11º Fórum Nacional do Milho

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Milho e Proteínas Animais

11.03.2019 às 14h no Auditório Central da

Expodireto/Cotrijal em Não-Me-Toque/RS.


COM A PALAVRA, O PRESIDENTE O Instituto de Pesquisa Gianelli Martins, entidade privada com decreto estadual de Utilidade Pública, tem por objetivo central contribuir para o aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direito, das nossas instituições públicas e dos mecanismos de participação das entidades civis nas discussões dos temas centrais que dizem respeito ao desenvolvimento da nossa sociedade. A história do IGPM é marcada pela realização dos eventos que discutiram os marcos legais do Direito Agrário, Educacional, Desportivo, assim como o aprofundamento dos temas ligados à gestão pública, entre outros tantos que já foram objeto de abordagem específica. As contribuições científicas que esses debates produziram, colocaram as publicações do IGPM como referência em variados meios acadêmicos. Desta feita o Instituto de Pesquisa Gianelli Martins, seguindo a sua tradição, tem a grata satisfação de anunciar que agregou aos seus quadros uma das personalidades mais marcantes no cenário da gestão pública e do agronegócio no Brasil. Odacir Klein, que dispensa apresentações, passa a integrar a equipe do IGPM com o missão imediata, em parceria com o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal – FUNDESA, viabilizar, organizar e coordenar a 11ª edição do Fórum Nacional do Milho, durante a realização da Expodireto/Cotrijal.

Decio Gianelli Martins, Presidente do IPGM

A edição deste Volume da Revista Panorama é etapa preparatória do Fórum Nacional do Milho, pois condensa as preocupações centrais das principais entidades, públicas ou privadas, nacionais e regionais – envolvidas na cadeia do milho e que tem preocupações comuns que devem e precisam ser explicitadas e discutidas aberta e democraticamente, por todos os setores. Desejamos muito sucesso para essas novas parcerias e que a 11ª edição do evento seja produtiva. A produção intelectual, os resultados dos debates e as manifestações públicas oficiais do evento serão tornadas públicas pela edição seguinte desta publicação.


Apresentação Odacir Klein

Esta revista não visa a apresentar conclusões. Cumpre o papel de transmitir opiniões para ensejar debates e propostas com desdobramentos consequentes e resultados positivos. As indústrias do setor da produção de proteínas animais do Rio Grande do Sul manifestam reiteradamente a preocupação com o fornecimento de milho destinado às rações. Entendem que no estado há condições para atingir a autossuficiência, mas que a produção gaúcha é significativamente inferior à demanda, chegando a ocorrer a necessidade de compra de outras unidades da federação ou do exterior de até 2 milhões de toneladas por ano. O Instituto de Pesquisa Gianelli Martins – IPGM – e o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal – FUNDESA – estabeleceram uma parceria para promover aprofundado estudo das possibilidades institucionais garantidoras de preços ao produtor e de fornecimento do grão ao criador de animais que são entregues às indústrias. A parceria incluiu, para o cumprimento de uma das etapas do trabalho, a Expodireto/Cotrijal, que anualmente mantém em sua programação um Fórum Nacional do Milho. Neste ano, ocorrerá a 11ª edição, que será realizada na parceria IPGM/FUNDESA. Ao FUNDESA não incumbe apenas a preocupação com a sanidade animal, mas o sucesso dos criadores e das indústrias. Para preparar este trabalho, opiniões foram buscadas e sugestões foram apresentadas. Desde logo ficou constatado que a solução é menos dependente de questões

