Guia dos inimigos naturais das pragas orizícolas

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BOLETIM TÉCNICO Nº 13

GUIA DE INIMIGOS NATURAIS DAS PRAGAS ORIZÍCOLAS

Lidia Mariana Fiuza Jaime Vargas de Oliveira Danielle Almeida Neiva Knaak Rodrigo Schoenfeld Maurício Miguel Fischer Instituto Rio Grandense do Arroz Elvis Arden Heinrichs Universidade de Nebraska Cachoeirinha - RS 2017


GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL GOVERNADOR José Ivo Sartori SECRETÁRIO ESTADUAL DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E IRRIGAÇÃO Ernani Polo

INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ PRESIDENTE Guinter Frantz DIRETOR TÉCNICO Maurício Miguel Fischer DIRETOR ADMINISTRATIVO Renato Caiaffo da Rocha DIRETOR COMERCIAL Tiago Sarmento Barata GERENTE DA DIVISÃO DE PESQUISA Rodrigo Schoenfeld


INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ Estação Experimental do Arroz Divisão de Pesquisa

GUIA DE INIMIGOS NATURAIS DAS PRAGAS ORIZÍCOLAS

Lidia Mariana Fiuza Jaime Vargas de Oliveira Danielle Almeida Neiva Knaak Rodrigo Schoenfeld Maurício Miguel Fischer Instituto Rio Grandense do Arroz Elvis Arden Heinrichs Universidade de Nebraska

Cachoeirinha - RS 2017


INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ Estação Experimental do Arroz Divisão de Pesquisa Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494 94930-030 – Cachoeirinha – RS Fone: 051-3470-0610 Correio eletrônico: doat-gab@irga.rs.gov.br Endereço eletrônico: www.irga.rs.gov.br Tiragem: 5.000

Todos os direitos reservados® É permitida a reprodução de dados e das informações contidas nessa publicação, desde que citada a fonte. Catalogação na publicação: Tânia Maria Dias Nahra – CRB 10/918 Biblioteca do Instituto Rio Grandense do Arroz Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação

G943 GUIA de inimigos naturais das pragas orizícolas / Lidia Mariana Fiuza ...[ et.al.] - Cachoeirinha: IRGA/Estação Experimental do Arroz, 2017. 30 p.: il. (Boletim Técnico nº 13). ISBN 978-85-65970-05-1

1. Inseto. 2. Arroz irrigado. 3. Inimigos naturais. I. Fiuza, Lidia Mariana

CDU 633.18


AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todos que direta, ou indiretamente, participaram na elaboração desse boletim técnico, contribuindo com dados, comunicações pessoais, fotografias e literatura. Nesse contexto, em destaque, os pesquisadores colaboradores e os alunos de graduação e pósgraduação que participaram do projeto Fulbrigth/Fapergs: Valmir G. Menezes, Thais F. S. de Freitas, Vilmar Machado, Leila L. Fritz, Silvia M. de Salles, Tiago F. Andreis, Marciele Pandolfo, Letícia D. da Silva, Maria Helena L. R. Reche, Diouneia L. Berlitz, Rogério Schünemann, Vera Bobrowski, Sonia T. B Dequech e Ricardo Polanczyk.



SUMÁRIO

INIMIGOS NATURAIS ......................................................................................................................................................................... 8 PREDADORES ..................................................................................................................................................................................... 9 Joaninhas ....................................................................................................................................................................................... 9 Percevejos e besouros .................................................................................................................................................................. 11 Libélulas ....................................................................................................................................................................................... 12 Aranhas ........................................................................................................................................................................................ 14 Tesourinhas .................................................................................................................................................................................. 16 Ácaros ........................................................................................................................................................................................... 17 PARASITOIDES ................................................................................................................................................................................. 18 Microhimenópteros ...................................................................................................................................................................... 19 MICRORGANISMOS ......................................................................................................................................................................... 22 Vírus .............................................................................................................................................................................................. 22 Bactérias ....................................................................................................................................................................................... 23 Formulações comerciais de microrganismos ................................................................................................................................ 25 Fungos .......................................................................................................................................................................................... 26 CONSERVAÇÃO E MANEJO DE INIMIGOS NATURAIS....................................................................................................................... 28 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................................... 30


