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Distribuição Gratuita
Outubro. 2010 O Jornal da Comunidade LGBTI Moçambicana Editor: Danilo da Silva* Maputo, Outubro de 2010 *Ano III * nº 8
Mais uma grande vitória da LAMBDA Mais uma grande conquista da Lambda, desta vez dentro das quatro linhas. Foi o que aconteceu no dia Seis de Agosto no bairro da Mafalala, em Maputo. Cerca de 300 espectadores prestigiaram a grande final da Copa Coalizão BIZ 2010 feminina ocorrida às 15:30hs no campo local. Entre as finalistas, a equipa da Lambda procurava o seu
DESTAQUES
Desta vez, dentro das quatro linhas Por: Redacção
primeiro título frente a equipa Rock 7. O clima era de festa e euforia, mas dentro de campo as jogadoras não estavam a brincar. Logo nos primeiros minutos de jogo, as meninas da LAMBDA já impunham o seu futebol aguerrido. E o golo não demorou a surgir. Aos quinze minutos, após uma bela jogada , Inês abriu o marcador. Festa da torcida presente, que a todo momento empurrava as equipas com seu grito
Lançado primeiro estudo sobre homens que fazem sexo com homens em Moçambique Pág. 3
de guerra. O resultado não se modificou, e o placar de um a zero manteve-se até o fim da primeira etapa. No intervalo, a Associação Coalizão da Juventude Moçambicana, organizadora do evente, é quem marcou um belo golo. Com tendas montadas ao lado do campo, profissionais da saúde realizavam testes gratuitos de HIV e informavam a população local sobre a importância da pre-
Wlsa Moçambique identifica-se com a luta da LAMBDA. Pág. 3
venção da doença. Uma iniciativa que atraiu grande parte dos presentes. Após um breve descanso, a bola voltou a rolar. Muitos pontapés e entradas duras marcaram a segunda etapa, o que não impediu belos lances na partida. Aos cinco minutos, após a cobrança de um livre directo, Amélia colocou a bola no ângulo e aumentou o placar para as meninas da LAMBDA. Continua pág. 4
Fidel Castro assume responsabilidade por perseguição a homossexuais. Pág. 3
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Lambda
As minorias sexuais em Moçambique
Direitos & Cidadania (Outros Direitos Pessoais)
O direito à livre orientação sexual é um direito humano. Todo o ser humano deve ser livre de expressar a sua orientação sexual ou sentimentos para com outro ser humano desde que sejam respeitados os direitos individuais e o limite de idade prescrita na lei para início da actividade sexual. Em outras palavras o que acontece entre dois adultos e em mútuo consentimento deve ser respeitado pela lei e pela sociedade. A Constituição da República de Moçambique é clara na proibição de todo e qualquer tipo de discriminação conforme expresso no artigo 35. Embora não esteja na letra da lei o termo “orientação sexual”, esta encontra-se abrangida pelo âmbito da norma. Trata-se de uma norma que defende a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e que obriga o Estado a legislar no sentido de garantir essa mesma igualdade. No entanto os homossexuais em Moçambique vivem num contexto de exclusão social, estigma e discriminação. Os direitos dos LGBTI não fazem parte de nenhuma agenda política, sendo que, de um ponto de vista dos direitos humanos, é obrigação do estado promover e garanti-los. Todavia, vozes há que questionam a relevância destes direitos para a sociedade moçambicana que está preocupada com questões como a pobreza, HIV, etc. Curiosamente, tais questionamentos, não são aplicados às outras minorias tais como, portadores de deficiência, grupos étnicos, religiosos, e outros que tem recebido larga atenção nas diferentes agendas politicas. Não se trata de defender o direito dos homossexuais, mas sim, de defender os direitos da pessoa humana, do cidadão moçambicano em particular. Foi este contexto social que levou um grupo de cidadãos homossexuais em 2006 a uma reflexão e mobilização de forma a transformarem a realidade em que viviam, que culminou com a criação da LAMBDA, Associação Moçambicana para Defesa das Minorias Sexuais.
O que pretendemos! • Reduzir o preconceito e a discriminação contra as pessoas LGBTI; • Promover a auto-estima e a saúde sexual das pessoas LGBTI; • Lançar uma campanha para a protecção dos direitos dos cidadãos LGBTI; • Aumentar a visibilidade da LAMBDA a nível nacional e internacional.
Quem pode contribuir! • Qualquer indivíduo, ou instituição que partilhe dos nossos objectivos.
Como pode contribuir • Participando nos nossos eventos; • Enviando-nos suas opiniões e sugestões; • Ajudando na disseminação de informações Lambda; • Angariando mais membros; • Contribuindo financeiramente; • Voluntariando-se.
da
Art.41: Todo cidadão tem direito à honra, ao bom nome, à reputação, à defesa da sua imagem pública e a reserva da sua vida privada. Constituição da República de Moçambique (2004)
Glossário Gay: Palavra de origem inglesa que significa alegre, já era um termo usado na Espanha desde a idade média como sinónimo de “rapaz alegre”. Actualmente usado para designar homens que sentem atracção física, emocional e espiritual por outros homens, como também em substituição da palavra homossexual pelo seu sentido menos técnico. GLS: Acrónimo de Gays, Lésbicas e Simpatizantes Lésbica: Mulher que sente-se atraída emocionalmente, fisicamente e espiritualmente por outras mulheres. HSH: Acrónimo para Homens que fazem Sexo com Homens. Os HSH não se consideram gays, pois estes não se identificam com os elementos próprios da cultura gay tais como; códigos e linguagem, restringindo-se somente ao acto sexual. Este indivíduos não são de fácil acesso já que não frequentam os denominados “locais gays”. Qualquer homem heterossexual pode ser um HSH.
