Revista Avesso

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AVESSO A moda vista de outro lado


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REVISTA

AVESSO Proposta de publicação editorial desenvolvida por alunos do 3º ano, 6º período, do curso de Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Bauru. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Reitor: Sandro R. Valentini Vice-reitor: Sérgio R. Nobre

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Diretor: Prof. Assoc. Marcelo C. Carneiro Vice-diretor: Profª Drª Fernanda Henriques Departamento de Comunicação Social Chefe: Profª Drª Roseane Andreli Vice-chefe: Prof. Dr. Antônio F. Magnoni Curso de Jornalismo Coordenação: Profª Drª Angela M. Grossi Vice-coordenador: Prof. Dr. Maximiliano M. Vicente Jornalismo Impresso III Professor: Prof. Assoc. Mauro de S. Ventura (MTB: 6235) Planejamento Gráfico-Editorial Professor: Profª Drª Vivianne L. Cardoso (MTB: 31.710) Discentes Bru Vatiero, Isabela Almeida, Isabelle Tozzo, Julia Bergamaschi, Laura Gallinari, Leandro Gonçalves e Leonardo Oliveira

Editorial Avesso. Virar uma peça ao contrário para analisar se a costura foi bem feita. Pensar o mundo ao inverso. Buscar um novo olhar para o que estamos acostumados. Questionar o tradicionalismo. Refletir o futuro.

Engana-se quem pensa que moda é fútil. Moda é arte. Moda é política. Moda é economia. Moda é meio ambiente. Moda é autoestima. Moda é identidade. Moda é ancestralidade. A moda faz parte de diversas esferas do nosso cotidiano e refletir sobre ela é essencial. A Avesso surge em contramão às revistas de moda tradicionais. As passarelas das semanas de moda pelo mundo não são nosso foco. As tendências e o que será trend na próxima temporada pouco nos importa. Queremos saber quem fez nossas roupas e de onde vêm o tecido que usamos. Valorizamos o pequeno produtor e as artesãs brasileiras. Nos importamos com a sustentabilidade de nossas roupas e se tudo o que as envolve é livre de crueldade humana e animal. Bem-vinde à Avesso e aproveite a leitura. Isabelle Tozzo.


Índice 08 • 10 • 14 • 16 • 26 • 28 •

34 • 38 • 40 • 50 •

56 •

62 • 66 • 72 • 78 • 82 • 86 • 88 • 92 • 102 • 104 •

Reduzir para valorizar O barato é customizar Onde estão as costureiras? Editorial de Vestuário A moda é o lacre Pagar é bom, entender o preço é melhor ainda História da Moda Íntima Feed, prazer e aceitaçãosob rendas Editorial de Moda Íntima Mostra aí o que você esconde embaixo das calças

Estilo A-gênero Vestir político Como perder o medo de mudar o cabelo? Mulheres comuns: diversidade nas passarelas urbanas Autoestima e identidade, o look perfeito Perfil do Estilista Ingredientes nocivos em cosméticas: perigo ou histeria? Corte de cabelo e movimentos sociais Editorial de Vestuário A pele que habito Como fazer uma limpeza de pele em casa?

108 • Veganismo: um movimento essencialmente político 110 • Veganize 112 • Slow Fashion

06 • Vestir

32 • A sós

54 • Persona

84 • Espelho

106 • Cotidiano


Vestir

A seção de vestuário da Avesso.



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Reduzir para valorizar

Como funciona o processo Slow Fashion de marcas brasileiras Por: Julia Bergamaschi Por muito tempo, moda e sustentabilidade foram assuntos que não convergiam entre si. A forma de produção desenfreada e em larga escala, levantou questionamentos entre estilistas e consumidores a respeito da voracidade com que consumimos os diversos produtos dessa grande e importante indústria. Em meados dos anos 2000, movimentos contrários a essas formas de consumo inconsciente começaram a crescer pelo mundo e dentre eles, nasceu em 2008 um conceito inovador e que prometia modificar a relação da moda versus consumo: O “Slow Fashion”. “Slow” em inglês significa “lento”, ou seja, uma vertente da moda mundial que visaria a produção e o consumo lento, desde a fabricação até a hora da compra. A principal intenção do “Slow” é justamente não produzir mais do que se precisa, para que não haja o desperdício de material e nem de produtos já prontos.

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De acordo com a designer de moda Mariana Tolino, a nova forma de repensar o consumo também deu espaço a alternativas mais sustentáveis como brechós, por exemplo. “A indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo, quando o Slow Fashion é criado, começamos a pensar não somente em comprar roupas dentro dessa vertente, mas também a comprar roupas que já existem, para que não seja preciso fabricar novas peças”. A designer também afirma que sua relação com grandes marcas mudou muito após ter conhecimento do quanto a indústria da moda tradicional desperdiça e polui. “Faz muito tempo que não vou em lojas de departamento em shoppings, por exemplo. Quando vou, é para comprar algo muito específico. Essas lojas de departamento Fast Fashion infelizmente não serão desbancadas pelas marcas sustentáveis por conta do valor, as pessoas ainda são levadas muito pelo preço.” E acrescenta: “Quando você vê os preços, percebe que a conta não fecha. Apesar de serem muito baratos, esses produtos não conseguem pagar a mão de obra (muitas vezes escrava), o material utilizado e nem o transporte até a loja. O Fast Fashion tem esse problema, você compra por ser barato mas a indústria não pensa em nada além do consumo.” Além da redução de resíduos poluentes e a garantia de um preço que cobre todo o minucioso trabalho dos designers, o “Slow Fashion” também é uma forma de incentivar marcas independentes que estão em ascensão. A marca slow fashion “T.O.S”, por exemplo, foi criada pela designer de moda Gabriela Tosetto. Além de valorizar a identidade de cada consumidor, a marca carrega consigo ideias totalmente sustentáveis, como a criação de etiquetas e cartões de visita com pequenas sementinhas fundidas ao papel reciclável, garantindo que mesmo havendo o descarte errado, o produto não irá prejudicar a natureza e poderá se transformar numa plantinha.


@t.o.s.marca

Para Gabriela, as maiores vantagens dessa vertente da moda são a geração de emprego para a cidade, a valorização dos produtos brasileiros (desde a fibra até o produto final) e o incentivo em utilizar matérias primas naturais. Mas como tudo isso é feito, na prática? A designer explicou passo a passo como são produzidos seus produtos, garantindo a união entre sustentabilidade e valorização de cada processo. “Eu trabalho sem estoque. Tenho a matéria prima e a mão do obra estocada e trabalho com mostruário. São poucos modelos (10 peças), que podem ser ajustados de acordo com o corpo. Por exemplo, tenho um macaquinho que é mais largo, ai a pessoa pode ajustar ou deixar a barra maior se quiser também. O processo é todo artesanal, feito em conjunto com as costureiras e o fornecedor de tecido.” Gabi acrescenta que hoje os grandes centros fabris que trabalham com o Fast Fashion, acabam impondo metas e produções absurdas, muitas vezes em condições de traba-

lho insalubre. O slow fashion vem em contrapartida disso: trabalha com a mão de obra justa, procura reduzir impactos ambientais e valoriza o que é nacional ou local. A forma como cada marca produz seus produtos varia. Algumas trabalham só sob encomenda, outras comprar as roupas já prontas mas realizam o processo de estamparia, o mercado slow fashion é muito vasto e cresce cada dia mais. A sociedade atual consome tudo em larga escala, desde alimentos até produtos de beleza, tornando o processo de compra e de identidade com os produtos muito escasso. Deixa-se de comprar por necessidade e passa-se a comprar pelo simples ato de consumir algo novo. O slow fashion vem crescendo nos últimos anos como um movimento que empodera pequenas marcas e garante um produto sustentável dentro de um meio de consumo consciente, refletindo a necessidade que surgiu no começo desse século de olharmos para o futuro com uma visão cada vez mais reflexiva.

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O barato e´ customizar! Entenda como o seu guarda-roupa pode dizer muito sobre você e veja que tem gente criando o próprio estilo Por Leandro Gonçalves

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ue atire a primeira pedra quem nunca perdeu minutos preciosos na seção de vestuário à procura “daquela” peça que seja a sua cara. Nesta busca quase implacável, que envolve uma garimpagem minuciosa de opções e várias provas de roupa, procuramos por aquilo que mais gostamos, que mais corresponde à imagem que queremos passar aos outros ou às nossas referências de moda. Porém, é a personalidade o fator determinante nesta equação. Afinal, trata-se de nossa característica mais íntima. Nesse sentido, a psicóloga junguiana Laura Rinaldi aponta que as roupas dizem muito a respeito de quem às vestem. Pois, por muito tempo, a vestimenta serviu para diferenciar as pessoas, seja em tribos ou classes sociais, por exemplo. “Hoje, vai além disso. É uma maneira de se comunicar, já que imprimimos nossa personalidade em nosso guarda-roupa”, explica. Sendo assim, cada peça, da blusinha ao jeans surrado, atua, portanto, como uma ferramenta de expressão da personalidade.

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Mas, não é sempre que encontramos uma peça ou composição que condiga com nossa personalidade ou, para falar de maneira mais direta, transmita quem verdadeiramente somos. Daí que, diante disso, muita gente recorre à personalização de roupas por meio da customização. Seja em casa ou com a ajuda de algum profissional mais experiente, há quem transforme peças comuns em verdadeiros artigos cheios de atitude e singularidade tendo em mãos tesouras, linhas e agulhas. Apaixonada por tudo que não seja atual, a pedagoga e artesã Karina Soares costumava recortar roupas antigas da mãe para transformá-las em novas peças. “Barras de veludo viravam blusas e bolsas costuradas à mão. Eram lindos por fora e terrivelmente acabadas por dentro!”, ri. A sorocabana conta que as criações logo conquistaram o gosto do público. Assim, ela procurou aprender a costurar na máquina de costura. O aprimoramento técnico e o gosto retrô levaram Karina a abrir seu próprio brechó no Facebook.


Chamado “É de retalho esse meu brechó”, a loja virtual de Karina buscou espaço em outras redes sociais. Hoje, a iniciativa soma 38,8 mil seguidores no Instagram,w onde a sorocabana pública quase que diariamente produtos entre roupas e acessórios. E não para por aí. A artesã ainda mantém um outro perfil, chamado “Minha Costura Arteira”, onde compartilha com mais de 3,7 mil seguidores confecções próprias, que transformam retalhos em peças com muito estilo. Com isso, a pedagoga não encontrou na customização de roupas apenas uma maneira de se expressar, mas também de levantar uma graninha. Porém, não são todos que têm a mesma facilidade em exteriorizar a personalidade através da vestimenta. “Regras, preconceitos e julgamentos podem reprimir alguns traços da personalidade. Porém, é preciso encontrar outros meios para canalizar esses traços, para que eles não nos prejudiquem internamente”, orienta Laura. Assim, a loja de Karina assume uma terceira função. A de servir como refúgio para quem compartilha dos mesmos gostos da sorocabana, mas que não consegue criar os próprios looks. “Garimpo peças vintage em bazares que mais tenham a ver com meu público e comigo mesma”, reitera. Assim, as customizações de Karina, que hoje se referem mais à restauração das peças que encontra, manifestam não só sua personalidade, mas a de seu público também. No entanto, Karina não é a única a ajudar as pessoas a se expressarem através das roupas. Em Bauru, São Paulo, uma imponente casa cor de rosa abriga a loja de moda feminina La Femme, especializada em customização de peças. A proprietária Monalisa Costa conta que a desconstrução e remodelagem de jeans e de abadás são os serviços mais procurados. “A maioria do público é composto por mulheres universitárias entre 17 e 25 anos, que costumam trazer referências do Pinterest”, detalha.

