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Capa: Proposta do autor, contemplando na parte frontal, imagem da Pedra da Onça vista de Várzea Alegre, Santa Teresa. No lado oposto e, acima, o mesmo maciço rochoso — fotografia de Edduardo Lima —, como é visto do distrito de Praça Oito, Itarana. de água-marinha (ainda não definida). Diagramador: Revisores de gramática e ortografia: Professor Pedro J. Nunes e Tânia Canabarro Impressão: Participação especial e revisão técnica: Drª. Daniela Teixeira Carvalho Newman Profª. Departamento de Gemologia UFES. Doutora em Petrogênese, Depósitos Minerais e Gemologia. Especialista em Gemologia. Especialista em Caracterização Mineral, Petrológica e Gemológica de Materiais 005527- 88615584. Catalogação: (sugestão) © Copyright by Idomar Taufner Editores: Projeto gráfico e editoração:
Taufner, Idomar A Pedra da Onça : jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo: memórias II / Idomar Taufner. – Vila Velha : Gráfica - 2012. 000 p. ; 21cm. ISBN
2 1. Garimpos – Espírito Santo (estado). 2. Cristais – Espírito Santo (estado) – Identificação. 3. Minerais – Espírito Santo (Estado) – Classificação. I. Título. II. Título: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo: Memórias II.
Todos os direitos reservados. A reprodução de qualquer parte desta obra, por qualquer meio, sem a autorização do autor, constitui violação da LDA 9.610/98.
Uma citação especial Ao ensejo da publicação do livro A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo, em 3ª edição. Vale lembrar o nome de uma pessoa que trabalhou, incentivou, acreditou e constatou a certeza de que o livro era viável e surpreenderia a muitos pelo ineditismo do assunto e a extensão da obra. Esse nome é Homizio dos Santos Muniz, quem elaborou meu primeiro livro, o “Memórias”. Ele logo me alertou para que eu escrevesse um texto sobre o tema dos minerais-gema no estado do Espírito Santo, pois suspeitava que eu tivesse domínio sobre o assunto, coisa inédita e pioneira na literatura capixaba. Depois de iniciar com as memórias colhidas oralmente de pessoas que efetivamente tiveram participação na lavragem da jazida da Pedra da Onça, continuei na coleta de dados, usando sempre o recurso dos registros orais de testemunhas que participaram ou que estiveram presentes nos vários garimpos disseminados de Norte a Sul e de Leste a Oeste na quase totalidade dos municípios desta unidade da federação. Nas duas edições do livro dos garimpos de gemas, graças à especial participação efetiva desse profissional, aprendi algumas práticas de elaboração e organização de livros, conseguindo, até o momento, publicar sete obras, tendo, no momento, cerca de cinco trabalhos prestes a serem postos ao público. Devo esclarecer que minha contribuição na literatura capixaba decorreu da imperativa necessidade de exercitar-me mentalmente, contribuindo para retirar-me da inércia e da ociosidade da inatividade causada por minha aposentadoria precoce, motivada por moléstias incapacitantes. Mas a participação do também aposentado Hormízio foi o toque inicial na “bola” e aí não parei, fazendo muitos “gols”, ganhei “partidas” graças a esse dedicado treinador, a quem dedico minha penhorada gratidão. Mais agradecimentos Agradeço outros colaboradores e informantes, quer daqueles que testemunharam com sua presença, citando inicialmente Hilário Toniato, Angelim Pioroti, Djalma Fardin, testemunhas ligadas à lavragem da mina da Pedra da Onça. Estendo agradecimentos a outros participantes, nominados ao longo do livro e outros colaboradores anônimos. A todos, o meu muito obrigado.
3 Epígrafe "A riqueza de um povo consiste, não nas suas reservas de ouro e prata, mas na sua produção". De autoria de Adam Smith, do livro "A Riqueza das Nações".
SUMÁRIO Apresentação à 3ª edição A publicidade Os primeiros comentários Antônio Ângelo Zurlo Aldo Andrich Sônia Zanotti Xavier Ronald Mansur
CIAS – textos e imagens As notícias nos jornais Prefácio à primeira edição Apresentação à segunda edição Resumo dos temas deste livro Termos usados neste livro O maciço rochoso do Charuto INTRODUÇÃO 1 – Lavra do Juca Zanotti 2 – Lavra do Rabo de Tatu 3 – Lavra da Pedreira do Toma Vento 4 – Lavra dos Zanotti 5 – Lavra da Pedra da Onça 6 – Lavras de Pedra Alegre e do Triunfo
PARTE I JAZIDAS, LAVRAS E GARIMPOS NA PEDRA DA ONÇA E NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO CAPÍTULO I A JAZIDA DA “PEDRA DA ONÇA” DESCOBERTAS PIONEIRAS AS JAZIDAS NA DÉCADA DE 1930 A JAZIDA DA PEDRA DA ONÇA A descoberta A lavra A importância da lavra A versão da descoberta contada na região O testemunho de Angelim Piorotti Relato de Hilário Toniato Relato de Cassemiro Postinghel (Iote) Quem, afinal, descobriu a jazida?
4 OUTRAS JAZIDAS NAS ADJACÊNCIAS DE SANTA TERESA A lavra dos “Roccon” A lavra do Triunfo Lavras nos altos de Santa Teresa, Itarana, Afonso Cláudio e em outros municípios. Lavra em São Sebastião do Rio Perdido (Santa Teresa)
CAPÍTULO 2 JAZIDAS E LAVRAS EM OUTRAS REGIÕES DO ESPÍRITO SANTO OUTRAS DESCOBERTAS Jazida de João Neiva PEQUENAS JAZIDAS EM VÁRZEA ALEGRE Alguns descobrimentos casuais Minerais-gema na propriedade de Sebastião Pivetta Lavra na propriedade de Bepi Roccon Descobertas de minerais-gema nos entornos da Pedra da Onça e de Várzea Alegre A lavra do maciço rochoso do Toma Vento Garimpos de 1966 a 1969 LAVRAS E JAZIDAS EM OUTRAS LOCALIDADES Novamente a lavra do Triunfo Garrafão Afonso Cláudio e outros municípios Pedra Alegre Localidades auríferas PEQUENAS JAZIDAS DESCOBERTAS NA DÉCADA DE 1950 A lavra dos Zanotti A lavra de crisoberilo de São João Grande Garimpos em Pancas Florício Bassani relata Outras lavras e alguns empresários em Pancas PROFISSIONAIS DE LAVRAS E COMERCIANTES DE GEMAS Dois grandes cristais de água-marinha extraídos em Pancas Mais uma lavra em Várzea Alegre RELATOS DO GARIMPEIRO WALDEMAR NUNES Garimpos em Fundão e municípios vizinhos A lavra do Oséias A lavra do Córrego do Ouro A lavra de crisoberilo olho-de-gato no Putiri Lavras nas proximidades de Timbuí Uma jazida de citrino Jazidas nos Carneiros Jazida em Pendanga LAVRAS NA REGIÃO DO GOIAPABA-AÇU E PROXIMIDADES Pequenas e antigas jazidas LAVRAS EM IBIRAÇU, ARACRUZ E JOÃO NEIVA As constatações GARIMPOS NA REGIÃO SERRANA No Rio Pontes
5 OUTROS ACHADOS MINERAIS NO ESPÍRITO SANTO Grafita Rochas ornamentais Calcário K-Feldspato Caulim Mica
CAPÍTULO 3 GARIMPOS E GARIMPEIROS PARTICIPAÇÕES DO AUTOR NO GARIMPO Presença nas lavras As lavras na minha infância Na lavra do Roccon Invasão de lavra Lavrando nas terras de Guilherme Zanotti A lavra do rabo de tatu Em Colatina Em São Casemiro Na lavra João Neiva Em Santa Joana Retorno à lavra de João Neiva Garimpo na propriedade de José Ângelo Venturini Nova lavra AGORA, OUTROS GARIMPEIROS... Francisco Evangelista Hugo França e seus feitos Relatos de Paulo Demoner, agricultor e garimpeiro Informações de Alcebíades Ghisolfi Os Gomes, uma família de garimpeiros Clementino Scotar e suas histórias Gervásio José Pivetta, garimpando desde à infância Informes de Baunílio Rossi (ou Ermiton Rossi) Ivo Zanotti e suas participações nos garimpos Felisberto Magdalon conta como foi sua atividade no garimpo Jair Fanti e seus comentários Irmo Roberto Possatti informa como foram suas participações Guerino Bridi Filho e suas histórias Valmir Martin Vulpi presta importantes informações O garimpeiro Gilson Loss Braz Ferreira, profissional do garimpo Irmãos Alfeu (Preto) e Antonio Scottá no garimpo O garimpeiro Antônio Braz Possatti Hilton José Corteletti, empresário de garimpos Alarico Barcelos garimpando em Fundão Acrísio Zanotti, garimpeiro tornado empresário Um informante anônimo, mas valioso
CAPÍTULO 4
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COMPLEMENTANDO... DESCONFIANÇA E REALIDADE Peculiaridades Outros aspectos dos garimpos Alguns empresários do garimpo OS ACAMPAMENTOS Objetos de uso pessoal Cozinha, alimentação e outros costumes. Materiais e medicamentos para primeiros socorros Algumas palavras e termos usados no garimpo Compradores de gemas Lapidadores
PARTE 2 TEORIA E TECNOLOGIA CAPÍTULO 5 MINERAIS-GEMA ENCONTRADOS NO ESPÍRITO SANTO MAPA COM A LOCALIZAÇÃO DOS MINERAIS-GEMA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Comentários GEMAS DO ESPÍRITO SANTO O QUE É UM CRISTAL HIALINO? Características A gênese da formação dos minerais Localização das jazidas Existiram vulcões na região? A mensuração da massa das gemas Classificação das gemas Autenticidade da origem Utilização das gemas Minerais-gema do Espírito Santo QUADRO I - CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DOS MINERAIS-GEMA PRODUZIDOS NO ESPÍRITO SANTO
CAPÍTULO 6 CRISTAIS EM BRUTO E GEMAS PRODUZIDAS NO ESPÍRITO SANTO Fotos, descrições, origem dos achados e noções de cristalografia Água-marinha Características Onde são encontrados os cristais de água-marinha? Imagens Alexandrita Andaluzita Localizaçõe significativas da andaluzita Ametista Berilo Brasilianita Calcita
7 Crisoberilo Crisoberilo olho-de-gato Escapolita Fluorita O mineral Granada Hematita Morganita VARIEDADES DE QUARTZO Quartzo róseo Quartzo fumé Citrino Quartzo hialino Quartzo com irisdecência Olho da lua Pirita Topázio Turmalina Turmalina negra A constatação
CAPÍTULO 7 OS MATERIAIS TERRESTRES Definições Mineral Mineralóide Mineralogia Rocha Os minerais Minério Jazida Mina Substâncias cristalinas e amorfas Cristais PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS MINERAIS Forma cristalina Sistemas cristalinos Sistema cúbico (isométrico) Sistema tetragonal Sistema triclínico Sistema hexagonal Fácies e hábitos Clivagem Dureza Escala Mohs Tenacidade Peso específico ou densidade relativa Principais propriedades óticas dos minerais
8 Brilho Cor Cores dos minerais metálicos Cores dos minerais não metálicos Traço Outras propriedades importantes Classificação química dos minerais Composição mineralógica da crosta continental Mineral % na crosta Minerais de importância econômica Silicatos Minerais formadores das rochas Minerais formadores de rochas ígneas Minerais de importância econômica Formas dos hábitos cristalinos
CAPÍTULO 8 TÉCNICAS DE GARIMPAGEM E DE BENEFICIAMENTO DE GEMAS OS LOCAIS DO GARIMPO Galeria Garimpo a céu aberto Em lençol de aluvião Lapidação das gemas ALGUNS TIPOS DE TALHES DE GEMAS A lapidação moderna Os talhes portugueses Lapidações especiais que valorizam as gemas A DUREZA DOS MINERAIS Indicativo para os testes de dureza Preço das gemas Joias
CAPÍTULO 9 O “PODER” DOS CRISTAIS E CURIOSIDADES A ação terapêutica de algumas gemas Signos e as gemas Os meses e as gemas correspondentes Os planetas e as gemas correspondentes Profissões e suas gemas Aniversários de casamento e seus símbolos As gemas e os anjos correspondentes
CAPÍTULO 10 FINALMENTE... Metodologia usada na coleta das informações Fontes primárias Sobre a lavra da Pedra da Onça Sobre a lavra dos Zanotti Sobre a lavra de João Neiva
9 Sobre as lavras em Pancas Sobre as lavras em Afonso Cláudio Sobre jazidas de ouro no Estado do Espírito Santo Depoimentos do Professor Ezequiel Ronchi GLOSSÁRIO REFERÊNCIAS CRÉDITOS PARA AUTORES DE FOTOGRAFIAS E IMAGENS ILUSTRATIVAS Nº 001 002 003 004 005 006 007 008
Origens das fotografias Fotografia da Pedra da Onça na capa – Imagem tomada pelo autor Fotografia da Pedra da Onça na contracapa – Eduardo Lima, em 2007 Fotografia registrada pelo autor, em 2010 Fotografia feita pelo autor, em 2010.
009 e 009-A
Hilário Toniato -Fotografia cedida por Petruska Toniato. Doutor Olívio Lyra – Juiz de Direito na Comarca de Itaguaçu na década de 1940 (Autoria da imagem não informada).
010 011 012 013 014 015 016 017 018 019 020 021 022 023 024 025 026 027 028 029 030 031 032 033 034 035 036 037 038 039 040 041 042
Fotografia feita pelo autor em 2007.
Fotografia registrada pelo autor em 2007. Fotografia tomada pelo autor em 2007. Fotografia de autoria de Eduardo Lima, em 2007.
Fotografia tomada pelo autor, em 2006.
Fotografia registrada pelo autor em 2008. Quartzo turmalinado. Imagem obtida na Web Cristal de água marinha. Fotografia de Daniela Newman Pedra do Garrafão. Imagem obtida da Web Localidade de Empoçado – Afonso Cláudio. Fotografia de Kaledy R. Gomes Pedra Alegre. Fotografia do autor, em 2008. Florício Bassani. Fotografia do autor, em 2007. Paisagem de Pancas. Fotografia obtida na Web. Cristal de água-marinha com 20,5 kg. Fotografia cedida por Florício Bassani. Fotografia feita pelo autor, em 2010. Paisagem do Toma Vento à Pedra da Onça. Vista do Goiapaba-Açu. Fotografia feita pelo autor, em 2007. Garimpo de aluvião. Fotografia de autoria ignorada, cedida por Clementino Scotar. Garimpo de aluvião. Fotografia de autoria ignorada, cedida por Clementino Scotar. Garimpo de aluvião. Fotografia de autoria ignorada, cedida por Clementino Scotar. Hugo França Zanotti. Fotografia cedida por Mafalda Corteletti, em 2007.
Felisberto Magdalon. Fotografia do acervo do autor, registrada em 2007. Clementino Scotar. Registro em fotografia tomada pelo autor em 2007. Gervásio José Pivetta.Fotografia tomada pelo autor em 2006.
Baunílio Rossi. Fotografia feita pelo autor em 2007. Ivo Zanotti. Imagem tomada pelo autor em 2007. Jair Fanti. Fotografia feita pelo autor em 2007. Irmo Possatti. Fotografia feita pelo autor em 2007. Guerino Bridi Filho. Fotografia feita pelo autor em 2007. Valmir Martin Vulpi. Fotografia registrada pelo autor, em 2007. Alfeu e Antônio Scotá. Fotografia registrada pelo autor, em 2007. Antônio Braz Possatti. – Fotografia feita pelo autor, em 2007. Hilton José Corteletti. - Fotografia registrada pelo autor, em 2007. Acrísio Zanotti. Fotografia cedida por sua filha Sônia Zanotti, em 2007. O Espírito Santo com a localização dos minerais-gema. Trabalho feito p/autor. Província Pegmatítica Oriental do Brasil. Colaboração da Prof. Daniela Newman. Fotografia copiada da p. 456 do livro Minerais e Pedras Preciosas do Brasil. Pedra do Pontão. Imagem obtida no endereço http://177.131.161.212/pmms/.
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Visão panorâmica da localidade de Várzea Alegre, em 2010. Fotografia do autor. Cristal de magnetita octaédrico. Imagem obtida na Web, em site citados nas referências. Água-marinha fotografada pelo autor na “Pedra Brasileira”, Vitória-ES. Água-marinha facetada procedente da lavra do “Roccon”, fotografada pelo autor (2007). Água-marinha fotografada pelo autor na “Pedra Brasileira”, Vitória-ES. Três cristais de água-marinha procedentes de Várzea Alegre. Foto do autor, em 2007. Escória de berilo verde em bruto. Fotografia na “Pedra Brasileira”, Vitória-ES, em 2007. Água-marinha em bruto. Cristal procedente de Pancas. Fotografia Florício Bassani, 2007.
Águas-marinhas lapidadas nos formatos (tipo brilhante), redondo, antique, oval e pêra. Imagens na p. 26, de SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. Par de brincos com água-marinha em gotas, provenientes de Itaguaçu-ES. Imagens obtidas na p. 31. SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. Fotografia de crisoberilo, procedente de Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. Fotografia de alexandrita, procedente de Gemas do Mundo. Fotografia de alexandrita, procedente de Gemas do Mundo. Cristal em bruto de andaluzita no formato prismático. Fotografia do autor, 2007 Quatro cristais em bruto de andaluzita (formato de estilhaços). Fotografia obtida da coleção particular de Baunílio Rossi. Santa Teresa, 2006 Fotografia obtida da p. 111. SAUER, jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. Gema facetada, com 3 quilates, Fotografia do autor . Coleção de Nair Lelis, em Itarana-ES. Gema de ametista facetada no formato oval, 10 quilates. Coleção do autor. Gema de ametista facetada no formato oval, 10 quilates. Coleção do autor. Drusa de ametista com noventa quilogramas. Fotografia do acervo de Guerino Bridi Filho. Mineral oriundo da região de Itarana-ES. Gemas de ametista facetadas. Fotografia obtida na p. 84. SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. Gema de berilo dourado. Foto obtida do livro Gemas do Mundo, p. 97, de SHUMANN, Walter. Gema de heliodoro. Foto obtida do livro Gemas do Mundo, p. 97, de SHUMANN, Walter. Berilo amarelo em bruto. Foto obtida do livro Gemas do Mundo, p. 97, de SHUMANN, Walter. Berilo em bruto, cor verde. Foto obtida do livro Gemas do Mundo, p. 97, de SHUMANN, Walter.
Imagem de brasilianita, em fotografia do autor, pertencente à coleção de Gervásio José Pivetta, em 2007. Imagem de brasilianita em bruto, resultante de cópia extraída em Brasil: Paraíso de Pedras Preciosas, p. 76. Três exemplares de brasilianita facetadas. P. 208 de Gemas do Mundo. Imagem obtida na Internet (site citado no texto e nas referêncis). Exemplar de crisoberilo facetado, 8 quilates, do acervo e fotografia do autor. Fotografia de crisoberilo olho-de-gato. Coleção do autor. Fotografia de gema de crisoberilo olho-de-gato, copiada do livro Gemas do Mundo. Fotografia de gema de crisoberilo olho-de-gato, copiada do livro Gemas do Mundo. Geminação cíclica de crisoberilo completa. Itaguaçu-ES. Fotografia da p. 65 de Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
Duas gemas de crisoberilo olho-de-gato. A peça da direita é da variedade ALEXANDRITA. Imagem obtida na p. 64 de Brasil Paraíso de Pedras Preciosas Quatro cristais de escapolita em bruto e cinco facetados. De Gemas do Mundo. Fluorita, na p. 111, do livro Brasil Paraíso de Pedras Preciosas, de SAUER, Jules Roger. Dois octaedros de clivagem de fluorita. Imagem obtida de Gemas do Mundo. Dois exemplares de fluorita facetados. Origem Gemas do Mundo. Seis peças facetadas. Imagens copiadas, de Brasil Paraíso das Pedras Preciosas. Granada em bruto na rocha matriz. Imagem copiada de Brasil Paraíso das Pedras Preciosas. Exemplares de hematita lapidada e um cristal fraturado. Copiado da p. 163, de Gemas do Mundo.
Fotografia peça facetada de morganita da p. 96 do livro Gemas do Mundo.
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Um cristal de morganita em bruto. P. 96 do livro Gemas do Mundo. Exemplar raro de quartzo rosa, com inclusões de turmalinas. P. 98, Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. Fotografia de quartzo rosa estilhaçado. Imagem pertencente do acervo de Baunílio Rossi, Santa Teresa-ES. Cristal fumé. Coleção de Alonso Possatti. Várzea Alegre, Santa Teresa-ES, Imagem em 2007. Cristal fumé facetada. Coleção de Pedra Brasileira, Praia do Canto, Vitória-ES Cristal fumé facetado. Coleção de Nair Lélis, Itarana-ES. Fotografado pelo autor em 2006. Citrino facetado. Acervo de “Pedra Brasileira”. Fotografia tomada pelo autor em 2006. Cristal geminado,Muqui-ES. Coleção de Clementino Scotar. Fotografia do autor em 2006. Estilhaço de quartzo de hialino com o efeito ótico da irisdecência. Coleção do autor. Fotografia de dois cabochões de pedra da lua. Efeito olho-de-gato. Coleção do autor. Pirita. Peça ao natural com a cor esmaecida pela oxidação. Coleção do autor. Pirita da coleção de Clementino Scotar. Sem características da aparência natural devido às fraturas. Brilho metálico. Fotografia do autor. Fotografia de uma peça de topázio incrustado em rocha matriz Peça facetada. Imagem obtida da, p. 103. Gemas do Mundo. Fotografia de topázio azul. P. 60.Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. Cristal topaze sur gangue de quartz. Imagem obtida de VERT, Guide. Les Mineraux, p. 62. Três turmalinas facetadas. Imagem obtida de Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. Estrutura Cristalina da Halita. (Capítulo 6). Sistema cúbico isométrico. (Capítulo 6). Características do Sistema Tetragonal. (Capítulo 6) Características do Sistema Triclínico. (Capítulo 6).
Características do Sistema Hexagonal. (Capítulo 6). Facies e Hábito. (Capítulo 6). Clivagem. Figura constante do capítulo 6. Figura com tipos de clivagem. (Capitulo 6). Figura explicativa sobre os silicatos (Capítulo 6).
Galeria subterrânea. Imagem obtida no site da folhavitoria. Escavação de uma galeria subterrânea. Imagem procedente do IBGE. Fotografia da Profª Daniela Newman Numa galeria subterrânea de garimpo.
Garimpo a céu aberto. Foto registrada pelo autor em 2008. A - http://videohned.com/ Três fotografias cedidas por Clementino Scotar do seu acervo. Figura de talhes de lapidação do livro Gemas do Mundo. Formas facetadas de gemas. Fonte: http://heartjoia.com/1287-lapidacao-talhes-gemas. Formas facetadas de gemas. Fonte: http://heartjoia.com/1287-lapidacao-talhes-gemas.2. Lapidação em facetamento brilhante. Fonte: http://heartjoia.com/1287-lapidacao-talhesgemas. Talhes variados com facetamento em degraus. Fonte: http://heartjoia.com/1287-lapidacaotalhes-gemas. Talhes modalidade barion. Fonte: http://heartjoia.com/1287-lapidacao-talhes-gemas. Talhes com facetamento misto. Fonte: http://heartjoia.com/1287-lapidacao-talhes-gemas. Fotografias tomadas pelo autor nas joalherias citadas acima, em 2007.
Imagens relativas às publicações s/o livro A Pedra da Onça Nº 125 126 127 128 129
Histórico Três Flagrantes fotográficos registrados no CIAS, 20.11.2007. Dois recortes do Jornal A Tribuna (Serra Pelada no ES). Jazidas em Itarana cercadas de mistério Rainha usa gemas de Itarana Arte de escrever faz bem – publicação em periódico da ANFIPES
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12 Notícia sobre o lançamento no Jornal da AMPC
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RELAÇÃO DOS QUADROS CONSTANTES DESTE LIVRO Nº I
ESPECIFICAÇÕES CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DOS MINERAIS-GEMA PRODUZIDOS NO ESPÍRITO SANTO A DUREZA DOS MATERIAIS
II A DUREZA DOS MATERIAIS Fonte: Gemas do Mundo III IV
IV Fonte: Cópias de páginas de tabelas expedidas pelo Boletim Referencial de Preços do DNPM, em 2009. IMAGENS ILUSTRATIVAS DA AÇÃO DE CURA DAS GEMAS
V OS SIGNOS E AS GEMAS VI VII
Símbolos dos aniversários de casamento. Os minerais-gema e os respectivos anjos.
VIII
PÁGINA
13 Apresentação à 3ª edição Depois de exaustivas providências, resultou a impressão de alguns exemplares da 2ª edição na GRAFITUSA, todos distribuídos para avaliação, visto que a existência de empecilhos técnicos tornava o livro inexequível, dando-se como encerrada sua tiragem. Havia ainda a necessidade de serem acrescidos novos conteúdos e exclusão de outros menos importantes ou inapropriados, sem prejuízo daquilo que foi proposto para o livro A Pedra da Onça – jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo. As primeiras modificações já se iniciam pela capa e contracapa: capa proposta pelo autor, contemplando na parte frontal, imagem da Pedra da Onça vista de Várzea Alegre, Santa Teresa. No lado oposto e, acima, o mesmo maciço rochoso — fotografia de Frizzera —, como é visto do distrito de Praça Oito, Itarana e cinco prismas de cristais de água-marinha Coisa mantida foi o título da obra que, tem novo posicionamento das ilustrações, embora mantenha o nome utilizado desde à primeira edição — A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo. Tudo isso teve como motivação a necessidade de que o leitor tivesse uma visão objetiva, a partir das informações constantes da capa sobre os reais conteúdos do livro. Às histórias (memórias) da lavra no garimpo da Pedra da Onça foram acrescentadas valiosas informações obtidas do Conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo Erasto de Aquino e Souza, filho de João Bento de Aquino, que figura entre os principais participantes da lavra da Pedra da Onça. As informações, que agora se incluem ratificam tudo o que se relatou nos textos do livro A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo, nas edições 1ª e 2ª. Tudo corrobora com os textos dessas edições iniciais, agora confirmados. Mantidos os textos originais, acrescidos de algumas inclusões, como é o caso das descobertas e prospecções de ouro em terras capixabas, enriquecendo o conteúdo da obra, a 3ª edição tornou-se fato concreto. Disso decorreu a necessidade da sua publicação, mostrando modificações a partir da própria capa do livro, destacando as duas vistas da Pedra da Onça: uma de Várzea Alegre, no município de Santa Teresa e outra como é vista essa montanha, a partir do distrito de Praça Oito, no município de Itarana. Aliaram-se, além das imagens geográficas, exemplares de água-marinha, em forma de cristais brutos. Bom motivo para alguns avanços no aperfeiçoamento da obra se tornaram imperiosos diante de uma plêiade de novos gemologistas, chegando ao mercado, dotados de conhecimentos técnico-científicos da geologia e da gemologia, fazendo dessa atividade um trabalho altamente tecnológico, o que levará o assunto livre do empirismo como vem sendo tratado neste estado há várias décadas, embora minha colaboração não deixe de ser a de um prático com conhecimentos obtidos ao longo de mais de quatro décadas, exclusivamente sob a forma de trabalho amadorístico. Mas essas memórias acrescidas de alguns conhecimentos amealhados à custa de pesquisas em literatura apropriada me deram a oportunidade de oferecer este trabalho para subsidiar quem queira dele se utilizar apenas como um início de caminho, que ainda pode ser aperfeiçoado e longo. Bom que se reafirme a participação especial e revisão técnica obidos através das indicações da ilustre professora Doutora Daniela Teixeira Carvalho Newman. Um exemplar da segunda edição foi deixado na Câmara Municipal de Vereadores de Santa Teresa-ES, fato que me rendeu uma homenagem especial. Superados os entraves técnicos, ruma-se à conclusão do livro para que alcance o público leitor.
14 Antes mesmo que este livro fosse publicado em primeira edição, os textos foram acolhidos através dos comentários sobre o conteúdo e o pioneirismo da obra, cabendo ao Advogado Antônio Ângelo Zurlo, ao Engenheiro Civil Aldo Andrich, à Doutora em Geologia e Paleontologia Sônia Xavier Zanotti e ao Jornalista Ronald Mansur, após leitura de cópia da obra, fazerem a primeira análise, comentando e me incentivando a divulgar os textos e tecendo elogios à iniciativa. A seguir são inseridos os textos citados acima: Os primeiros comentários Antônio Ângelo Zurlo – (Advogado) MACRO E MICROMINERAÇÃO... Eis que da jazida histórica de nossas gemas surge um garimpeiro fenomenal, IDOMAR TAUFNER, que, a partir da Pedra da Onça, vem tanta sapiência e maestria lavrar nesses recantos do sonho e da esperança de realização, às vezes frustrantes, que desvendam os mistérios desses artefatos da natureza entranhados no solo dadivoso. Já era conhecida essa grande capacidade que nosso pesquisador e literato analista IDOMAR TAUFNER ostenta, a partir do lançamento, em 2002, de Memórias..., em que nos brinda com uma história de vida (zero a sessenta anos), despertando em quem a lê a nostalgia dos tempos idos. Agora em plena época da explosão granítica em nosso Estado secundando a permanente era do mármore, vem “A PEDRA DA ONÇA – jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo”, uma obra em que esse escritor nato vem brindar-nos com o resultado de sua capacidade de pesquisar e relatar, abrangendo o assunto ventilado de forma sutil e envolvente, lavrando nas entranhas da história detalhes inimagináveis, ao revelar, com admirável terminologia e técnica o mistério dessa ansiosa expectativa a que domina tantos anseios em busca dessas delicadas, preciosas e fascinantes joias, muitas vezes inocentes causadoras de desafetos e desilusões, conforme relato de Arlete Bicalho (fls. 48). O amor nos revela ainda profunda sensibilidade inata, quando descreve a figura humana de Ivo Zanotti (p. 20). Obra como esta de IDOMAR TAUFNER, além do ensino e ilustração em tal setor da mineralogia, constitui indicativo para a formação ou revisão da conduta humana, na medida em que nos levam, inclusive, a raciocinar, a meditar a respeito da natureza dadivosa e sua importância na vida,já que o palco da exibição é o nosso meio ambiente. Antônio Ângelo Zurlo Foi sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico e do Circolo Trentino e presidente de ambas as instituições sediadas em Santa Teresa, é advogado e aposentado como funcionário do Banco do Brasil.
Aldo Andrich, (Engenheiro Civil) Quando nossas conversas entre amigos ou familiares se mencionam a história de um povo, de uma cidade, de uma localidade, o nosso pensamento voa célere imediatamente para um local distante, um povo estranho, com características às vezes, incompreensíveis para a nossa cultura. No entanto a nossa história comum, nada tem de importante, concluímos. No nosso entendimento, a nossa verdadeira história é aquela que é constituída por nós, onde aqueles que nos são próximos, são os personagens. Aquela que é escrita tendo como cenários os locais onde viveram o nossos avós, os nossos pais, onde nascemos, onde nos criamos, onde nos preparamos para alçar os voos para a vida. É mister nosso, filhos de uma terra que nos viu nascer, gente de um povo lutador, sofredor e também vencedor, reescrever a sua história. Registrar os fatos e acontecimentos, que,
15 com o passar do tempo, fatalmente se perderão; enumerar e identificar os personagens, pessoas comuns, com anseios, propósitos, limitações e fraquezas como qualquer ser humano. Sim, devemos escrever e repassar para a posteridade, a nossa história, pois é ela que nos tornará eternos. É o que fez neste seu novo trabalho, Idomar Taufner. Mais uma vez, a exemplo do seu primeiro livro “Memórias...”, ele tem o propósito de trazer à tona as reminiscências que guarda consigo, tendo como base fundamental a sua prodigiosa memória, dom que o Pai Celeste lhe agraciou, resgatando a fantástica história das águas-marinhas da Pedra da Onça e dos minerais-gema do nosso Espírito Santo. Como um dos primeiros leitores da obra, oportunidade com a qual fui agraciado pelo autor, me sinto perfeitamente “em casa”, ao ler as descrições dos acidentes geográficos, as pessoas e famílias mencionadas, as situações vividas por aqueles que buscaram a fortuna tentando encontrar uma “bamburra”, o que, na maioria dos casos não ocorreu. Prima a obra, além do aspecto humano da busca de um tesouro, ora nos rios, ora sob os maciços de uma rocha, envolvendo sonhos de gente simples, também enveredar sobre o que a região de Várzea Alegre e zonas limítrofes, e pode ainda produzir em termos de gemas preciosas, assim como sem ser exaustivamente técnico, apresentar um estudo facilmente palatável das gemas encontradas no seio da terra. Por fim o autor, no passar das páginas, nos fez perceber que muito embora, ao fazer às vezes de garimpeiro de lavras, às vezes como investidor, aplicando recursos financeiros na busca de tesouros escondidos, salienta a necessidade de não se deixar envolver pela paixão irrefreável da fortuna respeitando o fio da navalha que, quando ultrapassado, deixa marcas profundas. Parabéns Idomar! Gostei muito! Aldo Andrich
SÔNIA ZANOTTI XAVIER (Doutora em Geologia e Paleontologia) Quero agradecer ao Idomar, autor deste livro, grande e querido amigo de meus pais, Acrísio e Maria e por quem tenho imensa admiração, a oportunidade de expressar aqui sentimentos e lembranças que tomaram conta de mim ao ler “A Pedra da Onça – Jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo”. No decorrer desta leitura, fui tocada por um misto de emoções: ora saudades, ora alegria, ora nostalgia... É confortante perceber e saber que Acrísio, meu pai, fez tantos amigos e foi um grande “mestre” do garimpo. Ele não possuia o saber acadêmico, mas era dotado da sabedoria do conhecimento empírico. Conhecer mais profundamente, através deste livro, história das lavras do Espírito Santo e em especial de Várzea Alegre, transportou-me para minha infância onde, concordando com o autor, alguns daqueles momentos e fatos como, por exemplo, a guarda de gemas que eram encontradas se revezava entre as casas dos sócios, devido ao risco de possíveis assaltos. O termo “bamburrar” também me transporta para aqueles anos dourados da minha infância. Lembro-me muito bem de meu pai, com seu largo sorriso e brilho nos olhos, falando “em segredo”, para minha mãe: “Maria hoje nós bamburramos”. Ele usava o termo com apenas um “r”. Guardo também na memória, nomes de alguns compradores de gemas, que foram citados no referido livro, tais como Jair Martins, Argeo Lorenzoni e Sr. Oto. A chegada deles em nossa casa era motivo de alegria para mim e meus irmãos porque a “visita” deles para nós significava que havia águas-marinhas na “área”. Minha mãe estava sempre pronta para recebêlos. Preparava um almoço de domingo para eles. Geralmente os pratos giravam em torno da galinha com macarronada; de pernil assado ou da moqueca de piau que meu pai pescava no jequi. Como sobremesa o famoso pudim de leite condensado ou o doce de abóbora, mamão ou até mesmo doce de tomate. Lembro-me muito do companheirismo e do incentivo de minha mãe que foram fundamentais nessa etapa da vida de Acrísio. Quando a lavra não era distante, ela não se cansava de acordar às 3 horas da manhã para preparar o almoço para ele e seus garimpeiros. E quando do retorno, à noite, após o banho e o jantar, sentavam, os dois, na varanda da nossa casa e ele lhe confidenciava os acontecimentos do dia. O seu sucesso, com certeza, deveu-se também a essa grande mulher, que foi companheira em todos os momentos de sua vida. Agora eu digo: “Quanta saudade”!
16 De acordo com Idomar, Acrísio, meu pai, iniciou suas atividades no garimpo em 1957. Nessa época, eu, sua filha mais velha, contava com nove anos de idade. Nesse ano concluía o quarto ano primário (hoje quarta série do Ensino Fundamental) e me preparava para deixar a Escola Singular de Várzea Alegre para continuar meus estudos em Vitória, pois o grande sonho do meu pai era ver seus cinco filhos diplomados no curso superior. Ele sempre nos dizia: “filhos, a maior fortuna que quero deixar para vocês é a instrução”. Porém seu grande sonho não foi concluído por ele e sim pela nossa mãe, mulher de muita fibra e que, com a ajuda de Deus, venceu todas as dificuldades e nunca desanimou. Assim, em 1970, eu concluía o curso de graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo e ao mesmo tempo era contemplada com uma bolsa de estudos da própria UFES para realizar pós-graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1973, com a título de Mestre em Geologia e Paleontologia, fui aprovada para Professor Assistente da Universidade Federal do Espírito Santo. Em 1979, Omo professora da UFES, retornava à Universidade Federal do Rio de Janeiro para cursar o Doutorado, concluindo-o em 1982. Finalizando, parabenizo o autor pelo brilhantismo de seu livro. A riqueza e detalhes dos fatos e informações, com certeza, surpreenderão cada leitor. Meus parabéns também à esposa e filhos, pois numa obra como esta o autor precisa sempre contar com a valiosa compreensão da família. Vitória, 24 de setembro de 2007. Sônia Zanotti Xavier É graduada em Ciências Biológicas e Mestra e Doutora em Geologia e Paleontologia.
RONALD MANSUR (Jornalista) Quando Idomar Taufner me telefonou dizendo que iria mandar os originais de A PEDRA DA ONÇA – Jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo, fiquei imaginando o seu conteúdo. Como um privilegiado, tive acesso ao texto original. Na medida em que ia engolindo as páginas, ficava impressionado com a riqueza de detalhes, situações e a citação do nome das dezenas de pessoas envolvidas no mundo do da lavra e das gemas. O refinamento das informações demonstrava o conhecimento e intimidade de Idomar sobre o assunto, mas acima de tudo, a sua paixão. Fico imaginando os sonhos que Idomar devem ser cheios de gemas e de indicações seguras sobre veios e veios de água-marinha, andaluzita, porque não diamantes, até mesmo algumas pepitas de ouro. A descrição das lavras e os municípios onde elas estavam sediadas me fez viajar pelo interior do Estado. Por dever de ofício toda semana estou na estrada rumo ao interior com a equipe do Jornal do Campo, TV Gazeta. Toda semana, há quase trinta anos. Idomar me deu carona nos seus escritos. Ficava a imaginar o clima que ele viveu por toda a sua vida, já que nasceu no interior e fazia dos arredores de sua casa uma jazida. Cresceu o seu quintal aumentou, passou a percorrer outras áreas, além de Várzea Alegre, Santa Teresa. Fui junto com ele. Uma citação que me chamou Atenção, com relação ao mundo particular das pessoas que se jogam na busca das preciosidades que a Natureza produziu. Faço questão em registrá-la: Outros dizem que maiores foram mesmo os boatos do que as gemas. Por conhecer Várzea Alegre, cenário central e muito citado por Idomar, a leitura ficou mais atraente. Várzea Alegre é lugar que parece cratera de vulcão. Na sua área central estão as casas e nas encostas as marcas do garimpo e as lavouras que mantêm comunidade. Ali Idomar sonhou desde sua infância. As citações de uma infinidade de nomes de localidades, pessoas e famílias envolvidas na cata dos minerais-gema maravilhosos é tarefa para quem realmente conhece e gosta do assunto, uma missão para quem sabe o que está falando. Ao falar sobre a conversa de uma pessoa que está na vida do garimpo, Idomar fez a seguinte definição, que para mim é um autorretrato: - fica visivelmente mais alegre, abre um sorriso de orelha a orelha, demonstra muito entusiasmo, mostra um brilho vítreo nos olhos como se refletisse a beleza dos cristais preciosos de que está a falar. Há mesmo uma transfiguração que demonstra um sentimento de intensa felicidade.
17 Eu imaginava conhecer o interior, agora conheço muito mais, graças à oportunidade que Idomar Taufner me proporcionou. Se você chegou até aqui, siga um pouco mais na leitura e certamente me dará razão. Ronald Mansur, Jornalista.
A Publicidade Posteriormente à divulgação no lançamento da primeira edição em espaço da UNIMED Vitória, concedido como de cortesia para homenagear ex-paciente que se superou de moléstia grave e conseguiu produzir o livro A Pedra da Onça imediatamente após a alta hospitalar deste autor. Esse evento mereceu divulgação em periódico do plano de saúde em nível nacional, época em que houve publicação no jornal da AMPC (Associação dos Moradores da Praia da Costa) e num periódico da ANFIP (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência), publicação realizada em Brasília, DF. CIAS, hospital da Unimed Vitória, realiza II Exposição de Talentos de ex-pacientes. Segunda-feira 26 de Novembro de 2007 A abertura da exposição contou com o lançamento do livro "A Pedra da Onça - Jazidas, Lavras e Garimpos no Espírito Santo" Foi com o objetivo de valorizar o cliente e oferecer a oportunidade de expor seus talentos que o Centro Integrado de Atenção à Saúde (Cias), por meio do projeto de Humanização, realizou a II Exposição de Talentos de ex-pacientes. A abertura da exposição contou com o lançamento do livro “A Pedra da Onça - Jazidas, Lavras e Garimpos no Espírito Santo”, do cliente Idomar Taufner. Cerca de 300 pessoas passaram pela exposição, e segundo a gerente de relacionamento com clientes do Cias, Eliana Figueiredo, a exposição superou as expectativas. “Recebemos depoimentos emocionados dos expositores que se sentiram valorizados com a ação, além das manifestações motivadoras dos visitantes que passaram pela mostra”, destaca Eliana. Os trabalhos de dez clientes ficaram expostos na Recepção Central do Cias. A exposição contou com trabalhos manuais, biscoitos caseiros, café artesanal, bordados, pintura em tela, artesanatos e livros.
18
Imagens 125 Três Flagrantes fotográficos registrados no CIAS, 20.11.2007.
A imagem acima demonstra flagrantes do lançamento do livro A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo em espaço da UNIMED-VITÓRIA (no CIAS).
19 As notĂcias nos jornais
Imagem 126 Dois recortes do Jornal A Tribuna (Serra Pelada no ES).
20
Imagem 127 Jazidas em Itarana cercadas de mistĂŠrio
Imagem 128 Rainha usa pedras de Itarana
Imagem 129 Arte de escrever faz bem
21 Notícia publicada no jornal “A Gazeta”, em 18.07.2011. 18/07/2011 20h59- Atualizado em 18/07/2011 20h59 Região serrana do ES tem histórico de garimpo de pedras preciosas Em Santa Teresa, a atividade garimpeira já trouxe muitas riquezas. Até pedra de 250 kg já foi encontrada no local. Já conhecida como "Serra Pelada" capixaba, a comunidade de Várzea Alegre, no interior de Santa Teresa, região serrana do Espírito Santo, tem um histórico de garimpo e busca por pedras preciosas. A região já trouxe riquezas para muitos garimpeiros. Em vez de ouro, o que despertava interesse na região eram as pedras preciosas. "Tudo começou com um caçador que, atrás de um tatu, achou uma pedra brilhante perto de sua toca", diz o comerciante da região Antônio Lopes. A corrida das pedras começou na década de 40 do século passado. O produtor rural Vandacir Roncon conta que já encontraram até pedra de 250 kg na área. "Teve que descer um varão, carregada nas costas", lembra. Antônio Lopes ressalta que a atividade garimpeira trouxe muitas riquezas, mas que nem todos souberam desfrutar dela. "Muita gente ficou rica, mas perderam tudo, nem eles existem mais. Aqui na pedra da onça dava águas marinhas e outros cristais também", diz Antônio. Hoje a área está abandonada, mas antigamente era bem movimentada, vivia repleta de garimpeiros em busca do sonho de ficar rico. A última descoberta foi em 2004, quando o produtor rural Alonso Possatti encontrou uma água marinha pura. "Com o dinheiro, deu pra quitar dívidas, comprar casa e terreno para os filhos", diz.
Jornal da AMPC
Imagem 129 Logomarca do Jornal da AMPC e Capa do livro A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo
“A Pedra da Onça Jazidas,lavras e garimpos no Espírito Santo”
Como explícita bem o título da obra, pode-se dizer que o livro empreende em detalhes a história da lavra da Pedra da Onça, descoberta em 1941. Nesse período houve um grande interesse da população dos municípios de Itarana, Itaguaçu, Santa Teresa e de outras cidades adjacentes sobre esse acontecimento. Com a expressiva quantidade de pedras preciosas encontradas na Pedra da Onça houve o desenvolvimento de grandes fortunas para os partícipes desse garimpo. Esse revés da sorte trouxe uma mudança na vida de muitas famílias dessas localidades e de muitas pessoas vindas de outros Estados que levaram a riqueza ali auferida, não deixando nada de registro, nem mesmo informações de suas participações no garimpo, ou seja, não se têm dados ao certo da quantidade extraída de pedras daquela região. Assim, essa é uma leitura histórica e técnica sobre pedras preciosas. O autor escreveu esta obra em formato de memórias. É notória a preocupação em identificar casos verídicos, o que pode ser observado em alguns relatos sobre personagens reais que viveram nos tempos áureos da Pedra da Onça.
22 Além dessas citações, destacaram-se publicações nos jornais da capital do estado — A Gazeta e A Tribuna —, mencionando o livro e as jazidas de água-marinha e de outras espécies de minerais-gema, localizadas ao longo de vários municípios do estado do Espírito Santo, onde a sua presença é abundante, assim como os seus indícios. Por fim, as citações constantes da obra de CORNEJO, Carlos e BARTORELLI, Andrea, Minerais e Pedras Preciosas do Brasil, lançado pela SOLARIS EDIÇÕES CULTURAIS – São Paulo, 2010. Nas páginas desse livro existem fartas notícias de achados de minerais em solo capixaba, o que, de certo modo, corrobora a existência de minerais, tais como água-marinha, ametista, escapolita, andaluzita, crisoberilo e crisoberilo olho-de-gato e de outras variedades com menor incidência. Assim que publicada a segunda edição deste livro, a Câmara Municipal de Santa TeresaES fez moção de homenagem a este autor pela autoria do livro A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo. Agora, depois de exaustivas tarefas de acertos, de revisões gramaticais e ortográficas e adaptação de linguagem técnica apropriada, o trabalho segue o caminho da publicação, esperando que isso constitua uma fonte de orientação ao aprendizado, que é coisa infinita e constante. Apresentação à 2ª edição Em “Memórias...” – livro que trata da minha autobiografia – citei fatos alusivos a jazidas, garimpos, lavras e minerais-gema, na página 26, no capítulo “As lavras”, descrevendo sinais indicadores da presença de cristais de quartzo, mica, feldspato e outros minerais na propriedade agrícola da minha família, mencionando as pessoas que ali empreenderam os primeiros trabalhos e tudo o que encontraram. Tais citações remontam à minha infância, até os 10 anos de idade, época em que imaginava estar trabalhando numa lavra fictícia com ferramentas improvisadas, tais como facas ou outras, com as quais escavava num barranco próximo de nossa residência. Cheguei a encontrar minerais com hábito perfeito e faces preservadas que nas extremidades exibiam coloração violeta. Soube depois que era ametista. Nesse tempo, ouvia as histórias contadas pelos adultos, afetados que estavam pelas fantásticas notícias da lavra da Pedra da Onça. Francisco Evangelista, garimpeiro profissional, o primeiro a divulgar essas notícias, constantemente comentava o assunto, corroborando alguns membros da família (meu pai e meus tios). Tudo isso desenhava no meu inconsciente as fantasias pelas quais toda uma população já se deixara afetar. Na minha mente ainda não havia nenhuma ideia de riqueza, nem cobiça pelo valor econômico que os minerais-gema podiam gerar: era movido apenas por sua beleza e pela ventura de encontrá-los. No mesmo livro, nas p. 154 a 156, tornei a relatar minha participação em lavras, época em que o assunto corrente em Várzea Alegre era a “Lavra dos Zanotti”, que causava um estado de euforia em toda a coletividade, gerando uma verdadeira efervescência de comentários e boatos, reverberando em todos os sentidos da região e gerando, a cada retorno, novas versões para a mesma notícia, dando conta de quantidade de água-marinha encontrada e anunciando a existência de prováveis invasores que chegariam a qualquer momento para ocupar a jazida e de mirabolantes quantidades de minerais encontrados, equivalendo, como consequência, a valores astronômicos que poderiam ser auferidos com a venda desses achados. Desde a minha infância, de outras fui testemunha ocular, e muitas consegui à custa de depoimentos verbais de pessoas que presenciaram os fatos relativos às descobertas na Pedra da Onça, como os de
23 Angelim Piorotti, Hilário Toniato e Cassemiro Postinghel e de mais alguns comentários de outras pessoas, que apenas acrescentaram detalhes, inclusive de Djalma Fardin, de quem recebi muitas indicações e detalhados relatos. Em 1957, quando retornei à Várzea Alegre para trabalhar numa farmácia, novamente nesse ambiente me senti contaminado pelo vírus da influência psicológica das lavras, o mesmo que acometeu a maior parte da população da localidade. Era como se a população sofresse de uma endemia crônica, altamente contagiosa, manifestada por uma forma de fanatismo obsessivo, uma verdadeira compulsão. Cheguei a duvidar que alguém conseguisse viver nesse meio, permanecendo imune a tal enfermidade — uma moléstia que viciava, tornava os pacientes dependentes, produzia muita riqueza, violência e frustrações — mas que me serviu de inspiração para o registro em Memórias..., o que faço agora, apesar de todas as minhas limitações como escritor dotado apenas de conhecimentos empíricos e pela inexistência de fontes primárias expressas em documentos oficiais e/ou oficiosos. Um subsídio histórico utilizado surgiu graças à menção mais antiga sobre o achado de ouro e de minerais-gema constante do texto de Basílio Carvalho Daemon – 1879 – Parte 5ª, obtido na Biblioteca Digital do Arquivo Público do estado do Espírito Santo. Neste livro registrei relatos sobre lavras, tendo como ícone principal a lavra da Pedra da Onça, localizada no limite de Santa Teresa e Itarana, adjacente às localidades de Várzea Alegre, a Leste, e Praça Oito, a Oeste. Outras lavras são citadas a partir de direções originadas desse ponto geográfico, passando pelos municípios de Santa Teresa, Fundão, Ibiraçu, João Neiva, Aracruz, Itaguaçu, Baixo Guandu, Colatina, Pancas, Nova Venécia, Barra de São Francisco, Ecoporanga, Afonso Cláudio, Laranja da Terra, Venda Nova do Imigrante, Domingos Martins, Marechal Floriano, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Cariacica, Serra, Viana, Guarapari, Guaçuí, Muqui e mais alguns outros municípios de menor expressão na produção de minerais e gemas, como Marilândia e São Domingos do Norte, dentre outros. Além das lavras de minerais-gema, faço pequeno comentário sobre e existência de jazidas de ouro em solo espírito-santense, assunto que até então está a merecer pesquisas mais aprofundadas. Inseri uma extensa relação de garimpeiros e empresários que atuaram no ramo do garimpo no estado, nesses mais de setenta anos. Minha atividade em garimpos de minerais-gema teve enfoques práticos, empíricos e teóricos, já que a curiosidade aguçada e o uso de boas fontes de pesquisa fizeram-me conhecer também conteúdos técnicos, permitindo-me ousar em abordagens como as que são feitas na 2a parte deste livro. Descrevo de forma detalhada em todo o livro os minerais-gema — especialmente os que foram produzidas no Espírito Santo —, discorrendo sobre seu hábito cristalino, composições químicas, propriedades físicas e curiosidades místicas, atendendo a uma fração de cultores da gemologia voltados para esse ramo. Apresento imagens de alguns modelos de joias confeccionadas com gemas que foram encontradas no estado, mediante fotos gentilmente cedidas como cortesia por “Pedra Brasileira”, Oswaldo Moscon – Joalheiro, Lia Antônio Jóias e algumas peças de propriedade particular de pessoas físicas. Alguns conteúdos foram obtidos à custa de pesquisas em obras de renome internacional e em sites da Internet, todos citados em “Referências” no final deste livro, antecedido de um glossário, visando ao entendimento de alguns termos — uns técnicos e outros populares — pelo leitor leigo no tema.
24 Não me causa nenhum desconforto dar ao público esta modesta colaboração, cuja população ainda não disponha sequer de conteúdos tais como os que existem neste livro. Pensei nesses esperados leitores e no subsídio para quem, com a perícia que o caso requer, deseje se aprofundar nessa história a fim de desenvolver um trabalho com tratamento técnico e científico.
Prefácio à primeira edição O que seria da história se não existisse quem tivesse cuidados com a memória? E é nesse aspecto que vejo este livro que trata de um período de história das jazidas e achados de minerais-gema no Espírito Santo durante mais de meio século. Para realizar uma obra desta envergadura, foram necessários pelo menos os seguintes fatores: possuir memória, conhecimento, saber contar histórias e ser devotado ao assunto. Idomar Taufner é dedicado ao assunto, tendo a mente voltada com grande interesse ao tema lavras e minerais-gema desde os tempos de criança, quando costumava cavar nos barrancos no quintal da sua casa, numa propriedade rural da família em Várzea Alegre, dizendo que ali era a sua lavra; depois como participante de alguns garimpos de forma efetiva ou simplesmente fazendo dessa atividade apenas uma forma de lazer, como escreve. Vê-se que, desde muito cedo, voluntária ou involuntariamente, as lavras se fixaram na sua mente a ponto de dedicar-se na atualidade, com coragem e abnegação, a desenvolver um tema que, por certo, será considerado um trabalho de valor histórico, científico, pioneiro e inédito no estado do Espírito Santo. Por todas essas razões e ainda como fontes de pesquisa recomendam a leitura deste livro, levando em consideração ainda a clareza e a objetividade da sua escrita, o que o torna uma fonte de agradáveis conhecimentos acrescida de variada ilustração com imagens de minerais-gema, joias e personagens que protagonizaram as histórias. Desde as épocas mais remotas, a humanidade interessou-se pelos minerais-gema produzidos pela natureza, pelos seus atributos como cor, dureza, raridade e brilho, fazendo delas objetos de adorno para vestes e coroas, expressando por seu meio à ostentação da riqueza e do poder. Os aspectos que tornam interessante a procura por cristais não são apenas a sua beleza e raridade, mas principalmente o seu valor econômico expresso na possibilidade de se obter fortuna, ter melhores condições de vida e, naturalmente, o poder que tudo isso pode representar. O sonho de um dia fazer fortuna com gemas tem nessa fantasia um fator desencadeante da ambição, da violência e da perda dos valores morais e éticos. Isso ocorre principalmente devido à associação da atividade garimpeira aos baixos níveis culturais e morais e interesses econômicos dos protagonistas que adotam meios escusos para a consecução dos seus fins, conforme expõe o autor. Outra abordagem no livro é a associação geográfica da obra, elegendo grande parte dos municípios capixabas, onde se localizam e se localizaram muitas das grandes lavras e como se formaram os minerais-gema. Na condição de cidadão natural de Várzea Alegre, onde residem os meus familiares, tradicionais empresários do garimpo, vejo neste livro o resgate de boa parte da história desta localidade e do próprio município de Santa Teresa, que, não fosse o surgimento desta obra, deixaria tais fatos, lamentavelmente, perdidos para sempre. O mesmo ocorre com o vizinho município de Itarana, especialmente tão bem inserido nestes textos.
25 Além dos eventos das jazidas, está relacionada nominalmente e com ilustrações pertinentes, toda uma variedade de cristais encontrados no Espírito Santo. Para completar o trabalho, são mostrados simbolismos desses minerais e um glossário com muitos dos termos utilizados na redação dos textos. Está de parabéns o autor, por este livro, o estado do Espírito Santo e os leitores, todos agraciados com o ineditismo e o pioneirismo do conteúdo da presente obra neste estado. Várzea Alegre, Santa Teresa, 2007. Luiz Angeli Zanotti
Apresentação à segunda edição Sempre existiram cobiça e fantasia pelos achados de minerais-gema, coisa que a natureza produziu aleatoriamente, combinando átomos e moléculas de substâncias diversas, organizando-as em sistemas e conferindo-lhes hábitos cristalinos definidos de prismas facetados, trigonais, hexagonais, octogonais, romboédricos e... Isso tudo servia, aliando à beleza ao valor e à raridade, para tornar, além de objeto de adorno, coisas com significado de crenças, de curas e de proteção à saúde e ao espírito, incluindo vasta simbologia. A preciosidade dos minerais atiçou o interesse para obter fortunas para alguns; outros tiveram seu interesse voltado para a beleza do brilho, da policromia que elementos da natureza emprestam características, como cores, dureza e diafaneidade. Há uma soma de fatores que conferem propriedades físico-químicas, elementos propiciadores da identificação das gemas, tornando-as próprias ao adorno, por causa da beleza, próprias para fins industriais por causa das propriedades físicas capazes de se tornarem utilidades. Na mesma aleatoriedade de como as gemas foram produzidas, suas descobertas, quase sempre, ocorreram ao mero acaso, assim: a toca escavada por um animal, construindo sua moradia, a escavação para o descarte de um animal morto, o deslizamento de terras, a construção de valas, a sulcagem de terras para culturas agrícolas, a construção de estradas, o desbaste de terrenos para edificações, a erosão causada pelas chuvas e outras intervenções no solo. Uma vez descoberto o indício, a intervenção seguinte pôde desentranhar riquezas inertes há milhões de anos. Foi nesse quadro de causa e efeito que surgiu a jazida da Pedra da Onça, tornada célebre para alguns afortunados e motivo de frustração para tantos outros, que viveram apenas fantasias de riqueza e perda de energia física no trabalho árduo do garimpo, levando a casa apenas cansaço pelo esforço gasto. Mas a fama desse garimpo causou um frenesi coletivo vivido por muitos anos no entorno do grande bloco granítico da Pedra da Onça, servindo de inspiração para muitos sonhadores manterem vivas suas fantasias de enriquecer-se à custa dos famosos cristais de água-marinha. Essa ocorrência, de fato, teria sido a causa de um sem número de outras descobertas de minerais-gema na região e em todo o estado do Espírito Santo. Assunto que também afetou o autor, a ponto de dedicar-se tanto nas atividades garimpeiras como amealhar conhecimentos que o credenciaram a fazer os registros das memórias e histórias dos garimpos de gemas no estado do Espírito Santo, não com a abundância de espécimes como os que ocorreram no vizinho estado de Minas Gerais e que,
26 agora, os fatos se aglutinam e se consolidam nestes textos sob a denominação de A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo, a ser publicada em terceira edição. O bojo desta obra, este autor o preencheu com os aspectos antropológicos e geográficos, trazendo à atualidade o dinamismo laboral do desentranhamento dos mineraisgema da lavra da Pedra da Onça e de outras ocorrências semelhantes pelo estado do Espírito Santo afora, gerando riqueza econômica, frustrações e danos ao meio ambiente. E, por esse meio, fez registros de memórias históricas para uma lacuna ainda antes não tocada. E, assim, as memórias, devidamente registradas, abriram caminhos para aqueles que queiram dar continuidade à matéria. Vila Velha, 2010. Resumo dos temas deste livro Na minha infância, reitero que tive sonhos e fantasias com o brilho, a dureza, a raridade e a cor dos minerais-gema. Devaneios e ficções que se materializaram quando tive experiências práticas, participando de forma efetiva em vários garimpos. Quando encerrei definitivamente minhas participações nas atividades do garimpo, decidi registrar minhas memórias e histórias, tendo como ícone e ponto de partida a lavra da Pedra da Onça – uma espécie de musa inspiradora. Rememorei as histórias das memórias, compreendendo um período de mais de meio século, nomeando jazidas, lavras e garimpos e fazendo um balanço subjetivo da produção de minerais-gema, da vasta variedade de cristais, com hábitos cristalinos preservados completa ou parcialmente, ou seja, anédricos, euédricos subédricos. Aos fatos e localizações geográficas dos eventos, foram aliados numerosos protagonistas, neles incluídos garimpeiros, empresários do garimpo, lapidadores, comerciantes de gemas e joalheiros. Na sucessão do texto, inseri um capítulo que trata do poder místico dos minerais e gemas, crendices e alguns símbolos, tema que não considero importante, mas que para os aficionados do misticismo é interessante e para os leigos é curioso. As ilustrações provêm de fotografias de pessoas importantes no contexto da obra e de localidades citadas aqui e ali nos textos, como também de imagens de minerais em estado bruto, gemas lapidadas e de joias compostas de gemas e metais preciosos. Esclareço, ainda, que, na composição destas memórias, ao longo dos capítulos 2 e 3, pela absoluta ausência de fontes primárias, a que já me referi no capítulo 8, finalmente utilizei o método de contato verbal com os que trabalharam ou ainda trabalham no garimpo, alguns velhos conhecidos e outros indicados pelos que conheci. Enfim, o livro é submetido ao público leitor, servindo, inclusive, como subsídio para quem dele queira se utilizar para a consumação de aprofundada e consistente história dos garimpos do estado do Espírito Santo. Alguns termos usados neste livro Lavra, jazida e garimpo são vocábulos que apresentariam significados semânticos semelhantes, não fossem algumas particularidades sutis. Para melhor compreensão do seu significado quando integram os textos deste livro, proponho interpretação específica para cada
27 um deles, não significando, porém, que deixem de ser utilizados nos mais variados sentidos integrantes em dicionários, assim: Lavra – ação de lavrar os depósitos de minerais que compreende a ação dinâmica de movimentar as jazidas. Jazida – local onde estão os minerais depositados nos pegmatitos (primários); nas aluviões e alúvios, nos arenitos e nas terras argilosas (secundários). Neste caso, a etimologia da palavra guarda sentido com o verbo jazer, significando coisa guardada ou depositada de forma inerte. Garimpo – situação que compreende conjuntos de ações, onde se integram o trabalho, os agentes (garimpeiros), ou até mesmo o conjunto de todas essas coisas. Este vocábulo indica uma situação sistêmica. Com o uso de cada vocábulo no sentido particularizado, o leitor poderá interpretar fielmente aquilo que o autor quis dizer, salpicando generosamente essas palavras em todas as partes do livro. Serra, montanha e pedreira merecem, também, com menor importância, definições conceituais, assim: Serra – longa extensão de montanhas, montes ou penedias com picos, quebradas e qualquer elevação ou proeminência semelhante a monte ou cordilheira. Montanha – elevação significativamente alta e de base extensa em um terreno. Pedreira – lugar ou maciço rochoso de onde se extrai algum tipo de rocha (mármore, granito, feldspato, etc.). Convencionaremos que a utilização desses vocábulos nos textos deste livro terá a seguinte conotação: serra – um conjunto de montanhas numa sequência (coletivo); montanha – elevação alta como parte de uma serra, cordilheira ou unidade isolada. Agora, acabo de incorporar ao livro novos termos a serem usados a partir desta 3ª 1 edição . São os seguintes: automorfo, xenomorfo, euédrico, anédrico e subédrico, que, assim, são entendidos: Mineral automorfo Que tem forma própria (cristalizou antes ou sobre os outros). Mineral xenomorfo Que tem a forma dos outros cristalizou nos espaços (interstícios) que sobraram para ele. Mineral euédrico Apresenta todas as faces planas (contornos retos em formas poligonais). Mineral anédrico Não apresenta nenhuma face plana (contornos não são linhas retas). Mineral subédrico Parte das faces é plana e parte não é plana.
1 SCHRANK, Afonso Professor. Mineralogia Ótica. Instituto de Geociências. http://www.ige.unicamp.br/site/aulas/30/Otica%20pratica%20-%20LC%20REV%202010.pdf. Acesso em 25.10.2012.
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Conjunto de serras, compreendendo: Pedra Alegre, Pedra da Onça, finalizando na serra do Toma Vento. Exemplo 2 típico de montanha ou maciço rochoso registra abaixo no maciço da montanha do Charuto . Imagem 003 — Fotografia registrada pelo autor, em 2010.
Maciço rochoso do Charuto
Imagem 004 – Maciço rochoso do Charuto. Fotografia feita pelo autor, em 2010.
No final deste livro inseri um glossário, oferecendo sentido para muitos dos vocábulos utilizados na sua redação. Por isso, quando o leitor se deparar com alguma palavra cujo sentido não conhece, ou de sentido dúbio, poderá utilizar-se desse pequeno léxico agregado a esta obra, visando esclarecer termos pouco usados e expressões regionais ou dialetais contidas na obra. INTRODUÇÃO Sobre as temáticas lavras, jazidas, garimpeiros e minerais-gema fez-se abordagens o mais próximo possível das verdadeiras histórias das lavras ocorridas no estado do Espírito Santo, dos garimpeiros protagonistas desses eventos, dos tipos de minerais encontrados, bem como das suas localizações na cronologia e geografia. A foto abaixo é do principal cenário no qual centralizo as “memórias” deste livro – Várzea Alegre cercada pelas montanhas do Toma-Vento, da Pedra da Onça e da Pedra Alegre.
1941 2001
1930 1966
2
1965
1958
“Charuto” - nome originado da alcunha atribuída a Aristeu Cirilo, antigo morador de Várzea Alegre, titular do requerimento de uma porção de terras devolutas existentes no cume dessa montanha. Esse apelido, pelo qual era conhecido Aristeu, tinha origem desconhecida. Comenta-se que ali existe uma jazida de minerais-gema, confirmando, de fato, a existência de muitos indícios, mas pesquisar neste local é inviável, pois é inóspito e de difícil acesso; não existe água e apenas um caminho íngreme é a forma de se chegar lá.
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Imagem 005 – Fotografia registrada pelo autor em 2007.
Os locais assinalados com números indicam onde existiram algumas das mais famosas lavras de água-marinha nesse ponto geográfico de limite entre os municípios de Santa Teresa e Itarana, a saber:3 1 - Lavra de Juca Zanotti. Garimpada em 2001, quando foram extraídos cristais de quartzo e algumas dezenas de quilogramas de água-marinha isenta de diafaneidade, com hábito preservado, num pegmatito que adentra ao maciço granítico do Canudo4, situado na vertente Leste da Serra do Toma Vento. 2 - Lavra do Rabo de Tatu. Nessa jazida foi descoberta e lavrada em dezembro de 1966, localizada em meio à vertente Leste e próxima do caminho que se pode alcançar a igreja de Santa Luzia, no limite dos municípios de Santa Teresa e Itarana. A produção de água-marinha, quartzo hialino e ametista densamente dotada de inclusões de turmalina negra e hábito preservado, atingiram o total de mais de uma tonelada. 3 - Lavra do maciço rochoso do Toma Vento. Essa jazida foi explorada em 1965, produzindo cerca de três dezenas de quilogramas de água-marinha dotada de alto grau de diafaneidade e de coloração ímpar. 4 - Lavra dos Zanotti. Jazida situada ao Noroeste da Serra do Toma Vento foi prospectada entre 1958 a 1960. Seu nome faz alusão à família Zanotti — os executores de sua lavragem —, cujo total de água-marinha atingiu cerca de três dezenas de quilogramas. 5 - Lavra da Pedra da Onça — a mais famosa de todas. Jazida descoberta em junho de 1941. Foi lavrada nesse mesmo ano por maciça presença de garimpeiros profissionais e outros trabalhadores ocasionais vindos de atividades diversas — comerciantes, médicos, industriais, farmacêuticos, tabeliães e agricultores, dentre outros. Não existem registros precisos, nem aproximados, mas sabe-se que a produção de água-marinha teria atingido a casa das toneladas. Também a produção de quartzo hialino, embora não avaliada, tem como certa a quantia de algumas toneladas. 6 - Lavras de Pedra Alegre e do Triunfo. Essas lavras têm como data de suas descobertas, por notícias oralmente transmitidas, o início da década de 1930. Como são várias as ocorrências, sabe-se apenas que os quantitativos sempre contemplaram generosas mineraisgema a todos os garimpeiros que atuaram nesses locais. Em Pedra Alegre, tiveram participações significativas nos garimpos os irmãos Ferreira (Odílio e seu irmão Antônio), a família Loss (o pai Agostinho e os filhos Acrísio, Silvino, Geraldo e Reinaldo), alguns membros da família Bridi (Guerino Bridi Filho e Hilton Bridi), alguns membros da família Corteletti, membros da família Carolino (Izolino e um irmão cujo nome não é lembrado) e alguns membros da família Demoner (um chamava-se Geraldo e atualmente se ocupa de uma mercearia em São Paulo do Rio Perdido, localidade também conhecida como “São Paulinho”). Havia um garimpeiro que não falava, nem ouvia (era conhecido como o Mudo). No Triunfo, a frequência 3
Há uma observação que se faz quanto à sequência numérica a partir da unidade ser inversa à referência cronológica das descobertas de minerais-gema nas localidades assinaladas. Isso teve consequência quanto à localização geográfica do autor, que ali residiu por longos anos. Essa era a visão que tinha sobre a localização das tais lavras. 4 Canudo é nome de uma localidade situada em Várzea Alegre, aquém das elevações rochosas das montanhas da Serra do Toma Vento, cordilheira que limita Santa Teresa e Itarana. Acredita-se que ali exista uma grande jazida de água-marinha por causa da forte presença de indícios.
30 de garimpeiros residentes em Pedra Alegre sempre foi uma constante acrescida ali com a participação das famílias Zanotti, oriundas da localidade de Sobreiro, no município de Itaguaçu, a família Cóser, também do mesmo município, membros da família De Martin e o “Nequinha”, mencionado anteriormente. Observando-se a sequência numérica de 1 a 6, tem-se uma visão de uma linha imaginária que se origina na rocha granítica acima da propriedade rural de Juca Zanotti, no Canudo. Esta faz um contorno por duas montanhas da Serra do Toma Vento, dali segue diretamente para a Pedra da Onça, Pedra Alegre, indo findar-se no lado oposto, já na localidade do Triunfo, no município de Itarana. Em toda essa linha trajetória, no seu nível mais alto, foram encontrados importantes depósitos de quartzo hialino, ametista, berilo, água-marinha, fluorita, brasilianita e, em alguns pegmatitos, houve registro de pequenos exemplares de crisoberilo. Abaixo, em níveis sucessivos e na mesma direção do Sul ao Noroeste, ocorreram achados de minerais euédricos5, porém em volumes quantitativos menores. Tal sucessão alcança as baixadas de Várzea Alegre onde há expressivos depósitos de quartzo anédrico6 e de aluvião, bem como a presença de pegmatitos encaixados nas formações graníticas nesses níveis inferiores, tal como ocorre nas montanhas. Tudo o que se pode observar leva-se a concluir tratar-se de um depósito formado no mesmo contexto geológico. São sinais evidentes de que há ainda muitos depósitos de minerais-gema localizadas nos diversos segmentos e níveis que compreendem desde os cumes das montanhas aos fundos dos vales dessa região. A imagem 4 é uma vista do local onde existiu a lavra do Triunfo, uma paisagem onde hoje viceja um matagal composto de arbustos e árvores frondosas que, num passado de mais de sessenta anos, ocorreu ali um dos famosos garimpos da região nas propriedades das famílias Scárdua e Casagrande. Essa localidade do Triunfo, hoje faz parte do território municipal de Itarana-ES.
5 Euédrico Grão mineral ou cristal que apresenta faces de crescimento cristalino que lhe são típicas em toda a sua superfície externa. 6Anédrico Sólido cristalino que não apresenta faces, isto é, não é delimitado por superfícies planas. Nos cristais anédricos a estrutura interior não se manifesta exteriormente.
31 Imagem 006 — Local da jazida do Triunfo. Nesse matagal, onde existiu a jazida do Triunfo, sequer existem sinais do intenso trabalho realizado nesse garimpo ocorrido no flanco dessa pedreira. Fotografia tomada pelo autor em 2007.
Não há estatísticas que comprovem, mas, pelos boatos que ainda ecoam, nesse local foram encontradas algumas centenas de quilogramas de cristais de água-marinha. O interesse pelas jazidas de minerais-gema e metais preciosos teve início nos primeiros anos de século XIX. Era preocupação dos governantes da época encontrar riquezas minerais que tanto poderiam servir de renda às pessoas como para o próprio Poder Público com as receitas de natureza tributária que tais riquezas poderiam gerar. A menção mais antiga sobre o achado de ouro e minerais preciosos consta do texto de Basílio Carvalho Daemon (1879 – Parte 5ª), obtido na Biblioteca Digital do Arquivo Público do estado do Espírito Santo, a seguir transcrita: [...] Idem - Em Carta Regia de 4 de dezembro d´este anno é ordenado ao Governador d´esta Capitania a conveniência de adiantar os exames, descoberta e lavra de ouro nas minas de Sant´Anna no Castello, no então município de Itapemirim e hoje de S. Pedro de Cachoeiro, como também louvando-o pela execução e resultado da entrada para Minas-Geraes que tinha o nome de estrada Rubim, assim como do acertado estabelecimento, de trez em trez leguas, de quartéis como os de Bragança, Pinhel, Serpa, Ourém, Barcellos, Villa Viçosa, Monforte e Souzel, a fim de prestar serviços aos viajantes que de Minas atravessando o Rio-Pardo viessem à província, e aos que d´aqui partissem; esses quartéis derão depois origem à diversas povoações, hoje existentes em... [...] Idem - É confirmado a 12 de fevereiro deste anno um escripto do ex-Governador Manoel José Pires da Silva Pontes Leme sobre uma viajem que fizera ao Norte e Sul da província e a respeito das descobertas de minas de ouro no Rio do Cascalho (no Castello) na Lagoa, no Rio Itabapoana; e na Serra da Flecheira (em Capárahó). Idem - Por Portaria de 9 de Outubro é mandado catechisar a aldeia dos índios Puris que apparecessem a buscar os habitantes civilizados, conforme fora antecedentemente pedido pelo Governador Rubim e instado neste mesmo anno pelo Governador Balthazar de Souza Botelho, permitindo-se ainda o darem-se licenças para minerar-se ouro nos córregos nos Quartéis de Souza e Chaves, onde constava haveer bastante deste precioso metal. [...] os antigos conhecerão por Campina do Ouro, segundo às tradicções que existião, trazendo elles nessa ocasião amostra de ouros e pedras preciozas (grifo meu). Desta Campina do Ouro, consta ter havido um antigo roteiro, o qual descrevia este lugar junto à fralda de uma montanha aurífera, na matta existente entre a estrada de Pedro de Alcântara e a de Santa Thereza [...]. Obs.: Os textos acima estão reproduzidos fielmente como nos originais, tal como era a escrita da época.
