NÓS Centro de formação, promoção e difusão do artesanato Lara Delgado | 85179
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa ARTESANATO: um caminho para a emancipação político-social feminina Autora: Lara Silva Delgado Orientadora: Marília Solfa
Figura 1: Bastidor bordado - Bárbara Maçanares - Poética fonte: instagram.com/poeticabordadoamao
Viçosa - MG 2021
a pre sen ta ção
Talvez esse TCC tenha começado no sofá da minha avó Lurdinha enquanto assistia seu tecer ágil de enxovais. Ou no chão do quarto da avó Nadir, ao som de sua velha máquina de costura. Quem sabe tenha começado um pouquinho mais tarde, quando sentada nas bancas de tecido da loja em que minha mãe trabalhava... Jamais saberei ao certo. A arte manual sempre permeou minha vivência, e as histórias das que vieram antes de mim foram fonte inesgotável de inspiração e motivação pro trabalho que inicio agora. Em 2017 comecei minha própria história com o artesanato através do bordado e, em busca da minha própria emancipação, repeti a história que ouvi tantas vezes nas vozes das mulheres da minha família. Olhando daqui, percebo a obviedade do tema que monopolizou meu caminhar e só agora veio ao meu entendimento, como um quebra cabeças que enfim se pôs completo e, de repente, muito fez sentido, de modo um tanto clichê.
Possuo o privilégio de fazer parte da primeira geração dessas mulheres a poder romper um ciclo doloroso de abuso e subjugação. Portanto me orgulha poder teorizar sobre a pouca, mas alguma, oportunidade que encontraram através do artesanato, levantando debate sobre um assunto tão pertinente para minhas raízes e para a maioria das mulheres do interior brasileiro.
Acredito hoje que o mais alto estágio da felicidade se resume em estar onde um dia se sonhou chegar e saber que
agradecimentos agradecimentos agradecimentos agradecimentos
nenhuma outra forma no mundo seria capaz de te preencher
Em especial à Marília, que sempre lamentarei ter chegado
de tal maneira como a que agora te preenche.
apenas neste meu fim de cuso, por enriquecer ainda mais esta
Posso dizer que encerrar este meu ciclo na arquitetura tem se mostrado assim, apesar de todos os desafios. Sonhei
experiência com tanta paciência com minha ansiedade e meus momentos de surto.
finalizar minha graduação com um tema que fizesse sentido e
Minha profunda gratidão aos meus amigos maravilhosos,
me permitisse ser eu mesma. E por ter sido capaz de encontrar
por nunca me permitirem esquecer quem sou e serem ótimos
esse tema sou imensamente grata à Ayeska, Geraldo e Ana,
ouvintes, claro.
que iluminaram meus pensamentos. Dedico minha gratidão também aos meus pais, que
Tiffs e Maimai, por me tirarem de casa e me ajudarem a respirar nesse momento tão difícil.
embora tenham sonhado um futuro diferente pra mim,
“Cansados do TCC” obrigada por me lembrarem o que é a vida
trabalharam duro e perderam noites para permitir que eu
pré-pandemia, esse trabalho ficou muito melhor depois que
realizasse meu sonho durante todos esses anos.
passamos a nos encontrar.
Agradeço também aos meus irmãos (embora não
Lancelot,
Morgana,
Avalon
e
Merlin,
pelo
amor
mereçam tanto assim) por me ensinarem sobre generosidade,
incondicional e companhia incessante, inclusive nos momentos
amor e diferenças, vocês são meu norte.
mais inoportunos.
Meu mais sincero agradecimento à todo Departamento
Henrique, obrigada por ser a minha pessoa, por me apoiar
de Arquitetura e Urbanismo, por me abraçar desde o primeiro
de perto desde o início, por dividir a vida comigo da melhor
dia, me mostrando uma realidade muito mais gostosa do que
forma e por todas as revisões, é claro.
eu esperava da vida universitária.
agradecimentos agradecimentos agradecimentos
Por fim, agradeço às minhas avós, tias e primas. eternas inspirações do meu viver. Eu sou vocês, mesmo que nem sempre goste disso.
conteúdo conteúdo Introdução Objetivo
Justificativa e relevância do tema Metodologia
Local de intervenção
Estudos de caso UVA El Paraíso
Contexto Municipal
Parque educativo San Vicente Ferrer
Nova Viçosa e os indicadores
Clínica Cirúrgica e centro de saúde
Histórico do bairro
Artesanato
A produção artesanal A economia criativa - realidade brasileira O reconhecimento do artesanato enquanto economia criativa no Brasil Essência da produção artesanal no contexto contemporâneo
Questões de gênero Os papéis de gênero Violência de gênero Um mundo desenhado por elas
Relação com a cidade
A proposta O equipamento
Diretrizes projetuais gerais
Partido arquitetônico Conceito
Diretrizes da arquitetura de gênero
Evolução da forma
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Considerações finais
Recorte e análise da área de intervenção
Próximos passos
Programa arquitetônico Fluxograma Pré-dimensionamento Estudo da área de intervenção
Referências bibliográficas
“
“
Há olhos e olhos. Olhos que sabem ver e olhos que não sabem ver - Lina Bo Bardi
. introdução
O presente trabalho tem como objetivo fundamentar o
. objetivo
O objetivo final do trabalho é conceber e projetar um
desenvolvimento do Projeto Arquitetônico de um Centro de
equipamento
coletivo
voltado
à
formação
profissional
formação, promoção e difusão dos saberes artesanais, com
envolvendo o artesanato, mas que também se articule com um
ênfase no público feminino, no bairro de Nova Viçosa, em Viçosa
espaço público qualificado e funcione como potencializador de
- MG.
encontros, de transmissão de conhecimentos e de habilidades Serão adotadas como diretrizes de projeto a arquitetura
manuais, e que seja pensado pelo viés feminista, ou seja, que
vista a partir de questões de gênero e a concepção humanizada
responda aos anseios e necessidades especificas das mulheres.
dos ambientes, a fim de produzir não só uma edificação que possibilite a formação profissional e a emancipação financeira de mulheres periféricas, como também um espaço de uso público que estimule o convívio e o fortalecimento de identidades e coletividades locais. Buscamos, dessa forma, levantar discussões acerca do valor social do artesanato enquanto expressão cultural e histórica, e como oportunidade de desenvolvimento social e econômico, além de nos aproximarmos das problemáticas de gênero, resultado de opressões e imposições provenientes da reprodução da lógica patriarcal na sociedade. Nesse sentido, esse trabalho também almeja se aproximar de uma reflexão social maior em busca por uma alternativa prática rumo à equidade de gênero.
Figura 2: “We are the change” - Victoria Villasana, bordado sobre fotografia.
7
. justificativa e relevância A partir da consolidação da
estabelecidas entre a arquitetura e
“economia criativa” no país, temos o
a busca pela equidade de gênero,
surgimento de políticas públicas
contemplando não só o direito à
destinadas
do
formação profissional e cultural,
“desenvolvimento integrado do setor
mas também o direito à própria
artesanal e a valorização do artesão,
cidade,
elevando
equipamentos coletivos e públicos.
profissional,
à
o
seu
promoção
nível
social e
cultural,
econômico”
incluindo
acesso
a
Por fim, também acreditamos que
(Programa do Artesanato Brasileiro,
seja
2018).
formulação
um
o
urgente
e
relevante
de
a
propostas
Nesse contexto, a proposta de
arquitetônicas que se voltem à
equipamento
compreensão
destinado
à
da
realidade
de
formação, promoção e difusão de
bairros
saberes artesanais na cidade de
geralmente carentes de políticas
Viçosa mostra-se como um objeto de
públicas e de espaços coletivos
estudo atual e relevante.
voltados
Ao
direcionar
nosso
equipamento ao público feminino, buscamos
realizar
uma
reflexão
sobre as relações que podem ser
populares
não
profissional,
só mas
Figura 3: fotografia de exemplares da produção de artesanato do Mestre Ubirajara Fonte: instagram.com/imaginariobrasileiro
periféricos,
à
formação
também
promoção do lazer e do convívio.
à Figura 4: fotografia de exemplares da coleção Casario de Olinda, artesãos Aline Feitosa e Emmanuel Cansanção Fonte: instagram.com/imaginariobrasileiro
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. metodologia
O trabalho se desenvolveu a partir de pesquisas
bibliográficas e documentais realizadas em torno de duas diferentes frentes: o valor social do artesanato e as questões de gênero e sua relação com a arquitetura e o urbanismo. Dessa forma, buscamos compor um embasamento conceitual e teórico que possibilitou a compreensão das principais questões acerca do tema proposto.
promoção do artesanato
Após essa fase, foi desenvolvida uma pesquisa com a intenção de levantar e identificar os dados referentes à cidade de Viçosa, assim como sua legislação vigente, de modo a compreender e caracterizar bairros periféricos da cidade e as condições de seus moradores. Nos voltamos, em específico, para a compreensão da realidade do Bairro de Nova Viçosa. A análise dos dados obtidos foi usada para definição da área de intervenção. Para definição do programa arquitetônico buscamos, além de compreender questões que envolvem a atual
arquitetura e urbanismo
produção de artesanato em nosso contexto, levantar grupos de artesãos e iniciativas existentes na cidade de Viçosa, a fim de selecionarmos as produções mais relevantes. Buscamos ainda compreender de forma aprofundada a produção artesanal proveniente da cidade, assim como suas necessidades espaciais. Todas as etapas citadas previamente foram intercaladas com pesquisa sobre projetos e edifícios existentes que se assemelham ao que estamos propondo seja pelo programa,
questões de gênero Figura 5: Vertentes definidas para construição do embasamento conceitual e teórico proposto, a fim de compor o tema e dissertar sobre de modo compreensível e coerente ao leitor.
materialidade ou pelo partido arquitetônico. Em seguida, realizamos visitas, levantamentos e análises do terreno escolhido, assim como do contexto do local, de acordo com a área de intervenção definida para o desenvolvimento de um estudo preliminar do projeto arquitetônico.