MSM: Acrónimo de Mulheres que fazem Sexo com Mulheres. As MSM não se consideram lésbicas. Elas não se identificam com o universo lésbico e restringem a sua sexualidade somente ao acto sexual. Qualquer mulher heterossexual pode ser uma MSM Orientação Sexual mais adequado para referir-se à atracção física, emocional e espiritual a pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto, incluindo, portanto, a homossexualidade, a heterosexualidade e a bissexualidade . Simpatizante: Termo que designa o indivíduo que é simpatizante e solidário às lutas empreendidas pela comunidade LGBTI. Travesti: Homem no sentido fisiológico, mas que se relaciona com o mundo como mulher, o seu corpo é moldado com formas femininas e socialmente exerce o papel de mulher, podendo em suas relações ter o papel activo ou passivo. Note se que nem todos os travestis são homossexuais
Ficha Técnica Publicação: As Cores do Amor Registo: 035/GABINFO-DEC/2008 Tiragem: 2.000 Preço: Distribuição Gratuita Morada: Rua Tomas Ribeiro nr 2, Bairro da Coop, Maputo,
Moçambique Telfax: 21 41 6266 email: ascoresdoamor@lambda.org.mz Redacção: Francelino Zeúte, Danilo da Silva, Marcos Benedetti, Igor Salvador Revisão: Igor Salvador Design gráfico e layout: Danilo da Silva Fotografia: Web, Danilo da Silva Uma Publicação LAMBDA com o apoio de:
Editorial
Lançado primeiro estudo sobre homens que fazem sexo com homens (HSH) em Moçambique Por: Redacção
Foi lançado no dia 13 de Julho do corrente ano em Maputo, o primeiro estudo sobre vulnerabilidade e risco de infecção pelo HIV entre Homens que fazem sexo com Homens na cidade de Maputo. O estudo resultado de uma parceria tripartida entre a LAMBDA, PSI e Pathfinder International, mostra que as abordagens de prevenção generalistas, o estigma e a discriminação que os HSH enfrentam na sociedade e nos serviços de saúde são os principais fatores que contribuem para a sua vulnerabilidade. A titulo de exemplo, uma considerável parte dos entrevistados acredita que o
sexo anal desprotegido não constitui risco para a transmissão do HIV, enquanto que outra parte diz já ter sido vitima de discriminação nos serviços de aconselhamento por conta da sua orientação sexual. A nível governamental o diálogo sobre está temática tem sido muito difícil, este assume uma posição de distanciamento em relação a qualquer assunto que tenha a ver com os HSH. No entanto, a OMS, na pessoa do Dr. Abdul Moa, declarou que o estudo é de extrema importância para o desenvolvimento de acções de conscientização da sociedade em torno da necessidade de elaboração de campanhas de prevenção contra o HIV voltadas para este grupo vulnerável. Os resultados deste estudo serão usados para informar e desenhar estratégias e acções especificas voltadas para este grupo, com o objectivo principal de reduzir comportamentos de risco e modificar os factores de vulnerabilidade que colaboram para tornar os HSH mais expostos à infecção pelo HIV. As recomendações apontadas no estudo priorizam a implementação de novos programas, maior disponibilidade e acesso aos materiais de prevenção, realização de pesquisas adicionais, e promoção dos direitos dos HSH. Poderá baixar o estudo em http://www. lambda.org.mz/documentos/itemid-105. html
Activistas da Lambda participam numa formação para jovens Por: Redacção
Os activistas da Lambda como sempre marcaram presença e ressaltaram a importância de participar da Formação de um Grupo de Jovens.
“Através do curso, nós ficamos a saber como funciona o Estado, a sociedade, de que forma o Estado vê a juventude e o que ele pode fazer por nós”, disse Big. Segundo a Dra. Ximenes Andrade, coordenadora do Curso e representante da WLSA (Women and Law in Southern Africa Research and Education Trust), a ideia é que a Instituição possa dar um apoio sistemático a estes jovens ao longo do ano. “A nossa responsabilidade é informar e evitar que eles cometam deslizes”, disse a coordenadora. O curso tem como objectivo formar um grupo capaz de disseminar informações sobre direitos sexuais reprodutivos e informações em geral nos diversos tipos de instituições, Continua pág. 4v
Editorial “A ignorância é geralmente a irmã da maldade”, já dizia Sofocles, um dos maiores dramaturgos e escritores de tragédias da Grécia antiga, e não estava errado. Nas relações humanas, o desconhecimento do outro provoca desconfiança e medo, que despoletam variadas reacções dentre elas a agressão física ou verbal. Assim se comportam os indivíduos homofóbicos – irracionalmente maldosos. Podemos esperar que um indivíduo, ou até mesmo um grupo de indivíduos se comportem de forma irracional face a homossexualidade, no entanto é inadmissível que o Estado adopte a mesma atitude, visto que esse mesmo Estado, por via de um contrato, comprometeu –se a tratar a todos os cidadãos sem distinção alguma. O pior de tudo é quando as instituições do Estado, que deveriam garantir e preservar os direitos dos cidadãos, são os primeiros a violá-los somente porque “as chefias” sentem-se desconfortáveis com o assunto. Preferem rasgar ou mandar às favas os ditames porque o “boss” ainda não se decidiu. Mas se enganam os que pensam que a homofobia é um mal somente daqueles que desconhecem que os Direitos Humanos são universais e indivisíveis. Chega a ser vergonhoso quando no país temos organizações que dizem advogar pelos Direitos Humanos, mas, têm uma visão muito reduzida sobre a matéria, e quando o assunto é a homossexualidade, ou como eles preferem dizer, “coisas dos gays”, esgrimem-se em justificativas e tiram o corpo fora com o receio de serem mal vistos. Contraditoriamente têm missões e visões muito inclusivas e perante aos seus “parceiros de cooperação”, ou nos famosos workshops são bem “moderninhos”, afinal de contas uns dólares fazem falta não? O nosso conselho seria para revisarem as suas missões de modo que fique bem claro que nessas organizações os Direitos Humanos são para A e B e não são extensivos a C. Talvez um dia sigam o exemplo de Fidel Castro e admitam que foram injustos, que foram ignorantes e que foram maldosos (ver página 5). O mundo gira e não se pode impedir que isso aconteça. Como diz aquela canção do Chico Buarque, “apesar de você amanhã há-de ser outro dia”.
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Noticias
Wlsa Moçambique identifica-se com a luta da LAMBDA Por: Redacção
"Espero ver a LAMBDA tornar-se numa organização forte, não só defendendo e promovendo os direitos humanos, mas também influenciando mudanças sociais, apesar dos contratempos existentes". Estas foram as palavras de Terezinha da Silva, coordenadora nacional da WLSA Moçambique e activista dos direitos humanos. WLSA (Women and Law in Southern Africa research and education trust) Moçambique foi criada em 1989 é uma organização regional e registada a nível nacional em 2003 com a missão de contribuir para iden-
tificar e disseminar os contextos favoráveis, as áreas críticas e os obstáculos no que respeita à igualdade de direitos e oportunidades entre mulheres e homens no país. A nossa redacção auscultou a representante desta organização sobre a sua opinião relativamente aos direitos das minorias sexo-afectivas neste país e ao atraso no processo de legalização da LAMBDA, pendente no Ministério da Justiça desde Janeiro de 2008. Terezinha da Silva defende que a WLSA Moçambique, como organização feminista, luta pelos
Direitos Humanos de todos os seres humanos e de todos os cidadãos independentemente do sexo, da raça, da etnia, da religião ou da orientação sexual, para que cada individuo tenha acesso ao usufruto dos seus direitos como cidadão ou cidadã, e é neste sentido que a WLSA se coloca incondicionalmente a favor do movimento gay pelo seu registo, prestando-se a desenvolver acções visando a sua legalização como organização da sociedade civil e a sua inclusão social. O estado Moçambicano deve reconhecer o direito dos cidadãos a constituirem em associação, independentemente de qualquer situação desde que não fira os direitos humanos universais.