Como se vê, o fascínio pelos minerais-gema aqui no estado do Espírito Santo é mesmo muito antigo. Foi assim no passado, é no presente e tudo indica que o assunto terá continuidade ainda por muito tempo.
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7
e
7-a
Fotografias do maciço da Pedra da Onça Imagem 007 Fotografia de autoria de Eduardo Lima em 2007. Mostra o Oeste do maciço, no município de Itarana. Imagem 007-a Fotografia registrada pelo autor em 2007. Mostra a mesma formação rochosa a Leste, como é vista de Várzea Alegre, município de Santa Teresa.
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PARTE 1 JAZIDAS, LAVRAS E GARIMPOS NA PEDRA DA ONÇA, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO CAPÍTULO 1 A JAZIDA DA “PEDRA DA ONÇA” DESCOBERTAS PIONEIRAS Tudo começou quando Antônio Rubim, presidente da Província do Espírito Santo, ordenou a construção da estrada rumo à Minas Gerais, partindo da Cachoeira do Rio Santa Maria da Vitória (atual cidade de Cachoeiro de Santa Leopoldina) para chegar à Vila Rica. Durante a abertura da tal via, foram descobertas jazidas de minerais-gema e de ouro. Apesar dos registros oficiais, não é fácil identificar os locais das descobertas, senão com minuciosas pesquisas, pois muitos dos nomes de localidades ali mencionadas não são mais conhecidos. Entretanto, veem-se facilmente os nomes Caparaó, Castelo, Souza, Chaves, rio Pardo, rio Itabapoana, Santa Teresa, e aí por diante, conforme registros históricos de autoria de Bazilio Carvalho Daemon, inseridos no texto da introdução. AS JAZIDAS NA DÉCADA DE 1930 Os testemunhos antigos, seguindo a ordem cronológica, registram algumas descobertas de jazidas, a saber: Em 1938 ocorreram as descobertas da jazida do “Roccon”, em Alto Várzea Alegre, fato atribuído aos irmãos Sebastião e Ângelo Pivetta, cuja lavra foi explorada pelos descobridores e membros da família de Vitório Roccon (irmãos e filhos) e de outros vizinhos, tais como, membros das famílias Venturini, Badke, Erler, Mattedi, Demoner Favoretti, Simoura e outros. Nesse mesmo ano, foi descoberta a jazida do Triunfo, em terras das famílias Casagrande e Scárdua, a cujos descobridores não são creditadas informações precisas, apenas que a mina foi lavrada pelas famílias proprietárias das terras, além dessas, participaram os De Martin, os Cóser e os Zanotti. A grande maioria de descobertas de jazidas de quartzo desde Alto Limoeiro, Alto Caldeirão, Serra dos Pregos, Santa Maria de Jetibá, chegando a Goiapaba-Açu, tudo indica que ocorreu também na década de 1930 e o apogeu de produção, conforme relatos testemunhais de Felisberto Magdalon, Baunílio Rossi, José Cristal e Ricardo Hortolani, deu-se na década de 1940. Praticamente, na maioria das propriedades dessa região, não seria exagero que fosse considerada uma só jazida, apenas intercalada aqui e acolá, todas produzindo quartzo nas variedades hialino, morion, citrino e ametista.
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A JAZIDA DA PEDRA DA ONÇA A descoberta Descobrir essa jazida, como era comum acontecer, foi mero acaso da curiosidade de um garoto chamado Angelim Piorotti, que, em 1941, ao caminhar sobre o rochedo da Pedra da Onça, encontrou cristais de quartzo cujo brilho e diafaneidades lhe chamaram a atenção. Recolhidas e levadas ao seu pai, essas peças serviram para atrair o interesse do famoso farmacêutico João de Azevedo, estabelecido em Itarana (na época Figueira de Santa Joana). João Azevedo viu naqueles cristais a possibilidade de ali existir uma grande jazida. Acreditou e subiu à montanha para constatar, in loco, a existência de um magnífico depósito de mineraisgema: uma jazida logo transformada em lavra graças ao emprego dos seus conhecimentos práticos e técnicos. Ele próprio não hesitou, embora não o fizesse de forma habitual, em executar o trabalho braçal próprio dos garimpeiros. A lavra Angelim Piorotti e Hilário Toniato contam que os trabalhos de garimpar a lavra tiveram início logo após sua descoberta, já que ninguém teve a iniciativa de cuidar dos aspectos legais na ocupação e na distribuição do terreno para a execução da lavra, tendo sido esta feita de forma desordenada e improvisada, resultando em invasão. Os produtos comerciados estavam sem cobertura da documentação fiscal, com suspeitas de pagamentos paralelos e consequentes sonegações de impostos e muita desconfiança. A produção de água-marinha em quantidades generosas na lavra da Pedra da Onça causou um fato raro e surpreendente: a grande repercussão que atraiu garimpeiros de todos os quadrantes e muitas pessoas que iam ao local, movidas apenas por curiosidade. Tudo contribuía para que o ambiente da lavra ficasse ocupado por permanente multidão, causando, com certeza, problemas de acomodação, locomoção, alimentação, água para uso e condições de higiene precárias (imaginemos como era a situação desse acontecimento há mais de setenta anos). Mas esse foi o preço que tiveram que pagar os bravos garimpeiros que viriam arrebatar das entranhas da terra toda essa riqueza mineral. A importância da lavra Não só nos testemunhos de Angelim Piorotti, Hilário Toniato e de Cassemiro Postinghel, mas de muitos outros mantidos no anonimato, foi registrada a história do garimpo da Pedra da Onça: seus resultados e efeitos ainda estão presentes nas comunidades adjacentes. Algumas famílias de Itarana e Itaguaçu obtiveram grandes recursos financeiros resultantes dos achados de água-marinha nesse garimpo. Outros garimpeiros vindos de longe também teriam logrado resultados semelhantes e levado os ganhos para as suas regiões de origem. Algo que marcou a região, composta pelos municípios de Itarana, Itaguaçu, Santa Teresa, Afonso Cláudio e Baixo Guandu, foi uma motivação persistente no aguçado interesse pelas gemas, afetando toda população e praticamente todas as faixas etárias, como se pode constatar em vários relatos, até a atualidade. Esse interesse traria como consequência muitas
35 outras descobertas e muita dedicação à atividade garimpeira, resultando efeitos econômicos em cadeia. Exemplos disso foram jazidas descobertas em Várzea Alegre, Pedra Alegre, Triunfo, Afonso Cláudio, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Domingos Martins, Fundão, Aracruz, Pancas e noutros. A jazida da Pedra da Onça merecerá destaque especial, pois sua lavra foi de fundamental importância para aqueles que tiveram, têm, ou vierem a ter interesse nessa atividade, por motivação profissional ou de pesquisa histórica. O testemunho de Angelim Piorotti
Imagem 008 Fotografia tomada pelo autor, em 2006.
Angelim Piorotti nasceu em 1929, na localidade de Praça Oito, naquele tempo Distrito de Vila da Figueira de Santa Joana, município de Itaguaçu. É filho de Luiz Piorotti, agricultor e dono de uma propriedade agrícola no entorno da Pedra da Onça. Conta como descobriu casualmente a jazida da Pedra da Onça, conforme relato que transcrevo a seguir: Em junho de 1941, época em que o tom avermelhado da floração do capim meloso, vegetal nativo e abundante na região, tomava conta da paisagem das montanhas e morros, o inverno se fazia presente com todo o rigor. A família Piorotti, como também toda a população residente nas adjacências, cuidava da colheita do café, a principal cultura de todo o estado do Espírito Santo, desde aqueles tempos até a atualidade. Em poucos dias, com a conclusão da colheita dos frutos da rubiácea, estariam preparando terras para o plantio de cereais, leguminosas e tubérculos destinados à alimentação das pessoas e dos pequenos animais criados na propriedade. Nas pedreiras situadas nas proximidades, havia um grande rebanho de cabras que vagava livremente pelas montanhas, pastando folhas e capins nativos. Era costume da família, aos sábados, realizar caçadas a esses animais para prover carnes destinadas à alimentação da família e, também, para serem consumidas nas festas que costumavam realizar nos finais de semana e dias santificados. Durante uma dessas caçadas, conta Angelim que viu em um local da Pedra da Onça muitos cristais ali derramados. Não se sabe se por mera curiosidade ou atraído pela beleza daqueles cristais diáfanos, recolheu alguns deles, levou-os para casa e entregou-os ao seu pai. Isso ocorreu inúmeras vezes, até que achou no meio daqueles cristais um exemplar cristalino de coloração azul que, juntamente aos demais, como de costume, foi entregue ao pai.
36 Luiz Piorotti contou ao seu amigo Chiquinho Adami acerca dos achados do garoto e este, tendo tomado conhecimento, recomendou que recolhessem mais amostras, pois brevemente viria à casa dos Piorotti e aí poderia vê-las, deixando, desde já, agendada a sua visita para um dia de junho, data em que se comemorava a festa de Corpus Christi. Muitas outras amostras foram coletadas e, na data em que era esperado, Adami não compareceu, chegando tão somente até eles a notícia do seu assassinato ocorrido naquele mesmo dia na localidade de Figueira de Santa Joana. Esse fato, narra Angelim, viria mudar os rumos da história, pois seu pai contava ter Adami como sócio em quem depositava toda confiança e também porque eram amigos, acima de tudo. Uma irmã de Angelim foi acometida de uma enfermidade e permaneceu internada em Figueira de Santa Joana aos cuidados do médico Emílio Roberto Zanotti. Então, Luiz conversou com o farmacêutico João Azevedo acerca dos sinais encontrados sobre a Pedra da Onça. Como pessoa entendida em minerais preciosos e garimpos, este se mostrou interessado nos achados, solicitando a Piorotti para que assim que retornasse lhe trouxesse amostras dos cristais. João Azevedo viu as amostras dos cristais encontrados na Pedra da Onça e prontamente cuidou de ir até o alto daquela montanha acompanhado de Cantílio, que trabalhava como cambista, vendendo loterias e que também nutria especial interesse pelo assunto. Foram à casa do Piorotti e lá se juntaram a Levino Gasparini, agricultor que trabalhava como meeiro. Os três subiram a montanha para verificar in loco os sinais da jazida que ali existiam. Conta Angelim que nesse dia seu pai teve que agir às pressas para improvisar um fogão com blocos de granito e sobre os quais seriam colocadas as panelas para cozer os alimentos para o almoço das visitas chegadas de última hora. Esse fato corriqueiro certamente funcionou como um aliado para que nossa testemunha avivasse suas memórias. No alto da montanha, no local em que foram encontrados os cristais e alguns fragmentos de água-marinha, João Azevedo, examinando a posição da montanha, sugeriu que roçassem em um local um pouco acima, onde era abundante a existência de arbustos da variedade “espinho agulha”. Ali existia uma velha toca de tatus da qual haviam sido expelidas muitos exemplares de quartzo com alto grau de diafaneidade e vários estilhaços de águamarinha. Continuaram a escavar o local marcado e, ao aprofundarem naquela terra, acharam muitos cristais de quartzo e água-marinha. Mais outro dia e a quantidade de minerais-gema aumentava. O garimpo era executado pelos quatro sócios, e Angelim, que a tudo presenciou, pôde narrar com precisão. Muitos cristais foram encontrados nos dias seguintes, mas havia a preocupação de que nada fosse revelado a um empregado da família que era dado ao alcoolismo e que, quando embriagado, falava demais. Do alto de Pedra Alegre já era visível o colorido branco do caulim que escorria pela montanha abaixo e isso aguçava a curiosidade das pessoas acostumadas ao garimpo. Tal Remiggio Sepulcri foi um dos que se deixou levar pela curiosidade e, em determinado momento, foi até a lavra para saber o que acontecia ali. Momentos antes da chegada do inesperado visitante, os trabalhadores encontraram uma água-marinha que pesava três quilos e oitocentos gramas. Teve que ser apressadamente escondida para que não fosse vista. João Azevedo procurava desviar a atenção de Remiggio, ocupando-o com vários assuntos de modo que não visse o que haviam achado. Os trabalhos da lavra foram temporariamente interrompidos por causa da convocação de Luiz Piorotti para comparecer a Itaguaçu onde deveria prestar esclarecimentos a um promotor de justiça acerca de um processo que tramitava nessa comarca. Também os demais
37 sócios aproveitaram essa pausa para cuidar de assuntos de seus interesses particulares. Enquanto isso, Angelim e outros dois irmãos foram até a lavra, cutucaram no veio com pedaços de madeira, pois não sabiam onde estavam escondidas as ferramentas, e acharam uma águamarinha de 300 gramas. Ao chegarem a casa, mostraram o exemplar achado à sua mãe, que lhes ordenou que o cristal fosse colocado junto aos outros pertencentes à sociedade. Prevendo que pudessem receber mais alguma visita inesperada, a esposa de Luiz ficou encarregada de bater numas latas, deixadas ali de propósito, para avisá-los quando algum estranho estivesse subindo ao penedo. Depois de mais alguns dias, resolveram trabalhar na parte inferior da escavação, imaginando que encontrariam outros exemplares semelhantes àquele que fora achada ali. Iniciaram os trabalhos no sentido combinado, quando ouviram o som das latas, avisando sobre a chegada de visitantes. Momentos depois, de fato, chegou uma turma de uns quarenta homens, fortemente armados e chefiados por tal Peixoto. Assim que chegaram, prontamente avisaram que não vieram para invadir a lavra, apenas desejavam marcar um local para também trabalharem. Foi-lhes indicado o lado superior para que o ocupassem. Essa turma começou a trabalhar imediatamente, encontrando depois de pouco tempo grandes prismas de águamarinha, semelhantes àquela encontrada anteriormente à chegada. Uma chamou atenção pelo seu peso: era uma peça límpida, pesando 28 quilogramas. Novas turmas chegaram e se apoderaram de locais para trabalhar, ficando a lavra fora de controle. João Azevedo resolveu comunicar-se com parentes e amigos seus residentes em Minas Gerais e no Rio de Janeiro para que eles viessem participar da lavragem desse garimpo. Chegados os convidados, foi feita uma proposta para a compra dos cristais de água-marinha já achados e das quotas do direito de exploração dos sócios Luiz Piorotti e Levino Gasparini, cabendo a cada um deles a paga de 70 contos de réis. Com a quantia recebida, Levino Gasparini comprou a propriedade de João Toniato por 40 contos de réis, na localidade de Sossego, onde mais tarde seria instalada a indústria de abatedouro de bovinos e frigoríficos da “Charqueada Toniato”. Luiz Piorotti recebeu 40 contos de réis em moeda, com os quais fez a aquisição de uma gleba de terras na saída da cidade de Itarana, adjacente à estrada em direção a Itaguaçu, onde hoje existe uma residência pertencente à família, uma fábrica de cachaça e partes do terreno destinado ao cultivo de cana e de cereais. Os 30 contos restantes foram recebidos por meio de uma nota promissória, emitida por Martinho Scárdua, liquidada mais tarde com a entrega de uma propriedade rural na localidade de Sobreiro. Quanto ao sócio Cantílio, também este vendeu sua parte ao mesmo grupo, não se conhecendo os valores da transação. De outras pessoas que também participaram desse garimpo não se tem lembrança, pois nos dias da intensa exploração da lavra, o grande número de pessoas ali presentes – garimpeiros, compradores de cristais e curiosos –, muitos deles não conhecidos na região –, impedia melhores observações. A maciça presença de policiais militares tornava o local aglomerado, como acontece nas grandes festas, finalizou Piorotti. A versão da descoberta contada na região Raimundo Ferreira costumava subir nos penhascos da região para dedicar-se à caça de tatus e cabritos. Ele encontrou, na terra expelida da toca por um desses animais, alguns fragmentos de cristais de quartzo e também de água-marinha. Mostrou todos esses achados a um comerciante estabelecido em Limoeiro do Caravaggio, que o aconselhou a plantar cultivos
38 destinados ao sustento da família, fato presenciado por uma testemunha que me afirmou a veracidade da conversa. Face à experiência que tenho, conclui que tal comerciante poderia ter sido privilegiado como pioneiro na descoberta da jazida da Pedra da Onça, caso tivesse dado crédito à informação que lhe foi prestada pelo senhor Raimundo. Era notório o fato de esse indivíduo ser adepto da “lei do menor esforço” (ociosidade, qualidade atribuída ao personagem “Jeca Tatu” num dos contos de Monteiro Lobato), como contam pessoas contemporâneas. O comerciante deve ter concluído que esse trabalhador trouxesse tais informações para obter vantagens e talvez para comprar “por conta” dos cristais de água-marinha que poderia achar. João Azevedo, seus irmãos Gustavo e Hermelindo e mais alguns familiares juntaram-se a pessoas de Itaguaçu, dentre elas o médico Emílio Roberto Zanotti, o agrimensor Antônio Bicalho de Souza, Manoel Francisco Soares (o Monge), João Bento de Aquino, Aniceto Frizzera, Manoel Monteiro (titular de cartório na Comarca de Itaguaçu e pessoa de grande prestígio, inclusive nos meios políticos). Outros vieram provenientes de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, cujos nomes não são lembrados, para, de um dia para outro, subir a montanha, acompanhados de garimpeiros devidamente municiados de ferramentas apropriadas para fazer a prospecção dos minerais-gema que jaziam na Pedra da Onça. Comenta-se o fato de que um comerciante de minerais preciosos, oriundo da cidade mineira de Teófilo Otoni, teria chegado à localidade de Figueira de Santa Joana pilotando um avião do tipo “teco-teco” e, para surpresa de todos, ali pousado. A sociedade inicialmente organizada para fazer a garimpagem era constituída por João Azevedo, seus irmãos Gustavo e Hermelindo, Cantílio, Levino Gasparini e Luiz Piorotti – grupo social que se desfez após o ingresso de novos participantes, parentes e amigos da família Azevedo vindos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, do qual deixaram de fazer parte os três últimos por terem sido compradas as suas quotas ao preço unitário de 70 contos de réis. Levino Gasparini e Luiz Piorotti, com os recursos financeiros auferidos, fizeram aquisição de propriedades, numa das quais reside ainda, em Itarana, Angelim Piorotti que a obteve por herança. As notícias da espetacular descoberta da jazida da Pedra da Onça espalharam-se por todos os quadrantes da região que compreende o estado do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, cujo eco persiste até a atualidade. Foi por isso que o alto da pedreira foi tomado por uma multidão composta de garimpeiros, negociantes de cristais, e, como de costume, por um grande número de curiosos, como já foi relatado anteriormente. Naqueles dias de atividade intensa do garimpo, o topo da montanha parecia estar constantemente em festa, graças à presença maciça de pessoas que para lá afluíam para participarem ou testemunharem pessoalmente um evento ímpar. E a novidade deixava todos com uma indagação: Como podia, ali no alto de uma montanha constituída de um imenso rochedo granítico, existir tamanha riqueza mineral, numa pequena porção de terra? Somente, talvez, os geólogos tivessem explicações para responderem conclusivamente. A grande quantidade de minerais-gema extraída, de acordo com o que ainda é comentado, era transportada até Figueira de Santa Joana (hoje Itarana) com utilização de animais de carga. Lembram que alguns prismas de água-marinha eram tão longos que parte deles ficava exposta além das bolsas de couro do arreamento dos animais. Há comentário de que um grande exemplar para que pudesse ser guardada num cofre foi partida em vários blocos. Havia também farta quantia de peças de quartzo e o seu transporte até Figueira de Santa Joana fazia-se por meio da utilização de carros de bois. Os comentários, que ainda persistem, dão conta de que os cristais de água-marinha e de outros derivados do berilo extraídos nessa lavra renderam para alguns dos sócios altíssimas
39 quantias de dinheiro, recursos com o quais teriam adquirido navios, aviões e muitos automóveis. Não há, entretanto, qualquer evidência de que tais fortunas amealhadas naquela ocasião tenham subsistido ao tempo. Além dos beneficiários da lavra já nomeados, existem outros lembrados, como Hilário Toniato e Brasilino Firmino das Mercês, que atuaram como sócios de uma das quotas. A senhora Arlete Bicalho, esposa do Dr. Délio Cortat (ex-gerente do Banco Itaú), filha de Antônio Bicalho, um dos grandes partícipes da lavra da Pedra da Onça, lembra-se de que uma grande quantidade de cristais de água-marinha esteve guardada na residência da família, em Itaguaçu. A presença de bens valiosos no ambiente residencial deixava a todos em constante estado de apreensão devido ao risco de possíveis assaltos, embora pouco frequentes naquela época. Essas peças preciosas não permaneciam por muito tempo num mesmo local e a guarda desses bens se revezava nas casas dos demais sócios. Conta, também, que seu pai obteve com a venda das preciosidades amealhadas no garimpo, uma grande quantia em dinheiro pela quota a que fazia jus, que se constituiu em uma verdadeira fortuna. Esses recursos não lhe trouxeram riqueza por muito tempo, pois a fartura adquirida com facilidade da mesma forma esvaiu devido aos gastos desmedidos que se pôs a fazer.
Relato de Hilário Toniato
Imagem 009 Fotografia cedida por Petruska Toniato, pertencente ao seu acervo e de autoria ignorada.
Hilário Toniato conta que uma das exemplares de água-marinha encontrada por ele pesava exatamente 18,100 kg e que lhe foi furtada por um indivíduo que se disse comprador de minerais-gema. Com o uso da força policial, o autor do furto, de quem não lembra o nome, foi perseguido, a partir de Figueira de Santa Joana, passando por Itaguaçu, Itapina, Baixo Guandu, Aimorés, tendo sido alcançado em Itueta, Minas Gerais, onde a peça, depois de recuperada, foi apreendida, ficando a partir daquele momento à disposição da Justiça até decisão final. O juiz de Direito da Comarca de Itaguaçu na época, a quem coube cuidar do caso, foi o doutor Olívio de Andrade Lira7 e, mais tarde, o infrator foi identificado apenas como Peixoto.
7 Doutor Olívio Andrade Lira é homenageado com seu nome daquela que foi conhecida como avenida Carioca, localizada no extremo da Terceira Ponte, em Vila Velha-ES. Vila Velha chegou a viver sob a condição de subúrbio abandonado da capital, Vitória, categoria que lhe foi imposta em novembro de 1937. Teve sua autonomia restabelecida pela Constituição Estadual de 26 de julho de 1947, figurando como Comarca Judiciária depois de 18/08/1955 e sendo a Comarca instalada efetivamente apenas a partir de fevereiro de 1956. Depois disso, até o ano de 1962, teve apenas 3 juízes: Dr. Olívio de Andrade Lyra, Dr. Olavo Pilar Gonçalves e Dr. Victor Hugo Pimentel. O Promotor Público era apenas um, o Dr. Álvaro José Sobreira.
40 Não se sabe ao certo, mas parece que o mineral foi confiscado pela Fazenda Nacional devido à condição de ilegalidade do garimpo.
Imagem 09-A Fotografia do Doutor Olívio Lyra, Juiz de Direito na Comarca de Itaguaçu na década de 1940 (Cortesia de Maria Augusta Lyra de Freitas). A autoria da imagem não é informada.
A propósito desse fato, junto, em apêndice, um comentário feito pela senhora Maria Augusta, esposa do Dr. Átila Botelho de Freitas e filha do juiz de Direito, Dr. Lira, no qual relata que um grande cristal de água-marinha procedente da lavra da Pedra da Onça teria permanecido sob a custódia do seu pai, guardado numa despensa da residência de sua família, onde ninguém tinha permissão de entrar, principalmente se fosse criança. Tal mineral teria sido subtraído dos sócios Hilário Toniato e Brasilino Firmino das Mercês. Continua Hilário a contar que todo o produto que ele e seu sócio extraíram na Pedra da Onça foi vendido por 61 contos de réis, dos quais lhe couberam 10 contos e 500 mil réis. Hilário menciona os principais nomes dos que tiveram participação significativa nos resultados obtidos no garimpo da Pedra da Onça: em primeiro lugar, os irmãos João, Gustavo e Hermelindo Azevedo, seguidos de Dr. Emílio Roberto Zanotti, Antônio Bicalho de Souza, Manoel Francisco Soares (o Monge), João Bento de Aquino, Aniceto Frizzera e outros mais de cujos nomes não se lembra. Não há como afirmar serem verdadeiros alguns valores quantitativos da produção de minerais-gema na lavra da Pedra da Onça. Alguns afirmam que o total seria de l.000
41 quilogramas, outros 1.200 e outros mais que seriam 2.000 (ou mais) quilogramas somente de água-marinha. Cristal de quartzo somaria algumas dezenas de toneladas. Outras gemas derivadas do berilo, tais como morganita, heliodoro e, até mesmo, alguns exemplares de crisoberilo (variedade mineral diversa), dizem que teriam sido ali encontrados 8. Mas, não há dúvida, a água-marinha mereceu o principal destaque. Exatamente os quantitativos ninguém sabe, pois não existem quaisquer provas conhecidas, nem notícias registradas em jornais ou revistas da época. As notícias que se conhecem sobre o garimpo da Pedra da Onça foram transmitidas verbalmente, de geração em geração, ou seja, de pais para filhos, de avós para netos e assim por diante. Parecem histórias cujo registro era feito antes da existência da escrita, finalizou Hilário Toniato. Comentários recentes dão como certa a presença daquele tal “Peixoto”, que fez parte da lavra no garimpo da Pedra da Onça, mediante o argumento da força, pois quando ali chegou chefiava uma turma de uns quarenta indivíduos fortemente armados, segundo o que contou Angelim Piorotti em depoimento anterior.
Relato de Cassemiro Postinghel (Iote)
Imagem 010 – Fotografia feita pelo autor em 2007.
Nascido em 1933, descendente de uma família de proprietários rurais nas encostas da Pedra da Onça, desde há muito tempo conhece alguns relatos de pessoas que testemunharam como foi descoberta e realizada a exploração da grande jazida. Disseram essas pessoas que Raimundo Ferreira e o tal Dagoberto descobriram os primeiros cristais de água-marinha expelidos de uma toca escavada por um tatu, embora haja quem negou o fato. Primeiramente mostraram esses cristais a Luiz Piorotti, que os mostrou a amigos residentes em Itarana e Itaguaçu, aos quais revelou o local dos achados, que constituíam um forte indício da existência de uma grande jazida. Os dois amigos foram os descobridores e não participaram daqueles grupos de pessoas que usufruíram da riqueza que viria beneficiar a muitos vindos de longe em detrimento dos residentes nas proximidades, principalmente os verdadeiros descobridores. A exploração da lavra coube inicialmente a um grupo formado por Luiz Piorotti, Cantílio e Levino Gasparini, liderados pelo farmacêutico João de Azevedo, experiente e dedicado ao ramo da mineração de minerais-gema, inclusive com atuações anteriores em Minas Gerais e também no estado. Depois de alguns dias de trabalho dessa turma, houve uma invasão praticada por garimpeiros vindos de várias partes do vizinho estado de Minas Gerais e de outros estados, ficando o local repleto de garimpeiros, compradores de minerais, muitos expectadores atraídos pela curiosidade, soldados da Polícia Militar e do Exército. 8
Crisoberilo pertence ao próprio grupo, do qual fazem parte o crisoberilo olho-de-gato e a Alexandrita. Alguns exemplares desse mineral costumam estar presente nas jazidas de água-marinha, embora sejam de variedade diversa.
42 Finalmente, contou Cassemiro que teve experiências no garimpo nas localidades próximas à Pedra da Onça, tendo encontrado alguns cristais de água-marinha em terras de sua propriedade, nunca alcançando achados expressivos. Acredita, porém, que ainda existem muitas jazidas tanto ali nas proximidades como em todas as localidades adjacentes, desde o município de Itarana9, Santa Teresa, Itaguaçu, Afonso Cláudio e outros. Quem, afinal, descobriu a jazida? Depois de analisar os vários relatos em que são abordados aspectos ligados à lavra da Pedra da Onça, poderia concluir e indicar seu verdadeiro descobridor. Antes, entretanto, permito-me fazer algumas avaliações e conclusões a respeito da lavra da Pedra da Onça. Alguém que encontre fragmentos de quartzo ou de um mineral qualquer como água-marinha, ametista, topázio ou simplesmente vestígios como mica, caulim, óxido de ferro e feldspato, recolhendo amostras e entregando-as a quem conheça e possua conhecimentos técnicos, não pode ser considerado descobridor de uma jazida. Mas quem conhece o assunto, vai ao local, constata a veracidade da informação e vê que os vestígios têm procedência, empreende trabalho, escolhe o local que lhe pareça mais apropriado e corrobora a existência dos minerais — este é quem descobriu realmente a jazida. Alguém que, realizando trabalho na agricultura, encontra um cristal de quartzo ou um fragmento de água-marinha, ametista ou outro qualquer mineral, não é o descobridor; mas aquele que vê o material encontrado, detecta a veemência do indício e faz o trabalho de prospecção, confirmando a existência dos minerais, este é o verdadeiro descobridor de um depósito de minerais-gema. Ora, se João Azevedo sentiu-se estimulado para subir a montanha apenas vendo amostras de cristais e alguns fragmentos coloridos, é porque viu ali a probabilidade da existência de uma mina produtiva. Quando marcou o local para a primeira escavação acima de onde haviam sido encontrados os sinais, demonstrou conhecimento e perícia, resultando dessa ação a descoberta real de cristais de água-marinha em quantidades que não deixaram dúvida sobre a localização da grande jazida. Diante das considerações, podemos concluir que não foram descobridores aqueles que encontraram os indícios e sim aquele que confirmou com a sua técnica o local onde deveriam ser realizadas as operações. Concluindo, o mérito da descoberta da lavra da Pedra da Onça deve ser atribuído, sem dúvida alguma, ao senhor João Azevedo, por ter demonstrado que agiu com base nos conhecimentos que possuía. OUTRAS JAZIDAS NAS ADJACÊNCIAS DE SANTA TERESA A influência causada pela descoberta da jazida da Pedra da Onça criou um clima propício à realização de novas descobertas, surgindo, assim, novas lavras nas adjacências de Várzea Alegre, Pedra Alegre, Triunfo, Itaguaçu, Afonso Cláudio, Santa Teresa, Santa Leopoldina, Pancas e em outros municípios.
9 A generosidade de minerais-gema no município de Itarana, além da jazida da Pedra da Onça, há notícias salpicadas por PORT, Ido, no livro Os Altos de Itarana e atualmente, GABRECHT, Idolindo tem textos publicados no site Portal de Jatibocas – onde tem o artigo A História das Pedras Semipreciosas em Itarana Jatibocas –, citando vários garimpos nessa parte do município, nominando propriedades agrícolas com achados significativos de cristais de água-marinha, cristais de quartzo nas variedades hialino, róseo, ametista, citrino e fumé. Artigo publicado, em 25 de janeiro de 2011.
43 A lavra dos “Roccon” Em Várzea Alegre foi descoberta, acidentalmente, a famosa lavra dos “Roccon”. Haviam derrubado uma árvore de madeira de lei que seria utilizada como almanjarra de um engenho de moagem de cana na propriedade de Ângelo Pivetta. Ao ser arrastada por uma junta de bois, a peça de madeira fez um sulco na terra, que ficou totalmente azul, tantas eram os cristais de água-marinha que ali existiam. A exploração inicial dessa jazida coube aos proprietários do terreno, membros da família Roccon, tendo sido grande a quantidade de cristais dali retirados. Alguns eram de bom teor de diafaneidade e outras bem cristalizadas, mas com a presença de inclusões, o que os tornava defeituosos. Todas, no geral, eram de coloração fraca, e com isso, tinham pouco valor comercial. A maior quantidade das peças de cristais era mesmo constituída por escórias leitosas ou apenas translúcidas. Durante mais de sessenta anos, essa jazida foi explorada por inúmeros garimpeiros, produzindo sempre grande quantidade de cristais de pouco valor comercial. Os vestígios que existem nesse local levam-nos a crer que a extensão da jazida é de uma área de aproximadamente uns 150.000 metros quadrados. Desse total, calculo que todas as prospecções ali realizadas por garimpeiros não chegaram a atingir sequer 10% de toda a área ocupada pelos indícios da jazida. A continuar a exploração nesse ritmo, a tal mina não estará exaurida nem no próximo século. Nessa jazida, todo o cascalho era constituído de enormes blocos de cristal de quartzo anédrico, mica e pequenas quantidades de caulim localizadas, praticamente, na superfície do terreno. Em algumas escavações mais profundas nada conseguiram localizar além de terra argilosa pura. Onde os blocos de quartzo são maiores, só é possível o trabalho prospectivo utilizando explosivos sistematicamente. A lavra do Triunfo No Triunfo, localidade situada numa descida de Pedra Alegre para o município de Itarana, foi descoberta uma jazida que produziu grande quantidade de água-marinha. Houve grande corrida de garimpeiros, lavrando essa jazida e, nas primeiras incursões, contam achados de grandes prismas inteiros e outros partidos em estilhaços. Até a década de 1960 era constante a presença de garimpeiros, que alcançavam modestos resultados com achados de gemas de coloração fraca e de preços pouco significativos. Lavras nos altos de Santa Teresa, Itarana, Afonso Cláudio e em outros municípios Na década de 1940, havia muitos garimpos disseminados pelas regiões altas e frias dos municípios de Santa Teresa, Domingos Martins, Santa Leopoldina, Itaguaçu, Itarana e Afonso Cláudio. Tinham como característica a produção de minerais-gema, tais como água-marinha, andaluzita, crisoberilo “olho-de-gato” (raros e famosos), ametista, citrino, morion e o quartzo hialino, este o mais significativo quanto aos volumes. Os depósitos de quartzo, na maioria das vezes, localizavam-se em áreas alagadas de origem aluvial. No município de Santa Teresa, esses garimpos localizavam-se na região de Alto Caldeirão, na Serra dos Pregos, Lombardia e Goiapaba-Açu. Em Santa Leopoldina, em Santa Maria de Jetibá, Garrafão, rio Possemozer, Caramuru, São Luis, Recreio, etc. No município de Itaguaçu (na área que hoje é Itarana), em
44 Alto Jatiboca, e em várias localidades de Afonso Cláudio, bem como no rio Pontes, localidade pertencente ao município de Domingos Martins. Na mesma década de 1940, foram descobertas algumas minijazidas de água-marinha em localidades próximas à Pedra da Onça, tal como vem acontecendo até a atualidade. Quando há um boato da descoberta de minerais-gema, quase sempre os proprietários rurais negam o fato veementemente. Às vezes, são meros boatos de duvidosa veracidade, que jamais serão apurados. Lavra em São Sebastião do Rio Perdido (Santa Teresa) Em 1956, Vítor Zamprogno empreendeu serviços de garimpo na propriedade de Paulinho Pissaia, na localidade de São Sebastião, situada próximo à Barra do Rio Perdido, município de Santa Teresa, de onde retirou inicialmente cerca de 800 gramas de água-marinha, assim contam os vizinhos. O pegmatito adentrou pela rocha granítica, formando uma imensa galeria, produzindo blocos de quartzo hialino com elevado teor de diafaneidade. Parte da galeria desabou e um dos garimpeiros, não resistindo aos ferimentos, faleceu. Nessa primeira fase, os trabalhos eram orientados por um filho de Vítor Zamprogno, que conheci pela alcunha de “Nego”. Não disponho de informação sobre os nomes dos outros trabalhadores garimpeiros que atuaram nessa lavra. Em 1958, lembro-me de que essa lavra era explorada por uma turma mantida pelo empresário Gercino Coser. Moradores antigos das imediações dizem que durante trabalhos realizados por longos meses foram extraídos cristais de quartzo de razoável qualidade diáfana e em volume que teria alcançado alguns milhares de quilogramas. Passando por aquelas bandas, era visível a quantidade de terra e cascalhos expelidos da cavidade feita na rocha. Clementino Scotar, um dos últimos a trabalhar nesse local, esgotou um imenso depósito de água que se formara naquela cavidade, mas nada mais havia ali senão um imenso espaço vazio onde outrora fora uma mina. Há pouco mais de dez anos, ao lado da antiga jazida, foi descoberto um pegmatito que produziu algumas centenas de quilogramas de cristal de quartzo hialino turmalinado. Essa descoberta propiciou aos garimpeiros recursos financeiros inesperados, tanto pela descoberta eventual como pela comercialidade do produto, que tem boa aceitação no mercado como utilidade para colecionadores e produção de beneficiamento por escultura. Imagem 011 Na montanha, onde está assinalado com uma seta vermelha é o local em que foi lavrada a jazida de São Sebastião do Rio Perdido. Fotografia registrada pelo autor em 2008.
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Imagem 012 Fotografia de um exemplar de quartzo turmalinado em bruto. Imagem obtida no endereço abaixo. http://www.imperialpedras.com.br/loja/pecas-de-colecao/cristal-de-rocha-com-turmalina-pc-de-colec-o-2.html
CAPÍTULO 2 JAZIDAS E LAVRAS EM OUTRAS REGIÕES DO ESPÍRITO SANTO OUTRAS DESCOBERTAS A descoberta de jazidas e instalação de lavras não ficou circunscrita ao município de Santa Teresa e proximidades, nem estes foram o fulcro da garimpagem no Espírito Santo. Foi um movimento natural, resultante de pesquisas e da intuição de alguns garimpeiros, como demonstraremos a seguir.
Jazida de João Neiva Eu ouvia atentamente as histórias que Guilhermino Zanotti me contava, principalmente as que se referiam a lavras e minerais-gema. Certa ocasião, ele me relatou a descoberta de uma jazida em João Neiva, isso teria ocorrido em 1961 ou 1962. Guilhermino, depois que participou ativamente da lavra denominada dos “Zanotti” e de ter conseguido, com a venda das grandes exemplares de água-marinha obtidas naquele local, uma boa quantia de dinheiro, adquiriu um Jipe Willys com tração nas quatro rodas que lhe possibilitava viajar por todo o interior do estado, nas regiões dos garimpos de Minas Gerais e da Bahia, geralmente locais de difícil acesso devido à precariedade das estradas de chão por onde devia trafegar. Mas, como costumava dizer, “com este jipe consigo subir até em pau de sebo”10. Viajava também pelo interior à procura de minerais-gema para comprar, mandando-as lapidar, vendendo-as em Governador Valadares, Teófilo Otoni e Rio de Janeiro, às vezes diretamente a turistas que se hospedavam no mesmo hotel que ele.
“Pau de sebo” era uma haste de madeira, uma espécie de poste, que besuntada com sebo, servia para a prática de um esporte competitivo geralmente presente nas festas juninas de Santo Antônio, São João e São Pedro. Era um desafio a quem o conseguisse escalar para receber alguma prenda. 10
46 Ao retornar dessas viagens, sempre me contava a respeito do sucesso que fazia vendendo mercadorias do garimpo diretamente ao pessoal do exterior. Eu ficava atento e muito admirado, pois sempre fui fascinado por esses assuntos. Os negócios de comércio de gemas11 do meu amigo Guilhermino pareciam ir muito bem, tanto é que ele fez com que seu sobrinho Cremildo Badke fosse passar algum tempo em Teófilo Otoni para aprender o ofício de lapidador, vindo este a se tornar um dos bons profissionais do ramo. Guilhermino trouxe-me notícia da espetacular descoberta de uma das grandes jazidas de água-marinha — a de João Neiva —, nome atribuído à jazida pela sua proximidade do trevo na BR-101 Norte, que dá acesso a então sede do distrito de João Neiva. Na realidade, não existiu a “jazida de João Neiva”. O garimpo estava situado na localidade denominada “Retiro”, pertencente ao município de Aracruz. “Lavra do Retiro” teria sido o nome apropriado para esse garimpo. Guilhermino contou-me que, em Colatina, havia uma casa comercial denominada “Casa das Louças”, de propriedade de um senhor de nome Esmar, também dedicado aos mineraisgema. Todas as semanas, um senhor comparecia ao seu estabelecimento para lhe vender alguns cristais de água-marinha que eram trazidas numa sacola de tecido, exemplares de excelente qualidade, perfeitas na diafaneidade e de cor muito forte que, quando lapidadas, ostentavam um brilho intenso e ímpar. Esmar, não se satisfazia apenas em comprar, desejava conhecer a origem dos minerais que semanalmente adquiria, seguiu esse garimpeiro até chegar ao local em que residia. Com isso, se tornou sócio no trabalho dessa mineração. Com a venda das mercadorias para comerciantes de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, o assunto tornou-se notícia corrente, não tardando que o fato se espalhasse por todos os quadrantes para que grande leva de garimpeiros se aproximasse da mina no intuito de ali trabalhar. Como os proprietários das terras, membros das famílias Marino e Giacomim, não permitissem a participação desses trabalhadores, tornou-se iminente a invasão do garimpo. Guilhermino foi chamado para orientá-los sobre como seria a forma de tratar da legalização dos registros de lavra nos órgãos competentes, algo sobre o que tinha experiência desde quando participou, trabalhando na lavra dos Zanotti, época que obtiveram autorização para a pesquisa daquele garimpo. Aceitou a incumbência, providenciando toda documentação e o seu encaminhamento aos órgãos competentes, em que solicitava autorização para a realização das pesquisas. Obtida a autorização pleiteada, procederam a uma ação judicial, visando à retirada de todos os invasores, garantias da propriedade e posse aos legítimos donos da terra. Com a decisão judicial favorável aos proprietários do solo, mediante o uso da força policial, os garimpeiros foram retirados do local, destruídos os seus acampamentos e apreendidas todas as suas ferramentas, tendo sido proibidos de retornarem, sob pena de medidas impeditivas que seriam realizadas mediante o uso da força policial. Não tardou que nova invasão ocorresse e mais uma vez foram adotadas as mesmas providências, retirando-se os trabalhadores que relutavam em desocupar o local. E isso ocorreu reiteradamente. Todas as vezes que os garimpeiros foram afastados, sempre retornaram. As notícias que vinham a todo o momento de que os trabalhos feitos por esses garimpeiros, ora às pressas, ora em escavações ainda que superficiais, continuavam rendendo uma produção satisfatória, motivavam a permanência dos invasores na área.
11 Cristais beneficiados por meio de lapidação.
47 Guilhermino, não conseguindo conter a invasão pelos meios legais, não pôde participar efetivamente da exploração da mina, e muito menos os legítimos proprietários, que também, por isso, deixaram de possuir os produtos da sua lavra. Não podiam fazer parte do garimpo, pois temiam por sua segurança devido ao clima de hostilidade ali existente. Depois de alguns meses de trabalho desordenado, os proprietários das terras não receberam as comissões devidas pela propriedade do solo. A região foi abandonada pelos garimpeiros, restando uma paisagem de total desolação, onde outrora fora terra de utilidade agrícola, havia agora um mar de crateras e toda a riqueza que ali existia se esvaiu. Um empresário de nome Doutor Pio arrendou aqueles terrenos para explorar o garimpo mediante o uso de mecanismos de terraplanagem, com o compromisso de devolvê-lo aos seus legítimos proprietários, depois de explorado, e com o solo devidamente restaurado. Passado o frenesi, a lavra voltou a funcionar, ordenadamente. Os proprietários passaram a fazer concessões de algumas áreas por meio de contratos de arrendamento mediante o pagamento de comissões ou cessão por preço certo e previamente liquidado. Nessas oportunidades, tanto o Guilhermino, quanto o seu primo Hugo França Zanotti e Hilton Corteletti, revezaram-se em contratos dos quais tiveram resultados compensatórios, por meio de achados generosos de água-marinha, que beneficiaram tanto eles na condição de cessionários quanto os proprietários cedentes, que passaram a receber os devidos quinhões de direito pelo uso do solo. Esse garimpo ficou ativo novamente de 1970 a 1980, quando, por sucessivas vezes, foram arrendadas partes da terra onde estava localizado. Na década de 1970 nossa turma trabalhou ali. Apesar de mais de quarenta anos de exploração há, ainda, nessa lavra, uma parte que se situa na base da montanha que fica aquém da propriedade dos Marinos, próxima a um amontoado de grandes blocos de granito, onde poderiam ainda existir, guardadas, algumas das maiores exemplares de água-marinha que essa lavra teria produzido. Para alcançar esse resultado, seria necessário remover essas rochas mediante utilização de grandes cargas de explosivos.
PEQUENAS JAZIDAS EM VÁRZEA ALEGRE Alguns descobrimentos casuais Várzea Alegre sempre teve como vocação principal as atividades agropecuárias. Mas nas décadas de 50 e 60, mais precisamente no período compreendido entre os anos de 1953 a 1969, houve uma mudança radical nas formas de aproveitamento das terras que até então eram destinadas à agropecuária de subsistência das numerosas famílias de descendentes de italianos residentes na região. Hoje a localidade é toda constituída por minifúndios e com agricultura desenvolvida pelo sistema de economia familiar. Assim esses pequenos agricultores passaram a dedicar-se ao plantio de milho, arroz, feijão e hortaliças não mais apenas como meio de subsistência, mas agora como atividade econômica, revolvendo as terras, adicionando fertilizantes, fazendo o controle da acidez do solo com o uso de calcário e utilizando, também, defensivos, tais como inseticidas e fungicidas. Inicialmente a terra era remexida com arados e grades movidos por tração animal. Depois veio a mecanização por máquinas movidas a combustíveis derivados do petróleo.
48 O revolvimento intenso do solo trouxe como consequência, além de uma melhoria da produtividade agrícola, agora diversificada, o descobrimento de várias pequenas jazidas de água-marinha, de ametista, de citrino e quartzo fumé e, ainda, razoáveis quantidades de quartzo hialino. Minerais-gema na propriedade de Sebastião Pivetta Na propriedade de Sebastião Pivetta, foi localizada uma jazida no interior de uma porção remanescente da Mata Atlântica e, no mesmo sentido, em terras vizinhas pertencentes às famílias dos herdeiros do Hermógenes Freire do Rosário. Uma turma de garimpeiros, constituída pelos irmãos Geraldo, Lico, Lolo e Gercino Pivetta, pelos irmãos Belmiro e José Erler e, ainda, pelos irmãos Waldir e Tidinho Freire do Rosário, encontrou alguns quilogramas de água-marinha nessas propriedades. Lavra na propriedade de Bepi Roccon
Imagem 13 No exato local indicado pela seta é que ocorreu a descoberta da lavra de Bepi Roccon. Fotografia do acervo de Aliete Roccon.
Pequena jazida que produziu algumas peças de água-marinha foi encontrada, por acaso, na propriedade de Bepi Roccon. O trabalho nesse garimpo foi feito por familiares sob a orientação de Hermes Croce, um antigo e experiente garimpeiro profissional. Lembro-me que visitamos o local da prospecção, mas das gemas mesmo só tivemos notícias.
Descobertas de minerais-gema nos entornos da Pedra da Onça e de Várzea Alegre Na Pedra da Onça, ou seja, na sua base, na propriedade que hoje pertence ao Tarcisio Antônio Demoner, foi localizada uma jazida de ametista, que teve considerável produção. A lavra desse garimpo foi feita pelos irmãos Arlindo, Orlando Lepaus, uma pessoa de sobrenome Ângeli e outros cujos nomes não me lembro. Cheguei a ver algumas das exemplares ali retiradas, totalizando mais de 90 quilogramas. Em terras pertencentes aos irmãos José e Orlando Vulpi, foram encontradas duas jazidas e numa delas foram retiradas água-marinha e razoável quantidade de quartzo hialino; na outra houve produção de ametista. A prospecção dessa mina foi realizada pelos membros da própria família e por mais alguns garimpeiros vindos de fora.
49 Outros cristais de ametista foram encontrados na propriedade de familiares do senhor Adriano Roccon, como também numa propriedade que fora de Pedro Sbardelotti — nessa, a produção teria sido de 50 quilogramas. Antônio Morao, Zeca Lucas e Martinho Bieth, juntos encontraram alguns exemplares de água-marinha numa escavação que fizeram na divisa da propriedade de Guilherme Zanotti com a de Antônio Roccon, retirando dali algumas peças com boa diafaneidade, de coloração média. O pegmatito adentrou pela rocha de granito e foi necessária a utilização de explosivos nitrosos para o desmonte do rochedo, ficando economicamente inviável depois de algumas tentativas. Recentemente, por duas vezes, foram encontradas grandes quantidades de ametista na propriedade de Renilton Zanotti na região adjacente ao rio Santa Maria. A primeira descoberta desse tipo de mineral no local data de l950. Também nas proximidades foram encontradas peças de água-marinha na propriedade dos irmãos Ribeiro, filhos do senhor Manoel, que garimpou no local durante muitos anos e na propriedade do vizinho Antônio Possatti, onde houve ocorrências idênticas. Na propriedade que a família de Pedro Corteletti adquiriu de Rodolfo Roccon, os garimpeiros integrantes da turma de Hilton Corteletti, composta por Clementino Scotar, Alfeu Scotá, Antônio Braz Possatti e Ademir Coser, retiraram alguns pequenos prismas de águamarinha de boa qualidade. Por toda a bacia e as vertentes que compõem a localidade de Várzea Alegre existem muitos sinais da existência de minerais-gema, notoriamente de variedades de berilo e de quartzo. A lavra do maciço rochoso do Toma Vento
Imagem 013 Fotografia de cristal originário dessa lavra, imagem feita por Daniela Newman, em 31.10.2012. Observando-se que, na base desse cristal, registra a presença de inclusos aciulares orientados formando uma borda hexagonal.
Pedro Taufner, agricultor, cuidava de cafeeiros e plantios de cereais numa propriedade de Alvino Zanotti. Durante seu trabalho, achou um exemplar de água-marinha com cerca de 800 gramas, com alta diafaneidade e coloração intensa. Outros trabalhadores também encontraram peças da mesma qualidade, causando uma corrida de vizinhos ao local. Os filhos de Antônio Roccon juntaram-se a Alvino Zanotti e Alberto Nunes, seus vizinhos, para escavar nesse local extremamente pedregoso. Cavaram numa camada superficial do terreno e acharam alguns estilhaços de prismas do mesmo mineral, que teriam descido de uma elevação granítica da montanha situada nas imediações. O assunto logo se tornou notícia na localidade e atraiu a natural cobiça dos garimpeiros da região. Acrísio Zanotti, após conhecimento do fato, localizou-se estrategicamente e concluiu sobre a origem de onde teriam vindo esses cristais que o pessoal encontrava. Escalou um penhasco íngreme e, juntamente com Guilhermino, seu irmão, e França, seu primo, e os
50 garimpeiros Gervásio Pivetta, Jair Fanti, Silvino e Reinaldo Loss providenciaram uma escavação no alto da montanha. Depois de passarem o dia revirando cascalhos, quando começava a escurecer, acharam os cristais de água-marinha, exatamente no depósito primário resultante do afloramento de um pegmatito ali existente. Chovia e a noite era muito fria; nem mesmo a escuridão que também reinava os impedia de trabalhar. Usavam um lampião a querosene que lhes proporcionava uma iluminação precária e, assim, trabalharam até altas horas, retirando nesse mesmo dia mais de vinte quilogramas de cristais de água-marinha, consideradas de melhor qualidade, inclusive a amostra que ilustra esta página. Comentou-se que os achados procedentes dessa lavra foram comerciados por valores bem elevados, mas a exata quantia jamais foi divulgada; somente os sócios partícipes é que a conheceram. Minerais-gema coisas preciosas são, como sempre, cobertas de mistério e isso faz com que a curiosidade sobre elas seja ainda mais aguçada. Garimpos de 1966 a 1969 No início de 1966, Acrísio Zanotti organizou uma turma de garimpeiros composta por Hermenegildo Mattedi, Paulo Demoner e Renilton Roccon para trabalhar numa lavra na propriedade de Orlando Mattedi, um pouco acima da sua residência, onde fizeram uma escavação extensa no sentido horizontal ao morro. Neste local, os garimpeiros extraíram inúmeros prismas de água-marinha ocos, constituídos por apenas uma camada periférica, não tendo, portanto, nenhum valor como gema, servindo apenas como peças para colecionadores. Chamaram essa lavra de a “lavra das peças de água-marinha ocas”. Essa mesma turma trabalhou por alguns meses numa lavra existente no sopé da Pedra da Onça em terras então pertencentes a Evaristo Massalai, de onde retirou grande quantidade de cristais de água-marinha anédricos, alguns dos quais medindo mais de um metro de comprimento e pesando mais de cem quilogramas cada uma das peças. Além de todas as escórias, foi encontrada uma peça de uns 150 gramas, com elevada diafaneidade e de coloração fraca (berilo verde), de pouco valor. No final de 1966, todos esses garimpeiros da turma de Acrísio Zanotti fizeram parte no garimpo na “lavra do Rabo de Tatu”, de onde extraíram algumas dezenas de quilogramas de água-marinha com boa diafaneidade e parte do lote era constituído de cristais anédricos. Em 1967, a turma esteve prospectando nas terras da família Possatti, de onde extraiu algumas peças de água-marinha constituídas de belas e raras peças para colecionadores. Alguns prismas finos e alongados, num dos quais inclusive havia, em seu interior, a presença de água. Fato semelhante aconteceu numa lavra de ametista em Santa Joana, nas proximidades de Itapina, outro cristal também com presença de água no seu interior. Em 1968, esse mesmo pessoal, exceto Paulo Demoner, trabalhou na montanha acima da propriedade de Alberto Nunes e de Alvino Zanotti. Dali conseguiu extrair uma peça de águamarinha de 120 gramas, aproximadamente. Essa amostra eu vi e era de excelente qualidade e do azul mais intenso que se possa imaginar.
LAVRAS E JAZIDAS EM OUTRAS LOCALIDADES Novamente a lavra do Triunfo
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Essa era uma lavra antiga, à qual já me referi. Situava-se na localidade do Triunfo, município de Itarana. Foi, provavelmente, descoberta na década de 1930, numa propriedade da família Casagrande. Há relatos de participantes desse garimpo, indicando como integrantes da lavra membros das famílias Zanotti e Coser, residentes no município de Itaguaçu, que conseguiram extrair grandes exemplares de água-marinha, o mineral do grupo do berilo mais comum nas lavras situadas no estado do Espírito Santo. Há, também, relatos de muitos garimpeiros que atuaram nessa jazida. Alguns exemplares retirados nesse local eram de qualidade de baixo teor de diafaneidade e de coloração de pouca intensidade e, por isso, pouco valor comercial esses minerais representavam. Garrafão
Imagem 014 Maciço granítico do Garrafão, fotografia obtida através do site da Prefeitura Municipal de Santa Maria de JETIBÁ-ES. http://www.pmsmj.es.gov.br/cgibin/turismo.asp?id=4
Pelos comentários, o que caracterizou as lavras dessa localidade situada no município de Santa Maria de Jetibá foi quanto à produção de água-marinha de bom índice de diafaneidade e de excelente coloração. Os garimpeiros comentavam que “os cristais de água-marinha de Garrafão eram os mais coloridos que se conhecia”. Garrafão é uma localidade presumivelmente apropriada à pesquisa e exploração cristais de quartzo hialino, ametista, citrino, fumé e róseo. Além disso, a localidade se destaca por sua dedicação agrícola diversificada, feita em solo de alta fertilidade, hoje sua principal riqueza. Afonso Cláudio e outros municípios
Imagem 015 Localidade de Empoçado, município de Afonso Cláudio. Fotografia atribuída à autoria de kaledy Roberto Lopes Gomes. Constante do site da Prefeitura Municipal de Afonso Cláudio.
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Também no município de Afonso Cláudio existe a fama da presença de inúmeras jazidas, principalmente de água-marinha, como é comum em todo o estado. Uma das que tenho notícia localiza-se no distrito de Lagoa, num local conhecido como “Empoçadinho”. A mina propriamente é denominada de “A Toca da Coruja” e há notícias de que aí já foram encontradas grandes e valiosas exemplares de água-marinha. Inspecionando o mapa do estado do Espírito Santo e assinalando os locais da incidência de jazidas, pode-se verificar a tendência de linhas que sugerem a existência desses minerais derivados do quartzo e do berilo em Afonso Cláudio, Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins, Santa Leopoldina, Santa Teresa, Itarana, Fundão, Ibiraçu, Aracruz, João Neiva, Colatina, Baixo Guandu, Pancas, Alto Rio Novo, Barra de São Francisco, Nova Venécia e Ecoporanga, principais locais de lavras mais significativas. Nos demais municípios, sempre há a presença de indícios, embora não muito expressivos. Nos municípios listados, sempre há a presença de alguns tipos de quartzo, tais como róseo, fumé ou morion, citrino e ametista (variedade de quartzo de coloração violeta). Os vários tipos de quartzo, bem como as demais espécies de cristais, são encontrados aqui no Espírito Santo, em pegmatitos, representando os depósitos de origem primária, e secundária nos lençóis de depósitos aluviais e nos escorrimentos nas encostas (coluviões). Recentemente, foi noticiado na obra — MINERAIS E PEDRAS PRECIOSAS DO BRASIL —, de autoria de Carlos Cornejo e Andrea Bartorelli, a ocorrência de importantes jazidas localizadas em Mimoso do Sul, município localizado nesse extremo do estado do Espírito Santo. Existem outros locais, como nos municípios litorâneos de Guarapari, Viana, Cariacica, Serra, Aracruz e também Colatina, onde a incidência mais acentuada é de achados de espécies derivadas crisoberilo (crisólita 12) e o crisoberilo olho-de-gato, existindo notícias não confirmadas de algum achado de alexandrita13
Pedra Alegre14
12 Crisólita. Na linguagem utilizada nos garimpos do Espírito Santo é frequente o uso errôneo desta denominação para os cristais de crisoberilo. 13 No Brasil, no Estado do Espírito Santo, foram recentemente descobertos cristais desta gema de grande beleza e transparência. Também em Minas Gerais existem importantes depósitos de Alexandrita, conforme é citado no endereço seguinte: http://nuestramizade.blogspot.com.br/2012/07/alexandrita.html. Acessado em 08.11.2012. 14
O rochedo visto nesta fotografia tomada pelo autor, em 2008, faz parte do maciço da Pedra Alegre, localidade importante na existência de várias jazidas de água-marinha. Quando observei a imagem detidamente, a primeira visão foi de uma cabeça de um grande animal, mostrando dados anatômicos que exprimem fossas nasais e um olho no lado esquerdo. Mas há outro detalhe, que não me escaparia da observação: Esta rocha fica na linha iniciada no Canudo (local em que foi localizado um depósito de cristais de quartzo e de água-marinha com diafaneidade relativamente de baixo teor, ou seja, com transparência prejudicada) e que é caminho, ligando à localidade do Triunfo, também dotado de grande jazida explorada na década de 1930. Não considero boa prática fazer ilações sobre coisas não comprovadas, mas, se observarmos as coincidências, pode-se imaginar que na pretensa cavidade ocular da cabeça localizada pelo rochedo da fotografia demonstra vegetação arbórea significativa que deva ser nutrida com materiais hidrogenados (húmus) e a provável existência de substância argilosa e de outros minerais próprios das inclusões em pegmatitos encaixados nesses rochedos, além da existência, na valada contígua de cascalhos de quartzo em estado anédrico, certamente expelidos desses rochedos, são sinais da existência de minerais-gema, coisa frequente nessa região. Não constam informações de que o local já teria sido examinado.
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Imagem 016 - Este rochedo está situado ao lado da Pedra da Onça e pertence ao maciço de PEDRA ALEGRE. Fotografia tomada pelo autor do livro em 2008 (a imagem sugere a cabeça de um grande animal, exibindo a cavidade ocular à esquerda e fossa nasal abaixo).
Pedra Alegre é um povoado que se localiza no extremo Noroeste do município de Santa Teresa, próximo aos limites dos municípios de Itarana e de Itaguaçu numa posição intermediária entre as lavras da Pedra da Onça e a do Triunfo. Desde há muito se tem notícias da descoberta de várias jazidas como, por exemplo, as dos irmãos “Ferreira” (Antônio e Odílio), dos “Possatti”, dos “Bridi”, dos “Corteletti” e, mais recentemente, de uma localizada em propriedades de Divanir, filho de Eduardo Degásperi. As lavras em Pedra Alegre sempre renderam razoáveis quantidades de exemplares de grandes valores, cujos totais sempre representaram também muito mistério. A verdade é que, se as jazidas produzem muito ou pouco, sempre geram boatos diversos. E a paixão pelo assunto, desde a descoberta da grande jazida da Pedra da Onça, faz com que as notícias sempre sejam as mais espetaculares. Há, mesmo na região, um verdadeiro frenesi quando o assunto é a ocorrência de alguma jazida. Às vezes, os boatos são exagerados. Observando-se de Várzea Alegre as montanhas que compõem a cordilheira na qual estão situadas Pedra da Onça e Pedra Alegre, na mesma linha imaginária, a incidência de achados de minerais-gema se estende, a partir do “Canudo”, pelo Toma-Vento, na Pedra da Onça, Pedra Alegre, terminando na descida da Serra do Triunfo. Da cordilheira que limita os municípios de Itarana e Santa Teresa, desce pelas encostas, chegando às baixadas de Várzea Alegre e aos afloramentos de cascalhos expostos em pegmatitos superficiais, abundantes na região. Pode-se afirmar que essas encostas e baixadas são, na realidade, uma grande jazida de minerais-gema (quartzo, ametista, água-marinha, brasilianita e frequentes achados de amostras de crisoberilo).
Localidades auríferas A presença de garimpos de ouro em território capixaba data da época do Império, conforme registros citados nas páginas iniciais. Depois houve um grande silêncio sobre a existência desse mineral em solo espírito-santense. Mas, a partir dos anos 1940, constataramse algumas ocorrências de ouro em localidades diversas, tendo como destaque jazidas localizadas no Sul do estado, todas de natureza aluvial: em Iconha, no rio Jucu e seus afluentes e na localidade de Califórnia, localizada no município de Santa Leopoldina. A que parece ser a
54 mais importante é a das adjacências do rio Jucu, onde a presença do metal precioso foi constatada nos sedimentos aluviais desse manancial em quantidades mais generosas, indicando que, provavelmente, em algum lugar das vertentes desse rio, possa existir um filão do mineral ainda não descoberto. Notícias recentes, informadas pelo Professor Ronchi, registram antigos garimpos de ouro nas localidades de Matilde e Araguaia, onde existem expostas num museu ferramentas utilizadas pelos garimpeiros auríferos, inclusive de familiares desse professor, que registra depoimento integralmente anexado aos textos deste livro. Há informações verbais proferidas por vários garimpeiros que comprovam esses fatos. Também no município de Santa Teresa, mais especificamente nas partes altas, existe a presença de ouro em lençóis sedimentares, em quantidade pouco expressiva, tendo sido considerada economicamente inviável sua exploração. Segundo comentam, há no município de Afonso Cláudio um local onde podem ser encontradas pepitas de ouro do tamanho de grãos de arroz. Nesse local, segundo comentário de um garimpeiro, que preferiu o anonimato, foram encontrados também minúsculos diamantes15, sendo, portanto, um local de garimpo que, se confirmado o comentário, promete pesquisa sobre a existência desses dois minerais. Nos municípios de Iconha e Alfredo Chaves, em épocas passadas, houve garimpagem de ouro e produção de algumas quantidades do metal. Uma vez ou outra são noticiados garimpos de ouro nos leitos dos rios localizados ao Sul do Espírito Santo, coisa que geralmente traz no bojo interdições, devido ao alto índice de contaminação do meio ambiente pela jogada de rejeitos das terras dos barrancos desses cursos dágua e a mais temida forma de poluição – a contaminação das águas por meio dos resíduos altamente nocivos do mercúrio. E, ainda outros danos, que impactam o ambiente. PEQUENAS JAZIDAS DESCOBERTAS NA DÉCADA DE 1950 Pequenas jazidas continuaram a ser descobertas também nos anos de 1950. Geralmente esses achados ocorreram acidentalmente e, pela pequenez da produção, sua exaustão foi rápida, nem sempre deixando registros históricos dignos de destaque, a saber: A lavra dos Zanotti Entre os anos de 1957 e 1959, houve a descoberta de um garimpo na região de Várzea Alegre, numa propriedade da família Zanotti, que causou muitos comentários reverberantes. Embora fosse noticiada a ocorrência de uma grande quantidade de água-marinha retirada nessa mina, o assunto era veementemente negado pelos integrantes da família. O certo é que, tempos depois, coincidência ou não, todos adquiriram bens de valores expressivos, tudo levando a crer que os recursos que exibiam eram originários de ganhos obtidos por meios não convencionais, portanto não provenientes da agricultura, que era a sua ocupação habitual. A lavra da família Zanotti tornou-se famosa pela repercussão alcançada na época. Havia inúmeros comentários, atraindo a presença de muitos garimpeiros vindos de outras regiões, representantes de firmas que comerciavam minérios preciosos, estabelecidos em Governador 15 Na linguagem do garimpo diamantífero, esses pequenos diamantes são denominados XIBIU. Isto me leva à memória de um personagem geólogo, que atuava numa novela da TV Globo (Resplendor era o nome do folhetim). Ele pesquisava diamantes na Chapada Diamantina e quando indagado sobre seus achados, ele simplesmente dizia: “só encontrei pequenos xibius”.
55 Valadares, Teófilo Otoni, Belo Horizonte e Rio de Janeiro e representantes do Fisco Federal, objetivando a arrecadação de possíveis impostos que seriam gerados pela venda dos minerais ali produzidos. Lembro-me das constantes visitas feitas, naquela época, por um senhor de nome Jair Martins, que diziam ser comprador de minerais. Sobre os cristais de água-marinha, propriamente ditos, o que sei é o que dizem e disseram. Há quem diga que eram de uma diafaneidade e coloração jamais vistas e que, na realidade, valiam muito mais do que foi obtido com a sua venda. Outros dizem que maiores foram mesmo os boatos do que os minerais. Somente aqueles que tiveram participação efetiva no evento conheceram a verdade. O que ficou dessa lavra foi o incentivo, uma motivação psicológica que continuou gerando a cobiça pela possibilidade de novos achados valiosos, que perdurou no cotidiano do povo dessa região, o que, com certeza, veio contribuir para novas descobertas que continuaram a ocorrer posteriormente. Ainda na mesma montanha, Jair Fanti, Devanir Vulpi e um sócio empresário oriundo de Teófilo Otoni-MG, exploraram aquele mesmo pegmatito, que expeliu os cristais de águamarinha encontrados em coluvião pelos familiares Zanotti. Nessa nova atuação foi realizado um corte na rocha granítica e, quando atingiram o pegmatito, localizaram um bolsão de cristais de quartzo hialino, totalizando cerca 30 toneladas. Encontraram também o total de 480 quilogramas de cristais de água-marinha, com parte dos prismas diáfanos, porém dotados de pouquíssima coloração azul e, na extremidade inferior, eram completamente dotados de inclusões, apesar de ostentarem boa coloração nesse segmento. Posteriormente, agora no início a década de 1990, o empresário Alonso Possatti patrocinou garimpeiros para refazerem o trabalho no mesmo local do coluvião, encontrando apenas um exemplar de água marinha com 270 gramas de peso, perfeitamente diáfano e de coloração intensa. Isso ainda não teria sido o final desse garimpo, pois, existem, na atualidade, alguns garimpeiros, cujos nomes não me são conhecidos, que realizam trabalhos de desmonte na rocha da mesma montanha utilizando explosivos nitrosos para atingirem os pegmatitos, sempre na esperança de encontrarem mais cristais de quartzo e de água-marinha. A lavra de crisoberilo de São João Grande São João Grande é distrito do município de Colatina, localizando-se após a margem Norte do rio Doce no sentido de Itapina e Baixo Guandu. Foi descoberta ali uma jazida, que lavrada tomou o nome da localidade onde era sediada, tendo sido consequência direta dos efeitos psicológicos advindos da descoberta da lavra de João Neiva, no município de Aracruz. Também pela mesma motivação ocorreram descobertas de muitas outras jazidas, destacandose as de água-marinha em Pancas e as de crisoberilo em Aracruz, Ibiraçu, Serra e a maior e mais importante de todas nesse gênero de mineral, a dos famosos cristais de crisoberilo olho-degato, na região ao Norte do rio Doce. Esse campo de prospecção, como de costume, atraiu garimpeiros não apenas do Espírito Santo, mas também de Minas Gerais e da Bahia. A produção dessa variedade mineral, derivada da combinação de óxido berílio e alumínio, foi compensadora, trazendo como consequência razoáveis ganhos financeiros para todos os participantes, tanto garimpeiros como sócios mantenedores. Na década de 1960, muitos profissionais do ramo eram provenientes de Colatina, Santa Teresa, Várzea Alegre, Alto Caldeirão, Itarana, Itaguaçu, Baixo Guandu e Pancas. Esses profissionais juntaram-se aos trabalhadores originários dos estados fronteiriços e promoveram
56 uma exploração intensa nos lençóis aluviais nas baixadas e vales localizados próximos ao Norte do rio Doce, em Itapina e na localidade de São Pedro Frio, onde, neste local, o clima é ameno, contrastando com todas as margens do Rio Doce, desde sua foz em Linhares e às cabeceiras em Minas Gerais. Mais tarde, na década de 1970, o garimpo foi arrendado a uma empresa de mineração originária de Teófilo Otoni-MG, que passou a explorá-lo com exclusividade, instalando equipamentos e máquinas destinadas a escavações e lavagem dos cascalhos. Mas o trabalho manual também continuava só que agora eram pagas pesadas comissões aos detentores do direito de exploração. Nessa época, Jair Fanti, Devanir Vulpi, Geraldo de Barros Vilela e Joaquim Coelho de Carvalho (que apelidavam de “Quilate”) acharam muitos exemplares de crisoberilo olho-de-gato e tiveram bons resultados, apesar do elevado percentual que pagavam. Da década de 1990 em diante, a empresa mineradora suspendeu os trabalhos, retornando a titularidade do negócio aos proprietários do solo. As prospecções de então tiveram mais êxito nas propriedades da família Binda. O ambiente das grandes lavras modifica a paisagem do local, resultando em devastação causada no meio ambiente e pela poluição sonora e pelo burburinho da euforia causada pela ambição de se fazer fortuna, somando a isto a frustração daqueles que não alcançaram nenhum ganho, contabilizando apenas prejuízo: foi também assim que esse garimpo chegou ao fim. Na atualidade, praticamente não existem garimpos em funcionamento e algumas tentativas de lavrar, sem que sejam cumpridos os preceitos legais, levam os órgãos responsáveis pelas autorizações e pela proteção ao meio ambiente a utilizarem forças policiais, interditando essas tentativas e com a aplicação de pesadas multas aos infratores. Até que não se mude esse hábito de lavrar sem o cumprimento das normas legais vigentes, a exploração dessas pequenas jazidas se torna inexequível para o garimpo neste estado sem a observância dos preceitos legais normativos16. Os pressupostos atestados por profissionais legalmente habilitados abrem perspectivas para as autorizações de pesquisa de recursos minerais existentes no solo e subsolo, mas a autorização definitiva de lavra é concedida somente após a constatação de reservas economicamente viáveis, dos exames dos impactos ambientais e, quando for o caso, compromisso de recuperação das áreas degradadas.
Garimpos em Pancas A cidade de Pancas, sede do município do mesmo nome, localiza-se ao Norte do estado do Espírito Santo. Essa região guarda semelhanças com Várzea Alegre não só no relevo, como também na coincidência da fertilidade do solo e na abundância de jazidas de cristais-gema. Pancas era distrito de Colatina, que é considerado polo geoeconômico da região, onde se aglutinam os interesses econômicos tanto do estado do Espírito Santo como de partes do estado vizinho de Minas Gerais. 16
A extração de recursos minerais, inclusive os do subsolo, sem o cumprimento das formalidades legais, constitui prática de apropriação indébita porque no capítulo II, artigo 20, título IX, da Constituição da República Federativa do Brasil, consta que “os recursos minerais, inclusive os do subsolo, são bens da União” e, complementando: “Artigo 21”. Compete à União: A alínea seguinte refere à atividade garimpeira. “XXV — estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa”.
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Imagem 017. Fotografia de Florício Bassani feita pelo autor, em 2007.