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“Minha personalidade está presente em tudo que toco” Karina Soares Aliás, ainda há como personalizar gastando pouco dinheiro. E quem dá a dica é a própria Karina. “Se a pessoa não sabe por onde começar, o YouTube está aí para mudar isso”, aconselha. Com a internet em mãos e com referências na cabeça basta apenas, segundo a sorocabana, não ter medo da tesoura, de cortar as peças ou de picá-las. Afinal, roupa é o que não falta - e tem muito brechó vendendo baratinho. “É barato ser consciente. Nosso planeta não tem mais espaço para as novidades que nosso consumismo exige”, provoca. Afinal, a customização de roupas alia a expressividade ao consumo consciente. ”Minha personalidade está presente em tudo que toco, nas peças que enxergo de longe pelo tecido, gramatura ou estampa que encontro em algum brechó”, afirma Karina ao explicar que reaproveita peças para tecer o próprio estilo, metaforicamente falando. “A customização transforma um vestido de trinta anos em uma peça mid, mais atual, que todo mundo gosta”, arremata, em reforço ao potencial de renovação trazido pela personalização de roupas. No final das contas, é o bem-estar que deve se sobressair. “A partir do momento em que colocamos uma roupa e nos sentimos confortáveis, podemos dizer que estamos materializando traços de nossa personalidade”, conclui Laura. Portanto, questionar se nos sentimos bem ou não com o que vestimos é um bom exercício para entender se estamos conseguindo nos expressar por meio de nosso guarda-roupa. Entender tal relação nos ajuda, também, a compreender um pouco mais sobre como lidamos com o mundo e com nossa autoimagem.

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Fotos cedidas por Karina Soares

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Onde estão as

costureiras? O trabalho que começa nas linhas e vai à vestimenta completa

Imagem: Reprodução/FreePik

Por: Laura Gallinari

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odo mundo já conheceu uma costureira. Se não era alguma tia da família, ou a avó, provavelmente era aquela vizinha da rua de trás ou uma conhecida da sua mãe. Se hoje em dia é fácil encontrar no Instagram pessoas que customizam roupas, é porque as costureiras passaram esse costume para frente. Mas atualmente, onde elas estão? Se você procura pelo serviço de uma costureira, dessas que reservam um cômodo da casa só para guardar os materiais de costura, provavelmente você só vai conseguir o contato dela através de outra pessoa; é à moda antiga mesmo, sabe? E por mais que existam profissionais que atuam com costura em lojas ou indústrias, a maioria ainda segue a linha mais tradicional, de trabalhar de forma autônoma. Aparecida Miranda (Cida), de 51 anos, conta que não tem parceria com nenhuma loja de tecidos ou algo da área. Ela explica que costura por conta própria há quinze anos, e que sua mãe também costurava no passado. “Eu organizo meu trabalho na ordem em que minhas clientes vem à procura de meus serviços”, explica, ao falar sobre sua rotina de trabalho. Além disso, ela afirma que hoje em dia, comparado ao passado, as pessoas buscam menos pelo serviço das costureiras. Ainda vale à pena? Mas isso não quer dizer que exista alguma desvantagem no trabalho dessas pessoas. Na verdade, de acordo com a costureira Claudines Nogara, 52 anos, pode ser até vantajoso buscar por quem costura: “Têm roupas que você não conseguiria comprar, porque não se encontra nas lojas”, afirma, reforçando também que as peças mais sofisticadas ficam mais baratas se você pedir para alguém fazer, além de que o modelo fica ao gosto do cliente. Claudines conta que costura desde os quinze anos de idade e que sua rotina de trabalho é um pouco puxada: só depois de fazer todo o serviço de casa que ela vai costurar.

E enquanto muitas pessoas acham que trabalhar de forma autônoma é mais tranquilo, as costureiras estão aqui para falar que não é bem assim que funciona. Vera Bickhoff, de 62 anos, começou a costurar depois que a filha abriu uma loja de consertos e reformas de roupas, em 2017. Mas, hoje em dia, a costureira trabalha por conta própria e diz que a rotina acaba sendo bem corrida. Como é costurar hoje em dia A popularização das lojas de roupas, e também o acesso fácil à informação, onde qualquer pessoa pode aprender o básico de costura, fez com que as costureiras ficassem um pouco fora do mercado. “Hoje em dia está muito difícil encontrar costureiras. As poucas que têm, trabalham por conta”, Vera comenta. Mas isso não quer dizer que elas ainda estão presas ao passado, hein? Para se informar sobre as tendências de moda, Claudines pesquisa as novidades na internet, revistas nas lojas e tem até a ajuda da filha, que está sempre pedindo para ela fazer alguma peça que é tendência. Mesmo que seja um trabalho tido como mais discreto, dá para encontrar uma costureira em qualquer bairro da cidade, ou pelo menos alguém que possa te indicar uma. Antigamente, a costura era passada de geração para geração, e por mais que hoje em dia não seja mais assim, é inegável falar que as costureiras, assim como as roupas que elas já fizeram, carregam uma bela carga histórica e nostálgica, que continua sendo repassada em quem as vestem, seja a netinha da senhora que costura, ou uma cliente, que publicará a compra nas redes sociais e indicará para os seguidores um lugar que os façam relembrar um tempo marcado pelas máquinas de costura.

As poucas que têm, trabalham por conta

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A moda é o “LACRE” Por Isabela Almeida

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ndando pelas grandes lojas populares de departamento ou as pequenas de varejo, hoje em dia podemos encontrar uma infinidade de peças utilizando ícones de movimentos sociais como Frida Kahlo, termos vindos do feminismo, estampas remetentes ao movimento afro e gírias do meio LGBTQ+ junto com a sua bandeira. Entretanto, esse uso excessivo da imagem de movimentos de minoria pode ser visto como algo positivo ou algo apropriativo? É muito importante que esses movimentos sociais tenham visibilidade e sejam legitimados pela população. Todavia, devemos nos atentar para a lógica do mercado capitalista, onde o que se vende é o que está em alta. Com a ascensão desses movimentos de igualdade, não podemos negar que é uma ótima oportunidade de mercado vender produtos relacionados à estes. Não é de hoje que o debate sobre apropriação cultural está pautado em movimentos culturais como os de origem africana e de seus afrodescentes, seja por uso de acessórios com estampas ou, até mesmo, por penteados e tipos de cabelo. Um outro movimento que também vem sofrendo com isso é o feminista, onde a constante e importante onda de empoderamento fez com que marcas utilizassem

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Colagem digital: Isabela Almeida


icones e se denominado feministas com coleções populares que fazem com que o consumidor gaste dinheiro para se sentir incluso no movimento, como uma forma de identificação. Já em comparação com o movimento LGBTQ+, as recentes polêmicas envolvendo artistas que utilizam o meio para ganhar dinheiro, feziram com que surgisse um novo termo para se referir a essa apropriação um tanto quanto oportunista, o chamado Pink Money. O entusiasta fashion Lucca Willians, integrante do movimento, explica que todo tipo de inclusão é importante e representatividade importa sim, mas não é tudo. Então, quando as marcas influentes para uma população começam a usar símbolos e termos LGBTs ou de outros movimentos, começa a incluir em suas propagandas influência ao ponto de naturalizar a existência desses diante a sociedade. Lucca também ressalta a importância de sempre lembrar que as marcas não fazem isso por serem super militantes ou solidárias à causa, existindo aí uma questão mercadológica. “Penso que essa comunidade tem que ter noção que há esse interesse do mercado no meio disso tudo. Procurando marcas realmente engajadas com a causa”, afirma. Entretanto, o entusiasta fashion entende o lado das marcas de varejo e o marketing envolvido nisso, pois segundo o mesmo “empoderamento vende, então é aquela coisa de que quem não lacra, não lucra”.

Foto/Re produçã o: Cli

pe de “S eu Crim e” da dra Pabllo V g queen ittar

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Pagar é bom, entender o preço é melhor ainda Por Leonardo Oliveira

Roupas de segunda, terceira, quarta mão, a vida útil de uma peça de roupa pode ser muito longa e inclusive útil para muitas pessoas. O mercado de roupas usadas tem crescido de forma acelerada nos últimos anos. Apesar de ter se tornado muito popular entre os jovens, públicos variados têm aderido a ideia de comprar as roupas que já foram de um outro alguém. Quem já gastou seu tempo vasculhando bazares e brechós deve já ter se perguntado pelo menos algumas vezes por que os preços são tão diferentes de um para o outro. Basicamente, peças mais “comuns” como camisetas e calças jeans, podem ser encontradas pela metade ou até menos de um décimo do valor que seria cobrado por algo de mesma qualidade em uma loja popular. Tábata Santos, produtora de moda e proprietária do brechó Afromix em Bauru - SP, explica um pouco dessa variação e do atual mercado de brechós.

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Qual a diferença entre brechós, bazares e outras formas de vendas de roupas de segunda mão? Lugares que têm muita quantidade de peças, conseguem trabalhar com um preço bem abaixo, 1 real, 50 centavos, porque o foco deles não é a peça em si, não tem trabalho de curadoria, mas o volume. Geralmente são bazares beneficentes, com alguma causa social ou também brechós de pessoas que não têm entendimento de moda e curadoria. Então eles vendem pela quantidade e sem muita preocupação com a qualidade do produto. Já hoje em dia vemos mais brechós como o Afromix que faz uma curadoria, tem um conceito, trabalha com moda e tem uma identidade, então aí o valor agregado do produto é diferente. A gente faz o garimpo, geralmente nesses lugares que vendem por quantidade e mais barato, trazemos as peças e todas são lavadas, etiquetadas, fotografadas, fazemos ensaios, para colocar na arara e o cliente levar para casa. Nisso tudo a gente tenta colocar um valor que seja justo tanto para quem vai comprar quanto para gente que teve todo esse trabalho. Bazar Vila Vicentina

Muita gente tem procurado brechós e muitos brechós andam aparecendo, seja físico ou só online, muita gente tem feito desapegos também, você acha que o público tá conseguindo acompanhar as possíveis diferenças entre cada um? A galera às vezes confunde o desapego com o brechó. Estar desapegando é diferente do brechó. Tipo assim, você tá desapegando de um estilo, um tamanho X que é o seu tamanho, então ele não vai atingir várias pessoas, é específico e você não vai desapegar o tempo inteiro. Desapegou porque provavelmente você deu uma renovada no seu guarda roupa, então você vendeu ali naquele momento, talvez daqui um ano ou alguns meses aconteça um novo desapego, o brechó é diferente, ele acontece o tempo inteiro, tá ali as peças para vários tamanhos, vários estilos, não é uma coisa de momento, você sempre pode contar com o brechó.

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O público está sendo movido mais pelo que? Pelo preço, pela questão ambiental ou o estilo mesmo? Aqui (Brechó Afromix) a galera vem pelo diferencial do estilo do brechó. A gente que trabalha nessa área de moda, com roupa, sabe que o que você encontra no brechó você não vai encontrar numa loja de departamento, então você vai ter uma peça exclusiva, uma peça diferente, e então a galera vem por isso e também um pouco equilibrado com a questão da sustentabilidade e da questão social que eu acho muito importante e que precisa ser tão enaltecida quanto o estar bem vestido. Acho que a procura é mais pelo que o brechó pode proporcionar na questão da aparência, da moda, do estar bem vestido e bem arrumado. Por enquanto eu sinto que a galera é mais atraída por essa parte. Você acha que essa onda de brechós é permanente ou logo as pessoas vão abrir mão disso? Olha eu consumo brechó desde criança, eu lembro que minha mãe ia em brechó já há muito tempo, naquela época era por questão de grana porque a gente não tinha grana para comprar roupa para todos os filhos, então a gente comprava em brechó que é bem mais barato. Hoje em dia eu vejo que realmente tá na moda o brechó e eu espero que permaneça sim, a gente tenta colocar assim para o cliente para que seja um estilo de vida realmente. O brechó tem mui-

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Brechó Afromix

tas coisas por trás, quando você compra uma peça, tá alimentando uma rede de empreendedorismo, uma rede sustentável, porque eu compro de outras mulheres que fazem a correria delas também, então eu espero que permaneça. A gente trabalha aqui no nosso brechó para que seja uma coisa permanente, para a gente criar um vínculo, para as pessoas criarem esse hábito de vir no brechó, de garimpar e a gente trabalha para que isso aconteça e para que seja mais vivido.

