Universidade de Coimbra Colégio das Artes Mestrado em Estudos Curatoriais O museu que queremos: Projeto para revitalização do Museu de Arte de Brasília. Disciplina: Museologia e Conservação. Orientadora: Prof. Dr. Dalila Rodrigues Aluna: Laurem Crossetti 2013
Índice 1. Introdução 2. Sobre o MAB – Museu de Arte de Brasília 2.1 Breve Histórico 2.2 Acervo 3. Projeto para revitalização do MAB 3.1 Missão, visão e valores 3.2 Áreas de atuação 3.3 Programação anual 3.4 Aquisições para o acervo 3.5 Recursos 4. Conclusão 5. Anexos
Introdução “O MAB é guardião da memória de Brasília” 1 O presente trabalho pretende refletir sobre o extinto Museu de Arte de Brasília (MAB), localizado na capital federal do Brasil, e apresentar ideias iniciais para sua possível revitalização, propondo assim a criação de uma programação anual e de um sistema de aquisição de obras visando completar o acervo já existente.
É notável que a capital de um país como o Brasil, em visível crescimento
econômico, não possua sequer um único aparato cultural completo dedicado às artes visuais – os espaços de exposições de arte não possuem coleção, apenas abrigam mostras temporárias que chegam prontas as suas dependências. É quase inexistente, numa cidade com mais de dois milhões de habitantes, a pesquisa relacionada à conservação de obras de arte, gestão museológica e curadoria de exposições. É de se notar que, nos últimos anos, foram criados cursos superiores de Museologia e Crítica e História da Arte, que agora acompanham o já conhecido curso de Artes Visuais, todos abrigados na Universidade de Brasília. Sendo assim, é chegada a hora de repensarmos a atual situação cultural da cidade e definirmos os rumos do museu que queremos ter. Nas próximas páginas pretendo iniciar uma reflexão sobre minha possível contribuição para esse cenário. 1 Ana Taveira, ex-‐diretora do Museu de Arte de Brasília. 2 Disponível em: < http://www.aam-‐us.org/docs/continuum/developing-‐a-‐mission-‐
2. Sobre o Museu de Arte de Brasília 2.1 Breve Histórico O Museu de Arte de Brasília (MAB) foi criado em 1985 pelo Governo do Distrito Federal por iniciativa da Secretaria de Educação e Cultura, que já reunia em suas instalações centenas de obras significativas de arte moderna e contemporânea. O museu ocupou por muitos anos um prédio de 4.800 m2 situado às margens do Lago Paranoá, no Setor de Hotéis e Turismo Norte, entre a Concha Acústica e o Palácio da Alvorada (residência oficial dos presidentes da República).
Localização aproximada do MAB sinalizada em vermelho.
A sua localização levanta questões importantes para refletirmos, pois ao mesmo tempo em que é privilegiada é também marginal. As áreas ao redor do lago são muito apreciadas pelos brasilienses e possuem um valor imobiliário extremamente elevado em comparação ao do restante da cidade (que inclusive possui um dos valores por metro quadrado mais caros do país). A proximidade com o Palácio da Alvorada é interessante, já que esse é um ponto muito visitado pelos turistas. No entanto, essa região é extremamente distante dos espaços de grande circulação de pessoas e não é atendida pelo sistema de transporte público. A Concha Acústica é frequentada apenas pontualmente, por decorrência de shows e outros eventos realizados em suas dependências. Apesar do grande potencial cultural, a região encontra-‐se praticamente inutilizada pelos moradores da cidade, e a construção de hotéis e condomínios de luxo domina esse setor.
Prédio onde localizava-‐se o MAB.
O edifício que abrigou o MAB, datado de 1960, foi projetado por arquitetos
da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil) e construído no período pioneiro da capital, seguindo os padrões da arquitetura moderna com sua volumetria e predominância de vãos livres. O prédio abrigou inicialmente o Clube das Forças Armadas e, mais tarde, o Casarão do Samba. É composto de três pavimentos que, durante o funcionamento do museu, abrigavam as seguintes áreas: -
Térreo: jardins, mostra permanente de esculturas do acervo, Galeria Espaço 1 (mostras temporárias) e cafeteria;
-
Pavimento superior: mostra permanente de esculturas, pinturas, gravuras, desenhos, fotografias, instalações e objetos do acervo, Galeria Espaço 2 (mostras temporárias) e sala multiuso.
-
Subsolo: reserva técnica.
