Revista Lavoura Arrozeira - 454

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EDITORIAL

Prezado Leitor,

SUMÁRIO Safra 2009/10 Projeto 10 Safra 2010/11 Socioeconomia Gestão Capacitação 70 anos Intercâmbio Evento Clima Meio Ambiente Agregação de valor Artigos Notícias Gastronomia Almanaque

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Apesar dos efeitos causados pelo fenômeno El Niño, que trouxeram inúmeros prejuízos para as lavouras e os produtores de arroz do Rio Grande do Sul, é hora de levantar a cabeça. A vida continua e o setor, perseverante e eficiente na busca por resultados, inicia os preparativos para uma nova safra de arroz. O bom volume de chuvas registrado nas regiões arrozeiras garante plena capacidade dos mananciais hídricos e as notícias de clima confirmando a ocorrência do fenômeno La Niña na temporada 2010/11 trazem ânimo aos produtores, com indicativos de incremento na área semeada de arroz em todas as seis regiões produtoras do Estado. Esse é o momento de acreditar e investir no uso adequado da tecnologia disponível, como o preparo antecipado do solo, a semeadura no cedo, na busca de uma safra plena, com maior produtividade e menor custo por saco produzido, o que trará mais competitividade ao setor produtivo, apesar dos custos de produção terem aumentado neste ano. Paralelo a essas ações desenvolvidas pelos produtores as entidades do setor estão trabalhando nos projetos identificados no Programa Renda, buscando a sustentabilidade econômica do setor. Por outro lado, a cadeia produtiva arrozeira confirma sua participação em mais uma Expointer, evento que mostra a força do agronegócio gaúcho para o Brasil e o mundo, através da realização de negócios, da mostra de tecnologias e da capacidade empreendedora de nosso povo. Estimado produtor, aproveite as informações que estamos trazendo na edição 454 da Revista Lavoura Arrozeira. Desejamos uma boa leitura a todos!

Boa Leitura! Maurício Miguel Fischer Presidente do Irga

Lavoura Arrozeira -Porto Alegre, v.58 - número 454 - Setembro 2010

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EXPEDIENTE Diretoria do IRGA Presidente Maurício Miguel Fischer

Diretor Comercial Rubens Pinho Silveira

Diretor Administrativo Carlos Rafael Mallmann

Diretor Técnico Valmir Gaedke Menezes

Lavoura Arrozeira Arte Camila Miotto Dalloglio Diagramação Mariana Bechert Edição e Redação Arno Baasch Eduardo Pires Mariana Bechert Viviane Mariot

Fotografia Banco de Imagens IRGA Lisiane Forcin Luciano Carmona Mariana Bechert Robispierre Giuliani Valmir Menezes Viviane Mariot Tiragem dessa edição 12 mil exemplares

Colaboradores Antonio Folgiarini de Rosso Athos Gadea Carlos Henrique Paim Mariot Clairton Petry Cláudio Mundstock Daniel Santos Grohs Gilberto Wageck Amato Lilian Berwanger Deon Luis Antônio Valente Marco Aurélio Tavares Mário Sérgio Azeredo Rubens Pinha da Silveira Thais Stella de Freitas Valmir Gaedke Menezes Vera Mussoi Macedo Victor Hugo Kayser Impressa por Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas

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É permitida a reprodução dos textos desta edição, desde que citada a fonte. Lavoura Arrozeira - Porto Alegre, v.58 - número 454 - Setembro 2010


