Pico de Vendas no Final do MĂŞs Quando trabalhava como gerente de LogĂstica em uma grande empresa do setor de bens de consumo eu sofria FRP RV HIHLWRV GR SLFR GH YHQGDV QR Ă€QDO GH WRGRV RV meses. Mais tarde, como consultor e professor de cursos SDUD SURĂ€VVLRQDLV GD iUHD SHUFHEL TXH HVWH SUREOHPD nĂŁo acontecia apenas no setor de bens de consumo, mas tambĂŠm em uma sĂŠrie de outros setores de atividade. Uma PLVWXUD GH FXULRVLGDGH FRP LQGLJQDomR IH] FRP TXH HX decidisse estudar este tema mais a fundo e resolvi escolhe-lo como o tema para o meu doutorado no LALT/UNICAMP. (X GHĂ€QL GRLV JUDQGHV REMHWLYRV SDUD R PHX HVWXGR 2 SULPHLUR HUD FDOFXODU FRPR H TXDQWR R SLFR GH YHQGDV DIHWD R UHVXOWDGR Ă€QDQFHLUR GDV HPSUHVDV 2 VHJXQGR REMHWLYR era entender se era possĂvel acabar com esta concentração ou se as empresas deveriam aceitar o pico de vendas como PDLV XPD GDV PXLWDV GLĂ€FXOGDGHV GH VH JHULU D ORJtVWLFD no Brasil. Para isto precisava entender as possĂveis causas do pico de vendas e avaliar se era possĂvel e interessante para as empresas eliminarem estas causas. Para responder a estas perguntas coletei dados em uma empresa do setor GH FRQVXPR H XWLOL]HL GDGRV GH XPD SHVTXLVD IHLWD FRP clientes desta empresa.
Divulgação
(Parte 1)
Autor: Prof. Dr. Lars Meyer Sanches Mestre em Engenharia de LogĂstica pelo MIT e doutor em Engenharia de Transportes pela UNICAMP, professor convidado da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP,e coordenador do curso de especialização em LogĂstica e GestĂŁo da Cadeia de Suprimentos e LogĂstica do LALT/UNICAMP e professor do INSPER.
Impacto do pico de vendas na LogĂstica A ĂĄrea de LogĂstica da empresa era uma das que mais sofria os efeitos do pico de vendas no final do mĂŞs em função da grande variação entre o volume a ser entregue no final do mĂŞs e o das semanas iniciais. Dentro da ĂĄrea de LogĂstica foi identificado que os custos de transporte, estoque, armazenagem, movimentação e horas-extras eram diretamente afetados. www.cargonews.com.br
O maior impacto identificado na concentração de vendas foi nas atividades de Transportes. A empresa analisada utilizava um grupo selecionado de transportadoras com um valor de frete constante ao longo do mĂŞs. Para atender aos critĂŠrios contratuais da empresa, estas transportadoras, precisavam manter uma quantidade de veĂculos e funcionĂĄrios capazes de atender o pico de entregas nos Ăşltimos dias do mĂŞs. Isto provocava um grande nĂşmero de veĂculos parados nas primeiras semanas do mĂŞs. Como as transportadoras jĂĄ sabiam que isto iria ocorrer, elas definiam um valor mĂŠdio de frete que cobrisse a falta de cargas no inĂcio do mĂŞs. AlĂŠm do efeito da baixa utilização dos veĂculos no inĂcio do mĂŞs, havia dois outros problemas que aumentavam os custos de transporte. O primeiro deles ĂŠ que por causa do baixo volume de entregas no começo do mĂŞs a empresa era obrigada a utilizar caminhĂľes menores (ex: Togo), tinha menores taxas de ocupação e montava rotas de entrega mais longas e com mais entregas. O outro fator era que com grande freqßência a empresa era obrigada a contratar veĂculos spot para atender a demanda do fechamento do mĂŞs. Estes veĂculos eram contratados por um valor de frete muito superior ao acordado com as transportadoras regulares.