Florício Bassani relata A cidade de Pancas tem uma topografia mista de planície e picos rochosos muito altos. Hoje a paisagem é constituída de imensos cafezais cultivados nas férteis terras argilosas da região. Não existem, ainda, notícias de achados de minerais-gema nos cumes desses picos graníticos que circundam a localidade. Essas elevações representam promessas futuras de eventuais jazidas ainda não descobertas. Não poderia falar sobre as lavras de Pancas sem antes mencionar dois profissionais de destaque no garimpo nessa localidade. São eles os irmãos Florício Bassani, nascido em 1939, e Almerino Bassani, nascido em 1938 na localidade de Burarama, no Sul do estado. Iniciaram no garimpo em 1956, numa propriedade pertencente à família, em Pancas, local que até hoje é conhecido como a “lavra do Bassani”. Essa mina foi explorada intensamente de 1959 a 1965, época em que produziu grande quantidade de água-marinha. Devido às notícias que circularam por todas as bandas em 1961, cerca de 3.000 garimpeiros invadiram e ocuparam a jazida, promovendo sua exploração. Após intensas negociações, foram celebrados contratos com dez turmas que passaram a controlar toda a ocupação, onde exerciam também rigorosa fiscalização e recebimento das quotas percentuais do produto do garimpo para a cobertura do direito dos proprietários do solo. A essas turmas, a quem foram sub-rogados os direitos dos proprietários, eram pagos os percentuais oriundos do produto, como de costume nos garimpos. A lavra continuou explorada mediante contratos durante aproximadamente dois anos, findos os quais, no período de 1966 a 1969, a mina voltou ao domínio de exploração sob o controle da família. Após esse período, houve concessão de arrendamentos a preço determinado ou por meio do pagamento de percentuais aplicados sobre os minerais encontrados. Na exploração sob a orientação dos Bassani, além das tarefas inerentes à administração, os irmãos Florício, Almerino e Moisés Bassani executaram o pesado trabalho braçal de prospecção. Passaram a usar pás, alavancas, picaretas e baldes no trabalho de remover a terra, deslocar os cascalhos e jogar para o lado de fora das escavações toda a água que jorra do lençol freático. Quando a quantidade de água era intensa, passavam a utilizar bombas, acionadas por motores, ora à gasolina, ora a óleo diesel. Durante os trabalhos de garimpagem na lavra do Bassani, foi extraída grande quantidade de água-marinha com excelente diafaneidade com pesos de até dois quilogramas; uma peça de cinco quilogramas com razoável índice de aproveitamento e numerosas peças menores. Todos os minerais-gema dessa lavra eram de excelente diafaneidade e coloração
58 inigualável. Além desse tipo de mineral foram encontradas muitas amostras de crisoberilo em cristais diáfanos, pesando 10, 20, 30, até 70 gramas, todos de excelentes qualidades, especialmente na inconfundível cor verde-limão. Lembra-se de uma peça, pesando 1,200 quilogramas e de grande aproveitamento. Vale mencionar que, no período de 1961 a 1965, época em que houve a maior concentração de garimpeiros, não houve um caso sequer de violência ou desvio de conduta. O ambiente desse garimpo foi harmônico e pacífico, registra Florício. Essa lavra na propriedade da família Bassani localizava-se na confluência dos cursos de água conhecidos como rio da Prata 17 e Córrego do Gambá.18 Acima deste local, seguindo rumo à cabeceira do Gambá, continua sendo explorado uma mina de cristais de água marinha na fazenda de Augusto Coelho, conhecida popularmente como “lavra do Gambá”. Em 1969, a propriedade de Pancas foi vendida e os irmãos Bassani (Florício, Almerino e Moisés) dedicaram-se com maior frequência ao garimpo no município de Domingos Martins. Aí permanecem mantendo turma de garimpeiros até os dias atuais, especialmente na “lavra do rio Pontes”, garimpo antigo e fonte de grandes e coradas amostras de água-marinha.
Outras lavras e alguns empresários em Pancas Lavra de Otávio Figueira – Localizado na chegada de Pancas – teve uma grande produção de água-marinha e sua exploração ocorreu após 1969. Atualmente encontra-se paralisada, presumindo-se que tenha alcançado a exaustão. Lavra de Antônio Ludogério - A principal característica desse garimpo constitui-se na existência de grande quantidade de crisoberilo, onde muitos exemplares foram encontrados. Lavra de Augusto Coelho - Essa lavra também teve como característica a produção de Minerais-gema no alto de uma montanha. Foi explorada no período de 1964 a 1966. Lavra numa rocha na Cachoeira do Gambá - Esta jazida foi explorada, no período de 1945 a 1952, pelo garimpeiro Djalma Porfírio, à custa de Atílio Luiz Bassani. Contam que os cristais ali encontrados tinham coloração fraca e repletos por inclusões. PROFISSIONAIS DE LAVRAS E COMERCIANTES DE GEMAS Geraldo Barbosa - Esse profissional tinha turmas nos garimpos e também fazia comércio de minerais-gema como comprador, de 1969 aos dias atuais. Genques Mendonça - Popularmente conhecido pelo apelido de “Cocuta” foi um próspero empresário do garimpo em Pancas, no período de 1951 a 1980. Geraldo Capistrano - Atuou como empresário do garimpo em Pancas e também em outras localidades. De 1965 a 1966 residia na cidade de Fundão, época em que já exercia, de forma profissional, a garimpagem e o comércio dos seus produtos. Oto – Otacílio Alves de Oliveira - Em 1958, já era famoso profissional do comércio de água-marinha. Comparecia regulamente a Várzea Alegre, visitando as lavras em exploração. Foi ele quem comprou toda a produção da “lavra do maciço do Toma Vento”, explorada em 1965 por membros da família Zanotti e outros garimpeiros. 17 “Rio da Prata” foi o nome atribuído a um curso de água devida à diafaneidade presente no líquido: “tão clara quanto a prata”.. 18 “Córrego do Gambá” teve este nome associado à história dos colonos pioneiros que tiveram seus alimentos surrupiados por famintos gambás.
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Imagem 018 – Fotografia com vista parcial de Pancas, obtida no site abaixo: http://www.canaldoturismo.com.br/prefeituradepancas/fotos/galeria1/index.html. Acesso, em 01.11.2012.
Dois grandes cristais extraídos em Pancas Ainda sobre as lavras de Pancas, tem-se notícia de que o garimpo teve início em 1940 na lavra do Córrego do Gambá, por iniciativa de Augusto Coelho. Uma das maiores espécimes de cristais de água-marinha produzidos em Pancas pesando exatos 20,500 kg foi encontrada, em 1987, por um garimpeiro autônomo na cabeceira do Córrego São José, curso de água que corre pela vertente de Baixo Guandu. Essa amostra foi adquirida por um fazendeiro da região. Além do excepcional peso, a peça tinha considerável índice de aproveitamento. Uma citação sobre esses eventos é registrada abaixo: (publicado em http://www.guiadoespiritosanto.com.br). Acessado em 22.12.2012. Moradores ficam ricos com as pedras A partir de 1943, Pancas tornou-se conhecida por suas pedras preciosas. Naquele ano foi encontrada ali uma das maiores águas marinhas do mundo, com 25 quilos, avaliada em U$ 2,5 milhões. A pedra acabou por provocar uma batalha jurídica porque foi levada ilegalmente para os Estados Unidos. Segundo documentos do arquivo da Prefeitura de Pancas, o então embaixador Assis Chateaubriand, representante diplomático do Brasil e da Inglaterra, teria presenteado a rainha Elizabeth com um colar feito desta pedra. Outra água marinha, com 19 quilos, foi encontrada em 1987. Pancas concentra ainda jazidas ricas em topázio, ametista, crisólita, crisoberilo e cristal de quartzo. Os moradores antigos lembram que os proprietários de terras fizeram fortuna extraindo pedras preciosas. Algumas destas fazendas permanecem abertas para que os visitantes acompanhem o processo de extração e garimpagem de minerais.
(A redação acima é original, reproduzindo fielmente o texto da matéria tal como publicada).
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Imagem 01919 Água-marinha procedente de Pancas-(ES), extraída em 1987 na lavra do Córrego de São José pelo garimpeiro Izaulino, na propriedade de Joaquim Ciríaco, pesando 20,500 kg (Fotografia obtida por captura em vídeo exibido pela TV Gazeta, em 29/02/2012). Garimpeiros da região de Pancas encontram pedras preciosas de grande valor econômico.
Em 1943, o garimpeiro Joaquim de Tal encontrou um cristal de água-marinha pesando exatos 24,500 kg20. Essa peça foi levada para Resplendor, transportada nas costas num saco de juta e entregue a Altino Lopes, que era sócio capitalista desse garimpo. Nada mais se soube a esse respeito e a história permanece viva e continuamente é passada adiante através da comunicação oral. Recentemente em publicação do jornal “A Tribuna”, de 14.10.2012, foi citado mais um garimpeiro que teria atuado nos garimpos localizados em Pancas. Gercílio Agner é o profissional acrescentado.
19 Tal imagem refere-se ao cristal de água-marinha, que teve seu nome registrado como “Xuxa”. 20 Essa água-marinha é conhecida na localidade de Pancas como “Marta Rocha”. Mas, existe outra com o mesmo nome, que foi encontrada em Minas Gerais, nas terras da Fazenda Praia Grande, situadas no distrito de Topázio e distante 50 km de Teófilo Otoni, quando, no final de Março de 1955, um punhado de homens trabalhava em catas para os sócios Lindolfo Ferreira (Lindolfo Capivara) e o escrivão e chefe político do PSD Irineu de Oliveira e acharam um grande cristal de água marinha batizada com nome “Marta Rocha”, que era a então miss Brasil. Assim, se fez constar tal divergência, de conformidade com que consta de http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=11391. Acesso realizado em 22.10.2012.
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Imagem 020 Fotografia feita pelo autor, em 2010, mostrando o palco das grandes lavras especialmente a da Pedra da Onça. O indicativo feito pela seta vermelha mostra onde foi descoberto novo depósito de cristais de quartzo e de água-marinha.
Mais uma lavra em Várzea Alegre Recentemente chegaram notícias de que teria sido descoberta uma nova lavra em Várzea Alegre, numa das propriedades da família Erler, fato confirmado por Robson Antônio. Segundo informações deste senhor, ainda em 2002 foi descoberto um depósito de mineraisgema numa de suas propriedades, cuja exploração era feita por uma sociedade constituída por ele e mais dois empresários residentes em Itarana. Encontraram cerca de 500 quilogramas de quartzo hialino, em blocos de até 20 kg, muitos cristais de água-marinha e um pesando aproximadamente 300 gramas, dos quais cerca de 50% eram aproveitáveis. Conta o informante que essa lavra era de exploração extremamente onerosa pela profundidade do lençol de cascalho do qual jorrava água em profusão, razões que a teriam tornado inexequível. RELATOS DO GARIMPEIRO WALDEMAR NUNES Garimpos em Fundão e municípios vizinhos Segundo informações prestadas por Waldemar Nunes, nascido em 1933, existe no município de Fundão achado de minerais-gema em abundância, dentre as quais são citadas ametista, água-marinha e crisoberilo olho-de-gato, desde a beira das praias ao cume do Goiapaba-açu. A seguir, são citadas algumas existentes na região.
A lavra do Oséias Descoberta em 1940 por Oséias de Almeida Neto, a mina atingiu o apogeu de produção nos anos de 1944 a 1945, ocasião em que milhares de quilogramas de quartzo hialino e centenas de quilos de ametista eram transportados da lavra até o ponto de embarque com uso de animais de carga. Muitos empresários vindos de Minas e do Rio de Janeiro empreenderam trabalhos de mineração nesse local, distante apenas seis quilômetros do centro da cidade de Fundão. Sabese que todos obtiveram êxito nessa lavra, não se sabendo ao certo as quantidades de ametista,
62 de quartzo e de água-marinha que foram encontradas. Esse mistério reina praticamente em todos os garimpos do estado e aqui não seria diferente. Waldemar prossegue: a lavra do Oséias não se exauriu e só não teve continuidade por causa de vários desabamentos que vieram dificultar os trabalhos. Isso acresceu dificuldades até mesmo para a execução dos trabalhos executados com a utilização de máquinas, devido à grande quantidade de água que jorra nesse local. O garimpo ainda seria viável, desde que se fizesse a retirada de grande volume de terras resultantes das inúmeras escavações realizadas sucessivamente no local, ao longo de muitos anos de exploração. Mas, haveria certamente altos custos a se contabilizar para continuar a intervir nesse pegmatito e somente a certeza de que ainda existissem minerais-gema em quantidades suficientes para suportar todos os encargos.
A lavra do Córrego do Ouro César Risoli cuidava de uma plantação de café e encontrou uma ocorrência de águamarinha numa camada superficial do terreno, quando algumas peças foram atiradas para fora da terra graças ao trabalho de um tatu ao escavar sua toca. O achado rendeu o volume de duas latas de querosene cheias de prismas diáfanos dessa espécie de mineral. Contam que esses cristais foram comprados pelo senhor Manoel Francisco Tagarra. Outros exemplares produzidos posteriormente, encontrados pelo senhor Décio Tonini, residente às margens do rio Itapirá, foram negociadas com mascates que costumavam circular pela região, em transação de cristais de água-marinha por peças de roupa e outras bugigangas. Muitas escavações foram feitas no local posteriormente, porém nada mais foi encontrado. Provavelmente, esses cristais teriam sido deslocados para longe de onde foram gerados. Pelo que conta Waldemar, essa foi uma lavra que produziu água-marinha de boa qualidade. Mas a esperança de se encontrar mais desses cristais persiste na imaginação por meio da fantasia gerada e transmitida sucessivamente pela oralidade. A lavra de crisoberilo olho-de-gato no Putiri Esta jazida fica localizada no município de Serra e produziu peças excelentes com pesos de 5, 10 e até 20 gramas. Apesar de toda a exploração já realizada, ainda se supõe a existência de mais cristais dessa variedade derivada da combinação de óxido berílio e alumínio. A mina pode estar exaurida, mas na fantasia dos garimpeiros o sonho jamais tem fim e, sempre, as maiores e mais perfeitas gemas estão por serem descobertas. Lavras nas proximidades de Timbuí Entre as localidades de Timbuí e Fundão, é possível que exista uma jazida localizada numa baixada que foi inundada para impedir a presença de garimpeiros. Contam ser um local que muito promete na produção de quartzo e água-marinha e, possivelmente, também crisoberilo olho-de-gato. Com o represamento da água nesse local, essa reserva ficou destinada, talvez, para exploração futura. Distante cerca de dois quilômetros no sentido de Timbuí ao Encruzo, numa bifurcação à direita dessa estrada (local conhecido por “Monitura”), há sinais evidentes da existência de
63 minerais-gema, consubstanciados pela presença de cascalhos de quartzo sobre o terreno nas proximidades de uma nascente de água, localizada na encosta de um sítio a aproximadamente 500 metros acima da via principal. No “Encruzo”, propriamente, foram realizadas algumas pesquisas em local onde existe razoável quantidade de quartzo, caulim, mica (pegmatito), não tendo sido encontrada nenhuma variedade de minerais-gema. Mas os indícios são bons, pois existem notícias de achados importantes nesses municípios de Fundão e de Santa Leopoldina, que se limitam próximos à tal localidade. Nos entornos de Timbuí, bem como em todo o município de Fundão, existem relatos de achados de minerais-gema em várias propriedades, boatos que nem sempre são comprovados. Descendo pelas margens do rio Timbuí, nas localidades adjacentes à proximidade do mar, são constantes os achados de quartzo, ametista, crisoberilo olho-de-gato e de água-marinha em depósitos aluviais.
Uma jazida de citrino A seis quilômetros antes da ponte sobre o rio Timbuí, em Mutirrapeba, num lençol de cascalho superficial em terreno argiloso, foram encontradas peças de citrino, muitas delas límpidas e de excelente coloração e, também, escórias de água-marinha e pequenos cristais de ametista. Entretanto, não se têm maiores notícias sobre os volumes encontrados e se a jazida ainda reserva perspectivas de continuidade. Jazidas nos Carneiros Carneiros é uma localidade situada entre o Encruzo e Três Barras, adjacente à via que liga Fundão a Santa Teresa. Ali há evidências comprovadas de jazidas de água-marinha, ametista e quartzo nas terras de Francisco Zamborlini, de Pedro Bromochenkel e da família Moenck, dentre outras. Entretanto, apesar das notícias de cristais de excelente qualidade encontradas nesses locais, pareceu tratar-se de pequenos depósitos, dos quais alguns provavelmente já estão exauridos. Jazida em Pendanga Em uma das propriedades da família Scopel, próximo à localidade de Pendanga, foi descoberta uma jazida para onde afluíram inúmeros garimpeiros. Contam que, nesse local, foram encontradas peças de água-marinha relativamente grandes, algumas chegando a pesar alguns quilogramas. Constatou-se recentemente a descoberta de um cristal de água-marinha dotado de bom grau de diafaneidade e perfeitamente colorido, com aproximadamente cento e cinquenta gramas, achada nesse local. Não restam dúvidas de que o lugar ainda promete novas descobertas.
64 LAVRAS NA REGIÃO DO GOIAPABA-AÇU E PROXIMIDADES
Imagem 021 Montanha do Goiapaba-Açu, em 2007. Em fotografia feita pelo autor em 2007.
Pequenas e antigas jazidas Há indícios de lavra nas propriedades que outrora pertenceram a Wilson Bueno, onde uma delas ainda não foi explorada porque existe o risco de deslizamento de um grande bloco de granito localizado acima de onde se presume a existência da jazida. A existência de um pegmatito, exibindo a presença de quartzo, caulim e mica, evidencia essa suposição. Quando fizeram os trabalhos de terraplanagem para a instalação de equipamentos e máquinas para beneficiamento de café nessa propriedade, foi encontrada uma água-marinha, assim contam as testemunhas do fato. Acima, na subida da grande montanha, o antigo garimpeiro Hermes Croce achou algumas peças de água-marinha, não se sabendo pesos e cifras monetárias obtidas quando essas gemas foram comercializadas. Descendo pelo lado Leste do Goiapaba-Açu existe uma antiga e famosa lavra de águamarinha, conhecida como a “Lavra do Poção”, porque é resultante do depósito sedimentar de cascalhos e areia provindos das montanhas próximas. Há nessas montanhas uma tendência ao deslizamento de terras e por isso fizeram plantações de bambu para sua contenção. Deduzem que os minerais que foram encontrados no fundo do vale tenham vindo dessas montanhas graças aos deslizamentos ocorridos em tempos remotos. Há, ainda, outra hipótese de que existam muitas peças desses cristais na parte mais profunda do poço feito por uma represa natural de rocha granítica que faz a contenção das águas e dos sedimentos. Também numa propriedade do João Broeto, há notícias do achado de algum tipo de cristal no passado. No rio Saltinho, próximo também do Goiapaba-Açu, ocorreu há alguns anos a descoberta de uma jazida de água-marinha numa propriedade do Paulo Macci, ocasionalmente, quando fazia uma cova para enterrar uma vaca morta. Ao escavar o buraco, encontrou muitos quilogramas de água-marinha. Tudo leva a crer que essa região do Rio Saltinho ainda seja local propício para futuras descobertas. O garimpeiro Magno Rodrigues encontrou, nessa mesma localidade, minerais-gema em camadas superficiais, “na raiz do capim”, como os garimpeiros costumam dizer, comentou Waldemar.
65 LAVRAS EM IBIRAÇU, ARACRUZ E JOÃO NEIVA As constatações Em toda a região que compreende os municípios de Ibiraçu, Aracruz e João Neiva existem muitos vestígios de jazidas e muitos relatos a respeito de achados de água-marinha, de ametista e de crisoberilo olho-de-gato. Ouvi comentários de antigos garimpeiros de que entre Ibiraçu e João Neiva existe uma grande jazida de crisoberilo onde também foi presenciado o achado de pepitas de ouro, não se dando inteiro crédito a esses comentários pela ausência de provas convincentes. Ainda no município de João Neiva, há uma lavra situada no Morro do Óleo, local íngreme e escasso de recursos hídricos. Além desses aspectos inóspitos, conta-se que ali ocorre com muita frequência o aparecimento de serpentes peçonhentas, o que tem contribuído para que os garimpeiros procurem ficar distantes desse local, apesar dos bons indícios de lavra existentes. Essa montanha (Morro do Óleo) foi citada erroneamente como pertencente ao município de Aracruz nas duas primeiras edições deste livro. Menção corrigida agora nesta 3ª edição. Nas proximidades da “Lavra de João Neiva”, que, na realidade, deveria ser chamada de “Lavra do Retiro”, anteriormente comentado, existem outras, embora menores, de consagrada importância, e, como exemplo, cita-se a tradicional “Lavra do Bof”. Concluindo, afirma-se que a região que compreende os municípios de Fundão, Aracruz, Ibiraçu e João Neiva continua altamente propícia a novas descobertas de jazidas. Na direção Sul, a possibilidade da descoberta de novas reservas se estende pelos municípios de Serra, Cariacica, Santa Leopoldina, Viana e Guarapari, predominando o crisoberilo, inclusive na variedade olho-de-gato. Mas, em todos esses lugares, também se faz constante a presença de água-marinha e ametista. GARIMPO NA REGIÃO SERRANA
Imagens 022, 0023. e 0024. Garimpagem a céu aberto na lavra de águas-marinhas do Rio Pontes, município de Domingos Martins, mediante trabalhos manuais e mecanizados. (Fotografias cedidas por Clementino Scotar, em 09/2007).
No Rio Pontes Localidade pertencente ao município de Domingos Martins, tem clima ameno no verão e muito frio no inverno e possui talvez a maior jazida de água-marinha em depósito aluvial de todo o estado do Espírito Santo, e já produziu grandes exemplares com alto teor de diafaneidade e de intensa coloração. A presença de garimpeiros na localidade é constante e sempre com notícias de algum achado importante.
66 Os irmãos Bassani, liderados por Florício, continuaram garimpando na localidade do Rio Pontes, em Domingos Martins, desde 1970 até recentemente. Trabalharam por algum tempo anteriormente. Interromperam suas atividades a partir de 1967 por motivo das chuvas torrenciais caídas naquela ocasião e também porque ainda residiam na distante cidade de Pancas, situado no Noroeste capixaba. Mesmo que de forma interrupta, há muitos anos são executados trabalhos de lavragem de jazidas nas propriedades rurais da região do Rio Pontes. Os principais garimpos dessa localidade estão situados nas terras de Alfredo Raasch, Germano Shwantz, Dida Schultz, Waldemar Lose, Nina Christ, Alberto Shultz, dentre outros. A comunidade rural desse local é constituída por minifúndios de 20 a 30 hectares no máximo e em quase todas elas já ocorreram achados de cristais preciosos, tais como, água-marinha, cristais de quartzo das variedades morion, e citrino e ametista. No período de 1970 a 1980, foram achadas quantidades abundantes de minerais-gema quando então houve maior concentração de garimpeiros atuando nessas lavras do Rio Pontes. Na região, foram achados grandes blocos de água-marinha e a maior de que se tem notícia foi de uma peça com 7,500 kg com grande aproveitamento e de outra de 4,500 kg perfeita em tudo (diafaneidade e cor intensa). Conta Bassani que é comum até a atualidade ocorrerem achados de gemas com peso de 500 g a 1.000 g, de cristais perfeitos. OS ACHADOS DIVERSOS DE MINERAIS NO ESPÍRITO SANTO Neste tópico faz-se acréscimo de informações sobre a presença de alguns achados minerais não classificáveis como gemas. A existência desses minérios nem sempre contemplam o estado do Espírito Santo nas estatísticas oficiais do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) sobre a existência de depósitos lavráveis. Fato idêntico ocorre com as gemas listadas ao longo da obra. Estas comprovações foram feitas mediante o uso de memórias transmitidas por meio da expressão oral. Neste caso, é público e notório que a lavragem de minerais-gema no estado do Espírito Santo sempre foi realizada à margem dos registros oficiais e o produto, quase sempre negociado sem qualquer cobertura de documentos, deixando lacunas tanto nos órgãos responsáveis por seus registros e autorização para pesquisas de viabilidade e para a execução de lavra. Assim, deixavam de existir nos registros e, ainda, não serviam como fato gerador dos tributos incidentes. Tudo porque a extensão das jazidas era insignificante. E isso sempre ocorreu nessas últimas seis décadas. Mas, as notícias de fatos pretéritos — mesmo que transmitidos oralmente — serviram para subsidiar os conteúdos deste trabalho. A seguir, mencionam-se alguns exemplos dos minerais citados anteriormente e não pertencentes aos vários espécimes listados nesses textos. Grafita21 Comenta-se a respeito de achados de grafita em vários municípios do Espírito Santo, mas o maior indício de uma grande jazida de que se tem notícia localiza-se em Lombardia, nos 21 Segundo o Dicionário Livre de Geociências, grafita possui sistema cristalino Hexagonal bipiramidal. Fonte: HTTP://www.dicionario.pro.br/dicionario/index.php/Grafita, citando-se ainda o livro Manual de Ciências Minerais – 23ª ed. De 2012 dos autores Klein & Dutrow. Ressalto: o sistema cristalino da grafita é o Hexagonal e não o romboédrico.
67 municípios cujos limites são ali confluentes: Santa Teresa, João Neiva, São Roque do Canaã, Ibiraçu e Fundão. Os estudos dos derivados carboníferos, incluindo, além da grafita, carvão mineral, petróleo, xisto betuminoso e turfa, demandam dedicação especial voltada especificamente para esses fósseis. Deixemos esses minerais para que sejam estudados especificamente, pois o nosso principal objetivo nesta obra são as histórias das ocorrências das jazidas de minerais-gema. Rochas ornamentais Há, na maioria dos municípios do Espírito Santo, a ocorrência de rochas de utilidade ornamental, tais como mármores e granitos. A incidência de mármore no Espírito Santo tem o Sul do estado como principal localização das jazidas. Já o granito de aproveitamento industrial ocorre de Norte a Sul em todo o território capixaba. Este assunto deveria ser objeto de uma obra específica, tamanho o significado econômico que têm esses minerais para este estado. Calcário Outro mineral que ocorre no Sul do estado a sua principal reserva é o calcário (rochas formadas essencialmente de carbonato de cálcio), de grande utilidade para fins industriais como matéria-prima para a produção de cimento e de corretor da acidez dos solos, amplamente utilizado na agricultura. K-Feldspato É um mineral que integra os corpos pegmatíticos de algumas das jazidas primárias, composto de silício, alumínio, potássio, sódio e cálcio, sendo encontrado com relativa abundância em Itapina, município de Colatina, onde já foi explorado comercialmente. Mas a sua existência é constatada praticamente em todo o território capixaba. Caulim Espécie de argila branca e pura utilizada como matéria-prima para fins industriais, geralmente acompanha os pegmatitos de jazidas primárias de algumas espécies de mineraisgema, sendo encontrado em grande parte do solo capixaba. A maior incidência de que se tem conhecimento é constatada numa jazida localizada no município de Guaçuí, explorada comercialmente por muitos anos pela indústria Klabin. Mica Mineral abundante nas rochas e nos pegmatitos tem brilho vítreo a sedoso e se divide em lâminas delgadas e flexíveis. Foi largamente utilizado como matéria-prima para a produção de utilidades elétricas, graças às suas propriedades como isolante. Não se tem conhecimento de achados de mica de qualidade industrial aqui no Espírito Santo, apesar da sua relativa abundância.
68 As variedades mais abundantes em pegmatitos são biotita e moscovita.22
CAPÍTULO 3 GARIMPOS E GARIMPEIROS PARTICIPAÇÕES DO AUTOR NO GARIMPO Presença nas lavras Neste capítulo, cito grande parte das minhas participações diretas como sócio mantenedor e, em alguns casos, também como garimpeiro. A minha presença física nos garimpos nem sempre foi concreta. Algumas vezes obtinha informações verbais e noutras fazia visitas e a tudo memorizava, com total dedicação, pois esses assuntos sempre me despertaram fascínio. Houve oportunidades em que visitei lavras de outrem por mera curiosidade. Sim, por curiosidade mesmo. Eu tinha que ver e memorizar para poder contar agora, embora ainda não o soubesse. As lavras na minha infância Na divisa da propriedade da minha família com uma de vizinhos existiam fortes indícios da presença de uma jazida de minerais-gema: havia muito caulim branco, mica, cristais de quartzo anédricos, alguns euédricos com hábito preservado e feldspato. Lembro-me de que Francisco Evangelista, um garimpeiro originário de Minas Gerais e dotado de experiência, trabalhava naquele local e fazia galerias subterrâneas de muitos metros de extensão terra adentro, dos quais jogava para fora enormes quantidades de terra branca, que podiam ser vistas de longe. Na minha infância, movido pela fantasia e fascinação que o assunto despertava, principalmente no povo de Várzea Alegre e adjacências, conheci esse primeiro garimpeiro, Francisco Evangelista, mineiro de origem, um solteiro já bem maduro de idade, que tinha uma voz grave e inconfundível. Trabalhava com meu pai nas atividades agrícolas, como diarista. Depois que cessava o trabalho de plantio e colheita, dedicava-se ao garimpo, às vezes numa lavra existente na nossa propriedade onde existem vestígios da evidente presença de minerais ou nos garimpos de localidades próximas. Também outras pessoas ali garimparam, retirando belos cristais, uns diáfanos, tais como a água límpida, e outros escuros e transparentes semelhantes à cor do café (morion), não me constando que tenham achado algum mineral de grande valor. Cobiçados eram os cristais de água-marinha, desde a descoberta da jazida da Pedra da Onça, pelo que me contaram, por volta de 1941. Tal lavra teria alcançado uma produção de minerais-gema nunca imaginada,
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Justificativa: Segundo o banco de dados da UNESP a moscovita apresenta brilho vítreo e sedoso. Segundo o Dicionário Livre de Geociência a moscovita possui brilho vítreo. Já a biotita apresenta brilho vítreo, segundo o Dicionário Livre de Geociências. Mas como sabemos o grupo da mica, muitas variedades possuem brilho perláceo a nacarado.
69 produzindo talvez milhares de quilogramas de água-marinha perfeita, criando na região de Várzea Alegre e adjacências uma área propícia ao garimpo. Até hoje esse assunto faz parte do quotidiano dos moradores da região. Com essa influência a me afetar, eu costumava cavar com facas ou outras ferramentas num barranco próximo de casa onde, segundo minha brincadeira, era a minha lavra. Achei cristais com extremidades de cor violeta, sabendo depois que era ametista. Essa influência psicológica gerou em mim um sonho de um dia encontrar as famosas preciosidades. Um dos meus tios era aficionado e sonhador com as preciosas gemas. Lembro-me dele como uma das pessoas que garimpavam na nossa lavra. Ele trazia consigo um pequeno prisma de um mineral cristalino azul que dizia ser uma água-marinha e tê-la encontrado na sua roça de milho quando fazia o preparo do terreno para plantio. Na lavra do Roccon A primeira vez que tive contato com essa lavra foi quando esse tio e seus sócios, Vitor Zamprogno e Martinho Bieth arrendaram uma pequena área onde garimparam Fuinha, meu primo Agostinho, João Toniato, Silvio Bieth e outro primo, o Anízio, que era meu preposto nessa sociedade. Na ocasião foram retiradas escórias de água-marinha num total aproximado de 200 quilogramas e pequenos estilhaços puros que enchiam uma caixa de giz escolar. Cristais encantados! Sumiram sem deixar vestígio. Por outras vezes, mantive trabalhadores nesse garimpo. Numa delas, conseguimos alguns pequenos estilhaços de água-marinha num total de 100 gramas e um cristal de quartzo fumé de 70 quilogramas, com boa parte dotada de diafaneidade que podia ser comercializada. Na última oportunidade, nada de valor conseguimos encontrar. E a jazida continua lá, vez ou outra com alguém aventurando algum serviço, alcançando sempre o achado de cristais e escórias, quase tudo coisas de pouco valor. Se cristal de quartzo em estado anédrico tivesse algum valor comercial, ou que venha a tê-lo no futuro para ser utilizado como uma fonte de matéria-prima, essa jazida ainda poderá ser economicamente viável. Invasão de lavra Cheguei de uma viagem que fiz a Belo Horizonte e encontrei o povo da localidade excitado com a notícia de que Arlindo Zanotti e Zé Teixeira (tradicional e experiente garimpeiro) haviam encontrado uma grande jazida de água-marinha na propriedade do primeiro. Procurados, eles não deram qualquer chance para que os interessados pudessem participar da lavra dessa suposta jazida. Não havendo acordo, a população local promoveu uma invasão na propriedade desse produtor rural, imaginando que ali estivesse localizada a pretensa jazida, fazendo grande quantidade de escavações. Eu, mesmo, juntei-me aos meus primos, vizinhos e cunhados e demarcamos um local para trabalharmos. Fizemos uma cata de pequena extensão e de pouca profundidade, porque não tardou que chegasse proveniente de Santa Teresa, o delegado de Polícia acompanhado pelo juiz de Direito da Comarca e de todos os soldados destacados no município, a fim de retirar dali todos os invasores e permitir que fosse mantida a posse aos proprietários de direito. Não houve resistência e todos, após recolherem as suas ferramentas, voltaram às suas casas e aos seus afazeres habituais. O ocorrido avivou novamente o interesse da população pelas lavras.
70 Os filhos de José Vicente, trabalhando numa propriedade rural na localidade, encontraram sinais evidentes de uma jazida e me convidaram para cavarmos juntos. Chamei, também, Alfeu, José Pacífico e Nodir Lopes (este havia participado naquela lavra de Arlindo Zanotti e José Teixeira), para trabalharem conosco nesse garimpo. Do mesmo trabalho participava Geraldo Vicente, seu irmão Dário e Ricardo Hortolani (este procedia de Alto Caldeirão e era garimpeiro dotado de boa prática no ofício). Com a experiência que tinha, vendo o futuro daquele garimpo, trabalhou apenas algumas horas e não mais retornou. Todos os dias, ainda de madrugada, nós íamos diretamente para esse local, onde fizemos uma verdadeira cratera, removendo grandes blocos de feldspato e cristal anédrico. Na medida em que aprofundávamos a escavação, grande era a quantidade de água que fluía no meio das rochas, cujos blocos iam se tornando sempre maiores. Nesse pegmatito, entremeados aos blocos e feldspato de cor rosa e cristais de quartzo anédrico, havia uma variedade de mica escura e frágil de onde retiramos alguns cristais de coloração vermelha escura. Imaginávamos que fossem exemplares de granada, mas o hábito cristalino dessas peças não era compatível com a forma dessa variedade de cristal. Eles se apresentavam com faces lisas e pouco espessas, formando figuras de sólidos como se tivessem sido achatados. Também encontramos nessa exploração um sólido hexagonal e biterminado de forma semelhante ao cristal de berilo, não era diáfano e parecia não ter dureza significativa, apenas sua consistência e a aparência eram semelhantes às do feldspato. Esses foram, portanto, os achados na escavação desse pegmatito. Resolvemos cavar na virada do morro próximo a um local onde existiam muitos cristais e poucos ainda persistiam nesse garimpo. Marcamos um local e começamos o trabalho. Logo apareceram belos cristais diáfanos e com hábito preservado e, de repente, surgiu da terra um prisma de água-marinha de cor verde, mas todo trincado. Imaginamos que retiraríamos berilo em grande profusão, mas tudo o que achamos ali naquele dia foi o pequeno exemplar de águamarinha, nada mais que isso. Voltamos muitas vezes e fizemos uma grande escavação e nada mais achamos. Mais tarde, e por muitas vezes, tornei a cavar sem obter resultado algum. Ali só existia aquele exemplar de cristal de berilo que achamos no primeiro dia... Lavrando nas terras de Guilherme Zanotti Na propriedade de Guilherme Zanotti, onde trabalhei durante mais de dois anos, depois que encerramos nossas atividades, Acrísio Zanotti contratou Antônio Morao para fazer o desmonte do local e, assim, conseguiu retirar dali uma amostra de água-marinha de um quilograma e alguns blocos de quartzo morion diáfano, perfazendo o total de 20 quilogramas de produto destinado ao comércio. Nas baixadas da propriedade rural dessa família Zanotti, outrora foram extraídos grandes blocos de cristal de quartzo hialino e por toda a área havia erupções de minerais provenientes de pegmatitos, exibindo blocos de cristal de quartzo anédrico, mica e exemplares de quartzo com hábito preservado, inclusive ametista em exemplares coloridas parcialmente. Nessas proximidades, famílias de Várzea Alegre faziam plantio dos cereais milho, arroz e sorgo. Num dia qualquer, uma trabalhadora trouxe-me uma amostra de pequeno cristal de água-marinha e de tê-la encontrado na sua roça enquanto realizava o trabalho de capina. Interessei-me pelo assunto e solicitei permissão para fazer escavação no local. Com autorização concedida, após a colheita dos cereais, convidei o pai daquela trabalhadora e o comerciante Luiz Pacífico e juntos fomos ao local e na primeira tentativa constamos que eram verídicas as informações da trabalhadora. Logo, numa escavação, que não tinha nada além de 30 cm de
71 profundidade, encontramos os primeiros cristais de água-marinha de coloração azul e verde, alguns deles eram prismas hexagonais outros de forma arredondada e com superfície estriada. Nem todos contavam com total diafaneidade; outros eram opacos. Aqueles cristalizados e transparentes continham inclusões, o que os impediam de serem tornados gemas de bom valor comercial, quando beneficiados. Mas a principal coisa que me faz lembrar essa pequena lavra foi o encontro de um cristal de 10 gramas aproximadamente, diáfano, prisma de forma arredondada e repleto de estrias na superfície e de uma cor de intenso amarelo ligeiramente esverdeado. Hoje com a experiência do conhecimento acumulado durante todos esses anos, leva-me a concluir de que se tratava de um exemplar de cristal de berilo da variedade heliodoro. Todos os achados foram se perdendo com o tempo e não apuramos nada de recompensa financeira pelos mesmos. Ficamos apenas com o registro das memórias e alguma experiência. Nada mais que isso. A lavra do Rabo de Tatu No dia 22 de novembro de 1966, entre vinte e uma e vinte e quatro horas (meia-noite), desabou violento temporal com fortes relâmpagos seguidos de trovões, caindo muito granizo e chuva torrencial. Por todas as valas das montanhas da Serra do Toma Vento, tanto nas vertentes de Várzea Alegre quanto nas do Limoeiro, desciam correntes de água que pareciam rios caudalosos. Toda essa água acabou por provocar muita erosão e uma enchente jamais vista na região. O processo erosivo viria expor muita coisa que se encontrava no sob o solo, como cascalhos e até cristais de água-marinha descobertos dessa forma. Dias depois desse temporal, foram encontrados alguns cristais de água-marinha numa vala, quando agricultores trabalhavam no local. Essa notícia espalhou-se e praticamente toda a população de Várzea Alegre, em poucas horas, se concentrou ali no alto de uma propriedade de Orlando Mattedi. Garimpeiros de vários pontos do estado e até de fora deste acorreram ao local da jazida recentemente descoberta. Juntamente com vizinhos e parentes, marcamos nossa presença nesse garimpo durante alguns dias daquele final de 1966, trabalhando na remoção de blocos de granito, muitos deles à custa do desmanche feito com explosões de dinamite e pólvora para que alcançássemos o pegmatito onde se encontrava a água-marinha, conseguindo algumas centenas de peças delas. Todo o nosso achado totalizou dezessete quilogramas compostos por cristais diáfanos e escórias (alguns prismas em estado anédrico e outros repletos de inclusões). Ao final, selecionamos quatro quilogramas e quinhentos gramas de minerais que comerciamos, rendendo para cada um de nós uma quantia em dinheiro equivalente a cem reais na moeda atual. Várias turmas trabalharam no pegmatito e, pelas informações de que disponho, a produção total dessa lavra teria alcançado pouco mais de uma centena de quilogramas de água-marinha e algumas toneladas de drusas de cristal com geminações e inclusões de turmalina negra, no formato de ametista, exibindo algumas manchas de coloração violácea, cujas peças tinham valor apenas para colecionadores. Devido ao formato dos prismas da água-marinha dessa lavra, que eram finos, alongados e cobertos por uma crosta semelhante à carapaça dos tatus, ficou conhecida como a “lavra do Rabo de Tatu”.
72 Em Colatina Alceu Martinelli, Bento Marchiori e eu formamos uma sociedade para atividades de lazer que consistia na realização de passeios e exploração de lavras na região de Colatina e localidades próximas. Como trabalhadores, contávamos com Paulinho Tótola, Paulo Demoner e um senhor de nome Manoel Marques, o cozinheiro. Esses três eram efetivos, enquanto que José Alves e Walter Rigo trabalhavam no garimpo apenas nos finais de semana e nas férias. Para equipar nosso acervo de utilidades e dar andamento ao nosso projeto de lavras, inicialmente adquirimos todas as ferramentas necessárias, tais como picaretas, pás, alavancas, machado, marretas, martelos, facões, enxadas, enxadões, carrinho de ferro e uma grande lona de plástico para a cobertura da barraca do acampamento. Também adquirimos os utensílios de cozinha: panelas, pratos, talheres, canecos. Visando à acomodação dos trabalhadores equipamos o acervo com colchões de espuma, cobertores e lençóis. Quanto à alimentação fizemos uma provisão inicial de feijão, arroz, óleo comestível, farinha de trigo, farinha de mandioca, açúcar e pó de café. Como alimentos proteicos, carnes secas, toucinho e embutidos. Em São Casemiro Para se chegar ao local, onde diziam existir um lavra na localidade de São Casemiro, desembarcamos da Kombi pertencente ao nosso sócio Bento Marchiori em Alto Baunilha. Fizemos uma caminhada por uma montanha íngreme, alcançando um ponto determinado (ali seria a nossa lavra), percorrendo mais de três quilômetros de um caminho que só servia para pedestres e cavaleiros. Na segunda-feira seguinte, refizemos aquele mesmo trajeto, dessa vez transportando todos os nossos pertences: ferramentas, utensílios e demais utilidades do acampamento, mediante a utilização de três animais de carga, concluindo toda a mudança numa só viagem. Depois de alguns dias de trabalho numa propriedade rural da família “Fernandes de Jesus”, eu participava pessoalmente na lida diária fazendo o trajeto de Colatina ao Alto Baunilha num automóvel Volkswagen Fusca 1970, veículo de minha propriedade, repetindo depois aquela caminhada a pé, como fora desde o primeiro dia. Fizemos várias pesquisas desde a margem das terras ao alto de uma montanha coberta de vicejante floresta de Mata Atlântica. Em duas semanas de muitas caminhadas e escavações inúteis, tivemos certeza de que ali não havia jazida alguma; tudo não passava de boatos fantasiosos desse povo humilde e laborioso do interior. Esta não seria a primeira nem a última vez que teríamos empregado trabalho, dando atenção a informações infundadas. No garimpo era assim mesmo, nem sempre as notícias eram verdadeiras, mas se fossem verídicas e a gente não desse crédito, poderíamos perder uma grande chance de conseguir fortuna, tal como aconteceu àquele comerciante que tomou conhecimento antecipado da grande jazida de Pedra da Onça: não deu crédito às informações do tal Raimundo e perdeu sua grande oportunidade de participar de toda aquela riqueza. Conosco sempre foi diferente. Chegamos a ponto de acreditar na história de que um crisoberilo olho-de-gato teria sido encontrado no papo de um pato, história que se tornou lenda do nosso anedotário das lavras, referindo-nos sempre ao tal garimpo onde havia um “pato garimpeiro”. Na lavra João Neiva Encerrados os trabalhos em São Casemiro, viajei para o Retiro, localidade situada no município de Aracruz, onde consegui uma autorização do senhor Domingos Giacomim,
73 proprietário de grande parte das terras em que era situada a lavra de João Neiva, para ali acampar a nossa turma e executar trabalhos naquele antigo garimpo. Todos os finais de semana e feriados, nós visitávamos o garimpo como forma de lazer e aproveitávamos para reforçar os suprimentos de gêneros alimentícios para os trabalhadores. Nesse acampamento, a turma estava muito bem instalada numa confortável casa nas imediações da sede da propriedade do senhor Giacomim, cuja família nos dispensava tratamento deveras hospitaleiro. Ali retiramos um pequeno cristal de água-marinha de excelente coloração, pesando oito gramas, porém com algumas imperfeições. Esses trabalhos se concentraram num lençol de cascalho em meio a um tipo de argila pegajosa (colante), nomeada pelos garimpeiros desde a fase inicial dessa lavra, de “Cola Jegue”23. Em Santa Joana Em uma comunidade cujo padroeiro é São Brás, situada à margem esquerda do rio Santa Joana no sentido de Pontal e Itaguaçu, um dos moradores trouxe algumas amostras de ametista e as mostrou ao senhor Manoel Marques, seu conhecido e amigo. Avisados, fizemos uma visita ao local e constatamos algumas evidências da presença de depósitos de mineraisgema na localidade. Era nossa expectativa encontrarmos uma jazida importante nesse local. Fomos à localidade e obtivemos local para instalarmos nosso acampamento de um vizinho de propriedade, onde seria prospectada a lavra. Esse senhor tinha o sobrenome Scaltzer e ofereceu-nos sua propriedade para fazermos pesquisas. Com ele conseguimos a concessão de um velho barraco que servira de depósito de cereais onde acampamos nossos colaboradores. Ali havia tijolos e com estes construímos um fogão e o equipamos com uma chapa de ferro fundido que dispúnhamos. Essa peça sempre era utilizada para esse fim. A lavra que era nosso principal objetivo ficava situada bem próxima de uma casa onde morava um genro do proprietário daquele terreno e este não concordou que despejássemos as terras que viriam a ser produzidas com a escavação. Com isso foi gerado um impasse: já estávamos com os garimpeiros instalados e não tínhamos como iniciar os trabalhos. Foi aí que imaginei uma solução. Como a propriedade de Scaltzer fazia divisa com esse pessoal, consegui com este autorização para realizar a escavação de uma galeria subterrânea a partir da sua propriedade. Durante os trabalhos de construção dessa escavação, ainda nas terras de Scaltzer, foram encontrados excelentes vestígios de minerais-gema, mas a galeria seguia na direção proposta, alcançando o pegmatito da lavra do nosso objetivo depois de oitenta metros de extensão. Alcançado o pegmatito, surgiram exemplares de cristal fumé, ametista, que eram dotadas de manchas de coloração violeta parcialmente, resultando pequeno aproveitamento. Posso afirmar que todos os minerais ali encontrados somaram uma produção de mais de uma tonelada e muitos desses cristais, por não serem comerciáveis, na época, foram considerados rejeitos e descartados mediante soterramento nas proximidades do barraco onde estiveram acampados os garimpeiros. Concluo que esse local ainda mereceria mais intervenções de serviços, pois ali existem abundantes sinais de depósitos, não apenas de cristal fumé e ametista, mas, principalmente de água-marinha e outras gemas derivadas do grupo do crisoberilo.
23 Cola jegue é uma variedade de terreno argiloso que, quando encharcado, torna-se uma massa altamente pegajosa, uma verdadeira cola. O vocábulo faz parte da linguagem popular dos garimpeiros.
74 Tanto nos finais de semana como também à noite, depois do expediente do nosso trabalho, costumávamos visitar o acampamento e fazer refeições com os trabalhadores, ocasião em que tínhamos a oportunidade de saborear as delícias da culinária do senhor Manoel. Nessas ocasiões, frequentemente levávamos pessoas das nossas famílias — esposas e filhos. Passadas essas primeiras experiências, em quase todos os finais de semana saíamos para visitar e pesquisar, geralmente transportados na Kombi de propriedade do nosso sócio Bento Marchiori e íamos a locais que nos eram indicados e que poderiam produzir mineraisgema. Eu não era movido pelo interesse econômico e sim pelo lazer. Esse foi um sonho gravado na minha memória quando criança. Era um ideal não completo que sistematicamente se reproduzia nos meus sonhos e aquelas coisas ainda não resolvidas que permaneceram no subconsciente, materialiazavam-se durante o sono. Lembro-me de uma ocorrência com um amigo do senhor Manoel residente em Córrego Piabas, acima de Colatina na margem esquerda do rio Santa Joana, que, ao abater um pato, encontrou no papo da ave uma amostra de crisoberilo olho-de-gato que cheguei a ver. Fomos informados e chegamos ao local, onde fizemos várias escavações, nada encontrando — nem mesmo cascalho existia no local. Sabe-se lá de onde veio esse mineral que o pato engoliu... Pesquisamos também nos córregos da Laje, Piabas e Cascata, numa localidade à beira do rio Pancas um pouco depois do bairro Maria das Graças e em Alto Liberdade, no município de Marilândia. Nesse município, foram encontradas pequenos fragmentos de turmalina nas cores verde, azul, amarelo e rosa. Nas localidades de Córrego da Laje e de Alto Liberdade, tivemos a presença e participação do garimpeiro profissional Joaquim Coelho de Carvalho, meu saudoso amigo. Fizemos também explorações na fazenda de Américo Rossi, onde alguns diziam existir muitas lavras de água-marinha e ametista por toda parte. E uma pessoa afirmava que, quando criança, ter encontrado próximo da casa em que residia uma grande amostra de um cristal na cor azul, provavelmente uma água-marinha. Nesse local, instalamos nosso acampamento numa velha casa próxima de uma estrada, onde havia grande quantidade de mangueiras às suas margens. À tarde, depois da arrumação dos pertences, fomos até a sede da fazenda para conversarmos com os familiares de Américo Rossi. Já havia escurecido completamente quando Edgard, Paulo Demoner e Bento Marchiori Filho, que nos faziam companhia, resolveram ir para o barraco na nossa frente. Contam eles que, ao passarem diante das mangueiras onde reinava a mais absoluta escuridão, viram e ouviram coisas estranhas, vozes e lamentos. Quando chegamos ao acampamento, eles estavam tomados de grande pavor. Há poucos dias, comentando sobre o trabalho de lavra naquela fazenda, eis que uma senhora, dizendo-se casada com um dos integrantes da família Rossi, contou-me que recentemente foi encontrada naquela localidade grande quantidade de cristais e de outros minerais que não sabia dizer os nomes, mas pelas imagens projetadas nos seus relatos, podia-se concluir a que cristais ela referia. Perguntei-lhe se existem naquela região comentários de visões sobrenaturais e ela me afirmou categoricamente que naquelas imediações essas aparições são costumeiras e frequentes. De certo modo, o que ela disse vem confirmar a história dos nossos medrosos garimpeiros.
75 Retorno à lavra de João Neiva Em 1975, voltamos à lavra de João Neiva, dessa vez por palpite e sugestão do nosso garimpeiro Paulo Demoner, para realizarmos um trabalho nas proximidades de onde a turma de França Zanotti, quando ali trabalhou, conseguira encontrar muitos exemplares de águamarinha de grande valor. Novamente instalamos os garimpeiros naquela velha casa na propriedade do Sr. Domingos Giacomim e ali trabalhamos durante alguns meses, fazendo uma enorme escavação na base da montanha, situando-se aquém das terras da família Marino. Nada foi encontrado, apenas tivemos muitas despesas e um intenso desânimo tomou conta de todos. Assim, encerramos as nossas experiências de garimpo no período em que residi em Colatina. Sobre a lavra de João Neiva, tenho suposição de que na falda dessa montanha em que se localizara o garimpo, onde existem muitos e grandes matacões24 de granito, sob estes, poderão ainda existir as maiores e mais perfeitas peças de água-marinha que tal jazida produziu. Uma evidência demonstra que, naquela mesma direção, tanto acima quanto abaixo, foram encontradas as maiores exemplares de água-marinha perfeitas em tudo. O problema é a presença de enormes peças graníticas que terão que ser removidas. Uma alternativa seria a exploração simultânea do granito ali existente para a produção de brita ou chapas para fins ornamentais. Fazendo-se sua remoção, o terreno poderia ser facilmente escavado. Se não se encontrassem outros minerais-gema, a venda dos produtos resultantes do beneficiamento desses rochedos recuperaria ao menos os custos da mineração. Garimpo na propriedade de José Ângelo Venturini No ano de 1999, fui à Várzea Alegre e convidei Alfeu para irmos à residência de José Ângelo Venturini, proprietário das terras que pertenceram à família Roccon, onde antigamente foi extraído grande volume de água-marinha. Fui ao local em que eu e Clarindo encontramos, há anos passados, vários estilhaços desses cristais. Nem precisamos cavar muito para encontrarmos várias deles novamente. Combinamos com Venturini para colocarmos garimpeiros para trabalharem ali, ficando responsáveis por pagar o equivalente a 20% de tudo que ali produzisse. Contratamos dois trabalhadores rurais para que trabalhassem como nossos garimpeiros e, depois de lhes fornecermos todas as ferramentas necessárias, os serviços foram iniciados. Durante muitos dias, o trabalho se concentrou naquele local, mas por iniciativa dos trabalhadores foi feita outra escavação nas proximidades de onde havia grandes blocos de quartzo anédrico, removíveis apenas por meio de explosivos. Foi um trabalho árduo durante bom tempo, onde somente foi encontrado um bloco de cristal parcialmente aproveitável e depois comerciado por alguns reais. Alfeu, um dos nossos sócios, querendo dar agilidade aos trabalhos, convidou um senhor residente em Santa Teresa, que possuía uma máquina “Proclaim”, para se associar ao nosso garimpo, utilizando tal equipamento. 24 Matacões é o plural da palavra matacão, que significa peça de rocha solta, muito grande e arredondada. Consta do
Dicionário Livre de Geociências que tem a seguinte definição: Matacão: s. m. Geol. Também é conhecido por seu nome em inglês Boulder. São grandes blocos arredondados, diâmetro maior que 256 mm, produzidos pelo processo de intemperismo químico, conhecido como esfoliação esferoidal ou pelo desgaste de blocos arrastados por correntes fluviais.·.
76 Esse novo sócio tornou-se parceiro também de um produtor rural, participante do mesmo garimpo e tiveram a sorte de encontrar, graças ao uso da máquina, grande quantidade de cristais de água-marinha, dos quais foi separado razoável quantidade de pequenos fragmentos diáfanos. Enquanto isso, eu estive com o garimpo paralisado por vários dias. Para continuidade dos trabalhos, convidei Aécio (um lapidador de gemas), que conseguiu dois novos garimpeiros para trabalhar sob a supervisão de Clarindo. Arranjamos com José Luiz, o “Macarrão”, uma casa velha e ali instalamos os nossos trabalhadores e os municiamos, além de todas as ferramentas necessárias, com boa quantidade de alimentos renovados constantemente. Ao todo, éramos quatro: Preto, Aécio (também garimpeiro), Antônio Scottá e eu. Estive lá para instalá-los no barraco e outra vez para orientar sobre o local onde deveriam cavar, ou seja, na parte que José Ângelo nos concedera. Dormi em uma rede que havia colocado em dois fortes esteios de madeira da sala da velha casa onde estávamos instalados. Durante meu sono tive um pesadelo, sonhando que um senhor muito claro, usando óculos de aros finos, tentava estrangular-me. Nunca mais voltei àquele local. Nova lavra Junto com Wanderlei Scottá fomos até a propriedade de Robson Erler para verificarmos onde ele havia encontrado alguns cristais de água-marinha de pouco aproveitamento, quando trabalhou na turma de Clementino Scotar. Um vaqueiro que trabalhava para a família Erler, num desses dias de chuva, ao passar pelo local onde havia uma escavação achou sobre a terra uma peça de água-marinha de aproximadamente 100 gramas, exibindo excelente diafaneidade e coloração intensa. Diante disso, fomos ao local e obtivemos autorização para garimpar naquelas terras. Inicialmente, convidei Wanderlei para fazer parte da turma que pretendia formar para essa lavra e este não aceitou, alegando ter outros compromissos de trabalho. Consegui contratar Clarindo Demoner e Felisberto Magdalon que aceitaram serem nossos garimpeiros. Seriam apenas dois e, como residissem na localidade, resolvi adiantar-lhes quantia mensal a título de auxílio nas despesas alimentícias, ficando também às nossas expensas os demais encargos com a compra e manutenção das ferramentas, de outros materiais e para assistência no caso de alguma enfermidade. Nessa lavra tinha como sócios tradicionais os irmãos Alfeu e Antônio Scottá. Para completar a equipe, convidei Epaminondas Caser e Djalma Fardin, convite que ambos aceitaram prontamente, iniciando assim os trabalhos. Clarindo e Felisberto Magdalon fizeram diversas escavações, encontrando cristais com hábito cristalino preservado e apenas uma pequena amostra de água-marinha incolor e já davam sinais de desalento. Solicitei ao agricultor José Alemão a mostrar-me o exato local onde ele havia encontrado uma peça de cristal de água-marinha com o peso de 600 gramas. Naquelas imediações, na época em que França Zanotti era o proprietário do terreno. Convideio também para trabalhar conosco e ele não aceitou, concordando apenas em mostrar-me o exato local onde havia encontrado o tal cristal, quando aquele terreno era arado para o cultivo de uma lavoura de milho. Agora, dispondo de melhores informações, orientei os garimpeiros onde deveriam trabalhar. Na primeira semana, Alfeu deu-me a notícia de que os trabalhadores haviam encontrado uma pequena amostra de água-marinha, pesando 12 gramas, contendo algumas imperfeições, o que não impediu que fosse vendida. O resultado alcançado foi divido entre
77 todos os participantes e pago o equivalente a 20% do total obtido com a venda ao proprietário do terreno. Sem ânimo para continuar na atividade, depois de ter logrado resultados pouco expressivos, encerrei minhas participações na atividade garimpeira. Dali em diante, jazidas, lavras e garimpos fariam parte apenas das minhas memórias, cujos registros são feitos a partir desta obra.
AGORA, OUTROS GARIMPEIROS... Francisco Evangelista Mineiro de origem, um solteiro já bem maduro de idade, que tinha uma voz grave e inconfundível, ao qual já me referi anteriormente, foi o primeiro garimpeiro que conheci. Francisco, por anos seguidos, garimpou em diversas lavras de Várzea Alegre. Não sei se conseguiu extrair minerais-gema de valor significativamente expressivo. Por alguns anos residiu em Várzea Alegre José Cristal, famoso por ter participado efetivamente das lavras de quartzo ocorridas em Alto Limoeiro, Jatibocas, Alto Caldeirão, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Domingos Martins, Santa Teresa, Itarana, Itaguaçu e Afonso Cláudio. Conheci José Cristal na idade madura, casado com uma senhora da família Herzog, morando em Várzea Alegre. Costumava fazer incursões por diversas lavras, nunca permanecendo nelas por muito tempo e, assim, vivia a fazer rodízio, aparecendo sempre com algum mineral de valor significativo. Era garimpeiro profissional e cuidava especificamente dessa atividade de onde retirava a sua subsistência. Para a comunidade de Várzea Alegre exerceu também outro ofício, o de carnavalesco, organizando blocos anos após anos, pois essa era uma das suas vocações. Nessa localidade, implantou um bloco carnavalesco com a temática folclórica do “Boi Janeiro”, tradição trazida de Minas Gerais, exibida em Itarana, mas, originariamente do distrito de Parafuso, na cidade de Camaçari, estado da Bahia. José Teixeira — um profissional do garimpo — que me faz lembrar sua participação naquela lavra quando Arlindo Zanotti retirou cristais de água-marinha, vendeu-as e afirmou que eram extraídas na sua propriedade. Posteriormente, foi comprovado que eram originárias de outra terra, onde teriam sido encontradas durante explorações feitas às ocultas. Trabalhando mais no Limoeiro e além de Itarana e Itaguaçu temos notícias de um garimpeiro de nome Pedro de Andrade, hábil na construção de galerias subterrâneas (túneis). Participou efetivamente na lavra de citrino, uma ocorrência de pequena monta ocorrida na propriedade da família Pacífico, próximo à casa habitada outrora pela família Scottá. Participou de muitas lavras em Várzea Alegre como garimpeiro profissional, Joaquim Coelho de Carvalho (o Quilate), quando egresso de Minas Gerais onde teve participações em vários garimpos no estado mineiro, especialmente na lavra do “Cruzeiro” — onde se extraíam turmalinas de vários matizes e mica com qualidades de insumo industrial. Chegando à Várzea Alegre, seus primeiros afazeres consistiram em trabalhar na agricultura como diarista de Guilherme Zanotti e, em época das entressafras, fazia algumas participações nos garimpos sob a manutenção de Acrísio Zanotti. Depois se voltou de novo ao garimpo, fazendo desta atividade sua profissão exclusiva. Doravante sua moradia passou ser em acampamentos, ora na Lavra de João Neiva, ora nos garimpos de Pancas, de São João Grande, de Alto Caldeirão e de outros mais.
78 Na região de Várzea Alegre, praticamente toda a população de trabalhadores rurais exercia, cumulativamente, o trabalho como garimpeiros na condição de amadores. Alguns lograram êxito e até se tornaram profissionais, como foi o caso de Clementino Scotar, Gervásio Pivetta, Orlando Corteletti, Antônio Braz Possatti, Gelcemir Roccon, Wanderlei Scottá, Ademir Cóser, Antônio Scottá e Silvio Bieth. Alfeu Scottá iniciou seu patrimônio com recursos auferidos no garimpo, depois como comerciante e, finalmente, como produtor rural; Jair Fanti, juntamente com Oscar e Manoel Lino; os irmãos Silvino, Geraldo, Acrísio e Reinaldo Loss e outros mais foram garimpeiros que integraram a turma de França Zanotti, um dos mais tradicionais sócios capitalistas que manteve turmas de garimpo por muitos anos em várias lavras no estado e fora dele. Paulo Demoner, Hermenegildo Mattedi, Dionísio, Nilton Roccon e Zé Pequeno foram alguns dos garimpeiros que integraram a turma mantida por Acrísio Zanotti, que atuava nas lavras de Várzea Alegre e também nas de outras localidades. Felisberto Magdalon e Clarindo Demoner foram os garimpeiros que trabalharam na minha turma, na última incursão que fiz na exploração de lavras, em 2002. Marcolino de Tal é nome lembrado como profissional que muitas vezes atuou em lavras de Várzea Alegre, Alto Caldeirão e em Goiapaba-Açu. Hugo França e seus feitos Não podia me esquecer de Hugo França Zanotti, que, juntamente com todos os seus irmãos, foi um dos maiores líderes do ramo e o empresário mais presente nos garimpos em Várzea Alegre, em todo o estado do Espírito Santo e nos estados vizinhos. Conseguiu amealhar grandes somas de recursos oriundos das gemas retiradas de lavras em que participou, formando um razoável patrimônio representado por inúmeras propriedades ainda em poder das famílias dos seus irmãos, viúva e filhos.
Imagem 025 Hugo França Zanotti. Fotografia cedida por Mafalda Corteletti, em 2007.
Relatos de Paulo Demoner, agricultor e garimpeiro Lembra-me também de Paulo Demoner, que era agricultor como a maioria dos que se dedicaram aos trabalhos em garimpos de minerais-gema na região de Várzea Alegre, notoriamente. As suas experiências no garimpo podem ser listadas a partir de 1965 quando, conforme relata, juntamente com seu irmão Clarindo e Renilton Roccon, atuou num garimpo em Minas Gerais, nas proximidades de Itambacuri, numa lavra de turmalinas, conhecida como a “Lavra de Santa Rosa”. Afirma Paulo que só não lograram êxito nesse garimpo porque o
79 desânimo tomou conta, especialmente de seu irmão. Nenhum resultado alcançou esse garimpeiro, como também os seus sócios capitalistas. Na famosa lavra da pedreira do Toma Vento, fez parte da turma de Acrísio Zanotti em 1967, ocasião em que encontraram um exemplar de água-marinha de coloração extra, com o peso de aproximadamente 180 gramas. Em 1966, também como a maioria dos garimpeiros de Várzea Alegre e adjacências, Paulo atuou na “lavra do Rabo de Tatu”, garimpo famoso na época. Apesar da grande quantidade de cristais de água marinha produzidos, o resultado financeiro foi mínimo, devido ao expressivo número divisor, resultando em quociente praticamente insignificante. Ainda em 1967, fazendo parte da equipe de Acrísio Zanotti, Paulo garimpou na propriedade de Orlando Mattedi de onde retiraram uma razoável quantidade de água-marinha, que eram completamente ocas, praticamente isentas de aproveitamento gemológico, podendo ser aproveitadas apenas como peças para colecionadores. No ano seguinte, ainda fazendo parte da mesma turma, Paulo trabalhou em uma lavra na fralda da Pedra da Onça, na propriedade do senhor Evaristo Massalai, onde encontraram grande quantidade de escórias de água-marinha e uma peça diáfana de coloração verde, pesando alguns poucos gramas. Também conta que trabalharam na propriedade da família Possatti, de onde retiraram alguns exemplares de berilo verde de pouca espessura e de coloração fraca. Nessa época, a turma de Acrísio Zanotti, da qual o Paulo fazia parte juntamente com os irmãos Renilton, Nilton, Dionísio Roccon e Hermenegildo Mattedi, ele interrompeu as atividades garimpeiras. A maioria dos colegas de turma retornou à atividade agrícola, exceto Paulo que continuaria atuando ainda por muito tempo em vários garimpos. Ainda conta Paulo Demoner que, a partir de 1969, esteve trabalhando, ora com a turma do Hilton Corteletti, ora com a equipe de França Zanotti, ora, ainda, com Luiz Zanotti. Nesses garimpos em Aracruz e Rio Pontes, conseguiram duas amostras de água-marinha, uma pesando 110 gramas e outra 90 gramas. Em 1973, numa lavra de crisoberilo olho-de-gato, em São João Pequeno, no município de Colatina, encontrou duas dessas peças. Uma delas pesando 17 e outra com apenas seis gramas. Em 1975, quando fui convidá-lo a fazer parte de um garimpo que havíamos organizado em Colatina, encontrei-o trabalhando na turma de França Zanotti no Toma Vento. Havia feito uma escavação no alto de uma propriedade da família Furlan, de onde havia retirado alguns quilogramas de escórias e alguns cristais com pequeno aproveitamento. Como parte do produto do qual era sócio, recebeu uma peça de água-marinha de 300 gramas, que era avaliada em 100 cruzeiros novos (padrão monetário da época). Essa amostra me foi entregue para vendê-la por esse ou outro qualquer valor maior. Vendi-a exatamente por 300 cruzeiros novos, valor que repassei integralmente ao Paulo. Nossas participações experimentais no garimpo de minerais-gema em Colatina teriam durado até o final do ano de 1976. Paulo teve uma das últimas experiências no garimpo entre 1978 e 1979 na lavra do Triunfo, tendo como companheiro Arlindo Monteiro, ocasião em que ganharam apenas experiência, conta. Informações de Alcebíades Ghisolfi Lembro-me também de Alcebíades Ghisolfi, nascido em 1925 na localidade de Alto Santa Júlia, atualmente pertencente ao município de São Roque do Canaã. Conta Alcebíades que, desde criança teve a agricultura como sua principal atividade. Sua esposa, dona Olívia, era
80 professora numa escola singular em São Paulo do Rio Perdido, comunidade localizada no distrito de Alto Santa Maria no município de Santa Teresa, onde residiram por muitos anos. Como sempre aconteceu à maioria da população, também Alcebíades foi contaminado pela mesma atividade que fascina a todos os moradores das localidades adjacentes à famosa Pedra da Onça, o maior garimpo de minerais-gema do estado do Espírito Santo. Sua primeira e maior experiência foi a de participar ativamente na lavra de João Neiva, em 1963, juntamente com outro garimpeiro, também famoso na época, Silvino Loss, quando lhe coube como parte cinco quilogramas de água-marinha de excelente diafaneidade e coloração extra. Com a venda das gemas encontradas apurou Cr$ 32.000.000,00 (trinta e dois milhões de cruzeiros), pelo padrão monetário vigente à época. Com esses recursos tornou-se comerciante estabelecido em São Paulo do Rio Perdido, mas não por muito tempo. Devido à sua inexperiência nessa atividade, não alcançou o progresso que garantisse a sua continuidade no ramo. Sua profissão mesma era o garimpo. Em 1963, juntamente com Silvino Loss, trabalhou numa lavra situada na localidade do Rio Pretinho – Minas Gerais, limite do Espírito Santo, no extremo Noroeste. Nesse garimpo encontraram um cristal de água-marinha de 800 gramas. Sorte melhor foi da turma mantida por França Zanotti, que conseguiu várias exemplares, uma das quais tive a oportunidade de ver: uma amostra de água-marinha que pesava exatamente dois quilogramas, perfeita em diafaneidade e coloração e mantendo o hábito cristalino preservado. Foi trazida até Várzea Alegre para evitar o pagamento da comissão de 20% devida ao proprietário do solo. Este, percebendo a evasão do mineral, seguiu os garimpeiros que a levavam, alcançou-os em Várzea Alegre, e não tiveram alternativas senão a de lhe pagar o devido quinhão. Nessa turma de França Zanotti trabalhavam como garimpeiros Jair Fanti, José Lino, Geraldo de Barros Vilela e outros de que Alcebíades não se lembra. De 1965 a 1966 trabalhou na lavra de água-marinha de Firmino Corteletti. Ali conseguiu alguns exemplares dessa variedade de berilo de coloração azul, mas em pequenas peças de pouco peso, mas de ótima qualidade de diafaneidade e coloração. Nessa mesma época, no final de 1966, esteve presente na “lavra do Rabo de Tatu”, da qual se lembra de ter apenas encontrado um pequeno exemplar, pesando aproximadamente cem gramas, que teria sido jogada fora no desmonte de cascalhos e outros itens rejeitados por garimpeiros da turma dos Zanotti. Nada mais achou nessa lavra. Sobre a lavra da Pedra da Onça, símbolo maior do garimpo, Alcebíades teve notícias de que coube ao pessoal de Itarana e Itaguaçu os maiores achados, lembrando a participação das famílias Azevedo, Zanotti, Aquino e Firmino das Mercês. Na ocasião, esteve lá no garimpo e pôde presenciar pessoas atirando pequenos estilhaços de água-marinha e de outros cristais pela montanha abaixo, pois somente lhes interessavam as peças maiores. Alcebíades trabalhou, também, nas lavras de Vila Pancas e da Lajinha, em uma delas, conhecida como a lavra do Gambá, tirou valiosas minerais-gema nos garimpos dessa região, localizados principalmente nos terrenos pertencentes às famílias Bassani e de Fio Correia, como conta. Uma participação de que se lembra, foi quando trabalhou no Alto da Serra dos Pregos, local que lhe rendeu achados expressivos de cristais de quartzo da variedade morion. Teve sociedade com o Firmino Corteletti e lembra-se de Clementino Scotar como um dos participantes de muitas das lavras por onde garimpou. Um dos seus companheiros foi Zezé Sarmento, que pouca sorte tinha com as gemas, apesar de ser um garimpeiro entusiasmado. Lembra-se de uma única amostra que o seu amigo teria conseguido, durante uma longa história de garimpos, uma peça de alguns gramas numa dessas lavras de Pancas.
81 Na lavra de crisoberilo de São João Grande, apesar dos fatigantes trabalhos ali realizados, nada conseguiu além de algumas escórias sem qualquer valor comercial. Recentemente, nos trabalhos que realizou em Baixo Guandu, apenas algumas peças de águamarinha anédricas foram os seus achados, conta Alcebíades. Os Gomes, uma família de garimpeiros Lembro, também, de uma família de garimpeiros — os “Gomes”. Uma família de garimpeiros, quem diria? O chefe dessa família era Epifânio Rodrigues de Souza, conhecido também pelo nome de Antônio Gomes e seus filhos — todos conhecidos pela alcunha de “Gomes” —, quando, na realidade, o sobrenome era Rodrigues de Souza e são lembrados José, Lourival, Braz e Moacyr Gomes. Epifânio ou Antônio Gomes fixou residência no Alto Limoeiro e ali se casou com Laura Binda, com quem formou uma numerosa família. Ele foi o precursor da atividade de garimpo da família. Seus filhos o seguiram e, tal como o pai, sempre exerceram a atividade de garimpeiro como profissão principal. Desde os primeiros tempos de garimpo do pai, começaram a exercer a profissão, inicialmente retirando cristais de quartzo hialino nas jazidas aluviais que vão desde Alto Limoeiro, passam por Alto Caldeirão, Serra dos Pregos, várias localidades no município de Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins, Afonso Cláudio e Itarana. Recentemente, depois de trabalharem por muitos anos explorando as jazidas de Andaluzita, garimparam nas lavras de crisoberilo olho-de-gato de Aracruz, Serra e São João Grande, esta no município de Colatina. Pelo que contam testemunhas, todos os familiares “Gomes”, desde o pai aos filhos foram dotados de especial sorte com os minerais-gema, obtendo sempre achados valiosos que lhes permitiram adquirir posses significativas. Outro também conhecido foi Joaquim Coelho de Carvalho, que fez parte dessa família dos Gomes por ter se casado com Izabel, uma das irmãs. Era procedente de Minas Gerais e havia garimpado na lavra do Cruzeiro-MG, de onde veio transferido para Várzea Alegre ainda na década de 1950. Ali trabalhava alternadamente como empregado rural e garimpeiro, profissão que trouxe de Minas Gerais. Lá atuou em diversos garimpos de mica e de turmalinas. Era um especialista na construção de galerias subterrâneas muito utilizadas nos garimpos localizados em chapadas. Aqui no Espírito Santo, desde 1955, Joaquim foi um dos garimpeiros que mais presença teve em praticamente todas as lavras da região, do extremo Norte ao Sul do estado. Conseguiu sempre bons resultados que lhe permitiram subsistência e manutenção da família que constituiu a partir do casamento com dona Izabel, tendo, inclusive acumulado razoável patrimônio. Felisberto Magdalon
82 Imagem 026 Felisberto Magdalon. Fotografia do acervo do autor, registrada em 2007.
Fizeram parte de garimpos Felisberto Magdalon e Ricardo Hortolani. Existiam, de Alto Limoeiro ao Alto Caldeirão, muitos garimpeiros, alguns já relacionados como os “Gomes”, Felisberto Magdalon, que liderava uma família de garimpeiros constituída pelos seus irmãos mais novos, e também Ricardo Hortolani, que tinha uma equipe sob sua orientação formada por alguns de seus irmãos. Todos esses profissionais aliados a outros vindos de diversas localidades formaram um contingente desbravador das reservas de quartzo de depósitos aluviais desde as cabeceiras do município de Itarana, nos altos de Jatibocas, região de Alto Caldeirão, Tabocas, Serra dos Pregos, Alto Santo Antônio, Goiapaba-Açu, pertencentes aos domínios territoriais do município de Santa Teresa; São Luiz, rio Possemozer, Água Suja, Garrafão, Rio das Pedras e outras localidades situadas nos municípios de Domingos Martins, Afonso Cláudio, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina e outros. Esse grupo de garimpeiros foi o responsável pela retirada de grandes quantidades de quartzo hialino, enfumaçado (morion) e citrino dessas jazidas de depósitos secundários situados nessa região alta e fria do Espírito Santo. Também retiraram grandes quantidades de andaluzita ou crisolito (como também é conhecida a andaluzita 25). Bom que se faça um registro: há notícias de que essas jazidas, que se concentram com mais incidência na Serra dos Pregos, são consideradas as mais importantes do mundo na produção de andaluzitas avaliadas como gema. Houve ainda nessa região achados de cristais de água-marinha junto aos depósitos aluviais de quartzo. Achados quase sempre de pequena monta, sendo acentuada a presença de ametista, variedade de quartzo de coloração violeta. Clementino Scotar e suas histórias
Imagem 027 Registro em fotografia tomada pelo autor em 2007.
