#9 Agosto. 2011 Editor: Danilo da Silva* Maputo, Agosto de 2011 *Ano III * nº 9
Segundo Alice Mabota, a omissão na lei limita o governo a dar aval ao registo da LAMBDA
Por: Redacção
A Lambda, Associação Moçambicana para Defesa das Minorias Sexuais (em formação), remeteu o seu processo de registo em Janeiro de 2008. Embora tenha seguido todos os trâmites legais, chegando mesmo a reformular os seus estatutos a pedido da Ministra da Justiça, o processo continua pendente. Em Fevereiro de 2011, aquando do processo de Revisão Periódica Universal, em Genebra, o governo moçambicano, na voz da Minis-
DESTAQUES
"Primeiro estudo sobre vigilância biológica e comportamental entre Homens que fazem sexo com homens está em curso no país desde Julho último." Pág. 4
"...o Ministério da Justiça não é exactamente ele que dificulta o registo, muito menos a ministra que ocupa o cargo mas sim as leis que estão no papel traçadas há muito tempo.."Dra. Alice Mabota, presidente da LDH tra da Justiça, questionada sobre o assunto, respondeu nos seguintes termos “[…] Relativamente às associações dizer que também nada obsta a criação de associações e nós não temos qualquer objecção, proibição ou aceitação no plano […] quanto à esta questão achando que ela se remete ao plano subjectivo de cada cidadão.” Seis meses passaram-se e, até o final desta edição, não há sinais de que o impasse se resolva. De um lado está o ministério da justiça, aquele que deveria ser o garante da
justiça no país, fechado em copas, e do outro a comunidade LGBT que vê os seus direitos constitucionais e humanos violados. Assim, fomos saber, da organização moçambicana de referência na defesa dos direitos humanos, a LDH (Liga Moçambicana de Direitos Humanos) o que pensa sobre o assunto. Para Alice Mabota presidente da LDH, esse cenário vai mudar caso a LAMBDA trabalhe árduamente para que a sociedade civil e o governo compreendam a importância
"Como Sair do Armário!" Pág. 6
de uma associação do género em Moçambique. Acompanhe nas páginas interiores os excertos mais importantes que corporizaram a nossa conversa com Alice Mabote. REDACÇÃO (RD): Sendo a Dr.ª Alice Mabota, Presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, qual é a opinião que tem relativamente ao registo de associações ou organizações que trabalham e defendem as minorias descriminadas Continua pág 3
"A impunidade perpetua a violação dos direitos das mulheres em Moçambique" Pág. 10
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Lambda
As minorias sexuais em Moçambique
Direitos & Cidadania (Outros Direitos Pessoais)
O direito à livre orientação sexual é um direito humano. Todo o ser humano deve ser livre de expressar a sua orientação sexual ou sentimentos para com outro ser humano desde que sejam respeitados os direitos individuais e o limite de idade prescrito na lei para início da actividade sexual. Em outras palavras o que acontece entre dois adultos e em mútuo consentimento deve ser respeitado pela lei e pela sociedade. A Constituição da República de Moçambique é clara na proibição de todo e qualquer tipo de discriminação conforme expresso no artigo 35. Embora não esteja na letra da lei o termo “orientação sexual”, esta encontra-se abrangida pelo âmbito da norma. Trata-se de uma norma que defende a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e que obriga o Estado a legislar no sentido de garantir essa mesma igualdade. No entanto os homossexuais em Moçambique vivem num contexto de exclusão social, estigma e discriminação. Os direitos dos LGBTI não fazem parte de nenhuma agenda política, sendo que, de um ponto de vista dos direitos humanos, é obrigação do estado promover e garanti-los. Todavia, vozes há que questionam a relevância destes direitos para a sociedade moçambicana que está preocupada com questões como a pobreza, HIV, etc. Curiosamente, tais questionamentos, não são aplicados às outras minorias tais como, portadores de deficiência, grupos étnicos, religiosos, e outros que tem recebido larga atenção nas diferentes agendas politicas. Não se trata de defender o direito dos homossexuais, mas sim, de defender os direitos da pessoa humana, do cidadão moçambicano em particular. Foi este contexto social que levou um grupo de cidadãos homossexuais em 2006 a uma reflexão e mobilização de forma a transformarem a realidade em que viviam, que culminou com a criação da LAMBDA, Associação Moçambicana para Defesa das Minorias Sexuais.
O que pretendemos! • Reduzir o preconceito e a discriminação contra as pessoas LGBTI; • Promover a auto-estima e a saúde sexual das pessoas LGBTI; • Lançar uma campanha para a protecção dos direitos dos cidadãos LGBTI; • Aumentar a visibilidade da LAMBDA a nível nacional e internacional.
Quem pode contribuir! • Qualquer indivíduo, ou instituição que partilhe dos nossos objectivos.
Como pode contribuir • Participando nos nossos eventos; • Enviando-nos suas opiniões e sugestões; • Ajudando na disseminação de informações Lambda; • Angariando mais membros; • Contribuindo financeiramente; • Voluntariando-se.
da
Art.41: Todo cidadão tem direito à honra, ao bom nome, à reputação, à defesa da sua imagem pública e a reserva da sua vida privada. Constituição da República de Moçambique (2004)
Glossário Gay: Palavra de origem inglesa que significa alegre, já era um termo usado na Espanha desde a idade média como sinónimo de “rapaz alegre”. Actualmente usado para designar homens que sentem atracção física, emocional e espiritual por outros homens, como também em substituição da palavra homossexual pelo seu sentido menos técnico. Lésbica: Mulher que sente-se atraída emocionalmente, fisicamente e espiritualmente por outras mulheres. LGBT: Acrónimo de lésbicas, gay, bissexual e transsexual HSH: Acrónimo para Homens que fazem Sexo com Homens. Os HSH não se consideram gays, pois estes não se identificam com os elementos próprios da cultura gay tais como; códigos e linguagem, restringindo-se somente ao acto sexual. Este indivíduos não são de fácil acesso já que não frequentam os denominados “locais gays”. Qualquer homem heterossexual pode ser um HSH.