9
“
“
Não se nasce mulher, torna-se mulher
- Simone de Beauvoir
ARTESANATO
. breve histórico A atividade manual esteve presente na história da humanidade desde os seus primórdios, quando se notou a necessidade de produção de artefatos humanos, seja de vestimentas, artigos para caça e pesca ou diversas outras peças que facilitariam a rotina do ser humano primitivo. Com o passar do tempo, pôde-se perceber que esse processo de produção ancestral, passado adiante de geração
A partir da revolução industrial, a produção artesanal passou a perder espaço dentro do projeto de uma sociedade moderna. A promessa da industrialização se pautava na democratização do acesso aos bens de consumo por meio da produção em massa. Houve a retirada de ornamentos, a simplificação da produção e o início da divisão social do trabalho para que os objetos fossem produzidos em série, de forma rápida e contínua. Nesse contexto, a produção artesanal perdia
cada vez
mais
espaço, visto
que
demandava
consideravelmente mais tempo de produção, era feita por especialistas
e
requeria
conhecimentos
adquiridos
e
transmitidos entre gerações.
em geração, registrava a história de povos na medida em que revelava tradições culturais e de costumes. Enquanto objeto de trocas, porém, o artesanato só veio a consolidar-se a partir da Idade Média, quando passou a ser reconhecido como segmento de trabalho, sendo os objetos produzidos em maior escala com a finalidade de trocas comerciais. Os artesãos passaram então a fazer parte das guildas, associações de ofício que controlavam a atividade econômica de trabalhadores do mesmo ramo, conferindo aos produtores uma relação cooperativa. (SANTOS, et al., 2010)
11
Em um primeiro momento, a industrialização foi capaz de atender os desejos do mercado consumidor. No
.economia .economia criativa criativa
realidade no brasil
entanto, após a crise econômica dos
Nota-se então um crescimento exponencial da economia criativa, economia
anos 1970, chega-se a um estágio de
essa pautada na transformação da cultura e criatividade na produção de bens e
esgotamento
de
serviços, gerando crescimento e desenvolvimento econômico. Esse progresso do
produtos massificados, marcando uma
setor tem sido discutido em âmbito internacional, o que se reflete nas próprias
desse
consumo
estagnação econômica e a necessidade de
criação
de
novos
mercados
consumidores e de novas necessidades de consumo. Esse mesmo processo industrial havia
deixado
uma
lacuna
de
identificação e individualização. Com a nova demanda pela customização dos objetos, houve uma revalorização do produto artesanal, além da valorização
políticas públicas brasileiras desde a década de 1970. A partir de 2011, a organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO)
passou
a
considerar a
cultura
como
quarto
pilar do
desenvolvimento das nações e definiu, dentro do âmbito da economia criativa, os setores criativos nucleares, são eles:
Patrimônio natural e cultural museus paisagens culturais sítios históricos e arqueológicos patrimônio natural
Espetáculos e celebrações
artes visuais e artesanato
audiovisual e mídias interativas
design e serviços criativos
artes de espetáculo festas e festivais feiras
pintura escultura fotografia artesanato
cultural por trás do fazer manual. Tal revalorização do artesanato enquanto bem de consumo fez com que, desde os anos 1970, a atividade ganhasse força e passasse
a
ser
novamente
parte
importante da economia. (SANTOS et al, 2010; ARAÚJO, 2014)
livros e periódicos
livros jornais e revistas outros materiais impressos feiras do livro bibliotecas (incluindo as virtuais)
cinema e vídeo TV e rádio (incluindo internet) Internet podcasting
video-games (incluindo onlines)
design gráfico design de moda design de interiores design paisagístico serviços de arquitetura serviços de publicidade
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Também há os setores criativos
geração de renda e movimentação econômica. Na figura abaixo, podemos perceber as redes de articulações que o Ministério
relacionados, que são: turismo, esporte e lazer e o patrimônio imaterial, sendo
da Cultura estabeleceu a fim de fomentar e desenvolver o setor da Economia Criativa.
que este último é subdividido em
BNDES Banco do Nordeste
expressões e tradições orais, rituais, línguas e práticas sociais.
.o .o reconhecimento reconhecimento
do artesanato enquanto economia criativa no brasil
Essa revalorização do artesanato
Linhas de crédito SEBRAE
Formação/
SESCOOP
Empreendimentos
SEST/SENAT
Estudos e Pesquisas
Banco do Brasil Caixa Econômica Federal
APLs
Banco da Amazônia Petrobras
Difusão/
Correios
Infraestrutura
SESC/SENAC
Formação/
SESI/SENAI
Difusão
Eletrobrás Chesf Políticas públicas de fomento
Furnas
tornou-se mais consistente no país a partir do momento em que Governo
SEC - MinC
Federal passou a tomar uma série de
IPEA
medidas para estimular a sua produção, inclusive com o estabelecimento de parcerias
com
instituições
como
o
SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas Empresas) e o SESC (Serviço Social
do
Comércio),
levando
em
consideração que no contexto político social da época, via-se o artesanato enquanto
uma
possibilidade
OEI
para
IBGE
Formação/
FAPES
Gestão Formação para
UNITAR
o trabalho
UNESCO
Estudos e
FINEP
pesquisas/fomento
CAPES CNPq Estudos e
Institutos de Pesquisa
pesquisas
Estadual
Figura 6: Organograma das articulações intersetoriais com parceiros institucionais, agências de fomento e desenvolvimento, órgãos bilaterais e multilaterais Fonte: Plano da Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura (2011) Adaptação: Lara Delgado 2021
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1991
Criação do PAB
Figura 7: Resumo da linha do tempo do artesanato brasileiro enquanto programa governamental
2015
2005
Criação da Escola Técnica Federal do Artesanato
Elaboração do Plano Nacional de Cultura
Subordinação do PAB ao Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo
1995
Criação da Secretaria da Economia Criativa
2011
Criação da Comissão Nacional do Artesanato
2018
Uma das primeiras medidas foi a assinatura de um
Tal reconhecimento foi corroborado com a elaboração do PNC,
Decreto em 21 de março de 1991, que criou o Programa do
Plano Nacional de Cultura, previsto pelo artigo 215 da
Artesanato Brasileiro (PAB) - instituído no Ministério da Ação
Constituição Federal, e implementado pela primeira vez, na
Social - que tinha como finalidade “coordenar e desenvolver
Emenda Constitucional Nº 48, de 10 de agosto de 2005. O PNC
atividades com foco na valorização do artesão e do artesanato
consiste em um conjunto de ações e metas que visam orientar a
brasileiro, elevando seu nível cultural profissional, social e
formulação
econômico” (BRASIL, 1991).
desenvolvimento e a preservação da diversidade cultural do
Esse mesmo Decreto foi revogado em maio de 1995 com
de
políticas
públicas
culturais,
visando
o
país. (BRASIL, 2005)
o de n.º 1.508, que determinou a subordinação do PAB ao
Em 2011 foi criada a Secretaria da Economia Criativa
Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (BRASIL,
dentro do Ministério da Cultura, seguida de mais um plano
1995), o que demonstra reconhecimento do potencial do
nacional, orientado pelo PNC, que apresentou as políticas,
artesanato enquanto atividade econômica relevante.
diretrizes e ações previstas para o período de 2011 a 2014.
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Na busca por dados econômicos sobre a geração de renda a partir do artesanato, encontramos diferentes afirmações acerca da contribuição geral desse setor. Contudo, visto as dificuldades de acesso aos dados referentes ao,
“A Secretaria da Economia Criativa (SEC) simboliza, a
agora extinto, Ministério da Cultura, encontramos apenas os dados apresentados pelo Plano da Secretaria da Economia Criativa em 2011, que diz respeito à contribuição dos setores criativos no PIB brasileiro, conforme a tabela a seguir.
partir deste Plano, o desafio do Ministério da Cultura de liderar a formulação, implementação e
SETORES CRIATIVOS NO BRASIL Descrição
Dado R$104,37 bilhões*
Contribuição dos setores criativos ao PIB do Brasil (2010)
(2,84% do PIB brasileiro)**
monitoramento de políticas públicas para um novo desenvolvimento fundado na inclusão social, na sustentabilidade, na inovação e, especialmente, na diversidade cultural brasileira” (BRASIL, 2011)
Crescimento anual do setor criativo nos últimos 5 anos (relativo ao PIB)
6,13% a.a.
Análise Econômica Trata-se de setores de grande dinamismo econômico cuja participação no PIB supera alguns subsetores tradicionais de atividade econômica (IBGE) como a indústria extrativa (R$78,77 bilhões) e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana (R$103,24 bilhões) Há uma tendência do núcleo¹ dos setores criativos de ganhar maior robustez econômica no PIB com possibilidades reais de ampliar futuramente sua participação no PIB do País. O crescimento médio anual dos últimos 5 anos do núcleo dos setores criativos (6,13%) foi superior ao crescimento médio anual do PIB brasileiro (4,3%)
* IBGE, *** FIRJAN,
Figura 8: Dados e análise econômica do setor criativo no Brasil Fonte: Plano da Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura (2011) Adaptação: Lara Delgado 2021
Entretanto, mesmo esses dados levantados pelo Governo Federal devem ser considerados com ressalvas. Resultam da combinação entre dados levantados por diversos órgãos e instituições, e consistem apenas nos dados provenientes dos trabalhadores formais. Mas para uma atividade ainda tão informal como o artesanato, é possível que tais dados sejam sub contabilizados. Segundo dados disponíveis no Data SEBRAE, apenas 39% dos artesãos são formalizados, ou seja, possuem CNPJ.
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Em 2015 o Poder Executivo foi autorizado a criar a Escola
através do artesanato baseado em matéria prima reciclada.
Técnica Federal do Artesanato, dedicada ao desenvolvimento de programas de formação profissional do artesão, dentre outras providências, como apoio comercial e identificação de novos
mercados
tanto
no
cenário
nacional
quanto
internacional, com a Lei de n.º 13.180 (BRASIL, 2015). Em 2018 o PAB volta a chamar atenção do Governo Federal, que institui a Portaria nº 1007, que cria a Comissão Nacional do Artesanato e dispõe sobre a base conceitual do artesanato brasileiro, além de prever Coordenações Estaduais do Artesanato e a instituição do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro - SICAB, afim de contribuir
Figura 9: Produção artesanal na Futurarte Fotografia: Divulgação Instituto Ramacrisna
para a definição de políticas públicas e o planejamento de
Essa iniciativa é voltada para mulheres que habitam regiões
ações de fomento para o setor artesanal do país (BRASIL, 2018).
rurais em situação de vulnerabilidade. A Futurarte produz peças
Por conta dessas políticas, hoje no estado de Minas
de tecelagem, cerâmica e cestaria, e conta com coleções
Gerais temos, já consolidados, um número significativo de
desenvolvidas por estilistas renomados, peças premiadas
instituições que atuam na promoção do artesanato com a
internacionalmente e já realizou exposições em grandes feiras,
finalidade de promover a sustentabilidade econômica e a economia solidária.
como a Minas Trend Preview.