Por motivos como falta de verba e total descaso do governo do Distrito Federal, à partir dos anos 2000 o MAB se viu diante de sérios problemas estruturais, além da falta de condições adequadas de conservação e manutenção do seu acervo. Foi fechado em 2007, sem nenhum comunicado oficial por parte do governo e sem maiores explicações sobre os motivos de tal ação. Em 2006 foi inaugurado o Museu do Complexo Cultural da República, que passou a abrigar o acervo do MAB e a realizar algumas exposições temporárias com essas obras. Esse museu não possui acervo próprio e suas instalações técnicas são problemáticas, apesar do prédio ser novo e ter sido desenhado com esse propósito. Hoje em dia voltou-‐se a discutir a revitalização do MAB e a retomada de sua coleção. Artistas, professores e estudantes da Universidade de Brasília (que possui cursos de graduação e mestrado em Artes Visuais, História da Arte e Museologia) e outros profissionais da área, como ex-‐diretores, funcionários de outros aparatos culturais e etc, vêm se reunindo para discutir as diretrizes para uma possível volta do MAB. A previsão é de que o museu volte à funcionar em 2014, mas o processo ainda está em estágio embrionário e o comprometimento do governo ainda não está confirmado.
2.2. Acervo
Ainda é muito difícil encontrar informações sólidas à respeito da formação do
acervo do MAB. Segundo a última diretora da instituição, Ana Taveira, a coleção foi inicialmente composta por doações de artistas que chegaram à Brasília na época de sua construção, nos anos 1950 -‐ essas doações eram contrapartidas ao espaço cedido pela Fundação Cultural para a realização de exposições. Também há registros de obras provenientes de prêmios aquisitivos de salões locais e nacionais. A coleção é composta por gravuras, esculturas, pinturas e objetos, que totalizam 1.370 peças catalogadas. Podemos encontrar ali obras de nomes conhecidos da arte moderna e contemporânea feita no Brasil e é de se destacar as obras em papel, que representam uma parcela importante da história dessa linguagem realizada no país à partir dos anos 50.
O período compreendido como arte moderna compõe-‐se da produção
artística realizada entre os anos de 1917 a 1950, e é representado por artistas como: Abraham Palatnik, Abelardo Zaluar, Aldemir Martins, Amilcar de Castro, Arcangelo Ianelli, Arthur Luiz Piza, Burle Marx, Clovis Graciano, Danilo Di Prete, Darel Valença, Edith Behring, Emanoel Araújo, Fayga Ostrower, Fiaminghi, Franz Wiessman, Hércules Barsotti, Iberê Camargo, Israel Pedrosa, Jacques Douchez, Liuba Wolf, Lívio Abramo, Lygia Pape, Lothar Charoux, Marcelo Grassman, Maria Bonomi, Mário Cravo Júnior, Tomie Ohtake, Thomaz Ianelli, Ubi Baca, Vasco Prado, Yolanda Mohalyi, Wega Ney e Wilma Pasqualini. Do período dos anos 1980 até hoje, o MAB possui em seu acervo obras de: Alex Fleming, Ana Maria Tavares, Angelo Venosa, Antônio Poteiro, Arthur Omar, Barrão, Emmanuel Nassar, Elias Murad, Félix Bressan, Fernando Lopes, Gisela Waetge, Jadir Freire, Leda Catunda, Leonilson, Maria Tereza Louro, Mario Cravo Neto, Mguel Rio Branco, Mônica Nador, Mônica Sartori, Nelson Félix, Nuno Ramos, Odires Mlazsho, Paulo Monteiro, Rinaldo, Rodrigo Andrade, Rosângela Rennó, Rubem Grilo, Selma Calheira, Sérgio Romagnolo, Shoko Susuki, Tunga, entre outros.
Destaca-‐se também a arte produzida por artistas nascidos ou radicados no
Distrito Federal, como Ana Miguel, Anselmo Rodrigues, Athos Bulcão, Carlos Borges,
Dalmácio Longuinho, Darlan Rosa, Delei, Elder Rocha Filho, Fernando Carpaneda, Francisco Galeno, Gladstone, Glênio Bianchetti, Glênio Lima, Milan Dusek, Milton Ribeiro, Naura Timm, Nelson Maravalhas, Omar Franco, Orlando Luiz Costa, Ralph Ghere, Rômulo Andrade, Rubem Valentim, Sérgio Rizzo, Sônia Paiva, Terezinha Louzada, Toninho de Sousa, Wagner Barja e outros.