jurídicas e mais da necessidade de políticas públicas que garantam recursos para a aquisição de milho na época da colheita e armazenagem durante todo um ano. A interação entre os elos da cadeia produtiva representantes da iniciativa privada também é fundamental. Representantes da Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Cosuel - que se dedica acentuadamente à produção integrada de proteínas animais - visitaram o IPGM para discutir o assunto e demonstraram que não há óbices jurídicos para aquisições antecipadas do grão. Salientaram que os custos com transporte do milho proveniente de outros estados tira a competitividade da avicultura e da suinocultura gaúchas. No entanto, apresentaram ponderações importantes, dentre as quais a carência de armazenagem para o recebimento simultâneo da quantidade de milho necessário para abastecimento dos plantéis durante todo o ano e a falta de financiamentos estimuladores de tais aquisições. Insistiram na necessidade da busca de m aior produtividade na prim eira s afra e possibilidade de produção em segunda safra. Foram categóricos na afirmativa de que a falta de capacidade para armazenagem é um estímulo às exportações do grão. No mesmo sentido, dirigentes da Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial – que recebe milho de seus associados para comercialização - afirmaram que não há óbice legal à celebração de contratos de compra e venda

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futuros entre a cooperativa e os destinatários do milho. Ressaltaram, no entanto, as dificuldades de recursos para estocagem. Os argumentos foram repetidos e ampliados por diversas outras entidades – ABPA, Apromilho/RS, FETAG/RS, Farsul, Fecoagro/RS, Acergs, ACSURS e Grupo De Heus - cujas opiniões estão transcritas nesta revista. O 11º Fórum Nacional do Milho permitirá que o assunto seja debatido pelos agentes da iniciativa privada entre si e com os representantes do poder público. Cumprida essa etapa, será feita uma resenha dos resultados, que será distribuída para as entidades que compõem a cadeia produtiva do milho, com sugestões de medidas a serem implementadas e políticas a serem adotadas. Abrir-se-á um período para que as entidades se manifestem, encaminhando suas sugestões para o e-mail: contato@forumdomilho.com.br. Uma redação final será proposta e enviada aos interessados para a aprovação definitiva em evento que será realizado em Porto Alegre, em data a ser marcada.

DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE MILHO

Poderão constatar que não houve apresentação de sugestões pelas entidades institucionalmente representativas das indústrias da avicultura e da suinocultura, que são as maiores interessadas na autossuficiência no abastecimento de milho no Rio Grande do Sul. Tais entidades, via FUNDESA, estão agindo em parceria com o IPGM e desejam concorrer buscando mecanismos que estimulem o processo interativo visando a soluções para todos os interessados. Pelas informações e sugestões já apresentadas constata-se a preocupação com infraestrutura e logística para abastecimento de milho na região Sul, sendo que no Rio Grande do Sul a primeira delas é a armazenagem. Esta revista, apresentada no 11º Fórum Nacional do Milho, é uma etapa no desenvolvimento de um projeto que até o final de abril deverá estar concluído, para ser definitivamente apresentado. Com as opiniões e sugestões que serão recebidas, esperamos dar uma significativa contribuição com vistas ao assunto. Interajamos, para integrarmos.

• Milho safra 2018/19 • Rio Grande do Sul

2ª Safra (Safrinha)

1ª Safra

Área plantada (ha) 2000/01 2001/02 2002/03

2008/09

39% 39%

61%

54%

46%

2012/13

2015/16

64% 61%

39% 31% 30%

0.2

• A própria Emater informa que a colheita demonstra que a previsão será superada.

60%

40% 36%

• Conab: 5.701,0 - dados de fevereiro/2019

69%

• IBGE: 5.372,4 - dados de janeiro/2019

70% 0.4

0.6

Source: Conab Historical Series - updated February 6,2018

04

Fonte: Emater/RS - ASCAR

58%

42%

2013/14

6.807

34%

66%

2011/12

Produtividade (kg/ha)

32%

61%

2010/11

0.0

29%

71% 68%

2009/10

5.024.074

25%

75%

2006/07

2017/18

22%

78%

2007/08

Produção (t)

25%

75%

2005/06

2016/17

27%

73%

2004/05

738.074

18%

82%

2003/04

2014/15

15%

85%

0.8

1.0


Milho: logística pela segurança alimentar do País Francisco Turra, Presidente da ABPA