Em Betim, região metropolitana de Belo Horizonte, localiza-se a Associação de Empreendedores do Artesanato Futurarte, uma cooperativa de artesanato feminino fundada em 2004 pelo Instituto Social Ramacrisna com patrocínio da Petrobras, que possui o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável das áreas rurais da cidade
Figura 10: Carteira Premiada, vencedora do FORM 2007 da Feira Tendence Lifestyle 2007, Frankfurt, na Alemanha Fotografia: Suelen Rudiger Antenados Produtora via Culturaliza BH
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Outras
organizações
semelhantes
podem
ser
encontradas por todo o Estado, como a AMUR - Associação das Mulheres Rurais de Uberaba e Região, Central Mãos de Minas em Belo Horizonte, Gente de Fibra em Maria da Fé, Casa Real em Diamantina, que também visam ser um centro de apoio sociocultural e artístico atuando em áreas necessárias para incrementar o crescimento do artesanato mineiro de modo a estimular geração de renda e melhoria na qualidade de vida da população. Na cidade de Viçosa encontramos a ADAV Associação dos Artesãos de Viçosa, fundada e autogerida pelos artesãos e produtores de alimentos caseiros da cidade que decidiram se unir para criar uma rede de comércio justo e solidário. Atualmente a ADAV conta com uma loja no centro da cidade e exibe seus produtos em feiras livres que ocorrem também no centro. A associação procura há algum tempo financiamento e apoio municipal para expandir suas redes de divulgação e promoção do trabalho manual.
Figuras 12-15 Produtos comercializados na loja da ADAV produzidos pelas artesãs da cidade de Viçosa. Fotografias: Acervo pessoal
17
.produção .produção artesanal artesanal
no contexto contemporâneo As políticas públicas destinadas à
promoção
do
desenvolvimento
integrado do setor artesanal, assim como as iniciativas citadas, apenas demonstram
e
corroboram
a
potencialidade da produção artesanal Isso porque, em uma sociedade de
tantos
produtos
industrializados e massificados, o valor agregado ao produto comercial do artesanato
Dessa forma, para ela, o fazer artesanal apresenta um papel social, cultural e político enquanto atua na formação do sujeito em diferentes frentes: Enquanto agente empoderador. Se comparado ao trabalho nas fábricas, o fazer artesanal permite uma maior liberdade. Trata-se de um trabalho potencialmente autônomo, uma atividade não alienada que permite que o trabalhador tome para si o poder de transformar a matéria com as próprias mãos e através de sua própria idealização. O que antes
no Brasil atual. consumidora
de produção mais democrático e humanizado (ARAÚJO, 2014, pg. 66).
consiste
justamente
na
era apenas matéria-prima, torna-se expressão da capacidade criativa humana;
Através do estabelecimento de interações sociais e elos coletivos,
diferenciação das peças produzidas
mediante seu caráter conectivo na construção de redes abertas e
manualmente por uma classe criativa,
flexíveis; A organização de uma rede de produção artesanal é geralmente
autora e executora de seus artefatos, e
auto-gerida, o que fortalece o desenvolvimento coletivo e permite em
na identificação e enaltecimento cultural
uma nova dinâmica social local;
e histórico intrínsecos a este modo de fazer. Segundo Ana Araújo, ao contrário do
que
ocorre
com
o
artefato
industrializado, o trabalho artesanal tem o potencial de estabelecer um processo
Na troca de conhecimento fluida possibilitada pelo fazer coletivo, que valoriza e fortalece e iniciativas populares e culturas locais e ensejando autoestima e autoconhecimento.
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Portanto, a promoção do trabalho artesanal pode ser pensada para além do objetivo básico de geração de renda:
“O sistema artesanal não mais define uma atividade de cunho tradicional que requer uma habilidade específica. Ele define antes, um modo de fazer democrático e dinâmico em que a forma final do artefato responde ao contexto de sua produção” (ARAÚJO, 2014)
No decorrer da pesquisa, chamou atenção os dados do SEBRAE (2019) que mostram que 77% dos artesãos brasileiros são do sexo feminino. Por esse motivo, após essa contextualização sobre o potencial que pode ser atribuído à produção artesanal hoje, voltamos nossa análise para questões que envolvem gênero, trabalho e o direito à cidade. .
19
“
“
Nossas cidades são patriarcados escritos na pedra, no tijolo, no vidro e no concreto - Jane Darke
. os papéis de gênero Apesar da intensa luta feminista que recentemente tem buscado conferir às mulheres direitos mais próximos aos que sempre foram concedidos ao gênero masculino, ainda se faz necessário muito mais do que algumas décadas de mudanças para
reestruturar
reproduzidos
por
comportamentos anos
que
desenvolvidos
fundamentaram
e
discursos
patriarcais. A diferença expressiva na divisão sexual do trabalho
“Terceiras e, até mesmo, quartas jornadas - vale dizer mais uma vez nunca remuneradas farão das mulheres escravas do lar com pouco ou nenhum tempo para desenvolverem outros aspectos da própria vida.” (TIBURI, 2021, pág. 16)
artesanal evidentemente tem seus respaldos na construção
Quando recorremos aos dados oficiais percebemos com
social de gênero, que impõe a ideia sobre o papel destinado às
mais nitidez essa disparidade: no Brasil apenas 54,5%, das
mulheres e aos homens dentro da sociedade, relegando a elas
mulheres possuem emprego formal, embora na maioria das
as tarefas consideradas femininas: os cuidados com a família e
vezes elas sejam ainda mais capacitadas que os homens, e o
a casa, ou seja, a manutenção da vida, um trabalho não
nível de ocupação feminino cai ainda mais após terem filhos, ao
remunerado que é fundamental ao funcionamento da
passo que a mulher dedica o dobro de horas semanais a
sociedade. Essa responsabilização pelo trabalho doméstico
cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos se comparada
constitui um fator limitante no que diz respeito à liberdade
aos homens, sendo que aquelas que fazem parte dos 20% da
econômica feminina, dificultando a possibilidade da mulher se
população com os menores rendimentos necessitam dedicar
dedicar ao trabalho exterior à esfera privada, como afirma a
ainda mais tempo, ou seja, essa porcentagem aumenta
filósofa Márcia Tiburi em seu último livro..
conforme os gráficos a seguir.
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Taxa de participação na força de trabalho
Nível de ocupação de mulheres com ou sem crianças
Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma estimativa que determina que 35% das mulheres do mundo foram vítimas de violência física ou sexual pelo menos uma vez durante sua vida. No mesmo ano, dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico (SINAM) apontaram
73,7%
54,5%
54,6%
67,2%
Média de horas semanais dedicadas a cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos por pessoas de 14 anos ou mais por classes da população
Homens
sendo elas também 89% das vítimas de estupro. E segundo dados do Mapa da Violência da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2015, o Brasil ocupa hoje o quinto lugar no Ranking
Total
Mulheres
que 67% das vítimas de agressão no Brasil foram mulheres,
20% com os menores rendimentos 20% com os maiores rendimentos
Fonte: IBGE 2019
Sendo o artesanato uma tarefa flexível em relação ao espaço de produção e tempo dedicado à ele, se efetivado de forma autônoma, como é na maioria das vezes, possibilita a existência dessas múltiplas jornadas, o que facilita a inserção das mulheres nesse mercado. Embora essa injustiça social sexista remonte ao cerne da estrutura patriarcal, os desdobramentos que esse papel de submissão impõe às mulheres, muitas vezes isolando-as na esfera privada, categoriza efeitos ainda mais complexos e graves que podem culminar na violência de gênero.
Mundial em Feminicídio, que conta com 83 nações. (IBGE, 2021) Das agressões ocorridas com mulheres, em 64,2% das notificações o agressor é conhecido ou parente das vítimas, sendo a residência da vítima local onde ocorrem 52,7% dos casos. A residência da vítima também foi onde ocorreram 30,4% dos feminicídios no Brasil em 2017. (IBGE, 2021) Esses números alarmantes revelam a gravidade da violência doméstica no Brasil e evidenciam a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas voltadas à emancipação político-social e financeira feminina, a fim de possibilitar a saída das mulheres desses ambientes de violência. O presente trabalho apresenta uma dessas possíveis propostas.
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. um mundo desenhado por elas Para alguns autores, como Zaida Muxí e Josep Montaner
Desde a política econômica urbana aos planos diretores,
(2014), é necessário e urgente revermos as teorias e modos de
pouco se discute sobre a localização das escolas e postos de
atuar sobre as cidades e os territórios tendo em vista as
saúde, das linhas de transporte público, da necessidade de
complexidades da sociedade atual e a partir de desafios sociais e ambientais. Dessa forma, arquitetos e urbanistas também necessitam enfrentar questões que dizem respeito ao reconhecimento da diversidade social e a busca pela igualdade, incluindo a igualdade de gênero.
policiamento e iluminação a partir da vivência feminina na cidade. No entanto, sabemos, por exemplo, que na maioria das vezes cabe às mulheres o papel de levar e buscar crianças nas escolas, ou de levar crianças e idosos a equipamentos de saúde,
sido
quando necessário, ou até mesmo a tarefa de fazer as compras
majoritariamente pensado e desenhado por e para o gênero
de mercado, feira e farmácia, desse modo a localização desses
masculino, reservando a ele maior importância e prioridade em
equipamentos na cidade não é pensada de forma a facilitar a
detrimento do outro, apoiando e facilitando suas experiências,
mobilidade urbana das mulheres, o que faz com que gastem
O
mundo
como
conhecemos
hoje
tem
e é possível citar diversos exemplos que corroboram essa afirmativa, como a setorização das cidades-jardim de Ebenezer Howard que impunha o distanciamento das residências dos centros comerciais e do trabalho, criando mais um obstáculo à
muito tempo nesses deslocamentos. A
questão
da
acessibilidade
também
interfere
diretamente no dia a dia feminino uma vez que são elas, em sua
mobilidade e independência feminina, ou o urbanismo
maioria, a empurrarem os carrinhos de bebê pelas calçadas da
moderno, que privilegiava a circulação veicular, as estratégias
cidade, a circular pela cidade acompanhadas de crianças ou de
de localização dos pontos de iluminação pública, a forma com
idosos. (KERN, 2019)
que o transporte público é pensado dificultando o acesso de mães com carrinho de bebê, dentre outros.