MSM: Acrónimo de Mulheres que fazem Sexo com Mulheres. As MSM não se consideram lésbicas. Elas não se identificam com o universo lésbico e restringem a sua sexualidade somente ao acto sexual. Qualquer mulher heterossexual pode ser uma MSM Orientação Sexual mais adequado para referir-se à atracção física, emocional e espiritual a pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto, incluindo, portanto, a homossexualidade, a heterosexualidade e a bissexualidade . Simpatizante: Termo que designa o indivíduo que é simpatizante e solidário às lutas empreendidas pela comunidade LGBTI. Travesti: Homem no sentido fisiológico, mas que se relaciona com o mundo como mulher, o seu corpo é moldado com formas femininas e socialmente exerce o papel de mulher, podendo em suas relações ter o papel activo ou passivo. Note se que nem todos os travestis são homossexuais
Ficha Técnica Publicação: As Cores do Amor Registo: 035/GABINFO-DEC/2008 Tiragem: 2.000 Preço: Distribuição Gratuita Morada: Av. Vladimir Lenine 1323, Maputo, Moçambique Telfax: 2130 48 16, Cell: 84 38 92 967 Email: ascoresdoamor@lambda.org.mz Redacção: Francelino Zeúte, Danilo da Silva, Igor Salvador Revisão: Igor Salvador Design gráfico e layout: Danilo da Silva Fotografia: Web, Danilo da Silva
Uma Publicação LAMBDA com o apoio de:
Editorial
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como são os casos dos homossexuais, as pessoas portadoras de deficiência ou, os albinos. ALICE Mabota (AM): Eu como defensora dos direitos humanos penso que é uma grande injustiça, a verdade é que falar de sexo em África é ainda um grande problema, mas não podemos comparar estas questões porque são completamente diferentes, não podemos incluir os deficientes nesta equação, não porque estes não sejam discriminados. Mas a questão das minorias sexuais é um pouco mais complicada. A religião sempre interferiu neste aspecto, para dizer que o registo não é o mais importante, o importante é trabalhar na educação transmitindo informações correctas sobre a orientação sexual. Contudo, não são só os homossexuais que são discriminados, as prostitutas que de noite estão com os homens e de dia, estes mesmos homens, não as reconhecem, são um dos muitos casos que não podemos deixar de equacionar quando se fala de discriminação, mesmo a mulher que não faz filhos é discriminada. RD: Tem-se constatado no país um tratamento diferenciado por parte das instituições do governo, no caso concreto o Ministério da Justiça no que diz respeito ao registo e oficialização de algumas associações como por exemplo das minorias sexuais. Qual é o comentário que a Dr.ª faz em relação a este aspecto, dado que dirige uma instituição que defende os direitos humanos? AM: Não é exactamente o Ministério da Justiça que dificulta o registo, muito menos a ministra que ocupa o cargo mas sim as leis que estão no papel traçadas há muito tempo, é esse o aspecto que penso que dificulta a ministra de atribuir o registo à LAMBDA. É olhar para o código civil se não me engano a lei 8/91 (lei das associações) vai perceber que há muita barreira que faz com que estas questões não sejam encaradas de peito aberto. A constituição pode até dizer que acolhe e incentiva a criação de associações, mas quando se trata destes casos como por exemplo os “rastas”, estes são associados às drogas. RD: Moçambique, à semelhança dos outros países da região Austral, com excepção da RAS, tem pautado por um tratamento hostil a esses grupos, no caso em apreço as minorias sexuais. AM: Há que percebermos que a ques-
tão da orientação sexual não é só em Moçambique que não é aceite e bem vista, são várias as sociedades e não só africanas que não aceitam esta questão da homossexualidade. E usam a cultura e a religião para não reconhecerem os seus semelhantes. É triste, mas as pessoas precisam aprender e perceber que os homossexuais são pessoas iguais e com os mesmos direitos, quer queiram, quer não, e inevitavelmente no futuro esta situação vai ser discutida com mais profundidade à medida que as pessoas homossexuais vão dando a cara para uma maior visibilidade deste movimento em Moçambique. RD: Qual tem sido o papel da Liga quando é solicitada para ajudar estes grupos sociais no que diz respeito ao registo, oficialização e funcionamento das mesmas? AM: O papel da Liga foi e sempre será de usar os mecanismos que dispõem para fazer face a estas situações e ajudar até a última instância. RD: Dr.ª Alice Mabota pode citar algum exemplo de ter ajudado ou “assessorado” alguma associação discriminada socialmente no país? Caso tenha ajudado, quais foram os procedimentos? AM: Enviando pessoas para representarem a Liga e auscultar as dificuldades que são passadas por estas organizações que trabalham com os direitos humanos. Pessoalmente participo em vários fóruns para perceber o quão importante é lutarmos para que o cidadão Moçambicano usufrua dos seus direitos, independentemente da sua orientação sexual, cor de pele, raça, a Liga sempre entreviu para estas questões e se não fosse a Liga a trabalhar para que esta organização pudesse estar onde está. O advogado Custódio Duma foi por muitas vezes confundido como homossexual e vocês sabem como são as pessoas, mas isto porque a Liga esteve sempre a trabalhar para a educação e percepção dos direitos que estavam e continuam sendo atropelados. RD: Como vê as organizações moçambicanas que trabalham com os direitos humanos no país? AM: São cínicas! São materialistas e poucas é que estão a trabalhar para a causa dos direitos humanos. RD: Dr.ª Alice Mabota na qualidade de presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, qual é a sua opinião relativamente a existência da LAMBDA?
Editorial Nesta edição trazemos duas entrevistas com duas grandes mulheres pertencentes a organizações moçambicanas de referência na defesa e promoção dos Direitos Humanos, Alice Mabota da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos e Graça Samo do Forum Mulher. Antes de mais devemos congratulá-las pelo trabalho efectuado e pela coragem de lidarem com um assunto como os Direitos Humanos, num país onde, infelizmente, os detentores do poder vêem as instituições, e aqueles que advogam pelos Direitos Humanos, como procuradores de “agendas externas”, como se os moçambicanos não fossem capazes de lutar pelo seu bem-estar. Apesar do enorme trabalho que se tem feito no país neste âmbito, há ainda um longo caminho a percorrer para que todos os moçambicanos, independente da sua cor, raça, sexo, etnia, religião, estatuto social, filiação partidária e orientação sexual, gozem dos Direitos que são preconizados na Carta Universal dos Direitos do Homem. Para conseguirmos ganhos significativos e mudanças reais na nossa sociedade é necessário promover uma mudança de mentalidade, de todos, e em especial daqueles que advogam pelos Direitos Humanos. Mudar mentalidades, sabemos nós, não é um processo fácil, principalmente, e agora parafraseando o professor Carlos Serra, quando a educação conservadora nos cria a intolerância à diversidade, quer de opções político-partidárias, religiosas ou relativa a orientação sexual. E como já dizia o outro, todo o tipo de opressão precisa de uma ideologia que a sustente, e neste campo de criar justificações para a perpetuação da opressão, não nos faltam recursos- desde a instrumentalização da cultura à religião. Como defensores dos Direitos Humanos, não podemos deixar que a nossa intolerância nos cegue e devemos insurgirmo-nos sempre que um ser humano é violentado ou direitos lhe são negados. Não podemos calarmo-nos, pois o silêncio legitima a opressão. Tem de existir um sentido de dever que nos orienta quanto trabalhamos nesta área, um sentido de justiça e de revolta quando confrontados com injustiças, com descriminação independentemente da sua natureza e origem. Assim devemos procurar rodear-nos nas nossas organizações das mais diferentes sensibilidades e conseguir assim alargar o âmbito da nossa luta. É imperativo que a questão da homossexualidade esteja sempre presente no trabalho da Liga, assim como, as preocupações das mulheres lésbicas devem fazer parte da agenda do Fórum Mulher. Indo mais longe é imperativo que haja defensores das várias minorias, neste caso falamos em particular da homossexualidade, nas várias organizações da sociedade civil, pois só desta forma poderemos criar um impacto significativo na nossa sociedade, tornando-a mais inclusiva, só desta forma podemos provar aos nossos governantes que a questão dos direitos dos homossexuais não é uma preocupação só de um grupo minoritário, mas sim uma preocupação da sociedade no geral.