INIMIGOS NATURAIS

O Guia de inimigos naturais das pragas orizícolas (artrópodes e microrganismos) é uma obra constituída por textos e imagens que explicam a biologia e os hábitos, assim como os benefícios e medidas de conservação dessas espécies. Os autores desejam que este guia faça parte do trabalho diário dos produtores e profissionais da orizicultura, servindo como instrumento prático e no reconhecimento dos principais aliados da cultura do arroz irrigado. Os insetos representam o maior número de espécies animais do planeta, os quais se dividem basicamente em duas categorias: (i) insetos benéficos, como os inimigos naturais e as abelhas polinizadoras (ii) e insetos-praga ou fitófagos (artrópodes). Os insetos que se alimentam de plantas podem causar dano direto à produção - quando consomem o tecido foliar, raízes ou sugam os fotoassimilados -, ou dano indireto - quando diminuem a qualidade dos grãos ou permitem a entrada de fitopatógenos. Na lavoura de arroz irrigado, algumas pragas são antigas conhecidas dos produtores, das quais destacam-se, a bicheira-da-raiz, os percevejos e as lagartas. Além das pragas, também estão presentes nas lavouras insetos que não se alimentam de plantas, mas de outros insetos, ou precisam deles em alguma fase da sua vida para se desenvolver. Somam-se a eles, aranhas, ácaros e microrganismos entomopatogênicos (vírus, bactérias e fungos), que também exercem uma função benéfica para a produção agrícola. Este grande grupo é composto pelos inimigos naturais, assim chamados por serem habitantes da lavoura que realiza o controle biológico das pragas. De acordo com Gallo et al. (2002) o controle biológico é um fenômeno natural que consiste na regulação do número de plantas e animais por inimigos naturais, que constituem os agentes de mortalidade biótica. Assim, todas as espécies de plantas e animais têm inimigos naturais atacando em vários estágios de vida. É bastante diversificado o número de animais insetívoros (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos), na maioria inespecíficos. Neste guia serão apenas enfatizados insetos (predadores e parasitoides). Em alguns casos, comentando-se sobre ácaros e aranhas, e entomopatógenos que atuam no controle microbiano de pragas. 8


PREDADORES

Esse grupo é formado por insetos, ácaros e aranhas que se alimentam de outros insetos ou das posturas das outras espécies. Normalmente, são “generalistas”, ou seja, não possuem especificidade na sua predação, podendo alimentar-se de diversas espécies, inclusive de outros inimigos naturais. Sabe-se que algumas joaninhas e besouros têm preferência por pulgões, e que alguns besouros e esperanças preferem alimentar-se apenas das posturas dos insetos. As aranhas são bastante disseminadas nas lavouras de arroz, caracterizando-se, na maioria das vezes, como o principal predador e podem atacar tanto insetos, quanto posturas. Libélulas, joaninhas, cascudos, percevejos e esperanças também ocorrem com muita frequência.

Joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae)

A maioria das espécies de larvas e adultos são predadores generalistas, assim como os percevejos e besouros, com grande importância no controle de pragas, como: cigarrinhas, lagartas, ácaros, tripes e principalmente os pulgões. Na lavoura, o melhor período para encontrar esses inimigos naturais, principalmente as joaninhas, é no início da manhã e final da tarde. Essas espécies predominam em locais úmidos e são frequentemente associadas à vegetação aquática. Na entressafra, algumas espécies hibernam na base das plantas ou nas taipas.

Os adultos das joaninhas apresentam corpo oval, brilhante, antenas e pernas curtas, sendo que a maioria das espécies apresenta manchas amarelas e pretas. Seu desenvolvimento desde o ovo até a fase adulta varia de 15 a 60 dias, depende da espécie, sendo o número de ovos depositados sobre as folhas das plantas ou corpo das presas, na proporção de 5 a 50 por fêmea. As larvas vivem cerca de 15 dias. Como exemplo mais frequente desse grupo de predadores, podemos citar a Cycloneda sanguinea, conforme imagens a seguir.

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Joaninhas

Foto: Berti Filho (2000)

Larva

Adulto

Foto dos autores.