Activistas participam na formação : Cont pág 3.
uma vitória da lambda, desta vez dentro das dentro das 4 linhas: Cont pág 1.
nas do ROCK 7 pressionavam. Muitos lances de perigo contra a baliza da guarda-redes Big, que em baixo das traves se agigantava e fazia belas defesas, evitando o empate. A equipa da LAMBDA jogava em contra-ataque, e numa investida quase ampliou o placar. Num belo chute de Clô, a bola passou muito perto do ângulo direito, levantando a torcida local, que já comemorava mais um golo.
passando assim a mensagem a outros jovens. Ainda segundo a coordenadora, “Não existe em Moçambique um módulo específico para os jovens em relação aos direitos sexuais e informações em geral”. O curso está baseado num manual criado há dois anos que está em fase de teste, podendo ser publicado após o seu término, no mês de Dezembro.
Um belo golo. Festa da torcida e invasão de campo. A vantagem acalmoua equipa, que passou a administrar o resultado. A equipa adversária não se deu por vencida, e após imprimir sucessivos ataques contra a equipa da LAMBDA, marcou o seu golo na cobrança de uma falta. Augusta num remate forte e rasteiro, diminuiu a vantagem. O tempo passava e as meni-
www.lambda.org.mz
portal da comunidade gls moçambicana
Terezinha da Silva adianta que a LAMBDA tem muitos desafios pela frente, mas que não deve desistir da luta por uma sociedade mais igualitária e mais tolerante ás diferenças. Sobre a WLSA acesse o site: www.wlsa.org.mz O tempo custava a passar, e após suspeitos quinze minutos de compensação o arbito não teve outra alternativa a não ser o apito final. Vitória da LAMBDA. As atletas pareciam não acreditar. A felicidade era contagiante.
Para a nossa comunidade temos disponível a titulo gratuito... • Serviço de aconselhamento psicológico; • Serviço de aconselhamento e testagem voluntária (todas as sextas-feiras das 14hrs às 16hrs) • Aconselhamento e acompanhamento legal em casos de discriminação; • Materiais de protecção contra HIV/SIDA (Preservativos e gel lubrificante); • Centro de Documentação com material audiovisual na temática LGBTI; • Acesso à internet Para os serviços de aconselhamento (psicolgico, legal ou saúde) ligue e marque pelo nº 21 41 62 66, ou dirija-se às nossas instalações, sito na rua Tomas Ribeiro nº2, bairro da Coop, Maputo- Cidade
Noticias
Argentina aprova casamento e adopção gay Por: Redacção
Argentina "O casamento entre pessoas do mesmo sexo é lei na Argentina". Estas foram as palavras do presidente do Senado na manhã de 4 de Maio de 2010. Depois de uma noite prolongada, o resultado saiu, obtido por uma votação com 33 votos a favor, 27 contra e 3 abstenções. A Igreja Católica foi o maior opositor à lei com os seus discursos inflamatórios, que só conseguiram alienar os seus apoiantes incluido alguns senadores católicos, como o caso do senador Alfredo Martínez que disse que "sou um homem católico, praticante. Casei-me, tenho filhos e estão baptizados, e senti-me constrangido com as palavras do Monseñor Bergoglio, pois ele não deveria ter dito que a inveja do demónio é que está por detrás
desta lei". Os senadores que tinham afirmado anteriormente que se iriam opor, no final decidiram-se pela abstenção, defendendo assim, indirectamente, os direitos dos casais de gays e lésbicas. O resultado da votação também foi influenciado pela decisão do presidente do Senado em não aceitar uma proposta de última hora que pretendia estabelecer uma lei de união civil específica para gays e lésbicas e com um nome diferente de casamento. O casamento civil entre pessoas do mesmo sexo é agora legal na África do Sul, Argentina, Bélgica, Canadá, Espanha, Islândia, Noruega, Países Baixos, Portugal, Suécia, Cidade do México, Connecticut, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Vermont e Washington, D.C.
Inglaterra: Igreja católica lança missa para gays Por: Redacção
Enquanto o Reino Unido se preparava para receber a primeira visita do papa Bento 16 - líder da igreja que para muitos é tida como “intolerante” em relação aos homossexuais, os católicos de Londres assistiam a uma "missa
gay", realizada com o aval do Vaticano. Paul Brown não ia à igreja desde o funeral de sua mãe, em 2002. Agora ele está de volta ao templo, graças à missa para fiéis homossexuais, a única do género no país. “Eu procurei uma missa com uma mensagem positiva sobre coisas que as pessoas devem fazer, e não alguém me dizendo coisas que eu não devo", frisou. Em 1982, na última visita papal ao Reino Unido, uma missa deste tipo só poderia existir no mundo da fantasia. No entanto, desde então, a Igreja Católica britânica passou por uma transformação bastante abrangente.
Fidel Castro assume responsabilidade por perseguição a homossexuais em Cuba Por: Redacção
Fidel Castro assume responsabilidade pela perseguição a homossexuais em Cuba Em entrevista concedida ao jornal mexicano La Jornada, Fidel Castro, 84, assumiu a responsabilidade por não ter eliminado a perseguição aos “diferentes” na ilha entre 1960 e 1970. O líder da revolução disse “naquela época e por causa da homofobia, se afastou e descriminou os homossexuais em Cuba, muitos foram para campos de trabalho militar agrícola sendo acusados de contra-revolucionários”. E acrescentou “foram momentos de uma grande injustiça, e se fui eu, realmente tenho grandes responsabilidades nisso, o assumo, mesmo que não tenha esse tipo de preconceito”.
No seu país é sabido que entre os seus melhores e mais velhos amigos há homossexuais. No entanto, Castro tentou justificar a falta de atenção ao problema com o contexto internacional que vivia nessa época revolucionaria. “Eu não podia ocupar-me com esses assuntos. Estava preocupado principalmente com a crise de Outubro, com a guerra, com as questões politicas. Eram os nossos primeiros meses à frente da revolução”. Sob o lema "A homossexualidade não é um perigo, a homofobia sim" foi realizada em muitas cidades cubanas a terceira edição do dia contra a Homofobia. Um dos órgãos que levou organizou o evento foi o Centro Nacional de Educação Sexual (CENESEX), uma instituição que conseguiu melhorar a imagem de Cuba após as discriminações dos anos 60. CENESEX é liderada pela socióloga Mariela Castro, filha do líder cubano.