Apesar do trabalho de registro feito durante a direção de Ana Taveira não é
possível obtermos acesso a esse material ou a qualquer tipo de catalogação da coleção. Considero a falta de um catálogo apropriado e sua divulgação uma das maiores perdas para o patrimônio cultural da cidade, assim como para história da arte moderna e contemporânea produzida no Brasil.
À partir de pesquisa realizada na internet, elaboramos pequenas
apresentações de artistas que compõem a coleção. Convém aqui destacar que grande parte dos nomes presentes no acervo possuem pouca ou nenhuma informação disponibilizada na rede, o que dificultou imensamente este trabalho e, dessa forma, optamos por nos ater aos artistas mais consagrados, nacional e internacionalmente: -
Abraham Palatnik (Natal, RN. 1928-‐) Artista cinético, pintor, desenhista. Por volta de 1949, inicia estudos no campo da luz e do movimento, que resultam no Aparelho Cinecromático, exposto em 1951 na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, onde recebe menção honrosa do júri internacional. Em 1954 integra o Grupo Frente. O rigor matemático é uma constante em sua obra, atuando como importante recurso de ordenação do espaço. É considerado internacionalmente um dos pioneiros da arte cinética.
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Ana Maria Tavares (Belo Horizonte, MG. 1958-‐) Escultora e professora. Inicia sua produção em meio à voga da pintura no início dos anos 1980, com telas que procuram interagir com o espaço circundante, dispostas em painéis de forma a criar ambientes. A partir de 1988 a artista busca atribuir uma aparência ainda mais industrial aos trabalhos: algumas esculturas lembram objetos de design, como móveis, escadas, chicotes e outros. Na década de 1990 seus trabalhos são predominantemente instalações e obras ambientais.
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Amílcar de Castro (Paraisópolis, MG. 1920-‐2002) Escultor, gravador, desenhista,
diagramador, cenógrafo e professor. Sua primeira escultura construtiva foi exposta na Bienal Internacional de São Paulo, em 1953. Num percurso de cerca de cinco décadas, Amílcar de Castro experimenta infinitas possibilidades do plano. Resistente ao excesso de racionalismo, suas dobras tornam a geometria maleável e mais humana. -
Arcangelo Ianelli (São Paulo, SP. 1922-‐2009) Pintor, escultor, ilustrador e desenhista. A partir da década de 1940 produz cenas cotidianas, paisagens urbanas e marinhas, que revelam grande síntese formal e uma gama cromática em tons rebaixados. Por volta dos anos 1960 volta-‐se ao abstracionismo informal e produz telas que apresentam densidade matérica e cores escuras. Ao fim da década de 60 sua obra é ao mesmo tempo linear e pictórica, onde se destaca o uso de grafismos. Volta-‐se então à abstração geométrica e emprega principalmente retângulos e quadrados, que se apresentam como planos superpostos e interpenetrados.
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Athos Bulcão (Rio de Janeiro, RJ. 1918-‐2008) Pintor, escultor e arquiteto. Sua obra, inscrita em alguns dos principais edifícios modernos brasileiros, notabiliza-‐ se pelo equilíbrio encontrado nas relações entre arte e arquitetura. Bulcão trabalha peculiaridades oferecidas pelo espaço projetado, as relações deste com a paisagem e com a natureza, como a incidência da luminosidade solar. Em seus azulejos destacam-‐se a modulação e o grafismo habilmente criados com base nas formas geométricas. Em 1993 é criada em sua homenagem a Fundação Athos Bulcão, em Brasília.
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Barrão (Rio de Janeiro, RJ. 1959-‐) Desenhista, pintor, escultor, artista multimídia. Inicia sua carreira artística no Grupo Seis Mãos (1983-‐1991), com Ricardo Basbaum e Alexandre Dacosta. O grupo desenvolve atividades com vídeo, pinturas ao vivo, shows musicais e performances e promove projetos em ruas, praças públicas, faculdades etc. Cria, em parceria com o artista Luiz Zerbini, o editor de vídeo e cinema Sérgio Mekler e o produtor musical Chico Neves, o grupo Chelpa Ferro, em 1995, que trabalha com escultura, instalações tecnológicas e música eletrônica.
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Burle Marx (São Paulo, SP. 1909-‐1994) Paisagista, arquiteto, desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de joias, decorador.