23
“O status de segunda classe das mulheres é imposto, não apenas por meio da noção metafórica de “esferas separadas”, mas por meio de uma geografia de exclusão real e material. O poder e os privilégios masculinos são mantidos ao manterem os movimentos das mulheres limitados e restringirem sua capacidade de acessar espaços diferentes.” (KERN, 2019, pág. 29)
A arquitetura e o planejamento
para a cidade. Enquanto o uso de
urbano podem promover a inclusão ou
marquises, por outro lado, atua de forma a
a segregação sócio-espacial, servir
proteger o pedestre da chuva e do sol,
como respaldo para perpetuar a lógica
servindo como abrigo. A existências de
patriarcal ou propiciar um espaço que
elementos como parques, calçadas livres
considera
de
e
incorpora
as
causas
obstáculos
e
com
revestimento
feministas. O instrumento é o mesmo, o
homogêneo e rampas pode facilitar a
uso que se faz dele traduz apenas seu
apropriação das ruas pelas mulheres e
caráter
crianças.
político-ideológico
-
a
depender de sua função primordial - e tem implicações sociais efetivas, uma vez que infere diretamente no modo de vida das pessoas. Por exemplo, a aplicação da arquitetura hostil sob viadutos com a implantação de pedras pontiagudas impossibilitando
a
apropriação
do
espaço por pessoas em situação de rua ou o uso de divisórias em bancos públicos de forma a impedir as pessoas de
se
deitarem,
em
ambos
a
arquitetura é utilizada de modo a segregar ou estabelecer o usuário ideal
Figura 16: imagem ilustrativa do emprego da arquitetura hostil. Na imagem, Padre Júlio Lancellotti, pedagogo, presbítero católico brasileiro e ativista pelos direitos da população em situação de rua, repercurtiu o caso do uso da arquitetura hostil sob os viadutos de São Paulo capital.
24
Percebe-se, necessidade
“A discriminação de gênero se expressa fortemente no urbanismo e na arquitetura: desde o espaço público, com seus parques e calçadas, assim como as condições dos sistemas de transporte, até os lugares de trabalho e a estrutura hierárquica que muitas vezes se mantém na moradia.” (MONTANER e MUXÍ, 2011, pág. 214)
assim,
de
a
pensarmos
em
contemplando formação
não
só
o
profissional
e
direito
à
cultural,
espaços para as mulheres, espaços
masatambém o direito à própria cidade,
que não só levem em conta os papéis
incluindo o acesso a equipamentos
sociais impostos à elas como também
coletivos
os desafiem. E que, assim como Zaida
qualidade.
e
espaços
públicos
de
Muxí e Montaner apontam, tornem
Dessa forma, percebemos que é
visível a diferença, a fim de fazer valer o
possível utilizar do campo da Arquitetura
princípio constitucional de igualdade.
e
O princípio constitucional da
Urbanismo
modificações
a
fim
de
nesse
executar
emaranhado
igualdade dispõe sobre o tratamento
físico-social
de pessoas em situações diferentes,
espaciais e equipamentos que levem em
isto é, implica na diferenciação do
conta as urgências e anseios femininos,
desigual também pelo tratamento ao
que ultrapassem os limites impostos
qual lhes é destinado, o que resulta em
pelos espaços atribuídos a elas pela
medidas
ordem doméstica, rompendo a rígida
diferentes
às
condições
sociais diferentes. Ao
através
de
políticas
funcionalização da cidade. nosso
A cidade e a arquitetura devem ser
feminino,
concebidas para fornecer estruturas que
buscamos realizar uma reflexão sobre
sejam acessíveis a todos, incorporem os
as
ser
anseios femininos, permitam e facilitem a
estabelecidas entre arquitetura e a
escolha de como organizar suas vidas.
busca
(MONTANER e MUXÍ, 2011, pág. 205)
equipamento relações pela
direcionar ao
público
que equidade
podem de
gênero,
25
“
“
A arte exerce uma função política quando ela se torna um ponto de conexão em uma rede social aberta e flexível - Ana Araújo
local de intervenção
. contexto municipal
A inauguração da Universidade ainda enquanto Escola Superior de Agricultura e Veterinária em 1926, gerou um crescimento demográfico súbito através da população destinada à cidade para atender as necessidades da UFV, além da população flutuante injetada, a partir de então, anualmente, o que ocasionou impactos relevantes nas condições urbanas, como a alta especulação imobiliária e uma expansão desordenada pelas áreas periféricas.
Viçosa
Inserida na Zona da Mata Mineira, Viçosa
é
uma
cidade
conhecida
1990 - 2010 1980 - 1990 1970 - 1980 1960 - 1970 século XIX - 1960
nacionalmente por abrigar o maior campus da Universidade Federal de Viçosa
(UFV)
universidades
-
uma
das
públicas
do
maiores país
-
0
localizado na região central da cidade, ponto
significativo
ocupação urbanização.
do
no
espaço
processo
de
urbano
e
NOVA VIÇOSA
850
1700 2550 3400 metros
Figura 17: Processo de expansão da Malha Urbana da cidade de Viçosa dividida por bairros entre 1960 – 2010. Fonte: Viçosa Digital Prefeitura Municipal
27
Em 2020, segundo o IBGE, a cidade contava com uma população estimada de 79.388 habitantes e uma área territorial de 299.418 km², resultando em uma densidade demográfica de 241,2 habitantes por quilômetro quadrado. À
Viçosa
essa população, soma-se cerca de 20 mil habitantes enquanto população flutuante resultante da Universidade Federal assim como da Univiçosa, população com considerável rotatividade e com presença na cidade vinculada ao período letivo universitário. O Retrato Social de Viçosa, documento desenvolvido
centro
pelo Centro de Promoção do Desenvolvimento Sustentável
UFV
de Viçosa (CENSUS), apresenta uma divisão em 14 Regiões Urbanas de Planejamento (RUP) agregando as ruas e bairros com características mais similares entre si, para compreensão mais exata da realidade local. De acordo com os indicadores de renda por RUP, é possível perceber que a região de menor renda per capita apresentada consiste na região de Nova Viçosa, região essa integrada pelos bairros Nova Viçosa e Posses. Assim como a maior porcentagem de famílias (24,54%) com pelo menos um caso de vulnerabilidade, como apresenta o gráfico ao lado. Sendo que a maior parte das famílias se encaixam no critério de renda familiar per capita inferior a um quarto de salário mínimo.
renda per capita
Nova Viçosa
Acamari Nova Viçosa Santa Clara Amoras Fundão Cachoeirinha
% casos de vulnerabilidade Bom Jesus Nova Viçosa Santa Clara Fundão Cachoeirinha Centro
Fonte: Census 2013
28
No quesito de falta de instrução, Nova Viçosa perde apenas
para
a
Região
Urbana
de
Planejamento
de
Cachoeirinha, com uma porcentagem de 10,09% de população
. Nova Viçosa e os indicadores Ainda de acordo com o CENSUS 2014, Nova Viçosa é a 7ª
sem instrução, como aponta o gráfico da página anterior. Ao interpretarmos os dados apresentados, é possível
mais populosa entre as quatorze regiões, contando com uma
perceber que Nova Viçosa lidera os rankings dos piores
população de 5.214 habitantes espalhados por 1.442 domicílios,
indicadores sociais da cidade, o que reitera a importância de
resultando em uma densidade de 3,62 moradores por
políticas públicas voltadas para a região. (CENSUS, 2014)
domicílio, ficando atrás apenas das regiões do Fundão e Santa Clara.
% população sem instrução
Quanto à população estimada por gênero, a diferença é pequena quando comparada com outras regiões como a do
Nova Viçosa Santa Clara Amoras Fundão Cachoeirinha
5.214
}
Índice de segregação socioespacial
0,688
Centro, entretanto, o gênero feminino segue em maioria com diferença de 132 habitantes. Da divisão por faixa etária, é possível perceber que Nova Viçosa possui uma população razoavelmente jovem, com uma baixa porcentagem de idosos e em sua maioria composta por
7ª região urbana de planejamento mais populosa
Fonte: IPLAM Viçosa
adultos.
Idosos 10,2%
predominantemente residencial
1.442
Adultos 43,8% 48,7%
51,3%
Crianças 29,2% Jovens 16,8%
29
. histórico
forte disputa fundiária no Centro.
do bairro
Para entender melhor a realidade da Região Urbana de Planejamento de Nova Viçosa é preciso compreender seu processo de urbanização. A Região Urbana de Planejamento de Nova Viçosa contempla os bairros Nova
Viçosa
e
Posses,
bairros
localizados na região sudoeste da cidade. O bairro de Nova Viçosa, em específico, surgiu em 1978 a partir do parcelamento de terras de uma fazenda cafeeira de 7km para um loteamento destinado às classes populares. Isso porque, a Federalização da então Escola Superior de Agricultura e Veterinária para a Universidade Rural do Estado de Minas Gerais em 1969 havia resultado em uma segunda expansão da cidade, o que
interferiu
nas
demandas
habitacionais locais, sucedendo em uma forte disputa fundiária no Centro.
nasce a partir de uma visão higienista e
A então administração municipal decidiu
promover
higienista
do
uma
Centro
da
reforma cidade
preconceituosa, que resulta em uma tentativa de segregar territorialmente a população mais vulnerável da cidade.
aprovando a lei municipal de nº609 de 31 de dezembro de 1971, que dispunha sobre o prolongamento de favelas na região central da cidade, proibindo a construção de casebres na área com a justificativa
de
uma
possível
má
impressão aos novos moradores e visitantes. (COELHO, 2013) Como alternativa, a Construtora e Incorporadora Chequer, pertencente até então ao ex-prefeito e vereador da cidade, Antônio Chequer, lançou o bairro de Nova Viçosa em 4 de maio de 1978 com 3500 lotes sendo vendidos por até 10 vezes mais baratos do que os mais baratos oferecidos na cidade até então. (COELHO, 2020) Como percebemos a partir da citação reproduzida ao lado, o bairro
“As favelas brotaram como cogumelos e prosperam em número e área rapidamente. Também, se enriqueceram, dia a dia, em problemas de saúde, de alimentação, de vestuário, de escola, de dinheiro, de tudo. Elas é que fornecem o grande contingente diário de casos que vão ter à delegacia de polícia da cidade” (FÔLHA DE VIÇOSA, 1971 apud COELHO e CHRYSOSTOMO, 2014)
30
“Eu podia aplicar de outra maneira, por exemplo comprar uma maquina no valor "X", com um faturamento abaixo e ficar com a maquina. Mas tem aquele negocio que nos chamamos de "o humano", o homem perante Deus. Que eu levei muitos la pra ver Nova Vicosa antes de ser e todos diziam assim: "Isso ai da um belo cafezal!" Eu fechava os olhos e dizia: "Isso da um belo loteamento para os pobres!" (CHEQUER, 1989 apud SANTOS, 1991, apud SILVA, 2014) Com essa fala de Antônio Chequer é possível perceber o que se pretendia com a criação do novo bairro: retirar do centro
Diante disso, como garantir o pleno direito à moradia para essa população?
da cidade uma parcela da população que era considerada um problema. A criação de Nova Viçosa favoreceu sua promoção e consolidação política como “pai dos pobres”. (COELHO, 2013) Houve
grande
publicidade
em
torno
do
empreendimento, lotes foram doados e o populismo do então vereador estabelecido. A
população
que
adquiriu
os
terrenos
era
majoritariamente composta por profissionais de baixa renda, como domésticos (44%), lavradores (9%), serventes (17%), pedreiros (9%), dentre outros. A caracterização do local enquanto bairro dormitório deixa aberta uma questão que envolve a criação de um bairro com completa falta de infraestrutura e de equipamentos públicos e coletivos.
