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RESIDÊNCIA ARTÍSTICA CORPORATIVA ANPROTEC 2015 - Cuiabá
Como o contraponto artístico pode influir numa rodada de negócios ou entendimento de novas tecnologias? Luís Segadas Quando nos deparamos, com interesse, diante de uma obra de arte, existe um jogo de significações. O sentimento, o agenciamento, a afecção; as percepções são acontecimentos diferentes em cada sujeito e, por depender desta singularidade, o que chamamos de “arte” não possui mais nenhuma fronteira entre seus modos de fazer. A arte age. Este alcance da ação criativa usando e valendo-se dos novos materiais ou insumos cotidianos, consegue criar o novo com a justaposição e mistura do existente, no tempo entre presente, passado e futuro; também em dobras inovadoras. A Residência Artística Corporativa é um instrumento para o estímulo e contaminação da criatividade na produção cultural. A experiência do artista que se desloca para desenvolver sua produção em um novo contexto, levando em conta as particularidades do lugar, das pessoas, trazer experiências poéticas que somente um deslocamento e presença geográfica pode oferecer. A presença, permitida, do artista dentro dos domínios corporativos é a própria inovação na busca por uma nova economia, social e ecológica na reinvenção dos nossos modos de vida. O artista atua na cultura, estimula o pensamento criador focado no modo de existência. A criação precisa de um campo para se manifestar. Cabe ao artista preparar este novo ambiente, climatizado pela arte. Oferecer a experiência da criação que reforça nossa singularidade.
A sugestão, parece ousada, mas pode oferecer ao empresário alguns mecanismos de criação aplicáveis na compreensão do seu negócio. Representa inovação para a corporação que agrega outra competência em sua estratégia e também para a arte com a chance de agir em outros ambientes desafiadores. Propõe ser uma ferramenta na iniciativa multidisciplinar que soma com outros campos tradicionais. Tem entre suas atitudes a provocação do ser e pensar. A presença do artista é o contraponto; é o desafiador. Alguém incidente, de fora, invasor, livre de tensões políticas internas, que nos mostra o invisível nos modos de existência.
Realidade em campo e x p a n d i d o na arte contemporânea
E
José Serafim Bertoloto*
nquanto pesquisador e crítico da arte, principalmente daquela produzida em Mato Grosso, venho acompanhando o processo e o desenvolvimento artístico/cultural dos jovens inovadores na contemporaneidade. Conheci a produção do Luís Segadas já faz alguns anos, quando da execução do projeto Intervenções artísticas no espaço da Universidade: Ação, reflexão, diálogo e ressignificação, onde descobri a sua capacidade de provocar as pessoas com o seu gesto artístico inusitado e pude perceber que existe uma coerência da sua produção com o pensamento inovador da arte contemporânea. Mais recentemente, sob a minha curadoria em O que é que a cidade tem?, ele apresentou um conjunto de trabalhos, bastante instigante intitulado: #naohumanos NEGROS, que estimulou vários questionamentos, primeiro por seu aspecto de provocar estranhamentos (características intrínseca da arte contemporânea) e por gestar uma proposta ecológica e inovadora. É obvio que esta produção artística só poderia advir de um artista pesquisador, que esteja antenado com o que está acontecendo no mundo globalizado, não só no artístico, mas principalmente no social, fundamentado em boas leituras não só verbais como também as visuais, o que lhe permite desenvolver códigos intersemióticos e uma linguagem transversa e multifacetada da arte. Segadas propõe com sua criação, contribuir socialmente de modo sistêmico para a superação dos desafios que nos apresentam a atualidade, hoje o consumo exacerbado de produtos advindo da industrialização gera um transtorno com a produção de resíduos não utilizáveis e não absorvidos, tanto pela população que o consome como também pela indústria que os gerou. Quando o artista propõe a valorização de materiais de descarte, ele está sugerindo a valorização do que normalmente é desvalorizado no mercado do consumo, dessa forma ao ter valor tanto estético como afetivo, a obra de arte construída com os resíduos tecnológicos, dará vazão ao potencial artístico assim como aumentará consideravelmente a reabsorção dos mesmos, evitando sua deposição na natureza. É sabido que a taxa de consumo de recursos está bem acima da taxa de reposição possível e muito maior do que a capacidade natural de
reabsorção, sendo assim faz-se necessário pensar no bem-estar humano, pois já estamos próximo do limite máximo dos ecossistemas. O artista que tem uma linguagem contemporânea com sua “ação criativa usando e valendose dos novos materiais ou insumos cotidianos, consegue criar o novo com a justaposição e mistura do existente, no tempo entre presente, passado e futuro; também em dobras inovadoras” provocativas. Ao ser instigado pela obra de arte questionadora o individuo faz um processo de introspecção e passa a repensar seu próprio estar no mundo, qual o seu papel social homem/família e o que pretende legar para as futuras gerações. A cidade é o campo fértil para o desenvolvimento da pesquisa/ação, as intervenções urbanas decorrentes de projetos artísticos de interface com a pesquisa, lhes dão o de ação/reflexão, promovendo uma ação interativa de características hibridas e heterogêneas que possibilita um processo de retroalimentação didático pedagógico do conhecimento, gestado por impulsos cognitivos e afetivos, via o processo imersivo e do diálogo (receptivo) com o objeto artístico em seu contexto. O artista em questão sabe ver a cidade como um campo expandido da realidade exacerbada, onde o homem contemporâneo é o agente da transformação social ao mesmo tempo o protagonista receptor dessa mesma ação. Preocupado com o meio-ambiente e com as inovações de modos mais sustentáveis Luís Segadas é sem dúvida o principal artista de Mato Grosso que reúne características e qualidades para nos representar quando o assunto é intervenção artística, consumo de recursos e as suas reutilizações sustentáveis, uma tendência do mercado globalizado, com vistas a resolver soluções para este século tão inseguro e conturbado.
*Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte ABCA. Possui graduação em Licenciatura e Bacharel em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (1985), graduação em Tecnólogo em Bovinocultura pela Universidade Federal de Mato Grosso (1980), mestrado em Artes pela Universidade de São Paulo (1992), especialização em Museu de Arte pelo MAC-USP (1998) e doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2003). É professor titular da Universidade de Cuiabá e pesquisador, curador e Ex-diretor do Museu de Arte e de Cultura Popular da Universidade Federal de Mato Grosso. Professor Orientador no programa de Mestrado em Estudo de Cultura Contemporânea ECCO/UFMT. Artista Plástico com vasta experiência na área de Artes, com ênfase em teoria e crítica, atuando principalmente nos seguintes temas: artes visuais, cultura popular, patrimônio artístico cultural, semiótica da arte e do design em Mato Grosso.
Catador de(s) contexto MIguel Firmeza Bezerra, genial amigo doutorando do PPG- ECCO
I
merso em circuitos que fazem circular objetos fechados, fachadas bem delineadas, reais contornados, modelados e funcionalizados, entidades que operam segundo lógicas auto referendadas e auto legitimadas, eis que surge a figura do catador, ser onde resiste uma estranheza capaz de refigurar, reavaliar e recompor esses objetos inertes que se movimentam como sonâmbulos, obedecendo a uma gramática que se julgava inquestionável, inviolável; um coeso mundo orquestrado por leis gravitacionais, balanças invisíveis que harmonizam os desencontros do conjunto. Tudo segue bem até que surja a personificação do desencontro querendo expor sua voz em meio ao conjunto, querendo fazer de sua atonalidade a motriz de sua inserção no circuito, expondo o desconforto, o espanto, a dúvida, a distância dos bons tons que dão prosseguimento às inalteráveis leis de Newton (ou Smith). O catador, esse ser que, de fora, aborda o circuito; que não tem muito bem assentadas as noções do que são ou para que servem as coisas; esse feixe de pulsões descontextualizadas, que cobra sua inserção sincopada no mundo; que faz as coisas mais corriqueiras e dadas como certas soluçarem, gaguejarem e tremerem em hesitante descompasso. Isto não é um passo, é sua inflexão. Escrevo sobre a sua escrita, sobre o seu circuito de comunicação, de circulação de bens e pessoas; escrevo como quem adiciona camadas incompreensíveis em sua maquinaria; inserção de peças de outras máquinas em suas engrenagens; curto circuitos; desvios nos trilhos; trans- semiótica; o catador e o circuito. Com seu magnetismo estrangeiro a qualquer legislação vai retirando peças aqui, reagrupando ali, dobrando, torcendo, virando ao avesso, aproveitando somente o que lhe serve para seguir sua trajetória, compondo novos senti(res)dos a partir do roubo e da captura de peças antes bem encaixadas. Compões processos à frankstein, capas de arlequim, remendos de toda parte. Inimigo do engenheiro e de seu plano totalizante habita a linha de frente na produção do real tecendo as malhas microscópicas de um presente inventado permanentemente. É o encosto dos engenheiros de mundos fabricados em série e, quando enfim incorpora em tais corpos, com a força de sua aparição, fazem eles se contorcerem e falarem línguas estranhas a ponto de apagarem suas bem-comportadas fisionomias em nome de algo inominável. Pós.
Luís Segadas
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