O estudo
da
paisagem
natural
brasileira
é
um
elemento
fundamental nos projetos de Burle Marx, desde o início da carreira. Destaca-‐se em seus projetos a preocupação com as massas de cor, obtidas pela disposição de arbustos e árvores em grupos homogêneos, de acordo com seu potencial de mudanças cromáticas, ao longo das estações do ano. Inspirando-‐se constantemente em formas da natureza, suas pinturas e desenhos refletem a indissociável experiência de paisagista e botânico. -
Emanoel Araújo (Santo Amaro da Purificação , BA. 1940-‐) Escultor, desenhista, figurinista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo. Interessado no universo da arte africana, enfatiza em suas gravuras, relevos e esculturas as formas geométricas aliadas a contrastes e cores fortes.
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Fayga Ostrower (Lodz, Polônia 1920-‐2001) Gravadora, pintora, desenhista, ilustradora, ceramista, escritora, teórica da arte, professora. Em suas gravuras, Fayga Ostrower apresenta rigor expressivo e um uso muito impactante da cor, que cria espacialidades luminosas, além de uma técnica apurada e um questionamento incessante sobre a essência mesma da criação artística -‐ tema abordado frequentemente em seus escritos. É precursora da abstração na técnica da gravura. Tem também importante atividade como educadora e escritora, com vários livros sobre as artes plásticas.
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Franz Weissman (Knittelfeld, Áustria. 1911-‐2005) Escultor, desenhista, pintor e professor. Vem para o Brasil em 1921. Integra o Grupo Frente em 1955 e é um dos fundadores do Grupo Neoconcreto, em 1959. Ao longo do tempo, Franz Weissmann mantém-‐se fiel ao seu processo de criação: nunca desenha a peça a ser construída, prefere trabalhar diretamente no material, cortando e dobrando com as mãos seus pequenos modelos, posteriormente ampliados numa metalúrgica.
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Glênio Bianchetti (Bagé, RS. 1928-‐) Gravador, pintor, ilustrador, tapeceiro, professor e desenhista. Trabalha principalmente com pintura e, no campo da gravura, com litografia e gravura em metal. Na pintura, os temas principais de Bianchetti são a figura humana, a natureza-‐morta e a paisagem. Seus quadros revelam a admiração pelo cubismo e interesse pela abstração. A partir da década de 1970 o artista utiliza os grafismos ao lado das manchas de cor, em
obras de cores muito contrastantes. -
Iberê Camargo (Restinga Seca, RS. 1914-‐1994) Pintor, gravador, desenhista, escritor e professor. Embora Iberê tenha estudado com figuras
marcantes representativas de variadas correntes estéticas e formas de vista, não se pode afirmar que tenha se filiado a alguma. Suas obras estiveram presentes, e sempre reapresentadas, em grandes exposições pelo mundo inteiro, como na Bienal de São Paulo e na Bienal de Veneza. -
Leonilson (Fortaleza, CE. 1957-‐1993) Pintor, desenhista, escultor. A obra de Leonilson é predominantemente autobiográfica e está concentrada nos últimos dez anos de sua vida. Segundo a crítica Lisette Lagnado, cada peça realizada pelo artista é construída como uma carta para um diário íntimo. Em 1989, começa a fazer uso de costuras e bordados, que passam a ser recorrentes em sua produção. Em 1991, descobre ser portador do vírus da Aids e a condição de doente repercute de forma dominante em sua obra.
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Lívio Abramo (Araraquara, SP. 1903-‐1992) Gravador, ilustrador, desenhista. A produção de Lívio Abramo situa-‐se entre a figuração e a abstração. Seu engajamento ao programa modernista gradualmente é alterado pela abertura às vertentes não figurativas que começam a chegar ao Brasil após a Segunda Guerra Mundial. O artista consegue conciliar, de maneira peculiar, esses dois conceitos opostos e, com refinamento técnico, apresenta em seu trabalho soluções formais de grande interesse estético.
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Luiz Sacilotto (Santo André, SP. 1924-‐2003) Pintor, escultor e desenhista. É um dos fundadores da Associação de Artes Visuais Novas Tendências, em 1963. Considerado um dos importantes artistas da arte concreta no Brasil e, com uma pintura que explora fenômenos ópticos, um dos precursores da op art no país.
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Lygia Pape (Nova Friburgo, RJ. 1927-‐2004) Escultora, gravadora e cineasta. Aproxima-‐se do concretismo e, em 1957, depois de integrar-‐se ao Grupo Frente, é uma das signatárias do Manifesto Neoconcreto. No fim da década de 1950 inicia a trilogia de livros de artista composta por Livro da Criação, Livro da Arquitetura e Livro do Tempo. Sua obra é pautada pela liberdade com que experimenta e manipula as diversas linguagens e formatos e por incorporar o
espectador como agente. -
Maria Bonomi (Meina, Itália, 1935-‐) Gravadora, escultora, pintora, muralista, curadora, figurinista, cenógrafa e professora. Mora em São Paulo desde 1946. A artista é presença importante no cenário da gravura brasileira. Vitalidade, veemência, paixão, ousadia formal são as características da obra gráfica da artista.