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Artigos
Homofobia e Discriminação por: Igor Salvador Homofobia
(homo=
igual,
fobia=do Grego φόβος "medo"), é um termo utilizado para identificar o ódio, a aversão ou a discriminação de uma pessoa contra homossexuais e, consequentemente, contra a homossexualidade, e que pode incluir formas sutis, silenciosas e insidiosas de preconceito e discriminação contra homossexuais. (in wikipedia. com) Poucos assuntos conseguem extremar as posições e valores na sociedade como os relacionados com a sexualidade. Em particular a questão da homossexualidade, quando abordada de forma aberta, parece fazer levantar vozes escondidas oriundas dos mais variados quadrantes que esgrimem argumentos tentando condenar e não permitir sequer a possibilidade do assunto ser discutido. Estas surgem dos meios intelectuais e académicos, passam necessariamente pelo meio religioso e desaguam nos bazares e nas bar-
racas e na nossa vida quotidiana. Apesar da diversidade dos argumentadores, todos parecem embebidos de uma falta de racionalidade e de uma incapacidade de ver o assunto pelo que ele é. Os argumentos em si não parecem tão importantes como deixar patente que estão contra o assunto e não estão dispostos a ceder na sua posição. De onde surge tanta revolta? O que é este sentimento que faz com que qualquer um tenha a pretensão de se imiscuir nos assuntos que dizem respeito à vida privada de pessoas adultas? Vamos tentar mostrar aqui algumas respostas encontradas pelos académicos que dedicaram a sua atenção a estudar o tema. Como surge o conceito de Homofobia? Comecemos primeiro por definir o que é homofobia, as primeiras utilizações da palavra surgem no início dos anos 1970 com os psicoterapeutas Kenneth Smith e
George Weinberg. Weinberg define a homofobia como o medo de ter contacto com homossexuais (dread of being in close quarters with homosexuals). Hoje em dia, o termo é utilizado não só para identificar o medo, mas ainda, o ódio, a aversão ou a discriminação de uma pessoa contra homossexuais e, consequentemente, contra a homossexualidade. Quais são as causas encontradas para a Homofobia? Existem duas formas distintas de ver o termo homofobia e sua origem. Uma abordagem é olhar para a homofobia como o nome que se dá às diversas práticas de estigmatização, discriminação e exclusão social que os homossexuais são vítimas. Isto é, a homofobia é mais um processo social-colectivo (isto é, as sociedades é que são homofóbicas, as práticas sociais são homofóbicas, as relações entre as pessoas estão em-
bebidas de homofobia, etc.), do que uma questão exclusivamente individual da saúde psicológica de alguns sujeitos. Neste artigo vamos focar mais a vertente da abordagem individual, como uma distorção da personalidade do indivíduo, esta teoria é avançada por estudiosos como Weinberg quando, identifica cinco causas principais: 1) motivação religiosa que condena os homossexuais com base no pecado de procurarem o prazer sexual; 2) a negação da homossexualidade como uma forma de defesa que resulta do medo de individuo ser ele próprio homossexual; 3) um sentimento que considerou de inveja que advém de ver a homossexualidade como uma ameaça ao conceito de “masculinidade” dos heterossexuais; Continua pág. 7v
Direitos Sexuais na perspectiva dos Direitos Humanos Por: Dário Caetano de Sousa (Jurista)
Compêndios de Direito civil, definem sujeito de direito como susceptibilidade de figurar numa relacao juridica ou seja de ser titular de direitos e obrigações. Este entendimento colide a nosso ver com o princípio da dignidade da pessoa humana, parece-nos que estaria patente nessa definição uma certa coisificação da pessoa, no sentido de que ela é vista ou assumida pelo direito a partir do momento em que detem alguma coisa, que é extrinseca a sí mesma. Seria o império do ter, subjugando o Ser em si mesmo. Ora o princípio da dignidade da pessoa humana, manda dizer que toda a pessoa, ser humano tem um valor em si mesmo, valor este que lhe é inerente e é neste princípio que assenta o moderno sistema de protecção internacional dos Direitos Humanos. O princípio da dignidade da pessoa humana ha-de assim fundamentar a proibição de toda e qualquer diferenciação de que possa ser alvo a pessoa humana. Independentemente de suas caracteristicas particulares que a diferenciam das demais, ela encerra a mesma dignidade, por isso mesmo entende a DUDH que todas as pessoas nascem iguais em dignidade e em Direitos.
Não se pode porém falar em dignidade sem olhar para o homem em sua plenitude, com todos os aspectos de sua personalidade. O homem tem uma sexualidade e deve exercê-la de forma livre, respeitando os legitimos limites legais para uma sã convivência social. Esta sexualidade do homem transcende aquilo que são suas relações privadas, e exige o respeito dos demais, dai a necessidade de sua tutela pelo Direito. Existe assim uma categoria de Direitos que se denomina Direitos Sexuais, entendidos como os direitos que possibilitam ao ser humano uma vida sexual saudável, com prazer e sem discriminação. Ao lado do direito à livre orientação sexual, encontramos outros direitos sexuais como: o direito ao prazer, o direito a livre expressão da sexualidade, o direito a uma sexualidade saudável, o direito à protecção contra abusos sexuais. Cabe ao Estado proteger os cidadãos contra ataques aos seus direitos sexuais, e promover acções que lhes possibilitem vivê-los com plena dignida-
de. Não se trata aqui de defender os direitos dos homossexuais, mas de defender os direitos da pessoa humana, pois que esta tem uma sexualidade que lhe é inerente. Obviamente que as minorias hão-de ser as mais visadas nesta discus- Não se pode porém são, os ataques falar em dignidade sem à sua sexuali- olhar para o homem dade entendi- em sua plenitude, com todos os aspectos de da como pe- sua personalidade. O riférica ou homem tem uma sexuamarginal serão lidade e deve exercê-la sem dúvida de forma livre, respeitando os legitimos mais recor- limites legais para uma rentes. O que sã convivência social. não retira de modo algum a pertinência de pleitear por estes direitos tendo o Homem como sujeito primeiro e último. De lembrar que foram as organizações feministas as pioneiras na luta pelo respeito a esta categoria de Direitos. Durante séculos as mulheres, foram alvo de ataques a seus Direitos Sexuais. Entender os direitos sexuais como uma categoria dos direitos humanos é aplicar com propriedade o princípio da dignidade da pessoa humana, no qual assenta o moderno sistema de protecção dos Direitos humanos
Artigos Homofobia...Cont pág 6.