Figura 18: Primeiras casas do bairro Nova Viçosa, festa de inauguração do bairro. Fonte: Mello, 2020 apud Coelho, 2013
31
. relação
com a cidade
Apesar de se localizar a apenas 4km do centro da cidade, distância razoável tendo em vista outros bairros de Viçosa, é significativa uma segregação geográfica devido ao relevo existente entre a cidade e o bairro. A segregação geográfica é aliada à falta de infraestrutura já que, até o ano de 2004, não permitia o acesso pelo transporte público, e os moradores acabavam por fazer grande parte do trajeto a pé.
uma vez que as rotas não seguem um padrão fixo de intervalo ao longo do dia. Além disso, as linhas de transporte público favorecem a área mais central do bairro, sendo que os moradores de áreas mais periféricas ainda precisam percorrer grandes trajetos a pé em ruas e calçadas que não garantem boas condições de circulação para o pedestre. Outro fator relevante na relação entre o bairro e a cidade está na não existência de Escolas de ensino médio no bairro, o que faz com que os adolescentes, a partir de aproximadamente 15 anos, se desloquem para os bairros próximos a fim de continuar os estudos.
Atualmente o transporte público de acesso ao bairro conta com ônibus das seguintes linhas:
Nova Viçosa x UFV Novo Silvestre x Nova Viçosa Nova Viçosa x Centro Esedrat x Retiro Amoras x Nova Viçosa Esses trajetos resultam em uma ampla disponibilidade de transporte público nos horários de pico, entre 6h e 8h e entre 17h e 19h. Tal disponibilidade não se aplica aos outros horários,
Figura 19: Foto atual do bairro Nova Viçosa (setembro 2021) Fonte: Ulisses Hubner
32
. contexto
e cultura local
ausência de políticas públicas de qualidade voltadas à sua região. Dessa forma, para amenizar essa impossibilidade de participação dos moradores no processo de projeto, foram
A partir do momento em que o local de inserção de um
realizadas entrevistas e um levantamento sobre as iniciativas
projeto arquitetônico ou urbano de fins sociais se encontra em
culturais e sociais existentes no bairro de forma a identificar as
uma comunidade da qual o arquiteto e urbanista não faz
dinâmicas de vida existentes, a fim de nos aproximarmos das
parte, torna-se necessária a inclusão da população local na
necessidades e anseios da população. Essas iniciativas podem
concepção do projeto, a fim de que os futuros usuários
ser potencializadas pelo projeto proposto.
possuam poder de decisão garantindo maior cidadania e democracia no processo como um todo, resultando em um projeto colaborativo não hierarquizado, de forma que a
Parte baixa Parte alta
comunidade possa se apropriar do espaço da melhor forma possível. Tal processo compreende a arquitetura participativa, que se apresenta como resposta às questões sociais e políticas que compreendem a arquitetura e o urbanismo. Entretanto, devido ao contexto de pandemia no qual esse trabalho vem sendo desenvolvido, tal participação da comunidade foi impossibilitada da maneira que se pretendia. Além disso, envolver a comunidade na participação de um projeto que não prevê real aplicação e execução após seu desenvolvimento, é uma forma cruel de relembrá-los da
Figura 20: Mapa do bairro com aproximação da divisão efetuada pela comunidade entre a “parte alta” e a “parte baixa”
33
Sobre a apropriação dos espaços
Sendo assim, foi possível perceber que a está
urbanos, é possível perceber que, para
concentrada na “Parte Alta”, divisão
além da escassez de praças e espaços
efetuada pela própria comunidade, e em
públicos, as ruas e calçadas consistem no
sua região central,
principal espaço de lazer do bairro, onde
vida
social
da
comunidade
onde ocorrem as
as crianças jogam futebol, andam de
festividades e eventos ocasionais.
bicicleta, brincam, e onde muitos adultos
O posto de saúde também se
se reúnem próximos às suas casas para
configura como ponto de encontro, para
conversar.
interação, uma vez que os moradores
As ruas de Nova Viçosa são bem
têm o costume de visitá-lo apenas para
heterogêneas quanto à materialidade,
socialização. Os
eventos
e
algumas poucas possuem pavimentação
festividades
em asfalto, outras em pedra fincada e
mencionados anteriormente incluem:
grande parte ainda se encontram em terra
Semana Santa
batida, a maioria delas possui grande
Festa Junina
declividade e calçadas precárias ou até
Dia das crianças
inexistentes.
Aniversário do NV Rap Apresentações
da
Os jogos de futebol são constantes APOV
entre as crianças do bairro, entretanto não
(Associação Assistencial e Promocional
existe local adequado à isso no momento,
da Pastoral da Oração de Viçosa)
o que faz com que as crianças ocupem Figura 21: Mapa da ocorrência dos eventos e festividades do bairro.
locais improvisados, como algumas áreas da praça Antônio Chequer, o “campinho da
34
grota” que consiste em uma área de vazio urbano que possui diversas problemáticas com alagamentos, uma vez que se situa nela a nascente do curso d’água existente, e questões burocráticas de concessão do terreno para a prefeitura. No que diz respeito a manifestações culturais, Nova Viçosa dispõe de uma forte tradição ligada ao Rap com grupos conhecidos como o NV Rap. Eventualmente são organizadas batalhas de rap em alguns locais do bairro, principalmente na Praça Antônio Chequer. Associado a isso, o bairro também possui grupos de danças urbanas, sendo que com vários moradores integram o Grupo Impacto, que algumas vezes realiza apresentações e oficinas para a comunidade.
Figura 22: Foto da principal via do bairro, rua Assad Nazar (novembro 2021) Fonte: acervo pessoal
A APOV também oferece atividades relacionadas à dança para os moradores, como aulas de zumba e ballet. Já as gerações mais antigas se interessam pelo forró, capaz de movimentar os bares nos finais de semana. Entretanto não há, no momento, nenhuma atividade oficial envolvendo esse ritmo no bairro, o que leva os moradores a frequentarem clubes no centro da cidade. A Igreja católica Nossa Senhora de Conceição, abriga um grupo de teatro que participa dos eventos da comunidade, e que também costuma se apresentar em outros locais da cidade.
Figura 23: Foto da Praça Antonio Chequer (março 2022) Fonte: Ulisses Hubner
35
“
“
Como simples indignação moral, não há garantia de que o feminismo possa se transformar em ação ético-política responsável -MARCIA TIBURI
. o equipamento Portanto, foram traçados aqui os
fundamentos
para
a
existência
aplicabilidade
de
um
Centro
e
. diretrizes
projetuais gerais
atividade de caráter emancipatório político-social,
que
vai
além
da
Frente
aos
dados
levantados,
de
oportunidade de geração de renda,
formação, promoção e difusão de
como buscamos mostrar nesse texto,
saberes artesanais voltado ao público
mas
feminino, no bairro de Nova Viçosa,
superação
tendo em vista a necessidade de
mulher na esfera privada a partir do
contexto cultural local e a produção
melhoria de oferta de oportunidades
fortalecimento de iniciativas coletivas
artesanal. Dessa forma dividimos as
para a população feminina no que diz
de caráter social e cultural.
diretrizes
respeito
à
formação
que
também da
profissional,
mulheres são maioria no setor do trabalho artesanal, que é autônomo e profunda
isso
seja
disparidade
resultado social
da
entre
homens e mulheres, pois a elas não é garantido formalizado,
o
direito
ao
principalmente
restrita
à
proposta do equipamento a partir de três frentes: a arquitetura de gênero, o
para
projetuais
Embora os dados mostrem que as
e
condição
a
trabalho para
as
a
concepção
desse
equipamento em duas partes: diretrizes
financeira, educacional e cultural.
informal,
proporcione
pudemos estabelecer as diretrizes para a
caracterização dos artesãos
gerais
e
diretrizes
programáticas. Baseando-nos na arquitetura de gênero, buscamos construir as diretrizes gerais de modo a garantir que o equipamento diferentes priorizando
possa
usuários, o
ser
usado
mas
por
também
atendimento
das
mães, acreditamos que também seja
necessidades específicas do gênero
possível encontrar no artesanato uma
feminino.
37
. diretrizes
da arquitetura de gênero
Dessa forma, uma das diretrizes principais do projeto está na integração entre o equipamento e um espaço público de
necessidades específicas do público feminino acesso a espaços públicos qualificados, frequentados, bem iluminados e com acessibilidade equipamentos de formação cultural e profissional que considerem suas necessidades específicas espaços que acolham as crianças enquanto usuários conjuntos acesso a espaços coletivos de socialização fortalecimento de coletividades locais acesso a pé ou a partir do transporte coletivo
qualidade, melhorando a igualdade de oportunidades no uso e no aproveitamento desses espaços, garantindo o direito à cidade, possibilitando maior mobilidade urbana e promovendo o uso misto do solo, de modo a romper a rígida funcionalização da cidade e assegurar a segurança por parte das usuárias. Espaços qualificados e com programas diversos atraem pessoas, os “olhos da rua”, gerando a sensação de segurança e o convite ao uso e apropriação dos espaços públicos. (JACOBS, 2000). Tal garantia de segurança também deverá se dar através da permeabilidade visual pretendida pelo equipamento e os espaços adjacentes. Ainda no âmbito da arquitetura feminista, propomos que todo o equipamento se valha de espaços acessíveis às crianças, que acolha as crianças quando necessário, nos momentos de contraturno escolar, por exemplo, permitindo que a mulher saia da esfera do espaço privado com mais tranquilidade e que possa se formar e trabalhar sem que a responsabilidade
38
pelos cuidados com as crianças se apresente como empecilho. Para isso, propomos que o edifício que irá abrigar o Centro de formação, promoção
e
difusão
artesanais
seja
dos
localizado
saberes em
um
espaço público qualificado, próximo dos pontos de lazer e de transporte público já existentes, que possa acolher e
tipos de ARTESANATO previstos NO EQUIPAMENTO
têxtil
atividades SEM NECESSIDADE DE ATELIÊ ESPECÍFICO
BORDADO CROCHÊ TRICÔ CESTARIA
atividades COM NECESSIDADE DE ATELIÊ ESPECÍFICO
TECELAGEM COSTURA
cerâmica
MODELAGEM MOSAICO
potencializar iniciativas já consolidadas.
