeto Romances


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Alex correu para o lado do sócio. — Greg, onde estão elas? Uma linha de preocupação surgiu nas escuras sobrancelhas do noivo. — Não sei. A noiva e a madrinha estão...estão... em algum lugar. Mas não sei onde. — Meneou a cabeça em direção a uma porta. — Provavelmente ali, no toalete feminino, retocando a maquiagem... não é lá que se escondem sempre? Diana surgiu perto do altar, com um vestido florido como o das damas de honra. Aproximou-se. O bolero que usava sobre o vestido tomara-que-caia de seda não conseguia esconder o amplo colo. Alex não pôde deixar de admirar a visão. Presos em um coque, seus cabelos cintilavam. Algumas mechas escaparam do arranjo, formando uma charmosa moldura para seu rosto. Segurava um buquê de rosas nas mãos enluvadas e seu vestido rosa realçava seu bronzeado. Tudo isso não conseguia disfarçar sua barriga, onde seu bebê estava sendo gerado. Com o coração disparado, estava resistindo ao impulso de pousar sua mão ali. Sabia que ainda não dava para senti-lo chutando, mas não via a hora. Queria sentir todo o processo de uma vida florescendo dentro de Diana. — Greg, querido, está na hora de você ir para o altar — ela disse. — Blanche não vai sair até que você esteja lá. Ela acredita piamente que dá azar o noivo ver a noiva antes da cerimônia. — Acho que está na hora. — Greg deu um tapinha no ombro de seu irmão, o padrinho. — Nós vamos na frente e vocês dois vêm depois. Alex hesitou. No seu atual estado não queria tocar em Diana. Não tinha sido leal com seus pais e este casamento estava mexendo emocionalmente com ele. Ainda mais ao lado dela, a mulher que carregava seu filho. Se ele tocasse seu cotovelo com certeza acabaria por abraçá-la. E se a abraçasse... bem, aí seria impossível prever o que faria em seguida. A voz dela tirou-o daquele delírio. — E eu devo ir à esquerda ou à direita? — Passou o braço pelo dele. — Você está bem — disse a organizadora do casamento para o noivo. — Sr. Holloway, espere a principal dama de honra e seu acompanhante entrarem primeiro. Vou fazer com que a noiva entre em seguida. Tudo certo? Alex fez um sinal para Diana e eles entraram no salão. Tentou não olhar, mas a beleza dela mantinha seus olhos grudados no atraente perfil. Tudo isso mexia com ele, Diana, o perfume das flores enquanto caminhava segurando o braço dela. A luva de cetim branca cobrindo o braço suave ao toque de seus dedos, sensual. Acariciou o tecido e sentiu seus músculos tensos. Ainda tentou segurar com força antes que ela se soltasse. Com um rubor na face, ela tomou o seu lugar na fila das damas. Greg e seu irmão entraram no altar assim que a harpista dava os primeiros acordes da marcha nupcial. Blanche, em um estonteante vestido branco, atravessava o corredor atrás de sua dama de honra. Embora a noiva de seu sócio estivesse realmente deslumbrante, preferia olhar a face expressiva de Diana quando a cerimônia começou. Em que ela estaria pensando? Diana descalçou seus pés das sandálias de salto alto, desconfortáveis, que Blanche havia escolhido para todas as damas de honra. Graças ao fim do seu casamento com Steve, ela odiava qualquer cerimônia desse tipo. Mas hoje, o pastor conduzia tudo rapidamente e parecia que a cerimônia iria acabar logo. Mesmo assim, estava impaciente. 33 Projeto Romances


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Arriscou uma olhadela para Alex. A casaca cinza e calça preta estavam fabulosas, fazendo com que ele parecesse um astro de cinema. Ele percebeu o seu olhar e sorriu. Seu peito palpitou. Por baixo do buquê, sua mão livre acariciava a barriga, fazendo um cafuné na sua criança. Sorriu de volta. Ultimamente, ele vinha sendo extremamente gentil e ela abençoava a mudança. E para completar, seus pais estavam aqui. Não sabia se poderia suportar um iceberg familiar, sensível como estava. — Eu aceito — disse a noiva. — Eu aceito — falou o noivo. Calçou os sapatos novamente reprimindo um gemido de dor. Estava com câimbras de ficar tanto tempo em pé. Pegou o braço de Alex e deixou-se guiar através do corredor, seguindo os padrinhos. Como podia escapar desta? Não aguentaria mais dois minutos sobre aqueles saltos recebendo cumprimentos junto aos noivos. Quarenta minutos mais tarde, Alex reparou em Diana. Ela estava a seu lado, recebendo os cumprimentos com um sorriso congelado nos lábios. Quando o último convidado saiu indo para a recepção, ela pareceu mais baixa. — Você está se sentindo bem? — Tinha lido muito sobre gravidez e pensou que sabia o que esperar. Encolher assim tão rapidamente, que estranho! — Estou bem — Suspirou. — Agora que tirei o sapato. — Você não pode andar por aí de meia. — Não estou nem usando meias. Está muito quente. Não posso colocar o sapato de novo, Alex. Meus pés estão ardendo... e doendo. — Você quer deitar um pouco. Quer que eu leve você para casa? Ela sorriu serenamente. — Calma, vou ficar bem. Você poderia colocá-los no carro? — e apoiando-se nele pegou os sapatos com salto altíssimo e fino. Entregou-lhe junto com o buquê. Segurou o par pelas tiras, balançando-os ao lado da perna, displicentemente. Greg, que estava a seu lado, caiu na gargalhada. — São a sua cara, Alex! — Você tem razão. — Sorrindo, balançava-os para frente e para trás. — Ah! Alex, pegue isso também. — Diana tirou o bolero, entregando-lhe antes de se afastar em direção ao bufê. Abandonado, ele pegou um copo de champanhe e foi bebendo a caminho do carro. Quando retornou à recepção, escutou a banda tocando músicas dançantes. Alguns casais mais corajosos já se aventuravam na pista. Viu seus pais sentados perto do bufê, conversando com os pais de Blanche, Sharon e Martin Desmond. Alex os conhecia desde pequeno. Faziam parte da sociedade esnobe e de fortunas muitas antigas de São Francisco, da qual seus pais também faziam parte. Aproximou-se. Ia cumprimentá-los e depois aproveitar a festa. — Você acha que ela está grávida novamente? — Patrícia perguntou espantada. Ele parou. Se tivesse orelhas como a de um cão, elas teriam se levantado para escutar atentamente. E escutou Martin dizer numa voz pomposa: — Bem, ela já tem duas crianças sem pai. Trabalhar cavando a lama não deve dar muito dinheiro. Se estiver grávida terá de entrar no seguro social. Alex ficou tenso de ódio antes que seu senso de humor o acalmasse. O champanhe estava fazendo efeito e já estava se sentindo um pouco ousado, sem papas na língua. — Tenho certeza, já dá para ver a barriga. — Sharon meneou a cabeça na direção de Diana que conversava com a madrinha ali perto. As duas conversavam na frente de um grande arranjo floral que fora colocado ali para alegrar mais o ambiente frio do hotel. Evidentemente, respondendo a uma brincadeira qualquer, Diana jogou a cabeça para trás e deu uma de suas altas e tradicionais gargalhadas. A elegante silhueta de seu longo 34 Projeto Romances


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pescoço, seu cabelo brilhante e o corpo radiante de Diana enchiam Alex do mais puro desejo. Sharon e Trícia cutucavam-se maldosamente. — ...tão deselegante e exagerada — murmuraram. Alex acercou-se de Diana. — Olá, querida. — Colocou os braços nos ombros dela e sorriu para a madrinha. — Com sua licença — e dizendo isso, tocou a face dela, achando-a irresistível. — Vamos dançar, querida? Os olhos dela abriram-se espantados enquanto ele a carregava para pista cheia de casais. — Não pise nos meus pés — falou nervosa. — Não estou de sapatos, lembra-se? — Você não parece ter muita confiança em mim. — Trouxe-a para mais perto de si e girou para que pudesse olhar melhor o salão. Observava seus pais que estavam pasmos. Sua mãe, abalada, sacudia o braço do pai. Alex não disfarçou um sorriso maldoso seguido de uma piscada de olhos. Sim, definitivamente, a mamãe precisava levar uma sacudidela de vez em quando. Abraçou-a um pouco mais, trazendo-a mais perto de si. Seus seios, macios, comprimiam-se contra seu peito. A sensação era deliciosa. — Alex, o que é isso? — Diana franziu as sobrancelhas desconfiada. — Estou dançando com a mulher mais linda deste casamento, a mãe do meu filho, e você duvida de meus motivos? — Ele sorriu da maneira mais fascinante que ela já vira, aquele que Tâmara dizia que a nocauteara. — O que está acontecendo, sr. Chandler? Ele encostou os lábios no alto da cabeça de Diana, desfrutando o perfume de rosas que exalava sua tiara. — Acho que está na hora de contarmos a meus pais, você não acha? — E é assim que você decidiu fazê-lo? — Um olhar de total surpresa passou por seu rosto antes que desse uma risadinha. — Está bem, são seus pais. Você quer que dêem uma boa olhada? — Claro, por que não? Diana soltou-se mais em seus braços quando a banda começou a tocar uma música lenta, uma melodia que pedia rostos colados. Os olhos verdes de Diana o encararam e ficaram assim. O humor de Alex havia se transformado. Ele não desejava mais atiçar seus pais fingindo intimidade com ela, mas queria...o que ele queria mesmo? A coisa verdadeira? A luz foi diminuindo e ele encostou o rosto no dela. Ela devia ter pressentido que ele queria beijá-la, pois levantou um pouco o rosto, Seus lábios se tocaram, Alex mantendo os olhos abertos para ver a reação dela. Diana fechou os olhos para melhor saborear aquela alegria. Suavemente sugou a língua de Alex enquanto mergulhava em suas lembranças. Quanto tempo fazia que não experimentava um beijo assim? Então, tudo o mais se apagou e só havia Alex. Alex, com braços muito fortes segurando-a contra seu corpo perfeito. Alex, cuja boca explorava a sua, com ternura e experiência. Seus seios, esfregando-se contra o peito dele, formigavam com aquele prazer incontrolável. Atravessando todo o seu corpo lascivo, faíscas de um desejo que se transformava em necessidade, quente e doce. Agarrou os ombros largos, estremecendo com aquele prazer. Fazia muito tempo... um longo tempo. Suspirou ao lembrar-se que, para Alex, aquilo não era real. Estava usando-a apenas para fazer uma declaração aos pais. Provavelmente porque não tinha coragem suficiente para dizer de uma vez que ela estava grávida de um filho dele e de Tami! Diana abriu os olhos e piscou para Alex, que levantou as sobrancelhas. — Você me deve esta, Chandler — sussurrou. Então ela tomou o lábio inferior de Alex entre seus dentes, mordiscando-os gentilmente, com delicadeza, encarando seus olhos azuis até o delírio. O abraço dele pegou-a com mais força e subitamente girou-a na pista através de uma grande porta que dava para um caminho pavimentado. A trilha escura corria paralela a um lago artificial, com uma fonte iluminada num dos lados, jorrando água. Fora esse ruído, o local estava silencioso. 35 Projeto Romances


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Ninguém estava aproveitando o local tão romântico. O ar quente de julho deslizava sobre seus ombros nus como o toque de um amante. Ele colocou a mão em seus cabelos e escorreu-os entre eles, libertando-os do arranjo delicado. Espalhou-os, e ela sentiu que tremia com o prazer do cabelo acariciando sua pele nua. Isso já foi longe demais, ela então compreendeu. CAPÍTULO VIII Diana pigarreou. — Bem, imagino que fizemos uma declaração e tanto, não foi? Assustado, afastou-se dela assim que voltou à realidade. Estivera bêbado, bêbado com o champanhe e com seus beijos. Tenho que parar com isso agora. Alguma coisa nela ameaçava seu autocontrole. O lado selvagem de Diana despertava o desconhecido em sua alma, uma chama que não compreendia e queria queimar, livre. O que aconteceria se alimentasse aquela chama ardente? — Sim. Mas que tipo de declaração foi esta? Eles devem pensar que você está grávida de um filho meu. — Mas eu estou. — Ela penteou os cabelos com os dedos, dando uma ajeitada em sua aparência. Alguns grampos do arranjo e uma rosa caíram no chão. Alex pegou-os e entregou-os a ela. — Claro, mas você está apenas carregando. Este é o bebê de Tâmara. Lembre-se bem disto, Chandler. — O que você acha que vai chocá-los mais, Alex? O fato de ele estar no meu ventre ou de a criança ser de Tami? — disse, enquanto colocava a rosa em seu decote. Ele não pôde evitar uma espiada. — Agora já não importa. É hora de darmos a notícia. — Estou me sentindo como um garoto de entregas — Diana zombou. Enquanto voltavam ao salão, Alex ia observando-a. Não resistiu à vontade de olhar o decote do vestido de novo, agora adornado pela rosa. — Milhões de homens desejariam que seu garoto de entregas tivesse a sua aparência, Di. Pare com este flerte, Alexander. Você não devia flertar com a mãe-substituta de seu filho. — Muito obrigada! — disse com afetação. — E falando nisso, exatamente o que vamos dizer a seus pais? Ele rezou para que seu sorriso despreocupado escondesse a sua própria incerteza. — A verdade, é claro. Que você está grávida do embrião meu e de Tâmara, neto deles. — Ah, sim. Ótimo! — Diana resmungou. Entrando no salão, Alex pegou sua mão para guiá-la por entre a multidão. Garçons circulavam ocupados, servindo bebidas e salgadinhos. Ela apertava sua mão, a tensão fluindo dos dedos. Na verdade, ele também não estava sentindo-se bem. A alegria do champanhe já tinha ido embora, deixando atrás apenas um propósito que o fazia seguir em frente. Guiou-a para a mesa onde estavam Patrícia, Leighton e amigos. Irina fora a responsável pelo bufe e conversava animadamente, colocando as fofocas em dia. — Mamãe, papai — cumprimentou a todos. — Olá, Irina. Diana, você já conhecia os pais de Blanche, Sharon e Martin Desmond? Diana saudou-os fazendo uma reverência com a cabeça. Um gesto nobre desperdiçado pelos cabelos despenteados e sensuais. — Meus parabéns. Blanche casou-se com um rapaz maravilhoso. — Muito obrigada. — Sharon, sem disfarçar, deixou os olhos descerem até a barriga sob o vestido. — E nós, vamos poder parabenizar você e Alex em breve? — Fitou-a com a expressão maliciosa. 36 Projeto Romances


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Diana apenas sorriu, irradiando serenidade. — Eu espero que sim, sinceramente. Esperamos que o nascimento seja em janeiro. — Mentalmente, Alex aplaudia a resposta e a compostura. Sua mãe estava perplexa, de queixo caído. — Vocês dois deveriam ter vergonha, dando um showzinho em público enquanto Tâmara ainda está quente em seu túmulo! — E encarou-o. Irina, que tudo ouvia, levantou-se abruptamente. — Tenho um pressentimento que minha querida Tâmara planejou tudo o que está acontecendo. — Você está nos dizendo que Tami queria que a irmã e seu marido tivessem... um... um... — Leighton gesticulava com o copo de uísque na direção de Diana, apontando sua barriga. — Tivessem um filho? — Irina completou em alto e bom som. — Pode dizer, Leighton. Somos todos adultos nesta roda. Alex decidiu não deixar a situação sair fora de controle. Nem queria que rumores sem fundamentos começassem a circular. — Ela está certa. Tâmara fez um último pedido a Diana, para que fosse a mãe-substituta de nosso filho. Patrícia derrubou a taça de champanhe na hora. Quebrou-se no chão espalhando cacos e vinho sobre os pés do marido. Sharon engasgou e Martin começou a rir sem pudor. Logo havia um garçom limpando tudo, de pano e pá nas mãos. — Patrícia, pelo amor de Deus. Você derrubou bebida em meus sapatos! Veja só o que você fez... — falou bruscamente. E saiu da mesa, afastando-se do eficiente garçom. Ela ignorou o marido. — Nosso filho. O que você quer dizer com isso? — Diana está sendo a mãe-substituta do nosso filho, meu e de Tâmara. — E muito feliz em poder fazer isso — Diana completou, sincera. Martin começou a gargalhar e, entre as risadas histéricas, engasgou. — Tenho que dar a você um prêmio. Você, com certeza, sabe como ser ultrajante. E com muito estilo! — Encarava Diana com uma admiração aparente. Alex fitou-o friamente, como se estivesse pronto a saltar sobre ele. Sua mãe estava com a respiração alterada. Agarrou o cotovelo do marido. — Leighton! Faça alguma coisa! — O que você espera que eu faça? — E soltando-se dela, pegou mais um copo de uísque da bandeja do garçom. — Senhor Deus, estamos vivendo em um mundo louco. Nada de bom pode nascer de algo tão... de algo tão bizarro e antinatural! — Eu, por outro lado, acho isto maravilhoso! Não vejo a hora de ver meu neto chegando em pleno Ano-Novo! — Irina fulminou ambos com seu olhar, como se dissesse Vocês deveriam estar felizes com esta notícia, retardados! Patrícia e Leighton estavam totalmente desconcertados. — Por que você não nos contou antes, Alexander? — perguntou a mãe. — Nós queríamos esperar até estarmos certos de que a gravidez progredia normalmente. Não quis dar falsas esperanças da chegada de um neto antes de me certificar dela. Um monte de coisas ainda pode dar errado. — Verdade? — Patrícia parecia até esperançosa. Diana e Irina ficaram vermelhas ao escutá-la, dois pares de olhos verdes faiscando em sua direção. Alex nunca havia notado as similaridades entre Diana, alta e voluptuosa e sua mãe, pequenina e delicada. Agora estava vendo que as duas ruivas tinham a mesma têmpera, prestes a explodir. E compreendeu que chegara a hora de pôr um fim naquela situação constrangedora. — Mãe, pai. Sei que vocês ficaram um pouco chocados. — Estava se amaldiçoando, pois percebeu tarde demais que devia ter dado a notícia de uma maneira convencional a seus pais, que eram tão conservadores. Agora, ia ter que se esforçar para acalmar a mãe. 37 Projeto Romances


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— Mamãe, este bebê, que já está a caminho, era muito importante para Tami e agora, é importante para mim também. Ela afastou uns fios de cabelo de seus olhos com mãos trêmulas. — Sei disso, filho. Lembro-me como o desejo de ter uma criança praticamente a matou. — Uma coisa não tem nada a ver com a outra, Deus do céu! — sua voz alterou-se furiosamente. — Eu não quis dizer isso — ela protestou, choramingando. — Mas ela poderia ter sido uma pessoa mais feliz se tivesse se conformado desde o princípio, sem filhos. — Você está me dizendo que devo desistir também, é isso? Alex levantou-se. De repente, Diana estava a seu lado, colocando uma mão calmante em seus ombros. — Alex, sente-se e fique tranquilo. Leighton, Patrícia, me escutem. Este bebê é real! — disse acariciando sua barriga.— Vocês podem sentir-se felizes com sua vinda, ou fazer Alex infeliz. Vocês decidem. O pai respirou fundo. — Se você encara desta maneira... — e virou-se para a esposa. — Eu não... não quero ser a velha vovó de alguém. — Suspirou. — Ah! Venha cá, mãe... — Alex estava tentando sensibilzá-la. — Você pode ser a primeira a mostrar a todos as fotografias de seu neto. Deixará todos seus amigos com inveja. E... quantos netos têm uma avó tão jovem e bonita como você? Patrícia suspirou novamente. Afastada a crise, o jantar de casamento prosseguiu sem incidentes. Alex devorava um pedaço de bolo quando Diana deu um sobressalto. — Ah! Não. O buquê da noiva! — E se encolheu na cadeira como se pudesse ficar miúda ou invisível. — Venha comigo, Di! — Blanche estava falando bem alto. Literalmente. Estivera exagerando no champanhe e parecia um pouco alta para Alex. —Deixa disso. Eu já fui casada. Não é justo tirar a chance das que ainda querem casar! — E fez uma careta. — Seria louca de casar de novo depois do que aconteceu. Ele sorriu mas ficou a imaginar se ela não mudaria de idéia. Uma multidão de moças solteiras se reuniu no centro da pista de dança, logo em frente à mesa onde estavam. O garçom passou oferecendo café aos convidados. — Se for descafeinado. — Diana estendeu o copo. — Sem cafeína? Estou impressionado. Você é bem cuidadosa. Ela concordou, solene. — Pode apostar. Não faz mal só para o bebê, e quando ficar maior aqui dentro, vai deixá-lo acordado a noite toda. Dá para imaginar um garotinho, chutando e deixando você acordado durante a noite? — Fingiu um calafrio e deu um gole do café. — Um! Dois! E... três!!! Alex reparou quando Blanche jogou o buquê para o alto sobre os ombros. Subiu voando alto, descrevendo um arco. Então, atingiu a base de uma luminária. As flores mudaram a trajetória e aterrissaram no prato de bolo de Diana. Ela engasgou enquanto entornava seu café e tentava respirar. Enquanto Alex batia em suas costas, tentando ajudá-la, ele vislumbrou o rosto de sua mãe. Patrícia tinha a aparência de quem ia ter um ataque cardíaco!