Cycloneda sanguinea

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Adulto


Percevejos e besouros

Foto: Berti Filho et al. (2000)

Podisus spp. (Hemiptera:Pentatomidae)

Oliveira et al. (2002)

Calosoma granulatum (Coleoptera: Carabidae)

Foto: Leggcreekfarm, 2016

Geocoris spp. (Hemiptera: Geocoridae) 11


Libélulas (Odonata)

As libélulas são encontradas nas lavouras de arroz, onde ocorrem frequentemente as famílias Coenagrionidae e Libellulidae. As larvas de Coenagrionidae têm como característica três cerdas na extremidade do abdômen. Os adultos medem de 2 a 15 cm, com olhos afastados, corpo delgado e coloridos (azul), pernas projetadas para frente e asas estreitas e membranosas. As ninfas de Libellulidae possuem cerdas curtas no abdômen e guelras internas. Os adultos medem cerca de 4 cm, com olhos aproximados, corpo robusto (cinza), asas membranosas em posição horizontal, mesmo em repouso. As posturas são efetuadas na água e abrigadas nas plantas de arroz.

As formas jovens e os adultos das libélulas são encontradas durante o ciclo da cultura, sendo ambos predadores vorazes. Os adultos podem ser facilmente encontrados no final de tarde repousando sobre as folhas e panículas das plantas.

Nas lavouras, os adultos capturam suas presas em vôo ou em repouso, alimentando-se preferencialmente de mariposas, cigarrinhas, mosquitos e gafanhotos. A família Coenagrionidae, destaca-se como importante predadora de Spodoptera frugiperda.

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LibĂŠlulas

Foto dos Autores

Coenagrionidae

Foto dos autores.

Foto dos autores.

Libellulidae

Coenagrionidae 13


Aranhas (Araneae, Araneidae)

A família Araneidae é encontrada freqüentemente em áreas de arroz irrigado juntamente com Lycosidae, Tetragnathidae, Salticidae, dentre outras predadoras. As aranhas colonizam as lavouras desde o início da semeadura e suas populações tendem a aumentar de acordo com a oferta de alimento (presas). Dentro da família Araneidae, destaca-se a espécie Alpaida veniliae, a qual, representa 80% das espécies de aranhas encontradas em lavouras de arroz, possuindo uma densidade média de 8 indivíduos/ m².

O período ideal para encontrá-las é pela manhã e final da tarde, quando começam a confecção das teias. Elas mantém seus hábitos alimentares durante todo o cultivo, predando diversas espécies de pragas, com destaque às cigarrinhas, dípteros, gafanhotos, esperanças, mariposas e lagartas (Spodoptera spp. e Pseudaletia spp.).

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Aranhas

Foto dos autores.

Alpaida veniliae

Foto dos autores.

Foto dos autores.

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Tesourinhas

As tesourinhas (Dermaptera: Forficulidae) são insetos de coloração parda ou amarelada que, normalmente, não ultrapassam os 5 cm de comprimento. São semelhantes a alguns besouros, mas se distinguem por possuírem um par de cercos na parte terminal do abdômen, que formam uma estrutura semelhante a uma tesoura ou pinça. Possuem dois pares de asas, um coriáceo (élitros), e outro membranoso. As posturas são efetuadas no solo ou em local úmido, tendo as ninfas, duração aproximada de 30 dias. Esses insetos são mais ativos à noite e se abrigam em locais úmidos, plantas mortas e cascas de árvores. Algumas espécies, como Doru luteipes, estão presentes em maior abundância aos 70 dias após a emergência das plantas. São excelentes predadores, assim como outras espécies dos gêneros Euborellia e Labiduria, que se alimentam dos ovos, pupas e lagartas pequenas.

Foto dos autores.

Cruz (2016)

Doru luteipes. 16


Ácaros

Os ácaros predadores (Acarina: Phytoseiidae), têm aspecto brilhante, coloração palha e, ocasionalmente, marrom ou avermelhada e ausência de olhos. O período de oviposição varia de 15 a 30 dias, com uma média de 2 ovos/ fêmea /dia. Seu ciclo de vida é curto, com cerca de 7 dias. Esses predadores encontram-se na parte aérea das plantas ou no solo, onde se alimentam de ovos e pequenos artrópodes, nematoides e outros ácaros. As espécies de Phytoseiulus estão entre os predadores mais importantes, atuando principalmente no controle de ácaros fitófagos (Tetranychidae), que causam danos nas lavouras de arroz e várias outras culturas. No Brasil, a espécie Neoseiulus paraibensis tem sido comercializada para aplicação

Foto dos autores.

em programas de controle biológico de ácaros da família

Ácaro do gênero Neoseiulus.

Tetranichideae. Além destes, também se destacam as espécies de Euseius e Iphiseiodes, que se alimentam de tripes e formas jovens de cochonilhas.

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PARASITOIDES São insetos que depositam seus ovos no interior de outros insetos ou nas posturas de outras espécies. Logo após a postura, o parasitoide que se desenvolve no interior do hospedeiro faz com que o inseto-praga paralise sua alimentação, seguido da morte do inseto e emergência de novos parasitoides. Ao contrário da predação, no caso do parasitismo costuma haver maior especificidade na escolha do hospedeiro. Nas lavouras de arroz, os principais parasitoides são os microhimenópteros, os quais podem passar despercebidos pelo agricultor porque se assemelham a pequenas vespas. Esses inimigos naturais têm preferência por efetuarem suas posturas no interior do corpo das lagartas, dos pulgões e de ovos dos percevejos. Os parasitoides têm grande importância na manutenção do equilíbrio ambiental, atuando na regulação populacional de diversos insetospraga orizícolas. Os adultos têm corpo pequeno e caracterizam-se por dois pares de asas membranosas. As fêmeas ovipositam diretamente no interior ou superfície dos hospedeiros, que podem ser: ovos, larvas, pupas ou adultos de insetos. As diferentes espécies de parasitoides podem depositar um ou mais ovos por hospedeiro, sendo o desenvolvimento larval a fase parasitária que leva o hospedeiro (inseto-praga) a morte e a emergência de um adulto do parasitoide.

Os principais microhimenópteros parasitoides pertencem às famílias Trichogrammatidae, Braconidae, Eulophidae, Ichneumonidae, Scelionidae, Chalcididae, Encyrtidae, Platygastridae e Perilampidae que podem controlar os principais insetos-pragas: lagarta-da-folha, broca-docolmo, percevejo-do-colmo, pulgão-da-raiz e lagarta-rosca.

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Microhimenรณpteros

Euplectrus sp.

Foto: Alex Wild (2008)

Foto dos autores.

Braconidae

Eulophidae (ectoparasita de lagarta)

Foto: Brian Valentine (2006)

Foto: Brian Valentine (2006)

Ichneumonidae

Platygastridae 19


Nos programas de controle biológico de pragas, os parasitoides que se destacam são: Cotesia flavipens (Braconidae), que é altamente eficaz para o controle da broca-do-colmo; Telenomus remus atua no parasitismo de ovos de Spodoptera frugiperda, assim como Trissolcus spp. Também apresentam alto potencial para o controle de lagartas e percevejos; o gênero Trichogramma, destaca-se como parasitoide de ovos aplicado no controle de pragas de diversas culturas. Nas imagens a seguir, o Trichogramma pretiosum está parasitando ovos da lagarta-da-folha.

No levantamento dos parasitoides de lagartas de Spodoptera frugiperda realizados por Dequesch et al. (2004, na EEA/IRGA, Cachoeirinha, RS) nos anos agrícolas 1999/2000 e 2000/2001, foram encontradas e identificadas as seguintes espécies: Chelonus sp., Cotesia sp. e Exaticolus sp. (Hym.,Braconidae), Campoletis flavicincta e Ophion sp. (Hym.,Ichneumonidae) e Archytas incertus e Lespesia archippivora (Dip.,Tachinidae). Os pesquisadores destacam a maior ocorrência de C. flavicincta, inclusive com observação de hiperparasitismo por Conura sp. (Chalcididae) e Aphanogmus sp. (Ceraphronidae).

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Foto: Foto Fot FFo ot o oto tto o: Cr C Cruz ruz uz ((2 (2016) (20 20 2 201 01 0 16 6) ) Cruz (2016)

Foto dos autores

Telenomus remus

Campoletis sp.

Foto: Ricardo Polanczyk

Foto: Mateus Raguse

Trichogramma pretiosum

Archytas incertus

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MICRORGANISMOS

Entre os microrganismos entomopatogênicos destacam-se os vírus, as bactérias e os fungos:

Vírus Os vírus atuam no controle de insetos por ingestão das partículas virais (poliedros ou grânulos) e, entre as 16 famílias de vírus, destaca-se a Baculoviridae, com maior importância no controle biológico pela alta especificidade, elevada virulência, corpos de inclusão protegidos, fácil armazenamento e produção, além de não causar doenças aos vertebrados. Os baculovírus (Vírus de Poliedrose Nuclear e Granulose) têm elevado potencial no controle de lepidópteros (lagartas).

Foto dos autores.

Foto dos autores.

Lagartas com baculovírus (Vírus de Poliedrose Nuclear)

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Bactérias As bactérias esporulantes das famílias Bacillaceae que compreendem os gêneros Clostridium e Lysinibacillus têm ação inseticida as larvas dos dípteros (mosquitos) e o Bacillus thuringiensis, ação inseticida sobre diversas ordens, como: Lepidoptera, Coleoptera, Diptera, Hymenoptera, Homoptera, Hemiptera, Isoptera, Orthoptera, Siphonaptera, Thisanoptera e Mallophaga, além de nematoides. A intoxicação dos insetos-praga ocorre pela ingestão dos esporos, toxinas e enzimas bacterianas.

Foto dos autores.

Foto dos autores.

Bacillus thuringiensis

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Lagartas, pupas e adultos sem tratamento

Foto dos autores.

Lagartas, pupas e adultos tratadas com Bacillus thuringiensis

Foto dos autores.

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Formulações comerciais de microrganismos

Alguns microrganismos são específicos na infecção de insetos e outras espécies de pragas, onde destacam-se em ordem de especificidade os vírus, as bactérias e os fungos. Quanto às bactérias e vírus, possuem grande especificidade, principalmente às lagartas, e elevado potencial na formulação de biopesticidas, porque atuam por ingestão e têm baixa capacidade de causar epizootias naturais. Todos esses organismos microscópicos que causam doenças em insetos se protegem nas plantas e no solo. 25


Fungos

Os fungos são patógenos que têm ação de contato com os insetos aquáticos e fitófagos (parte aérea e solo), podendo causar as doenças em qualquer fase de desenvolvimento dos insetos: ovo, larva, pupa, adulto. Considerando os Deuteromicetos, entre os 13 gêneros de fungos entomopatogênicos destacam-se Metarhizium, Beauveria, Paecilomyces, Nomuraea, Fusarium e Verticillium como ingredientes ativos de formulações comerciais aplicadas no controle de Lepidoptera, Coleoptera, Diptera, Homoptera e Hemiptera.

Quanto ao espectro de ação, os fungos destacam-se porque causam a morte de larvas e adultos de diversas ordens de insetos-praga, podendo haver epizootia natural em anos agrícolas com elevada temperatura e umidade. Os insetos atacados pelos fungos são facilmente visualizados, pelo aspecto mumificado de coloração branca quando infectados por Beauveria bassiana e cinza-esverdeado quando contaminado por Metarhizium anisoplie. A contaminação mais frequente entre as pragas da lavoura de arroz, especialmente no período da entressafra, nos locais de hibernação, é do percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) e da broca-do-colo (Ochetina sp.), cujos dados já foram divulgados por pesquisadores do IRGA, onde foram identificadas tanto estirpes de M. anisopliae quanto B. bassiana, respectivamente. Nas lagartas a doença branca é a mais comum causada pelo fungo Nomuraea rileyi.

26 Foto: Alves et al. (1998)

Foto dos autores.


Foto dos autores.

Foto dos autores.

Metarhizium anisopliae

Beauveria bassiana

Foto dos autores

Foto dos autores

Coleรณpteros controlados naturalmente por fungos no campo.

Lagarta infectada com o fungo Nomuraea sp. 27


CONSERVAÇÃO E MANEJO DE INIMIGOS NATURAIS Os inimigos naturais encontram-se nos agroecossistemas e, em razão disso, o manejo das lavouras deve ser favorável à sua manutenção e aumento das populações. Medidas viáveis de preservação incluem a manutenção de hábitat natural ou fontes de alimentação, diversificação da vegetação na área cultivada, rotação de cultura e manejo do solo. Nesse sentido, enquadram-se as áreas de refúgio dentro ou ao fora da lavoura, como matas, arbustos e plantas daninhas, onde os inimigos naturais encontram abrigo com temperaturas mais amenas, além de hospedeiros alternativos, pólen e néctar. Esses recursos servem de alimento para os inimigos naturais em períodos de entressafra, quando a abundância de pragas é baixa, garantindo a sobrevivência dos parasitoides e predadores.