Clementino Scotar Iniciou suas atividades no garimpo em 1964, em Várzea Alegre, alguns dias depois de ter chegado, quando ainda se recuperava de um grave acidente de trânsito que sofrera numa rodovia no estado de Minas Gerais. O caminhão que conduzia sofreu
25 O vocábulo crisolito (assim, sem acento) é a denominação popular dada à andaluzita na linguagem dos garimpeiros no estado do Espírito Santo.
83 uma quebra no sistema de frenagem e despencou por uma ribanceira dando sucessivos tombos. Sua primeira experiência como garimpeiro foi numa lavra na propriedade de Guilherme Zanotti, na qual participei como sócio mantenedor. Havia também um ajudante de nome Ildes dos Passos, filho da sua tia Ana Scotá. Nada de valor significativo, apenas alguns cristais fumé em estado anédrico foi o que conseguiram achar, durante meses de trabalho. Uma nova turma, incluindo Hilton Corteletti como sócio, iniciou as atividades numa lavra em Jatibocas, município de Itarana. Também ali nada foi encontrado além de algumas poucas escórias de água-marinha. A experiência seguinte ocorreu numa lavra na localidade de Lombardia, também nada produzindo. Aqui, os garimpeiros tiveram que negociar os pertences, tais como ferramentas e utensílios de cozinha. Clementino vendeu —, inclusive, uma garrucha que eu lhe havia dado — para que custeasse o pagamento das passagens de ônibus para o retorno, depois de realizarem longa caminhada a pé por uma trilha que chegaria à localidade de 25 de Julho. Assim, essa sociedade foi desfeita e a minha participação terminaria aqui, por enquanto. A partir desse ponto, eu me afastei temporariamente da ação direta nos garimpos, mas não me tornando inteiramente ausente, pois não era capaz de me desligar, dado que os elos que me atavam ao garimpo eram os mesmos que ainda me mantêm preso a ele. À turma foram se acrescentando mais garimpeiros a partir desse momento, nas pessoas de Antônio Braz Possatti, Silvio Bieth, Ademir Coser e Alfeu Scotá, este na condição de cozinheiro. A partir de 1965, esse grupo atuou em várias lavras, sendo a principal a de João Neiva. Depois de 1968, conseguiram achar os primeiros exemplares de cristais de água-marinha de boa qualidade, que lhes recompensaram com valores significativos, alcançando entre prismas de baixa qualidade por conterem elevado grau de inclusões, escórias e peças dotadas de elevado grau de diafaneidade, totalizando mais de três quilogramas de minerais comerciáveis. Em 1969, em Várzea Alegre, esses garimpeiros trabalharam em duas lavras situadas na propriedade que fora de Rodolfo Roccon: numa encontraram alguns fragmentos de crisoberilo olho-de-gato e de andaluzita; na outra, cinco quilogramas de pequenos prismas de águamarinha, com aproveitamento de 500 gramas aproximadamente. Retornando à lavra de João Neiva, em 1970, agora num terreno arrendado à família Marino, vizinhos dos Giacomim, esses garimpeiros conseguiram achar ali os maiores e mais perfeitos cristais de água-marinha, fazendo com que todos alcançassem independência financeira, já que cada garimpeiro conseguiu como parte, em valores monetários vigentes na época, o equivalente a 20 milhões de cruzeiros. Passando doravante a cuidar dos negócios por conta própria, Clementino e Alfeu tornaram-se sócios, adquirindo um caminhão Mercedes Benz para se dedicarem ao transporte de cargas pelo Brasil afora. Ao desfazerem a sociedade, Clementino juntou-se novamente a alguns dos antigos companheiros, dedicando-se novamente ao garimpo, dessa vez em Pancas. Com os recursos ganhos nesse garimpo equiparam-se com uma máquina escavadeira, organizando uma empresa com personalidade jurídica. O produto encontrado nas lavras poderia ser vendido legalmente, devidamente coberto com a documentação fiscal exigida. Juntaram-se a essa turma Gervásio Pivetta, os irmãos Antônio Braz e José Luiz Possatti e agora, como cozinheiro, José Vulpi. Nas lavras do “Gambá” e do Bassani conseguiram apurar com a venda da produção aproximadamente 12 (doze) milhões de cruzeiros, conforme padrão monetário da época. Antes de trabalharem nas lavras de Pancas, estiveram no Rio Pontes, de onde conseguiram alguns cristais de bom valor dentre as quais uma peça de água-marinha que pesava 1,200 kg.
84 Depois de Pancas voltaram a atuar no Rio Pontes e, em seguida, em algumas lavras em Várzea Alegre, sempre obtendo recursos suficientes para a manutenção dos custos do garimpo. Conta Clementino, que as lavras de água-marinha do Rio Pontes estão localizadas principalmente nas terras de Carlos Litig, Germano Bais, João Litig e dos Shuantz. Existem outras na região, numa área que compreende uma circunferência de aproximadamente quinze quilômetros de raio, onde sempre é constatada a presença de minerais-gema. Adiante, passaram a integrar essa turma Gelcemir Roccon e Wanderlei Scottá e atuaram nas lavras de crisoberilo de São João Grande, no Morro do Óleo (aquele local infestado por serpentes peçonhentas), Aracruz, Fundão, na Serra, Itaguaçu, Santa Teresa e, recentemente, numa lavra no município de Muqui, sempre encontrando algum minério mesmo que de pequeno valor comercial. Gervásio José Pivetta, garimpando desde a infância
Imagem 028 Fotografia tomada pelo autor em 2006.
Gervásio José Pivetta é um antigo garimpeiro, natural de Várzea Alegre, iniciou atividade no garimpo ainda criança, com cerca de 9 a 10 anos de idade. Nas imediações da residência da sua família havia uma pastagem onde foi instalada uma indústria de cerâmica que funcionou produzindo telhas francesas durante muitos anos. Naquele local, um garimpeiro, de cujo nome não se lembra, fez uma escavação devido a alguns sinais que indicavam possivelmente existir ali minerais-gema. Nesse local, Gervásio conta que costumava cutucar o solo atraído pela beleza dos cristais de quartzo diáfanos e com hábito preservado e exemplares prismáticos de turmalina preta, juntando tudo e guardando em casa. Foi escavando nesse local até que começou a encontrar peças de cristal maiores e, constantemente, falava ao seu pai que ali era sua lavra. Surgiram naquela terra peças de cristal de quartzo tão grandes que já não conseguia movê-las. Obtendo a ajuda das pessoas adultas, ele conseguiu razoável quantidade de cristais com qualidade comercial. Com a retirada das peças, seu pai, Sebastião Pivetta, vendeu-as por uma boa soma de dinheiro, obtendo ainda como pagamento complementar uma vaca de leite com bezerro e um rádio antigo que só funcionava quando suas válvulas estivessem aquecidas. Isso foi o marco inicial da sua atividade garimpeira, conta Gervásio. Já haviam descoberto a lavra da Pedra da Onça e este foi outro motivo que incentivou todo o povo, atingindo, inclusive, a população infantil, que sofreu essa influência, conforme já exposto neste livro. Fatos ocorridos que também trouxeram forte influência em toda a família Pivetta acerca do garimpo foram duas descobertas casuais de jazidas, uma na propriedade do senhor José Pivetta, na estrada que sobe em direção ao Caldeirão, e outra em Alto Várzea Alegre, na propriedade da família Roccon, próximo à Pedra da Onça. A primeira foi descoberta pelo efeito da erosão num cotovelo da estrada que servia à passagem de cavaleiros, tropas de muares e de pedestres que se dirigiam às montanhas do Caldeirão. Gervásio não se lembra da quantidade,
85 mas sim que eram cristais valiosos. As peças de água-marinha foram entregues a um senhor que se chamava “Lira”, coletor de impostos em Várzea Alegre, que as levou à cidade de Teófilo Otoni para serem comerciadas. Quando o portador chegou ao destino, a mercadoria foi apreendida pelo fisco de Minas Gerais por falta de documentação apropriada. Retornou para providenciar os recursos necessários à liquidação do débito com o fisco de Minas Gerais, mas chegando a Itarana, na época Figueira de Santa Joana, foi acometido de um mal súbito que o levou à morte. Ninguém mais teve qualquer notícia desses minerais nem do seu paradeiro. Nessa lavra, trabalharam os irmãos Alberto, Felício e Sebastião Pivetta e, ainda, Espírito Ribeiro, pai de um dos tradicionais garimpeiros de Várzea Alegre, Alberto Ribeiro, mais conhecido pelo apelido de “Fuinha”. Sebastião Pivetta, pai de Gervásio, e Ângelo Pivetta abateram uma grande árvore na mata de propriedade de familiares de Vitório Roccon, seus vizinhos, destinada a uma almanjarra de engenho de cana que seria acionado por juntas de bois. Verificaram que o solo onde a árvore caíra estava repleto de cristais azuis de água-marinha, muita mica e outras espécies de cristais. Essa jazida foi descoberta em 1938, lavrada, depois, por seguidos anos até os dias atuais. Nesse ritmo de trabalho, e nessa continuidade, a exploração poderá estender-se, ainda, por mais de um século. Depois de quase que esquecidas as lavras, Gervásio conta que se dedicou a outras atividades, trabalhando ora na agricultura, ora na fábrica de telhas da família e como balconista na loja comercial de propriedade de Odilon de Souza Barbosa, de 1954 a 1959. A seguir gerenciou uma serraria que montara na extremidade da vila, na saída em direção a São Paulo do Rio Perdido. Vendida essa serraria, transferiu-se para Vitória, trabalhando na loja “Bandeirantes Móveis”. A partir de 1957, seus primos Hugo França, Martinho, Luiz (Ivo), Mário, Acrísio e Guilhermino Zanotti descobriram uma jazida no alto de uma montanha na cabeceira de terras da família, como contam Gervásio e seus parentes, de onde foram retirados cristais valiosos de água marinha que lhes renderam grande riqueza, exacerbando-se a influência do povo da localidade pelo assunto, histórias que não se encerrariam aí. Na década de 60, ocorreu a descoberta da lavra de João Neiva. Antes, com outros garimpeiros, esteve trabalhando na localidade do Rio Pretinho e Córrego Azul, Minas Gerais, bem próximos à divisa com o Espírito Santo, numa jazida que produziu numerosa quantidade de água-marinha, com exemplares pesando de 2 a 12 quilogramas ou mais. Em Várzea Alegre, a partir de 1963, conta Gervásio que seus irmãos descobriram num local, ainda em mata virgem, cristais de água-marinha em prismas finos, mas de coloração forte e muitas escórias. Ali atuaram também seus irmãos Gercino e Geraldo Pivetta e tiveram a participação de Bernardino Corona. Em 1964, na mesma direção da lavra no terreno do Sebastião Pivetta, na propriedade rural de Hermógenes Freire do Rosário, descobriram um local onde a produção atingiu quantidade superior a 20 quilogramas entre cristais de água-marinha diáfanos e exemplares escórias e estas não comerciáveis à época. Dessa lavra participaram Geraldo, Gercino, Gumercino Pivetta (Lico), os irmãos Pedro e José Erler e os filhos de Hermógenes, Waldir e Waltedir Freire do Rosário. Essa mesma turma que havia trabalhado na propriedade de Hermógenes, atuando agora na sua propriedade, descobriu uma jazida que, quando lavrada, produziu mais de 30 quilogramas de cristais de brasilianita, conforme conta Gervásio, exibindo uma peça, ainda em seu poder, com 300 gramas, cuja foto anexo a este texto. Acrescentou que depois a turma
86 abandonou esse garimpo, onde trabalhou a sós, conseguindo retirar oito quilogramas da mesma espécie de cristal e, assim, a jazida se exauriu. Ainda no mesmo ano, integrando uma turma mantida por Acrísio Zanotti, trabalhou numa baixada no Toma Vento nas proximidades de Igreja de Santa Luzia, onde encontraram grande quantidade de escórias de água-marinha com pequeno aproveitamento e várias peças de cristais de quartzo hialino em blocos de dois a cinco quilogramas. Em 1965, Gervásio trabalhava com seus primos Acrísio, Guilhermino e Hugo França Zanotti. Também participavam da mesma turma, os garimpeiros Silvino e Reinaldo Loss, Renilton Roccon e Jair Fanti. Todos eles juntos trabalharam naquela jazida que ficou conhecida como a “Lavra do maciço rochoso do Toma Vento”, de onde extraíram mais de vinte quilogramas dos mais corados e diáfanos cristais de água-marinha. Em 1966 participou da lavra do Rabo de Tatu, na mesma época em que lavravam uma jazida de ametista no Toma Vento, nas terras dos irmãos Luiz, França e Martinho Zanotti. A turma era composta pelo próprio Gervásio, Silvino Loss, Jair Fanti, Paulinho Seibert e Antônio Lino. Houve ali a produção de duzentos quilogramas de ametistas devidamente beneficiadas, puras e lapidáveis como gemas. Na lavra do Rabo de Tatu, essa mesma equipe retirou exatamente 28 quilogramas de água-marinha de relativo grau de diafaneidade e coloração. Como conta, 1967 foi o ano da “Ferruginha”, lavra de crisoberilo olho-de-gato localizada na região de São João Pequeno, município de Colatina. Em 1968, em João Neiva, integrou a turma de França Zanotti, que contava com a presença de Geraldo de Barros Vilela (cozinheiro) e dos tradicionais garimpeiros da equipe. De 1969 a 1973, período de recesso no garimpo, trabalhou numa oficina mecânica em Campo Grande, Cariacica, junto com Bonifácio Venturini e seus primos Eufrásio e Odorico Pivetta. Em 1974 houve um incidente que guarda na memória: juntamente com Jair Fanti e outras pessoas de Várzea Alegre, participou da invasão de uma lavra na localidade de Água Suja, município de Santa Maria de Jetibá, região do rio Possemozer e foi detido com os demais, sendo-lhe subtraídos bens pessoais como anel de ouro com uma gema que portava no dedo, dinheiro, ferramentas e todos os pertences da barraca, inclusive os suprimentos alimentícios. De 1975 em diante passou a integrar a turma de Hilton Corteletti, juntamente com Clementino Scotar, Orlando Corteletti, Gelcemir Roccon, passando doravante a exercer as tarefas de cozinha. Trabalharam em várias lavras cujas principais foram as de João Neiva, de Pancas, do Rio Pontes, de São João Grande, de Muqui e muitas outras. Nem mesmo o cansaço natural da idade impediu a sua continuidade no garimpo, encontrando-se em plena atividade e na melhor forma física ainda na atualidade, como diz. Informes de Baunílio Rossi (ou Ermiton Rossi)
Imagem 029 Fotografia feita pelo autor em 2007.
Baunílio é natural de Barracão de Baunilha, município de Colatina, estado do Espírito Santo, ele atuou em atividades rurais, no regime de economia familiar, até dezessete anos de idade, quando se mudou para Santa Teresa para ser comerciante, adquirindo o tradicional “Bar Central”, situado numa das principais ruas do centro da cidade.
87 Encerrou sua atividade no comércio e iniciou-se no garimpo, trabalhando em diversas lavras no Estado, devidamente matriculado como autônomo e sindicalizado. Teve como companheiros Adão Lorenzoni, os “Gomes”, Luciano Lírio e Adovires Zucolotto. Costumava adquirir amostras de quartzo hialino, cristal fumé (morion), água-marinha e andaluzita, de garimpeiros ilegais que as retiravam às escondidas na reserva florestal de Lombardia. Oswaldo Coutinho foi um dos pioneiros na exploração das jazidas de andaluzita em Alto Santo Antônio, localizadas na direção de Lombardia e de Goiapaba-Açu, na propriedade de Júlio Croce. Atuava, também ali, Hermes Croce, que conseguia achar muito cristal de quartzo hialino, água-marinha, além da andaluzita, é claro. Continua Baunílio, citando o caso de Germaninho e um irmão, que acharam uma grande quantidade de andaluzita dentro de uma galeria subterrânea que escavaram num pegmatito localizado em Alto Tabocas, consistentes de vários sacos cheios desse mineral, alcançando 20 kg de cristais de andaluzita com elevado teor de diafaneidade e comerciáveis. Em Santa Teresa, além de andaluzita, cristais de quartzo hialino, ametista e águamarinha, foram achados cristais de crisoberilo olho-de-gato, como foi o caso de uma jazida próxima ao centro de Santa Teresa, nas terras de Rocco Corteletti. Nesse depósito foram encontrados cristais de andaluzita de qualidade excepcional e crisoberilo olho-de-gato em peças com 25 gramas ou mais, conta Baunílio. As jazidas de andaluzita nas adjacências de Santa Teresa são frequentes e essa que foi explorada pela família Corteletti, nas proximidades do perímetro urbano dessa cidade. Esses minerais provêm de um pegmatito que adentra pela montanha adjacente, que tem no seu ponto mais alto a montanha do Papaçu com exatos 975 metros acima do nível do mar. Uma grande matriz de crisoberilo está localizada num pegmatito na localidade de Tancredo, município de São Roque do Canaã, na propriedade da família Luchi, fato confirmado agora e conhecido por mim há muito anos, como me contava um antigo fiscal municipal de nome Eliseu Espíndula. Nessa lavra, cristais de água marinha foram retirados do interior de grandes peças de quartzo da variedade rosa, cristais de crisoberilo eram profusamente encontrados junto à mica contida nesse pegmatito e eram atiradas no desmonte junto a outros rejeitos. Grandes jazidas de cristal de quartzo nas variedades hialino, fumé e ametista foram descobertas antigamente se localizaram na Serra do Gelo e numa lavra nas terras pertencentes à família Pissaia, em Alto Caldeirão. Nesses eventos de garimpo houve a efetiva participação dos irmãos Lorenzoni, dos Magdalon, de José Cristal, dos Hortolani e, antigamente, de um garimpeiro conhecido como Pedro de Andrade. Na lavra dos “Pissaia”, onde a produção de cristal atingiu algumas toneladas, era comum se ver peças com alto teor de diafaneidade, pesando de 20 a 100 kg ou mais, todas absolutamente perfeitas. Compradores minerais que circulavam por essa região foram Camilo Beltrame, Argeo Lorenzoni (advogado atuante em Santa Teresa), Joaquim Vaz, José Gomes, José Pretinho, Dumond Jório, Roberto Jório, José Abud, Saide Abud, Abido Jalil, Oto, Esmar e Ângelo Contarato, da “Fioretto”; Nozoh, também lapidador, e Tadeu, estabelecido com uma loja de gemas e joias no Hotel SENAC, em Vitória, ES, tudo relatou Baunílio. Ivo Zanotti e suas participações nos garimpos
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Imagem 030. Fotografia tomada pelo autor em 2007.
É mais conhecido, como Luiz Zanotti. Nasceu em 1927, em Várzea Alegre, Santa Teresa, ES. É o remanescente ainda vivo dos irmãos Hugo França, Martinho e Mário, todos os filhos de Antônio Zanotti e de Giacomina Loss. Luiz, como conta, teve participação ativa na lavra que foi denominada “Lavra dos Zanotti”, no período compreendido entre 1957 a 1960, desde que sua sobrinha Olga Fanti achou o primeiro pedaço de cristal de água-marinha, ocasionalmente, quando recolhia as vacas de leite e bezerros, passando pelo local onde mais tarde seriam encontrados os famosos cristais pela família Zanotti. Conta, também, que morou muitos anos, desde que se casou, no Alto do Toma Vento, cuidando do plantio, formação, trato de lavouras e colheita de café. Participou, também, juntamente com uma turma de garimpeiros, nas lavras do rio Pretinho, João Neiva e São João Grande. Viu muitos minerais-gema extraídos nessas lavras, tanto por seu pessoal como por garimpeiros oriundos de outras regiões do estado e de estados limítrofes. Apesar de sentir o peso dos tempos, continua ainda com muito ânimo para explorar novas jazidas, exibindo alguns exemplares de cristais de água-marinha anédricos, mas de coloração muito forte, que diz serem procedentes de um pegmatito encaixado numa rocha onde antigamente pessoas da família “Da Ora” conseguiram retirar cristais de altíssimo valor. Quando o assunto é lavras e minerais-gema, como ocorre com todos os apreciadores desses assuntos, também Ivo Zanotti tem o mesmo comportamento emocional: fica visivelmente mais alegre, abre um sorriso de orelha a orelha, demonstra muito entusiasmo, mostra um brilho vítreo nos olhos como se refletisse a beleza dos cristais de que está a falar. Há mesmo uma transfiguração que demonstra um sentimento de intensa felicidade.
Felisberto Magdalon conta como foi sua atividade no garimpo Felisberto Magdalon, garimpeiro, mas também agricultor, ao qual já me referi como um dos que compôs minha turma de garimpeiros, nasceu em 1933, em Alto Caldeirão, município de Santa Teresa, onde viveu com seus pais, participando das atividades agrícolas como faziam os demais componentes da família, até três anos após seu casamento. O primeiro contato com o garimpo ocorreu em 1943, com escavações aos sábados nos garimpos situados na vizinhança. Ele sempre trazia para o seu pai cristais de quartzo das variedades morion e hialino, a quem vendia, sendo o pagamento automaticamente transferido para os encargos do sustento da numerosa família a que pertencia. Durante os demais dias da semana, exceto aos domingos, participavam da lida diária do duro trabalho na roça, tanto as crianças quanto todos os adultos, incluindo nestes homens e mulheres. Com o costume de garimpar, ele e seus irmãos fizeram a primeira experiência nos limites das terras agrícolas da família, próximo de uma nascente de água cristalina e gelada que ficava a alguns metros da residência, ao lado de uma estrada antiga procedente de Várzea Alegre, por onde trafegavam cavaleiros e pedestres. Escavado um pequeno e pouco profundo buraco neste local, encontraram cristais de quartzo hialino comerciáveis. Carlos Magdalon, seu pai, era um grande apreciador de lavras e garimpos e costumava comerciar cristais encontradas
89 por garimpeiros, adquirindo e repassando-os aos comerciantes vindos das cidades de Teófilo Otoni, Governador Valadares-MG e do Rio de Janeiro, na época em que esta metrópole era a Capital da República. Para dar continuidade a esse garimpo nas propriedades da família Magdalon, Felisberto conta que seu pai convidou pessoas vizinhas, entre as quais se lembra de Jerônimo Daleprani trabalhando ali como garimpeiro. Nesse local foram inúmeras as peças de cristal encontradas, algumas das quais com peso em torno de dez quilogramas, fatos registrados em 1945. Terminada a exploração da lavra próxima da residência, como já haviam adquirido alguma experiência, passaram, com o apoio do pai, a garimpar em outros locais ainda nas proximidades, como no Alto Limoeiro, na propriedade do senhor Paulo Pissaia e na Serra do Gelo e outras mais, encontrando sempre peças de quartzo que seu pai vendia aos irmãos Argeo e Paulo Lorenzoni, ao Camilo Beltrame e a um senhor conhecido pelo nome de Giacomim. Esses eram alguns dos compradores de cristais residentes e estabelecidos no município de Santa Teresa que absorviam a produção de quartzo produzida então na região que compreendia, além de Santa Teresa, os municípios limítrofes de Itaguaçu, Afonso Cláudio e Santa Leopoldina. Ouvia-se dizer que os cristais que eram produzidos durante o período da Segunda Guerra mundial eram utilizados como matéria-prima para a produção de artefatos de natureza estratégica, tais como lentes especiais de instrumentos de ótica. Conta Felisberto que, tanto ele quanto seus irmãos e outros garimpeiros da época não abandonavam as tarefas agrícolas de onde vinha a produção de bens de consumo necessários à subsistência. Tanto a produção agrícola quanto a mineral alcançada nos garimpos se complementavam na renda destinada à manutenção das despesas de custeio das famílias em geral. Na Serra do “Caratinga” 26, situada no limite dos municípios de Santa Teresa e Itarana, no Alto Limoeiro e adjacente à rodovia que liga Alto Caldeirão a Itaguaçu, Felisberto trabalhou numa lavra de cristal e lembra-se de que um antigo morador local, Fortunato Furlan, encontrou uma ametista pesando vários quilogramas e de qualidade perfeita. Comentam que essa peça encontra-se exposta num importante museu da Europa. Esse mesmo indivíduo retirou também nesse local um cristal hialino com mais de 1.000 quilogramas que foi todo quebrado a golpes de pesadas marretas à procura de algum diamante que pudesse estar alojado no seu interior. Sua ingenuidade fazia-o crer nisso. Da família Magdalon os garimpeiros que pertenciam ao grupo liderado por Felisberto eram Pascoal, Hermes e Floriano. A produção dessa turma era entregue ao pai, Carlos, que promovia o comércio. Os demais irmãos, Vitalino e Antônio, foram para o garimpo na mesma época, porém trabalhando por sua conta e risco. A Grande Lavra do Rio das Pedras ocorreu quando, como conta Felisberto, já estava casado há uns cinco anos e tinha, portanto, 27 anos. Esse fato se deu em 1959, época em que trabalhava junto com seu irmão Floriano e Salvador Pissaia. Vendo que a jazida era muito produtiva convidaram para compor a turma seus outros irmãos, Pascoal, Hermes, Vitalino e Nico Magdalon; Xisto Pissaia; os irmãos Sálvio e Valentim Furlan. Nessa lavra houve uma 26 “Serra do Caratinga” originou-se de uma lenda contada a respeito de uma localização nas proximidades do limite entre os municípios de Itarana e Santa Teresa. Ali foi assassinado um viajante que comercializava produtos trazidos de Minas Gerais, especialmente da localidade de Caratinga, sua terra natal. Estaria ele de posse de alta soma de dinheiro que recebera naquela viagem e, por essa razão, foi vítima de latrocínio. Vieram parentes à sua procura e a polícia, depois de investigações, o localizou enterrado em cova rasa, no alto da serra. Quanto ao corpo do viajante, ao ser exumado, percebeu-se que o dinheiro que portava estava escondido dentro das suas botas, tal como fora enterrado. Daí o local até hoje ser conhecido como “Serra do Caratinga”.
90 produção de grande quantidade de cristal morion de excelente qualidade, num total de mais de vinte toneladas durante um período de quatros anos ininterruptos. Todos os dias, sem exceção, extraíam-se novos cristais. Nesse garimpo, a cada participante coube uma parcela de Cr$ 1.000.000,00 (um milhão de cruzeiros), segundo os padrões monetários da época. Se tivessem aplicado os recursos de ganhos oriundos da lavra na compra de terras, os irmãos Magdalon poderiam ter adquirido grandes extensões das melhores propriedades da região. Ofertas não faltaram, como foi o caso da propriedade de Augusto Taufner, que lhes propunha vender metade das suas terras em Várzea Alegre pela quantia de Cr$ 1.600.000,00 (um milhão e seiscentos mil cruzeiros), em 1962. Foi-lhes também oferecida a propriedade de Jerônimo Daleprani no valor de Cr$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil cruzeiros). Todas essas propriedades e muitas outras juntas poderiam ter adquirido se houvesse unanimidade nos propósitos. Com o passar do tempo a moeda desvalorizou e os recursos foram pouco e pouco se exaurindo, nada compraram, e praticamente todos foram trabalhar como meeiros nas lavouras de café, cereais e hortaliças, conta Felisberto. Em 1967 foi novamente época de retorno às lavras, dessa vez numa jazida de cristal morion em Goiapaba-Açu. Além de alguns poucos blocos de cristal, encontraram, também, uma amostra de água-marinha de apenas dez gramas. Nessa lavra praticamente tudo o que se produziu não foi o suficiente para a cobertura dos custos e ainda tiveram grandes gastos com graves problemas de saúde na família, tudo agravado devido às dificuldades financeiras com que se defrontavam. Paralelamente, todos os garimpeiros da família Magdalon, além das atividades de mineração, cuidavam dos trabalhos na agricultura em regime familiar. Em 1976, Felisberto Magdalon e todos os membros da sua família, esposa e filhos, mudaram-se para Várzea Alegre, para dedicar-se exclusivamente aos trabalhos na agricultura no plantio de hortaliças. Felisberto e sua família continuam dedicados à atividade rural até a atualidade, embora não tenha abandonado definitivamente o garimpo. Sempre que tem uma oportunidade volta a cavar uma lavra, não como naqueles tempos em que o vigor da mocidade e a saúde eram aptidões indispensáveis ao pesado trabalho do garimpo. Jair Fanti e seus comentários
Imagem 031 Fotografia feita pelo autor em 2007.
Jair Fanti nasceu em 1942 em Várzea Alegre, Santa Teresa-ES. Dedicou-se primeiramente aos estudos no Seminário dos Padres Capuchinhos em Santa Teresa, onde concluiu o antigo curso ginasial, adquirindo aí bons conhecimentos e uma escolaridade satisfatória para a época. Filho de agricultores, quando encerrou seus estudos no seminário retornou à sua origem, morando com sua mãe e irmãs na casa dos seus tios e avós. Ali se dedicou às atividades rurais dos seus parentes, dirigindo veículos automotores, e a trabalhar com máquinas agrícolas
91 que foram adquiridas em grande variedade, com recursos oriundos do resultado financeiro obtido com a venda dos valiosos cristais de água-marinha provenientes da “lavra dos Zanotti”, como ficou conhecido esse garimpo. Assim, como conta Jair, abandonou os estudos e dedicouse definitivamente às atividades da família. Conta que seu primeiro contato com o garimpo ocorreu em 1963 na lavra de João Neiva. Essa experiência não duraria muito, pois estudava para fazer provas para concursos do Banco do Brasil e do Serviço Público Federal. Em 1964, com o advento do movimento revolucionário que implantaria no Brasil um governo de sucessivas ditaduras militares, esses concursos foram cancelados e caíram em total esquecimento. Então se dedicou definitivamente às atividades rurais, acompanhando seus tios França, Luiz, Martinho e Mário Zanotti, realizando plantios de milho, arroz, feijão e cuidando da cultura de café, operando tratores e máquinas de beneficiamento de café e de milho. Após algum tempo, e sob a influência do garimpo que sempre existiu em Várzea Alegre até os dias atuais, ingressou como garimpeiro numa turma mantida por seu tio, Hugo França Zanotti. Em Várzea Alegre, suas principais participações foram na “Lavra do maciço rochoso do Toma Vento”, numa lavra de ametista localizada numa propriedade da família Zanotti e na “Lavra do Rabo de Tatu”, todas localizadas na Serra do Toma Vento. Nesses garimpos tinha como companheiros Manoel Lino, Geraldo de Barros Vilela, os irmãos Silvino e Reinaldo Loss e, ainda, Gervásio Pivetta e Paulinho Seibert. Fora de Várzea Alegre, trabalhou na lavra do Rio Pretinho, na “Lavra do Gambá”, na Pedra Agulha, São João Grande e São João Pequeno. Nessas duas últimas, a principal gema ali encontrada foi o crisoberilo olho-de-gato, em eventos ocorridos após 1972. Atualmente é possível ver-se Jair Fanti operando antigos equipamentos de lapidação, efetuando a serragem, formação, corte e polimento de gemas, uma espécie de lazer ou um hobby para dar vazão às fantasias dos sonhos daqueles que tiveram experiências, às vezes ainda não resolvidas, a respeito de assuntos ligados às lavras e aos garimpos de minerais-gema.
Irmo Roberto Possatti e suas participações
Imagem 032 Fotografia feita pelo autor em 2007.
Irmo Roberto Possatti nasceu em 1943 em Alto Santa Júlia, município de Santa Teresa, hoje São Roque do Canaã. Ele conta que sua família vivia exclusivamente do trabalho na agricultura. Posteriormente residiram em Laranjal, Itaimbé, localidades situadas no município
92 de Itaguaçu e, finalmente, em Várzea Alegre, onde adquiriram uma propriedade agrícola de Hermes Croce, um dos famosos garimpeiros da região. Em Várzea Alegre, em 1955, a família Possatti cultivava uma pequena lavoura de café e cereais, tinha algumas vacas e uns poucos pequenos animais, dentre estes alguns porcos e algumas galinhas. Possuíam muares destinados ao transporte de cargas e de pessoas e de umas poucas vacas com bezerros. Era tudo o que faziam e o que possuíam. Nada mais que isso. Na entressafra, havia naturalmente períodos em que os trabalhos na roça tinham uma espécie de recesso, quando então se dedicavam às pesquisas de jazidas, coisa habitual na região e que ainda persiste. Passaram a se dedicar aos garimpos nos limites de suas terras bem como naquelas de vizinhos. Além de em sua propriedade, fizeram trabalhos de prospecção de lavras em terras das famílias Badke, Roccon, Vulpi e Bridi. Os primeiros cristais que conseguiram foram extraídos numa lavra ne propriedade de Expedito Bridi, situada no sopé da Pedra da Onça, terras hoje pertencentes a Tarcisio Antônio Demoner. Os cristais de ametista obtidas nesse garimpo foram vendidos por Cr$ 4.000.000,00 (quatro milhões de cruzeiros), padrão monetário vigente à época de 1965. Com os recursos obtidos, conta Irmo, fizeram a instalação de energia elétrica na propriedade, conectando-se a uma rede de distribuição procedente de Praça Oito, distrito pertencente ao município de Itarana. Conta Irmo que seus vizinhos Vulpi, Peroni, Erler, Venturini, Bridi, Demoner, Favoretti, Badke, Sbardelotti, Lucas, Simoura, Roccon se ocupavam igualmente da atividade garimpeira. Lembra que os irmãos Augusto e Henrique Badke costumavam manter garimpos na vizinhança, citando o caso de Adão Lagoa, garimpeiro que por muitos anos lavrou para a família Badke em garimpos situados nas suas terras e nas de vizinhos. Lembra especialmente de Alberto Venturini, que achou grande quantidade de cristais de água-marinha numa propriedade rural hoje pertencente aos seus sobrinhos Sergio e Ângelo Venturini. Alberto Venturini era uma daquelas pessoas de memória privilegiada, que contava inúmeras histórias das lavras da localidade, desde a da Pedra da Onça àquela da família Roccon, de quem ouvi inúmeros relatos, inclusive sobre uma jazida localizada em sua propriedade, de onde retirou mais de cinquenta quilogramas de água-marinha, cuja coloração era, como dizia, verde “cana” e que as teria vendido a um comerciante de gemas vindo de Teófilo Otoni, Minas Gerais. Alberto comentava assuntos baseados nos conhecimentos científicos da mineralogia. Ele era pessoa simples do interior, possuidor de pouca escolaridade, mas tinha o hábito da leitura, chegando a comentar coisas herméticas contidas nas histórias da bruxaria e da magia negra. Agora é Irmo que continua contando: na década de 1960, trabalhando numa lavra na propriedade da própria família, acharam muitos cristais de quartzo de hábito preservado, no formato de pirâmides hexagonais, um dos quais foi vendido por Cr$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil cruzeiros) e que se encontra exposto no Museu “Melo Leitão”, em Santa Teresa-ES. O fato ocorreu em 1960, quando o Presidente Juscelino Kubistchek estava transferindo a capital da República para a cidade de Brasília. Nessa época os garimpeiros eram os próprios irmãos Possatti, Geraldo, Alonso e Antônio. Tempos depois aderiram outros colaboradores: um de sobrenome Furlan, Hermenegildo Mattedi e Dionizio Roccon (que tinha o apelido de “Macaé”). Com essa turma, estiveram atuando em Pancas no Alto São José, onde encontraram uma água-marinha com cerca de 1,500 kg, com bastante aproveitamento, e que teria sido vendida por um valor próximo de 30 milhões de cruzeiros. Depois desse garimpo, retornaram a Várzea Alegre para cuidar das atividades agrícolas bem como das lavras localizadas nas propriedades da sua família. De 1967 a 1968, a turma mantida por Acrísio Zanotti explorou lavras existentes nessa propriedade dos Possatti, ocasião em que retiraram
93 longos prismas de água-marinha, finos e com pouca coloração, alguns dos quais ocos. Essas exemplares foram vendidas para colecionadores, contou. A maior quantidade de minerais-gema que esses membros da família Possatti conseguiram retirar foi numa lavra localizada na propriedade pertencente aos irmãos José e Orlando Vulpi. Nesse local, lembra que encontraram uma água-marinha constituída de um prisma com o comprimento de 180 centímetros. Quando retirada estilhaçou-se, tal como ocorre aos vidros temperados, restando da peça não mais que pequenas fragmentos e grande parte era apenas uma espécie de areia. Apesar de existirem muitas peças aproveitáveis, a maior parte fosse de estilhaços de um a cinco gramas, tudo foi comerciado como se fossem escórias, obtendo-se assim uma pequena soma de dinheiro por esse produto. Posteriormente à Lavra dos Zanotti, nas proximidades desse garimpo, em terras dos Possatti, existia um local onde eram encontrados pedaços de grandes prismas de água-marinha de excelente cor e diafaneidade. Essas amostras, embora não fosse grande sua quantidade, foram entregues a uma pessoa entendida no assunto para que promovesse o comércio. Foram levadas, não retornaram e nunca mais se teve notícias delas. Uma participação muito importante da turma dos Possatti ocorreu na lavra do Rio Pontes, município de Domingos Martins. Nesse local foi realizado um grande trabalho durante alguns meses. Pouco se obteve com a venda de cristais extraídos ali e o custo muito elevado para a manutenção do acampamento tornou esse empreendimento um evento em que contabilizaram apenas prejuízos. Atualmente Irmo não se ocupa mais do garimpo, dedicando-se ao negócio de prestação de serviços de reparos em veículos automotores. Há notícia de que seu irmão Alonso, proprietário daquelas terras que outrora pertenceram à família, continua de forma muito ativa nos garimpos localizados nas suas terras bem como de outros situados em Pedra Alegre e que nessa atividade a sorte lhe tem sido generosa. Guerino Bridi Filho e suas histórias Imagem 033 Fotografia registrada em 2007 pelo autor.
Famoso minerador em Itarana, popularmente conhecido na região como “Pequeno Bridi”, nasceu em Pedra Alegre, município de Santa Teresa, em 1937. Conta que era portador de uma enfermidade reumática nas articulações, o que o tornava incapacitado de participar das atividades agrícolas de onde seus pais obtinham a subsistência. Conhecia todos os habitantes da localidade, cuja maioria era de parentes, colegas de infância e vizinhos. Por não se dedicar às atividades laborais da família, podia ser encontrado ali nas proximidades da venda do Eduardo Degásperi, ponto de encontro obrigatório para os moradores e visitantes que chegassem ao local, próximo também da igreja de São Geraldo e do campo de futebol. Teve o primeiro contato com os minerais-gema quando Nozoh Antônio de Carvalho, um antigo lapidador de gemas, veio a Itarana e, como prestasse serviços a Otacílio Alves de Oliveira, o “Oto”, como era por todos conhecido, já se tornara famoso comprador de mineraisgema, sediado em Colatina. Nozoh localizou “Pequeno Bridi” para pedir-lhe informação sobre alguém que dispusesse de alguma amostra de cristal de berilo. Compraria e daria a “Pequeno”
94 uma comissão sobre o valor dos negócios que realizasse. A primeira transação ocorreu com a venda a Nozoh de um cristal de propriedade do “Mudo”, um garimpeiro faiscador que residia em Pedra Alegre e cujo prenome era Almerindo. Essa peça de água-marinha que vendeu a Nozoh era proveniente de achados que fazia peneirando aquelas terras onde foram encontradas os numerosos cristais de variedades de berilo na Lavra da Pedra da Onça, passando semanas inteiras revolvendo aquele terreno, tendo conseguido uma infinidade de fragmentos desses cristais. Por inúmeras vezes, “Pequeno” intermediou o comércio de cristais encontrados nas lavras de Pedra Alegre e adjacências. Esse conhecimento que adquiriu sobre os atributos dos minerais-gema, tais como diafaneidade, hábito cristalográfico, tonalidades das cores desses minerais, aquele que era apenas um intermediário começou também adquirindo, por conta própria, pequenos lotes de cristais de quartzo, ametista, citrino e variedades de berilo, nas lavras da localidade. No ramo de gemas e de cristais, “Bridi” foi tomando parte diretamente no duro trabalho do garimpo, usando todas as ferramentas apropriadas. Agora passaria a utilizar picaretas, pás e alavancas. O que mais fez foi controlar o martelo do compressor pneumático para fazer orifícios nas rochas graníticas e neles colocar explosivos para o seu desmonte. A participação no garimpo ocorreu em 1964 na lavra de Catarina Casagrande, situada no Triunfo, na encosta de uma montanha que fica adjacente à Pedra Alegre. Sua descoberta se deu na década de 1940 (talvez até antes), quando da lavra da Pedra da Onça, com a participação de Alexandre e Domingos De Martin, também presente um antigo e famoso garimpeiro da região, Manoel Cordeiro, conhecido como “Nequinha”. Encontraram muitos cristais de água-marinha com excelente diafaneidade, mas a maioria exibia coloração fraca, alternando-se com a minoria de coloração forte. Os pesos desses cristais chegavam, no máximo, a 100 gramas. Acrescentou Bridi que, excepcionalmente, no garimpo do “Nequinha” encontrou uma amostra de águamarinha pesando 28 quilogramas, dos quais 19 eram de aproveitamento gemológico com excelente pureza. Essa peça era apenas um segmento de um grande prisma, cujos restos teriam sido encontrados por outros garimpeiros. Caso semelhante ocorreu com Henrique Berger, que extraiu uma água-marinha com inclusões, pesando 22 quilogramas que, por muitas vezes, foi exibida por ocasião dos festejos na localidade. Como a anterior, essa amostra foi vendida para comerciantes de cristais e de gemas de Minas Gerais. Ainda segundo Bridi, João Zanotti era um partícipe ativo desse garimpo no Triunfo, na condição de comprador dos cristais que ali eram produzidas em profusão. Provavelmente algumas centenas de quilogramas deve ter atingido a produção dessa lavra. Pequeno Bridi tornou-se um profissional com tendência para a prospecção de cristais nos depósitos primários em pegmatitos encaixados nos rochedos graníticos, notoriamente nas montanhas pertencentes a Itarana e nas vertentes da cadeia que circunda Pedra Alegre e Itanhanga, onde alcançou a produção de algumas centenas de quilogramas de cristais de águamarinha. Conta que vendeu a um comerciante a quantia de 600 quilogramas desses cristais estilhaçados em pequenos fragmentos, que iam nada além de alguns gramas (de 1 a 5, no máximo cada unidade). Cristais maiores foram achados e comerciados há mais de trinta anos. Nosso relator vem, há mais de quarenta anos, exercendo a atividade de garimpeiro profissional. Teve a oportunidade de ver muitos minerais-gema tanto nos seus garimpos como nos de outrem. Primou sempre pela legalidade na profissão que escolheu como forma de subsistência, procurando comerciar os seus produtos devidamente cobertos pelos documentos fiscais de modo a recolher todos os tributos deles decorrentes, um exemplo a ser seguido. Hoje,
95 como informa, explora uma jazida de turmalinas verdes e outra de granito amarelo, em Conselheiro Pena-MG. Acrescenta, finalmente, que alguém lhe disse ter visto, numa edição antiga, com mais de trinta anos, de uma revista de nome “O Diamantário” 27, dirigida por José Fileu Burgos, publicação voltada para assuntos do garimpo, como preços de gemas e informes fiscais, uma nota sobre o volume de cristais exportadas pela Alfândega do Rio de Janeiro, com registro de oito toneladas procedentes da lavra da Pedra da Onça, situada em Itarana-ES. É evidente que tal informação, para ser considerada verídica, teria que ser comprovada por meio de provas materiais. Mas, raciocinando e usando informações sobre fatos e características do garimpo da Pedra da Onça, pode-se concluir que esse minério a que se refere a tal revista citada, poderia ser tomado presumivelmente como lotes de cristais de água-marinha e de quartzo hialino e suas variedades, ali produzidos às toneladas. Valmir Martin Vulpi presta importantes informações
Imagem 034 - Fotografia feita pelo autor em 2007.
Um profissional das gemas, Valmir Vulpi nasceu em Várzea Alegre, Santa Teresa, em 1962. Informa que, atualmente é profissional dedicado ao comércio de produtos das lavras, cuidando de minerais-gema, atuando em todo o estado do Espírito Santo, parte da Bahia e no Leste e Nordeste de Minas Gerais, adquirindo e beneficiando cristais de quartzo e escórias de cristais de ametista, morion e variedade de berilo para fins industriais em um depósito dotado de toda a infraestrutura, tais como máquinas e pessoal especialmente treinado. A primeira experiência com o garimpo, conta Valmir, foi no município de Laranja da Terra, na década de 1970, juntamente com o seu pai, José Vulpi, antigo proprietário rural, empresário de garimpos, comerciante. Esse garimpo localizava-se em propriedades rurais de descendentes de pomeranos de etnia germânica. Assim como é constituída a maior parcela da população dessa localidade. O maior e mais significativo achado ali foi um cristal de águamarinha de 362 gramas com excelente diafaneidade e coloração. Sabe que seu pai vendeu essa amostra por uma razoável quantia, de cujo total não se recorda, e também um grande lote de turmalinas pretas que conseguiram retirar nesse local, mineral de pouco valor, mas frequentemente presente nas jazidas do Espírito Santo. Esteve afastado do garimpo, pois se dedicou aos estudos em Barra de São Francisco e em Santa Teresa, internado no Seminário dos Padres Capuchinhos. Somente em 1990 iniciou efetivamente a atividade garimpeira quando constituiu uma turma de trabalhadores especialmente formada e às suas expensas para participar da exploração da jazida de 27 DOU 17/07/1945 - Pág. 26 - Seção 1 - Diário Oficial da União www.jusbrasil.com.br/.../dou-secao-1-17-07-1945-pg.-... De José Feliu Burgos, pedindo reconsideração do ato que negou registro revista "O Diamantário", desta capital. - Registre-se. (Proc. S. C. 10.032-43 e S.). I. P. (publicado no site google.com. br. Acesso em 24.10.2012). Isso confere credibilidade ao relato de Guerino Bridi Filho.
96 crisoberilo olho-de-gato na localidade de São João Grande, município de Colatina, localizada além da margem Norte do rio Doce. Nessa lavra encontrou cristais de crisoberilo olho-de-gato, muitos deles chegando a atingir o peso de 18 gramas, e uma infinidade de exemplares menores. Lembra-se de que um desses cristais foi comerciado por US$ 38.000,00 (trinta e oito mil dólares). Os principais garimpos de São João Grande eram localizados em propriedades da família Binda, especialmente dos irmãos Jafé e Volvoni. Essa lavra, apesar de redução da presença de garimpeiros, permanece ativamente explorada. Participou de outras lavras, mas a principal foi de uma localizada na propriedade do Tarcísio Demoner que fica próxima à Pedra da Onça, onde foi significativa a presença de ametista, fluorita28 e brasilianita29 num pegmatito que adentrava uma densa rocha granítica que era garimpada à custa de explosões de compostos nitrosos. Na propriedade de Robson Erler extraiu grandes blocos de cristal sob a forma de pirâmides hexagonais de rara beleza. Nas baixadas de Várzea Alegre, em depósitos aluviais, foram inúmeros os locais onde recolheram cristais rolados esféricos e ovalados, apenas ligeiramente diáfanos (translúcidos), servindo-se deles como matéria-prima para fins industriais. Finalizando, conta Valmir que participou efetivamente na exploração das jazidas de quartzo rosa na localidade de Jatibocas, município de Itarana, onde existem depósitos desse mineral em abundância não sendo rara a presença de blocos que apresentam o efeito ótico do asterismo.30 E, assim, Valmir continua exercendo sua atividade sempre com entusiasmo e dedicação. O garimpeiro Gilson Loss Filho de família ligada à agricultura, desde muito cedo se dedicou também ao garimpo, acumulando uma vasta experiência na atividade, ora integrando turmas de Valmir Vulpi, ora de outros, como a dos Possatti, a dos Zanotti, a dos Degásperi (com estes na localidade de Pedra Alegre), ou, ainda, exercendo atividade por conta própria principalmente em Várzea Alegre. Já conseguiu achar alguns de água-marinha, ametista e citrino, mas o seu sonho do grande “bamburrado” ainda não aconteceu. Com muita persistência, um dia talvez chegue lá. Braz Ferreira, profissional do garimpo Nasceu nas proximidades da Pedra da Onça, tendo, desde cedo, se iniciado nas atividades do garimpo por influência do meio onde residia sua família. Pode-se afirmar que era no meio de um grande garimpo. Ali havia vestígios de minerais-gema disseminados por toda parte. Praticamente toda a população das vizinhanças se intercalava no garimpo e nas atividades agrícolas, como sempre aconteceu. E com o Braz não foi diferente. Durante suas experiências encontrou cristais de água-marinha na lavra do Roccon, do Vulpi, Pedra Alegre, 28 Esses cristais, que se imaginava serem fluorita, apresentavam-se no formato de prismas hexagonais, hábito preservado em faces planas, coloração verde pouco intensa e pouca dureza (podiam ser facilmente riscados com quaisquer minerais ou ferramentas metálicas de corte). Por isso os cristais referidos não tiveram identificação, pois como e notório, a fluorita é encontrada no formato de cristais octaédricos e cúbicos. 29 Esses cristais, ditos brasilianita, apresentavam-se no formato típico desse mineral, com diafaneidade relativamente baixa, dureza pouco expressiva e cor verde amarelada. 30 Asterismo é um sinal gráfico luminoso em forma de estrela. É uma propriedade que têm de alguns cristais com inclusão de rutilo. (Sabe-se que o asterismo ocorre em gemas que possuem canalículos orientados paralelos ao eixo c do cristal, além de inclusões fibrosas e também de rutilo, ou seja, é um efeito óptico que ocorre devido a essas inclusões, e não somente em minerais que possuem inclusões de rutilo.
97 Viana, São João Grande e muitas outras. Atualmente se encontra em plena atividade na propriedade de Robson Erler e, a qualquer momento, como acredita, achará uma grande fortuna, Irmãos Alfeu (Preto) e Antonio Scottá no garimpo
Imagem 035 Fotografia registrada pelo autor, em 2007.
Posso afirmar que esses irmãos tiveram uma grande e expressiva participação no garimpo, notoriamente o primeiro que foi o início da formação do seu patrimônio atrelado às riquezas obtidas com os minerais-gema, especialmente os famosos cristais de água-marinha encontrados na lavra de João Neiva, ocasião em que foi achado um grande exemplar desse cristal. Durante aproximadamente dois anos junto com Clementino Scotar, seu primo, e outros, como Silvio Bieth, Ademir Cóser, Orlando Corteletti, Antônio Braz Possatti, estiveram presentes em vários garimpos no Espírito Santo e em Minas Gerais, nas vizinhanças de Itambacuri e de Teófilo Otoni. Quanto a Antônio Scottá, este foi meu sócio naquela famosa lavra do Rabo de Tatu, onde participou da retirada de uma quantidade razoável de cristais de água-marinha. Nessa lavra também participaram: Antônio Braz Possatti, Silvio Bieth, Fuinha, Santinho Cóser, Antônio Taufner (filho de Dário), Geraldo Scottá, Lourival Nunes, Zeca Cóser (irmão de Santinho), os irmãos Darcy e Geraldo Malavazzi, Narciso Taufner e vários filhos de José Vicente (Dário, David e Toti), Antônio Sperandio e outros que não são lembrados (ao todo éramos vinte sócios). Quando trabalhou em João Neiva, por alguns dias, esteve presente na lavra do Machado, local em que, além de uma grande quantidade de cristais de berilo anédricos, foi encontrada uma amostra de água-marinha com alto grau de diafaneidade e de excelente coloração. Também em Várzea Alegre teve participações em escavações nas propriedades da família de Guilherme Zanotti, Sebastião Pivetta e nas terras de Pedro Corteletti, onde trabalhava na agricultura no regime de parceria. Finalmente, é bom lembrar que participou ativamente nas invasões das lavras na localidade de Água Suja e nesta de Arlindo Zanotti, aqui em Várzea Alegre. O garimpeiro Antônio Braz Possatti
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Imagem 036 – Fotografia feita pelo autor, em 2007.
Garimpeiro de muitas jornadas. Sua iniciação no garimpo ocorreu quando participou conosco da lavra do Rabo de Tatu, depois se juntou à turma que era mantida por Hilton Corteletti, participando da extração de valiosos cristais na lavra de João Neiva, rio Pontes, Aracruz e Timbuí. Seus principais companheiros de garimpo foram Alfeu Scottá, Silvio Bieth, Ademir Cóser, Orlandinho Corteletti, Clementino Scotar e de outros mais de quem não se recorda. Conseguiu retirar cristais na lavra do Rabo de Tatu, na de João Neiva e na de Timbuí, delas obtendo os recursos iniciais do seu atual patrimônio. Tudo o que diz está devidamente testemunhado nos depoimentos de seus companheiros.
Hilton José Corteletti empresário de garimpos
Imagem 037 Fotografia registrada pelo autor, em 2007.
Empresário do garimpo que teve muitas participações numa quantidade numerosa de lavras, no início como simples garimpeiro em 1959, numa lavra nas terras de João Roccon em Itanhanga, onde também eu tive uma modesta participação na condição de cozinheiro da turma que era composta, além de nós, por Orlando Caliari e Alberto Merlo. Mais tarde continuou como empresário de uma turma, com a participação de Alfeu Scottá, Ademir Cóser, Clementino Scotar e um primo seu de nome Ildes dos Passos, primeiramente em Jatibocas, depois em Lombardia, ocasião em que a turma se dispersou. Nova tentativa empreendeu na lavra de João Neiva tendo como garimpeiros Clementino Scotar, Silvio Bieth, Ademir Cóser, depois Antônio Braz Possatti e Alfeu Scottá, este na condição de cozinheiro. Desta vez e de outras, conseguiram esses garimpeiros extrair grandes e valiosas amostras de água-marinha, trazendo aos partícipes excelente compensação financeira, e aí não parou mais. Atualmente é empresário sócio da turma de Clementino Scotar, fazendo prospecções com o uso de sofisticado maquinário de terraplanagem e escavação.
Alarico Barcelos garimpando em Fundão Natural de Alto Santa Júlia, município de São Roque do Canaã, proprietário rural, foi delegado de Polícia em Fundão, onde exerceu outras atividades. Foi um dos famosos
99 garimpeiros na antiga “lavra do Oséias”, nas baixadas da propriedade de Manoel Bibiano, onde encontrou muitos exemplares de cristais de quartzo hialino e de água-marinha. Atuou também nessa atividade na lavra de João Neiva e em outras na mesma região. Acrísio Zanotti, garimpeiro tornado empresário Concluindo este longo e talvez mais difícil capítulo deste livro, presto minha homenagem a Acrísio Zanotti, um especialista na descoberta de jazidas. Nasceu em Várzea Alegre, em 1922.
Imagem 038 - Fotografia cedida por sua filha Sônia Zanotti, em 2007.
Dos profissionais e amadores dedicados ao garimpo jamais encontrei alguém com tamanha intuição sobre os exatos locais onde deveriam ser encontrados os minerais-gema. Foi ele quem me ensinou como identificar os sinais existentes nos pegmatitos, a que direção seguir, tipos de massa, de quartzo e mica que acompanham cada tipo cristal de quartzo e variedades, como ametista citrino morion e das variedades do berilo, tais como água-marinha, berilo verde, heliodoro e morganita. Como deve ser observado para se localizar os depósitos secundários nas aluviões e derrames provenientes das erupções originárias das matrizes (coluviões). Ensinou-me também os sinais existentes nos rochedos que indicam nos pegmatitos a possibilidade da existência de minerais-gema. Inúmeras jazidas foram descobertas por Acrísio. Ele tinha mesmo, — além dos conhecimentos de natureza empírica —, intuições, que lhe garantiram muitas descobertas de jazidas com depósitos dos mais variados tipos de cristal, sempre confirmando suas suspeitas. A partir de 1957, e enquanto esteve em atividade, Acrísio Zanotti participou inicialmente da “lavra dos Zanotti” e aí não parou mais, como assinalo em vários locais destes textos. Um informante anônimo, mas valioso Nas pesquisas a que procedi, quando juntava dados para compor este livro, encontrei um informante que julguei ser bom conhecedor do tema, mas que me pediu para ficar no anonimato. Eu o encontrei na Praça do Centro da Praia em companhia de Florício Bassani e do comerciante de gemas e joias Joel da Silva, proprietário da loja “Pedra Brasileira”31, instalada numa galeria do centro comercial citado acima.
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“Pedra Brasileira” é um estabelecimento comercial especializado em joias e gemas de cristais extraídos no Espírito Santo, onde o autor registrou fotograficamente alguns desses produtos.
100 Informou que nasceu em 1923, em Teófilo Otoni-MG. Foi lapidador, garimpeiro, contador, hoje aposentado como funcionário do DNER. É de ascendência italiana e alemã. Iniciou-se profissionalmente em Belo Horizonte, onde era especialista em lapidação de diamantes. Conta que em 1944, época em que era lapidador em Teófilo Otoni, tinha como amigo Gustavo Azevedo, para quem lapidou muitas das gemas procedentes do garimpo que havia extraído na lavra da Pedra da Onça. Lembra-se de que Gustavo Azevedo tinha um companheiro, um senhor negro que era considerado como membro da família, de nome Hermelindo, sendo também sócio nos cristais que conseguiram auferir na lavra da Pedra da Onça. Segundo disse, ele viu muitos desses cristais que os membros da família Azevedo obtiveram em garimpos do Espírito Santo. Conta, também, que viu quando um vigarista tentou roubar pertences do seu amigo Gustavo. O trapaceiro dizia ser um homem rico e pertencer a uma influente família paulista, o que o tornaria imune a qualquer prisão. Ainda assim, mesmo com todos esses argumentos, foi o meliante preso em flagrante. Nada mais ficou sabendo a respeito desse indivíduo que, por certo, deveria ser dono de uma extensa ficha criminal. Referiu-se à sua participação em uma lavra de água-marinha em Santa Maria de Jetibá nos anos de 1977 a 1978, onde retirou apenas um pequeno exemplar desse derivado do berilo de coloração azul esverdeado, imitando a cor da água do mar, como conta, referindo-se também à lavra descoberta em 1949 em Nova Venécia, quando este ainda era distrito do município de São Mateus. A jazida localizava-se nas propriedades da família Santos Neves, ou seja, dos parentes destes, Gustavo Neves, Cidinha Neves e outra pessoa de quem não lembra o nome. Participou de uma turma de garimpeiros nessa lavra e, como era muito distante de Teófilo Otoni, mantinha a equipe sob o comando de um trabalhador que lhe provou a mais pura lealdade. Quando acharam um cristal valioso e este o vendeu e lhe telegrafou comunicando que sua parte do dinheiro da venda encontrava-se à sua disposição.
CAPÍTULO 4 COMPLEMENTANDO... DESCONFIANÇA E REALIDADE Peculiaridades Reinam no ambiente do garimpo coisas curiosas. A desconfiança é generalizada, praticamente entre todos. Os garimpeiros não costumam confiar em seus próprios colegas. Têm receio de que nem todos mostrem os produtos achados e que no comércio haja conchavos com os compradores, em que seriam os valores da venda subfaturados com consequentes pagamentos paralelos. Às vezes esse tipo de desconfiança não tem procedência. Há outros que confiam plenamente em todos e, na verdade, são enganados por alguns ou por todos. Os financiadores do garimpo, chamados de sócios capitalistas, por sua vez, têm dúvidas, muitas vezes, quanto à honestidade dos trabalhadores patrocinados. Acontece um problema que leva todos a crer que não há mesmo lisura nesse tipo de negócio. Para evitar o pagamento dos tributos, os minerais prospectados de forma clandestina em muito interessam aos contrabandistas, já que a lei do silêncio que impera em comércios
101 escusos favorece a existência de preços vis, sonegação das taxas devidas aos proprietários do solo das minas e a sonegação dos tributos devidos ao erário público. Os produtos comerciados, desacompanhados dos documentos fiscais, podem mascarar a origem das fontes de produção. Minerais produzidos aqui no estado do Espírito Santo podem ser rotulados como que produzidos em Minas Gerais, por exemplo. Também podem ser atribuídos como originários de outros países, conforme foi propalado na imprensa que o Uruguai, durante a extração de ouro em grande profusão na mina de Serra Pelada, foi um expressivo exportador desse mineral. Toda a desconfiança existente na atividade, às vezes, leva companheiros de trabalho e sócios no garimpo a tornarem-se desafetos, não sendo rara a deflagração de atos hostis em contendas capazes do cometimento de atos violentos chegando aos assassinatos de colegas de trabalho, parentes e sócios. E isso não é coisa rara. Bastante que se conheçam os relatos feitos às vezes confidencialmente, por gente do garimpo. Diante de todas as situações negativas há uma, subjetivamente entendida: pode-se afirmar que há uma maldição no garimpo, que tem a capacidade de tornarem-se as pessoas dotadas de ganância, inveja e da maledicência, contrapondo-se às virtudes que, se aliadas à consecução das fortunas, seriam saudáveis à honestidade, amizade, a concórdia e o respeito por todos os valores humanos, inclusive tomando os devidos cuidados para com a natureza, o grande bem aliado da sustentabilidade ambiental. Outro fator negativo consiste na riqueza obtida facilmente. Do mesmo modo que chegou, esvai-se celeremente. Mas, o garimpo quando executado isento das ambições, da ganância e com os objetivos de trazer das entranhas da terra aquilo que foi criado aleatoriamente e com toda a beleza, cuja autoria somente pode ser atribuída a algo superior. Outros aspectos dos garimpos Nos garimpos instalados em localidades distantes é necessária a utilização de meio de transporte apropriado, conforme as características físicas do terreno. Onde existam vias acessíveis a veículos automotores, estes são utilizados, mas, nas encostas íngremes ainda não dotadas de estradas de rodagem, torna-se necessário muitas vezes o uso de animais de carga, como muares e equinos. Quando no local do garimpo não existe casa disponível, fazem-se abrigos cobertos de lonas sobre armações de madeira muitas vezes extraídas das matas, tais como troncos de árvores, bambus e folhas de palmeiras para a cobertura. Houve época em que os acampamentos eram na realidade constituídos de toscas palhoças, cercadas com troncos de árvores e até as camas eram feitas com peças de madeira ao natural e as tarimbas guarnecidas com esteiras de taboa tecida usadas como se fossem colchões. Nessa época faziam-se fogões a lenha com materiais obtidos no local, como fragmentos rochosos e massa de argila natural. Atualmente, mesmo que no local não haja casa edificada, usa-se fazer barracos estruturados, fechados com madeiras serradas e cobertos com lonas plásticas ou até de telhas de fibrocimento32. As cozinhas de agora são equipadas com fogões a gás e, não raro, usa-se energia elétrica para iluminação e acionamento de aparelhos eletrodomésticos. As ferramentas usadas nos garimpos manuais continuam sendo como antigamente, constituídas de picaretas, pás, carrinhos de mão, alavancas, enxadas e enxadões. Quando o terreno permite, são utilizados máquinas e equipamentos de terraplanagem, como trator de esteira, escavadeira, pá carregadeira e outros. 32 Material de construção resultante de uma mistura íntima de cimento e asbesto.
102 No caso de desmonte de rochas de quartzo ou graníticas, quando a ação é desenvolvida manualmente usam-se ferramentas tais como marretas e brocas manuais. No caso de o trabalho ser mecanizado utilizam-se perfuratrizes acionadas por compressores pneumáticos e, em ambas as situações, empregam-se explosivos como nitroglicerina e pólvora. Antigamente a iluminação nas galerias subterrâneas era feita por meio de lampiões (gasômetros) que realizavam a queima do carbeto de cálcio33. Hoje, em muitos casos, já é possível fazer-se a iluminação com o uso da energia elétrica, porém ainda não é descartado o uso dos lampiões a carbureto para aqueles locais em que a eletricidade ainda não chegou. Nos garimpos extensos, principalmente os de exploração de jazidas aluviais, a população de trabalhadores muito densa e atuando naturalmente sem infraestrutura pode causar a contaminação do meio ambiente. A mistura de agentes poluentes e a deposição de microrganismos são capazes de levar a toda a população doença infectocontagiosa, causando consequentemente o surgimento de muitas moléstias de natureza tóxica, infecções e infestações parasitárias. Lamentavelmente não ocorre com frequência o uso de objetos de segurança como luvas, capacetes, óculos protetores, botas especiais, etc. Talvez isto ocorra por desinformação dos trabalhadores e/ou omissão dos responsáveis. Alguns empresários do garimpo Muitos empresários tiveram a atividade de garimpo como fonte de exploração econômica e como verdadeiras firmas informais, ou seja, sem os registros oficiais devidos. Eram organizações criadas por pessoas físicas individuais ou coletivas em forma de sociedade nas quais existia uma parte de sócios chamados capitalistas, que financiavam o negócio, e outros que participavam exclusivamente com o “risco da participação” e com a mão de obra. — verdadeiras sociedades de capital e indústria —, semelhantes às empresas formais. Alguns dos empresários que mantiveram por muitos anos atividade econômica de exploração de jazidas aqui no estado do Espírito Santo foram os empreendedores de membros da família Zanotti, Coser, Scárdua, Martinelli, Azevedo, Aquino, de Várzea Alegre e de Itaguaçu. De Santa Teresa tivemos os Lorenzoni, os Zamprogno e os Croce. Na região alta dos municípios de Itarana e Santa Teresa, os Gomes, os Magdalon e os Hortolani. Nesses três grupos seus componentes eram ao mesmo tempo trabalhadores e sócios capitalistas. Um garimpeiro que formou uma empresa devidamente formalizada foi Clementino Scotar, que iniciou como apenas um dos trabalhadores da turma de Hilton Corteletti. Registrou sua empresa e dotou-a de maquinário de terraplanagem, tendo, inclusive, feito registros de pesquisas de lavras nos órgãos competentes do Ministério das Minas e Energia. Quando vendia suas peças oriundas das lavras que prospectava, emitia os documentos fiscais adequados, fazendo com que as suas mercadorias trafegassem devidamente acobertadas. Quem atualmente tem empresa de mineração e comércio de gemas e amostras de coleção é Valmir Vulpi, que é mais dedicado às transações comerciais no vizinho Estado de Minas Gerais, conforme seu relato. OS ACAMPAMENTOS Objetos de uso pessoal 33 É possível a produção de lâmpadas portáteis à base de carbeto de cálcio para serem utilizados em minas na iluminação em galerias subterrâneas.
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Quando a lavra ficava distante da residência era necessário acampar o mais próximo possível do local de trabalho. Além da morada (casa ou barraca), também eram necessários alguns recursos adicionais, assim compreendidos os objetos de uso pessoal, como colchões (ou esteiras), lençóis, cobertores, travesseiros, toalhas, roupas para o trabalho, como calções e bermudas, sabonetes, escovas, cremes dentais. E, para o trabalho, calçados próprios, óculos especiais, luvas, capacetes e máscaras (para evitar a inalação de pós e substâncias insalubres e gases tóxicos). A cada membro integrante cabia o cuidado com a limpeza dos seus pertences – lavagem de vestuário e roupas de cama. A maioria desses garimpeiros eventuais, na realidade trabalhadores rurais, não tinha o hábito de usar equipamentos de segurança, fruto da desinformação e da atividade realizada informalmente. Cozinha, alimentação e outros costumes A cozinha era constituída geralmente por utensílios essenciais e indispensáveis, como panelas para o cozimento do feijão, arroz e refogados; frigideiras para o preparo de carnes grelhadas ou fritas, canecos para o preparo do café e de outras bebidas. O restante dos utensílios era constituído por pratos, copos, xícaras e talheres. A cozinha era operada por um integrante da turma, a quem cabia providenciar o preparo dos alimentos e servi-los nos horários determinados, desde os destinados ao desjejum, almoço, lanche vespertino e o jantar servido à tarde. Quando se estivesse longe de estabelecimentos comerciais, as massas destinadas aos lanches eram preparadas ali mesmo na cozinha do garimpo. Eram de preparação caseira, feitas basicamente com farinha de trigo, água, ovos, açúcar e um fermento químico. Depois de tudo misturado, dividida a massa em pequenas porções como o equivalente a uma colher de sopa, por exemplo, era cozida por fritura com óleo bem quente (bolinhos de chuva). As refeições principais, o almoço e o jantar, constituíam-se de alimentos compostos de arroz, feijão, farinha de mandioca e um tipo de carne. Além de suprimentos dos insumos necessários à produção dos alimentos, habitualmente existia nos barracos uma boa cachaça, bebida que os garimpeiros usavam quase sempre com parcimônia. O típico trabalho dos garimpeiros fazia com que tivessem necessidade de uma alimentação de alto valor nutritivo dotada de ingredientes generosamente ricos em proteínas, lipídios e carboidratos. O esforço físico que despendiam na sua lida diária tinha que ser compensado com alimentação apropriadamente calórica. A cozinha era movida a lenha e cabia ao cozinheiro à tarefa de providenciá-la, como também todos os suprimentos necessários ao funcionamento do barraco. O cozinheiro tinha direito a uma parte equivalente à de um garimpeiro. É oportuno lembrar que, geralmente, esses trabalhadores do garimpo executavam trabalhos inerentes aos ferreiros no preparo das ferramentas, moldando em forjas movidas a carvão vegetal de madeiras nobres, como a baraúna e o ipê amarelo, picaretas e pontas de alavancas. Para isso utilizavam bigornas e pesados martelos para a moldagem de ferramentas aquecidas em brasa.
104 Materiais e medicamentos para primeiros socorros Num acampamento, às vezes localizado distante de recursos médicos e farmacêuticos, uma coisa muito importante era a provisão de alguns medicamentos básicos e materiais para pequenos curativos, como ataduras de gaze, algodão, soluções antissépticas, analgésicos, antipiréticos e, eventualmente, até soro antiofídico, para ser aplicado no caso de ataque de serpente peçonhenta. Era desejável que na turma tivesse alguém com conhecimentos mínimos de primeiros socorros. Julgo até hoje, como de grande importância mesmo, que alguém do grupo tenha treinamento para atendimentos de socorros iniciais, como respiração boca a boca, no caso de parada respiratória ou afogamento, para aplicação de injeções e para curativos que estanquem hemorragias acidentais.
Algumas palavras e termos usados no garimpo Quando os garimpeiros se deparam com um maciço de quartzo, dizem ter chegado ao “emburrado”. Rompida tal rocha, chegando a uma massa de caulim ou de “oca”, dizem ter atingido a “base”. Nos garimpos em depósito aluviais, as escavações quadriláteras ou retangulares são chamadas popularmente “catra”, cujo nome é “cata”; as rampas são chamadas de “topa” (ô); quando revolvem os cascalhos dizem que estão “frinchando”; os rejeitos atirados para fora são conhecidos como “sieba”; os blocos de barro compacto são chamados de “coriango”, significando também amostra ou cristal subtraído de forma furtiva por algum garimpeiro durante o trabalho, dizendo-se que fulano “coriangou” uma pedra. Para complementar o uso de palavras e termos usuais do garimpo, insere-se no final um glossário, visando facilitar a interpretação do dialeto dos garimpeiros. Um grande achado de minerais-gema ou ouro, os garimpeiros dizem uma “bamburra” ou “bambúrrio”. Compradores de gemas Conheci Jair Martins, oriundo de Governador Valadares-MG, os irmãos Roberto Jório e o “Dumond”, como eram conhecidos. Eles trabalhavam como compradores de gemas para a H. STERN, importante empresa comerciante do gênero estabelecida no Rio de Janeiro; “José Pretinho”, estabelecido em Teófilo Otoni; José Gomes, localizado em Colatina, Esmar, também antigo proprietário de uma casa comercial denominada de “A Casa das Louças”, localizada em Colatina, ES; Argeo Lorenzoni, advogado em Santa Teresa, que, além de empresário do garimpo, comerciava cristais de quartzo hialino, fumé, citrino, ametista, andaluzita, crisoberilo, inclusive na variedade olho-de-gato; Camilo Beltrame e Giacomim, ambos localizados em Alto Caldeirão, no município de Santa Teresa, além de empresários do garimpo, que habitualmente também comerciavam variedade cristais de quartzo, tais como o hialino, róseo, ametista, águamarinha e andaluzita. Conheço até hoje Florício Bassani, líder de uma família de garimpeiros da cidade de Pancas, que também ocasionalmente intermediava o comércio de gemas. Lapidadores Durante o tempo em que tive contato com garimpos e lavras, conheci alguns desses profissionais. Em Vitória localizavam-se Aécio, Anivaldo, Stein, Cremildo Badke (este tinha um
105 colaborador conhecido por “Cebolinha”); em Vila Velha se estabeleciam Oliveira, José Lages Coelho e, em Colatina, executava o mesmo ofício o Nozoh, que atualmente reside em Vila Velha.
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Imagem 039 - Mapa do Estado do Espírito Santo com a localização dos minerais-gema que produziu e onde existem indícios da sua presença. (modelo do IGGE).
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MAPA COM A LOCALIZAÇÃO DOS MINERAIS-GEMA NO ESPÍRITO SANTO Trabalho organizado pelo autor do livro
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PARTE 2 - TEORIA E TECNOLOGIA
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CAPÍTULO 5
CRISTAIS DE MINERAIS-GEMA ENCONTRADOS NO ESPÍRITO SANTO Nem todos os espécimes minerais que aqui são produzidos figuram nesse mapa. Não se tem dúvida que o mineral do grupo do berilo – água-marinha figure como a principal riqueza mineral do estado do Espírito Santo; outras de menor incidência figuraram nesse elenco, só alguns minerais de pouca expressão quantitativa deixaram de ser contemplados nessa coletânea.
Imagem 040 Província Pegmatítica Oriental do Brasil. Colaboração de Daniela Newman.