O mercado é implacável, especialmente quando falamos de milho. Nos períodos de baixa oferta, produtores acumulam ganhos históricos. Atraídos pelo bom preço, novos entrantes elevam os estoques do grão e, na rota contrária (excesso de oferta), o risco de perdas é elevado. Os produtores de aves, suínos e ovos vivem o mesmo vaivém, porém em sentido inverso. A alta oferta do cereal significa melhor capacidade competitiva. Já a elevação descontrolada dos preços pode ser mortal para várias empresas. Nesta conta, o clima é o fator preponderante. Os ciclos de elevada estiagem têm comprometido a produtividade de importantes polos produtores. Quebras de safra se tornaram recorrentes. Ao mesmo tempo, a competição pelo milho torna ainda mais difícil a segurança no abastecimento interno. A elevação da demanda internacional não impactou apenas o preço, como também dificultou o aceso em determinados períodos de escassez. Esta é uma equação que envolve incontáveis fatores, e que coloca em jogo centenas de milhares de postos de trabalho. A previsibilidade dos insumos é primordial para a sustentabilidade estratégica das agroindústrias do setor de proteínas, que depende de vários insumos – em especial, de milho e soja. Isto ficou ainda mais evidente nos últimos ciclos de alta do grão, em 2016 e 2018. A saúde financeira de empresas e cooperativas do setor de proteínas foram impactadas nestes períodos. O Brasil é um grande produtor e tem capacidade de suprir plenamente a demanda interna, além de exportar. Quando o efeito câmbio torna o mercado internacional mais atraente e eleva os preços à padrões inacessíveis, é preciso reagir para evitar a piora do quadro. Foi com o objetivo de reduzir os danos causados pela escassez que a ABPA constituiu um Grupo de Trabalho que vislumbra, entre outros pontos, otimizar a capacidade de obtenção do grão. Composto pela diretoria de relações institucionais da entidade e por diretores de agroindústrias de aves e de suínos, o GT do Milho (como foi batizado) busca construir soluções conjuntas nos períodos de falta de insumo. Entre as estratégias gestadas pelo GT estiveram a importação

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de milho de dois grandes produtores, que também são vizinhos dos polos de produção do Sul (região mais severamente impactada nos períodos escassez): a Argentina e o Paraguai. Ambos são grandes produtores e destinam partes generosas de sua produção para o mercado internacional. O caso do Paraguai é o mais enfático: das quatro milhões de toneladas que produz anualmente, três milhões é exportada. Pela proximidade geográfica, há momentos em que a importação é mais vantajosa que o abastecimento a partir do mercado interno – isto, especialmente para gaúchos e catarinenses. Outra iniciativa que ganhou força com a Associação Catarinense de Avicultura e a Secretaria da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina foi a constituição de um corretor de milho proveniente do Paraguai via aduana de Dionísio Cerqueira – uma via fortemente utilizada pelas cooperativas e agroindústrias do Estado.

mercado doméstico da região Sul. Este diagnóstico constrói um mapeamento dos fluxos de abastecimento e identifica custos logísticos, sazonalidade, gargalos e a infraestrutura utilizada, como a armazenagem e outros pontos. O objetivo final é a proposição da construção de um ramal ferroviário para levar milho do Centro-Oeste para SC e RS. Os avanços do GT do Milho da ABPA mostram que a logística pode ser o escudo do setor frente às intempéries do mercado. O fortalecimento deste trabalho supera os portões dos abatedouros: é uma estratégia de garantia de suprimento e de proteção à segurança alimentar do País, reduzindo os impactos das oscilações de custo na carne de frango (a mais consumida pelo brasileiro), a carne suína e o ovo.

