Revista Tutores nº 11

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Revista ANO 05 | Nº 11 | R$ 9,00 | 2º SEMESTRE 2018 | ISSN 2317-7667 WWW.REVISTATUTORES.COM.BR

PARCERIA:

PROFISSÃO YOUTUBER

Quem são os heróis da nova geração e como os pais devem lidar com isso?

DESAFIOS DO CÉREBRO

Professor da Unicamp explica como as neurociências ajudam na aprendizagem

DÉFICIT OU DEDUÇÃO?

Tem sido comum apontar crianças da geração Alpha como portadoras de déficit de atenção e hiperatividade. Mas será mesmo que elas, absorvidas diariamente pelo mundo virtual, vêm sendo estimuladas corretamente no mundo real?


Dificuldades com os estudos? Nós podemos ajudar!

O que oferecemos Avaliação gratuita do estudante Aulas de todas as disciplinas Aulas na residência ou outro local Garantia de uma operação de franquia Melhor custo benefício do mercado Ensino de técnicas de estudo

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Tutores altamente qualificados Equipe multiprofissional (psicóloga, psicopedagoga, fonoaudióloga e outros) Atendimento para todas as idades

Sem repetições exaustivas de exercícios

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Revista

SUMÁRIO COM A PALAVRA

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Você já se sentiu inadequado, mal interpretado e incompreendido? A psicóloga Adriana Vazzoler-Mendonça explica esse sentimento e como lidar com ele.

A Revista Tutores é uma publicação semestral produzida pela Ex-Libris Comunicação Integrada e distribuída e comercializada pela Editora Lamonica Conectada. Disponível nas nas versões impresso, web, smartphones e tablets EDITORA RESPONSÁVEL

ESPECIAL

Lamonica Conectada Rua Sabará, 566 – 1º andar – cj 12 CEP: 01239-010 – São Paulo – SP Tel.: 55 (11) 3256-4696

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Tem sido comum identificar crianças da geração Alpha como portadoras de déficit de atenção. Mas será mesmo que elas, absorvidas diariamente pelo mundo virtual, vêm sendo estimuladas corretamente no mundo real?

Publisher José Lamônica lamonica@editoralamonica.com.br PRODUÇÃO

Ex-Libris Comunicação Integrada Av. Paulista, 509 – 6º andar – cj 602 CEP: 01311-000 – São Paulo – SP Tel: 55 (11) 3266-6088

NA LOUSA

Editora Andréa Cordioli (MTb: 31.865) andrea@libris.com.br andrea@editoralamonica.com.br

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Texto Silvia Lakatos Diagramação Adriana Antico Comercial Thais Andrade thais@editoralamonica.com.br Bruna Ribeiro bruna@editoralamonica.com.br Luzia Rodrigues luzia@editoralamonica.com.br Mislene Guedes mislene@editoralamonica.com.br

NOTA MÁXIMA

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As franqueadas da Tutores Adrinne Uchôa e Adriana Barbeiro falam sobre os seus trabalhos apresentados no NeuroEdu2018.

Logística e Mercado Thais Guardacioni thaisg@editoralamonica.com.br Mônica Cavalcante monica@editoralamonica.com.br

Administração e Financeiro Silvia Medeiros silvia@editoralamonica.com.br Plataforma digital issuu.com/lamonicaconectada Impressão Forma Certa

Fotos: Divulgação

Mailing Tatiane Brito tatiane@editoralamonica.com.br

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Professor titular de Neurologia da Unicamp, Dr. Li Li Min fala sobre o desenvolvimento do cérebro e aponta desafios que terão de ser enfrentados por pais e professores.

E MAIS: WWW.REVISTATUTORES.COM.BR

4 TiTiTi da Educação - 6 Sem TiTubear 19 Pais e Alunos - 24 Encontre a Tutores

Fotos: Divulgação

Cada vez mais, as crianças trocam livros por vídeos e televisão. Youtubers famosos têm prestado um desserviço na educação das crianças? Como os pais devem agir?

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i iti da Educação AUDIÊNCIAS PÚBLICAS DEBATEM A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR O Conselho Nacional de Educação (CNE) realiza uma série de audiências públicas em cinco regiões do País para apreciar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio, elaborada pelo Ministério da Educação.Durante as audiências, os mais diversos segmentos da sociedade terão oportunidade de oferecer suas contribuições para a BNCC do Ensino Médio, a exemplo do que já aconteceu no ano passado com a BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. As audiências não têm caráter deliberativo, mas são essenciais para que os membros do CNE possam elaborar um documento normativo que reflita as necessidades, os interesses, a diversidade e a pluralidade do panorama educacional brasileiro. A partir da homologação, o documento passa a fazer parte da BNCC da Educação Básica, juntando-se à BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, já homologada pelo Ministro de Estado da Educação.

AVALIAÇÕES PADRONIZADAS VÃO MUDAR

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outras avaliações padronizadas vão mudar. E a mudança se dará devido à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A análise foi feita por Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) durante a Bett Educar 2018, maior evento de educação e tecnologia da América Latina, realizado de 8 a 11 de maio em São Paulo. Em palestra no Fórum de Gestores, Maria Inês Fini falou sobre a importância de o setor educacional se preparar para os novos exames. “Olhem para as competências de área. É ali que estamos buscando a inspiração para nossa matriz de avaliação”, disse. Destacando que as mudanças serão positivas para o Brasil, ela afirmou que o currículo deveria nortear a avaliação e argumentou que “é maldoso” concluir que o vestibular mande no Ensino Médio.

DINHEIRO PARA TRANSPORTE E ALIMENTAÇÃO DOS ALUNOS

O novo secretário estadual da Educação de São Paulo, João Cury Neto, avalia a possibilidade de transferir aos pais a responsabilidade pelo transporte e alimentação dos filhos na escola. Para isso, Cury pretende dar dinheiro para as famílias escolherem o transporte escolar e a merenda de seus filhos. O secretário afirma que, em vez do voucher entregue hoje, o novo sistema daria aos pais que quiserem levar as crianças a pé, por exemplo, a possibilidade de usar o dinheiro em outras necessidades. Outra ideia do secretário é repassar dinheiro para os grêmios estudantis usarem em pequenas reformas nas escolas. Segundo ele, os próprios alunos decidiriam onde aplicar a verba.