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Ele levou Diana para casa bem depois da meia-noite. Ela saltou do Jaguar, descalça, andando com pressa em alcançar a porta. O carro da babá estava estacionado na entrada. Alex ajudou-a a subir as escadas e a se sentar na cadeira cheia de almofadas. — Ufa! — Ela se largou nas macias almofadas, como se estivesse sentando nas nuvens do paraíso. Alex sentou a seu lado. — Como estão os seus pés? Estendendo-os, Diana sacudia os dedos, que pareciam inchados. — Bem melhores do que se tivesse continuado com as malditas sandálias no pé! Nunca mais. O que será que deu em Blanche para escolher esse tipo de calçado, com aqueles saltos imensos? — Como os achou bonitos, imaginou que também seriam confortáveis. Mas eu vi muitas garotas descalças hoje. Será que alguém usou um par a noite toda? — Acabaram comigo. — E aí, ela recostou-se melhor e suspirou, relaxando os pés. A lua refletiu em alguma coisa brilhante nos dedos de seus pés. — Diana, que é isso no seu pé? Virando-se, ela colocou seus pés no colo dele. Mesmo sob a luz difusa da varanda, dezenas de pequenos desenhos pintados e luminosos reluziam em suas unhas. — O que são? Pegou os pés dela, levantando-os até onde pudesse vê-los melhor e dar uma examinada de perto. — É que a Blanche havia me dito que a decoração do salão seria toda de rosas cor-de-rosa, então, mandei pintar rosinhas nas unhas do pé, com um esmalte importado. Interessante, não é? Alex riu e disse zombeteiro: — E a coisa mais absurda que eu já vi. Esmalte de rosinhas.... E correu os dedos longos pelo arco da sola dos pés de Di. — Ei, Alex! Você me prometeu que não ia fazer mais cócegas! — Diana protestou. — É, eu prometi, não prometi? — Alex começou a massagear os pés até que ela desse suspiros de prazer, apertando o tornozelo de Diana em seguida. — Aposto que seus pés gostariam de uma massagem. — Humm, todo aquele tempo em pé! Mas me diverti. — E deu mais suspiros sonoros quando ele massageou as solas doloridas. — Mas isso é muito bom, Alex. É gentil da sua parte. — Você até merece ser mimada um pouco. E a massagem nos pés continuou, trabalhando cada dedo. — Sabe, Tami adorava isso. Muitas vezes massageei seus pés após uma festa, uma recepção. Também não suportava salto alto, como você. — Ninguém gosta. Mas muitas mulheres usam. Louco isso, não é? — E enquanto falava, ela ia ajeitando o corpo e encostando-se com mais conforto na cadeira. — Diana, você foi maravilhosa hoje. — Aprendera a responder umas perguntas sobre ela. Ela ficava bem em qualquer grupo de pessoas, tinha facilidade para se relacionar. Desde que não tivesse que usar salto alto! — Eu? — falou com voz sonolenta. — Eu não fiz nada demais. — Você foi perfeita. — E mudou o pé, massageando-o também. Ela tinha pés muito sensuais, longos, com arcos elegantes, curvilíneos. O que ela faria se ele mordiscasse aqueles dedos? Sufocou aquele desejo malicioso e voltou a se concentrar na massagem, palmas e curvas. Ela se esticou parecendo relaxar um pouco mais. O outro pé se remexeu em seu colo. Sentiu calor e contração na área da virilha. Não podia se enganar mais, não depois daquele beijo. Queria Diana de-senfreadamente. Relaxe, Chandler, vá com calma. Ela não é a sua mulher. E provavelmente, jamais será, repetiu para si. No entanto, se ela não se casasse, teria um amante? Será que teve desde que Steve se foi? 39 Projeto Romances


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Nunca escutara nada a respeito de namorado, mas estivera tão enrolado com Tâmara que não notaria mesmo que tivesse tido. Diana era linda, uma mulher muito atraente, sensualíssima. Via como os homens olhavam para ela, com lascívia suficiente nos olhos. O cabelo ruivo solto levava-o a pensar em lençóis remexidos, noites de verão extremamente quentes. O corpo curvilíneo tinha seios largos e insinuantes, seios que iriam alimentar seu filho. Em sua imaginação, via-se enterrando seu rosto naquela curva entre os maravilhosos seios. A lua refletia em seu rosto, deixando-a prateada. Rindo, notou que os lábios carnudos, entreabertos, começaram a roncar. Afinal, ela não era tão perfeita assim. Levantou os pés de seu colo cuidadosamente, colocando-os sobre uma almofada. Fim de julho, com um tempo tão agradável, dormir na varanda coberta não iria fazer mal a ela. Na verdade, a varanda parecia mais agradável do que o condomínio enjoado e esnobe onde ele morava. Diana acordou e ouviu o ronco de um motor bem regulado. Sentou e viu o Jaguar partindo. Espreguiçou-se com gosto e fez uma careta com a dor do bolero apertando sob seu braço. O que acontecera? Será que peguei mesmo no sono, enquanto ele fazia massagem nos meus pés? Ele deve estar pensando que eu o achei entediante. Nada poderia estar mais distante da verdade. Mas o mas-sagear dos pés fizera com que ela se sentisse tão bem e tão relaxada que... ela desmaiou. Sonhou com o beijo que trocaram na pista de dança. O gosto dele era gostoso. Sentiu-se tão completa em seus braços. Como se o pedaço que estivesse faltando, se encaixasse no quebra-cabeça que era sua vida. Concluiu, rindo, que se tivessem esperado um pouco, até teriam feito um bebê, da maneira tradicional. Resolveu levantar-se e entrar. Rachel, a babá, dormia no sofá da sala de estar. Um videoclipe, com o som mudo, estava passando na tela da televisão. Pensou em deixá-la dormir. Estudava muito e provavelmente estava cansada. Merecia esse descanso. Tudo bem, ela podia passar a noite aqui. Enquanto subia, se perguntava se fora Alex que causara aquela sensação lasciva quando a beijou, ou se ela se sentira nas alturas nos braços de qualquer outro homem. Talvez, depois que o bebê nascesse, ela passasse a sair mais, para se divertir. Ela havia enviado todos os seus desejos para uma fornalha, no porão de seu corpo, quando Steve saiu de sua vida e os gÊmeos nasceram. Passou para dar uma espiada no quarto de Miriam. Da porta, tudo o que podia ver era uma mecha de cabelo que escapara debaixo do cobertor da Disney. No fundo do corredor, Jack dormia em meio a cobertores e lençóis enrolados, um braço caído para fora da cama. Diana sorriu, sentindo-se feliz naquele momento. Não se arrependia dos sacrifícios que fizera por eles. Eram crianças especiais. Cada momento com os dois era um tesouro de inestimável valor. Já em seu quarto, despiu aquele vestido de casamento, ridículo. Não acreditava que usara uma tiara de madeira para segurar o coque, com arranjo de flores, e aquele bolero! Tirou tudo e foi ao banheiro para limpar a maquiagem. Olhou-se no espelho. Usava filtro solar todos os dias. Então, bronzeava-se e não enrugava a pele. Será que Alex gostava daquelas linhas de sorriso que tinha no canto dos olhos? Ela divertiu-se ao pensar. Provavelmente nunca notou. No final das contas, ela ainda tinha uma boa aparência, considerando-se tudo por que passara nos últimos anos. Batalhara muito na vida para encontrar o equilíbrio. Com os gêmeos mais crescidos, talvez pudesse divertir-se um pouco... depois que o bebê nascesse. Entrou embaixo das cobertas. Seu corpo pedia por Alex quando abraçou o travesseiro contra o peito. Queria Alex abraçando-a. 40 Projeto Romances


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Ele só está sendo bom para você por causa da criança. Não engane a si mesma. CAPÍTULO IX Alex inspirou um pouco do ar quente e úmido daquela tarde abafada de agosto. Trovões e tempestade estavam a caminho. Chegando à casa de Diana, bateu na portinhola de vidro imaginando como ela reagiria ao presente que decidiu lhe dar. Era tão imprevisível. E isso tinha muito a ver com a barriga crescendo: a ação dos hormônios mexia com suas emoções, tão difíceis de entender. A porta se abriu revelando Irina, que lhe deu um beijo rápido no rosto. — Nós vamos ter que correr. Estamos atrasadas. — Virou-se na direção da escada. — Diana! Estamos atrasadas! — Nós? — ele perguntou ao entrar. — Alex, querido, tenho que pedir em favor. Posso levar Diana ao ultra-som hoje? Eu quero muito ver O bebê — disse quase implorando. Ele hesitou, pois gostava de ver a criança no ventre de Diana. Mas Irina já era de longe a avó mais empolgada com o bebê. — Claro. — Você pode tomar conta dos gêmeos? Hesitou novamente, com o incidente do zoológico ainda vivo na memória. Mas isso aconteceu um ano atrás, Jack e Miriam haviam crescido, estavam mais espertos e mais cooperativos. — Eles estão tirando uma soneca — Irina explicou. — Por favor, Alex... Tenho certeza de que não darão trabalho. Alex relaxou. Afinal, que trabalho poderiam dar duas crianças sonolentas? — Está bem. Sem problema algum. — Oh! Muito obrigada. — Irina ficou na ponta dos pés para beijá-lo. Inclinou-se um pouco para ajudá-la e também deu-lhe um beijo. Entrou na sala assim que Diana descia a escada. Vestia um longo e folgado vestido de verão de cambraia azul, que realçava o contorno da barriga. Algumas mechas de cabelo tinham se soltado do penteado, fazendo com que caracóis ruivos e brilhantes dessem contorno a sua face bronzeada. Pequenas sardas pintavam o nariz bem desenhado. — Diana. — Acariciou a barriga redonda enquanto dava-lhe um rápido abraço e um beijo no rosto. Talvez ganhasse um beijo de verdade quando ela visse o que havia comprado para ela. O que estava inventando agora? Ela sorriu e moveu a mão dele um pouco mais para o lado, o bebê deu um leve pontapé, fazendo Alex gargalhar de alegria. — Não há nada como esta sensação, não é mesmo? — Não, não há. Você tem razão. — Abraçou a própria barriga com um carinho especial e perguntou: — Está tudo bem se mamãe me acompanhar hoje? Ele assentiu, concordando. — Que maravilha. Escute. Os dois caíram no sono e devem ficar assim até a hora que eu retornar do teste. Mas se acordarem, dê algo para comerem. Tem palitos de cenoura e suco na geladeira. — Ela pegou sua bolsa a caminho da porta, onde Irina aguardava impaciente. Ainda com a mão no trinco, falou em voz alta: — Alex, se você não almoçou, fiz uma salada de maionese para você. Até logo. — E saiu, fechando a porta. Sozinho, ele falou alto, de brincadeira: — Ela me fez uma salada de maionese! Salada de... maionese. Hum! Que bom. Tâmara sempre fora uma verdadeira mestre-cuca, mas a correria diária não permitia que ela lhe fizesse o almoço. E sua mãe dizia para a cozinheira tomar conta da fome do garoto. Nunca ninguém lhe fizera uma maionese. Estava duplamente feliz que Diana se desse ao trabalho de... 41 Projeto Romances


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— Alex! — Seus olhos estavam faiscando quando ela entrou de volta e logo pegou o braço dele. — Alex, o que é aquilo? Diana apontou para fora na direção de uma caminhonete amarela que bloqueava a saída de seu carro velho e maltratado. Ao lado do outro veículo, parecia uma peça de ferro-velho. Alex deu um sorrisinho, pensando que, afinal de contas, ela não era tão imprevisível assim! Acercou-se e balançou um chaveiro bem na frente de seu rosto. — Aquilo é a sua nova caminhonete. E aqui esta a chave dela. Diana abriu a boca sem saber o que dizer. — Hã? Mas... mas... — Não é sempre que consigo tirar as palavras de sua boca. Ela se recompôs. — Alex, você é muito gentil, mas eu realmente não acho que você precisa me comprar um carro novo! — Eu não comprei nada. Tâmara comprou. — Uma mentirinha não vai fazer mal, disse para si. — Ela deixou muito dinheiro para você e o bebê. E resolvi que não queria meu filho andando em uma caminhonete velha, caindo aos pedaços. — Eu gosto do meu carro velho! — O rosto furioso dela ficou vermelho, — Estou acostumada com ele. — Tente ser razoável, Diana. Os seus pneus se foram, estão carecas. A transmissão e a suspensão terão de ser trocadas, chequei tudo isso. E o pior, não há espaço suficiente para vocês três, quanto mais para quatro! — Eu não preciso dela e nem de você dirigindo a minha vida. — Não vai pelo menos dar uma volta e testá-la? — Pegando-a pelo cotovelo, levou-a, contrariada, até a nova caminhonete. Irina já estava dentro da cabine. — Queridos, isso aqui é sensacional. Tem espaço de sobra para os gêmeos atrás e pelo menos meia dúzia de porta-copos! Diana olhou para cima, não acreditando no que escutara. — Porta-copos! O atalho para o coração de minha mãe é através de porta-copos! — Examinou a caminhonete novinha, em seguida dando uma olhadela para a antiga. — Está certo, você ganhou. Quanto vai me custar o seguro dela? Alex apenas fez um gesto com a mão. — Deixe para lá. Você não terá que se preocupar com seguro nem licenciamento. É para o bebê, entendeu, e já está tudo pago! Diana acelerou ao juntar-se ao trânsito da avenida da Independência, espantada com a suavidade de um motor tão potente. — Sabe, mamãe... Acho que Alex anda um pouco, digamos... estranho. — Seus pensamentos estavam em ebulição de novo e por causa dele. — E qual é o problema? Está se portando como um homem. Está cuidando de você e do bebê. — Eu não preciso que ele tome conta de mim — ela murmurou por entre os dentes. — Com Steve fora de sua vida, alguém tem de fazê-lo. — Eu tenho dado um duro danado para cuidar de mim e dos gêmeos. — Querida, você fez um ótimo trabalho. Mas de qualquer maneira, estou feliz por ele estar presente. Não tenho que ser a única a me importar com minha filha, a única agora. Um sentimento de culpa caiu sobre o rosto de Diana. — Oh! Mamãe, sei que desde que Steve se foi você tem me ajudado muito. Eu sei.