Foto: Reprodução


Fotos: Leonardo Oliveira

Bazar Vila Vicentina

Brechรณ Afromix

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A sós

A seção de intimidade da Avesso.



/AVESSO/ A sós

HISTÓRIA DA

COMO A EVOLUÇÃO DAS PEÇAS Por Julia Bergamaschi Muito se fala a respeito da relação do tempo com a moda, como as pessoas se vestiam e como cada período reflete a forma de se expressar daquele povo em determinado momento da história, mas o que pouco se comenta é sobre uma parte da moda mais específica que ninguém vê: as roupas íntimas. Assim como as roupas que ficam expostas, as roupas íntimas também passaram por grandes mudanças até a atualidade. Muitas dessas mudanças vieram através de uma libertação do corpo feminino de padrões sociais impostos, outras vieram por conta de um maior enrijecimento da forma de pensar da sociedade no passado. Cada pequena mudança acabou sendo responsável pela forma como conhecemos as lingeries hoje e a história dessa vertente começou muito antes da definição de moda e liberdade. Imagens da antiguidade já mostravam mulheres vestindo roupas semelhantes à lingerie, isso porque na Roma Antiga, a crença era de que as mulheres tinham o “luxo” de se vestirem com roupas desenhadas pelos próprios deuses. Nessa época, jovens moças utilizavam uma espécie de “top” que deixava os seios juntos e planos, confeccionado em couro ou linho que acreditavam ter sido desenhado pela própria deusa Vênus, sendo um precursor do sutiã. Essa peça era acompanhada do subligarculum, uma versão antiga da fralda, que era dobrada e amarrada na cintura. A peça podia ser feita em linho, couro ou pele de coelho. Sendo que, as duas últimas eram utilizadas em dias em que a mulher estivesse menstruando. (Isso, porque em Roma não existia o cone de papiro, uma espécie de o.b. egípcio.) Na Idade Média as roupas íntimas já começaram a possuir um formato muito parecido com o que conhecemos hoje. As confecções eram diferentes e o uso de espartilhos começou a entrar em vigor, mas o sutiã, por exemplo, já era utilizado pelas mulheres naquela época. Por muito tempo a moda íntima não so-

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freu bruscas alterações, apesar de estar sempre em constante movimento, sendo assim, foi a partir de 1900 que as modelagens tomaram proporções mais modernas. Nessa época roupas íntimas eram grandes e muito justas, principalmente na cintura. Isso dava mais volume ao busto e deixava as mulheres com a cintura mais fina, sendo um padrão de beleza exigido pela sociedade. Ocorre em 1910 uma maior sexualização das roupas íntimas. Dessa forma, deu-se início a um processo de desinteresse por grande parte das mulheres e somente as cortesãs eram quem utilizavam essas peças. Para a estudante de moda Ana Cioffi, a moda no geral sempre teve como ambição expressar épocas e refutar pensamentos. “A moda é vista, hoje, como um fenômeno sociocultural, que expressa valores dentro de uma sociedade (usos, hábitos, costumes), ou seja, a moda não é apenas cobrir o corpo com roupas, é muito mais amplo como um comportamento, um sentimento, estilo de vida, envolve fatores sociais e políticos. Ela é vista como muito mais do que aquilo que vemos nas passarelas; é uma excelente ferramenta, principalmente para nós mulheres, de expressarmos tudo aquilo que conquistamos ao longo dos anos e de revelarmos nossa identidade individual.” conclui. Assim, em 1920 as roupas íntimas passaram a ser mais confortáveis. Os sutiãs, anáguas e combinações tornaram-se parte dos guarda-roupas femininos. As mulheres já não precisavam usar aquelas roupas íntimas grandes, super apertadas na cintura e sufocantes. Ana também fala sobre a questão desses grandes desconfortos pelos quais as mulheres passaram por longos anos: “O corpo feminino sempre foi visto pela sociedade com pudor e até mesmo como algo negativo, que nunca deveria ser mostrado. As lingeries do passado eram usadas como forma de ressaltar a feminilidade. Os espartilhos, por exemplo, eram praticamente objetos de


MODA ÍNTIMA

S INFLUENCIOU A SOCIEDADE tortura mas que deixavam as mulheres ‘dentro dos padrões femininos da época.” acrescenta. Indo diretamente aos anos 40, a liberdade íntima feminina começou a tomar forma. O conjunto passou a ser composto de sutiã, calcinha e uma espécie de saia, sendo muito mais confortável que nos anos anteriores. Nessa época também foi inventado o famoso sutiã com cones. Em 1960 foi Brigitte Bardot quem ditou moda em termos de lingerie. Com uma liberdade sexual aflorada para a época, as roupas íntimas tornaram-se menos marcadas, e também mais reveladoras e sensuais, com modelos feitos de renda e transparentes. Mas foi somente em 1970 que a mudança veio de fato! Esses foram os anos mais libertadores para as mulheres em relação às roupas íntimas. Foi nessa época que as lingeries começaram a ganhar um formato bem menor, se aproximando dos modelos vendidos hoje.

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revolução sexual acabou trazendo minimalismo, conforto e sensualidade. Ana avalia essas conjunturas como parte dos processos em que as mulheres estavam vivenciando: “A moda feminina sempre esteve muito ligada com a situação social em que a mulher se encontra. Durante esses 100 anos de mudança, principalmente dentro do mundo da moda, é notório que as mulheres ganharam muito mais liberdade para escolherem as roupas que mais as agradam (nada mais é do que o reflexo de pensamentos, opiniões, individualismo e sentimentos.)” acrescenta. Hoje, a roupa íntima ainda intriga mulheres pois traz em seu conceito a ideia da sensualidade e do prazer. Mesmo com mudanças históricas tão bruscas, é interessante pensar que atualmente muitas jovens optam por não usar mais sutiã e sentirem-se livres. O que antes era uma obrigatoriedade hoje se

Foto Reprodução

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/AVESSO/ A sós tornou uma escolha individual. A liberdade feminina que vem ganhando mais espaços com o decorrer dos anos é um reflexo da moda íntima, e também mostra como ela é um grande indicativo de como as mulheres são vistas pela sociedade. Se compararmos as roupas íntimas femininas de hoje com as anteriores, percebemos uma grande mudança. As lingeries estão ainda menores, minimalistas e sensuais.

Hoje as mulheres têm mais poder de escolha, e podem usar o que acharem mais bonito e confortável. Nesses 100 anos de evolução das peças íntimas algo é nítido: apesar de cada vez mais donas de si, a pressão social pelo corpo belo que se encaixa perfeitamente no conjunto de lingerie adequado, ainda é algo que traz inúmeros questionamentos.

ROMA ANTIGA

1910

1940

1920

1960 Fotos Reprodução

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ANÚNCIO


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Feed, prazer e aceitação sob rendas

Por: Isabela Almeida

Foto/Reprodução: Instagram.com/Cancanloja

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s frequentes polêmicas que envolvem a falta de representatividade feminina dentro da marca Victoria’s Secrets, traz aos holofotes a importância da identificação com os corpos reais que o mercado politizado da moda íntima vem pedindo e não é de hoje. A grife muito famosa pelas modelos altas e magramente curvilíneas, chamadas de Angels, e por seu desfile anual de lingerie, que chegou ao fim neste ano, coloca em cheque a crise nos backstages do império de Roy Raymond e também o final de uma era. Desde que as peças íntimas ganharam uma certa popularidade com corselets e espartilhos, passou a haver uma imposição de formas femininas coesas com um padrão estético vigente na época em que os mais diversos corpos deveriam se adaptar ao que aquela lingerie pedia. No século passado, corselets foram deixados de lado, sutiãs foram queimados, prezando assim uma libertação sexual feminina. Entretanto, com o crescimento do mercado virtual e da mídia em si, visivelmente no fim dos anos 90 e no começo dos 2000, os padrões estéticos de forma indireta ou não, voltaram a tomar conta no setor. Fazendo com que marcas de lingeries, principalmente a marca das Angels, tivessem uma ascensão, impondo assim um corpo como os de suas perfeitas modelos, as quais são constantementes photoshopadas para esconder imperfeições como estrias e celulites. No Instagram, o irreal padrão Angel vem sendo também exaltado por meio de influencers que preenchem as características corporais das modelos. Todavia, pequenas marcas e lojas onlines vem auxiliando no processo de desconstrução das roupas íntimas de rendas. Fundada após um término de namoro pela estilista Bianca dos Reis como uma forma de dar um novo rumo para a sua vida, a Cancan Store é uma loja alternativa de peças feitas

Eu só revelo elas, e as deusas que são, para si mesmas através da lingerie

sob encomenda e com foco em roupas íntimas para manequins que vão do 36 ao 54. Mas o grande diferencial da marca é a forma cuja a qual divulga as suas lingeries no Instagram. Ao utilizar fotos de modelos com os mais diversos corpos vestindo as mesmas peças e sem edições para remover marcas e cicatrizes corporais, como estrias e celulites, por exemplo, a Cancan Store traz assim uma visão mais realista e inclusiva das mulheres que usam a marca. Desde o começo quando estudava moda, Beatriz já via que o padrão Angel era algo impossível de se seguir, “Olhava as fotos editoriais da Kate Moss e pensava: Alguém traz um prato de sopa para essa garota por favor haha, não era sexy muito menos saudável, mas era “vendido” como ideal então a gente na faculdade é meio que “doutrinado” a seguir o padrão 36/38. Nesta época eu não lembro de ter nenhum manequim plus size na faculdade” relata a estilista, que começou a fazer as peças e as fotos da Cancan em si mesma. Além disso, ela nunca foi de editar fotos porque sempre se sentiu bem com as estrias e celulites em seu corpo. Com relação à satisfação das clientes, Beatriz conta que as garotas geralmente dizem que se sentem muito poderosas, femme fatales. “É como se elas sempre tivessem sido esse mulherão só que com uma venda nos olhos, e a minha missão é tirar a venda delas na frente do espelho. Eu só revelo elas, e as deusas que são, para si mesmas através da lingerie”, completa. Além disso, as modelos com as roupas íntimas no feed nada mais são que as próprias clientes da loja.

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Mostra aí o que você esconde embaixo das calças! A Revista Avesso perguntou ao público quais suas preferências de moda íntima masculina Por Leandro Gonçalves

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eja em casa, no trabalho ou em qualquer outro lugar, lá está ela. Apesar de não ser assunto frequente na mesa de jantar ou na roda de amigos, é ela quem nos acompanha faça chuva ou faça sol. Sem pestanejar, é quem nos conforta mais intimamente e nos dá “aqueeele” suporte, que ninguém mais pode dar, em diversos momentos. Mas, se você pensou que estamos falando de alguém especial, se enganou. A pauta aqui está no seu guarda-roupas, mais precisamente naquela gaveta que você conhece como ninguém. Provavelmente, você a guarda próxima às meias, ou em algum lugar mais discreto do armário. Estamos, afinal, falando da cueca, a peça mais popular da moda íntima masculina - e, convenhamos, a única para muitos. Prática, versátil e democrática, há modelos e estilos para todos os gostos, do clássico ao brega, dos

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tons sóbrios ao vermelho-paixão ou ao amarelo-gema-de-ovo, e por aí vai. Apesar de estar por baixo de todo o resto, as famosas “calças-curtas” também respeitam tendências. Quem viveu os anos oitenta, por exemplo, deve se lembrar da Zorba, marca brasileira que, de tão popular, tornou-se sinônimo para cueca no país. As peças da empresa caíram no gosto popular facilmente, tornando-a líder no mercado de moda íntima masculina. As tradicionais cuecas slip viraram tendência por causa do conforto proporcionado pelo tecido e pela costura, diferencial da Zorba frente às concorrentes. Tamanho sucesso perpetuou-se nos anos seguintes, fazendo da empresa um marco no vestuário masculino. Porém, pouco a pouco, outros modelos de cueca também ganharam a preferência dos homens. As cuecas boxer - ou, como dizem os va-

rejistas, as “cuecas de shortinho” - tornaram-se as prediletas das grandes marcas, como a Calvin Klein. Daí, foi um pulo para virarem tendência. A peça tornou-se desejo dos consumidores devido à publicidade, que passou a retratar a moda masculina de maneira mais apelativa e sensual. Assim, as boxer foram vendidas como símbolos da masculinidade e da conquista. A popularização das cuecas boxer fez com que as slips perdessem espaço na preferência do público. Tanto é que muitos, inclusive, se referem ao modelo mais tradicional como “cueca de velho”, “coisa broxante”, daí pra baixo. Como adepto da “forma Zorba de se vestir”, este repórter que aqui escreve ficou curioso em saber a opinião do público. Sendo assim, a Revista Avesso recorreu às redes sociais para perguntar aos leitores quais eram suas preferências (veja na próxima página).