Comentários Em grande parte do território do Estado do Espírito Santo existem achados ou indícios da existência de Minerais-gema. A maior incidência de jazidas está na região central, nos municípios de Santa Teresa, Itarana, Itaguaçu, São Roque do Canaã, Afonso Cláudio, Laranja da Terra, Santa Maria de Jetibá e também nos extremos Norte e Sul, embora com menos intensidade. Assim é o que acontece nos municípios de Santa Leopoldina, Venda Nova do Imigrante, Marechal Floriano, Domingos Martins, Cariacica, Viana, Guarapari, Serra, Fundão, Aracruz, João Neiva, Colatina, Baixo Guandu, Pancas, São Domingos do Norte, Marilândia, São
110 Gabriel da Palha, Nova Venécia, Barra de São Francisco, Águia Branca, Ecoporanga, Mantenópolis, Alto Rio Novo, Muqui e Iconha. Em todos esses municípios há relatos de achados de minerais-gema e/ou existência de vestígios da sua existência, merecendo destaque as seguintes espécies: água-marinha, andaluzita, ametista, crisoberilo, incluindo neste a variedade “olho-de-gato”, quartzo róseo, granada, quartzo fumé, ou morion, citrino, alexandrita, morganita e outras exemplares, tais como fluorita, brasilianita, turmalina preta, calcita, Pirita, hematita. O topázio incolor é muito frequente em Mimoso do Sul. A variedade de granada denominada almandina é frequente em depósitos de aluvião nos rios, especialmente no leito do Jucu. A pedra da lua (Adulária) já foi explorada num garimpo na localidade de Córrego Frio, situando-se nos limites municipais de Santa Teresa, Itaguaçu e São Roque do Canaã. Pequenos diamantes (xibius) há comentários, sem comprovação, de que já foram encontrados, junto com a mineração de ouro em depósito secundários nos rios localizados na região centro Sul serrana. Dizem terem sido vistos em, pelo menos dois locais: no município de Afonso Cláudio e na localidade de Matilde. Acharam-se também turmalinas coloridas no município de Marilândia, na localidade de Alto Liberdade, e um exemplar desse cristal de cor verde semelhante à cor da esmeralda, na localidade do Córrego da Laje, município de Colatina. As turmalinas encontradas em Marilândia eram fragmentos de coloração verde, azul, verde-amarelo e rosa. Esses achados evidenciam sinais da presença de uma possível jazida nessa localidade, ainda por ser descoberta. Em recente apreciação da obra Minerais e pedras preciosas do Brasil, de autoria de Carlos Cornejo e Andrea Bartorelli, tive nova visão a respeito da localização dos minerais-gema em solo do Espírito Santo. Um mapa intitulado Província pegmatítica oriental de Minas Gerais, já havia sido colado na 2ª edição, que dá mais detalhes da localização das jazidas, mas obtive um mapa denominando essa evidência, como Província Pegmatítica Oriental do Brasil, já substituído no livro. Isso contribui para que faça a inserção dos tópicos que se relacionam às descobertas minerais-gema no estado do Espírito Santo, contribuindo dessa forma para enriquecer os conteúdos do nosso livro A Pedra da Onça: Jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo, em fase final de elaboração desta 3ª edição. A seguir inserimos citações existentes no livro Minerais e pedras preciosas do Brasil, iniciando: P. 44, a figura à esquerda da parte inferior tem a seguinte menção: “cristal de escapolita (35 x 20 mm), Itaguaçu, Espírito Santo. Coleção de Andrea Bartorelli. Fotografia de Marcelo Lerner...” P. 106, ao lado da figura consta: “Cristais geminados de crisoberilo (30 x 30 mm), Santa Teresa, Espírito Santo. Coleção de Keith Proctor. Fotografia de Jeff Scovil. O crisoberilo foi descrito pelo mineralogista Franz Von Klaproth em 1795, a partir de amostras procedentes do Brasil”. P. 276 a 277: A primeira página, abaixo de uma foto, ao alto, faz-se a seguinte menção: “Cristal de Crisoberilo e pedra lapidada (10,77 quilates), procedentes de Itaguaçu, Espírito Santo, Canadian Museum of Nature. Fotografia de Jeff Scovil”. Na página seguinte (277), e abaixo de uma foto ocupando quase página inteira, consta: “Cristal geminado de crisoberilo (30 x 50 mm), Santa Teresa, Espírito Santo. Exemplar da coleção de Luiz Paixão, pertencente ao acervo do Museu de Geociências da Universidade de São Paulo. Fotografia de Marcelo Lerner...”. P. 418: “[...]... A andaluzita foi encontrada nas areias do Rio Araçuaí e tributários, no Córrego do Fogo, em Malacacheta, e nos municípios de Minas Novas, Araçuaí e Itinga, em
111 Minas Gerais, além do município de Santa Teresa, no Espírito Santo, onde foi achada andaluzita gemológica nos colúvios de encostas e nos depósitos de aluviões dos rios... [...]” P. 463: “[...]... Os pegmatitos estão sempre associados a intrusões graníticas e tiveram origem a grandes profundidades; na principal região produtora do Brasil, a Província Pegmatítica Oriental do Brasil, que engloba também parte do Sul da Bahia e do Oeste do Espírito Santo, estima-se que os pegmatitos se formaram como resultado da intensa atividade vulcânica, datada de 550 a 600 milhões de anos, que propiciou a formação de inúmeros maciços graníticos dos quais se agregaram milhares de corpos pegmatíticos, a uma profundidade estimada entre cinco a dez quilômetros sob a superfície original do terreno... [...]”. P. 465: “Agrupamento de cristais de água-marinha (45 x 65 mm) cujas terminações, originariamente piramidais foram corroídas, adquirindo um formato cônico alongado que se assemelha a uma ‘ponta de lápis’, no linguajar garimpeiro. Amostra procedente de Mimoso do Sul, Espírito Santo, pertencente à coleção de Júlio Landmann, também autor desta fotografia”.
Imagem 041 Fotografia escaneada da obra acima, constante da p. 456. Imagem 042 Fotografia da Pedra do Pontão, localizada no município de Mimoso do Sul-ES, região propícia a achados de mineraisgema. Imagem obtida no endereço http://177.131.161.212/pmms/ Acesso em 06.11.2012. Sobre Mimoso do Sul, conforme consta de http://paixaocapixaba.com.br/?p=2342. Acessado em 05.01.2012: ... [...]. Nascida entre montanhas, de topografia acidentada, rica em minerais, pedras preciosas e água doce, de clima agradável e com vários pontos turísticos... [...].
P. 468: “[...]... Atualmente a maior pedra de água-marinha brasileira e comercializada nas cidades de Teófilo Otoni e Governador Valadares, proveniente de jazidas situadas principalmente nas localidades de Catugi (antigamente conhecida como Três Barras), Padre Paraíso, Caraí (com destaque para o distrito de Marambaia), Medina Teófilo Otoni, Santa Maria de Itabira e Pedra Azul. Há ocorrências significativas, também, em Mimoso do Sul, no Espírito Santo, e em Jaquetô, na Bahia... [...]”. P. 471: “As maiores jazidas ocorrem nos pegmatitos da Província Pegmatítica Oriental, a mais rica, compreendendo parte dos estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo, formada por ao menos oito ‘distritos’ pegmatíticos e a Província Pegmatítica do Nordeste... [...]”. P. 480: “[...]... No estado do Espírito Santo distinguem-se os distritos do Centro-Oeste que inclui localidades tais como Fundão, Santa Teresa, Itaguaçu e Pancas, o distrito de Mimoso do Sul, na divisa com o Rio de Janeiro, com destaque para a Lavra da Concórdia, que em 1990
112 produziu um bolsão contendo finos cristais de água-marinha de coloração azul com formato de “ponta de lápis”. Pancas ganhou manchetes nos jornais em outubro de 1987, quando o minerador Isaulino Antônio da Silva achou, na cabeceira do Rio São José, uma peça de água marinha de 20,5 quilos... [...]”. P. 507: “[...] ... Além da inserção do mapa da Província Pegmatítica Oriental do Brasil, há uma relação chamada DISTRITOS PRODUTORES DE ÁGUA-MARINHA, onde figuram no Oeste do estado do Espírito Santo: Colatina, Santa Teresa, Itaguaçu e Pancas. No Sul do Espírito Santo: Mimoso do Sul... [...]”. P. 592: Nesta página, abaixo de uma foto existente no alto, há a seguinte informação: “Turmalina schorl sobre topázio incolor (70 x 70 mm), Mimoso do Sul, Espírito Santo. Coleção e fotografia de Júlio Landmann”. O contido nesse escrito corrobora de forma inequívoca a existência da turmalina negra e do topázio incolor, ambos citados ao longo do nosso livro A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo. P. 611: “[...]... Madagascar foi por muitos anos a única produtora de escapolita, inclusive de belos cristais da variedade olho-de-gato, mas na década de 1940 começaram aparecer belos cristais em Itaguaçu, a 130 quilômetros de Vitória, no Espírito Santo, de cor amarelada com reflexos azuis pontuais, atingindo até cinquenta gramas ou mais de peso... [...]”. Ainda na mesma página, ao alto, é exibida uma foto, contendo a seguinte observação: “Cristal de escapolita (22 x 25 mm), Itaguaçu, Espírito Santo. Coleção de Andrea Bartorelli. Fotografia de Marcelo Lerner”.
Observações: De tudo quanto trata a obra referenciada acima, apesar de conteúdos históricos regredirem a tempos remotos, sobejamente referem-se aos estudos mineralógicos e gemológicos que se faziam à época do Império, citando José Bonifácio de Andrada e Silva como precursor da mineralogia, geologia e gemologia brasileiras e de muitos fatos arrolados até aos dias atuais. Aqui no estado do Espírito Santo, é frequentemente noticiado, conforme citações inclusas (mas há lacuna), sobre a grande lavra num pegmatito superficialmente localizado na Pedra da Onça — montanha de formação granítica situada no limite municipal de Santa Teresa e de Itarana — fato registrado em provas testemunhais obtidas verbalmente de pessoas fidedignas que estiveram presentes ao magno evento. Acredito que as dificuldades de encontrar fontes historiográficas primárias representam os óbices comuns a todos os pesquisadores que venham a seguir essa notícia da magnífica jazida de água-marinha da Pedra da Onça lavrada em 1941, sobre a qual dediquei o capítulo I do livro das jazidas no Espírito Santo. Por não confiar em alguns relatos, no momento que fazíamos as pesquisas, deixamos de citar achados de água-marinha e de outros minerais-gemas. Mas, nossos informantes relataram algumas peças com pesos de 76 quilogramas e outros que, juntados todos os segmentos partidos, teriam chegado a 180 quilos. Peças com 3 a 20 quilos somaram-se às centenas. Os prismas com esses últimos pesos tinham excelente grau de diafaneidade e hábito preservado, muitos dos quais bi-terminados. Duas coisas, entretanto, havia em comum: a diafaneidade dos cristais e a inconfundível cor azul intensa e característica dessa espécie de cristal. Não houve mesmo como quantificar o volume total da produção da lavra dessa mina, embora eu tivesse esperança de que com o
113 tempo os estudiosos, sempre à cata de melhores informações, pudessem revelar toda a história, na maior parte perdida, devido e principalmente, à forma desorganizada como foi conduzida a lavra desse garimpo. Soma-se a todo o bambúrrio de água-marinha e de outros tipos de gemas do grupo do berilo, alguns de cristais hialinos, cristais fumé, citrino e ametista, que atingiram algumas toneladas, podendo, talvez, justificar notícias do embarque pelo porto do Rio de Janeiro de cerca de oito toneladas de amostras oriundas da lavra da Pedra da Onça. Os resultados dos estudos demonstrados no mapa da Província Pegmatítica Oriental do Brasil justificam os bambúrrios de minerais-gema ocorridos no solo do estado do Espírito Santo e a evidência de que há ainda muito a ser descoberto.
GEMAS DO ESPÍRITO SANTO O QUE É UM QUARTZO HIALINO? Características Há quartzo hialino em todos os lugares do mundo, em regiões montanhosas e terrenos aluviais, com hábito piramidal hexagonal-R, agrupados em drusas, geodos ou agregados em maclas geminadas. O quartzo pertence à família do Tectossilicato e ao grupo do Quartzo. Tem a seguinte fórmula química: SiO2 dióxido de silício, sua composição tem Si = 46,7%, O = 53, 3%. É usualmente quase puro. Cristalografia: hexagonal-R, trigonal, trapezoédrica, hexagonaltrapezoédrica e romboédrico. Quase sempre contém inclusões, tais como turmalina, clorita, mica, magnetita, zircão. Hábito: prismático, granular, maciço... Dureza: 7. Densidade: 2,65. Fratura: conchoidal, quebradiça, Semelhante a uma concha, conchóide, concóide. Característica da fratura: lisa e curva como a das conchas. Brilho: Predomina o brilho vítreo, mas existem variedades com brilho gorduroso e esplendente. Cor: Geralmente incolor ou branco, mas frequentemente colorido devido à presença de impurezas, além de poder apresentar mais de uma cor. Devido à dureza e diafaneidade o quartzo hialino é conhecido simplesmente como cristal. Algumas vezes, esse minério apresenta efeitos de iridescência produzidos por fraturas interiores que produzem a dispersão da luz, passando a ser denominado “quartzo íris”. Há quartzo hialino em todos os lugares do mundo, em regiões montanhosas e zonas aluviais. No Espírito Santo, as jazidas importantes de quartzo hialino foram localizadas principalmente nos municípios de Santa Teresa, Itarana, Afonso Cláudio, Baixo Guandu, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Domingos Martins, Muqui, Fundão, Ibiraçu, João Neiva, Colatina, Aracruz, Nova Venécia, Barra de São Francisco, Guaçuí e outros. A gênese da formação dos minerais-gema Os minerais-gema, também chamados gemas, quando lapidadas (gema é palavra originária do latim), formaram-se com as misturas de substâncias existentes na natureza que se combinaram, fazendo arranjos de moléculas de modo a tornarem-se sólidos com formatos
114 específicos. Por exemplo, a combinação de silício, berílio, ferro e alumínio deram origem aos cristais conhecidos como berilo (água-marinha, berilo, morganita, heliodoro, goshenita, esmeralda e bixbite, — o berilo vermelho). Portanto, o nome científico dessa composição é silicato de berilo, ferro e alumínio. Essa combinação molecular, quando encontrada na forma cristalina, é representada por cristais prismáticos hexagonais (que têm seis faces). Alguns têm formatos diversos. As misturas ocorreram em pressões e temperaturas altíssimas. Nesse ambiente de rochas ígneas, em estado de fusão, é que se formaram os cristais de quartzo, de berilo, e outros minerais cristalinos. Nas jazidas primárias alguns cristais são encontrados nos pegmatitos; nas secundárias, fora deles, misturadas às terras argilosas, aos depósitos sedimentares de arenito, e nas aluviões que resultaram do deslocamento das sedes originais, causado pelos processos erosivos aos quais as rochas foram submetidas. Muitos cristais encontrados nas aluviões perderam as arestas e suas faces ficaram opacas devido à ação do movimento de turbilhão a que foram submetidos, tornando-se muitas vezes completamente esféricos por causa do atrito contínuo e por muito tempo com outros materiais existentes no meio, como areia e seixos. Por isso é que os cristais encontrados nas minas de aluvião são chamados de rolados, devido ao seu aspecto de aparência esférica ou oval. Além dos depósitos primários, existem aqueles em que os minérios podem ser encontrados nos alúvios e colúvios. No primeiro caso os depósitos estão localizados em sedimentos nos fundos dos vales e dos rios; enquanto que nos colúvios, os depósitos apenas deslocaram-se pelas camadas do solo além dos pegmatitos. Não só os cristais são encontrados nos depósitos aluviais como também minérios metálicos, como o ouro, por exemplo. O ouro também, neste caso, provém de depósitos encaixados nas rochas de onde se desprendeu. O ouro existente nos depósitos do rio Jucu é o exemplo de jazidas secundárias provenientes de depósitos primários ainda não descobertos nessa região do seu vale e de afluentes. 34 Muitos cristais de quartzo existem em estado anédrico, como também variedades derivadas que não tiveram sua cristalização completa. O resfriamento rápido impediu uma cristalização perfeita, deixando esses minerais opacos ou apenas translúcidos, quando deveriam ser diáfanos de forma a permitir a completa passagem da luz, exercendo as propriedades inerentes à refração, como refringência, dispersão e pleocroísmo. A coloração dos cristais depende da existência, nas suas composições, de substâncias corantes metálicas, como o cromo, o ferro, o cobalto, o cobre, o manganês, o níquel e o vanádio, que absorvem certos comprimentos da luz branca, causando coloração, que nada mais é do que um efeito das vibrações magnéticas de determinados comprimentos da onda. O olho humano é que interpreta esses efeitos determinantes da coloração dos minerais.
Localização das jazidas Por que uma jazida como a da Pedra da Onça foi surgir no pico de alta montanha, a mais de quinhentos metros de altitude? Antes de perguntarmos como foram se localizar naquelas alturas, melhor seria indagarmos por que o monólito granítico Pedra da Onça tem essa altura. 34 Dado às características dos achados de ouro em depósitos aluviais no Espírito Santo, quase sempre em pó, raramente em minúsculas pepitas, pode-se entender que os depósitos primários do metal encontram-se disseminados com baixo percentual pelos rochedos da região Centro-Sul do estado. E sua constatação em depósitos secundários decorreu da erosão à qual essas rochas foram submetidas.
115 Para respondermos as essa questões teremos que entender como ocorreu a moldagem do relevo ou como se formaram as cadeias de montanhas do Brasil. A resposta não é simples. O assunto é complexo e, para ser entendido, deve-se trilhar o caminho dos estudos geológicos. Existiram vulcões na região? A única existência comprovada de atividade vulcânica em território do Espírito Santo está localizada na ilha de Trindade, que tem numerosos centros vulcânicos. A atividade vulcânica mais recente aconteceu há aproximadamente 50 000l anos no Vulcão Paredão no ponto mais ao Sudeste da ilha. Essa atividade consistiu em fluxo que acumulou um cone de cinzas. O vulcão denominado Complexo de Trindade é o mais antigo dos cinco existentes e caracteriza-se por possuir rochas intrusivas. Na Enseada da Cachoeira, podem-se reconhecer as rochas mais antigas da ilha. Há, também, a formação Morro Vermelho resultado de uma erupção explosiva com derrames de lava. http://pt.wikipedia.org/wiki/Trindade_e_Martim_Vaz . Acesso em 27.10.2012.
A topografia de Várzea Alegre
Imagem 043 É resultante de fotos tomadas pelo autor e colocadas lado a lado, formando visão panorâmica da localidade, em 2010.
Como é visto, Várzea Alegre tem o formato de uma grande bacia com as bordas da circunferência tomadas por uma cadeia de montanhas que a cercam por todos os lados. Observando-se o fundo dessa localidade, pode ser constatado o leito do Rio Santa Maria, aquele que deságua no rio Doce e serpeia pela baixada. Também seu afluente, o rio Várzea Alegre, formado por nascentes adjacentes à Pedra da Onça e a São Paulo do rio Perdido. Mais alguns pequenos córregos completam a hidrografia da localidade. Em todos os quadrantes do Leste ao Oeste, do Norte ao Sul, existem montanhas de formação granítica, cobertas parcialmente com terreno argiloso, que se estende a toda baixada. Nas escavações que presenciei nas terras baixadas de Várzea Alegre, constatei que a rocha de granito, que em muitos locais aflora na superfície ou fica, às vezes, a pequena profundidade abaixo desta. Tanto nas baixadas quanto nas montanhas existem fortes indícios da existência de minerais-gema, notoriamente de água-marinha, ametista e quartzo. Há por toda parte erupções de material originário de pegmatitos encaixados nos embasamentos graníticos desses locais e deslocamentos de cascalhos de quartzo anédrico, feldspato, micas, óxido de ferro no formato cristalino octaedro (magnetita)35. Há, também, em boa parte dessas baixadas, a presença de cascalho de quartzo rolado com formato esférico e oval, em lençóis 35 Magnetita. Imagem obtida no endereço http://www.coluna-da-sal.com/pedregal/indicacoes_4.htm. Acessado em 07.11.2012.
116 rasos, e também nos leitos dos rios, sob uma camada de areia. Já foram encontradas muitas bolas de quartzo com bom teor de diafaneidade, água-marinha e ametista nesses lençóis de cascalho aluviais. Quando submetidos à pesquisa, não demonstraram capacidade produtiva, sendo, portanto, economicamente inviáveis. Diante de tudo o que observei, concluo que Várzea Alegre é, na realidade, potencial jazida de cristais de quartzo, ametista, citrino e fumé, cujos depósitos foram descobertos quase sempre casualmente.
Imagem 044 Cristal de magnetita octaédrico.
A mensuração da massa das gemas Tratando-se de material bruto que ainda não teve nenhum beneficiamento de corte e polimento (lapidação), pode-se avaliar a sua massa tomando-se como unidade de referência o kg (1000 g) ou o próprio g (grama). Mas quando se tratar de gema já lapidada toma-se como unidade o quilate, que é igual a 1/5 de um grama. Representa o quociente da divisão de um grama por cinco, podendo ser representado pelo valor de 200 MG ou, ainda, 0,2 g, o que, na realidade, é a mesma coisa. Mas quando a gema for o diamante, além do quilate (um quinto de um grama), há também a mensuração da massa por valores que representam centésimos do quilate. Esses valores são chamados de pontos. Os diamantes são aproveitados pela lapidação de peças minúsculas, advindo daí a necessidade dessa subdivisão. Classificação das gemas Para fins de comércio, as gemas podem ser classificadas em qualidades de diafaneidade, intensidade de coloração, graus de inclusão e quanto aos tamanhos, independentes de quaisquer outros critérios, esses expressos nas medidas de massa, ou seja, em kg, g e quilate ou ponto, quando se tratar de pequenos cristais de diamante. Dessas classificações é que resultarão as cotações de preços. Assim, os preços variam em razão da coloração, pureza, cristalização e peso. Por exemplo, uma peça de coloração intensa poderá ter preços diferenciados quanto à pureza, cristalização e peso. Peças maiores, mas com coloração fraca, poderão alcançar preços menores que peças de massa inferior, porém de cor forte. Como vimos, o valor das gemas pode variar na razão direta da sua classificação e, ainda, como é óbvio, pelas leis de mercado.
117 Autenticidade da origem Sabe-se que existem gemas naturais, sintéticas ou meras imitações feitas com substâncias artificiais. Aquelas encontradas na natureza têm seus formatos de agregação das moléculas dos seus componentes em arranjos que lhes conferem as formas específicas de cristalização, dureza, composições químicas, propriedades óticas, como refração, pleocroísmo, (hábito) prismas (hexagonais, trigonais, octaédricos, etc.). O peso específico de cada espécie pode ser avaliado segundo a densidade específica. Existe uma indagação feita, até com frequência, de como se faz para identificar a originalidade das gemas. A resposta estabelecerá uma sequência de eliminações, a saber: quando se tratar de cristais naturais que ainda não tenham passado por transformações, bastará a visualização e o toque manual de quem tenha conhecimentos mínimos desejáveis sobre o assunto, podendo, neste caso, serem feitas identificações de minerais de formato e aparências semelhantes. Para gemas lapidadas, simplesmente, a identificação torna-se dificultosa, carecendo o emprego de conhecimentos técnicos da gemologia. Pode ser necessário o uso de aparelhagem que permita identificar as propriedades óticas, a composição química e ensaios que permitam testar os graus de dureza, os matizes, não sendo raro o emprego da espectrografia para medir a intensidade de radiação para cada comprimento de ondas (que permite analisar a cromatologia). Fácil deduzir-se como deve ser feito o exame de autenticidade das gemas: esse trabalho é de inteira competência dos gemologistas, aos quais cabe o direito de expedir certificados atestando a autenticidade das gemas. A produção de gemas sintéticas ou simplesmente imitações progrediu de tal sorte que as dúvidas sobre a autenticidade já não são coisa apenas de leigos, também os profissionais são obrigados a realizar testes e ensaios cada vez mais sofisticados como formas de fornecer informações precisas para que os usuários tenham segurança dos bens que adquirem. Utilização das gemas As gemas têm como utilidade precípua a integração às jóias, como objetos de adorno e exteriorização simbólica da riqueza e a demonstração de classe social privilegiada. São consideradas utilidades supérfluas por muitos, mas, por outros, objetos de cobiça e desejo. O certo é que, desde os tempos remotos, além de representarem objetos de vaidade, também serviram como símbolo do poder. Sempre integraram as coroas dos reis e rainhas, e parte do adorno das orelhas, cabeças, mãos, como broches e bordados de vestes luxuosas. Alguns minerais, quando em estado bruto, podem servir para fins industriais, como é o caso do berilo, utilizado nas composições de aços especiais, e os diamantes, usados como instrumentos de corte e abrasivos. Há ainda o uso de gemas de baixo teor de dureza, coloração e com a presença inclusões, motivando serem de qualidades pouco valiosas, servido à confecção de objetos de decoração, em bijuterias e como peças destinadas aos colecionadores e aos Museus de Geociências. Como se vê, apesar de não serem objetos essenciais, as gemas tem grande utilidade. Alguns buscam as lavras, garimpando minerais-gema motivados por fantasias, pelo fascínio exercido pela beleza e pela emoção que sentem ao encontrar preciosidades raras que a natureza produziu espontânea e aleatoriamente. É bom que se diga que todos os achados de minerais são eternos e cumulativos. Alguém que esteja comprando hoje uma jóia com uma gema de água-marinha pode estar adquirindo uma peça que tenha sido extraída na jazida da
118 Pedra da Onça há mais de setenta anos, mais de meio século após a sua descoberta. O mesmo acontece com o ouro e este ainda de forma mais intensa, porque pode adquirir novas e sucessivas formas.
Minerais-gema do Espírito Santo Materializando esta história de “Jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo”, com ênfase para a lavra da Pedra da Onça (Várzea Alegre e Itarana), apresento a seguir uma galeria de fotos de gemas, a maioria fotografada por mim. São peças de proprietários, pessoas físicas e jurídicas. Preocupei-me antes com a ocorrência das variedades do que com as quantidades. São todas garimpadas em solo espírito-santense. No ensejo, para realizar um trabalho mais completo, apresento a seguir uma mostra fotográfica de material a que tive acesso, descrevendo suas características (composição química e propriedades físicas) e as regiões onde foram/são encontradas no solo do Espírito Santo. Antecipando os achados e suas origens em localidades ao longo do estado do Espírito Santo, os minerais estão dispostos em quadro, sistematizando-os em características químicas e físicas, bem como imagens no topo de cada cristal especificado.
QUADRO 1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DOS MINERAIS-GEMA PRODUZIDOS NO ESPÍRITO SANTO AMETISTA
ANDALUZITA
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: quartzo. Sistema de cristalização: hexagonal (trigonal). Fórmula química: SiO2. Variedade: ametrino, variedade bicolor de ametista com citrino, também chamada ametistacitrino. Nomes utilizados pelo mercado: jóia de bispo, ametista siberiana, ametista, ametrino e ametista-citrino. Cor: de roxo azulado ao roxo puro e ao roxo avermelhado. Transparência: transparente (o material para ser usado para contas e escultura, pode ser translúcido). Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: não
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: andaluzita. Sistema de cristalização: ortorrômbico; hábito prismático com seções transversais quase quadradas. Fórmula química: Al2SiO5. Variedade: quiastolita, viridina (variedade verde, na qual traços de manganês substituem parte do alumínio). Nomes utilizados pelo mercado: andaluzita, quiastolita e mineral cruz. Cor: normalmente do verde amarronzado ou amarelado ao marrom alaranjado (muitas vezes ambas as cores pleocróicas verde e laranja são vistas pela coroa); pode ser somente verde, marrom, rosa, violeta (raro); quiastolita
ALEXANDRITA
ÁGUA-MARINHA
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: berilo. Sistema de cristalização: hexagonal; hábito prismático alongado 21 Fórmula química: Be3Al2Si6O18 Variedade: águamarinha, águamarinha olho-degato. Água-marinha do Brasil - verde azulado e azul esverdeado
Classe mineral: óxidos. Espécie mineral: crisoberilo. Sistema de cristalização: ortorrômbico. Fórmula química: BeAl2O4. Variedade: alexandrita e alexandrita olhode-gato (muito rara). Nomes utilizados pelo mercado: alexandrita e alexandrita olho-de-gato (muito rara). Cor: à luz do dia: verde amarelado, amarronzado, acinzentado ou azulado, à luz incandescente: vermelho alaranjado, amarronzado ou arroxeado. Transparência: transparente. Brilho: de vítreo ao subadamantino. Fenômenos ópticos: mudança de cor, pode haver também acatassolamento. Índices de refração: 1,746 - 1,755 (+ 0,004 0,006). Caráter óptico: biaxial positivo, RD. Birrefringência: de 0,008 a 0,010. Dispersão: 0,015. Pleocroísmo: forte - verde alaranjado e
119 Cor: de azul esverdeado ao azulverde, geralmente de tonalidade clara Transparência: do transparente ao translúcido Brilho: vítreo Fenômenos ópticos: acatassolamento, raro e geralmente fraco Índices de refração: 1,577 - 1,583 (±0,017) Caráter óptico: uniaxial negativo, RD. Birrefringência: de 0,005 a 0,009 Dispersão: 0,014 Pleocroísmo: de fraco a moderado - azul e azul esverdeado, ou tonalidades diferentes de azul Fluorescência: inerte Espectro de absorção: linhas indistintas a 537 e 456 nm, e uma linha forte a 427 nm dependendo da profundidade da cor Peso específico: 2,72 (+0,18, - 0,05) Fratura: concoidal de brilho vítreo a resinoso Clivagem: muito difícil em uma direção, quase nunca vista; basal Características de identificação: relativamente livre de inclusões; tubos de crescimento ocos ou preenchidos com fluidos, paralelos ao eixo c do cristal (“efeito chuva”); gotículas fluidas arranjadas radialmente (“estrela de neve” ou “crisântemo”) e, menos frequentemente, inclusões minerais (óxido de ferro). Tratamentos possíveis: exemplares azuis esverdeados passam a azuis (remoção do
vermelho – violáceo. Fluorescência: de inerte a moderada vermelha (UVC e UVL). Espectro de absorção: duas linhas fortes em 680,5 e 678,5 nm e linhas fracas em 665, 655 e 645 nm, absorção parcial entre 580 e 630 nm, três linhas fracas em 476,5, 473 e 468 nm e absorção generalizada em violeta. Peso específico: 3,73 (± 0,02). Fratura: concoidal de brilho vítreo a gorduroso. Clivagem: não apresenta. Características de identificação: impressões digitais, seda, mudança de cor. Tratamentos possíveis: preenchimento de fraturas com óleo ou resina. Possíveis confusões com andaluzita, granada com mudança de cor, coríndon natural e sintético, espinélio natural e sintético e alexandrita sintética. Dureza 8,5 ESTABILIDADE Ao calor: estável. À luz do dia: estável.
Observação: Não se têm provas conclusivas de que cristais de alexandrita tenham sido garimpados no Espírito Santo, mas a abundância de depósitos de crisoberilo e de crisoberilo olho-de-gato, presentes em vários municípios deste estado, aliados a notícias de relatos feitos sobre sua ocorrência da lavra de São João Grande, situada no Norte do estado, no município de Colatina, robustecem nossas suspeitas de que são verídicas essas informações, perfeitamente possíveis diante das características desse garimpo.
apresenta. Índices de refração: 1,544 1,553. Caráter óptico: uniaxial positivo, RD. Birrefringência: 0,009. Dispersão: 0,013. Pleocroísmo: de fraco a moderado - roxo e roxo avermelhado, ou roxo azulado. Fluorescência: usualmente inerte, pode apresentar fluorescência azul fraca sob a luz UVC. Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 2,66 (+0,03 0,02). Fratura: concoidal de brilho vítreo. Clivagem: não apresenta. Características de identificação: zoneamento de cor, geminação, inclusões líquidas, inclusões bifásicas, trifásicas, cristais negativos e fraturas. Tratamentos possíveis: tratamento térmico (clarear a cor de ametista muito escura; produzir citrino e quartzo verde; remover manchas enfumaçadas da cor) - cobertura ou chapa no fundo do cabochão (melhora a cor). Possíveis confusões com: iolita, escapolita, ametista sintética, tanzanita, coríndon sintético, fluorita e kunzita. Dureza: 7. ESTABILIDADE Ao calor: temperatura elevada torna o cristal incolor, pode produzir citrino ou prasiolita, contudo temperatura branda pode clarear; mudança abrupta de temperatura pode fraturar. À luz do dia: pode perder a cor. Imagens de ametista:
Dois cabochões de exemplar de alexandrita olho-de-gato.
Exemplar facetado formato oval.
no
apresenta uma cruz escura em contraste com o fundo branco, cinza, avermelhado ou marrom claro. Transparência: de transparente a opaco. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: não apresenta. Índices de refração: 1,634 1,643 (±0,005). Caráter óptico: biaxial negativo, RD; quiastolita, AGG. Birrefringência: de 0,007 a 0,013. Dispersão: 0,016 Pleocroísmo: forte de verde amarronzado a verde amarelado e de laranja amarronzado a vermelho amarronzado. Fluorescência: inerte (UVL); de inerte a moderado, de verde ao verde amarelado (UVC). Espectro de absorção: os exemplares marrons esverdeados exibem uma faixa a 455nm (azul) e intensa absorção na região do violeta; os exemplares verdes exibem linhas intensas a 553nm e 550nm (verde), além de absorção total na região do violeta; o espectro se deve ao manganês. Peso específico: 3,17 (±0,04); quiastolita pode ser consistentemente mais leve. Fratura: de irregular a concoidal de brilho vítreo. Clivagem: distinta em uma direção. Características de identificação: material verde amarelado passa a rosado mediante tratamento térmico, enquanto os exemplares marrons passam a incolores a aproximadamente 8000C; a irradiação provavelmente reverte estes câmbios. Tratamentos possíveis: inclusões minerais (biotita, apatita, quartzo), inclusões aciculares de rutilo irregularmente dispostas e inclusões bifásicas, pleocroísmo forte. A quiastolita contém inclusões de grafita com contorno cruciforme. Possíveis confusões com turmalina, topázio, apatita,
120 componente ou centro de cor amarelo) mediante tratamento térmico a temperaturas entre 400 e 450ºC, aproximadamente (estável, irreversível). Possíveis confusões com: topázio azul, espinélio sintético azul, quartzo azul sintético e berilo maxixe (um tipo de berilo tratado por irradiação). Possíveis confusões com: topázio azul, espinélio sintético azul, quartzo azul sintético e berilo maxixe (um tipo de berilo tratado por irradiação). Dureza: 7,5 – 8. ESTABILIDADE Ao calor: geralmente não é sensível a menos que contenha inclusões líquidas. À luz do dia: estável.
Cristal pertencente ao grupo do crisoberilo. Tem propriedades idênticas às do crisoberilo, também denominada crisoberilo, distinguindo-se das demais gemas do grupo, devido a uma propriedade ótica, cujo efeito da luz pode modificar-lhe a cor. É uma “esmeralda” de dia e um rubi de noite. À luz do dia é verde, com luz artificial, vermelha. Quanto mais espessos os cristais, maior facilidade de se ver a mudança de cor. Seu nome Alexandrita deve-se ao Czar Alexandre II. As histórias contam que foi descoberta em 1830 no mesmo dia que o Czar fazia aniversário e o seu nome foi dado a esse cristal. As jazidas de Alexandrita estão localizadas, principalmente, em Sri Lanka, Zimbábue e Brasil, mas não possuem mudança de cor muito expressiva, quanto às encontradas antigamente nos Montes Urais, na Rússia. Em 1987, foi descoberta no Brasil uma alexandrita em que a mudança de cor é impressionante. No Espírito Santo há notícias de que algumas exemplares de alexandrita foram encontradas na lavra de crisoberilo olho-de-gato de São João Grande, no município de Colatina, embora carentes de comprovação.
Drusa de ametista, pesando cerca de 90 quilogramas.
Cinco exemplares de ametista facetados. No Espírito Santo, essa variedade de quartzo pode ser encontrada em quase todos os municípios, destacando-se as grandes jazidas no município de Fundão (lavra do Oséias), em Santa Teresa, nas localidades de Alto Caldeirão e em Várzea Alegre (em todos os quadrantes); no muncípio de Itarana desde o Alto Limoeiro à localidade do Triunfo.Pequenos depósitos se estendem a muitos municípios e, quando não houve achados, os indícios estão presentes.
danburita, barita e crisoberilo. Dureza: 7 - 7,5. ESTABILIDADE Ao calor: estável a menos que apresente inclusões líquidas. À luz do dia: estável. Localizações significativas da andaluzita Há, na região serrana do estado do Espírito Santo, especialmente nas partes altas dos municípios de Santa Teresa, de Santa Leopoldina e de Santa Maria de Jetibá, um polígono onde ocorrem algumas jazidas de andaluzita, a maioria, em depósitos de natureza secundária, em sedimentos aluviais. As jazidas em depósitos primários, em pegmatitos, não são feequentes, tudo levando a crer que restam muitos depósitos ainda não descobertos. Apesar da extensão de achados de andaluzita ser difusa na região em foco, existe evidência de que o ponto de maior probabilidade de jazidas de grandes proporções deva estar localizado desde o alto da Serra dos Pregos ao pico da montanha do Papaçu, em locais adjacentes à cidade de Santa Teresa. A citação da p. 205 do livro Les Mineraux, de VERT, Guide: “... et du Brésil ou dês cristuax limpidesaztteiganamant 50 mm ont été recontrés em realtive abondance à Santa Teresa, Espírito Santo...”. Na citação acima, as jazidas de andaluzita de Santa Teresa são reconhecidas internacionalmente. Lembradas também, nessa publicação fancesa, as jazidas brasileiras no rio Iguape, em São Paulo, e na Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Mas os cristais de andaluzita qualificadas mais puras e de maior valor comercial são estas produzidas aqui no Espírito Santo. A intensa exploração das jazidas de quartzo na região serrana do Espírito Santo, ocorrida em larga escala na década de 1940, teria levado à
121 descoberta das gemas popularmente conhecidas como crisólito (ou crisolito), como é conhecida a andaluzita. Descobriu-se, da mesma forma, ocorrências de crisoberilo e de crisoberilo olho-de-gato, até, mesmo, na perifieria da cidade de Santa Teresa: uma dessas jazidas estava localizada, onde, hoje, há um bairro residencial, em terras de antiga propriedade rural pertencentes à família de Rocco Corteletti e outra na localidade de Aparecidinha. Temos notícias antigas de que, além da existência abudante de andaluzita, havia, concomitantemente, presença de crisoberilo e de crisoberilo olho-de-gato. Foram encontradas inúmeros exemplares de crisoberilo olhode-gato, muitos deles, com peso acima de 20 gramas. A existência de andaluzitas ocorre num polígno que pode ser demarcado a partir do Papaçu – montanha cuja maior porção é constituída de rocha granítica, atingindo no cume a altitude de 975 metros – a mais alta montanha do município de Santa Teresa, localizada acima de Vargem Alta a poucos quilômetros do centro da cidade de Santa Teresa. No seu caminho, localiza-se a igreja dedicada a Nossa Senhora do Caravaggio. Mas as reservas de andaluzita se estendem à Serra dos Pregos – nascente do Rio Timbuí –, passando por Alto Tabocas, Alto Caldeirão, retornando ao lado inverso pelo município de Santa Maria de Jetibá, seguindo pela localidade de Recreio até Rio Bonito, no limite com o município de Santa Leopoldina, retornado ao município de Santa Teresa via Aparecidinha, Valsugana, vales de São Pedro, de São Lourenço e Alto Santo Antônio, chegando póximo do rio Saltinho, Goiapaba-Açu e de Lombardia.
122 BRASILIANITA
CALCITA
Classe mineral: fosfatos. Espécie mineral: brasilianita. Sistema de cristalização: monoclínico; hábito prismático ou pinacoidal. Fórmula química: NaAl3(PO4)2(OH)4. Nomes utilizados pelo mercado: brasilianita e por cor. Cor: de verde amarelado a amarelo esverdeado, raramente incolor. Transparência: de transparente a translúcida. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: não apresenta. Índices de refração: 1,602 - 1,621 (±0,003). Caráter óptico: biaxial positivo, RD. Birrefringência: de 0,019 a 0,021. Dispersão: 0,014. Pleocroísmo: dicroísmo muito fraco. Fluorescência: inerte. Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 2,97 (±0,03). Fratura: concoidal de brilho vítreo. Clivagem: perfeita em uma direção. Características de identificação: planos de cicatrização, inclusões de fase e inclusões minerais (turmalina, apatita e moscovita). Tratamentos possíveis: nenhum conhecido. Possíveis confusões com: ambligonita,
Classe mineral: carbonatos. Grupo: calcita. Espécie mineral: calcita. Sistema de cristalização: hexagonal (trigonal). Fórmula química: CaCO3. Variedade: espato da Islândia, mármore e mármore ônix. Nomes utilizados pelo mercado: espato da Islândia, mármore, mármore ônix e mármore; errôneos: jade mexicano, alabastro oriental, ônix mexicano e ônix californiano. Cor: quase todas as cores. Transparência: de transparente a opaco. Brilho: de vítreo a gorduroso. Fenômenos ópticos: acatassolamento. Índices de refração: 1,486 - 1,658. Caráter óptico: uniaxial negativo, RD; AGG. Birrefringência: 0,172. Dispersão: 0,017. Pleocroísmo: de inerte a fraco. Fluorescência: variável. Espectro de absorção: qualquer linha vista é causada por impurezas ou tingidura. Peso específico: 2,70 (±0,05). Fratura: de granulada a irregular a fibrosa, de brilho fosco (em agregados) a subvítreo. Clivagem: perfeita em três direções; muitas vezes obscura em agregados. Características de identificação: birrefringência alta em agregados, em variedades transparentes forte duplicação de imagem. Tratamentos possíveis: tingidura, impregnação plástica ou de parafina e irradiação. Possíveis confusões: com aragonita, calcedônia, coral e alabastro. Dureza: 3. ESTABILIDADE Ao calor: exposto à alta temperatura há um decrépito. À luz do dia: cores naturais estáveis.
CITRINO
CRISOBERILO
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: quartzo. Sistema de cristalização: hexagonal (trigonal). Fórmula química: SiO2. Variedade: citrino. Nomes utilizados pelo mercado: citrino; errôneos: topázio da Espanha, topázio madeira, topázio citrino, quartzo topázio, topázio Bahia, topázio rio grande, topázio ouro, topázio de palmeira e citrino topázio. Cor: de amarelo a laranja ao laranja amarronzada. Transparência: transparente. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: não apresenta. Índices de refração: 1,544 1,553. Caráter óptico: uniaxial positivo, RD. Birrefringência: 0,009. Dispersão: 0,013. Pleocroísmo: muito fraco, diferentes tons de amarelo ou laranja. Fluorescência: inerte. Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 2,66 (+0,03, - 0,02). Fratura: concoidal de brilho vítreo. Clivagem: não apresenta. Características de identificação: zoneamento de cor, inclusões bifásicas e trifásicas, fraturas, cristais negativos e inclusões líquidas. Tratamentos possíveis: térmico (transforma ametista em citrino) - (transforma o “quartzo cor de mel” do quartzo fumé) - cobertura ou chapa no fundo do cabochão (melhora a cor da gema). Possíveis confusões com: berilo, ortoclásio, escapolita, citrino sintético, topázio,
Classe mineral: óxidos. Espécie mineral: crisoberilo. Sistema de cristalização: ortorrômbico. Fórmula química: BeAl2O4. Variedade: crisoberilo olho-degato, alexandrita e alexandrita olho-de-gato. Nomes utilizados pelo mercado: crisoberilo, crisoberilo olho-de-gato. Cor: de amarelo claro ao médio, ao verde amarelado, verde acinzentado, de marrom ao marrom amarelado e azul claro (raro). Transparência: de transparente a opaco. Brilho: de vítreo a subadamantino. Fenômenos ópticos: mudança de cor e acatassolamento. Índices de refração: 1,746 1,755 (+0,004, - 0,006). Caráter óptico: biaxial positivo, RD. Birrefringência: de 0,008 a 0,010. Dispersão: 0,015. Pleocroísmo: exemplares transparentes amarelos, verdes e marrons - de fraco a moderado, normalmente diferentes tonalidades da cor da gema. Fluorescência: exemplares amarelos e amarelo esverdeados - de inerte a fraco, verde amarelado (UVC). Outras cores geralmente inertes. Espectro de absorção: de amarela a verde amarelada uma faixa forte em 445 nm. Peso específico: 3,73 (±0,02). Fratura: concoidal de brilho vítreo a gorduroso. Clivagem: indistinta, 3 direções normalmente não é vista. Características de identificação: impressões digitais, seda; nas gemas transparentes podem apresentar planos em degraus ou linhas emparelhadas. Tratamentos possíveis:
123 turmalina, ekanita, e topázio. Dureza: 5,5. ESTABILIDADE Ao calor: sensível, pode perder a cor. À luz do dia: estável.
ESCAPOLITA
Classe mineral: silicatos. Grupo: escapolita Espécie mineral: escapolita. Sistema de cristalização: tetragonal Fórmula química: (variável) Na4Al3Si9O24Cl a Ca4Al6Si6O24(CO3,SO4) Nomes utilizados pelo mercado: escapolita e por cor; errôneo: olho da lua rosa Cor: incolor, rosa, laranja, amarela, verde, azul, violeta e roxo Transparência: de transparente a translúcido Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: acatassolamento (raro). Índices de refração: 1,550 - 1,564 (+0,015, - 0,014). Caráter óptico: uniaxial negativo, RD. Birrefringência: de 0,004 a 0,037; aumentando com o aumento do índice de
âmbar, turmalina e labradorita. Dureza: 7. ESTABILIDADE Ao calor: pode fraturar quando submetido a mudança abrupta de temperatura; temperatura elevada torna o cristal incolor. À luz do dia: estável.
nenhum conhecido. Possíveis confusões com: coríndon natural e sintético, grossulária, espinélio natural e sintético. Dureza: 8,5. ESTABILIDADE Ao calor: estável. À luz do dia: estável.
FLUORITA (Sinônimo: espatoflúor)
GRANADA ALMANDINA
HELIODORO
Classe mineral: halogenetos. Espécie mineral: fluorita. Sistema de cristalização: cúbico. Fórmula química: CaF2. Nomes utilizados pelo mercado: espatofluor, Blue John e fluorita. Cor: incolor, amarelo, laranja, rosa, azul, verde, marrom, púrpura e violeta. Transparência: de transparente a translúcido. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: mudança de cor. Índices de refração: 1,434 (± 0,001). Caráter óptico: RS; AGG. Birrefringência: não apresenta. Dispersão: 0,007. Pleocroísmo: não apresenta. Fluorescência: variável, mas frequentemente forte. Espectro de absorção: linhas em 427, 445, 610 e 630 nm; faixa de 570 a 590 nm; absorção parcial de 670 a 710 nm. Peso específico: 3,18 (+ 0,07 - 0,18). Fratura: concoidal, em degrau ou estilhaçada de brilho vítreo a subvítreo. Clivagem: perfeita em quatro direções. Características de identificação: zoneamento de cor, inclusões bi e trifásicas, hematita, cristais negativos e fraturas.
Classe mineral: silicatos. Grupo: granada. Espécie mineral: almandina. Sistema de cristalização: cúbico. Fórmula química: Fe3Al2(SiO4)3. Variedade: almandina astérica, usualmente vermelha violácea ou vermelha muito escura, com asterismo. Nomes utilizados pelo mercado: granada, almandina, almandina astérica e granada astérica; errôneos: jade da Coréia, rubi do Colorado e rubi do Cabo. Cor: de alaranjado a vermelha, vermelha levemente violácea a violeta avermelhada; tipicamente de tonalidade escura. Transparência: de transparente a semitranslúcido (para cristais muito escuros). Brilho: de vítreo a subadamantino. Fenômenos ópticos: asterismo (raro), normalmente com quatro pontas, mas pode apresentar seis (algumas amostras apresentam ambas as formas). Índices de refração: 1,790 (± 0,030). Caráter óptico: RS,
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: berilo. Sistema de cristalização: hexagonal. Fórmula química: Be3Al2Si6O18. Variedade: heliodoro. Nomes utilizados pelo mercado: heliodoro, berilo amarelo e berilo dourado. Cor: de amarelo esverdeado a alaranjado ou marrom amarelado. Transparência: de transparente a opaco. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: acatassolamento e asterismo (raro). Índices de refração: 1,577 1,583 (± 0,017). Caráter óptico: uniaxial negativo, RD. Birrefringência: de 0,005 a 0,009. Dispersão: 0,014. Pleocroísmo: dicroísmo fraco, amarelo esverdeado e amarelo, ou diferentes tonalidades de amarelo. Fluorescência: inerte. Espectro de absorção: linha débil, a 537 nm. Peso específico: 2,72 (+ 0,18 0,05). Fratura: concoidal de brilho vítreo a resinoso. Clivagem: muito difícil em uma direção, quase nunca vista; basal.
124 refração Dispersão: 0,017. Pleocroísmo: exemplares rosa, roxo e violeta de moderado a forte, azul e roxo azulado, exemplares amarelos de fraco a moderado, diferentes tonalidades de amarelo. Fluorescência: de inerte a forte, nas cores: rosa, laranja ou amarela (UVL e UVC). Espectro de absorção: exemplar rosa - linhas em 663 e 652 nm. Peso específico: de 2,60 a 2,74. Fratura: concoidal de brilho vítreo. Clivagem: perfeitas em duas direções. Características de identificação: a combinação das propriedades. Tratamentos possíveis: irradiação. Possíveis confusões com: iolita, berilo, quartzo, labradorita e ortoclásio. Dureza: 6 a 6,5. ESTABILIDADE Ao calor: se funde facilmente. À luz do dia: estável, exceto os cristais roxos irradiadas. .
Tratamentos possíveis: impregnação com plástico ou resina epóxi (sela a superfície fraturada e reforça o material para ser trabalhado em esculturas delicadas, sem se quebrar); irradiação (produz cor violeta de incolor); térmico (clarear fluorita azul escura e negra para azul). Possíveis confusões com: opala, quartzo, calcedônia e berilo. Dureza: 4. ESTABILIDADE Ao calor: muito sensível. À luz do dia: estável.
frequentemente apresenta RDA. Birrefringência: não apresenta. Dispersão: 0,024. Pleocroísmo: não apresenta. Fluorescência: inerte. Espectro de absorção: usualmente apresenta três faixas fortes em 504, 520 e 573 nm, mas pode também apresentar linhas mais fracas em 423, 460, 610 e 680-690 nm. Peso específico: 4,05 (+ 0,25, - 0,12). Fratura: concoidal de brilho gorduroso a vítreo. Clivagem: nenhuma; pode apresentar partição indistinta. Características de identificação: inclusões tipo agulhas (geralmente grosseiras); pode apresentar cristais em baixo relevo irregulares e arredondados e também zircão com estrias em forma de halos. Tratamentos possíveis: nenhum conhecido. Possíveis confusões com: piropo, rodolita, rubi natural e sintético, espinélio vermelho natural e sintético, espessartita, hessonita, granada malaia, doublé de granada e vidro. Dureza: 7 - 7,5. ESTABILIDADE Ao calor: mudanças abruptas de temperatura podem causar fraturas. À luz do dia: estável.
Características de identificação: inclusões minerais, líquidas, bifásicas, trifásicas e tubulares. Tratamentos possíveis: berilo amarelo passa a incolor mediante tratamento térmico a temperaturas entre 400 e 4500C, aproximadamente (estabilidade variável, reversível). Possíveis confusões com: quartzo, labradorita, fluorita, escapolita, crisoberilo e topázio. Dureza: 7,5 – 8. ESTABILIDADE Ao calor: pode perder a cor, pode fraturar se conter inclusões líquidas. À luz do dia: pode perder a cor.
4 HEMATITA (Sinônimo: especularita).
Classe mineral: óxidos. Grupo: hematita. Espécie mineral: hematita. Sistema de cristalização:
MORGANITA
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: berilo. Sistema de cristalização: hexagonal. Fórmula química: Be3Al2Si6O18. Variedade: morganita. Nomes utilizados pelo mercado: morganita e berilo rosa. Cor: rosa, laranja avermelhado claro (salmão) a vermelho violáceo claro
OLHO DA LUA Classe mineral: silicatos. Grupo: feldspato Cor: incolor, amarela e parda clara. Cor do traço: branco. Dureza: 6 a 6,5. Densidade: 2,56-2,58. Clivagem: perfeita. Fratura: desigual e concoide. Sistema cristalino: monoclínico e prismático.
OLHO-DE-GATO
Classe mineral: óxidos. Espécie mineral: crisoberilo. Sistema de cristalização: ortorrômbico. Fórmula química: BeAl2O4. Variedade: olho-de-gato e alexandrita olho-de-gato. Nomes utilizados pelo mercado: olho-de-gato e alexandrita olho-de-gato. Cor: de amarelo a verde
125 hexagonal (trigonal). Fórmula química: Fe2O3. Nomes utilizados pelo mercado: hematita; errôneos: diamante negro, pérola negra, diamante negro do Alaska. Cor: de cinza escura a preto. Transparência: opaco. Brilho: metálico. Fenômenos ópticos: não apresenta. Índices de refração: 2,940 - 3,220 (0,070). Caráter óptico: RD. Birrefringência: 0,280. Dispersão: não apresenta. Pleocroísmo: não apresenta Fluorescência: inerte. Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 5,20 (±0,08, - 0,25). Fratura: fibrosa, granulada ou subconcoidal de brilho fosco. Clivagem: não apresenta. Características de identificação: magnetismo de moderado a nenhum, é comum que as superfícies das fraturas e o traço sejam vermelhomarrom. Tratamentos possíveis: nenhum conhecido. Possíveis confusões com: cassiterita e imitação de hematita. Dureza: 5,5 - 6,5. ESTABILIDADE Ao calor: pode se tornar magnética. À luz do dia: estável.
Transparência: de transparente a opaco. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: acatassolamento e asterismo (raro). Índices de refração: 1,577 - 1,583 (+ 0,017). Caráter óptico: uniaxial negativo, RD. Birrefringência: de 0,005 a 0,009. Dispersão: 0,014. Pleocroísmo: dicroísmo, de fraco a moderado, normalmente vermelho claro a vermelho-roxo. Fluorescência: de inerte a fraco, rosa ou violeta claro (UVL e UVC). Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 2,72 (+ 0,18, - 0,05). Fratura: concoidal de brilho vítreo a resinoso. Clivagem: muito difícil em uma direção, quase nunca vista, basal. Características de identificação: relativamente livre de inclusões; planos de cicatrização, inclusões líquidas, tubulares, bifásicas e minerais (albita, apatita, muscovita, turmalina, columbita e monazita). Tratamentos possíveis: tratamento térmico a temperaturas entre 400 e 4500C para remoção do componente amarelo, resultando em uma cor rosa mais pura (reversível em alguns casos); exemplares de determinadas procedências adquirem cor azul intensa por irradiação; (albanita) o material resultante tem o tipo de cor de água-marinha (cor instável, reversível, detectável pelo espectro de absorção e dicroísmo invertido) A cor da albanita se perde facilmente quando exposta a luz natural ou artificial Possíveis confusões com: kunzita, topázio, escapolita, apatita, turmalina, fluorita e safira rosa. Dureza: 7,5 – 8. ESTABILIDADE Ao calor: estável até aproximadamente 4000C. À luz do dia: estável
Composição química: (KIAlSi3O5) silicato de alumínio e potássio. Transparência: opaco. Índice de refração: 1,522 – 1,530. Birrefringência: –0,005. Dispersão: 0,012. Pleocroísmo: não há. Espectro de absorção: não há. Fluorescência: fraca; verde oliva.
amarelado, verde acinzentado e de marrom a amarelo Amarronzado. Transparência: de semitransparente a semitranslúcido. Brilho: de vítreo a subadamantino. Fenômenos ópticos: acatassolamento, pode apresentar também mudança de cor, em caso extremamente raro apresenta asterismo de 4 raios, ao invés de acatassolamento. Índices de refração: 1,746 1,755 (+0,004 - 0,006). Caráter óptico: RD, biaxial positivo. Birrefringência: de 0,008 a 0,010. Dispersão: não apresenta. Pleocroísmo: o mesmo que as outras variedades, sem acatassolamento, de cor similar; a intensidade será afetada pela transparência (veja crisoberilo e alexandrita). Fluorescência: inerte; alexandrita olho-de-gato - de inerte a moderada vermelha (UVC e UVL). Espectro de absorção: o mesmo que as outras variedades transparentes de cor similar (veja crisoberilo e alexandrita). Peso específico: 3,73 (± 0,02). Fratura: concoidal de brilho vítreo a gorduroso. Clivagem: nenhuma. Características de identificação: inclusões tipo seda. Tratamentos possíveis: nenhum conhecido. Possíveis confusões com: quartzo, alexandrita olho-degato sintética e outros materiais com fenômeno de olho-de-gato. Dureza: 8,5. ESTABILIDADE Ao calor: estável. À luz do dia: estável.
126 PIRITA
Classe mineral: sulfetos. Grupo: pirita. Espécie mineral: pirita. Sistema de cristalização: cúbico. Fórmula química: FeS2. Nomes utilizados pelo mercado: pirita; errôneos: ouro dos tolos e marcassita. Cor: amarelo claro metálico. Transparência: opaco. Brilho: metálico. Fenômenos ópticos: não apresenta. Índices de refração: acima do limite do refratômetro. Caráter óptico: RS. Birrefringência: não apresenta. Dispersão: não apresenta. Pleocroísmo: não apresenta. Fluorescência: inerte. Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 5,00 (± 0,10). Fratura: de concoidal a irregular de brilho metálico. Clivagem: não apresenta. Características de identificação: brilho metálico amarelo; traço preto de esverdeado a amarronzado; não é magnético; pode apresentar iridescência nas manchas de oxidação; geminação é comum em cristais brutos. Tratamentos possíveis: nenhum conhecido comercialmente.
QUARTZO HIALINO
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: quartzo. Sistema de cristalização: hexagonal (trigonal). Fórmula química: SiO2. Variedade: quartzo arco-íris (cristal de rocha contendo muitas fraturas iridescentes) Nomes utilizados pelo mercado ® quartzo incolor, cristal de rocha, quartzo arco-íris; errôneos: diamante herkimer, diamante do Arizona, diamante de Arkansas, diamante do Alaska. Cor: incolor. Transparência: transparente. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: iridescência. Índices de refração: 1,544 - 1,553. Caráter óptico: uniaxial positivo, RD. Birrefringência: 0,009. Dispersão: 0,013. Pleocroísmo: não apresenta. Fluorescência: inerte. Espectro de absorção: nenhum. Peso específico: 2,66 (+ 0,03, - 0,02). Fratura: concoidal de brilho vítreo. Clivagem: não apresenta. Características de identificação: rutilo, goethita, ouro, pirita, dendrita (óxidos e hidróxidos de ferro e manganês), clorita, inclusões bifásicas e trifásicas, líquidos, cristais negativos, turmalina, hematita, anfibólio, amianto e fraturas. Tratamentos possíveis: choque térmico (aquecimento e resfriamento rápidos provoca fraturas criando efeito iridescente ou facilita a penetração de tingidura) irradiação (produz quartzo fumé de cristal de rocha) - tingidura (normalmente cristal de rocha muito fraturado). Possíveis confusões com: berilo, fenacita, quartzo sintético e outros cristais incolores. Dureza: 7. ESTABILIDADE Ao calor: pode fraturar quando submetido a mudanças abruptas de temperatura. À luz do dia: estável.
QUARTZO FUMÉ
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: quartzo. Sistema de cristalização: hexagonal (trigonal). Fórmula química: SiO2. Variedade: quartzo fumé. Nomes utilizados pelo mercado: quartzo fumé, quartzo enfumaçado, morion (as variedades muito escuras); errôneos: topázio fumé, topázio queimado, topázio scotch. Cor: marrom de claro a escuro, algumas vezes preto quase opaco. Transparência: de transparente a opaco. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: iridescência. Índices de refração: 1,544 1,553. Caráter óptico: uniaxial positivo, RD. Birrefringência: 0,009. Dispersão: 0,013. Pleocroísmo: fraco - marrom e marrom avermelhado nas gemas escuras; amarelomarrom de claro a escuro nas gemas mais claras. Fluorescência: não apresenta. Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 2,66 (+ 0,03 - 0,02). Fratura: de concoidal a irregular ou granulada de brilho vítreo. Clivagem: não apresenta. Características de identificação: cristais negativos, inclusões bifásicas e trifásicas, fraturas, líquidos e zoneamento de cor. Tratamentos possíveis: choque térmico aquecimento e resfriamento
QUARTZO TURMALINADO
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: quartzo. Sistema de cristalização: hexagonal (trigonal). Fórmula química: SiO2. Variedade: quartzo turmalinado. Nomes utilizados pelo mercado: flechas do amor, quartzo turmalinado e quartzo sagenítico (geralmente se refere a quartzo transparente contendo inclusões como agulha). Cor: normalmente incolor, contendo inclusões como agulhas de turmalina verde escuro ou preta. Transparência: transparente. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: não apresenta. Índices de refração: 1,544 1,553. Caráter óptico: uniaxial positivo, RD. Birrefringência: 0,009. Dispersão: 0,013. Pleocroísmo: não apresenta. Fluorescência: inerte. Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 2,66 (+ 0,03 0,02). Fratura: de concoidal a irregular de brilho vítreo. Clivagem: não apresenta. Características de identificação: inclusões de turmalinas tipo agulhas, inclusões líquidas, cristais negativos, inclusões bifásicas ou trifásicas e fraturas. Tratamentos possíveis: nenhum conhecido comercialmente. Possíveis confusões com: nenhuma. Dureza: 7. ESTABILIDADE Ao calor: fratura quando submetido a mudanças abruptas de temperatura. À luz do dia: estável.
127 Possíveis confusões com: ouro e marcassita. Dureza: 6 – 6,5. ESTABILIDADE Ao calor: funde facilmente sob maçarico do joalheiro. À luz do dia: estável.
TOPÁZIO
Classe mineral: silicatos. Espécie mineral: topázio. Sistema de cristalização: ortorrômbico. Fórmula química: Al2(F, OH)2SiO4. Variedade: topázio imperial e topázio olho-de-gato. Nomes utilizados pelo mercado: topázio imperial - rosa, rosa alaranjado, amarelo, alaranjado a vermelho alaranjado; topázio cereja - vermelho alaranjado médio e topázio azul. Cor: incolor, amarelo, alaranjado, marrom, de rosa a vermelho ao violáceo-vermelho; azul: de claro a escuro, verde claro. Transparência: transparente. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos:
rápidos provocam fraturas criando efeito iridescente; irradiação - pode produzir quartzo fumé de cristal de rocha; tratamento térmico clareia a cor de quartzo fumé muito escuro; cobertura ou chapa no fundo do cabochão melhora a cor da gema. Possíveis confusões com: andaluzita, axinita, ortoclásio, turmalina e vesuvianita. Dureza: 7. ESTABILIDADE Ao calor: pode fraturar quando submetido a mudanças abruptas de temperatura; sob calor forte pode alterar ou perder totalmente a cor. À luz do dia: estável. TURMALINA VERDE
Classe mineral: silicatos. Grupo: turmalina. Espécie mineral: elbaíta. Sistema de cristalização : trigonal. Fórmula química: (Ca,K,Na)(Al,Fe,Li,Mg,Mn)3 (Al,Cr,Fe,V)6(BO3)3Si6O18(OH,F)4. Variedade: turmalina verde, turmalina olhode-gato e turmalina com mudança de cor. Nomes utilizados pelo mercado: verdelita, turmalina verde, turmalina olho-de-gato e turmalina com mudança de cor. Cor: verde, verde amarelado a verde azulado. Transparência: de transparente a opaco. Brilho: vítreo. Fenômenos ópticos: acatassolamento e mudança de cor (raro). Índices de refração: 1,624 - 1,644 (+ 0,011 0,009). Caráter óptico: uniaxial negativo, RD. Birrefringência: de 0,018 a 0,040, geralmente 0,020, mas pode alcançar 0,040 nos cristais escuros. Dispersão: 0,017. Pleocroísmo: de moderado a forte geralmente diferentes tonalidades da cor da gema. Fluorescência: não apresenta. Espectro de absorção: absorção quase completa do vermelho até 640 nm, em conjunto com uma faixa forte e estreita em 498 nm. Peso específico: 3,06 (+ 0,20, - 0,06). Fratura: concoidal de brilho vítreo.
128 acatassolamento (raro, em algumas gemas azuis e amarelo-laranja). Índices de refração: 1,619 - 1,627 (± 0,010). Caráter óptico: biaxial positivo, RD. Birrefringência: de 0,008 a 0,010. Dispersão: 0,014. Pleocroísmo: exemplares amarelos de fraco a moderado, amarelo amarronzado, amarelo e amarelolaranja exemplares marrom - de fraco a moderado, amarelomarrom e marrom exemplares vermelho e rosa - de fraco a moderado, vermelho claro e de vermelho alaranjado a amarelo exemplares verde - de fraco a moderado, verde-azul e verde claro exemplares azul de fraco a moderado, diferentes tonalidades de azul. Fluorescência: exemplares de amarelo a marrom e de rosa a vermelho fraco a moderado, amarelo alaranjado (UVL, geralmente mais fraco sob UVC) alguns exemplares rosa - moderado, branco esverdeado (UVC) exemplares azuis e incolor - de inerte a fraco, amarelo ou verde (UVL, geralmente mais fraco sob UVC). Espectro de absorção: não diagnóstico. Peso específico: 3,53 (± 0,04). Fratura: concoidal de brilho vítreo. Clivagem: perfeita em uma direção.
Clivagem: não apresenta. Características de identificação: inclusões parecidas com linhas ou filamentos finos irregulares contendo líquido e gás. Tratamentos possíveis: térmico - atinge tonalidade verde-esmeralda; irradiação exemplar verde escuro pode tornar-se roxo. Possíveis confusões com: peridoto, esmeralda, prasiolita, espinélio sintético verde, vesuvianita, imitações de vidro, demantóide, hiddenita e quartzo sintético verde. Dureza: 7 - 7,5. ESTABILIDADE Ao calor: pode alterar a cor sob forte calor; mudanças súbitas de temperatura pode causar fraturamento. À luz do dia: estável. Turmalina negra Schrol: negra muito comum. É utilizada em joalheria como alternativa ao cristal de ônix. Esta é a variedade de turmalina abundante nos garimpos do Espírito Santo, geralmente acompanhando depósitos de água-marinha e ametista e demais variedades de quartzo, tanto nos pegmatitos, quanto nos depósitos secundários, nas aluviões e coluviões. Vale mencionar que tivemos oportunidade de nos depararmos com pequenos cristais estilhaçados de turmalina, em cores variadas, numa escavação que fazíamos na localidade de Alto Liberdade, município de Marilândia, Norte do estado. Também na localidade de Córrego da Laje, no distrito de Boapaba, Colatina-ES, foi encontrada um cristal opaco de exemplar de turmalina, cor verde semelhante à da esmeralda, tudo indicando que nessas localidades, é possível existirem jazidas dessa espécie mineral.
129 Fonte: Manual técnico de gemas DNPM/IBGM
CAPÍTULO 6 CRISTAIS EM BRUTO E GEMAS PRODUZIDAS NO ESPÍRITO SANTO Fotos, descrições e origem dos achados dos minerais-gema No final do capítulo 5, acima, inseri um quadro no qual assinalei as principais propriedades das gemas produzidas no Espírito Santo, destacando suas características físicas (dureza, sistema cristalino, pleocroísmo, transparência, dispersão, traço, densidade, clivagem e fluorescência) e químicas (composição) que, aleatoriamente, conferem às gemas formatos definidos prismáticos hexagonais e coloração pela presença de substâncias metálicas que, alterando o tamanho das ondas eletromagnéticas, permite que a visão humana a interprete como cor. Água-marinha É a variedade do berilo de coloração azul a esverdeado, cuja composição Mineral está associada ao silício e ao alumínio. É produzido em quase todos os municípios do Espírito Santo; mesmo onde não se registraram achados, há evidências da sua presença. Por todo o estado estão presentes afloramentos de cristais de quartzo, tanto em estado anédrico, quanto na forma diáfana e esta é a fonte do silício que, associado ao berílio e ao óxido de alumínio resultou na formação dos cristais de água-marinha. Características Propriedades físicas, químicas, formatos e origem.
Propriedades físicas podem ser entendidas, quanto à dureza classificada pelo método de MOHS, transparência, refringência, fluorescência, clivagem, sistema cristalino, pleocroísmo, refração, dispersão, traço, densidade, eixos... Propriedades químicas são entendidas pela composição agregada aleatoriamente, conferindo formatos definidos prismáticos hexagonais, coloração definida pela presença de substâncias metálicas que, alterando o tamanho das ondas eletromagnéticas, permite que a visão humana a interprete como cor. Formatos da água-marinha são decorrentes da agregação das moléculas componentes do mineral e lhe concederam características como sistemas de prismas hexagonais alongados, formas geométricas granulares com escadas. No encontro de peças esféricas e ovais, não representam formato original e, sim, o desgaste causado pelo turbilhonamento na água, presentes areias, cascalhos de quartzo e seixos de granito. A substância Corante é o ferro, que, nessa variedade de gema , produz o azul, nem sempre presente quando extraída, entretanto, a cor original poderá se tornar presente com tratamento térmico nas temperaturas de 400 a 4500, que eliminam sua tonalidade amarela. Quanto à saturação, ou seja, as tonalidades fortes ou fracas, não há como modificá-las por esse
130 processo. Somente através de radiações, isso se torna possível. Fato idêntico pode acontecer com gemas de variedades diversas. Onde são encontrados os cristais de água-marinha? - Nos terrenos em que há cascalhos de quartzo, geralmente acompanhados de mica, caulim, cristais com hábito prismático, fruto do deslocamento de algum pegmatito. Aqui, os achados compreendem peças prismáticas hexagonais inteiras e estilhaçadas, junto a qualquer tipo de solo. - Nos depósitos aluviais e coluviais, na presença de cascalhos de quartzo, areia e seixos. Nesses locais, os cristais podem estar inteiros sob as formas prismáticas hexagonais, com o brilho natural de suas faces ou com desgastes nas arestas e nas faces, como se modificados pela ação por abrasivos, no caso, naturais (areias e outros sólidos). - Nos pegmatitos (depósitos primários), junto a rochas argilosas, arenosas e graníticas, nas sedes das câmaras magmáticas de cristalização, no interior de bolhas de gases em rochas graníticas e basálticas, aonde se formaram. Imagens Alguns dos formatos naturais da água-marinha e peças trabalhadas por corte e polimento por lapidadores.
Imagens 045, 046 e 047 Três peças de água-marinha, procedentes da localidade de Várzea Alegre – ES, provavelmente extraídas na década de 1950. As fotos 34 e 36 foram feitas no estabelecimento comercial “Pedra Brasileira”, em 2007. A figura 35 reflete um cristal facetado retangular. É peça da coleção do autor e fotografada em 2007.
Imagem 048 Três cristais prismáticos hexagonais de água-marinha, pesando 12, 8 e 3 gramas, procedentes de Várzea Alegre, Santa Teresa, ES. Foto feita pelo autor, em 2007.
131
Imagem 049 Escória de berilo verde em bruto. Imagem disponibilizada pela loja “Pedra Brasileira”, fotografada pelo autor, em 2006.
Imagem 050 Cristal de água-marinha, procedente de Pancas-ES, extraída em 1982, na lavra do Córrego de São José, pelo garimpeiro Izalino na propriedade de Joaquim Ciríaco, pesando 20,500 Kg. Foto cedida por Florício Bassani, em 05.12.2005.
Observação: Consta referência na p. 33, SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas, assim descrito: “Berilo azul, variedade ‘olho-de-gato’ proveniente de Bom Jesus de Itabapoana-ES”.
Imagem 051 Exemplares de água-marinha lapidados nos formatos (tipo brilhante), redondo, antique, oval e pêra. Imagens obtidas na p. 26, de SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
132
Imagem 052. Par de brincos com água-marinha no formato de gotas, provenientes de Itaguaçu-ES. Imagens obtidas na p. 31. SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
Alexandrita É uma variedade do crisoberilo que apresenta e fenômeno da mudança de cor, fenômeno conhecido como Chatoyance ou acatassolamento. Tem propriedades idênticas às do crisoberilo, também denominada crisoberilo, distinguindo-se das demais gemas do grupo, devido a uma propriedade ótica, cujo efeito da luz pode modificar-lhe a cor. À luz do dia é verde, com luz artificial, vermelha. Quanto mais espessos os cristais, maior facilidade de se ver a mudança de cor. Seu nome Alexandrita deve-se ao Czar Alexandre II. As histórias contam que foi descoberta em 1830 no mesmo dia que o Czar fazia aniversário e o seu nome foi dado ao mineral. As jazidas de Alexandrita estão localizadas, principalmente, em Sri Lanka, Zimbábue e Brasil, mas não possuem mudança de cor muito expressiva, quanto às encontradas antigamente nos Montes Urais, na Rússia. Em 1987, foi descoberta no Brasil uma alexandrita em que a mudança de cor é impressionante. No Espírito Santo há notícias de que alguns cristais de alexandrita foram encontrados na lavra de crisoberilo olho-de-gato de São João Grande, no município de Colatina, embora carentes de comprovação. A alexandrita, apesar de possuir dureza 8 e ½, é sensível à pressão. Deve-se evitar o atrito com superfícies duras. O calor excessivo (como o fogo de um maçarico de joalheiro) também altera sua cor.