HÁBITO DE LEITURA ESTIMULA INTELECTO

Mais do que uma forma de adquirir conhecimento, o hábito da leitura estimula o desenvolvimento do intelecto. Além de incentivar o bom funcionamento da memória e aprimorar a capacidade interpretativa, a leitura melhora o aprendizado, uma vez que mantém o raciocínio ativo. A criança geralmente é um espelho dos pais, por isso é importante que o exemplo venha deles. Os pais devem ler para os filhos desde pequenos, mostrando como a leitura pode ser um hábito divertido. E é um engano depreciar a leitura de revistas, sites, gibis, livros de romance. Ao contrário de um livro técnico, que oferece conhecimentos específicos, a leitura de variedades estimula o raciocínio e melhora o vocabulário.

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FEIRA DE CIÊNCIAS DAS ESCOLAS ESTADUAIS

As inscrições para a 6ª edição da Feira de Ciências das Escolas Estaduais de São Paulo (FeCEESP) já estão abertas e vão até 17 de agosto. A competição se destina aos alunos do Ensino Fundamental e Médio. A competição é dividida em duas categorias: ciências da natureza e ciências humanas. A proposta é incentivar a pesquisa e a elaboração de projetos em ciências da natureza, tecnologia, empreendedorismo e extensão social, de acordo com a etapa/série e o nível de aprendizagem. A feira promove a pré-iniciação científica nas escolas públicas em todo o Estado de São Paulo.

APRENDER SEGUNDA LÍNGUA ESTIMULA O CÉREBRO

Em um mundo globalizado, ter fluência em inglês é muito importante. Mais que um degrau para o desenvolvimento dos filhos, estudar línguas desde cedo aumenta a facilidade com o aprendizado porque, nos primeiros anos de vida, o cérebro estabelece milhares de conexões neurológicas novas. O aprendizado de uma segunda língua estimula o cérebro das crianças, que está mais aberto a fazer sinapses, ligações e conexões. Ao associar as palavras da língua materna com as da língua estrangeira, o cérebro desenvolve essas conexões. PROBLEMAS NA AUDIÇÃO CAUSAM ATRASO NA FALA Pais e professores devem ficar atentos às dificuldades no desenvolvimento da fala nas crianças, que pode indicar problemas de audição. É importante perceber os sinais de atraso na fala nos dois primeiros anos de vida da criança, fase em que tem início o desenvolvimento da linguagem. O atraso da linguagem oral pode estar relacionado à surdez, defi-ciência mental, comprometimentos neurológicos ou outros fatores chamados de secundários. O transtorno é mais facilmente identificado pela família ou pelo médico, pois apresenta sinais claros; traços clínicos mais evidentes. Os fatores primários, mais difíceis de serem diagnosticados, são chamados de Alterações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem. Ocorrem, em geral, em crianças com resultados de exames normais, mas que não conseguem desenvolver a linguagem oral conforme o esperado. Esse distúrbio pode atingir entre 5% a 10% das crianças.

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Sem

i ubear

Você pergunta, a TUTORES responde Meu filho, de 12 anos, sempre fica muito chateado e demora para recuperar o bom humor quando perde uma competição ou não vai bem nas provas. Como devo agir nesses casos? J.M., 29 anos, Rio de Janeiro - RJ É bom quando os filhos se dedicam às suas atividades e é importante incentivá-los. No entanto, nesses momentos é essencial ajudá-los a perceber que a vida tem dias bons e dias ruins. E que nem sempre eles terão tudo o que desejam nem vão satisfazer todos os seus desejos. Em um mundo repleto de cobranças é importante que ele aprenda a lidar com as insatisfações. Elas ajudam os jovens a viver em um mundo tão permeado de cobranças para se atingir um “padrão de excelência.”

Minha filha de 15 anos, que cursa o 9º ano do Ensino Fundamental II, sempre adorou dançar e era tão dedicada! Mas, agora, quer desistir do balé. O que faço? M.A., 43 anos, São Paulo - SP A entrada na adolescência é uma fase muito difícil. É nessa etapa do desenvolvimento que o adolescente começa a construir a sua personalidade e isso demanda uma conciliação entre a realidade e seus próprios desejos. É uma fase que pode ser sofrida e demanda muito suporte dos pais. O mais importante nessa fase é os pais estarem perto e aguentarem a natural crise de identidade da menina. Assim como ela está desconstruindo sua identidade infantil para começar a se portar como adolescente, os pais também precisam analisar e reconstruir suas expectativas e desejos.

Meu filho de 10 anos passa muito tempo no notebook de uso comum que temos em casa. Agora, ele insiste em ganhar um tablet. Tenho receio de que ele fique ainda mais tempo conectado e relaxe nos estudos. O que faço? Devo comprar o tablet e impor algum limite? A.C, 40 anos, Curitiba - PR A socialização e a interação são muito importantes em todas as fases de nossa vida, mas principalmente na infância e pré-adolescência. Hoje, não é raro vermos toda uma família conectada à mesa do restaurante em vez de conversar. Muitos pais até usam os dispositivos para distrair os filhos no carro. No mundo atual, não se pode manter os filhos longe das novas tecnologias. O aconselhável é que haja limites. O excesso de horas de navegação na internet tira as crianças de seu elemento natural: brincar, interagir com amigos e adultos e usar brinquedos comuns, que não sejam digitais, e pode levar a problemas comportamentais e atraso no desenvolvimento social.

Quando sofre algum revés, minha filha fica emburrada e se tranca no quarto por um tempo que eu acho muito grande. Às vezes, ela passa o dia inteiro assim? Será que devo levá-la a um psicólogo? C.C., 35 anos, Belém - PA É importante que as crianças aprendam o valor das emoções e saibam reconhecer e diferenciar sentimentos, para que aprendam também a expressá-los e lidar com seus próprios sentimentos e com os dos outros. Antes de se pensar em um psicólogo, é importante que esse aprendizado seja estimulado pelos próprios pais. Ao lidarem com suas próprias emoções e frustrações, os pais ensinam uma inestimável lição aos filhos. Eles aprenderão que ninguém é perfeito. É fundamental que os pais mostrem às crianças o valor de esperar e que ninguém consegue tudo o que quer, quando quer, da maneira que quer. Se você tem alguma dúvida, crítica ou sugestão escreva para canaldoleitor@editoralamonica.com.br

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NEUROCIÊNCIA, A NOVA ALIADA DA

EDUCAÇÃO

Professor titular de Neurologia da Unicamp, o Dr. Li Li Min fala sobre o desenvolvimento do cérebro e aponta desafios que terão de ser enfrentados por pais e professores

