Panorama sobre Gestão de Riscos em Redes de Suprimentos Globais

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Panorama sobre Gestão de Riscos em Redes de Suprimentos Globais Autores: José Benedito Silva Santos Júnior e Orlando Fontes Lima Jr.

LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP

José Benedito Silva Santos Júnior Pesquisador e doutorando do LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes, FECUnicamp. Professor convidado do curso de especialização em Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos do LALT-FEC-Unicamp e Diretor Científico da Associação de Alunos e Ex-alunos do LALT – Alumni LALT. jbened@gmail.com

Introdução Gestão de riscos (GR) em redes de suprimentos é um assunto que vem sendo tratado com bastante ênfase tanto, no meio acadêmico, quanto nos setores governamental e empresarial. A importância deste tema tem sido evidenciada por diversos acontecimentos recentes como, por exemplo: desastres naturais, ameaças terroristas em diferentes regiões do planeta, instabilidades políticas e sociais em países emergentes e a contemporânea crise econômica global iniciada em 2008, cujos reflexos ainda estão presentes nas economias dos países nos cinco continentes. As organizações atuais, princi-

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Orlando Fontes Lima Jr. Livre Docente e Professor Associado da FEC-UNICAMP. Coordenador do LALT Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes. oflimaj@fec.unicamp.br

palmente às que operam em âmbito global, têm por necessidade interagir com diferentes agentes, desde os fornecedores primários e secundários até os clientes finais, em busca de uma gestão eficaz dos recursos e processos inerentes às operações das redes de suprimentos. Os profissionais da área de logística são desafiados diariamente a avaliar os impactos associados aos riscos presentes nas operações das organizações. Nesse contexto, a GR aplicada em redes de suprimentos globais é pauta das organizações que buscam através de processos de planejamento, se manter competitivas com elevado grau de responsividade frente aos diferentes desafios em operações globais.

Gestão de Riscos em Operações Globais Risco pode ser entendido como o resultado esperado de um evento incerto. Gestão de riscos em operações globais trata-se do processo de identificação e avaliação de riscos e respectivas perdas, com a aplicação de estratégias apropriadas que permitam coordenar de forma sustentável as operações logísticas entre os diferentes parceiros da rede de suprimentos. Os riscos em redes de suprimentos podem ser classificados três categorias: riscos internos à empresa (processos e controles), riscos externos à empresa, porém internos a cadeia (demanda e fornecimento) e riscos externos à cadeia (ambiente).

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Do ponto de vista interno das organizações privadas, o acirramento da concorrência entre empresas, ou mais recentemente, entre às redes de suprimentos, fez com que as estratégias de gestão das operações neste ambiente globalizado tivessem como diretriz um grande esforço para o incremento da eficiência operacional e, simultaneamente, a redução dos custos totais de operação (estoque, transporte, produção, etc.). Estratégias como, por exemplo, o Just in Time , tornam as redes de suprimentos mais vulneráveis a situações de ruptura nos processos de abastecimento. Os riscos oriundos de agentes externos, como os eventos causados pela ação da natureza em redes de suprimentos globais, também têm exigido atenção por parte das organizações governamentais e privadas. Além do fato relevante das perdas de vidas humanas e animais em tragédias desta natureza, os locais afetados contabilizam grandes perdas financeiras e um longo tempo de resposta para retomar atividades cotidianas simples. Por exemplo, o tsunami ocorrido no Japão em março de 2011 afetou sobremaneira a infraestrutura daquele país por um longo período (interrupção dos serviços públicos essenciais como energia, abastecimento de água, transporte público,

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etc.). Além disso, várias indústrias fornecedoras de peças e componentes, instaladas naquele país, ficaram impossibilitadas de cumprirem seus contratos de fornecimento. Indústrias japonesas com subsidiárias brasileiras como a Toyota, por exemplo, reduziram os volumes de produção no Brasil em decorrência do desabastecimento dos seus estoques de peças (Reuters News, 2011).

a evolução de diferentes riscos em contexto global, segundo as probabilidades de ocorrência e os respectivos graus de impacto. As principais fontes de riscos predominantes estão relacionadas a eventos de ordem econômica (crise financeira global), geopolítica (guerras e conflitos) e com o meio ambiente (catástrofes naturais acompanhadas por mudanças climáticas).