Revista  Cargo  News
Para chegar ao valor em que a concentração de vendas impactava os custos de Transporte, foi utilizada uma planilha com a estrutura de custos representativa de uma transportadora de um grupo de linhas de transporte. A partir de cenĂĄrios com diferentes percentuais de vendas semanais, foi estimado o nĂşmero de cargas necessĂĄrias. Os diversos cenĂĄrios de nĂşmero de cargas semanais foram colocados na planilha de custos para chegar Ă redução dos custos que a transportadora teria caso o nĂşmero de cargas fosse melhor distribuĂdo ao longo do mĂŞs. Segundo os cĂĄlculos feitos por mim em conjunto com responsĂĄveis de transportes e finanças da empresa, caso o percentual de vendas na Ăşltima semana do mĂŞs caĂsse do patamar atual de cerca de 60% para uma venda constante (25% por semana), os custos de transporte teriam uma redução de quase 18%. Revista  Cargo  News
Gråfico 1: Quantidades de produção, vendas e estoque
Outra ĂĄrea da LogĂstica muito afetada era a ĂĄrea de Distribuição da empresa responsĂĄvel pelos custos de armazenagem e movimentação. O primeiro efeito era que a concentração das vendas fazia com que a empresa tivesse que manter uma capacidade de estocagem muito maior que o necessĂĄrio. Como a fĂĄbrica nĂŁo era capaz de mudar radicalmente o seu volume de produção semanal, nas primeiras semanas do mĂŞs o centro de distribuição recebia muito mais produtos vindos da fĂĄbrica do que enviava para os clientes. Isto fazia com que o estoque aumentasse e atingisse um pico na terceira semana do mĂŞs (vide GrĂĄfico 1). Para piorar a situação, como se tornava mais dificil prever as vendas, a empresa precisava manter uma quantidade de estoque de segurança maior e muitas vezes, no inĂcio do mĂŞs, o centro de distribuição estava lotado de produtos que nĂŁo tinham sido vendidos no mĂŞs anterior gerando falta de espaço para receber mais produtos. Como era necessĂĄrio dimensionar a capacidade da ĂĄrea de armazenagem pelo pico, isto provocava um aumento nos custos fixos do centro de distribuição. O mesmo efeito acontecia com os equipamentos de movimentação que precisavam ser dimensionados para atender o pico de movimentação nos Ăşltimos dias. Os custos com mĂŁo-de-obra tambĂŠm eram afetados por causa da necessidade de se pagar horas-extras e pela descoberta que a produtividade das pessoas era bem menor na Ăşltima semana em função da altĂssima taxa de ocupação. As estadias (custo extra pago Ă s transportadoras caso elas tivessem que ficar aguardando para descarregar as entregas) e os retornos (custo adicional de transporte em função da necessidade de refazer a entrega dos produtos) aumentavam significativamente na Ăşltima semana do mĂŞs. Isto porque os clientes (varejistas) nĂŁo conseguiam descarregar o volume de cargas que chegavam para eles no final do mĂŞs, seja por falta de recursos de movimentação ou por falta de espaço para armazenagem. Para calcular a relação entre o percentual de vendas semanais e estes custos foi feita uma comparação entre a quantidade de estadias e retornos ao longo das semanas. www.cargonews.com.br
Pico de Vendas no Final do MĂŞs Quando trabalhava como gerente de LogĂstica em uma grande empresa do setor de bens de consumo eu sofria FRP RV HIHLWRV GR SLFR GH YHQGDV QR Ă€QDO GH WRGRV RV meses. Mais tarde, como consultor e professor de cursos SDUD SURĂ€VVLRQDLV GD iUHD SHUFHEL TXH HVWH SUREOHPD nĂŁo acontecia apenas no setor de bens de consumo, mas tambĂŠm em uma sĂŠrie de outros setores de atividade. Uma PLVWXUD GH FXULRVLGDGH FRP LQGLJQDomR IH] FRP TXH HX decidisse estudar este tema mais a fundo e resolvi escolhe-lo como o tema para o meu doutorado no LALT/UNICAMP. (X GHĂ€QL GRLV JUDQGHV REMHWLYRV SDUD R PHX HVWXGR 2 SULPHLUR HUD FDOFXODU FRPR H TXDQWR R SLFR GH YHQGDV DIHWD R UHVXOWDGR Ă€QDQFHLUR GDV HPSUHVDV 2 VHJXQGR REMHWLYR era entender se era possĂvel acabar com esta concentração ou se as empresas deveriam aceitar o pico de vendas como PDLV XPD GDV PXLWDV GLĂ€FXOGDGHV GH VH JHULU D ORJtVWLFD no Brasil. Para isto precisava entender as possĂveis causas do pico de vendas e avaliar se era possĂvel e interessante para as empresas eliminarem estas causas. Para responder a estas perguntas coletei dados em uma empresa do setor GH FRQVXPR H XWLOL]HL GDGRV GH XPD SHVTXLVD IHLWD FRP clientes desta empresa.
Divulgação
(Parte 1)
Autor: Prof. Dr. Lars Meyer Sanches Mestre em Engenharia de LogĂstica pelo MIT e doutor em Engenharia de Transportes pela UNICAMP, professor convidado da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP,e coordenador do curso de especialização em LogĂstica e GestĂŁo da Cadeia de Suprimentos e LogĂstica do LALT/UNICAMP e professor do INSPER.