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Modelo: Guilherme Ribeiro / Fotos: Leandro Gonçalves

/AVESSO/ A sós Já de cara, a enquete mostrou que cueca não é um assunto estritamente masculino. Uma em cada dez pessoas que responderam se identificam como pertencentes ao gênero feminino. Por outro lado, 91% dos entrevistados se veem como pessoas do gênero masculino. Em relação à faixa etária, 72,7% dos entrevistados tem entre 20 e 24 anos, enquanto 9,1% estão entre 25 e 29 anos de idade. Outros 9,1% têm entre 15 e 19 anos. Nove em cada dez entrevistados usam cueca. A preferência é pela cueca boxer (81,8%), seguido pela slip (45,5%) - aqui, os participantes puderam escolher mais de um modelo. Há, ainda, quem prefere o sungão (18,2%), a samba-canção (9,1%) ou, acredite se quiser, aqueles que optam por criar o bicho solto (13,6%). Como justificativa, os entrevistados apontaram o conforto (77,3%) e a estética (63,6) como conceitos indispensáveis na hora da escolha. Ou seja, preferem modelos que os deixem mais à vontade e que valorizem seus corpos. O preço, no entanto, é pouco considerado pelos leitores no ato da compra. Sobre as cuecas slip, em particular, as respostas foram antagônicas. 27,3% dos entrevistados acham o modelo ruim e desconfortável. Já 18,2% consideram as slips ótimas e confortáveis. Outros 18,2%, por sua vez, não gostam e nem desgostam do modelo mais cavado. Já 13,6% dos entrevistados não tiveram vergonha de dizer: “acho péssimo, não são confortáveis e parecem cueca de vovô. Sai fora!”. Mas, há ainda aqueles que defendem a slip. Tem gente que gosta porque acha o modelo sensual ou porque são mais baratas. E, para chutar lá longe a imparcialidade jornalística, são com eles que eu concordo. Porém, uma coisa é inegável. Assim como dito anteriormente, há cuecas para todos os gostos, às pencas. Então, o grande segredo é variar. Afinal, tendências vêm e vão num piscar de olhos e, sendo assim, ter diferentes opções no guarda-roupas é a melhor escolha.

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Persona

A seção de identidade da Avesso.



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PARA ALÉM DA BINARIEDADE DOS CORPOS Por Bru Vatiero

aGÊNERO

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Nicholas Ámon

ESTILO


“Os gêneros foram criados para separar as pessoas pelo sexo feminino ou pelo sexo masculino. Essa separação fez com que objetos, roupas e atividades começassem a ser designadas como sendo mais adequadas às mulheres por serem mais ‘delicadas’, ou ideais para os homens por serem mais ‘brutos’ ”, explica. O estilista afirma que apesar desses conceitos ainda serem muito fortes na sociedade, existe um movimento crescente na moda que busca romper com esses paradigmas.

Rev Sreet - Foto Andrews Clayton

O gênero é algo que molda a sociedade por inteira. Uma construção social que define características e comportamentos do ser homem ou mulher. Essas categorias compõem o que é conhecido por binariedade de gênero: masculino versus feminino. A moda é um dos elementos que solidifica essa construção, sendo as roupas uma das ferramentas para distinguir um sexo do outro. A moda sem gênero vem para romper com o padrão binário do “vestir”. Renan Vital, criador da REV Street, marca de roupa sem gênero de Bauru, conta como surgiu a ideia de criar a própria marca. “Dá vontade de colocar em prática todo meu repertório construído ao longo da vida acadêmica e conseguir unir coisas que eu acho fundamentais hoje no contexto da moda brasileira”. Para ele, a moda é uma forma de expressão social, sendo o no gender uma possibilidade de não rotular os indivíduos.

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Nicholas Ámon

/AVESSO/ Persona

Nicholas Ámon, homem trans e body piercer, afirma não se enxergar dentro da binariedade constituída pela família, Estado, escolas e instituições no geral. Para ele, a moda binária “nada mais é do que uma performatividade, seja do masculino ou do feminino, de uma binariedade e que não deixa de ser uma perfomance”. “Em alguns momentos eu me vi meio perdido, tentando performar essa masculinidade que acaba sendo compulsória, até mesmo dentro do âmbito de homem trans”, conta. A moda sem gênero possui um conceito fundamental: o de inclusão. Essa proposta de moda se tornou essencial para acolher a todos que buscam ir além da normatividade. O universo trans - mulheres, homens e pessoas não-binárias, as quais não se identificam nem como homem ou mulher - utilizam o ato de se vestir como uma expressão de liberdade dos corpos. “Eu não me considero não-binário, apesar de tudo, mas eu acredito que manter uma imagem mais ligada ao não-binarismo me deixe mais passável como uma homem trans e que eu não seja associado diretamente a um homem cisgênero”, pontua Nicholas. Apesar da moda sem gênero atuar de maneira política, é necessário um trabalho mútuo de conscientização e respeito da diversidade. A desconstrução de gênero diz respeito à não violência dos corpos e ao rompimento de padrões impostos pela sociedade. Nicholas Ámon afirma ser uma pessoa que não vê as vestimentas como algo com gênero, usando muitas roupas dentro de casa até mesmo da própria namorada, como calcinhas e baby dools.

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“EU COSTUMO ACREDITA QUE EU JÁ VIVO MONTADO.”

dia fazer o que fosse (...), o sentimento mais gostoso de todos era eu não me importar com nenhum pedacinho do meu corpo”, afirma. Desconstruir a binariedade de gênero não é tarefa simples, mas é na prática que se vê a possibilidade. Mulheres que não performam feminilidade, homens que não performam masculinidade e pessoas trans não-binárias são exemplos vivos de que a moda é uma forma de expressão que dialoga diretamente com a resistência. O vestir de cada um pode aproximar-se de uma não padronização das roupas e pessoas, abrindo caminhos para uma moda que não necessite de sessão masculina e feminina.

Gamorra

“Eu não vou sair na rua com um vestido, não porque eu não usaria um vestido, mas sim porque as pessoas ao meu redor não entenderiam e respeitariam isso, justamente por ser uma roupa feminina e que deve ser usado por mulher”, ressalta. Para além do vestir diário, há também a possibilidade de extrapolar os limites binários da moda por meio do ato de se montar. “Eu costumo acreditar que já vivo montado.” Para Nicholas, já existiu também a personificação de Gamorra, considerada uma desconstrução pessoal e uma forma de não ser violentado pela normatividade. ‘Eu me sentia muito livre me montando de Gamorra, sentia que eu po-

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É fácil se vestir?

Por Leonardo Oliveira

A moda é um meio de expressão culturalmente estabelecido. Para além de cobrir o corpo, o ato de vestir-se é uma forma de comunicação visual entre pessoas e grupos, transmitindo a individualidade de cada um ao mesmo tempo que é uma reação ao meio em que se vive. Toda diversidade de corpos não são, nem de longe, bem abordados na sociedade. e pouco representados na mídia e no consumo Segundo dados do IBGE, 56,9% das pessoas vivem com sobrepeso no Brasil, isso é um indicativo de que mais da metade da população brasileira usa números maiores do que as grades de tamanhos mais encontradas no mercado de moda, o famoso “P, M , G” ou “do 34 ao 42”. O interesse do mercado por peças de tamanhos maiores, popularizadas como “plus size”, vem crescendo e tendo mais espaço nos últimos 10 anos. Porém a qualidade desse crescimento é questionável. Grandes varejistas passaram a fazer uma ampliação de suas grades de forma tímida, algumas vezes adicionando uma quantidade pouco significativa

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de números maiores em sua grade e de maneira não pensada para o corpo gordo. Para uma pessoa gorda, as dificuldade para expressar seu estilo pessoal é consideravelmente maior se comparado às dificuldades de pessoas magras. Ir a uma loja de departamento como as famosas Renner e Riachuelo, conhecidas pela variedade de peças, não é garantia de que haja algo para vestir essa pessoa, como aponta Daniel Gaiotto, estudante de psicologia na Unesp, “é muito difícil achar roupa que serve pra mim em loja popular”. Quando é possível encontrar alguma peça, a probabilidade dela ser o mais básica e neutra possível é muito alta. Opções para os diferentes estilos pessoais são pouco acessíveis. Muitas lojas apostam em uma “neutralidade” de estilo que é um estigma para quem é gordo ou

gorda. A ideia que essas pessoas precisam usar cores pouco chamativas, listras em tal sentido para disfarçar o corpo, são amplamente difundidas a anos nos mais diversos meios de comunicação, e hoje em dia tem se potencializado com a internet. Daniel tem ousado em seu estilo usando peças que mostram mais de seu corpo, mas isso nem sempre foi assim. “Se você ver fotos de mim de 4 ou 5 anos atrás, eu era muito diferente, muito mais básico. Até porque foi uma maneira que me foi ensinada a me vestir”. Já Caroline Alves, estudante de artes visuais na Unesp, adepta do estilo gótico pontua “as marcas plus size fazem estilos de roupa que não atendem a todo mundo, a maioria das pessoas e das marcas acham que pessoas gordas têm que vestir uma estampa muito horrível”. Os negócios de vestuário e beleza re-

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correm a autoestima para vender seus produtos. Em suas publicidades que por décadas foram pouco representativa, acabaram por não estimular o imaginário coletivo a compreender e cuidar da autoestima de pessoas gordas, negras e trans por exemplo. “Quando eu era menor, eu não tinha essa noção de que a moda não é inclusiva, então eu achava que eu tinha que me adequar ao padrões da moda, mais não é bem assim, é a moda que tem que se adequar aos nossos padrões, principalmente no Brasil que é um país que tem corpos diversos” afirma Caroline. “Sempre me foi sugerido ou pressionado para esconder o fato de que eu sou uma pessoa gorda, seja diretamente com ordem ou piada “A gente que é gordo tem que comprar roupa maior para não parecer que é gordo”. Então eu acho que assim, eu tô usando uma camiseta apertada, a não ser que ela me incomode a ponto de fazer eu passar mal, não é o fato da

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Fotos: Leonardo Oliveira

minha barriga tá marcada ou os meus peitos estarem marcados que vão fazer eu não usar, inclusive isso pode até ser um motivador para eu usar” declara Daniel. “Na minha cabeça sim, o modo como a gente se veste é um ato político e no meu dia a dia acho que o que eu quero mostrar para as pessoas é que um corpo gordo, ele pode vestir uma roupa justa, ele pode vestir um decote, uma saia curta, que o que é visto como beleza para os magros também pode ser visto como beleza para as pessoas gordas. E não importa muito o corpo, o que importa é se você se sente bem com aquilo que se veste” relata Caroline.