Foram passos importantes, mas o GT quer ir além. Em parceria com a Esalq/USP, será executado um diagnóstico da logística do milho no

Entraves e opções para cultura do milho no Rio Grande do Sul Ricardo Meneghetti, Presidente da APROMILHO-RS

A APROMILHO-RS, juntamente com a Câmara setorial do Milho-RS e demais elos da cadeia, tem se preocupado, além da quantidade, com a qualidade do milho produzido no Rio Grande do Sul. Alguns estudos apontam presença de Aflatoxina, em nível superior ao tolerado por recomendação, fato este que, além de questões sanitárias, aumenta o custo com a utilização de “sequestrantes” de Aflatoxina por parte das empresas formuladoras de rações, fator, entre outros, que ajuda a reduzir o preço do cereal pago ao produtor. Este problema decorre principalmente do processo de secagem e armazenamento deficientes, por parte dos agentes recebedores do grão devido à pouca capacidade estática e de secagem de milho com umidade acima de 25 a 28%, no período de colheita

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(grande volume de produto concentrado em período curto de tempo). Uma solução aventada seria o não recebimento do grão com uma umidade superior a 20/22%. Esta ideia esbarra na condição que o produtor tem de fazer a segunda safra na mesma área, pois se o grão for colhido com esta umidade (20/22%), o agricultor fatalmente perderá a melhor época de plantio da segunda safra. Caso este procedimento vigore (não recebimento de grãos com umidade superior a 20/22%) fatalmente não só não teremos aumento de área, como também teremos diminuição da área plantada com milho no Rio Grande do Sul, (que já é insuficiente), visto que o produtor se dedicará a outra cultura com menor custo de implantação, menos arriscada, maior liquidez e com preços balizados por bolsa internacional, no caso a soja. Nas últimas safras o produtor tem colhido e vendido com facilidade, mas certamente isso não ocorrerá se tivermos um aumento da área plantada e oferta de produto. Uma sugestão é a viabilização de acesso a linhas de crédito (automático e rotativo) para financiar a estocagem da produção, especialmente em momentos de dificuldade de liquidez. Esta linha de crédito deveria ser disponibilizada pelos bancos oficiais, no caso, B a n r i s u l ( e x e m p l o ) . E s t e p ro g r a m a d e v e necessariamente ser uma política de “estado” e não de “governo”, aprovado pela assembleia legislativa (segurança jurídica) a exemplo do programa TrocaTroca de sementes que é gerido pelo FEAPER. Neste caso, como programa de “estado”, mudanças ou suspensões só serão possíveis via aprovação pelo Legislativo.

As questões de logística (tabela de frete, estradas, vias navegáveis, transporte via ferrovias, capacidade portuária etc.) são de conhecimento de todos. Tudo isto impacta no custo e valor recebido pelo produtor. Também nos preocupa a hipótese de adotarmos no Rio Grande do Sul o vazio sanitário para soja, que é adotado nos estados do centrooeste do país. Nossas condições climáticas são completamente diferentes do clima da região central do Brasil. Nossa “Ferrugem Asiática” vem preponderantemente do Paraguai e regiões ao oeste do Brasil central. Temos, portanto, outras condições ambientais (inverno rigoroso, por exemplo). Se esta prática for adotada no Rio Grande do Sul, fatalmente perderemos a oportunidade de segunda safra. Cairemos na mesma situação exposta anteriormente e o produtor de milho certamente migrará para soja. Hoje temos muitos agricultores irrigantes que, por questões econômicas, garantias de preços e de liquidez deixaram de produzir milho em suas áreas irrigadas. Se conseguirmos viabilizar políticas de preços, estabilidade de comercialização e condições de concorrência com o produto de origem externa, aliadas com “seguro da renda do produtor”, conseguiremos resgatar estes produtores e suas áreas para o cultivo de milho novamente, elevando, a baixo custo, a produção de milho no estado.