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— Querida, sabe que não é o dinheiro. — Irina ligou o rádio e procurava uma estação. — E não precisei contribuir com nada para a casa por um ou dois anos, meu bem. Você provou a todos que pode fazê-lo sozinha. Portanto, agora, você pode muito bem aceitar uma pequena ajuda sem se envergonhar. — É, imagino que sim. Mas isso é mais do que uma pequena ajuda. Isto é Alex tentando controlar a minha vida... de novo. — E lembrou-se de como foi dependente de Steve. Lembre-se do que aconteceu naquela relação, advertiu-se. Não caia na mesma armadilha novamente. — Aprenda a ser paparicada, pela sua mãe. É um alívio saber que há mais alguém em sua vida capaz de se importar e cuidar de você, minha filha. E cuidar muito bem. — Você acha que ele se importa, mesmo? — Ela atravessou a ponte, rumo à clínica. Não queria aceitar o presente. De alguma maneira, aceitar seria o mesmo que confirmar Alex no papel central de sua vida. Não sabia se estava pronta para deixar outro homem fazer isso. — Ele disse que comprou a caminhonete por causa do bebê. — Só falou da boca para fora — outra das expressões folclóricas de Irina. — Ahn? Ele sempre diz que é para o bebê quando me faz algo bom. — Lembrou-se dos beijos na noite do casamento. Uma chama começou a arder dentro dela, um desejo infinito. Arrepiou-se no assento de couro. — Preste atenção no que vou lhe dizer: existe mais do que simples responsabilidade e preocupação com o bebê. Os gêmeos me contaram que ele aparece todos os dias. — Sim. Está me investigando: minha dieta, até meus pneus carecas... sinto que ele não confia em mim. — São apenas desculpas. Ele quer mesmo é ver você. E o que foi aquela cena no casamento de Greg, hein? Diana deu de ombros, com a esperança de que estivesse camuflando seu próprio desejo. — Aquilo foi uma maneira de dizer aos pais dele que estamos esperando o bebê dele! — Meu Deus, como isso soava estranho! Talvez Alex tivesse um motivo maior escondido. — Absurdo. Poderia ter telefonado, enviado um e-mail, escrito uma carta... sei lá! Beijou você porque queria beijar, não importa o que ele diga. Sozinho na casa, Alex tirou o paletó e afrouxou a gravata. Uma grata satisfação invadiu seu coração. Sabia que se conseguisse que ela dirigisse o carro, ela o aceitaria. Mais um utilitário luxuoso do que uma simples caminhonete: era como dirigir um sonho. Gostava de tornar a vida mais fácil para ela, odiava vê-la brigando com aquele ferro-velho. Um estresse adicional que nem ela nem o bebê precisavam. Sentou-se à mesa da cozinha saboreando a salada de maionese especial e o caderno de Economia e Finanças do jornal. Uma hora mais tarde, tirou os olhos do artigo sobre o Mercado de Ações Asiático, certo de que ouvira um baque lá em cima. Levantou-se e prestou atenção, procurando escutar algo. Silêncio. Era sua imaginação. Não, agora escutara o zumbido de vozes infantis matraqueando. Sorriu, os gêmeos estavam acordados. Subiu as escadas e encontrou... nada. Sem crianças. Mas no quarto vazio de Jack pode ver a evidência de sua recente presença: um sanduíche de lençol e cobertor e mais brinquedos e livros espalhados pelo chão. Seguiu para o de Miriam, mas logo parou com o caminho bloqueado por uma mesinha de brinquedo. Cercada por quatro cadeirinhas, estava arrumada para a festa maluca da hora do chá, com cartões personalizados em cada lugar, xícaras e bules, tudo arrumado. Intrigado, aproximou-se. Na frente de um urso gigante de pelúcia estava um cartão escrito em letras verdes meio tremidas: Jack. Na cadeira ocupada por Minnie, um cartão igual onde se lia Miriam. A Barbie também ficara para o chá, Mamãe. O boneco Garibaldo, da Vila Sésamo, fora nomeado Alex. 43 Projeto Romances


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Alex ficou sem ar, emocionado. Mantinha os olhos grudados naquela família de brinquedo. Descobrir-se membro da família, por iniciativa das crianças, fez com que ele se sentisse nas nuvens. E com o coração apertado, contorcendo-se no peito. Aquilo era tudo o que ele sempre quisera. Como faria esse sonho tornar-se realidade? E, então, outro baque surdo veio de fora do quarto. Mas... de onde? Em cima? No corredor, ele procurava a origem do misterioso barulho que, na certa, indicaria onde estavam os gêmeos. No sótão? Como subiram até lá? Abriu a porta do quarto de hóspedes e viu a escada, encostada em um buraco retangular no teto. Os dois peraltas estavam se aventurando pelo sótão de Di. — Jack! Miriam! — Não sabia o que estava acontecendo lá dentro. E se tivessem se machucado? — Jack e Miri, respondam! Uma gritaria saudou seu chamado. — Tio Alex! Era Miriam descendo a escada e atirando-se em seus braços, o rosto coberto de pó, a camiseta e short imundos, como sempre. — Olá, minha querida! — Abraçou-a bem apertado. Depois lavaria a camisa... — Onde está a mamãe? — Jack perguntou enfiando a cabeça pelo buraco no teto. — Ela foi ao médico com sua vovó. Venham vocês dois, seus bagunceiros! — Colocando a sobrinha no chão, ofereceu a mão para Jack descer. — Me ajude, tio Alex. O garoto desapareceu dentro do sótão. Logo em seguida, Alex ouviu algo sendo arrastado acima do teto. — Menino, o que você está fazendo? — Suba que você verá. — A voz de Jack soava marota. Miriam, a seu lado, puxava-lhe a calça. — Por favor, tio, por favor, ajuda a gente, tio! — Claro. Ajudar a fazer o quê? — concordou, percebendo tarde demais com o que estava se envolvendo! Rapidamente, Miriam subiu a escada e parou, olhando para o tio. — Vamos ajudar mamãe a arrumar o quarto do bebê. — E entrou atrás do irmão. Alex hesitou por um instante. — O que mamãe disse a vocês sobre o bebê, doçura? Subiu a escada e colocou a cabeça pela abertura do teto. Cheio de caixas e móveis empilhados, o sótão estava abafado, escuro e cheio de pó. Podia vagamente ver as duas crianças na penumbra, empurrando um móvel retangular. Entrou e chegou mais perto. Era um berço. — Ei, crianças, esperem! — Sentou-se sobre uma caixa etiquetada "LIVROS" em letras grandes. — Crianças, cheguem mais perto do tio. Jack veio e sentou-se em seu colo. Miriam encostou-se nele, que logo a abraçou. — O que a mamãe disse a vocês sobre o bebê? — Que é seu bebê e não vai ser nosso irmão ou irmã de verdade. — Jack parecia triste. Os olhos de Miriam se franziram, preocupados. — Mas isto não está certo. Mamães e papais fazem bebês juntos, não fazem? E o papai foi embora. Você deu para a mamãe o bebê dela? O queixo de Alex caiu a seus pés. Engoliu em seco. — O bebê é de tia Tâmara e meu. Os dois rostinhos, transtornados, encaravam-no fixamente. — Mas não pode ser. Tia Tami está no céu com os anjos, mamãe disse. — Jack saiu do colo dele. Voltou ao berço, tentando puxá-lo. 44 Projeto Romances


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— E está na barriga da mamãe. Isso faz ser o bebê dela! — com os lábios tremendo, Miriam juntou-se a Jack para ajudá-lo. Ambos estavam confusos de dar dó e ele sabia que explicação nenhuma iria ajudar. Até onde entendiam, sua tia estava no céu com os anjos, que não criavam filhos. Suspirou, frustrado. — Por favor, confiem em mim. Os gêmeos entreolharam-se e continuaram tentando empurrar o berço para a escada do sótão. — Ei! — Alex agarrou o móvel. — Esperem um minuto. — Leva o berço para baixo, por favor? O bebê vai precisar de uma caminha para dormir! — Miriam pediu meio que choramingando. Alex ajoelhou-se ao lado da sobrinha e pegou-a nos braços. — O bebê vai viver comigo. Ele, ele é meu bebê. Os olhos dela encheram-se de lágrimas. — Não! Apertou-a nos braços. — Mas e o leitinho cheio de saúde da mamãe? — Jack indagou. — Ela diz que ele vai ter que mamar bastante para ficar forte como nós! Leite cheio de saúde. Submeter-se a um tratamento de canal sem anestesia seria mais fácil do que continuar a conversa. Inspirou profundamente. — Você está certo, Jack. O bebê terá de viver com sua mãe até... até... durante algum tempo. — Oba! — As crianças gritaram em uníssono, e Alex encolheu-se, receoso que alguma vidraça se quebrasse. — Agora vamos levar o berço para baixo, com cuidado. Diana chegou quando Alex tentava colocar a mesa de trocar fraldas no armário. As crianças desceram correndo para ver a avó. — O que você está fazendo? — Estou colocando isso no armário para ganhar mais espaço. — Boa idéia, eu acho. — Acercou-se dele. — O que é isso? — A mesa de trocas do bebê. — Concluindo a tarefa, aproximou-se e examinou o ventre protuberante. — E aí, como foi? — Ótimo. Estamos os dois per-fei-tos! — E a nova caminhonete? Ela bufou, fazendo um beicinho. — Alexander, você tem que parar de fazer essas coisas! — Você vai ficar com ela? — Eu adorei o carro. Obrigada. — Inclinou-se e deu-lhe um rápido e tímido beijo no lado do rosto. — Você merece. — Embora fosse um beijo rápido, Alex se deliciou como há muito tempo, desde a morte de Tami, não fazia. Com exceção, claro, daquele beijo na festa de Greg. O coração disparou com a memória. — Mas você está virando a minha vida de ponta-cabeça, sabia? E o que está fazendo com o meu quarto de hóspedes? — A voz dela estava mais calma. — Seus filhos me convenceram que o bebê deveria viver aqui depois de nascer. — O quê? — Um sorriso abriu-se nos lábios de Diana, — Alex, você fez questão de enfatizar que este bebê não é meu. — Como é que você espera amamentá-lo se ele não estiver ao seu lado? — E como você quer se tornar um pai se o seu bebê não estiver com você? Ele parou para pensar. — Isso não será para sempre. E olhe, os gêmeos, não entendem o que está acontecendo. Estavam tristes porque o bebê iria viver comigo e ficaram tão felizes quando concordei em arrumar o quarto... que não pude dizer não! Diana franziu a testa e cruzando os braços sobre o peito, num gesto matriarcal. 45 Projeto Romances


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— Ser pai também é dizer não de vez em quando, Alexander. — Mas, agora, neste momento, não estão preparados para aceitar que este é o meu filho. Meu e de Tâmara. Eles vão entender, e quando isso acontecer, eu o levarei para casa. — Talvez você esteja certo. — Ela sentou-se na beira da cama. — Eles vão ficar com ciúme ou enjoar logo de quem vier. Aí, então, você se muda. — E deu-lhe um sorriso animador. — Bem pensado. Alex sentia-se orgulhoso. Ser pai não era tão difícil assim. Já havia arrumado acomodações para seu futuro filho. Ela continuou, desapontada: — Mas talvez sintam falta dele quando for embora. — Oh! Não, nós vamos estar quase sempre aqui — Alex prometeu, sentindo-se generoso. — Viremos sempre visitá-los, passar um tempo juntos. Quero que eles sejam muitos unidos. — O único problema é que não posso dar conta de três, eles dois mais o bebê. Já pensou numa babá? Ele gelou ao pensar em empregados, estranhos. Para cuidar do bebê? — Não, não pensei, — Então quem vai fazer isso? — estava irritantemente razoável. — Mamãe trabalha e eu também. E você, também. Posso tirar uma folga, mas e depois? Alex examinava a cama sobre qual Diana sentara. Era menor do que a dele, com o colchão tamanho extra grande. Mas ele podia aguentar. Pelo filho. Vacilou um pouco antes de perguntar de uma vez: — Não tenho o direito de pedir, mas posso ficar aqui? A expressão de Diana abriu num largo sorriso. — Claro, pode, eu acho. — Deu uma boa inspirada, enchendo o peito de ar. — Imagino que isso resolva a maior parte do problema, não resolve? Tentava desviar os olhos dos seus seios. — Eu... eu imagino que terei de tirar uma folga do escritório até que o bebê esteja maior o suficiente para viver comigo e passar o dia com a babá ou no berçário. Mas não farei nada até que ele esteja bem grande. — Bem grande? — perguntou ela em tom de zombaria, levemente irritadiço. Encostou-se no colchão, apoiando-se nos cotovelos. Aquela postura puxava seu vestido contra seus seios. Sua temperatura subiu, deixando a boca seca e o pulso disparado como se tivesse corrido uma maratona. — Bem, eu... eu ainda não decidi quando. Vamos aguardar o parto e ver como ele se desenvolve. As crianças não são todas diferentes umas das outras? — Não dá para discutir, cada caso é um caso. — Os olhos verdes dela piscavam quando falava com ele. Deus, como viver numa mesma casa com uma Diana atiçando-o e não querê-la. Ele não podia. Viver numa grande casa, com um jardim imenso, no meio daquele bairro afastado em Shadownook, podia ser o paraíso ou o inferno... ele ainda não sabia. Mas descobriria em alguns meses. — Não chegou a hora de começarmos a falar sobre o nome do bebê, ao invés de "bebê", ou ele, ou... — Agora não. Tâmara e eu sempre discutimos isso bastante. Ela queria esperar e ver com que nome o bebê pareceria. Escolhemos uns dois nomes, mas queríamos conhecê-lo primeiro. — Bem, na verdade, não se fica conhecendo o bebê... — brincou Diana, alisando a barriga. — Aliás, acho que ele e eu já nos conhecemos muito bem. — Verdade? — Alex sentou-se ao lado dela na cama. — E o que você sabe sobre ele? — Sei que ele é uma corujinha noturna. — Ah, não! — reclamou. — Sou um homem totalmente diurno. — E gosta de dançar à meia- noite. — Ótimo. 46 Projeto Romances


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E os dois caíram numa gostosa gargalhada. Alex, envolvido pelo bom humor de seu belo par de olhos, não se conteve ao abraçar a cintura dela. Ela se virou, encarando-o surpresa. Tirou o braço em seguida. — Ah... a propósito, mamãe e eu passamos pelo seu escritório na volta para casa. — Por quê? Não é o caminho mais curto. — Só estava experimentando o carro novo. Anda que é uma maravilha. — Que bom. — Sabia que não resistiria quando pusesse as mãos na direção. — Quis mostrar a ela um edifício lá perto, onde estou fazendo o paisagismo. Sabe, eu poderia fazer maravilhas pelo seu escritório. Você não quer conversar com o Greg sobre aprovar um projeto? Poderia transformar aquele prédio num espetáculo. Ele resmungou. — Aquela casa velha é nada mais do que um buraco negro que suga dinheiro. — Que nada, é bela e digna. Em cinco anos vocês estarão contentes de tê-la comprado. Aquelas casas Vitorianas reformadas valem fortunas. Mas você precisa injetar dinheiro para fazer o investimento gerar lucros. — Está certo — disse andando pelo quarto. — Faça seu orçamento e o projeto e nós três marcaremos uma reunião. Mas não se esforce demais no trabalho. Você não devia estar reduzindo um pouco seus compromissos? — Não vejo por quê. — Temos que começar o curso de acompanhante, a técnica Lamaze. Queria fazer com você e praticá-lo. — Se você pensava assim, por que me comprou a caminhonete? — Porque sei que você precisa de uma agora. Estou falando sobre mais tarde. — Alex, por favor, não me diga o que eu tenho que fazer. — E levantou-se, decidida. — Pare de reorganizar minha vida, está bem? — Crianças fertilizadas in vitro sempre correm o risco de nascer prematuras. Me escute, eu sei do que estou falando. — Eu me sinto ótima e o dr. Mujedin acha que a gravidez progride muito bem. — Bateu na barriga com as mãos em concha, suavemente. — Não se preocupe. Se sentir algo estranho, prometo que paro com tudo. Mas sou uma saudável mulher de vinte e oito anos que pode ter dez filhos, se quiser! Ales virou seu rosto para o lado. — Tami também pensava assim. — Ei! — disse gentilmente, tocando seus ombros. — Não há razão para se apavorar. — Não estou apavorado. — Mas a voz dele saiu muito alta. Diana continuou a tocar seus ombros, passando a mão suavemente em suas costas. As mãos dela eram como um bálsamo, até que apertou um músculo repuxado e pressionou. A dor o fez afastar-se, mas sem se esquivar do toque, — Você tem que relaxar. Fica para o jantar? — Os olhos grandes e verdes estavam cheios de... do quê? Pena? Ternura? Alex a queria, mas não se o sentimento dela fosse piedade. Era melhor pôr um ponto final no que quer que estivesse acontecendo entre os dois. — E o que temos no cardápio desse jantar? — O que Irina cozinhar, — Irina cozinhando? — Ele tentou parecer casual. — Vou ligar para o escritório e dizer para não me esperarem o resto da tarde. — Estou muito feliz que a cozinheira seja a razão. Desapontada, Diana saiu do quarto. Desceu a escada e saiu da casa. Atravessou o gramado até um banco de pedra ao lado de um pequeno lago e sentou-se lá, imóvel. Observava a superfície lisa da água, deixando os pensamentos se aquietarem. Alex podia lançá-la numa tempestade em um piscar de olhos. Não conseguia decifrá-lo. Quando era casado com Tami, era o homem mais bobo, mais desprezível que conhecera, um perfeito andróide. 47 Projeto Romances


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Mas, agora, comprara-lhe uma caminhonete perfeita, arrumara o quarto do bebê e ainda iria morar ali por um período indeterminado. E além do mais, tocara seu coração, convidara-a ao paraíso e depois batera a porta em seu rosto. O que estava acontecendo agora? Quando dissera que deixaria o bebê viver com ela, Diana quase gritara de alegria. Já amava tanto aquela criança que queria mantê-la perto de si. Sabia que seria um ótimo recomeço para Alex ficar a seu lado após o parto. Ficava amedrontada em pedir, pois achava-o muito possessivo em relação ao filho. O que teriam dito os gêmeos para persuadi-lo a deixar a criança ficar? Um sentimento de ternura e doçura temperada com dor entrou como uma faca em seu coração quando se lembrou do que eles disseram, o que sentiam. Alex era muito gentil. Quantos homens se importariam com o que sentia uma criança de quatro anos? Alex se importara. Depois dissera que viveria ali com ela, abraçara-a e sem mais nem menos se afastara e mudara de assunto. A tartaruga levantou a cabeça da água e nadou até o centro da lagoa. Após alguns minutos, a água ficou imóvel novamente, como um espelho a refletir o céu. Diana lembrou-se da primeira vez que instalaram o móvel das crianças. Steve se fora havia dois meses quando ela e Irina escolheram tudo por um catálogo. Montaram os móveis no atual quarto de Jack. A mãe lhe dera muita força ficando a seu lado, mas chorava até os olhos embaçarem, ficarem vermelhos e com o nariz entupido o tempo todo. Alex era totalmente diferente. Gostava de dar, justamente onde Steve havia falhado. Steve nunca se importara com sua caminhonete, na verdade, uma vez usara o dinheiro da prestação para comprar um nova prancha de neve! Alex estava confundindo-a e deixando-a muito brava, mas... Ei! Ninguém é perfeito, pensou. O desejo que tinha de controlar sua vida provinha do seu amor pela criança. Queria que se importasse com ela também, mas não podia culpá-lo. E lá vinha Alex, carregando dois copos. Estava com as mangas arregaçadas, a gravata sumira do colarinho. Lembrou-se de vê-la em cima da cama. Será que tinha deixado uma peça de roupa em cada parte da casa? Quando vivessem juntos, sem dúvida marcaria sua presença masculina: tampas do toalete levantadas, exemplares do Jornal dos Esportes espalhados na mesa de café. Queria isso na sua casa? Observando-o caminhar em sua direção, um frisson de prazer atravessou-lhe o corpo. Sim, ela queria isso, e queria-o, alto, atraente, andando pelo gramado com aqueles cabelos louros despenteados, em sua direção, como se estivessem à espera de seus dedos entre os cachos louros... Queria-o mais do que jamais quisera alguém, e não sabia como iria se controlar quando estivessem juntos. Por que concordara, então? Por causa de alguém em seu ventre, para o bem da criança, com certeza. E para benefício de Alexander, também. Ensinaria tudo para ele. Dar banho, trocar as fraldas, passar cremes para assaduras, tudo! Até ter certeza de que poderia cuidar sozinho do filho, antes de entregá-lo. Deixando-os ir embora após viver meses juntos? Isso seria descer ao inferno! Como enfrentaria essa perda? Engoliu em seco a idéia e afastou da cabeça aqueles pensamentos tão horríveis. Alex entregou a Diana um copo de limonada fresca. Ela provou a bebida enquanto o examinava-o de cima a baixo, emudecida. Parecia ter relaxado, a julgar pela aparência amarrotada. Esticou a mão para avaliar sua observação, cutucando o dedo em seu ombro de pedra. — Ah! Ou você tem malhado demais ou ainda está em forma. — Neste verão, levantei um pouco de peso e corri quase todo dia. Posso imaginar como será seu corpo nu. Essa idéia atravessou como um relâmpago a mente de Diana, enviando uma sensual onda de calor ao longo de seu corpo. Ele virou-se para encará-la, seus olhos escuros e sérios. — Eu tenho medo, sabia? Você acerta de primeira, quanto tenta. 48 Projeto Romances