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Noticias
AM: É muito bom que ela exista. Afinal de contas existem pessoas que se sentem protegidas com a sua existência, por isso penso ser uma organização que com o tempo vai alcançar os seus objectivos e espero contribuir para o alcance das suas metas. A Liga tem acompanhado com atenção os casos de homossexuais que são impedidos de viver as suas vidas de uma forma tranquila. Em África ainda não se percebe que sexo é uma questão de fórum íntimo que nem o Estado tem o direito de se intrometer quando o acto sexual é feito por adultos e com o consentimento de ambas partes, mas isto acontece num continente em que as sociedades são muito preconceituosas, como a África em que vivemos. Contudo, há que ajudar as pessoas a perceber que elas têm direitos e devem lutar por eles e não esperar que alguém o faça por elas. RD: Na eventualidade de ser contactada pela LAMBDA para ajudar no processo de registo e oficialização, qual seria o posicionamento da Liga, instituição que a Dr.ª dirige? AM: A Liga sempre está disposta a ajudar quem quer que seja, os advogados da Liga estão tra-
balhando para que os casos de violação dos direitos humanos sejam trazidos a público para incutir na mente das pessoas que nada pode esbarrar o caminho em que se pretende percorrer e chegar de modo que as pessoas mudem de mentalidade, e nenhum motivo é digno de violência. RD: Para além destas questões que lhe colocamos, o que mais gostaria de dizer em torno da dificuldade que instituições do governo têm imposto para a não oficialização e funcionamento das organizações que defendem os direitos humanos? AM- Continuem a trabalhar e que cedo ou tarde a justiça virá, e que não se preocupem com a questão de registo mesmo que esta impeça muitas acções como a receptividade de fundos para garantir o funcionamento e cumprimento dos planos de actividade. Um dia os cidadãos deste país vão perceber que a orientação sexual não é doença, muito menos uma questão de escolha.
Primeiro estudo sobre vigilância epidemiológica entre os HSH está em curso no país desde Julho último Por: Redacção
Universidade da Califórnia em parceria com o Instituto Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, Centro de Controle de Doenças dos EUA, Population Services International (PSI), Pathfinder e LAMBDA O estudo, na sua forma mais breve, denominado por “Estudo sobre Saúde dos Homens”, está a O primeiro estudo sobre vigilância epidemiológica ser realizado em três capitais provinciais do país, nomeadamente e comportamental entre Homens que fazem Sexo Nampula, Beira e Cidade de Maputo. com Homens (HSH) em De acordo com os responMoçambique está em curso desde Julho corrente. sáveis do estudo, este pretende Este é levado a cabo pela contribuir para a produção de
LAMBDA prepara primeiro Workshop de pais de homossexuais na cidade de Maputo Por: Redacção
O Workshop visa essencialmente chamar à reflexão os progenitores e encarregados de educação para uma maior abertura e tolerância Elementos da LAMBDA em coordenação com pais de cidadãos homossexuais residentes nas cidades de Maputo e Matola sentaram-se à mesma mesa nos dias 12 e 13 de Julho do corrente com o objectivo de harmonizar e organizar o primeiro workshop que reunirá no mês de Setembro próximo em Maputo pais de cidadãos homossexuais. De acordo com os mentores da iniciativa, esta visa essencialmente chamar à reflexão os progenitores e encarregados de educação para uma maior abertura e tolerância no primeiro e mais importante espaço de socialização “a nossa casa”.Durante os dois dias do encontro os pais puderam esclarecer alguns “equívocos ou mitos” em relação
à homossexualidade, e dizem-se agora preparados para num futuro não distante levar a cabo a mobilização e sensibilização não só de outros pais de cidadãos homossexuais, mas também da sociedade em geral, para passarem a mensagem sobre os malefícios dos ambientes hostis que são criados em volta de ente queridos por causa da sua orientação sexual, “que não é uma escolha muito menos opção”, esclarece um dos participantes no encontro. No decorrer deste pré-ensaio para o primeiro workshop que reunirá a mesa na sua maioria pais de cidadãos homossexuais, foram discutidos com destaque assuntos associados aos Direitos Humanos, género e sexualidade.
evidências e conhecimento sobre a evolução da epidemia do HIV e das ITSs no país entre as populações chaves definidas no último Plano Estratégico Nacional (PENIII) do qual os HSH fazem parte. Espera-se que o estudo abranja cerca de 500 HSH, com a idade mínima de 18 anos. Por se tratar de um grupo social de difícil acesso e socialmente estigmatizado, os participantes serão "arrolados" através de uma técnica especial de amostragem por cadeia de referência. Segundo os investigadores, este método maximiza a representatividade da amostra enquanto salvaguarda a identidade dos potenciais participantes. Na fase inicial do estudo que decorreu de Março a Abril do corrente ano foram realizadas entrevistas com informantes-chave, discussões em grupos focais, mapeamento comunitário participativo de modo a se obter maior informação possível entre a comunidade sobre a melhor
forma de realizar este estudo. No mesmo período foram capacitados entrevistadores e pessoal médico para melhor atenderem os participantes. Recordar que no ano de 2009 foi realizado na cidade de Maputo, um estudo qualitativo sobre vulnerabilidade e risco de infecção sobre o HIV entre homens que fazem sexo com outros homens, o qual trouxe dados sobre os comportamentos de risco, busca de acesso a cuidados de saúde entre outros serviços. A LAMBDA insta a todos HSH, homens gays e bissexuais a participarem massivamente neste estudo. De igual forma exorta que sejamos vigilantes contra possíveis desinformações.