Este programa seria destinado aos produtores, portanto, viabilizando ao agricultor secar e armazenar seu produto na própria fazenda, diminuindo riscos com a qualidade do produto e melhorando a condição de comercialização por par te do produtor, trazendo benefícios a toda cadeia. Cooperativas/Cerealistas/Indústrias devem buscar seus programas. Se tivermos a mesma linha de crédito para os Produtores e Cooperativas/Cerealistas/Indústrias, o volume de recursos será muito mais alto, aumentando Riscos/Taxa de Juros, ficando o produtor na mão dos intermediários que terão mais força, através de influência política e econômica.

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A produção de Milho no RS são os cabelos

Antônio da Luz, Economista-chefe do Sistema FARSUL

A maior parte do consumo de milho para ração no Brasil se dá numa espécie de “cinturão” que compreende a metade norte do Rio Grande do Sul e vai até a metade Sul do Paraná. Várias são as razões para o estabelecimento de indústrias produtoras de carnes nessa região, mas certamente a proximidade da matéria-prima e dos principais centros consumidores do país ocupam confortavelmente o topo da lista de motivos. Mas como todos nós sabemos, esses posicionamentos podem mudar e mudam toda a hora. Quando essas escolhas foram feitas não havia produção significante no Centro-Oeste do país como há hoje. Produção em segunda safra então, nem se fala! Mas a “conquista” daquela região – com grande protagonismo de produtores que saíram do “cinturão” – deu ao país não apenas uma enorme safra adicional, mas outra que começou como safrinha e hoje é uma safrona, por mérito daqueles que conseguiram esse feito e deixaram, como legado, uma produção com custo bem mais baixo na safrinha. Se pararmos para pensar, o que motiva a maioria das indústrias a se manterem na Região Sul é a logística para levar o produto para os grandes mercados consumidores. Eu não tenho nenhum prazer em perceber isso, mas é importante sabermos que quando o país contar com infraestrutura adequada, a dinâmica da economia levará as indústrias para o Centro-Oeste para ficarem do lado da maior produção de milho. Entretanto, isso será no futuro. Hoje o país sequer concluiu as obras da Copa de 2014, as indústrias estão majoritariamente na Região Sul e precisam de fornecimento de milho local e do Centro-Oeste, para mover essa imensa produção de carnes da qual todos nós nos orgulhamos. Mas para o milho vir do Centro-Oeste ele também enfrenta a infraestrutura “Made in Brazil”, tornando o produto que é produzido mais barato simplesmente mais caro às indústrias, por força do acréscimo do custo

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do frete. Ou seja, a competitividade que eles teriam é perdida no caminho, tornando o custo logístico uma doença grave que exige medidas enérgicas. Porém o Brasil não é um país de medidas enérgicas. Somos muito mais afeitos a remendos e jeitinhos, lidando com as consequências e não com as causas. Ao invés de resolver o problema, o Brasil gasta a imensa maioria do seu orçamento para Garantia de Preço Mínimo de todas as culturas em uma só: no milho, sobretudo do Mato Grosso, através de subsídios que tornam o produto que chegaria aqui caro, mais barato que o produzido em primeira safra aqui, nivelando os preços de mercado abaixo do custo de produção verificados no Sul. Os produtores daqui não são bobos. À medida que olham os preços de mercado do milho abaixo do seu custo - pela consequência das pesadas intervenções governamentais – eles simplesmente param de produzir milho e migram para soja. Se esperava o quê? Que eles amargassem prejuízos? As vezes ouço críticas inadequadas endereçadas aos produtores do Sul. Ora que não respeitam a rotação de culturas, ora que encolheram a área plantada de milho para plantar soja... Há dois ou três anos atrás, quando houve a última quebra no Centro-Oeste, chegou-se ao cúmulo de culpar os produtores do Sul pelo desabastecimento. Ou seja: ano após ano o setor junta forças para pressionar o governo para mais subsídios ao milho do CentroOeste, desestimulando a produção local, aí quando há problemas na produção de lá culpam o desinteresse dos produtores daqui. Cada elo da cadeia precisa buscar o que é melhor para si, mas todos precisam entender que todo o subsídio tem efeitos colaterais. A falta de infraestrutura para o transporte de grãos é uma doença, os subsídios o remédio quimioterápico e produção no Sul os cabelos.