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Diana mordiscou os lábios. — Eu não quis te machucar, nem te fazer admitir algo que você não quer falar. — Bebeu toda a limonada, pondo o copo no chão. — Está tudo bem. — Ele deixou seu copo no banco e tomou-a em um abraço carinhoso. — Eu não suportaria se algo acontecesse a você ou ao bebê. Ela tentava duramente manter-se calma. O humor e o sentimento de Alex eram obviamente diferentes. Queria responder ao abraço mais solta, abraçá-lo com bastante força e apertar o corpo glorioso contra seus seios e mesmo morder delicadamente seu sensual lábio inferior... Que loucura! Mas sabia que, com aquele corpo inchado, ele não poderia desejar tocá-la tanto quanto ela o desejava. — Alex, você está cuidando tão bem de mim que acho que nada poderia acontecer. — Deu-lhe um abraço fraternal e depois afastou-se. Ele parecia desapontado? Que nada... Ela é que estava sonhando. CAPITULO X Diana tirou as luvas de jardinagem e levou as mãos às costas, esticando o corpo. No sexto mês de gestação, ela já podia sentir o peso da barriga. Girou a cabeça e descobriu Alex olhando-a da janela da antiga casa Vitoriana, onde ficava o escritório financeiro Chandler e Holloway - Finanças e Contabilidade, que agora estava sendo reformada. Fez mímica para ela: — Você está bem? Respondeu-lhe com um sorriso e com gesto de positivo. Após semanas de insistência e negociação, Diana os convencera a adiantar parte da verba para projeto do jardim e arredores do velho prédio Vitoriano. Ela adorava seu trabalho e estava se deliciando em dar vida nova ao jardim. Planejara-o ecleticamente, com bancos e um pequeno lago, perfeito para um chá ou almoço ao ar livre. Plantaria as flores e plantas que obedecessem as estações, enquanto camélias dariam a cor permanente e chamariam atenção. Estava cuidando das áreas sem luz natural direta para as plantas coloridas que gostam de sombra. O vento de outubro revirava as folhas a seu lado, enquanto ia até a caminhonete guardar as luvas. Aproveitou e poliu a superfície amarela do carro com a manga da camisa. Muito obrigada, minha querida Tami. Ou Alex. Ou qualquer um. Ela decidira aceitar o presente, parar de se torturar com questões que não podia responder. Aprender a confiar em Alex fora um grande passo, reconheceu. Ao aceitar o carro, começaram as mudanças em suas emoções. Aprendera que confiar em um homem podia ser... bom. Não sabia se seria possível algo além disso. Abaixou a porta da caminhonete e se preparou para carregar um imenso bordo japonês para o buraco que cavara próximo à janela de Alex. A folhagem verde, parecendo renda, ficaria púrpura no outono. Quando caíam as folhas, os ramos vermelhos apareciam mais, dando cor ao inverno. Ele teria um belo espetáculo da janela de sua sala. Aprumou o corpo para pegar a raiz da árvore, acondicionada em plástico. Levantou e abraçou a raiz com os dois braços, lembrando-se de firmar os joelhos e manter a espinha reta até chegar perto do buraco. Achava que era melhor confiar nas suas pernas para carregar aquele peso, mais do que em suas costas tão maltratadas. Deu dois passos vacilantes na direção do buraco antes de sentir uma dor aguda nas costas. Derrubou a árvore no chão gritando com a dor insuportável. Cambaleando, abraçou-se antes de cair na grama macia. 49 Projeto Romances


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Escutando o grito, Alex olhou janela afora. Diana caída no gramado. Oh! Meu Deus. Será que o bebê está vindo? Prematuros eram comuns entre o bebês fertilizados in vitro, já estava cansado de repetir. Sabia que devia ter feito Diana parar de trabalhar no começo de outubro, mas ela prometeu não abusar. De repente, murmurava em voz alta: — Meu Deus, por favor, Meu Deus, por favor! — Quando desceu em disparada para o gramado. Greg seguiu-o, desorientado. — O que aconteceu? — Não sei, disque 911. — Alex ajoelhou-se ao lado dela. Respirando com dificuldade, ela choramingava e resmungava de dor. — O que é, me diga, o que foi? Ele tentava respirar e parecia estar se controlando. — A árvore... A maldita árvore. Quase torceu a... minha... coluna! — Tem certeza que não foi o bebê? — Ah! Sim. Tenho certeza. Não estou tendo contrações... nada. É a maldita coluna! — Ela fechou os olhos, apertando-os com a dor. Alex suspirou de alívio. — Apenas relaxe, Diana. Greg chamou uma ambulância. Abriu os olhos e arregalou-os. — Chamou uma... ambulância por causa de uma dor nas costas? — Não vou arriscar. Vou dar um jeito do dr. Mujedin encontrar-nos no Pronto-Socorro, só para dar uma examinada geral em você e ter certeza que está tudo bem. Certo? — Alex... — um ar de exasperação atravessou a sua face. — Bem, está certo. Acho que você é louco, mas nada que eu disser o fará mudar de idéia. — E deu uma suave inspirada. — Pare de falar. — Você ganhou esta discussão, mas não porque você está certo, escutou? É porque estou sem forças para brigar com você. Ele deu uma risada com essa atitude boba dela. Apesar de preocupado. Ela pode ter se machucado, e não queria nem pensar... machucado o bebê. — Contanto que eu ganhe. Lembre-se disso, certo? — Abaixou-se e beijou-lhe a fronte suada. — Alex joga para ganhar. — Sra. Randolph, daqui para frente a senhora precisa ser mais cuidadosa. — O dr. Mujedin estava auscultando a barriga de Diana, agora vestindo um avental azul de hospital. — Tenho certeza de que a senhora é uma jovem saudável, mas não pode continuar a fingir que não está grávida. Alex colocou a cabeça pela porta da sala. — E como está o bebê? — O bebê está bem, mas Diana precisa reduzir as horas de trabalho. Diana escutava ressentida. Podia vê-lo dando um murro no ar, cantando vitória sobre o ombro do médico. — Sra. Randolph? — Ahn... Sim, doutor. — Ela mudou o foco de seus olhos para o médico, fumegando de raiva com Alex. — Mas trabalhei até os gêmeos nascerem! — Mas uma gravidez é diferente da outra. Ela perguntou, turrona; — Mas o que é exatamente que você quer que eu faça? — Diminua as horas de trabalho. Exercite-se moderadamente. E evite trabalho físico pesado. — Sorriu para ela. — Comece suas aulas da Técnica Lamaze de parto, com o sr. Chandler e... dê-se ao luxo de ser mimada. Desfrute este momento especial de sua vida. 50 Projeto Romances


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A última vez que estivera grávida, quase enlouquecera preocupada com o futuro. Agora, por causa da sabedoria de sua irmã, não passava por apuros financeiros. Ele estava certo. Podia contratar alguém para fazer o trabalho dela, enquanto supervisionava e descansava ao mesmo tempo. Suspirou alto. — Parece ótimo. — Estou contente que estamos todos de acordo. Sr. Chandler, eu vou liberar Diana. Tome conta dela. — E saiu da sala. Ele levantou-a da mesa de exame e a ajudou a andar, amparando-a com seus braços. — Nada de brigas? Sacudiu a cabeça negativamente. Não ia discutir. O dr. Mujedin havia tirado toda a sua vontade de discutir. — Nada de brigas sobre cuidar melhor de você mesma. — Não. Você vai me levar para casa e me mimar? Sorriu maliciosamente para ele. Apesar das costas doloridas, seu corpo se sentia maravilhosamente bem quando encostava nele. Abraçou-a com um sorriso nos lábios. — Ah, sim. Temos que dar uma parada rápida. Para comprar... suprimentos. — Su-suprimentos? — Você vai ver, Di. Alex parou em uma loja chamada Fuga para o Éden, que chamou a atenção de Diana. A vitrina da loja não exibia nada além de livros e CDs de New Age. O que podia o sóbrio Alex querer num paraíso alternativo como aquele? Segurando o cotovelo de Diana como se fosse uma boneca de porcelana, Alex ajudou-a a sair do Jaguar e a subir a escada até a varanda. O silêncio era total na casa. Os gêmeos estavam na pré-escola e Irina ia buscá-los e trazê-los para casa. Mas ainda iam demorar bastante. Encostou os lábios nos cabelos ruivos. — Vou lhe preparar um banho e depois quero você... na cama. — E abriu a porta da varanda, empurrando-a com carinho. Ele me quer na cama. Seus joelhos sentiram-se fracos e quase fizeram-na cair. — E... e daí então? Os olhos de Alex passavam uma ternura arrebatadora. — Bem, aí eu vou mimar você como nunca foi mimada antes. Não podia acreditar que isso estava acontecendo. No começo de seu sétimo mês. Ela parecia um mamute! — Oh! Alex... Silenciou-a com um dedo sobre seus lábios. — Não se preocupe — sua voz transformou-se num sussurro. Os dedos dele acariciavam sua boca, correndo pelos lábios úmidos dela como num ritual. Tremia a cada toque deles em sua pele. — Tudo vai ser perfeito. Ajudou-a a subir, levando-a para o quarto e foi preparar o banho enquanto ela se sentava na cama. O pacote da Fuga para o Éden estava a seu lado na banheira. — Tire a roupa, Diana. — Ele veio rapidamente do banheiro, entregou-lhe uma toalha e sumiu de novo. Com dificuldade, tirou o moletom e desamarrou as botas de trabalho. Deitando-se de costas, esticou as pernas para cima e tirou o jeans, as meias e a calcinha de uma vez só. Escutava as patas de Goldie caminhando pela varanda e deitando-se no tapete preferido. A brisa perfumada carregava para o quarto o cheiro das folhas secas do outono. 51 Projeto Romances


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— Estou pronto para você agora. — Escutou apenas a voz de Alex, acordando-a das divagações. Enrolada na toalha, admirava o edredom que ela mesma fizera, estendido sobre sua cama. Um trabalho que preenchera horas e horas das longas e solitárias noites durante a gravidez de Jack e Miriam. Alex tirara o paletó e gravata, afrouxara o colarinho e tinha as mangas arregaçadas. Além disso, desabotoara vários botões da camisa engomada expondo a penugem loura que cobria seu peito. Tinha aquela aparência adoravelmente desleixada. Hesitante, ela seguiu-o ao banheiro. Apagara as luzes elé-tricas, velas iluminavam difusamente aquele espaço funcional, transformado agora num romântico e mágico refúgio. — Oh! Alex — murmurou. Pequenas ondinhas se movimentavam na banheira de hidromassagem aromatizada com sais de jasmim. Alex deu-lhe mais um beijo suave nas faces. — Entre na banheira. Ajudou-a a entrar na banheira, e, como um cavalheiro, virou-se enquanto a toalha caía e ela deslizava dentro da água aromática. Recostou a cabeça na base da imensa banheira arredondada. — É difícil encontrar uma banheira como esta, Di. — E num ímpeto, ajudou-a a deitar sua nuca na borda de madeira, acomodando a cabeça sobre uma toalhinha dobrada. — Fiquei apaixonada assim que a vi. E comprei na hora, mesmo achando que banheira de hidromassagem era coisa de motel ou de gente esnobe — disse, com os olhos cerrados. — Imaginava longos banhos relaxantes, mas com os gêmeos, não tinha chance. — Debaixo das bolhas aromáticas, a água ondulava com seus movimentos. — Então, você e Steve nunca fizeram um banho desses? Sua voz era íntima e sussurrada enquanto ele massageava sua cabeça e pescoço. — Não. E você e Tami? — Não. Não tínhamos uma banheira como essa, com hidromassagem. — Alex, isto é a oitava maravilha, obrigada. Ele deu uma risadinha inaudível. — Estou apenas começando. — Seus dedos subiam e desciam nos músculos do pescoço, alongando-os. Alcançou a bolsa da loja do Éden e retirou uma garrafinha plástica com um líquido laranja. — O que é? — Um óleo de tangerina, para massagem. Humm! Óleo de massagem. Que bom... — Hã? Por que tangerina? — Nenhuma razão. Me pareceu ótimo, ao acaso. E era ótimo. Muito bom, bom demais! Muito melhor do que ótimo. Preocupou-se em como iria enxaguar o óleo, mas decidiu que não se importava, deixaria assim mesmo. Mais uma vez, cerrou os olhos e deixou os dedos experientes de Alex levá-la a um total relaxamento. Depois que trabalhou seu pescoço, ocupou-se dos braços em direção às mãos, massageando cada um dos dedos por vez e retornando aos ombros e descendo aos dedos. Ela sempre pensara que Steve era um amante experiente. Mas descobria ali que ele não tinha a metade da sensualidade de Alex: ele a tocava como se mais nada no universo importasse, acariciando cada milímetro da superfície de suas mãos, relaxando cada fibra muscular. Ele lhe proporcionava prazer além do sexo. Jamais se sentira acalentada assim. E, então, percebeu que a água havia esfriado. E falou sem abrir os olhos, — Acho que já posso sair da banheira. Escutou passos e ele reapareceu. Tendo entrado num estado de divina inconsciência, nem notara que ele havia saído do banheiro. — Deixe-me ajudá-la. Não quero você escorregando no óleo. Segurou-lhe os braços e a toalha, enquanto ela fazia força para deixar aquele sonho, a barriga e os músculos relaxados fazendo-a se sentir desajeitada. Pensou que nem o resto da espuma nem a toalha estavam escondendo totalmente seu corpo, mais pesado com a gravidez. 52 Projeto Romances


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O que ele achava dela? Achava seu corpo atraente? E lembrou-se de que sua aparência não importava, que ela importava para Alex... graças ao bebê que carregava Não sabia se gostaria ou odiaria esta verdade. Conduziu-a até sentar-se em sua cama. Notou que transformara o ambiente do quarto numa romântica cabana, iluminada por velas cor-de-rosa perfumadas, quente e acolhedora. — Deite sobre sua barriga, Diana, se você ainda puder. — Na verdade, não. É... é desconfortável. Mas posso dar um jeitinho com travesseiros ou almofadas. — Vamos tentar com estes. — E Alex ajeitou travesseiros sob a cabeça e os seios, depois sob os quadris, criando um espaço para aninhar sua barriga. — Assim é bem melhor. Estendeu mais uma toalha sobre ela, cobrindo-a da cintura aos pés. — Você tem frio nos pés, não é? — Estou surpresa de você lembrar disso. — Eu me lembro de tudo sobre você, Diana. Era amor em sua voz? Não ousava pensar que ele responderia aos seus sentimentos. As duas mãos de Alex deslizavam sobre as costas dela, espalhando o cheiro de tangerinas frescas no ar. De olhos fechados, deixou-se outra vez cair num universo mágico, enevoado, onde nada existia a não ser as mãos de Alex elevando-a acima das nuvens. Alcançava uma sensação de bem estar indescritível. Trabalhou bem os músculos laterais, soltando um a um até o local onde sentira a dor terrível. Apesar de ainda doer, o toque dele mexia com sua energia sensual, e dava choques delicados que subiam dos pés ao topo de seus cabelos. Levantou a toalha para expor as pernas, e massageou a base da coluna e os quadris, descendo pelas pernas. Diana afundou seu rosto nos travesseiros deixando o relaxamento subir em ondas através do corpo. — Assim, muito bom. — Seus ouvidos escutavam a voz hipnotizante dele, mais suave. Suas mãos descendo lateralmente, massageando a barriga das pernas, até praticamente senti-las grudadas no colchão. — Agora vamos tomar conta dos pés. Acho que você devia passar mais tempo com os pés para cima, deixando a tensão sair. Passou um tempo infinito com cada pé, atendo-se mais nas solas. — Vou mexer de novo naquele ponto das costas, mas serei delicado. Prometo. Ela acreditava totalmente. Continuou relaxada quando suas mãos moveram-se para a base da espinha, delicadamente liberando os músculos retesados, fazendo pressão e soltando, e de novo e subindo os dedos da base para os cabelos. Massageou-os, depois a nuca e os ombros, até acender um desejo incontrolável. Controle-se, Diana, esta massagem é para a mãe do filho dele, e não para você... — ela se repreendia severamente, inspirando e expirando longamente, procurando acalmar sua libido. — Ótimo. Agora, durma. Começou a mexer-se, mas seu corpo não respondia. — Os ge... — Fique quietinha. Vou ligar para Irina e, juntos, tomaremos conta das crianças. Quando se foi, mergulhou seu rosto nos travesseiros, tentando lembrar de todos os motivos pelos quais não deveria se apaixonar por Alexander Chandler. Fechando a porta do quarto de Diana, Alex atravessou o corredor na ponta dos pés e desceu para a sala. Queria uma cerveja. Na geladeira, foi surpreendido pelos novos desenhos dos irmãos. Míriam 53 Projeto Romances