Imagens 053,
054
e
055
Fotografias de alexandrita, as primeiras, verdes na luz do dia; a terceira, vermelha na luz artificial. Imagens copiadas da p. 99, de SCHUMANN, Walter. Gemas do Mundo, terceira edição 1985. A primeria procede da p. 111, SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
Andaluzita
133
Do grupo do silício com presença do alumínio. Tem 7 e ½ de dureza, sistema cristalino ortorrômbico com cracteísticas e propriedades próprias, conforme explicitado no quadro das gemas produzidas no Estado do Espírito Santo, em cujos garimpos é frequente ser conhecida pelo nome de crisolito.36 Localizações significativas da andaluzita Há, na região serrana do Estado do Espírito Santo, especialmente nas partes altas dos municípios de Santa Teresa, de Santa Leopoldina e de Santa Maria de Jetibá, um polígono onde ocorrem algumas jazidas de andaluzita, a maioria, em depósitos de natureza secundária, em sedimentos aluviais. As jazidas em depósitos primários, em pegmatitos, não são frequentes, tudo levando a crer que restam muitos depósitos ainda não descobertos. Apesar da extensão de achados de andaluzita ser difusa na região em foco, existe evidência de que o ponto de maior probabilidade de jazidas de grandes proporções deva estar localizado desde o alto da Serra dos Pregos ao pico da montanha do Papaçu, em locais adjacentes à cidade de Santa Teresa. A citação da p. 205 do livro Les Mineraux, de VERT, Guide: “... et du Brésil ou dês cristuax limpidesaztteiganamant 50 mm ont été recontrés em realtive abondance à Santa Teresa, Espírito Santo...”. Na citação acima, as jazidas de andaluzita de Santa Teresa são reconhecidas internacionalmente. Lembradas também, nessa publicação fancesa, as jazidas brasileiras no rio Iguape, em São Paulo, e na Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Mas os cristais de andaluzita qualificados mais puros e de maior valor comercial são estes produzidos aqui no Espírito Santo. A intensa exploração das jazidas de quartzo na região serrana do Espírito Santo, ocorrida em larga escala na década de 1940, teria levado à descoberta das gemas popularmente conhecidas como crisólito (ou crisolito), como é conhecida a andaluzita. Descobriu-se, da mesma forma, ocorrências de crisoberilo e de crisoberilo olho-de-gato, até, mesmo, na perifieria da cidade de Santa Teresa: uma dessas jazidas estava localizada, onde, hoje, há um bairro residencial, em terras de antiga propriedade rural pertencentes à família de Rocco Corteletti e outra na localidade de Aparecidinha. Temos notícias antigas de que, além da existência abudante de andaluzita, havia, concomitantemente, presença de crisoberilo e de crisoberilo olho-de-gato. Foram encontradas inúmeros exemplares de crisoberilo olho-de-gato, muitos deles, com peso acima de 20 gramas. A existência de andaluzitas ocorre num polígno que pode ser demarcado a partir do Papaçu – montanha cuja maior porção é constituída de rocha granítica, atingindo no cume a altitude de 975 metros – a mais alta montanha do município de Santa Teresa, localizada acima de Vargem Alta a poucos quilômetros do centro da cidade de Santa Teresa. No seu caminho, localiza-se a igreja dedicada a Nossa Senhora do Caravaggio. Mas as reservas de andaluzita se estendem à Serra dos Pregos – nascente do rio Timbuí –, passando por Alto Tabocas, Alto Caldeirão, retornando ao lado inverso pelo município de Santa Maria de Jetibá, seguindo pela localidade de Recreio até rio Bonito, no limite com o município de Santa Leopoldina, retornado
36 Garimpeiros costumam denominar erroneamente a andaluzita como crisolito ( coisa que não pode ser confundido com a gema crisólito ou crisólita).
134 ao município de Santa Teresa via Aparecidinha, Valsugana, vales de São Pedro, de São Lourenço e Alto Santo Antônio, chegando póximo do rio Saltinho, Goiapaba-Açu e de Lombardia.
Imagem 056 Cristal em bruto de andaluzita no formato prismático, exibindo fraturas numa extremidade e pesando aproximadamente um grama. Foto de peça de coleção do autor.
Imagem 057 Quatro cristais em bruto de andaluzita (estilhaços). Fotografia obtida da coleção de Baunílio Rossi. Santa Teresa, 2006
Imagem 058. Fotografia obtida da p. 111. SAUER, jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
Imagem 059 Gema facetada, com 3 quilates Fotografia do autor . Coleção de Nair Lelis, em Itarana-ES.
Ametista Esta variedade de quartzo é abundante em quase todo o estado do Espírito Santo, quase sempre presentre nos pegmatitos dos depósitos primários onde são encontradas águamarinha, berilo, topázio, brasilianita, fluorita, morganita, granada, quartzo hialino, fumé, citrino... Também nos depósitos aluviais, junto aos cascalhos de cristal de quartzo, areia e seixos, a ametista pode ser encontrada, enfim, de forma e locais comuns às outras gemas. Suas propridadades e cacterístas guardam semelhança aos demais tipos de quartzo, fórmula química e propriedades físicas idênticas, exceto quanto a sua cor característica — o violeta e suas tonalidades. O roxo violeta, quando submetido à temperatura próxima de 500 graus Celsios ,
135 pode alterar esta matiz para o amarelo (gema conhecida como topázio do Rio Grande do Sul ou da Bahia, não acontecendo esse fenônemo com a ametista do Espírito Santo), podendo adquirir mudança de cor para o verde, até mesmo para o incolor. O sistema crstalino é constituído por prismas curtos com acabamento em forma de pirâmide, onde se concentra a cor. Na condição de gema, com cristalização e cores bem definidas, é utilizada na confecção de jóias, e cristais com qualidade inferior são aplicadas em bijuterias. No Espírito Santo, essa variedade de quartzo pode ser encontrada em quase todos os municípios, destacando-se as grandes jazidas no município de Fundão (lavra do Oséias), em Santa Teresa, nas localidades de Alto Caldeirão e em Várzea Alegre (em todos os quadrantes); no muncípio de Itarana desde o Alto Limoeiro à localidade do Triunfo.Pequenos depósitos se estendem a muitos municípios e, quando não houve achados, os indícios estão presentes .
Imagens 060 e 061 Gemas de ametista facetadas no formato oval, com 10 quilates cada. Fotografias de peças da coleção particular do autor.
Imagem 062 Drusa de ametista com peso de noventa quilogramas, imagem de fotografia do acervo de Guerino Bridi Filho. Mineral oriundo da região de Itarana-ES.
Imagem 063 Exemplares tornadas gema pelo proceso de beneficiamento por lapidadação. Fotografia obtida na p. 84. SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
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Berilo O termo berilo abrange todas as variedades de um grupo com este nome que vão da cor verde esmeralda ao azul marinho. A origem do nome provem do grego berilos. Em todos os municípios do Espírito Santo é possível encontrar-se alguma variedade de berilo, tanto nas jazidas de depósito primários, quanto nas sedimentares e aluviais, juntamente com a presença de cristais diversos. Trata-se de um silicato de alumínio e berílio que se cristaliza no sistema hexagonal, prevalece o hábito de cristais prismáticos hexagonais, nas cores amarelo-ouro, amarelo esverdeado são as mais frequentes. Um exemplo de gema do grupo, rara no Espírito Santo, mas presente num garimpo de que participei foi achado um exemplar de “heliodoro”, com peso aproximado de 10 gramas e muitas inclusões (verde e amarelo intensos).
Imagens 064, 065, 066 e 067. Da esquerda para a direita: Gema de berilo dourado. Gema de heliodoro. Berilo amarelo em bruto. Berilo em bruto, cor verde. Fotos obtidas do livro Gemas do Mundo, p. 97, de SHUMANN, Walter.
Brasilianita
Figura 068 Fotografia obtida pelo autor de peça pertencente ao acervo de Gervásio José Pivetta, em 2007.
137 Imagem 069 Imagem resultante de cópia extraída em Brasil: Paraíso de Pedras Preciosas, p. 76.
Gema que tem brilho vítreo, transparência semelhante aos demais minerais cristalinos, porém sua dureza é baixa, situando-se em torno de 5 e ½ , podendo confundir-se, na aparência, com o berilo, o crisoberilo e o topázio. As jazidas mais importantes estão localizadas no Brasil (Minas Gerais e Espírito Santo). “A descoberta pioneira desta gema ocorreu na localidade de Córrego Frio, em Minas Gerais. Criam os garimpeiros que o encontro seria de crisoberilo, mas o mineralogista Dr. Caio37 Guimarães, logo percebeu tratar-se de gema com a fórmula de fosfato de alumínio e sódio, dando-lhe o nome de Brasilianita em homenagem ao país de origem – Brasil”.
Alguns exemplares lapidados e peças brutas formam acervos de colecionadores, única forma de uso da gema, possuidora de cores que vão desde o incolor, verde e amarelo. No Espírito Santo, coube à família de Sebastião Pivetta, ao lavrar um pegmatito, dele extraírem cerca de 100 quilogramas do mineral, inicialmente confundido com topázio e crisoberilo. Calcita Mineral com formação cristalina de baixa dureza (3 Mohs), não tem valor gemológico, é utilizado somente como peça para colecionadores. É encontrado no Sul do estado do Espírito Santo junto à mineração de calcários destinados à fabricação de cimento e para correção de solos ácidos (calcário dolomítico). Sua fórmula de composição química é carbonato de cálcio, sistema cristalino trigonal, não tem pleocroísmo, é transparente, tem colorações que variam do vermelho ao rosa alaranjado e demais características contantante do quadro que acompanha esta edição.
Imagem 070 Três exemplares de brasilianita facetadas. Imagem obtida na p. 208 do livro Gemas do Mundo. SHUMAM, Walter.
Crisoberilo Em todos os garimpos de andaluzita, na área serrana dos municípios de Santa Teresa, de Santa Maria de Jetibá e de Santa Leopoldina; nos muncípios litorâneos de Guarapari, de Viana, de Cariacica, de Serra, de Aracruz; dos municíos que margeiam o Rio Doce, especialmente de Colatina, de Baixo Guandu, de Marilândia, de São Roque do Canaã e de Pancas. Nesses os achados foram mais expressivos, na quantidade de peças e as mais volumosas, chegando a exemplares com 300 a 400 gramas. De modo geral, a quase totalidade de achados ocorreu em depósitos secundários, exceto a ocorrência de duas matrizes em depósitos primários: uma em São João Grande (Colatina) e outra em Tancredo (São Roque do Canaã). 37 Nota: citado na página 76 de SAUER. Jules Roger, no livro Brasil Paraíso de Pedras Preciosas. “Mas o mineralogista Dr. Caio Guimarães logo percebeu tratar-se de gema com a fórmula de fosfato de alumínio e sódio, dando-lhe nome de Brasilianita em homenagem ao país de origem – Brasil”.
138 Pancas também é noticiado como detentor de achados do crisoberilo, conforme registros a seguir:
Imagem 070-A
Minerals Species: Chrysoberyl (twinned crystals). Location of mineral deposit: Fazenda Santa Isabel Pancas, Espírito Santo, Brazil. Description: Transparent yellow chrysoberyl crystals in a parallel aggregate with no attached matrix. The chrysoberyl is fully crystallized on all faces and the lower third is V-twinned with reentrant faces indicating the twin plane running through the length. No damage is visible to the unaided eye, minute edge chipping is visible under 20x magnification. Overall size of mineral specimen: 37x18x15 mm. Size of individual crystals: 5-37 mm. Imagem e texto obtidos no endereço eletrônico abaixo: http://www.google.com.br/imgres?start=290&um=1&hl=ptBR&safe=off&sa=N&tbo=d&biw=1092&bih=514&tbm=isch&tbnid=WsCoPrFVVsUUbM:&imgrefurl=http://www.johnbettsfineminerals.com/jhbnyc/gifs/55982.htm&docid=4quFt0XcamRJpM&imgurl=http://www.johnbettsfineminerals.com/jhbnyc/gifs/55982de2.jpg&w=418&h=477&ei=03rTUPK0Ce40gHwtYDYDg&zoom=1&iact=hc&vpx=162&vpy=133&dur=1739&hovh=240&hovw=211&tx=88&ty=134&sig=1011985726352 14948526&page=17&tbnh=133&tbnw=125&ndsp=17&ved=1t:429,r:3,s:300,i:13. Acesso em 20.12.2012.
Nos garimpos no estado do Espírito Santo, essa gema é conhecida, também pelo nome Crisólita (denominação errônea utilizada pelos garimpeiros).38 O crisoberilo é um óxido de alumínio e berílio, dureza 8 e ½, sitema cristalino hexagonal e trigonal, é transparente, tem coloração amarela-ouro, verde marelada e parda e demais cracterístas, conforme explicitadas no quadro nº 1.
38 Crisólita, na realidade, é vocábulo sinônimo da gema peridoto, conforme registro na p. 158, de Gemas do Mundo, obra citada nas referências bibliográficas.
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Imagem 071 Fotografia de exemplar de crisoberilo facetado na forma de gota, com 8 quilates, pertencente ao acervo do autor.
Crisoberilo olho-de-gato Todas as características desta gema guardam idênticas características e propriedades do crisoberilo, exceto uma, a da aparência quando talhada sob a forma de cabochão. Neste caso exibe efeito ótico ondulante provocado por finos canais. Esse efeito causa semelhança com a pupila rasgada de um gato 39.
Figura 072 Fotografia de peça minúscula, aqui ampliada, da coleção do autor.
Imagens Walter, do
073
e
074. Fotografias de crisoberilo olho-de-gato copiadas de SUHMANN livro Gemas do Mundo.
Imagem 075. Geminação cíclica de crisoberilo completa. Itaguaçu-ES. Fotografia constante da p. 65 de Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
39
Também é conhecido como cimofana, o que é uma gema rara e por isso todos os espécimes são lapidados e usados em joalheria. Para ressaltar o efeito olho-de-gato, o lapidador deve ser experto, porque o corte e o polimento devem obedecer a um ângulo determinado pelo cristal. Geralmente, para não errar, a gema é lapidada em forma de cabochão, bem arredondado, a imitação de um olho de gato verdadeiro.
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Imagem 076 Dois cristais de crisoberilo olho-de-gato. A peça da direita é da variedade ALEXANDRITA. Imagem obtida na p. 64 de Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
Escapolita Nesta reedição deste livro o cristal de escapolita passa a fazer parte do elenco dos minerais encontrada em solo capixaba, graças ao que diz SAUER, Jules Roger, na p. 112. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas, incluído abaixo:
[...]... A escapolita é um mineral abundante nas jazidas de contato, e em particular nas jazidas de scheelita do Nordeste, onde se apresenta em longos prismas que são por vezes decimétricos. No entanto o produto raramente é transparente e lapidável. A lavra de Antônio Coelho, próximo a Itaguaçu, no Espírito Santo, tem produzido exemplares amarelas e diáfanas... [...].
Imagens 077 Quatro cristais em bruto de escapolita e cinco facetadas. Imagens obtidas de SHUMANN, Walter, em Gemas do Mundo.
Fluorita40 O mineral Gema resultante de cálcio e flúor, utilizada quase que exclusivamente por colecionadores. Tem baixa dureza, sua coloração é distribuída em zonas ou manchas e pode, à primeira vista, ser confundida com várias gemas devido à diversidade de formas e cores características. No Espírito Santo, pode ser encontrada com frequência nos pegmatitos junto às jazidas de água-marinha e de quartzo e suas variedades. Sua presença é frequente nas jazidas 40 Diante das imagens e descrições da fluorita, em registros existentes em muitos textos, parece-me que os exemplares de cristais de fluorita referidos nestes textos deixam dúvidas se são ou não exemplares do mineral fluorita. De uma coisa, temos certeza, é espécie mineral de baixo teor de dureza, ora se assemelhando a corpos prismáticos hexagonais das variedades de berilo e aos trigonais da turmalina, inclusive quanto à cor verde, rosa, azul, etc. Esses cristais são vistos com frequência nas lavras adjacentes à Pedra da Onça, tanto no lado Leste, quanto no Oeste.
141 que circundam a Pedra da Onça e adjacências, nos municípios de Santa Teresa, Itarana e Itaguaçu.
Imagem 078 Fotografia na p. 111, do livro Brasil Paraíso de Pedras Preciosas, de SAUER, Jules Roger.
Imagem 079 Dois octaedros de clivagem de fluorita. Imagem obtida de Gemas do Mundo. Abaixo duas gemas facetadas. Imagem de idêntica origem (figura 74).
Imagem 080 Dois exemplares de fluorita facetados.
Granada O formato arredondado lembra “grão”, daí o nome granada, do latim granus. Granada é nome genérico que engloba vários minerais com diferentes cores. No Espírito Santo, encontramos a almandina, geralmente em pequenos cristais com boa diafaneidade, nos depósitos aluviais e grandes blocos de escórias opacas nos veios de mica (biotita) dos pegmatitos. Silicato de ferro e alumínio é sua fórmula química. Varia de transparente a translúcida e tem no vermelho sua principal coloração, podendo ter tonalidades do verde ao violeta (duas colorações ausentes nas variedades de granadas encontradas neste estado). Tem dureza 7 e ½, o que lhe garante, quando cristalina e transparente, bom aproveitamento gemológico para a manufatura de jóias. No livro Brasil Paraíso de Pedras Preciosas consta na p. 108: “... Espírito Santo: Colatina, Cachoeiro do Itapemirim, Rio Piúma e Santa Teresa.”
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Imagem 081 Seis peças facetadas, em diversos formatos, uma amarela e as demais em tons de vermelho pálido ao intenso. Imagens obtidas de SAUER, Jules Roger, em Brasil Paraíso das Pedras Preciosas.
Imagem 082 Granada em bruto na rocha matriz. Imagem copiada de Brasil Paraíso das Pedras Preciosas.
Hematita Este mineral tem na morfologia do seu nome ligação a hemo (sangue), porque, quando é polida tinge a água de vermelho sangue. Os cristais brilhantes da hematita são chamados de especularita, palavra originária do grego que significa espelho, por ter sido usada na antiguidade como tal. Existe uma variedade, transparente e brilhante, quando talhada em finas lâminas; no entanto, não ocorre nas jazidas desta região. A variedade que é conhecida por aqui tem seu uso ligado à confecção de bijuterias. Pequenos achados foram vistos junto aos pegmatitos e depósitos secundários ao longo do estado do Espírito Santo.
Imagem 083 Exemplares de hematita lapidada e um cristal fraturado. Copiado da p. 163, de Gemas do Mundo.
Morganita Morganita é gema rara e ocasionalmente encontrada nos garimpos de água-marinha do Espírito Santo, pertence ao grupo do berilo, podendo sua cor variar da rosa delicada ao violeta por causa da presença de manganês e de ferro. Tem dureza de 7 e ½ a 8, sua fórmula química é o silicato de berilo e alumínio, sistema cristalino hexagonal, prismas hexagonais e cristais colunares. É transparente e opaco e as demais características estão contempladas em quadro, juntamente com as demais gemas.
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Imagens 084 e 085 Fotografia peça facetada de morganita da p. 96 do livro Gemas do Mundo. Um cristal de morganita em bruto.
VARIEDADES DE QUARTZO Quartzo róseo Esta variedade de cristal tem seu nome ligado à cor e é ligeiramente turvo. Seu colorido tem como causa a presença de íons trivalentes de titânio que também pode precipitar-se em forma de agulhas microscópicas de rutilo dispostas através dos eixos binários romboédricos do cristal e, quando lapidados em cabochon, exibem o efeito asterismo (estrela de seis pontas). As maiores jazidas desse quartzo estão localizadas no Brasil. Coube ao Estado do Espírito partilhar com jazidas localizadas nos municípios de Itarana, de Afonso Cláudio, de Itaguaçu e de Santa Teresa. Embora raros, existem cristais dessa variedade que exibem formas facetadas hexagonais, trigonais e criptocristalinas.
Imagem 086 Exemplar raro de quartzo rosa, sobre matriz de cristal incolor, com inclusões de turmalinas. Imagem obtida na p. 98 de SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
Imagem 087
144 Fotografia de quartzo rosa estilhaçado. Imagem pertencente do acervo de Baunílio Rossi, Santa Teresa-ES.
Quartzo fumé Cristal enfumaçado, fumado, fumé ou morion; esses são os nomes pelos quais é conhecida essa variedade de cristal, derivando da cor escura enfumaçada, tendo graus variados de tonalidades escuras. Antigamente, todos os cristais escuros eram chamados morion. Sua presença pode estar nos depósitos em pegmatitos, ou depositado secundariamente nos aluviões, ou, mesmo, disperso sobre o solo. Sua dureza é 7, o que é comum nos espécimes do grupo do quartzo. Atualmente, também essa variedade, quando tornada gema, tem utilidade na confecção de jóias, de semijóias e de bijuterias, e nas associações a outras gemas e a metais nobres (ouro, prata e platina). Imagem 088 Cristal fumé (tipo catedral) da coleção de Alonso Possatti. Várzea Alegre, Santa Teresa-ES. Fotografia do autor em 2007.
Imagem 088-A Fotografia de autoria de Edgard Romero Taufner de um cristal fumé com hábito preservado na cor negra intensa. Peça pertencente ao Acervo de Alfeu Scotá. V. Alegre, Santa Teresa-ES.
Imagem 089 Cristal fumé facetada sob a forma de gota, da coleção de Pedra Brasileira, Praia do Canto, Vitória-ES
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Várias imagens de gemas lapidadas e jóias foram obtidas neste estabelecimento comercial especializado, conforme ilustração acima.
Imagem 090 Cristal fumé facetado. Coleção de Nair Lélis, em Itarana-ES. Fotografada pelo autor em 2006.
Citrino Seu nome deriva da semelhança da coloração das frutas cítricas – amarelo com tons ligeiramente esverdeados. Cristais citrino lapidadas podem ser cristais de ametista tratadas termicamente provenientes dos estados do Rio Grande do Sul e da Bahia, enquanto o quartzo citrino achado nos limites do Estado tem sua coloração original, bem como as ametistas produzidas por aqui não se convertem da sua cor original para tonalidades da cor amarela. Este mineral pode ser encontrado tanto nos pegmatitos como nos demais depósitos secundários e está presente em praticamente todos os municípios do Espírito Santo. Também, como as demais variedades de quartzo, tem dureza 7 e pode ser utilizada na composição de jóias e de bijuterias, dependendo da qualidade da peça.
Imagem 091 Citrino facetado. Acervo de “Pedra Brasileira”. Fotografia tomada pelo autor em 2006.
Quartzo hialino
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Imagem 092 Cristal opaco geminado (macla) originário de Muqui-ES. Coleção de Clementino Scotar. Fotografia do autor em 2006. Quartzo com irisdecência
Imagem 093 Estilhaço de quartzo de hialino com o efeito ótico da irisdecência. Coleção do autor.
Olho da lua Nome atribuído a esse mineral devido ao seu brilho branco azulado que é causado por estrutura lamelar, que lhe confere a propriedade que se iguala ao efeito “olho-de-gato”, sendo, por isto, chamada de olho da lua (seu nome científico é Adulária). Tem grau de dureza médio e pode ser aproveitada na confecção de jóias e bijuterias. No Espírito Santo, registra-se ocorrência na localidade de Córrego Frio, próximo dos limites municipais de Santa Teresa, São Roque do Canaã e Itaguaçu, mas é possível a existência de outros depósitos em pegmatitos.
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Figura 094 Fotografia de dois cabochões da gema olho da lua. Coleção do autor.
Pirita Mineral, cujo nome provém do grego e significa fogo, porque quando atrita produz faísca. Também é conhecida como “ouro de tolo”, devido à cor e o brilho guardarem semelhança com este metal precioso. É basicamente composta por ferro e enxofre, tendo como nome químico sulfeto de ferro, forma cristalina monoclínica e prismática, não é transparente e sua aparência varia amarela a amarela acinzentada. No Espírito Santo pode ser encontrada, com frequência, nos pegmatitos, junto às jazidas de água-marinha e dos demais minerais-gema.
Imagens 095 e 096 Duas Fotografias de pirita: a da esquerda de uma peça ao natural com a cor esmaecida pela oxidação; a da direita, sem o acabamento natural das faces devido às fraturas (brilho metálico.
Topázio Cristal encontrado no Espírito Santo, com mais frequência, do tipo incolor. Achados raros dão conta de que gemas azuis foram vistas no município de Itarana, localidade de Limoeiro do Caravaggio, na propriedade dos irmãos D’Ávila (Pacífico). Tem dureza 8, transparente e é dotada de várias tonalidades de cor, desde o amarelo, azul, vermelho, rosa ao avermelhado, tem clivagem perfeita e tem a propriedade de se apresentar, mesmo como exemplar incolor, a vários matizes, quando submetida a tratamento de radiação. Serve na confecção de joias e não é raro ser confundida com água-marinha, berilo, crisoberilo e outras, porém, dada a propriedade da clivagem ser intensa, o que torna a torna de difícil lapidação, pois pode descamar-se. Sua composição química tem a fórmula silicato de alumínio fluorado. A
148 variedade topázio imperial é a mais valiosa, tendo colorações, desde o amarelo semelhante ao crisoberilo até o amarelo-pêssego e o rosa, o mais apreciado de todos.41
Imagens 097, 098 e 099 Fotografia de uma peça de topázio incrustado em rocha matriz. e duas peças facetadas. Imagens obtidas da p. 103. SHUMANN, Walter. Gemas do Mundo.
Imagem 100 Fotografia de topázio azul, constante da p. 60. SAUER, Jules Roger. Brasil Paraíso de Pedras Preciosas, inclusive trecho de texto, em que são citadas algumas localidades onde este mineral pode ser encontrado. Conforme abaixo:
“Os topázios azuis que lembram a água-marinha, distinguem-se desta pelo brilho ligeiramente metálico e, principalmente, por sua densidade mais alta. Tais topázios, sempre encontrados em pegmatitos ou aluviões, provêm do Sudoeste da Bahia, do Espírito Santo (rio Caxixe) e...”
Imagem 101. Cristal parfait de topaze sur gangue de quartz. Imagem obtida de VERT, Guide. Les Mineraux, p. 62.
Turmalina
41 O topázio imperial, que é dotado de vários matizes, pode ser encontrado nas diversas minas localizadas em Ouro Preto-MG.
149 Nenhum cristal possui variedade tão grande de cores quanto à turmalina. Na classificação por cores, a turmalina pode ser acroíta: incolor ou quase sem cor (rara); rubelita: rósea ou vermelha, às vezes com tonalidade violeta; dravita: amarelo castanho a amarelo escuro; verdelita: todos os matizes de verde; indicolita: todas as colorações de azul; e siberita: vermelho lilás até azul violeta.
Imagem 102 Fotografia de três turmalinas facetadas. Imagem obtida de Brasil Paraíso de Pedras Preciosas.
Turmalina negra Schrol: negra muito comum. É utilizada em joalheria como alternativa ao cristal de ônix. Esta é a variedade de turmalina abundante nas jazidas do Espírito Santo, geralmente acompanhando depósitos de água-marinha, ametista e demais variedades do quartzo, tanto nos pegmatitos, quanto nos depósito secundários, nas aluviões e coluviões. Vale mencionar que tivemos oportunidade de nos depararmos com pequenos cristais estilhaçados de turmalina, em cores variadas, numa escavação que fazíamos na localidade de Alto Liberdade, município de Marilândia, Norte do estado. Também na localidade de Córrego da Laje, no distrito de Boapaba, Colatina-ES, foi encontrada uma amostra de cristal opaco de turmalina, cor verde semelhante à da esmeralda, tudo indicando que nessas localidades, é possível existirem jazidas dessa espécie mineral. A constatação Ao longo de quarenta anos de convivência nos garimpos e lavras de cristais-gema no Espírito Santo, tive oportunidade de catalogar 22 (vinte e dois) achados de cristais, em vários municípios, quando na totalidade deles, aqueles em que não se constatou a presença dos cristais; indícios existem, tornando o estado do Espírito Santo produtor desse tipo de riqueza, coisa que é relatada desde os documentos históricos, fazendo referências de achados de minerais-gema e ouro, especialmente na ocasião em que uma estrada tosca, traçada a partir da Cachoeira do Rio Santa Maria da Vitória chegaria a Vila Rica. Nesse trajeto, contam os historiadores sobre a descoberta de minerais-gema e de ouro. Quanto ao ouro, existem três aluviões distintas: uma que desce da Serra do Caparaó, rumo Leste e o metal é encontrado no rio Jucu e vertentes, juntamente, no rio Anchieta; a segunda constatação está no leito do rio Itabapoana, também procedente do Caparaó e a terceira vertente desce pela divisa Oeste do estado, acompanhando a direção do rio Guandu rumo ao Rio Doce. Ora, se existem pepitas e pó de ouro disseminadas nessas direções, torna-se lógica a existência provável de filões em veios de quartzo encaixados ao longo dessas montanhas componentes do relevo do solo do estado ou disseminado pelos rochedos e, quando essas massas se modificam pelo processo erosivo, o ouro segue em direção aos vales e rios da região. Ouvi relatos de garimpeiros, contando achados de ouro nas barrancas do rio Jucu e, também, na região do município de Afonso Cláudio, aonde, além do ouro contam achados de
150 pequenos diamantes. Esses achados de pequenos diamantes nos relatos de trabalhadores, não foram comprovados.
Capítulo 7 Antes de ser anexado ao livro este longo capítulo, é de bom que se expliquem as razões que levaram à sua inclusão. Todos os conteúdos expostos a seguir representam participação técnica e especial da Professora Doutora Daniela Newman, que contribuiu para elaboração deste livro para ser publicado em terceira edição, conferindo aos textos conteúdos técnicos e com aplicação didática. Tudo o que, ora é explicitado no presente capítulo, propiciará aos leitores conhecimentos que lhes facilitarão interpretar o vocabulário e expressões técnicas agora colocadas com segurança e exatidão, mas de forma simples e objetiva. Ao longo dos capítulos anteriores, alguns vocábulos surgiram e sentiu-se necessidade de que o assunto se voltasse a explicações, permitindo, por exemplo, interpretar palavras como anédrico, euédrico, cristais, clivagem, diafaneidade, óxidos, silicatos e muitos outros termos colocados e salpicados aqui e ali nos textos. E não podia ser diferente porque a obra teria que se adequar aos modernos conceitos técnicos aceitos para os estudos geológicos, gemológicos e mineralógicos.
OS MATERAIS TERRESTRES OS MINERAIS Definições
A crosta é formada de rochas, que são constituídas de minerais e mineralóides (vidro vulcânico, carvão e outros de origem orgânica). No estudo das ciências da Terra é fundamental compreender e sentir, sem nenhuma dúvida, o que é um mineral, um cristal, um minério e uma rocha. Com observação, experiência e estudo sistematizado devemos saber distinguir, por exemplo, um mineral qualquer de uma substância produzida por seres vivos, do mesmo que instintivamente sabemos distinguir os entes que nos cercam e as coisas produzidas por eles. Os elementos químicos naturais formam mais de 2.000 diferentes combinações químicas, denominadas minerais que constituem o reinomineral. Podemos definir: Mineral um elemento ou composto químico, de composição geralmente definida, de corrência natural ée estrutura interna ordenada. Em geral são sólidos (exceto água e mercúrio nas CNTP) e produzidos por processos inorgânicos. Um mineral é toda substância natural, sólida e inorgânica que possui composição química determinada e apresenta propriedades morfológicas e físicas características. Os minerais são sólidos, sob condições normais de pressão etemperaturas. Alguns geólogos consideram a água e o mercúrio como minerais, mas a rigor não o são. A água passa para o estado sólido a 0ºC. Portanto, a água só é um mineral quando está sob a forma de gelo nas geleiras. A característica essencial do mineral é sua ocorrência natural. Assim, por exemplo, asubstância química NaCl tanto pode ser encontrada na natureza com também pode ser
151 produzida no laboratório. No primeiro caso é designada pelo nome mineralógico HALITA e no segundo caso não é designada como mineral, mas sim como produto químico Cloreto de sódio (sal). Os minerais são de caráter inorgânico e podem ser: elementos químicos (Cu, Au, Pr, Ag, S, Hg) e compostos químicos (Fe2O3, SiO2, CaCO3). Algumas composições minerais são naverdade muito complexas, consistindo de dez elementos ou mais. Um mineral deve: Ser naturalmente formado, gemas sintéticas não são minerais. Ser um sólido, exclui os líquidos e gases. Ser de origem inorgânica. Ter uma composição química específica. Ter estrutura cristalina característica. Mineralóide Possui todas as características dos minerais, porém não têm estrutura interna ordenada (amorfo). Algumas substâncias de natureza orgânica são, em alguns casos, classificadas como mineralóides, tais comoo âmbar, o carvão e o petróleo. Mineralóides são substâncias formadas porprocessos orgânicos ou inorgânicos, que não desenvolveram estrura interna cristalina. Dentre os formados por processos inorgânicos, temos a opala e vidro vulcânico e orgânicos temos turfa, linhito, hulha, antracito e petróleo, os quais são também chamados de combustíveis fósseis. Mineralogia Estuda os minerais: composição, estrutura cristalina, propriedades, condições de gênese e importância prática.
Rocha É um agregado natural, formado de um ou mais minerais (ou mineralóides), que constitui parte essencial da Crosta Terrestre e é nitidamente individualizada (podendo ser representadas em mapas geológicos). Nelas os minerais se agregam obedecendo leis físicas, químicas e físico-químicas, dependendo das condições em que se foarma esta ou aquela rocha. Os minerais O estudo da identificação dos minerais pode ser realizado de duas maneiras: macroscópica e microscópia. Macroscopicamente o mineral pode ser observado e analisado em amostras de mão ou lupa binocular de pequeno aumento onde observam-se várias propriedades físicas. Microscopicamente através de microscópios especializados, tais como o microscópio petrográfico ou o microscópio eletrônico. Além dos métodos mineralógicos acima referidos os materiais podem ser identicados ainda por análise química, análisze microquímica, análise da chama, análisze térmica diferencial, raixos X, análise espectrográfica etc.
152
Minério Deenomina-se minério toda a massa monomineral, polimineral ou mineralóide de onde podemos extrair, economicamente, um elemento químico ou um composto químico. Por exemplo, o mineral hematita (Fe2O3) é considerado um minério de ferro. Dos 2.000 mineraqis citados anteriormente, apenas cerca de 300 são considerados economicasmente interessantes. Além disso apenas 50 minerais são considerados mais comuns da maiooria das rochas. Jazida É qualquer depósito mineral que contenha reservas economicamente desejáveis de alguma susbstância útil. Quando se fala em jazida, esta ainda não sofreru exploração. Mina É uma jazida em produção econômica de um ou mais bens minerais. Uma mina pode extrair apenas um bem mineral, dois ou mais. No primeiro caso a mina só produz um produto. No segundo caso a mina pode produzir um produto principal e um subproduto ou um coproduto. Quando a mina produz um subproduto ele não é essencial à atividade da mina. No caso de produzir um coproduto, ambos são essenciais à atividade da mina. Uma mina pode produzir somente urânio, então ele é o produto. As minas de urânio e vanádio dos Estados Unidos precisam produzir ambos para sobreviverem. Neste caso tratam-se de coprodutos. Já nas minas de ouro da África do Sul produzem também urânio que se não fosse vendido, não afetará a produção de ouro do país; neste caso o urânio é um subproduto.
Substâncias cristalinas e amorfas A maioria das substâncias, tanto formadas na natureza como nos laboratórios, tem um arranjo tridimensional ilnterno, ordenado e definido dos seus átomos constituintes e são ditas como possuindo uma estrutura cristalina. Sob condições favoráveis, podem desenvolver como sólidos, limitadas por superfícies planas naturais e são chamadas cristais. As superfícies planas são denominadas faces ou planos cristalinos. Em alguns casos, alguns minerais não apresentam estrutura cristalina aparente, mas ao exame de raios-x e micoroscópio eletrônico monstram uma estrutura cristalina. Neste caso, esses minerais tem uma estrutura criptocristalina, submicroscópica. Cristais São minerais que, sob condições favoráveis, podem manifestar-se externamente por superfícies limitantes, planas e lisas.
153 O ramo da mineralogia que estuda os cristais é a CRISTALOGRAFIA. Acomposição química, por si só, não é suficiente para a definição das propriedades de um mineral. Por exemplo, o carbono pode originar, a depender de sua estruração cristalina, tanto diamante como grafita. Ambos minerais têm a mesma composição química, entretanto suas propriedades são bastante distintas, algumas antagônicas: o diamante tem alto peso específico (menor espaçamento entre os átomos de carbono), enquanto que a grafita torna-se quebradiça, devido ao grande espaçamento existente entre seus átomos agrupados paralelamente à base de seu arranjo prismático hexagonal. A estes minerais, formados de uma composição química, porém com propriedades distintas, denominamos polimorfos. Exemplos de polimorfos: C
Grafita (Hexagonal) Diamante (Cúbico)
CaCO3 Calcita (Trigonal) Aragonita (Ortorrômbico) FeS2
Pirita (Cúbico) Marcassita (Ortorrômbico)
SiO2
Quartzo (Hexagonal) Crisaobalita (Tetragonal) Tridinita (Triclínico) Quando vários minerais possuem composição química diferente, porém cristalizam-se com a mesma forma, os denominamos de ISOMORFOS e o fenômeno é chamado ISOMORFISMO. Exemplos: Triclínico Grupo dos plagioclásios – NaSi3O8 (albita) e CaAl2SiO8 (amorita). Romboédrico grupo dos carbonatos Calcita – Magnesita – Siderita (CaCO3 – MgCO3 – FeCO3). Ortorrômibico Grupo das olivinas – Forsterita (Mg)2SiO4 e Faialita (Fe)2SiO4 PRINCIPAIS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINEDRAIS Forma cristalina A forma do cristal é um ito impoertante na identificação do mineral. Ela reflete a estrutura e a disposição de átomos dos minerais. Algumas vezes o cristal é tão simétrico e perfeito em suas faces que se coloca em dúvida a sua origem natural. As superfícies plantares que limitam um cristal são chamadas faces do cristal e o arranjo geométrico das faces dos cristais é chamado forma do cristal. As duas características fundamentais de um mineral que juntas o distinguem de outros minerais são a composição química e a sua etrutura cristalina.
154 Sistemas cristalinos Os minerais, como já se observou, podem desenvolver-se segundo formas geométricas definidas e, neste caso, segundo um sistema cristalino. Dependendo das distâncias entre os átomos ou grupo de átomos nas três direções do espaço, e dos ângulos que estas direções fazem entre si, os cristais são subdivididos em seis sistemas cristalinos. Cada cristal se desenvolve sempre segundo um dos sistemas cristalinos, esta é uma propredade física inerente ao cristal, como é o caso da halita (ClNa).
Imagem 103 Estrutura Cristalina da Halita
Os sistemas cristalinos são:
Sistema cúbico (isométrico). Inclui cristais em que os três eixos têm o mesmo comprimento com ângulos retos de (900) entre estes, como um cubo. Exemplos: galena, pirita, halita (sal de cozinha).
Imagem 104 Sistema cúbico isométrico
Sistema Tetragonal. Tem dois eixos de igual comprimento e um desigual. O ângulo formado entre os três eixos é de 900. Exemplos: zircônio, rutilo e cassiterita.
Imagem 105
155 Características do Sistema Tetragonal.
Sistema Triclínico. Tem três eixos de comprimento diferente e nenhuma forma ângulo de 90 com os outros. Exemplos: plagioclásio, feldspato e rodonita. 0
Imagem 106 - Características do Sistema Triclínico
Sistema Hexagonal Tem três eixos com ângulo de 1200 arranjados num plano e um quarto eixo formando ângulo reto (900) com aqueles. Exemplos: quartzo, berilo, calcita, turmalina.
Imagem 107 - Características do Sistema Hexagonal
Facies e Hábito A tonalidade das faces que apresenta um cristal constitui a sua fácies; o desenvolvimento relativo das faces, motivado por sua largura e comprimento relativos constitui seu hábito. Estas duas características são muito diversas, segundo sejam as condições de formação dos cristais e inclusive podem ser típicas e próprias de cada jazida. Existem minerais que possuem sempre um tipo de desenvolvimento semelhante, como vemos no hábito de prismas curtos das micas, e é então um bom caráter determinativo. Imagem 108 – Facies e Hábito.
Várias são as formas que tomam os cristais isolados; prismática, octaédrica, cúbica, romboédrica, duodecaédrica, tabular, lamelar etc. Alguns minerais apresentam uma forma tão distintiva que nos podemos usar essa propriedade como uma ferramenta de identificação. Galena, por exemplo, tem hábito cúbico, a magnetita é octaédrica, a malaquita, fibrolita e serpentina são fibrosas etc. Os cristais A, B e C mostram combinações de berilo. A e B tem o mesmo número de faces, portanto tem a mesma fácies e diferentes hábitos; pelo contrário B e C tendo o mesmo hábito são de fácies diferentes. Clivagem É a maior ou menor facilidade que uma substância cristalina possui em dividir-se em planos paralelos. Ex. as micas e a calcita. A clivagem reflete planos de fraqueza na estrutura e, por conseguinte, é geralmente perpendicular às direções nas quais as ligações iônicas são de baixa resistência. Todas as amostras de uma determinada espécie mineral possuem a mesma clivagem, porque todos eles
156 apresentam o mesmo arranjo interno comum dos átomos e, portanto, as mesmas direções de fraqueza.
Imagem 109 – Clivagem. Figura constante do capítulo 6.
Imagem 110 - Figura com tipos de clivagem.
A clivagem pode ser proeminente (micas, galena) perfeita (feldspato); distinta (fluorita); indistinta (apatita) etc. A clivagem ainda pode ser em uma direção, lamelar (micas) três direções, cúbica (halita) etc. Direções da clivagem. Em (A), o cristal mostra clivagem segundo uma única direção, comum nas micas, como é o caso da mica muscovita acima apresentada. Em (B), a clivagem se faz segundo dois planos que se cortam em ângulos retos, resultando superfícies brilhosas. O exemplo é um feldspato. A clivagem em três direções representada em (C) pela galena. É uma clivagem da qual resultam seis superfícies. São próprias do sistema cúbico. Em (D), três direções que não se cortam em ângulos retos, caso que se verifica calcita. Em (E) a clivagem em quatro direções, formando um octaedro. Exemplo desta é a fluorita Não se devem confundir planos de clivagem com faces de cristal, embora ambos sejam planos do retículo cristalino, a clivagem representa características internas da estrutura do mineral, enquanto as faces de cristal representam terminações de crescimento que, uma vez destruídas, não admitem duplicações por subdivisões sucessivas.
Dureza É a resistência oferecida por um mineral à abrasão ou ao risco. Essa propriedade ajuda no reconhecimento rápido dos minerais. Todo mineral tem uma dureza ou variação de dureza que, em última análise, depende da resistência suas ligações químicas.
157 Alguns minerais apresentam resistência diferente em faces diferentes ou segundo direções diferentes em uma mesma fácies, indicando que a dureza é uma propriedade vetorial. Por exemplo, na cianita a dureza é igual a 5 paralela ao comprimento, mas é 7 perpendicular ao comprimento do cristal. Os graus diferentes de dureza podem ser determinados riscando-se um mineral com o outro. Esta operação, relativamente simples, quebra as ligações e desorganiza o arranjo atômico do mineral mais mole.
Quadro II – A DUREZA DOS MATERIAIS Indica-se a dureza de um mineral, ou de qualquer outra substância, em termos da escala de Mohs, escala que consiste em dez minerais arranjados na ordem crescente de dureza relativa. O método idealizado pelo austríaco Mohs baseia-se no seguinte princípio: cada mineral padrão risca todos que estão em posição inferior na escala e é riscado pelos que lhe são superiores. Assim a fluorita, por exemplo, risca a calcita, a gipsita e o talco e é riscada pela apatita e os que lhe seguem até o diamante. Na prática, pode-se usar a unha como dureza igual a 2 – 2,5 e o vidro, lima ou canivete como dureza 5 – 5,5. Para testar a dureza, traço, cor, devem-se tomar superfícies frescas (não alteradas) do mineral, porque as superfícies alteradas apresentam propriedades um pouco diferentes. Escala Mohs Dureza 1,0 1,0 3,0 3,0 4,0 5,0 5,5
Material Talco Gipsita Calcita Moeda de cobre Fluorita Apatita Lâmina de canivete
158 6,5 7,0 8,0 9,0 10,0
Aço Quartzo Topázio Coríndon Diamante
Pode ser observado que a Escala de Mohs a dureza relativa entre pares minerais varia muito. Por exemplo, a diferença de dureza absoluta entre o coríndon e diamante é muitas vezes maior do que entre o topázio e o coríndon. Tenacidade É a resistência que os minerais oferecem ao choque, corte e esmagamento. Os minerais quanto à tenacidade podem ser denominados de: Rúptil (Frágil) – quando se quebra ou pulveriza facilmente ao ser golpeado. Exemplo: diamante, quartzo. Maleável – quando se reduz a lâmina quando esmagado. Exemplo: ouro. Dúctil – quando pode ser estirado para formar fios. Exemplo: cobre. Séctil – quando se corta em lâminas com facilidade. Exemplo: talco, gipsita. Elástico – quando cessada a pressão original o mineral retorna a sua posição original. Exemplo: talco. Plástico – quando cessada a pressão original o mineral não retorna à posição original: Exemplo: talco. Fratura – é a maneira pela qual quando o mineral se rompe ao longo de uma superfície que não é plano de clivagem ou um possível plano cristalográfico. Numa fratura, as ligações químicas são rompidas de um modo irregular não relacionado com a simetria da estrutura interna do mineral. Ela é denominada conchoidal quando as superfícies são lisas e curvas, semelhante à superfície interna de uma concha. O quartzo e o vidro exibem fraturas desse tipo. Peso específico ou densidade relativa É um número adimensional que indica quantas vezes certo volume desse mineral é mais pesado que um mesmo volume de água destilada à temperatura de 40C. A título de ilustração relacionamos alguns minerais mais conhecidos com suas respectivas densidades relativas.
Densidades Relativas Mineral Halita Grafita Quartzo Calcita
DR 2,1 2,2 2,65 2,71
MINERAL Dolomita Hematita Mercúrio Ouro
DR 2,87 5,26 13,6 19,4
159
A densidade é uma propriedade importante na identificação dos minerais, principalmente, quando se manuseia cristais raros ou gemas preciosas, porquanto outros testes ou ensaios danificam as amostras. Principais propriedades óticas dos minerais Diafaneidade É a propriedade dos minerais quanto à penetração da luz. Dizemos que um mineral é: Transparente – quando vemos objetos com nitidez através dos minerais: diamante etc. Translúcido – quando só deixa passar a luz, não permitindo a observação de objetos através dele: opala, calcedônia etc. Opacos – quando não se deixa atravessar pela luz: galena, magnetita etc. Brilho A aparência de uma superfície fresca de mineral em luz refletida é o seu brilho. É a capacidade que os minerais possuem de refletir a luz incidente. Podemos reconhecer dois tipos de brilho: o metálico e o não metálico. Brilho metálico é a propriedade dos minerais opacos. Um mineral tem brilho metálico quando apresenta aspecto de um metal polido, como a galena, o ouro, a hematita, a pirita e outros. Brilho não metálico é uma propriedade característica dos minerais transparentes e translúcidos que se caracterizam por apresentarem um aspecto não metálico, como o quartzo, a calcita, o enxofre, o diamante, etc. Há vários tipos de brilho não metálico. Alguns termos usados para descrever o brilho são: Vítreo – semelhante ao dos vidros. Ex.: o quartzo, o topázio, o berílio. Resinoso – semelhante ao breu, do enxofre nativo. Perláceo ou Nacarado – semelhante ao da madrepérola, como da gipsita, da superfície de clivagem dos feldspatos e de algumas amostras de calcita. Sedoso – típico dos minerais fibrosos, crisolito, variedade da serpentina, conhecida por asbesto ou amianto, cujas fibras lembram perfeitamente o aspecto de fios de seda. Adamantino – Característico do diamante, rutilo, esfalerita. Não é fácil definir esse tipo de brilho e para quem não tem prática, um brilho vítreo cintilante poderá ser confundido com o brilho adamantino. Ceroso – é o que lembra o aspecto de um pedaço de cera, como por exemplo, o brilho da calcedônia. Cor É uma das propriedades físicas mais importantes para a determinação dos minerais. A cor é função da absorção seletiva de certos comprimentos de onda da luz por alguns átomos dos minerais. Uma fração da luz é refletida e a outra é transmitida. A cor raramente é útil ao diagnóstico de minerais, por causa das impurezas que os mesmos possuem, bem como em
160 consequência do estado de cristalinidade e de imperfeições estruturais, que exercem ampla influência na cor resultante. Cores dos minerais metálicos Vermelho: cobre nativo. Amarelo: ouro, pirita, calcopirita. Branco Argênteo: prata nativa. Branco Acinzentado: galena, arsenopirita. Preto Acinzentado: cassiterita, hematita, esfalerita. Cores dos minerais não metálicos Preto: augita, biotita, anfibólio, piroxênio. Azul: lazulita. Azul da Prússia: cianita. Verde-Esmeralda: esmeralda. Amarelo-Citrino: enxofre. Amarelo: topázio. Vermelho-Escarlate: cinábrio. Vermelho-Acastanhado: limonita. Castanho-Avermelhado: zircão.
Traço A cor do pó, deixado por um mineral, sobre outro que lhe seja mais duro, é conhecido como sendo o seu traço. A cor do traço dos minerais e frequentemente usada na sua identificação, principalmente os minerais metálicos ou os minerais idiocromáticos. Outras propriedades importantes Magnetismo – Aqueles minerais em que em seu estado natural são atraídos por um ímã são ditos magnéticos. Pouquíssimos minerais são magnéticos naturalmente. Exemplo: a magnetita (Fe3O4) e a Pirrolita (FeS). Radioatividade – São vários os minerais radiativos, isto é, minerais que emitem energia ou partículas que impressionam uma chapa fotográfica. Os elementos mais radiativos são o rádio, o urânio e o tório. Dentre os minerais radiativos, temos: monazita, pirocloro, uraninita, etc.
Classificação química dos minerais A composição dos minerais é de importância fundamental, pois suas propriedades químicas e demais propriedades são, em grande parte, funções dela. Todavia essas propriedades dependem não somente da composição química, mas da geometria (ou arranjo atômico) e da natureza das forças elétricas que agrupam os átomos.
161 Os minerais estão agrupados quimicamente nas seguintes classes: - Elementos nativos - Sulfetos - Sulfossais - Óxidos - Halogenados - Carbonatos - Nitratos - Boratos - Fosfatos - Sulfatos - Tungstatos - Silicatos As classes em negrito são as mais importantes em termos de abundância e ocorrência. Composição mineralógica de crosta continental Mineral % na crosta Feldspatos 58 Piroxênios + Anfibólios 13 Quartzo 11 Micas + clorita + argilas 10 Carbonatos + óxidos + haloides 03 Olivinas 03 Epidoto+granada+zeólitas+aluminossilicatos 02 Total 100
Minerais de importância econômica Minerais cuja exploração resulta numa atividade de rendimento econômico (Mineração). Minérios Metálicos - Metais Precisos: Ouro, Prata, Platina, Paládio. - Metais Ferrosos: Ferro, Manganês. - Metais não Ferrosos: (Básicos): Cobre Chumbo, Zinco, Estanho. - Metais Leves: Alumínio, Magnésio, Titânio. - Metais Menores: Bismuto, Mercúrio. - Metais Radiativos: Urânio, Tório, Césio, Lítio. Minérios Não-Metálicos (Jazidas): Enxofre, Caulim, Calcário, Dolomito, Gipsita (Gesso), Sal-Gema, Apatita, Fosforita, etc. - Elementos: metais e não metais.
162 - Sulfetos: metais + S , Se, Te - Sulfossais: Pb, Cu, Ag + S, Sb, As, Bi - Óxidos: metal + O2 - Hidróxidos: óxidos + H2O ou OH - Carbonatos: CO3 - Nitratos: NO3 - Boratos: BO3 - Fosfatos: PO4 - Sulfatos: SO4 - Tungstatos: WO4 - Silicatos: SiO4 => Perfazem mais de 95% dos minerais da crosta terrestre. Silicatos Mais do que 95% da crosta terrestre é composta de minerais de silicatos, um grupo de minerais contendo silício e oxigênio ligados em uma unidade de tetraedros, com quatro átomos de oxigênio e um átomo de silício no centro do tetraedro. Os silicatos combinam os dois elementos mais abundantes na crosta, Oxigênio e Silício. Os tetraedros podem manter-se isolados ou formam agrupamentos. Várias configurações fundamentais desses agrupamentos de tetraedros são cadeias simples, cadeias duplas, lâminas bidimensionais ou arcabouços tridimensionais. Na combinação mais simples, o íon de oxigênio dos tetraedros liga-se com outros elementos, tais como ferro e magnésio. A olivina é um exemplo. A maioria dos minerais silicatos, entretanto são formados pela coparticipação de um íon de oxigênio entre dois tetraedros adjacentes. Desta maneira, os tetraedros formam uma unidade iônica maior com dois tetraedros. Seis tetraedros ou mais também podem se unir, formando um anel de seis tetraedros ou como as contas de um colar. Caso os tetraedros anelares se unirem a outros se formam cadeias longas ou lâminas.
163
Imagem 105 – Figura explicativa sobre os silicatos. http://geomuseu.ist.utl.pt/MINGEO2010/Aulas%20praticas/TEMA%202%20-%20Mineralogia/Imagens%20Cristalografia/
Minerais formadores de rochas Minerais Essenciais Principais mais importantes. Composição Mineral Secundários: Mais ou menos importante – Se formaram depois dos outros. Da Rocha
Minerais Acessórios Algumas vezes importantes. Minerais Traços Sem importância na classificação. Às vezes têm importância econômica.
Minerais formadores de rochas ígneas Feldspatos Alcalinos (K – Feldspatos) Rochas Ácidas (>65% Si)2) Quartzo
164 (Minerais Félsicos) Plagioclásio (Na+)
Moscovita Rochas Intermediárias Feldspatóides (65% - 62% de SiO2) Plagioclásios (Na+, Ca++) Plagioclásios (Ca++) Rochas Básicas Biotita (52% - 45% de SiO2) Anfibólios Piroxênios Rochas Ultrabásicas Piroxênios (<45% SiO2) Olivinas Minerais de importância econômica Minerais cuja exploração resulta numa atividade de rendimento econômico (Mineração). Minérios Metálicos Metais Preciosos: Ouro, Prata, Platina e Paládio. Metais Ferrosos: Ferro e Manganês. Metais não Ferrosos (Básicos): Cobre, Chumbo, Zinco e Estanho. Metais Leves: Alumínio, Magnésio e Titânio. Metais Menores: Bismuto e Mercúrio. Metais Radiativos: Urânio, Tório, Césio e Lítio. Minérios Não Metálicos (Jazidas): Enxofre, Caulim. Calcário, Dolomito, Gipsita (Gesso), Sal-Gema, Apatita, Fosforita, etc.
Formas de hábito cristalino Formas de hábito cristalino Acicular Amigaloidal Anédrico Laminar Bitrioidal ou globular Colunar Crista Dendrítico ou arborescente Dodecaédrico Drusas ou incrustações Enatiomórfico Uniforme, curto e largo Euédrico Fibroso ou colunas
Descrição Em forma da agulha, delgado e/ou pontiagudo Em forma de amêndoa Mal formado, distorcido Em forma de lâmina.delgado, achatado Em forma de cacho de uva, massas hemisféricas Semelhante a fibroso: prismas compridos e delgados geralmente com crescimento paralelo Agregados compactos de cristais tabulares Em forma de árvore, com ramificações em uma ou mais direções a partir de um ponto central Dodecaedro, com 12 faces Agregado de pequenos cristais revestindo uma superfície Hábito e características ópticas de imagem de espelho: cristais levógiros e destrógiros Espalmado, pinacoides dominantes sobre os prismas Bem formado, sem distorção Prismas extremamente delgados
Exemplos Rutilo em quartzo Heulandita Olivina Cianita Smithonita Calcita Barita Magnesita opala Granada Uvarovita Quartzo Zircão Espinélio Tremolita
em
165 Filiforme ou capilar Foliado ou micáceo Granular Hemimórfico
Mamilar Maciço ou compacto Nodular Octaédrico Plumoso Prismático Pseudo-hexagonal Pseudomórfico Radiante ou divergente Reniforme Reticulado Roseta Esfenóide Estalactítico Estelar Estriado Tabular ou lamelar Feixe
Como fios de cabelo, extremamente fino Estrutura em camadas, separação em folhas delgadas Agregados de cristais anédricos sobre matriz Cristais duplamente terminados com terminações de formas diferentes em cada uma das extremidades Com aspecto de mama, contornos intersectados e arredondados. Sem forma definida Depósito de forma aproximadamente esférica com protuberâncias irregulares Octaedro, oito faces (duas pirâmides unidas pelas bases) Escamas finas, com aspecto de penas Alongado, semelhante a um prisma: todas as faces do cristal são paralelas ao eixo-c Ostensivamente hexagonal devido a intercrescimentos cíclicos Ocorrendo com a forma de outro mineral devido à substituição pseudomórfica Radiando a partir de um ponto central Semelhante à mamilar: massas em forma de rim que se intersectam Cristais aciculares formando intercrescimentos semelhantes a malhas Agregado de placas radiantes, com aparência de uma rosa Em forma de cunha Formando estalactites ou estalagmites; com forma cilíndrica ou cônica Como uma estrela, radiante Linhas de crescimento superficial paralelas ou perpendiculares ao eixo-c Espalmado, em forma de tablete, pinacóide Agregados que lembram um feixe de pés de trigo
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A1bito_cristalino. Acessado em 11.11.2012.
Natrolita Mica Scheelita Hemimorfita
Malaquita Serpentina Geodos Diamante Motramita Turmalina Aragonita Quartzo olho-detigre Pirita Hematita Cerussite Gipsita Esfena Rodocrosita Pirofilita Crisoberilo Rubi Zeólitos
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CAPÍTULO 8 TÉCNICAS DE GARIMPAGEM E DE BENEFICIAMENTO DE GEMAS OS LOCAIS DOS GARIMPOS Galerias Galeria subterrânea, geralmente extensa, utilizada na garimpagem de gemas preciosas. Imagens obtidas nos endereços abaixo: O túnel tem 80 metros extensão e em alguns pontos chega a ter 50 metros de profundidade. Hoje, nenhum trabalho é feito nele e funciona apenas como atrativo turístico. Entre os anos 1980 e 1990 foi utilizado como forma de garimpo.
Imagem 112 – Galeria subterrânea. Imagem obtida no site da folhavitoria. http://www.folhavitoria.com.br/entretenimento/blogs/elogoali/2012/01/page/2/ . Acesso em 11.11.2012
Imagem 113 Escavação de uma galeria subterrânea. Imagem procedente do IBGE. http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/diagnosticos_levantamentos/jequitinhonha/ilustracoes. shtm. Acesso em 10.11.2012.
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Imagem 114 Profª Daniela Newman, acompanhada de acadêmicos, em visita a uma galeria subterrânea de um garimpo. Fotografia capturada na internet.
Garimpo a céu aberto
Imagem 115
Garimpo a céu aberto. Fotografia registrada pelo autor em 2008.
Imagem 155-A – Fotografia de garimpo artesanal para faiscação de ouro e diamante. – Fonte: http://video-
hned.com/
168 Em lençol de aluvião Garimpagem em lençol de aluvião num garimpo de água-marinha no rio Pontes, ES, onde se vê um garimpeiro revolvendo o cascalho e duas imagens em que o terreno é desbastado por meio de máquina retroescavadeira.
Imagem 116 - Três fotografias cedidas por Clementino Scotar, pertencentes ao seu acervo.
LAPIDAÇÃO DAS GEMAS – Nova abordagem Lapidação das gemas
Imagem 117 – A – Laboratório de facetamento e lapidação de gemas do curso de gemologia da UFES. Fotografia de autoria da Professora Daniela Newman.
Lapidar significa transformar o mineral bruto tal como existe na natureza em peça destinada à produção de jóias, dando-lhes formas de entalhes e polimento. Denomina-se lapidador o profissional que lapida as gemas coloridas e nativas. O seu trabalho constitui-se em cortar o mineral com o tamanho previsto com uma serra circular que, em lugar dos dentes tem diamante agregado. Para evitar o aquecimento, geralmente utiliza-se água, o
169 que é mais comum. Com rebolos de arenito de superfície diamantada, dá-se ao mineral uma forma inicial que é conhecida como formação. A seguir, com discos de chumbo em rotação horizontal e de uma substância composta de pó diamantífero, cortam-se as facetas por meio de abrasão, para depois, finalmente, receberem igual atrito em discos plumbíferos com pó diamantífero microgranulado, fornecendo brilho sem produzir sinais de riscas. Nesse trabalho, as peças formadas são fixadas na ponta de canetas de madeira com um lacre especial, para serem apertadas contra a superfície dos discos, tanto para o corte das facetas como para o seu polimento, quando se tornam peças acabadas. Abaixo relacionamos, graficamente, alguns tipos de talhes a que as gemas são submetidas para serem incrustadas em ouro, platina e prata no trabalho dos joalheiros, esclarecendo aqui que este tema é muito vasto na história das gemas, circunscrevendo-nos a ligeira noção do assunto. Sintetizando os conceitos de lapidação, esse processo envolve várias etapas: - Classificação da gema no estado bruto - Formação no rebolo - Encanetamento - Corte ou facetamento - Polimento das facetas Tudo o que se disse até agora são procedimentos antigos, hoje já não se pode deixar de lado novas tecnologias advindas com os recursos da informática. No processo de lapidação automatizado, o primeiro passo tem na digitalização da peça bruta para que se possa planejar o seu aproveitamento. Planejado o que pode render de produto acabado, faz-se opções e, em seguida, programa-se o trabalho a ser executado e aí são as máquinas que se encarregam do restante. Para o trabalho de beneficiamento de gemas, os toscos equipamentos estão sendo substituídos por mecanismos altamente sofisticados que executam todo o trabalho cientificamente. Já não se diz “esse trabalho é executado no lapidário”; diz-se, sim, todo o processamento de transformar peças brutas em gemas com aproveitamento para a construção dos mais variados tipos de jóias e de bijuterias, inclusive as semijóias, faz-se em laboratórios de tecnologia complexa, onde gemólogos e técnicos interagem.
Pequeno e moderno aparelho para lapidação
Imagem 152
170
Moderno aparelho para lapidação de gemas
171 Imagens 152 Moderno aparelho para lapidação de gemas com características tecnológicas com o emprego de controles eletrônicos. No exemplo acima o cristal tem o ângulo fixado em 90 graus para indexação das facetas.
ALGUNS TIPOS DE TALHES DE GEMAS
117. livro
Imagens Figura do Gemas do
Mundo.
A lapidação moderna O talhe em brilhante moderno, que corresponde a mais de 90 por cento dos diamantes lapidados, surgiu no início do século passado, pela mão do matemático russo Tolkowski. Designado talhe americano ou de Tolkowski, a evolução introduzida deveu-se ao cálculo das proporções “ideais” do brilhante tendo como objetivo obter um equilíbrio entre brilho e dispersão da luz no diamante. Quando o diamante é talhado com boas proporções, a luz é refletida internamente entre as suas facetas, dispersando-se pelo seu topo. Se o corte do diamante não for ideal, alguma luz escapará pelas facetas laterais, perdendo parte do seu brilho potencial; o brilho e o “fogo” de um diamante lapidado dependem do rigor dos seus ângulos e facetas. O talhe Tolkowski, considerado como obedecendo às proporções ideais de um brilhante, foi uma base do sistema de classificação de diamantes do GIA (Gemological Institute of America), comparando o peso do diamante com o que teria se fosse talhado nas proporções calculadas.
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Os talhes portugueses Os portugueses foram frequentemente pioneiros nas indústrias do diamante nos últimos quinhentos anos. Essa colocação privilegiada observou-se ao longo da história na prospecção de jazidas, na sua exploração e no comércio, como também na lapidação de diamantes. Há mesmo alguns talhes com nomes que refletem a nossa importância passada e revelam uma capacidade com potencial para o futuro. O talhe de Lisboa é uma modificação do talhe Mina Velha (Old Mine) ou talhe triplo (triple cut), em que as facetas principais da coroa e pavilhão são separadas de forma paralela à cintura. O talhe português é uma modificação do talhe em brilhante, com cinco filas de facetas quer na coroa quer no pavilhão. “É algumas vezes aplicado a diamantes grandes.” Lapidações especiais que valorizam as gemas Uma lapidação perfeita ressalta qualidades de uma gema que, por vezes, quem a extraiu nem imaginava que ela tivesse. Brilho, cor profunda e intensa, beleza, transparência, ausência de impurezas visíveis: tudo isso só pode ser conferido ao vivo e em cores se a lapidação souber explorar o potencial da gema. Há lapidações de diversos tipos, que podem ser divididas em três grupos: lapidação em facetas, lisa e mista. O primeiro tipo é utilizado normalmente em gemas transparentes, já que o fato de o cabochão – palavra que vem do francês caboche, que significa prego de cabeça grande – ser a lapidação lisa mais conhecida na joalheria e também uma das mais simples. No cabochão a parte superior da gema é lapidada de forma arredondada e a inferior plana, levemente abobadada ou convexa. Nas gemas de tom mais escuro, a parte inferior é lapidada para dentro – cabochão oco – para clarear seus tons. Principais estilos de lapidação: - roladas ou barrocas - cabochões ou lisa - em facetas - mista (cabochão e facetada) - esférica, contas e briolettes - gravação (alto e baixo relevo) - barion (estilos novos) e - esculturas A seguir, exemplos de formas facetadas:
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Imagem 118 – Formas facetadas de gemas. Obtida no endereço: http://heartjoia.com/1287-lapidacao-talhes-gemas. Acesso em 09.11.2012. Nesta imagem, podem-se visualizar além dos gráficos, os exemplares de gemas, que resultam da aplicação prática.
Imagem 119 Mais formatos de modelos de lapidação facetada. .
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Imagem 120 - Lapidação em facetamento brilhante.
Imagem 121 Talhes variados com facetamento em degraus
Imagens 122 Talhes modalidade barion
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Imagem 123 Talhes com facetamento misto
A DUREZA DOS MINERAIS O teste de dureza concebido pelo mineralogista vienense Friederich Mohs consiste em testar os minerais em que um é riscado pelo mais duro, sucessivamente, por dez vezes. Os minerais com dureza 1 e 2 são moles, de 3 a 6 são meio duros e acima de 6 são duros. De 8 a 10, na escala de Mohs, são consideradas gemas excelentes. Abaixo, uma tabela de dureza segundo Mohs: Indicativo para testes de dureza Grau 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Mineral Talco Gipsita Calcita Fluorita Apatita Ortoclásio Quartzo Topázio Coríndon Diamante
Modo de testar Risca com a unha Risca com a unha Risca com moeda de cobre Risca com uma faca Risca com uma faca Risca com uma lima Risca vidros em geral Risca os minerais já citados Risca os minerais já citados Risca qualquer gema
Quadro III Fonte: Gemas do Mundo.
Preço das gemas Quadro IV Fonte: Cópias de páginas de tabelas expedidas pelo Boletim Referencial de Preços do DNPM, em 2009.
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Inseri acima, a título de referência, tabelas de preços de gemas exportáveis cotadas em US$ americano em 2009 – preços mínimos para exportação, visando mostrar ao leitor — que os garimpos e os seus produtos, depois de beneficiados, têm uma referência emanada de órgão público competente para servir como parâmetro ao comércio de gemas. Juntaram-se tabelas para os preços das principais gemas produzidas nos garimpos do Espírito Santo. Os fatos que balizam esse comércio têm valores agregados às características das gemas, compreendendo: pureza, coloração; tamanhos e formas. Mas, existem os fatores oriundos das leis de mercado, que não podem ser deixadas de lado: demanda, oferta e os interesses dos intermediários, que se ajustam aos ganhos provenientes dos lucros para a continuidade dos empreendimentos. Também têm influência decisiva as crises políticas com, às vezes trazendo abruptas modificações econômicas. JÓIAS Na sequência, apresento um painel de joias construídas a partir de gemas lavradas e lapidadas no território do Espírito Santo, em sua maioria expostas nas vitrines das joalherias de LIA ANTONIO JÓAS e de OSWALDO MOSCON, ilustrando a beleza que resulta de todo o labor das lavras – sacrifício inimaginável para o leigo.
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Imagem 124 Fotografias tomadas pelo autor nas joalherias citadas acima, em 2007.
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CAPÍTULO 9 O “PODER” DOS CRISTAIS E CURIOSIDADES A ação terapêutica de algumas gemas A ametista é ideal para acalmar a mente, facilitando a meditação. Colocada em ambiente de trabalho junto ao corpo. Combate o estresse e o cansaço mental. Auxilia no tratamento do daltonismo. Atua contra a má sorte, a intranquilidade e a insônia. A água-marinha estabiliza e harmoniza ambiente intranquilo, acalma os nervos, fortalece o fígado e ajuda na inspiração e na visão
A madrepérola e a pérola, gemas orgânicas, Produzem anticorpos e combatem as infecções
A ágata está ligada á terra, ajudando no equilíbrio físico e mental, melhorando a autoconfiança. Ajuda na eloquência, audição, vitalidade e atua no coração.
O ônix é a melhor gema para ajudar na concentração e na inspiração. Evita as depressão e o “mau olhado”. Atua junto à audição, ao coração e ao ouvido, auxiliando no tratamento da úlcera. A obsidiana aprimora e purifica o ego, trazendo o inconsciente para o consciente. Melhora a visão periférica.
O citrino está ligado ao plano material. Atua sobre o estômago, pâncreas, vesícula biliar e fígado, além de ajudar na eloquência. O quartzo hialino reflete todas as cores do arco-íris, podendo atuar sobre todos os xacras. Além de alinhar os centros de força do organismo, ajuda a desenvolver a espiritualidade. Atua nos rins, controla espasmos, tonturas e sangramentos. O crisopázio reforça a fertilidade e estimula a criatividade.
A malaquita absorve as energias negativas. Pode ser coloca em qualquer chacra, funcionando com precisão sobre o plexo solar. Atua na visão e ajuda no combate à asma e ao reumatismo.
O olho de tigre reduz a dor de cabeça E os espasmos nervosos, combatendo a asma.
A gema olho da lua (feldspato) tem efeito calmante e atua nos hormônios. Resolve problemas ligados à menstruação.
A esmeralda é a gema dos curadores. Atua no tratamento da normalização da pressão arterial. Ajuda na eloquência, na memória e na locomoção. Torna a mente mais aberta.
O quartzo rosa é conhecido como ”gema do amor”. Atua junto ao coração e nas manifestações de afeto. Ajuda aos que têm problemas de relações.
A fluorita está relacionada aos dentes e à fortificação dos ossos.
A soldalita ajuda na objetividade pessoal e equilibra o metabolismo, despertando a inteligência e fazendo a mente funcionar melhor. A turmalina (todas as cores) atua contra a má sorte e ajuda na meditação e controle do nervosismo.
A granada atua nas emoções afetivas, no coração e na sexualidade. Ajuda nas crises de melancolia e depressão
180 A hematita purifica e atua no sangue, ajudando em casos de hemorragia.
A turmalina preta emite forte energia positiva e protege contra energias negativas.
O jaspe emite força vital. Seu uso é recomendado para doenças debilitantes como as ligadas à bexiga e olfato, os rins, vesícula, estômago e fígado. É auxiliar no tratamento da epilepsia
A turquesa é ligada à lua e às emoções. Junto ao coração, ajuda nos seus problemas e auxilia na meditação e intuição
A turmalina rosa ajuda a fortalecer o coração e atua em todas as suas manifestações.
O topázio auxilia no tratamento de pessoas nervosas e com perturbações psíquicas, auxiliando na tranquilidade e na insônia.
Quadro V Imagens ilustrativas da ação de cura das gemas.
A teoria que defende a ação terapêutica (cura pelas gemas) vem de religiosos medievais como Santo Alberto Magno (1193-1280) e o monge Marbodius (1037-1125). Viveram esses religiosos parte de suas vidas em retiro, estudando a ecologia. As diferentes terapias são, na maioria, associações diversas, mas as gemas são destinadas à cura de determinados estados psicológicos influenciados pela mente, podendo produzir uma espécie de hipnose por sua beleza. Daí se conclui que a cura se dá em nível estimulado pela imaginação. Dizem os aficionados que existe uma infinidade de gemas com poder curativo. Além dos cristais límpidos, até mesmo as gemas lapidadas podem ser usadas no processo de cura, não sendo recomendadas as gemas sintéticas. Para o uso com finalidades terapêuticas devem as gemas ser submetidas a tratamento, como o de limpeza, que consiste na imersão em água e sal grosso por 48 horas. Depois devem ser deixadas sob a luz do sol ou da lua. A cura consiste em fechar a gema na mão esquerda e dizer mentalmente frases com bons propósitos, nunca para o mal. Quadro VI - Os signos e as gemas Aquário
21 de janeiro a 19 de fereiro
Água-marinha, granada, Ametista e quartzo azul.
Peixes
20 de fevereiro a 20 de março
Água-marinha, ametista, safira e olho da lua.
Áries
21 de março a 20 de abril
Ametista, ágata, granada e rubi.
Touro
21 de abril a 21 de maio
Quartzo rosa, água-marinha, esmeralda. Safira e ametista.
Gêmeos
22 de maio a 21 de junho
Ágata, água-marinha, olho de tigre, ametista e topázio azul.
Câncer
22 de junho a 22 de julho
Olho da lua, ametista, quartzo fumé, citrino.
Leão
23 de julho a 23 de agosto
Ágata, granada, âmbar, ametista, esmeralda e pirita.
Virgem
23 de agosto a 23 de setembro
Ágata, ametista, citrino, olho da
181 lua, turquesa e safira. Libra
24 de setembro a 23 de outubro
Quartzo rosa, turquesa, águamarinha, citrino e esmeralda.
Escorpião
24 de outubro a 22 de novembro
Opala, esmeralda, ágata, águamarinha e granada.
