Expo SCALA 2013
Ciclo de palestras Expo SCALA 2013 Nos dois dias da feira aconteceu o Ciclo de Palestras Expo SCALA que reuniu especialistas e importantes nomes relacionados ao comércio exterior e da logística. Esse ano o evento contou com o apoio acadêmico do LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transporte da Unicamp.
Painel ferroviário: Rodrigo Vilaça (ANTF), Luiz Guimarães e Vicente Abate (ABIFER)
Painel fármaco aéreo: Maria Fan (GRU), Paulo Ignácio (LALT/FEC/Unicamp) e Ricardo Luize (Viracopos)
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A primeira palestra do ciclo teve como tema “Transporte ferroviário em São Paulo e no Brasil”, cujos debatedores foram Rodrigo Vilaça, Presidente da ANTF (Associação Nacional dos Transportes Ferroviários) e Vicente Abate, Presidente da ABIFER (Associação Brasileira das Indústrias Ferroviárias) e moderador Luiz Antonio Guimarães, Presidente da Comissão Organizadora da Expo SCALA. A grande questão exposta pelo painel foi a falta de planejamento por parte do governo para colocar em prática o PIL (Programa de Investimento em Logística) anunciado pelo Governo Federal, em agosto do ano passado. Vilaça ressaltou que hoje o país possui 29 mil quilômetros de ferrovias, 9 mil quilômetros a menos do que se tinha em 1958. E pelos planos atuais, as ferrovias brasileiras só conseguirão atingir esses números novamente em 2025. Segundo estudos, o país economizaria 103 bilhões de reais se usassem mais os trilhos. A boa notícia é que as empresas ferroviárias têm buscado soluções tecnológicas para tentar competir com os caminhões. Vicente Abate afirmou que todos os projetos são desenvolvidos com intuito de concorrer com as rodovias, os vagões antigos carregavam 80 toneladas, os de hoje carregam 100. “Cada vez que aumenta o ciclo dos vagões, a sua eficiência também aumenta”, acrescentou Abate. Outra solução para tornar o trem mais atraente que os caminhões, é o uso do “Double Stack”, que transportam 2 ou 3 contêineres empilhados. Rodrigo Vilaça encerrou o debate afirmando que o Brasil precisa parar de inventar desculpas e criar uma força tarefa para desburocratizar e planejar, colocando assim os planos em prática.
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O segundo painel da Expo SCALA abordou o tema “Fármaco aéreo – Operações nos aeroportos de Viracopos e Guarulhos”, tendo como debatedores a Gerente de Legislação Industrial Farmacêutica do Sindusfarma (Sindicato das Indústrias Farmacêuticas), Rosana Mastelaro, a Gerente Comercial de Cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos, Maria Fan e Ricardo Luize, Gerente de Cargas do Aeroporto Internacional de Viracopos, como mediador o professor Dr. Paulo Ignácio do LALT/FEC/Unicamp. Neste debate foi apontado que o Brasil depende muito da importação de princípios ativos de fármacos, ou seja, 80% desses produtos vêm de outros países e por serem pe-
Roberto Feitosa, da Softway, agora parte da Thomson Reuters
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recíveis dependem, quase que exclusivamente, do transporte aéreo. No Brasil, 84% dos fármacos vendidos chegam por meio desse modal. Rosana, coordenadora do grupo que cuida da parte de legislação e sanitária no Sindusfarma explica que as indústrias exigem agilidade e boas condições de armazenamento, por esse motivo os aeroportos precisam estar preparados. “Quando as condições de armazenamento não são ideais pode-se levar ao descarte total dos produtos, gerando prejuízo não apenas para a indústria, mas para os recintos que os armazenam”, acrescentou Rosana, que ainda afirmou que as concessões dos aeroportos de Viracopos e Guarulhos ajudaram a indústria de fármacos, pois não há mais tanta burocracia para fazer melhorias nos recintos. Maria Fan, do aeroporto de Guarulhos, apresentou as condições de armazenamento do local e a forma de trabalhar com os fármacos, atualmente no GRU esses produtos representam 21% de toda carga que chega ao aeroporto. Ricardo Luize, como debatedor, também apresentou as melhorias e novos espaços do
Aeroporto Internacional de Viracopos, dando ênfase as novas câmaras frias que serão instaladas no recinto, assim o TECA de VCP estará pronto para receber e importar qualquer tipo de fármacos. As explanações do Gerente foram focadas nos investimentos logísticos do terminal. Encerrando o primeiro dia de palestras do evento, o Gerente de Produtos de Regimes Especiais da Softway, agora parte da Thomson Reuters, Roberto Feitosa, ministrou a palestra “Gestão de Recintos Alfandegados”. Foi apresentada uma visão geral sobre os requisitos legais para alfandegamento, quais as necessidades de investimentos que contemplam desde a segregação de área, equipamentos, sistemas de controle de acesso e pessoas, veículos e bens, até o monitoramento de imagens em tempo real com transmissão para a Receita Federal do Brasil. Durante a palestra foi discutido como garantir a rastreabilidade de carga movimentada, assegurando que a operação esteja alinhada com as rotinas exigidas pela Receita Federal.