Noticias
Moçambique leva nota negativa no fórum Africano dos Direitos Humanos Por: Redacção
Decorreu na segunda quinzena do mês de Abril em Banjul capital da Gâmbia, um encontro do Fórum das Organizações Africanas dos Direitos Humanos, que precedeu a 49ª Sessão Ordinária da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, que teve como principal objectivo reflectir e avaliar o progresso no que tange os direitos e liberdades individuais de cada país membro. Participaram neste fórum ONGs de diversos países do continente africano com particular destaque para as moçambicanas nomeadamente LDH,CEMO,
AMMCJ,JUSPAZ e LAMBDA. Corlett Letlojane, activista do Instituto Sul-africano dos Direitos Humanos, falou em nome dos países da região Austral e censurou o governo Moçambicano pelo facto de não criar abertura para o reconhecimento dos Direitos das minorias sexuais criticando também o deficiente acesso aos anti-retrovirais. Entretanto, quem também se mostrou agastado como a posição do governo Moçambicano pela fraca abertura para que cida-
Lançado o segundo concurso de Monografias sobre homossexualidade em Moçambique Por: Redacção
A LAMBDA em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a População - UNFPA, lançou no pretérito dia 19 de agosto o segundo concurso de Monografias sobre Homossexualidade. Este visa essencialmente impulsionar e integrar a temática da homossexualidade no contexto da produção científica realizada pelas universidades com vista a ampliar o leque de evidências e de informação sobre este grupo social.
De salientar que a temática da homossexualidade, tem nos últimos tempos conquistando o interesse dos estudantes de algumas universidades da capital, interesse esse que fez com que no mês de Maio último se realizasse uma aula subordinada ao tema Homossexualidade e Identidade Gay na faculdade de letras e ciências sociais da UEM, ajudando assim a dissipar alguns equívocos em relação a temática junto da comunidade académica. O concurso está aberto até ao dia 31 de agosto e esperam-se candidaturas de estudantes/ grupo de indivíduos de qualquer Instituição do ensino superior a operar no país e que sejam de ambos os sexos. Visite o site www.lambda.org para saber mais.
dãos homossexuais exerçam e expressem a sua orientação sexual de forma livre foi Danilo da Silva coordenador e representante da LAMBDA em Banjul, este toma como exemplo o facto de até então o governo moçambicano não se ter dignado em reconhecer a associação LAMBDA que trabalha em prol dos direitos das minorias sexuais em Moçambique desde que remeteu o pedido de reconhecimento legal em 2008. A conferência que decorreu entre os dias 25 e 28 de Abril ficou marcada pela ausência do Governo Moçambicano.
Comunidade académica quer saber mais sobre a homossexualidade Nos últimos tempos tem-se verificado uma grande procura de materiais e informação relacionada a homossexualidade por parte de estudantes e docentes de algumas instituições de ensino superior na cidade de Maputo. Este é um sinal de que parte da academia começa a encarar o assunto da homossexualidade como um campo de estudo, promovendo desta forma o debate.
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portal da comunidade gls moçambicana
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Artigo
Como Sair do Armário!
Este texto foi adaptado com ajuda dos nossos colaboradores e publicado pela primeira vez no nosso jornal electrónico em 2007. Achamos pertinente voltar a publicá-lo agora em versão impressa.
tros esperam que eles ajam, para não serem ridicularizados, excluídos ou rejeitados pelos seus familiares, colegas, amigos e vizinhos. Alguns desses jovens crescem acreditando que, se se relacionarem com o sexo oposto e se casarem, os sentimentos e desejos homossexuais desaparecem. A realidade é que isso raramente acontece! O que acontece é que, à medida que os anos passam, o stress e a angústia de sentimentos e desejos reprimidos acumulam-se, com consequências traumáticas a nível psicológico e da vida familiar. Torna-se muito mais difícil ter que “sair do armário” quando já se é cônjuge ou pai ou mãe.
A decisão de “sair do armário”
Este artigo é escrito para homossexuais (gays e lésbicas) e bissexuais de todas as idades que estão a pensar em tomar a difícil decisão de “sair do armário”. “Sair do armário” é um processo de compreensão, aceitação e valorização da sua orientação sexual. “Sair do armário” inclui explorar a sua própria orientação sexual e depois partilhá-la com outras pessoas. Isso significa enfrentar as atitudes e reacções da sociedade em relação aos homossexuais e bissexuais, atitudes essas, geralmente baseadas no princípio de que todos são heterossexuais e por isso tratam de forma negativa o “ser diferente da norma”. Assim, criam-se os “armários” onde os homossexuais e bissexuais são levados a esconder a sua orientação sexual. O processo de “sair do armário” é um processo pessoal e diferentes pessoas fazem-no de forma diferente e em alturas diferentes. Algumas pessoas apercebem-se da sua orientação sexual bastante cedo na sua vida. Outras, só em fases mais avançadas da sua vida adulta. “Sair do armário” pode ser um processo longo e, algumas vezes, dura toda a vida!
Ninguém sabe ao certo porque uns seres humanos são homossexuais e outros heterossexuais. Há muitas teorias, que usam desde os argumentos genéticos até aos sociofamiliares. As evidências mais predominantes indicam que factores genéticos jogam um papel fundamental em determinar a nossa sexualidade (orientação sexual), da mesma forma que são fundamentais em determinar se somos canhotos ou albinos. O que nós sabemos é que ninguém escolhe a sua sexualidade!
Crescendo homossexual ou bissexual Para muitos jovens homossexuais e bissexuais, a adolescência é uma fase de ansiedade e medo. Não se divulgam modelos positivos de homossexualidade e há muita hostilidade social contra os homossexuais assumidos. Os jovens homossexuais e bissexuais cedo apercebem-se que não são como a maioria dos jovens à sua volta e, por isso, tornam-se fechados e tristes, muitas vezes convencidos de que são anormais e os únicos nessa situação. Aprendem a esconder os seus sentimentos verdadeiros e a agir como os ou-
Porque é que eu quero “sair do armário”? Esta é a questão mais importante que tens de fazer a ti próprio! Se a tua resposta for: "Porque não tenho vergonha do que sou”, ou "É impossível ser uma pessoa feliz e realizada se continuar a reprimir e esconder a minha sexualidade”, ou "Quero ter a possibilidade de conhecer e conviver com outros homossexuais”, então vais “sair do armário” pelas razões certas. No entanto, se o teu objectivo for o de magoar ou chocar as pessoas, pensa duas vezes, porque tu é que vais acabar por sair magoado! Há muitas maneiras de dizer a outra pessoa que és homossexual ou bissexual. Podes escolher um amigo, um membro da tua família que tu achas que vai entender-te melhor, ou um outro homossexual. Mas a primeira pessoa a quem tu tens que ter a coragem de dizer que gostas de pessoas do mesmo sexo e que não há nada de errado com isso é a ti próprio!