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Milton Ribeiro (Belém do Pará, PA. 1922-‐) Pintor, gravador, professor. Em 1943, juntamente com Iberê Camargo e Geza Heller, integra o Grupo Guignard. Sua pintura se
destaca pelo bom tratamento da matéria sob os ângulos do linear e do pictural. No desenho, sua obra que se impõe pela disciplina gráfica, o rigor geométrico e a escala cromática, na qual as cores sofrem atenuações, diminuindo de intensidade no desenvolvimento das gamas tonais. -
Rubem Valentim (Salvador, BA. 1922-‐1991) Escultor, pintor, gravador e professor. Tem como referência o universo religioso, principalmente aquele relacionado ao candomblé ou à umbanda, com suas ferramentas de culto, estruturas dos altares e símbolos dos deuses. Esses signos ou emblemas são originalmente geométricos.
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Tomie Ohtake (Kyoto, Japão. 1913-‐) Pintora, gravadora, escultora. Vem para o Brasil em 1936, fixando-‐se em São Paulo. Após um breve período de arte figurativa, a artista define-‐se pelo abstracionismo. A partir dos anos 1970, trabalha com serigrafia, litogravura e gravura em metal. Surgem em suas obras as formas orgânicas e a sugestão de paisagens. Na década de 1980, passa a utilizar uma gama cromática mais intensa e contrastante. Dedica-‐se também à escultura, e realiza algumas delas para espaços públicos.
3. Projeto de revitalização do MAB 3.1 Missão, visão e valores
O primeiro passo para delinearmos o nosso projeto de revitalização do MAB
é definirmos sua missão, sua visão e seus valores. Baseado nos modelos apresentados durante a disciplina Museologia e Conservação e no documento disponibilizado no site American Alliance of Museums2, mas mantendo sempre o foco nas condições particulares do MAB, elaboramos as seguintes definições: Missão: Constitui como missão do MAB colecionar, preservar, estudar, exibir e estimular o conhecimento do patrimônio artístico à sua guarda, especificamente a arte moderna e contemporânea produzida no Brasil. Visão:
O MAB almeja destacar-‐se entre os principais espaços museológicos do país e
da América Latina, além de intencionar ser referência nos campos da preservação e conservação de arte moderna e contemporânea. Nos próximos cinco anos, buscará alcançar os padrões praticados por instituições tais como o MAM-‐RJ (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) e o MALBA (Museo del Arte Latinoamericana de Buenos Aires). Valores:
Excelência em serviço público; Desenvolvimento do profissionalismo no setor
das artes e da cultura; Inovação; Compromisso com a educação; Criatividade. 2 Disponível em: < http://www.aam-‐us.org/docs/continuum/developing-‐a-‐mission-‐ statement-‐final.pdf?sfvrsn=2 >. Acesso em: 05.06.2013.
3.2 Áreas de atuação
Foram definidas como áreas de atuação do MAB: -
Preservação e conservação do seu acervo;
-
Educação estética (a partir do acesso às obras de arte);
-
Formação de profissionais nas áreas de museologia e artes visuais;
-
Realização de atividades de cultura e lazer.
3.3 Programação anual
O programa do MAB terá quatro pilares: Acervo, Pesquisa, Educação e Lazer.
Esses termos estão interligados mas mantêm cerca autonomia, isso é, desenvolvem atividades em conjunto ao mesmo tempo em que possuem aspectos particulares e independentes.
Gráfico mostrando os principais pilares do MAB e suas inter-‐relações.
A base da programação será o seu acervo. Uma exposição de longa duração ficará em cartaz pelo período mínimo de três anos. As obras que não estiverem nessa seleção irão figurar em mostras de curta duração – serão organizadas cerca de três exposições anuais desse tipo.
Também é prevista a realização de exposições temporárias em outros
formatos, que serão definidas mediante edital para ocupação do espaço expositivo escolhido para esse fim. Essa escolha visa dinamizar o espaço do museu, trazendo para dentro dele obras das mais diversas procedências, além de promover o desenvolvimento de atividades curatoriais independentes advindas de todo país.