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fizera um rato com orelhas imensas. O desenho de Jack mostrava uma casa com quatro figuras magras como palitos, uma delas, etiquetada Alex, e uma mancha marrom com quatro patas, um tipo de cachorro. A mesa de chá maluca, onde estava presente como Garibaldo, o grande pássaro, não havia sido uma coincidência. Na interpretação das crianças, ele fazia parte dessa família. Sorriu satisfeito. Depois de beber uma cerveja bem fresca, telefonou para Irina que concordou em ficar com os dois a noite toda. Falou com Greg, que, num golpe de sorte, dissera-lhe que seu irmão mais moço, que fazia a Faculdade Federal em Sacramento, precisava de um emprego temporário e poderia trabalhar com a Diana. Satisfeito com as realizações da tarde, pegou o resto da cerveja e foi para a varanda. Goldie, enroladinha sobre seu tapete, balançou a cauda mas não se moveu de lá. Naquele fim de tarde de outono, o jardim da casa permanecia sendo um lugar tão adorável quanto no verão. Os carvalhos, imensos e ancestrais, emolduravam o jardim enquanto as últimas rosas continuavam a florescer. Pequenas árvores campestres e arbustos começavam a adotar tons variados de vermelho e amarelo, como pinceladas sobre o fundo escuro das árvores centenárias. Tudo em sua vida estava se encaixando no lugar certo. Lembrou-se de uma frase de Irina, durante a festa no hotel Tenho um pressentimento que minha Tâmara planejou tudo isso. Será que sua doce e manipuladora esposa havia juntado sua meia-irmã e ele de propósito? Uma das maiores preocupações de Tâmara, durante a fase final da doença, era o destino de Diana após sua morte. Na época, não quisera discutir o assunto pois recusava-se a aceitar o que ela sabia como fato: que iria morrer e deixá-lo sozinho. Deu um gole na cerveja. Ainda sentia falta dela, mas reconhecia que a gravidez de Diana resgatara-o das profundezas do desespero. Fora até forçado a se preocupar com o bem-estar de outras pessoas, como esta família, e fugir da dor da perda. Levantou o copo para brindar sua finada esposa. — Um brinde a você, Tami, uma dama muito esperta. Seus pensamentos voltaram a Diana. Tudo nela, a suavidade da pele acetinada, a fragrância da fêmea, a lascívia de seu corpo tentador, lindo e grande com seu filho nele, lembrou-o de que recuperara sua libido imersa em dor. Ter controlado seu desejo por ela durante a massagem foi uma tarefa árdua. Tirou a lista de prós e contras de sua carteira, que tinha começado a fazer. No lado dos prós escreveu: Deusa Integral do Sexo. Seria insano de sua parte ter um romance com a mãe-substituta de seu filho, havia muita coisa a considerar. Era como se Diana segurasse o anel de ouro e ele girasse em volta de um carrossel, Lar, crianças e família eram tesouros que ele alentava. Se a relação falhasse... tremeu. Seu coração estava em perigo, claro, mas essa era a menor de suas preocupações. E os gêmeos? Afeiçoaram-se a ele e seriam machucados caso houvesse uma desavença. Inaceitável. Para o bem da criança, fizera planos que poderiam revelar-se inoportunos no futuro. Viver com eles depois que o bebê nascesse, visitas futuras frequentes. Ele apostava, não, ele tinha certeza de que Diana lhe diria a todo momento como criar seu filho. Tomou uma resolução. Continuaria bem próximo dela, mas, de maneira alguma, iria se apaixonar por ela. CAPÍTULO XI — Você fez o quê? Na manhã seguinte, Diana passava ricota com molho de salsa em uma torrada de pão integral. 54 Projeto Romances


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Alex examinava o desjejum dela com um olhar duvidoso. — Escute, Randy Holloway é um bom rapaz e vai dar duro trabalhando com você. — Este não é o ponto. O prazer que tivera com a massagem de Alex transformara-se em irritação, quando descobriu que ele oferecera ao irmão de Greg uma vaga na empresa dela. — Sabe, eu sei que a intenção foi boa, mas você não devia se envolver. — Mas é só por alguns meses, até o bebê nascer e você voltar — emendou, procurando flocos de milho na dispensa. Diana sentou-se à mesa, contrariada. — Você não entende, não é mesmo? E se eu contratasse alguém para ser seu assistente, sem te consultar? — Eu não estou grávido de um bebê fertilizado in vitro. Além disso, o que você iria fazer? — despejou leite em cima do cereal. Ela franziu os lábios, antes de responder. — Consiga um estudante para fazer o trabalho pesado. Eu me lembro do que o doutor disse. Alex trouxe seu prato e sentou-se na frente dela. — Então está feito. Eu achei que você disse que não discutiríamos mais. Tentou fazer uma expressão de desaprovação, mas não podia. Pior: não estava conseguido segurar uma boa risada. — Você é realmente uma figura, Alex, não é? — Tâmara me dizia a mesma coisa, sempre. A observação foi como um copo de água gelada camisa abaixo, lembrando-a de que ele era o marido da sua irmã. Quando acordou e descobriu-o dormindo no quarto de visitas, se sentiu à vontade para arriscar um novo grau de intimidade. A relação dos dois progredira muito nas últimas vinte e quatro horas, tanto que se permitira sonhar uma vida inteira com Alex a seu lado. Mas, agora, ele a lembrara que era de Tami e não dela. Alheio ao caos em seu coração, ele devorava os flocos de milho. — Por falar nisso, telefonei para a clínica para me informar sobre os horários do curso de acompanhante, aquele método Lamaze. — Oh. — Oh! Não. Aulas de pré-natal do método Lamaze eram insuportavelmente íntimas. Você se sentava no tapete com seu parceiro, olhava nos olhos dele e respiravam juntos. Ela não queria treinar com Alex. — Você tem certeza que quer fazer o treinamento? É... é um compromisso e tanto. Mamãe já conhece e sabe como fazer. Alex estava com um olhar incrédulo. — Você está tentando se livrar de mim? Claro que tenho certeza. Uma semana depois, Alex e Diana começaram juntos o treinamento Lamaze. Da outra gestação, sentiu-se tomada por um complexo de inferioridade em relação às outras mães, já que estava com sua mãe no lugar de Steve. Agora, com Alex ali, se sentia uma impostora. Não era sua culpa, mas sabia que todos achariam que era seu marido e estavam desfrutando de uma gravidez normal. A sala estava cheia de casais. A instrutora, uma asiática chamada Wanda, fechou as persianas para a tarde cinza. Vestindo jeans, Alex estava a seu lado. Levou um susto, pois nunca o vira de jeans, tão informal. Estava ótimo, jeans desbotado grudado nos músculos malhados. Abraçou-a na medida em que Wanda passava instruções sobre respiração. — Fique de frente para seu parceiro e encare-o nos olhos. Alex moveu-se rápido para ela não ter que se mexer. Ela gostou disso. 55 Projeto Romances


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— Obrigada — murmurou. — Por você, tudo, querida — respondeu rápido ao agradecimento. Sentiu-se nas nuvens. Por você, tudo, querida! Seguindo as instruções de Wanda, ela e as outras mulheres faziam a respiração curta e rápida. — Lembrem-se, estamos respirando pelo bebê. — Wanda deu uma volta na sala, examinando os casais. Acercando-se dos dois, olhou para Alex. — Chegue mais perto de sua parceira. Ele aproximou-se mais, enquanto Diana fechava os olhos e inclinava-se. Estava respirando aquele aroma familiar de sua colônia de limão. Sentiu seu corpo esquentar como a felicidade provisória que sentia quando estava próxima de seu corpo. Desejava-o tanto que sentia que poderia desmaiar. Não poderia mais ignorar o impacto físico e emocional que provocavam entre si. Teriam que conversar sobre isso. — Alex,.. — começou, abrindo os olhos. Wanda a interrompeu. — Mantenham contato com os olhos de seu parceiro. Dêem as mãos. Respirem, Alex pegou a mão dela. Não era pequena, mas sua mão encobriu-a. Ela passava os dedos nas costas da mão dele como se sentisse cada célula. Outra emoção intensa atravessou seu corpo, quase uma descarga elétrica, como num relâmpago. Ela olhou dentro dos olhos do parceiro. Ele retribuiu, fitando-a com um brilho cândido e honesto. Não podia dizer-lhe. Ele dependia dela para realizar aquele sonho. Apaixonar-se não estava nos planos do trato e complicaria a situação. Sentiu o bebê chutar. Puxou as mãos dele sobre a barriga coberta com a túnica violeta. — Está dizendo Olá para o pai! — Olá para você também, bebê. — E passava sua mãos em círculos grandes sobre o ventre. — Effeurage, muito bem. — Wanda elevou a voz: — Parceiros, podem massagear o estômago da mamães em movimentos circulares. Chamamos isso de effeurage, e é muito relaxante. — Relaxante, nada — Diana resmungou. Era desejo o que estava tensionando seus músculos e fazendo sua pele arrepiar. — O que você disse, Di? — Nada. — Respire, Di. Respire pelo nosso bebê. Nosso bebê. Será que percebeu o que dissera? Provavelmente não. — Agora façam uma respiração ofegante. — A instrutora andava ao redor de todos como um cão de pastoreio, observando cada exercício. Obedientemente, Diana arfava enquanto Alex segurava suas mãos. Entreolharam-se. O grande erro. Não poderia se concentrar fitando aqueles olhos azuis, infinitos como o céu de junho. Queria beijá-lo até que se sentisse como ela, trémula e arrepiada. Wanda mudou o tom de voz: — Agora visualize a abertura de seu útero. A mão de Alex sacudiu-se entre as dela. — Essa eu passo — disse zombando. — Wanda quis dizer eu! — explicou Diana, suprimindo uma risada. — Tudo bem. Então vou visualizar a sua abertura uterina. — Ah! Sei... — Fechando os olhos, ela tentou. Mas uma abertura de útero parecia com o quê? Sua mente começou a fantasiar Alex acariciando seus seios, com toques precisos, enquanto ela... Corta, Diana, corta! Abriu os olhos e encontrou Alex observando-a. Sua face foi se avermelhando. Era melhor voltar às visualizações anteriores. — Agora, vamos fazer outro exercício. Papais, todos vocês estão de relógio? — perguntou Wanda. Ele puxou a manga do moletom verde revelando ura relógio digital. — Humm. Acho que dá para contar os segundos. A instrutora distribuiu lápis e papel a todos. 56 Projeto Romances


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— Vamos supor que mamãe está sentindo uma primeira contração. Mães, comecem a respirar. Pais, anotem o tempo. Diana arfou até sentir tontura. Então, parou. — Você não está respirando, doçura. Respire. — Eu estava quase desmaiando, Alex. — Oh! Meu Deus, coloque a cabeça entre os joelhos e... — Também não é assim. Eu só não quero hiperventilar... A voz estridente de Wanda interrompeu a conversa: — Já estamos um pouco mais tarde, no trabalho de parto e as contrações estão mais rápidas. Vamos continuar, começando... agora! Ele anotava o tempo, enquanto ela fazia o exercício, amuada. — As contrações têm um espaço de cinco minutos entre elas e são muito intensas. Papais, o que vocês fazem, então? — Corremos para o hospital! — responderam todos em coro. — Certo! — Wanda concordou, rindo. — E não esqueçam de levar uma maleta com o necessário para passar a noite lá! Depois da aula levaram os gêmeos ao parque. Inquietos depois de terem sido confinados no carro durante a aula de Alex e Diana, eles desceram correndo assim que o carro estacionou. Gritando, foram para os balanços. Alex pegou a mão de Diana e procurou um lugar mais calmo. O dia não era dos melhores, estava frio mas pelo menos não chovia. Mesmo o esparso gramado entre o estacionamento e os brinquedos parecia desprovido de cor. Apenas as jaquetas coloridas dos gêmeos, vermelha de Miriam e azul de Jack, davam algum colorido àquela tarde sem graça. Diana sentou-se com certa dificuldade em um dos bancos perto da piscina de areia e Alex ficou ao seu lado, massageando-lhe os ombros. Um carro estacionou e um garoto, mais velho que Jack, passou correndo em direção aos balanços. Sentiu uma contração muscular em Diana, através dos dedos sobre os ombros. — Algo errado? — Talvez nada — respondeu, olhando atentamente seus filhos nos balanços. Escutou passos sobre as pedras do chão. Virou-se e viu uma loura, vestindo um jeans bem justo sob um moletom largo. — Olá, Diana. — A loura cumprimentou-a, passando a língua sobre os lábios com um batom muito brilhante, avermelhado. — Quem é o seu amigo? Diana se levantou e encarou friamente a loura, um olhar de ódio fixo na outra mulher. Mas olhava como se não existisse ninguém a sua frente. — Alex, eu vou dar uma volta pela margem do rio. Você pode olhar os dois para mim, por favor? — e saiu andando sem esperar resposta. Ele ficou meio sem jeito, sem entender a sua saída. Era uma pessoa simpática e amigável. O que será que... A loura falava alto, enquanto Diana se afastava: — Você devia acabar com tanta hostilidade, Diana! Essa bagagem negativa só machuca você. mais ninguém! A mulher suspirou, desistindo e falou com ele: — Ela realmente precisa superar o passado. Fomos tão amigas no passado. Por falar nisso, sou Sarah Vanellis. Também moro aqui em Shadowhook. — E estendeu-lhe a mão. — Alex Chandler. — E apertou-lhe a mão, arrependendo-se quando sentiu as longas unhas apertando sua mão. — Ah! Você é o ex de Tâmara, hein? — ela não perdeu tempo. Alex ficou rígido, tirando suas mãos. — Tâmara não é minha ex-esposa. Ela era minha esposa. A mulher deu de ombros. 57 Projeto Romances


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— Ex-mulher, ex-esposa ou esposa, qual é a diferença? — E deu risinhos, lançando um olhar maroto, atrás de cílios escuros e longos. Para ele, aquela tentativa de fazer humor não teve a menor graça. — Me desculpe, por favor. — E atravessou o parquinho indo para perto dos gêmeos. Não foi à toa que Diana saiu de lá! Ele jamais havia encontrado alguém tão sem tato. Ocasionalmente, passava um dia sem se lembrar da esposa com dor, uma facada. Mas ainda sentia falta dela. Esta mulher, a Vanellis, tinha reaberto a sua ferida quase curada. Como Diana não voltava, ele teve que aguentar momentos de desconforto até que Vanellis foi embora com seu filho. Míriam estava enjoada de brincar nas barras e queria que Alex a empurrasse na balança. Jack continuava nas barras. Provavelmente, será um átimo ginasta um dia, pensou. Podia ver um Jack adulto, suando, competindo e vencendo as Olimpíadas. Riu de sua fantasia. Um dos dividendos que ganhara com essa gravidez, fora o de ter se apegado bastante aos gémeos. Impossível imaginar-se não amando uma criança. Deixou Miriam só um pouco e pegou seu bloco com a lista de Diana. Antes mesmo de escrever Boa Mãe na coluna dos Prós, reparou que o número de itens Pró era muito maior do que os Contras. Diana apareceu ao fundo do parque e ele tratou de guardar o bloco. Teve a sensação de que a espontânea Diana não iria entender sua análise metódica. Não era possível desviar o olhar dela enquanto se aproximava. Usando um legging preto bem justo, suas pernas continuavam bem torneadas apesar da gravidez. A camiseta violeta comprida aderia a cada curva, modelando de uma forma irresistível os seios grandes e empinados. Admirou a silhueta de sua barriga grávida delineada no tecido. Estava com a boca seca e sentindo-se ofegante. Estamos perto, muito perto, continue no curso... Quase engasgou ao dizer: — Muito obrigado, me deixou aqui com aquela mulher. — Há pessoas às quais nem me preocupo em dirigir a palavra. — Concordo que Sarah Vanellis é detestável, mas nunca vi você deliberadamente evitar alguém. Não parece você. Ela não respondeu. E ficou assim. — O que ela te fez foi tão ruim que você não pode dizer? Uma risada amarga saiu da garganta de Diana. — Oh, não foi muito. Nada que um monte de mulheres da minha vizinhança não tenha feito. Alex se sentiu mal. Podia imaginar o que ela e as outras tinham feito. Com Steve. — Sinto muito, Di. Diana mexeu os ombros. — Primeiro, ele foi para a parte sul da rua e dormiu com todas as mulheres que pôde. Depois foi para o norte... — Você não está querendo dizer... Ela pareceu surpresa antes de cair na gargalhada. — Sim. — Tentava controlar o acesso de riso. — Ele teve caso com todas as mulheres que conseguiu. Observou-a e viu que estava com os olhos úmidos, não sabia se de lágrimas ou das risadas. — Estou surpresa — continuou. — Surpresa de poder rir disso. Ele me deixava muito zangada. — Parou um pouco para pensar. — Não pensei que perderia essa raiva que tanto me consumiu, sabe? — Você superou Steve? — Bem, eu não quero ele de volta, se é isso que você quer dizer. — A resposta veio rápida como um tiro, tranquilizadora como chocolate quente numa noite gelada. — Mas em se tratando do meu perdão, nenhuma chance. Nem Steve nem uma de minhas amigas — ela cuspiu a palavra como se fosse um gosto ruim. 58 Projeto Romances


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— Eu não entendo alguém assim. É falta de respeito, é desonesto. E para que casar se você vai ficar traindo sua parceira por aí? Alex sentou-se no banco e puxou a mão dela até que se sentasse. Ele apertou sua mão um pouco antes de responder: — Ele não era de ficar por aí, me enganando. Não no começo. Ele jurava que eu era a única mulher que ele amava. Mas minha gravidez mudou tudo. — Vocês já tinham conversado sobre isso? — Claro. Mas ele era mais palavras do que ação no campo emocional, creio. Éramos imaturos demais. Ter um filho foi... foi o grande teste. Talvez tivesse lidado melhor se fosse um bebê apenas. Mas entrou em choque quando descobriu que vinham gêmeos. Aí, começou a festa do pingue-pongue. E eu tive de enfrentá-lo. — E ele, o que falou? — Alex falou, com um olho nos gêmeos. Não precisavam ouvir isso, com certeza. Mas estavam no mundo do faz-de-conta, distraídos. — Negou tudo, mas eu confiava na mulher que o delatou. Ele não podia explicar como ela sabia da marca de nascença dele, e num lugar bem íntimo. Sorriu, simpático com ela, e colocou os braços nos seus ombros, — E depois ele se foi. Diana encostou-se nele, num abraço bem gostoso, quente. Não podia resistir a nenhum desejo, nem o de abraçá-la. A presença de Diana em sua vida iluminava qualquer dia cinza e liberava uma energia irresistível. Mas também queria descobrir todas as mágoas dela, para pararem com as diferenças, as virulências. — E como você conseguiu continuar depois que ele se foi? Sorrindo, com muita malícia no canto da boca, ela continuou: — Não tenho certeza, mas de alguma maneira eu fui aprendendo a seguir. Tinha dezoito anos quando o conheci e achei que seria para sempre. Mas, hoje, dez anos depois, descobri que o queria pelas razões erradas, porque ele era divertido, excitante, e cada dia com ele era uma aventura. Sua vida não tinha nada a ver com a realidade de criar filhos. Mas esse arrependimento me faz muito mal. A gritaria dos gêmeos cortou a conversa: — Mamãe! Olha para a gente agora! — Desceram os dois pelo escorregador, Miriam na frente e Jack atrás, acabando tudo numa bola de areia, crianças felizes e jaquetas sujas. — Vê o que estou dizendo? — disse com os olhos marejados. — Se não fosse por ele, não haveria Jack ou Miri. Alex acariciou a mão dela, comovido. — Não deve ter sido fácil. Duas crianças e só um dos pais presente. — Não foi. Por outro lado, ninguém discutia minhas decisões. Alex moveu-se para o lado. Ela tinha uma mão forte com as crianças, o que significava que seria, sem dúvida, autoritária com seu filho, Tomou nota mentalmente deste detalhe para anotar na coluna "contras". — E Irina, não a ajudava? — Ah, mas claro! Mamãe me ajudou muito, mas acreditava que era importante eu errar e aprender com os erros.— Fez uma careta. — A Teoria Irina Cohen de Paternidade! Alex sorriu com o bom humor. — Me parece muito boa. Estou ficando muito excitado com a minha aventura rumo à paternidade! — Ah! Alex, é a maior de todas. Estou feliz de verdade por você. — Apertou-lhe a mão, fria sobre o banco de pedra. — Sei que você será um ótimo pai. Nós seremos ótimos, queria dizer, mas parou. Talvez ela tivesse superado Steve. Mas e ele, tinha crescido através da perda de Tâmara? 59 Projeto Romances