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édico neurologista formado pela Universidade Federal do Paraná em 1989, PhD pela McGill University e livre-docente pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Dr. Li Li Min é um dos principais especialistas brasileiros em epilepsia, neuroimagem e neurofisiologia. Já publicou mais de 150 artigos sobre esses temas em revistas especializadas nacionais e internacionais, e em 2013 recebeu o título de Embaixador da Epilepsia da International League Against Epilepsy e do International Bureau for Epilepsy. Atualmente, concilia a posição de professor titular do Departamento de Neurologia da Unicamp – onde implantou, em 2006, um Programa de Atendimento ao Paciente com AVC e uma rede de alianças contra o acidente vascular cerebral na cidade de Campinas – com uma intensa atuação em campanhas regionais e internacionais voltadas a aumentar o conhecimento sobre a epilepsia, buscando combater, principalmente, os preconceitos e estigmas que as pessoas que têm essa doença neurológica ainda enfrentam na escola, no trabalho e na sociedade. É presidente-fundador da organização não-governamental de Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia (Aspe), que se dedica a executar, no Brasil, o Projeto Demonstrativo da Campanha Global contra a Epilepsia, da Organização Mundial de Saúde (OMS). Desempenha, ainda, os papéis de pesquisador e coordenador de Difusão no programa CInAPCe (Cooperação Interinstitucional de Apoio à Pesquisa sobre Cérebro) e do BRAINN (Brazilian Institute of Neuroscience

Dr. Li Li Min é professor titular de neurologia da Unicamp

and Neurotechnology), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A seguir, Li Li Min fala à Revista Tutores, a respeito do funcionamento do cérebro, das estruturas cognitivas que levam ao processo de aprendizagem e dos desafios colocados a pais e educadores. Afinal, o atual modelo de educação é suficiente para crianças e jovens desenvolverem seu potencial? Por favor, descreva, em linhas gerais, os eixos centrais do seu trabalho. Eu sou médico, neurocientista com especialização na área de epilepsia e suas consequências na vida do indivíduo. Em que medida a neurociência pode ser uma aliada da Educação? A neurociência pode ajudar a área de Educação a propiciar estratégias que favoreçam a aprendizagem. O primeiro ponto a ser considerado é o de que as pessoas não são iguais. Logo, cada criança, cada jovem – enfim, cada estudante –, é um ser singular, que tem o

seu próprio caminho a trilhar. Mas existem alguns padrões passíveis de generalização e capazes de favorecer o aprendizado. É nesse sentido que a neurociência pode ajudar, trazendo um olhar acerca de possíveis estratégias adjuvantes no processo de ensino-aprendizagem. É verdade que o cérebro continua em formação ao longo do tempo? Do nascimento aos 25 anos de idade, o cérebro está num processo intenso de maturação. Nesse período, ele tem muita plasticidade, ou seja, mais facilidade para absorver novos conhecimentos e novas habilidades. Essa é uma janela ímpar para que as estratégias de ensino sejam colocadas em prática, com foco no aluno. O que nós vemos hoje é que a escola adotou uma política de universalidade e a diver-

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sidade de funcionamento cerebral é muito mais ampla. Para atenderem a essa diversidade, as escolas precisam desenvolver caminhos e estratégias que lhes permitam estar mais próximas dos alunos, entendendo as suas necessidades e adaptando a “entrega da educação” mais adequada a cada indivíduo. Diferentes cérebros reagem de maneiras distintas frente aos estímulos e esse é o arcabouço número um do professor da era atual: dar instrumental para que os estudantes possam desenvolver suas habilidades executivas. Habilidades executivas? Sim. O que se espera da escola, da formação? Que prepare cidadãos aptos a desenvolverem um papel ativo na nossa sociedade. Isso inclui um amplo rol de capacidades, tais como: disciplina, autocontrole, planejamento, ser c a p a z de criar planos alternativos em situações de enfrentamento etc. Todas essas habilidades fazem parte de um pacote denominado “habilidades executivas”. As funções executivas são importantes na

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nossa vida diária. O indivíduo que não perde o autocontrole, que tem resiliência ante a adversidade, que planeja etc., navegará melhor pela sociedade do que aquele que simplesmente se descontrola, desiste, não tem foco. Vou exemplificar melhor: quase todo mundo aprendeu, na escola, a solucionar uma equação de segundo grau, mas são poucas as pessoas que ainda se lembram de todos os detalhes desse problema matemático. Isso ocorre porque, ao longo da vida, usamos mais as quatro operações

são desafiados a resolver problemas matemáticos mais complexos? Ora, o importante, quando se ensina a equação de segundo grau que eu mencionei, não é garantir que o estudante se lembrará daquela fórmula pelo resto da vida e, sim, assegurar-se de que a resolução desses problemas matemáticos mais difíceis o instrumentalizará para ter resiliência, porque ele precisará persistir na busca pelo resultado certo. Assegurar-se, portanto, de que ele ativará a sua capacidade criativa, sua memória, sua disciplina e sua atenção – uma vez que, desatento, não solucionará o problema.

Dr. Li Li Min

Em que situações o desenvolvimento cerebral é prejudicado? Em situações de estresse tóxico, isto é, quando a criança ou o jovem é negligenciado, está em situação de abandono, faz uso de drogras ou encontra-se em um ambiente permeado pela violência, seu desenvolvimento cerebral poderá ser prejudicado. Isso ocorre porque o chamado estresse tóxico ativa a chamada “rede de sobrevivência”, que sequestra o funcionamento cerebral para lidar com essas adversidades – isto é, para literalmente “sobreviver” – e não deixa espaço para o desenvolvimento da rede de habilidades executivas. Dentre esses fatores que realmente prejudicam o desenvolvimento das funções executivas, um que tem impacto muito grande é a negligência. E ela, infelizmente, está em todas as classes sociais.

básicas (soma, subtração, multiplicação e divisão), as frações e as porcentagens. Disso, ninguém esquece, porque está no dia a dia. Mas o que a criança e o jovem podem absorver quando, na escola,

De que tipo de negligência estamos falando? De todas as negligências possíveis. É muito comum vermos crianças “terceirizadas”, cujas famílias delegam à escola a função de

Esse é o arcabouço número um do professor da era atual: dar instrumental para que os estudantes possam desenvolver suas habilidades executivas


11 educá-las e desenvolvê-las. Esse é um tipo de negligência, pois, para uma criança, os pais representam um porto seguro e ela precisa sentir-se amparada para desenvolver suas funções cerebrais de uma maneira plena. Quais estímulos as famílias e as escolas podem buscar oferecer às crianças e aos jovens, de modo a dar-lhes elementos para que desenvolvam ao máximo suas potencialidades? Há evidências de que a atividade física é uma importante indutora de mudanças cerebrais e favorece a retenção de conhecimento. Também é fundamental ter momentos de lazer e de descanso: dormir é indispensável para a consolidação da memória. Em resumo, o desenvolvimento cerebral saudável requer amor, respeito, um ambiente seguro, no qual a criança possa se sentir amparada, e uma rotina que inclua descanso e práticas esportivas. Pais devem ter em mente que as crianças podem e devem ficar sem fazer nada. E isso não é jogar videogame, é deixar que a mente voe. Em que medida a sociedade moderna, com seus múltiplos aparelhos eletrônicos, cheios de sons, cores e possibilidades de interação, impacta o desenvolvimento cerebral e cognitivo das crianças?