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Expo SCALA 2013 O segundo dia do ciclo de palestras teve início com o tema “Exporta Campinas”, ministrado por Beatriz Gusmão Sanches Pereira, Diretora de Cooperação Internacional da Prefeitura Municipal de Campinas e Coordenadora do Programa. O Exporta Campinas é um programa do governo municipal, que visa atender e orientar pequenas e médias empresas do município que pretendem exportar. Hoje, depois de seis meses de implantação, o programa já atende 120 empresas. A meta para o ano de 2013 está sendo atingida.
Painel mobilidade de carga urbana: Maurício Vasconcelos (CCR Autoban), Professor Dr. Orlando Fontes (LALT/FEC/Unicamp), Maurício Gomes (DVA Log) e Amaury Furlaneto Vitor (DHL Express)
“Mobilidade de Carga Urbana” foi a quinta palestra do ciclo e teve como debatedores Maurício Gomes, Diretor Geral da DVA Log, Amaury Furlaneto Vitor, Gerente de Operações da DHL Express e Maurício Soares Vasconcelos, Presidente da CCR Autoban. O Professor Dr. Orlando Fontes Lima Junior do LALT/FEC/Unicamp e também presidente do CLUB (Centro de Logística Urbana do Brasil) moderou o debate. A ideia central foi discutir a fluidez das cargas no perímetro urbano, as pessoas que vivem nas cidades precisam das mercadorias distribuídas nos comércios, hospitais e outros recintos, mas existe o problema da acessibilidade da carga. Maurício Soares Vasconcelos palestrou sobre a infraestrutura, manutenção e expansão do sistema Bandeirantes - Anhanguera, as duas mais importantes rodovias
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do país, que serve como meio de transporte para grande parte das mercadorias no Brasil. Amaury Furlaneto Vitor, expôs as ações da DHL Express para melhorar a mobilidade urbana, segundo o Diretor, todas as atividades começam com planejamento e terminam com planejamento, os turnos de trabalho são previamente planejados, tudo de acordo com a
chegada e saída de cargas. Mauricio Gomes, Diretor da DVA Log, explicou que a empresa trabalha com a carga fracionada e posiciona os CDs próximos aos grandes centros, isso facilita a distribuição e evita a grande circulação de caminhões em perímetro urbano. Foi discutido também a questão da restrição da circulação de caminhões na cidade de São Paulo.
trução de uma nova ponte, a implantação do sistema porto sem papel, e algumas soluções que o Porto está tentando tomar para aliviar alguns problemas, como: fila de caminhões e espera para embarque. Já Armindo Adega encerrou o painel expondo que o planejamento do porto, das prefeituras (Santos / Guarujá), do Estado, do Governo Federal e da iniciativa privada precisam caminhar alinhados, para que todos os projetos saiam do papel.
Osvaldo Freitas Vale Barbosa, Superintendente de Logística da CODESP - Porto de Santos
O ciclo de palestras encerrou com o painel “Oportunidades e ameaças ao Porto de Santos com as novas regras da lei 12.815/13” e “Agendamento no Porto de Santos”, que teve como moderador José Geraldo Vantine, Presidente da Vantine Logistics e como debatedores Armindo Adegas, Diretor Comercial da ELOG e Osvaldo Freitas Vale Barbosa, Superintendente de Logística da CODESP -
Porto de Santos. Vantine levantou a questão sobre a safra recorde de soja, nove milhões de toneladas que precisarão ser transportadas para o Porto de Santos, e este terá que fazer o planejamento para receber toda essa carga. Além disso, o moderador colocou em pauta a discussão sobre a Lei dos Portos. Osvaldo Freitas Vale Barbosa, falou sobre as melhorias que estão sendo feitas no porto, como cons-
Armindo Adegas, Diretor Comercial da Elog
Profissional de Logística: Preparados para o Século XXI? LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP
O escritor Umberto Eco emprega uma imagem interessante para explicar como transformamos sonhos em realidade, a construção de um móbile. Um móbile é um tipo de escultura cinética, constituído por peças móveis que criam uma experiência visual de dimensões e formas em constante equilíbrio. O segredo da construção de um móbile é enxergá-lo pronto antes de sua montagem, determinado assim às peças e sua localização para criar um conjunto harmonioso. Concretizamos sonhos de forma similar, a partir de uma ideia observamos, escolhemos e equilibramos as peças necessárias para sua realização. Quando falamos em logística dois elementos são fundamentais: estrutura e pessoas. A infraestrutura, os processos e a tecnologia compõem a estrutura necessária para o desenvolvimento das atividades logísticas, porém nada acontece sem pessoas. Este texto inicia a discussão sobre a construção do móbile da formação do profissional de logística considerando dois aspectos relevantes para esta discussão à educação e o conhecimento.
