PUC-RIO Departamento de Artes e Design – 2014.2 DSG1004 Projeto Avançado Estratégia e Gestão Profs. Guilherme Toledo e Joana Pessoa Jéssica Benevides, João Melhorance, Laurence Alves e Luísa Leitão
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introdução
1instituições
5ideação
09 instituto Refazer
41 tendências
12 associação Saúde Criança
46 brainstorm mágico
17 instituto Ressurgir
47 geração de alternativas
2análises
21 pesquisa de campo 24 jogo de palavras 27 entrevistas
3organização visual 31 mapas
4insights 35 conclusões 36 objetivo 37 cartões de insight 39 briefing 40 cronograma
49 prototipação
6solução
51 posicionamento 54 matriz SWOT 55 análise TOWS 56 impacto socioambiental <!--58 Generator: Adobe Illustrator
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Na disciplina de Projeto Avançado – Estratégia e Gestão nos foi proposto o tema: Empreendedorismo Cidadão. A sugestão inicial foi a de buscar informações sobre quem são esses empreendedores, o que fazem e que instituições trabalham com esse assunto. Individualmente, fizemos pesquisas iniciais sobre projetos que nos interessaram e os expomos em sala de aula. Assim, notamos que o tema “capacitação” era elemento de interesse comum entre os componentes deste grupo, então nos reunimos e fomos conhecer mais de perto essas instituições que têm sua atuação mais voltada ao tema da capacitação. Entramos em contato com três instituições: Refazer, localizada em Botafogo, Ressurgir, no Rio Comprido, e Saúde Criança, que antes se chamava Renascer e que possui duas sedes, uma dentro do Parque Lage e outra no Jardim Botânico. Visitando esses locais e observando seu trabalho, percebemos que o tema “capacitação” era apenas uma pequena parcela de um sistema mais complexo que tem seu enfoque na reestruturação familiar. Após algumas semanas de acompanhamento dessas instituições, de realização de entrevistas e Jogos de Palavras com as diversas pessoas envolvidas em seus projetos, conseguimos compreender melhor e nos inteirar sobre sua história, sua estrutura, seu funcionamento e sua missão. Dessa forma, como já tínhamos desenvolvido um maior entendimento sobre nosso objeto de estudo, pudemos avançar para a próxima etapa do projeto, por meio da identificação de um objetivo, que irá guiar o andamento e o desenvolvimento dele a partir de então.
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1.1
Instituto Refazer
Missão “Evitar a reinternação e/ou agravamento da doença de crianças e adolescentes de baixa renda encaminhados pelo Instituto Fernandes Figueira.” Estatísticas • Desde 1995 – 1.700 famílias foram atendidas, mais de 10 mil cestas básicas e 19 mil medicamentos fornecidos. (Dados de 2012) • No último trimestre (Abril a Junho de 2014), foram realizados 240 atendimentos, tendo 6 crianças sido desligadas da instituição devido a sua melhora de saúde. Ocorreram 3 atendimentos emergenciais, 8 crianças receberam oxigênio domiciliar e infelizmente, 3 chegaram a óbito. • No programa Prevenir, foram 188 participantes que precisaram ser divididos em 18 grupos, chegando a ter 6 grupos por mês. • No projeto Tijolo, de 5 obras que foram iniciadas em 2013, 1 foi concluída e mais 2 já estão em fase de conclusão. sede da instituição em Botafogo
Desde 1995, o Refazer procura evitar a reinternação e/ou o agravamento da doença de crianças e adolescentes de baixa renda encaminhados pelo Instituto Fernandes Figueira, hospital referência em tratamento materno-infantil. A dinâmica familiar é muito alterada a partir do momento em que um de seus membros é internado no hospital. Assim, o instituto busca disponibilizar meios para promover a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, bem como a de suas famílias. Não só o material hospitalar e remédios são providos; alimentos e cursos voltados para a capacitação profissional também são oferecidos às famílias. Os programas da instituição buscam alcançar todas as possíveis necessidades, desde o momento em que chegam ao Refazer ao momento da despedida e do consequente desligamento da instituição. A rotina do Instituto é composta por um conjunto de programas complementares ao tratamento hospitalar, formando os pilares para o reestruramento familiar, sendo eles: o Atendimento (ou Acolhida) em conjunto com a Musicoterapia e o Repasse, o Programa Prevenir (palestras sobre saúde e cidadania), o Programa Tijolo (de melhoria de moradias) e a Grife (programa de capacitação e geração de renda).
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Atendimento Na primeira ida até o instituto, o atendimento se trata do momento de cadastramento da criança e sua família na instituição, é quando eles entram para a base de dados do sistema da Refazer. Além disso, o Atendimento é uma visita que deve ser feita à instituição mensalmente, para atualização dos dados do sistema, para uma posterior análise do desempenho daquela família dentro da instituição e de como os programas da Refazer estão influenciado em sua vida. Junto do Atendimento que ocorre mensalmente, acontecem o Repasse e a Musicoterapia. De acordo com as instruções de profissionais do Instituto Fernandes Figueira, as famílias acolhidas passam a receber os benefícios indicados pelo hospital, como medicamentos, leites especiais, aparelhos respiratórios e cadeiras de roda. Além das necessidades individuais, todas as famílias recebem cestas básicas e auxílio transporte para o comparecimento aos atendimentos. A Musicoterapia utiliza a música para comunicar, curar, inspirar, liberar e nutrir o processo de descoberta de cada um, resgatando possibilidades sensoriais, afetivas e emocionais dos assistidos, resultando em um aumento significativo da autoestima, o que contribui para a melhoria da saúde emocional e da qualidade de vida das famílias.
atividades da musicoterapia sendo realizadas com as crianças assistidas.
palestras do Programa Petrobrás Desenvolvimento & Cidadania
atividades de recreação para crianças
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o atendimento no momento do Repasse
Programa Prevenir O Programa Prevenir oferece palestras com conteúdo socioeducativo voltados para cidadania, prevenção de doenças, fortalecimento da autoestima, educação financeira, entre tantos outros temas que são discutidos com os responsáveis das crianças e adolescentes assistidos. Ele acontece mensalmente, junto com o atendimento das famílias e é realizado pela equipe de voluntários do Instituto. Estimula a assimilação natural da informação, o que provoca um efeito multiplicador dos conhecimentos junto às comunidades de origem. A Refazer acredita que seja visível o empoderamento gerado pelo conteúdo abordado por esse programa, assim, os responsáveis se sentem incluídos e fortalecidos. Durante a participação dos pais e responsáveis no programa de prevenção, as crianças e os adolescentes são entretidos com atividades lúdicas criadas de acordo com o conteúdo das palestras socioeducativas que estão sendo ministradas para os adultos.
Programa Tijolo Frequentemente, a inadequação das moradias impossibilita uma melhora de saúde da criança assistida. Mofo, reboco aparente, falta de saneamento ou espaço para a mobilidade de uma cadeira de rodas são alguns exemplos dos problemas que originaram o Programa Tijolo. Criado em 2003, o programa reforma as casas que necessitam de alguma alteração, oferecendo melhores condições de saúde para a família. No entanto, as famílias precisam dar contrapartida no programa, então, a mão de obra é frequentemente oferecida por amigos e familiares, o que colabora para aumentar a produtividade e a sensação de pertencimento. Grife Refazer A Grife Refazer é um programa de capacitação e geração de renda, criado em 2006, para beneficiar diretamente as mães das crianças e adolescentes assistidos. O programa é uma das maneiras que a instituição encontrou para dar continuidade ao trabalho feito na Refazer após a despedida das famílias. As mães vão até o instituto uma vez por semana, onde aprendem a bordar, costurar e montar bijuterias e o que produzem se torna um complemento à renda familiar. Estilistas e voluntárias orientam o processo de criação e produção, valorizando a habilidade individual de cada mãe. As mães produzem em suas próprias casas, o que a possibilita estar perto de seus filhos. Jane Coelho, a responsável pela Grife, defende que o maior impacto do programa é que as mães saem sabendo que elas são capazes de produzir e de gerar renda para cuidar de sua família.
casa reformada pelo programa
as mães que participam do programa de renda trabalhando e o ateliê
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1.2
Associação Saúde Criança
Missão Promover o bem-estar biopsicossocial de crianças e suas famílias que vivem abaixo da linha da pobreza, compreendendo saúde de forma de forma integrada e como instrumento de inclusão social.
sede da instituição no Parque Lage
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Estatísticas • Desde 1991 a 2013, foram 50 mil pessoas atendidas. 3997 famílias atendidas na franquia social Sáude Criança. 3384 instrumentos de trabalhos fornecidos. 20522 crianças e adolescentes cadastrados. 2092 cursos profissionalizantes efetuados. • Na área de Saúde, foram 1082 beneficiários atendidos. Eram 42 desnutridos graves, 36 desnutridos moderados, 34 obesos e 237 saudáveis, segundo o setor de nutrição da Matriz, em 2013. • A saúde das crianças beneficiadas pelo Saúde Criança melhorou significativamente. O tempo de internação dessas crianças caiu, em média, 90 por cento, e elas estão 11 pontos percentuais menos propensas à cirurgia ou tratamento clínico do que as crianças que não receberam benefícios do SC, segundo a pesquisa da universidade de Georgetown, realizada em Outubro de 2013. • No setor de Psicologia e Psiquiatria, foram 1256 atendidos. • 467 crianças atendidas na faixa etária de 6 a 18 anos estão devidamente matriculadas em escolas públicas. 42 matriculados em instituições particulares de ensino pela bolsa de estudos do Instituto Kinder do Brasil. E 18 crianças que não estudam devido a alguma doença impeditiva. • No Atendimento feito pelo Serviço Social, passaram pela Triagem 134 beneficiários e foram feitos 225 encaminhamentos. Foram 56 visitas domiciliares em estágio inicial, 9 em acompanhamento e 17 em estágio final. Pelo PAF, foram planejadas 848 ações, 788 foram encerradas e 184 estavam em andamento. No Aconchego Família, 144 assistidos foram atendidos e 18 realizaram atividades no Aconchego Adolescente. • No setor Jurídico, foram efetuadas 44 ações de leite especial, 83 de medicamentos, 44 de documentos de propriedade, 34 de ação alimentícia e 55 de benefícios sociais. • No ano de 2013, no programa de geração de Renda, 129 alunos foram matriculados em oficinas internas e 22 em oficinas externas. Para os alunos que concluíram as oficinas da matriz, foram entregues 71 instrumentos de trabalhos.