O maior problema é quando toda a atenção da pessoa está voltada para o videogame, o tablet, o celular. A criança deve ser exposta a muitas outras atividades O maior problema é quando toda a atenção da pessoa está voltada para o videogame, o tablet, o celular. A criança deve ser exposta a muitas outras atividades, sua rede motora necessita de atividades físicas. Além disso, os desafios dos jogos de videogame podem desviar a criança do descanso e deixá-la em estresse tóxico. O sr. tem trabalhado bastante no campo da epilepsia. Por favor, comente os principais avanços em termos de trata-

mento e, também, de ganho de consciência por parte da sociedade, das escolas etc. Existe muito avanço médico-científico, mas há um descompasso na sociedade. Infelizmente, o estigma prevalece, alimentado por crendices e superstições. Há escolas que convidam os alunos com epilepsia a saírem e isso jamais poderia acontecer. As pessoas precisam começar a olhar para a epilepsia sob uma nova perspectiva. Grandes nomes da cultura e da História mundial, como Machado de Assis, Flaubert, Dostoiévski, Van Gogh, Alexandre, o Grande etc., sofreram de epilepsia e nos legaram grandes obras, grandes realizações. A doença não é um bicho de sete cabeças. Mudar a percepção acerca desse tema é um dos muitos desafios que temos pela frente.

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DOENÇA DA MODA OU PROBLEMA REAL? O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) existe, afeta o rendimento escolar e pode se prolongar pela vida adulta. Mas como fazer um diagnóstico seguro e não correr o risco de medicar uma criança desnecessariamente?

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uan, Sofia e Pedro Henrique não se conhecem, moram em cidades diferentes e, a não ser por esta reportagem, é provável que seus caminhos nunca se cruzem. Mas os três têm algo em comum: foram diagnosticados como portadores do Transtorno de Déficit de Atenção e

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Hiperatividade (TDAH). Os caminhos que os levaram aos consultórios de especialistas foram parecidos: desde cedo, manifestaram um comportamento agitado demais, e quando chegaram à idade escolar, não conseguiam finalizar tarefas e se concentrar. “Meu filho é inquieto desde bebê. Nunca foi fácil fazê-lo dormir, por

exemplo. Mas o diagnóstico foi fechado pelo neurologista aos oito anos e meio”, recorda a dona de casa Rogéria Cristiane Miranda Caetano, 49 anos, mãe de Pedro Henrique Caetano de Melo Barbosa, hoje com 14 anos. “O tratamento do TDAH não foi iniciado logo depois da confirmação, porque o médico preferiu tratar, antes,


Meu filho é inquieto desde bebê. Nunca foi fácil fazê-lo dormir, por exemplo. Mas o diagnóstico foi fechado pelo neurologista aos oito anos e meio Rogéria Cristiane Miranda Caetano, 49 anos e o filho Pedro Henrique Caetano de Melo Barbosa, 14 anos

Levei meu filho a neurologistas, psiquiatras, psicólogos... Na verdade, ele faz terapia até hoje Fabiana Monteiro de Freitas França, 40 anos, mãe de Juan Monteiro de Freitas França, 11 anos

sendo mais benéficos a ele que qualquer remédio”, acrescenta. “O TDAH tem dois polos: a hiperatividade e a falta de atenção. Mas o grau de desatenção e de hiperatividade varia muito de um paciente para outro”, explica Lilian Graziano, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora do IPPC Brasil (Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento). “Os mais fáceis de identificar são os super agitados, que manifestam esse comportamento bem cedo. Aqueles que pendem mais para a desatenção podem demorar anos para serem diagnosticados, porque suas dificuldades só se manifestarão nos estudos”, observa. Esse foi o caso de Sofia de Oliveira Freitas Bento Pinto, 7 anos: “Ela sempre foi quieta, até tímida. Mas parecia estar sempre dispersa. Foto: Arquivo Pessoal

um foco de epilepsia presente no lobo temporal esquerdo do meu filho. O Pedro sempre foi inteligente, aprendia tudo com rapidez, mas era agitado demais, não parava quieto na sala de aula. Quando finalmente começamos a ministrar a Ritalina (nome comercial mais famoso do medicamento à base de Cloridrato de Metilfenidato, a droga mais usada no combate ao TDAH), ele apresentou uma mudança incrível e passou a focar mais nos estudos”, relata Rogéria. Mas a Ritalina ou outra droga – como a Lisdexanfetamina, princípio ativo do Venvanse – estão longe de ser a “salvação da lavoura” em todos os casos. A estagiária de Direito Fabiana Monteiro de Freitas França, 40 anos, mãe de Juan Monteiro de Freitas França, 11, conta que o filho, diagnosticado com TDAH aos seis anos, não se deu bem com a medicação: “Ele ficava com muito sono e irritava-se mais ainda”, comenta. “Levei meu filho a neurologistas, psiquiatras, psicólogos... Na verdade, ele faz terapia até hoje. Mas foi no grupo de jovens da Igreja que ele encontrou um acolhimento e pareceu acalmar-se”, relata Fabiana. “Seu jeito agitado fazia com que os colegas de escola se afastassem dele, mas o companheirismo e a aceitação de outras crianças e adolescentes estão

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Demorava demais para fazer as atividades e, quando eu ia à escola para conversar, me diziam que minha filha era preguiçosa e cansada, que precisava dormir mais”, lembra-se a advogada e empresária Priscilla de Oliveira Cunha Freitas Bento Pinto, 36 anos. “Aos cinco anos, a Sofia começou a sofrer bullying, e eu decidi trocar de escola. Um mês depois da mudança, percebi que ela estava com as mesmas dificuldades de antes e, então, fui em busca de ajuda. Marquei um neurologista que, após uma consulta que durou três horas e envolveu a aplicação de vários testes, me deu o diagnóstico de TDAH. Ele deixou claro, porém, que o caso da Sofia se resume ao déficit de atenção, sem a hiperatividade”, completa Priscilla. “Hoje, a Sofia faz acompanhamento com psicóloga particular uma vez por semana e com o piscólogo da escola, também uma vez por semana. Além disso, ela toma 10mg de Ritalina meia hora antes da aula. Os resultados têm sido excelentes”. EXCESSO DE DIAGNÓSTICOS? O site do Ministério da Saúde informa que de 3% a 6% da população mundial sofrem com TDAH, enquanto o site oficial da Associação Brasileira do Déficit de Atenção estima que esse número é maior ainda: 8%. Mas pode estar havendo um excesso de diagnósticos de TDAH? Não será possível