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Sérgio Adriano Loureiro Pesquisador do LALT desde 2005 Doutorando em Engenharia de Transportes pela FEC/UNICAMP Mestre em Engenharia de Transportes e Engenheiro Civil pela UNICAMP
Orlando Fontes Lima Jr. Livre Docente e Professor Associado da FEC-UNICAMP. Coordenador do LALT Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes. oflimaj@fec.unicamp.br
reprodução, sempre precisando de uma atividade elo para conexão entre as duas anteriores. O transporte e a logística assim como a informação e a educação têm o papel de conexão. Neste contexto a logística é atividade fundamental para a existêncsia de nossa sociedade.
A educação tem sido papel das escolas e, indiferente das abordagens ou tecnologias envolvidas, todas as escolas desde a ágora grega, passando pelas escolas de ofício da idade média até os modernos laboratórios das universidades contemporâneas, como por exemplo, o MediaLab do MIT, todos tem como característica comum ser um lugar onde pessoas ajudam pessoas a resolver problemas usando conhecimento. É dentro desde papel que as diferentes escolas de hoje e do futuro terão participação relevante na formção dos profissionais. Alguns sociólogos organizam as atividades humanas em três grupos: atividades de produção e
Para entender a evolução do conhecimento em logística precisamos observar o comportamento de suas principais variáveis ao longo do tempo: informação, transporte e estoque. Na idade da pedra os homens eram nômades, habitavam cavernas e tinham como desafios principais a coleta de alimentos e a caça. O homem precisava saber onde se encontravam as plantas que forneciam seu sustento, onde estavam as manadas de amimais que poderiam ser caçados e deslocava-se ao encontro destes alimentos. Neste período, a principal variável logística era a informação. Transporte e estoque existiam, mas sua importância era menor, não era possível armazenar grandes quantidades de alimento e o transporte por grandes distâncias era inviável.
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Com o desenvolvimento da agricultura, o homem começa a se estabelecer e produzir alimentos no entorno de onde vive. A importância da variável informação é reduzida. As decisões de estoque estão limitadas a gestão do excedente de safras. Cresce a importância do transporte, o que pode ser observado pelos saltos no desenvolvimento tecnológico na forma de movimentar-se. O primeiro salto tecnológico se dá com a invenção da roda que permite o uso de veículos a tração animal para o transporte da safra para locais de consumo próximos. O ápice do processo de desenvolvimento tecnológico desta fase ocorre com o advento do barco a vela. Neste momento ocorre um drástico aumento de amplitude da acessibilidade. Quebra-se a barreia da produção local e homem passa a consumir produtos oriundos de diferentes regiões graças a oferta de transporte. O terceiro momento é o da revolução industrial quando a invenção da máquina a vapor adiciona escala ao processo produção, o homem começa a produzir excedentes em grandes quantidades. As variáveis informação e transporte reduzem em importância. O homem começa a empregar estratégias de estocagem para gerir o grande excedente produzido. A partir deste terceiro momento outras importantes mudanças tem início. Uma delas é a alteração da relação entre o custo de capital e remuneração da mão de obra. Durante a revolução industrial, o custo de um tear a vapor era da ordem de milhares de salários e
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as atividades produtivas eram predominantemente material. Hoje, na era dos serviços e do conhecimento, as atividades tem características não materiais, produzimos informação e o tear moderno é o computador pessoal. O smartphone permite uma relação capital trabalho da ordem de alguns salários ou até de uma parcela de um salario mensal de quem o utiliza. Estas relações e atividades criam processos de desemparelhamento temporal das pessoas para realização das atividades produtivos. O emparelhamento poder ser entendido como a necessidade de se ter capital (máquinas e estruturas) e pessoas (mão de obra) no mesmo espaço e ao mesmo tempo. Se no início a produção de valor estava condicionada a necessidade de se reunir grandes contingentes de pessoas em fábricas trabalhando junto as máquinas em extensos turnos, hoje as atividades de geração de valor podem e são ser realizadas, com o auxílio da tecnologia, e praticamente qualquer local com pessoas separadas por grandes distâncias de espaço e tempo e conectadas pela internet. Diante destas transformações o papel da escola também vem se modificado. No inicio seu papel era normalizador com organização similar a uma fábrica. O objetivo era capacitar pessoas (operários) a trabalhar em horários fixos, utilizar equipamentos e obedecer a estruturas rígidas. O professor (no papel do gerente de chão de fábrica) ensina sem se preocupar se os alunos aprendem, coloca as pessoas em formas, o grande objetivo é criar mão de obra para suportar a re-