• O bem-estar econômico das famílias do Saúde Criança melhorou substancialmente. • A renda dos beneficiá- rios quase dobrou, e eles tinham quase 12 pontos percentuais a mais de probabilidade de estarem empregados do que os adultos de famílias semelhantes que não foram expostos ao SC, segundo a pesquisa da universidade de Georgetown, realizada em Outubro de 2013. • No programa de Moradia, foram 15 casas reformadas e 1 doada, devido ao apoio dos parceiros.
50
50
40 30
40
41%
30
34%
28%
33%
26%
800 600 566
606
400 200 0 Renda - Entrada na SC
Renda - Saída da SC
Renda Atual
80 70 60
29% 30% 28% 22%
20
50 40
20 10
15%
10 0
1087
1000
Média de dias de Internação 50%
46%
58% 51%
1200
Evolução da Moradia
Percepção de Bem Estar Familiar 60
Evolução da Renda Familiar
9%
30
0 Antes da SC
Antes da SC
Ruim/Muito Ruim
Depois da SC
Hoje
Depois da SC Regular
Boa/Muito Boa
Aluguel/Outros Própria já paga
Propriedade Familiar/Ainda sendo paga
O Saúde Criança, fundado pela Dra. Vera Cordeiro, foi a organização social pioneira, no Brasil, a trabalhar para reestruturar e promover o autossustento das famílias de crianças em risco social, provenientes de unidades públicas de saúde. A Associação Saúde Criança (ASC) Zona Sul, a sede que estamos acompanhando, é uma Organização Social, que presta assistência às crianças e adolescentes atendidos na pediatria e/ou berçário dos Hospitais Municipal Miguel Couto – HMC e Instituto de Cardiologia Aloysio de Castro – IECAC, no Rio de Janeiro, e às suas famílias. O trabalho realizado visa reestruturar a vida dos pacientes em situação de vulnerabilidade sócio-econômica por meio de um Plano de Ação Familiar (PAF). O projeto teve início em 1991, quando a Dra. Vera Cordeiro constatou que muitas crianças eram internadas com um problema de saúde, eram curadas e pouco tempo depois de receberem alta, retornavam ao Hospital para nova internação, geralmente, pelo mesmo problema de saúde anterior. Dessa forma, construía-se um ciclo vicioso nos hospitais públicos do país e notou-se que, em muitos casos, a verdadeira causa das doenças eram as condições de vida dessas famílias. Assim, foi criado o Saúde Criança, que originalmente era denominado Renascer, para complementar as ações feitas pelo Estado. Após um grupo de profissionais da unidade pública de saúde parceira selecionar e encaminhar as famílias à associação, o responsável pela família passa pelo Atendimento, momento em que o PAF é elaborado, em parceira com uma equipe formada por assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras e advogados. Cada família é atendida, individualmente, a partir das suas necessidades e potencialidades,
20 10 0
Antes da SC
Depois da SC
Momento do Atendimento na sede da Saúde Criança Zona Sul, localizada no Parque Lage
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durante um período de, aproximadamente, dois anos, para que possa adquirir autonomia e dignidade. Todo o trabalho da instituição é basedo no Plano de Ação Familiar (PAF) que consiste em um conjunto de ações com metas e prazos de execução, e engloba cinco áreas: a Saúde, a Profissionalização, a Moradia, a Educação e a Cidadania.
atividade de conscientização sobre os cuidados com a nutrição
Saúde A área de Saúde é trabalhada com toda a família, mantendo o foco na criança atendida. Além de medicamentos, alimentos especiais e equipamentos médicos, também são oferecidos tratamentos odontológicos e nutricionais, que são realizados por profissionais voluntários, sem qualquer custo para a instituição. Há também um olhar voltado para a saúde mental dos membros das famílias. Portanto, é oferecido atendimento psicológico em grupo e individual, um trabalho realizado por um grupo de psicólogas voluntárias que acompanham as famílias durante todo o período de atendimento. Bem Nutrir Dentro da área de Saúde há o projeto Bem Nutrir. O projeto se baseia no acompanhamento individualizado de beneficiários que possuam condição alimentar que requeira atenção especial, promovendo a conscientização sobre os cuidados especiais que precisam ser tomados. Além disso, ele busca levar de forma didaticamente acessível, interativa e personalizada, conhecimentos sobre os benefícios de uma alimentação equilibrada, saudável e de baixo custo.
antes e depois da reforma
Moradia O programa de moradia visa melhorar a estrutura da casa em que a família reside, buscando sanar problemas estruturais básicos e assim, proporcionar uma melhora na saúde e condição de vida de todos. As assistentes sociais fazem uma visita à residência da família para identificar os problemas. Na maioria dos casos, os reparos feitos são para conserto de telhado, colocação de piso, rede elétrica e de esgoto e conserto de infiltrações e rachaduras. Além disso, quando identificada a necessidade, busca-se doações de móveis, eletrodomésticos e utensílios domésticos para a família. Por fim, para que seja contemplada pelo programa de moradia, a residência precisa ser própria não estar em área com risco de desabamento ou deslizamento e não estar localizada em área de conflito. Cidadania O programa de Cidadania, realizado pela equipe de atendimento com o apoio da voluntária da área jurídica, tem como objetivo principal garantir que a família atendida tenha toda documentação básica, obtenha benefícios do governo quando tiver direito, conheça seus direitos e saiba reivindicá-los. Também é dado apoio jurídico em questões específicas, como solicitação de medicamentos, alimentos e benefícios à Defensoria Pública, obtenção de documentação específica, pedidos de pensão alimentícia, entre outros casos.
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Aconchego Família Ao chegar à sede da Associação Saúde Criança para o atendimento mensal, o responsável familiar é recebido no Programa Aconchego Família. O encontro, conduzido por uma assistente social e voluntários, é um momento de reflexão e troca de experiências, palestras, discussões e debates. São abordados assuntos como o planejamento familiar, os cuidados básicos, o desenvolvimento infantil, a saúde, a alimentação alternativa, a higiene, os relacionamentos familiares, a violência, e os acidentes domésticos, entre outros temas. Também acontecem Rodas de Terapia Comunitária, cujo objetivo é confortar, acolher e aproximar. Profissionalização O programa de geração de renda é trabalhado através da profissionalização, seu principal objetivo é oferecer à família uma forma de autossustento para que ela possa se manter financeiramente, após deixar o atendimento do Saúde Criança - Zona Sul (sede do Parque Lage). São oferecidos cursos internos (que ocorrem no Saúde Criança Matriz – sede do Jardim Botânico) e externos (pagos pelo Saúde Criança Zona Sul), de acordo com o interesse e afinidade com os temas oferecidos: gastronomia, manicure e pedicure, cabeleireiro e depilação. Em geral são as mães que realizam os cursos, pois são maioria entre os responsáveis pela família no atendimento da associação. No entanto, alguns adolescentes, irmãos das crianças atendidas, também se interessam pelos cursos e têm permissão pra participar deles. Em paralelo aos cursos, a instituição busca auxiliar as famílias a conseguir emprego, por meio da divulgação de oportunidades de trabalho oferecidas por empresas parceiras ou anunciadas em jornais. São feitas ainda doações de equipamentos de trabalho para que a pessoa que concluiu o curso consiga iniciar suas atividades profissionais. Além disso, ainda há um auxílio àquelas famílias que não fizeram curso pelo Saúde Criança, mas que precisam de algum tipo de ferramenta ou aparelho para trabalhar. Educação A área de educação tem como objetivo fazer com que todas as crianças das famílias atendidas estejam matriculadas e frequentando a escola ou a creche. Também é realizado um acompanhamento do desempenho escolar das crianças e, quando identificada a necessidade, é oferecido um suporte individualizado, realizado por profissionais voluntários, como o atendimento psicopedagógico. A instituição ainda fornece aulas particulares de inglês para os jovens que tenham interesse.
conversa entre responsáveis e psicólogas
curso de gastronomia oferecido pelo programa de geração de renda
Antonio, pai de uma criança atendida pela instituição, estava desempregado e, para sustentar sua família de cinco pessoas, a Saúde Criança o doou uma barraca ambulante de milho e hoje, ele trabalha em Copacabana
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Depilação Maquiagem
9% 8% 32%
Colorimetria
10%
Cabeleireiro
18%
Manicure
Culinária: Doces para festas
Salgados para festas
12% 16%
Confeitaria Básica
12% 12%
Oficina de Páscoa
Cursos de capacitação realizados em 2013 e a quantidade de membros matriculado em cada um.
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1.3
Instituto Ressurgir
Missão “Incluir socialmente através da conscientização dos direitos da criança e do adolescente, disponibilizando meios que promovam a melhoria da qualidade de vida das famílias assistidas.” Estatísticas • Desde a fundação da Ressurgir até Dezembro de 2009, foram 1651 famílias assistidas e 6279 beneficiários.