As atividades educativas constituirão parte importante do MAB, visto que
esse é o principal elo de ligação entre o museu e seus visitantes. O serviço educativo contará com uma equipe de coordenação fixa e especializada, que treinará os educadores para realizarem visitas orientadas e oficinas educativas. O grupo de educadores é dividido em funcionários fixos e temporários -‐ essa divisão, ao mesmo tempo que permite um maior envolvimento com a instituição e com a profissão em si para os educadores fixos, também promove oportunidades para estudantes do ensino superior entrarem em contato com esse meio.
O serviço educativo atenderá tanto grupos previamente agendados (como
turmas escolares, grupos séniores, excursões de turismo) como também o chamado público espontâneo, realizando visitas orientadas a cada hora durante o período de funcionamento do museu.
No aspecto da investigação, o MAB investirá em parcerias com Universidade
de Brasília para desenvolver seu setor de restauro e conservação. Os alunos dos cursos de Museologia, Artes Visuais e História da Arte terão a oportunidade de realizar estágios acadêmicos nas dependências do museu, colaborando com projetos como a catalogação de obras do acervo, organização, produção e montagem de exposições e aspectos gerais de gestão de programação e eventos. Dessa forma, o MAB será a única instituição cultural da cidade a propor tais oportunidades, comprometendo-‐se assim com a formação de profissionais especializados e contribuindo para o fortalecimento do aspecto cultural da cidade.
Para além dessas principais atividades também elaboramos uma lista de
ações que podem ser desenvolvidas pelo MAB, voltadas principalmente para atrair visitantes para o espaço, buscando transformar o museu num lugar de vivência e entretenimento. São essas atividades: -‐ Sábado de sol: ação mensal que reúne no espaço ao ar livre do museu atrações musicais locais, artesanato urbano e atividades teatrais. Atividade gratuita e aberta ao público. -‐ Feira Gastronômica: evento semestral que conta com stands de diversos restaurantes convidados da cidade, proporcionando experiências gastronômicas a preços acessíveis. -‐ Cinema à céu aberto: criação de festivais temáticos mensais onde os filmes são projetados em telas ao ar livre, inspirados nos antigos cinemas Drive-‐in. -‐ Criação de diversos grupos de estudos gratuitos mantidos por voluntários interessados em discutir assuntos como filosofia contemporânea, arquitetura, cinema, curadoria de arte e qualquer outro assunto pertinente de interesse do público. Esses grupos se reunirão semanalmente nas dependências do museu, de preferencia em sala destinada à esse uso, durante as últimas horas de funcionamento do espaço (19 – 21 hrs). -‐ Palestras, oficinas e workshops relacionados aos assuntos tocados pelo museu. 3.4 Aquisições para o acervo
A aquisição de novas obras para o MAB deverá acontecer de forma regular e
baseada em relações consistente com as obras que já configuram o acervo. Dessa forma, realizamos uma pequena análise das obras que compõem a coleção e elaboramos uma lista de possíveis aquisições, que pretendem preencher lacunas e dinamizar o acervo em relação à arte contemporânea. Algumas imagens dessas obras podem ser vistas nos anexos deste trabalho.
No que se refere ao período de arte moderna, listamos as seguintes peças (algumas das obras foram encontradas em sites de galerias e casas de leilão, por isso apresentamos o valor aproximado de compra): -
Cildo Meireles: Sem título, série Brasília, 1977. Pastel oleoso, acrílica e lápis cera sobre papel, 50 x 70 cm (ver Anexos, fig. 05);
-
Flávio de Carvalho: Sem título, 1956. Acrílica, guache e nanquim sobre papel. 60 x 91 cm. Datado e assinado. Valor aproximado: R$ 20.000,00 (ver Anexos, fig. 06);
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Candido Portinari: Morro, 1957. Grafite sobre papel, 42 x 50 cm. Valor aproximado: R$ 40.500,00;
-
Gonçalo Ivo: Sem título, 1986. Óleo sobre tela, 20x20 cm. Valor aproximado: R$ 9.000,00 (ver Anexos, fig. 07);
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Manabu Mabe: Sem título, 1972. Óleo sobre tela, 51x59 cm. Valor aproximado: R$ 39.500,00 (ver Anexos, fig. 08);
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Mira Schendel: Trenzinho, 1965. Papel japonês e nylon, dimensões variáveis.