SAFRA 2009/10

Apesar do El Niño, RS colhe quarta maior safra de arroz da história

LISIANE FORCIN/ IRGA SÃO GABRIEL

O Rio Grande do Sul contabilizou uma produção de arroz de aproximadamente 6,8 milhões de toneladas na safra 2009/10. O resultado ficou cerca de 15% abaixo do registrado na temporada passada, algo em torno de 1,25 milhão de toneladas. A redução deveu-se à menor produtividade (11%) e à diminuição da área cultivada (4%), ocasionada pelas cheias causadas pelo fenômeno El Niño. Como já ocorrera em anos anteriores, os efeitos não foram iguais em todas as regiões. As maiores perdas foram registradas na Depressão Central (34,5%) e Campanha (19,5%) e as menores na Zona Sul (3,5%) e Planície Costeira Externa (8,5%). Em termos de áreas perdidas com cheias, conforme demonstrado na Tabela 2, os maiores prejuízos também foram verificados na Depressão Central (13%). O diretor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz, Valmir Menezes, destaca que o El Niño trouxe uma situação bastante distinta entre os produtores. “Os resultados mostraram casos de produtores que perderam toda a produção, outros que conseguiram manter a produtividade média e até mesmo aqueles que conseguiram aumentar o rendimento médio de suas lavouras. E essas observações são válidas para todas as regiões do Estado”, disse. A Tabela 1 indica os resultados obtidos na safra 2009/10 em termos de produção e de produtividade média e sua comparação com a safra anterior.

POR ARNO BAASCH

Fenômeno El Niño trouxe chuva excessiva para as lavouras de arroz do RS

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SAFRA 2009/10 Entretanto, mesmo sobre o efeito drástico do efeito El Niño desse ano na lavoura de arroz, esta é a quarta melhor safra da história do Estado, tanto em termos de produção como em produtividade, conforme pode ser observado no Gráfico 1. Talvez a melhor lição que possa ser tirada deste ano é que os estresses causados pelo El Niño foram menores nas lavouras que utilizaram melhor tecnologia. Exclui-se desse raciocínio as áreas perdidas por enchente. O principal fator que ainda manteve a produtividade média do Estado ao redor de 6,5 toneladas por hectare foi a semeadura na época recomendada, que abrangeu quase 63% das lavouras, um índice que nunca havia sido atingido até então, conforme indica o Gráfico 2. A colheita nessas áreas possibilitou uma produção ao redor de 7 toneladas por hectare. Nas colheitas realizadas em áreas semeadas ou ressemeadas após meados de dezembro ou até mesmo no início de janeiro a produtividade caiu consideravelmente. “Com raras exceções, as produtividades das áreas semeadas tardiamente foram consideradas boas. Na maioria delas, as produtividades foram menores que 6,5 ou até mesmo 4 toneladas por hectare. Adicionalmente, nas áreas em que houve um retardo na época de semeadura, o agricultor também atrasou a prática de tratos culturais, como o controle de invasoras e a irrigação, obtendo uma produtividade muito baixa”, salienta Menezes. O melhor exemplo de resultado da safra 2009/10, considerado o modelo ideal, foi a comunidade de Jaguarão, que no final de outubro de 2009 havia semeado quase a área total do município: cerca de 98%, o que pode ser observado no Gráfico 3. Mesmo em um ano de El Niño, a produtividade média foi de 7,1 toneladas por hectare. O sucesso da comunidade de Jaguarão deve-se fundamentalmente ao fator da maior parte da área estar preparada antes do início do período de semeadura. Durante os meses de setembro e outubro eles tinham a maior parte da área preparada antes do inicio do período da semeadura. “Nesses dois meses os produtores dedicaram-se ao processo de semeadura e não mais ao preparo do solo”, comenta Menezes. Mas não foi só a época de semeadura o único fator a influir no resultado da safra. A adubação para altas produtividades também foi realizada na época recomendada, o controle precoce de invasoras bem como a entrada de água no cedo, fatores que contribuíram para que muitos produtores obtivessem uma boa produtividade.

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SAFRA 2009/10 LISIANE FORCIN/ IRGA SÃO GABRIEL