sede da instituição no Rio Comprido
Em 1995, a Associação Ressurgir – Escola de Família foi fundada por uma equipe de profissionais de saúde do Hospital Municipal Salles Netto para apoiar as famílias das crianças internadas. Devido ao baixo nível sócio econômico das famílias assistidas, esse apoio não era suficiente e quase 100% das crianças que recebiam alta, retornavam ao hospital, na maioria das vezes, em piores condições. Dessa forma, o trabalho foi ampliado tendo como objetivo propiciar ações preventivas de recuperação da saúde física e psicológica, promovendo a inclusão social das crianças, adolescentes e suas famílias encaminhadas pelo hospital por meio do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e por escolas públicas do entorno. Para isso, foi preciso utilizar ferramentas sólidas para propiciar a criação de oportunidades para mudança, então, a partir desta busca descobriu-se no tripé: Hospital (saúde) – Ressurgir (educação) – Universidade (trabalho) a parceria necessária para executar um trabalho educativo e transformador. A maioria das famílias beneficiadas é chefiada por mulheres com renda inferior a um salário mínimo, uma vez que se sustentam por meio de sub empregos. Os componentes dessas famílias chegam à Ressurgir com total falta de perspectivas, de moradia digna, com a saúde debilitada e baixa autoestima. Os adultos, muitas vezes, possuem baixa escolaridade, não estando preparados ou adequados para serem inseridos no mercado de trabalho, além de se considerarem impedidos de prosperarem e de participarem na sociedade, em função de estarem diretamente ligados às doenças crônicas de seus filhos. Assim, definiu-se que o Hospital teria o papel de tratar, curar e acompanhar o desenvolvimento da criança e do adolescente, proporcionando à sua família a segurança necessária em relação à saúde de seus filhos. A Ressurgir seria responsável por prover o apoio material, psicossocial e educacional necessário para a recuperação da saúde da criança,
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evitando a reinternação e intermediando as ações entre os três parceiros visando à inclusão social de toda família. E a Universidade contribuiria com a disseminação de conhecimentos, ensinando e aprendendo, na interação: professores – alunos – famílias, desenvolvendo nos estudantes princípios de solidariedade, valores éticos e compromisso social. Tal parceria também proporciona às famílias o atendimento médico e nutricional, orientações sobre saúde, tratamento odontológico realizado na sede da Associação, consultas e exames no hospital Universitário e consultoria jurídica na Universidade. Por fim, a comunidade como um todo é beneficiada, pois adquire conhecimento, reconhecimento do seu papel na sociedade e auxílio na prevenção de doenças, assim como em seu tratamento. O trabalho é realizado através de três núcleos: Núcleo I: Atividades Psicossociais; Núcleo II: Atividades psicopedagógicas para todas as faixas etárias e Núcleo III: Atividades de capacitação para descoberta de talentos e geração de renda, que seguem ações diferenciadas, segundo as necessidades básicas das famílias em atendimento. Núcleo I: Atividades Psicossociais. Dentro do Núcleo I estão os programas: Apadrinhamento Social, Saúde Integral da Família e Sorriso Aberto. O objetivo das atividades psicossociais é proporcionar às famílias assistidas, as quais apresentam na sua totalidade crianças e adolescentes com problemas de desnutrição, o acesso ao equilíbrio nutricional, atendimento a saúde, e ações educativas e preventivas, e encaminhamentos para rede de serviços, independente da faixa etária do beneficiário. São oferecidas consultas, exames médicos e odontológicos, doações de cestas básicas, vestuário, cobertores, medicamentos e leites. relação universidade – Ressurgir – comunidade
Apadrinhamento Social O Apadrinhamento Social promove o comprometimento de pessoas físicas ou jurídicas para o apadrinhamento, por um período pré-determinado, para que as famílias possam se reestruturar ou amenizar seu sofrimento, devido a doenças graves ou crônicas de um de seus membros. Saúde Integral da Família O programa busca a integração e o conhecimento dos problemas sociais vivenciados pelas famílias beneficiárias, assim como os de suas comunidades. Adultos e idosos são avaliados, educados e orientados para a saúde com o objetivo de formar agentes multiplicadores do saber nas comunidades em que vivem. Sorriso Aberto O Sorriso Aberto consiste na educação de adultos e crianças para a manutenção da saúde bucal e prevenção de doenças.
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Núcleo II: Atividades psicopedagógicas para todas as faixas etárias No Núcleo II, o atendimento é separado por faixa etária, focado na descoberta de oportunidade para o crescimento social e cultural. Esse contém os programas: Brinquedoteca, Eca e Inclusão Digital. Brinquedoteca (6 meses a 14 anos de idade) A Brinquedoteca promove o desenvolvimento psico-social-afetivo e cognitivo da criança, através de atividades lúdicas e recreativas. Ela estimula a inteligência, a criatividade, a autonomia e a sociabilidade, criando um espaço de discussão das situações geradoras de conflitos em casa e na escola, estimulando, dessa forma, a interação entre pais e filhos e orientando os pais na superação das possíveis dificuldades. Eca – Direito das crianças dever de todos; Descobrindo Talentos; Investindo na Criança (0 a 17 anos de idade) Busca trabalhar com crianças e adolescentes com problemas de aprendizado através de ações pedagógicas e culturais, como o reforço escolar, a dança, o teatro musical e a leitura, a interpretação e a elaboração de textos. Assim, é desenvolvida a capacidade de reflexão ligada aos direitos e deveres dos jovens, por meio de estudos e oficinas de arte para plena compreensão, capacidade de debates e multiplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Além disso, são realizadas visitas a museus, teatros, cinemas e espaços turísticos. Inclusão Digital (todas as idades) O programa promove oficinas de informática educativa, visando o conhecimento de novas tecnologias, o que facilita a inserção e inclusão no mundo atual. Núcleo III: Atividades de capacitação para descoberta de talentos e geração de renda O núcleo III, que é voltado para a geração de renda, oferece atividades de capacitação a partir dos 14 anos de idade, na condição de aprendiz, e representa um incentivo à busca e descoberta de talentos para um futuro profissional. Nele encontra-se o projeto: Mãos Que Fazem Ressurgir Vidas.
aulas de dança e teatro
Projeto Mãos Que Fazem Ressurgir Vidas (Produção) O projeto consiste em uma equipe de mães produtoras na área de artesanato, que promove a confecção e venda de produtos, objetivando recursos para o projeto de geração de renda e seus participantes.
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2.1
pesquisa de campo
Depois do tema de trabalho ser definido como capacitação, escolhemos três instituições que lidam com o assunto para visitarmos: "Saúde Criança", "Refazer" e "Ressurgir". A Saúde Criança, antiga Renascer, foi a que deu origem às outras duas instituições. Ela recebe famílias indicadas pelo Hospital Miguel Couto em sua sede no Parque Lage e presta atendimentos realizados por voluntários nas áreas de saúde, direitos civis, nutrição e psicologia. Essas famílias têm alguma criança que esteja passando por alguma doença grave, como o câncer, e deve retornar ao menos uma vez por mês para reavaliação. O tempo de permanência no projeto costuma ser de dois anos. As mães participam de atividades como a hora do aconchego - um tipo de terapia em grupo - e cursos de capacitação como para cabeleireiro, manicure, pedicura, gastronomia e costura. A Refazer segue um modelo muito parecido, tendo a maior diferença no tipo de curso, que se mantém na área da costura. As mães podem gerar renda com o auxílio da instituição, sediada em Botafogo, costurando peças para a Grife Refazer. A Ressurgir, localizada no Rio Comprido, recebe famílias de 27 comunidades da região indicadas por diferentes órgãos governamentais. As crianças podem fazer aulas de dança e informática, por exemplo, e a família recebe atendimento psicológico quando necessário. As mulheres das comunidades podem participar de cursos de costura e de pintura em madeira, aula na qual também aprendem a reutilizar objetos descartados. Todos os meses as mães são avaliadas quanto ao seu rendimento e assiduidade, podendo ser transferidas para outro curso ou desligadas do programa. Caso queiram, colaboram com a produção a ser vendida e ganham participação nos lucros. Algumas ex-participantes podem ser convidadas a dar aula na instituição. Durante as visitas, procuramos observar a relação entre funcionários e mães, as atividades realizadas, a estrutura, o que estava sendo dito e como se comportavam. Além disso, focamos nossa atenção no nosso tema de pesquisa: a capacitação e os projetos envolvidos com isso. O primeiro lugar visitado foi a Refazer. Quem nos recebeu e nos guiou foi a Débora, gerente administrativa. Ela nos mostrou toda a instituição, desde o lugar onde as famílias são recebidas pela primeira vez até o ateliê de costura. Lá, ela mencionou que muitas mães do projeto não fazem as aulas por falta de vontade ou por não entenderem que isso pode ser bom para elas. Débora também falou da satisfação em saber que o projeto foi importante na vida das famílias. Na sala dela estava
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emoldurado um cartaz de uma mãe agradecendo por tudo o que a Refazer a ajudou a conquistar. Na Saúde Criança, Teresa, do setor de comunicação, nos levou primeiro à sede do Parque Lage, onde foi fundada a instituição e ocorre o atendimento às famílias. Pudemos presenciar o momento de conversa entre as mães, a Hora do Aconchego, o que evidenciou a importância da união entre elas. Conhecemos o lugar e os voluntários, a maioria reunida numa grande sala onde ocorrem os atendimentos. Depois andamos até a outra unidade, também no bairro do Jardim Botânico. Nela funciona parte do setor administrativo e ocorrem os cursos. Neste dia havia apenas uma aluna, tendo aula de manicure. Não era um dia de aula, no entanto. Novamente a questão da vontade das mulheres das famílias de fazer os cursos foi levantada e apontada como algo essencial, já que a reestruturação deve partir de dentro da família. Na visita à Ressurgir, fomos guiados pelo Marcelo, coordenador de cursos. Ele começou nos apresentando à assistente social, pela qual todas as famílias passam, e à psicóloga, que atende tanto os pais quanto crianças e adolescentes, caso necessário. Vimos uma atividade de dança e jogos para crianças e uma aula de informática para outras em uma faixa etária acima. Por ser esse o foco da Ressurgir, passamos a maior parte do tempo na área de cursos. Marcelo nos levou à sala onde estão expostos alguns dos produtos feitos lá, que são vendidos tanto para o público em geral quanto para empresas. Ele demonstrou grande orgulho do trabalho feito por ele e pelas mulheres e contou histórias de ressurgimento através desses cursos. Depois, ao conversar com as mulheres em aula naquele momento, pudemos confirmar essas histórias e perceber o valor dado pelas alunas e professoras. Mais uma vez a importância da vontade das mães foi frisada. Pudemos perceber que a capacitação, causa da escolha desses lugares, é só parte de um longo trabalho feito pelos locais. Ainda estão envolvidas questões de saúde, direitos e autoestima, nas quais passamos a prestar mais atenção após conhecer. Também identificamos que o maior retorno que as instituições recebem das famílias atendidas é saber que elas se reestruturam e se desenvolvem após passarem pelo projeto, mas as mães também podem contribuir para a sustentabilidade dos projetos com o trabalho dentro da instituição enquanto estiverem lá. Lembrando, é claro, que o objetivo é que elas consigam se tornar independentes, como indicou Marcelo ao dizer: "Aqui é bom. Mas eu vou lutar pra que ela consiga coisa melhor."
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Com base no que conhecemos das instituições por meio das visitas guiadas realizadas e nas informações, que já possuíamos anteriormente devido à pesquisa desk, elaboramos um Mapa Mental com o intuito de sintetizar e organizar os dados obtidos.