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Oswald Goeldi: Despedida, 1951. Xilogravura, 6/12, 20x32,7 cm. Valor aproximado: R$ 28.000,00 (ver Anexos, fig. 09);
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Sérgio Camargo: Relief No. 282, 1970. Madeira pintada, 67 x 57 cm. Valor aproximado: R$ 600.000,00;
-
Sérgio Camargo: Sans Titre. 1970. Peças de madeira pintadas e colocadas uma em cima das outras, 20x17x17 cm; 19x16x13 cm; 14x15x10 cm. Valor aproximado: R$ 88.600,00 (ver Anexos, fig. 10);
-
Waltércio Caldas: Fim (múltiplos), 1975. Colagem sobre papel, 48 x 66 cm. Valor aproximado: R$ 2.300,00. A lista poderia se estender, mas destacamos apenas algumas peças que
consideramos de grande importância para um acervo de arte produzida no Brasil no século XX. No que diz respeito à arte contemporânea, selecionamos as seguintes obras: -
Adriana Varejão: A Chinesa, 1992. Técnica mista sobre tela, 120 x 100 cm. Valor aproximado: R$ 62.100,00;
-
Adriana Varejão: Azulejaria de cozinha com peixes, 1995. Técnica mista, 140 x 160 cm. Valor aproximado: 293.000,00;
-
Antônio Dias: Trama, 1996. Xilogravura, 15/50, 56x82 cm cada [10 peças]. Valor aproximado R$ 22.000,00;
-
Arthur Bispo do Rosário: Vinte e Um Veleiros, sem data. Madeira, plastic e tecido,
90x60x36
cm.
Coleção
Museu
Bispo
do
Rosário
Arte
Contemporânea/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro; -
Cildo Meireles: Fio, 1990-‐1995. 48 fardos de feno, agulha de ouro de 18 quilates, 100 metros de fio de ouro, cerca de 8m3;
-
Iran do Espírito Santo: Still, 1987/97. Objeto em madeira, 15x21,5x5,5 cm. Data e assinado. Valor aproximado: R$ 8.000,00;
-
Luiz Sacilotto: Sem título, 2003. Serigrafia, 71 x 71 cm. Valor aproximado: R$ 1.000,00;
-
Lygia Pape: Sem título, 1999. Xilogravura sobre papel de arroz japonês, imagem: 32x32 cm, papel: 47x37 cm. Valor aproximado: R$ 7.900,00;
-
Tunga: Sem título. Frio de bronze e latão, 64 x 23 cm. Valor aproximado: R$ 54,540,00. O acervo do MAB tem forte ligação com trabalhos em papel e esculturas e,
por isso, decidimos privilegiar essas linguagens. Artistas como Oswald Goeldi, Flávio de Carvalho, Portinari, Waltércio Caldas, Antônio Dias e Lygia Pape figuram na tentativa de ampliar a presença do papel, seja através de desenhos ou de gravuras. No campo da escultura e suas hibridizações com outras linguagens, apresentam-‐se obras de Tunga, Ivan do Espírito Santo, Arthur Bispo do Rosário, Sérgio Camargo e Adriana Varejão. Escolhemos também algumas outras obras – de pintura à óleo, por exemplo – de períodos não tão conhecidos dos artistas, de forma a oferecer ao público um outro ângulo de suas produções artísticas. Além disso essas obras costumam possuir um valor bem abaixo do mercado, o que faz com que o orçamento do museu não fique sobrecarregado. Exemplo disso é a obra de Cildo Meireles, artista conhecido por seus objetos e instalações, mas que aqui é representado com um desenho sobre papel produzido na época em que ele morava na cidade de Brasília.
3.5 Recursos
Seguindo o organograma apresentado em sala de aula, elaboramos o
seguinte quadro de recursos humanos para o futuro MAB: No tocante aos recursos financeiros, o orçamento seria definido pelo Governo do Distrito Federal, órgão estadual que controla Brasília. Dessa forma, o MAB não receberia verbas municipais (pois a cidade não possui prefeitura) ou federais (pois dessa forma o museu seria controlado pelo governo federal, o que dificulta qualquer movimentação financeira ou estratégica por parte da diretoria do MAB). Seria interessante o apoio de entidades particulares, em forma de patrocínio ou mecenato, para complementar a verba dada pelo governo. O mecenato poderia vir de grandes empresas, de telefonia ou de combustíveis, e apoios seriam firmados com empresas locais em sistema de patrocínio, com lojas de material de construção e grandes papelarias, por exemplo.
4. Conclusão
Esse projeto pretende servir apenas como o início para um projeto completo
de revitalização do MAB. Por mais urgente que seja a criação de um museu de arte em Brasília, sabemos que, para que isso aconteça, é necessário um grande planejamento em conjunto, reunindo o governo distrital e profissionais das áreas de administração museológica, conservação e história da arte.