“Sair do armário” para ti próprio Os primeiros passos para “saíres do armário” são reconhecer a tua própria orientação sexual e esforçar-te para tu próprio a aceitares! Muitos de nós julgamos que esses sentimentos e desejos “estranhos”
são apenas uma “fase” e que eventualmente passarão. No entanto, com o tempo, verificamos que não se trata de “fase” nenhuma e que eles estão connosco para ficar e por isso temos que encontrar uma forma de aceitar e gerir o facto de gostarmos de pessoas do mesmo sexo! Alguns descrevem este período de descoberta como um turbilhão emocional. Um dia achamos que temos a coragem de dizer a todo o mundo o que sentimos; no dia seguinte estamos confusos, com medo e aliviados por não termos contado a ninguém! Nesta fase, ajuda ter alguém que já tenha passado pelo mesmo e com quem possamos conversar abertamente! Também é importante entender a orientação sexual como uma linha contínua em que, num extremo, encontramos as pessoas que se sentem atraídas exclusivamente por pessoas do sexo oposto (heterossexualidade), e no outro extremo, encontramos as pessoas que se sentem atraídas exclusivamente por pessoas do mesmo sexo (homossexualidade). Entre esses dois extremos, encontramos as mais variadas formas de bissexualidade. O processo de reconhecer a tua orientação sexual, seja ela qual for, começa por saberes determinar em que ponto dessa linha contínua se encontra a tua sexualidade. Aqui, “sair do armário” trata-se, sobretudo, de um processo de auto-análise e de auto-aceitação! Para tal, tenta pensar em todas as pessoas homossexuais e bissexuais que contribuem para o bem da sociedade nos seus países, nas mais diversas áreas, desde a cultura e o desporto até à política e à ciência. Isto não significa fechar os olhos aos preconceitos, discriminação e mitos negativos que existem na sociedade em relação a pessoas como tu. No entanto, deves olhar para esses factores negativos como um problema de falta de conhecimento por parte da sociedade e não como um reflexo da tua identidade ou orientação sexual! Há muitas coisas a considerar quando se pensa em “sair do ar-
Artigo mário”. Deves, acima de tudo, pensar nos resultados positivos da tua decisão: maior auto-estima, mais honestidade na tua vida, para ti próprio e para os que te rodeiam, e um sentimento mais forte de integridade pessoal. Há também um respirar de alívio e um baixar de tensão ao deixarmos de tentar esconder ou negar uma parte tão importante da nossa vida! “Sair do armário” leva-te a uma maior liberdade de auto-expressão, um sentimento positivo em relação a ti próprio e a relações mais honestas e saudáveis com os que te rodeiam e que são importantes para ti!
“Sair do armário” para outros homossexuais ou e bissexuais Muitas vezes, depois de passares pelo processo de auto-análise e de auto-aceitação, sentes a necessidade de revelares a tua orientação sexual a outras pessoas. Normalmente é aconselhável abrires-te primeiro com aqueles que, à partida, vão entender-te e apoiar-te: outros homossexuais ou bissexuais. Muitos deles já passaram por esse processo e a troca de experiências sobre “sair do armário” e ser homossexual pode ajudar-te a evitar erros e a combateres sentimentos de isolamento, anormalidade e vergonha. No entanto, podes não conhecer nenhum homossexual ou não te sentires à vontade para te abrires com alguém com quem não tens confiança ou intimidade. Por isso, muitos homossexuais preferem abrir-se primeiro com um heterossexual amigo, colega ou familiar.
“Sair do armário” para os heterossexuais Este é, possivelmente, o passo mais difícil no processo de “sair do armário”, porque é aqui que é mais provável encontrares consequências negativas, como a incompreensão e a rejeição. Por isso, é aconselhável enfrentar este passo de olhos e coração abertos. Tens que compreender que muitos heterossexuais vão ficar chocados ou confusos com a tua afirmação de que és homossexual ou bissexual e vão precisar de algum tempo para “digerirem” essa
informação e habituarem-se a esse facto. Muitas pessoas também não têm informação suficiente sobre o que realmente significa ser homossexual ou bissexual e essa falta de conhecimento influencia a sua reacção. “Sair do armário” pode ser uma experiência mais positiva se tu estiveres seguro da tua sexualidade e sentires menos necessidade da aprovação dos outros em termos da tua auto-estima. Por isso, não é aconselhável “saíres do armário” num momento de dúvida ou de fraqueza emocional. Se decidiste dizer à tua família, talvez seja melhor falar primeiro com a tua mãe (a experiência mostra que as mães são, normalmente, mais abertas e receptivas) e, se a sua reacção for positiva, pedir-lhe que te ajude a abordar o assunto com o teu pai. Muitas vezes, os irmãos são um bom ponto de partida porque, por serem jovens, poderão entender melhor a homossexualidade e a bissexualidade. Não existe uma regra única sobre a melhor forma de comunicar à tua família que és homossexual ou bissexual. Se vives longe da tua família ou se tens motivos fortes de esperar dela uma reacção muito hostil ou negativa, talvez seja melhor escreveres primeiro uma carta. Escrever uma carta ajuda-te a compor as tuas ideias e a escolher cuidadosamente a linguagem a usar e também dá tempo à tua família de reflectir e “arrefecer” antes de um encontro cara-a-cara. Se decidires abordar o assunto cara-a-cara, nunca o faças de forma apressada ou no meio de uma ocasião inapropriada. Deves sempre explicar o processo de auto-análise e auto-aceitação por que passaste, não deves esconder os teus receios de ser rejeitado por eles e sê claro que a tua intenção não é magoá-los, mas sim ser honesto para contigo próprio e para com eles. Escuta sempre com atenção o que eles tiverem para te dizer – mesmo que seja doloroso – afinal trata-se de uma conversa e não de um discurso da tua parte! Há várias reacções típicas que os pais têm, quando um filho ou filha lhes revela que é homossexual ou bissexual: "Tens a certeza? Como podes ter a certeza que não
é uma coisa passageira?", "Ainda és muito jovem. Isso há-de passar-te!", "Tens que andar com mais raparigas (ou rapazes)!" É útil antecipares que tipo de perguntas os teus pais poderão colocar-te e preparares calmamente as respostas mais adequadas. Evita dar respostas conflituosas. Tenta educá-los de forma positiva e construtiva sobre a sexualidade. Mas, para tal, tens primeiro que te educar a ti próprio!