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Fotos: Reprodução/Pinterest

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Como perder o medo de mudar o cabelo? Nossos leitores compartilharam conosco um pouco da história deles com seus cabelos Por: Laura Gallinari

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Matheus Dias, 23 anos “Eu acredito que não era um medo que eu tinha de mudar o cabelo. Foi mais no sentido de que a sociedade, com o racismo estrutural e todas as desvalorizações de traços afros e negros, me induzia a estar num certo padrão que seria mais aceito pelas pessoas brancas. Homem preto é sempre assim: o cabelo curtinho, raspadinho… E se ficar um pouco mais compridinho, tem que cortar, porque já tá ruim, sabe? Então, acho que não foi perder o medo, foi mais perceber que o que eu estava fazendo não era o que eu queria fazer de fato. Minha dica para quem quer perder o medo de mudar o cabelo é: deixa crescer! Deixa seu cabelo se mostrar quem ele é, você se mostrar como você é. Cada cabelo vai ter seu próprio tipo de particularidade, que você vai precisar entender para tratar dele. É importante você também conversar com profissionais que saibam cuidar do seu cabelo, ver alguns tutoriais no YouTube, pesquisar em sites, enfim, buscar informações. E se você está transicionando, uma hora seu cabelo vai ficar do jeito que você quer. Outra dica que eu dou é começar a se espelhar em pessoas que você admira, e que tem o cabelo igual ao seu. Tenta falar com essas pessoas, e saber quais tipos de cortes você pode fazer para o seu cabelo, isso é muito legal. É um momento mais de você entender as possibilidades de um mundo novo, que é o mundo que você assumiu seu cabelo.”

É importante você saber entre as possibilidades qual é aquela que você realmente quer”

Foto: Reprodução

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Foto: Reprodução

Felipe Roque, 20 anos

Helen Soares, 22 anos

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Foto: Reprodução

“Meu cabelo e a maneira como gosto que ele fique está muito vinculado a minha identidade de gênero, autoestima e minha forma de expressão. Gosto de me comunicar através do meu estilo, e sei que muitas vezes isso desperta olhares negativos e positivos. No começo essa foi a parte mais difícil, os olhares negativos. É um exercício diário, sempre estar relembrando que não preciso agradar ninguém e, sinceramente, não é pra isso que vim ao mundo, né. Além dos olhares, outra parte que foi difícil eram os comentários de pessoas próximas. Parte desse processo de perder o medo esteve, está e sempre estará na minha jornada de autoconhecimento e desconstrução, aprendendo a estar receptiva as minhas próprias sugestões, vontades e não aprovações dos outros. Tudo bem sentir medo de não gostar, de mudar demais e bater aquela insegurança ‘e se ficar feio? Não vou sair de casa’. Compreendo que isso mexe muito com a autoestima, com a insegurança, ainda mais quando as pessoas ficam olhando esquisito, parecendo míopes. Mas faça! É o seu cabelo, é o seu estilo, é o seu gosto e são os seus sentimentos de prazer, felicidade, tristeza ou frustração. O que eu quero dizer é: o que importa é que tudo isso é seu e ninguém pode tirar ou sentir por você. Faça, mesmo com medo. Cabelo cresce, a gente aprende, muda e percebe o que gosta e o que não gosta.”

“Eu nunca senti medo de mudar meu cabelo. Sempre gostei muito de testar as coisas em mim, de me libertar nesse sentido. Então, acho que eu não tive medo por causa disso. Até quando comecei a pintar o cabelo, porque sempre adorei mudar minha aparência. Gosto de ter várias versões de mim. Já tive medo de me julgarem, mas isso eu me acostumei, eu já não tenho mais medo nenhum. No começo, eu ficava com um pé atrás, mas depois fui começando a me acostumar. É meio clichê o que eu vou falar, mas eu acho que a pessoa tem que se jogar. Depois que você faz, você percebe que era um medo bobo, ter receio de fazer algo que você sabe que vai te fazer bem, vai fazer você se sentir melhor. Não fica se preocupando muito com o que os outros vão pensar, se alguém quiser julgar, não tem muito o que fazer. O ser humano tem essa tendência a julgar as pessoas, e o cabelo é o de menos.”


Rebeca Almeida, 20 anos

Foto: Reprodução

Eu perdi o medo de mudar o cabelo quando eu percebi que tinha que respeitar o que ele estava se tornando. De liso, ele começou a ficar um tanto encrespado na parte de trás da cabeça, e eu comecei a usar muita chapinha para ‘domar’ ele e por influência da família e até da sociedade, no geral. Eu tinha na cabeça que eu deveria ter cabelo liso, porque era uma coisa que eu via muito nas pessoas, e que esse era o padrão de beleza. Aí teve um dia em que eu lavei o meu cabelo, deixei ele secar naturalmente e ele ficou enrolado. Eu olhei no espelho e fiquei “meu Deus, o que é isso?”. Eu não estava sabendo lidar com esse momento, mas só depois disso ter acontecido, que eu comecei a me questionar sobre a forma natural do meu cabelo e o quanto passar chapinha era cansativo. Esse foi um dos impulsos que me levou a perder esse medo e a começar entender o que estava acontecendo com o meu cabelo. Demorou um pouco de tempo para eu realmente criar essa autoestima com o cabelo novo, depois de ter cortado e deixado os cachos aparecerem. Foi uma mudança drástica para mim, pois passei do liso para o cacheado do dia para a noite. A dica que eu dou para quem tem receio de mudar o cabelo é primeiro entender que o cabelo cresce de novo, então se você se arrepender de alguma forma, isso vai se recuperar. Respeite o seu cabelo e entenda qual tipo de mudança ele consegue sustentar, não adianta passar uma tintura que ele não suporte, por exemplo. Arrisque-se e não tenha medo, porque cabelo é uma das coisas que você pode ousar sem grandes consequências, diferente de uma tatuagem, que você faz e ela vai ficar na sua pele para sempre. Isso sempre vai agregar muito em você, porque quando eu cortei meu cabelo como ele está hoje, me senti muito bonita. Foi um processo de aceitação e autoconhecimento. Quando eu comecei a entender o meu cabelo, foi quando eu comecei a entender mais de mim mesma.”

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Mulheres comuns diversidade nas passarelas urbanas Veja como a moda também está nas periferias, onde a variedade é uma tendência que veio pra ficar Por Leandro Gonçalves

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m um banheiro à parte, diante de um grande espelho estrategicamente posicionado, a secretária Natália Faria faz dos minutos anteriores à ida para o trabalho um momento íntimo. Vaidosa, é no reservado espaço que ela prepara desde uma maquiagem básica à um penteado casual com a ajuda da prancha, dentre outros cuidados. Assim como tantas outras, Natália é uma mulher comum. Mas, a moda se faz presente também em seu cotidiano. Afinal, estilo não é um artigo exclusivo para as passarelas.

Nesse sentido, Natália é um exemplo de que também há uma “veia fashion” nas periferias, já que é moradora do bairro Nova Esperança, na região norte de Bauru, São Paulo. Cheia de charme, a secretária faz parte de um conjunto de mulheres que, apesar de não ocuparem as capas de revista, são repletas de estilo e personalidade. Tais personagens, munidas de experiência, comprovam que há moda para além da alta costura, repleta de peças caras e, muitas vezes, “meh”, sem graça.

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/AVESSO/ Persona Diante disso, a Revista Avesso procurou entender um pouco mais sobre a preferência dessas mulheres, a começar por Natália. A bauruense é detentora de um guarda-roupas repleto de peças casuais. “Às vezes, eu tento dar uma ousada, mas não me sinto muito confortável. Prefiro aquilo que seja o mais simples possível. Jeans, calças brancas ou pretas…”, relata. “Gosto muito de acessórios como pulseiras, relógios e anéis, tudo biju”, brinca. Dessa maneira, Natália encarna a mulher de estilo discreto, pronta para a rotina. De maneira geral, as mulheres do cotidiano condizem com aquilo descrito por Natália. Pois, apesar da incalculável variedade de estilos, peças mais confortáveis e casuais predominam, ainda mais no calor. Para se ter uma ideia, roupas como blusas bem soltinhas e shorts jeans dominam as ruas do centro comercial de Bauru. Nas vitrines das lojas de varejo, com preços mais populares, quem predomina são as peças mais leves, perfeitas para o dia a dia puxado que envolve trabalho, lazer e família. Outra tendência além do conforto é a miscelânea de opções, uma verdadeira salada de cores, cortes e estampas. Há variedade para atender qualquer gosto. Nos manequins, têm peças mais floridas, outras mais sóbrias... lisas ou estampadas, muita renda, detalhes em strass e sejá lá o que mais possa haver. O varejo reflete, portanto, o caráter eclético de um público que costuma consumir para cuidar da própria imagem e, assim, dar aquele up na autoestima. Só vermelho Tal variedade está também no guarda-roupa da dona de casa Rosana Sene, que de cara já diz ter um estilo próprio. “Gosto de roupas sociais e não muito de peças esportivas, a menos se for para caminhadas”, detalha. Rosana ainda gosta de vestidos, dos mais variados cortes, e de sapatos de salto alto. Porém, a cor vermelha é o elemento que se destaca no estilo de Ro-

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“Eu sou muito eu, não tem essa de moda. Se eu bater o olho, gostar, vestir e achar que é a minha cara, eu vou usar” Rosana Sene sana. A moradora do Jardim Silvestri, na zona noroeste de Bauru, é apaixonada pela cor da própria paixão. O gosto peculiar faz com que sempre haja vermelho em suas composições. “Eu uso aquilo que eu gosto, não ligo para marcas. Gosto de malhas com bom caimento, peças mais femininas… tudo combinando. Você nunca vai me ver usar algo que não combina”, reitera. Loira desde os quarenta anos, a dona de casa não liga para aquilo que vê na mídia. “Eu sou muito eu, não tem essa de moda, de época, de ‘o fulano passou na televisão’… se eu bater o olho, gostar, vestir e achar que é a minha cara, eu vou usar”, completa. O quê elas buscam Assim como determina os velhos manuais do bom jornalismo, decidimos ir às ruas e gastar as solas dos sapatos para entender um pouco mais do estilo desse público. Afinal, é preciso ver para crer. Ao andarmos pelas quadras do Calçadão da Batista de Carvalho, no centro de


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Modelo: Natรกlia Faria / Fotos: Leandro Gonรงalves

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Bauru, questionamos aos lojistas locais quais as preferências das clientes. Pois, no final das contas, é por lá que elas procuram por peças para renovar ou complementar o guarda-roupas. Cercada por tecidos de todas as cores e cortes, a comerciante Célia Regina conta que não há uma tendência que se sobressaia, visto que cada cliente tem seu próprio estilo. “Tem das mais bregas às mais ‘normais’, depende”, brinca. “Tem gente que prefere peças mais florais, outras mais lisas… é muito relativo”, completa. Célia ainda conta que, de tão eclético, o público busca por peças que ela jamais pensou que conseguiria vender. Por isso, a comerciante já teve que resgatar diversas roupas que tinha deixado de lado. Desta maneira, a diversidade brasileira é refletida no gosto. Assim como há mulheres com diferentes maneiras de ser, também há uma multiplicidade de estilos e preferências. Algo que beira o inimaginável. “Tem quem queira o que está mais na moda e aquelas que buscam por algo mais antigo, uma calça de cintura alta…”, exemplifica Célia. Para ela, a moda é espontânea, pois as tendências vêm e vão, ainda mais tratando-se do ramo em que atua. A lojista está à frente do Brechó Belas Roupas, onde revende peças semi-novas. Elas não querem imitar a Maria da Paz Engana-se quem pensa que as mulheres da periferia querem se vestir como as personagens que veem na televisão. Incluindo até mesmo a boleira Maria da Paz, vivida pela atriz Juliana Paes na novela “A Dona do Pedaço”, da Rede Globo. Apesar do sucesso em audiência, a obra de Walcyr Carrasco não é mencionada como inspiração pelas mulheres que procuram por peças no Calçadão. Pelo contrário, elas buscam por roupas que condizem com seu próprio estilo. Com isso, a atitude e a emancipação tornam-

-se as grandes tendências. Afinal, elas sabem que são donas do próprio nariz e que imitar o que veem na tevê é coisa do passado. “As clientes procuravam por peças que viam em novelas antigamente. Hoje, nem tanto”, reitera a costureira Zenaide Nogueira, dona do Brechó da Zé, também no centro de Bauru. “Agora, buscam por calças jeans de cós alto, estampas floridas, saias de bolinha, camisolas antigas…”, acrescenta. A aceitação do próprio corpo e a diversidade das medidas são outras tendências entre as mulheres da periferia. A lojista Silvia Regina conta que recebe pedidos de todos os tamanhos. “Pedem muito por roupas de numeração 44 para cima, que são mais difíceis de encontrar em lojas comuns”, explica. Silvia é sócia do “Achei!... Brechó”, uma loja a poucas quadras dos comércios de Célia e Zenaide, parceiras de ramo. Juntas, elas dividem a clientela que busca por bons preços, qualidade e variedade. Determinadas, as clientes não chegam à loja de Silvia com uma peça já em mente. Na verdade, gostam mesmo é de garimpar, ou seja, vasculhar e analisar cada opção. “A maioria fica à vontade. Olha, vê o quê gosta… e se pede ajuda, a gente ajuda”, relata. Tal liberdade reflete na relação das clientes com Silvia, que inclusive já sabe de cor e salteado o gosto de algumas. Assim, quando determinada peça chega ao brechó, ela já tem para quem ligar e garantir a exclusividade. Diferentemente das semanas de moda pelo mundo afora, onde prevalecem os gostos mais abstratos e inacessíveis, nas ruas quem comanda é a diversidade. Assim, mulheres dos mais variados estilos desfilam pela cidade, em que as calçadas funcionam como verdadeiras passarelas urbanas. Com peças diversificadas, demonstram que, no final das contas, a personalidade é que deve prevalecer na construção de um bom look, da secretária à dona de casa, sem exceções.