Outro exemplo foram as fortes chuvas ocorridas na Tailândia em novembro de 2011. Diversas empresas do segmento de tecnologia foram afetadas pela inundação, chegando a interromper completamente os seus processos produtivos. A Tailândia responde por 45% da produção mundial de discos rígidos utilizados em microcomputadores. Aquela paralisação no fornecimento implicou no aumento dos preços deste componente no mercado mundial, além de causar um risco de abastecimento para as empresas montadoras de computadores (Reuters News, 2011).

Nesse contexto, os riscos associados à gestão de redes de suprimentos se potencializam, quer sejam riscos relacionados à operação (oriundos de incertezas na cadeia: variabilidades na demanda, nos processos de planejamento de transportes, produção ou suprimentos, etc.), quer sejam relacionados a desastres naturais (furações, tsunamis, terremotos, erupções vulcânicas, etc.) ou causados pela ação direta do homem (guerras, bolhas financeiras, etc.)

Soma-se ainda a estes fatos exógenos a incipiente tratativa nas questões regulatórias e legais sobre os impactos e definição de responsabilidades quando da ocorrência destas catástrofes naturais. O relatório anual sobre gestão de riscos globais, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, apresenta em sua oitava edição,

Desta forma, as organizações identificaram a necessidade de considerar, em seus processos de planejamento e gestão, as diferentes fontes de risco. A identificação e classificação das fontes de risco, a definição das consequências adversas e a elaboração de planos de mitigação e contingência são atividades que deverão ser incorporadas ao cotidiano do processo de planejamento e gestão das redes de suprimentos.

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Panorama sobre Gestão de Riscos em Redes de Suprimentos Globais Autores: José Benedito Silva Santos Júnior e Orlando Fontes Lima Jr.

LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP

José Benedito Silva Santos Júnior Pesquisador e doutorando do LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes, FECUnicamp. Professor convidado do curso de especialização em Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos do LALT-FEC-Unicamp e Diretor Científico da Associação de Alunos e Ex-alunos do LALT – Alumni LALT. jbened@gmail.com

Introdução Gestão de riscos (GR) em redes de suprimentos é um assunto que vem sendo tratado com bastante ênfase tanto, no meio acadêmico, quanto nos setores governamental e empresarial. A importância deste tema tem sido evidenciada por diversos acontecimentos recentes como, por exemplo: desastres naturais, ameaças terroristas em diferentes regiões do planeta, instabilidades políticas e sociais em países emergentes e a contemporânea crise econômica global iniciada em 2008, cujos reflexos ainda estão presentes nas economias dos países nos cinco continentes. As organizações atuais, princi-

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Orlando Fontes Lima Jr. Livre Docente e Professor Associado da FEC-UNICAMP. Coordenador do LALT Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes. oflimaj@fec.unicamp.br

palmente às que operam em âmbito global, têm por necessidade interagir com diferentes agentes, desde os fornecedores primários e secundários até os clientes finais, em busca de uma gestão eficaz dos recursos e processos inerentes às operações das redes de suprimentos. Os profissionais da área de logística são desafiados diariamente a avaliar os impactos associados aos riscos presentes nas operações das organizações. Nesse contexto, a GR aplicada em redes de suprimentos globais é pauta das organizações que buscam através de processos de planejamento, se manter competitivas com elevado grau de responsividade frente aos diferentes desafios em operações globais.

Gestão de Riscos em Operações Globais Risco pode ser entendido como o resultado esperado de um evento incerto. Gestão de riscos em operações globais trata-se do processo de identificação e avaliação de riscos e respectivas perdas, com a aplicação de estratégias apropriadas que permitam coordenar de forma sustentável as operações logísticas entre os diferentes parceiros da rede de suprimentos. Os riscos em redes de suprimentos podem ser classificados três categorias: riscos internos à empresa (processos e controles), riscos externos à empresa, porém internos a cadeia (demanda e fornecimento) e riscos externos à cadeia (ambiente).