Governo Direitos
Acompanhamento Psicológico
Alimentação
Renda Profissionalização Acompanhamento Psicológico
ão
Querer
Cidadania
Educação
Mercado
Capacitação
Necessidade
Mães
Querer Vontade
Instituição Investimentos
Vontade
mulo
Moradia
Reestruturação
Cidadania
Necessidade
Saúde
Patrocínio
Parceiros
Autoestima Diretrizes do projeto Eixo do usuário Eixo financeiro Papel do governo
Estímulo
Autoestima
Diretrizes do p Eixo do usuário Eixo financeiro Papel do gover
23
2.2
jogo de palavras
Optamos por fazer o jogo de palavras para entender melhor como as pessoas que estamos estudando compreendem a sua própria realidade, ou seja, para que conseguíssemos olhar as instituições sob o mesmo ponto de vista delas. Assim, procuramos fazer essa dinâmica com pessoas de posições variadas nas instituições: coordenadoras, presidente e uma mãe. Isso permitiu que cruzássemos as perspectivas de cada uma e possibilitou nortear, a partir disso, nosso roteiro para as entrevistas, sabendo com clareza em quais pontos gostaríamos de nos aprofundar.
Conscientização Criança
Mãe
Habilidade Saúde
Educação Prevenir
Direitos Família Capacitar Moradia Reestruturar
Autoestima
Transformar
Qualidade Vida
Querer
Independência
Futuro Sociedade
Autossustento
Profissionalização Renda
Cidadania
Estabilidade
Teresa Pazo – Associação Saúde Criança Realizamos a atividade na Associação Saúde Criança com a coordenadora administrativa Teresa Pazo. Ela optou por agrupar as palavras em linhas horizontais e, verticalmente, os grupos, formando uma hierarquia do processo que a família passa desde que entra na associação até estar apta para sair. Teresa resolveu retirar do jogo as palavras: beneficiar e ajudar, isso porque ela quis nos mostrar que a entidade não possui caráter assistencialista, eles não estão ali somente para ajudar, mas a pessoa tem um papel a desempenhar na instituição, com direitos e deveres.
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Sustentabilidade
Criança
Mãe
Profissionalização
Moradia
Beneficiar
Autossustento
Ajudar
Habilidade
Prevenir
Transformar
Querer
Autoestima
Família
Cidadania
Sociedade
Saúde
Educação
Conscientização
Reestruturar
Futuro
Capacitar
Qualidade
Renda
Direitos
Vida
Independência
Estabilidade
Débora Farias – Instituto Refazer A Débora, ao fazer o jogo de palavras, decidiu não descartar nenhuma nem adicionar nenhuma. A arrumação montada por ela se assemelhava à estrutura diamante, a qual estamos sendo constantemente observando nesse projeto. Ela decidiu organizar as palavras de forma a nos mostrar o funcionamento da instituição, o passo a passo dos benefícios, beneficiados à beneficiários da Refazer. Partindo de "criança", segundo ela, a raiz de tudo, até chegar à "independência", "família" e "futuro", os objetivos da instituição, o resultado esperado por ela.
Mãe Capacitar Habilidade
Profissionalização Querer
Independência
Vida
Sidineia Souza – Instituto Refazer Sidineia é uma das mães que participa da Grife Refazer desde seu início, começou o jogo com a palavra “mãe” e explicou que sua vida inteira gira em torno de ser mãe, por isso ela escolheu essa palavra primeiro. Em seguida, ela selecionou “profissionalização”, “capacitação” e “querer”, dizendo que o mais importante dentro da instituição, para ela, era o programa de geração de renda e ela ingressou nele porque queria muito sua “independência”. Por fim, saiu do curso com uma “habilidade” que se tornou fundamental para sua “vida”. Observamos através dos jogos o quanto é semelhante a visão das pessoas que trabalham nas instituições e como ela difere da mãe beneficiada. Enquanto os funcionários buscam estruturar e demonstrar para nós como funciona a instituição, a mãe foca na importância que as palavras têm para ela mesma, com facilidade para descartar todas as outras.
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Estabilidade Independência Profissionalização Qualidade
Futuro
Habilidade
Capacitar
Renda
Autossustento Autoestima
Sustentabilidade Sociedade Conscientização Direitos
Educação
Cidadania
Prevenir
Transformar Família
Querer
Reestruturar Mãe
Criança Ajudar
Saúde
Moradia Vida
Andrea Carvalho – Instituto Refazer Andrea Carvalho, presidente da Refazer, dividiu o bloco de palavras em dois grupos, o primeiro relacionado à estrutura de funcionamento da instituição e o segundo, ao programa de capacitação e geração de renda. Ela escolheu iniciar com a palavra “criança” que é o foco da instituição e ao seu redor organizou as palavras relacionados aos programas da Refazer e construiu o restante de sua organização a partir disso.
26
2.3
entrevistas
Colocando em prática o que aprendemos nas aulas de Pesquisa em Design, da professora Samara Tanaka, um dos métodos que utilizamos para coletar informações sobre as instituições que escolhemos e pessoas que fazem parte delas foi a Entrevista. Nós nos planejamos para entrevistar não só os funcionários da instituição, que estiveram em maior contato conosco, mas também as pessoas que foram ou ainda são beneficiadas por essas entidades. Na maior parte das entrevistas, começamos como uma conversa, de forma a estimular o desenvolvimento de confiança e conforto em nós pelos entrevistados. Dessa forma, como aprendemos em sala, a entrevista conseguia fluir melhor, sem qualquer trava que a timidez ou estranhamento poderiam causar. Além disso, as perguntas se moldavam de acordo com o decorrer da entrevista e das respostas do entrevistado, ou mesmo continuavam a se desenvolver como uma conversa informal. Com a presidente da Refazer, Andrea, iniciamos com a pergunta sobre como ela havia começado no Instituto Refazer. Assim, conhecemos sua história na instituição, desde o voluntariado em um dos projetos – denominado Tijolo, que atua na reforma e construção de casas – até a sua chegada à presidência. A partir daí, fizemos perguntas menos pessoais e mais institucionais com o intuito de entender melhor o funcionamento da instituição, tendo como feedback respostas claras e objetivas. Tal procedimento foi repetido com a Débora, gerente administrativo da Refazer, que é quem mais esteve em contato conosco desde a nossa primeira visita. Ao contrário da Andrea, suas respostas não foram tão pontuais, e conhecemos mais profundamente o dia a dia da Refazer e os sentimentos, valores e pessoas envolvidas nessa rotina. Ela deixou muito claro a questão da via de mão dupla – que viria a se tornar nossa oportunidade de projeto – explicando os valores que eles passam para as mães, bem como o comprometimento e os deveres que elas têm quanto à sociedade e à Refazer. Além disso, explicou o retorno que eles, da instituição, têm, sendo este sobretudo emocional, visto que para eles, o melhor feedback é ver que a criança está saudável e a família estruturada e pronta para seguir com seus próprios passos. Emocionada, ela descreveu a alegria de poder ver esses resultados tão de perto. É interessante observar que um dos pontos mais repetidos pela Débora, da Refazer, também fica claro nas conversas desenvolvidas com as mulheres beneficiadas pela Associação Ressurgir, do Rio Comprido: o querer. Em suas respostas a nossas perguntas, ficou claro que elas estavam ali empenhadas por reconhecer os cursos oferecidos pela
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instituição como uma oportunidade. Como soubemos em entrevista com o Marcelo – coordenador de cursos da Ressurgir –, as beneficiárias não precisam obrigatoriamente estar vinculadas à uma criança assistida e isso permite que outras mulherem vão até lá pedir para participar das oficinas, como muitas nos contaram que fizeram. No entanto, observamos que isso não acontece com a mesma frequência na Refazer, por meio da entrevista com a Sidineia, mãe que já foi beneficiada pela instituição e que continua a participar dos cursos oferecidos pela Grife Refazer. Ela nos contou que poucas mães se mostram inclinadas a participar ou mesmo a permanecer nesse programa, por inúmeros motivos, tal como não ter alguém para cuidar dos filhos e em seguida, comentou como resolveu essa questão, que levava seu filho consigo para as aulas. Ela também afirma que ainda vê nele e em seu filho mais velho, depois de tantos anos, a motivação para continuar na Grife, principalmente devido à sua preocupação com a educação dos dois. Através da entrevista com Marcelo, notamos outra diferença em relação às outras duas instituições: o foco massivo na capacitação, que nas outras era apenas uma parcela do processo inteiro. Contudo, apesar dessas diferenças estruturais, tanto com ele quanto com a Débora, pudemos perceber a emoção latente que envolve o trabalho de ambos e a importância do querer e da vontade daqueles que são beneficiados. Débora conseguiu ilustrar essa questão com a seguinte frase – que parece ser diretriz de ambas instituições entrevistadas: "A gente não dá, a gente ensina".
28
2.4
matriz SWOT
Ajuda
Atrapalha
Interna
-Falta de compreensão das mães -Baixa frequência nos cursos -Falta de tempo por parte das mães
Externa
SW O T
-Programas de capacitação -Patrocinadores -Voluntariado -Localização privilegiada (Refazer e Saúde Criança) -Produção interna (sustentabilidade)
-Ascenção financieira das Classes D e E -Melhora na qualidade de vida das classes supracitadas -Diminuição do número de reinternações nos hospitais -Mulheres como provedoras principais das famílias
-Falhas no sistema de saúde público -Falhas no sistema de transporte público -Falta de saneamento
Diagrama de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças (S.W.O.T., em inglês), das instituições que estamos trabalhando
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mapas
Auxílios externos
governo hospitais médicos
Família e amigos
Instituição assistentes sociais
mães
filhos familiares
funcionários
amigos
voluntários
vizinhos
Mapa de stakeholders: foco central de interesse como sendo as mães. À partir delas, fizemos o mapeamento do conjunto de todos os envolvidos no processo gerado pelas instituições com relação à jornada dessas mães, dividindo-os em três categorias básicas: “Auxílio externo”, ou seja, aqueles que auxiliam a mãe à parte da instituição, mas não completamente desvinculado dela, mas um complemento, como os auxílios do governo e o próprio hospital, a origem de toda jornada. “Família e amigos”, que são todos aqueles que fazem parte do universo pessoal da mãe e que tem influência direta sobre ela e o processo, como os filhos, os vizinhos que a ajudam, etc. E por fim, o conjunto da própria “Instituição”, que compreende os agentes responsáveis por essa entidade, como funcionários e voluntários.