Milho... semear, cultivar e transformar! Paulo Pires, Presidente da FECOAGRO/RS

Inegavelmente, diante ao novo posicionamento de oferta do milho no Brasil, e que repercute no abastecimento e limita competividade para o setor agroindustrial no nosso Estado, nos impõe necessários ajustes. Na medida em que as cooperativas defendem a preservação com a ampliação do cultivo do milho no RS, guardam relação direta com o entendimento da necessidade de estabelecer um enfoque sistêmico na produção de grão no RS, que contemple a rotação de cultura no período de verão. Há, de muito tempo, indicativos técnicos que sustentam essa afirmação, consolidados por inúmeras pesquisas. O avanço tecnológico i m p u l s i o n a d o s o b re a c u l t u r a d o m i l h o , especialmente às áreas destinadas à comercialização de grãos, com destaque especial ao crescimento de áreas irrigadas, tem viabilizado a decisão do produtor na inclusão do cultivo no sistema de produção. Portanto, partimos da premissa de que, não apenas a oportunidade eventual de negócios deve orientar a decisão do produtor, mas sim a necessidade de incluir a cultura no sistema de cultivos para garantir sustentabilidade de forma perene. Obviamente, este é o cenário ideal, no entanto temos ciência de que a decisão é soberana e cabe ao produtor, e que em sua avaliação considera fatores conjunturais de mercados, fluxo comercial e liquidez, bem como fatores de mitigação de risco, elementos esses que ao nosso ver atualmente se apresentam fragilizados para a orientação no sentido da ampliação de área e de produção. E, é nesse ambiente que devemos

transitar com entregas de políticas públicas, com acordos comerciais estruturados e com cabedal de serviços, que definitivamente permitam definir a oportunidade ao produtor. O engajamento dos segmentos que interagem com a oferta do produto, especialmente na atenção às demandas endógenas ao Rio Grande do Sul, requer um aprimoramento no diálogo de concertação, na medida do alcance de cada parte, a romper com as atuais e reconhecidas barreiras à necessária expansão e dinâmica de suprimento. Não obstante a isso, é fundamental considerarmos que os instrumentos de comercialização e de mercado para o milho, estruturados pela matriz de consumo no nosso Estado, têm limitado a expansão de área ou até mesmo a disponibilização de produção líquida a atender a demanda pelas agroindústrias de transformação proteína animal. Clara é a possibilidade de garantir suprimento interno, no entanto, as ações diretas que o garantem deverão vir adicionadas a um conjunto de ações transversais que integradas possam estruturar a balança de oferta e demanda, com o equilíbrio necessário às partes. O papel das cooperativas agropecuárias, diante ao exposto não deve se afastar ao enfrentamento dessa realidade, que entendemos ser complexa, mas guarda igualmente re s p o n s a b i l i d a d e e m i n te g r a r a ç õ e s q u e efetivamente nos retirem da idiossincrasia atual e nos remetam a uma nova dinâmica no estabelecimento do equilíbrio na cadeia do milho.

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Contratos futuros fixando preço

Valdecir Luis Folador, Presidente da ACSURS

Segue o posicionamento da ACSURS quanto ao tema em questão: Ÿ O Milho deixou de ser atrativo economicamente, diante dos preços da soja. Ÿ O produtor só vai plantar mais milho se ele for ganhar mais do que com a soja. Ÿ Há necessidade de políticas públicas estimuladoras do plantio. Ÿ Indústrias integradoras e cooperativas de suínos, aves e leite precisam trabalhar com contratos futuros, estabelecendo e fixando preços para que os produtores tenham maior interesse no cereal em discussão.