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O TDAH tem dois polos: a hiperatividade e a falta de atenção. Mas o grau de desatenção e de hiperatividade varia muito de um paciente para outro

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os critérios para se diagnosticar o TDAH estão reunidos na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-V), que é expedido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) (veja box). “O diagnóstico preciso do transtorno é premissa fundamental para o uso da medicação. Usar remédios sem indicação segura pode acarretar efeitos colaterais e riscos para a saúde”, alerta a neuropediatra. Além disso, completa a especialista, o tratamento para o TDAH é multidisciplinar. Pode incluir acompanhamento de psicologia, psicopedagogia, fonoaudiologia, esportes, reeducação familiar etc. “Não é conveniente apegar-se somente ao uso do fármaco”, afirma.

Lilian Graziano, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP)

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que possam confirmá-lo de maneira definitiva, o TDAH é confirmado a partir de uma anamnese completa, ou seja, de conversas com o paciente e os responsáveis por ele”, esclarece Daniela Barbieri Bariani, neuropediatra responsável pelo Centro de Desenvolvimento, Aprendizado e Comportamento do Hospital Infantil Sabará, de São Paulo. “Além disso, é possível que o especialista solicite exames para descartar outras questões que também possam impactar o aprendizado e o comportamento do menor, tais como ressonância craniana, avaliação auditiva e oftalmológica, exames de sangue para verificar anemia, eventuais problemas de tireoide etc”, informa a médica. Daniela ressalta, ainda, que

VIDA ADULTA Um fato que tanto a médica Daniela quanto a psicóloga Lilian fazem questão de ressaltar é que o TDAH nem sempre desaparece sozinho. “Em 50% dos pacientes, o problema persiste na vida adulta”, avisa a neutopediatra. E, muitas vezes, a falta do diagnóstico na infância pode afetar o futuro dessa pessoa: “Tive uma paciente que sofria verdadeira humilhação em seu emprego, com um chefe que a acusava de ser desleixada e desatenta. Rea-

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que pais e professores, sem saberem lidar com crianças de comportamento menos dócil, estejam classificando doença algo que seria absolutamente normal? “A busca da sociedade por explicações e diagnósticos que justifiquem as dificuldades escolares e de comportamento das crianças e jovens, associada ao aumento da medicalização para solucionar os problemas sociais está fazendo crescer o número de diagnóstico de transtornos mentais de um modo geral e o TDAH vem acompanhando esse movimento”, alerta Simone Marangoni, especialista em Neuropsicologia Funcional e diretora Executiva do Instituto de Neuropsicologia Simone Marangoni (ISIM). “Muitas crianças e adultos, por exigências sociais, têm apresentado os sintomas de ansiedade, agitação, impulsividade, dificuldades ao planejar e executar as ações programadas no dia, mas não possuem o transtorno e, estão sendo tratadas como se o tivessem. Por isso é tão importante ter critérios rigorosos na busca pelo diagnóstico e avaliar, caso a caso, se existe mesmo a necessidade de entrar com medicação”, ela recomenda. De fato, um dos desafios de médicos e psicólogos que lidam com TDAH consiste em fechar um diagnóstico. “Sem exames clínicos

Ela sempre foi quieta, até tímida. Mas parecia estar sempre dispersa. Demorava demais para fazer as atividades Priscilla de Oliveira Cunha Freitas Bento Pinto, 36 anos e a filha Sofia de Oliveira Freitas Bento Pinto, 7 anos


Simone Marangoni, especialista em Neuropsicologia Funcional

A busca da sociedade por explicações e diagnósticos que justifiquem as dificuldades escolares e de comportamento das crianças e jovens está fazendo crescer o número de diagnóstico de transtornos mentais de um modo geral e o TDAH vem acompanhando esse movimento

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA TDAH A

1. Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção (duração mínima de seis meses) que ocorrem com frequência: a) Deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras; b) Tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; c) Parece não escutar quando lhe dirigem a palavra; d) Não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais; e) Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades; f) Evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que exigem esforço mental constante; g) Perde coisas necessárias para tarefas ou atividades; h) É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa; i) Apresenta esquecimento em atividades diárias

Foto: Arquivo Pessoal

lizamos uma anamnese completa e chegamos ao diagnóstico de TDAH, algo fundamental para que ela pudesse decolar profissionalmente”, relembra a Dra. Lilian. “Outro caso que eu tive foi o de um paciente de 33 anos de idade, único em sua família a não ter uma profissão. Devido a problemas graves na infância, ele era tido como ‘traumatizado’ pela família, que nunca pensou em buscar uma explicação melhor para as dificuldades que ele enfrentava na escola. O resultado foi que ele não fez a faculdade de Direito com a qual sonhava e sentia-se um pária, algo que poderia ter sido solucionado bem antes”, diz a psicóloga. “O importante é fazer o acompanhamento com profissionais competentes, pois eles saberão quando e como modificar ou mesmo suspender os tratamentos”, declara Daniela.

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2. Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade (duração mínima de seis meses) que ocorrem com frequência: a) Agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira; b) Abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais, se espera, permaneça sentado; c) Corre ou escala em demasia em situações nas quais isto é inapropriado; d) Tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; e) Está “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo o vapor”; f) Fala em demasia;

O TDAH é confirmado a partir de uma anamnese completa, ou seja, de conversas com o paciente e os responsáveis por ele Daniela Barbieri Bariani, neuropediatra responsável pelo Centro de Desenvolvimento, Aprendizado e Comportamento do Hospital Infantil Sabará

2. Sintomas de impulsividade (duração mínima de seis meses) que ocorrem com frequência: a) Dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas; b) Tem dificuldade para aguardar sua vez; c) Interrompe ou se mete em assuntos de outros

B

Alguns sintomas de hiperatividade – impulsividade ou desatenção que causam prejuízo devem estar presentes antes dos 12 anos de idade.

C

Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (escola, trabalho em casa, por exemplo).

D

Devem haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.

E

Os sintomas não ocorrem exclusivamente no curso de um transtorno invasivo do desenvolvimento, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental.