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O que pensa e sente? “A vida melhorou muito Reconhece a importância depois que minha família do papel da instituição entrou para a instituição.” para sua melhora de vida.
O que ouve?
Nota que a melhora de saúde do filho melhorou sua relação com ele.
“90% do que é necessário para que a mãe participe na instituição vem de sua vontade e seu interesse.” “Elas (as mães) tem direitos e deveres.” - Funcionários e voluntários da instituição “Onde moramos não dão valor a esse tipo de trabalho (artesanal/manual).” - Amigas, outras mães.
Felicidade por ter a capacidade de produzir peças e produtos inteiros.
O que faz e fala? Se empenha para melhorar de vida, apesar das grandes dificuldades e dos obstáculos a serem ultrapassados.
Dificuldades e Fraquezas - Limitação de tempo livre para estar presente semanalmente nos cursos de capacitação profissional. - Limitação financeira. - Estado de saúde debilitado de um de seus filhos. - Não ter com quem deixar seus filhos para poder ir até a instituição.
O que vê? - Filhos - Família - Casa/Moradia - Vizinhos/Comunidade em que mora - Funcionários e voluntários da instituição - Palestras, cursos e programas da instituição
Busca sempre aprender mais, mostra-se sempre interessada nos cursos e programas de capacitação.
Conquistas e Ganhos - Melhora de qualidade de vida de sua família. - Melhora do estado de saúde de seu filho. - Aumento de sua autoestima. - Ganho de autonomia da família. - Maior união entre os membros da família. - Aumento da renda da família.
Mapa de empatia: baseado nas entrevistas que conseguimos realizar com algumas mães (usuárias), funcionários e voluntários das instituições, definimos uma Persona, que seria um conjunto de comportamentos e características padrões e semelhantes entre essas mães. Assim, construímos um Mapa de Empatia dessa Persona, que se aproxima, de modo geral, das situações de vida dessas mães que fazem parte das instituições com as quais estamos trabalhando.
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1.
Um dos filhos da usuária adoece. A família da criança é encaminhada pelo hospital à instituição.
3.
Mensalmente, a família vai até a instituição para fazer o Atendimento.
5.
Com o tempo, ocorre a melhora da saúde da criança e da qualidade de vida da família com o processo de reestruturação da familiar.
2.
4.
6.
A família chega na instituição e passa por um processo de cadastramento, entrando para a base de dados.
Caso seja de seu interesse, a mãe ingressa nos programas de capacitação.
Quando a família adquire autonomia suficiente, acontece o processo de desligamento da instituição. jornada do usuário
33
4.1
conclusões
Depois das pesquisas de campo e entrevistas, reunimos todos os dados para chegarmos a conclusões e, assim, identificarmos o objetivo do projeto. Entendemos a estrutura de funcionamento das três instituições e percebemos os pontos de tangência entre elas: a família, geralmente liderada pela mãe, é indicada para o atendimento por algum órgão; há a divisão entre programas específicos para família, mãe e criança; age-se sobre os tópicos de profissionalização, saúde, moradia, educação e cidadania; é feito o acompanhamento mensal da situação; a família, após certo período, recebe alta da instituição ou é desligada caso não apresente progresso por falta de interesse. Percebemos que nem todas as famílias passam pela etapa da profissionalização, como dito pelos funcionários que nos acompanharam. Eles expressaram o desejo de que mais mães participassem desses programas, o que permitiria que a produção se diversificasse, aumentasse, trouxesse retorno às instituições e também que, mesmo trabalhando por conta própria, elas pudessem contribuir mais para a reestruturação da família, agindo mais pela própria causa. Passamos a refletir, então, sobre os motivos para isso acontecer. Havia a possibilidade de não ser necessário para algumas famílias, mas nos foi informado que muitas delas poderiam, sim, tirar proveito dos cursos e não o faziam. Também foi apontado como algo decisivo a falta de desejo de muitas das mães, mas não estava claro o que causava essa falta. Pensamos que talvez elas não fossem informadas sobre os cursos e seus benefícios, mas no primeiro encontro com a instituição elas já são avisadas. A explicação à qual chegamos, considerando as entrevistas e o modelo de funcionamento das famílias e das instituições, foi que as mulheres dessas famílias não percebiam seu próprio valor para os projetos. Muitas delas não veem que as instituições não funcionam tão bem sem elas e, principalmente, que as próprias famílias precisam delas para se reerguerem.
35
4.2
objetivo
Identificamos que as três instituições apresentam um discurso semelhante que defende o fato de não praticarem apenas o assistencialismo, que existe uma relação de mão-dupla entre o instituto e a família. Se as famílias não desenvolverem um próprio crescimento em paralelo ao trabalho que está sendo efetuado pelos programas, então, a instituição não terá realizado um bom desempenho, o que é prejudicial a seu autossustento, uma vez que uma instituição precisa demonstrar bons resultados para que consiga receber fomento e patrocínios. No entanto, muitas vezes, as famílias não enxergam que precisam dar um retorno à instituição e que possuem um papel a desempenhar lá dentro. Dessa forma, definimos que o nosso objetivo de projeto seria fazer com que as mães entendam e conheçam o seu valor, bem como o de seu trabalho, o que acreditamos que ampliará seus resultados, potencializando, assim, o retorno para a instituição e consolidando a via de mão-dupla.
"Potencializar a via de mão-dupla, fazendo com que as mães compreendam o valor de seu serviço"
36
4.3
cartões de insight
Insight: mães
não percebem seu real valor
As mães não vêem seu potencial e importância para suas famílias, para a instituição, para as outras mães e para elas mesmas.
Fato/achado: muitas
mães chegam à instituição sem saber como oferecer algo em troca
Fonte: atendentes
Tema: troca;
valor
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Insight: conversar
é importante
Os momentos de conversa, tanto com atendentes, professores e funcionários quanto com outras mães ajuda no processo de reestruturação da família e emocional da mãe. Trocando experiências, aprendendo coisas novas, elas fazem uma espécie de terapia e ajudam umas às outras. Fato/achado: os
momentos de convívio e interação eram muito ricos e emocionantes em todas as instituições. Fonte: observação
Tema: troca;
38
valor
e atendentes
4.4
CONTEXTO/ UNIVERSO DE PROJETO: Instituições que trabalham com a reestruturação familiar e possuem programas de capacitação profissional.
briefing
QUEM:
ONDE:
- Usuários Diretos: mulheres participantes das instituições
Pontos de produção, como as instituições, as moradias das mães e empresas.
- Usuários Indiretos: famílias, funcionários da instituição
QUANDO: Para ser utilizada durante o momento de aprendizado e de produção.
O QUÊ: (CONCEITO) PARA QUÊ: (OBJETIVO DO PROJETO) TENDÊNCIAS: - Público feminino; - Produção de trabalhos manuais /artesanais, mercado que vem crescendo no Brasil; - A mulher como provedora financeira de sua família.
Potencializar a via de mão-dupla entre a instituição e as mães, fazendo com que elas compreendam o valor de seu serviço.
COMO: (PARÂMETROS PROJETUAIS) - Ser acessível a usuários com diversos níveis de escolarização; - Ser intuitivo e estimular seu uso; - Ter um baixo custo de produção.
Método que auxilie as mães a vizualizarem e compreenderem não só o valor e a importânica de seu trabalho, como o de si própria.
PORQUÊ: (RELEVÂNCIA) Potencializar os resultados das mães e famílias; aumentar a autoestima das mulheres; estimular a busca pela autonomia e pelo autossustento.
39
4.5
cronograma
Organização das informações
Pesquisas Início das aulas a 31/08 Experimentação
com protótipos
8/10 a 25/10
01/09 a 13/09
Definição do Partido Adotado
Briefing 13/09
24/09
Matriz e Análise SWOT
Posicionamento Viabilidade;
26/10
27/10
G1,5 Apresentação das soluções
Detalhamento técnico
12/11
G1 Definição de Objetivo
13/11 a 26/11
Relatório;
28/10 a 03/11
Análise e geração de alternativas 25/09 a 08/10
Modelo de negócios 05/11
G2 Apresentação e Relatório 03/12
cronograma do projeto
etapas realizadas
40
5.1
tendências
Grande parte da atividade artesanal no Brasil não é registrada e, devido à informalidade, não existem muitos dados fidedignos sobre o tema. No entanto, sabe-se que há, aproximadamente, um milhão de artesãos no país, de acordo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho. Além disso, as taxas de sobrevivência dos micronegócios vêm aumentando, em conjunto com a oferta de capacitações, o que representa uma tendência ao crescimento desse setor no mercado de trabalho. Já de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 8,5 milhões de brasileiros fazem do artesanato o seu pequeno negócio e, juntos, esses microempreendedores movimentam mais de R$ 50 bilhões por ano (dados de 2012). É uma área que motiva iniciativas como os eventos Salão do Artesão – cuja primeira edição, em 2011, contou com 80 expositores e em sua segunda edição, o número já havia aumentado para 130 – e o Prêmio Pop 100 de Artesanato, promovido pelo SEBRAE, a cada dois anos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizado entre os anos de 1992 a 1997 pelo IBGE, nota-se um comportamento diferente do homem e da mulher perante o mercado de trabalho. A procura de trabalho feminina foi sempre mais elevada que a masculina. Tal fato explica o interesse das instituições com as quais trabalhamos, e as demais semelhantes a elas, de focar seu atendimento às mães, que vêem assumindo o papel de chefe total de suas famílias, incluindo a responsabilidade de ser provedor financeiro sem depender ou dividir essa tarefa com os homens. O trabalho desenvolvido pelas ONGs, que oferecem programas de capacitação profissional, é fundamentalmente apoiado pelo setor privado. Em contrapartida, o governo tem poucas ações voltadas para o público de artesãs. Faz-se necessário aumentar o diálogo com as ONGs, para que sejam criadas políticas públicas direcionadas. Segundo o artigo “O valor do artesanato para o empoderamento das mulheres” publicado pelo Movimento Mulher 360, uma questão que merece atenção especial é a falta de regulamentação do artesanato como categoria profissional, assim, esses profissionais não são devidamente identificados. Soma-se ainda esse ponto a necessidade de combater o estigma acerca da desvalorização popular do artesanato, na qual campanhas e esforços do governo são de grande relevância a sensibilização da população.