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Fotos: Reprodução/Instagram

Autoestima e identidade

O look perfeito Por Laura Gallinari

Você já reparou nos pensamentos que passam pela sua mente enquanto escolhe uma roupa? Ou arruma o cabelo de uma maneira diferente, passa uma cor de maquiagem não muito comum, decide fazer uma tattoo… Por que você faz essas escolhas? Talvez você ache bonito, fique à vontade ou percebe que aquilo combina contigo. Mas, independente de como você responda, saiba que a sua escolha tem algum tipo de conexão com o seu estilo. E o seu estilo está interligado com duas coisas que existem dentro de cada um, mas que muitas vezes passam adormecidas por muito tempo, ou até mesmo a vida toda: autoestima e identidade. Mas autoestima e identidade não são a mesma coisa? Calma! Ambas podem andar juntas, mas não são a mesma coisa. Para entender melhor o que é cada uma, a psicóloga Fernanda Rezende, de 31 anos, explica em detalhes o que é a autoestima: “Ela vai sendo construída ao longo do desenvolvimento da pessoa, a partir das experiências que ela têm. A autoestima é algo que a pessoa consegue descrever e perceber sobre ela mesma, desde se olhar para o espelho e se sentir bem com o que vê, como se perceber diante à sociedade, em termos de ser alguém efetivo, eficiente”. Existem semelhanças entre as duas coisas, mas a psicóloga ressalta as diferenças existen-

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tes; “A identidade também vai sendo construída ao longo do tempo. Assim como a autoestima, na identidade você também consegue se descrever e perceber coisas sobre si próprio; mas, também é algo que conseguimos descrever de acordo com aquilo que fazemos. Aquilo que a gente faz também determina aspectos da nossa identidade”, comenta. Por mais que estejam interligadas, nem sempre as duas coisas agem de forma positiva ao mesmo tempo. Uma pessoa pode ter uma definição clara de quem ela é, mas mesmo assim ter uma baixa autoestima. E o contrário também pode acontecer: “Em alguns momentos, a iden-


tidade pode entrar em crises, e a pessoa não conseguir responder ‘quem eu sou?’”, a profissional esclarece.

É difícil negar que o ser humano não é um ser visual. Ainda mais nos dias atuais, em que a maioria das mídias sociais se pautam em fotos, e que os recursos para fazer e compartilhar imagens se tornaram mais acessíveis. Mas, mesmo que várias pessoas acessem o mesmo conteúdo, a interpretação sobre isso poderá ser diferente para cada uma. Isadora Andrade, 22 anos, é publicitária e afirma que hoje em dia consegue se enxergar naquilo que veste: “Isso foi se construindo aos poucos, quando comecei a realmente me importar com o que eu gosto e não com o que as pessoas esperam”, conta. Além disso, ela também comenta sobre ter uma boa relação com a autoestima: “Me sinto bonita como sou, aceito meu corpo, minhas qualidades e defeitos internos. Acredito muito que não preciso seguir um padrão para me sentir assim”. Mas, Isa garante que não é do dia para noite que as coisas serão dessa forma A estudante de Jornalismo, Isabela Landim, 20 anos, conta que tem dias bons e ruins com a autoestima: “É uma construção diária e eu acho que ela nunca é totalmente perdida”, comenta. Ela também associa a criação de uma boa autoestima com uma mudança de hábito: “Isso começa quando você deixa de se ver de maneira negativa. É difícil mudar e vai exigir um esforço grande”. Isabela explica que essa “negatividade” que existe, ao se olhar no espelho, nasce a partir da sociedade de consumo nos dias de hoje: “Essa sociedade educa a mulher a não se achar suficiente por si só. Mostra que a mulher deve consumir coisas para se fazer completa, porque a autoestima dela também está ligada ao capitalismo”, observa.

Fotos: Reprodução/Instagram

Autoestima e identidade x Padrões de beleza

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/AVESSO/ Persona Os impactos da sociedade consumista e padrões de beleza afetam todas as pessoas, independente do gênero. Fernanda explica que quando um padrão é imposto, ele pode ser um pouco opressivo, e que é um processo difícil de se passar. Para isso, é necessário desconstruir o que foi ensinado: “É quando a pessoa percebe que existe um padrão e ela consegue, de certa forma, olhar para ele, ter uma visão crítica e perceber que gosta mais de ser de outro modo”, detalha. O reflexo da identidade é no seu estilo Você veste aquilo que se sente confortável; deixa o cabelo para o lado que mais gosta; passa a sua cor preferida de maquiagem e esmalte; ou simplesmente, só pega a primeira roupa que vê no armário, coloca e se sente bem assim. Em ambos os casos, é a sua identidade que está falando mais alto. Está tudo bem não entender direito ainda como é sua identidade e não saber escolher a roupa certa para o seu estilo. Isabela comenta que as roupas que ela usa não é na intenção de mostrar quem ela é: “Não é como se a roupa fosse a minha identidade, é como se ela trouxesse algo para mim”, explica. A estudante também conta que enxerga seu estilo como uma forma de se proteger e estar preparada para encarar a vida lá fora: “É como você se sente confortável, porque se você não estiver confortável, você vai estar vulnerável”. Além disso, ela finaliza afirmando que “Quando você se sente bem, você não tem medo de ocupar espaço, de ocupar o seu lugar no mundo”.

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“Treine o não ter medo de vestir/ usar o que você gosta” - Isa

“Não é porque você tem estilo que você vai deixar de seguir tendências da moda. Você deve pegar a tendência e inserir no seu estilo” - Bela

“Reflita sobre suas roupas: veja se você se sente bem, confortável e segura de si com elas” - Bela


Dicas para trabalhar a autoestima e assumir sua identidade A Isa Andrade e Bela Landim deixaram alguns conselhos pessoais para lidar com tudo isso

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“Tenha inspirações, mas seja fiel a si mesma. Ninguém te conhece tão bem quanto você mesma” - Bela

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“­ Não se compare! Nunca vai ter alguém que faça ou sinta tudo exatamente igual outra pessoa; por isso padrões são absurdos” - Isa

“Conhecer o feminismo, e me ver representada por mulheres que fugiam do padrão social e se posicionavam sobre, me ajudou muito” - Isa

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PERFIL DE ESTILISTA Loza: entre arte e ativismo

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Foto Reprodução

Por: Julia Bergamaschi Loza Maléombho nasceu no Brasil mas foi criada entre os Estados Unidos e Costa do Marfim, onde atualmente produz suas peças e leva para o trabalho toda sua vivência multicultural. Aos 13 anos começou a se interessar por moda e aprendeu a desenhar e customizar seus uniformes de escola. Em 2006 se formou em Animação na Universidade de Artes da Filadélfia, porém, seu interesse por moda continuava a instigando e a fez questionar se esse não era o caminho certo a seguir. Para ganhar experiência no ramo e conhecer os conceitos de moda e representatividade, se mudou para Nova York e através do sucesso de suas ideias, estagiou para grandes nomes e estilistas renomadas. Com cada vez mais experiência, lançou em 2009 a marca Loza Maléombho, definindo seu trabalho como uma fusão de culturas tradicionais e moda contemporânea, tendo como resultado uma estética bem eclética. Loza voltou para a Costa do Marfim em 2012, onde começou a reconfigurar a moda tradicionalista a seu modo e moldar cada vez mais seu projeto. Sua visão era empoderar mulheres com uma pequena indústria, empregando jovens com um passado desfavorável e também trabalhando em estreita colaboração com artesãos locais. A designer construiu sua marca baseada em questões sócio-raciais e experiências de vida, trazendo a beleza da diversidade e o empoderamento feminino em locais marginalizados como sua principal filosofia. Um de seus projetos foi usado no clipe Formation, da cantora Beyoncé. Sendo aclamada por Beyoncé ou não, a verdade é uma só: Loza reconfigurou arte e moda ativista a sua maneira, inspirou jovens mulheres e reafirmou a representatividade como uma das maiores formas de conscientização e resistência.


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Espelho

A seção de cabelo e maquiagem da Avesso.



INGREDIENTES NOCIVOS EM COSMÉTICOS: PERIGO OU HISTERIA?

Petrolatum. Mineral Oil. Liquid Paraffin. Sodium Laureth Sulphate. Paraben. Siloxanes. Se você buscar pela lista de componentes de algum cosméticos que utiliza, provavelmente irá encontrar algum desses confusos nomes na lista. Normalmente escritos como são classificados pela INCI (International Nomenclature of Cosmetics Ingredients), dentre essas substâncias estão derivados de petróleo, silicones, parabenos e surfactantes. Nos últimos anos, o uso desses ingredientes têm sido questionados pelos consumidores. Movimentos como no-poo e low-poo influenciaram marcas a reduzir e evitar alguns componentes. Algumas pesquisas surgiram indicando uma possível toxicidade e também alguns casos de doenças como câncer. Mas será que esses ingredientes são realmente perigosos e deve-se evitá-los a qualquer custo? Ou acreditar que se um produto está à venda é porque foi

testado suficientemente e não irá fazer mal a nossa saúde? Ingredientes nocivos são substâncias que possuem propriedades cancerígenas, mutagênicas ou tóxicas, sendo proibidas a sua utilização. Segundo a dermatologista Patrícia Magalhães (@ dermagreen, no Instagram), esses componentes passaram a ser considerados assim devido a industrialização maciça. “Quem nunca conheceu um casal jovem com dificuldade de engravidar, uma menina de 9 anos menstruar e uma pessoa com menos de 40 anos com câncer de mama? Isso se tornou endêmico e está diretamente relacionado com substâncias químicas presentes em cosméticos e alimentos”. Conservantes, fragrâncias sintéticas e filtros químicos podem causar, de acordo com Patrícia, desde efeitos imediatos como alergias e irritações, até problemas a longo prazo como a bioacumulação. A bioacumulação ocor-

Foto: Isabelle Tozzo

Por Isabelle Tozzo


re devido ao organismo não conseguir eliminar corretamente e completamente esses ingredientes, assim eles vão sendo acumulados no corpo.