Incentivo à compra da produção pela indústria local Carlos Joel da Silva, Presidente da FETAG-RS

No estado do Rio Grade do Sul cerca de 80% do milho produzido é demandado pelos setores da avicultura e suinocultura que são cadeias de extrema importância social e econômica em nosso estado, principalmente para os agricultores familiares. Na cadeia leiteira, o milho que é destinado a produção de silagem não demonstra problemas significativos pois é de demanda interna da propriedade sendo consumido quase que exclusivamente na produção leiteira. Porém, a falta de ofertas do grão pode afetar negativamente no preço da ração utilizada na suplementação da dieta do gado leiteiro.

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Dados apontam que, nos últimos 10 anos a demanda do grão, vem sendo superior a produção, ao mesmo tempo que ocorre um declínio na área plantada. Esse declínio é decorrente da baixa competitividade de preço do milho frente a soja, diferente da soja o produtor não tem garantia de preço futuro na hora da venda, desestimulando a decisão pela cultura do milho na hora do plantio. A FETAG-RS entende que são necessárias ações estruturantes e conjuntas para aumentar e estabilizar a produção de milho no Estado, começando pelo incentivo de compra da produção

pela indústria local e o retorno de um programa de incentivo e fomento a irrigação. Um bom exemplo de fomento a cultura é o programa “ Troca-Troca” que garante o fornecimento de sementes a um custo mais baixo, através do subsídio do programa, o produtor tem uma diminuição dos custos de produção. Sem essa política pública o atual cenário poderia estar ainda pior.

Armazenagem: estímulo às operações entre cerealistas Vicente Roberto Barbiero, Presidente da ACERGS

Entendemos que a agroindústria deveria participar na formação do preço futuro no momento da tomada de decisão pelo produtor quanto ao plantio. Isso daria ao mesmo a possibilidade de planejamento com base em custos e margem de receita pré-definidos. Outro aspecto relevante diz respeito à defasagem na capacidade de armazenagem no RS, um problema histórico e de conhecimento público. Os ciclos produtivos acelerados fazem com que os produtos de safras anteriores necessitem de rápida comercialização, objetivando abrir espaços nos armazéns. Como a agroindústria não consegue absorver toda a produção quando ela chega e a venda de milho de um cerealista para outro, dentro do RS, recebe incidência de ICMS, PIS e COFINS, o caminho da exportação é inevitável, pois operações de compra e venda entre estes comerciantes, face aos impostos, torna-se inviável. Caso fôssemos contemplados com diferimento desses impostos nessas operações entre cerealista o produto não sairia do RS, não carecendo ser trazido de volta nos momentos de necessidade, com todas as implicações. Essa simplificação tributária, o diferimento, permitiria o remanejamento de produtos de um local para outro, abrindo os espaços necessários em armazéns, em um ajuste natural do mercado. Existem cerealistas com maior capacidade estática de armazenagem que outro, o que lhes permitiria adquirir o produto de empresas menores para vender na época apropriada, mantendo o milho no RS.

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Grupo De Heus

Henrique Fernandes, Diretor de Operações

Recentemente, o World Resources Institute divulgou um estudo sobre como alimentar, de forma sustentável, 10 bilhões de pessoas em 2050. Nesse levantamento, a perspectiva é que de 2010 a 2050 será necessário aumentar a produção de alimentos em 56% para atender o crescimento populacional e o aumento de consumo per capita. Essa meta já é suficiente para determinar as ações que precisam ser feitas de imediato para alcançar este objetivo desafiador. Todos nós sabemos que o Brasil tem um papel fundamental nessa futura demanda, tanto na produção de proteínas animais, bem como nos produtos agrícolas. Paralelo ao volume, nosso país também contribui com a maior qualidade de seus produtos no cenário mundial. Regionalmente, os estados do Sul são responsáveis por grande parte dessa produção de alimentos, seja na cadeia de monogástricos ou ruminantes. Para assegurar a manutenção e crescimento das produções pecuárias é necessária a constante discussão sobre como manter o abastecimento e garantir o ambiente economicamente viável dos insumos para as rações e, entre eles, o milho continuará tendo seu papel preponderante nas formulações. Dentro do cenário atual, algumas práticas devem ser observadas:

Ÿ Intensificação do uso de tecnologias em nutrição, genética e melhores práticas, aumentando a eficiência na conversão alimentar, utilizando, assim, menos insumos por kg de proteína animal produzida.