Obs.: Nos critérios da DSM-5, o manual de estatística e diagnóstico de transtornos mentais

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NA LOUSA

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SAIA JÁ DESSA

INTERNET!

Jogos on-line, vídeos, interações via redes sociais: os estímulos do mundo virtual desafiam modelos tradicionais de Educação e alavancam o sonho da geração youtuber acessa, e o Rickson pode apenas ver o YouTube e jogar on-line, sob supervisão”, garante. “A criança se interessa pelo que é novo porque tem espírito curioso”, explica Luiz Francisco Jr., psicólogo, life coach e professor da Fadisp, de São Paulo. “A internet proporciona interação e a criança e o adolescente interessam-se por interagir com outras pessoas. Se a profissão de youtuber acena com tudo isso, ela certamente parecerá mais atrativa do que qualquer outra. O desafio, portanto, está em ampliar os horizontes das crianças e dos jovens”, ele propõe. “Mas não adianta dizer ‘saia do YouTube’ e vá ler, ou vá brincar. É muito mais efetivo que os pais chamem os amigos das crianças em casa e tentem estabelecer um ambiente que torne outras atividades tão interessantes quanto a internet”, ressalta. O psicólogo Nelson Fragoso, professor da Universidade Pres-

biteriana Mackenzie, observa que não tem nada de errado com esse interesse crescente das crianças pelas redes sociais e pelo vasto uso da tecnologia. Ele também não vê problemas intrínsecos ao uso das redes sociais. “Se a tecnologia está sendo mal utilizada, cabe aos pais impor limites. Quando a TV ou as redes sociais se tornam o instrumento de educação de um filho, o erro está nos responsáveis, que não impuseram limites em sua própria casa, não mostraram que há comando, direitos e deveres num mundo civilizado”, assinala.

Sou modelo e já tenho um canal no YouTube Fernanda Fonseca Paulillo, 10 anos Foto: Arquivo Pessoal

M

édico, bombeiro, advogado? Não! A profissão favorita das novas gerações só vive aventuras virtuais – ou, às vezes, nem isso! Para muitos meninos e meninas que cresceram brincando com joguinhos de celular e assistindo a vídeos na internet, o “sonho dourado” é ser um youtuber de sucesso. “Sou modelo e já tenho um canal no YouTube”, conta Fernanda Fonseca Paulillo, de dez anos. “Algumas pessoas deram a ideia de que ela fizesse um canal próprio e nós a apoiamos”, confirma a fisioterapeuta Isabel Cristina Fonseca Paulillo, mãe de Fernanda. “Sou boa aluna, tiro ótimas notas e não sinto que as redes sociais me atrapalhem”, garante a menina. “Não sei ao certo o que vou ser quando crescer, mas adoraria continuar nesse caminho.” Assim como Fernanda, Rickson Luciano, seis anos, também quer “fazer um canal no YouTube e falar sobre coisas de nerd” quando crescer. O irmão mais velho, Enzo, 14, já tem um canal sobre jogos e a mãe de ambos garante que pretende apoiar os projetos dos meninos – mas, segundo ela, sem abrir mão de supervisionar tudo e de dosar o tempo que passam online. “Só o Enzo tem celular, que é sem senha. Eu sempre verifico o histórico e não deixo que passem mais de duas horas por dia no YouTube”, garante a micropigmentadora Cibele Luciano, que também é mãe de Lorien, 5. “A caçula ainda não

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NA LOUSA Fotos: Arquivo Pessoal

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A internet proporciona interação, e a criança e o adolescente interessamse por interagir com outras pessoas. Se a profissão de youtuber acena com tudo isso, ela certamente parecerá mais atrativa do que qualquer outra Luiz Francisco Jr., psicólogo, life coach

TEMPO PARA SER CRIANÇA “O tempo da criança precisa ser dividido entre diferentes atividades”, ensina a professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Maria Angela Barbato Carneiro. “O contato

com a natureza, experiências simples de culinária ou de tintas, criação artística, trabalhos com marcenaria, transformação de sucata, montagem de protótipos, trabalhos com argila, exploração de sons de instrumentos ou de objetos são alguns dos muitos estímulos que as crianças merecem ter para poderem desenvolver plenamente suas potencialidades na infância”, acrescenta a professora. INTERNET VERSUS LIVROS E ESCOLA A regra não é absoluta, mas, entre as crianças que passam mais tempo na internet, são poucas as que dão atenção à leitura e à escrita correta. “A família e a escola precisam se unir para reverter essa situação de anal-

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fabetismo, e cabe à mídia ter responsabilidade para não criar mais necessidades e ilusões nos pequenos”, constata a psicóloga Ceneyde Cerveny, que é professora da PUC e oordenadora pedagógica do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Intervenção Familiar: Psicoterapia e Orientação Sistemicas da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). “Os próprios professores podem ir além do livro e do giz”, destaca Luiz Francisco Jr. “Cabe às escolas propor vídeos, passeios, exercícios fora de aula. O que fica difícil é manter recursos tradicionais e metodologias ultrapassadas e querer que os alunos se interessem por algo, estando subordinados a um modelo tão pouco estimulante”, ele conclui.

Só o Enzo tem celular, que é sem senha. Eu sempre verifico o histórico e não deixo que passem mais de duas horas por dia no YouTube

Se a tecnologia está sendo mal utilizada, cabe aos pais impor limites

Cibele Luciano e o filho Rickson, seis anos

Nelson Fragoso, psicólogo e professor do Mackenzie

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PAIS E ALUNOS 19

TÃO LONGE, TÃO PERTO! rem acompanhar as aulas. Então, eu chamava os pais e pedia para que as levassem a um oftalmologista”, recorda. Mais preocupante ainda são as crianças que já usam óculos, mas cujos pais não percebem que eles não estão mais “funcionando”. Muita gente não sabe, mas óculos – no caso, as lentes – também têm prazo de validade, não apenas pela necessidade de se ajustar o grau, mas porque as lentes se desgastam com o tempo, prejudicando a visão. “Qualquer desajuste ou má qualidade dos óculos pode prejudicar diretamente o desenvolvimento visual, que acontece até por volta dos dez anos”, diz Cláudia Benetti, especialista em Oftalmologia pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e pós-graduada pelo Hospital Albert Einstein. Ela explica que a hora de trocar os óculos é quando, mesmo com eles, a visão não é tão nítida; quando

