Os instrumentos definidos na Lei são a coleta seletiva, a logística reversa, o incentivo à criação de cooperativas e outras associações de catadores de materiais recicláveis e o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR). Orlando Fontes Lima Jr. Livre Docente e Professor Associado da FECUNICAMP. Coordenador do LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes. oflimaj@fec.unicamp.br
Plataforma de Transformação Social Autores: Christiane Lima Barbosa | Orlando Fontes Lima Jr. LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP
Um desafio atual é identificar oportunidades de desenvolvimento que integrem o bem estar e a economia à preservação ambiental. Uma das possibilidades é a constituição de redes que geram oportunidades de desenvolvimento local e o aproveitamento do potencial da região (Duarte, 2004). O foco é o produtor e sua rede. Os envolvidos criam competências e habilidades para promover competitividade econômica, inclusão social e qualidade de vida. Esses fatores, quando aliados às atividades logísticas, podem criar uma vantagem e um diferencial, denominado Plataforma de Transformação Social (PTS). Os macros da PTS são governança e estrutura. A governança refere-se às finalidades e às relações do empreendimento desenvolvido, fundamentadas na Economia Solidária. A estrutura define os processos e a estrutura física com a participação do ator e com base na Tecnologia Social. Ambos embasam o princípio de colaboração entre os atores na concepção, desenvolvimento e gestão. No Brasil, as iniciativas mais próximas de uma PTS são os Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), que agregam valor aos produtos e podem oferecer participação nos lucros. Os produtos vêm de atividades agrope-
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Christiane Lima Barbosa Engenheira Civil pela UFPA, pós-graduado em Gestão da Cadeia de Suprimentos pelo LALT-UNICAMP, mestre em Engenharia Civil pela UFPA, doutoranda em Engenharia dos Transportes pela FECUNICAMP. chris_llima@yahoo.com.br
cuárias, extrativista e pesca (42%), alimentos e bebidas (18,3%) e artesanais (13,9%) (Sistema de Informação da Economia Solidária - SIES/ SENAE, 2006). A comercialização é a principal fonte de renda e envolve práticas que aproximam o produtor do comprador em feiras livres, lojas convencionais ou especializadas em produtos solidários, porém restritas ao comércio local ou comunitário (52%) (SIES/SENAE, 2006). Os atores das novas práticas são pequenos produtores, artesãos, criadores e aqueles sem fonte de renda, os quais veem oportunidades de negócios a partir do uso e/ou reuso de lixo ou resíduos, reintroduzindo-os na cadeia com uso de tecnologia.
O Uso de Resíduos e a Construção Civil No Brasil, a Resolução 307 (02/01/03) classificou os resíduos da construção civil e estabeleceu diretrizes para minimizar os impactos ambientais. A Lei 12.305 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – de 02/08/10 determinou às administrações municipais a construção de aterros sanitários e o encerramento das atividades dos lixões e aterros controlados.
www.cargonews.com.br
Na França, a geração de entulhos na construção/desconstrução alcança 360 milhões de ton/ano (Instituto Francês do Meio Ambiente IFEN, 2010). O país criou planos para fiscalizar o entulho destinado ao centro de estocagem e prolongar a vida útil com a reciclagem. O diferencial francês é o uso de resíduos por associações de artesãos que promovem a valorização de materiais recicláveis, geram empregos e se destacam no ecodesign, na realização de oficinas e no desenvolvimento local.
O Progresso Tecnológico e a Indústria da Pesca
nunca funcionou por falta de envolvimento e de credibilidade. A pesca é a principal atividade econômica do município. Porém, os aspectos logísticos não são favoráveis à conservação. O transporte do produto até a capital é feito em caminhões contendo recipientes de aproximadamente 1 m³, sob a responsabilidade do intermediário. Depois de 6 a 8 horas, o pescado chega ao mercado após passar por transporte terrestre e ferry-boat.
O Modelo de Gestão e o Setor Agropecuário em Carambeí (PR) A Batavo Cooperativa Agroindustrial, localizada na cidade de Carambeí (PR), se destaca pelas práticas sustentáveis e por criar soluções rentáveis.