E agora…? OK, já “saíste do armário”! Normalmente, ou te sentes à beira de um precipício, ou sentes vontade de dançar e pular, dependendo das reacções que encontraste! A maior parte das pessoas que “saiu do armário” descreve uma sensação de euforia e de ter tirado um peso enorme de cima de si! Seja qual for a reacção, nunca te sintas culpado! Não fizeste nada de errado! Lembra-te que a tua família e os teus amigos podem estar com medo que tu tenhas mudado radicalmente, que já não sejas a mesma pessoa. Deves usar todas as oportunidades para lhes assegurar que continuas a ser o mesmo e que, se mudaste foi para melhor e apenas para te sentires mais verdadeiro, completo e feliz. Muitas pessoas encontram reacções bem positivas: "Estamos muito satisfeitos por teres tido a coragem de nos dizeres" ou "Há muito tempo que suspeitávamos e só estávamos à espera que nos confirmasses". Inclusivamente, alguns homossexuais tiveram a seguinte reacção da outra pessoa: "Eu também sou gay!". Noutros casos, os pais recusam-se a falar no assunto e fingem que a conversa nunca teve lugar. A melhor coisa a fazer é continuares a viver a tua vida normalmente. Um dia, eles próprios sentirão a necessidade de te falar de novo sobre o assunto. Mesmo que tenham reagido mal, não desesperes. É normal: tens que compreender que eles estão a passar por um conjunto de emoções difíceis como choque, dor, culpa, desilusão, sentimento de perda, etc. Mas o tempo acaba por curar tudo! Se a rejeição vier daqueles
que julgavas serem teus amigos, pergunta-te a ti mesmo se amigos verdadeiros se recusariam a compreender-te e apoiar-te num momento destes e se realmente precisas desse tipo de pessoas como teus amigos. Poderás encontrar também situações em que não há rejeição, mas também não há aceitação completa. São aqueles casos em que a tua família diz aceitar-te como gay, mas não aceitam que tenhas um parceiro ou que apareças com o teu namorado em casa deles. Ou casos em que toda a família sabe que és lésbica, mas continuam a perguntar pelo namorado ou querem saber quando vais casar-te (com um homem) e ter filhos. Aconteça o que acontecer, nunca te esqueças: não há nada de errado contigo, não fizeste nada de errado, o melhor caminho é sempre para a frente. Família é família e é rara a família que rejeita totalmente e para sempre um membro seu por ser homossexual! Depois, chega uma altura em que é tempo de parar de falar e de passar a viver a (nova) vida como sempre sonhaste e desejaste, explorando a tua sexualidade de forma segura e confiante! Lembra-te sempre que, apesar dos estereótipos, não há uma forma única de ser homossexual ou bissexual. Deves viver e expressar a tua sexualidade da forma que melhor entenderes e que mais se adequar à tua personalidade e aos teus objectivos e valores de vida. Pensa positivamente e parte do princípio que esta rejeição inicial pode vir a inverter-se quando a outra pessoa se habituar à ideia de que tu és homossexual ou bissexual. Se essa pessoa não mudar com o tempo, é altura de reavaliares a tua relação com essa pessoa e decidires se ela é realmente importante para ti. Lembra-te sempre que tu tens o direito de ser quem tu és e tens o direito de o dar a conhecer e de ser aberto sobre todos os aspectos da tua identidade como pessoa, incluindo a tua orientação sexual, e em caso algum a rejeição por parte de uma outra pessoa significa que tu não tens valor! Esperamos que este artigo te ajude a tomar as tuas decisões.
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Mundo
Senegal: Estudo revela que mídia africana é usada para promover preconceito contra LGBTs Por: Redacção
O ESTUDO RECOMENDA DEBATES SOBRE A RESPONSABILIDADE DA MÍDIA QUANDO SE TRATA DA CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA SOCIAL DA HOMOSSEXUALIDADE
Organizações LGBT quenianas promovem campanha para combater a fome no corno de África Por: Redacção
Um grupo de organizações LGBT do Quénia enviou um apelo aos membros da comunidade para apoiarem aqueles que precisam urgentemente de ajuda alimentar. Este apelo vem numa tentativa de apoiar no combate à situação de fome que atingiu o corno do continente afectando a parte norte oriental do Quénia, bem como partes da Etiópia e da Somália. A GALCK, não vem duplicar o esforço que é assumido por outros (Safaricom Foundation, Banco Comercial do Quénia e propriedade da midia) que são administradas pela Cruz Vermelha do Quénia. “Apenas solicitamos a nossa comunidade LGBT, para contribuir e participar generosamente, sua contribuição vai constituir um importante apoio para os nossos irmãos que têm
passado por situações de aperto”, disse Eric Maqc Gitau, Director Geral da GALCK em um comunicado divulgado em redes sociais na primeira quinzena de Agosto. “É inaceitável continuarmos a ver essas imagens de pessoas emagrecendo e outros morrendo de fome. Nós acreditamos nos Direitos Humanos básicos para todos, incluindo o direito á alimentação, saúde e vida. Nós não podemos sentar e assistir quenianos morrer, temos de agir agora.”, rematou Gitau. A campanha foi de iniciativa da GALCK e todos os produtos angariados foram entregues à Cruz Vermelha do Quénia.
Um estudo recentemente divulgado pelo Intituto Panos da África Ocidental (PIWA) e a organização Aspectos Sociais do HIV/SIDA e Pesquisa em Saúde Alliance (Sahara) no Senegal constatou que questões LGBT são reportadas com violência legitimando assim mais violência contra os homossexuais. O estudo faz menção que a midia senegalesa ignora os princípios e regras relacionadas com a produção de informações confiáveis e que justificam a violência contra os homossexuais usando argumentos como “purificação do imoral, medo e auto-defesa”. PIWA acrescenta que os relatórios referentes a projectos como, a lei anti-homossexual no Uganda, ou, o uso da homossexualidade como arma de campanha nas eleições através do escalar
do discurso de ódio religioso no Malawi e Gana, mostram que os orgãos de comunicação são usados para promover o preconceito contra os homossexuais. Entretando, o estudo recomenda debates sobre a responsabilidade da midia na forma como trata a construção da historia social da homossexualidade no Senegal e na África como um todo. O que encorajaria, múltiplas visões sobre a religião e a homossexualidade, e questões como o HIV, Direitos Humanos, ou a discussão do ambiente jurídico em relação a homossexualidade. PIWA é uma organização não-governamental regional que contribui para a democratização e consolidação da comunicação social no espaço público para a criação de sociedades africanas abertas onde as opiniões dos cidadãos são ouvidas.