Foto: Ar quivo

G

iovanna Parra Mauad tinha 9 anos quando começou a sentir dificuldade para acompanhar as aulas. Pedia sempre para ficar mais perto da lousa para poder ver melhor. “Um dia, ela estava brincando de detetive com seus amiguinhos quando percebeu que não conseguia enxergar quem piscava. Ficou apavorada e, inicialmente, não contou nada a ninguém. Só falou do problema após emprestar os óculos do pai de um dos amigos e, com surpresa, perceber que via tudo mais nitidamente ao usá-los”, conta sua mãe, Juliana Parra Mauad. Eram óculos de quatro graus. Hoje, aos 13 anos, Giovanna usa óculos de quase cinco graus, cujas lentes são trocadas todo ano. Ela tem miopia, dificuldade de se enxergar de longe, que tende a aumentar em pessoas que estão em fase de crescimento, como crianças e adolescentes. Mas nem toda criança percebe tão facilmente que tem problemas visuais como Giovanna. Às vezes passa batido até em casa. “Tive alunos cujos pais sequer suspeitavam que eles tinham alguma dificuldade de enxergar”, conta Vandete Torrecillas, professora aposentada da rede pública estadual. “Chamava a atenção o fato de muitas crianças ficarem aflitas por não consegui-

Pessoal

Muitas vezes, a criança descobre que enxerga mal quando tem dificuldade de acompanhar as aulas. Diagnosticado o problema, é preciso trocar as lentes com frequência, pois óculos também têm prazo de validade

Cláudia B enetti, es pecialista em Oftalm ologia

não conseguimos ficar muito tempo numa atividade na qual a distância de leitura ou esforço visual são mais prolongados; quando começamos a ter cefaleias ou dores nos olhos aos esforços visuais ou quando as lentes estão ou as que possuem algum tratamento, apresentam manchas ou perda de transparência. Mas há diferenças importantes entre a criança e o adulto a serem observadas. “No adulto, os óculos são conforto visual; já nas crianças, como a visão ainda está em desenvolvimento, a qualidade óptica das lentes e sua exata prescrição interferem diretamente nesse processo de formação visual, que acontece até os dez anos de idade. A visão pode ficar prejudicada pe r m an e nt e m e nt e; por isso, é preciso ter óculos bem ajustados, bem prescritos e com excelente qualidade óptica.”

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20 NOTA MÁXIMA

TEMPO DE RECONECTAR As interações humanas foram o eixo dos trabalhos apresentados por duas franqueadas da Tutores, durante o NeuroEdu2018: uma delas focalizou a família, e a outra, o brincar

Q

ue a família exerce papel da maior importância na formação das crianças é fato mais do que sabido. E que o ato de brincar é essencial para o pleno desenvolvimento das crianças também é uma verdade bem estabelecida entre os educadores. Mas de que maneira, exatamente, esses elementos atuam?

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As respostas para essa pergunta foram buscadas por duas franqueadas da Tutores: Adriana Barbeiro, da unidade Vila Mariana-SP, na capital paulista, autora do estudo “A neurociência afetiva e as relações familiares: uma aposta no milagre do novo”, que analisa de que maneira a família pode influenciar o desenvolvimento biopsicossocial e os processos de

aprendizagem da criança e do adolescente; e Ádrinne Uchôa Dias, que atua na Tutores de São José dos Campos, focalizou a importância do brincar em sua pesquisa, intitulada “O brincar de hoje: benefícios das brincadeiras sob a perspectiva neuropsicológica”. Os dois trabalhos foram apresentados durante o V Encontro sobre Neurociências na Educação In-


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Foto: Arquivo Pessoal

clusiva (NeuroEdu2018), realizado em abril na cidade de Campinas (SP). O evento é anual e resulta de uma realização conjunta entre o Brazilian Institute of Neuroscience and Neurotechnology (Brainn) com o Programa de Cooperação Interinstitucional de Apoio a Pesquisas sobre o Cérebro (CInAPCe), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Assistência à Saúde ao Paciente com Epilepsia (ASPE), o ABCérebro TV e a ADCiência – Divulgação Científica e Eventos. FAMÍLIA: INFLUÊNCIA PRIMORDIAL “Lidar com educação significa lidar com processos de formação de muitas pessoas ao mesmo tempo. Nunca se trata apenas do aluno. É necessário envolver também, e principalmente, a sua família. Todos precisam estar no mesmo barco, para que os processos de travessia possam ser proveitosos e todos cresçam juntos, amadureçam e aprendam”, declara Adriana, que é coach de relacionamento familiar. “Ausências, indiferenças e ambientes ruidosos e disfuncionais podem resultar na geração de memórias emocionais extremamente negativas, crenças limitadoras e medos que, sem dúvida, contribuirão para a construçao de vidas menos plenas, mais murchas e mornas”, comenta Adriana. “De acordo com uma de minhas crenças

Lidar com educação significa lidar com processos de formação de muitas pessoas ao mesmo tempo Adriana Barbeiro, franqueada na unidade Vila Mariana-SP, atuando como coach de relacionamento familiar

positivas mais profundas, uma vida menos plena significa também uma vida com menos potência, com menos segurança para fazer a diferença e para transformar esse país e esse mundo, que andam tão adoecidos. Se uma criança ou jovem crescem aprendendo que não são bons o suficiente, como poderão acreditar que têm um papel fundamental para desempenhar na transformação positiva do mundo?”, pondera. Para Adriana, se queremos um mundo melhor, é interessante voltar a nossa atenção e nossas energias para que as crianças e os adolescentes mais próximos de nossa rotina possam criar boas e saudáveis memórias. “Sentindo-se amadas (e não mimadas), elas estarão melhor preparadas para ajudar a tornar outras pessoas igualmente mais seguras, amadas e preparadas”, observa a coach, que classifica seu trabalho como “essencialmente bibliográfico”. E explica: “as leituras desenvolvidas permitiram-me concluir que a neurociência afetiva deve ser aplicada de forma prática, pois se trata de um ramo da ciência que viabiliza a instrumentalização dos adultos – pais, professores e cuidadores – para que suas lições possam, de fato, ajudar na aprendizagem, na construção de sentidos, crenças e memórias emocionais positivas em crianças e adolescentes”. Para destacar a importância de rever os modelos de interação humana como um todo, e familiar em particular, Adriana recorre ao conceito de “modernidade líquida”, estabelecido pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017). “Segundo Bauman, as relações que estabelecemos hoje, sejam elas observadas do ponto de vista romântico, profissional ou familiar, parecem passar por um processo de afrouxamento cada vez mais profundo. Estamos aprendendo a nos conectar e desconectar das pessoas assim

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Foto: Arquivo Pessoal

22 NOTA MÁXIMA

Lidar com educação significa lidar com processos de formação de muitas pessoas ao mesmo tempo Ádrinne Uchôa Dias, franqueada na unidade Tutores de São José dos Campos, especialista em Neuropsicologia

como fazemos com a rede da internet. Ora, é importante voltar a nossa atenção para a responsabilidade existente em cada uma das relações que estabelecemos. Não adianta apertar o botão do ‘pause’ quando iniciamos uma conversa pouco desejada com os nossos filhos, por exemplo. Não adianta tentar ‘excluir’ da nossa vida um pai que parece não compreender corretamente as nossas mais profundas insatisfações. Não adianta, enfim, achar que será possível ‘rebobinar’ os anos de ausência da vida dos filhos e começar tudo de novo, ou ‘excluir’ anos de indiferença em relação àqueles que amamos”, ela finaliza.