Sagitário
23 de novembro a 21 de dezembro
Ametista, Citrino, topázio imperial e olho de tigre
Capricórnio
22 de dezembro a 20 de janeiro
Olho-de-gato, esmeralda, ágata, opala e âmbar.
Os meses e as gemas correspondentes JANEIRO – granada e quartzo rosa FEVEREIRO – ametista e ônix MARÇO – água-marinha ABRIL – cristal de rocha e diamente MAIO – crisopásio e esmeralda JUNHO – olho da lua e pérola JULHO – cornalina e rubi AGOSTO – avenurina e peridoto SETEMBRO – lápis lázuli e safira OUTUBRO – opala e turmalina NOVEMBRO – olho de tigre e topázio DEZEMBRO – turquesa e zircão
Os planetas e as gemas correspondentes TERRA – aventurina, peridoto e olivina PLUTÃO – heliotrópio, ágata e almandina SOL – crisoberilo, diamente e cristal de rocha LUA – olho da lua, pérola, esmeralda e opala MARTE – safira. Rubi e granada MERCÚRIO – ametista, lápis lázuli e safira JÚPITER – água-marinha e topázio SATURNO – ônix e rubi VÊNUS – quartzo rosa e esmeralada
Profissões e suas gemas ADMINISTRADOR DE EMPRESA – safira azul ADVOGADO – rubi AGRIMENSOR – turmalina verde ASSISTENTE SOCIAL – ametista AUXILIAR DE ENFERMAGEM – esmeralda ARQUITETO – safira azul BACTERIOLOGISTA – safira azul BIOLOGIA – esmeralda BIOMÉDICA – esmeralda BIOQUÍMICO – topázio BIBLIOTECÁRIO – safira azul BIOCLÍNICO – turmalina verde CONTABILISTA – safira azul COMPUTAÇÃO – turmalina rosa
182 CONTADOR – turmalina rosa COMUNICAÇÃO – safira azul DENTISTA – água-marinha ELETRO MECÂNICO – safira azul EDUCAÇÃO FÍSICA – safira azul ENFERMEIRO (A) – cruz vermelha ENGENHEIRO AGRÔNOMO – safira azul ENGENHEIRO CIVIL – safira azul ENGENHEIRO ELÉTRICO – safira azul ENGENHEIRO MECÂNICO – safira azul ENGENHEIRO METALÚRGICO – safira azul ENGENHEIRO QUÍMICO – safira azul ESTUDOS SOCIAIS – esmeralda FARMACÊUTICO – topázio FISIOTERAPIA – esmeralda FILOSOFIA – ametista GEOGRAFIA – ametista GEOLOGIA – safira azul HISTÓRIA – ametista JORNALISTA – rubi LETRAS – ametista MATEMÁTICA – safira azul MÉDICO – esmeralda MÉDICO VETERINÁRIO – esmeralda MÚSICO – safira azul NUTRICIONISTA – ametista MAGISTÉRIO – turmalina verde OBSTETRÍCIA – esmeralda OFICIAL DE JUSTIÇA – rubi PEDAGOGIA – safira azul PSICOLOGIA – safira azul PUBLICITÁRIO – safira azul POLICIAL – ônix QUÍMICO – safira azul RELAÇÕES PÚBLICAS – safira azul SECRETÁRIA – turmalina rosa TÉCNICO ELETRÔNICO – safira azul TÉCNICO DE RÁDIO – turmalina verde TÉCNICO MECÂNICO – safira azul TÉCNICO DE RAIOS-X – safira azul TEÓLOGO – ametista TELECOMUNICAÇÕES – safira azul TÉCNICO EM CONTABILLIDADE – turmalina verde
Aniversários de casamento e seus símbolos (Os símbolos representados por minerais estão em negrito) 1º ano – papel
2º ano – algodão
3º ano – trigo ou couro
4º ano – flores, fruta ou cera
5º ano – madeira ou ferro
6º ano – perfume ou açúcar
7º ano – latão ou lã
8º ano – papoula ou barro
9º ano – Cerâmica ou vime
10º ano – estanho ou zinco
11º ano – aço
12º ano – seda ou ônix
13º ano – linho ou renda
14º ano – marfim
15º ano – cristal
16º ano – turmalina
17º ano – rosa
18º ano – turquesa
19º ano – cretone ou águamarinha
20º ano – porcelana
21º ano – zircão
183 22º ano – louça
23º ano – palha
24º ano – opala
25º ano – prata
26º ano – alexandrita
27º ano – crisopázio
28º ano – hematita
29º ano – erva
30º ano – pérola
31º ano – nácar
32º ano – pinho
33º ano – crizo (ou crisólita)
34º ano – oliveira
35º ano - coral
36º ano – cedro
37º ano – aventurina
38º ano – carvalho
39º ano – mármore
40º ano – rubi ou esmeralda
41º ano – seda
42º ano – prata dourada
43º ano – azeviche
44º ano – carbonato
45º ano – platina ou safira
46º ano – alabastro
47º ano – jaspe
48º ano – granito
49º ano – heliotrópio (variedade de jaspe)
50º ano – ouro
51º ano – bronze
52º ano – argila
53º ano – antimônio
54º ano – níquel
55º ano – ametista
56º ano – malaquita
57º ano – lápis lázuli
58º ano – vidro
59º ano – cereja
60º ano – diamante ou jade
61º ano – cobre
62º ano – telurita
63º ano – sândalo ou lilás
64º ano – fabulita
65º ano – ferro
66º ano – ébano
67º ano – neve
68º ano – chumbo
69º ano – mercúrio
70º ano – vinho
71º ano – zinco
72º ano – aveia
73º ano – manjerona
74º ano – macieira
75º ano – brilhante ou alabastro
76º ano – cipreste
77º ano – alfazema
78º ano – benjoim
79º ano – café
80º ano – nogueira ou carvalho
81º ano – cacau
82º ano – cravo
83º ano – begônia
84º ano – crisântemo
85º ano – girassol
86º ano – hortênsia
87º ano – nogueira
88º ano – pera
89º ano – figueira
90º ano – álamo
91º ano – pinheiro
92º ano – salgueiro
93º ano – imbuia
94º ano – palmeira
95º ano – sândalo
96º ano – oliveira
97º ano – abeto
98º ano – pinheiro
99º ano – salgueiro
100º ano - jequitibá
Quadro VII - Símbolos dos aniversários de casamento.
As gemas e os anjos Gemas Ônix Jaspe Rubi Topázio Granada Esmeralda Safira Diamante Jacinto Ágata Ametista Berilo
Anjos Gabriel Barchiel Malchediel Asmodel Ambriel Muriel Herchel Humatiel Zuriel Barbiel Adnachiel Huniel
184 Quadro VIII Os minerais-gema e os respectivos anjos.
Planetas, signos, anjos e seus minerais-gema. Informações obtidas no endereço abaixo: www.escolabellarte.com.br/pedras/pedras.htm, em 15/11/2005.
CAPÍTULO 10 FINALMENTE... Ao finalizar, quero enfatizar que este livro é uma tentativa de provocar pesquisas mais aprofundadas sobre a historiografia das lavras e da garimpagem de minerais-gema no Espírito Santo. O foco principal é direcionado para a região central, reafirmando que entendo ter apenas roçado a superfície de um assunto que é bem maior que o escopo deste modesto trabalho que deve ser considerado como uma colaboração para o início de uma jornada que pode ser ainda bem longa. Não tenho qualificação profissional específica nos ramos da Geologia e da Gemologia – meus conhecimentos nessas áreas são de natureza empírica, baseados na experiência prática, inteiramente como autodidata. Daí ter tratado o assunto como Memórias..., que é o estilo literário a que tenho me dedicado. Minha esperança é de que surgirão especialistas no assunto, que, além de usarem todos os recursos das memórias, sejam peritos no tema, ampliando e corrigindo, se for o caso, o que apenas memorizei, pois, é bom que se ressalte, há falta de fontes primárias para a historiografia dessa área, pelas razões já citadas aqui e ali no corpo do texto. Metodologia usada na coleta das informações Os textos que produzi sobre os garimpos de minerais-gema no Estado do Espírito Santo foram feitos a partir de metodologia bem empírica, sem a preocupação de esmero das produções científicas, visando informar o que se me apresentou à memória e à lembrança de pessoas que testemunharam os eventos dos grandes garimpos. O objetivo é levar a informação às pessoas que têm aspiração sobre esse assunto e, como pode acontecer também àqueles que desejem utilizar essas informações para realizar o aprofundamento que o assunto poderá vir a exigir. Alguns fatos das histórias, dentre eles os da Pedra da Onça, ocorridos há mais de setenta anos, foram obtidos diretamente por três informantes principais: Angelim Piorotti, Hilário Toniato e Cassemiro Postinghel; outros, não mencionados, acrescentaram apenas alguns detalhes que relatei na íntegra, sendo até, e de propósito, repetitivo. Sobre a lavra de João Neiva, as principais informações foram obtidas de Guilhermino Zanotti e de vários garimpeiros que lá estiveram até a década de 1980. Relativamente às lavras do maciço do Toma Vento, do Rabo de Tatu, dos “Roccon”, do Triunfo, de Pedra Alegre e de várias outras menores, fui testemunha ocular, responsabilizando-me pela veracidade dos relatos. Das grandes jazidas de quartzo e andaluzitas nas partes altas do município de Santa Teresa e de municípios limítrofes, tive por principal informante o antigo garimpeiro Felisberto Magdalon, cuja liderança foi marcante não só com os seus irmãos, também garimpeiros, como
185 de outros que perambularam por essas lavras. Especificamente sobre as jazidas de andaluzita e crisoberilo, um informante especial foi Baunílio Rossi. Das lavras em Fundão e adjacências, Waldemar Nunes fez um amplo relato com indicações precisas dos locais e épocas das suas ocorrências. Sobre os garimpos de Pancas e de rio Pontes, este em Domingos Martins, os dois informantes principais foram Florício Bassani e Clementino Scotar, com complementação de importantes informações de Gervásio Pivetta, que ainda possui excelente memória. Com todos esses relatos obtidos verbalmente desses colaboradores, ordenei minhas anotações, que foram transformadas em textos e submetidas aos autores, que concordaram com sua fidedignidade. Fontes primárias Alguns garimpos, conforme consta dos textos, deixaram pistas da existência de prováveis fontes históricas primárias:
Sobre a lavra da Pedra da Onça Talvez existam registros documentais sobre a presença de efetivo policial oferecendo garantias à população que ali se encontrava trabalhando, observando ou por quaisquer outros interesses, como também a ocorrência do furto de um cristal de berilo que ensejou uma ação policial com apreensão e entrega à autoridade judicial. Devem existir relatórios dessas ocorrências nos arquivos das delegacias de então ou, ainda, no fórum da cidade e comarca de Itaguaçu. Corre na cidade de Itarana uma história de que um dos sócios da lavra da Pedra da Onça adquiriu um navio para dedicar-se ao transporte marítimo de bens exportáveis, dentre eles peças de jacarandá – valiosa e rara variedade de madeira que florescia nas matas do Estado do Espírito Santo. Uma busca nos registros competentes da Marinha Mercante, da época, poderia comprovar a aquisição desse bem incomum. Há uma informação colhida verbalmente que chegou ser noticiada numa edição de uma revista de nome “Diamantário”, dedicada a notícias de assuntos relativos aos garimpos, acerca da exportação de um grande volume de pedras oriundas da lavra da Pedra da Onça pelo porto do Rio de Janeiro, noticiando, inclusive, que tais informações teriam sido registradas na Alfândega. O único registro escrito que consegui sobre a jazida da Pedra da Onça foi na página da Internet www.proinfo.es.br/olhar_digital/redaçoesselecionadas/colatina/fabaianofrancocategoria3.htm - 3k -, que tem o seguinte teor: “... a Pedra da Onça, onde se encontra a maior jazida de águamarinha do planeta(?). Temos uma nascente que abastece dois municípios: Itarana e Itaguaçu...”. Sobre a lavra dos Zanotti Nessa lavra há um registro de que os seus proprietários exploradores requereram pesquisa para uma jazida de água-marinha no município de Santa Teresa no DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), do Ministério das Minas e Energia, provavelmente nos anos de 1958/1959.
186
Sobre a lavra de João Neiva Dessa jazida há relatos de fatos que podem possuir registros: comentou-se na época que teria sido feito um requerimento, provavelmente ao DNPM, para a obtenção da autorização de pesquisas de água-marinha no município de Aracruz. Noticiou-se que a mina invadida por garimpeiros vindos de várias regiões teria sido desocupada com emprego de força policial baseada em medida judicial para garantir a posse aos legítimos donos do solo, os membros das famílias Giacomim e Marino. Além das pesquisas no DNPM, cartório do fórum da Comarca de Aracruz e corporações policiais e também os periódicos da época poderiam ser consultados. Sobre as lavras em Pancas Na abordagem de garimpos dessa localidade, dois episódios podem ser comprovados: o achado de uma água-marinha, (denominada “Marta Rocha”.) em 1943, com 25,2 quilos, cotada na época em U$ 2,5 milhões, foi considerada a maior amostra brasileira da época (segundo é comentado pela população de Pancas); e mais a extração de uma grande amostra de águamarinha em 1987, com o peso de 20,5 quilos, cuja foto em tamanho reduzido encontra-se inserida neste livro. Esses achados estão comprovados em registros constantes dos sites nationalgeographic.abril.uol.com.br/edições/0501/cep/-35k e www.es.gov.br/site/notícias/show.aspx?noticiald=99660295 – 12k. No dia 19 de agosto de 2006, nos
jornais 1ª e 2ª edição da TV Gazeta, foi exibida uma reportagem feita em 1987 veiculando a notícia do achado de uma água-marinha com 20,5 quilogramas na qual a amostra se destacava em meio a imagens de um garimpo na localidade de Pancas, ES. Sobre as minas em Afonso Cláudio Sobre essas minas fiz apenas leves registros dos muitos comentários que ouvi, mas agora, objeto de pesquisa, insiro um texto copiado de um site do DNPM e que se pode comprovar inequivocamente a existência de garimpos em Afonso Cláudio. Eis o teor do texto referido: “ALVARÁ Nº. 864 DE 30/01/2004 – Autorizar pelo prazo de 02 (dois) anos, CÉSAR ANTÔNIO GRECCO, a pesquisar ÁGUA-MARINHA (GEMA) e GRANITO, no município de Afonso Cláudio, Estado do Espírito Santo...”. O que pode confirmar as alusões sobre a presença de jazidas naquele município. Bom também seria a pesquisa em empresas comerciantes de quartzo do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, onde poderão existir documentos fiscais que teriam sido emitidos quando do comércio de quartzo hialino e variedades produzidas no município de Santa Teresa, especialmente na localidade de Alto Caldeirão, desde a década de 1940. Lembro-me de quando ocorreu a invasão de uma lavra na propriedade de Arlindo Zanotti, em Várzea Alegre. Naquela ocasião, conforme registro no capítulo denominado “Invasão de uma lavra”, foi acionada a força policial que chegou acompanhada do juiz de Direito da Comarca de Santa Teresa para restabelecer a propriedade da área ao seu legítimo
187 dono. A desocupação foi pacífica, e dias depois todos os que estivemos lá. Recebemos notificação da Delegacia de Polícia de Santa Teresa para comparecermos a fim de prestar declarações visando à apuração do fato, por causa de denúncia feita em juízo, na qual o advogado Dr. Argeo Lorenzoni peticionava para que fossem restauradas as terras de Arlindo Zanotti, danificadas pela ação de garimpeiros. Ainda guardo na memória a expressão latina “Ad perpetuam rei memoriam”, constante daquele expediente. Para comprovar a existência de garimpos na atualidade, o caminho seria pesquisar na SEAMA (Secretaria de Estado do Meio Ambiente) e nas corporações da Polícia Ambiental e Ministério Público. Na Secretaria Estadual do Meio Ambiente seria possível verificar-se a existência de requerimentos solicitando autorização ambiental; na Polícia e no Ministério Público talvez se possam identificar possíveis autos de infração e denúncias de atos ilícitos resultantes de garimpos, relacionados com a preservação ambiental, fossem os garimpos legais ou ilegais. Algumas pessoas citadas nesta obra já faleceram, mas a grande maioria continua viva, podendo ser procuradas e consultadas para a corroboração do que relatei. Sobre jazidas de ouro no estado do Espírito Santo A presença de ouro aqui no Estado do Espírito Santo, principalmente no leito do rio Jucu e de seus afluentes, nos faz imaginar a existência de filões localizados nas rochas da região, ou simplesmente rochas com teor aurífero que, com o processo erosivo sofrido ao longo de longos anos, tenha sido depositada alguma quantidade do metal nos lençóis aluviais. Acredito, talvez, que o verdadeiro depósito primário aguarda que alguém o descubra – algo que sempre fez parte da fantasiosa história das descobertas de jazidas. As maiores estão sempre por serem descobertas, segundo creem os profissionais do garimpo. Para ilustrar o assunto sobre a existência de ouro no Espírito Santo, anexo um depoimento do professor Ezequiel Ronchi no seu inteiro teor, mantido com alguns vocábulos usados naquele garimpo, a seguir.
Notícia de Ouro O ouro fascina o homem Em seu sonho De riqueza e poder.
A vila de Araguaia e o ouro não estavam juntos, mas a “notícia dourada” e seu vulto nos anos que antecederam a segunda guerra mundial, ecoou pelas montanhas, vindas pelos jornais, trazidas pelos trens, pelo noticiário de rádio, na comunicação de boca a boca, e outras vias de tal forma que algumas pessoas entusiasmadas aventuraram-se a batear os cascalhos dos brejos, nos pequenos vales entre montanhas, já que era difícil conseguir
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algum dinheiro, a não ser no trabalho duro da agricultura e do pequeno comércio ou nas barganhas de animais de transporte, ou então, através de “expedientes” duvidosos. Assim, o elevado valor do ouro que chegou a dezoito mil réis o grama, parecia ser o resultado da insegurança política conflitaria que ocorria no mais importante continente do mundo, que era o europeu, entre ditaduras nazifascistas, impérios, Repúblicas, principados, ditaduras e a ideologia socialista, com aspecto comunista na Rússia e outros governos arbitrários que desenhavam um cenário inevitável de guerra e as pessoas que tinham “posses” queriam se resguardar da possível e quase certa, a desgraça da guerra, guardando ouro puro, já que o papel moeda e outros papéis pecuniários eram instáveis e até mesmo volúveis. Um exemplo de papel enganoso, fora a venda pela Alemanha, de seu dinheiro em marcos pelo mundo inteiro, para depois ser resgatado (dizem com ágio), mas, que na verdade fora um tremendo engano para o comprador que até hoje está esperando o pagamento. Portanto a procura pela compra do ouro fez este subir de preço no mercado internacional e consequentemente em nosso País. Era a forma mais segura de guardar economias pessoais, através do ouro. Com dezoito mil réis era possível pagarse até seis trabalhadores braçais, assim, numa comparação simples, o grama do ouro deveria valer aproximadamente de seiscentos a oitocentos reais, hoje. Portanto aventurar-se nos brejos, com uma bateia a procura de cascalho aurífero, era difícil, mas não impossível de achá-lo. Primeiramente, usava-se uma sonda fina de ferro cilíndrica longa, que seria introduzida nas camadas sedimentárias superficiais, impulsionadas por homens, que desceria até o cascalho, que era praticamente impenetrável ao ferro. Desta maneira, media-se da superfície a
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profundidade do cascalho e o custo operacional aproximado para remover a terra até a atingi-lo. Tomada à decisão de pesquisar onde estava o ouro, era necessário abrir-se uma cata, que significava marcar um quadrilátero na superfície, e remover com picareta, pás e enxadões as camadas de sedimentos superficiais até o esperado cascalho. Nesse trabalho havia, ainda, um complicador, que era a entrada forçada de água do lençol freático que, geralmente, invadia a cata, e era preciso retirála com baldes jogando-a para fora até alcançar o cascalho. Exposto este se procedia em encher bateias dele e lava-lo, para verificar a existência de ouro, e se valia transformar o brejo em lavra de ouro. O trabalho aurífero era esforço ingrato, pois o ouro lá nos cascalhos não era visto, estava por lá nos fundos, em pequenas pepitas espalhadas irregularmente e sua busca era difícil, caprichosa e quase sempre cansativa, a céu aberto com chuvas e sol. As catas não produziam igualmente, nem mesmo na mesma “lavra”, pois, algumas falhavam. Mesmo assim, os homens movimentavam-se para obter ouro, porque a cobiça animava a alma e o corpo. Havia nos cascalhos um detalhe aurífero, o ouro “pesado”, que era achado em pepitas arredondadas, e ainda que fosse ínfimo, o ouro rendia no peso e a lavra era considerada boa, produtiva. Todavia, também havia o ouro “leve”, ou seja, aquele que aparecia em lâminas miúdas, miudinhas, finíssimas, que costumava dourar o fundo da bateia, mas pesava pouco. Uma lavra de ouro-leve, para compensar o trabalho, precisava realmente amarelar bateias, encher os olhos e a ambição, mas quase sempre o resultado final aurífero era apenas razoável, “o bicho enganava”. Havia, ainda, o ouro chamado de “cabeceira de rio”, ou seja, ouro a ser apreendido do fundo
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do leito de um rio, que era puxado com longas inchadas, trazendo, a princípio, areia com cascalho que poderiam ser lançados para fora da água e ai na margem, apurar-se o ouro existente, com os apetrechos que os garimpeiros possuíam, já anteriormente testados. Na verdade, o “ouro de cabeceira de rio” era escasso, fragmentado e difícil de ser apurado, quer com bateias ou com “pelegos” ou lavadores. Certo dia, um comprador de ouro que residia em C. de Itapemirim, veio de trem “misto” e permaneceu na Vila, conversando com pessoas locais, e que eles deveriam garimpar ouro, pois, o preço era elevado e ele compraria tudo. Ele dizia que havia garimpos em Caxixe, Castelim e nas cabeceiras do Rio Jucu e Castelo que “amarelavam bateias”... Ele era um homem esperto, que não se aventurava a garimpar, mas que compraria o resultado das lavras. A sua conversa estimuladora era ouvida e recebida como propaganda. Mas, mesmo assim, alguém sempre pensa em enfrentar o difícil trabalho do garimpo. A palavra ouro era atraente, irresistível às vezes, pois, afagava a alma pelo dinheiro fácil. Um habitante da Vila de Araguaia, diante do preço arrebatador do ouro e da notícia que nos afluentes do Rio Jucu na parte alta, nas montanhas, havia garimpos de ouro produtivos, resolveu pesquisar brejos de pequena propriedade no lugar Boa Esperança, da bacia hidrográfica do Jucu. Para tanto, encostou seus afazeres domésticos, seus compromissos de pequeno comerciante, deixando este com os irmãos e partiu para a aventura do ouro. Juntou sua bagagem de cavaleiro, sua capa gaúcha “ideal”, para enfrentar frio e chuvas finas, com botas grandes avermelhadas, para enfrentar lamas e laminhas, e com culote, cor kaki, e camisa de tecido grosso e com facão pendurado no arreio e revólver, calibre 32, marca Colt, preto e mortal, na cinta e com picuá atravessado na parte traseira da cela, com roupas e outros objetos necessários. Era ainda acompanhado pelo seu secretário
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eficiente, que entre várias atividades era bom cozinheiro, que montaria numa mula de cor escura e forte, levando bagagem pessoal e alguns cereais, como feijão, arroz, carne seca, para aliviar fomes. O Carlin montou em sua mula de cor queimada a “bicicleta” e o secretário Alberto na mula “farofa” e partiram em direção a Boa Esperança, numa distancia aproximada de 3 horas de marcha a cavalo. Na propriedade de Bernardo Klein, Carlos, resolveu fazer uma pesquisa num corguinho que passava num brejo longo. O proprietário, também interessado em algum dinheiro, alugou uma casinha de estuque para o Carlos e seu secretário com alguns móveis rústicos de interior, e outra maior para acomodar homens trabalhadores. Feita a pesquisa na forma já conhecida ou tradicional, a “cata” a “céu aberto” e o seu cascalho deu positivo com ouro arredondado. Então surgiu a possibilidade de organizar uma lavra. Carlos, primeiramente, comprou o direito de exploração aurífera do dono da terra, que deu-lhe recibo com assinatura sobre selos federais “pra valer” do senhor Bernardo Klein. Contratou uns homens afeitos em trabalhos de terra, para a feitura de um tanque, com terra batida, na parte superior do córrego, com a finalidade de quando cheio elevaria a superfície da água, que em parte deveria correr por uma valeta lateral no pé da colina em direção ao vale abaixo, onde uma bica de madeira fina receberia a água da valinha e a precipitaria na “boca do lavador de ouro”, onde o cascalho deveria ser lavado sobre peneira de ferro. Estabelecido o básico para a manutenção dos homens trabalhadores em uma casa, com alimentos necessários e fazer “água alta” para o lavador, era chegada à hora de proceder ao trabalho pesado de abrir catas no brejo com o objetivo de extrair ouro.
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O cascalho era compacto, duro, com pedrinhas, pedras roladas, seixos, barro duro, areia e outras rochas sedimentadas. Os homens teriam que bater forte no cascalho para remexê-lo e revolve-lo a golpes de picaretas “apontadas”, e depois, lança-lo com pás para fora, fazendo um montinho. Com carrinhos de mão de ferro levavam o tão desejado cascalho até o lavador. Com pás o cascalho era erguido e colocado sobre a peneira de ferro na “boca do lavador”. Posta a água da bica sobre o cascalho, este era lavado com duas palhetas de mão por um garimpeiro hábil, que remexia e rodava a peneira de tal forma que sobrava apenas os resíduos e fragmentos vários que não passavam na peneira e deixaria passar areia fina, com água, que desceriam pelo centro do lavador e passavam sobre os pelegos de carneiro, ou tecidos grossos de lã, tipo Baeta, onde as pepitas de ouro deveriam ficar presas por serem mais pesadas. Depois de quatro a seis horas de lavagem de cascalho, com os pelegos cheios de areia fina e possível ouro, os “retentores” de ouro eram retirados, batidos e lavados numa grande bacia com um pouco de água. Terminado o dia fazia-se a apuração do depósito na bacia, com uma bateia, com a finalidade de apurar o ouro do trabalho do dia. Quase sempre o ouro aparecia, mas, achar-se muito, era raro. Nas redondezas de Boa Esperança, Carlos Ronchi organizou duas ou três lavras que foram consideradas produtivas, mas, não deram para enriquecer. Trabalhou nelas sem desanimo, e só parava em Araguaia para reorganizar os seus “negocinhos” e voltava para o ouro. Eu conheci pelo menos a primeira lavra, pois, fui varias vezes levar “coisas” necessárias para meu pai, a mando de minha mãe, a cavalo, numa besta “pelo de rato” que era boa de marcha e mansa.
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Eram umas três horas de marcha por estradinhas perdidas pelas montanhas, mas, eu chegava lá, geralmente com fome, apesar de na andança ter comigo alguns araçás maduros, ótimos, da beira da estrada. Quando eu chegava ia direto para a cozinha e o Alberto, secretário de meu pai recolhia as coisas vindas e preparava um pratinho de comida para eu matar a fome. Depois ele desarreava a besta e a soltava no pasto, junto da lavra e me mandava ir ver à trabalheira dos homens. Como eu cheguei tarde, pouco vi do movimento dentro da lavra com seus homens trabalhando sem parar. Meu pai ao ver-me me fazia muitas perguntas sobre a situação da Vila e como as pessoas se achavam, principalmente os irmãos dele e, também, de minha mãe queria saber suas queixas ou lamúrias. Terminada o serviço na lavra (naquele dia), nós nos recolhíamos para jantar e aguardar a noite para dormir. Eu dormia num colchão de palha de milho usado, posto no assoalho da casa e cobria-me com uma cobertinha simples de algodão, e o sono corria amplo e profundo pelo cansaço. No dia seguinte era só montar na mula e soltar a rédea, que a besta desenvolvia a marcha diretamente para a Vila, para chegar logo, onde ficava num pastinho comendo e descansando. Era um animal de estimação da família. Quando eu chegava minha mãe ficava alegre e me cobria de perguntas sobre a viagem, pelo meu pai, pelo Alberto, pela lavra e outros fatos. Eu, era novinho, tinha uns oito a nove anos e cumpria essa “missão”, pelo menos duas vezes por
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mês, sozinho pelas estradinhas precárias de cavaleiro, mas, eu sabia que não estava a sós, pois, a mula estimada levarme-ia sempre para casa. Era uma garantia absoluta de animal. Aliás, dois animais diferentes, porém, juntos numa marcha, que envolvia indiretamente a aventura do ouro de aluvião, que fustigava a imaginação pela riqueza, mas, quase sempre, inatingível. O magnetismo do ouro entusiasma e faz do homem garimpeiro submisso à paixão do “vil metal amarelo” que brilha no fundo das bateias e incendeia os pensamentos de riqueza e poder. Carlin deve ter sofrido esses doces males do “dourado”, que esgotadas suas lavrinhas na Boa Esperança e influenciado pelo seu amigo tagarela Josué Peterle, habitante além das Pedreiras (Pedra Azul) que também arrancava ouro de catas, por lá, enveredou com seus homens garimpeiros, ferramentas, tralha de cozinha, utensílios vários domésticos, lavadores de ouro completos e outros apetrechos de garimpagem transportados por animais de carga e de sela, encostou-se ao Ribeirão Capixaba e na margem apropriada montou uma nova lavra, em terra particular onde pintou “ouro leve” na bateia que animava uma exploração adequada. Assim, a aventura estava em movimento novamente, com seus homens fortes que enfrentavam intempéries, e fizeram logo, na beira do rio, uma tapera de pau a pique, ou seja, de madeiras lavradas e roliças do local, enfincadas num chão plano, fazendo paredes, na forma retangular de quatro por sete metros aproximadamente. Puseram cobertura de sapê abundante no local. Por dentro fizeram tarimbas de madeiras finas, roliças, encostadas nas paredes de madeiras e altas do chão para evitar umidade ou qualquer bicho rasteiro peçonhento. Na entrada, ao invés de porta havia uma cortina de tecido escuro substituindo-a. Amaciaram as tarimbas com colchões de palha de milho seco. Fizeram um fogão de lenha com pedras, pedrinhas e barro de liga amarelado e por cima ajustaram uma chapa de ferro com quatro bocas, com tampas já usadas anteriormente, para a feitura de alimentação. Usavam panelas de ferro pratos e
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xícaras de ferro esmaltado e garfos e colheres comuns, de metal. Esse era o tipo de moradia provisória, denominado de “rancho de garimpeiro” que, era iluminado por lamparinas, quando a noite escura encobria a terra. No entanto, alguns sons baixos vinham do brejo pelo coaxar dos sapos comuns e os batidos destacados, agudos dos sapos ferreiros. O Carlin e seu secretário ficavam numa casinha de estuque perto da lavra. Da Vila de Araguaia até o Ribeirão Capixaba, à distância pelas estradinhas curvosas de cavaleiros cobria aproximadamente 50 quilômetros. Era um “pedaço de chão” a ser percorrido, que somente uma montaria especial poderia marchar por um dia inteiro para obter êxito, com pequenas interrupções para os descansos necessários com alguma alimentação rápida para o cavaleiro e o animal. A marcha era vagarosa, num sobe e desce pelas estradinhas, que animal e cavaleiro chegavam quase sempre “esbodegados”. Mesmo sendo longe da Vila, menino não mede consequências, em certa ocasião própria minha mãe permitiu que eu acompanhasse o Alberto para ir ver o meu pai. Marchamos o dia inteiro com as dificuldades inerentes aos balanços nos arreios, que nos deixava cansados. Todavia, pela tardinha, chegamos à casinha pequena, isolada, num pasto meio abandonado perto da lavra, onde meu pai ficava. O Alberto desarreou os animais e soltouos no pasto. Esquentou o restante de comida que minha mãe nos deu e matamos a fome, com meu pai presente que interrogava o Alberto por notícias gerais. Logo chegou a noite e as lamparinas a querosene de luzes amarelas iluminavam mal a casinha. Dei a meu pai as notícias enviadas por minha mãe, como bom “estafeta”, e caí exausto no sono, não sei onde.
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No dia seguinte sentia o corpo meio pesado, dolorido e procurei logo em tomar café feito pelo Alberto, acompanhado de roscas gostosas que levamos. Pela porta aberta, pude ver uma chuvinha fina “sem vergonha” caindo com friozinho. Coloquei meu casaco de flanela branco feito pela minha mãe, e fiquei olhando o “fim do mundo”, onde eu estava. A casinha estava encravada num pasto de capim meloso, meio abandonado, num sopé de uma pequena montanha, e lá em baixo via-se o riozinho “Ribeirão Capixaba”, nada mais. Nenhum morador a vista, embora houvesse habitantes descendentes de imigrantes, em suas colônias, perdidos naquele ermo, isolados, sobrevivendo apenas com a força biológica da vida. Nenhum sinal de civilização. O dia passou com chuva e a noite veio “escurona”. Quem iluminava eram as lamparinas com luzes amareladas e sentia-se o cheiro de querosene queimado. Senti a falta imensa da lâmpada elétrica, que ali pela memória, parecia-me maravilhosa. Fiquei muitos dias naquele “deserto de matos”, em plena natureza, onde raramente passava alguém a caIdomarIvalo, nem a pé. No café da manhã comíamos roscas com pedacinhos fritos de carne seca ou polenta já feita assada (brostolada) na chapa do fogão, com linguiça frita. Era o que se podia ter naturalmente. Depois íamos para a lavra, onde os homens já trabalhavam, geralmente tirando água da cata do dia anterior, e o trabalho continuava sem parar até extrair o cascalho para lavagem. Meu pai examinava tudo, desde as ferramentas até os lavadores e ainda a eficácia produtiva do esforço dos garimpeiros, porque a lavra era de “ouro leve” e era preciso fiscalizar tudo e todos para a lavra render.
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O Alberto permanecia na casinha para providenciar a feitura da comida (rústica) para o almoço e jantar, geralmente com feijão, arroz, carne seca e polenta com linguiça às vezes. Os garimpeiros faziam suas próprias refeições com os cereais e carne seca fornecido pelo dono da lavra. Quando eles iam almoçar eu e meu pai íamos até a casinha para o almoço. Depois, voltávamos para a lavra, juntamente com o Alberto que iria ajudar na lavagem do cascalho aurífero. Eu via toda aquela trabalheira e não entendia em profundidade o por quê? Quase todo dia eu queria ver ouro e enchia uma bateia de cascalho e lavava o mesmo, com água mansa em cata abandonada e me esforçava para rodar a bateia, tirar as pedrinhas, as areias que deviam sair até que, bem no fundo da bateia aparecesse o ouro finíssimo em folinhas. Era agradável vê-lo limpo expurgado das impurezas. Seria pela ambição? Meu pai vendo-me batear dizia-me: - Vamos juntar os ouros. Ele queria dizer, juntar o ouro pouco da bateia com os dos lavadores. Pela tarde, pouco antes de parar o trabalho, eu ia tomar banho ali no rio, no Ribeirão Capixaba e nadava cachorrinho pela correnteza. Era meio perigoso, mas eu arriscava o prazer do banho. A água era limpa, limpíssima, via-se qualquer peixinho, mesmo no fundo do rio. Porém, o banho não era demorado, pois, a água limpa era muito fria e eu tremia. Quando eu saia da água, corria para a casinha para esquentar-me junto do fogão de lenha, ainda morno. O tempo corria meio lento para mim naquele lugar estranho e mesmo assim eu contava os dias e ao falar com meu pai sobre o mês de janeiro, considerado
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quente, ele lembrou da festa de São Sebastião que ocorreria no próximo domingo em Pedreiras (Pedra Azul). Assim, no domingo do dia 20 de janeiro de 1937, lá no Ribeirão Capixaba, o sol por ser verão, clareou o dia mais cedo e as folhas das árvores e também do capim meloso brilhavam no momento da evaporação do orvalho da noite. As gotinhas pareciam espelhinhos, refletindo luzes por toda a parte. A manhã era clara e bela, naquele “isolamento” dos imigrantes, abandonados naquele mundo de “meu Deus”, nada mais. Eu, meu pai e o Alberto, montamos cada um em seu animal de sela e partimos para um passeio de duas horas mais ou menos em direção à igreja católica única do lugar Pedreiras (hoje Pedra Azul), sendo totalmente isolada num pequeno pasto entre as colônias dos imigrantes. Por ser um dia de festa e louvor ao Santo Padroeiro do lugar, santo considerado como forte, e por isso deveria ser invocado para combater “peste, fome e guerra”. Na igreja de Araguaia, nas orações costumeiras, eu ouvi várias vezes essa referência com ênfase pelos rezadores. Nós chegamos para a festa religiosa mais ou menos às nove horas e fomos até a casa e a venda do Hermínio Uliana que era amigo dos Ronchi. Este pequeno comerciante (às vezes) ia a cavalo até Araguaia e daí com um dos Ronchi, também comerciante iam ao Rio de Janeiro de trem da Leopoldina “fazer compras”. Era um grande esforço que apenas podemos imaginar, trazer mercadorias do Rio de Janeiro de trem e depois leva-las em lombo de burro para Pedreiras. Eu fiquei por ali entre a igreja e a casa do senhor Hermínio, olhando e só via gente chegando a cavalo. A pé eram poucos, possivelmente os que residiam mais perto da igreja.
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Havia animais amarrados por cabresto por todo lugar. Onde havia uma estaca, havia de três a cinco animais presos. Pelas cercas dos pastos os moirões seguravam animais amarrados. Eram muitos. Vi uma mulher de meia idade, tipo “matrona” chegando, montada em cilhão meio amarelo, ou seja, sentada de lado, com um pé no estribo e a outra perna sobre a parte dianteira do cilhão, meio dobrada. Ela usava vestido meio colorido, já que mulher alguma, usaria calça de homem, pois seria inimaginável. Usava para nosso espanto, ainda, uma sombrinha aberta para se proteger dos raios solares, enquanto a montaria andava, era simplesmente bizarro. O animal de cilhão deveria ser forte, manso, troncudo e baixo, próprio para andança de mulher, principalmente pesada. Era algo diferente, estranho, mas, o costume era esse homem na sela e mulher no cilhão. A igreja estava tão cheia que não pude vê-la por dentro, nem mesmo a imagem de São Sebastião. Por fora havia muita gente conversando, uns falavam um dialeto italiano, também compreensível para mim e a maioria falava português rústico. Ao lado da igrejinha, junto de uma parede lateral do meio para o fundo, improvisaram uma grande mesa longa de tábuas, sustentada por cavaletes, com cobertura de folhas de palmitos verdes, onde expuseram alimentos prontos, como pães, roscas, biscoitos de polvilho, bolos de milho e de cereais, carnes cozidas de frango e de porco em pedaços, além de linguiça frita, polenta cortada em fatias e outros comestíveis, que poderiam ser ingeridos, inclusive, se quisessem, com bebidas alcoólicas, principalmente com cachaça boa e até refresco de gengibre, conhecido por gengibirra.
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Tudo aquilo constituía oferendas dos religiosos para serem vendidas e o produto apurado em dinheiro seria para o santo padroeiro, São Sebastião. Era a forma comum e prática de alimentar os visitantes festivos e agradar a igreja. Como era dia de festa, a “caninha branca” era experimentada em todas as marcas puras ou compostas com sabores de plantas, desde sementes de pêssego até pau pereira (muito amargo). Como era um dia de alegria, um pouco de bebida que “passarinho não bebe” era aceitável recebêla... “Sem uns goles” não haveria graça e a festa seria pessoalmente murcha, com somente conversas gerais e rezas religiosas. Um toque da “marvada” às vezes fazia crescer as vozes e aumentar os risos aprisionados. Assim, o poderoso santo padroeiro deveria não somente perdoa-los, mas também, protege-los dos males, amém! Antes do sino da igreja bater, finalizando a festa pela tarde, tal Bruschin, de meia idade, “cheio de cana”, com uma garrafa de cachaça na mão e na outra com uma fieira de roscas, redondas, que levava a boca e comia e regava com “caninha branca”, e gritava desafiava os presentes para brigar. Embora meio bêbado, ele fazia medo, parecendo louco, pois queria brigar de qualquer maneira. As pessoas presentes clamavam pelos parentes do desordeiro para dominá-lo, já que não havia qualquer autoridade naquele lugar, para tanto. Quando a “Bruschinada” chegou, intervieram com força, e acabaram com aquela “laúsa” do valentão comedor de rosca com cachaça e sumiram com ele, restabelecendo-se a ordem, enquanto o povo ali se divertia com risos e comentários, que a palhaçada fora boa.
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Logo depois fui procurar meu pai com a finalidade de me alimentar e ao passar por vários animais amarrados, um burro, parecendo jumento, de cor cinza, estava, não sei como, comendo jornal velho, que estava preso entre duas estacas juntas. Eu nunca tinha visto aquilo, burro comendo jornal. Pensei, só mesmo fome suicida... Coitado do bicho! Quando o sino da igreja repicou alto, naquele lugar silencioso, isolado de quaisquer sinais de civilização, e ainda quando alguns foguetes de vara explodiram no alto, significavam o término da festa religiosa. Assim, os cavaleiros procuravam suas montarias e saiam para os seus destinos. Logo na saída formaram uma longa fila de animais com cores diferentes que me pareceu tudo belo. Era até bonito vê-los em movimento, mas, ao mesmo tempo, me parecia triste por saber que não iam à parte alguma de bom, a não ser suas casinhas isoladas num vasto ermo desconhecido da civilização. Na varanda da casa do Sr. Hermínio nós nos despedimos dele e da festa, e fomos ao encontro de nossas montarias. Pude ver alguns homens junto de seus animais, com a mão no “santo Antônio” (“cabeça do arreio”), que “engrolavam” língua, grogues pelas cachaças, e não conseguiam montar. A gente ria somente. Era engraçado ver o “thucke” (bêbado) tentando montar e nada... Eles rodeavam o seu animal de sela e bambeavam e bambeavam e nada mais. Marchamos para a lavra, e como o dia era longo, chegamos antes do anoitecer. Naquela boca da noite, nada de banho, pois o rio, frio, estava lá embaixo... E eu enjeitei o esforço. Depois quando ascendi uma lamparina a saudade tocou-me, bateu leve e contínua, pensando na vila.
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Perguntei a meu pai quando voltaríamos e ele me retrucou de forma evasiva: por esses dias... Eu fiquei pensando, pensando na volta. Se pudesse, voaria logo, como um passarinho desterrado. Certa manhã apareceu na casinha nossa, um homem da região que viera a cavalo, numa égua avermelhada, mansa, que estacou no terreiro portando arreio comum, pobre, conhecido como “socado”. Ele queria vender frangos para os garimpeiros, mas, com a garantia do Carlin. Meu pai afirmou um trato, mas que ele trouxesse os galináceos até quintafeira, pois nós íamos viajar no fim da semana. Percebi que o homem rude de origem nossa, branca, ficou satisfeito, pois receberia um dinheirinho na transação, ali, tão longe de qualquer vila e assim, era um “maná do céu”. Neste momento eu entrei na conversa e pedi se ele não podia arranjar dois galos, e ele afirmou que sim. Meu pai perguntou-me o porquê? Eu fui explícito: - Quero levá-los para minha mãe, como faz o tal compadre, quando vem de Afonso Cláudio até a nossa casa na vila, que traz galos capões, gordos para a nossa alimentação, no domingo. Eu gostava de comer pescoço cheio de sangue, com a cabeça para tirar o miolo (cérebro) que era macio e bom. Para tanto, o galináceo deveria ser morto com golpe de torcedura no pescoço, e pendurado de cabeça para baixo, até morrer. No sábado eu montei no burro “paulista” e meu pai na sua portentosa mula chamada “bicicleta”. Antes coloquei os dois galos bonitos, grandes, que custaram dois mil réis, que hoje seria aproximadamente, dois reais, que foram amarrados por tiras de pano nos pés e colocados no picuá duplo. Pendurei-os de cabeça para cima na parte traseira da sela e mais um picuá duplo também
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curvado na parte elevada do arreio, onde ia nossa comida de estrada, num lado e do outras coisas comuns, inclusive, dois seixos belos, cor de canela, como recordação da lavra. Era bem cedinho e o sol era brando e o ar era meio frio, embora estivesse com o casaco de flanela branco. O burro “paulista” estava atento e começou a marchar rápido, pois queria ir pra casa, acreditando eu que até ele estava com saudade do seu habitat. A mula “bicicleta” acompanhava sem muito esforço, embora meu pai fosse pesado. Fomos “cortando” estradinhas estreitas pelos matos e “abertas” com casinhas de colonos, sempre descendo e subindo morros e mais morros. Era raro um pedaço de estrada plana. Depois de andar bastante, o sol já estava quente e tirei o casaco, o boné e olhei para o céu e havia nuvens brancas bonitas subindo para o azul e perguntei a meu pai se ia chover pela tarde e ele retrucou que não, que o tempo estava firme. Tocamos mais um tanto, esbarramos na indesejável terra conhecida como “mata sumidôr”. O “paulista”, por si só, diminuiu a marcha, pois, a estradinha pouco usada, meio abandonada, estava esburacada e com o solo muito duro. Podiam-se ouvir os estalidos das ferraduras nas pedrinhas soltas entre areias e barros secos. Para atravessá-la era mais de uma hora sem parar. Não havia nenhum morador, pois, a terra era absolutamente improdutiva, sem qualquer “gordura”, como diziam. Tínhamos um pequeno sentimento de insegurança, naquela terra solitária, onde “Judas teria perdido as botas”. A estradinha única serpeava, subia e descia pelos flancos das colinas e montanhas, acompanhando um riozinho lá embaixo, encoberto por floresta rala e baixa, de onde, de vez em quando, ouviam-se sons de cachoeirinhas.
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Pelo ar vinha a perseguição das mutucas ávidas por sangue. Tanto atacavam o cavaleiro como o animal. Eu espantava aqueles “demônios” vorazes batendo nelas com as mãos e aliviava o “paulista” batendo e esfregando com a minha gurungumba longa nas orelhas e nos lados do pescoço onde já estavam pousadas sugando sangue. Muitas morriam e outras sumiam pela vibração rápida da gurungumba. Na parte traseira o animal se defendia com a agitação do rabo. Quando acabava o ataque, ficavam pontinhos vermelhos de sangue coagulado, onde elas pousaram e sugaram o animal. Quando o enxame de mutucas avermelhadas atacava, o animal ficava nervoso com tantas ferroadas e era preciso segura-lo pelas rédeas. Depois de atravessar aquele chão de terra dura, sem ninguém de humano, meu pai puxou seu relógio de bolso, foliado a ouro, ômega e disse-me alto que já eram onze horas e vinte minutos e estávamos a meio caminho de casa e o sol estava muito quente, pois, era fim de janeiro. Mais adiante meu pai gritou para parar. Eu voltei o animal e fiquei junto dele. Descemos dos animais e fomos para uma sombra de árvore ali existente, onde havia uma aguinha descendo da montanha que atravessava a estrada. A escolha do lugar não foi por acaso, pois, meu pai já conhecia o lugar apropriado para descanso. Depois de tirar os freios dos animais, colocou-se neles um embornal de pano, preso pela cabeça, com milho bastante. Tiramos os picuás um com alimentos e outro com os galos para que bebessem água e comesse algum milho. A seguir, lembro-me bem ou muito bem que meu pai abriu com dificuldade, usando uma faquinha, uma lata arredondada de peixe “corvina” que estava estampada no invólucro da conserva. Abriu um embrulho de papel que continha arroz cozido, outro com farinha de mandioca e um menor que trazia três ovos cozidos de galinha. Numa toalha pequena branca havia duas colheres e dois pequenos pratos de ferro esmaltados, enrolados. Comemos nosso almoço itinerante com sobremesa de dois ovos para meu pai e um para mim. O
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almoço estava ótimo, soberbo, diante do estômago vazio de ontem. Bebemos água limpa, cada um com seu caneco de ferro esmaltado que vinha pendurado no arreio. Descansamos um pouco e os animais também. Estes, depois de comerem milho, beberam água. Os galos tiveram o mesmo tratamento. Ajustamos as barrigueiras, os peitorais e as cilhas dos arreios nos animais, e recolocamos os picuás com os galos e os freios voltaram à boca dos animais. Antes de montar, fui recomendado para segurar as rédeas, numa marcha lenta para acomodação da comida no estômago evitando muito balanço dos animais. A digestão devia ocorrer normalmente. Esta segunda marcha era psicologicamente segura, pois, passaríamos por colônias mais habitadas e se houvesse qualquer problema poderíamos pedir auxílio. Quando o sol abrandou meu pai tirou o chapéu de feltro de abas largas de cor de “burro quando foge”, para arejar a cabeça, e eu imitei o ato e tirei o boné depois de olhar para trás. A viagem já estava cansativa, pois, a tarde vinha chegando e havia ainda muito chão a percorrer, mas, ao dobrar numa curvinha deparei com a colônia de Antônio Giles, bem tratada, bem cultivada, que eu conhecia e que não estava longe de casa. Com menos calor os animais andavam mais e com menos suores. Fomos tocando, e ao atravessar uma pequena ponte de madeira, num encontro de águas com o “rio do ganho”, deparei com a visão agradável da igrejinha de Santo Antônio de Araguaia e já me julgava em casa, porque faltariam apenas três quilômetros mais. Passamos rente da igrejinha isolada, com seu cemitério minúsculo e lembrei-me de minha avó Josefina e outros ancestrais dos imigrantes, que não conheci, ali enterrados. Tudo me parecia estranho e incompreensível, virem de tão longe (Europa) e terminarem ali inutilmente. Esse sentimento ainda em mim persiste.
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Avançamos, passamos pela colônia que pertenceu a Ezequiel Ronchi, onde havia um tope longo a subir, mas os animais não enjeitaram o maior esforço. A noite se aproximava e logo ao atravessar os trilhos da estrada de ferro Leopoldina, no princípio da vila (ao norte), o “paulista” aumentou a marcha para a chegada. Fomos atravessando a vila e de repente entramos na rua principal. Lá estava, quase de frente, a estação ferroviária, no meio da vila, com o nome exposto em letras grandes “ARAGUAIA”. Parecia, naquele momento uma casa monumental. Ali estavam as casas de família, a farmácia, as vendas, o bar do “Borgo”, a igreja católica única, com seu sino vibrante, a escola, os trilhos com seus trens, as ruas, as hortas, as árvores frutíferas, as flores naturais, vicejando por toda a parte, os passarinhos, as pessoas, os amiguinhos e tudo mais me parecia grandioso (de onde eu vinha) e lembrava-me da falada e desconhecida cidade grande, ou um Principado, no qual eu fazia parte da Corte. Ao lado da casa comercial “J. RONCHI & CIA”, dobramos a esquerda num beco e chegamos ao rancho de tropa nosso. Um poste pequeno na rua possuía uma lâmpada acesa, eu achei-a linda. A luz elétrica era fascinante. Pegamos Dona Gracinda de surpresa. Havia alegria no ar e consequentes risos. Meu pai, apesar de forte, demonstrava cansaço. Minha mãe demonstrava satisfação plena, pois, naquela noite a família toda iria jantar contando com todos os cinco da família. Eu me sentia confortável, seguro e livre na vida, embora com as pernas duras de tanto arreio e balanços no lombo do “paulista”, burro forte e marchador. Num domingo adiante, saboreamos um galo. Estava ótimo. Eu comi a minha parte preferida de sempre. Hoje, já idoso e cético das ideologias místicas, fico
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pensando que nenhum animal, ou ser vivo, foi feito para ser devorado por outro e que há algo errado na construção ou criação da vida. Quem poderá consertar ou refazer a vida com outra destinação ou forma de viver? Autor: Ezequiel Ronchi Advogado, Promotor Público, Professor de Direito na UVV, Escritor e Poeta.
Mais notícias de ouro no Espírito Santo... REVISTA BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS Nº63/64 — Ano XVI — julho/Dezembro — 1963. A COLONIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CASTELO Artigo desta revista atestava a existência de ouro. O texto é anexado a seguir:
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Imagens 131 a 135. Figura e textos obtidos por meio de Print Screen no endereço abaixo: Fonte: http://biblioteca.ibge.gov.br/. Bactérias que estimulam a formação de partículas de ouro Investigadores descobriram que uma espécie bacteriana estimulante da formação de partículas de ouro no seu ambiente, como uma forma de sobreviver em soluções contendo íons de ouro tóxicos. A bactéria, Delftia acidovarans, segrega um composto chamado delftibactin que precipita íons de ouro, levando-os a se agrupar em pepitas.
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A Geologia do Maciço de Várzea Alegre O principal foco de abrangência teve como ponto de partida localizado no maciço de Várzea Alegre no local denominado “Pedra da Onça”. Foi resultante de material mineral ejetado de um pegmatito que emergiram minerais-gema em quantitativos excepcionais. O principal mineral encontrado nessa jazida representou na ocorrência de abundantes cristais de quartzo, berilos como água-marinha, heliodoro, berilo verde e morganita. Pelo estudo geofísico acrescentado adiante, percebe-se a importância das pesquisas sobre as origens das intrusões minerais nesse maciço de Várzea Alegre, compreendendo os territórios municipais de Itarana, Santa Teresa, Itaguaçu e São Roque do Canaã (este município compreendia parte do domínio territorial de Santa Teresa) e em outros. O assunto mereceu duas pesquisas acadêmicas realizadas em recinto universitário, no Rio de Janeiro por mestres e mestrandos patrocinados pelo CNPq/FINEP. Abaixo, uma secção da pesquisa em referência. [...]... O maciço intrusivo de Várzea Alegre, localizado no centro do Espírito Santo, representa o magmatismo tardi à pós-tectônico do arco magmático de idade Brasiliana dessa região. As rochas gabróicas, dioríticas, quartzo-dioríticas e graníticas do seu domínio interno são envolvidas por um extenso e irregular anel de rochas charnockitóides. Dentre as rochas da suíte charnockítica presentes encontram-se opdalitos, jotunitos, quartzo mangeritos e enderbitos (opxquartzo dioritos); são porfiríticas, com megacristais de feldspatos e quartzo que chegam a atingir 6 cm e matriz média a grossa. Mostram assinatura geoquímica compatível com um quimismo cálcio-alcalino enriquecido em elementos LIL (principalmente Ba, K e ETR) e alguns HFS (Zr, P e Nb). O comportamento das amostras em diagramas de variação envolvendo elementos compatíveis versus incompatíveis sugere que mecanismos de cristalização fracionada associados a mistura de magmas tenham sido os responsáveis pela diversidade litológica encontrada. Os altos teores de elementos LIL e HFS presentes indicam possível participação de uma fonte mantélica previamente enriquecida, associada com contaminação crustal, na gênese das rochas estudadas... [...]. [...] ... COMPLEXO DE VÁRZEA ALEGRE A GEOLOGIA DO MACIÇO DE VÁRZEA ALEGRE As rochas do maciço intrusivo de Várzea Alegre afloram na zona rural dos municípios de Itaguaçu, Itarana e Santa Tereza. Trata-se de um corpo aproximadamente circular que está Inserido no âmbito do arco magmático tardi-brasiliano dessa região (Wiedemann 1993, Medeiros et al 1994, Mendes 1996). Como se observa no mapa geológico da figura l, o maciço. São inversamente zonados, com um domínio interno onde se tem gabros no centro topograficamente arrasado envolvidos por rochas dioríticas/quartzo dioríticas-monzodioríticas e granitos megaporfiríticos. Granito a titanita ocorre como um pequeno stock próximo dos gabros e também na forma de diques que cortam os demais linotipos. Todo este conjunto é Circundado por um domínio externo representado por uma extensa e irregular auréola de rochas charnockitóides. Enquanto nos bordos sul e oeste esse anel é estreito, com algumas centenas de metros, a leste e a norte ele chega a ter quase 4 km de largura, formando serras de cotas elevadas com amplos lajedos e encostas. Essas rochas estão encaixadas em orto e paragnaisses metamorfoseados na fácies anfibolito alto a granulito. Uma característica marcante das rochas do domínio interno é a intensa mistura mecânica entre os (quartzo) dioritos e gabros e os granitos megaporfiríticos, originando grandes. Estruturas em rede onde se observa toda a sorte de feições típicas de mistura de magmas, além de litotipos com composições intermediárias (quartzo dioritos e quartzo monzodioritos). Os charnockitóides são rochas megaporfiríticas, de cor verde escura quando frescos, que exibem foliação bem desenvolvida próximo aos contatos e uma estrutura maciça quando. Distante dos mesmos. Via de regra as foliações nas bordas e nas rochas encaixantes mergulham para dentro do corpo. Quando afloram, os contatos com os gnaisses são bruscos e. Paralelos à foliação, enquanto que com os litotipos do domínio interno eles são normalmente interdigitados, associados com discreta a intensa interação mecânica entre as rochas.
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de aparentarem grande homogeneidade, as rochas charnockitóides exibem heterogeneidades tais como: variação na quantidade de megacristais, às vezes num mesmo. Afloramento; presença de diques de provável composição diorítica (raramente granítica) e de enclaves microgranulares básicos com ou sem xenocristais de feldspato; veios pegmatóides que provocam descharnockitização localizada e xenólitos das rochas encaixantes variavelmente assimilados (Foto1), sobrando às vezes restitos contendo granada ...[...].
Imagem 125 Componente do trabalho de pesquisa sobre as intrusões no maciço de Várzea Alegre.
Imagem 126 Componente do trabalho de pesquisa sobre as intrusões no maciço de Várzea Alegre.
GLOSSÁRIO Acampamento – Local onde se acampa para permanência provisória. No caso dos garimpos, são locais destinados à proteção dos trabalhadores e à guarda dos seus pertences. Acomodação – Ato ou efeito de acomodar (-se); acomodamento. Ato de alojar (-se), de hospedar (-se); instalação. Divisão de um local (residencial, de trabalho, etc.). Cômodo. Adjacente – Posto ao lado de; junto, pegado. Situado em local próximo; confinante. Afloramento* — Exposição natural ou artificial de rocha mãe, permitindo o seu estudo direto. Afloramentos naturais são as exposições da rocha devidas à ação de processos naturais, como erosão e deslizamentos de solos, em rios, cachoeiras, escarpas; já os afloramentos artificiais são devidos à ação do Homem: cortes de estradas, túneis e poços. É importante diagnosticar se uma rocha exposta corresponde a um afloramento in situ e não deslocado da rocha subjacente ou a um bloco rochoso deslocado ou alóctone como, por exemplo, um grande matacão tombado em meio ao solo de uma estrutura de deslizamento e avalanche ou um grande bloco errático dentro de antigo depósito de moraina. Isto se diagnostica comparando-se a continuidade estrutural e de tipo de rocha com várias exposições de rochas próximas. Água-marinha – Cristal de berilo de coloração azul a esverdeada. Alcalino* — Referente a, ou próprio de uma base forte em solução aquosa Almandina – Uma variedade de gema do grupo das granadas, cujo nome é derivado de uma cidade da Ásia Menor.
211 Alexandrita – É um cristal pertencente ao grupo do crisoberilo. Na luz do dia é verde e na iluminação artificial da lâmpada incandescente, vermelha. Alumínio – Elemento químico, metal, de número atômico 13, muito utilizado na indústria. Símbolo Al. Aluvião – Depósito de cascalho, areia e argila que se forma junto às margens ou à foz dos rios, proveniente do trabalho de erosão; alúvio. Ametista – Variedade o quartzo de coloração em tons de violeta. (Com a denominação de ametista existem outras variedades, tais como ametista basaltina, ametista-citrino, ametistade-bengala, ametista-de-lítio, ametista-espanhola, ametista jacobina, ametista Madagascar, ametista-mosquito, ametista-oriental, Ametista Pau d´Arco, Ametista siberiana, ametista uraliana, ametista Uruguai, ametista verde e ametrino; conforme BRANCO, Pércio de Moraes. Dicionário de Mineralogia e Gemologia, 2008, p. 33). Amorfo – Diz-se do material sem estrutura cristalina, em decorrência de uma desordenação estrutural. É isótropo para as diferentes propriedades físicas e não apresenta forma externa característica. Ex.: vidro, azeviche, marfim. (BRANCO, 2008, id. p. 34) Andaluzita – Silicato de alumínio – Al2SiO5 —, ortorrômbica, trimorfo de cianita e d silimanita. Prismática, de cor variável (marrom, amarela, verde, vermelha, cinzenta, verde amarronzada, etc.) transparente com duas clivagens ortogonais, boa uma e perfeita a outra (BRANCO, 2008, id. p.35). Anédrico – Diz-se dos cristais que tiveram seu crescimento limitado pela presença dos cristais adjacentes, d Anfibolito* — Rocha metamórfica de grau médio a alto que tem a hornblenda e o plagioclásio como paragênese característica. O anfibolito pode ser derivado de rochas ígneas básicas, como o basalto, o gabro (ortoanfibolito) ou de rochas sedimentares, como calcários impuros (paraanfibolito), ou, ainda, ser derivado de misturas como rochas vulcanoquímicas. Pode se apresentar maciço, bandado ou, mais comumente, com lineação e textura nematoblástica. Pode ou não conter quartzo e se o teor em quartzo aumentar acima de 10%, o anfibolito gradua para anfibólio plagioclásio gnaisse. e modo que não mostram suas faces cristalinas. Sinônimo de alotriomórfico, anidiofórfico e xenomórfico (BRANCO, 2008, id. P. 36). Antropológico — Designação comum a diferentes ciências ou disciplinas cujas finalidades são descrever o ser humano e analisá-lo com base nas características biológicas (v. antropologia biológica) e socioculturais (v. antropologia cultural) dos diversos grupos em que se distribui, dando ênfase às diferenças e variações entre esses grupos. Arenito – Rocha sedimentar formada de grãos agregados por um cimento natural silicoso, calcário ou ferruginoso que comunica ao conjunto em geral qualidades de dureza e compactação; é usado como material de construção, pavimentação, etc. Argila – Rocha de origem sedimentar, formada por silicatos hidratados de alumínio, partículas de ácidos metálicos e matéria orgânica, muito usada na indústria, em cerâmica e em construção, e para fins medicinais. Barro. Asterismo – Um sinal gráfico luminoso em forma de estrela. É uma propriedade de alguns cristais com inclusão de rutilo. Fenômeno ótico observado às vezes em minerais como berilo, crisoberilo, crocidolita, quartzo, coríndon, quando lapidados em cabuchão e em determinadas direções e que consiste na dispersão da luz na forma de uma estrela de 4, 6 ou 12 pontas... (BRANCO, 2008, id. p.46).
212 Baguete – Lapidação com 17 facetas, usada para gemas estreitas, retangulares e pequenas semelhantes à lapidação de esmeralda, mas sem facetas nos cantos. Às vezes é mais longa numa extremidade que na outra, tendo forma de trapézio (BRANCO, 2008, id. p. 51). Bambúrrio ou Bamburro — Grande descoberta do mineral procurado (BRANCO, 2008, id. p. 52). Baraúna – uma das mais duras e incorruptíveis madeiras de lei brasileiras, acastanhada, quase negra nos espécimes mais velhos. Também conhecida por braúna. Muito utilizada nas cercas das pastagens, em estacas e moirões e como carvão para o acionamento das forjas dos ferreiros que os garimpeiros utilizam no preparo de ferramentas. Berilo – Silicato de berílio e alumínio – (Be3Al2SiO3)6 , – hexagonal, prismático (curto ou longo) ou tabular, geralmente euédrico, formando cristais de até vários metros de comprimento. O maior que se conhece foi descoberto em Madagascar; tinha 379,48 t medindo 18 x 3,50 m. Tem cor variável (incolor, azul, rosa, amarelo, verde), traço branco, brilho vítreo, clivagem basal imperfeita, fratura conchoidal ou irregular e é transparente. Dureza 7,5-8,0... (BRANCO, 2008, id. p.61). Biaxial – Diz-se dos minerais birrefringentes que têm duas direções de refração simples (direções de monor-refringência), ou seja, que têm dois eixos óticos. Os minerais biaxiais têm três índices de refração principais e são ortorrômbicos, monoclínicos e triclínicos (BRANCO, 2008, id. p. 64). Bigorna – Bloco de ferro revestido de ações, de corpo central em forma de paralelepípedo e extremidade afilada em cone ou pirâmide que se apoia sobre um cepo e sobre o qual se forjam ou malham diferentes metais, a quente ou a frio, para moldá-lo, utilizado pelos garimpeiros. Bijuteria – Objeto de adorno pessoal, de custo relativamente baixo, imitando ou não gemas e metais nobres. Pode ser feita, por exemplo, com vidro, plástico, cobre e estanho (BRANCO, 2008, id. p. 64). Birrefringência – Capacidade que possuem os cristais (exceto os do sistema cúbico), de dividir um raio de luz em dois, cada qual com sua velocidade de propagação própria. Numericamente é a diferença entre os índices de refração máximo e mínimo de um mineral anisótropo. Sinônimo de dupla refração (BRANCO, 2008, id. p. 65). Brasilianita – Fosfato básico de sódio e alumínio – NaAl3(PO4)2(OH)4 – monoclínico prismático, em cristais amarelos, com duas clivagens boas, normalmente translúcidos , sem fluorescência e com fraco pleocroísmo... (BRANCO, 2008, id.p. 74). Brilhante – Estilo de lapidação adotado para várias gemas, criado no fim do século XVII e universalmente adotado para várias gemas, principalmente o diamante, daí ser o termo usado frequente e impropriamente como sinônimo de diamante. Partindo-se um cristal de diamante octaédrico, serra-se horizontalmente sua parte superior, removendo o equivalente a 27,8% da altura do cristal, obtendo-se assim uma faceta chamada mesa. Depois, serra-se na mesma direção a extremidade oposta, removendo o equivalente a 5,6% da altura do cristal e originando-se a mesa inferior. A coroa, parte superior do cristal assim serrado, recebe 33 facetas de 3, 4 e 8 lados (mesa, estrela, bezel, quoin, cross, e skill). O pavilhão, parte inferior, recebe 25 facetas de 3, 5 e 8 lados (skill, quoin, cross, pavilhão e mesa inferior). A cintura ou rondiz, zona que separa a coroa do pavilhão, não costuma ser polida nos diamantes, ao contrário do que ocorre com as demais gemas. A lapidação brilhante é a que produz melhor efeito luminoso e é a mais usada de todas. Um desvio de 5% nas proporções ideais de um diamante lapidado em brilhante causa uma redução de 2% a 8% no seu valor; se o desvio for de 5% a 10%, o valor reduz em 9% a 15%. As proporções indicadas na figura existente no texto original variam um pouco conforme o autor. A ABNT recomenda 53%-62% para a largura da
213 mesa; 12,5%-16% para a altura da cintura; e 41%-46% para o pavilhão. O menor brilhante do mundo lapidado, AM Amsterdã (Holanda) pela empresa D. Drukker % Zn NV: tem 0,000. 102 ct e mede 0,22 mm (Guinesbook, 1995) (BRANCO, 2008, id. p.75). Brilho 1 — Quantidade de luz refletida pelas superfícies internas e externas de uma gema. Relação entre a quantidade de luz refletida e a quantidade de luz refratada. A intensidade do brilho deve ser avaliada com luz branca e olhando a gema de cima. Ela varia na razão direta do índice de refração do mineral. Em uma escala prática, o brilho pode ser classificado como segue: a) vítreo: brilho de minerais com índice de refração entre 1,300 e 1,900 como a fluorita, quartzo, espinélio, coríndon, granadas; b) adamantino: brilho de minerais com índice de refração entre 1,900 e 2,600, como o Zircão, cassiterita, esfalerita, diamante, rutilo: c) semimetálico: brilho de minerais transparentes e semitransparentes , com índice de refração entre 2,600 e 3,000, como almandina e cinábrio; d) metálico com índice de refração superior a 3,000, como a pirita, pirolusita, galena, bismuto. Como na grande maioria, os minerais transparentes ou translúcidos têm índices de refração entre 1,500 e 1,700, o brilho vítreo é o tipo mais comum de todos. 2. Modo como a luz é refletida por um mineral em função do seu tipo de superfície. Temos o brilho como o macarado (em minerais transparentes, com clivagem perfeita, como talco, gipsita, apofilita); sedoso (em minerais de estrutura fibrosa paralela, como o asbesto); graxo (em minerais sem superfície lisa, mas conchoidal ou irregular, como a nefelina), etc. Da mesma forma que a cor, o brilho de um mineral no estado bruto deve ser procurado em uma superfície de fratura recente, pois o contato com o ar pode alterá-lo... (BRANCO, 2008, id. p.76). Brilho não metálico — Alguns termos usados para descrever o brilho são: Vítreo – semelhante ao dos vidros. Ex.: o quartzo, o topázio, o berílio. Resinoso – semelhante ao breu, do enxofre nativo. Perláceo ou Macarado – semelhante ao da madrepérola, como da gipsita, da superfície de clivagem dos feldspatos e de algumas amostras de calcita. Sedoso – típico dos minerais fibrosos, crisolito, variedade da serpentina, conhecida por asbesto ou amianto, cujas fibras lembram perfeitamente o aspecto de fios de seda. Adamantino – Característico do diamante, rutilo, esfalerita. Não é fácil definir esse tipo de brilho e para quem não tem prática, um brilho vítreo cintilante poderá ser confundido com o brilho adamantino. Ceroso – é o que lembra o aspecto de um pedaço de cera, como por exemplo, o brilho da calcedônia. Briolete – São talhes de lapidação de gemas tipo gotas alongados ou peras multifacetadas para uso em pingentes e brincos. Cabochão ou cabuchão – tipo de lapidação que produz tanto superfícies convexas como côncavas; cabucho. Calcita – Carbonato de cálcio CaCO3 —, trigonal, trimorfo da aragonita e da valerita. Forma série isomórfica completa com a rodocrosita. Cristaliza numa grande variedade de formas (mais de 300),formando também estalactites... (BRANCO, 2008, id. p.84). Mineral de baixa dureza (3,0 na escala Mohs). Pode ser encontrada nas cores vermelha rósea, alaranjada, branca e branco-amarela. Canudo – Nome de localidade situada a sudoeste de Várzea Alegre, cujas – córrego que também tem esse nome. Presume-se que ali existam depósitos de cristais de quartzo e de água-marinha ainda não descobertas. Canudo ou tubo na linguagem popular do garimpo podem significar também cristal de mineral diáfano como tubo de água-marinha, de turmalina, etc. Carbeto de cálcio ou Carbureto de cálcio – Antigamente a iluminação nas galerias subterrâneas era feita por meio de lampiões que realizavam a queima do carbeto de cálcio. Hoje, em muitos casos, já é possível fazer-se a iluminação com o uso da energia elétrica, porém ainda não é
214 descartado o uso dos lampiões a carbureto42 para aqueles locais em que a eletricidade ainda não chegou. Caulinita ou Caulim – Silicato básico de alumínio Al2Si2O5(OH)4 —, monoclínico, do grupo caulinita-serpentina. Branco a cinzento ou amarelo, opaco, com clivagem micácea. Tem odor de terra. Polimorfo da dickita, da halloysita e da nacrita. Principal constituinte do caulim. Usado em cerâmica, como impermeabilizante e na fabricação de papel, tintas, lápis e refratários. De caulim, corruptela do chinês Kao-Ling (colina alta) nome dado a uma colina peto de Jau Chu Fa (China), onde foi descoberto. Sinônimo de dilinita, severita O grupo caulinita-serpentina compreende 20 silicatos de cinco sistemas cristalinos (BRANCO, 2008, id. p.95). Cata ou Catra – 1. Extração de substâncias minerais úteis na zona decomposta das jazidas, sem emprego de explosivos. 2. Local onde o garimpeiro desenvolve essa atividade. (BRANCO, 2008, id. p. 94). Também é entendido como cavidade feita em terrenos planos no formato quadrado ou retangular que os garimpeiros fazem para a prospecção de minérios em depósitos aluviais. (Supõe-se que a palavra tenha origem na língua francesa, no vocábulo “catre”, que é igual a quatro, daí, formando a palavra popularizada nos garimpos “catra”). Não existe nos dicionários da língua portuguesa, figurando apenas “cata”. Classificação química dos minerais — A composição dos minerais é de importância fundamental, pois suas propriedades químicas e demais propriedades são, em grande parte, funções dela. Todavia essas propriedades dependem não somente da composição química, mas da geometria (ou arranjo atômico) e da natureza das forças elétricas que agrupam os átomos. Charnockitóides* — São rochas megaporfiríticas, de cor verde escura (quartzo dioritos e quartzo monzodioritos). Clivada – Fragmentada (corpo mineral) segundo os seus planos da clivagem. Separação por categorias, tipos, planos, níveis. Clivagem – Propriedade inerente cristais minerais de se fragmentar conforme certos planos ou faces possíveis. A clivagem reflete planos de fraqueza na estrutura e, por conseguinte, é geralmente perpendicular às direções nas quais as ligações iônicas são de baixa resistência. Todas as amostras de uma determinada espécie mineral possuem a mesma clivagem, porque todos eles apresentam o mesmo arranjo interno comum dos átomos e, portanto, as mesmas direções de fraqueza. Citrino – Variedade gemológica de quartzo de cor amarelada, alaranjada, raramente vermelha, devido à presença de ferro trivalente. É uma gema transparente, semelhante ao topázio, mas de baixo valor. Dureza 7,0... (BRANCO, 2008.id. p.206. Cobre – Elemento químico de número atômico 29 (símbolo cu). Um dos primeiros metais conhecidos pelo homem é usado em fios condutores de eletricidade, em ligas como latão com zinco, bronze com estanho, etc. Cola Jegue – Argila úmida que tem propriedade colante. Quando encontrada nos garimpos em depósitos de aluvião localizados nas baixadas, garimpeiros lhe dão esta denominação. Coluvião – Solo de vertentes, parcialmente alóctone de muito pequeno transporte, misturado com solos e fragmentos de rochas trazidos das zonas mais altas, geralmente mal classificado e mal selecionado. Conchoidal – Tipo de fratura em que as superfícies resultantes da separação dos fragmentos se parecem com a das conchas. Têm fratura tipicamente conchoidal minerais-gema com quartzo, obsidianas e opala, entre outros (BRANCO, 2008, id. p.113). 42 Carbureto de cálcio é o nome popularizado na linguagem dos garimpeiros, o correto é Carbeto de cálcio.