Além do equipamento arquitetônico, propromos também a criação de um
Dessa forma, o espaço público a ser
espaço público contíguo, que pode desempenhar o papel de integrar a parte alta e a
ativado e qualificado pela presença
parte baixa do bairro, tanto a partir de conexões físicas quanto a partir do oferecimento
desse equipamento comunitário deverá
de espaços qualificados e de fácil acesso para as duas partes do bairro.
atender diversos usuários. Tendo em
Atividades que podem ser acolhidas por esse espaço público:
vista isso, estabelecemos a definição do programa do espaço público por faixa etária e por “ações”.
estar brincar 0-5 anos
5-15 anos
socializar brincar exercitar
trabalhar descansar socializar exercitar 15-60 anos
60+ anos
contemplar socializar exercitar
39
. objetivos
de desenvolvimento sustentável
Outra diretriz importante na elaboração do trabalho e do equipamento proposto diz respeito aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Trata-se de uma agenda mundial com 17 propósitos diversificados porém interconectados e 169 metas a serem alcançadas até 2030, traçados a fim de direcionar as medidas e planos estratégicos com a finalidade de atender as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de gerações futuras de fazerem o mesmo. (Instituto Aurora, 2021) Sendo assim, é possível perceber que o projeto em desenvolvimento busca cumprir, no âmbito em que lhe compete, as ODS destacadas na imagem abaixo.
Figura 23: Objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, em destaque os coloridos: 1, 5, 8, 10 e 12, aplicáveis neste projeto.
40
. recorte e análise Para proposição
melhor projetual,
articulação o
bairro
Acesso secundário “parte baixa” via Fátima
da área de intervenção e
foi
analisado quanto ao uso e ocupação do
Escola Municipal Padre Francisco José da Silva
solo, topografia, hidrografia, serviços e
Acesso primário “parte alta” via Fátima
rota de transporte público. Resultando no mapa a seguir:
Centro Municipal de Educação Infantil Leda Bittencourt Vieira
comércios educação religião lazer serviços
Unidade básica de saúde Nova Viçosa e Posses APOV Praça Central Antônio Chequer
saúde vazios urbanos lotes vagos curso d’água rota do ônibus área de análise topográfica
Figura 24: Mapa de análise do bairro Nova Viçosa. Elaboração: Geraldo Chaib, 2020 Atualização e adaptação autorais.
41
Este vazio urbano central abriga o curso d’água e possui um desnível topográfico de aproximadamente 40m, de uma ponta à outra e também se distingue por ser uma barreira natural entre as duas áreas de distintas características urbanas do bairro, a parte baixa, de aspecto mais rural, pacato, e a parte alta, mais agitada, de maior fluxo de pessoas, onde se localizam 25m
a maioria dos comércios do bairro. Destaca-se, ainda, uma presença significativa da mata ciliar próxima ao curso d’água.
os
aranh
Rua S .P
Ru
aV
Figura 25: Mapa topográfico com definição parcial da área de intervenção. Fonte: Elaboração autoral
ice
nt
eB
O primeiro recorte definido para a localização da área de intervenção contempla uma proximidade com equipamentos públicos e de lazer existentes e com as rotas de transporte público, assim como as áreas de fluxo mais intenso de
Rua
Assa
d Na
ssar
Rua
ru
sto
lin
e sar
as ad N
Ass
pedestres e veículos. Trata-se de um vazio urbano central compreendido pela via principal, Rua Assad Nassar, e pelas ruas Vicente Brustoline e S. Paranhos.
Figura 26: Localização do vazio urbano em estudo em fotografia aérea Fonte: Elaboração autoral
42
Zona Residencial 2 - Caracterizada pela predominância do uso residencial, restrição à alta verticalização e adensamento.
1
2
lotes vagos vazios urbanos curso d’água rota do ônibus ponto de ônibus
3 Figura 27: Mapa aproximado da área de intervenção com análises de insolação, ventilação, uso do solo e rota de ônibus. Elaboração: Mapa de fundo Geraldo Chaib - análise autoral Figura 28-30: Fotos da área de análise (novembro 2021) Fonte: Acervo pessoal
Por se tratar de um vazio urbano extenso, podemos perceber diversas conformações na análise do terreno, locais de maior ou menor adensamento de vegetação, porções mais íngremes e outras mais planas e distintas frequências e intensidades de ruído.
43
Inclinação pela média
. estudos
DA ÁREA DE INTERVENÇÃO
18%
Embora a lei de uso e ocupação
16,5%
do solo da cidade de Viçosa preveja
15%
uma
12%
Permanente (APP) limitada a 15m dos
3%
cursos d’água, a Lei n. 12.651/2012 de
Área
âmbito
de
Federal,
Preservação
prevê
uma
delimitação de área de 30m para cursos d’água com menos de 10m de largura, visando proteger o solo e assegurar o bem-estar populacional. Sendo assim, optou-se pelo cumprimento
à
lei
federal
ao
delimitar-se uma área de 30m de distância do córrego para aplicação de wetlands, preservação da mata nativa e/ou implantação de mata ciliar e tratativas do solo. Tendo delimitação da APP curso d’água
Figura 31: mapa aproximado do terreno com edificações existentes, taxa de declividade, curso d’água e APP
em
vista
o
caráter
conectivo pretendido pelo projeto, foram realizados alguns estudos de acessos, interações e articulações
44
terreno,
resultando em um acesso principal, da edificação demarcado no mapa como acesso número 1 e outros articuladores do espaço público adjacente à ela, acessos 2, 3, 4 e 5.
2
conter espaços públicos de convite O acesso de número 1, o acesso principal, teve sua definição pautada de
sua
1
Próximo a ele, propõe-se a uma
existente,
para
que
edificação uma
área
generosa de acesso pela Rua Assad Nazar possa ser proposta.. Embora consista em um lote privado, atualmente o local abriga
fluxo intenso fluxo médio fluxo baixo
área de preservação permanente curso d’água
s
acesso.
e op .L éV
ônibus existente à esquerda deste
5 s Jo
pedestres, próximo a um ponto de
R. Assad Nazar
R.
uma rua de alto fluxo de veículos e
de
icen te B
e
localização
estratégica, na principal via do bairro,
remoção
R. V
rust olin
R. José Rocha Santana
fato
4
R. Joaquim
ao parque.
no
3
Nogueira
Tais acessos articuladores deverão
rreira
do
Rua José Borges Fe
entorno
Rua Antônio Santos
o
Rua S. Paranhos
entre
edificações a serem Figura 32: mapa do entorno do removidas terreno de projeto com as recanto dos sonhos edificações a serem removidas, fluxo das ruas adjacentes e possíveis possíveis acessos acessos.
uma lagoa e criação de animais conhecido como “Recanto dos Sonhos”, intenciona-se agregar tal espaço ao projeto, tornando-o um espaço público de convívio.
45
. programa
INTENÇÃO PROJETUAL
[FORMAÇÃO]
arquitetônico
valorizar e transmitir conhecimentos e tradições
Seguindo ainda as necessidades específicas
do
consideramos
público
essencial
AÇÕES DESENVOLVIDAS Pelos usuários e usuárias
feminino, que
[promoÇÃO e difusão] [infraestrutura]
esse
vender aprender expor brincar socializar divulgar
aprender trabalhar dialogar
equipamento não seja formulado a partir de um programa rígido e de uma lógica
estritamente
funcional.
É
necessário pensar na flexibilidade dos espaços e na polivalência dos usos. No entanto, não é possível partir de um pressuposto sem identificar e tentar compreender as carências locais e as necessidades das futuras artesãs.
[FORMAÇÃO] No
que
diz
respeito
administrar comer GUARDAR
à
ocasionalmente atividades de trabalho
formação e trabalho, o programa
possam ocorrer junto com o cuidado
deverá abranger espaços para aulas
das crianças.
e transmissão de conhecimentos. Os espaços para o trabalho devem flexíveis
O programa relacionado à promoção
diretrizes
sempre que possível, embora possa
contempla ambientes de abrigo e
principais a formação e trabalho, a
haver a necessidade de espaços
desenvolvimento de oficinas artesanais
promoção e a difusão do artesanato,
mais específicos para o trabalho
com crianças em contraturno escolar, e
para além da infraestrutura básica de
focado,
que abriguem também atividades de
apoio e o desenho de espaço público
especializados e com estoque para
lazer
qualificado no local de inserção do
guarda
promovam o saber artesanal e sua
edifício.
necessário, devem permitir que
Portanto, programa
o
desenvolvimento
tem
como
do
ser
multifuncionais
com da
e
[PROMOÇÃO]
equipamentos
matéria
prima.
Se
e
que,
ao
mesmo
transmissão entre gerações.
tempo,
46 54
seguro e acessível para prática de
[DIFUSÃO] Para o programa relativo à difusão
dos
saberes
artesanais
prevê-se a necessidade de espaços para realização de feiras, ambiente de galeria para exposição dos trabalhos realizados, sala de marketing tendo em
mente
fotografia
a e
necessidade postagem
de para
divulgação da produção local em mídias digitais, criação e manutenção
esportes com encontros para debates e
reuniões
da
comunidade,
contemplação, caminhadas, espaços de lazer infantil e um espaço flexível que possa abrigar além das feiras um cinema a céu aberto, anfiteatro para apresentações, bailes de forró e batalhas de rap característicos da região assim como apresentações de dança.
de uma ambiente de e-commerce, além de espaço para embalagem dos produtos finais.
atividades
[ESPAÇO PÚBLICO] Espera-se que o espaço público a ser desenvolvido ofereça áreas de convívio
e
sociabilidade
que
o
equipamento irá compartilhar com a cidade,
possibilitando
o equipamento
um
local
Ateliê de cerâmica Ateliê de tecelagem Ateliês multifuncionais Galeria de exposição Café/quiosque de venda Estoque de vendas Sala de multimídia/ e-commerce Espaço de convivência e recepção do público
apoio
Depósito de equipamentos Almoxarifado Banheiro Administração/recepção Copa Creche Banheiro infantil Copinha para creche DML
espaço público de qualidade Ciclovia Pista de skate Academia ao ar livre Parque Campo de futebol Praças Anfiteatro Quiosques Feiras Horta coletiva Mirante Playground
47
A partir de estudos de layout, foi definida uma área ideal aproximada
Figura 33: mapa com indicação dos cortes esquemáticos da área.