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A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR Já o trabalho da neuropsicóloga Ádrinne Uchôa Dias, que atua na Tutores de São José dos Campos, focalizou a importância do brincar. “O estimulo de vida mudou muitos nas últimas duas décadas. Você já não vê, por exemplo, crianças brincando pelas ruas, nem mesmo em localidades tranquilas e em época de férias”, constata. “Como eu observo bastante o comportamento infantil e de adolescentes, sendo este o meu maior público de atendimentos, percebi uma série de traços comportamentais que têm sido

modificados por conta das ferramentas tecnológicas”, informa. Para Ádrinne, as brincadeiras tradicionais estão sendo massivamente substituídas pelos videogames, “que inegavelmente ajudam na estimulação neurológica de crianças, jovens e até de adultos, mas que não deveriam tornar-se uma ferramenta única, como, infelizmente, vem acontecendo”. Ela revela que foi justamente essa constatação – da “supremacia” do videogame sobre outras formas de brincar – que despertou seu interesse em pesquisar os benefícios das brincadeiras sob uma perspectiva neuropsicológica: “O brincar é essencial para o neurodesenvolvimento da criança”, ressalta. “Acredito que, de uma maneira geral, as crianças recebem estímulos tecnológicos cada vez mais cedo. Mas também é verdade que alguns pais vêm tomando a consciência que os smartphones, tablets e videogame não podem funcionar como ‘substitutos’ das interações humanas”, prossegue Ádrinne. “Sempre digo que o mais importante não é a quantidade do tempo que os pais dedicam aos filhos, mas a qualidade desse tempo”, ensina. De acordo com a especialista, os modelos de comportamento são formados em casa: “se os adultos ficam a maior parte do tempo absorvidos por um aparelho tecnológico, a criança tenderá a fazer o mesmo”, alerta. Ádrinne defende que os pais busquem formas diversificadas de passar o tempo com as crianças, e sugere que brinquem juntos de massinha, jogos de tabuleiro, encenações com muito faz-de-conta etc. “Por meio de jogos competitivos e colaborativos, as crianças desenvolvem habilidades diversas, tais como motricidade, raciocínio, atenção, tomada de decisão, lidar com a frustração etc. Essas brincadeiras auxiliam o desenvolvimento e a interação dos relacionamentos sociais.”


COM A PALAVRA

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Por Adriana Vazzoler-Mendonça*

SENTIMENTO DE INADEQUAÇÃO:

M

uitas vezes na vida podemos nos sentir inadequados. Todos os dias pode haver um motivo pelo qual nos frustramos, pensando que fomos mal interpretados e incompreendidos por alguém. Vamos combinar que dar bolas fora e pagar micos faz parte de nossa vida em sociedade. Este sentimento é decorrente da comparação que, como diz o psicólogo André Roberto Ribeiro Torres, é indevida, porém inevitável. Torres explica que o próprio termo “inadequado” sugere que haveria uma forma “adequada” correta e melhor, enquanto que o inadequado seria errado, ruim, doente. O mal-estar subjacente ao sentimento de inadequação seria decorrente da incongruência do que se pensa e acredita com os resultados observados. A pessoa sente-se incomodada, passando a questionar se suas convicções estão mesmo corretas ou se ela deveria mudar. O Sentimento de Inadequação (SI) foi definido por Torres como “o indício de um modo de existência no qual se constata um estado de diferença ou peculiaridade, independentemente das reações assumidas a partir dessa constatação”. O SI pode vir a ser problema quando ele é constante, causando sofrimento ao longo dos anos. Esse quadro crônico pode levar a

pessoa a manifestar um sem-número de fenômenos como estresse, depressão, baixa autoestima, perda da autoconfiança, transtornos de ansiedade e até o suicídio. Os motivos pelos quais as pessoas podem se sentir inadequadas são infinitos, mas são basicamente de dois tipos: os “de dentro” e os “de fora”. Os “de fora” todo mundo vê, como, por exemplo, aparência física, estatura, traços fisionômicos. Crianças e adolescentes podem ser considerados inadequados por motivos como esses e mais tantos outros como etnia, sotaque, corte do cabelo, estilo de roupas, o formato da aba do boné etc. Os motivos “de dentro”, por sua vez, ninguém vê, mas causam igualmente SI. Esse tipo decorre do julgamento do sujeito sobre o que ele mesmo considera certo e errado para a própria vida, e não do que os outros pensam. Por exemplo: uma menina que se torna mãe aos 15 anos pode se sentir inadequada porque ela não está correspondendo às suas próprias expectativas. Um idoso que precisa usar um andador pode se sentir inadequado porque queria estar andando sozinho.

Foto: Divulgação

QUANDO A GENTE SENTE QUE NÃO FAZ PARTE

Mesmo que todo mundo diga à menina e ao idoso que a situação deles não tem nenhum problema, que não é o fim do mundo, além de não ser nada empático, isso não reduz o SI e ainda pode piorar a situação, pois eles podem interpretar que não é adequado se sentir inadequado. O psicólogo César Borella sugere que o Sentimento de Inadequação gera o Sentimento de Inferioridade. E, para nos livrarmos deste, temos que ter um olhar atento e honesto para nós mesmos, objetivando diminuir as barreiras erguidas pelo Sentimento de Inferioridade, tais como a autopiedade, a vitimização – que é atribuir às diferenças ou às outras pessoas a responsabilidade por nossos resultados – agressividade, falta de metas e objetivos na vida, autocrítica exacerbada e acomodação.

*Adriana Vazzoler-Mendonça é psicóloga, trabalha com Neurofeedback e Biofeedback em Campinas, São Paulo. É também coach em Diversidade, Inclusão e Acessibilidade na escola, no trabalho e na vida, em especial para adultos com altas habilidades e superdotação.

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