4) ver a homossexualidade como uma ameaça aos valores partilhados pela maioria; 5) a ameaça à continuidade da espécie humana pela ausência de descendentes. Weinberg considera que a homofobia é um problema cultural que advém directamente da criação de um ideal heterossexual, onde o casamento e a procriação surgem como valores fundamentais. A própria cultura incentiva à rejeição da homossexualidade vendo-a como uma ameaça a concretização deste ideal. Desde pequenos os meninos são incentivados a manifestar a sua virilidade, através de jogos, da competição física, e mesmo ensinados a não exprimirem emoções que sejam consideradas femininas (por exemplo homem não chora). Particularmente na nossa sociedade os exemplos a que as crianças são sujeitas têm uma grande dose de machismo, com uma definição bem clara do comportamento que se espera e dos papéis a que se devem sujeitar. Particularmente por volta dos 11/12 anos os meninos experimentam uma redução, imposta, da intimidade entre homens, são encorajados a não se olharem, a não se tocarem, a não exprimirem afecto mútuo, estas acções são particularmente sentidas já que ocorrem também na relação entre pai e filho. Daqui começa a surgir a ideia que a homossexualidade masculina implica o “efeminamento” e um consequente medo de ser homossexual e uma reacção “irracional” à proximidade de homossexuais. O que é a homofobia internalizada? A negação da homossexualidade, apontada em 2) como motivador da homofobia é um factor de especial relevância, difícil de combater e com implicações graves para o próprio indivíduo. Alfred C. Kinsey, conceituado estudioso da sexualidade humana, na sua pesquisa de 1948 identificou que 37% dos homens entrevistados, já em idade adulta teriam experimentado pelo menos dois orgasmos com parceiros do mesmo sexo, e, uma grande parte do universo pesquisado declarou sentir desejos unissexuais apesar de afirmar já ter experimentado, secretamente prazer advindo do homo-erotismo. J. Green, encontra nesta contradição, a origem de um ódio doentio contra o seu próprio desejo homo-erótico e particularmente violento contra as pessoas que ousam superar o seu preconceito e viver livremente a sua homossexualidade, ele denomina este sentimento de “homofobia internalizada”. Segundo Green, estes indivíduos são vítimas de problemas diversos, alguns físicos como: mau humor, acne, prisão de ventre, outros psicológicos como: neurose de frustração sexual, suicídio e actos de violência. Se a homofobia é considerada uma doença, a capacidade de ultrapassar a homofobia é considerado um parâmetro de saúde, liber-
tando o indivíduo para se expressar livremente. A Homofobia não é uma patologia exclusiva dos heterossexuais e dos homossexuais “de armário”, ela pode ocorrer mesmo dentro de membros da comunidade gay, independentemente da forma livre com que assumam a sua sexualidade. Este assunto é em si bastante complexo e terá o seu tratamento em outro artigo. Qual a situação da Homofobia em Moçambique? Até bem recente os casos de homofobia em Moçambique ficavam resumidos à retórica de algumas figuras mais ou menos mediáticas, e à exclusão familiar de homossexuais como forma de pressão. A rejeição social sentida sempre teve mais a ver com a ignorância e falta de conhecimento que com homofobia per se. Nos últimos dois anos, e em particular no primeiro semestre deste ano, o movimento gay moçambicano tem ganho muita visibilidade. São várias as presenças nos media locais. Esta presença tem-se feito sentir, quer nos jornais, rádios e nas televisões. Para além desta presença tem sido várias as participações em discussões públicas, nas universidades, nos fóruns das entidades da sociedade civil. A presença terá tido o seu momento maior com a participação do movimento no programa Debate da Nação, da STV, o principal programa de discussão pública do meio televisivo. Todos estes factos têm contribuído para um incremento exponencial da visibilidade do próprio movimento. Este é um dos objectivos do movimento, e um passo indispensável para a plena cidadania dos indivíduos homossexuais. Porém, a visibilidade traz consigo uma consequência nefasta: um aumento da visibilidade da própria homofobia. Os homofóbicos de armário, aqueles que não expressam abertamente a sua aversão contra os homossexu-
ais, ao verem o crescimento do movimento, saem dos seus armários e entram em cruzadas contra o movimento. Não será de estranhar que para além de um incremento da rejeição ao movimento, comecem a aparecer os primeiros casos de violência física contra homossexuais (se é que já não existam, apenas não são de conhecimento público). Neste despontar de actos de violência contra homossexuais, resultado da exteriorização da homofobia, há dois motivos principais que são apontados como os fundamentos para a rejeição dos homossexuais e da homossexualidade em si. Um resulta da motivação religiosa: esta encontra terreno fértil num momento de crescimento de confissões religiosas, particularmente de origem cristã e pentecostais. O segundo factor é um exacerbar da ameaça ao conceito de masculinidade, aqui mais vincado pela existência de um conceito cultural de masculinidade africana, uma espécie de Super-macho. Seja qual for a origem, este incremento em discursos homofóbicos e em violência física é um passo usual no processo de luta contra a discriminação e a integração social dos homossexuais. O facto de as pessoas exprimirem abertamente a sua aversão permite que, de alguma forma, abram a porta para, no convívio aberto com o tema, perceberem a irracionalidade das suas posições e, eventualmente, consigam mudar de opinião. De que forma podemos combater a homofobia? A Lambda como a organização que luta pelos direitos das minorias sexuais em Moçambique, tem desempenhado um papel importante no combate à homofobia, em particular, à homofobia se considerada no contexto de um problema social. Neste contexto o enfoque da Lambda tem sido promover a educação desta sociedade e a promoção da visibilidade da comunidade como forma
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Opinião
Nós os puritanos Por: Danilo da Silva
[o titulo é inspirado numa das obras do filósofo francês Michel Foucault “Nós os vitorianos”]
É incrível como em África se conseguem mobilizar multidões para coisas sem importância. Políticos, líderes tradicionais e religiosos arrastam verdadeiras massas em cruzadas contra tudo e todos que, ao seu ver, são uma ameaça aos “valores africanos”. Pena que o mesmo não aconteça para assuntos como a corrupção, responsável pelo desvio de milhões de dólares dos cofres dos estados, com as altas taxas de desemprego que deixam famílias inteiras desprovidas de recursos, remetendo-os à pobreza ou até mesmo contra governos déspotas e antidemocráticos. Caso para dizer que em África o que dois adultos fazem em mútuo consentimento e em privado consiste A MAIOR ameaça às sociedades africanas. Tudo isto vem a propósito dos últimos acontecimentos no continente. Em 2006 em reposta à lei do casamento gay da África do Sul, a Nigéria iniciou um debate sobre uma lei que proibia o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Ruanda em 2009, um país onde nunca a homossexualidade foi criminalizada, introduziu no parlamento uma lei que passaria a criminalizá-la. Seguiu-se o Uganda com a sua malfadada lei anti-homossexual, na qual preconizava a pena de morte por “homossexualidade agravada”. Este ano, um casal de homossexuais no Malawi foi condenado a 14 anos de prisão