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Do ponto de vista interno das organizações privadas, o acirramento da concorrência entre empresas, ou mais recentemente, entre às redes de suprimentos, fez com que as estratégias de gestão das operações neste ambiente globalizado tivessem como diretriz um grande esforço para o incremento da eficiência operacional e, simultaneamente, a redução dos custos totais de operação (estoque, transporte, produção, etc.). Estratégias como, por exemplo, o Just in Time , tornam as redes de suprimentos mais vulneráveis a situações de ruptura nos processos de abastecimento. Os riscos oriundos de agentes externos, como os eventos causados pela ação da natureza em redes de suprimentos globais, também têm exigido atenção por parte das organizações governamentais e privadas. Além do fato relevante das perdas de vidas humanas e animais em tragédias desta natureza, os locais afetados contabilizam grandes perdas financeiras e um longo tempo de resposta para retomar atividades cotidianas simples. Por exemplo, o tsunami ocorrido no Japão em março de 2011 afetou sobremaneira a infraestrutura daquele país por um longo período (interrupção dos serviços públicos essenciais como energia, abastecimento de água, transporte público,

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etc.). Além disso, várias indústrias fornecedoras de peças e componentes, instaladas naquele país, ficaram impossibilitadas de cumprirem seus contratos de fornecimento. Indústrias japonesas com subsidiárias brasileiras como a Toyota, por exemplo, reduziram os volumes de produção no Brasil em decorrência do desabastecimento dos seus estoques de peças (Reuters News, 2011).

a evolução de diferentes riscos em contexto global, segundo as probabilidades de ocorrência e os respectivos graus de impacto. As principais fontes de riscos predominantes estão relacionadas a eventos de ordem econômica (crise financeira global), geopolítica (guerras e conflitos) e com o meio ambiente (catástrofes naturais acompanhadas por mudanças climáticas).

Outro exemplo foram as fortes chuvas ocorridas na Tailândia em novembro de 2011. Diversas empresas do segmento de tecnologia foram afetadas pela inundação, chegando a interromper completamente os seus processos produtivos. A Tailândia responde por 45% da produção mundial de discos rígidos utilizados em microcomputadores. Aquela paralisação no fornecimento implicou no aumento dos preços deste componente no mercado mundial, além de causar um risco de abastecimento para as empresas montadoras de computadores (Reuters News, 2011).

Nesse contexto, os riscos associados à gestão de redes de suprimentos se potencializam, quer sejam riscos relacionados à operação (oriundos de incertezas na cadeia: variabilidades na demanda, nos processos de planejamento de transportes, produção ou suprimentos, etc.), quer sejam relacionados a desastres naturais (furações, tsunamis, terremotos, erupções vulcânicas, etc.) ou causados pela ação direta do homem (guerras, bolhas financeiras, etc.)

Soma-se ainda a estes fatos exógenos a incipiente tratativa nas questões regulatórias e legais sobre os impactos e definição de responsabilidades quando da ocorrência destas catástrofes naturais. O relatório anual sobre gestão de riscos globais, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, apresenta em sua oitava edição,

Desta forma, as organizações identificaram a necessidade de considerar, em seus processos de planejamento e gestão, as diferentes fontes de risco. A identificação e classificação das fontes de risco, a definição das consequências adversas e a elaboração de planos de mitigação e contingência são atividades que deverão ser incorporadas ao cotidiano do processo de planejamento e gestão das redes de suprimentos.

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No quadro 1 é apresentado um resumo dos modelos de gestão de riscos mais comumente aplicados em redes de suprimentos.

A definição de estratégias de mitigação ou de contingência de riscos em redes de suprimentos, em particular em operações globais, depende dos riscos envolvidos na cadeia, dos recursos disponíveis (humanos, financeiros, infraestrutura, etc.) como também de aspectos regulatórios (leis e tratados entre diferentes países) e culturais dos países e organizações (maior ou menor aversão a risco). Já faz grande diferença a aplicação de abordagens que contemplem a gestão de riscos, mesmo que através de uma simples listagem que apresente e defina os riscos, os classifique quanto o impacto e a probabilidade de ocorrência, e apresente ações de mitigação e contingência para os riscos identificados. Claro que, na medida em que o nível de complexidade das operações de uma rede de suprimentos aumenta, abordagens mais sofisticadas, como por exemplo, a utilização de modelos de simulação, propiciarão uma avaliação em maior profundidade os riscos potenciais, permitindo a adoção de estratégias e/ou ações de mitigação mais eficazes. Conclusões Redes de suprimentos globais requerem uma coordenação precisa dos fluxos de insumos, produtos acabados, informações e recursos financeiros. A diretriz em busca da maximização dos lucros na rede, através da melhor utilização dos ativos produtivos (insumos, equipamentos, infraestrutura, etc.), está na pauta das organizações com operações globais.