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Similares e correlatos Como chegou-se à conclusão que o conceito de nosso projeto giraria em torno do tema “valores” - que relaciona-se muito mais com o que é subjetivo, ao invés do concreto - em nossa pesquisa por correlatos e similares, buscamos métodos e meios que lidam com a instrução e transmissão de valores e sua consequente compreensão. 1. métodos de compreensão de valores – similares
Aula convencional de matemática – Taichung, China. Tem como função ensinar e aprender matemática, acontece em escolas e tem forma auto-explicativa.
INPC – Captura de tela do arquivo “Para compreender o INPC” do IBGE., utilizado para ensinar a calcular o INPC (Índice Nacional de Preço do Consumidor). Não convida à interação, mas a forma e a função são auto-explicativas.
Dinâmicas – Dinâmica “Teia de aranha” na Subprefeitura da Penha, São Paulo. Tem como função transmitir ensinamentos, passagem de valores e ensinar assuntos. Além de que, tem como intuituto fazer com que os participantes ponham os ensinamentos em prática. Não possui forma e função auto-explicativas
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Livro de sociologia – A Distinção. BOURDIEU, Pierre. 2007. Usado para aprender sociologia, geralmente em ambientes de ensinos. Também fornece um embasamento teórico, para pesquisa e teorias.
Videoaula de fundamentos da economia – Captura de tela de videoaula da Professora Regina Gandioli. Tem como função ensinar economia através de um meio alternativo de ensino.
Jogo de tabuleiro – Jogo Banco Imobiliário. Transmissão de valores financeiros por um meio interativo e lúdico. Utilizado por crianças, por isso sua linguagem extremamente visual e simples.
Guia de precificação para artesanato – Tem como função ajudar pessoas a entenderem o valor de seus produtos e de seu trabalho.
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2. métodos de compreensão – correlatos - meio de exaltar atos e valores morais
Epopéia – Poema épico ‘Ilíada’ de Homero. Tradução de Haroldo de Campos, 2012). Tem como função imortalizar os atos do herói e afirmar seu valor.
– forma de disseminação de valores
Panfletos – Panfletos informativos sobre a problemática do tabaco. Transmitem valores de hábitos saudáveis ao falar de hábitos destrutivos.
– colaboração para o ensino comum
Música com conteúdo didático – Captura de tela de aula musicada sobre biologia. Ensino de conteúdo convencional de forma lúdica e divertida.
– enriquecimento de contexto e hábitos
Gamificação de aulas – Captura de tela do site do pro- fessor Guilherme Xavier para a disciplina DSG1142. Ensino de conteúdo e estímulo do aprendi- zado através de atividades lúdicas e interativas, criando uma gosto pelo conhecimento.
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Após um estudo dos similares e correlatos relacionados ao nosso objetivo de projeto, deu-se início a uma fase do pensar mais aprofundado sobre o mecanismo com o qual pretendíamos trabalhar e, baseado nele, desenvolver a ideia para a criação de um protótipo. Analisamos, então, sistemas que funcionam com o uso de distintivos. Os disdintivos, como indica a própria morfologia da palavra, são utilizados tanto para distinguir um indivíduo de outro, quanto para condecorar um feito, representando um mérito alcançado. Eles materializam o êxito do indivíduo, bem como valorizam quem cometeu a ação bem-sucedida, sendo assim, têm a capacidade de tornar concreto e visível algo subjetivo como um valor ou uma conquista. Uma organização que trabalha com esse mecanismo são os escoteiros, por exemplo. Considerando ainda o sistema de troca e de recompensas dos emblemas de escoteiro, também avaliamos o famoso cordão de pins usados nos parques da Disney. Como é utilizado em um local muito visível, isto é, ao redor do pescoço, ele serve como uma espécie de plataforma para exposição dos pins adquiridos, o que, consequentemente, estimula a conversa e a troca entre os visitantes do parque que colecionam os bottons .
Alguns dos diferentes tipos de distintivos e emblemas de escoteiros existentes.
Momento da condecoração de uma escoteira, isto é, quando ela recebe um distintivo, representando um novo mérito alcançado.
Um dos visitantes de um dos parques da Disney recebendo um pin de um funcionário.
Cordão com coleção de pins da Disney.
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5.2
brainstorm mágico
grupo realizando brainstorm
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Tendo como base os similares e correlatos pesquisados, nossos professores nos indicaram um nova forma de realizar a dinâmica do brainstorming, o “brainstorming mágico”. Essa novidade consistia em explorar ainda mais a fundo nossa capacidade criativa ao romper a barreira do possível ou do real, fazendo parte do processo gerar alternativas que fossem mágicas, futurísticas e outros tantos adjetivos que tangem o mundo da fantasia. Sem as amarras da realidade, o brainstorming se provou muito produtivo e eficiente. Ao fim dessa dinâmica já tínhamos mais de 50 ideias sobre como fazer com que as mães compreendessem seus valores de uma forma mágica. Começamos então a agrupá-las de acordo com o que tinham em comum em sua natureza. Formaram-se entao sete grupos basicos aos quais nomeamos: “ Mentores”, onde se encontravam as ideias que eram basicamente “guias” como uma “Árvore da Sabedoria”, uma “Fada Madrinha” e até mesmo “Gandalf ”; “Indicadores autônomos”, que é o grupo de seres que não tem como dever guiar, mas apenas de indicar o valor das coisas, como a “Mãe D’Ouro”, figura do nosso folclore que indica o lugar de jazidas de ouro, mas que no nosso brainstorming, serviria para indicar valores nos objetos produzidos pelas mães e nelas próprias; “Objetos indicadores”, que como o próprio nome já diz, são objetos que indicam valores, como uma “etiquetadora mágica”, uma “bola de cristal” e um “termômetro de valores”. “Atividades”, grupo que se refere à ideias que indicam ações e jornadas, tal como uma “caça aos valores” ou uma “dança da chuva de valores”. “Poderes e habilidades”, compreende, por exemplo, ao poder de “aprender através do abraço” e a habilidade consedidas através de produtos como “pílulas de sabedoria”; “Recompensas”, grupo que consistia de apenas duas ideias, como o “Pote de Valores no Fim do Arco-Íris” e a “Espada do Bom Coração”, e que seriam apenas consequências do grupo de “Atividades”; e “Meios”, grupo que consisitia não somente de portais mágicos como o “Guarda-Roupa de Nárnia”, mas também de ambientes, como a “Floresta dos Ventos mágicos que Sussurram Valores”.
5.3
geração de alternativas
Mágicas Precisávamos organizar, combinar, recombinar, repensar essas ideias e trazê-las para o mundo real. Para facilitar a visualização, espalhamos seus desenhos pelo chão e praticamos o seguinte ritual: pular em duas ideias quaisquer, pensar em seus significados e em como elas se relacionavam e conectá-las a outras, até que um raciocínio se definisse. Depois de algumas dessas sessões, percebemos uma repetição. Diversas vezes chegamos a uma história na qual o protagonista deveria atravessar uma jornada com a ajuda de um mentor, um amuleto e um guia, tendo como principal objetivo o aprendizado gerado por essa viagem. Pensamos, então, em algumas alternativas mágicas e a mais atrativa foi “Os 12 Trabalhos de Maria”, uma jornada de metas a serem batidas. Reais Após a geração das alternativas mágicas, começamos a trazer o mágico para nosso universo de projeto. Desse processo, chegamos a três possíveis soluções: Livro da Maria, Caixa da conversa e Colar dos emblemas. O Livro da Maria consistia em um livro de fascículos, em que cada fascículo seria dado à mãe após a realização de um "desafio" (algo como entender a precificação de um objeto ou completar determinada tarefa). Esses desafios seriam como "tarefas de casa", a mãe levaria o "exercício" para casa e o traria no encontro seguinte. Assim, ela iria completando seu livro aos poucos e, no final, teria um objeto que poderia compartilhar com seu filho, lendo para ele. No entanto, observamos os pontos negativos dessa ideia. As mães com que estamos realizando o projeto possuem uma vida muito corrida, logo, essas tarefas poderiam atrapalhar seu cotidiano e, mesmo que elas queiram realizar o exercício, elas podem não ter o tempo necessário para fazê-lo. Além disso, por ser uma atividade realizada fora da instituição, a solução não traria a interação que tanto buscamos com as outras mães, não haveria o momento de troca de experiências e valores. E, por fim, o livro não engloba a parte da via de mão dupla, ele leva o entendimento dos valores para as mães, mas não esclarece a importância delas para as instituições. A Caixa da Conversa seria uma caixa contendo diversas fichas com temas de conversa, como o próprio nome sugere. A ideia seria que a atividade ocorresse durantes os encontros entre as mães, como o Aconchego ou então durante a própria confecção nas grifes. O problema que encontramos é que as instituições possuem um fluxo muito constante,
grupo gerando alternativas
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Livro da Maria
Caixa da conversa
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principalmente nos locais de produção e dos programas de capacitação, e uma atividade que necessita a mobilização das mães para ser realizada não é algo positivo. Nossa última ideia seria o Colar dos Emblemas. Ele seria um colar de fita onde cada mãe colocaria, ao longo de seu tempo na instituição, emblemas com significados diferentes para cada nível atingido. A instituição poderia, por exemplo, entregar insígnias representantes de “Mãe” para todas as que iniciassem o programa. A mãe que for para a capacitação recebe a “Capacitação”, a que aprender a costurar uma bolsa recebe a “Sei fazer uma bolsa”, entre outras medalhas a serem desenvolvidas. Esse sistema seria importante por exibir para todos que vissem os atributos de cada mulher, que seriam valorizados por elas, as estimulando a alcançá-los. Também facilitaria para todos visualizar mais rapidamente quem está apta a fazer o quê. Cobriríamos, assim, todos os requisitos do objetivo: as instituições reconhecem o valor das mães, que também passam a entendê-lo, aumentando sua autoestima e qualidade de aprendizado e trabalho, o que retorna de forma positiva para a instituição.