Os produtos de origem animal ou vegetal são perecíveis e suscetíveis à deterioração. O processo de beneficiamento gera resíduo e o descarte é como lixo comum (Raghiante, 2010). O uso de tecnologias valoriza os resíduos, e o termo Tecnologia Social surge para prover experiências inovadoras. Em Itajaí e Navegantes (SC), as indústrias de beneficiamento de pescado geram quantias diárias elevadas de resíduos, as quais podem ser exploradas no consumo animal (farinha de peixe e ensilagem das rações) e humano (óleo de pescado, ômega 3, cartilagem de tubarão etc.). As dificuldades são gerenciar e organizar o processo produtivo (separar, transportar e armazenar adequadamente). Em Apicum-Açú (MA), a pesca artesanal tem finalidade comercial e de subsistência. Os pescadores são proprietários dos meios de produção e o trabalho é familiar. Os intermediários facilitam a comercialização e se beneficiam de boa parte da renda gerada. Um grupo de 21 pescadores se reuniu para organizar a COOPESLOM (Cooperativa dos Pescadores e Piscicultores do Litoral Ocidental Maranhense), mas
Figura 1: Porto de Apicum-Açú (MA).
Figura 2: Uso de resíduos na produção de energia
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Os instrumentos definidos na Lei são a coleta seletiva, a logística reversa, o incentivo à criação de cooperativas e outras associações de catadores de materiais recicláveis e o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR). Orlando Fontes Lima Jr. Livre Docente e Professor Associado da FECUNICAMP. Coordenador do LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes. oflimaj@fec.unicamp.br
Plataforma de Transformação Social Autores: Christiane Lima Barbosa | Orlando Fontes Lima Jr. LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP
Um desafio atual é identificar oportunidades de desenvolvimento que integrem o bem estar e a economia à preservação ambiental. Uma das possibilidades é a constituição de redes que geram oportunidades de desenvolvimento local e o aproveitamento do potencial da região (Duarte, 2004). O foco é o produtor e sua rede. Os envolvidos criam competências e habilidades para promover competitividade econômica, inclusão social e qualidade de vida. Esses fatores, quando aliados às atividades logísticas, podem criar uma vantagem e um diferencial, denominado Plataforma de Transformação Social (PTS). Os macros da PTS são governança e estrutura. A governança refere-se às finalidades e às relações do empreendimento desenvolvido, fundamentadas na Economia Solidária. A estrutura define os processos e a estrutura física com a participação do ator e com base na Tecnologia Social. Ambos embasam o princípio de colaboração entre os atores na concepção, desenvolvimento e gestão. No Brasil, as iniciativas mais próximas de uma PTS são os Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), que agregam valor aos produtos e podem oferecer participação nos lucros. Os produtos vêm de atividades agrope-
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Christiane Lima Barbosa Engenheira Civil pela UFPA, pós-graduado em Gestão da Cadeia de Suprimentos pelo LALT-UNICAMP, mestre em Engenharia Civil pela UFPA, doutoranda em Engenharia dos Transportes pela FECUNICAMP. chris_llima@yahoo.com.br
cuárias, extrativista e pesca (42%), alimentos e bebidas (18,3%) e artesanais (13,9%) (Sistema de Informação da Economia Solidária - SIES/ SENAE, 2006). A comercialização é a principal fonte de renda e envolve práticas que aproximam o produtor do comprador em feiras livres, lojas convencionais ou especializadas em produtos solidários, porém restritas ao comércio local ou comunitário (52%) (SIES/SENAE, 2006). Os atores das novas práticas são pequenos produtores, artesãos, criadores e aqueles sem fonte de renda, os quais veem oportunidades de negócios a partir do uso e/ou reuso de lixo ou resíduos, reintroduzindo-os na cadeia com uso de tecnologia.
O Uso de Resíduos e a Construção Civil No Brasil, a Resolução 307 (02/01/03) classificou os resíduos da construção civil e estabeleceu diretrizes para minimizar os impactos ambientais. A Lei 12.305 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – de 02/08/10 determinou às administrações municipais a construção de aterros sanitários e o encerramento das atividades dos lixões e aterros controlados.
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Na França, a geração de entulhos na construção/desconstrução alcança 360 milhões de ton/ano (Instituto Francês do Meio Ambiente IFEN, 2010). O país criou planos para fiscalizar o entulho destinado ao centro de estocagem e prolongar a vida útil com a reciclagem. O diferencial francês é o uso de resíduos por associações de artesãos que promovem a valorização de materiais recicláveis, geram empregos e se destacam no ecodesign, na realização de oficinas e no desenvolvimento local.