e trabalho forçado, pelo simples facto de simbolicamente celebrarem o seu amor. Depois de fortes pressões internacionais foram libertos. A retórica usada para a condenação das práticas homo eróticas é sempre a mesma: a homossexualidade é fruto da importação de valores europeus, logo, ela não é africana. Contudo, as leis que são usadas para condenar tais práticas foram introduzidas pelos colonizadores sem ter havido consulta alguma aos povos nativos. Um dos princípios do direito no geral, é que só se legisla, seja a favor ou contra algo, perante à factos que ocorrem na sociedade, principalmente no direitos penal que é o mais conservador de todos. Como poderiam os senhores colonos legislar sobre algo que não existia? Existem poucos relatos sobre a homossexualidade em África. Dos existentes ou são parte de escritos outrora suprimidos ou de investigações muito recentes. Quando os europeus chegaram a África, encontraram sociedades com suas práticas, valores e estrutura social própria. Contudo, como forma de “civilizar os indígenas”, novos valores foram introduzidos: a religião monoteísta, os conceitos de casamento monogâmico por um homem e uma mulher, o conceito de famílias nucleares entre outras tantas aculturações. Tudo que não estava de acordo com a nova ordem foi recriminado, proibido, apagado. As relações homo-eróticas eram fortemente desencorajadas uma vez que não possibilitavam a procriação tão desejada para continuar a alimentar as plantações e as construções. A nova ordem dominava todas as áreas do saber. Grande parte das escolas e universidades pertenciam à igreja católica. Os primeiros africanos letrados, que mais tarde vieram a tornar-se em grandes pensadores ou incorporaram os movimentos de liber-
tação contra o colonialismo, aprenderam seu bê-á-bá pelas mãos de missionários católicos. Poucos destes homens tiveram a oportunidade de experimentar outras realidades para além daquilo que lhes foi apresentado. Cresceram e foram educados para serem HOMENS E CATÓLICOS, não diria africanos, porque grande parte da educação recebida nada de africano tinha. Depois da independência, poucos países africanos mexeram nos seus códigos penais. Os senhores colonos, esses regressaram a casa, mudaram as suas leis discriminatórias e avançaram. Nesse aspecto, em África pouco ou nada mudou. Muitos países depois da independência entraram em conflitos internos. Guerras de desestabilização e genocídios provocados por rivalidades étnicas ou religiosas. Diante este cenário caótico, muitos estados não puderam desenvolver-se de forma a garantir os serviços básicos como saúde, educação ou mesmo uma providência de segurança social sustentável que respondesse ao crescimento dos seus povos. Valeu-nos a intervenção das confissões religiosas que passaram a ser os provedores do povo. A indoutrinação dos valores religiosos e moralistas continuou. Alguns estados “casaram” com a religião onde Deus e Pátria fundiram-se num só.(continua) Na próxima edição continuarei debruçando me sobre alguns factores que poderão ter contribuído para que hoje África seja considerado o continente mais homofóbico do
de desmistificar os estereótipos geralmente associados aos homossexuais. Isto é feito com a promoção do diálogo e de debate público, em fóruns tão distintos como o meio académico, os media, as organizações da sociedade civil ou o próprio governo. Para combater a homofobia internalizada a Lambda promove o desenvolvimento da auto-estima dos seus membros, para que estes possam assumir orgulhosamente a sua sexualidade como parte integrante da sua própria personalidade. Esta acção é desenvolvida pela promoção de espaços onde a comunidade possa encontrar-se e discutir os seus problemas, pela promoção de exemplos positivos e pela divulgação de outras realidades com a visualização de filmes e documentários. Em países como o Brasil, considerado o mais homofóbico do mundo, o governo toma uma parte activa no processo de promoção de direitos individuais dos seus cidadão, aqui incluindo as minorias sexuais, e toma também um papel activo na luta contra a homofobia, patrocinando e promovendo campanhas de consciencialização nos media, e com algumas das sua figuras mais proeminentes a emprestarem a voz condenando a homofobia, como é o caso do próprio presidente Lula da Silva. Em Moçambique, embora o governo não seja hostil e não agrida/persiga directamente os homossexuais, a forma como este rejeita discutir ou posicionar-se sempre que surge o assunto da homossexualidade, lembro que a Lambda aguarda há mais de 3 anos uma resposta ao seu pedido de registo como associação, leva-nos a concluir este tem uma reacção irracional ao tema acabando por contribuir para a sua descriminação pelo que, neste sentido é um governo homofóbico.
Opinião
Identidade e Estereótipo Por: Igor Salvador
Chuteiras Amarelas
Por: Igor Salvador
A palavra fobia significa um medo irracional, em linguagem comum, é o temor ou aversão exagerada ante situações, objectos, animais ou lugares”, in wikipedia.com). O primeiro sinal de Homofobia Enrustida que tenho memória veio do lugar mais inesperado e apanhou-me de surpresa. Vi, o pai de uma criança de 9 ou 10 anos a entrar completamente em pânico porque o filho acabava de comprar umas chuteiras amarelas. A reacção foi completamente disparatada, o miúdo escolhera as chuteiras porque o seu ídolo (Fabrizio Miccoli), na altura a jogar no Benfica usava uma chuteiras amarelas. O argumento era que o miúdo seria motivo de chacota na escola se lá aparece-se com uma chuteiras daquela cor, e, para salvar a dignidade da criança, esta foi obrigada a ir à loja trocar as chuteiras. Quando saí do armário, esta foi uma das pessoas que me deu o seu apoio e a sua compreensão, o que me terá dado na altura uma sensação de conforto e segurança. Todo apoio acabou no momento em que a pessoa viu-se confrontada com imagens na internet minhas e do meu parceiro, para ser sincero, é preciso muita atenção para encontrar afectividade nestas imagens, que para quem não esteja no contex-
to bem poderiam ser imagens de dois amigos em férias A reacção foi, à semelhança da primeira extemporânea e irracional. Um medo irracional desencadeado por imagens de homo-afectividade, um medo irracional que o filho seja exposto a estas imagens e que isto possa influenciar o seu crescimento, um medo irracional que desencadeou um discurso e uma postura irracional, ao ponto desta pessoa se dispor a testemunhar contra mim em tribunal para salvar a minha filha da exposição a esta ignominia. O mais engraçado é o discurso de que não é por ele, ele não tem qualquer problema, mas que é pelas outras pessoas, que a sociedade é homofóbica e que não vai ver com bons olhos as fotos. Mas a formação humanista, as suas referências sociais impedem esta pessoa de assumir esta sua discriminação abertamente pelo que não consegue sequer aperceber-se da sua homofobia, é fácil traçar um paralelo com a pessoa que diz “Eu não sou racista mas não quero que a minha filha namore com pretos.”, neste caso “Não tenho nada contra gays desde que estes fiquem no armário.”. Esta é uma forma de discriminação complicada de combater, este “Homofóbico de armário” não consegue sequer admitir o seu preconceito pelo que não o vai conseguir ultrapassar. Lembro que a homossexualidade não é uma doença, a homofobia, essa sim é considerada doença do foro psicológico, e a capacidade de a superar um sinal de saúde mental. Um beijo para o vazio ... [siga o blog "sopa do sal em http://sopadosal.blogspot.com/]