volução industrial e a expansão da manufatura.Hoje, no cenário de desemparelhamento e produção de serviços e conhecimentos, quais são os desafios do profissional de logística? e quais devem ser os papeis dos profissionais de educação para este setor? Primeiro é importante perceber que retornamos a idade da pedra, a principal variável logística hoje é informação,como no inicio de tudo. Vivemos em mundo onde a ela está disponível em grande quantidade e velocidade graças a tecnologia. O desafio moderno da informação é a conectividade, as empresas buscam o estabelecimento de redes sociais que facilitem o desenvolvimento das atividades comerciais de forma suave, pouco invasiva. Neste cenário despontam também como desafios do profissional de logística viabilizar o não transporte e o não estoque. Não transporte por que os produtos de alto valor de hoje como músicas, filmes e softwares possuem transporte praticamente instantâneo e sem limitação de distancia entre origens e destinos. È como se tivéssemos uma onipresença des ativos.Posso te-los no momento e no lugar que desejar bastando alguns toques nas teclas de meu celular. Hoje é possível assistir a filmes de alta resolução online no momento da avant premier em qualquer lugar do mundo. È possivel realizar download de grandes quantidades de dados e músicas em segundos e ter todo a produção de jazz dos ultimos cinquenta anos no seu pen drive. Além disso, a produção de bens físicos está sendo
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revolucionada pelas impressoras 3D, Dia a dia estes equipamentos tornam-se mais acessíveis e avançam em tecnologia, sendo capazes de produzir hoje peças e componentes de materiais diversos e até alguns tipos de alimentos. O transporte deixará de existir? Dificilmente, o que vai acontecer é uma transformação. O transporte como conhecemos hoje, empregado para movimentar grandes quantidades de produtos ao redor do globo, provocando grande impacto ambiental, está com os dias contatos. O transporte que, em sua essência, é mobilidade, é variação espacial, irá permanecer. O local onde vivemos e produzimos continuam separados. Outro aspecto a se considerar é a reespacialização das atividades com o desemparelhamento das pessoas nas atividades produtivas. Estes fatos tem transformado a maneira como utilizamos o espaço e consequentemente nossa necessidade e dependência de transporte. O outro desafio emergente é o não estoque. As lojas de varejo de maior sucesso hoje são iTunes, Amazon.com e lojas de aplicativos (apps) para os smatphones. Estas lojas não administram grandes estoques de um único produto (SKU), trabalham na verdade com milhares de unidades únicas de SKUs, um problema de complexidade exponencial. Conceitos tradicionais de gestão de estoque como estoque mínimo, estoque de segurança e ponto de reposição não fazem mais o menor sentido nesses segmentos, o importante passa a ser a disponibilidade com variedade.
Encontro Cargo News de Educação
As respostas a estes desafios não estão prontas. Se quer temos todo o conhecimento necessário para enfrenta-los. Existe uma grande oportunidade de pesquisa e desenvolvimento para este novo conhecimento logístico. Para completar o móbile da formação do profissional de logística, as escolas precisam se voltar para o seu papel principal, ser um lugar onde pessoas ajudam pessoas a resolver problemas através do conhecimento. Estes conhecimentos podem ser práticos ou teóricos, podem ser aplicados, técnicos, tecnológicos ou conceituais, podem ser estruturados ou não, podem ser inovações ou tradições. As formas são muitas e a diversidade de desafios e oportunidades também. Visões teóricas devem se aproximar de ações práticas. A academia de
platão deve estar junto do Liceu de Aristoteles como na Pintura de Rafael (Escola de Atenas) Neste intuito o LALT /Unicamp e a Revista CargoNews promoveram em setembro de 2013, como atividade complementar ao Expo SCALA, o primeiro debate sobre Educação e Logística. Com participação de profissionais de educação das universidades( PUC e UNICAMP), faculdades( Metrocamp e FATEC) e colégios técnicos (FITEL) da Região Metropolitana de Campinas, o encontro foi um sucesso e iniciou um processo de debate sobre esta temática na RMC. Foi o primeiro passo para a criação de um Forum permanente de discussão da formação do profissional de logística do qual estão todos convidados a participar.
Escola de Atenas, quadro de Rafael exposto no Museu do Vaticano.
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