Ÿ Otimização dos custos logísticos para transporte do milho de grandes regiões produtoras, como Centro-Oeste brasileiro, entre eles, destacando o uso de modais de transporte de baixo custo como ferroviários, hídricos ou a combinação dos mesmos.

Ÿ Negociação entre os estados produtores e consumidores de políticas tributárias que promovam um ambiente de

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negócios que permita o reinvestimento nas atividades, seja através de benefícios fiscais ou mesmo a possibilidade de negociação de créditos de ICMS. Paralela a importantes reformas como a da Previdência, a Reforma Tributária também é fundamental para o crescimento da nossa economia.

Ÿ Aumento de uso do milho e outros produtos advindos de mercados internacionais como Paraguai. Para tanto, a desburocratização das fronteiras é essencialmente necessária para que o fluxo logístico seja o mais eficiente possível, com maior agilidade e com menores custos, tal como observamos na União Europeia.

Ÿ Estudo sobre o desenvolvimento de um incentivo fiscal no estado do Paraná para que o milho

originado e processado no estado tenha um “prêmio” nas vendas internas, de forma que a competição com os portos seja mais justa e que a lucratividade da atividade esteja no mesmo patamar das negociações de exportação. Para a De Heus, o mercado brasileiro é de grande importância para sua missão de colaborar na alimentação global levando tecnologia, relação de confiança e espírito empreendedor aos mercados em que ela está presente.


Instituto de Pesquisa Gianelli Martins O Instituto de Pesquisa Gianelli Martins (IPGM) tem como finalidade a qualificação de profissionais nas quais diversas áreas, em especial na área jurídica e de gestão de pessoas. Para tanto, busca fomentar a produção intelectual através de grupos de estudo e pesquisa, publicações, eventos, encontros científicos e consultoria acadêmica. Conheça um pouco do trabalho desenvolvido pelo Instituto.

Para conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido pelo instituto, acesse nosso site:

www.ipgm.org.br


• CURSOS • Ÿ Curso o Novo Regime das Licitações, das Contratações

Diretas e dos Contratos das Empresas Públicas e das Sociedades de Economia Mista Ÿ Treinamento de Administradores de Empresas Públicas e

Sociedades de Economia Mista em face da lei nº 13.303/16 Ÿ Concessões e Parcerias Público–Privadas Ÿ Curso Regimento Interno da Assembleia legislativa RS Ÿ Curso Processo Legislativo Ÿ Curso de Técnica Legislativa Ÿ Como Prevenir, Gerenciar e Proteger sua Marca das Crises

de Imagem Ÿ Comunicação Interna Estratégica Ÿ Media Trainning Ÿ Lei de Responsabilidade Social Ÿ Lei dos Crimes Fiscais Ÿ Controle da Execução Orçamentária Ÿ Controle do Patrimônio Público Ÿ Curso para prepostos Ÿ Implementação e Consequências do e-social nas Relações

Trabalhistas Ÿ Tomada de Contas Especial Ÿ Contas de Governo e Contas de Gestão Ÿ Empreendedorismo: Inovação e Marketing Ÿ Planejamento Estratégico e Logística Ÿ Compliance – Fundamentos Gerais Ÿ Compliance em Setores Específicos Ÿ Curso de Governança na Administração Pública - Uma

Nova Proposta de Gestão Pública Compartilhada Ÿ Revisando o Orçamento da Cidade – Captação de Recursos

por Meio de Leis de Incentivo Fiscal e Parcerias


Milho e Proteínas Animais Não Me Toque/RS - 2019 -

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