O Progresso Tecnológico e a Indústria da Pesca
nunca funcionou por falta de envolvimento e de credibilidade. A pesca é a principal atividade econômica do município. Porém, os aspectos logísticos não são favoráveis à conservação. O transporte do produto até a capital é feito em caminhões contendo recipientes de aproximadamente 1 m³, sob a responsabilidade do intermediário. Depois de 6 a 8 horas, o pescado chega ao mercado após passar por transporte terrestre e ferry-boat.
O Modelo de Gestão e o Setor Agropecuário em Carambeí (PR) A Batavo Cooperativa Agroindustrial, localizada na cidade de Carambeí (PR), se destaca pelas práticas sustentáveis e por criar soluções rentáveis.
Os produtos de origem animal ou vegetal são perecíveis e suscetíveis à deterioração. O processo de beneficiamento gera resíduo e o descarte é como lixo comum (Raghiante, 2010). O uso de tecnologias valoriza os resíduos, e o termo Tecnologia Social surge para prover experiências inovadoras. Em Itajaí e Navegantes (SC), as indústrias de beneficiamento de pescado geram quantias diárias elevadas de resíduos, as quais podem ser exploradas no consumo animal (farinha de peixe e ensilagem das rações) e humano (óleo de pescado, ômega 3, cartilagem de tubarão etc.). As dificuldades são gerenciar e organizar o processo produtivo (separar, transportar e armazenar adequadamente). Em Apicum-Açú (MA), a pesca artesanal tem finalidade comercial e de subsistência. Os pescadores são proprietários dos meios de produção e o trabalho é familiar. Os intermediários facilitam a comercialização e se beneficiam de boa parte da renda gerada. Um grupo de 21 pescadores se reuniu para organizar a COOPESLOM (Cooperativa dos Pescadores e Piscicultores do Litoral Ocidental Maranhense), mas
Figura 1: Porto de Apicum-Açú (MA).
Figura 2: Uso de resíduos na produção de energia
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O cooperativismo e a fidelidade são os responsáveis pelo sucesso. A estrutura compreende todas as necessidades do produtor e permite foco na produção. As estratégias de comercialização orientam a venda de 100% da produção com a negociação direta dos produtores.
Isso é possível a partir da diversificação da produção pecuária e o desenvolvimento de novas tecnologias na produção como o sistema rotativo. Os principais produtos são rações e de origem pecuária (leite e suíno) e agrícolas (soja, milho e trigo). Os ganhos da cooperativa vêm da diversificação da produção, do foco no produtor e do cooperativismo. A pecuária de leite e suinocultura tem o mesmo nível tecnológico de padrões genéticos nacionais e internacionais. Considerações Finais Os exemplos descrevem a conscientização de um desenvolvimento sustentável que defende e preserva o meio ambiente em atividades produtivas. A constituição de uma PTS que beneficie os aspectos logísticos e o processo de industrialização se destaca pelo domínio da atividade de marketing, técnicas mercadológicas variadas, produtos diferenciados, estratégia de precificação, inovação tecnológica e sistema de informação de produção integrado ao mercado. Os EES são práticas que auxiliam o pequeno produtor e sua rede de influência. O desafio é a comercialização, o acesso a créditos e a assistência técnica. O atual fator competitivo é a
busca por matéria prima e destaca a falta de uma visão sistêmica. A passividade e o interesse pelo novo ou por fontes alternativas de renda são os grandes entraves. Aplicar os elementos de uma plataforma logística em localidades menores apresenta desafios quanto à governança, por estabelecer melhor articulação social, econômica e política entre o setor público, privado, sociedade e demais organizações; financiamento, que provê formas de tornar o valor dos bens e serviços solidários atrativos aos investidores; criação de canais alternativos de comercialização e marketing; criação de direitos de propriedade; e apropriação de novas tecnologias desenvolvidas pelos atores. Em tempos de busca por eficiência, alternativas que combatem o desperdício são diferenciais de modernização ao processo de produção. A união de pessoas, a estrutura de governança e uma estrutura adequada são os pilares da PTS, cujo lema é “nenhum é tão bom quanto todos juntos”. Referências Duarte, P. C. (2004) Desenvolvimento de plataformas logísticas: visão estratégica e políticas públicas. XI SIMPEP. São Paulo, Bauru, 2004. Raghiante, F. (2010) Processamento e aproveitamento integral de pescado. Ministério da Educação. Minas Gerais, Uberlândia, 2010. SIES/SENAES. Atlas da Economia Solidária (2007). Plataforma online. 2007. Disponível em <http://www.sies.mte.gov.br>. Acesso em 29/06/2011.
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