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CAPÍTULO XII Logo depois que as crianças foram dormir, Alex ajudou Diana a preparar um chá de menta. Levou as xícaras até a sala e acendeu o fogo da lareira, a melhor solução para a noite fria de outubro. Diana acomodou-se no sofá de couro, enrolada num cobertor e com a xícara quente entre as mãos. — Mamãe vai viajar no Dia das Bruxas. Você pode me dar uma mãozinha com as crianças? — Claro que sim. Sair em romaria pela vizinhança à noite, alardeando doces ou travessuras, não será saudável para você. Aliás, você não deveria estar descansando na cama? — Deu um gole em seu chá, olhando para a lareira e imaginando se a madeira que colocara ali iria acender de vez. — Você só quer me ver presa na cama — gracejou Diana, atenta ao movimento do fogo. Meses de flerte, olhares, um beijo inesquecível e aquela intimidade controlada com Diana haviam testado a sua paciência até o limite. Independentemente dos riscos, resolveu tomar uma posição. Colocou a caneca sobre a mesinha, levantou-se e foi até Diana. Colocou os braços em cada um dos ombros dela, encurralando-a contra o sofá. Trazendo seus lábios a cinco centímetros dos dela, disse: — Pode contar que sim. Diana segurou a respiração. Intensos e azuis, os olhos de Alex capturaram os seus e permaneceram assim. Foi como se tivesse mergulhado dentro dela e agarrado sua alma. Não podia se mover, nem falar e tampouco sabia que atitude tomar. A respiração dele, com o agradável aroma de menta, entrava por sua narinas, flutuando. A embalagem do chá classificava menta como estimulante. E não era mentira; um tremor sensual atravessava seu corpo. Estava fervendo! Se ela se inclinasse um pouco para frente, seus lábios tocariam os de Alex. Teria coragem? Talvez não, mas ele teve. Tocou seus lábios, suavemente, acariciando-os devagar, sentindo seu gosto. — Lembra-se do casamento de Greg? Ela assentiu com a cabeça. Estava quase sem voz. — Quando nos beijamos? — forçou um sussurro. — Eu... eu não consigo deixar de pensar a respeito. — Bem, pense sobre isto — Alex beliscava seus lábios com a boca, procurando entrar. Seu coração batia em um compasso maluco, não sabia se era certo ou não. Mas não podia negar: dentro dela chamejava um fogo líquido de paixão. Fechou os olhos e beijou-o também, deliciando-se com as línguas se empurrando, saboreando-se. O barulho do couro e o calor do corpo próximo lhe diziam que ele deitaria a seu lado no sofá. Sentia as mãos dele brincando com seu cabelo. Arrepiou-se por querê-lo tanto agora, suas carícias excitando-a de uma maneira que ninguém jamais conseguira fazer. As mãos de Alex deslizaram pela abertura de seu robe, até apalparem seus seios por cima da pequena camisola, sentindo sua maciez e seu volume. O desejo era incontrolável. — Você está tremendo. — Os dedos de Alex dançavam em volta do mamilo, em círculos, fazendo seus seios eriçarem. Quando ele colocou a mão sobre a parte mais sensível, ela achou que estava desmaiando. Deitou-a de costas para as almofadas laterais do sofá e abraçou-a com todo seu corpo. Um abraço que desencadeou sucessivas explosões de prazer dos pés à cabeça. Entregando-se àquele corpo firme e esguio que a prendia ao sofá, ela correu seus dedos através do peito de Alex, explorando cada centímetro de sua pele, escorrendo-os pelas costas, aprendendo a conhecê-lo e saboreando cada curva e cada superfície dos músculos.

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Enquanto cobria a pele sensível com beijos, continuou acariciando seus seios. Mexendo-se um pouco e aliviando-a um pouco de seu peso, abriu o robe expondo o corpo de Diana ao fascínio de seus olhos. Com um gesto rápido, ela tentou juntar as metades do robe. A calcinha e a camisola, esticadas pela barriga arredondada, não escondiam quase nada. — Não, Diana... por favor. — Soltou uma, duas alças da camisola e abaixou-as, para examinar vorazmente os seios de Diana. Abaixou a cabeça, beijando seus mamilos e passando seus dentes na borda dos bicos excitados, rosados e eretos. — Você não pode estar querendo olhar o meu corpo como... como está — ela falou, suspirando. — Está como? Grávida de meu filho? — Passou a palma das mãos sobre sua barriga e foi descendo, explorando a sua parte mais sensível, e correndo num arco, os dedos sobre o quadril. Era uma carícia gentil, mas não conseguia reprimir aquele som que subia pela sua garganta, um doce gemido, uma canção de amor. Alex já tinha afrouxado o colarinho e a gravata, passando a abrir sua camisa, estourando os botões na tentativa de se despir. Diana foi deslizando sua mão por dentro da camisa para encontrar o paraíso, peitos largos e rijos, o torso com que sonhara desde que o vira despido, tantos meses atrás. Estava ali, movendo-se contra sua pele, um deus grego em sua cama atendendo a um pedido. Passou a ponta de seus dedos pelos caracóis dourados do peito, raspando suas unhas suavemente para não arranhá-lo, e sensualmente para atiçá-lo. Sentiu um prazer atônito ao redescobrir a superfície meio áspera de um peito masculino. Ela esquecera-se de como era gostoso fazer amor. Alex fazia tudo de uma forma nova para si, apagando Steve de sua consciência, embora nunca ele tivesse sido realmente seu amante. Puxou-o para si, deslizando sua língua para dentro da boca dele, implorando por outro de seus beijos enlouquecedores, com gosto de amor molhado. Apertando-o mais próximo de si, estava pronta a sucumbir à sedução, quando ele falou: — Você carrega o meu bebê, Diana. Isto te faz linda para mim. Diana soltou-se e se afastou. — Não! Não dessa maneira! — Estava chorando e tentava ficar em pé. Ele se ajeitou, recostando-se no sofá. O brilho da paixão esvaiu-se de seus olhos, substituído por uma expressão de perplexidade. — O quê? O que foi que eu disse? A gente estava indo tão bem... — Não quero ser desejada porque sou sua égua reprodutora, Alex. — O choque e a dor machucaram Diana profundamente. — Não é assim... absolutamente não tem nada a ver com isso. — Estava tão perplexo quanto ela. — Você é maravilhosa. Sempre foi, mas eu não tinha visto. Ela esfregou as mãos no próprio rosto. — Você não me via por causa de Tami, porque é o marido de minha irmã. Talvez isto não tenha que acontecer. — As pessoas também diziam isso sobre a criança que queríamos. Eu nunca acreditei no que me diziam e eu... eu não aceito isso. — Levantou, ajeitando-se. Passou as mãos pelos cabelos ruivos, ainda brincando com eles. Ela se afastou do alcance dele, que deixou os braços caírem, frustrado. — Suponho que fiz você pensar em muitas coisas. — Isso você fez — ela conseguiu dizer. — Vou embora, então. Nos vemos no Dia das Bruxas, ao entardecer. Deu um beijo rápido em sua face, deixando-a sacudida, novamente. Diana não se mexeu. Não poderia esticar um músculo antes de escutar o ruído do Jaguar se distanciando. Depois, deixou-se afundar no sofá, tremendo. Seus beijos haviam sido muito melhores do que antes, mais intensos e espontâneos. 61 Projeto Romances


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Mas ele não quis beijar Diana Cohen Randolph, mãe de duas crianças e paisagista. De alguma forma peculiar, a famosa possessão masculina queria possuir a mãe de sua criança. A idéia de que qualquer substituta teria servido para Alex, deu-lhe vontade de gritar. Mordeu os lábios deixando as lágrimas rolarem. Pegou um lenço no bolso do robe e assou o nariz. Não havia razão para sentir-se envergonhada. Não fizera nada, nada errado. — Ele é um mistério — resmungou enquanto entornava o chá frio na pia. — Esqueça-o. Vestido como um palhaço, Jack carregava uma abóbora de plástico cor-de-laranja com uma tira preta. Míriam vestia uma fantasia completa de Minnie com orelhas pretas e grandes, e uma bolsa engraçada de couro amarelo, para carregar seus doces. Diana, fantasiada de fantasma, cobrira o corpo inchado com um grande lençol branco, sumindo debaixo dele. Nada de intimidades naquela noite. Estava com os sentidos atentos. Batia impacientemente os pés no chão da varanda, os três esperando Alex chegar, ao entardecer do Dia das Bruxas. Então o Jaguar chegou, os pneus deslizando sobre as pe-drinhas do estacionamento da casa de Diana. Quando Alex desceu do carro, ela reparou em seu terno com colete, muito bem feitos. — Você está vestido de quê, de administrador financeiro? — perguntou quando chegou bem perto. — É isso o que fingi fazer nos últimos quinze anos. — respondeu com um sorriso afetado e baixou os olhos. — E quem é esta gente? Não sabia que você ia convidar um palhaço e uma ratinha para a noite de hoje, Diana. Os gêmeos se divertiram. — É a gente, tio Alex!.— Miriam acenava-lhe com a mão enluvada, quase atingindo o nariz vermelho de palhaço que Jack usava. Jack, por sinal, logo se meteu na frente da irmã, para mostrar-se sabido. — Vamos embora. Nicky Vanellis me contou que sua mãe fez maçã do amor. Diana ficou tensa com o nome, e olhou para Alex. — A gente sempre dá a volta toda no quarteirão. — Mamãe, a gente pode ir no centro da cidade hoje à noite? — Miriam se encostava nas pernas da mãe, fazendo pressão. — Por favor... — Alex, por favor, você poderia levar estes dois para dar uma voltinha no centro? Eu vou ficar parada aqui, vestida de fantasma e dando as doçuras aqui deste saquinho para qualquer criança que passar! Ele assentiu, tentando parecer o mais simpático e compressivo possível. — Só fique certa de estar dando essas doçuras ainda embrulhadas, senão... Ela acenou quando se foram. Enquanto ele caminhava de casa em casa com os dois, vendo os doces e brincadeiras que ganhavam, reconsiderou sobre a sua situação e de Diana. Culpava-se por ser desastrado e ter lidado muito mal com a situação. Mas a culpa não era só sua. Ele não havia flertado com nenhuma outra mulher desde que conhecera Tâmara na faculdade, muitos e muitos anos atrás, e daí para frente o relacionamento dos dois foi de vento em popa. Nunca duvidaram do amor que devotavam um ao outro. Mas com Diana era diferente, ele não sabia o que ela precisava. Jack ia na frente e Miriam estava indecisa, parada no fim da entrada estreita e escura de uma casa. Teias de aranha, verdes e luminosas, reluziam na varanda ao fim da trilha. Caveiras de mentira balançavam penduradas na rede, brilhando no escuro. Alex acendeu uma pequena lanterna que tinha em seu chaveiro e iluminou a trilha para a sobrinha. Mais tranquila, ela caminhou pela passagem até a varanda e pegou sua maçã do amor. As crianças agradeceram Sarah Vanellis, que ficou acenando da varanda. A resposta veio-lhe à mente como um flash espocando em seus olhos. 62 Projeto Romances


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Tranquilidade. Era isso o que ela precisava. Embora Diana negasse, Steve deixara aberto um buraco feio no seu ego e no seu coração, do tamanho do Grande Canyon. Até onde ele sabia, não havia saído com ninguém desde então. E ele era o único homem pelo qual mostrara interesse em quatro ou cinco anos. Ela se importava com ele, tinha certeza. Quando se beijaram, vira o brilho de paixão nos olhos cor de esmeralda. Quando tomara aqueles seios na mão, sentira a respiração dela vindo soprar como brisa em seus ouvidos. Sua respiração vinha em suspiros curtos, intensos e crescentes. O poder da resposta dela o deixara perplexo, desejando completar-se com ela. Diana estivera prestes a entregar-se totalmente, quando ele teve que abrir sua boca estúpida para dizer a primeira asneira possível. Embora se sentisse orgulhoso de tê-la entendido, foi com calma. Não podia simplesmente sair correndo atrás dela para pedir-lhe perdão por ter sido um total idiota. Não conquistaria Diana, uma mulher determinada e independente, a menos que a convencesse de que a quisera por ela mesma, Diana. E não a portadora do bebê. Esfregou a testa. Seus sentimentos afloraram e se desenvolveram junto com a criança, e assim seria muito difícil persuadi-la de que era ela quem ele realmente queria! E o pior é que mentira para si e para Diana por muito tempo. Negando seus sentimentos por ela, ele repetia que estava se preocupando com o bem-estar do bebê, quando, na verdade, ela era quem captara sua atenção. A sua missão agora estava duas vezes mais difícil. Mais tinha de realizá-la. Precisava fazê-lo. Disso dependia sua felicidade e a de sua família. E os quatro, que logo seriam cinco, eram sua família. — Ei, tio Alex, quer uma mordida? — Segurando sua maçã do amor já mordida, lá estava Miriam, com a bochecha melada de açúcar vermelho, a boquinha com pedaços de maçã e canela grudados. Essa eu passo, pensou. — Muito obrigado, minha querida. Coma você. Agora não quero. Depois de fazerem todo o circuito de brincadeira-ou-tra-vessura no centro, voltaram para casa. Chegando, os gêmeos colocaram seus tesouros sobre a mesa da cozinha. — Parece que a coleta de delícias foi boa, hein, crianças? Barras de chocolate, baías, maçãs doce, pirulitos... uau! — E despejou tudo numa grande vasilha de acrílico azul. As crianças começaram a algazarra. — Isso é nosso! — Jack tentou agarrar a vasilha, mas Diana tirou-a da mesa como um raio, mantendo-a fora do alcance. — Sem nenhuma chance! — disse, firme. — Lembra da conversa que tivemos? — Que a fada dos dentes ia ficar muito brava se descobrisse buracos nos nossos dentes — Miriam recitou. — e, então, a gente come um por dia e depois escova o dente! — Sim, e como vocês já comeram maçã do amor, chega por hoje. Colocou a vasilha em cima da geladeira. Alex notou o desenho de Jack ainda preso com imã, na porta. Diana continuou as instruções: — Todo dia depois da escola vocês podem pegar um doce. — Jack fez cara de choro. — Não comece, Jack, ou não vai comer nenhum dos doces. O menino então, sorriu candidamente. — Bom garoto. — Passou a mão por seus cabelos, despenteados e sorriu para Alex. — Agora acabem de uma vez com a maçã, escovem os dentes e cama! Vamos, Miri, Alex esperava que aquele sorriso significasse que não havia nenhum rancor, que estava tudo bem. Foi ler para Jack, apagou a luz e retornou à sala, encontrando Diana no seu lugar de sempre, sentada no sofá bebendo uma caneca de vinho quente com maçã. Ele não falou nada, mas acendeu o fogo da lareira. Diana o observava,tensa. 63 Projeto Romances


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A aparência forte dele, de seus ombros perfeitamente encobertos pelo blazer azul, atraíram seu olhar. Alex tirou o paletó e a gravata e ficou à vontade. Os pêlos louros de seus braços brilhavam na claridade do fogo da lareira. Imediatamente, Diana pensou se ele faria uma nova tentativa e o que ela faria. O dia seguinte seria o primeiro dia de novembro. O nascimento do bebê estava previsto para o começo de janeiro, dia primeiro mais ou menos, dando boas-vindas ao Ano Novo. E, então, Alex e o bebê se mudariam para lá. Iria dormir duas portas à frente do seu quarto, no quarto de hóspedes. Um pouco depois que o bebê nascesse, mais ou menos em seis semanas, ela estaria pronta novamente, ao menos fisicamente. Pronta para o sexo, pronta para fazer amor. E Alex iria estar lá. Ela respirou profunda e infinitamente, deixando o ar penetrar seus pulmões, consciente do desejo pulsando em cada molécula de ar, em cada olhar de Alex, ajoelhado em frente à lareira. Mas quanto tempo ficaria? Essa questão a intrigava. Intelectualmente, ela acreditava que faziam parte de uma mesma vida, uma mesma entidade. Mas dentro de seu coração ainda havia o medo. Depois do que ele dissera naquela noite, ela não sabia se podia confiar nele ou em si mesma. Alex parou de mexer na lareira e veio para perto dela no sofá. Abraçou-a e ela aninhou seu corpo nos braços fortes, carinhosamente. Ela sabia que devia sair do abraço, mas não o fez. O calor do aconchego era gostoso. Com um suspiro, deixou-se derreter dentro daquele aconchegante abraço. — Eu sei que disse a coisa errada, da maneira errada, naquela noite. — Sentia o hálito em seu ouvido, quente, fluindo. — Será que você não pode simplesmente... esquecer? Ela se endireitou. — Não é algo que uma mulher possa se esquecer facilmente. — Você vai ter tempo suficiente para esquecer minha estupidez — disse de esguelha. — Vão ter outras coisas estúpidas para você perdoar., Diana remexeu-se com uma risada. — Não como aquela, eu espero. — Não, assim não, Diana, olhe para mim, por favor. Segurou seu rosto nas mãos. Percebeu o carinho nos olhos dele um segundo antes de beijá-la, levando-a a uma dança sensual que teria apenas um fim. Os olhos verdes se fecharam para o mundo quando respondeu ao beijo com mais paixão ainda do que antes. Sua fragrância, floral com uma pitada de musk feminino, penetrava em suas narinas, fazendo seu sangue fluir velozmente, quente, pelas veias. Afastando-se, ela interrompeu subitamente o beijo. Cedo demais, ele achou. — Não devíamos estar fazendo isso, as crianças... — Não estão aqui. Nós estamos. — E cobriu seus ombros e pescoço com beijos apaixonados, como se quisesse engolir Diana de uma vez.. Diana respirou e pegando impulso, soltou-se de alguma forma. Botou a mão trêmula nos lábios, encontrando-os inchados, sensíveis. Passou a ponta dos dedos sobre a extensão dos lábios. Ele resmungou: — Diana, por favor. Para uma mulher que diz não, você está muito confusa. — Estou? Não queria estar, juro! — E deixou as mãos caírem para o lado. — De verdade. — Soltando-se, ele rumou para a porta, alto e precioso e tão... Oh! Alex a deixava sem ar. — Eu tenho que ter certeza, Alex. Ele girou a maçaneta, ainda olhando para ela, zangado. Diana sentiu-se nua, sem defesa. Seu corpo sujeitado a uma necessidade não preenchida. Se Alex dissesse uma única palavra, ela seria dele. 64 Projeto Romances