Os polêmicos parabenos Conservantes como os parabenos são um desses componentes que mais têm sido evitados ultimamente. Um estudo de 2012 da Universidade de Reading na Inglaterra analisou 160 amostras de câncer de mama e encontrou pelo menos um tipo de parabeno em 99% delas. Ana Darezzo (Química da Beleza, no Facebook), engenheira química e especialista em cosmetologia, declara que tanto a Sociedade Americana de Câncer (ACS) quanto a Agência Internacional pelo Estudo do Câncer (IARC) afirmam que não existem provas que relacionem os parabenos com o desenvolvimento da doença. “O consenso dominante entre os cientistas é que os dados disponíveis não comprovam riscos relevantes ou associação ao câncer, dentro das concentrações de uso, ou seja, uso de parabenos na vida real deve ser considerada dentro de limites de segurança”. Para um produto chegar às prateleiras eles passam por diversos testes. De acordo com Ana, “no que diz respeito à composição do produto, é avaliada a existência de restrições ou regulamentações específicas a respeito dos ingredientes, assim como os dados toxicológicos e as possíveis interações entre eles. Informações disponíveis sobre o produto e artigos semelhantes, incluindo dados de cosmetovigilância, são analisados na avaliação do histórico do produto. Outros aspectos observados são as informações científicas, provenientes de revistas especializadas,

entidades e órgãos regulatórios.” Portanto, ainda não se pode afirmar que esses ingredientes sejam causadores diretos de doenças. No entanto, sabe-se que são responsáveis pela poluição invisível. Os petrolatos, por exemplo, são derivados do petróleo. Não são absorvidos pelo organismo, mas não são biodegradáveis. Além de ser uma fonte não renovável, acabam sendo prejudiciais ao meio ambiente. Porém, Patrícia afirma que alguns derivados como silicone e parafina podem ser contaminados por hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são substâncias cancerígenas provenientes do refino do petróleo. Há também a problemática envolvendo alguns filtros solares químicos, por exemplo. Eles agridem diretamente a vida marinha, reduzindo a reprodução de corais, fitoplânctons, de tartarugas e golfinhos. Voltando à questão desses ingredientes relacionados à saúde, como filtrar todas essas informações e saber no que acreditar? Patrícia Magalhães reforça a importância de ler os rótulos. “Criamos o hábito de ler a lista de ingredientes de alimentos e precisamos trazer isso para os cosméticos também. O mesmo conservante que existe num produto alimentício, possui num produto cosmético. Há até remédios infantis com parabenos na formulação.” Ana Darezzo dá a dica de estar sempre atento às informações e pesquisar os dados em artigos disponibilizados por órgãos técnicos credenciados e com respaldo sobre o assunto. Reforça ainda a importância de não acreditar em tudo que lê, “é preciso desenvolver um pensamento crítico e buscar informações com respaldo técnico, para que não se dissipe inverdades causando uma onda de insegurança e incertezas”, acrescenta.


/AVESSO/ Espelho

S Á R T R O P Á H E U Q O

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U E S O SD

Fotos: Reprodução

Toda escolha estética carrega consigo um significado, seja de forma consciente ou não. Com os cabelos não seria diferente, ainda mais algo que é facilmente modificado além de ser um dos aspectos mais visíveis do corpo. Ao longo do tempo vimos diversos cortes e estilos marcar a história daquela década, seja o prático chanel mostrando a busca pela emancipação feminina nos anos 1920 ou os longos cabelos hippie manifestando a liberdade nos anos 1970. Além de acompanhar e marcar épocas, os cortes e estilos se manifestam também em diversos movimentos sociais, atribuindo e gerando identidade aos indivíduos que pertencem a esses grupos. Os emos, góticos e punks são exemplos claros de como a estética e os cabelos se manifestam nesses grupos. O termo emo surgiu inicialmente em fanzines norte-americanas nos anos 1990. Com bandas que tinham letras melancólicas e som hardcore, os emos surgiram com seus cabelos lisos desfiados e longas franjas. Já os punks apareceram em meados dos anos 1970 como um movimento artístico de

? O L E B CA Tozzo e l l e b Por Isa

contracultura defendendo o antiautoritarismo, o anarquismo e a oposição ao consumismo. No visual, o preto, tachas e correntes estão presentes, junto com os famosos moicanos. Além desses grupos culturais e tribos urbanas, nota-se também a estética presente em movimentos sociais e políticos como os Rastafáris e os Panteras Negras. O Rastafári é um movimento tanto social quanto religioso surgido na Jamaica nos anos 1930. Baseado em citações da bíblia, os seguidores não cortam e nem penteiam os cabelos, assim os dreadlocks se formam naturalmente. Por ir contra ao padrão ocidental de beleza ou são vítimas de racismo ou possuem sua estética apropriada culturalmente pela indústria da moda. O black power também passa por esse processo. Usados pelos Panteras Negras nos anos 1960, o partido foi uma organização socialista revolucionária que reivindicava dentre diversos pontos, a luta antirracista. Ao pensarmos sobre esses movimentos e a relação com a estética, principalmente sobre os cortes de cabelo, é indispensável fazer uma diferenciação. De acordo com a antropóloga Marcella Betti, é preciso situar esses movimentos em contextos históricos políticos específicos. “Emos e góticos são grupos urbanos que

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/AVESSO/ Espelho possuem outros recortes, sendo necessário diferenciá-los dos Rastafáris e dos Panteras Negras, por exemplo, pois estes trabalham a questão racial e política muito mais forte”. Tanto os Panteras Negras quanto os Rastafáris procuraram historicamente através da estética resgatar e reconstruir uma África perdida. Marcella explica que ao pensar nesses grupos é necessário refletir que estamos falando de homens e mulheres negras que vivenciaram a diáspora africana, ou seja, estão fora da África no contexto das américas de colonização e assim a estética é extremamente politizada. Tanto a ideia do cabelo afro com o penteado mais arredondado, onde é usado instrumentos como o pente garfo, ou os dreadlocks são recursos estéticos com a ideia de positivar a negritude, de combater preconceitos e de se posicionar diante de uma sociedade racista. Em relação à identidade, em várias culturas e períodos da história o cabelo é grande alvo de manipulação. Segundo Marcella, “o cabelo é um dos aspectos mais visíveis do nosso corpo, ele é facilmente manipulável. É uma matéria morta, mas que também é muito plástica. Inclusive em alguns rituais da nossa sociedade, alterações de cabelo marcam status social, gênero, identificação étnico-racial, ritos de passagem e pertencimento religioso”. Na juventude a ideia de identificação e pertencimento é ainda mais forte. A psicóloga Luiza Assunção explica que o “fazer parte” é realizado de modo similar à construção da identidade e das representatividades de um indivíduo pelo apelo sensorial que a estética carrega. Além disso, as tribos têm papéis importantes na vida das pessoas. “pode-se entender como espaços protegidos onde o indivíduo também será identificado e reconhecido como parte do grupo, o que ajuda no fortalecimento dos valores pessoais”.

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Pitaya



Tangerina



Cereja e mirtilo



Jabuticaba



Modelos por ordem de exibição: Cezar Augusto, Laura Gallinari, Karoline Tozo e Fabio Aguiar Fotos por: Bru Vatiero, Isabela Almeida , Julia Bergamaschi, Leandro Gonçalves e Leonardo Oliveira


//AVESSO/ AVESSO/Espelho ESTILO

A PELE QUE HABITO Por Isabelle Tozzo

É natural que as tendências de moda e beleza mudem com o passar do tempo. O padrão de beleza dos nossos corpos, por exemplo, sofreu diversas alterações da renascença até os dias de hoje. Quase sempre essas tendências acompanham fortemente questões que estamos lidando na sociedade e na nossa cultura, tendo assim profundas raízes antropológicas. Observando mais atentamente o universo da estética e da maquiagem, o feminismo e pautas como empoderamento e autoaceitação têm influenciado um movimento recente: o da pele verdadeira e natural. Vemos uma crescente de maquiadores que dão preferência a uma maquiagem com uma pele mais leve e iluminada em contraposição às bases de altíssima cobertura, presentes até então. Passamos a enxergar a problemática de algumas técnicas de maquiagem, como o 102

contorno por exemplo, que padroniza os rostos em traços magros e brancos. Observamos também a mudança no modelo das sobrancelhas e como isso reflete e refletiu as mudanças na nossa sociedade em relação a mulher. Nos anos 1990 e início dos anos 2000 era comum sobrancelhas extremamente finas. Hoje vemos sobrancelhas mais grossas, naturais e com uma estética penteadas para cima. O ar “selvagem” encaixa bem com questões feministas em relação ao controle do próprio corpo discutidas na contemporaneidade. No entanto, esse estímulo ao uso de pouca maquiagem e da naturalidade vem acompanhado de um perigoso discurso. Assistimos hoje uma obsessão por uma pele perfeita a ponto de não “precisarmos” de maquiagem. Esse discurso acaba nos tirando de um padrão e nos colocando em outro. Saímos de uma era


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Foto: Reprodução

de maquiagem como obrigação e entramos numa imposição por uma pele lisa, sem marcas e manchas - o que é fora da realidade da maioria das pessoas. Apesar disso, têm surgido aos poucos algumas influenciadoras digitais e maquiadores que buscam por ressaltar a beleza real e verdadeira. Maquiagens focadas em exaltar as características de cada indivíduo, respeitando cada traço e sem buscar por um padrão. Além de tudo, que tratam de pontos como acne, manchas e rugas não mais como imperfeição e sim com naturalidade, sem buscar escondê-los. Natalia Nogueira, maquiadora, explica que para ela a mudança do olhar para uma maquiagem mais leve e natural é positiva. “Não usar tanta maquiagem faz a gente repensar em como está cuidando da pele. A gente precisa se sentir bem sem maquiagem, o embelezar é apenas para dar um up no visual, quase que como um acessório.” E reforça ainda em como 2 as redes sociais manipulam as imagens “Não existe pele perfeita. Nem das famosas. Tem uns perfis no Instagram que mostram várias artistas com a pele real. É tudo photoshop e a gente se ilude”. Hoje, mais do que nunca, a maquiagem ocidental se mostra como diversão, forma de expressão e de valorização do indivíduo. Não mais como obrigação e uma forma de disfarçar imperfeições. Até, porque, Fotos: o que são essas imperfeições? 1. @arvidabystrom 2. @peterdevito 3. @mypaleskinblog

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/AVESSO/ Espelho

Como fazer

uma limpeza de pele

a s a c m e

Por Isabela Almeida

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er uma pele bonita e macia parece ser uma coisa muito sonhada e um tanto quanto difícil para a grande população. Os motivos que dificultam isso vão desde problemas de epiderme, como acnes e manchas, ao alto valor dos produtos e tratamentos disponíveis no mercado, o que tornam o sonho da tão desejada cútis visto como algo inalcançável para uma maioria.

Passo 1:

Sabonete

Entretanto, por mais inatingível que pareça, receitas caseiras do tempo de nossas avós e produtos de baixo custo vem cada vez mais conquistando o seu espaço como aliados na busca por uma textura e homogeneidade facial. A limpeza facial, por exemplo, é um procedimento indicado para todos os tipos de peles, desde a mais seca as com excesso de oleosidade, pois ajuda na obstrução dos poros, limpando assim toda poluição e produtos que se acumulam diariamente em nossa pele, além de trazer uma infinidade de outros benefícios. Confira agora um passo a passo para fazer uma limpeza facial com um ótimo custobenefício a longo prazo, semanalmente, em casa:

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Com água de preferência morna, podendo ser enquanto você toma um banho, lave seu rosto com um sabonete de limpeza profunda, específico para seu tipo de pele.


Passo 3:

Adstringente

Passo 2:

Esfoliante Agora com a pele úmida passe um esfoliante fazendo movimentos circulares de dentro para fora, focando nas regiões com mais acne e cravos. Caso não queira gastar com um produto disponível no mercado, você pode investir numa infinidade de misturinhas caseiras como mel e açúcar mascavo.

Após remover com água fria o esfoliante, para começar o processo de fechamento dos poros, com a ajuda de um algodão, passe uma loção tônica ou um adstringente específico para o seu tipo de pele.

Passo 4 :

Argila Passo 5:

Hidratante Com a pele limpa, coloque em um recipiente uma colher de sopa de argila em pó, de preferência a ideal para o seu tipo de pele, e vá adicionando soro fisiológico até que se forme um creme maleável para ser passado em todo o rosto. Deixe agir por 20 minutos, até secar totalmente e retire totalmente com água.

Após todos esses procedimentos, sua pele precisará de muita hidratação pois estará muito sensibilizada. Para isso recomenda-se utilizar um hidratante de sua preferência, e, caso o procedimento for realizado de dia, um protetor solar para protegê-la dos raios solares.