Mundo
Malawi: Activista pelos Direitos Humanos na clandestinidade por ameaças de morte e mandato de prisão Por: Redacção
de Direitos Humanos dedicada a atender necessidades, melhorando a vida e fornecendo suporte para alguns grupos negligenciados do Malawi. O presidente Bingu wa Mutharika foi veementemente condenado pela comunidade internacional pela sua resposta às manifestações inicialmente pacíficas, os EUA e Reino Unido suspenderam a ajuda ao país. Don Trapence, director executivo do Centro para o Desenvolvimento de Pessoas, uma das poucas organizações de Direitos Humanos no Malawi que trabalha com grupos vulneráveis foi forçado a passar à clandestinidade. Trapence é um dos oito activistas de Direitos Humanos no Malawi que passaram a ter que se esconder depois de ameaças de repressão feitas pelo presidente Bingo Wa Mutharika aos activistas que saíram às ruas durante protestos anti-governo no Malawi. Falando à BTM do seu esconderijo, Trapence disse: A maioria de nós, activistas, estão na clan-
destinidade devido ao facto de não sabermos o que realmente nos que vai acontecer com os mandatos de prisão”, acrescentando que, “tenho recebido ameaças de morte, mas acho que a questão aqui é que o governo não está a implementar as prisões por causa da pressão internacional e da sociedade civil, que ameaçou represálias caso haja informação da detenção de alguém”. Cerca de 708 organizações participaram nas manifestações cuja comissão organizadora foi chefiada por Trapence, motivo este que faz com o director seja o principal visado. “Mas para o resto de nós em CEDEP, a situação é normal”, disse Dunker Kamba administrador da CEDEP. CEDEP é uma organização
Para a nossa comunidade temos disponível à título gratuito... • Serviço de aconselhamento psicológico; • Serviço de aconselhamento e testagem voluntária (todas as sextas-feiras das 14hrs às 16hrs) • Aconselhamento e acompanhamento legal em casos de discriminação; • Materiais de protecção contra HIV/SIDA (Preservativos e gel lubrificante); • Centro de Documentação com material audiovisual na temática LGBTI; • Acesso à internet Para os serviços de aconselhamento (psicológico, legal ou saúde) marque pelo nº 21 304816 ou dirija-se às nossas instalações, sito na Av. Vladimir Lenine 1323, Maputo- Cidade
ROMÉNIA: Jovem suicida-se porque a mãe o acusou de ser gay O corpo do jovem foi encontrado enforcado em Arges numa floresta a cerca de 150km da capital, Bucareste. Junto ao corpo foi encontrado um bilhete em que dizia que se suicidava porque a mãe o tinha acusado de ser gay. A homossexualidade deixou de ser ilegal no antigo país soviético em 2002 mas ainda continua a haver muito preconceito relativamente aos LGBT neste país com forte presença da Igreja Ortodoxa.
França: Morreu Rudolf Brazda, o último sobrevivente dos “triângulo rosa”
Rudolf Brazda o último sobrevivente dos “triângulo rosa”, os homossexuais internados em campos de concentração durante a segunda guerra mundial, morreu aos 98 anos em Bantzenheim leste de França. Rudolf Brazda foi um dos autores do Itinerário de um “triângulo rosa”, no qual relembrou os 32 meses no campo de concentração, os trabalhos forçados, a presença da morte, as agressões e as humilhações. No campo de Buchenwald, do qual foi liberto em Abril de 1945, foi obrigado a usar um triângulo rosa, símbolo que estigmatizava os homossexuais.
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Opinião
Segundo Graça Samo
A impunidade perpetua a violação dos direitos das mulheres em Moçambique Por : Por: Redacção
Em entrevista exclusiva à Lambda, Graça Samo, coordenadora do Fórum Mulher Moçambique, afirma que a impunidade é o principal calcanhar de Aquiles para que haja o pleno exercício de cidadania na vertente dos direitos humanos, isto porque os prevaricadores não têm sido responsabilizados o que perpetua a ignorância sobre os direitos humanos no
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país. Os direitos das mulheres estão ainda longe de serem respeitados em Moçambique, as vitimas da violência têm ainda o rosto feminino, no entanto, temos o exemplo da mulher académica que luta para que a sua voz se faça ouvir, na esperança de um futuro onde os seus direitos sejam respeitados pela sociedade e garantidos pela
lei, como é o caso da “lei da violência contra a mulher”. Questionada sobre as suas expectativas em relação à recente iniciativa da criação da comissão nacional dos direitos humanos em Moçambique, esta disse que “este é um processo mais do que necessário no país, tomando em conta o índice de violação dos direitos humanos, em particular das mulheres que são agravados pela divulgação deficiente tornando este um assunto de domínio restrito à maioria da população”. Contudo, as expectativas são as melhores possíveis porque é um instrumento que vem para mudar e melhorar o cenário actual relativamente aos direitos humanos, ao seu ver, vem consciencializar e "empoderar" o cidadão, em particular a mulher principal vítima na luta pela ascensão e acesso aos mecanismos de justiça. Em relação às políticas que o Fórum mulher tem adoptado para reduzir o preconceito contra as mulheres lésbicas, Graça Samo não faz rodeios e assume que o Fórum mulher, neste momento, não tem nenhuma política que visa proteger este grupo social. Entretanto, mostrou abertura para o diálogo com as associações que trabalhem sobre esta matéria, porque o Fórum trabalha na vertente dos direitos humanos e não ex-
clui nenhum segmento da sociedade em particular quando o assunto são as mulheres. Aproveitando a entrevista, Graça Samo deixou ficar uma mensagem para as mulheres lésbicas de Moçambique dizendo “é importante que estas se ergam e não esperem que alguém senão elas próprias lute pelos seus direitos, porque as sociedades no seu todo sempre discriminaram as mulheres, daí que não se mantenham ocultas devendo lutar pelo direito de exercício de uma cidadania livre do preconceito baseada na orientação sexual”. Em relação aos próximos 5 anos Graça Samo diz antever um futuro auspicioso para a organização que coordena, não só pelo facto de congregar um conjunto que ascende a 80 organizações com diferentes sensibilidades, mas ainda por considerar o Fórum um espaço que reflecte e discute os problemas da mulher moçambicana numa vertente inclusiva abraçando os direitos humanos como “slogan”. O Fórum Mulher é uma organização Moçambicana, constituída em 1993, contando no momento com mais de 80 membros filiados e envolvidos na luta pelos direitos humanos com principal enfoque para os Direitos das mulheres e tem como coordenadora Graça Samo.