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— Eu vou esperar por você. A porta bateu quando ele se foi. CAPÍTULO XIII No dia de Ação de Graças, Diana levantou-se às seis da manhã, com a firme intenção de fazer render ao máximo o tempo de que dispunha antes que os convidados chegassem. Mas descobriu que estava muito lenta. Deu graças a Deus por sua mãe existir. Irina oferecera-se para pegar os gêmeos na escola na quarta-feira de tarde e ficar com eles o resto do dia. Responsável pelo preparo do peru, ela os levaria às três horas, quando as festividades começassem. Alex dissera que viria às duas horas dar uma força na arrumação da mesa e cozinhar algo para complementar o menu principal, mas não queria sobrecarregá-lo com atribuições. Colocou um vestido bem folgado, estilo hippie, com nuvens e um arco-íris bordados sobre o peito. Parecia mesmo uma hippie, com o vestido rosa e azul e um lenço hindu cor de rosa amarrado na testa, segurando seus cabelos ruivos, agora em longas madeixas. Alex comprara um novo colchão para o berço, além de uma confortável cadeira de balanço, que ela iria usar para amamentar. Nenhum dos dois quis saber o sexo do bebê antes do nascimento, assim, Diana comprou roupinhas que servissem tanto para uma menina quanto para um menino. Alex já colocara um póster do Pato Donald em cores vivas e brilhantes no quarto. Sentou-se na cadeira de balanço. Nesses dias tudo parecia cansá-la. Embora esperado no início de janeiro, o bebê havia descido um pouco cedo demais, deixando o dr. Muje-din preocupado. Fora então que submetera Diana a um regime de descanso parcial e medicação para retardar o nascimento e acelerar o desenvolvimento dos pulmões, em caso de não ser possível evitar o parto prematuro. A medicação deixava-a exausta e enjoada a maior parte do tempo. Alex, no entanto, estava ajudando-a quase que integralmente, excetuando-se as horas de trabalho no escritório. Os beijos de boa-noite se tornavam cada vez mais longos e apaixonados. Sua condição física e duas crianças sempre presentes e impressionáveis não permitiam qualquer intimidade maior. Ela o amava mais e mais a cada dia. Mas não confiava nos seus sentimentos nem nos dele. Então, engolia de volta todas as palavras de amor, assim que deslizavam para a ponta de sua língua. O bebê mexeu-se, ela acariciou seu estômago. A criança havia tomado gosto por se mexer mais de manhã, nesses últimos dias. No entanto, hoje sentia uma característica diferente nos chutes e empurrões. Meses atrás, ele ainda nadava livremente em seu ventre. Agora, dera para retorcer-se, causando-lhe até caibras. — Você não vê a hora de nascer não é, querido? — sussurrou para seu filho. — Bem, mamãe também quer você aqui fora. Estou louca para conhecer você, meu amor. Só então percebeu de estalo o que estivera fazendo. Percebeu na hora. Esse bebê era seu. Embora carregasse os genes de Tâmara, foi o sangue e a medula dela que o nutriram desde o início, oito meses atrás. Ela daria luz e vida a ele, seus seios o alimentariam. Este era o seu bebê. Nunca desistiria da criança. Fechou as mãos e colocou-as sobre a boca, sentindo-se horrível com este pensamento. Alex. Oh! Deus, este era o bebê de Alex, a criança que ele e Tâmara tinham dado o sangue para ter. Ele precisava mais de uma família que ela. Como ela podia pensar em privá-lo de tamanha alegria? — Ele me odiará se eu quebrar minha palavra — falou em voz alta, para o vazio. Lembrava-se do que dissera a ele quando conversaram sobre Steve. — Quanta desonestidade! — Alex sempre fora escrupulosamente verdadeiro com ela e com todos, especialmente sobre o bebê. 65 Projeto Romances


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Deixara clara sua posição quando disse que ficaria um tempo vivendo aqui depois do nascimento dele e então... Enrolou-se num abraço, como se fosse uma bola, e lágrimas de infelicidade começaram a cair de seus olhos. Não sabia como poderia deixá-los ir embora quando chegasse a hora. Uma dor aguda cruzou seu abdômen ao mesmo tempo em que sentiu-se molhada no púbis. — Ah! Meus Deus, a minha bolsa está rompendo! — gritou. Saiu desajeitadamente pela sala, segurando a barriga e procurando um telefone portátil. Onde é que os dois o deixaram? Correu para o quarto onde encontrou um sobre a cama. Teclou na memória o número de Alex, com dedos trêmulos. — Alex, venha para cá, agora! — Hã? Estava dormindo ainda, que droga! — Se apresse, homem! — falou alto e correndo. — Você quer que eu chame Emergência? A voz dele ficou mais firme: — Chegou a hora? — Chegou! — Você está bem? — Sim, estou bem e vou ter um bebê! — e desligou o telefone. Livrou-se do vestido molhado e usou-o para se enxugar, vestindo outro. Calçou as sandálias e desceu aos trancos a escada percebendo que a contração tinha parado. Parou para raciocinar, respirando devagar e profundamente. Goldie arranhou a porta, deixou-a entrar. A cadela cheirou-lhe a mão procurando comida. — Ah! Claro! Agora, não é? — ela resmungou. Alimentou-a, lavou as mãos e pegou a maleta com tudo que precisava para usar no hospital. Uma brecada de pneus brusca anunciou a chegada de Alex. Bateu a porta do carro e logo subiu pela varanda, enquanto ainda falava no celular, — Sim. Estou na casa dela. Encontramo-nos no hospital em alguns minutos. — E desligou o fone. — Quem era? — ela perguntou. — O dr. Mujedin. Entre no carro. Como estão as contrações? — perguntou ao pegar a bolsa de sua mão e fechar a porta atrás dela. — Não sei mais, mas minha bolsa estourou e acho que está em cima da hora. Não quero arriscar. Conduziu-a ao Jaguar. — Que droga. Diana. Não chegamos a trinta e quatro semanas — sua voz estava seca e tensa. — Eu sei. — Gestação completa seriam trinta e sete, trinta e oito semanas. O bebê ainda estava muito novo para vir ao mundo. — Anemia, icterícia, má formação dos pulmões, parada respiratória durante o sono... — Alex, pare com isso, por favor! — Me desculpe. Estou apavorado. Quero que nosso bebê seja perfeito. — Entrou à esquerda veloz demais, bruscamente. Nosso bebê. Isso deveria soar adorável, mas quebrou seu coração como se fosse vidro. Puxou o ar do fundo de seu ser. — Escute. Nenhuma criança é perfeita. Nem mesmo... a sua. Reparou nos dedos agarrados na direção, com as juntas brancas sob a tensão. E deve ter pisado mais fundo no acelerador, pois o carro parecia correr muito, igual ao animal que lhe dera o nome. Alex parou o carro na entrada do pronto-socorro com uma guinchada de pneus. Um atendente já o aguardava e ajudou Diana a se sentar numa cadeira de rodas, levando-a porta adentro. Enquanto estacionava o carro fez algumas chamadas rápidas. 66 Projeto Romances


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— Você e os gêmeos terão que celebrar a Ação de Graças juntos, pois eu não tenho idéia de quanto vai durar o parto, Irina. Ela, que devia estar com os netos pendurados no pescoço, a julgar pela gritaria do outro lado da linha, estava incrivelmente calma. — Não se preocupe, meu querido. Tudo vai dar certo, creia. Ela é uma garota bastante saudável. — Está muito cedo para o bebê... trinta e quatro semanas — disse ao enxugar o suor da fronte com o lenço úmido. — São oito meses, Alex. E ela está no melhor hospital, com médicos dedicados e maravilhosos. Estou certa de que o bebê está bem. Talvez a gente vá ficar aí com você. — Não precisa. — Claro que preciso. Estamos falando sobre meu neto. Ou neta! O que você quer que a gente te leve? — Bom... eu não comi nada ainda. Vamos tomar um lanche quando você vier. — Tchau, querido. — Desligou o telefone mais aliviado por ter falado com Irina. Emocionou-se quando constatou o quanto gostava da família de sua esposa. — Obrigado, Tami — falou para os céus enquanto chamava seus pais. Patrícia atendeu e lhe disse que seu pai estava jogando uma partida de golfe no clube. — Iremos para o hospital assim que ele voltar. Podia sentir o estresse na voz aguda e trémula da mãe. Talvez tivesse decidido de coração assumir o neto. — Não se preocupe, mãe. — Eu só não quero que você sofra, filho. — Tudo vai dar certo. — Alex estava dando duro para manter a compostura. — A gente se vê logo. Finalmente, conseguiu ir para a Obstetrícia e já encontrou Diana instalada num ótimo quarto. — Como você está? — Já dilatei seis centímetros. Este bebê vai nascer logo! — Diana recostou-se nos travesseiros. Sentou-se ao lado dela na cama e pegou suas mãos nas dele. — Como Jack e Miri. — Estou falando sério. E se você quiser estar na sala comigo, faça o favor de se lavar e colocar seu uniforme de pai! — O que acontece com este quarto? — Deu uma olhada em volta. Contrastando com o tumulto de fora, do hospital, o quarto dela parecia tão tranquilo, silencioso, decorado a caráter: balões, bandeirinhas, este tipo de capricho. Diana olhou para cima. — Isso é como os hospitais tentam fazer você pensar que está num lugar amigável e feliz. — E apontou uma porta oposta a sua cama. — Você deveria ver a sala de parto, um lugar moderno, cheirando a limpeza hospitalar, como todos deveriam ser. Falou com o doutor? — Não, queria ver você antes. Ele já chegou? — Não. Veja se consegue achá-lo, por favor? As pernas dela se mexiam impacientemente sob as cobertas. Ofegou com uma contração. — Respire, querida, respire! — Agarrou-lhe a mão. — Você aguenta. — Eu sei — falou quase assoprando. — Já passei por essa. — Ei! Olhe este monitor. — Ele apontou para um painel escuro com uma linha verde-limão pulsando e mexendo-se no centro dele. Enquanto observava, a linha ficou reta. Estável, pensou. Diana pareceu relaxar. — Deve ser a isso que está grudado na minha barriga. Está seguindo as contrações. Quando elevar-se de novo, me avise. Virou a tela para ver melhor. — Eu vou atrás do dr. Mujedin agora. Alex encontrou-o em seguida, no corredor. 67 Projeto Romances


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— Ela está impaciente e cansada, doutor. O médico franziu a sobrancelha morena. — Espero que não esteja cansada demais. Talvez seja um longo dia para ela. — Ela acha que o bebê vai sair rapidamente. — Pode ser. — O médico dirigiu-se para o quarto de Diana. Alex atrás. Bateu na porta ao mesmo tempo em que ela gritou. Mujedin ignorou, como um profissional experiente, as reclamações da paciente. — Como estamos, Diana? — alcançou uma ficha no pé da cama. — Bem... seis centímetros às nove horas. Talvez devêssemos checar de novo. Com licença, sr. Chandler. Alex já ia saindo para o médico examiná-la quando o dr. Mujedin falou: — Sr. Chandler, se quer ver o bebê nascer, vá a recepção e peça à enfermeira para ajudá-lo a preparar-se. Alex agarrou no avental branco do médico. — Está na hora? O médico olhou-o nos olhos e sorriu. — Sim, está. Ela está bem e o bebê está pronto para juntar-se a nós. Alex fez o que devia. Após lavar-se e vestir o avental cirúrgico esterilizado, foi levado à sala de parto. Um monte de enfermeiros, vestidos e com máscaras circulavam pela sala. No centro de tudo, Diana. Coberta por um lençol, estava deitada com as pernas abertas, já na posição para o parto. Parecia mais calma, sorrindo quando o viu. — Alex! — E procurou sua mão enluvada. — Você está bem? — perguntou apertando carinhosamente sua mão. — Maravilhosa, agora que o bebê já está procurando seu caminho para fora. Ele levantou as sobrancelhas, ele estava vindo! Afastou as mexas de cabelo da testa dela, quente, o suor escorrendo. Ela arquejou, o corpo tenso com o esforço. Imagens começaram a surgir em sua mente, enquanto ela fazia força para ajudar. Diana, bela e forte, cavando um buraco no jardim. Diana gentil e carinhosa, limpando lágrimas de criança. No casamento de Blanche, linda, mesmo com a lembrança de Steve rasgando seu coração. Diana, entregando-se de coração a todos que encontrava. Nunca amara ninguém mais do que a amava neste momento. Tentava respirar, mas também se sentia arquejando, o coração se retorcendo em seu peito. Não aguentaria se a perdesse, Tinha que encontrar uma maneira de torná-la sua! Tornara-se parte do seu viver, tão imprescindível como ar. Ele a amava. Oh, Deus! Por que levara tanto tempo para compreender seus sentimentos? Não podia perdê-la agora, nenhum sacrifício era grande o suficiente. Mas o que poderia fazer? Começou a falar: — Diana, eu te... Mujedin entrou, em luvas e com máscara. Uma pessoa também preparada estava a seu lado. — Este é o dr, Zeto, que estará trabalhando conosco no parto. — Srta. Randolph, Sr. Chandler, não há nada a temer. Neste estágio, os prematuros já têm noventa e cinco por cento de chance de sobreviver. A probabilidade é de que seu filho ou filha venha muito bem a este mundo. — Quase tudo depende dos próximos minutos — O dr. Mujedin disse, olhando para a parturiente. — Diana, vamos trazer o bebê para você, agora. Os médicos reuniram-se em volta dela e Mujedin observava circunspecto o monitor, muito parecido com o que Alex vira no quarto. Enquanto olhava, notou que a linha que já estivera esticada, quase imóvel agora dava picos para cima, aos poucos. — Agora, Diana, empurre! Ela respirou profundamente, inspirando com força em seguida. Alex podia ver pela expressão concentrada, que ela sabia que este era o momento. 68 Projeto Romances


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— Isso, querida, respire! — Colocou sua não na fronte dela — Respire! — Ele está se encaixando — Mujedin avisou. — Aguente-se, querida, você está indo bem. — Alex correu para os pés da mesa de parto. Dr. Mujedin levou as mãos ao meio das pernas dela. — Paciência, Diana. Eu vou dar um pequeno corte... Alex virou seu rosto para o lado. Manchas negras flutuavam ante seus olhos. Puxou o ar para dentro dos pulmões, ofegante. — Agora empurre mais uma vez. — E inclinou-se para o meio das pernas de Diana, de novo. — Isso, venha, pequenino. Alex estava atônito. — O que... o que o senhor está fazendo, doutor? — Girando um pouco o seu filho. Os ombros estão meio entalados. — E isso é tudo? — Seu filho estava num paraíso da tecnologia hospitalar, mas tudo o que o médico estava fazendo não era mais elaborado do que colocar seus dedos na vulva dela para ajudar o bebê a sair! — O meu bebê! Este é o meu bebê! — Diana gritou tentando pegar aquela criaturinha. Mujedin olhou para Alex. Acima da máscara, os escuros olhos solenes do cirurgião pareciam passados. — Você é pai de uma linda menina, sr. Chandler. — E ternamente colocou o bebê sobre a barriga da mãe. Alex estava petrificado, olhando fascinado e mais do que simplesmente feliz. Nada do que lera ou aprendera tinham-no preparado para este momento. Era tão pequenina, tão frágil ainda, e ao mesmo tempo adorável, sua fadinha enroladinha sobre o ventre de Diana. Tocou um de seus pezinhos com os dedos cheios de curiosidade, e uma imensa vontade de beijar a tenra planta daqueles pés, e sentir o perfume de cada dedinho. — Oh, meu Deus, Alex... — Diana tocou o alto da pequenina cabeça de sua filha, hesitante e cuidadosa. Ainda estava tremendo com o esforço. — Ela é... é perfeita! — E você também. — E beijou seus olhos. — Você é maravilhosa, querida, e eu amo você demais. Fazendo um esforço, passou um braço pelo pescoço dele. — Eu te amo também, meu querido, muito. — Sr. Chandler, gostaria de cortar o cordão? — O dr. Zeto estendia uma tesoura para Alex. Todo o ar saiu do pulmão dele. Alcançou a tesoura, a mão tremendo. — Aqui neste ponto, senhor. — Mujedin apontava no cordão. Tonto, Alex encostou-se na mesa procurando apoio. Deus, será que ia desmaiar? Mordeu os lábios, afastando as manchas negras que voltaram a embaçar sua visão. Não falharia numa hora destas, não importava como se sentisse, iria cortar. — Muito bem. — O médico pegou a tesoura. — Agora vamos esconder isso antes que o senhor se machuque. Gostaria de se sentar um pouco? — O médico estava se divertindo, vendo o pai da criança pálido, como num desenho animado. Alex sentou-se enquanto uma enfermeira e o dr. Zato examinavam a bebé e a enrolavam em uma toalha para levá-la à incubadora. O dr. Mujedin inclinou-se sobre Diana para convencê-la a fazer mais força e eliminar o resto da placenta, antes de dar os pontos. Ao ouvir o doutor, ele gemeu e colocou a cabeça entre os joelhos, contente por não ter comido nada. Finalmente, pronta para relaxar, Diana observava Alex. Não evitou uma careta ao vê-lo. Estava prestes a botar o jantar da véspera para fora! 69 Projeto Romances