Colar dos emblemas
5.4
prototipação e experimentação
Com a espinha dorsal da ideia definida, fizemos um prótotipo de baixa fidelidade utilizando papel e um pedaço de pano. Com o papel, recortamos e desenhamos exemplos de bótons e fizemos o cartaz com os desafios e com o bolso onde estariam os tais bótons. Com o pedaço de tecido, fizemos o protótipo do colar que as mães usariam para a atividade. Levamos então o protótipo para o Instituto Refazer, onde conversamos com a nossa parceira Débora, que nos levou novamente à Grife Refazer e nos apresentou à Jane Coelho, responsável pela Grife e pelas mães que ali trabalham, para que pudéssemos trabalhar diretamente com ela. Apresentamos ela ao projeto e pudemos conversar sobre o andamento do produto que estamos desenvolvendo para a instituição. Através no protótipo de baixa fidelidade, Jane nos ajudou a definir parâmetros quanto aos desafios que constavam nele. Por exemplo, uma das conquistas se referia à mãe poder levar seu filho à Grife enquanto trabalha, o que, segundo a Jane, não deve ser estimulado pela falta de espaço e estrutura para receber as crianças na Grife. Além disso, ela opinou sobre a dinâmica da atividade, expondo que achava nossa ideia muito positiva para as mães, sobretudo porque observa que elas tem prazer nesse tipo de atividade. Para ela, o estímulo gerado através da recompensa dos bótons por um trabalho bem feito, por um prazo cumprido e outros desafios, é um potencializador para a autoestima das mães e para suas produções, gerando ainda um bom retorno para a instituição e para a Grife. Jane disse também que colocaria as voluntárias como responsáveis por essa atividade, para dar os bótons e “fiscalizar” os desafios cumpridos. Quando apresentamos esses resultados aos nossos professores, eles sugeriram que “abríssemos novamente o leque de possibilidades”, ou seja, pensar em outras formas, que não somente o colar, através das quais poderia ser realizada a atividade que estávamos propondo. Pensamos então em coletes, bolsinhas laterais e aventais. Retornamos à Jane com essas ideias e foi expressiva a preferência pela bolsinha, onde os bótons seriam colocados na alça. Segundo ela, as mães da Grife costumam estar sempre com seus celulares, e por isso, além de ser parte da atividade, teria também uma utilidade clara para as mães, estimulando-as ainda mais a participar. Além disso, ela também disse que seria possível e muito simples dar continuidade ao produzí-las na Grife mesmo, apontando para a quantidade de material têxtil disponível.
Teste do protótipo para validação da ideia
49
6.1
posicionamento
Nas próximas páginas estão registrados os resultados dos três mapas de posicionamento onde aplicamos nossas três alternativas, o Livro da Maria, o Colar de Emblemas e a Caixa da Conversa. No primeiro vemos expressa a relação se a atividade é realizada individualmente ou em grupo e se ela é feita mais em casa ou na própria instituição. No segundo, temos como parâmetros o quão facilmente a atividade e seus resultados será vista e percebida pelas as mães e pela própria a instituição e também a relação de tempo exigido para sua realização (não confundir com período de duração). No terceiro mapa é expressa a relação de custo da alternativa assim como a sua ludicidade ou falta dela.
Individual Livro da Maria
Colar com emblemas
Em casa
Na instituição
Caixa de conversas
Grupal
51
Alta visibilidade Colar com emblemas
Rรกpido
Lento Caixa de conversas Livro da Maria
Pouca visibilidade
52
Caro
Livro da Maria
Colar com emblemas
LĂşdico
SĂŠrio
Caixa de conversas
Barato
53
6.2
matriz SWOT da solução
Ajuda
54
Atrapalha
Interna Externa
SW O T
-Produção interna -Disponibilidade de material -Disponibilidade de mão-de-obra -Dsponibilidade de equipamento -Produção autossustentável
-Equipe de voluntários e funcionários para auxiliar na implantação da solução e sua continuidade dentro da instituição -Aumento da quantidade de mães interessadas no programa de capacitação profissional -Melhora na qualidade de vida das classes supracitadas -Mulheres como provedoras principais das famílias
-Falta de compreensão das mães -Baixa frequência nos cursos - Falta de logística para dar continuidade ao projeto
-Falta de tempo por parte das mães -Desmotivação para participar do programa de capacitação -Falhas no sistema de transporte público
6.3
análise TOWS da solução
Fraquezas
Forças
Oportunidades
Ameaças
SOST WO WT
-Quesitos facilitadores à concretização da solução e sua continuidade -Ressaltam a relevância do projeto
+
-Uma vez que a mulher é a provedora financeira da família, a frequência nos cursos deveria ser maior. -A equipe de funcionários e voluntários, quando devidamente instruída e organizada, resolve a questão da logística necessária para o bom funcionamento do projeto. -A implantação da solução auxiliaria no aumento da compreensão das mães acerca dos valores.
+
A disponibilidade de um local, equipamentos e materiais para a confecção da solução, em um sistema autossustentável, pode se tornar motivador para que a mãe tenha interesse em se informar sobre o programa de capacitação e até, nele ingressar.
+
-A falta de tempo das mães e a dificuldade de transporte são motivos para a baixa frequência nos cursos. -Afalta de compreensão das mães acerca de seu papel e sua importância na instituição pode explicar a desmotivação para que ingressem no programa de capacitação.
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6.5
impacto socioambiental
O foco principal do projeto é o melhoramento da comunicação entre o empreendedor (instituição) e a comunidade (mães cadastradas na instituição de reestruturação familiar que participam do programa de capaticação e geração de renda), visando potencializar a via de mão-dupla entre as mães e a instituição. Dessa forma, nossa solução pretende atingir diretamente ambas as partes, promovendo uma conscientização acerca do valor e importância dessas mulheres e do seu serviço. Para que isso aconteça, é necessário que haja total transparência nessa relação, uma vez que a instituição também desempenha o papel de consumidor dos artigos produzidos pelas beneficiárias do programa de capacitação profissional. Sendo assim, a solução permite um entendimento total dos valores atrelados ao processo de fabricação de um produto. O descarte, tratamento do lixo e os impactos gerados pelos meios de produção se aplicam em menor escala, já que a solução causa mínimo prejuízo ecológico e busca o reaproveitamento de materiais, pois o material para sua confecção é originado das sobras de tecidos dos artigos vendidos pela grife do instituto. A repercussão social, no entanto, ocorre em níveis maiores que a ambiental. O projeto tem como objetivo central a geração de valores, o que está indiretamente vinculado a um aumento do volume de trabalho e, consequentemente, de renda Diagnóstico e Avaliação dos critérios socioambientais
Não se ajusta 0%
Ruim 25%
Razoável 50%
Bom 75%
Excelente 100%
Relação com o empreendedor e a comunidade (100%) Transparência e relação com o consumidor (100%) Descarte e tratamento do lixo (50%) Impactos gerados pelos meios de produção (25%) Geração de trabalho e renda (75%)
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Gráfico radar
Relação com o empreendedor e a comunidade
Geração de trabalho e renda
Impactos gerados pelos meios de produção
Transparência e relação com o consumidor
Descarte e tratamento do lixo
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6.4
PARCERIAS - Gráficas
- Fornecedores de materiais - Costureiras das instituições
canvas
ATIVIDADES CHAVES
PROPOSTAS DE VALOR
RELACIONAMENTO
- Reuniões - Atendimentos - Aulas - Produção para venda
Aumento da:
- Sinalização - Estímulo - Recompensa
RECURSOS CHAVES
- Voluntários - Funcionários
- Autoestima - Valorização - Reconhecimento - Praticidade - Diversão dos adultos participantes de instituições de reestruturação familiar e capacitação.
ESTRUTURA DE CUSTO
CANAL
CLIENTES
Instituições que trabalham com a reestruturação familiar e possuem programas de capacitação profissional e geração de renda.
- Instituição - Eventos (feiras, congressos)
FONTES DE RENDA
- Custos principais: funcionários, aulas, produção para venda, gráficas e fornecedores.
- Bazares - Doadores
Modelo de negócios (Business Model Canvas ): Tendo como ponto de partida nossos clientes, definimos o que é necessário em termos materiais para atingirmos os objetivos do produto enquanto objeto, ferramenta de trabalho e instrumento na reestruturação familiar dos atendidos.
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6.6.
descrição
Amor Qualidade
Eficiência Vontade
Responsabilidade União
Aprendizado
Baseado no feedback que tivemos em relação aos protótipos que levamos para serem testados, começamos a nos focar mais na proposta de desenvolver uma bolsa que trabalhasse o conceito da transmissão de valores. Em uma tentativa de ampliar o leque de opções e fugir um pouco da sugestão dos bótons, na qual estávamos muito fechados, iniciamos um processo de desconstrução da ideia de materializar um valor por meio de uma recompensa (física) adquirida ao concluir uma tarefa ou realizar uma demanda. Ao analisar mais a fundo a alternativa dos bótons, percebemos que ela possuía algumas falhas em sua concepção. Primeiramente, para que esses artigos fossem produzidos, seria necessário um fornecedor, o que encareceria muito a solução final, representando um gasto financeiro com o qual a instituição não poderia arcar. Com isso, estabelecemos a premissa de que todo o material necessário para a confecção do produto final deveria ser um material que já fosse usado pelo programa de capacitação e estivesse disponível, pelo menos em uma escala média, para ser utilizado na produção da solução final. Assim, ficou definido que nossa próximo desafio seria pensar como um material, que já é tão usual para as mães e faz parte do seu cotidiano de trabalho, poderia ser utilizado de maneira diferente da qual estão acostumadas, atribuindo valor a uma matéria-prima relativamente simples. Consideramos, então, o conceito de as recompensas serem pequenas partes de um todo, e quando completada uma quantidade de demandas, a junção de todas as recompensas formariam algo conjunto. Com base nisso, chegamos à ideia de um conjunto de botões que seriam ligados por linhas, sendo essas as recompensas adquiridas a cada nova conquista realizada pela usuária, surgiu, assim, o Entrelaço. O Entrelaço é um jogo que foi desenvolvido com o intuito de fortalecer a via de mão-dupla entre as mães e a instituição – principalmente aquelas que participam do programa de capacitação e geração de renda – possibilitando sua usuária a compreender seu valor próprio, bem como os que estão atrelados a seu serviço. Para jogar é necessário ter a Bolsa Entrelaço, que contém sete botões, cada um representando um atributo: a vontade, a responsabilidade, a união, o aprendizado, a qualidade, a eficiência e o amor. A cada produto feito ou serviço prestado à Instituição, a participante recebe uma linha de cor sortida para adicionar a sua bolsa. Partindo do botão central, que representa o atributo “Vontade”, ela deve escolher até outros três botões por onde a linha será entrelaça-
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produto ainda em fase inicial, quando foi levado para ser testado pelas mães
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da. Esses botões devem ser escolhidos de acordo com o julgamento da usuária, em relação ao que mais representa o produto confeccionado ou o serviço realizado. Dessa forma, cada botão tem o papel de ligar a participante, seu produto ou serviço e a instituição. O Botão Vontade é o ponto de partida para que qualquer mãe esteja na instituição, bem como o ponto de início de qualquer linha a ser entrelaçada. O Botão Responsabilidade se refere ao cumprimento de prazos e da demanda, questões de extrema importância para o bom funcionamento do programa de capacitação. O Botão União é o do trabalho em equipe. Precisar de ajuda ou ser ajudado por alguém é um ato de companheirismo e carinho e deve ser mais estimulado. Já o Botão Aprendizado representa, como indica seu nome, a aquisição de um novo conhecimento e também, a capacidade de ensiná-lo a outros, compromisso intrínsecamente importante para a transmissão de informações e experiências dentro do grupo de participantes do programa de capacitação. O Botão Qualidade se refere não somente à aparência ou habilidade, como também ao cuidado e capricho ao executar uma tarefa ou produzir um artigo. O Botão Eficiência indica a rapidez com que um serviço foi efetuado ou até um adiantamento de prazo, com a ressalva de que não se peque na qualidade da confecção. Por último, o Botão Amor tem características que diferem dos demais, ele comunica que a artesã teve apreço pelo o que produziu, tendo o feito com carinho e dedicação. O objetivo é que todos os atributos estejam entrelaçados e que por cada botão passe ao menos 3 linhas diferentes. Assim, com o término do jogo, a participante será recompensada com um certificado de participação, que conterá um mapa dos seus três maiores atributos. Em suma, a relevância do Entrelaço é a de tornar concreto e visível os êxitos de suas usuárias, além de valorizar quem cometeu a ação bem-sucedida, isto é, ele traz para o real algo subjetivo como um valor ou uma conquista e ainda o faz por meio de materiais simples, com os quais as mães já estão familiarizadas, ressignificando sua função e seu valor, o que define o caráter inovador do produto.