Lavouras com boa adubação e semeadura no cedo garantiram bons resultados

Excesso de chuvas e menos luz foram determinantes para menores produtividades nas lavouras de arroz do RS Na última safra, o Rio Grande do Sul sofreu com intensas chuvas devido à ocorrência do fenômeno El Niño, afetando negativamente a produção de arroz irrigado no Estado. Reduções de produtividade ocorreram também nos anos de 1998 e 2003, o que pode ser demonstrado no Gráfico 1. No entanto, a redução observada na última safra foi menos intensa comparada às situações anteriores, uma vez que a produtividade no RS vinha numa crescente, atingindo mais de 7 toneladas por hectare na safra anterior, principalmente em função das melhorias no manejo da cultura através de ações como o Projeto 10. Em uma análise comparativa com a safra anterior, de modo geral, observa-se maiores volumes de chuvas na última safra em praticamente toda região produtora de arroz irrigado do Estado (Gráfico 4). Volumes expressivos, superiores à média, ocorreram no mês de novembro principalmente nas regiões da Fronteira Oeste, Depressão Central, Campanha e Planície Costeira Interna e menos expressivos, mas também maiores do que a média, na Planície Costeira Externa e na Zona Sul.

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SAFRA 2009/10 Nos meses seguintes, a partir de dezembro, as regiões que sofreram com maior volume de chuva foram a Fronteira Oeste e a Depressão Central, demonstradas no gráfico pelos municípios de Uruguaiana e Santa Maria. Por outro lado, o mês de outubro foi favorável para a semeadura das lavouras de produtores que já haviam preparado antecipadamente as áreas. O excesso de chuvas em novembro prejudicou a continuidade para os que já estavam no processo e o início da semeadura para aqueles que ainda não estavam com as áreas totalmente prontas. Além disso, penalizou os produtores que conseguiram semear na melhor época, no estabelecimento e nos tratos culturais iniciais das lavouras. Destaca-se também, os problemas com enchentes em lavouras na região central e na fronteira oeste do RS, inclusive com perda de áreas de produção. Em decorrência do excesso de chuvas, houve redução na disponibilidade de radiação solar na safra 2009/10 em relação à 2008/09 (Gráfico 5). Esta redução ocorreu durante os meses de novembro e dezembro em toda região orizícola do Estado e em fevereiro na Zona Sul, na Campanha, na Fronteira Oeste e Planície Costeira Externa. De modo geral, os meses de janeiro e março foram similares ao ano anterior. Na Depressão Central houve um déficit, não tanto expressivo, em janeiro e fevereiro. Na região da Planície Costeira Interna, as médias de radiação mantiveram-se similares nas duas safras, entre os meses de dezembro e março. Esta menor disponibilidade de radiação, principalmente nos meses de dezembro e fevereiro, observada na maioria das regiões, contribuiu para a redução da produtividade, uma vez que coincide com o período crítico de maior demanda por luz das plantas, que é na fase reprodutiva. Esta redução pode ser constatada pelos resulta-

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dos obtidos em ensaios de época de semeadura comparativamente entre as duas últimas safras (Gráfico 6). Os resultados mostram as produtividades em torno de 12 toneladas por hectare para a cultivar IRGA 424 na safra 2008/09 nas melhores épocas de semeadura, enquanto na última safra não ultrapassaram 10 toneladas por hectare. Para a cultivar IRGA 417, de ciclo precoce, os resultados foram similares nos dois anos, denotando a característica de estabilidade da mesma. Portanto, o material de ciclo médio, de maior potencial produtivo, sofreu maior impacto da adversidade climática provocada pelo fenômeno El Niño.

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SAFRA 2009/10 Embora a radiação solar na fase vegetativa do arroz seja menos importante do que na fase reprodutiva, com o alto volume de chuvas ocorrido em novembro e a menor disponibilidade de luminosidade neste período, o início da fase vegetativa do arroz implantado em setembro e outubro foi prejudicada. Com a baixa quantidade de luz disponível nesta fase, observou-se tanto em nível experimental quanto de lavoura um estiolamento das plantas, efeito fisiológico caracterizado em função desta condição adversa. Isto afetou também o afilhamento das plantas, com redução do número de afilhos e consequentemente menor número de panículas por área. Este fator é demonstrado nos resultados de pesquisa obtidos, o que ajuda a explicar a redução da produtividade (Gráfico 7). Os dados mostram com a cultivar IRGA 424 números superiores a 600 e 700 panículas por m² na safra 2008/09 e no máximo 600 panículas na última safra. Com isto, supõe-se que o componente do rendimento mais afetado foi o número de panículas por m².