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Mas não a deixara. Como um meteoro atravessando iluminado o céu, perceber que ele tinha permanecido a seu lado fez com que ela se sentisse realizada. Ele não a deixara, embora quase tivesse desmaiado com o estresse todo. Alex nunca a deixaria. Tinha que contar aquilo, de uma vez por todas. Ela sabia que tinha que falar. — Alex, eu... O dr. Zato interrompeu-os: — Muito bem. Ela pesa dois quilos e setecentos e vinte gramas e tem quarenta e sete centímetros de comprimento. Pressão sanguínea, pulso e respiração dentro dos limites normais. Alex levantou-se, com dificuldade e foi para o lado de Diana. As enfermeiras estavam trocando sua roupa. O atendente cobriu-a com um lençol limpo, estendendo-o acima do peito. Beijou a maçã do rosto corada. — Eu amo você, querida. — Eu também. — Diana segurou a face dele entre as duas mãos ao falar: — Alex, muito obrigada mesmo! Eu não perderia isso por nada no mundo. — Estava chorando e feliz, lágrimas de alegria rolando por sobre as pequenas sardas. Beijando-a, ele enxugou lágrima por lágrima, seus olhos também marejados. Estranhamente, isso fez Diana chorar convulsivamente. — Querida, pare um pouco. Você vai se machucar. — Eu... eu não posso... não posso evitar. Amo tanto você e o bebê que... que eu... Deu uma engasgada e colocou sua cabeça no ombro dele. — Eu sei. Eu sei. — Abraçou-a bem forte e, então, liberou-a, beijando todo seu rosto, sem parar. Não queria parar de beijá-la. O médico, que estava ali parado, limpou a garganta. — Me desculpem... mas queríamos levar a mamãe e bebê para o quarto. Alex moveu-se para o lado permitindo que colocasse a menina no colo da mãe. Abaixou o lençol, depois levou a boca do bebê até seus seios. Depois de alguns hesitantes segundos, quando a criança não sabia o que fazer, sua delicada, pequenina boca se abriu, encaixando-se para sugar o bico do seio. Com a calma estampada nos olhos distantes, Diana posicionou melhor o bebê nos braços, recostando-se nos travesseiros. Uma mãe nata, Alex percebera. Apostava que Tâmara a escolhera por isso: Diana tinha um talento natural para ser mãe. Seu coração estava mergulhado em tantas sensações novas e intensas, que pensou iria estourar. — Então... o que você acha de darmos o nome de Tâmara a ela? — Alex perguntou. A enfermeira e o atendente estavam ocupados arrumando a cama em que Diana ficaria. Feita a mudança, o atendente começou a empurrar a cama para fora da sala. Alex ia ao lado dela, enquanto deslizavam a cama pelo corredor. Ela piscou e pareceu entrar novamente na realidade, mas não o olhou nos olhos. — Alex, este não é o meu bebê, lembra-se? — Deu-se um tempo e continuou, sussurrando: — Você... você não precisa minha permissão para fazer nada. Não sou a mãe dela — pronunciou as palavras como se estivesse esfaqueando seu próprio coração. — Querida... — tentou colocar mais confiança em sua voz. — O que eu disse na sala do parto é a verdade. Eu amo você. E você é a mãe deste bebê. É tudo que ela vai precisar. Querida, você se casaria comigo? Por favor? Ele deu um suspiro, seu peito estava apertado. Olhou-o no fundo dos olhos, com expressão indagadora. — Mas, mas... e a respeito de Tâmara? Alex esperou que o enfermeiro saísse do quarto. Diana entregou-lhe a pequena Tami nas mãos e procurou uma boa posição na cama. Pegando aquela coisa tão pequenina nos braços, um pacotinho de gente, ficou surpreso. Surpreso porque era muito leve, como um pequeno vaso de violetas. 70 Projeto Romances


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Cativado, fitou a pequena face vermelha, cheia de dobrinhas. Os olhos eram azuis escuros, de um tom que nunca vira, com um chumaço de cabelinhos dourados no alto da cabeça. — Ela é deslumbrante! — murmurou o pai coruja. Fazendo beiço, ela abriu a pequena boca, mostrando a gengiva sem dentes. Começou a chorar, como se engasgasse. — Ela ainda está com fome, eu aposto. Diana se encostou nos travesseiros fofos com um suspiro de bem-estar. Pegou Tâmara. Ele a aninhou com muito cuidado nos braços da mãe. Tami agitava os bracinhos e mãozinhas, procurando pelo bico da mãe. Diana guiou-a para o outro seio. Ela aquietou-se quando encontrou sua refeição. — Eu não quero parecer impaciente, mas você vai dizer sim ou não? — Alex. — Diana ainda estava com a respiração alterada pelo parto. — Temos algumas coisas para conversar. Você era o marido de minha irmã. Não posso deixar de pensar que estou traindo Tâmara de alguma forma. O coração dele quase parou de bater. Se ela realmente achava isso, não haveria esperança. Mas ele não acreditou nela. Ela tinha acabado de dizer que o amava! Quase fizeram amor, mais de uma vez! — Sempre amarei e honrarei a memória de sua irmã, Diana. E amar você não diminui em nada meu amor por ela. Ainda penso demais nela, principalmente quando estou com você. Ela pareceu surpresa. — A maioria das pessoas acha que não tínhamos nada a ver uma com a outra. — Estão errados. — Acariciou sua face. — O seu senso de humor e a sua honestidade são como a dela. Mas isso não me deixa triste. Por sua causa, eu posso me lembrar dela com alegria. Tenho que seguir em frente, Di, e ela queria que eu seguisse em frente. E além disso, Diana, amo você mais do que poderia sonhar em amar alguém um dia — falou, apertando a mão livre sobre a cama. — Tem certeza que não quer casar comigo por causa do bebê? — disse arregalando os olhos, séria. — Absolutamente, não! — Alex sentou-se na cama. — Ou, como você colocaria, Claro, tenho certeza! — Seu sorriso não conseguiu fazê-la sorrir. — De verdade, Alex. Eu tenho que saber! Tomou a mão dela entre as suas. — Diana, eu nunca faria isso. Você é minha vida e o meu coração e tudo que me faz feliz e vivo! Eu quero você, porque amo você, porque você completa a minha vida da maneira que preciso e quero. — Mas, sabe, sr. Chandler, esse foi um dia de muitas emoções. Eu não posso ser a esposa que Tâmara era para você, não sou como ela, de verdade. — Você é como...você! Eu amo você. Amo de verdade. Você não acredita? Olhou para o rosto dele, olhos brilhantes, úmidos. — Eu gostaria de acreditar. Amo tanto que não posso viver sem você. Mas aprendi da maneira mais difícil que só amor não é suficiente. — Steve acabou com você, não foi? — É, acabou. Achei que estava apaixonada e ele por mim e que duraria para sempre. — Um ar sombrio tomou conta dela. — Depois que o perdi, não pude mais confiar em meus julgamentos. Ele apertou mais a mão dela, ao dizer: — Então, confie no meu: somos mais que perfeitos um para o outro. — Como você pode estar tão certo? Alex hesitou antes de tirar o bloco com a lista do bolso. Sentou-se ao lado da cama e foi até a pagina dos prós e contras, mostrando para Diana a distância. — Ah! Eu não acredito, Alex! Você fez uma lista? — Inclinou a cabeça para trás e riu com gosto. Ria tanto que lágrimas começaram a rolar de seu rosto. A pequena Tami olhou para ela, gorgolejou e continuou a mamar. Ela exugou os olhos com um lenço de papel. — Alex, doce, compulsivo e neurótico! O que faço com você? 71 Projeto Romances


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— Case-se comigo. — Sacudiu o bloco no ar. — Aqui está a razão. — E segurou a página aberta, para que pudesse ler sem soltar a bebê. Os olhos de Diana se arregalaram. — Deusa do sexo? Razoavelmente atraente? Eu sou uma deusa do sexo razoavelmente atraente? — começou a rir mais um pouco. — Alex, Alex, eu te amo tanto. Uma boa mãe. Lembre-se disso quando começarmos uma discussão a respeito das crianças. — Então você aceita? — deixou o bloco cair ao lado dela, que já estava com os olhos inundados. — Oh, Sim! Sim, Alex, eu aceito! Sim, Sim. — Tentou alcançá-lo com a mão livre, enlaçando seus dedos nos dele. Ele beijou as mão dela sentindo-se humilde e orgulhoso ao mesmo tempo. Embora bebês nascessem todos os dias, poucos homens e mulheres conseguiam o milagre do amor realizado. — Sou um homem de sorte! — falou, alto e claro. — Amei e fui amado por duas mulheres extraordinárias. Diana corou. — Obrigada, Alex. Sou muito grata a você. Nunca pensei que isto pudesse me acontecer. Alex sentou-se a seu lado e ficaram os dois, muito próximos vendo seu bebê alimentar-se. A ponte que fora destruída em seu coração quando Tâmara morrera havia sido reconstruída, deixando-o completo e reestruturado. Miraculosamente, a doença e a morte dela não haviam deixado cicatrizes. Ficou imaginando por que e, então, percebeu que amar Diana e o gêmeos ajudara-o a preencher o tremendo vazio em sua vida. Agora podia lembrar-se da esposa com alegria e não com mágoa ou revolta. Irina veio-lhe à mente. — Venho me lembrando todo dia do que Irina falou sobre Tami, no casamento de Greg... — O quê? — Ela disse que achava que Tâmara tinha nos manipulado para essa situação, que tinha a sensação de que ela tinha planejado tudo... — Acho que mamãe está certa. — Diana estava radiante, e sorriu. — Obrigada, Tami! — disse olhando para cima, e voltando seus olhos para ele, disse: — Está bem, vamos dar o nome de Tâmara para o bebê. Ela teria gostado. Agora, vamos checar o resto da sua lista. O que há na coluna dos "contras"? Ele tirou o bloco das mãos dela e colocou-o no bolso. — Você não precisa mais ler isso agora. Nem nunca. — Se eu não estivesse presa nesta cama, eu arrancava o bloco de você. — E franziu os olhos verdes para ele. Ele arrancou a página e rasgou-a em mil pedaços jogando tudo pela janela. — Foi embora junto com qualquer dúvida. Acercou-se de seu rosto, beijou-a e falou com sua boca bem perto do ouvido: — Te amo mais e mais a cada dia. O bebê parou de sugar, então Diana chamou a enfermeira para levar Tâmara para o berçário. Encostou-se e acomodou-se em meio aos travesseiros com um senso de contentamento, de dever cumprido que nunca se achou capaz de sentir. Amou Steve com a impetuosidade dos jovens, do jeito que uma garota impetuosa procura a emoção pelo desconhecido. Nunca antes havia compreendido a devoção que o verdadeiro amor trazia. Alex lhe mostrara o significado do amor. Agora encontrara o amor maduro, o amor de sua vida, o homem que estaria a seu lado para sempre.

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EPÍLOGO Abril, um ano após o dia do nascimento Quando todos os convidados do casamento partiram e as crianças foram para a cama, Alex pegou a mão de sua esposa e levou-a para o quarto, para iniciar a lua-de-mel. Durante meses sonhara com aquele momento. Ele e sua filha Tami estavam na casa de Diana desde o dia do parto, mas Alex não queria que os gêmeos os vissem ter intimidade antes do casamento. Diana concordava com ele, então decidira dormir com o bebê no quarto de hóspedes. Agora estavam se mudando definitivamente para o quarto do casal, como marido e mulher. — Alguma coisa dentro de mim gostaria que todos tivessem o que eu consegui — disse ele para Diana, enquanto tirava os sapatos e o blazer. — Você tem um coração muito bom, mas o nosso amor é de uma espécie muito, muito rara. Uma sombra encobriu o brilho nos olhos de Diana. Alex imaginou que estivesse pensando em Steve. — Não pense, não esta noite — ele pediu, abrindo-lhe o zíper do vestido. O belo sorriso dela reacendeu. — Sim, meu amor! Diana deixou o vestido deslizar até o chão, ao mesmo tempo que se livrava dos sapatos. Usava apenas uma calcinha branca de cetim, sutiã e meias de seda. Caminhou até o closet com um balanço sedutor dos quadris. Virando a cabeça para Alex, piscou para ele. — Prometo! — Ela retirou um maço de folhas da gaveta da escrivaninha. — Por falar nisso, o que acontece com este contrato? Com um sorriso malicioso, sacudiu-o na frente dos seios, tentadoramente emoldurados pelas rendas da lingerie sensual. Alex olhou para os papéis na mão dela e corou. — Oh... isso. Diana sorriu. — Sim, isso. — Abrindo uma página ao acaso, começou a ler, em tom jocoso: — A citada parte concorda em abrir mão de todos os direitos maternais sobre a criança acima mencionada. Alex tentou tirar o contrato da mão dela, mas ela conseguiu esquivar-se. Rindo, começou a dançar em volta da cama. — O contato entre a criança e a segunda parte, a mãe substituta, deve se restringir a atividades aprovadas pela primeira parte, pai e proprietário do embrião! — Me dê isso, Diana! Alex queria rasgar aquele contrato em mil pedacinhos. Como pudera ser tão idiota?, recriminou-se. — A primeira parte terá controle... Controle, Alex... — Ela riu. — Psiu! Você vai acordar as crianças! — Atirando-se sobre a cama, ele arrancou o contrato das mãos de Diana e rasgou-o ao meio. Depois jogou as folhas para cima. — Droga — ela resmungou. — Achei que poderia atormentar você com isto para sempre! Eu devia fazer você comer estas folhas, Alexander Chandler. — Claro. Você poderia — concordou ele, encabulado. — Mas sou uma mulher educada, gentil... e que sabe perdoar. — Meu amor, claro que você é! — Alex alcançou-a e segurou seu rosto entre as mãos. — E eu te amo! — exclamou Diana, beijando-o com paixão. Com o coração transbordando de felicidade, ele beijou-a também. — Eu te amo da mesma maneira! Sou teu, amor. Cada segundo de cada dia... — Delicadamente, ele introduziu os dedos sob a renda do sutiã. 73 Projeto Romances


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Uma ruído soou na babá eletrônica, atraindo a atenção de ambos. Em seguida, uma voz de criança se elevou da pequena caixa acústica. — Fique quietinha, Miri! — Eu estou... — Houve outro ruído e uma interferência. — Ela não é uma graça? — A voz de Míriam subiu um tom. Alex e Diana entreolharam-se. Os gêmeos estavam admirando a irmãzinha, competindo entre si pela atenção do bebê. — É melhor irmos até lá antes que eles a acordem — disse Diana, vestindo o robe e saindo do quarto. Alex seguiu-a ao longo do corredor. Quando se aproximaram da porta do quarto, a voz de Jack se tornou audível: — Você acha que ela vai sentir falta do ursinho marinheiro? — Ei, vocês dois — Alex sussurrou, cuidadoso. — O que os dois estão aprontando? As duas figuras na meia luz do quarto riram baixinho, parados e olhando Alex com uma cara de inocentes que mais parecia gozação. — Nós estava dando uma olhada na Tami — disse o menino, os olhos arregalados e sem malícia. — Estávamos — Alex corrigiu. — Estávamos o quê? — Míriam perguntou. — Vocês dois estavam dando uma olhada em Tami. —Sim! — responderam em coro. Tami piscou, bocejou e esticou-se pedindo pelo pai. — Você acordou o bebê, Jack! — Miriam olhava para o irmão. Alex pegou a filha e colocou-a no colo, cheirando o delicioso perfume de limpeza, colônia e talco. — Vem com o papai, minha doçura. — Não se cansava de embalar Tami nos braços, preciosa. Amava-a mais do que tudo em sua vida. Tami colocou a mãozinha dentro da camisa aberta do pai. — Acho que ela quer você, querida. — Alex, rindo, beijou a bochechinha da filha entregando-a para Diana. Diana sentou-se na cadeira de balanço, abriu discretamente o robe, abaixando a lingerie para poder amamentar sua filha. — Eu não entendo, tio Alex. Você casou com a mamãe. Você é pai da minha irmã. Como você não é meu pai, então? Assombrado, Alex olhou para Diana, que capturou seu olhar. Haviam esperado meses para que os gêmeos fizessem essa pergunta, discutindo a questão no mínimo mil vezes. Apesar de muitas explicações sobre mães-substitutas e embriões e implantes... os gêmeos acreditavam que o bebê era de Diana... e num certo sentido, estavam certos. Tami tinha duas mães, uma biológica e ausente, uma presente e muito viva. Diana suspirou e trocou o bebê de lado, dando-lhe o outro seio. — Ele pode ser seu papai de verdade se vocês dois quiserem que ele seja. Qualquer outra pessoa escutaria apenas um tom casual na voz dela. Mas ela e Alex haviam se tornado muito próximos e ele podia sentir uma certa ansiedade permeando suas palavras. — E o outro pai, aquele na Rábia— Miri perguntou. Steve enviava ocasionalmente cheques ou brinquedos e presentes. Sabiam da existência do pai mas nunca o haviam visto. Estava agora vivendo em Riyadh, desfrutando da vida luxuosa dos executivos do petróleo no Oriente Médio. Quando Alex e Diana telefonaram para conversar com ele sobre a possibilidade de Alex adotar os gêmeos, Steve fora indiferente, mas não se opusera. — Está tudo certo com o outro pai — Diana confirmou. Alex contemplou Jack e Miriam se entreolhando, um momento especial da comunicação que dividiam. — Oba! — gritaram em coro. 74 Projeto Romances


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A tensão saiu do corpo dele, deixando seus músculos relaxados e leves. — Obrigado, crianças — conseguiu dizer. Miriam agarrou sua mão. — Isso quer dizer que agora temos que chamar você de papai, tio Alex? — E balançava as mãos juntas como uma corda de pular. — Ou a gente vai ter que ir para o tribunal, como na televisão? — Jack logo emendou, encostando seu pequeno corpo contra Alex, como se quisesse um abraço. Alex abraçou-o, seu coração num estado em que não tinha palavras para dizer. — Não se importe com a papelada, Jack. Você pode chamá-lo de papai a hora que quiser. — Diana trocou Tami para o outro seio. — Pá-paii! Pá-paiii! — Miri cantarolava em voltas pelo quarto. Mais tarde, em seu quarto, deitada, Diana via que sua alma estava completa, com tamanha alegria e realização que jamais sonhara para si. Ele estava a seu lado e era dela. Alex, seu amante e esposo, o pai de seus filhos, agora e sempre. Ele massageou a sola de seus pés gerando arrepios de prazer em todo o corpo. — Abençoado seja, meu querido! Fechou os olhos, imersa em uma felicidade infinita. Quem era a mulher mais feliz do mundo? Alex ainda massageava seus pés, recomeçando pelos dedinhos. — Então, o pequeno porquinho foi ao mercado... — subindo pela sola de seus pés e a barriga da perna e... Não se conteve e deu uma saborosa gargalhada. Tinha uma boa idéia de onde e voltou para casa, feliz ia dar, — Este porquinho ficou em casa — e puxou o segundo dedinho, fazendo-a dar um grito. — Este porquinho almoçou rosbife — Alex se aproximou mais apertando seu dedinho do meio. Ela suspirava de deleite. — Este porquinho não comeu nada. E este outro porquinho... — Alex olhou-a, seus olhos travessos deleitando-se com a brincadeira. — Vo-vo-voltou para casa feliz! — E foi subindo os dedos dos pés até os quadris de Diana. O desejo, intenso, quente, caía como uma cascata através de cada célula de seu corpo, enquanto o toque experiente de Alex incendiava sua paixão. — Sou uma mulher de sorte. — E eu sou um homem de sorte. Olharam para o alto e em coro, disseram: — Obrigado, Tami! E deram muitas risadas de felicidade.

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75 Projeto Romances


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