A costureira da instituição faz a bolsa
A mãe recebe a bolsa
A mãe finaliza uma demanda ou serviço
A mãe recebe uma linha colorida
A mãe entrelaça os botões-atributo
Um desenho se forma na bolsa
fluxograma de uso do Entrelaço
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6.7
materiais e tecnologias
Ao desenvolver a Bolsa Entrelaço, estabelecemos como um de nossos parâmetros autossuficiência do projeto, para que ele pudesse ter continuidade, sem a necessidade de seu funcionamento estar unicamente atrelado a nós. Sendo assim, tanto o sistema de confecção do produto quanto os materiais utilizados em sua produção foram pensados de modo que utilizassem o que já houvesse de disponível na instituição, permitindo que não houvessem gastos adicionais para sua implantação. Dessa forma, definimos que quem daria seguimento à produção das bolsas seriam as próprias mães participantes do programa de capacitação e/ou as costureiras que trabalham para a associação. A modelagem do produto também enfrentou o desafio de precisar ser fácil para a reprodução, mas, ao mesmo tempo, não ter uma forma ou aparência demasiadamente simples e que conseguisse sugerir valor agregado em si. Além disso, tivemos que levar em consideração que a modelagem não apresentasse a exigência da bolsa ser feita em um determinado material, mas que fosse capaz de ser reproduzida emu ma diversidade de tecidos sem o comprometimento de sua funcionalidade. A exemplo do nosso desenvolvimento de protótipos, iniciamos os testes utilizando o brim, no entanto, o produto final foi produzido com tricoline, uma fazenda mais fina e de algodão. Para que essa variação fosse permitida, instituimos que, independente do tecido, ele deveria ser dublado e a costura escolhida seria a francesa para que a bolsa se tornasse mais resistente e estruturada, sem a necessidade de utilização de uma entretela, o que complicaria sua confecção. Também optamos pelo uso de ilhós para a passagem das alças, pois apresentam um acabamento limpo e apresentam fácil colocação.
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6.8
questões ergonômicas
Em relação às questões ergonômicas da solução a que chegamos, sua função principal é a de ser a plataforma, com a qual a atividade do jogo ocorre, sendo essa a necessidade primária, a qual o produto atende. No entanto, ele também possui um uso secundário, a partir do momento, em que a plataforma foi configurada na formatação de uma bolsa. Dessa forma, ela precisa oferecer a possibilidade de carregar, transportar, itens em seu interior. Como seu uso foi pensado, principalmente, para o momento de produção, no programa de capacitação da instituição, e suas usuárias serem as mães participantes desse programa, constatamos que a bolsa não poderia apresentar um tamanho muito grande – o que poderia atrapalhar a movimentação enquanto se costura ou se realiza determinadas tarefas. No entanto, apesar da pequena escala, a possibilidade de uma pequena variação de seu volume, por meio de uma parte interna que fosse regulável, mostrou-se interessante para ampliar as possibilidades de utilização do produto. Além disso, a existência de uma alça, que fosse extensa a fim de permitir o uso de jeitos variados – como: na lateral, transpassada ou amarrada –, traria maior liberdade de usabilidade. Já considerando sua função semiótica, de acordo com o que havíamos notado em nossas visitas às instituições e em nossa interação com as mães da capacitação, definimos que o jogo precisaria ter uma interface simplificada e que sua forma direcionasse a seu uso, uma vez que pessoas com diversos níveis de escolaridade entrariam em contato com ele. Outro quesito importante foi a atratividade do produto, dele chamar o usuário à interação, dessa forma, era essencial que ele fosse lúdico. Por fim, nosso maior interesse foi na capacidade simbólica atrelada à bolsa. Por meio de sua forma e dos materiais utilizados, pretendíamos fazer com que ela fosse próxima do universo com o qual essas usuárias já estão habituadas, mas, ao mesmo tempo, que ela representasse, de certa forma, o potencial de ser um objeto de desejo para elas, o que estimularia mais mães a se interessarem e quererem participar do jogo e, consequentemente, a até ingressar no programa de capacitação.
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Desde o início soubemos que esse não seria um projeto como os outros. Nessa primeira disciplina de Projeto Avançado, somos levados a aplicar nossos conhecimentos de três projetos básicos pela primeira vez. Do engatinhar, precisamos nos levantar e dar os primeiros passos titubeantes rumo a novas corridas. Logo, é natural que tenhamos mais autonomia. Aprender a lidar com essa autonomia foi, talvez, o maior desafio do período de projeto. Nos vimos muitas vezes sem saber o que fazer, que caminho tomar, qual o passo seguinte. Então precisamos usar criatividade para sair da inércia, ter paciência para aceitar incertezas e humildade para pedir ajuda, uma mão que nos guiasse. Os orientadores, sem tomar controle do nosso trabalho, souberam nos posicionar novamente quando necessário. Descobrimos, então, a capacidade de fazer Design com nossas próprias opiniões, de definir um ritmo de trabalho e traçar metas para alcançar os objetivos comuns. Nossos parceiros de projeto também foram essenciais para manter o ânimo. Fazer parte de vidas tão ricas, de histórias com tanto a ensinar nos lembrava a todo tempo de que temos o potencial de sermos fortes, perseverantes como essas mães e voluntários. O Entrelaço nos enredou para avançarmos rumo a novas etapas, muito maiores e cheias de conquistas. Uns entrelaçados aos outros.
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Em nossas pesquisas de empreendedorismo cidadão, nos deparamos com as instituições de reestruturação familiar e nos encantamos pelas famílias, pelos voluntários e pelas mães que faziam parte dos programas de capacitação. Enxergamos grande oportunidade de projeto na via de mão dupla que deveria se criar – e que era desejada – entre mães e instituições, mas que muitas vezes não ocorria tão bem. Também observou-se a importância dessas mães em outros núcleos, como familiar e com outras mães, mas elas não pareciam perceber isso e nem como o valor delas se reflete no trabalho feito. Então, tendo em mente a necessidade de reforçar as relações de troca, buscamos soluções que envolvessem as mães e as aproximassem do que elas mesmas produzem. O sistema do Entrelaço foi a melhor maneira encontrada durante o período do projeto de se atingir esses objetivos, promovendo a reflexão através da metáfora da ligação entre os valores. Também fizemos questão de que o reconhecimento partisse em parte da instituição, estando inserido no movimento de entrega da linha colorida. O projeto começou carregado de potenciais que esperamos ter alcançado com um produto aparentemente simples, mas cheio de significados, que poderá ser produzido e usado por centenas de mulheres em diversas instituições, promovendo sua autoestima e melhorando sua reestruturação.
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- MENDONÇA, F.A.T.P. Refazendo: Informativo 09 – Abril/ Junho de 2014 – Ano 02. Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: <http://issuu.com/fatpdm/docs/info_09/1> Acesso em 19 set. 2014. - INSTITUTO REFAZER. O que faz a Refazer? Disponível em <http://refazer.org.br/site/quem-somos/o-instituto-refazer/>Acesso em 08 set. 2014. - INSTITUTO REFAZER. Como funciona o Refazer? Disponível em <http://refazer.org.br/site/programas/atendimento/> Acesso em 08 set. 2014. - REFAZER. Ajude a transformar a vida de uma criança! Rio de Janeiro, 2014. Publicidade. - CARVALHO, A. S. C. de. Andrea de Carvalho: depoimento [set. 2014]. Entrevistador: J. Almeida. Rio de Janeiro. Entrevista concedida ao Projeto Dias de Maria. - FARIAS, D. B. F. Débora Farias: depoimento [set. 2014]. Entrevistadores: J. Almeida e L. Alves. Rio de Janeiro. Entrevista concedida ao Projeto Dias de Maria. - SOUZA, S. A. F. Sidineia Souza: depoimento [set. 2014]. Entrevistadores: J. Almeida e L. Alves. Rio de Janeiro. Entrevista concedida ao Projeto Dias de Maria. - SAÚDE CRIANÇA. Saúde é inclusão social. 2014. Publicidade. - SAÚDE CRIANÇA. Health is part of social inclusion. 2014. Publicidade. - GEORGETOWN UNIVERSITY. Trust Saúde Criança Forever – A Strategy Of Sustainability. Georgetown, EUA, out. 2013. Pesquisa estatística.
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