746
para os ateliês, em torno de 64m², atendendo em média 12 alunas cada. Pretende-se que o ateliê 1
750
possua um layout flexível, de forma
754
para as atividades com as crianças 2 deverá possuir um ambiente mais
748
752
que sirva também enquanto sala quando necessário, enquanto o ateliê
A
748
760
756
750
758
752 754 756 758
B
descontraído e menos institucional.
A
B
48
. fluxograma tem
copinha
como
função primordial proporcionar um
ateliê
quiosque/café
espaço seguro e tranquilo para o
ateliê
ateliê
ateliê
ateliê
trabalho além da esfera privada, bem como de valorizar o processo de
acesso
recepção/pátio central
produção artesanal. Sendo assim, a proposta arquitetônica se pauta na conexão visual e espacial entre os ambientes
de
copa
administração
banheiros
permanência
prolongada, trabalho, estar infantil e exposição.
almoxarifado
estoque de vendas
espaço multimídia
galeria de exposição
equipamento
espaço público infantil
creche
O
banheiro infantil
Figura 34: fluxograma inicial do projeto pretendido
Conexão será estabelecida pelo pátio central, que abriga a recepção,
A administração faz a conexão
de onde se pode acessar os demais
entre os ambientes que necessitam
possuir ambém certa conexão visual
ambientes. Da mesma forma, para
maior
do
com um espaço público qualificado
acesso à galeria que expõe o trabalho
equipamento, como o almoxarifado
para o público infanto-juvenil, além
artístico e comercial produzido pelas
e o estoque de vendas, que acessa
das atividades da creche, para que as
artesãs, estabelece-se um percurso
diretamente o espaço multimídia,
mães artesãs possam usufruir da
que permite acompanhar o processo
voltado ao comércio virtual do
tranquilidade de terem seus filhos
produção, ou parte dele.
material produzido no Centro.
sempre à vista.
segurança
dentro
Alguns
dos
ateliês
deverão
49
. pré-dimensionamento ambiente
características
mobiliário
área aproximada
Próximo à entrada, com recepcionista Recepção
em balcão de informações, para
Balcão de recepção com cadeira para
atendimento das alunas e visitantes do
recepcionista.
6m²
Centro. Pátio
Administração
Copa
Almoxarifado/DML
Área aberta, de descanso e interação
Mobiliário de descanso e trabalho ao ar
entre as alunas e os visitantes
livre, paisagismo de contemplação
Escritório de trabalho burocrático relativo ao Centro para 2 secretárias
Mesas de escritório com computador, assento para 2 pessoas (trabalho) + 2 pessoas em caso de atendimento
Semi-cozinha para preparo de
Área de bancada com pia, microondas
alimentos individuais das
e geladeira e duas mesas de 4
trabalhadoras e estudantes do Centro
lugares
12m²
8m²
Espaço para armazenamento de
Prateleiras e armários para
itens necessários ao funcionamento
armazenamento.
6m²
Prateleiras
18m²
e limpeza do centro Estoque de vendas
Ambiente de armazenagem dos produtos prontos para comercialização.
50
ambiente
características
Sala
Espaço para fotografia dos produtos e
multimídia e
postagem na internet, manutenção de
comércio digital
redes sociais, gravação de conteúdo
Banheiro
Sanitário feminino
Banheiro
Sanitário masculino
Banheiro
Sanitário PCD
mobiliário Área de cenários, mesa com computador e cadeira Bacias sanitárias, pia, trocador e espelho Bacias sanitárias, pia, trocador e espelho Bacia sanitária, pia, trocador e espelho
Ateliê 1
Ateliê multiuso para aulas e práticas
Mesas e cadeiras
(têxtil multi)
de crochê, bordado, tricô e cestaria
e armários para estocagem
Ateliê 2
Ateliê multiuso lounge para artes
(têxtil multi)
têxteis
grupo, sofás e poltronas e armários para
Mesa de corte, máquinas de costura,
(costura)
práticas
pegboard para armazenagem
Ateliê 4 (cerâmica)
decorativos, áreas de modelagem, esmaltação, forno, torno e preparo
25m² 15m² 8m² 64m²
64m²
estoque
Ateliê de corte e costura para aulas e
objetos cerâmicos utilitários e
22m²
Mesas e cadeiras para produção em
Ateliê 3
Ateliê para aulas e produção de
área aproximada
64m²
Tornos e cadeiras, mesas para modelagem, cadeiras, tanques e bancada molhada, forno e
64m²
prateleiras para armazenagem
51
ambiente
características
Ateliê 5
Ateliê de tecelagem para aprendizado
(tecelagem)
e prática
Teares manual pente liço e manual simples, armários para armazenagem de materiais
Ambiente lúdico para permanência de
Playground, mesas, cadeiras, colchões,
crianças de 0 a 4 anos
telão para exibição de filmes
Local para preparo de alimentos para
Bancada com microondas e pia,
as crianças menores
geladeira e mesa com cadeiras
Creche
Copinha Banheiro
Sanitário unissex infantil e adulto para crianças e cuidadoras Local de comercialização de
Quiosque
alimentos e bebidas para frequentadores do Centro
mobiliário
Bacias sanitárias, pia, trocador e espelho
Balcões, freezer, fogão, geladeira, pia, mesas e cadeiras, banquetas e bancada
área aproximada 64m²
49m²
12m² 16m²
30m²
Espaço focado na exposição e Galeria
comercialização de trabalhos manuais
70m²
realizados pelas artesãs Total parcial
Circulação
Total parcial
626m²
30% do total parcial
187,8m²
803,8m²
52
A partir de estudos de layout, foi
Ateliê 2: multiuso
Ateliê 1: multiuso
definida uma área ideal aproximada
estocagem de peças inacabadas
peças inacabadas
para os ateliês, em torno de 64m², atendendo em média 12 alunas cada. Pretende-se que o ateliê 1 possua um layout flexível, de forma peças inacabadas
que sirva também enquanto sala para as atividades com as crianças quando necessário, enquanto o ateliê 2 deverá possuir um ambiente mais
64
descontraído e menos institucional. Ateliê 3: costura
peças inacabadas
Ateliê 5: tecelagem
Ateliê 4: cerâmica
estocagem
peças inacabadas
torno
mesa de corte
tear
tear tear
torno torno
tear peças inacabadas
tear
tear tear
torno armário de estocagem
tear
modelagem e pintura
estocagem de material
53
“
“
A cidade foi criada para apoiar e facilitar os papéis tradicionais do gênero masculino e estabelecendo as experiências dos homens como “regra”
- LESLIE KERN
. estudos
e todos envolvendo participação comunitária ativa e/ou possuindo
de caso
Compreendendo e definindo um caminho projetual para o trabalho
importância na compreensão de uma arquitetura popular, funcional e de impacto social. Durante
a
pesquisa
para
desenvolvido, pretendeu-se construir
definição dos estudos de caso,
uma bagagem referencial sólida,
foram
obtida a partir do estudo em forma de
referências projetuais interessantes
pesquisa pautada em semelhanças
e que dialogam de alguma forma
programáticas,
arquitetura
com o projeto proposto, entretanto
colaborativa, da materialidade ou, até
analisar uma a uma se tornaria
mesmo, da experiência pretendida
inviável.
de
pelos espaços a serem projetados. Desta
forma,
foram
encontrados
diversas
Portanto, as principais, para elencados
destrinchando suas alternativas e
caracterizaram como inspirações
estratégias de projeto.
para o processo projetual, seja pela
ao
lado.
e
forma como dialoga com o entorno, o programa apresentado ou pelo
Educativo San Vicente Ferrer e a
uso da ludicidade nos espaços
Clinica Cirurgica e Centro de Saúde
coletivos e/ou públicos.
UVA EL Paraiso,
o
de Leo, os dois primeiros fazendo uso socioeducativo de seus espaços,
fotografia: Daryl Mulvihill
Figura 36: Parque Educativo de Marinilla El Equipo de Mazzanti
fotografia: Sergio Gomez
se
Parque
da
Figura 35: Na Natureza Selvagem
além dos estudos de caso, estão
estabelecidos os estudos de caso,
Os projetos analisados foram o
outras referências
Figura 37: Escola Guignard
fotografia: Jomar Bragança
Figura 38: Colégio Positivo Internacional Manoel Coelho Arquitetura e Design fotografia: Nelson Kon
55
. UVA El Paraíso
Ano do projeto: 2015 Local: San Antonio de Prado, Medellín, Colômbia Área: 3879 m² Autores do projeto: EDU - Empresa de Desarrollo Urbano de Medellín Cliente: INDER (instituto de Deportes y Recreación) Alcaldía de Medellín Figura 39: Fotografia da fachada frontal de acesso peatonal da UVA El Paraíso. Fonte: Victor García via ArchDaily
A Unidade de Vida Articulada El Paraíso faz parte de um
estabelece com o entorno, respeitando a pré-existência e
projeto de transformações urbanas na cidade de Medellin que
incluíndo-a como centralizador do projeto, o que ocorreu com o
tem como objetivo proporcionar ambientes de encontro
campo de futebol. Ele também foi desenvolvido a partir de uma
comunitário, fomento ao esporte, cultura e participação
construção coletiva com a comunidade, colocando o usuário
comunitária ao passo que reativa espaços urbanos antes
como protagonista do edifício, o que influencia diretamente no
considerados inseguros e problemáticos do ponto de vista da
senso de pertencimento da população local. Outro aspecto importante para a escolha desse projeto
administração pública. A inspiração e utilização deste projeto como estudo de caso
para estudo consta na semelhança programática, tanto do
parte
Centro Cultural, quanto do aproveitamento do espaço público.
primeiramente,
da relação que o equipamento
56
pré-existência
vistas encontro cidadão cores CULTURA
cinco sentidos
esporte estratégias ambientais preservação
Espaço público atua enquanto cobertura
Rio la cabuyala como eixo ambiental. 1 Estacionamento 2 Entrada 3 Campo de futebol requalificado 4 Pátio 6 Sala de aulas 5 Salão de dança 7 Recepção 8 Ginásio multiuso 9 Jatos de água
Figura 40: Fotografia aérea da UVA El Paraíso Fonte: Alejandro Arango via ArchDaily
Pavimento térreo - nível da rua
circulação acessos programa cultural e de atenção a infância apoio
O fato do projeto se desenvolver tomando partido do rio e respeitando as Áreas de Preservação Permanente (APP), possuindo angulações pautadas nas vistas a serem Figura 41: Fotografia aérea da UVA El Paraíso Fonte: Alejandro Arango via ArchDaily
criadas a partir dessas APPs, revela um olhar sensível de projeto e condiz com a intenção projetual do Centro de formação, promoção e difusão do artesanato.