Impacto do pico de vendas na LogĂstica A ĂĄrea de LogĂstica da empresa era uma das que mais sofria os efeitos do pico de vendas no final do mĂŞs em função da grande variação entre o volume a ser entregue no final do mĂŞs e o das semanas iniciais. Dentro da ĂĄrea de LogĂstica foi identificado que os custos de transporte, estoque, armazenagem, movimentação e horas-extras eram diretamente afetados. www.cargonews.com.br
O maior impacto identificado na concentração de vendas foi nas atividades de Transportes. A empresa analisada utilizava um grupo selecionado de transportadoras com um valor de frete constante ao longo do mĂŞs. Para atender aos critĂŠrios contratuais da empresa, estas transportadoras, precisavam manter uma quantidade de veĂculos e funcionĂĄrios capazes de atender o pico de entregas nos Ăşltimos dias do mĂŞs. Isto provocava um grande nĂşmero de veĂculos parados nas primeiras semanas do mĂŞs. Como as transportadoras jĂĄ sabiam que isto iria ocorrer, elas definiam um valor mĂŠdio de frete que cobrisse a falta de cargas no inĂcio do mĂŞs. AlĂŠm do efeito da baixa utilização dos veĂculos no inĂcio do mĂŞs, havia dois outros problemas que aumentavam os custos de transporte. O primeiro deles ĂŠ que por causa do baixo volume de entregas no começo do mĂŞs a empresa era obrigada a utilizar caminhĂľes menores (ex: Togo), tinha menores taxas de ocupação e montava rotas de entrega mais longas e com mais entregas. O outro fator era que com grande freqßência a empresa era obrigada a contratar veĂculos spot para atender a demanda do fechamento do mĂŞs. Estes veĂculos eram contratados por um valor de frete muito superior ao acordado com as transportadoras regulares.
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Para chegar ao valor em que a concentração de vendas impactava os custos de Transporte, foi utilizada uma planilha com a estrutura de custos representativa de uma transportadora de um grupo de linhas de transporte. A partir de cenĂĄrios com diferentes percentuais de vendas semanais, foi estimado o nĂşmero de cargas necessĂĄrias. Os diversos cenĂĄrios de nĂşmero de cargas semanais foram colocados na planilha de custos para chegar Ă redução dos custos que a transportadora teria caso o nĂşmero de cargas fosse melhor distribuĂdo ao longo do mĂŞs. Segundo os cĂĄlculos feitos por mim em conjunto com responsĂĄveis de transportes e finanças da empresa, caso o percentual de vendas na Ăşltima semana do mĂŞs caĂsse do patamar atual de cerca de 60% para uma venda constante (25% por semana), os custos de transporte teriam uma redução de quase 18%. Revista  Cargo  News
Gråfico 1: Quantidades de produção, vendas e estoque
Outra ĂĄrea da LogĂstica muito afetada era a ĂĄrea de Distribuição da empresa responsĂĄvel pelos custos de armazenagem e movimentação. O primeiro efeito era que a concentração das vendas fazia com que a empresa tivesse que manter uma capacidade de estocagem muito maior que o necessĂĄrio. Como a fĂĄbrica nĂŁo era capaz de mudar radicalmente o seu volume de produção semanal, nas primeiras semanas do mĂŞs o centro de distribuição recebia muito mais produtos vindos da fĂĄbrica do que enviava para os clientes. Isto fazia com que o estoque aumentasse e atingisse um pico na terceira semana do mĂŞs (vide GrĂĄfico 1). Para piorar a situação, como se tornava mais dificil prever as vendas, a empresa precisava manter uma quantidade de estoque de segurança maior e muitas vezes, no inĂcio do mĂŞs, o centro de distribuição estava lotado de produtos que nĂŁo tinham sido vendidos no mĂŞs anterior gerando falta de espaço para receber mais produtos. Como era necessĂĄrio dimensionar a capacidade da ĂĄrea de armazenagem pelo pico, isto provocava um aumento nos custos fixos do centro de distribuição. O mesmo efeito acontecia com os equipamentos de movimentação que precisavam ser dimensionados para atender o pico de movimentação nos Ăşltimos dias. Os custos com mĂŁo-de-obra tambĂŠm eram afetados por causa da necessidade de se pagar horas-extras e pela descoberta que a produtividade das pessoas era bem menor na Ăşltima semana em função da altĂssima taxa de ocupação. As estadias (custo extra pago Ă s transportadoras caso elas tivessem que ficar aguardando para descarregar as entregas) e os retornos (custo adicional de transporte em função da necessidade de refazer a entrega dos produtos) aumentavam significativamente na Ăşltima semana do mĂŞs. Isto porque os clientes (varejistas) nĂŁo conseguiam descarregar o volume de cargas que chegavam para eles no final do mĂŞs, seja por falta de recursos de movimentação ou por falta de espaço para armazenagem. Para calcular a relação entre o percentual de vendas semanais e estes custos foi feita uma comparação entre a quantidade de estadias e retornos ao longo das semanas. www.cargonews.com.br