Opinião
A minha história por: Denny
Diferentes somos todos por: Marita Ferreira (a.k.a. Tangas)
O que é que os lgbt têm de diferente das outras pessoas? Com toda a sinceridade, absolutamente nada. Ser diferente é normal, porque não há ninguém igual. Cada pessoa é única à sua maneira e mal nenhum veio alguma vez ao mundo por isso. Acontece que chega a discriminação e a diferença vira pecado (mortal, se possível). Ora, a discriminação é, muito simplesmente, abuso de poder. Sempre que alguém acha que pode abusar de outra pessoa, aponta-lhe o dedo e descobre uma diferença: não é da mesma terra, do mesmo país, da mesma etnia, do mesmo sexo. E que importa isso? Não é isso que está mal ou na razão dadiscriminação. É sempre qualquer outra coisa que está mascarada e é o verdadeiro motivo. Os motivos da discriminação são os de todos os conflitos ao cimo da Terra: poder, económicos (oupoder), políticos (ou poder) e sociais (ou poder). É sempre uma questão de mais poder e mais abuso do mesmo. O medo que vem de trás Portanto, em boa verdade, quando há que procurar as razões da homofobia, há que descobrir os jogos de poder a ela associados. Que ameaça representa um homossexual, transgénero ou qualquer outra coisa para o resto da comunidade? Nenhum, de facto, porque em princípio os lgbt estão muito bem integrados na sociedade e desejam e temem as mesmas coisas que todas as outras pessoas. Mas há um medo generalizado dos indivíduos que 'fogem à norma', um medo entranhado que não éde hoje. É uma coisa que levou séculos a ser validada por um determinado tipo de interesses e que agora é tão automático como irracional. Na verdade, antes dos deuses únicos e dos monoteístas, as sociedades não
se preocupavam tanto com as práticas sexuais dos seus indivíduos. Nem os seus profetas originais faziam questão de abordar essas temáticas, porque não constituiam um verdadeiro problema. A coisa surge nas vagas seguintes de profetas e arautos da verdade única. Nessa altura o interesse dos homens de lei, divina ou humana, era outro. Era o de favorecer os senhores, os poderosos, que nas suas terras eram donos de coisas e gente. E quanto mais gente, mais ricos eram e mais poderosos se tornavam. Não havia, pois, que encorajar comportamentos que não gerassem mais filhos, mais servos ou mais escravos, mais mão-de-obra para engrossar a produção e o poder. Esta desaprovação de acriz económico fez caminho até à abominação total, uma espécie de superstição generalizada em relação às pessoas de comportamento sexual que não se destinasse pura e simplesmente à procriação. Não cumprindo a sua função, de fornecer mais escravos e servos, tinham tanta serventia para os senhores e poderosos como um animal velho e improdutivo. E por que não demonizá-los e aproveitar a sua diferença para manter a população aterrorizada com possessões e outras aberrações? Dar mais poder aos já poderosos? É importante fazer entender isto em casa, às famílias, e na rua, aos amigos e conhecidos. É urgenteensiná-los a pensar por si e não pelo medo que nem sabem de onde vem. É preciso que toda a gente perceba que o medo da diferença é, afinal, a propaganda da perpetuação da escravatura e do abuso de poder. Nada mais. Acham que, depois de percebido isto alguém discriminar outra pessoa com base na orientação sexual? Só se for muito mal intencionado...
Sou o Deny, tenho 33 anos de idade e estou no 1º ano da faculdade. Gosto de divertir-me como todos os outros jovens. Sou amigo dos meus amigos. Nos tempos livres gosto de conversar com amigos, passear, ler, investigar mais sobre a minha orientação sexual. Passo a relatar um trecho da minha história. Durante a infância, quando vivi com a minha avó materna gostava de brincar com meninas e não entendia nenhum mal nesse hábito. Depois da sua morte passei a viver com os meus país e a minha vida se torna um grande inferno, porque, eu sendo o único rapaz e não tendo hábitos masculinos passei muitas dificuldades para me integrar no meio social em que estava. Decidi fugir dos problemas indo para o seminário, onde pensava em ser padre. Aqui conheci a história de um amigo e colega do seminário que disse-me que gostava de homens, só que eu não entendia nada disso. Mas com o tempo fui tentando entender o que se estava a passar comigo, acabei tendo um relacionamento com ele por um tempo. Mais tarde vim a conhecer o grande amor da minha vida, que era um angolano, e com quem fiquei junto um ano e meio, mas, tivemos de nos separar porque ele teve de voltar para o seu país. Ai começou de novo o meu inferno, estava sozinho. Em 2007 fui à minha primeira festa gay onde conheci amigos que tinham a mesma orientação que eu. Hoje, passados três anos, sou capaz de dizer que consegui vencer muita coisa, graças a este grupo de amigos que foram, e continuam a ser a minha principal inspiração e apoio, e me ajudaram a vencer dificuldades e inquietações com que que vivi durante anos. Tenho orgulho em dizer que sou homossexual e hoje estou numa linda relação e sinto-me a pessoa mais amada do mundo, deixo um conselho para todos que ainda vivem em conflitos com a sua orientação sexual, procurem a LAMBDA que ajudará muitos nessa decisão. Contudo, a minha maior dificuldade continua a ser assumir-me diante da minha família, mas estou a lutar para que também consiga vencer esse obstáculo que atravessa a minha vida. Junta-te a mim que sou igual a ti e não fujas da tua própria orientação sexual que é igual a minha, juntos podemos vencer as barreiras que nos impede de viver a nossa vida do nosso jeito.
Caro amigo e leitor, Partilhe este jornal entre os seus amigos e familiares, ajude a educar as outras pessoas à cerda da orientação sexual. Juntos estaremos combatendo o estigma e o preconceito contra as pessoas LGBT.
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Somos A Associação Moçambicana de Defesa das Minorias Sexuais, LAMBDA, é um Movimento de mulheres e homens moçambicanos que lutam pelo reconhecimento dos seus direitos civis. Visão: Uma sociedade onde as pessoas expressam livremente a sua orientação sexual e identidade de género e são reconhecidas pelo estado, respeitadas pelos cidadãos e protegidas por lei. Missão: Influenciar o ambiente envolvente tornando o favorável à livre expressão da orientação sexual e identidade de género através da promoção dos direitos sociais, políticos e económicos dos cidadãos LGBTI
Av. Vladimir Lenine 1323, telfax: 21 30 48 16, Cell: 84 38 92 967 , email: lambda@lambda.org.mz Maputo, Moçambique