Era uma vez um jovem, robusto, na flor da sua juventude, com ou sem planos de futuro. Caminhava despreocupado numa das ruas da nossa capital. A certa altura um veiculo para ao seu lado e um@ ti@ mete conversa com o jovem. A conversa é curta, o suficiente para marcar um copo ao fim da tarde e trocar números de cel. O primeiro encontro ocorre bem banal, o jovem sem grandes meios financeiros aproveita o interesse d@ ti@ e bebe umas cervejas à borla. Seguem-se uns quantos encontros idênticos, parte do processo de “domagem” d@ ti@. Aos poucos os dois vão ficando mais à vontade, e vai ficando mais fácil chegar ao objectivo da primeira abordagem. Num dos encontros , no meios de muita cerveja, o jovem chora da sua falta de meios e @ ti@ aproveita a deixa para lançar o seu anzol, muito bondoz@ como só el@s sabem ser, estava dispost@ a aliviar o seu protegido das suas dificuldades financeiras, a troco de um pequenino favor sexual. O primeiro impacto da proposta deixa o jovem um pouco abalado, não lhe passara pela cabeça tal coisa, ou talvez tivesse passado, mas um abismo separava a possibilidade e a realidade da proposta. Dado o vínculo de intimidade já estabelecido entre eles e a possibilidade do dinhei-
ro “fácil”, faz o jovem aceitar a proposta. Consumada a primeira transacção num escondidinho qualquer, sai o jovem com o seu taco na mão e @ ti@, meio decepcionad@ com a falta de jeito do jovem, mas contente com a mais recente conquista. As semanas passam e de tempos a tempos, ora devido à tesão d@ ti@, ora devido à falta de dinheiro do jovem vão ocorrendo outras transacções idênticas. @ ti@ vai desfilando aqui e ali com seu novo trofeu, e vai despertando a cobiça das suas amig@s. O jovem vai estabelecendo contacto com as amig@s da tia, e vai diversificado o seu lote de benemérit@s. Não tarda em internacionalizar-se e em conseguir um contrato de prazo mais alargado com direito a hospedagem e tudo. Mas como é comum, apesar de longo prazo o contrato acaba. Volta o jovem ao contacto d@ ti@ a disponibilizar os seus serviços e a pedir que o aconselhe @s amig@s, de preferência lhe encontre outro contrato internacional. O jovem que no inicio teria os seus objectivos de vida, que se preocupasse ou não com o seu futuro ou a sua educação, torna-se em mais um membro da mais velha profissão do mundo...um prostituto, sem outro propósito que não encontrar o seu próximo cliente. Continua pág. 11
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Saúde
Sexo Anal? sim, mas com preservativo!!! como mulheres. Entretanto, como todas as práticas sexuais desprotegidas, Os silêncios que existem em o sexo anal pode ser o modo de relação à sexualidade fazem do transmissão do HIV e de outras sexo anal uma prática quase infecções de transmissão sexual. É invisível. Embora é sabido que importante que todos nós estejamuitos casais heterossexuais mos conscientes dos riscos à saúmantenham relações sexuais de que podem estar associados a anais com regularidade, poucos esta prática. Em nosso país, muito são aqueles que admitem ou dis- tem se falado que o HIV pode ser cutem este assunto de maneira transmitido de uma pessoa a oufranca com seus amigos ou par- tra durante as relações sexuais sem ceiros. Entre os homens homos- protecção. Isto inclui o sexo anal! sexuais e bissexuais, o sexo anal Algumas pessoas pensam, erraé uma prática regudamente, que lar. Porém, apesar como todas as práticas o HIV só pode disso, muitos dos sexuais desprotegidas, ser transmitiHomens que fazem o sexo anal pode ser do nas relações Sexo com Homens o modo de transmisvaginais sem ainda têm vergo- são do HIV e de outras protecção. Connha ou pudor em infecções de transmis- tudo, já está discutir e tirar suas são sexual provado cientidúvidas sobre esta ficamente que o prática sexual. HIV também é O sexo anal é uma prática transmitido pelo sexo anal. De tosexual como qualquer outra. das as práticas sexuais, o sexo anal O ânus é também um órgão sem protecção é o que oferece os de prazer, quando estimulado riscos mais altos para transmissão correctamente e não há nada de do HIV. errado em realizar esta prática. Mas, como isso acontece? Em Embora estigmatizado na socie- todas as relações sexuais, os órgãos dade e considerado por muitos sexuais (o pénis e o ânus, ou o pécomo uma prática “ilegítima”, nis e a vagina) sofrem pequeníssio sexo anal é praticado desde mas lesões. Assemelham-se a peos primórdios da humanidade quenos ferimentos, mas que não e o ânus sempre foi visto como são possíveis de serem observados um órgão que pode proporcio- a olho nu, que não provocam sannar prazer e satisfação sexual a gramento e que acontecem natuqualquer pessoa, tanto homens ralmente. Contudo, estas lesões uso correcto do preservativo e do gel lubrificante
funcionam como uma “porta de entrada” para o HIV. Assim, se o teu parceiro tiver HIV e ele te penetrar sem preservativo, o HIV que vive no sangue e no esperma dele, poderá entrar no teu organismo por uma destas “portas de entrada”. Também, se fores tu a penetrar o teu parceiro e ele tiver HIV, as lesões do ânus dele poderão libertar o HIV que encontrará nas lesões do teu pénis uma “porta de entrada” para o teu organismo. O preservativo impede que haja contacto entre os líquidos corporais das pessoas na hora do sexo, evitando assim a transmissão do HIV e de outras doenças. Além disso, o uso do gel lubrificante à base de água pode colaborar na redução da formação das lesões, diminuindo assim as “portas de entrada”, especialmente no ânus. Por isso, o preservativo deve ser usado sempre desde o primeiro momento da penetração, juntamente com o gel lubrificante. Esta é a única forma de estar completamente protegido na hora da transa! Há alguns homens que utilizam o preservativo feminino para fazer sexo anal protegido, embora ele não tenha sido produzido para este fim. Caso tenhas acesso ao preservativo feminino, podes utilizá-lo da seguinte maneira: a) retire o anel interno do preservativo; b) em uma posição confortável, introduza o preservativo
no ânus com o auxílio do dedo (com lubrificante, tudo fica mais fácil), deixando o anel externo do preservativo para fora; c) na hora da penetração, ajude o parceiro a colocar o pénis no interior do anel externo do preservativo, evitando que o pénis entre ao lado do preservativo; d) ao final da relação, retire o preservativo com cuidado, enrolando-o e deite-o no lixo. Mas lembre-se: caso usares o preservativo feminino no ânus o teu parceiro não deve usar o preservativo masculino no pénis. Use apenas um tipo de preservativo de cada vez! Outra coisa que pode ajudar a diminuir a formação de “portas de entrada” no ânus é a sua estimulação correcta, com carícias e toques sensuais. Com isso, relaxa-se naturalmente e assim a penetração do pénis fica mais fácil. O uso do preservativo juntamente com o gel lubrificante à base de água torna o acto completamente seguro! Por isso amigos, lembrem-se: é necessário usar o preservativo no sexo anal sempre (e nas outras práticas sexuais também), juntamente com o gel lubrificante à base de água. Por estar protegido, pode-se curtir muito mais o momento e descobrir todo o prazer do sexo anal, sem riscos.
1. Pegue no seu kit (preservativo + gel) 2. Abra o kit e retire o preservativo e o gel 3. Abra o pacote do preservativo (não use os dentes os objectos perfurantes) e aperte a ponta 4. Coloque o preservativo na ponta do pénis com a ponta do preservativo apertada 5. Desenrole o preservativo até a base do pénis 6. Abra o pacote de gel e espalhe-o sobre o preservativo NB: Apôs a relação sexual, retire o preservativo com o pénis ainda erecto. Deposite o preservativo usado na lata de lixo.
Saúde
LGBTI beneficiam de serviços de aconselhamento e testagem voluntária
Dicas sobre sexo seguro para lésbicas e mulheres bissexuais!