A concentração de vendas também gerava um custo alto de horas-extras em diversos departamentos administrativos da empresa que apoiavam as áreas de Vendas e Distribuição como, por exemplo, o setor de atendimento dos pedidos de venda. O custo com a operação de pallets aumentava não só pelo impacto no nível de estoque, mas também pelo aumento de perda de pallets que eram enviadas para os clientes e que não retornavam. Uma parte dos clientes da empresa recebia os produtos de forma “paletizada” e outra não (a granel). Com o acúmulo de entregas no final do mês, os responsáveis pelo carregamento dos produtos nos centros de distribuição, muitas vezes, mandavam produtos “paletizados” para clientes que deveriam receber a granel. Como estes clientes não tinham contratos e procedimentos para devolver os pallets, grande parte deles acabavam extraviados. Mas não eram somente os custos que eram afetados pelo pico de vendas, mas também o nível de serviço e, conseqüentemente, o faturamento da empresa. Para dimensionar o impacto da concentração de vendas no nível de serviço, foi feita uma análise comparativa da quantidade de caixas que não eram entregues aos clientes dentro do prazo estipulado ao longo do tempo. Observou-se que o nível de serviço na última semana era significativamente pior do que o das demais semanas. Os principais motivos encontrados foram a falta de produtos disponíveis e os atrasos no tempo de entrega. A falta de produtos era conseqüência da dificuldade em prever a demanda e o pouco tempo de resposta. Os atrasos no tempo de entrega ocorriam pela falta de capacidade de carregamento nos centros de distribuição e pela falta de veículos. Outro problema que afetava a disponibilidade de produtos nos centros de distribuição mais afastados da fábrica era a incapacidade de receber e armazenar os produtos envia-
dos em tempo hábil. Segundo os cálculos feitos o nível de serviço da empresa poderia aumentar em 15% caso não houvesse o pico de vendas o que reduziria a falta de produto nas prateleiras dos clientes e geraria menos perda de vendas. Outros impactos Além dos custos que foram dimensionados, outras áreas eram indiretamente afetadas. Os custos fixos de manufatura eram afetados pelo super-dimensionamento da capacidade produtiva para atender às oscilações da demanda. Ocorriam mudanças constantes no ritmo de produção, pois não era raro a empresa ser obrigada a produzir com horas-extras em uma semana e na, semana seguinte, parar os equipamento devido a falta de espaço para armazenar os produtos ou falta de pallets. Essas mudanças geravam uma perda da eficiência operacional da fábrica impactando assim diversos elementos do custo variável de produção. Os custos de compra e o nível de estoque de matéria-prima eram afetados pelas constantes mudanças no planejamento de materiais provocadas pelas mudanças no plano de produção. Os fornecedores sabiam que iriam precisar atender às mudanças não-planejadas nas compras e mantinham uma capacidade de produção ociosa o que gerava aumento dos custos. Apesar dos impactos nos varejistas não terem sido dimensionados, os executivos entrevistados afirmaram que o pico de vendas gerava problemas similares ao descrito acima, com aumento dos custos logísticos e queda na disponibilidade de produtos na prateleira. Os varejistas precisavam manter uma área de armazenagem muito grande para ser capaz de guardar todos os produtos entregues no final do mês, incorrendo em horas-extras na área de recebimento e aumentando a quantidade de produtos avariados por problemas de movimentação e armazenagem. Como pode ser visto, o pico de vendas traz grandes impactos no desempenho da Logística das diferentes empresas envolvidas. O aumento dos custos aliados a perda de faturamento por falta de produto fazem com que a margem de lucro das empresas caiam. Além disso, o aumento dos estoques e do investimento em ativos (ex: tamanho do centro de distribuição) reduzem ainda mais o retorno sobre o investimento das empresas (ROI). Mas se os efeitos do pico de vendas são tão ruins para o lucro das empresas, por que elas não tentam combatê-lo? Será que existe algo a ser feito ou as empresas precisam aceitar estes impactos como parte da regra do jogo? Se tiver algo a ser feito, o que e como fazer? Na continuação deste artigo iremos tentar responder a estas perguntas.
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