El Niño contribuiu para a presença de insetos praga que há anos não traziam preocupações As chuvas que tanto atrapalharam os produtores durante a safra 09/10 foram uma grande aliada para a dispersão e reprodução dos insetos. A safra foi marcada pela presença de pragas que há anos não eram motivo de preocupações para os arrozeiros, como as lagartas que atacam as folhas, principalmente as diversas espécies de Spodoptera. Nos meses de outubro e novembro, até mesmo as lavouras que já estavam com lâmina d´água passaram por sérios ataques destas espécies, obrigando produtores, em todas as regiões do Estado, a realizar pulverizações para controlá-las. A infestação de pulgões nas folhas, mesmo

após a irrigação, também foi um inesperado motivo de preocupação para os agricultores, especialmente nas regiões da Planície Costeira Externa e Zona Sul. Já para o pulgãoda-raiz, praga frequente na Fronteira Oeste e Campanha, o excesso de chuvas não foi favorável ao desenvolvimento desta praga, diminuindo a infestação e os prejuízos.

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SAFRA 2009/10 Em todas as regiões, a população do percevejo-docolmo foi elevada, especialmente nos meses de dezembro a fevereiro, quando as lavouras estavam entrando na fase reprodutiva. A partir desta fase, a dor de cabeça foi provocada pelo percevejo-do-grão, cuja presença foi muito superior à da safra anterior, demandando, em alguns casos, mais de uma pulverização para o controle. A preocupante lagarta-da-panícula, conhecida causadora de prejuízos nas regiões da Campanha, Fronteira Oeste e Depressão Central, avançou para as regiões da Planície Costeira Externa e Interna, sendo percebida pelos produtores principalmente nas lavouras mais tardias, colhidas no mês de abril. A bicheira-da-raiz persistiu nas lavouras que não usam alguma forma de tratamento. Entretanto, não causou preocupação ou prejuízo para a maioria dos produtores, que atualmente têm no tratamento de sementes uma garantia de controle eficiente.

Safra 2009/10 teve poucas perdas significativas por doenças Em outubro de 2009 foi confirmado que o evento El Niño poderia determinar condições favoráveis à ocorrência de doenças acima do normal esperado, diante da previsão de um maior número de dias nublados e elevada umidade relativa do ar. Face ao cenário prognosticado, foram adotadas, especialmente nas regiões com histórico de ocorrên-

cia de brusone, recomendações de controle preventivo, como uso de cultivares resistentes e aplicações preventivas de fungicida. De forma geral, o produtor ficou atento, e fora alguns casos, o resultado foi uma safra com poucos testemunhos de perdas significativas de lavouras por incidência de doenças. Em algumas regiões, como a Campanha e o Litoral Norte, a incidência de brusone foi verificada ainda no estágio vegetativo da cultura, assim como a mancha parda, na Depressão Central. Tal situação gerou certo alarmismo, prevendo-se um drástico aumento das aplicações sequenciais de fungicidas. Com o passar da safra, as condições favoráveis à ocorrência de doenças retornaram ao normal esperado. Aqueles produtores que preconizaram pelo monitoramento, controle dos focos de doenças e uso de cultivares recomendadas, mantiveram os custos do controle dentro do normal. De maneira geral, o resultado esperado foi confirmado, de forma que as maiores perdas de produtividade e os maiores gastos com fungicidas foram verificados nas lavouras semeadas tardiamente, com cultivares suscetíveis à brusone. Como diferencial nesta safra, foi observado o aumento das doenças de colmos e bainhas (destacandose Sclerotium oryzae, Sarocladium oryzae e Rizoctonia solani), especialmente em regiões de solos mais férteis da Depressão Central e Fronteira Oeste, nas cultivares com maior acúmulo de biomassa. Também nas lavouras semeadas tardiamente foi observada maior incidência de Falso-Carvão. Como estas doenças ainda carecem de informações básicas de epidemiologia, diagnose e manejo, foram comuns os relatos de estratégias de manejo que acarretaram em ineficaz controle.


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