Por: Redacção
A Lambda passa desde 1 de Outubro de 2010 a oferecer nas suas instalações em Maputo os serviços de testagem voluntária e aconselhamento para os seus membros e simpatizantes. Para o responsável dos serviços de apoio psicossocial e promoção da saúde sexual reprodutiva da LAMBDA, Dr. Augusto Guambe, “ este é um motivo de orgulho para nós como organização, bem como, de grande alivio para a nossa comunidade LGBTI, residente na cidade de Maputo, que receava frequentar os Centros de Saúde e Gabinetes de ATS da população no Geral por conta da discriminação ou falta de empatia dos provedores de saúde … aqui vão poder estar à vontade e esclarecer dúvidas à respeito do sexo seguro e prevenção contra ITS incluindo o HIV”. Esta iniciativa enquadra-se na parceira que a Lambda tem com a PSI e a Pathfinder/UNFPA no âmbito da promoção da saúde
sexual e reprodutiva dos grupos vulneráveis nomeadamente, homens que fazem sexo com homens (HSH), trabalhadoras do sexo, usuários de droga e populações migratórias. O lançamento do programa, contará com a presença dos representantes das organizações parceiras e dos activistas da LAMBDA. Para além de Maputo, muito em breve, a iniciativa será estendida às cidades da Beira e Nampula, onde já existem acções de educação e promoção de saúde voltadas para os HSH promovidas pela LAMBDA. Este serviço fica disponível todas sextas-feiras das 14hrs às 16hrs no gabinete de serviços de Saúde e Apoio psicossocial da LAMBDA sito na rua Tomas Ribeiro nº 2, bairro da Coop, na cidade de Maputo.
Uma pesquisa realizada em 2003 nos EUA, demonstrou que as mulheres lésbicas acreditam estar imunes às ITS pela “ausência de riscos”. Desse modo, a prática do sexo seguro acaba sendo negligenciada por essas mulheres. A situação não é muito diferente no nosso país, por isso iremos passar-te algumas dicas para que possas “curtir” uma vida sexual saudável. O Sexo Oral…
É notório que o sexo oral é muito prazeroso, mas é importante saber que, através dele, podes apanhar ou transmitir HIV, Hepatite B, Sífilis, HPV, Herpes Genital, entre outras doenças. A recomendação dada pelos ginecologistas é de que utilizemos algum protector para evitar contacto com as secreções e tecidos – preservativo ou plástico fino, os chamados “dental dam” Os Brinquedinhos
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Esta história é comum a muitas cidades, esta história pode ser escrita mudando o género d@ ti@ ou do jovem, não é um problema exclusivo da comunidade gay, mas por vezes passa-se a ideia que na comunidade gay este cenário é inevitável, que quem tem posses, mas tarde ou mais cedo, tem de assumir o papel d@ ti@, e quem não tem posses deve assumir o papel do jovem. Não passam de dois estereótipos que devemos combater, ninguém se deve conformar a papéis pré determinados, ser gay não define como a pessoa deve se comportar, como deve pensar, como deve-se vestir, o que deve comer ou beber, que musica deve ouvir. Ser gay não implica que se esteja preparado para discutir as últimas modas parisienses, ou adorar a última mala Gucci ou os últimos sapatos Prada. Não significa que se deve odiar o futebol e desdenhar quem prefere uma cerveja a um cocktais. Não significa que se deva idolatrar a
Madonna e vibrar com os últimos acordes do Mika. Não significa que se deva estabelecer o sexo como a essência da vida e medir os outros pelo último bofe que conseguiram. Recuso-me a ter esta visão redutora da homossexualidade, a homossexualidade resume-se à atracção física, afectiva, emocional e/ou espiritual por alguém do mesmo sexo. O carácter, os princípios morais, os gostos, os objectivos de vida, a personalidade não se definem com a orientação sexual, são questões individuais e formam-se com a própria pessoa, no seu processo de crescimento e maturidade. Não achem que se devam conformar aos estereótipos para se integrarem na comunidade, vivam de acordo com os vossos princípios e a vossa consciência, respeitem a diversidade, mas respeitem-se acima de tudo a vocês próprios e à vossa identidade, que é aquilo que vos torna únicos. Um beijo para o vazio ...
Os famosos “brinquedinhos” que apimentam a relação e enriquecem as “modalidades” de gozo, também podem servir de veículo transmissor das doenças sexualmente transmissíveis pela partilha de fluidos. O ideal, segundo especialistas, é que não se compartilhe o vibrador, contudo, considerando a possibilidade de se tratar de parceiras fixas, pode-se utilizar preservativo para a penetração. Mas, nunca reutilizar o mesmo preservativo em ambas as pessoas. Vale lembrar que o preservativo deve ser trocado quando for penetrar em locais diferentes (da vagina para o ânus/ do ânus para a vagina/ de onde a criatividade permitir para onde o corpo deixar…). Cuidados com a flora vaginal
A vagina é um ambiente perfeito para a presença de lacto bacilos e de algumas espécies de bactérias. Ocorre que o aumento exagerado de certas bactérias, por causas orgânicas, pode acarretar o surgimento de um corrimento vaginal, muitas vezes de cor amarela, branca ou cinza, que possui um cheiro desagradável (lem-
brando o odor de peixe). Trata-se de uma possível vaginite que, embora não seja considerada uma ITS, pode aumentar e muito a chance de adquirir uma doença sexualmente transmissível e provocar infecção nas trompas ou no útero. O uso de duchas (inserção de agua dentro da vagina) e de produtos químicos que causa m irritação e desconforto à vagina são práticas que devem ser evitadas para prevenir o aparecimento das vaginites. Preventivo!
Já que a mucosa vaginal tem uma capacidade bem maior de absorção (em relação à mucosa peniana), além de ser mais propensa a traumas, isso aumenta bastante as chances de uma mulher contrair o HIV ao se relacionar com uma pessoa portadora do vírus. Portanto, mais um motivo para manter os exames em dia! O HIV é detectado através de um exame específico de sangue, mas é com o exame preventivo que o (a) médico(a) verifica a possibilidade de existência de cancro ginecológico, assim como pode detectar também outras infecções. A verdade é que as lésbicas têm questões de saúde diferenciadas que exigem um atendimento específico, mas à maioria delas não se sente confortável para informar ao seu (à sua) ginecologista sobre a sua sexualidade. O nosso conselho é que sempre tenhas uma conversa franca com o(a) médico(a) de sua confiança. Se iniciaste a tua vida sexual agora ou precisas esclarecer alguma dúvida, marca uma consulta ginecológica para te orientares, já que, se o Sexo é bom naturalmente, feito de forma saudável, fica mais gostoso ainda! [texto adaptado do site http://napontadosdedos.wordpress. com/]
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Somos A Associação Moçambicana de Defesa das Minorias Sexuais, LAMBDA, é um Movimento de mulheres e homens moçambicanos que lutam pelo reconhecimento dos seus direitos civis. Visão: Uma sociedade moçambicana onde as diversas formas de orientação e identidade sexual (LGBTI ) são reconhecidas pelo Estado, respeitadas pelos cidadãos e protegidas pela Lei. Missão: promover os direitos cívicos, humanos e legais dos cidadãos LGBTI através de educação pública, advocacia e diálogo.
Rua Tomas Ribeiro nr 2, Bairro da Coop, telfax: 21 41 6266, email: lambda@lambda.org.mz Maputo, Moçambique