Além disso, consideramos necessário haver também representação popular,
seja através de representantes destacados para tal função ou por meio de pesquisas e levantamento com a população. Uma das intenções desse trabalho seria elaborar um exemplo de questionário e enviá-‐lo à pessoas que residam em Brasília, como por exemplo estudantes e professores de artes, críticos, curadores e antigos funcionários do MAB. Percebemos porém que tal pesquisa demanda mais tempo do que o que temos para este trabalho e, por agora, somente um rascunho do questionário foi elaborado; ele encontra-‐se nos anexos.
A partir desse trabalho pretendemos estender e aprofundar a pesquisa nesse
assunto e leva-‐lo à Brasília, nas reuniões sobre a revitalização do MAB, com o intuito de colaborar na construção do museu que queremos que nossa cidade abrigue; um local que reflita os interesses e necessidades locais e que também sirva de modelo para os museus de outras cidades do país.
5. Anexos
Fig. 01: Outra vista do prédio que abrigava o Museu de Arte de Brasília.
Fig. 02: Exposição realizada nos espaços do MAB.
Fig. 03: Vista do espaço interno do museu.
Fig. 04: Mais uma imagem do espaço expositivo do MAB.
Fig. 05: Cildo Meireles. Sem título, série Brasília, 1977.
Fig. 06: Flávio de Carvalho. Sem título, 1956. Acrílica, guache e nanquim sobre papel.
Fig. 07: Gonçalo Ivo. Sem título, 1986. Óleo sobre tela, 20x20 cm.
Fig. 08: Manabu Mabe. Sem título, 1972. Óleo sobre tela, 51x59 cm.
Fig. 09: Oswald Goeldi. Despedida, 1951. Xilogravura, 6/12, 20x32,7 cm.
Fig. 10: Sérgio Camargo. Sans Titre. 1970. Peças de madeira pintadas e colocadas uma em cima das outras, 20x17x17 cm; 19x16x13 cm; 14x15x10 cm.
Fig. 11: Cildo Meireles. Fio, 1990-‐1995. 48 fardos de feno, agulha de ouro de 18 quilates, 100 metros de fio de ouro, cerca de 8m3; Fig. 12: Iran do Espírito Santo. Still, 1987/97. Objeto em madeira, 15x21,5x5,5 cm.
Fig. 13: Lygia Pape. Sem título, 1999. Xilogravura sobre papel de arroz japonês, 32x32 cm.
Fig. 14: Tunga. Sem título. Frio de bronze e latão, 64 x 23 cm.
Questionário popular para revitalização do Museu de Arte de Brasília 1. Em Brasília, você costuma frequentar quais museus e espaços culturais? 2. Quais os principais motivos dessas visitas? (Marque SIM ou NÃO em cada linha) 1 – Conhecer o museu: 2 – Rever ou complementar uma visita anterior: 3 – Pesquisar / estudar algum tema: 4 – Interesse pelos assuntos das exposições: 5 – Participar de atividades específicas (palestras, cursos, oficinas, etc.): 6 – Assistir a algum espetáculo (teatro, concerto, cinema, vídeo, etc): 7 – Trazer os filhos: 8 – Acompanhar amigos/outras pessoas: 9 – Alargar horizontes/conhecer coisas novas: 10 – Divertir-‐se: 11 – Entrada gratuita/baixo valor do ingresso: 12 – Outro motivo. Qual? 3. Na sua opinião, que fatores dificultam a visita a museus e centros culturais? (Marque SIM ou NÃO em cada linha) 1 – Custo do ingresso: 2 – Outros custos de uma visita (transporte, alimentação, etc): 3 – Dificuldade de transporte/acesso: 4 – Dificuldade de estacionamento: 5 – Violência urbana: 6 – Falta de divulgação/informação sobre os museus e suas atividades:
7 – Dias e horários de funcionamento: 8 – Outro fator. Qual? 4. Você costuma visitar museus e contros culturais (Pode marcar mais de uma opção): 1 – Aos sábados. 2 – Aos domingos. 3 – Em outros dias da semana. 4 – Nos feriados. 5. Na sua opinião, quais devem ser as prioridades de um museu de arte em Brasília? (Responda com números de 0 a 5, sendo 0: nenhuma prioridade e 5: prioridade total) 1 – Exibir obras de arte produzidas no Brasil: 2 – Exibir obras de arte internacionais: 3 – Abrigar uma coleção de obras de arte: 4 – Realizar pesquisas e divulgar informações sobre as obras de arte que possui em sua coleção: 5 – Proporcionar atividades como palestras, cursos e oficinas: