Revista Lavoura Arrozeira

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Ao Leitor

A MONOCULTURA E A CRISE DO ARROZ Vivemos no último ano mais uma crise na orizicultura, e os preços vieram abaixo e isso trouxe grandes prejuízos aos orizicultores. Porém, essa crise foi mais uma dentre outras tantas que sistematicamente se abate sobre nossos produtores, que tem excelência na produção e são referencia e exemplo para o mundo todo, sem falar que produzem esse alimento que é básico para a alimentação do povo brasileiro, tão importante para a segurança e soberania alimentar do Brasil. A crise precipitou ações e debates. As ações foram muitas e fortes, como o aporte por parte do governo federal de mais de um bilhão de reais para a comercialização do arroz e com isso garantir que os produtores não vendessem seu produto a preços abaixo do preço mínimo. Nossa indústria exportou como nunca, mais de dois milhões de toneladas. Estas ações, combinadas com uma safra menor devido a problemas climáticos como estiagem e frio, promoveram a alta dos preços que hoje remuneram satisfatoriamente os produtores e não oneram o consumidor. Quanto aos debates, foram muitas as ações identificadas para a tomada de atitudes que resultassem em solução para os problemas estruturais da lavoura do arroz, como carga tributária, logística,

endividamento, arrendamento de terra, fornecimento de água, custo dos insumos, Mercosul, dentre muitos que se confundem entre causa e consequência. Mas tem um fator que é fundamental e que está na base da crise, que tem de ser visto com muita atenção por todos, que deve ser enfrentado e combatido, pois se assim não for feito a crise sistêmica continuará a grassar a vida dos orizicultores. Esse fator é com certeza a monocultura do arroz. A monocultura não é culpa do produtor, aliás, o produtor é vítima da monocultura. Ao longo dos anos, por diversos motivos, nossos produtores tiveram a sua disposição conhecimentos que induziram a somente produzir arroz, tendo as academias e institutos de pesquisa disponibilizado poucas informações sobre as alternativas de cultura para as terras planas. Esta prática permite que o produtor fique vulnerável ao mercado, pois ele terá somente um produto para vender tendo que submeterse aos preços praticados pelo mercado. Seria diferente se o mesmo produtor tivesse outras mercadorias para a venda, ele teria a oportunidade de escolher qual produto vender e pelo melhor preço. Outra questão importante é a redução de custos com os benefícios que a rotação de culturas traz em termos de fertilidade e estrutura de solos, combate a invasoras, utilização de máquinas dentre muitos benefícios. O produtor passa a ter melhores condições de enfrentar o mercado, e assim se torna o principal agente desta mudança decidindo o que plantar e quanto plantar. Por isso, além de muitas coisas que o governo do estado já encaminhou, nosso papel enquanto órgão estatal que tem a incumbência dar soluções e propor políticas públicas ao setor arrozeiro, estamos trabalhando intensamente na questão da rotação de culturas, ampliando equipes e ações de pesquisa, intensificando a assistência técnica para levar a informação correta ao produtor e assim dar-lhes condições de terem sucesso nessa nova empreitada, que é semear outras culturas, como soja, milho, sorgo, pastagens, e outras tantas que ainda podem se pesquisadas. Temos a certeza que este produtor que desenvolveu a lavoura de arroz que é tão complexa na sua condução, que atingiu um patamar tecnológico superior, que já enfrentou tantas crises, não terá dificuldades de adotar as tecnologias que estamos desenvolvendo e assim semeará um futuro melhor para si, sua família, sua comunidade, seu estado e seu país e o tempo da crise, da quebradeira, do desespero e da falta de esperança ficarão para trás. Claudio Pereira Presidente do Irga

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Sumário

ENTREVISTA

21 Safra 2011/2012

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Tendência

28 capa

Rotação de Cultura O Futuro da Lavoura

Ao Leitor Conselho Deliberativo Curtas Mercado Intercâmbio Clima Entrevista Industria Tendência Safra Safra 2011/2012 Plano Safra Convenção Capa Almanaque Artigo Tecnico / Soja Artigo Técnico / Milho Tecnologia Manejo Sanidade Artigo Científico

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44

03 05 06 08 11 12 14 17 18 20 21 26 27 28 33 34 38 42 44 46 49

Artigo Técnico / Milho

Manejo

A revista Lavoura Arrozeira é uma publicação do Instituto Rio Grandense do Arroz. Av. Missões, 342 Porto Alegre (RS) – Brasil ISSN: 0023-9143

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Paulo Renato Sampaio Coordenação Técnica: Marlise Mattos – Mtb 11378

Governador do Estado: Tarso Genro Vice-Governador do Estado: Beto Grill Secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio: Luiz Fernando Mainardi

Fotografias: Ben-Hur Corvello Camila Domingues Clayrton Petry Marlise Mattos Nilson Konrad Pablo Badinelli Robespierre Giuliani Sergio Araújo

Irga: Presidente: Claudio Fernando Brayer Pereira Diretor Comercial: Rubens Pinho Silveira Diretor Técnico: Valmir Gaedke Menezes Administrativo:

Colaboradores: André Luiz Oliveira Ben-Hur Corvello Cesar Marques Pereira Clairton Petry Glauco Freitas Kelly Bruch Marcelo Lima

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Mara Lopes Mário Azevedo Sergio Lopes Paulo Régis da Silva Thais Stella de Freitas Edição: EDICTA – Edição & Mensagem Telefone: (51) 3779-0350 www.edicta.com.br Jornalista Responsável: Isaias Porto – Mtb 4805

Juliano Pilau Impressão: Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas Tiragem: 12 mil exemplares Atendimento ao leitor: revista@irga.rs.gov.br (51) 3288-0455 www.irga.rs.gov.br Matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da Redação ou do Irga.

Projeto e design gráfico: Instituto Naumild Inventos e Eventos / Designer Responsável: O conteúdo da Lavoura ArJackson Brum rozeira pode ser reproduzido, desde que mencionados o Redação: autor e a fonte. Ana Lucia Medeiros Isaias Porto Marlise Mattos


Conselho Deliberativo

Ben-Hur Corvello

Governador dá posse aos novos conselheiros do Irga Estabelecer um canal de diálogo entre os produtores de arroz e o Poder Público, planejar o futuro do setor orizícola no Estado e, ainda, debater o processo de reestruturação do Irga. Estes são os principais desafios dos 85 novos integrantes do Conselho Deliberativo do Irga, empossados no dia 13 de agosto pelo governador Tarso Genro, em cerimônia realizada no Galpão Crioulo do Palácio Piratini. Os novos conselheiros foram eleitos nos dias 10 de julho e 1º de agosto para um mandato de três anos. Dos 85 representantes, 79 foram escolhidos pelos produtores, em processo de votação realizado nos municípios. Os outros seis são ligados aos setores comercial, industrial e cooperativo. Ao lembrar a situação negativa na qual se encontrava o setor no ano passado, o governador Tarso Genro ressaltou que a mobilização obtida entre os arrozeiros e as forças políticas foi fundamental para reverter a situação junto ao Governo Federal. Tarso reforçou que esta união deve prosseguir e superar qualquer tendência político-partidária. “Quando nos movermos sobre o poder central, temos que fazê-lo de maneira articulada e unificada porque, assim, o Estado se apresentará como uma instituição, e não como um retalho fragmentado”. O governador também alertou sobre o refinanciamento das dívidas de R$ 3 bilhões como o próximo desafio a ser enfrentado pelos arrozeiros. “Temos que fazer com que essa pauta chegue ao Governo Federal com a força política unificadora do Estado”, destacou. Para o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Luiz Fernando Mainardi, os conselheiros são fundamentais no debate que vai tratar de uma nova pauta para o setor. Além da renegociação da dívida, Mainardi acrescenta que o produtor deve estar preparado para diversificar a sua produção. Temos que ter equilíbrio entre o consumo, a exportação e o volume de produção. O estabelecimento de cotas para a entrada do arroz do mercosul é estratégico para sabermos o quanto que devemos produzir.

Diálogo e representatividade

O presidente do Irga, Claudio Pereira, destacou o aumento da representatividade no colegiado, com a inserção de dois conselheiros ligados às cooperativas.

Pereira também ressaltou a nova lei que exige quórum de 20% no número de eleitores em cada município. “Isso demonstra que estes conselheiros têm representatividade na base. Estamos muito contentes porque nenhum município ficou sem representação”. O presidente da Federação dos Arrozeiros do RS, Renato Caiaffo da Rocha, agradeceu ao governador pelo empenho no atendimento às demandas do setor orizícola. “No meu ponto de vista, está superando as expectativas”, destacou. Rocha também reforçou a importância do conselheiro para a cadeia produtiva. “Ele é aquela figura do município que leva as demandas do arrozeiro até o poder público e dá o devido encaminhamento”. Atualmente, estima-se que o Rio Grande do Sul possua em torno de 14 mil produtores de arroz. Com mais de um milhão de hectares de área plantada, a produção chega a 7,6 milhões de toneladas, representando 65% da produção nacional.

Conselho Deliberativo

Faz parte da administração do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), ao lado da Diretoria e da Comissão de Controle. Eleitos pelas comunidades do setor, os conselheiros representam municípios das seis regiões arrozeiras que obtiveram uma produção igual ou superior a 200 mil sacos de 50 Kg de arroz. Este ano, quatro novas cidades terão representantes: Capela de Santana, Encruzilhada do Sul, Glorinha, Hulha Negra e Venâncio Aires. Entre os 140 municípios produtores, 81 estavam aptos à eleição deste ano. Triunfo e Vale do Sol, porém, não enviaram representante. Os integrantes devem se reunir, no mínimo, três vezes ao ano e decidir os rumos da Autarquia, entre outras atribuições. Para ter direito a voto nas eleições, basta ao arrozeiro estar inscrito no Irga como produtor rural.

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Curtas

O Instituto Rio Grandense do Arroz teve sua participação na 17ª Fenarroz, realizada em Cachoeira do Sul de 22 a 27 de maio, marcada pelo tema rotação de culturas. O presidente Claudio Pereira aproveitou a presença no evento para conhecer uma experiência de plantio de milho irrigado em área de coxilha. Ele visitou a granja Rohde, onde foram plantadas 60 hectares de milho utilizando a mesma estrutura de irrigação do arroz.

instituto ainda promoveu uma degustação de produtos a base de arroz em seu estande no evento, assim como serviu um carreteiro aos visitantes preparado pela nutricionista Cleusa Amaral.

Ben-Hur Corvello

Irga na 17ª Fenarroz

Já o coordenador da Câmara Setorial do Arroz, César Marques Pereira, fez palestra no Seminário das Ações e Programas da Secretaria da Agricultura Pecuária e Agronegócio, sobre o tema “Os novos horizontes para a diversificação das terras baixas”. O

VI Congresso Internacional de Plantas Daninhas O cultivo do arroz - a principal cultura da Ásia - recebeu destaque especial, sendo apresentados inúmeros trabalhos sobre o assunto. “Ficou claro que um dos grandes problemas da produção de arroz é a resistência das plantas daninhas a herbicidas, especialmente no sistemas pré-germinados e transplante”, observa o diretor técnico do Irga. Segundo Valmir Menezes, o evento também apontou o uso de ferramentas de biotecnologia como forma de mitigação desses problemas.

Divulgação Irga

O Instituto Riograndense do Arroz participou do VI Congresso Internacional de Plantas Daninhas, realizado de 17 a 22 de junho, na cidade de Zhang Zhou, na China. O Irga foi representado pelo diretor técnico ,Valmir Gaedke Menezes, e pelo pesquisador da área de plantas daninhas, Augusto Kalsing. O objetivo do evento foi reunir pesquisadores dessa área em nível mundial para discutir os principais problemas nas diferentes culturas, além de formular estratégias de manejo visando reduzir o impacto das plantas daninhas na produção de alimentos e mitigar o impacto sobre o ambiente.


Sebastião Araújo

Presidente do Irga assume presidência do Comitê Assessor Externo da Embrapa Arroz e Feijão O presidente do Irga, Claudio Pereira, foi eleito presidente do Comitê Assessor Externo (CAE) da Embrapa Arroz e Feijão, para a gestão 2012-2015. O CAE atua como um órgão consultivo, que assessora as Unidades Descentralizadas da Embrapa em seus processos de planejamento, acompanhamento e avaliação de resultados. A primeira reunião ordinária de 2012 do CAE foi realizada nos dias 8 e 9 de agosto. Participaram do evento os membros do comitê, chefes, pesquisadores e analistas da Embrapa Arroz e Feijão. Na ocasião, foram apresentados os resultados de pesquisa, cenários das cadeias produtivas e linhas temáticas de investigação científica. Para aumentar a cooperação da Unidade nas ações de pesquisa, o presidente Claudio Pereira

destacou a introdução e o desenvolvimento de tecnologias para manter a competitividade do setor público, maior ênfase na agricultura de baixo carbono e nas ações destinadas à agroecologia e o manejo integrado de pragas, entre outras proposições de melhoria.

Clairton Petry

Mais de 80 pessoas no XX Mica O XX Curso de Manejo Integrado do Cultivo do Arroz Irrigado (Mica) do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), organizado pela Divisão de Pesquisa e pela Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rura (Dater), contou com a participação de mais de 80 pessoas. Com o objetivo de incentivar e disseminar conhecimentos sobre a cadeia produtiva do arroz irrigado, o curso foi realizado entre 02 e 04 de julho, na Estação Experimental do Irga, em Cachoeirinha.

Conforme o supervisor da Dater, Clairton Petry, o curso apresentou as práticas recomendadas para o cultivo de arroz e abordou temas desde genética até o manejo da lavoura. Esse curso tradicional do Irga é realizado prioritariamente nos períodos de entressafra, sendo voltado para os extensionistas e pesquisadores do instituto, engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas que atuem na cadeia produtiva do arroz irrigado.


Mercado

Exportações

de arroz devem

ultrapassar

1,2 milhão de toneladas

em 2012/13

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Nos quatro primeiros meses do ano comercial 2012/13, que compreende o período de março de 2012 a fevereiro de 2013, o Brasil exportou cerca de 702,4 mil toneladas de arroz (base casca), conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O economista da Seção de Política Setorial do Irga, Bruno Lanzer, aponta que a marca é bastante positiva, superando as 493,9 mil toneladas exportadas no mesmo período do ano passado (quando as exportações de arroz atingiram um volume recorde,superior a 2 milhões de toneladas no totalizado do ano comercial). Dentre os principais destinos das exportações brasileiras de arroz no ano estão: Nigéria (259,4 mil t), Cuba (105,9 mil t), Serra Leoa (84,5 mil t), Benin (55,8 mil t), Gâmbia (35,5 mil t), África do Sul (26,1 mil t), Nicarágua (21,1 mil t), Senegal (17,7 mil t), Costa do Marfim (17,6 mil t), Suíça (15,5 mil t), Peru (12,2 mil t) e Angola (10,2 mil t). Cabe notar, ainda, que o arroz parboilizado representa mais de 53% das vendas externas de totais de arroz no ano (somando o paroboilizado esbramado e o parboilizado beneficiado). Depois, seguem o arroz branco (23,6% do total), o arroz quebrado (20,3% do total) e o arroz em casca (3% do total). Segundo Lanzer, o bom resultado nas vendas externas de arroz neste início de ano comercial pode ser atribuído a dois fatores principais. Um deles é a consolidação da posição do cereal gaúcho no mercado internacional. “O volume exportado nos últimos anos trouxe maior exposição do produto gaúcho no exterior, possibilitando uma fidelização de mercadonão só para arroz quebrado, mas,principalmente, para um arroz de maior qualidade - como o paraboilizado- e até mesmo o arroz branco”, destaca o economista. No ano comercial corrente, o Brasil já vendeu arroz para 49 países, o que significou a entrada de mais de US$ 250 milhões no país em termos de recursos financeiros. Outro fator importante destacado por Lanzer nesse sentido é a perspectiva do Governo da Nigéria – país que está entre os principais mercados brasileiros de arroz na África – aumentar o preço de pauta para

cobrança tarifária de importações de arroz no segundo semestre do ano, com vistas a estimular a auto-suficiência do país na produção do cereal.“Assim, há um movimento de antecipação dos embarques, o que resultou no alto volume exportado para este país”, afirma. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta exportações de 1 milhão de toneladas de arroz (base casca) para o ano comercial corrente. No entanto, Lanzer acredita queesta meta deverá ser superada tendo em vista a atual conjunturadedesvalorização do real frente ao dólar (que atua na contramão da elevação do preço interno do arroz em casca) e o significativo volume exportado no primeiro quadrimestre do ano comercial. “Com isso o Brasil deve exportar mais de 1,2 milhão de toneladas, sendo o segundo ano consecutivo em que um dos principais objetivos da cadeia orizícola gaúcha, vender para o exterior pelo menos 10% da safra de arroz produzida no estado,será alcançado”, afirma.


Mercado

Destino das Exportações Brasileiras de Arroz (Base Casca) – em toneladas PAÍS NIGÉRIA CUBA SERRA LEOA BENÍN GÂMBIA ÁFRICA DO SUL NICARAGUA SENEGAL COSTA DO MARFIM SUÍÇA PERU ANGOLA PANAMÁ BOLÍVIA TRINIDAD E TOBAGO ESTADOS UNIDOS GANA ALEMANHA RÚSSIA ARÁBIA SAUDITA CHILE BÉLGICA ESPANHA ARGENTINA CABO VERDE SÃO VICENTE E GRANADINAS TANZÂNIA PORTUGAL ANTILHAS HOLANDESAS REINO UNIDO ITÁLIA CAMARÕES HOLANDA COLÔMBIA GUINÉ GUINÉ-BISSAU HAITI IRAQUE LIBÉRIA MAURITÂNIA VENEZUELA DEMAIS PAÍSES TOTAL BRASIL

2008/09 42.533,1 84.675,6 0,0 140.176,5 43.807,0 22.120,3 0,0 123.901,3 0,0 62.415,1 0,0 7.938,6 19.336,6 12.003,9 18.632,4 3.767,5 1.139,7 178,4 3.041,2 2.143,9 13.579,1 20.839,3 1.424,7 4.903,4 712,8 0,0 0,0 1.521,8 1.676,5 4.658,9 9.594,5 6.902,8 149,6 1.151,1 27.705,9 183,8 0,0 0,0 834,6 23.161,8 73.417,0 9.728,8 790.178,7

2009/10 134.726,4 2.315,3 0,0 180.102,2 45.393,8 82.313,0 154,4 176.876,2 0,0 72.619,4 0,0 18.725,5 3.258,1 20.445,1 12.686,8 4.898,7 20,0 37,6 12.666,2 1.413,6 5.876,5 12.566,5 3.803,5 3.946,6 1.687,2 0,0 0,0 2.658,6 2.180,3 126,2 3.802,1 17.533,6 1.272,6 0,0 1.610,3 14.368,7 1.138,6 0,0 1.838,2 0,0 30.162,5 21.269,2 894.749,7

2010/11 71.090,7 183,8 18.061,2 40.250,6 123.212,2 12.429,7 147,1 187.940,6 38,2 57.479,6 110,3 13.640,0 2.790,5 17.829,5 7.008,7 5.349,8 735,3 322,1 367,6 558,1 7.819,1 10.775,3 994,5 3.754,8 1.086,4 0,0 0,0 668,3 1.408,3 4.843,8 4.478,5 0,0 667,7 3.602,9 360,3 10.037,1 1.041,2 0,0 8.198,5 0,0 0,0 8.027,5 627.675,8

2011/12 451.328,0 126.471,5 131.030,1 58.578,2 115.297,3 128.648,8 50.087,6 192.859,7 36.313,6 74.198,5 31.582,3 29.503,5 6.859,3 26.487,3 17.875,9 14.812,6 16.376,5 4.538,2 5.882,4 3.416,5 9.989,6 10.112,2 48.011,1 5.654,1 2.935,1 368,2 661,8 21.409,8 2.492,5 8.133,4 12.337,2 0,0 51.763,7 10.763,5 404,3 2.792,6 118.848,8 42.129,0 55.109,0 37.352,9 66.000,0 46.212,1 2.090.281,0

2012/13¹ 259.358,1 105.907,5 84.530,1 55.841,4 35.545,7 26.068,7 21.065,5 17.647,1 17.591,8 15.529,4 12.193,5 10.218,4 6.602,5 6.064,0 5.282,8 4.561,2 2.242,6 2.026,7 1.691,2 1.459,6 1.175,9 972,2 856,6 796,7 736,8 735,4 735,3 677,3 669,5 588,0 15,9 12,0 7,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2.415,0 702.435,3

Fonte: Secex/MDIC Ano Comercial: março a fevereiro ¹Dados até junho/2012

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Intercâmbio

VALORIZAÇÃO DO ARROZ GAÚCHO NA CONVENÇÃO DAS AMÉRICAS Um dos mais importantes eventos orizícolas do mundo – a Convenção de Arroz das Américas (ARC Miami 2012), em Miami, nos Estados Unidos, contou com a participação do Irga. O presidente da autarquia, Claudio Pereira, participou, no dia 07 de junho, do Fórum Mercosul: Atualização de Fornecimento/ Demanda, onde expôs a situação do arroz no Brasil que tem 65% do cereal produzido no Rio Grande do Sul. Também relatou diversos programas desenvolvidos pelo Irga, como a rotação de culturas, que traz diversos benefícios para o produtor, entre eles a redução de custos, melhoria na qualidade do grão, combate ao arroz vermelho e preto e potencial de aumento na área cultivada. Pereira ainda destacou a importância do Mercosul como parceiro estratégico no mercado do arroz mundial e citou os desafios que o Brasil passou a enfrentar por ter alcançado a condição de grande exportador. “Assim como a indústria gaúcha, os governos federal e estadual estão preparados para fazer sua parte, ajudando a ampliar as perspectivas do produtor no cenário internacional do arroz, com investimento de bilhões de reais em infra-estrutura e logística, como está sendo feito no Porto de Rio Grande e em diversas rodovias e hidrovias”, observou. Segundo o presidente do Irga, os esforços conjuntos dos governos ficaram bastante claros com a intervenção ocorrida no ano passado, injetando mais de R$ 1 bilhão para estabilizar o preço mínimo do arroz. “Há alguns dias o governador Tarso Genro lançou a política industrial gaúcha e incluiu nela o arroz, mostrando o nosso comprometimento em trabalhar junto com todos para ampliar o mercado do cereal. Trabalhamos em conjunto com entidades como a Apex Brasil e a Abiarroz na promoção do arroz no mercado internacional, integrada com toda a cadeia produtiva, para profissionalizar nossas exportações”, finalizou o presidente. A abertura do evento contou com a palestra do analista de mercado da consultoria Agrotendências, Tiago Barata, que traçou um histórico sobre a relação entre a oferta e a demanda arrozeira no Brasil e fez um comparativo entre as importações e exportações brasileiras, relacionando-as com diversos países. Barata destacou as relações do país com o Mercosul e o grande potencial de negócios que tem o mercado africano em relação ao cereal. Os programas de variedades de arroz convencionais, híbridas e também de engenharia genética, foram discutidos durante o painel Qualidade

da Semente do Arroz, onde o gerente da área de pesquisas do Irga, Sérgio Lopes, destacou diversos aspectos do trabalho técnico feito pela autarquia como o programa de melhoramento genético e o desenvolvimento das cultivares Irga 426, 427 e 428. Além da importância das parcerias feitas pelo instituto com o Consórcio de Híbridas de Arroz para a América Latina (Hiaal), considerado um modelo de cooperação. “Foi um grande momento, que nos permitiu ter a ideia da posição na América em relação ao arroz.” Participaram também da equipe do Irga, o diretor comercial Rubens Silveira, o coordenador da Câmara Setorial do Arroz do Rio Grande do Sul, César Pereira, e os especialistas técnicos da Estação Experimental do Arroz, Mara Lopes e Felipe Ferreira. O Presidente destacou o trabalho do Irga na pesquisa de rotação de culturas

fotos: Ben-Hur Corvello Sérgio Lopes falou sobre o programa de melhoramento genético e destacou o desempenho das cultivares do Irga

Equipe do Irga na Convenção das Américas

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Clima

Previsão de chuva abundante na primavera

Por Glauco Freitas*

O Rio Grande do Sul vem sofrendo com a falta de chuva desde o início do ano. O Centro Estadual de Meteorologia (CEMETRS) fez o levantamento do acumulado de chuva da primeira metade do ano de janeiro a junho. As chuvas ficaram abaixo do padrão climático em todas as regiões do Estado. A região mais seca situa-se na ao redor do município de São Luiz Gonzaga, na Fronteira Oeste, com déficit de - 654 mm em relação à média histórica. Entre as regionais, a que mais se aproximou da média foi a da Planície Costeira Externa, sendo que o menor déficit foi em Cachoeirinha e localidades próximas, com -103 mm. A figura 1 ilustra o panorama geral de déficit acumulado de chuva no estado do Rio Grande do Sul nos seis primeiros meses do ano de 2012.

Previsão Climática para agosto, setembro e outubro de 2012 Os modelos climáticos apontam para uma possível ocorrência do fenômeno El Niño no segundo semestre, o que indica um final de inverno e, principalmente, a primavera com altos volumes de chuva. Na figura 2 observa-se que a temperatura da superfície do mar (TSM) junto à costa do Peru (A) deverá ficar mais quente do que o normal entre (0,5 a 1,0°C), para os meses agosto, setembro e outubro. A parte central e oeste do Oceano Pacifico equatorial (B) também começa mostrar a presença de águas mais aquecidas, indicando uma situação de El Niño.

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B

A


Temperatura Chuva Neste mês de agosto as passagens das frentes frias serão mais frequentes no Estado. Além disso, teremos o canal de umidade que vem da amazônia chegando a região sul do Brasil, alimentando frentes frias que provocam chuva, assim resultando em uma melhor distribuição das precipitações e aumentando os níveis dos reservatórios. Lembrando que o lençol freático de várias regiões está baixo, o que deverá dificultar a rápida recuperação dos reservatórios. Setembro e outubro estão entre os meses com maiores volumes de chuva pelo Estado, variando na média entre 130 a 160 mm. Caso se mantenham as condições favoráveis à passagem de sistemas que provocam chuva, esta média poderá ser superada. Diante disso, a projeção climática para o final do inverno e boa parte da primavera, que indica a ocorrência de chuvas abundantes, poderá terminar o quadro de estiagem em que se encontra o Estado. Mesmo que seja confirmando o volume de chuvas acima da média no final do inverno e início da primavera no Rio Grande do Sul, dificilmente será recuperado todo o déficit de chuvas observado no primeiro semestre de 2012, considerando que o nível do lençol freático está muito baixo e o próprio solo reterá parte das águas da chuva, competindo com a acumulação nos reservatórios naturais e barragens.

A tendência é que o frio comece a diminuir devido a menor frequência de atividades das massas de ar polar e, principalmente, pela maior cobertura de nuvens, não deixando as temperaturas baixarem e nem subirem tanto. É claro que durante os próximos meses teremos ondas de frio intenso e também algumas rápidas passagens de ondas de calor, como é característico da nossa região. Recomendações gerais para a safra 2012/2013 Com base nas condições atuais de clima, com período de estiagem mesmo durante o inverno, os produtores de arroz devem antecipar o preparo do solo no que for possível e precaver-se para o período de maior ocorrência de chuvas no período de semeadura. Está previsto um período curto de tempo seco a partir do dia 15 de setembro, que deverá ajudar na semeadura do arroz.Mas esta informação precisa ser confirmada mais adiante nas previsões climáticas. Lembramos que a estação de crescimento estival em períodos de El Niñonão é a mais favorável para cultura do arroz de modo geral e, normalmente, a produtividade média de arroz irrigado no Rio Grande do Sul é menor nessas condições. Nos anos com excesso de chuva, normalmente ocorre atraso na semeadura e maior dificuldade para realização das operações de controle de plantas invasoras, pragas, doenças e de adubação de cobertura. Também a menor disponibilidade de radiação solar contribui para a redução da produtividade do arroz. Portanto, os produtores devem estar preparados para uma “janela” muito curta de semeadura. Para que os prejuízos sejam reduzidos, todas as precauções devem ser tomadas, como o preparo antecipado do solo, a perfeita revisão e regulagem de máquinas e equipamentos a serem utilizados na semeadura e a pronta disponibilidade de insumos como sementes, adubos e defensivos agrícolas. *Meteorologista do Irga/Fepagro

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Entrevista

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Após as imensas dificuldades enfrentadas pelo setor orizícola gaúcho logo após a safra recorde de 2010/2011 e da redução, tanto da área plantada como da produção na última safra, o produtor se prepara para plantar a próxima. Nesse sentido a Revista Lavoura Arrozeira foi ouvir o Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Luiz Fernando Mainardi. Nessa entrevista ela apresenta a sua visão sobre a última safra, fala sobre as ações que a Seapa está desenvolvendo para limitar a importação de arroz dentro do Mercosul, sobre diversificação, repactuação das dívidas e perspectivas para a próxima safra. Mainardi também informa as ações da Secretaria para enfrentar a queda do PIB agropecuário depois da última estiagem.

LUIZ FERNANDO MAINARDI

SECRETÁRIO ESTADUAL DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E AGRONÉGOCIO

divulgação/Seapa

Revista Lavoura Arrozeira - A última safra de arroz (2011/2012) teve menor produção total com maior preço do produto (em relação a anterior). Qual a sua opinião sobre isso? Luiz Fernando Mainardi - A redução na área plantada quer pela falta de água, quer pela migração para outras culturas, redundou na diminuição da produção. Ao ter uma menor oferta, conseguimos preços melhores, acima dos custos de produção, o que permitiu aos arrozeiros obterem, ao contrário da safra anterior, uma maior lucratividade, contribuindo para minimizar as perdas acumuladas. Tudo isso, reafirma, na prática, o que já vínhamos pregando: de que a lavoura orizícola deve atuar com planejamento, plantar os volumes suficientes para atender a demanda do mercado, afinal, quando há superprodução, há excesso de oferta, o que acaba aviltando os preços. Temos que adotar as mesmas práticas de outros países, como os Estados Unidos, que definem com antecedência qual o total das áreas a serem cultivadas. Precisamos nos profissionalizar. RLA - Mas, além da demanda interna, há outras variáveis, como as importações dos países do Mercosul e as próprias exportações. O que o governo do Estado pode fazer para contribuir com o planejamento das áreas plantadas?

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divulgação/Seapa

Mainardi - Estamos reivindicando, junto ao Governo Federal, nosso grande parceiro no apoio a este setor, que estabeleça, dentro do Mercosul, cotas para importação. Tendo este limite, conhecendo o potencial do consumo interno e sabendo das possibilidades de exportação, teremos os elementos necessários para esta política de planificação da lavoura. E, assim, plantar o que for necessário para atender a necessidade, assegurando rentabilidade aos arrozeiros. Eu, particularmente, estou convencido que só desta forma poderemos estabelecer uma política de longo prazo para o segmento, diminuindo a dependência que hoje tem de subvenções dos governos. RLA - E o que acontecerá com as áreas que ficarão ociosas? Mainardi - É necessário diversificar a propriedade. Aliás, defendo que todos aqueles que trabalham no campo adotem esta lógica. Devem ser produtores rurais, abertos a todas as possibilidades produtivas. O produtor não pode só ser arrozeiro, sojicultor e por ai adiante. Ele deve implantar em sua propriedade um mix de atividades produtivas. Agora, por exemplo, esta nova tecnologia oferecida pelo Irga, que possibilita o plantio de soja na várzea, no sistema de microcamalhão, é perfeitamente adequada para a concretização do conceito. Além disso, com a água armazenada, pode plantar milho irrigado na coxilha. Criar gado. Enfim, diversificar. RLA - A possibilidade de repactuação das dívidas, visando alongar os prazos para o pagamento, poderá dar um novo alento aos produtores? Mainardi - Sem dúvida. A intervenção do governador Tarso Genro junto ao ministro Guido Mantega, da Fazenda, e a participação do ministro Mendes Ribeiro, foi muito importante porque sensibilizou o governo federal para a necessidade de encontrarmos uma

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solução de longo prazo para o endividamento, que inviabiliza centenas de produtores que, por conta da inadimplência, estão excluídos da política de créditos. Acredito que o setor vai adquir um novo fôlego. RLA – Qual a sua expectativa para a próxima (2012/2013). A área plantada deverá aumentar? A produtividade também? E a questão do preço, deve se manter igual? Mainardi - Estamos na dependência da ocorrência de chuvas para recuperar o nível das barragens, rios e lagoas. No ano passado este já foi um fator limitante da área cultivada. Os estoques de arroz estão baixos, indicando uma manutenção ou até aumento dos preços. Vai depender muito da produção do próximo ano. Estamos tendo uma constância nos volumes exportados e isto nos dá segurança na estabilidade dos preços. O Governo do Estado vai continuar atento ao comportamento do mercado e a intermediar junto ao Governo Federal as questões do setor arrozeiro. RLA - Um dos maiores problemas do setor orizícola é a questão da armazenagem. A SEAPA prevê alguma ação nesse sentido para a próxima safra? Mainardi - Estamos desenvolvendo um programa que possibilite a independência na questão da secagem e armazenagem na propriedade. Este é um ponto estratégico no momento da comercialização da safra. Além de melhorar a qualidade do grão, possibilita a venda do arroz no momento que melhor convier ao produtor. O Irga já tem pronto o projeto de silo para atender o pequeno e médio agricultor. A idéia é proporcionar o acesso a financiamento através das instituições bancárias estaduais, com apoio da assistência técnica do Irga e Emater. RLA - Quais as ações da Secretaria da Agricultura para enfrentar a queda do PIB agropecuário em função da última estiagem? Mainardi - Estamos executando o Programa Mais Água, Mais Renda, uma iniciativa que cria mecanismos de estímulo à adoção da irrigação nas culturas de sequeiro. Hoje, no Estado, irrigamos pouco mais de 100 mil hectares. Queremos, ao longo dos próximos três anos, ao menos triplicar esta área, visando estabilizar a produção e aumentar a produtividade de culturas como a soja e o milho, bem como ampliar a oferta de pastagens para alimentação dos rebanhos. O Governo do Estado, além de equacionar o licenciamento ambiental de projetos, uma das questões que mais dificultava o avanço da irrigação, disponibilizou 225 milhões de reais para subvencionar produtores que contraírem empréstimos para tanto. Para os pequenos, esta subvenção chega a 30% do valor tomado.


Industria

Irga, Abiarroz e Apex-Brasil:

internacionalizando o arroz brasileiro

A abertura da Fenarroz, realizada em maio, foi a ocasião para a assinatura do convênio do Projeto Setorial para 2012/2013 que envolve o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) e Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos (ApexBrasil). O documento prevê investimentos de R$ 2,6 milhões para promover comercialmente o arroz e seus derivados no mercado internacional e desenvolver a indústria do cereal. Para o presidente do Irga, Claudio Pereira, o convênio profissionalizará a promoção do arroz brasileiro no exterior e permitirá solidificar o Brasil como um importante exportador. “A partir dessa parceria poderemos qualificar a atuação das nossas empresas no mercado, abrir novos mercados e manter os mercados conquistados até agora”, afirma. Segundo o presidente da Abiarroz, André Barretto, a entidade está encaminhando dois convênios que visam especificamente, trabalhar a internacionalização do arroz brasileiro e seus derivados. Neste sentido, serão assinados um convênio entre Abiarroz e Apex-Brasil e outro convênio entre Abiarroz e Irga, este último com o objetivo específico realizar a promoção comercial internacional do arroz gaúcho, preparando e capacitando as empresas e cooperativas para a internacionalização, também estão previstas ações de confecção de material promocional para as inserções internacionais. Além disso, serão realizados estudos de mercado nos países alvo do projeto, escolhidos nas reuniões do planejamento estratégico do setor. No caso do convênio entre Abiarroz e ApexBrasil, o dirigente informa que o objetivo é promover a internacionalização do produto nacional através de ações planejadas e organizadas, baseadas no Planejamento Estratégico Setorial do Arroz Brasileiro. O gestor de Projetos de Agronegócios da ApexBrasil, Alberto Bicca, destaca que a assinatura das parcerias entre a Abiarroz, a Apex-Brasil e o Irga fazem parte da estratégia de desenvolvimento da indústria brasileira do arroz. Essas iniciativas contribuirão bastante para o novo posicionamento do setor com produtos de maior valor agregado (como arroz doce, farinhas de arroz, vitaminados de arroz, entre outros). “A

ação fortalecerá a imagem do Brasil como um grande exportador de alimentos industrializados, deixando de ser apenas um fornecedor de commodities agrícolas para o mundo.” Segundo Bicca, a Apex-Brasil e a Abiarroz, por meio do Projeto, querem aumentar o número de empresas exportadoras e capacitar as empresas do segmento de arroz para que possam vender seus produtos diretamente, sem intermediários, para o mercado externo. O coordenador da Câmara Setorial do Arroz do Rio Grande do Sul, César Marques, ressalta que o objetivo principal do convênio é preparar as indústrias e cooperativas do Estado para atuar no mercado internacional. Destaca que caberá ao IRGA contratar os estudos de prospecção de mercado para subsidiar as estratégias a serem adotadas pelo setor e a execução de um programa de capacitação que dotará as empresas do conhecimento necessário para planejar as exportações, atender as normas de segurança dos alimentos e a participação em feiras e missões comerciais. Capacitações previstas entre a parceria do Irga e Abiarroz: • Curso Básico de Exportação • Prática de Exportação, • Formação de Preço na Exportação, • Carta de Crédito, • Preparação para Feiras, Missões e Viagens Internacionais, • Planejamento Estratégico da Exportação, • Logística para Comércio Exterior, • Marketing Internacional, • Estratégias e Táticas de Negociação Internacional, • Contratos de Comércio Internacional, • Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC. • BRC norma global para segurança de alimentos – versão 6 Estudos de mercado nos seguintes países: África do Sul, Nigéria, Angola, Espanha, Jordânia, Arábia Saudita, Chile e Peru. As ações previstas para ainda 2012 da parceria entre a Abiarroz e Apex-Brasil: • Desenvolvimento da marca do arroz brasileiro - definição dos diferenciais competitivos e comparativos do produto nacional e seu posicionamento no mercado internacional; • Desenvolvimento do site do projeto em três idiomas, para divulgação e relacionamento comercial; • Elaboração do material promocional para a internacionalização - folders, vídeos, etc. sempre em três idiomas; • Participação na Feira Mundial de Alimentos de SIAL - Maior feira mundial de alimentos que acontece em outubro em Paris; • Realização do Projeto Vendedor Espanha- Rodada de negócios com compradores da península ibérica; • Participação da Feira de FIHAV (Cuba) • Realização do Projeto Vendedor Chile/Peru (Rodada de negócios com compradores do Peru e Chile).

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Tendência

Arroz orgânico: uma tendência mundial

Os produtos orgânicos são uma tendência mundial no setor de alimentos Premium e o arroz ecológico também faz parte desta disposição que está ganhando todo o continente. Segundo a consultoria inglesa IGD, alimentos Premium são basicamente definidos pela qualidade dos ingredientes e não pela sofisticação dos rótulos. O mercado mundial de alimentos orgânicos cresceu 228% de 2000 a 2011. Nos EUA, este mercado atingiu US$ 31 bilhões com a criação de 500 mil empregos, chegando a um crescimento de 9,5% durante um período recessivo da economia. Já o mercado de alimentos sem glúten continua a crescer aproximadamente 30% ao ano. Nos EUA este mercado cresceu 28% entre 2004 e 2008. Atualmente existem supermercados especializados em produtos Premium, com sessões dedicadas a queijos e pães orgânicos sem adição de hormônios ou produtos químicos, com promoções voltadas ao público consumidor de produtos orgânicos. Até mesmo doces são produzidos a partir de arroz orgânico. Um estudo canadense sobre o mercado de alimentos Premium sugere três ações importantes: A primeira é a informação - informar e educar o consumidor sobre os benefícios nutricionais destes alimentos, o cuidado com o meio-ambiente na sua produção e como o consumo dos mesmos beneficiam a economia local; a segunda ação é satisfazer o consumidor, oferecendo um estilo de vida diferenciado e mais saudável, com produtos inclusive direcionados a diabéticos, gestantes e atletas. A terceira é motivar o consumidor a se sentir mais “inspirado” para consumir, com descrições sobre a origem natural do produto.

Claudio Pereira

O agricultor Juarez Antônio Felipe Pereira, do município de Barra do Ribeiro, cultiva arroz orgânico há 17 safras. Segundo ele, essa atividade é feita por vários grupos de agricultores familiares que encontram na agricultura orgânica uma opção de vida que inclui produzir o seu próprio alimento e para comercializar, resultando numa melhoria da sua saúde e da saúde do meio ambiente. “É a construção de um novo paradigma da relação homem natureza. Queremos que o alimento orgânico transforme a relação dos homens com o mundo”, observa.

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Conforme o agricultor, o produto orgânico é cada vez mais comercializado e propagado em feiras e mercados no País. “As feiras atraem muita gente, que vem de muitos lugares para comprar o produto orgânico. É uma idéia que vai de boca em boca”, afirma. Juarez acrescenta que nos últimos 10 anos a produção de produtos orgânicos vêm crescendo nos


No estado do Rio Grande do Sul foram cultivados cerca de 7,8 mil hectares na safra 2011/12, envolvendo diretamente cerca de 464 famílias em 4,5 mil hectares certificados. São cultivos realizados em regime de baixo custo de produção e grande potencial de verticalização, em função da crescente demanda no mercado interno e externo. Também há grande potencial de conversão dos sistemas de produção agroquímicos para sistemas de produção orgânica, principalmente junto à agricultura familiar. A aceleração do crescimento destas iniciativas foi incrementada a partir da implantação de políticas públicas de abastecimento do mercado institucional, destacando-se o abastecimento da merenda escolar. A Conab tem papel fundamental com a disponibilização de ferramentas que proporcionam recursos para a formação de estoques, compra antecipada, etc. Estes recursos estão possibilitando, em parte, a melhora das estruturas de secagem, armazenagem e beneficiamento, bem como o acesso aos mercados. De acordo com o coordenador dos Programas de Agroecologia do Irga, André Oliveira, a autarquia está estruturando um Programa de Produção de Base Ecológica que vai além da internalização dos conceitos e capacitação de sua equipe técnica de pesquisa e extensão rural, chegando a ações de apoio à qualificação dos diferentes atores desta cadeia produtiva. “O trabalho vai desde a produção, passando por sementes e grãos, secagem, armazenagem, beneficiamento do arroz e produtos oriundos do arroz”, afirma. Oliveira destaca que para este ano é prevista a instalação de 20 Lavouras-Escola, que se constituem em UEPs - Unidades de Experimentação Participativa - onde o extensionista, o pesquisador e os agricultores atuam conjuntamente na construção do conhecimento. O Irga está organizando uma força tarefa para a realização de Diagnóstico dos Perímetros de Irrigação dos Assentamentos da Reforma Agrária, estaduais e federais, para a elaboração de proposta de projeto de reforma das estruturas, bem como o início da instrumentalização dos distritos de irrigação para promover a gestão de operação e manutenção dos sistemas de irrigação e drenagem.

Claudio Pereira

assentamentos de Porto Alegre. “A demanda de arroz orgânico se intensificou nos últimos dois anos no Rio Grande do Sul, embora antes disso empresários locais já fizessem remessa do produto para todo o Brasil e exterior”, garante.


Cartola: Safra 2012/2013 Safra

Safra 2012/2013 precisa eliminar gargalos

“A safra que passou foi extremamente desafiante para todos. Um intenso debate em torno da crise levou todo mundo a tomar atitudes, tanto o governo como os produtores”. A avaliação é do presidente do Irga, Claudio Pereira, a respeito da safra 2011/2012. O dirigente cita como exemplo, o comportamento do produtor que aumentou a área de soja em terras de várzea, de seis mil hectares para 150 mil hectares. “Ocupar uma parte com soja foi uma das atitudes que o produtor precisou tomar”, destaca Pereira. Os governos também resolveram tomar atitudes, como auxilio na exportação, abertura de novos mercados e o estimulo à pesquisa agropecuária. Para a safra 2012/2013 existem alguns gargalos que precisam ser resolvidos e articulados, como a falta de água e a estabilidade dos preços, aponta o presidente. Segundo Pereira, as recomendações técnicas do Irga são para plantar somente soja, no caso de não chover; se chover, para plantar arroz e antecipar o preparo do solo. Na safra anterior, 2011/2012, ocorreu uma ampliação muito grande da área. Porém, o problema principal foi a falta de água na Região da Campanha e na Região da Fronteira Oeste. “Ao olharmos as reduções de áreas por regionalizadas, isso aconteceu justamente nas regiões que dependiam de barragens para plantar, mas estas não tiveram água. Nas regiões onde houve água, como nas lagoas e nas regiões das planícies, a média plantada foi a mesma de anos anteriores”, observa.

Nilson Konrad

Atualmente o produtor enfrenta problemas de preço, com custos de produção em alta, por conta do aumento dos insumos ou devido a sua dependência de alguns insumos. Para solucionar esse gargalo, Pereira informa que saída dever ser a rotação de cultura. Outros problemas enfrentados pelo produtor são o endividamento e a deficiência na estrutura de armazenamento “que joga boa parte da produção diretamente, na mão da indústria”, diz o presidente. Para resolver esse problema, Pereira informa que o governo estadual, juntamente com o governo federal, lançará um programa de armazenagem, com concessão de linhas de crédito para facilitar financiamentos ao produtor. Lembra que o arroz é a segunda maior cultura em termos de produção, perdendo apenas para a soja, e a maior em termos de arrecadação de impostos e na geração de empregos na cadeia produtiva. São mais de 220 mil postos de trabalho diretos e indiretos.


Safra 2011/2012

Produção teve queda de 14,3% devido a estiagem Na safra 2010/2011 o Rio Grande do Sul alcançou um recorde histórico de aproximadamente 9 milhões de toneladas arroz. Porém, conforme a Tabela 1, na safra 2011/2012 o Estado obteve produção de 7,7 milhões de toneladas de arroz em casca, redução de 14,3% na comparação com a safra anterior. O principal fator responsável por esta redução foi o decréscimo na área semeada, decorrente da maior escassez de recursos hídricos. Dependendo do grau, o déficit hídrico provocou maior ou menor atraso na semeadura nas diferentes regiões arrozeiras gaúchas. A Campanha foi uma das regiões mais afetadas e teve a maior queda de produção em relação à safra anterior (-30,2%).

Após, a Zona Sul (-17,6%), a Depressão Central (-14%), a Fronteira Oeste (-13,7%) e a Planície Costeira Interna (-5,6%). Também contribuíram para a redução da área de arroz semeada no Estado o baixo preço praticado na comercialização da safra anterior - com média bastante inferior ao preço mínimo estipulado pelo Governo Federal, a rotação de culturas, especialmente com a soja e a diminuição da área por problemas de controle do arroz vermelho, principalmente na Depressão Central, também foram fatores importantes para a redução da área de arroz semeada no estado.

Tabela 1 - Produção de arroz irrigado nas regiões produtoras do RS no período de 2008 a 2012 - toneladas Estado e Regionais Rio Grande do Sul Fronteira Oeste Campanha Depressão Central Plan. Cost. Interna Plan. Cost. Externa Zona Sul

2008/09 8.047.897 2.471.865 1.304.046 1.175.372 980.169 869.419 1.247.026

Safras 2009/10 2010/11 2011/12 6.798.591 8.955.123 7.672.809 2.109.997 2.802.517 2.418.585 1.049.802 1.488.047 1.038.311 769.497 1.257.810 1.081.695 873.925 1.018.553 961.979 795.619 899.768 945.303 1.199.751 1.488.428 1.226.936

Tabela 2 - Produtividade de arroz irrigado nas regiões produtoras do RS no período de 2008 a 2012 - kg/ha Estado e Regionais Rio Grande do Sul Fronteira Oeste Campanha Depressão Central Plan. Cost. Interna Plan. Cost. Externa Zona Sul

2008/09 7.281 7.823 7.700 7.108 6.842 6.751 7.007

2009/10 6.454 6.971 6.293 5.610 6.191 6.107 6.844

Safras 2010/11 7.675 8.338 7.952 7.336 6.880 6.499 8.016

2011/12 7.439 8.018 7.424 7.222 7.020 7.082 7.233

Fonte: IRGA/DATER/NATEs Elaboração: DCI/Seção de Política Setorial Lavoura Arrozeira - Porto Alegre. v.60 - n. 458 / Agosto 2012

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Safra 2011/2012

Tabela 3 - Ranking dos vinte municípios com maior Tabela 4 - Ranking dos vinte municípios com maior produtividade média na safra 2011/12 produção na safra 2011/12 Ordem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Municípios Uruguaiana Itaqui Santa Vitória do Palmar Alegrete São Borja Dom Pedrito Mostardas Arroio Grande Cachoeira do Sul Camaquã São Gabriel Barra do Quaraí Viamão Rio Grande Jaguarão Palmares do Sul Rosário do Sul São Sepé Restinga Seca Tapes

Produção t 593.079 558.211 475.136 459.757 371.216 278.472 256.680 255.080 245.011 204.947 189.043 176.605 172.879 154.775 152.543 148.242 146.661 131.518 114.448 112.288

Ordem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Municípios Dona Francisca Vitória das Missões Dom Pedrito Barra do Quaraí Agudo Uruguaiana Cruzeiro do Sul Faxinal do Soturno Santo Antônio das Missões Caraá Taquari Três Cachoeiras Esteio Quaraí Mampituba Santana da Boa Vista Santiago Triunfo Piratiní Alegrete

Produtividade kg.ha-¹ 9.516 8.570 8.490 8.450 8.378 8.365 8.306 8.241 8.220 8.216 8.150 8.100 8.100 8.092 8.085 8.077 8.070 8.050 8.037 8.029

Fonte: IRGA/DATER/NATEs Elaboração: DCI/Seção de Política Setorial ¹Produtividade média por área colhida Na Tabela 2 está destacada a evolução da produtividade no Rio Grande do Sul entre 2008 e 2012. A produtividade média da área colhida de arroz teve redução de apenas 3,1% em relação à safra 2010/11, alcançando na média estadual 7.439 kg/ha em 2011/12 (contra 7.675 kg/ha obtidos na safra anterior). A região onde ocorreu o maior decréscimo foi a Zona Sul (-9,8%), seguida da Campanha (-6,6%), da Fronteira Oeste (3,8%) e da Depressão Central (-1,6%). Ao contrário do ocorrido nas demais regionais, a Planície Costeira Interna (PCI) e a Planície Costeira Externa (PCE) obtiveram melhores resultados em relação à safra 2010/11. Na PCI houve elevação de 2% na produtividade média, enquanto que na PCE o aumento foi de 9%. Na safra passada houve a ocorrência de condições climáticas desfavoráveis provenientes do Atlântico, proporcionando, inclusive grande incidência de brusone, contribuindo para a quebra do real potencial da produtividade esperada destas duas regiões produtoras. Na Tabela 3, a partir de levantamento realizado junto aos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural do IRGA, está disposto o ranking dos 20 municípios com maior produção na safra 2011/12. A

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maior produção registrada foi em Uruguaiana, com 593,1 mil toneladas de arroz em casca. Após, vem Itaqui (com 558,2 mil toneladas), Santa Vitória do Palmar (com 475,1 mil toneladas) e Alegrete (com 459,8 mil toneladas). Já na Tabela 4 está o ranking dos 20 municípios com maior produtividade na safra 2011/12. Todos os municípios do referido ranking atingiram produtividade média superior a 8 mil kg/ha colhidos. O município de Dona Francisca, na Depressão Central lidera o ranking de produtividade, com 9.516 kg/ha colhidos, em média, seguido pelos municípios de Vitória das Missões (com 8.570 kg/há, na Fronteira Oeste) e Dom Pedrito (com 8.490 kg/ha, na Campanha).

Clima na Safra O engenheiro agrônomo Elio Marcolin destaca que o clima foi bastante favorável para a Safra 2011/2012. “Como foi uma safra com poucas chuvas, houve maior irradiação e, com isso, a planta expressou seu potencial produtivo”, explica. Em função disso, a lavoura bem manejada teve alta produtividade, porém um pouco menor do que a da Safra 10/11, em função


de muitos agricultores terem semeado as suas lavouras fora de época. Além disso, o manejo da lavoura não foi adequado, em muitos casos em função da instabilidade, da possibilidade de uma maior estiagem – que poderia comprometer a lavoura com a falta de água. “Por causa disso, alguns orizicultores atrasaram a entrada da água para diminuir o volume utilizado na lavoura”, observa Dessa forma, com o atraso do início da irrigação houve reinfestação de plantas daninhas na lavoura e também, em função do baixo valor ofertado pela saca de arroz, orizicultores utilizaram menor quantidade de fertilizante, o que comprometeu a produtividade. “O clima foi excelente, o que impediu o comprometimento foi a quantidade de insumos empregados na lavoura”, afirma Marcolin. Em termos de produção, em torno de 1 milhão de toneladas menor que a safra anterior, explica que se deu principalmente em função da redução da área cultivada.

Desempenho das novas cultivares de arroz irrigado na safra 2011/2012 Cultivar IRGA 425 A cultivar IRGA 425 lançada, em 1997, é a denominação comercial da linhagem IRGA 2911-24-3I-1Pg. A origem é o cruzamento entre a linhagem IRGA 1598-3-2F-1-4-1 e a cultivar Epagri 108. É a primeira cultivar desenvolvida pelo IRGA e lançada para o sistema de cultivo pré-germinado no RS e se destaca por apresentar colmos fortes, resistência ao acamamento e resistente a toxidez por ferro no solo. A cultivar apresenta ciclo médio e excelente qualidade dos grãos. Além disso, tem bom potencial de rendimento de grãos, de acordo com a produtividade máxima alcançada em área conduzida, com Unidades Demonstrativas na Depressão Central e, principalmente quando são utilizadas as práticas de manejo adequadas ao cultivo, conforme os resultados obtidos na média de sete lavouras de Projeto 10, cuja área cultivada variou de 4,0 a 27,0 hectares. Em 2011 o Irga lançou as cultivares de arroz irrigado IRGA 426, IRGA 427 e IRGA 428 para o cultivo no Rio Grande do Sul. Na safra 2011/2012, foram conduzidas várias unidades demonstrativas em lavouras comerciais nas diferentes regiões orizícolas e a multiplicação de sementes. A cultivar IRGA 426 foi desenvolvida na Estação Regional da Zona Sul, localizada em Santa Vitória do Palmar, com o objetivo de gerar cultivares com maior tolerância a baixas temperaturas. Esta cultivar é a denominação comercial da linhagem IRGA 2852-20-4-3-3, originária de cruzamento triplo entre as linhagens IRGA 411-1-6-1F-A e IRGA 976-4-6-1F-1-1-1 e a cultivar IRGA 417.

Cultivar IRGA 426 A cultivar IRGA 426 se destaca pela tolerância ao frio na fase vegetativa, alto vigor inicial (importantes para o bom estabelecimento da cultura), alta capacidade de perfilhamento e resistência à debulha dos grãos, importante para que não ocorram perdas antes da colheita. Além disso, apresenta ciclo médio (em torno de 125 dias da emergência a maturação), alto potencial de rendimento de grãos, resistência à brusone e à toxidez por excesso de ferro no solo. Quanto aos parâmetros da qualidade dos grãos, apresenta em média 63% de rendimento de grãos inteiros, baixo índice de centro branco, alto teor de amilose e baixa temperatura de gelatinização, o que lhe confere excelente qualidade de cocção. Como debilidades, dependendo do local e das condições climáticas, podem ocorrer manchas foliares causando um amarelecimento precoce das folhas. Nas Unidades Demonstrativas a produtividade média foi de 10,6 t ha-1 na Depressão Central, 10,3 t ha-1 na Fronteira oeste, 9,0 t ha-1 na Campanha, 7,8 t ha-1 na Planície Costeira Interna e 8,3 t ha-1 na Planície Costeira Externa, segundo levantamento da DATER/IRGA. Os resultados obtidos indicam um bom desempenho dessa cultivar nas diferentes regiões, mesmo tendo sido desenvolvida para a Zona Sul, a qual se caracteriza por ser uma das regiões mais frias do Estado. Nesta última safra a produção de sementes foi realizada em 25 campos, com área média de 26,5 ha. Houve uma variação em termos de produtividade de acordo com a região de cultivo, destacando-se as Regiões da Fronteira Oeste, Campanha e Depressão Central (Figura 1).

CULTIVAR IRGA 427 A cultivar IRGA 427 foi desenvolvida no Programa de Melhoramento Genético conduzido na Estação Experimental do Arroz (EEA), em Cachoeirina. Esta cultivar é a denominação comercial da linhagem IRGA 2913-56-4-I-3Pg, originária de cruzamento simples entre as linhagens IRGA 1598-3-2F-1-4-1 e CT 800816-31-8P-1. As suas principais características são o alto potencial produtivo e a excelente qualidade dos grãos, com baixo índice de centro branco e aspecto visual translúcido. Além disso, possui ciclo médio, tolerância à toxidez por excesso de ferro no solo e plantas com colmos fortes e resistentes ao acamamento quando cultivadas com semeadura em solo seco. Como debilidade, a IRGA 427 é moderadamente suscetível à brusone na folha e na panícula e a colheita dos grãos não deve ser realizada com umidade inferior a 18 %, considerando que a cultivar não tolera o atraso na Lavoura Arrozeira - Porto Alegre. v.60 - n. 458 / Agosto 2012

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Safra 2011/2012

Produtividade (t há-1) Máxima Mínima Média

Depressão Central

Campanha1

12,4 7,5 9,8

8,0

Planície Costeira Externa 8,0 7,6 7,8

Tabela 1- Desempenho da cultivar IRGA 425 nas Unidades Demonstrativas, safra 2011/2012. IRGA / EEA, Cachoeirinha, 2012. 1 Produtividade com base em uma Unidade Demonstrativa.

Produtividade (t ha-1) Máxima Mínima Média

Depressão Central

Fronteira Oeste

12,6 9,2 10,6

Campanha1

10,9 9,6 10,3

Planície Costeira Interna

9,0

Planície Costeira Externa 9,1 7,5 8,3

7,8

Tabela 2- Desempenho da cultivar IRGA 426 nas Unidades Demonstrativas, safra 2011/2012. IRGA / EEA, Cachoeirinha, 2012. 1 Produtividade com base em uma Unidade Demonstrativa.

Produtividade (t ha-1) Máxima Mínima Média

Depressão Central

Fronteira Oeste

13,5 9,2 10,8

Campanha1

10,8 7,1 9,6

8,0

Planície Costeira Externa 9,0 8,5 8,8

Planície Costeira Interna 8,3 7,6 8,0

Tabela 3 - Desempenho da cultivar IRGA 427 nas Unidades Demonstrativas, safra 2011/2012. IRGA / EEA, Cachoeirinha, 2012. 1Produtividade com base em uma Unidade Demonstrativa.

Município Uruguaiana Uruguaiana

Área (ha) 19 24

Produtividade (t ha-1) 7,8 10,9

Tabela 4 - Desempenho da cultivar IRGA 427 em campos de produção de sementes em Uruguaiana, safra 2011/2012. IRGA / EEA, Cachoeirinha, 2012.

Produtividade (t ha-1) Máxima Mínima Média

Depressão Central 13,8 7,0 10,1

Fronteira Oeste 13,3 8,8 10,4

Planície Costeira Interna 9,5 8,2 8,9

Planície Costeira Externa 10,1 9,1 9,6

Tabela 5 - Desempenho da cultivar IRGA 428 nas Unidades Demonstrativas, safra 2011/2012. IRGA / EEA, Cachoeirinha, 2012

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colheita, reduzindo o rendimento de grãos inteiros. As produtividades alcançadas nas Unidades Demonstrativas mostraram um excelente desempenho, principalmente nas regiões da Depressão Central e Fronteira Oeste, com rendimentos médios respectivos de 10,8 t ha-1 e 9,6 t ha-1 (Tabela 3). Na Tabela 4 estão apresentados os resultados obtidos nas duas áreas de produção de sementes conduzidas, em Uruguaiana, onde o melhor desempenho foi de 10,9 t ha-1. A cultivar IRGA 427 é uma excelente alternativa para semeadura realizada na época preferencial, pois apresenta produtividades semelhantes a da cultivar de referência, IRGA 424. Além de melhor qualidade dos grãos, que é uma característica importante para mercado nacional.

Cultivar IRGA 428 A cultivar IRGA 428 também foi desenvolvida no Programa de Melhoramento Genético conduzido na EEA. É a denominação comercial da linhagem IRGA 420CL-1, essencialmente derivada da cultivar IRGA 420. A cultivar 428 contém o gene que confere tolerância a herbicida do grupo químico das Imidazolinonas, com ciclo médio, boa arquitetura de planta, ausência de pilosidade nas folhas e grãos e tolerância à toxidez por excesso de ferro no solo. Destaca-se por apresentar alto potencial de rendimento de grãos e a tecnologia com maior grau de tolerância a herbicida, sem a ocorrência de sintomas de fitotoxicidade, desde que o mesmo seja aplicado na época, na dosagem recomendada e o manejo da irrigação seja correto, entre outros fatores. A cultivar IRGA 428 apresentou alto potencial produtivo tanto nas Unidades Demonstrativas como em campos de produção de sementes na Safra 2011/12 (Tabela 5 e Figura 3). Assim, torna-se uma alternativa importante para lavouras que apresentem históricos de incidência de arroz vermelho e de toxidez por excesso de ferro no solo. Como debilidades citamse as reações moderadamente suscetíveis à brusone na folha e na panícula e às manchas foliares. Além de maior sensibilidade a debulha dos grãos. Para evitar a ocorrência de manchas foliares é recomendado o uso de fungicida na época recomendada. Em Uruguaiana foram conduzidas Unidades Demonstrativas das três novas cultivares, IRGA 426, IRGA 427 e IRGA 428, juntamente com as cultivares IRGA 417, ciclo precoce e a IRGA 424, ciclo médio. Conforme os resultados apresentados na Figura 4, todas produziram de forma similar a IRGA 424, que é uma cultivar de referência em termos de alto potencial de rendimento de grãos.

Figura 2 - Produtividade média de grãos da cultivar IRGA 426, em áreas de produção de sementes, nas diferentes Regiões Orizícolas na safra 2011/2012. IRGA/EEA, Cachoeirinha, 2012. (FO = Fornteira OESTE; CMP = Campanha; DC = Depressão Central; PCE = Plan. Cost. Externa; ZS = Zona Sul; PCI = Plan. Cost. Interna)

Figura 3- Produtividade média de grãos da cultivar IRGA 428, em áreas de produção de sementes, nas regiões da Planície Costeira Interna (PCI) e Fronteira Oeste (FO), safra 2011/2012. IRGA / EEA, Cachoeirinha, 2012.

Figura 4- Produtividade média de grãos das cultivares IRGA 426, IRGA 427 e IRGA 428 e das cultivares testemunhas IRGA 417 e IRGA 424 em áreas Demonstrativas conduzidas em Uruguaiana, safra 2011/2012. IRGA / EEA, Cachoeirinha, 2012.

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Plano Safra

Novos servidores integram ações do Plano Safra 2011/2012 A ampliação das ações voltadas à agricultura familiar foi um dos destaques do lançamento do Plano Safra RS 2012/2013, lançado pelo governador do Estado, Tarso Genro, no Palácio Piratini, dia 12 de julho. A meta é financiar a agropecuária, combater os efeitos da estiagem e reduzir a miséria no campo. Para isso, está previsto o financiamento de R$ 2,4 bilhões em crédito, via Banrisul, BRDE e Badesul. O objetivo é fortalecer, diversificar e qualificar as políticas públicas voltadas ao setor em parceria com o Governo Federal. Com a presença dos ministros do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, o governador assinou dois acordos: o que prevê a adesão do Estado ao Brasil Sem Miséria, que levará assistência técnica a 6 mil agricultores. O outro acordo confirma o ingresso do Rio Grande do Sul no Programa Aquisição Alimentos (PAA). Além da parceria, Tarso ressaltou a ampliação dos valores disponibilizados pelo Plano Safra, que em 2011 somou R$1,1 bilhão e este ano subiu para R$ 2,4 bilhões.

Camila Domingues

Para o presidente do Irga, Claudio Pereira, o Plano Safra RS 2012/2013 vai garantir os recursos disponibilizados pelo governo para a realização de projetos específicos do setor , como a rotação de cultura em várzea, o programa de agroecologia e de armazenagem, abertura de concurso público para novos servidores para o Irga, dentre outros programas relativos a lavoura de arroz. “O plano safra é um documento de controle público de avaliação do governo, que traz transparência e garante o compromisso do governo com a sociedade.”

O secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Luiz Fernando Mainardi lembrou que os recursos para o segmento no Estado foram ampliados com a parceria da União. E citou a recuperação da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) e a revitalização do Irga. A contratação de servidores para cargos no Instituto Riograndense do Arroz também integra as medidas previstas no Plano Safra deste ano. Ao reforçar as iniciativas conjuntas com o Governo Federal, Mainardi explica que a criação do Plano Safra permitiu a ampliação das ações do Executivo. "O Rio Grande do Sul não tinha esse plano. Ao criarmos um instrumento próprio, não estamos apenas somando mais recursos aos liberados pelo Governo Federal, mas estabelecendo um conjunto de políticas que garantem mais renda e produção. Renda para o produtor e produção para o Rio Grande crescer.” O secretário de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Ivar Pavan, reiterou que a separação da pasta da Agricultura em duas (Desenvolvimento Rural e Agricultura) fortaleceu as ações para diferentes públicos do setor, principalmente os mais pobres. Além de garantir que o Plano Safra do ano anterior superou as metas, Pavan disse que a edição deste ano, ampliará programas como Garantia Safra, Brasil Sem Miséria e Bolsa Jovem Rural. "Todas as metas do Plano Safra 2011/2012 foram ultrapassadas, sejam as metas do crédito ou dos programas específicos do Governo por meio das Secretarias. O acesso ao crédito via Banrisul, que era de R$ 1,1 bilhão, vai para R$ 1,7 bilhão", compara. Pavan destaca ainda o fortalecimento da política de diversificação e qualificação da agricultura familiar. "O nosso programa está ancorado no Plano Safra Federal. Os nossos programas estaduais são complementares", concluiu.


Marlise Mattos

Convenção

Convenção Técnica traça as ações do Irga Mais de 130 profissionais das áreas de pesquisa, extensão rural e política setorial do Irga participaram, de 26 a 28 de junho, da Convenção Técnica Estadual realizada pelo instituto no Hotel De Rose Palace, em Torres. O evento avaliou os resultados obtidos nas atividades técnicas e administrativas desenvolvidas na safra 2011/12 e projeta as ações integradas para a safra 2012/13. Na abertura do encontro, o presidente do Irga, Claudio Pereira, destacou a valor do arroz para a economia de Estado e afirmou a importância do apoio dos governos federal e estadual ao setor. “Neste ano, o governo apresentou a medida correta e no tempo certo”, afirma. Pereira também lembrou os esforços para a elaboração do plano de carreia do Irga e da realização do concurso publico com o objetivo de qualificar ainda mais a atuação do Irga. “Na Assembleia Legislativa elaboramos o plano possível, sem esquecer os antigos funcionários e pensando nos funcionários que ainda teremos. Neste contexto, o concurso público é fundamental para manter o Irga como uma instituição forte, estatal e pública. É preciso manter e aproveitar essa característica do Irga, quase única como órgão de Estado, pesquisa e extensão, com essa formação de mercado dentro do mesmo Instituto”, conclui.

Para o gerente da Divisão de Pesquisa do Irga, Sérgio Lopes, o evento foi o momento de integração e aproximação do quadro técnico do Instituto, envolvendo as áreas de pesquisa, extensão rural, política setorial e administração, para socializar e divulgar os resultados dos projetos em andamento. Entre eles, Lopes destaca os resultados de campo das novas cultivares do Irga - 426, 427 e 428 - na safra 2011/2012. Além disso, segundo ele, também foi um momento para definir ações prioritárias nas áreas de pesquisa e extensão rural para a próxima safra. A convenção foi a ocasião para a integração dos profissionais que trabalham no Irga. Para o técnico agrícola do Irga, Adrielton Matos, a Convenção Técnica foi a oportunidade de reunir todos os técnicos, agrônomos e pesquisadores do Instituto para participar de palestras sobre as novas e últimas tendências do mercado, trocar experiências e enriquecer cada vez mais o trabalho, dando um rumo novo ao campo.

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Capa

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Rotação de culturas é uma das soluções para a crise do arroz

Ben-Hur Corvello

“A aplicação da rotação de culturas é uma alternativa importante para o produtor por vários motivos. Um deles é o econômico, pois permite expandir a a produção com uma gama variada de produtos para comercializar na sua propriedade”. A afirmação é do presidente do Irga, Claudio Pereira, destacando que com a rotação de culturas o produtor pode plantar arroz, soja, milho, sorgo, enfim, várias alternativas para diversificar a sua produção. Além de reduzir custos importantes, como uso de fertilizantes, herbicidas e demais produtos químicos para eliminar doenças e pragas. “Isso quebra ciclos com a rotação de culturas e reduz custos”, destaca. Outro motivo para aplicar a rotação de culturas, segundo Pereira, é o técnico – que permite o aumento da produtividade do arroz. “Lavouras de arroz, comprovadamente, produzem muito mais em rotação de culturas”, observa. A sua aplicação também ajuda no combate o número de sementes do arroz vermelho e preto, grande invasora da lavoura do arroz, limitante da produtividade e da qualidade do grão. “São vários os motivos para aplicar a rotação. Nós vamos ter garantia de qualidade e produtividade, que se reflete na renda do produtor de arroz. A rotação de cultura é um preceito básico da agronomia. A rotação vem na esteira da solução dos problemas estruturais da lavoura de arroz como na ajuda da solução da crise”, afirma Pereira.

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Capa

Outros aspectos também indicam a rotação de culturas como uma opção necessária. Pesquisas feitas pela Embrapa Arroz e Feijão constataram que a monocultura favorece a incidência de cupins que se alimentam de raízes vivas, limitando o cultivo do arroz numa mesma área após um ou dois anos.

Outras alternativas que já estão dando certo

Gustavo Trojam Para combater a monocultura o produtor e engenheiro agrônomo Gustavo Trojan Schmitz, adotou na sua produção o sistema de rotação em microcamalhão. Ele informa que “com o novo sistema, temos a quebra do ciclo de invasoras e doenças causadas pela monocultura. Além de melhor estruturação e reciclagem de nutrientes e, no caso da soja, temos o grande diferencial de aproveitarmos o nitrogênio deixado por ela para a cultura sequente, no

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Segundo ele, atualmente o trabalho é feito sob pressão tendo em vista que no passado a monocultura foi utilizada erroneamente, até praticamente esgotar muitas áreas. “Está na hora de pensarmos para frente. Não podemos deixar que erros como estes se repitam. Em países mais avançados existem subsídios e os centros de pesquisas estão junto com o produtor. No Brasil não temos isto, é diferente. O produtor que quer, vai atrás e se destaca, faz o próprio diferencial. Então está na hora de pararmos de reclamar de governos e de pessoas que nunca vão entender da lida no campo e fazermos nossa parte.”

Marreco de Pequim

Soja e Milho

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caso na próxima safra o arroz”, explica. O agrônomo, que é gerente da propriedade Orlando Gomes, em Itaqui, trabalha com o sistema de irrigação por sulcos e camalhões há dois anos e esta é a terceira safra. Segundo ele, os resultados são excelentes, acima da média estadual, no caso do milho e da soja. “Até hoje, tenho experiências em áreas que o cultivo do arroz estava praticamente inviabilizado pela resistência de arroz vermelho e outras espécies”, revela. A área assistida é de 5.740 ha de arroz e 800 ha de soja.

A criação de marrecos de Pequim em lavouras para controlar o arroz vermelho é outro sistema adotado que tem trazido resultados positivos em lavouras no Litoral Norte. O arrozeiro da cidade de Torres, Jairo Luiz dos Santos Matos, da localidade de Rio Verde, que cria marreco de Pequim na sua propriedade, cita os inúmeros benefícios conquistados não só na redução no manejo de sementes do arroz vermelho, como na antecipação do preparo do solo, redução do custo desse preparo do solo - que pode chegar até 60%, redução do uso de adubação química e aumento da produtividade - até 20%. “Além disso, tem ainda a redução no uso de inseticidas, eliminando uma série de produtos químicos que impactam de forma negativa no meio ambiente”, revela. O produtor utiliza o Marreco de Pequim desde 2004 e conta que não precisa mais usar inseticida.

Cléo Amaral

Para o presidente do Irga a monocultura do arroz é a grande responsável pela crise. “O resto tudo é consequência, o produtor é vitima e não ator principal da monocultura”, afirma. Explica que como as nossas terras planas se adequavam ao arroz e as terras altas a soja e milho, cada um fazia a sua parte e não tinha crise. Agora com a concorrência, dificuldades produtivas e, principalmente, depois da implementação do Mercosul, somos obrigados a nos tornar competitivos na questão da qualidade do arroz, na questão do custo, e para isso será preciso quebrar a questão da monocultura do arroz em terras baixas”, analisa.


Jairo Luiz destaca ainda que os produtores viram um nicho de mercado, pois toda a produção de marreco de Pequim é feita em Torres e região, sempre com o apoio dos órgãos do governo, como Emater, Irga e Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa), além de entidades parceiras. Os marrecos de Pequim têm como origem o nordeste asiático e apresentam grande capacidade de adaptação em todo o mundo. A criação desse tipo de aves em lavouras para controlar o arroz vermelho surgiu na China há muitas décadas.

Várias culturas na mesma propriedade O produtor Walter Jorge de Moraes que utiliza rotação pecuária, arroz, soja sorgo e milho na propriedade localizada em Barrocadas, município de Santo Antônio da Patrulha, relata que a rotação pecuária, arroz e sorgo já vinha sendo aplicado há mais de 20 anos e com a soja a intensificação está sendo mais forte nos últimos três anos. Segundo ele, os benefícios são lavouras mais limpas, produtividade maior, intensificação maior da área de arroz, limpeza nas áreas de produção de arroz e a opção de trabalhar com mais opções de culturas, diversificando alternativas de renda ao produtor. “Se eu não fizer a rotação de cultura com arroz, soja, sorgo e milho eu não vou produzir semente de arroz. Só sem for em terra virgem que não existe mais”, garante.

Esse tipo de rotação, conforme Walter, melhora a qualidade da terra, da pastagem e diminui o número de herbicidas com o controle do número de invasores. A rotação de culturas com maior intensidade tem sido feita há cinco anos e a rotação pecuária e arroz há 30 anos. A produção de arroz é de 1.700 hectares, pastagem 350 hectares, de soja 800 hectares, de sorgo 50 hectares e de milho até 30 hectares.

A rotação de cultura nos EUA Os Estados Unidos ocupam a quinta posição no ranking de exportações, com 9% do volume de arroz exportado no mundo. O cultivo de arroz naquele país apresenta muita similaridade com a produção no sul do Brasil, sendo totalmente irrigada por inundação. As condições de solo e de clima são igualmente semelhantes em muitos aspectos. Os sistemas de cultivo predominantes são o pré-germinado e a semeadura em linhas com cultivares convencionais e híbridas e com e sem resistência à herbicida. Para conhecer a experiência no plantio em áreas de várzea com rotação de culturas, um grupo de pesquisadores do Irga realizou, em junho, uma visita técnica ao Centro de Extensão e Pesquisa de Arroz da Universidade do Arkansas, na cidade de Stuttgart, nos EUA, acompanhados pelo presidente do Instituto, Claudio Pereira. Nessa viagem, o grupo participou de um Roteiro Técnico na região do Meio-Oeste dos Estados Unidos, passando pelos estados do Arkansas, Louisiana e Texas. O gerente da Divisão de Pesquisa do Irga,

Rotação de cultura de soja e milho nos EUA em terras alagadas.

Ben-Hur Corvello

“O marreco regula os insetos por ser um predador. O número de insetos baixou tanto que não causa mais danos a lavoura”, explica.


Capa

Sérgio Lopes, relata que esses estados são tradicionais produtores do setor primário, envolvendo sistemas integrados com arroz irrigado, soja, milho, sorgo, trigo, pastagens e pecuária. Foram visitados quatro Centros de Pesquisa e diversas Fazendas de produtores rurais para observar a tecnologia de manejo adotado no cultivo dessas espécies, bem como a irrigação e a drenagem de culturas alternativas em solos de várzeas. Além disso, foram visitadas Unidades de Beneficiamento de Sementes e de Arroz para consumo. O objetivo da viagem foi promover a divulgação institucional do Irga junto à comunidade internacional e melhorar e estreitar as parcerias nas áreas de pesquisa, extensão rural, política setorial e mercado de arroz. Também foram realizadas visitas a fazendas de produtores rurais para observar a tecnologia de manejo adotado no cultivo dessas espécies, bem como a irrigação e a drenagem de culturas alternativas em solos de várzeas e unidades de beneficiamento de sementes e uma indústria (Riceland – Cooperativa de produtores) de processamento de arroz para consumo. Segundo Lopes, os principais resultados obtidos com as visitas técnicas foram à comprovação da possibilidade de implantação em áreas de várzeas dos sistemas integrados de produção com rotação de culturas. “Com a implementação da rotação de culturas, os problemas de contaminação das áreas com arroz vermelho e demais plantas invasoras foram solucionadas. Nessa região não há presença de arroz vermelho resistente aos herbicidas do grupo químico das imidazolinoas que é um problema atual nas lavouras de arroz irrigado no Rio Grande do Sul”, explicou. Além disso, os ecótipos de arroz vermelho não apresentam grão longo-fino como é comum também aqui no Estado, o que dificulta ainda mais o manejo dessa planta invasora. O presidente do Irga, Claudio Pereira, destaca que há mais de 40 anos os EUA, em terras muito parecidas com as gaúchas, já fazem a rotação de culturas - em determinadas regiões com mais e outras com menos intensidade. Ele informa que no Arkansas os produtores não abrem mão da rotação de culturas 32

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e, apesar dos benefícios fornecidos pelo governo, eles entendem que é a adoção desse atividade que mantém a produção viva. Já na Louisiana, segundo Pereira, os produtores daquele estado são mais parecidos com os do Rio Grande do Sul em questão de solo. “Eles acham que a rotação é importante para limpar a área do arroz.” Conforme relata o presidente, as lavouras foram adequadas pelos produtores, para trabalhar a sistematização do solo, a organização da drenagem, a organização da irrigação. “Tudo em função do sistema de rotação, que é um trabalho que precisamos fazer aqui”, comenta. Qual é o nosso sistema hoje, questiona o dirigente. “A estrutura montada na propriedade é em função do arroz e não em função da rotação. Agora, para temos sucesso em longo prazo e sustentabilidade técnica, precisamos trabalhar essa questão, como entregar ao produtor a tecnologia como a do microcamalhão, que traz segurança na produção”, avalia. Pereira diz que no Arkansas existe milho com alta produtividade nas áreas em que é plantado arroz. “E nós queremos chegar lá. Se copiamos deles o modelo de arroz e hoje somos melhores que eles, queremos buscar o êxito na questão do milho”, afirma. Ele comenta que o Rio Grande do Sul tem grande necessidade de milho, principalmente para a ração dos suínos e das aves. “Nós entendemos que a metade sul é estratégica para o milho. Na pequena propriedade o milho é extremamente importante para manter a diversificação produtiva do produtor. “Se a grande propriedade tem dificuldade com a monocultura, o pequeno produtor morre”, complementa Pereira.

A rotação no orgânico

Outra opção de rotação de culturas é com o arroz orgânico. Segundo Pereira, existe um mercado em expansão, que atinge patamares de remuneração muito superiores ao dos produtos convencionais. “A rotação de culturas também vai nos permitir levar para uma transição agroecológica e daqui a pouco tenhamos condições de ampliar a área de agroecológicos.”


Almanaque

Aqui nesta seção você pode conferir que o artigo publicado na edição de abril de 1962 da Revista Lavoura Arrozeira – nº 183 – que trata do mesmo tema que estamos falando na nesta edição, 50 anos depois o assunto ainda é uma alternativa importante para produtor.

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Artigo Técnico

Estratégias para a sustentabilidade da Rotação arroz irrigado/soja Pablo Gerzson Badinelli*

A adoção da soja em rotação com arroz irrigado é uma importante ferramenta para a atividade orizícola, pois favorece a ciclagem de nutrientes, incorporação de nitrogênio no solo, melhora a estrutura física do solo e minimiza o risco de resistência do capim arroz e arroz vermelho a herbicidas inibidores da ALS (imidazolinonas) pelo uso de herbicidas com outros mecanismos de ação. Ocorre também um controle de pragas e doenças, diminuição do custo de preparo de solo para no cultivo do arroz irrigado, aumento de produtividade do arroz, fonte alternativa de renda na propriedade e oportuniza o plantio do arroz na época recomenda. Alguns cuidados devem ser tomados para garantir uma produtividade satisfatória e viabilizar o cultivo da soja em áreas de produção de arroz irrigado, principalmente quando há previsão de chuvas acima da média durante a safra. Como existe previsão de El nino para a safra 2012/2013, os cuidados deverão ser redobrados com a escolha da área e drenagem do terreno. A escolha de área para semeadura é o primeiro aspecto a ser considerado, principalmente por aqueles

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Figura 01: Confecção e plantio da soja na mesma operação

que estão iniciando a rotação arroz/soja. Deve-se optar por áreas mais altas e com maior facilidade de drenagem, a fim de minimizar os efeitos do excesso hídrico principalmente na fase de emergência e estabelecimento das plântulas, por ser o período de maior sensibilidade da cultura. Quanto à drenagem, sugere-se o preparo de solo e a correção do micro-relevo pela sistematização do terreno ou uso de plaina. Depois de concluída esta etapa, é muito importante o redimensionamento e limpeza dos drenos principais e secundários intensificando a drenagem superficial, objetivando a remoção do excesso hídrico em no máximo 24horas. Alguns equipamentos como roda lentilha, valetadeiras, bico de pato, pá, enxadas e a semeadura em microcamalhões pode ser utilizado para implantar um sistema de drenagem eficiente. O Irga, pelo convênio de cooperação técnica com a Industrial KF, desenvolveu uma semeadora de soja em microcamalhões. A confecção dos microcamalhões e a semeadura da soja são efetuados em uma única operação (Fig. 01), otimizando o uso do maquinário e proporciona agilidade na operação de


Figura 02. Área de cultivo de soja em microcamalhão na Estação Experimental do Arroz, após chuva de 43,5mm no dia 23/10/2012.

Figura 03. Área de cultivo de soja em microcamalhão na Estação Experimental do Arroz, 24horas após chuva de 43,5mm do dia 23/10/2012

semeadura. Esta tecnologia esta sendo inicialmente empregada em áreas sistematizadas e em terrenos com de drenagem limitada e deve-se evitar áreas onde há extrema dificuldade de remover lâmina de água depositada na superfície do terreno ou que permaneça saturado por longos períodos, além de áreas com risco de inundação ou declivosas, que apresentam risco de erosão superficial decorrente de chuvas ou irrigação.

O cultivo de soja sobre microcamalhões, além de viabilizar a drenagem (Fig. 02 e 03), também pode servir para irrigar a cultura em períodos de restrição hídrica, já que áreas de cultivo de arroz possuem toda estrutura de irrigação pronta. Durante a safra algumas áreas demonstrativas de microcamalhão foram irrigadas por sulco em momentos de estiagens prolongadas (Fig. 04) resultando em produtividades superiores às não irrigadas.

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Artigo Técnico

Uma boa drenagem ou uma irrigação bem feita são responsáveis por parte do sucesso da lavoura, porém outros desafios devem ser superados. A nutrição, calagem, inoculação, escolha da cultivar adequada, controle de plantas daninhas, pragas e doenças entre outros tratos culturais são exemplos destes desafios. A adubação da soja realizada corretamente proporciona maior capacidade de superar os efeitos causados por restrição hídrica, excesso hídrico entre outros estresses. Para proporcionar um ambiente com condições mínimas de fertilidade, é recomendado realizar calagem no mínimo três meses antes do plantio, diminuindo a acidez do solo e aumentado o pH para 6,0 e adicionar a quantidade de adubo recomendada com base nos resultados da interpretação da análise de solo, que é uma excelente ferramenta e deve ser adotado e seguido por produtores e responsáveis técnicos. Outro aspecto importante é a inoculação da semente que deve ser utilizada via tratamento de sementes no máximo até 24 horas antes do plantio, seguindo sempre a ordem de aplicação: 1° aplicar

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fungicidas e inseticidas, 2° micro nutrientes em 3° aplicar o inoculante antes do plantio, sempre seguindo as instruções do fabricante. A escolha da cultivar deve levar em consideração a época de plantio, ciclo, tolerância ao excesso hídrico, altura dos primeiros legumes, retenção foliar e produtividade. Nos trabalhos realizados pelo Irga que visa identificar variedades comerciais com maior tolerância ao excesso hídrico, quando submetidas a estas condições, podemos citar as variedades com maior destaque: Brasmax Apolo, Brasmax Potência, Fundacep 57, Coodetec 231 e NA5909. Para o plantio é importante estabelecer uma densidade de sementes que permita atingir uma população de aproximadamente 300 mil plantas/ ha, com distribuição uniforme em linearidade e profundidade. Para atingir esse objetivo deve-se considerar o tamanho médio da semente para escolher o disco perfurado da plantadeira e manter a velocidade de plantio entre 4 a 6 km/h. Durante todo ciclo da cultura é de extrema importância que o produtor minimize todo e qualquer


Figura 04- Unidade demonstrativa de soja em microcamalhão irrigada na propriedade de Orlando Gomes – ITAQUI - safra 2011-2012 .

tipo de estresse. As plantas daninhas potencializam e causam uma série outros estresses como, por exemplo, competição por luz, água, nutrientes, interferindo diretamente no crescimento e no desenvolvimento da soja. Para o controle eficiente de plantas daninhas é indicado o uso de herbicidas pré-emergente e pósemergentes e as aplicações devem ser programadas para manter a lavoura sempre no limpo, ou seja, sem a presença de plantas daninhas. Buscando um satisfatório controle de pragas, é indicado o monitoramento da lavoura, tomando cuidado no controle das lagartas, que poderão surgir desde o início do desenvolvimento e são controladas com maior eficiência com inseticidas fisiológicos ou com inseticidas de última geração. Quanto ao controle de percevejos, é comum sua incidência após o florescimento e são controlados eficientemente por inseticidas do grupo dos Neonicotinóides. Quanto ao controle de doenças, a que apresenta maior severidade e demanda maior atenção é a ferrugem asiática, principalmente quando as condições climáticas apresentarem alta umidade relativa do ar

associada à alta temperatura. Esta doença geralmente ocorre após o florescimento, portanto, recomenda-se o controle preventivo no início do florescimento (R1) ou pré fechamento das entre linhas e uma segunda aplicação 21 dias após a primeira aplicação com fungicidas dos grupos químicos triazól e estrobirulina. Cabe ressaltar a importância de uma aplicação eficiente que permita uma boa cobertura de calda em todo dossel da planta principalmente no terço inferior. Empregando práticas de manejo adequadas nas lavouras de soja, buscando informações em instituições de pesquisa, com técnicos e produtores com maior vivência no cultivo de soja em rotação com arroz, participando de reuniões técnicas, dias de campo e eventos afins, capacitando o grupo de colaboradores e com base em um correto planejamento de safra, aumenta-se as chances de obtenção de rendimentos satisfatórios, garantindo a viabilidade financeira da propriedade e aumentando a longevidade da atividade orizícola. *engenheiro agrônomo e pesquisador do Irga

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Paulo Regis Ferreira da Silva*

Introdução

No Rio Grande do Sul, praticamente toda a área cultivada com milho localiza-se em terras altas (coxilha), principalmente nos municípios da Metade Norte do Estado, havendo presentemente poucas lavouras em áreas de arroz irrigado (várzea). A produtividade da cultura, na média das últimas cinco safras (2006/07 a 2011/12), é de 4,09 t/ha, segundo dados da CONAB. Considerando que a produtividade máxima alcançada em condições experimentais no Estado é de 17,4 t/ha, observa-se que há uma grande lacuna de produtividade. As principais causas determinantes dessa grande diferença entre a produtividade média do Estado e as obtidas em condições experimentais são devidas aos efeitos de estresses abióticos e bióticos durante o ciclo de desenvolvimento da cultura, à baixa utilização da tecnologia disponível e à grande oscilação dos preços pagos aos produtores. Embora o milho seja uma espécie que tem grande potencial para participar em sistema de semeadura direta, com rotação e sucessão de culturas em terras altas, na prática isso não se verifica, uma vez que a área de milho vem diminuindo ao longo dos 20 últimos anos, em detrimento da expansão da área cultivada com soja. Os benefícios advindos da inserção do milho em semeadura direta, com sistemas de rotação e sucessão de culturas, em terras altas são inúmeros: viabilização do sistema plantio direto, adição de palha ao solo, aumento na ciclagem de nutrientes, redução da dose de adubação nitrogenada na cultura do milho cultivada após soja, diminuição de riscos e maior estabilidade da atividade agrícola, melhor distribuição e uso de máquinas e mão-de-obra e diversificação de renda e produção. Em áreas onde se cultiva arroz irrigado no RS que, em sua maioria, são localizadas nos municípios da Metade Sul do Estado, praticamente não se cultiva 38

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milho, embora seja disponível uma extensa área. Pesquisas com a cultura do milho em áreas de arroz irrigado vêm sendo realizadas há longo tempo, mas de forma segmentada e não contínua, por diferentes instituições. No entanto, embora já sejam disponíveis algumas recomendações de cultivo de milho em áreas de arroz irrigado, disponíveis nas indicações técnicas para o cultivo do milho no Rio Grande do Sul - safras 2011/12 e 2012/13, não está havendo expansão de área, diferentemente do que está sendo verificado com a cultura da soja, cuja área de cultivo vem ampliando muito nos últimos dois anos. Isso se deve ao fato de que, embora haja vários fatores propulsores para cultivo do milho em áreas de arroz irrigado, há uma série de desafios que têm que ser superados, principalmente a geração de mais informações de pesquisa, para posterior difusão para os produtores interessados. Nos Estados Unidos da América do Norte, principalmente no Estado de Arkansas, que é o maior produtor nacional dessa cultura, em praticamente toda a área cultivada de arroz irrigado, exceto nas com topografia mais plana, se adota a rotação com culturas de sequeiro, principalmente com soja, milho, algodão e trigo, no inverno. Com a adoção do manejo integrado das práticas culturais nessas áreas, tem-se obtido lavouras de milho com alto potencial de produtividade de grãos (Figura 1).

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MILHO EM ROTAÇÃO COM ARROZ IRRIGADO: PERSPECTIVAS E DESAFIOS

Figura1: Lavoura de milho em área de arroz irrigado com alto potencial produtivo e competitividade. A seguir serão tratados os benefícios potenciais da inserção do milho em sistema de rotação com arroz irrigado e, depois, os principais desafios a serem superados para viabilizar técnica e economicamente o seu cultivo em áreas de arroz irrigado.

Fatores propulsores da introdução de milho em áreas de arroz irrigado

Do ponto de vista econômico, constata-se que as áreas de várzea podem ser utilizadas mais intensivamente, já que se dispõe de cerca de 5,4 milhões de hectares no Estado. Desses, em torno de três milhões de hectares são utilizados com arroz irrigado, dos quais anualmente se cultiva pouco mais de um milhão de hectares. O restante da área é predominantemente utilizada com pecuária de corte


Artigo Técnico

extensiva. Mais recentemente, tem-se observado a expansão do cultivo da soja em rotação com arroz irrigado, devido, principalmente, à geração de novas informações técnicas pela pesquisa e sua difusão para os produtores. Do ponto de vista técnico, além dos benefícios já citados anteriormente para terras altas, o cultivo de milho em rotação com arroz irrigado pode constituirse em uma importante ferramenta para controle de uma das suas principais causas de redução da produtividade, que é a alta incidência de plantas daninhas, especialmente de arroz vermelho. Isso se deve à possibilidade de se utilizar outras moléculas de herbicidas na cultura do milho, que controlam eficientemente as principais espécies de plantas daninhas infestantes da lavoura de arroz irrigado. Inclusive, com o advento do milho RR (resistente ao glifosato), essa eficiência de controle pode aumentar ainda mais, desde que se tomem as precauções necessárias para não se perder os benefícios dessa tecnologia. Tem-se constatado que o uso continuado de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação (herbicidas do grupo das imidazolinonas) na cultura do arroz irrigado tem ocasionado resistência em diversas espécies de plantas daninhas e motivado a busca por sistemas de rotação com as culturas da soja e do milho em áreas de várzea. Além desse aspecto, é importante salientar que o controle da principal praga da cultura do milho em áreas de várzea, a lagarta-do-cartucho, ficou facilitado com o desenvolvimento de híbridos com tolerância a insetos (tecnologia Bt), que estão sendo amplamente utilizados em terras altas. Outra potencialidade existente se relaciona ao fato de que o milho pode se beneficiar da experiência até agora bem sucedida do cultivo da soja em microcamalhões em áreas de arroz, como uma das estratégias que tem se mostrado eficiente para minimizar os efeitos de estresse por excesso hídrico, desde que se façam alguns possíveis ajustes na sua construção. A adoção dessa técnica ficou facilitada pelo fato de já estar disponível, comercialmente, máquinas que fazem os microcamahões e que, simultaneamente, já adubam e fazem a semeadura da soja. Outro potencial do cultivo do milho em áreas de arroz é a possibilidade de aproveitar a infraestrutura já existente de irrigação, que pode ser utilizada em períodos de ocorrência de deficiência hídrica durante seu ciclo de desenvolvimento, principalmente durante o período mais crítico da cultura, que é de duas semanas antes do espigamento (florescimento feminino) a duas semanas após. Com efeito, a disponibilidade hídrica é o principal fator determinante das grandes oscilações que ocorrem na produtividade de milho ao longo dos

anos em terras altas, que é muito mais sensível que a soja. As áreas de arroz irrigado, por apresentarem baixo teor de matéria orgânica no solo e terem, em sua maioria, solos de textura mais arenosa, são mais suscetíveis à ocorrência de deficiência hídrica. Nesse sentido, já são disponíveis sistemas de irrigação por sulco, de menor custo em relação à irrigação por aspersão. Poder-se-ia utilizar os sulcos que são feitos por ocasião da formação dos microcamalhões, para se irrigar o milho, similarmente ao que tem sido feito com a cultura da soja (Figura 2). No milho, o uso da irrigação complementar é um pré-requisito essencial para que se possa utilizar as demais práticas de manejo em alto nível, como adubação e escolha de híbrido, época de semeadura e densidade de plantas adequados, para assegurar a obtenção de altas produtividades, para conferir maior competitividade e sustentabilidade para essa cultura. Do ponto de vista econômico, a utilização de milho em rotação com arroz irrigado seria benéfica pela possibilidade de atração de investimentos para criação de aves e suínos na Metade Sul do Estado, devida à produção de matéria-prima para formulação de rações para essas criações o mais próximo do local de sua utilização. Outro aspecto favorável ao cultivo do milho em áreas de arroz irrigado está relacionado ao fato de haver iniciativas locais dos poderes públicos e de instituições de pesquisa para fomentar o desenvolvimento dessa região do Estado. Assim, estão sendo retomadas ações de pesquisa pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) e pelo CNPCT/EMBRAPA com o objetivo de avaliar a viabilidade técnica e econômica do cultivo do milho em áreas de arroz irrigado. A propósito, o IRGA está retomando, no ano agrícola 2012/13, o desenvolvimento de pesquisas nas diferentes regiões arrozeiras, pela Seção de Agronomia, com objetivo de viabilizar tecnicamente o cultivo de milho em áreas de arroz irrigado. Embora todas essas perspectivas favoráveis para a introdução de milho em áreas de várzea, ainda há muitos entraves técnicos e econômicos que têm que ser equacionados para viabilizar seu cultivo, com competitividade e sustentabilidade, conforme pode ser visto a seguir.

Principais desafios para implantação de milho em rotação com arroz irrigado

Do ponto de vista econômico, é importante salientar a grande oscilação que se verifica ao longo dos últimos anos dos preços de venda de grãos de milho, diferentemente do que ocorre com a soja, e o maior custo de produção em relação ao da soja, que exige maior investimento para implantação e condução da lavoura de milho. Esses aspectos fazem com que haja menor adoção da tecnologia disponível, Lavoura Arrozeira - Porto Alegre. v.60 - n. 458 / Agosto 2012

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Artigo Técnico

Outro desafio importante para a viabilização do cultivo do milho em áreas de arroz irrigado se relaciona ao fato dos orizicultores não terem experiência com essa cultura, o que pode dificultar a difusão da pouca tecnologia já disponível e da tecnologia a ser gerada em trabalhos de pesquisa a serem desenvolvidos. Tecnicamente, o cultivo de milho em áreas de várzea só se viabiliza com a adequação da área para provê-la com eficiente sistema de drenagem e irrigação. Com isso, se estaria satisfazendo dois dos principais pré-requisitos para o pleno desenvolvimento da cultura, que é muito sensível, tanto a condições de excesso quanto de deficiência hídrica. Um dos principais critérios a serem estabelecidos é a escolha de áreas de várzeas mais apropriadas para cultivo do milho. A planta de milho, assim como a de soja, é muito sensível ao excesso hídrico durante praticamente todo o ciclo de desenvolvimento Isso porque alguns atributos de alguns solos de várzea, como baixa condutividade hidráulica, são desfavoráveis para seus cultivos. Assim, num primeiro momento deve-se dar preferência ao uso de áreas com topografia um pouco mais favorável para a drenagem, ou seja, as que não são muito planas. Mesmo nessas áreas, é fundamental dotá-las com um eficiente sistema de drenagem, que deve ser implantado antes e depois da semeadura, e que permita o rápido escoamento do excesso hídrico após a ocorrência de precipitações pluviais durante o ciclo de desenvolvimento da planta de milho. Isto porque a falta de oxigênio na região do sistema radicular das plantas dificulta sua emergência e crescimento. Para uma drenagem eficiente é importante considerar, em cada região arrozeira, as características do solo, que são muito variáveis. O estabelecimento de distâncias entre drenos e de profundidade dos mesmos são alguns aspectos que têm que ser estudados. Além de prover a área com um sistema eficiente de drenagem, uma técnica que deve ser estimulada é a construção de microcamalhões, em cima dos quais se faz a adubação e a semeadura do milho, à semelhança do que vem sendo feito com a cultura da soja (Figura 2). O uso dessa técnica é um dos principais fatores responsáveis pela rápida expansão da área de soja que tem se verificado em áreas de arroz irrigado nos últimos dois anos. O sulco formado pela confecção do microcamalhão pode servir como dreno para o excesso hídrico, quando da ocorrência de alto volume de precipitação pluvial (Figura 3). Assim, esforços têm

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que ser feitos no sentido de adequar a altura e a forma dos microcamalhões em relação aos que vem sendo utilizados na cultura da soja para melhor desempenho agronômico das plantas de milho. Outro desafio técnico para a viabilização técnica e econômica do milho em áreas de arroz irrigado é o desenvolvimento de sistemas e métodos de irrigação que sejam viáveis técnica e economicamente, de acordo com as características de cada região arrozeira. Uma possibilidade seria a utilização do próprio sulco que se originou da confecção da microcamalhão, para se fazer a irrigação complementar, quando necessária (Figuras 4 e 5), devido ao menor custo em relação ao sistema por aspersão com pivô central. Há a necessidade de estudos para determinar as vazões necessárias para a irrigação no sulco, para que não haja prejuízos às plantas de milho devido ao excesso de água no sulco ou à demora na permanência da água no mesmo.

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determinando menores potenciais produtivos. Com menores produtividades, aumenta o custo de produção por saco de milho produzido e diminui sua competitividade em relação à da soja.

Figura 2. A escolha de áreas menos propensas à ocorrência de

excesso hídrico, a adoção de um sistema de drenagem eficiente e a formação de microcamalhões são práticas essenciais para viabilizar tecnicamente o cultivo de milho em rotação com arroz irrigado.

Figura 3. O sulco formado pela confecção do microcamalhão

serve de dreno para escoar rapidamente o excesso hídrico após a ocorrência de elevados volumes de precipitação pluvial.


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Figura 4. Além de viabilizar o escoamento do excesso hídrico, o

sulco originário da construção do microcamalhão também pode servir para irrigar, quando necessário, lavouras de soja ou milho em rotação com arroz irrigado.

apresentar capacidade de ramificação da planta, que é o mecanismo de compensação da soja. Nesse sentido, esforços têm que ser feitos para se ter a garantia do estabelecimento de uma lavoura uniforme de plantas, com a densidade desejada.

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Além desses dois pré-requisitos essenciais que devem ser atendidos, ou seja, evitar estresses por excesso e/ou por deficiência hídrica, é necessária também a realização de pesquisas para selecionar híbridos de milho mais adaptados a condições de áreas de arroz irrigado e para adequar outras práticas de manejo do milho para essas áreas. Assim, estudos devem ser desenvolvidos no sentido de testar diferentes híbridos de milho, tendo em vista a recomendação dos mais adaptados, tanto a condições de excesso hídrico como de deficiência hídrica. Da mesma forma, há necessidade de se validar as recomendações de calagem e adubação do milho, desenvolvidas para cultivo em terras altas, para sua implantação em áreas de arroz irrigado. Nesse sentido, assume importância relevante o desenvolvimento de estudos sobre o manejo da adubação nitrogenada em cobertura, que é um dos principais fatores determinantes de altas produtividades de milho. É importante considerar que, geralmente, a eficiência agronômica do uso do nitrogênio, é menor que 50% e que a maioria das áreas de arroz irrigado apresentam solos com baixo teor de matéria orgânica. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de estratégias de manejo para reduzir perdas de nitrogênio pelos processos de denitrificação e por volatilização, para redução de custos e de impacto ambiental com a aplicação do fertilizante nitrogenado.

Figura 5. O sistema de irrigação por sulco é muito utilizado para irrigar lavouras de soja e milho no Estado de Arkansas, nos Estados Unidos da América do Norte, devido ao seu menor custo.

Também, merece atenção o fato de que, atualmente, cerca da metade da área de arroz irrigado ser cultivada com variedades do Sistema Clearfield, em que se utilizam herbicidas do grupo das imidazolinonas. Em função das plantas de milho serem muito sensíveis ao efeito residual desses herbicidas, há que se ter cuidado com seu cultivo em rotação com arroz irrigado em áreas em foram utilizados esses herbicidas, tendo em vista a possibilidade de fitotoxidez às plantas de milho.

* Docente Convidado do Departamento de Plantas de Lavoura, Faculdade de Agronomia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Consultor Técnico do Instituto Rio Grandense do Irga e Bolsita de Produtividade em Pesquisa (1A) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Outro aspecto fundamental é a determinação do arranjo ideal de plantas, especialmente no que se relaciona à densidade de plantas e ao espaçamento entrelinhas, uma vez que esse é um dos principais fatores que definem a produtividade de grãos de milho. Isso se deve ao fato de que as plantas de milho têm menor capacidade de preencher espaços vazios, por não emitir perfilhos, como o arroz irrigado, e por não

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Tecnologia

Arroz HĂ­brido, alta tecnologia para uma melhor produtividade


Na Safra 2011/12, os híbridos foram cultivados em aproximadamente 2,5 % da área arrozeira do Rio Grande do Sul. As regiões com predominância de híbridos foram a Campanha, a Planície Costeira Interna e a Zona Sul. Para a Safra 2012/2013 está prevista a comercialização do Híbrido QM1010CL e o Prime CL, por meio de um novo convênio de parceria do Irga com a Bayer. O quarto Híbrido, é o 7 que foi registrado e passará por um ano de ensaio.

Alto potencial produtivo, maior volume de raízes e eficiência na utilização de nutrientes. Essas são algumas das características do arroz híbrido, resultante do cruzamento entre duas cultivares geneticamente diferentes e que busca maior produtividade. Segundo a pesquisadora da Estação Experimental do Arroz do Irga, engenheira agrônoma Mara Lopes, uma grande vantagem dos híbridos é o melhor controle do uso de cultivares com novas tecnologias, como a inserção de genes que conferem características de alto valor agregado - tais como o controle de invasoras ou a qualidade de grãos. “Entretanto, para uma cultivar híbrida ser competitiva, ela deve superar em produtividade as melhores cultivares convencionais em pelo menos 15 a 20%”, afirma a pesquisadora. Mara lembra que todos os produtores podem utilizar cultivares híbridas desde que adotem alta tecnologia de manejo como semear na época preferencial, manter um bom controle de plantas daninhas, pragas e doenças na lavoura, além de aplicar a adubação equilibrada entre outras. “Ainda é recomendamos a sistematização do solo para que a irrigação da lavoura seja de forma rápida e uniforme”, destaca a engenheira. Considerando também que a densidade de semeadura é baixa, em torno de 40 a 50 kg/ha, esta operação deve ser precisa, com uniformidade de distribuição das sementes na linha, e adequada profundidade no solo. Mara considera que o futuro do arroz está com as cultivares que registrem boa adaptação, sejam produtivas e resistentes a doenças e, principalmente, apresentem boa qualidade dos grãos, independente de ser convencionais ou híbridos. “Atualmente existem cultivares convencionais competitivas para com os híbridos, pois são altamente produtivas e apresentam boa qualidade dos grãos, que é uma característica restritiva para o mercado nacional”, observa. O coordenador de Programa de Híbridos, o engenheiro agrônomo Antônio Rosso, informa que o Irga já tem registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), quatro tipos de híbridos. O Híbrido QM1010, cuja genética é uma parceria do Irga com a Fazenda Ana Paula (sede São Leopoldo). Desde 2010, através de outra parceria, a Bayer produz e comercializa a semente.

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Manejo

Bom solo é sinônimo de boa lavoura “O preparo do solo é o alicerce de uma lavoura bem sucedida”. O alerta é do engenheiro agrônomo e extensionista do Irga, Clairton Petry, sobre a importância de adequar a área e preparar o solo, principalmente nesta época, que inicia a semeadura da Safra 2012/2013. O engenheiro salienta que a escassez de chuvas nos meses de outono e inverno foi excepcionalmente favorável às operações de preparo do solo e adequação da lavoura para a semeadura. “Conhecimento e atitude realmente fazem diferença”, frisa o Petry, ao informar que quem antecipou o preparo do solo certamente compreende os benefícios de semear na época preferencial e sabe que a previsão é de chuvas acima da média na primavera. Segundo Petry, os produtores que estão com as áreas prontas para semear já estabeleceram uma vantagem competitiva e podem almejar tetos produtivos a partir do aproveitamento das melhores condições ambientais e do potencial genético das cultivares. “Produzir mais, com menor custo unitário e de forma mais sustentável”, observa. Um diagnóstico realizado pelo Irga, por meio da Coordenadoria Regional da Zona Sul do Estado,

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constata perfeitamente este comportamento. No trabalho as lavouras foram estratificadas por faixas de produtividade e foi verificado que os produtores com o maior percentual de preparo antecipado conseguiram semear a maior parte da lavoura dentro da época preferencial, alcançando as maiores médias de produtividade. O engenheiro do Irga, Clairton Petry, destaca as vantagens de preparar o solo de forma antecipada ao plantio: •Semear na época preferencial, estabelecendo e conduzindo a lavoura sob as melhores condições ambientais; •Verificar o comportamento da água no terreno e tomar ações corretivas que favoreçam a drenagem e a irrigação; •Aumentar a eficiência de uso das máquinas e equipamentos na propriedade e, por consequência, diminuir a imobilização de capital e custos de manutenção e depreciação; •Possibilidade de semear plantas de cobertura e forrageiras como azevém, trevos e cornichão; •Favorecer o controle de plantas daninhas e insetos; •Possibilitar colheita em condições ambientais mais favoráveis e maior velocidade de colheita (ha/dia, sacos/dia); •Inaugurar um ciclo virtuoso: Preparar cedo, semear cedo, colher cedo, colhendo mais e melhor.

A importância da janela do plantio A época de plantio é a principal prática de manejo para alcançar bons resultados na colheita, pois o atraso no plantio acarreta em perda acentuada de produtividade pela esterilidade do grão. A orientação é da engenheira agrícola Vera Márcia Pereira Borges, da Coordenadoria Regional Zona Sul. “Enquanto em outras regiões esse período estende-se do início de setembro a 15 de novembro, na Zona Sul fica restrito, praticamente, ao mês de outubro”, acrescenta. Aquela é a região do Estado com as mais baixas temperaturas, principalmente, no município de Santa Vitória do Palmar - segunda maior área orizícola do Rio Grande do Sul - que chega a alcançar até dois graus de diferença em relação à cidade de Uruguaiana, na Fronteira Oeste. “Enquanto Uruguaiana começa a plantar no início de setembro, sem maiores problemas, na Zona Sul o início do plantio ocorre basicamente em outubro”, salienta. Para Vera, no mês de setembro o solo ainda não alcançou temperatura suficiente para o nascimento uniforme. “Mas mesmo com este problema recomendase o plantio a partir de 25 de setembro, em conjunto com o tratamento de sementes para garantir bom estande”, afirma. Para a engenheira agrônoma é mais interessante antecipar o plantio do que atrasar, já que quanto mais à semeadura entra novembro adentro, maior é o risco de redução de produtividade por atraso. “Logo a janela de plantio da Zona Sul se torna muito pequena e cabe aos produtores da região a consciência de preparar o solo antecipadamente para que ao chegar à melhor época, seja feito o plantio, evitando o risco de atrasar a semeadura”, esclarece. Por isso é importante o produtor estar

informado e dispor de bons dados na gestão do processo produtivo. Ela orienta que toda informação, seja técnica ou administrativa, tem papel indiscutível para o sucesso do processo produtivo.“Por exemplo, dentro da propriedade, as práticas de manejo adotáveis dependem, e muito, da informação que o produtor dispõe sobre a região, do local, do relevo, da cultivar, da fertilidade do solo, do clima e, principalmente, das condições de mercado de arroz e insumos”, assegura. A engenheira agrônoma observa que atualmente a informação, seja qual for, está disponível a qualquer pessoa. No entanto, destaca que a gestão não passa apenas por ser informado, mas também por gerar a própria informação, que será de extrema importância para a vida empresarial do produtor. “Observar, registrar, criticar, discutir e, principalmente, analisar os dados gerados da empresa rural é a chave para o sucesso, pois, somente tendo ciência dos números ou fatos, o produtor poderá planejar sua safra, fazendo as correções cabíveis e, assim, diminuir os riscos tanto dentro como fora da porteira”, afirma Vera Márcia Pereira Borges. Segundo ela, a lavoura é uma constante escola. Explica que devido às oscilações do mercado, com a lei da oferta e da procura, o custo da lavoura orizícola é alto. “E basta uma safra para colocar ou tirar o produtor do mercado. Não podemos nos dar ao luxo de levar erros de uma safra para outra. Precisamos avaliar ponto a ponto, enxergar onde ocorreu o problema, qual foi a sua causa, conhecer a realidade e ter atitude para mudanças”, revela. Para isso, o diagnóstico é fundamental, diz a engenheira agrícola. “De posse de uma boa analise dos resultados, podemos trabalhar nas soluções dos problemas para as safras vindouras”, garante.

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Sanidade

Pragas no estabelecimento da lavoura Por Thais Freitas*

Uma das etapas mais importantes do cultivo do arroz é, sem dúvidas, o estabelecimento da lavoura. Équando se define o número de plantas por metro quadrado, muito importante para a determinação do número de panículas por área, principal componente do rendimento de grãos. Além da densidade inicial, o ataque de alguns insetos nesta fase pode atrasar o desenvolvimento das plantas, o que também resulta em prejuízos, principalmente na qualidade dos grãos. As reboleiras atacadas costumam levar mais tempo para fechar a entrelinha, facilitando a instalação de plantas daninhas, e ter amadurecimento e ponto de colheita diferentes do resto da lavoura. Por isso, é importante que o produtor esteja atento a presença de pragas desde o momento da semeadura, pois algumas podem iniciar o ataque às plantas ainda nos primeiros estádios de desenvolvimento. Conforme o sistema de cultivo, as espécies de insetos-praga podem ter maior ou menor importância. No sistema de cultivo mínimo ou plantio direto, as espécies que têm maior potencial de dano costumam ser prejudicadas pela inundação que ocorre no estádio V3 ou V4.As mais freqüentes estão descritas a seguir:

-Pulgão-da-raiz: é importante em regiões de solo arenoso ou em locais que tenham o solo muito bem drenado. No estado do Rio Grande do Sul, as regiões da Campanha e Fronteira Oeste são as únicas que tem o pulgão da raiz como uma praga primária (de ocorrência freqüente e em altas populações), mas pode ser encontrado em todas as outras regiões. São insetos sugadores, que causam o amarelecimento da planta,podendo levar até a morte. Não resistem ao encharcamento do solo, por isso, a entrada da água precoce já é uma medida de controle cultural. Entretanto, quando ocorre a inundação, os insetos podem migrar para as taipas.Outro importante fator de manejo é a construção de taipas baixas, para que fiquem umedecidas por completo após a inundação. Caso contrario, observa-se o sintoma típico do ataque, que é a linha mais alta da taipa, também chamada de “crista”, com plantas amareladas


Pulga-do-arroz: pode ser encontrada em quase todas as regiões do estado, porém, raramente em altas populações, a ponto de causar perdas econômicas. É um inseto muito pequeno, preto e brilhante, que salta ao ser tocado (como a pulga de cachorros). Permanece nas extremidades das folhas, onde sua alimentação deixa faixas raspadas que se rompem facialmente com o vento. Assim, a planta fica com aspecto “desfiado”, coloração marrom, e tem o desenvolvimento atrasado. A pulga-do-arroz não resiste à inundação, sendo esta uma medida de controle.

Lagarta-da-folha: danifica as plantas pelo corte das folhas, especialmente as mais jovens, mas quando em altas populações podem até cortar o colmo, rente ao solo, como faz a lagarta-rosca. O corte das folhas é um grande prejuízo para as plantas, que perdem a área fotossintética, e tem o desenvolvimento atrasado. A inundação da lavoura dificulta o ataque e a expansão da lagarta, mas esta não é completamente eliminada como ocorre com as outras pragas.

Lagarta-rosca: conhecida de várias outras culturas, esta não é uma praga “tradicional” nas lavouras de arroz, mas esporadicamente pode prejudicar a instalação de lavouras orizícolas também. A lagarta corta as plântulas recém emergidas, ou que ainda estão na fase de emergência, deixando falhas grandes e que não tem chance de recuperação. Normalmente o corte ocorre rente ao solo, mas pode ocorrerabaixo da superfície, antes da plântula romper esta camada. Durante o dia, as lagartas permanecem escondidas sob os torrões do solo, sendo difícil sua identificaçãoe, a partir do final da tarde elas saem para a superfície do solo e atacam as plantas.O produtor costuma perceber a sua presença quando já há grandes reboleiras com falta de plantas, e este sintoma é facilmente confundido com falha na germinação. Esta lagarta também não resiste à inundação.

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Sanidade

No sistema de cultivo pré-germinado o estabelecimento da lavoura já ocorre sob inundaçãoe, por isso, as pragas que ameaçam este período são diferentes das que ocorrem no sistema de plantio convencional/cultivo mínimo. Neste sistema, as mais freqüentes são:

Gorgulho aquático: é o adulto da bicheirada-raiz, conhecida dos arrozeiros normalmente pelo dano que suas larvas causam às raízes. Como no sistema pré-germinado o quadro já está inundado no momento da semeadura, este já se encontra presente na lavoura durante o seu estabelecimento. A pequena raspagem que o adulto faz nas folhas, que nos sistemas de semeadura em solo seco não são importantes, neste caso, por ser em plântulas muito jovens, pode levar à morte e determinar a ressemeadura da lavoura. Existem diversos produtos registrados para controle deste inseto.

Caramujo: é uma praga que se alimenta

de plântulas muito jovens, logo após a semeadura, consumindo os primeiros tecidos, tanto da parte aérea quanto da radicular, sem deixar chances de rebrote para a planta. Deslocam-se para a lavoura com a inundação dos quadros, podendo causar grandes prejuízos em poucos dias. Não existem produtos registrados, devendo ser adotadas apenas medidas de controle cultural. Entre estas, a limpeza e drenagem dos canais de irrigação na entressafra, a destruição das posturas, o preparo do solo com enxada rotativa e a colocação de tela nos canais de irrigação, para impedir a entrada do caramujo junto com a água, são medidas que reduzem a população. A promoção de inimigos naturais deve ser feita através da colocação de poleiros para aves predadoras e da redução do uso de inseticidas, pois estes atingem também insetos parasitóides, que colocam seus ovos dentro dos ovos dos caramujos, diminuindo a eclosão e reduzindo a sua população.

Larva vermelha: é a fase jovem de um mosquito da família Chironomidae, ordem Díptera. Alimenta-se das radículas de plântulas muito jovens, logo após a semeadura, assim como o caramujo. Após o período de estabelecimento, as plantas de arroz podem conviver com as larvas sem sofrer prejuízos. As larvas são beneficiadas com a presença de algas, o que deve ser levado em conta como alternativa de manejo. Alem disso, realizar a semeadura logo após a inundação dos quadros é outra medida minimizadora, pois permite o estabelecimento da lavoura antes que a população atinja níveis elevados.

Em qualquer um dos sistemas de cultivo, é imprescindível o acompanhamento regular da lavoura por parte do produtor e de seus colaboradores, conhecendo as espécies que são mais freqüentes na sua região e os sintomas do ataque. Este monitoramento deve ser realizado durante todo o ano, inclusive na entressafra, pois muitas destas espécies podem ser vistas em outras plantas hospedeiras, como pastagens, plantas daninhas e no arroz “guacho”. Conhecer as espécies e um pouco de seus hábitos permite que o produtor adote medidas culturais de manejo, e não fique na dependência apenas do controle químico, que onera a lavoura e, quando em excesso, pode ter efeitos indesejáveis no ambiente. _________________________________________ * Engenheira Agrônoma, M.Sc. em Fitotecnia, pesquisadora da equipe de agronomia do IRGA, na área de Entomologia.


Artigo Cientifico

Introdução

PANORAMA DA PROTEÇÃO DE NOVAS CULTIVARES DE ARROZ NO BRASIL

Kelly Lissandra Bruch*

Impulsionado pela revolução verde, o melhoramento de plantas ganhou incentivos consideráveis neste último século. Um dos fatores preponderantes foi a possibilidade de apropriação destas inovações. Esta garantia de retorno atraiu investimentos e viabilizou a realização de pesquisas que, sem estes direitos, não poderiam ser executadas. Portanto, um dos motores da expansão foi a proteção da propriedade industrial aplicada a plantas. Para tratar do panorama da proteção de novas cultivares de arroz no Brasil, o presente trabalho se divide em três partes. Na primeira aborda-se a teoria aventada, bem como suas possibilidades. Na segunda, trata-se da proteção de cultivares no Brasil. E na terceira descreve-se o estudo de caso aplicado ao setor orizícola.

RESUMO

A existência da Propriedade Industrial tem como fundamento a concessão de um direito de exclusividade ao titular de uma nova tecnologia, condicionando-se esta diretamente à divulgação do modus operandi deste, ou seja, do segredo existente no invento. Todavia, questiona-se: será o direito relativo à propriedade industrial de plantas apto para promover o desenvolvimento tecnológico e, portanto, cumprindo sua função, resultar em ganhos para a sociedade como troca pela concessão da exclusividade de exploração pelo seu titular? O objetivo do presente trabalho, visando responder ao problema apresentado, consiste no estudo dos Direitos de Propriedade Industrial aplicados à proteção de novas cultivares, com a finalidade de verificar, em um estudo de caso específico, a influência da proteção de novas cultivares no desenvolvimento tecnológico de um setor do agronegócio: a cadeia produtiva do arroz. Como abordagem do tema, objetiva-se analisar de maneira geral os fundamentos da proteção da Propriedade Industrial, para se verificar se, no caso concreto, estes se mostram efetivamente realizáveis. Assim, aplica-se o método hipotético dedutivo, no qual se propõe como hipótese a assertiva de que a proteção dos Direitos de Propriedade Industrial aplicados às plantas pode promover o desenvolvimento de novas tecnologias e que isso resulta em benefícios para os atores e para a sociedade. Como resultado, verifica-se que a teoria schumpeteriana de destruição criadora efetiva-se no caso concreto do incentivo à proteção de cultivares de arroz no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: proteção de cultivar; propriedade industrial; direito industrial; direito imaterial; planta; propriedade intelectual; agronegócio.

1. Função da propriedade industrial A existência dos direitos de propriedade industrial, que garantem a exclusividade sobre um bem intangível, possuem três funções: a) o incentivo à pesquisa e recompensa; b) a divulgação dos direitos e das tecnologias; e c) a transformação do conhecimento tecnológico em objeto suscetível de troca. Esta exclusividade sobre o bem intangível garante ao seu titular a possibilidade de excluir terceiros de sua utilização, sendo que esta possibilita uma condição privilegiada de geração de lucros, o que se constitui em uma recompensa ao titular, que, em troca do recebimento desta, divulga a toda a sociedade o seu invento. Ao mesmo tempo, a possibilidade de gerar lucros e garantir a exclusividade resulta em um incentivo à pesquisa e ao investimento em novas pesquisas. O titular, ao recuperar o investimento realizado e com lucros, é incentivado a investir novamente, gerando novas inovações passíveis de apropriação, incentivando outros a fazer o mesmo investimento. Isso, por fim, somente torna-se possível quando o conhecimento gerado pela pesquisa efetivamente se transforma em bens mensuráveis, objetos passíveis de troca (CARVALHO, 1983, p. 57). Estas funções também se fundamentam no interesse social da existência destes direitos. Se a sociedade não percebesse benefícios decorrentes da atribuição desta exclusividade, este não se sustentaria. Promove-se e concede-se esta exclusividade com vistas a promover a evolução da sociedade, mediante invenções de processos e produtos que tornem a vida melhor. Portanto, muito mais que um direito do inventor, é um direito da sociedade (REMER, 2003). Desta maneira, se as inovações auxiliam no progresso e este resulta em melhorias no bem estar

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Artigo Cientifico social, tem-se um círculo virtuoso: a invenção gera um título que possibilita a exclusividade, a qual gera lucro, que permite o investimento em pesquisa e desenvolvimento que geram novas invenções. A aplicação industrial dessas invenções e sua comercialização geram desenvolvimento industrial, o que gera desenvolvimento econômico e por fim, o bem estar social (CARVALHO, 1983, p. 57-58). Esta lógica, na visão schumpeteriana, move o capitalismo, ao propiciar que novas combinações ou inovações façam os ciclos da dinâmica capitalista fluírem. Este autor denomina este fenômeno como “destruição criadora”. Esta mesma dinâmica capitalista, contudo, pode levar à centralização e à concentração, ou seja, aos oligopólios e monopólios (SCHUMPETER, 1982). Isso se dá por que nem todas as empresas que participam da dinâmica capitalista tem possibilidade de inovar sempre (PIMENTEL, 1999, p. 107). Trata-se de uma lógica de exclusão, ou de seleção natural dos mais aptos à sobrevivência, conforme a teoria darwiniana. A propriedade industrial permite que as primeiras empresas a inovar possam ter a exclusividade de utilização do ativo intangível diferenciador. Com esta, formam-se monopólios temporários sobre a utilização das invenções. Cessado o monopólio, ou surgindo novos inventos que possam vir a suplantar os anteriores ou competir com estes, completa-se o ciclo (PIMENTEL, 1999, p. 107). A grande diferença está em que, com a existência da propriedade industrial, a proteção condiciona-se diretamente à divulgação do modus operandi do invento, ou seja, do segredo existente no invento. Esta divulgação permite que empresas que não chegariam ao patamar de inovação da primeira empresa inovadora, tenham acesso à informação e possam inovar sobre esta invenção. Ou seja, a lógica certamente é excludente, mas permite que o ciclo seja acelerado e que as empresas que efetivamente trabalharem, tenham como se manter no mercado, sem serem excluídas. Isso por que, ao invés da proteção de um segredo industrial, que poderia resultar em um monopólio perpétuo do conhecimento, há um compartilhamento deste em troca de um monopólio temporário sobre a exclusividade de uso da invenção resultante deste conhecimento (BRUCH e DEWES, 2006). Por outro lado, observando-se este ciclo que se forma a partir desta exclusividade, conclui-se que é esta apropriabilidade que garante o contínuo investimento em inovações. Sem a exclusividade, esta inovação poderia ser copiada, o que não permitiria que o inventor recebesse o lucro extraordinário e não fosse incentivado a investir novamente em pesquisas, estagnado assim, o ciclo da dinâmica capitalista e por consequência a evolução tecnológica da sociedade.

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Desta forma, o atendimento à manutenção do ciclo da dinâmica capitalista implica no cumprimento de um interesse social na evolução da humanidade (BRUCH e DEWES, 2006). Para que efetivamente o interesse social seja atendido, faz-se necessário que este direito de exclusividade prevaleça, na medida em que busca cumprir suas funções de existência, sem que ele mesmo seja uma maneira de se obter privilégios, indo para além daquilo que a sociedade entendeu adequado lhe conferir na forma de direito (PIMENTEL, 1999). Este equilibro pode ser garantido pela própria limitação do direito de exclusividade, fundamentado na compreensão do princípio da função social desta propriedade. Estas concepções gerais sobre os direitos de propriedade industrial também se aplicam de forma específica à proteção de novas cultivares e de cultivares essencialmente derivadas. Finalizada esta análise inicial, parte-se para a segunda parte, mais específica, que busca compreender a proteção de cultivares no Brasil e seus reflexos específicos no setor orizícola.

2. Proteção de novas cultivares de arroz no Brasil A possibilidade da proteção envolvendo seres vivos é recente, datado do século XX, notadamente com relação à proteção de plantas. Ao contrário das demais áreas tecnológicas abrangidas, a proteção de cultivares apenas começa a ser referida, de maneira expressa, em acordos internacionais, com a criação da União Internacional para a Proteção de Novas Variedades de Plantas (UPOV). A UPOV objetiva proteger o direito de propriedade industrial de novas cultivares de plantas, com a missão de fomentar um sistema eficaz para a proteção das espécies vegetais, com a finalidade de promover o desenvolvimento de novas cultivares para o benefício de toda a sociedade (UPOV, 2012). Atualmente se encontram vigentes os dois tratados: Ata de 1978 da UPOV e a Ata 1991 da UPOV. Ao lado da UPOV, a proteção de plantas encontrase regrada no Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS), da Organização Mundial do Comércio (OMC), que universalizou a obrigação dos Estados Membros protegerem os direitos de propriedade intelectual. A internalização do TRIPS e da UPOV/1978 no Brasil, resultou na promulgação da lei n. 9.456 de 25 de abril de 1997 (LPC), que disciplina a proteção de cultivares. A LPC objetiva proteger uma nova obtenção vegetal, que seja distinguível de outras cultivares e espécies vegetais por um conjunto mínimo de características morfológicas, fisiológicas, bioquímicas ou moleculares, herdadas geneticamente. Estas


características, denominadas descritores, devem se mostrar homogêneas e estáveis através das gerações sucessivas (LOUREIRO, 1999, p. 39). Estes requisitos são comprovados, perante a autoridade competente, por meio dos testes de DHE (Distinguibilidade, Homogeneidade e Estabilidade) que são feitos no Brasil pelo próprio obtentor, o qual encaminha o relatório e preenche o formulário dos descritores mínimos da espécie, conforme resultados obtidos, para comprovar os requisitos supramencionados. Depois de encaminhados, os testes são analisados e seus dados comparados com os descritores das cultivares já protegidas no Brasil, a fim de estabelecer a distinguibilidade da candidata em face das cultivares já protegidas ou de outras que já se encontram em domínio público (MAPA/UFV, 2011). Por fim, a cultivar deve ser nova, ou seja, não pode ter sido oferecida à venda no Brasil há mais de doze meses em relação à data do pedido de proteção, e que não tenha sido oferecida à venda em outros países, com o consentimento do obtentor, há mais de seis anos para espécies de árvores e videiras, há mais de quatro anos para as demais espécies (LPC, art. 3, V). Esta proteção tem a duração de 15 anos como regra, e 18 anos para videiras, arvores frutíferas, árvores florestais e árvores ornamentais, prazo este que é considerado a partir da data da concessão do Certificado Provisório de Proteção (LPC, art. 11). o titulaAr da proteção da cultivar é garantido o direito à reprodução comercial, podendo este usar, gozar, dispor e reaver a cultivar de quem quer que, sem a sua autorização, ofereça à venda o material de propagação da cultivar, com fins comerciais. Trata-se de um direito positivo, combinado com o direito negativo de excluir terceiros (LPC, art. 9) Contudo, esta propriedade é limitada, (LPC art. 10 e art. 28) No Brasil, a proteção se dá junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC, órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SNPC, 2012). Esta proteção não deve ser confundida com o Registro Nacional de Cultivares (RNC), também realizado no MAPA, registro este necessário para que mudas e sementes possam ser multiplicadas e vendidas comercialmente no Brasil, independentemente do direito de exclusividade, conforme dispõe a Lei 10.711 de 05 de agosto de 2003. Deve ser ressaltado que esta proteção, no Brasil, não abrange a planta como um todo, mas apenas o material de reprodução ou multiplicação vegetativa. Além disso, somente são passíveis de proteção as espécies que tenham todos os seus descritores já estabelecidos e sua proteção já autorizada pelo SNPC. Até o presente momento, há 1.265 cultivares protegidas no Brasil, e quase dois mil pedidos de proteção já

analisados ou em análise pelo SNPC (SNPC, 2012). Em 2006, havia 69 espécies descritas e com autorização para requerer sua proteção no Brasil (BRUCH, 2006), sendo que hoje este número quase dobrou, passando para 126 espécies (SNPC, 2012).

3 Proteção de novas cultivares de arroz no Brasil A cadeia produtiva do arroz apresenta uma considerável importância na alimentação das pessoas, no contexto mundial. O arroz “é um dos alimentos com melhor balanceamento nutricional, fornecendo 20% da energia e 15% da proteína per capita necessária ao homem, e sendo uma cultura extremamente versátil, que se adapta a diferentes condições de solo e clima, é considerado a espécie que apresenta maior potencial para o combate a fome no mundo” (EMBRAPA, 2012). Todavia, o crescimento da produção mundial de arroz, vem se dando em descompasso com o seu consumo, haja vista que “nos últimos seis anos, a produção mundial aumentou cerca de 1,09% ao ano, enquanto a população cresceu 1,32% e o consumo 1,27%” (EMBRAPA, 2012). Em razão disso, verifica-se a necessidade de propiciar um aumento quantitativo e qualitativo da produção orizícola, preferencialmente sem o aumento de área cultivada. Neste sentido, é notório o papel do Brasil no cenário da produção mundial do arroz, sendo o maior produtor fora do continente asiático, tendo representado, em 2011, 2% do total mundial (IRGA, 2012). Considerando todos os aspectos abordados, objetiva-se neste trabalho especificamente verificar se a edição da Lei de Proteção de Cultivares influenciou de alguma forma a pesquisa em arroz no Brasil. Para tanto, é trazido ao presente artigo um conjunto de dados técnicos, que objetivam demonstrar a subsunção da hipótese aventada. Hoje há um total de 66 novas cultivares de arroz protegidas e 251 cultivares de arroz registrados. Sobre as primeiras recaem os direitos industrial. O registro de cultivares objetiva autorizar a sua comercialização. Esta distinção é necessária para que não se confunda registro de cultivares com proteção de cultivares. As características que distinguem estes dois instrumentos podem ser elencadas em quatro pontos:

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Tabela 1 – Diferença entre Proteção e Registro de Cultivares p objetivo

Fundamento legal instrumento técnico Finalidade

roteção de cultivares Garantir os direitos de propriedade industrial para o obtentor e o melhorista. Pode-se ter a proteção de uma cultivar, sem que sua comercialização seja permitida. Lei 9.456/97 Lei de Proteção de Cultivares DHE - Distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade Assegurar os direitos de exclusividade do seu titular referente ao uso destas. O titular pode licenciar, cobrar royalties, ceder e impedir que terceiros a utilizem sem a sua autorização

registro de cultivares Habilita estas a serem produzidas e comercializadas no Brasil. Pode-se ter cultivares registradas que são produzidas e comercializadas sem pagamento de royalties, pela não proteção ou estar em domínio público Lei 10.711/2003 Lei de Sementes VCU - Valor de cultivo e uso Constituição de um banco de informações agronômicas, fornecendo dados ao poder público referente à origem do material e ao seu responsável no Brasil.

Fonte: Elaboração própria.

Com relação aos pedidos de proteção de novas cultivares depositados e concedidos, para a espécie arroz, pode-se verificar um crescente aumento destes desde a data da concessão, com picos em 2007 e 2010, conforme Gráfico 1. Gráfico 1: Número de pedidos de proteção de novas cultivares de arroz concedidos desde a publicação da LPC, considerando-se o número de depósitos por ano e os valores acumulados. Fonte: Elaborado com base em SNPC (2012)

Com relação aos titulares, verificase uma grande presença de instituições públicas de pesquisa, tais como EMBRAPA, IRGA e EPAGRI, embora já seja considerável a presença do setor privado, como pode ser observado no Gráfico 2.

Gráfico 2: Número de pedidos de proteção de novas cultivares de arroz concedidos por titular. Fonte: Elaborado com base em SNPC (2012)

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Com o objetivo de verificar a diferença entre cultivares registradas e cultivares protegidas, optou-se em fazer uma comparação entre o número de cultivares protegidos e registrados dos titulares de novas cultivares e essencialmente derivadas, mencionadas no Gráfico 2.

Gráfico 3: Comparação entre cultivares protegidas e registradas por titular que possua ao menos uma cultivar protegida. Fonte: Elaborado com base em RNC (2012)

Pode-se verificar, no Gráfico 3, que algumas titulares de cultivares protegidas não possuem cultivares registradas, como é o caso do CIRAD e da China National Hybrid Rice Research, duas instituições estrangeiras que certamente têm maior interesse em proteger os seus direitos de propriedade industrial. Outra constatação é de que as instituições públicas têm muito mais cultivares registradas que as empresas particulares. Além disso, é notória a predominância da EMBRAPA, especialmente em se considerando o número de cultivares registradas. Com relação às tecnologias desenvolvidas para as novas cultivares, verifica-se que há um foco muito grande no aumento da produtividade por área cultivada. E, nestes estudos, verifica-se que, após a publicação da LPC, a produtividade – coincidentemente ou não – aumentou consideravelmente, conforme pode ser verificado na tabela abaixo, fruto de um estudo da área técnica.

Gráfico 4: Média dos rendimentos de grãos de arroz (kg/ha) de 1983 a 2011, referente a cultivares do IRGA e da EMBRAPA, considerando-se como marco divisório a publicação da PLC. Fonte: MOURA NETO et al, 2012.

Este estudo demonstra que já havia em uma curva crescente, mas, a partir de 1999, houve um significativo, constante e consistente incremento na produtividade do arroz, compreendendo-se o gráfico em quilos por hectare, o que significa que de pouco mais de 5 mil quilos, se passou a quase 10 mil quilos por hectare em média. Outro estudo comprova o aumento do rendimento

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(WALTER, 2010). Este estudo trata da produção de arroz do Rio Grande do Sul - não apenas de médias, mas da produção total. Neste caso pode-se verificar claramente o incremento substancial da produtividade, em especial a partir de 1999, no campo comercial. Isso significa que as pesquisas realizadas e as cultivares protegidas efetivamente foram transferidas aos produtores e estes tiveram um retorno concreto (FAGERIA, 2003; CAMARGO, 2008; FREITAS, 2001). Conclusão Como pôde ser verificado, houve um incremento substancial no número de novas cultivares de arroz protegidas desde a publicação da Lei de Proteção de Cultivares, de 1997. E este incremento, pelo que se verifica, é proporcional com o aumento quantitativo da produção de arroz por área cultivada. Trata-se de uma evidência e que dados complementares devem ser coletados para a confirmação satisfatória da hipótese apresentada. Mas há indícios de que a hipótese aventada se sustenta. Embora já houvesse pesquisa anteriormente – por isso havia cultivares a serem protegidas já em 1998, a partir da aprovação da LPC se dá um incremento anual substancial da quantidade de cultivares protegidas e, concomitantemente, há um incremento substancial na produtividade do arroz, tanto em nível experimental, quando em campos comerciais. Neste sentido, pode se deduzir que o direito de exclusividade tem incentivado mais pesquisas, que resultam em novas cultivares, que tem trazido resultados – já que a iniciativa privada tem se apresentado de forma relevante, que estes se traduzem em um incentivo aos pesquisadores – por meio do retorno financeiro, e em um incentivo aos produtores no sentido de adquirir sementes de cultivares protegidas, posto que são mais consistentes em tecnologia e portanto podem trazer um maior retorno. Assim, há um progresso tecnológico e ao mesmo tempo se tem um benefício para a sociedade que, com a mesma área cultivada, viu aumentar consideravelmente a produção de um consumo básico para o brasileiro: o arroz. Certamente, a pesquisa de resultados correlacionados, em outros setores, auxiliarão na aferição desta hipótese. Referências BRUCH, K.. Limites do Direito de Propriedade Industrial de Plantas. Dissertação (Mestrado em Agronegócios) – Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006, 223 p. BRUCH, K.; DEWES, H.. A função social como princípio limitador do direito de propriedade industrial de plantas. Revista da ABPI, v. 84, p. 19-34, 2006. CAMARGO, E. R. et al. Influência da aplicação de nitrogênio

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e fungicida no estádio de emborrachamento sobre o desempenho agronômico do arroz irrigado. Bragantia, Campinas, v. 67, n. 1, p. 153-159, 2008. CARVALHO, N.. O sistema de patentes: um instrumento para o progresso dos países em vias de desenvolvimento. Revista de Direito Mercantil, São Paulo, v. 22, n. 51, p. 51-90, jul./set. 1983. Nova série. EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Cultivo do Arroz Irrigado no Brasil. Disponível em: http:// sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Arroz/ ArrozIrrigadoBrasil/index.htm. Acesso em: 18 fev. 2012. FAGERIA, N. K. et al. Manejo da fertilidade do solo para o arroz irrigado. 1 ed. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. 250 p. FREITAS, J. G. et al. Resposta de cultivares de arroz irrigado ao nitrogênio. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 58, n. 3, p. 573-579, 2001. IRGA. Instituto Rio Grandense do Arroz. Mercado Mundial. Disponível em: < Mercado Mundial >. Acesso em 01 abr 2012. LOUREIRO, L.. Patente e biotecnologia: questões sobre a patenteabilidade dos seres vivos. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, n. 116, p. 17-77, 1999. MAPA/UFV. Proteção de Cultivares no Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. Brasília: Mapa/ACS, 2011. 340 p. MOURA NETO, F.; LOPES, S.; MAGALHÃES JÚNIOR; A.; MORAIS, O.. Contribuição da pesquisa de melhoramento genético para elevação da produtividade da lavoura arrozeira do Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://www.alice.cnptia. embrapa.br/bitstream/doc/899111/1/ft248.pdf>. Acesso em: 01 abr 2012. PIMENTEL, L. Direito industrial: as funções do direito de patentes. Porto Alegre: Síntese, 1999. 278 p. REMER, R.. Patentes versus interesse social, 6. Encontro REPICT, Rio de Janeiro: 08 de julho de 2003. SCHUMPETER, J.. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. RNC. Registro Nacional de Cultivares. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <http://www. agricultura.gov.br/vegetal/registros-autorizacoes/registro/ registro-nacional-cultivares>. Acesso em 01 abr 2012. SNPC. Serviço Nacional de Proteção de Cultivares. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/vegetal/registrosautorizacoes/protecao-cultivares/cultivares-protegidas>. Acesso em 01 abr 2012. UPOV. União Internacional para a Proteção de Novas Variedades de Plantas. 2012. Disponível em: <http://www. upov.int/>. Acesso em: 03 mar 2012. WALTER, Lidiane Cristine. Simulação do rendimento de grãos de arroz irrigado em cenários de mudança climática. Dissertação de Mestrado, Centro de Ciências Rurais (PPGEA), Universidade Federal de Santa Maria, 2010. ________________________________________

*Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2001), Especialista em Direito e Negócios Internacionais pela UFSC (2004), Mestre em Agronegócios pelo CEPAN/UFRGS (2006), Doutora em Direito pela Université Rennes I, France em co-tutela com a UFRGS. É consultora técnica do Irga.




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