Fonte: Santos Júnior et al. (2013) Quadro 1 - Modelos de gestão de riscos aplicados em redes de suprimentos

A utilização de uma abordagem apropriada para a gestão de riscos para todos os processos inerentes ao planejamento das operações das organizações constitui fator chave para a competitividade em âmbito global.

Artigo do Setor

O PRESTÍGIO DO DESPACHANTE BRASILEIRO ULTRAPASSA FRONTEIRAS Nossa entidade tem buscado continuamente defender melhores condições de trabalho, assim como a valorização da categoria, e alguns recentes episódios demonstram que estamos colhendo frutos do nosso esforço e empenho nessa missão. Entre os dias 4 e 6 de setembro último, tivemos a honra de participar, a convite, do Congresso Anual da Organização Mundial das Aduanas - OMA, realizado paralelamente à 43ª Assembleia Geral da Associação dos Agentes Aduaneiros das Américas - Asapra, eventos que abordaram importantes diretrizes do comércio exterior. Juntamente com o presidente da Federação Nacional dos Despachantes Aduaneiros – Feaduaneiros e vice-presidente do Sindasp, Daniel Mansano, participamos de uma intensa programação de debates e exposições ocorridos em Bruxelas, na Bélgica, com a presença de profissionais do comércio exterior de diversas partes do mundo. Durante esses três dias de convivência e intercâmbio de experiências, pudemos constatar a relevância do despachante aduaneiro – ou cargos correspondentes - nas operações de comércio entre os países. Este profissional de larga experiência na prática dos ser-

viços aduaneiros, é considerado parceiro das empresas e autoridades portuárias, para exercer uma atividade de interesse público. Nossa delegação teve ainda a oportunidade de visitar o Porto de Antuérpia, segunda maior cidade belga, graças a um convite dos representantes daquele país feito durante a Intermodal South America, realizada em São Paulo, no mês de abril. Considerado a maior área portuária do mundo, com cerca de 13.000 hectares, o Porto de Antuérpia opera com uma organização admirável, conta com um complexo de refinarias e centro industrial próprios e se situa em uma localização privilegiada. Tal estrutura permite aos despachantes aduaneiros daquele país realizarem suas atividades com tranqüilidade e eficiência, conforme pudemos comprovar pessoalmente. Sem dúvida, nossa participação em referidos eventos nos possibilitou atualizar conhecimentos, além de nos espelharmos em iniciativas positivas implantadas nas aduanas de outros países. Eventos dessa natureza representam valiosas contribuições para que possamos propor às autoridades aduaneiras nacionais medidas de eficácia comprovada para modernizar nossa estrutu-

ra portuária e até mesmo nossos procedimentos. Por fim, presenciamos um fato de grande relevância e uma significativa conquista a toda a classe dos despachantes aduaneiros: a nomeação de Lauri Kotz, atual presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado do Rio Grande do Sul - Sdaergs, à vice-presidência do Mercosul na Asapra. Com mais de 40 anos de atividades em prol do comércio exterior, Kotz elevará o nome dos despachantes aduaneiros brasileiros, representando os interesses da categoria entre as nações da América Latina, Portugal e Espanha. Acrescentamos ainda que é importante ressaltar o intenso trabalho de relacionamento e valorização que o Sindasp e a Federação Nacional dos Despachantes Aduaneiros – Feaduaneiros têm construído nos últimos anos, junto às autoridades mundiais do segmento. Nosso apoio e representação em feiras, eventos, convênios e outras ações neste sentido têm resultado no reconhecimento dos despachantes aduaneiros e seu papel cada vez mais ativo, fundamental na defesa e busca de soluções para elevar o comércio exterior brasileiro a outros patamares.

Bibliografia

1. Manuj, I., Mentzer, J.T., 2008. Global supply chain risk management strategies. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management 38, 192–223. 2. Reuters News, 2011 – Tsunami affects Toyota output on Brazil - Corolla production cut by 1,200 from Brazil plant; Flood on Thayland affects computer components industry. 3. Santos Júnior, J. B. S., Loureiro, S. A., Lima Júnior, O. F., 2013. A procedure for the selection of a supply network risk mitigation strategy in relational arrangements., in: Dynamics in Logistics - Third International Conference. Hardcover. 4. World Economic Forum, Global Risks Report, 2013.

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Valdir Santos

www.cargonews.com.br

despachante aduaneiro, presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de São Paulo - Sindasp e empresário no setor de transporte de cargas e comércio exterior

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