Os inimigos naturais são importantes, mas não causam a eliminação total das pragas de uma lavoura, pois o equilíbrio deve existir entre esses e os insetos-praga, inclusive para servir de alimento e/ou hospedeiro para o desenvolvimento dos insetos benéficos. Os surtos de pragas secundárias, que não causam danos de expressão econômica, podem ocorrer em períodos ou anos-agrícolas que algumas espécies de inimigos naturais são reduzidas ou eliminadas do ambiente devido ao manejo da cultura, especialmente pela aplicação de produtos químicos de baixa seletividade.

Sendo assim, a maior ou menor presença destes agentes de controle biológico depende, entre outros fatores, das práticas agrícolas. A rotação de culturas é uma medida importante, pois torna o ambiente favorável a um maior número de espécies. Entretanto, a prática agrícola de maior impacto na abundância e na diversidade de inimigos naturais é o uso de inseticidas, especialmente aqueles de baixa seletividade. É fundamental a escolha de produtos registrados para a cultura e com ação seletiva. Da mesma forma, o monitoramento das populações de insetos na lavoura é indispensável para determinar o nível de dano econômico, evitando-se uso desnecessário de inseticidas.

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Foto dos autores.

Foto dos autores.

Coleta de insetos a campo e conservação preliminar em álcool 70%. Desse modo, a escolha dos produtos e a frequência das aplicações devem considerar, além do aspecto econômico, a conservação dos inimigos naturais nas lavouras e proximidades das áreas. Cabe ressaltar que a lavoura de arroz é um ambiente riquíssimo em espécies de inimigos naturais, que devem ser reconhecidas e conservadas pelos produtores, maiores interessados na manutenção de um ambiente equilibrado e produtivo.

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REFERÊNCIAS ALVES, S.B. Controle microbiano de insetos. Piracicaba: FEALQ, 1998. 1163 p. ALVES, S.B.; LOPES, R.B. Controle Microbiano de pragas na América Latina. Piracicaba: FEALQ. 2008. 414 p. BERTI FILHO, E.; CLARK, J.K.; COSTA, V.A. Manejo Integrado de Pragas e Doenças das Culturas: Pastagens. In.: ALMEIDA, J.E.M.; BATISTA FILHO, A.; COSTA, V.A.; LEITE, L.G.; RAMIRO, Z.A.; RUSSOMANO, O.M.R.; KRUPPA, P.C.; CALIL, E.M.B. São Paulo, Secretaria de Agricultura e Abastecimento, vol. 2. 2000. 50p. BORGIO, J.F.; SAHAYARAJ, K.; SUSURLUK, I.A. Microbial insecticides: Principles and applications. New York: Nova Science Publischers. 2011. 492 p. CRUZ, I. Controle biológico como ferramenta para o manejo ecológico de pragas em sistema de produção orgânica do milho. Disponível: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/33870/1/Palestra-Controle-biologico.pdf. Consulta em 10/12/2016. DEQUECH, S.T.B.; SILVA, R.F.P.; FIUZA, L.M. Ocorrência de parasitóides de Spodoptera frugiperda (J. E. Smith)(Lep., Noctuidae) em lavouras de milho em Cachoeirinha, RS. Ciência Rural, v. 34, n.4, p.1235-1237, jul-ago, 2004. DIDONET, J. et al. Incidência e densidade populacional de pragas e inimigos naturais em arroz de terras altas, em Gurupi-To. Bioscience Journal, v. 17, 2001. p. 67 - 76. GALLO, D. et. al. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920 p. GANGURDE, S. Aboveground pest and predator diversity in irrigated rice (Oryza sativa L.) production systems of the Philippines. Journal of Tropical Agriculture, v. 45, 2007. p. 1 - 8. GOMES, A.S.; MAGALHÃES JÚNIOR, A.M. Arroz irrigado no Sul do Brasil. Brasília, EMBRAPA. 2004. 899 p.

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