Dica: A argila branca é recomendada para todos os tipos de pele pois ajuda na cicatrização e absorve a oleosidade sem desidratá-la ou ressecá-la.

Fotos: Isabela Almeida

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Cotidiano A seção de estilo de vida da Avesso.



//AVESSO/ AVESSO/Cotidiano ESTILO

VEGANISMO um movimento essencialmente político Por Isabelle Tozzo “Pessoa que não se alimenta nem usa produtos de origem animal, relativo à ideologia que defende a não utilização de produtos de origem animal ou que se opõe a qualquer atividade em que haja exploração animal.” É assim que o dicionário online da Língua Portuguesa define o veganismo, movimento que certamente você já deve ter ouvido falar. Nos últimos três anos o número de veganos nos Estados Unidos cresceu em 600% segundo uma publicação da Food Revolution. No entanto, a quantidade de animais mortos pelo abate não diminuiu. Enquanto empresas como a Nestlé investe em produtos alimentícios a base de vegetais no ocidente, há uma forte campanha para incentivar a adesão de leite na China, onde o consumo nunca fez parte dos hábitos

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da população. Questões como essa colocam em pauta o veganismo disseminado pela mídia e adeptos do movimento buscam por uma repolitização do mesmo. Dessa forma, novos termos surgem para diferenciar e criar vertentes dentro do veganismo, tais como veganismo popular e veganismo liberal. De acordo com Juliana Gomes, jornalista e criadora do @comidasaudavelpratodos, o veganismo liberal se insere na lógica de mercado e não busca uma ruptura com o sistema. “É o veganismo que aplaude as grandes empresas, que acha que por si só vai mudar o mundo e é uma visão muito desconectada das coisas. Por isso buscamos por um outro veganismo que chamamos de político, revolucionário ou popular.” Sendo assim, o veganis-


filhos chegarão em casa vivos. Muitas vezes essas pessoas não tem espaço para fazer esse questionamento sobre libertação animal, sobre a saúde delas ligadas à alimentação, sobre soberania alimentar. A gente tem que reconhecer esse privilégio de poder se queixar em relação a isso, mas não encarar isso com soberba. Temos que tentar colocar isso em prol da sociedade para poder construir esse veganismo popular que a gente quer.”

Fotos: Reprodução

Arte: Isabelle Tozzo

mo popular surge em contraposição ao liberal. Fabiana Silva, idealizadora do @baurupeloclima explica que ele vai muito além da dieta e das mudanças de hábito. “Ele se propõe realmente a emancipar os animais, a contestar o sistema que envolve a exploração deles e de tantas outras pessoas. É um veganismo anti-capitalista que acredita que dentro desse sistema não existe uma emancipação de animais, nem de pessoas.” Mas, como é o veganismo liberal o mais difundido pela mídia e pelas publicidades, muitas pessoas só tomam conhecimento do movimento através de produtos criados pelas grandes indústrias. Logo, a ideia de que o veganismo é caro toma conta do imaginário da população que crê ser necessário consumir tais produtos para fazer parte do grupo. Em essência o veganismo não é elitista. Pelo contrário, ele busca por soberania alimentar e enxerga que a comida deve ter uma boa relação com o meio ambiente, com os animais e deve nos manter saudáveis, ou seja, livre de agrotóxicos. É um movimento que defende que a alimentação não deve ser mercadoria e que a comida orgânica deve ser acessível. Inclusive, Juliana reitera que sempre tivemos ao longo da humanidade diversos povos naturalmente veganos sem precisar usar o rótulo, principalmente porque é muito mais caro criar animais. O veganismo é acessível a todos, no entanto Fabiana chama atenção para o fato de que não é fácil para todo mundo. “Não podemos ser ingênuos de achar que não existe uma parcela da população que vai ter dificuldade de manter uma dieta vegana, mesmo ela sendo baseada em grãos e legumes. Porque as pessoas tem a precarização da sua alimentação, comem o que tem e o que podem comprar.” e reforça ainda que grande parte da população não tem o privilégio de refletir e escolher o que consomem. “Existem pessoas que trabalham 12 horas por dia e que estão preocupadas em sobreviver, se são

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/AVESSO/ Cotidiano

veganize

Foto reprodução

Por Bru Vatiero A moda que une um estilo de vida à consciência do vestir-se

A moda faz parte do cotidiano. Ela pode estar no guarda-roupa, nas vitrines, indústrias ou em produções artesanais. Todos os dias as pessoas se questionam qual roupa irão vestir e de que forma vão se expressar a partir delas. Esses aspectos estão diretamente relacionados ao mundo da moda, mas não se limitam a isso: a moda vegana está cada vez mais ganhando visibilidade. O veganismo diz respeito ao não consumo de produtos de origem animal ou qualquer derivado. As roupas veganas também seguem essa premissa, não utilizando de matérias primas como a lã, couro e seda, por exemplo. Michaela Jahson, estudante de Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia, é vegana há 5 anos e conta os motivos que a levaram a aderir à esse movimento. “Eu me tornei vegana principalmente como uma tentativa de diminuir a exploração animal (...), depois vieram as questões ambientais. Eu não sabia que o que mais desmata e utiliza

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água no mundo é justamente a indústria da carne, ovo e leite”, explica. Para ela, o veganismo pode ser considerado um estilo de vida por não restringir-se, apenas, ao âmbito da alimentação. Como por exemplo, certificar-se de que não são feitos testes em animais ou que não há trabalho escravo no processo produtivo de confecção de roupas. Essa são maneiras de refletir sobre quem irá lucrar com essa forma de consumo. Iana Perez, pesquisadora na área de Design para Sustentabilidade, partilha da ideia de que o veganismo e a moda possuem relação direta, e que as roupas também são uma forma de comunicação. “Por meio delas comunicamos não apenas nosso estilo, mas quem somos ou como queremos ser vistas(os), quais causas defendemos, no que acreditamos. O veganismo, no mundo da moda, tem muita relação com essas mensagens que passamos”, pontua. “Muitas pessoas não sabem o que realmente significa ser vegano, mas uma camiseta com uma mensagem escrita pode iniciar diálogos”, acrescenta. O processo de produção de roupas é um dos pontos em que a moda vegana pode diferenciar-se do fast fashion, confecção em massa de grandes marcas. Entretanto, segundo a pesquisadora, é preciso tomar cuidado em associar a “moda vegana” com “moda sustentável”. Para um produto ser vegano há o princípio de não utilizar elementos de origem animal, o que não significa necessariamente ser sustentável. “A questão é saber diferenciar as marcas que tem um propósito autêntico daquelas que praticam greenwashing e veganwashing. Ou seja, diferenciar as que estão comprometidas de fato com as causas ambiental e animal daquelas que apenas utilizam essas causas para agregar valor aos seus produtos e à sua imagem”, ressalta Iana. Já para Michaela, a relação de consumo na

moda refere-se a noção de possuir o menos possível. “Não sou muito fã do consumismo e a gente precisa pensar quantos pares de tênis e quantas peças de roupas realmente precisamos”, relata. A estudante afirma ter preferência em comprar peças de brechós e procura pesquisar se os produtos que compra em lojas são ecológicos. Além disso, ela diz que costuma comprar roupas de marcas que são veganas “sem querer”. Por exemplo, como afirma Iana, uma simples camiseta de algodão é vegana, só não possui o selo de “produto vegano”. Apesar das discussões em torno da moda vegana, a escolha entre consumir roupas da indústria fast fashion ou de uma produção sustentável, como propõe o slow fashion, é uma ação micropolítica, ou seja, uma decisão pessoal. Porém, de acordo com Michaela, existe um potencial de crescimento dessa concepção de moda, pela urgência em repensar o consumo e também pela escassez de recursos naturais que o mundo da moda proporciona. Além disso, é notável na história da moda avanços em relação ao uso de matéria prima de origem animal. Iana Perez exemplifica, “O uso de peles é cada vez menos visto como algo elegante. O seu significado tem sido alterado para algo cafona, cruel e leviano. Temos visto cada vez mais movimentos contra o uso de peles nas roupas e contra eventos de moda que permitem sua aparição”. O veganismo está cada vez mais se difundindo e ganhando visibilidade por trazer à tona críticas nos mais diversos aspectos, da culinária à moda. É importante ressaltar que apesar da moda vegana ter ganhado força recentemente, assim como os debates acerca do assunto, existe um potencial de crescimento e aceitação desse estilo de vida.

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SLOW FASHION Entrevista com Iara Silva Rodrigues Por Bru Vatiero

Iara Silva, 21 anos, é estudante de Design de Moda, Estilista, Produtora de Moda e também Publicitária.

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Foto reprodução

“Eu acho que a moda é um pedaço muito grande e rico de cultura, de arte, de expressão, de identidade”

O que é o Slow Fashion? E quais seus principais aspectos?

Você considera o Slow Fashion um movimento revolucionário no mundo da moda?

“O Slow Fashion, como o próprio nome já diz, é uma produção de moda mais lenta. Uma cadeia produtiva com fluxo menor em todos os sentidos. Na maioria das vezes são de marcas menores, com uma quantidade menor de produtores e são menos produtos confeccionados por vez, por ser um processo mais limpo, muitas vezes mais ecológico, ou que ressignifica, recicla, reutiliza materiais já usados e afins. É uma moda que de certo modo é mais artesanal, por isso ela demora, é muito feita a mão, com pequenos produtores, não é uma coisa que utiliza grandes maquinários e grandes produções como a indústria.”

“Eu com certeza acho que é um movimento incrível. Na verdade, não é nem um movimento revolucionário, porque antigamente ele já acontecia, lá nos primórdios da história da moda, quando as roupas começaram a tomar mercado e o capitalismo engoliu essa indústria. Então não é revolucionário, ele só está voltando. Mas eu acho que agora está voltando para ficar, porque as pessoas estão preferindo uma moda, uma peça que tenha identidade, uma história por trás, que não só traga um conceito, mas que tenha um significado, uma moda com propósito. Uma pessoa que vai lá, procura microprodutores de algodão, que tece aquele tecido a mão, que tinge a mão com produtos naturais. As pessoas, inclusive, atualmente, estão preferindo pagar mais por isso do que pagar barato em uma fast fashion , em uma grande indústria da moda, porque sabem que muito provavelmente passaram por mão de obra escrava e é aquele “barato que sai caro”. Eu amo esse movimento e acredito que para quem não o conhecia no caso, sim ele é um movimento revolucionário.”

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/AVESSO/ Cotidiano

Existe alguma relação entre o Slow Fashion e uma liberdade no “vestir das pessoas?

Foto reprodução

“Eu acredito muito que a relação entre o Slow Fashion e a liberdade no vestir das pessoas está 100% correlacionado sim. Antigamente, quem lançavam as tendências, ditavam a moda e os estilos, eram as grandes marcas. Era um movimento que vinha de cima para baixo, das grandes para o povo, para as massas. Agora principalmente essa geração jovem, que entende e se preocupa melhor com os processos principalmente relacionados com a cadeia produtiva da moda. O slow fashion está casado com isso, o movimento está vindo de baixo para cima, a gente vê que as grandes marcas estão se preocupando, cada vez mais, em mudar e fazer uma moda com propósito, em abraçar a diversidade e derrubar tabus sobre padrão de beleza . É isso, a galera procura muito mais se identificar com as peças, porque hoje se eu não me vejo naquilo eu não compro, não consumo.“

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Você participou como aluna embaixadora do Fashion Revolution no Brasil. Qual foi sua experiência? “Fashion Revolution é um evento de moda, de profissionais de moda para profissionais, amantes, e estudantes de moda. É uma semana para debater sobre uma moda mais ética, responsável e sustentável. A gente vem em peso para compartilhar entre nós, para pulverizar cada vez mais as informações relacionadas ao modo como o universo da moda tem partes que machucam pessoas e como é um universo muito capitalista, que padroniza demais. É uma das cadeias produtivas que mais afetam o meio ambiente. E para mim foi incrível poder representar o Fashion Revolution na cidade de Campinas, como aluna embaixadora, como estudante de moda, e acompanhar de perto, auxiliar na promoção do evento.”


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