57
teatro ao ar livre
apropriação das curvas de nível
pátio central articulador participação da comunidade Ano do projeto: 2015 Local: San Vicente Ferrer, Antioquia, Colômbia Área: 1000 m²
. Parque Educativo San Vicente Ferrer
Autores do projeto: Plan:b arquitectos Cliente: Governo de Antioquia Figura 42: Fotografia da lateral esquerda do edifício do Parque Educativo San Vicente Ferrer Fonte: Alejandro Arango via ArchDaily
O Parque Educativo tem como base projetual um programa do Governo de Antioquia que pretende levar educação de qualidade a diversas regiões em coordenação com as comunidades municipais. Embora as necessidades programáticas não sejam tão semelhantes à do projeto em desenvolvimento, o parque ainda possui
um
programa
sócio-educativo.
Seu
partido
geométrico e de grande integração entre interior e exterior foram importantes para a escolha deste estudo de caso.
Figura 43: Fotografia aérea do Parque Educativo San Vicente Ferrer Fonte: Alejandro Arango via ArchDaily
58
1 sanitários 2 ateliês 3 administração 4 recepção 5 almoxarifado 6 depósitos
6 2
6
611
2 2
5
2
6
4
1 3
Figura 44 - 45: Setorização em planta baixa do primeiro pavimento e cobertura do edifício do Parque Educativo San Vicente Ferrer Fonte: Planta Plan:b arquitectos via ArchDaily
Os
projetos
arquitetônicos
do
circulação acessos ateliês de trabalho e oficinas apoio anfiteatro ao ar livre
Necessidades programáticas:
programa do governo são realizados em
aulas de teatro
colaboração entre os representantes
aulas de artes
municipais, o governo e os arquitetos, e a
aulas de informática
participação comuinitária ativa. Nesse
reuniões e mostras
em específico, a comunidade participou
lazer
ao expressar suas demandas e desejos
feiras culturais
através de textos e desenhos em oficinas
exposições
realizadas pelo Plan:b.
encontros comunitários
Figura 46: Fotografia do pátio central/anfiteatro ao ar livre Fonte: Alejandro Arango via ArchDaily
59
Ano do projeto: 2012 Local: Leo, Burkina Faso Ano de inauguração: 2017 Autores do projeto: KÉRÉ architecture Cliente: Fundação Operien
acessos blocos independentes
vila conforto modulação
. .Clínica ClínicaCirúrgica Cirúrgicaee Centro de Saúde
A proposta do projeto da clínica cirúrgica e centro de saúde do arquiteto
Figura 47: Fotografia aérea dda clínica cirúirgica e centro de saúde Fonte: Iwan Baah via KÉRÉ Architecture Figura 48: Fotografia da execução da obra da clínica com mão de obra local. Fonte: Iwan Baah via KÉRÉ Architecture
Diébédo Francis Kéré parte da necessidade de se executar algo relativamente simples a partir de poucos recursos, para criar um edifício que passasse confiança e proporcionasse uma atmosfera familiar e acolhedora aos moradores da região. Com materiais locais, técnicas e estratégias vernaculares que permitiram o uso da mão de obra local e o envolvimento da comunidade na construção do complexo, Kéré soluciona as questões apresentadas com um partido linear e modular.
60
As soluções de conforto ambiental e sustentabilidade compreendem as estratégias mencionadas e partem do uso dos tijolos de barro, a dupla cobertura com telhado descolado
Figura 50: Planta baixa e axonometria explodida evidenciando os múltiplos acessos e blocos individuais. Fonte: KÉRÉ architecture
da laje e grandes beirais, um sistema simples de coleta de água de chuva e as janelas emolduradas por caixotes quadrados de madeira, pintados em cores vivas, de modo a reduzir a absorção solar, além de criar uma variedade compositiva e permitir maior permeabilidade visual do complexo.
Figura 49: Fotografia do passeio central da clinica cirúrgica e centro de saúde de Leo. Fonte: Andrea Maretto via KÉRÉ architecture
Os dois conjuntos paralelos de blocos lineares configuram um pátio, também linear, e são formados por blocos não-idênticos, solução que permite, se necessário, a ampliação e crescimento do conjunto ao longo do tempo.
61
“
Haverá um outro modo de salvar-se? Senão o de criar as próprias realidades? - CLARICE LISPECTOR
. conceito O
projeto
do
Centro
Figura 51: moodboard da materialidade pretendida na elaboração do projeto. Compilação da autora
tijolo de adobe bambu
de
formação, promoção e difusão dos saberes artesanais de Viçosa tem como norte o realce da beleza e
juta
singularidade do processo manual. Desta forma, a concepção do projeto da edificação, assim como do parque no qual está inserida, se pauta nos
conceitos
de
PERCURSO e
OLHAR. O percurso, no edifício, se materializa a partir de um partido radial de tal forma que a galeria de exposição e comercialização tem acesso por um pátio central, no qual a permeabilidade visual dos ateliês possibilita
aos
visitantes
observação e contemplação todas as etapas do fazer artesanal.
a
telha galvanizada
de murais artísticos
. moodboard 63
. evolução
percurso
da forma
A evolução formal do projeto foi conduzida a partir
pátios jardim
movimento
permeabilidade visual
ateliês modulares: tentativa final
do conceito de dinamicidade pretendido através dos ateliês modulares, tencionando formar espaços residuais
2
1
a serem aproveitados enquanto jardins.
4
4
4 8 3
Sendo assim, foram feitas experimentações com diferentes volumes.
ateliês modulares: tentativa 1 1
2
4
3
ateliês modulares: tentativa 2 1
estocagem e armazenamento
2
5 3
3 Uma vez estabelecido um partido formal modular dos
4
ateliês
capaz
de viabilizar
arranjos
distintos,
dinâmicos e de coerência construtiva, realizou-se um Figura 52 - 54: testes para desenvolvimento formal dos ateliês.
estudo de setorização através do pré-dimensionamento apresentado anteriormente.
64
. setorização
O arranjo espacial e desenho do partido formal da edificação se estrutura a partir de um pátio central
e partido
1
uma permeabilidade visual
ao usuário do Centro e
Galeria de exposição e comercialização
visitantes da galeria, de forma que estes possam
Institucional: ateliês, sala de multimídia e estoque
ali executados.
Apoio: administração, almoxarifado, copa e banheiros
2
descoberto conectivo de todos os usos e que possibilita
Creche: creche, banheiro e copa
acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos manuais A partir da setorização dos usos ao redor do pátio, aplica-se o módulo volumétrico dos ateliês, apresentado anteriormente e, uma vez implantado no terreno, há uma adequação à topografia existente. área de preservação permanente
conexões pretendidas
edificações do terreno
possíveis acessos
edificações a serem removidas
acesso
3
Figura 55: Desenvolvimento do partido da edificação à partir da setorização ao redor de um pátio central descoberto.
Figura 46: Maquete do terreno, entorno imediato e edificações para estudo de conexões e acessos.
65
Entretanto, considerando a visada que essa testada proporciona para o vale arborizado, optou-se por nivelar o edifício com a via de acesso pela sua cobertura, desobstruindo
a
vista
e
permitindo
assim
um
terraço-praça parcialmente caminhável. O principal acesso para o edifício acontece a partir de um anfiteatro/escada ao ar livre que pode ser utilizado independente ao funcionamento do Centro de Artesanato. Ao adentrar o pátio, é possível contemplar os ateliês Figura 56: Implantação inicial da edificação no terreno.
A implantação pretendida inicialmente aloca a edificação com acesso pela Rua Assad Nazar, via com
e a galeria de exposição através de grandes painéis de vidro, estes se abrem em uma grande varanda-mirante para o vale arborizado.
maior fluxo de pedrestes e veículos, principal ponto de ônibus da região e maior área de testada livre do terreno.
Figura 57: Implantação da edificação no terreno, visão aproximada. Elaboração da autora.
Figura 58: Implantação da edificação no terreno, visão aproximada. Elaboração da autora.
66
Figura 59: Estratégia de implantação do edifício no terreno e aplicação da setorização privilegiando vistas, insolação, ventilação e topografia existente
acesso via anfite principal atro a céu aberto
parede de estocagem panos de vidro possibilidade de expansão
67
. plano de massas No que diz respeito às pretensões de ocupação do espaço urbano, preconiza-se a incorporação dos usos existentes como, por exemplo, a horta coletiva do Recanto dos Sonhos e seus lagos. Sendo assim, sugestiona a remoção das cercas que delimitam a divisão entre espaço coletivo e espaço público na intenção de absorver e expandir a funcionalidade do local. É considerado imprescindível que haja uma qualificação no nível das ruas adjacentes com as interfaces do terreno, de modo a atrair e estimular o uso e ocupação do parque. Próximo ao curso d’água, na faixa delimitada, prevê-se a
Figura 60: Plano de massas, proposta de ocupação do espaço público
circ
quadra
uito
circ
uito
feira
horta coletiva
bike
/ca
bike
/ca
minh
ada
minh
ada
praça
academia ao ar livre
circu
a edificação mirante
ito bi
ke/c
aminh
ada
playground skate
circuito interno que abrigará a
drenável,
ciclovia e via peatonal para a prática
impermeabilizar a área.
recuperação da área de preservação
de caminhada, corrida e ciclismo a
permanente e a criação de um
nível de lazer. Ambas em piso
No
de
modo
restante
do
a
não terreno
pretende-se trabalhar o paisagismo.
68
. corte
esquemático
cobertura do apoio ateliê
galeria
ateliê pátio
69
. próximos
passos
Na próxima etapa deste trabalho, a ser realizada na disciplina de ARQ399 - Trabalho de Conclusão de Curso II
sociedade, do ponto de vista social, educacional e ambiental.
serão desenvolvidos os projetos arquitetônico e urbano
Desta forma pretende-se um aprofundamento no
do NÓS - Parque e centro de formação, promoção e
desenho de um espaço urbano qualificado, respeitando
difusão dos saberes artesanais de Nova Viçosa, com o
os
intuito de que a edificação seja capaz de acolher as
prosseguimento no projeto da edificação em si
pessoas necessitadas e gere um impacto positivo na
usos
delimitados
até
o
momento,
além
do
70
. referências bibliográficas
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