215 Compulsão – Ato de compelir. Tendência à repetição Cor — Fenômeno de percepção luminosa ou visual que permite diferenciar objetos que, de outro modo, seriam idênticos (Webster´s, 1971). É uma propriedade de grande importância no estudo e identificação das gemas, sendo essencial na caracterização de algumas. Nos mineraisgema, pode ter muitas origens. Muitas vezes, deve-se à presença de pequena quantidade de um elemento químico como impureza (ex.: rubi, safira, ametista, citrino, água-marinha e esmeralda) ou a inclusões de outro mineral (ex.: água, jaspe, aventurino). Os elementos químicos que dão cor são principalmente os de números atômicos 22 a 29, ou seja, titânio, vanádio, cromo, manganês, ferro, cobalto, níquel e cobre.Um mesmo metal pode gerar cores diferentes, dependendo dos átomos que o circundam. Assim, o cromo dá cor vermelha ao rubi, mas verde à esmeralda. Às vezes, a cor reflete a composição química fundamental do mineral, como no caso das granadas, ou defeitos em sua estrutura cristalina. A cor dos minerais metálicos é menos sensível a mudanças que a dos não-metálicos. Na forma de pó, certos minerais, como a hematita, tem cor bastante diferente daquela vista em fragmentos maiores. A ação dos agentes atmosféricos frequentemente altera a cor de um mineral (v. tarnish), razão por que ela deve ser analisada num superfície de fratura recente. O colorido de uma gema pode ser obtido ou melhorado artificialmente. Na maioria desses casos, porém, a cor obtida acaba enfraquecendo com o tempo. Confronte com alocromático idiocromático (BRANCO, 2008, id. p. 115). Cores dos minerais metálicos — Vermelho: cobre nativo. Amarelo: ouro, pirita, calcopirita. Branco Argênteo: prata nativa. Branco Acinzentado: galena, arsenopirita. Preto Acinzentado: cassiterita, hematita, esfalerita. Cores dos minerais não metálicos — Preto: augita, biotita, anfibólio, piroxênio.Azul: lazulita. Azul da Prússia: cianita. Verde-Esmeralda: esmeralda. Amarelo-Citrino: enxofre. Amarelo: topázio. Vermelho-Escarlate: cinábrio. Vermelho-Acastanhado: limonita. CastanhoAvermelhado: zircão. Crisoberilo – Óxido de berílio e alumínio – BeAl2O4 – ortorrômbico comumente com maclas em roda, dando simetria pseudo-hexagonal. Geralmente tabular ou prismático curto, podendo se granular. Veerde-amarelado ou marrom, traço branco estriado, de brilho graxo, friável, com duas clivagens boas, formando ângulos de 60º. Dureza 8.5... (BRANCO, 2008, id. p. 121). Crisólita43 – gema cor de ouro. Crisoberilo. Cristal hialino - Variedade de quartzo, vítrea e incolor, abundante no Brasil. O mesmo que quartzo. Cristal — 1. Corpo caracterizado por uma estrutura interna regular (estrutura cristalina), em virtude da qual pode exibir externamente faces planas. 2. Vidro de qualidade superior, rico em chumbo, usado em copos, taças, vasos, lustres e outros inúmeros objetos com o cristal Swarovski e o cristal da Boêmia. 3. Cristal de rocha – variedade de quartzo incolor em cristais de tamanho muito variável, podendo atingir mais de =1 m de comprimento, isolados ou em geodos e drusas, atingindo estas, às vezes, centenas de quilogramas, com milhares de cristais. Frequentemente maclado, transparente a translúcido, com brilho vítreo e fratura conchoidal. Não tem clivagem nem pleocroísmo e geralmente também não mostra fluorescência. Dureza 7,0... (BRANCO, 2008, id. p.123).
Cristalização – Ato ou efeito de cristalizar (-se). Aparecimento de cristais em uma solução saturada por resfriamento ou evaporação do solvente. Curiango ou bacurau – Pessoa que tem o hábito de só sair à noite. Ônibus que circula entre uma e seis horas da manhã; sereno. Na linguagem dos garimpeiros, este vocábulo tem outros 43 Crisólita é denominação popular errônea dada pelos garimpeiros para indicar o cristal de crisoberilo.
216 sentidos: pode ser um cristal furtado ou um bloco de barro de argila jogado para fora da escavação numa área pantanosa. Curiosidades das gemas — A ação terapêutica de algumas gemas. Os meses e as gemas. Os signos e as gemas. Profissões e suas gemas. Os planetas e as gemas. Aniversários de casamento e seus símbolos. As gemas e os anjos entre outras. Desmonte – Garimpo. Camada de terra, argila ou areia que recobre o cascalho diamantífero e é removido no debreio (BRANCO, 2008, id. p.133). Descharnockitização* — Estruturas (dobras de arrasto, lineações de estiramento mineral, pares S/C e milonitos) que confirmam o modelo proposto a cerca da ocorrência de falhas de empurrão gerando um sistema de cavalgamento que exumou as rochas de alto grau metamórfico. Diafaneidade – Propriedade que têm alguns minerais de deixar passar a luz. Os minerais podem ser transparentes (topázio, diamante, água-marinha etc.), translúcidos (quartzo rosa, olho da lua, ágata, etc.) ou opacos (pirita, hematita). A rigor não há corpo 100% transparente, da mesma forma que não há corpo 100% opaco (BRANCO, 2008, id. p. 133). Diáfano – Que permite a passagem da luz por um sólido. Diamante – Carbono – C – cristalizado no sistema cúbico, polimorfo, da chaoíta, grafita e lonsdaleíta (esta encontrada em meteoritos). Forma decaedros, octaedros rombodecaedros, às vezes cubos ou outras formas, podendo mostrar arestas e faces encurvadas. Transparente, quase sempre incolor ou com cor clara. Segundo Chaves e Chambel (2003),99,9% são incolores ou levemente amarelados. Tem tanto mais valor quanto menos colorido for, exceto quando sua cor é bem definida. (v. fantasia). Pode ser amarelo, castanho, cinza, preto, leitoso, às vezes azul ou verde e raríssimas vezes vermelho. Os tons amarelados devem-se à inclusões de nitrogênio. A cor verde costuma ser clara e distribui-se apenas Na superfície da gema, o que requer cuidados especiais na lapidação (Del Rey, 2002). No quadro I (p. 147), as cores mais comuns são as de G a K. Tem brilho adamantino,clivagem octaédrica perfeita e fratura conchoidal. É a substância mais dura que se conhece, com dureza 10 na escala de Mohs, sendo 150 vezes mais duro que o coríndon, que tem dureza 9,0. Por essa razão, para lapidá-lo, só se pode usar o próprio diamante. Embora muito duro, é frágil, sendo fácil de quebrar. Aquecido a 900-1.000ºC, em presença de oxigênio o diamante e a grafita volatilizam como CO2. Em ausência de oxigênio, fundem,mas apenas a 1.500ºC (diamante) e 160ºC (grafita)... (BRANCO, 2008, id. p.134). Mineral composto de carbono puro cristalizado, o mais duro e brilhante dos minerais. Dispersão – Decomposição da luz branca em suas diversas componentes.É expressa, numericamente, pelo índice de dispersão, que corresponde à diferença entre os índices de refração das radiações vermelha (linha B) e azul (linha C), sendo medido pelo espectrômetro. A dispersão, no caso das gemas, é popularmente denominada de fogo. Uma gema com forte dispersão (ou muito fogo) é, por exemplo, o diamante (dispersão 0,044) (BRANCO, 2008, id. p. 142). Diorítica* — Rocha de textura granular constituída essencialmente de oligoclásio ou andesita e de um mineral fêmico, de ordinário a hornblenda. Diorito* — Rocha ígnea plutônica saturada (quartzo ausente ou subordinado) com componentes essenciais plagioclásio Na-Ca (oligoclásio a andesina), K feldspato subordinado e minerais ferromagnesianos piroxênio/hornblenda e biotita. O termo vulcânico correspondente é o andesito. Dique* — Corpo ígneo intrusivo tabular geralmente de rocha ígnea que corta as estruturas planares das rochas encaixantes onde se aloja, no que se distingue de um sill. Corpo ígneo
217 tabular semelhante a um dique do qual se distingue por ser intrusivo paralelamente a estrutura planar (estratificação, xistosidade, clivagem ardosiana..) da rocha encaixante. Divisas – Letras, cheques, ordens de pagamento, etc., convertíveis em moedas estrangeiras, ou as próprias moedas usados por governos e por entidades privadas nas transações comerciais (exportação de minerais por meio do contrabando consiste em evasão de divisas). — Agregado cristalino em que os cristais cresceram de modo de modo Drusa aproximadamente paralelo, recobrindo uma superfície mais ou menos plana, como uma fenda em uma rocha. No comércio chama-se assim também o pedaço de geodo com base mais ou menos plana (BRANCO id. p.144). Dúctil – quando pode ser estirado para formar fios. Exemplo: cobre. Dureza — É a resistência oferecida por um mineral à abrasão ou ao risco. Essa propriedade ajuda no reconhecimento rápido dos minerais. Todo mineral tem uma dureza ou variação de dureza que, em última análise, depende da resistência suas ligações químicas. Alguns minerais apresentam resistência diferente em faces diferentes ou segundo direções diferentes em uma mesma fácies, indicando que a dureza é uma propriedade vetorial. Por exemplo, na cianita a dureza é igual a 5 paralela ao comprimento, mas é 7 perpendicular ao comprimento do cristal. Os graus diferentes de dureza podem ser determinados riscando-se um mineral com o outro. Esta operação, relativamente simples, quebra as ligações e desorganiza o arranjo atômico do mineral mais mole. Elástico – quando cessada a pressão original o mineral retorna a sua posição original. Exemplo: talco. Elbaíta – É um mineral da classe dos silicatos e que forma parte da serie isomorfa da turmalina cuja fórmula química é Na(Li,Al)3Al6(BO3)3Si6O18(OH,F)4 (contém 32-38% de SiO2, 20-40% de Al2O3 e 20% de H2O). É resistente à ação dos ácidos. Elementos: metais e não metais — Sulfetos: metais + S , Se, Te - Sulfossais: Pb, Cu, Ag + S, Sb, As, Bi - Óxidos: metal + O2 - Hidróxidos: óxidos + H2O ou OH- Carbonatos: CO3 -Nitratos: NO3 Boratos: BO3 - Fosfatos: PO4 - Sulfatos: SO4 - Tungstatos: WO4- Silicatos: SiO4 => Perfazem mais de 95% dos minerais da crosta terrestre. Eluvião* — Depósito residual de qualquer natureza, com muito pouco ou nenhum transporte, distinguindo-se de solo autóctone pela saída significativa de parte do solo. Muitas vezes o eluvião é constituído por fragmentos de minerais e rochas mais resistentes ao intemperismo e deixados in situ, enquanto que material mais fino síltico-argiloso, principalmente, é erodido. Depósitos residuais dos tipos lateríticos e bauxíticos tambem são eluvionares. Emburrado – Zona de cascalho onde são frequentes peças de grandes dimensões (grande rocha de cristal). Enderbito* — Rocha do grupo dos charnockitos, rica em plagioclásio, apresentando composição de hiperstênio tonalito. Termo derivado do local tipo Enderby Land, Antártica com a composição: quartzo 42%, plagioclásio (antipertitas) 53%, hiperstênio 3,0%, magnetita. Escapolita – Designação comum aos membros de uma série isomórfica formada por alumiossilicatos de cálcio e sódio, que tem como membros finais a escapolita e a meionita.São tetragonais, geralmente prismáticos , brancos ou cinza, ou, nas variedades gemológicas, amarelos, vermelho-claros, incolores, esverdeados a cinza-azulados e cinza-arrocheados. Translúcidos, raramente transparentes, de brilho vítreo, com duas clivagens perfeitas a 90º, fratura subconchoidal. Dureza 5,5-6,0. Densidade 2,50-2,70. Muitas vezes fluorescentes geralmente em amarelo claro. Quando semitransparentes, podem ter chatoyance,
218 principalmente as variações de cor esbranquiçada e vermelho-clara. Índices de refração 1,5501,572. Birrefringência 0,006. Uniaxial negativo. Dispersão 0,017. São minerais típicos de metamorfismo sobre rochas cálcicas, presentes também em rochas ígneas. Pouco usadas como gema, preferindo-se para tal fim as escapolitas transparentes e de cores mais vivas. São produzidas principalmente em Madagascar, mas há também na Rússia, Canadá, Tanzânia, Mianmar (ex-Birmânia) e Brasil (Espírito Santo e Bahia). A ação de radiações pode transformar uma escapolita amarela em púrpura. Do grego skapos (haste) + lithos (pedra), por seu hábito prismático. Sinônimo de wermerita (BRANCO, 2008, id. p. 159). Erosão – Trabalho mecânico de desgaste realizado pelas águas correntes, e que também pode ser feito pelo vento (erosão eólica), pelo movimento das geleiras e, ainda, pelos mares. Escória – Na linguagem do garimpo significa resíduo com muito pouco ou nenhum valor comercial. Resíduos ainda não formados. Esmeralda – 1. Variedade gemológica de berilo de cor verde, em tom médio a escuro, devido à presença, principalmente, de cromo. Segundo o GIA, a esmeralda deve ter pelo menos 0,1% de Cr2O3, do contrário será simplesmente berilo verde. Este brilho vítreo e é o caso de certos berilos brasileiros cuja cor verde se deve ao vanádio (vanadioesmerladas). Hexagonal prismática, sem maclas. Translúcida a transparente, de brilho vítreo. Dureza 7,5-8,0. Densidade 2,70. Com a substituição do alumínio por cromo ou Ferro a estrutura cristalina do berilo enfraquece, o que explica as abundantes fraturas características da esmeralda. Tem pleocroísmo nítido em verde-amarelado e verde azulado, Índices de refração 1,577-1,583. Birrefringência. 0,004. Uniaxial negativa. Dispersão 0,015. É usualmente encontrada em micaxistos e pegmatitos. Apresenta frequentemente inclusões de mica, pirita (carvão) tremolita, cloreto de sódio, calcita ou, ainda, água ou gás carbônico retidos em delgados canais e... (BRANCO, 2008, id. p. 161). Espectro de absorção – Padrão de linhas escuras que se vê quando se examina, com o espectroscópio, a luz branca que atravessou uma gema ou foi por ela refletida. Especularita – Variedade de hematita com intenso brilho metálico. É a variedade mais usada como gema, sendo encontrada no Brasil, em Minas Gerais. Do latim speculum (espelho) (BRANCO, 2008, id. p. 165). Espectrografia – Aplicação da fotografia ao registro dos espectros luminosos, especialmente de emissão. Euédrico — Diz-se do cristal natural completo, que exibe todas as faces. Do grego eu (bom) + hedra (face). Sinônimo de idiomórfico, automórfico. Confronte com anédrico, subédrico. Face cristalina — Em um cristal, superfície externa, natural, geralmente plana, algumas vezes curva (apofilita, turmalina, etc.) Confronte faceta (BRANCO, 2008, id. p.173). Fácies* — Termo geral para indicar o aspecto (a "face") da rocha e, assim, caracterizar um tipo ou grupo de rochas em estudo. Ver abaixo parte dos usos para fácies: a) Caracterização de um tipo de rocha ou de uma associação de rochas (litotipo), considerado qualquer aspecto genético, composicional, químico ou mineralógico, morfológico, estrutural ou textural distintivo para fins de referência em um estudo geológico. b) Fácies também é usado para dar conotação ao tipo de ambiente onde se forma, se formou ou se transformou a rocha; exemplos: fácies pelágico; fácies vulcânico; fácies metamórfico; fácies lacustrino. c) Outros usos: vários fácies metamórficos (xisto verde, anfibolito, granulito, etc..) para caracterizar o metamorfismo; vários fácies sedimentares (fluvial, lacustrino, marinho, etc..) para caracterizar o ambiente de sedimentação; biofácies - indica aspecto biológico/fossilífero
219 característico de um sedimento podendo, de acordo com o caso, marcar um nível cronoestratigráfico bem definido ou não, um ambiente característico de deposição (mesmo litofácies). Feldspato – Grupo de 16 silicatos de forma geral AB4O8, onde A + Ca, Na, K, Ba, NH4 ou Sr, ou B + Al, B ou Si. São minerais ortorrômbicos, monoclínicos ou triclínicos, muito semelhantes, morfologicamente, entre si. Compreendem dois subgrupos; plagioclásios feldspatos alcalinos. São quase todos brancos ou claros, com duas boas clivagens subortogonais. Dureza 6,0-6,5. Densidade 2,50-2,70. Índice de refração relativamente baixo: 1,518-1,539. Birrefringência 0,010. Biaxial positivo e biaxial negativo. Os feldspatos são muito comuns, ocorrendo em todos os tipos de rocha, principalmente nas ígneas, constituindo 60% da crosta terrestre. Compreendem diversas variedades gemológicas, como amazonita, olho da lua, olho do sol etc., que são lapidadas em cabuchão. São importantes também na fabricação de porcelanas, esmaltes, cerâmicas, vidros, polidores, sabão, prótese dentária, construção civil e sinalização de estradas. São produzidas principalmente no Sri Lanka , Canadá, Rússia, Suíça, Mianmar (exBirmânia), México, Brasil, EUA e Madagascar. Das variedades gemológicas, o Brasil produz apenas a amazonita... (BRANCO, 2088, id. p. 176). Feldspatos* — feldspato Mineral: constitui uma família de minerais alumossilicatos de potássio (k-feldspatos como ortoclásio, sanidina), sódio e cálcio (grupo dos plagioclásios), principalmente. Os feldspatos, junto com o quartzo são os constituintes mais comuns das rochas graníticas e granitóides que constituem grande parte das crostas continentais. Ferro – Elemento químico, metálico, branco-acinzentado, de número atômico 26, muito importante por seu largo emprego industrial, isolado ou em ligas. Símbolo: Fe. Filão – Intrusão de rochas eruptivas em fendas (depósitos primários de cristais e metais preciosos). Fluorescência – Luminescência de cor variável emitida por certas substâncias enquanto estão sob efeito de uma radiação invisível. Quando uma radiação com comprimento de ondas menor que o da luz visível (sendo, portanto, invisível ), como os raios X ou a luz Ultravioleta, incide sobre certas substâncias, estas a transformam em radiação visível, com uma cor que é, muitas vezes, típica daquelas substâncias. São fluorescentes, por exemplo, substâncias gemológicas como diamante, zircão, fluorita (daí o nome fluorescência),wilemita, rubi sintético, safira amarela e calcita. Para observar a fluorescência dos minerais, costuma-se empregar luz UV DE 2.500 A ou de 3.500 A. A fluorescência é particularmente útil, em Gemologia, na identificação do rubi sintético e cristais duplos ou triplos. Conforme fosforescência (BRANCO, 2008, id. p.187). Fluorita – Tem a seguinte composição química CaF2 Fluoreto de cálcio. , cúbica, cristalizado em cubos, mais raramente octaedros e dodecaedros, frequentemente em maclas de interpenetração, cor muito variável. Transparente a translúcida, de brilho vítreo, traço branco, com clivagem octaédrica perfeita. Dureza 4,0. Frágil. Densidade 3,18. Termoluminescente e intensamente fluorescente com a cor azul-violeta. Índice de refração muito baixo: 1,434. Dispersão 0,007. Ocorre em veios hidrotermais, geralmente com minério de chumbo, zinco e estanho. Pode ser sintetizada. Uso. É usada como gema, mas raramente, em razão da sua baixa dureza e índice de refração. É aproveitada muito mais em objetos ornamentais em razão de suas cores variadas. Seu principal uso é como fundente na indúsria siderúrgica, servindo ainda para fabricar vidros opalescentes, esmaltes, ácido fluorídrico, instrumentos óticos, e em cerâmica e para obtenção de flúor e ítrio. CURIOSIDADES: o maior cristal de fluorita conhecido foi descoberto nos EUA; media 2,13 m e tinha 16,090 toneladas. PRINCIPAIS PRODUTORES. A
220 fluorita é produzida principalmente na Grã-Bretanha; outros produtores são os EUA, Suíça, Alemanha e Namíbia. No Brasil, é produzida quase só em Santa Catarina. A fluorita lapidada que se encontra atualmente no mercado brasileiro provém do rio Negro (Argentina). TRATAMENTO. Por aquecimento ou prolongada exposição ao sol a fluorita perde sua cor, readquirindo-a quando exposta à ação de radiações como os raios X. Na lapidação, a temperatura da gema não pode passar de 45ºC, sob pena de perder a cor. VALOR COMERCIAL. A fluorita gemológica roxa de 1 ct a 10 ct vale entre US$ 5 e US$ 25/ct. As variedades policrômicas são bem mais baratas: US$ 0,20 a US$ 2/ct para peças de 5 ct a 100 ct. ETIMOLOGIA. Do latim fluere (fluir), porque funde facilmente e é usada com fundente. Sinônimo (pouco usado). Pirosmaragda ( BRANCO, 2008, id. p. 187). Foliação metamórfica* — Termo genérico para estrutura metamórfica resultante de esforços compressionais, originando planos paralelos ("folhas") de diversos tipos. Exemplos de foliação metamórfica: clivagem ardosiana; xistosidade; clivagem de crenulação; bandas de segregação metamórfica; orientação preferencial de componentes originais da rocha, como oólitos, pellets, concreções, bombas e outros fragmentos vulcânicos, seixos.., comprimidos e achatados paralelamente; variações composicionais e/ou granulométricas em bandas paralelas originadas ou modificadas por processos de cataclase e deformação metamórfica. Toda a foliação metamórfica é constituída em planos que são, entretanto, muitas vezes, dobrados, transpostos e amarrotados por eventos de deformações superimpostas àquela que originou a foliação. Forja – Oficina de ferreiro. Conjunto integrado por fornalha, fole e bigorna, e usado pelos ferreiros e outros artífices que trabalham em metal. (No garimpo, equipamento para preparar as ferramentas de trabalho). Forma cristalina — É o ramo da mineralogia que estuda os cristais. A forma do cristal é um Ito importante na identificação do mineral. Ela reflete a estrutura e a disposição de átomos dos minerais. Algumas vezes o cristal é tão simétrico e perfeito em suas faces que se coloca em dúvida a sua origem natural. As superfícies plantares que limitam um cristal são chamadas faces do cristal e o arranjo geométrico das faces dos cristais é chamado forma do cristal. As duas características fundamentais de um mineral que juntas o distinguem de outros minerais são a composição química e a sua estrutura cristalina. Fratura – Superfície obtida pela fragmentação de um mineral, segundo uma direção que não corresponde à de clivagem ou partição. É a maneira pela qual quando o mineral se rompe ao longo de uma superfície que não é plano de clivagem ou um possível plano cristalográfico. Numa fratura, as ligações químicas são rompidas de um modo irregular não relacionado com a simetria da estrutura interna do mineral. Ela é denominada conchoidal quando as superfícies são lisas e curvas, semelhante à superfície interna de uma concha. O quartzo e o vidro exibem fraturas desse tipo. Frenesi - Delírio, desvario, tresvario. Entusiasmo delirante; excitação, arrebatamento. Frinchar – É uma palavra que só existe no ambiente do garimpo. Quando os garimpeiros revolvem os cascalhos dizem que estão “frinchando”. O vocábulo deve ter origem ligada à frincha — fratura na rocha —, que pode estender-se por vários quilômetros, ao longo dos quais os garimpeiros retiram os cascalhos em busca de diamante. Fumé – Diz-se de cor tirante a cinza-escuro ou marrom-escuro. Cristal fumé é sinônimo de cristal enfumaçado ou morion. Gabros* — Rocha ígnea plutônica, granulação grossa a média, que tem no basalto o seu equivalente efusivo quimicamente igual ou análogo. Consiste essencialmente de plagioclásio
221 rico em cálcio (andesina a anortita) e piroxênio, aos quais podem se associar outros minerais, como olivina, e acessórios como magnetita ou ilmenita. Garimpeiro - Profissional geralmente liberal que exerce a profissão nas minas de minerais. Garimpo – Lugar onde se exploram minerais preciosos, como diamante e ouro. Mina de minerais preciosos. Atividade, prática ou ofício de garimpeiro. Povoado formado e habitado por garimpeiros. Garimpos de chapada – São ocorrências de exploração de jazidas em áreas de terras de dimensões consideráveis, situadas a certa altitude, cujo topo é relativamente plano e cujos flancos podem ter diferentes inclinações; altiplano e planalto. Gasômetro – Reservatório de gás a ser distribuído, sob pressão constante, para iluminação ou combustão. Nome dado pelos garimpeiros a uma lanterna que utiliza como combustível carbureto de cálcio (ou carbeto de), quando queimado, produz iluminação para trabalhos em galerias (túneis). Geminado – Quando um ou mais cristais da mesma espécie mineral se unem segundo uma simetria perfeita. Macla. Gemas – Minerais trabalhados pelo processo de lapidação. Gemas sintéticas - Cristais usados na confecção de jóias ou de semijóias produzidos artificialmente. A maioria é constituída por minerais, mas há as de origem, simulacros de algo natural ou real. Gemologia – Ramo da geologia que se dedica às gemas e minerais preciosos. Geodo – Espaço vazio nas rochas cuja parede interna é coberta de cristal ou matéria mineral. Geologia – Ciência que estuda a origem, a constituição e as sucessivas transformações da Terra. Compêndio dessa ciência. Gnaisse* — Rocha metamórfica essencialmente quartzo-feldspática, granulação frequentemente média a grossa; a estrutura é muito variável desde maciça, granitoide, com foliação dada pelo achatamento dos grãos até bandada, com bandas, geralmente milimétricas a centimétricas, quartzo-feldspáticas alternadas com bandas mais máficas, derivada de processos de segregação metamórfica que culminam em rochas migmatíticas. Granada – Designação comum aos membros do grupo de 15 silicatos cúbicos de fórmula geral A3B2(SiO4)3, onde A = Ca, Mg, Fe ou Mn, e B = Al, Fe.Mn, ;Cr, Si, Ti V ou Zr. O Si é parcialmente substituído por Al ou Fe. As granadas são cúbicas e cristalizam geralmente em duodecaedros de cor variável (verde, vermelha, amarela, marrom, preta), às vezes com zoneamento, sendo raramente incolores e nunca azuis... (BRANCO, 2008. Id. p. 208). Granulito* — Rocha de alto grau metamórfico cuja designação é a mesma da fácies metamórfica regional de alta temperatura, elevado grau geotérmico (T/P) e condições anidras (Pcarga>>PH2O) que levam a rocha a ter paragênese metamórfica tipicamente anidra. A classificação da rocha exige a sua caracterização composicional (Ex.: granulito ácido; granulito diorítico, granulito ultramáfico...). Existem muitos termos para designar fácies específicas tais como: leptinito, charnockito, enderbito. São rochas granoblásticas, maciças a foliadas, granulação variável de muito fina (leptinitos, por exemplo) até muito grossa (alguns charnockitos, por exemplo). Grânulo* — Fragmento de mineral ou de rocha, menor do que seixo e maior do que areia grossa, e que na escala de Wentworth, de uso principal em sedimentologia, corresponde a diâmetro maior do que 2 mm e menor do que 4 mm. Hábito – Aparência externa de um mineral, compreendendo a forma cristalina (ou combinação de formas) e as irregularidades típicas da espécie ou variedade. Pode ser tabular, colunar,
222 granular, octaédrico. Asbestiforme, acicular, prismático estriado etc. (BRANCO p. 215). Os numerosos termos utilizados pelos mineralogistas para descrever hábito cristalino, são muito úteis na comunicação relativa à aparência de um determinado mineral. Hematita – Óxido de ferro – α-Fe2O3 –, trigonal, dimorfo da magemita. Forma cristais, massas reniformes ou agregados fibrosos, com maclas polissintéticas, cor cinzenta ou preta, podendo mostrar iridescência. Opaco com traço vermelho, sem clivagem, brilho metálico (às vezes intenso). Dureza 5,5-6,5... (BRANCO, 2008, id. p. 220). Minério composto, sobretudo de óxido natural de ferro, de ampla utilização na produção de gusa. Hexagonal – Sistema cristalino caracterizado por três eixos cristalográficos horizontais formando ângulos de 120º, todos com o mesmo, e um eixo vertical, perpendicular aos demais, diferentes deles no comprimento e com simetria senária. O sistema trigonal é, para alguns autores, uma classe cristalina do sistema hexagonal. 2. Diz-se dos minerais pertencentes ao sistema hexagonal, como apatita, berilo, etc., e dos seus cristais (BRANCO, 2008, id. p. 224). Hialino – Que se refere ao vidro, semelhante ao vidro; transparente, translúcido, claro. Inclusão – Nome dado a qualquer corpo estranho ou defeito estrutural presente numa gema e visível a olho nu ou com lupa que aumente dez vezes. As inclusões minerais são importantes auxiliares na identificação de gemas juntamente com as demais imperfeições frequentemente encontradas, como fraturas, marcas de crescimento, figuras de corrosão etc. Em relação à época de formação do mineral hospedeiro, as inclusões podem ser preexistentes singenéticas (ou contemporâneas) ou epigenéticas (formadas após o mineral que as contêm). As inclusões preexistentes são sempre sólidas; as demais, podem ser sólidas, líquidas ou gasosas. Conforme o estado físico das inclusões, elas podem ser monofásicas, bifásicas, trifásicas, etc. As inclusões muitas vezes recebem, em decorrência de sua forma, tamanho, número de distribuição, denominações como seda, nuvem, areia, poeira, gota, pena, jardim, cordão, véu, névoa, chuva, ponto, carvão, etc. (BRANCO, 2008, id. p.237). Irisdescência – Presença de cores semelhantes às do arco-íris causada pela interferência de luz em finas películas de gás ou líquido, em camadas de diferentes índices de refração, em fraturas e clivagens ou, ainda, em revestimentos superficiais delgados. Sinônimo de Irisação. (BRANCO, 2008, id. p. 240). Isométrico – Sinônimo de cúbico. Jazida – Qualquer produto mineral ou fóssil com valor econômico encontrado no solo ou subsolo. Kimberlito – Peridoto alcalino rico em cristais bem desenvolvidos de olivina (geralmente serpentinizados e carbonatizados) e flogopita, às vezes com geikelita e piropo cromífero, distribuídos em uma matriz fina de calcita com olivina e flogopita. Pode conter ainda, como minerais acessórios, ilmenita, serpentina, clorita, magnetita, perovskita e diamante. Geralmente se mostra brechado. Forma diques e sills ou chaminés em forma de cenoura, normalmente em zonas de rocha muito antigas (crátons). É a principal fonte de diamantes, embora maioria dos kimberlitos seja estéril. No Brasil os primeiros kimberlitos foram descobertos no fim da década de 1960 e conhecem-se hoje cerca de 300 chaminés dessa rocha, todas estéreis ou pelo menos antieconômicas. O teor mínimo de diamante economicamente aproveitável, tanto em kimberlitos quanto em sedimentos, é em torno de 25 pontos por tonelada, ou seja, 1 ct para quatro toneladas (ou 50 mg/t). Dos diamantes encontrados nessa rocha, até 70% são cristais quebrados. Nome derivado de Kimberley, cidade da África do Sul. (BRANCO, 2008, id. p.276).
223 Lapidador – Profissional que faz talhes em cristais, tornando-os gemas próprias para a inclusão em joias ou esculturas em minerais, tornando-os objetos de ornamentação. Lapidação e suas etapas — Classificação da gema no estado bruto - Formação no rebolo – Encanetamento - Corte ou facetamento - Polimento das facetas Lavra – Exploração econômica de uma jazida. Local de onde se extrai metal ou minerais-gema; terreno de mineração. Litoterapia – Litoterapia ou Terapia com Cristais é uma técnica que tem por objetivo harmonizar os campos energéticos de seres vivos, sejam eles, seres humanos, plantas ou animais. Utilização de meios cabalísticos e gemas mágicas no tratamento de doenças. Maciço rochoso – Conjunto de montanhas grupadas em volta de um ponto culminante. Geol. Formação eruptiva de grandes dimensões. Macla – União natural de dois ou mais cristais de um mesmo mineral, obedecendo a determinadas leis de simetria. Pode ser de justaposição (ex.: feldspato) ou macla de penetração (ex.: pirita, estaurolita, fluorita) A união de três ou mais cristais, pode ser macla cíclica ou macla polissintética. Alguns minerais comunmente ocorrem maclados (ex.: estaurolita, rutilo, crisoberilo); outros, raramente (ex.: turmalinas, granadas). Sinônimo de geminação. (BRANCO, 2008, id. p.307). Agrupamento regular de dois indivíduos cristalinos dos quais um se deduz do outro, ou pela rotação em torno de um eixo (eixo de geminação) ou pela reflexão especular em relação a um plano (plano de geminação) (palavra resultante da tradução original do japonês). Magma* — Massa natural fluida, ígnea, de origem profunda, e que, ao esfriar-se, se solidifica, originando a rocha magmática. Magmático tardi-brasiliano* — Processo geológico, tectônico estrutural, evento magmático ou metassomático, intrusão ou outro que ocorre durante a fase orogênica que está em estudo ou consideração. Tardi- brasiliano - ocorreu ao fim da orogênese. Ciclo geodinâmico desenvolvido de forma diacrônica na Plataforma Sul-Americana que inicia com a Tafrogênese Toniana (regime extensional com formação de riftes) entre 950 Ma e 800 Ma e termina entre 510 Ma e 490 Ma com o colapso dos orógenos e transição para um novo regime extensional. O climax orogênico, entre 670 Ma e 550 Ma, está associado a intenso tectonismo, metamorfismo de alto grau e expressiva granitogênese. Magnetita — Min.- Óxido de ferro. Fórmula Fe3O4 –, um dos três principais minerais-minério de ferro (72,4% Fe). É o mais comum mineral fortemente magnético, estando presente em pequenas quantidades em quase todas as rochas e também nos meteoritos. Por ser um mineral resistente acumula-se em sedimentos, como nas areias de praias, onde pode ser reconhecida por sua cor preta e por ser atraída por qualquer imã de mão. A magnetita, e sua propriedade são conhecidas desde há muito tempo pelos gregos. Pode ser biogenicamente produzida por bactérias, e recentemente foi identificada no meteorito ALH84001, encontrado em 1984 na Antártica, tendo sido um dos argumentos usados pelos pesquisadores da NASA, agência espacial americana, para suspeitar que naquele planeta teria havido vida primitiva. A presença de magnetita em lavas vulcânicas que formam o assoalho oceânico permite que se estude o campo magnético terrestre da época de seu resfriamento. Da mesma forma, magnetita biogenicamente produzida é utilizada em estudos paleomagnéticos de sedimentos. Em países onde não ocorre a hematita, a magnetita pode ser uma importante fonte de ferro. Manancial — Nascente de água; olho-d’água; fonte. Fonte perene e abundante: Manganês – Manganês (Mn) é o nome dado a um metal branco cinzento distribuído em diversos ambientes geológicos, encontrando-se na forma de óxidos, hidróxidos, silicatos e carbonatos. É um elemento dotado de qualidades importantes à utilização na indústria siderúrgica, devido à sua composição físico-química, atuando como agente dessulurante
224 (diminuidor da quantidade de enxofre) e desoxidante (propício à corrosão e ferrugem, por possuir maior afinidade com o oxigênio do que com o ferro). São as formas em óxidos que representam a maior parte da utilização industrial e comercial do elemento, como por exemplo a pirolusita (MnO2), a hausmannita (Mn3O4) bem como a manganita (Mn2O3H2O). Verbete pesquisado em http://www.infoescola.com/elementos-quimicos/manganes/. Acesso em 21.11.2012. Elemento químico de número atômico 25 (símbolo: Mn) [Usado em trilhos de trem que necessitam de aços de grande dureza, na liga Mn-Ni-Cu para resistências elétricas de precisão, etc.]. Substância corante de algumas gemas. Massa Mangerito* — Rocha da série charnockítica correspondente a um hiperstênio monzonito em que o feldspato típico é mesopertítico. O termo mangerito, derivado de rocha da Região de Manger, Noruega, tende a se tornar obsoleto. Massa do diamante – No diamante, além do quilate (um quinto de um grama), há também a mensuração da massa por valores que representam centésimos do quilate. Esses valores são chamados de pontos. Matacão – Grande bloco de rocha maciça. Grande pedaço ou fatia. Matiz – Colorido obtido da mistura ou combinação de várias cores num todo. Gradação de uma cor ou cores; nuança. Metamórfico – Que se refere às metamorfoses. Diz-se da rocha que sofreu processo de metabolismo, as transmutações. Metamorfismo* — Processos de transformações mineralógicas, texturais e estruturais de uma rocha pré-existente ou protólito sob a ação de variáveis temperatura e/ou pressão (litostática, dirigida e/ou de fluidos) sem mudança química significativa e no estado sólido. Mica – Grupo de minerais de brilho metálico, e que se fendem em lâminas delgadas e flexíveis; malacacheta. Mina – Cavidade artificial na terra, de onde se extraem minérios, combustíveis, água, etc. Jazida de minerais-gema. Nascente de água. Cavidade onde se mete pólvora para explodir tudo o que há por cima, ou para quebrar rochas, etc. Engenho bélico explosivo, usado em terra ou no mar, que detona quando tocado. Grafita de lapiseira. Negócio muito lucrativo. Coisa de grande valor; preciosidade. Fonte de saber. Mina — É uma jazida em produção econômica de um ou mais bens minerais. Uma mina pode extrair apenas um bem mineral, dois ou mais. No primeiro caso a mina só produz um produto. No segundo caso a mina pode produzir um produto principal e um subproduto ou um coproduto. Quando a mina produz um subproduto ele não é essencial à atividade da mina. No caso de produzir um coproduto, ambos são essenciais à atividade da mina. Uma mina pode produzir somente urânio, então ele é o produto. As minas de urânio e vanádio dos Estados Unidos precisam produzir ambos para sobreviverem. Neste caso tratam-se de coprodutos. Já nas minas de ouro da África do Sul produzem também urânio que se não fosse vendido, não afetará a produção de ouro do país; neste caso o urânio é um subproduto. Mineração – Exploração de minas. Mineral % na crosta — Feldspatos 58, Piroxênios + Anfibólios 13, Quartzo 11, Micas + clorita + argilas 10, Carbonatos + óxidos + haloides 03, Olivinas 03, Epidoto+granada+zeólitas+aluminossiliccatos 02, Total 100. Mineral anédrico – Não apresenta nenhuma face plana (contornos não são linhas retas). Mineral automorfo — Que tem forma própria (cristalizou antes ou sobre os outros). Mineral euédrico — Apresenta todas as faces planas (contornos retos em formas poligonais).
225 Mineral xenomorfo — Que tem a forma dos outros e cristalizou nos espaços (interstícios) que sobraram para ele. Minerais — Estão agrupados quimicamente nas seguintes classes:- Elementos nativos-Sulfetos – Sulfossais – Óxidos – Halogenado – Carbonato – Nitratos – Boratos- Fosfatos – Sulfatos – Tungstatos – Silicatos. Minerais de importância econômica — Minerais cuja exploração resulta numa atividade de rendimento econômico (Mineração). Minérios Metálicos. - Metais Precisos: Ouro, Prata, Platina, Paládio.- Metais Ferrosos: Ferro, Manganês - Metais não Ferrosos: (Básicos): Cobre, Chumbo, Zinco, Estanho - Metais Leves: Alumínio, Magnésio, Titânio - Metais Menores: Bismuto, Mercúrio - Metais Radiativos: Urânio, Tório, Césio, Lítio - Minérios Não-Metálicos (Jazidas): Enxofre, Caulim, Calcário, Dolomito, Gipsita (Gesso), Sal-Gema, Apatita, Fosforita, etc. Mineralogista – Aquele que estuda a formação, ocorrência, propriedades, composição e classificação de minerais. Diz-se geólogo cujo campo de estudo e atuação é a mineralogia. Monoclínico – Diz-se de um dos sete sistemas cristalinos, caracterizado por três eixos cristalográficos de comprimentos desiguais, sendo um perpendicular ao plano formado pelos demais. Monólito – Pedra de grandes dimensões. Monumento feito de um só bloco de pedra. Montanha – Elevação alta como parte de uma serra, cordilheira ou unidade isolada. Morganita – É um berilo de cor rosa, pertencente ao mesmo grupo da água-marinha. Maleável – quando se reduz a lâmina quando esmagado. Exemplo: ouro. Megaporfirítico — O feldspato alcalino nas rochas em que ocorre é hipidiomórfico a xenomórfico, e apresenta pertitas em proporções variáveis. Constitui os megacristais do granito megaporfirítico. MEDEIROS, Sílvia Regina de. 1999. Anuário do Instituto de Geociências. Minerais-gema – Minerais raros e de grande valor. Também chamados de gema.Mineral — É um elemento ou composto químico, de composição geralmente definida, de ocorrência natural e estrutura interna ordenada. Em geral são sólidos (exceto água e mercúrio nas CNTP) e produzidos por processos inorgânicos. Ser naturalmente formado, gemas sintéticas não são minerais. Ser um sólido, exclui os líquidos e gases. Ser de origem inorgânica. Ter uma composição química específica. Ter estrutura cristalina característica. Minerais formadores de rochas — Minerais Essenciais principais e mais importantes. Composição Minerais Secundários. Mais ou menos importantes – Se formaram depois dos outros. Minerais Acessórios Algumas vezes importantes. Minerais Traços Sem importância na classificação. Às vezes têm importância econômica. Minerais formadores de rochas ígneas — Feldspatos Alcalinos (K – Feldspatos). Rochas Ácidas (>65% Si)2) Quartzo. (Minerais Félsicos) Plagioclásio (Na+). Muscovita. Rochas Intermediárias Feldspatóides (65% - 62% de SiO2) Plagioclásios (Na+, Ca++). Plagioclásios(Ca++). Rochas Básicas Biotita(52% - 45% de SiO2) Anfibólios. Piroxênios. Rochas Ultrabásicas Piroxênios.(<45% SiO2) Olivinas. Minerais de importância econômica — Minerais cuja exploração resulta numa atividade de rendimento econômico (Mineração). Minérios Metálicos — Metais Preciosos: Ouro, Prata, Platina e Paládio. Metais Ferrosos: Ferro e Manganês. Metais não Ferrosos (Básicos): Cobre, Chumbo, Zinco e Estanho. Metais Leves: Alumínio, Magnésio e Titânio.Metais Menores: Bismuto e Mercúrio. Metais Radiativos: Urânio, Tório, Césio e Lítio. Minérios Não Metálicos (Jazidas) — Enxofre, Caulim.Calcário, Dolomito, Gipsita (Gesso), SalGema, Apatita, Fosforita, etc.
226 Mineralóides — (vidro vulcânico, carvão e outros de origem orgânica). Mineralóide Possui todas as características dos minerais, porém não têm estrutura interna ordenada Mineralogia — estuda os minerais: composição, estrutura cristalina, propriedades, condições de gênese e importância prática. Minério — Denomina-se minério toda a massa monomineral, polimineral ou mineralóide de onde podemos extrair, economicamente, um elemento químico ou um composto químico. Por exemplo, o mineral hematita (Fe2O3) é considerado um minério de ferro. Um dos 2.000 minerais citados anteriormente, apenas cerca de 300 são considerados economicamente interessantes. Além disso, apenas 50 minerais são considerados mais comuns da maoria das rochas. Monzodioríticas* — Rocha ígnea plutônica saturada (quartzo ausente ou subordinado), intermediária entre diorito e monzonito, com componentes essenciais plagioclásio Ca-Na em quantidades maiores do que K feldspato e minerais ferromagnesianos piroxênio/hornblenda e biotita Níquel – Elemento químico de número atômico 28 (símbolo: Ni) (Usado em aços, moedas, niquelagem de objetos, catalisadores, baterias e materiais magnéticos). Moeda feita com esse metal; dinheiro. Elemento corante de algumas gemas. Nitroglicerina – Substância líquida, oleosa, usada na fabricação de explosivos, e em medicina, no tratamento da angina (vasodilatador das coronárias). Utilizado como explosivo para o desmonte de rochas nas lavras Oca (ó) – Pó presumivelmente de argila de coloração amarelada ou avermelhada que costuma ser encontrado nos pegmatitos e nas câmaras de cristalização (chamado de base ou oca “ó”).44 Octogonal – Figura ou objeto que possui 8 arestas. Formado por oito ângulos e oito lados; octangular, octógono. Que tem o formato do octógono (‘polígono’); oitavado, cuja base é um octógono. Olho-de-gato – Variedade gemológica de crisoberilo com chatoyance, pela existência de cavidades tubulares muito finas (25.600 por centímetro) e paralelas. Cor esverdeada, amarelada, ou cinza, translúcido. É muito mais valioso que o lho de tigre, do qual difere por ser translúcido, levemente opalescente e com uma textura linear mais definida... (BRANCO, 2008, id. p. 359)45. Ondas eletromagnéticas — São formadas por campos elétricos e campos magnéticos variáveis. O campo elétrico é perpendicular ao campo magnético. São ondas transversais (os campos são perpendiculares à direção de propagação). Propagam-se no vácuo com a velocidade "c" “c”. Podem propagar-se num meio material com velocidade menor que a obtida no vácuo. Opaco – Diz-se do material impermeável à luz visível, mesmo quando reduzido a finas folhas. Os minerais opacos são, em sua maioria, minerais metálicos. Antônimo de transparente. Adiáfano. (BRANCO, 2008, Id. p. 363). Opdalitos* — Rocha granular, cinza clara, apresentando cristais tabulares de plagioclásio, piroxênio (hiperstênio e diopsídio) e biotita. Jotunito. Opdalito* — Rocha granular, cinza clara, apresentando cristais tabulares de plagioclásio, piroxênio (hiperstênio e diopsídio) e biotita. Quartzo intersticial; trata-se, aproximadamente, de um granodiorito com hiperstênio. Quimismo: quartzo monzonítico. O termo opdalito (Opdal, 44 Óca é vocábulo popularizado nos garimpos do Espírito Santo e significa um pó amarelo, vermelho, avermelhado ou escuro como o pó de café, que acompanha os depósitos de cristais de quartzo, de berilo e outros minerais localizados nos pegmatitos. 45 O efeito olho de gato também pode ser visto em outros cristais como a alexandrita, a água-marinha, quartzo e outros.
227 Trondheim, Noruega), para rocha metamórfica hiperstênio biotita granodiorítica deve ser abandonado, pois corresponde a charno-enderbito. Ortorrômbico – Sistema cristalino com três eixos cristalográficos de diferentes comprimentos, mutuamente perpendiculares. 2. Diz-se dos minerais cristalizados nesse sistema, comoo topázio, crisoberilo, zoisita, etc., e de seus cristais. (BRANCO, 2008, id. p. 367). Pedra-da-lua46 – 1. Sinônimo de adulária. 2. Nome impropriamente usado para designar a variedade leitosa ou girassol de escapolita, coríndon, calcedônia e outros minerais, bem como a peristerita e as variedades opalescentes de plagioclásio, especialmente albita. Sinônimos de hecatolita, opala do Ceilão, pedra soda. (BRANCO, 2008, id. p. 379). Pedra da Onça – Monólito de granito localizado no limite entre os municípios de Santa Teresa e Itarana, local onde foram encontrados muitos cristais de água-marinha na década de 1940. “Pedra do Charuto” – “Charuto”: nome originado da alcunha atribuída a Aristeu Cirilo, antigo morador de Várzea Alegre, titular do requerimento de uma porção de terras devolutas existentes no cume dessa pedreira. Esse apelido, como era conhecido Aristeu, tinha origem desconhecida. Comenta-se que ali existe uma jazida de minerais-gema, confirmando, de fato, a existência de muitos indícios, mas pesquisar ali é inviável, pois o local é inóspito e de difícil acesso; não existe água e apenas um caminho íngreme é a forma de se chegar lá. Peso Específico ou Densidade Relativa — É um número adimensional que indica quantas vezes certo volume desse mineral é mais pesado que um mesmo volume de água destilada à temperatura de 40C. A título de ilustração relacionamos alguns minerais mais conhecidos com suas respectivas densidades relativas. Plástico – quando cessada a pressão original o mineral não retorna à posição original: Exemplo: talco. Pedreira – Formação rochosa única (monólito), montanha composta exclusivamente de rocha ou a parte rochosa de uma montanha. Pegmatito – Rocha de granulação extremamente grosseira, em forma de veios, diques ou lentes, que ocorre, em geral, nas margens de grandes corpos de rocha intrusiva. Sua composição é variável, geralmente granítica. Forma-se nos últimos estágios de cristalização do magma. É uma das principais fontes de minerais-gema (água-marinha, esmeralda, heliodoro, topázio, turmalinas etc.). Os corpos de pegmatito podem ter dezenas de metros de comprimento com espessura superior a 50 m. (BRANCO, 2008, id. p. 382). Representa a fonte primária dos minerais-gema. Pegmatito* — Rocha ígnea ou metassomática, normalmente granitóide, que ocorre em veios/diques ou em massas de contatos irregulares, amebóides, e com minerais que tendem a ocorrer com grande tamanho, centimétrico a decimétrico. Os pegmatitos refletem uma cristalização com fase fluida importante no magma retratada pela ocorrência frequente de minerais como turmalina e micas. Além de pegmatitos de composição granítica podem ocorrer fácies pegmatíticas (textura de cristais bem desenvolvidos) em rochas gabróicas, sieníticas e outras, devendo-se, nestes casos, caracterizar composicionalmente o pegmatito para não confundir com a fácies comum que é granítica: pegmatito gábrico, pegmatito sienítico. Penedia – Local cheio de penedos; penedal, penedio, piçarra, conjunto de penedos.
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Outros autores a definem apenas como: Mineral do grupo do feldspato, chamada de pedra da lua devido à sua cor branca azulada. Lapidada sob a forma de cabochão, pode apresentar o efeito olho-de-gato.
228 Penhasco íngreme – Extenso rochedo escarpado extremamente inclinado em relação ao plano horizontal. Penha elevada e pontiaguda. Perfuratriz – Máquina dotada de broca que serve para perfurar o solo. Pirita – Sulfeto de ferro – FeS2 –, contendo muitas vezes ouro, Cúbico, dimorfo da marcassita. Forma série isomórfica com a cattierita. Ocorre geralmente na forma de cubos, também octaedros, piritoedros e grãos ou massas irregulares. Os cubos costuma ter faces estriadas, sendo as estrias de cada uma delas perpendiculares às das faces adjacentes. São frequentes as maclas de penetração. Amarelo-claro, opaco, com traço preto e brilho metálico. É quebradiço e não tem clivagens. Dureza 6,0-6,5... (BRANCO, 2008, id. p. 394. Pleocroísmo – Propriedade de um cristal anisotrópico absorver diferencialmente vários comprimentos de ondas de luz transmitidas em diversas direções cristalográficas, e, desse modo, apresentar variadas cores em diferentes direções, sendo mais fácil de visualizar sob luz polarizada que a olho nu. Pluma mantélica* — Pluma mantélica é um fenômeno geológico que consiste na ascensão de um grande volume de magma desde as regiões mantélicas profundas até às regiões infracrustais da Terra. Porfirítica* — Textura de rocha ígnea com cristais significativamente maiores (fenocristais) do que os da matriz mais fina ou mesmo vítrea. Principais estilos de lapidação — roladas ou barrocas - cabochões ou lisa - em facetas - mista (cabochão e facetada) - esférica, contas e briolettes - gravação (alto e baixo relevo) - barion (estilos novos) e esculturas. Prisma – Poliedro em que duas faces são polígonos paralelos e congruentes, e as outras são paralelogramos. Sólido de material transparente, comumente cristal ou vidro, com forma prismática usado para dispersar, refratar ou refletir luz. Cristal com duas faces planas inclinadas, que decompõe a luz. Prospecção – Trabalho de exploração de uma lavra ou jazida. Conjunto de técnicas relativas à pesquisa, localização precisa e estudo preliminar de uma jazida mineral ou petrolífera. Prospectivo – Que tem qualidade para prospecção. Que tem possibilidade de produzir no futuro. Propriedades físicas – Características da ciência que investiga as leis do universo no que diz respeito à matéria e à energia, que são seus constituintes, e suas interações. Exemplos: refração, dureza, pleocroísmo, irisação, dispersão, etc. Quartzo – Mineral constituído de dióxido de silício, e que se apresenta em numerosas variedades na superfície terrestre. Quartzo* — Mineral de sílica: SiO2. O quartzo é um dos minerais mais abundantes que ocorre sobre a face da Terra; muito resistente ao intemperismo ele sobrevive à erosão em grãos que formam a maior parte das areias de praia e de desertos, por exemplo. Quartzo-mangeritos* — Região de Manger, Noruega. Termo empregado para rochas mesopertíticas, tendo a mesopertita como o único feldspato, acompanhado de minerais ferromagnesianos. Ver MESOPERTITICAS, ROCHAS.. Outros autores, como (Waard, 1969b #), empregam este termo para hiperstênio monzonitos, com mesopertitas presente ou não. Citrino – Cristal de colorido amarelo-limão. Fumé, ou “morion” – Cristal enfumaçado também conhecido como topázio fumé. Quartzo róseo – Cristal de coloração rosa, ligeiramente enfumaçado, ou seja, leitoso. Quebrada – Declive de montanha; encosta, vertente, quebrado, recorte, recôncavo no litoral, local distante.
229 Quilate – Teor de ouro de uma liga metálica, expresso em 24 avos da massa da liga. Símbolo: k. Peso equivalente a 199 mg. Grau de excelência, valor, perfeição. É igual a 1/5 de um grama. Representa o quociente da divisão de um grama por cinco, podem ser representados pelo valor de 200 mg ou, ainda, 0,2 g, o que, na realidade, é a mesma coisa. Rabo de Tatu – Nome atribuído a um garimpo localizado na Serra do Toma Vento, região de Várzea Alegre, devido ao formato das pedras de água-marinha ali encontradas, constituídas de prismas finos e revestidas de uma casca semelhante ao aspecto escamoso da carapaça dos tatus. Refração - Ato ou efeito de refratar ou refratar-se. Fenômeno físico que consiste na mudança de velocidade de propagação da luz ao passar de um meio a outro, de densidade diferente. Refringência – Refração, quebrar, desviar-se (a luz, o calor, o som) de sua primitiva direção, sofrer refração, refletir-se. Registros de lavra – É o ato de tornar uma jazida revestida das formalidades legais nos órgãos do Governo responsáveis pela fiscalização da produção mineral. Com levantamentos topográficos, laudos emitidos por geólogos que atestem a existência dos recursos minerais, projetos de impacto ambiental apresentados aos órgãos de controle do meio ambiente, os interessados, devidamente identificados, podem requerer ao DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) a Licença de Pesquisa. Depois de comprovada a viabilidade econômica e examinados os aspectos ambientais, poderá a lavra ter seu registro definitivo. A falta de autorização para pesquisas ou registro, conforme o caso, torna o garimpo ilegal, sujeito, portanto, ao alcance da legislação específica, impondo-lhe interdição e apreensão dos bens de produção, produtos pertencentes à União. Rejeitos – Sobras lançadas fora, por não terem aproveitamento (cascalhos e outras coisas que se tornaram obsoletas). Restito* — Observar que, caso o migmatito seja resultante de fusão parcial da rocha, a ideia de que o paleossoma corresponda a porções da rocha original não é bem correta, pois, pelo menos parcialmente, ocorreu depleção de elementos granitófilos deste paleossoma tornando-o um restito mais máfico do que a rocha original. Reverberar – Brilhar, refletindo-se; resplandecer, verberar. Rocha — é um agregado natural, formado de um ou mais minerais (ou mineralóides), que constitui parte essencial da Crosta Terrestre e é nitidamente individualizada (podendo ser representadas em mapas geológicos). Nelas os minerais se agregam obedecendo a leis físicas, químicas e físico-químicas, dependendo das condições em que se forma esta ou aquela rocha. Rocha quartzo-diorítica* — diorítica, migmatizados, com anfibólio. Biotita granada xistos. Quartizitos cinza-claro, com muscovita e K-feldspato. Rochas gabróicas* — Rocha magmática, plutônica, em geral preta, constituída essencialmente de plagioclásio cálcico e piroxênio, e que pode conter, ainda, olivina e magnetita. Rochas gabróicas com plagioclásio, ortopiroxênio, clinopiroxênio e hornblenda, sem ou pouca olivina. Rocha intrusiva* — Rocha magmática que se consolidou nas partes profundas da litosfera e só apareceu à superfície depois de removido o material sedimentar ou metamórfico que a recobria; rocha abissal, rocha plutônica. Rocha basáltica – Rocha ígnea vulcânica, geralmente porfirítica ou vítrea, composta essencialmente de plagioclásio básico e augita, com ou sem olivina; pedra-ferro (funde-se com o ferro e com essa massa fundente moldam-se estátuas e obras de arte; é também usada como pedra de construção, especialmente na pavimentação de ruas e estradas). Rochas graníticas* — são rochas magmáticas, plutônicas, constituídas essencialmente por quartzo e feldspato (feldspato alcalino e/ou plagioclásio).
230 Rochedo granítico – Pedra de granito, tipo de rocha magmática, composta, sobretudo, de quartzo e feldspato ácido. Rochas charnockitóides* — As rochas gabróicas, dioríticas, quartzo-dioríticas e graníticas do seu domínio interno são envolvidas por um extenso e irregular anel de rochas charnockitóides. Rúptil (Frágil) – quando se quebra ou pulveriza facilmente ao ser golpeado. Exemplo: diamante, quartzo. Séctil – quando se corta em lâminas com facilidade. Exemplo: talco, gipsita. Sedimento aluvial – Material sólido desagregado originado da alteração de rochas preexistentes e transportado ou depositado pelo ar, água ou gelo. Serra - Longa extensão de montanhas, montes ou penedias com picos e quebradas. Sieba47 – Os rejeitos atirados para fora são conhecidos pelos garimpeiros como “sieba”. Silicatos — Mais do que 95% da crosta terrestre é composta de minerais de silicatos, um grupo de minerais contendo silício e oxigênio ligados em uma unidade de tetraedros, com quatro átomos de oxigênio e um átomo de silício no centro do tetraedro. Os silicatos combinam os dois elementos mais abundantes na crosta, Oxigênio e Silício. Silício – Elemento químico não metálico, de número atômico 14. Símbolo: Si, Cf. Cilício. Sistemas cristalinos — Os minerais, como já se observou, podem desenvolver-se segundo formas geométricas definidas e, neste caso, segundo um sistema cristalino. Dependendo das distâncias entre os átomos ou grupo de átomos nas três direções do espaço, e dos ângulos que estas direções fazem entre si, os cristais são subdivididos em seis sistemas cristalinos. Cada cristal se desenvolve sempre segundo um dos sistemas cristalinos, esta é uma propriedade física inerente ao cristal, como é o caso da halita (ClNa). Estrutura Cristalina da Halita. Sistemas Cristalinos — Sistema cúbico (isométrico) — Inclui cristais em que os três eixos têm o mesmo comprimento com ângulos retos de (90º) entre estes, como um cubo. Exemplos: galena, pirita, halita (sal de cozinha). Sistema Triclínico. Tem três eixos de comprimento diferente e nenhum forma ângulo de 90º com os outros. Exemplos: plagioclásio, feldspato e rodonita. Sistema Hexagonal. Tem três eixos com ângulo de 120º arranjados num plano e um quarto eixo formando ângulo reto (90º) com aqueles. Exemplos: quartzo, berilo, calcita, turmalina. Subédrico — Diz-se do cristal limitado externamente, em parte, por suas faces cristalinas e, em parte, por superfícies irregulares, devidas à presença de outros cristais. Sinônimo hipautomórfico, hipidiomórfico. (BRANCO, 2008, id. p. 466). Substâncias cristalinas e amorfas — A maioria das substâncias, tanto formadas na natureza como nos laboratórios, tem um arranjo tridimensional interno, ordenado e definido dos seus átomos constituintes e são ditas como possuindo uma estrutura cristalina. Sob condições favoráveis, podem desenvolver como sólidos, limitadas por superfícies planas naturais e são chamadas cristais. As superfícies planas são denominadas faces ou planos cristalinos. Em alguns casos, alguns minerais não apresentam estrutura cristalina aparente, mas ao exame de raios-x e microscópio eletrônico mostram uma estrutura cristalina. Neste caso, esses minerais tem uma estrutura criptocristalina, submicroscópica. (O vocábulo amorfo deve ter seu uso dispensado). Suíte charnockítica* — as rochas da suíte charnockítica presentes encontram-se opdalitos, jotunitos, quartzo mangeritos e enderbitos (opx-quartzo dioritos); são porfiríticas. Tectônica* — Parte da geologia que trata das deformações da crosta terrestre devidas às forças internas que sobre ela se exerceram; geotectônica, geodinâmica.
47
Nome popularizado nos garimpos do Espírito Santo, que designa coisa secundária, ou seja, subproduto.
231 Tenacidade — É a resistência que os minerais oferecem ao choque, corte e esmagamento. Os minerais quanto à tenacidade podem ser denominados de: Terraplenagem – Trabalho de escavação, transporte, depósito e compactação de terras, destinado a mudar o relevo natural de um terreno, para se iniciar uma construção; terraplanagem. Topa (ô) – Os garimpeiros dão esse nome aos barrancos que circundam as escavações, também as chamam de “rampas” 48. Topázio – Fluorsilicato de alumínio – Al2SiO4(F, OH)2 –, ortorrômbico, encontrado em cristais prismáticos, massas ou seixos rolados. Incolor ou com cor variável (branca,amarela, laranja, marrom, rósea, salmão, vermelha, azul), transparente a translúcido, com brilho vítreo, clivagem basal perfeita e fratura conchoidal. Dureza 8,0. Densidade 3,50-3,60. Índice de refração 1,6091,617... (BRANCO, 2008, id. p. 484). Traço – Titanita* — Mineral silicato de titânio e cálcio: CaTiOSiO4. Sinônimo esfeno.Cor de um mineral quando pulverizado. Costuma ser constante para cada espécie, sendo, por isso, útil na identificação. Na prática, o traço é determinado riscando-se com o mineral uma placa de porcelana branca não esmaltada. O traço de um mineral pode ou não ser igual à sua cor e, na maioria dos minerais-gema, é branco. Sinônimo de risco. (BRANCO, 2008, id. p. 488). Translúcido – Diz-se de qualquer corpo que deixa passar a luz, mas não deixa distinguir os objetos por detrás dele (corpo de baixo teor de diafaneidade). Transparência – Qualidade de transparente; diafaneidade, limpidez. Tubo49 – Termo usado no garimpo como sinônimo de prismas de formas cristalinas de alguns cristais. Turmalina – Grupo de 11 borossilicatos trigonais de fórmula geral WX3y 6(BO3)Si6O18(O, OH, F)4, onde W = Ca, K ou Na; X = Al, Fe, Li, Mg ou Mn; e Y = Al, Cr, Fe ou V.Inclui buerguerita, dravita, cromodravita, elbaíta, feruvita, foitita, lidiocoatita, olenita, povondraíta, schorlita e uvita. As turmalinas usadas como gema são, na sua maioria, variedades de elbaíta. Formam geralmente cristais colunares alongados verticalmente, quase sempre com faces curvas estriadas na direção de maior comprimento. Algumas vezes formam prismas de 3, 6 ou 9 faces, ou então massas compactas. As maclas são muito raras. A cor é muito variável e, em função dela, as variedades de elbaíta recebem alguns nomes específicos: rubelita (rósea ou vermelha), indicolita (azul), acroíta (incolor), verdelita (verde). Um mesmo cristal pode ter uma cor em cada extremidade a ainda uma terceira no centro; ou ter uma cor externamente e outros no seu interior, distribuídas concentricamente. Ao contrário do que ocorre com o topázio e a fenaquita, por exemplo, as turmalinas têm cores estáveis. A causa da variedade de cores não é bem conhecida. Segundo Castañeda et al (1998), em Araçuaí-MG, (Brasil), as cores verde e azul dependem da relação Mn/Fe2+. As turmalinas azuis parecem estar relacionadas também ao fator F3+. A cor escura deve-se ao ferro em estado de valência intermediário... (BRANCO, 2008, id. p.494). Túnel – Caminho ou passagem subterrânea (garimpos). Turmalina preta – É uma variedade de turmalina negra, muito comum. Utilizada em joalheria como sucedânea da gema ônix. É conhecida também pelo nome SCHOR. Veio – Veia (nome popularizado no garimpo). O significado é pegmatito (local sede da fonte primária de alguns minerais). 48 Referência de vocábulos popularizados nos garimpos do Espírito Santo. 49
Vocábulo de uso popular dos garimpeiros no Espírito Santo para indicar o formato prismático dos cristais de água-marinha e outros.
232 Xenocristais* — Cristal estranho à rocha magmática em que ocorre e originado seja por incorporação de cristais de rochas encaixantes, seja por incorporação de cristais fracionados em estágios anteriores e envolvidos por novo afluxo magmático da intrusão, com evidências de ter ocorrido desequilíbrio químico entre xenocristais e o líquido magmático que envolveu esses corpos estranhos. Xenocristais são equivalentes aos xenólitos (rochas), mas representados por cristais incorporados pelo afluxo magmático50.
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50
Alguns verbetes deste léxico assinados com * foram obtidos no Glossário Geológico Ilustrado em Português. Abrigado no Site do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília.
233
PUBLICAÇÕES ESPECIALIZADAS MOL, Adriano. Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos. Manual de Lapidação diferenciada de Gemas.— Brasília: Athamalaja Ed., 2009 PALMA, Carlo. As rochas.Texto criado em 28.05.2008. Acessado em 07.11.2012. BOAVIDA, Clara. Diversidade de rochas sedimentares. Ministério da Educação. Criado em 07.11.2012. Acessado em 07.11.2012. Ministério das Minas e Energia. Secretaria de Geologia Mineração e Transformação Mineral. Departamento Nacional de Produção Mineral. Boletim referencial de preços de diamantes e gemas de cor. 6ª edição revisada e ampliada 2009. Convênio DNPM/IBGM. Ministério das Minas e Energia. Lapidação de gemas e diamantes. Acessado em 11.02.2012. Ministério das Minas e Energia. DNPM | IBGM. Manual Técnico de Gemas. Criação 15.10.2012. Acessado em 15.10.2012. FADESP Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa. Os minerais, capítulo 6. Conteúdo criado em 30.04.2003. Acessado em 23.10.2012. O`DONOGHUE, Michael. Gems. Sixth edition. Edited by Michael O’Donoghue. Sixth edition 2006. Ewen Smith. GLASGOW, Strathclyde University, Modern Raman. GLASGOW, Strathclyde University. Modern Raman. Spectroscopy – A Practical Approach Geoffrey Dent Intertek ASG and UMIST, Manchester. SCHWARTZ Julio Cezar, Daniel T. Raman Spectroscopy: Introductory Tutorial. Department of Chemical Engineering Box 351750 University of Washington Seattle, WA 98195-1750. MENDES, Julio Cezar. McREATH, Ian. WIEDEMANN, Cristina Maria e FIGUEIREDO, Mário Cesar Heredia. Charnockitóides do Maciço de Várzea Alegre: um novo exemplo do magmatismo cálcio-alcalino de alto-k no arco magmático do Espírito Santo. REVISTA BRASILEIRA DE GEOCIÊNCIAS. 27(L): 13-24, MARÇO DE 1997. MEDEIROS, S.R., MENDES, J. C. e WIEDEMANN, C. M. Feições diagnósticas do complexo intrusivo de Várzea Alegre, ES. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 38. Balneário Camboriu, 1994. Bol. Res. Expand... Balneário Camboriu, SBG. v. l, p. 140-141.
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234 http://www.panoramio.com/photo/1052054 (foto da Pedra da Onça na contracapa do livro). http://lattes.cnpq.br/4850722074869219 (Curriculum da Daniela Newman). www.unimed.com.br › ... › Notícias › Banco de Releases. CIAS, hospital da Unimed Vitória, realiza II Exposição de Talentos de ex-pacientes. WWW.nationalgeographic.abril.uol.com.br/edições/0501/cep/-35k e www.es.gov.br/site/notícias/show.aspx?noticiald=99660295 – 12k. https://www.google.com.br/#hl=pt.BR&gs_nf=3&cp=6&gs_id=2p&xhr=t&q=Jornal+A+Tr ibuna.com.br&pf=p&sclient=psyab&oq=JornalA+Tibuna.&gs_l=&pbx=1&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_qf.&fp=53ca9d56b207ffa5&b pcl=38093640&biw=1092&bih=533. http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/noticias/index.php. http://www.ampc.org.br/index.php?option=com_rd_sitemap&Itemid=76. http://www.ige.unicamp.br/site/aulas/30/Otica%20pratica%20%20LC%20REV%202010.pdf. Acesso em 25.10.2012. http://www.ape.es.gov.br/pdf/Daemon/Daemon_Parte_3.pdf. Provincia do Espirito Santo - Basilio Carvalho Daemon - 1879 - Parte 3. Aquivo Público do estado do Espírito Santo. http://www.morrodomoreno.com.br/materias/emancipacao-de-vila-velha.html. Pesquisa para Dr. Olívio de Andrade Lira. http://www.imperialpedras.com.br/loja/pecas-de-colecao/cristal-de-rocha-comturmalina-pc-de-colec-o-2.html. http://www.pmsmj.es.gov.br/cgi-bin/turismo.asp?id=4. Pedra do Garrafão, fotografia obtida através do site da Prefeitura Municipal de Santa Maria de Jetibá-ES. http://nuestramizade.blogspot.com.br/2012/07/alexandrita.html. Acessado em 08.11.2012. Discorrendo sobre achados de alexandrita no Espírito Santo. http://www.canaldoturismo.com.br/prefeituradepancas/fotos/galeria1/index.html. Acesso, em 01.11.2012. http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=11391. Acesso realizado em 22.10.2012. www.jusbrasil.com.br/.../dou-secao-1-17-07-1945-pg. http://177.131.161.212/pmms/ Acesso em 06.11.2012 http://www.coluna-da-sal.com/pedregal/indicacoes_4.htm. Acessado em 07.11.2012. http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A1bito_cristalino. Acessado em 11.11.2012. http://www.folhavitoria.com.br/entretenimento/blogs/elogoali/2012/01/page/2/. Acesso em 11.11.2012. http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/diagnosticos_levantament os/jequitinhonha/ilustracoes.shtm. Acesso em 10.11.2012. (túneis e galerias subterrâneas). http://heartjoia.com/1287-lapidacao-talhes-gemas. Acesso em 09.11.2012. www.escolabellarte.com.br/pedras/pedras.htm, em 15/11/2005. http://pt.wikipedia.org/wiki/Trindade_e_Martim_Vaz . Acesso em 27.10.2012. “www.ibge.gov.br /.../ ilustrações. SHTM”, em 20.10.2005. Garimpo manual através de escavações subterrâneas. http://geomuseu.ist.utl.pt/MINGEO2010/Aulas%20praticas/TEMA%202%20%20Mineralogia/Imagens%20Cristalografia/. http://www.infoescola.com/elementos-quimicos/manganes/.
235 http://www.google.com.br/imgres?start=290&um=1&hl=ptBR&safe=off&sa=N&tbo=d&biw=1092&bih=514&tbm=isch&tbnid=WsCoPrFVVsUUbM:&imgref url=http://www.johnbettsfineminerals.com/jhbnyc/gifs/55982.htm&docid=4quFt0XcamRJpM&imgurl=http://www.johnb etts-fineminerals.com/jhbnyc/gifs/55982de2.jpg&w=418&h=477&ei=03rTUPK0Ce40gHwtYDYDg&zoom=1&iact=hc&vpx=162&vpy=133&dur=1739&hovh=240&hovw=211&tx=8 8&ty=134&sig=101198572635214948526&page=17&tbnh=133&tbnw=125&ndsp=17&ved=1t:4 29,r:3,s:300,i:13. Acesso em 20.12.2012. i i
Ao concluir este livro, em 3ª edição, deixo informado aqui no final que, nos capítulos de 1 a 4, a contextura inicial se fez, na maior parte com a utilização das memórias do autor e de depoentes, fornecendo e transmitindo oralmente fatos de que teriam presenciado ou obtidos por informações de familiares de uma a outras gerações. Reconheço que essa metodologia não compraz aos literatos que usam no desenvolvimento das pesquisas as ferramentas, tal como recomendam as normas científicas relacionadas aos registros históricos. Quero, com isto, informar e justificar o emprego de um subtítulo à obra, “Memórias II”, estilo que prevalece desde que redigi minha autobiografia e tornouse de uso habitual, permanecendo também aqui nas memórias dos garimpos e das lavras de minerais-gema no estado do Espírito Santo. Um exemplo de coloquialismo usado assiduamente em muitos títulos de obras, artigos e publicações na mídia, é o uso do vocábulo “pedra” que, ora significa cristal, gema e ponto geográfico, como exemplo notável, o próprio título desta obra (A Pedra da Onça: jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo). Por falta de conhecimentos técnico-científicos de mineralogia, geologia e gemologia, as duas primeiras edições deste livro foram redigidas na maior parte com a utilização da linguagem coloquial falada nos garimpos deste estado. Na medida em que os trabalhos evoluíam na busca de informações científicas, especialmente para preparar esta 3ª edição do livro, tive a oportunidade de contar com a participação especial da Professora Daniela Newman, portadora de qualificações notáveis em mineralogia, geologia e gemologia, também na condição da docência que exerce nestes segmentos científicos, tornando-se a orientadora e revisora técnica, ajustando no que coube, o uso da mais moderna nomenclatura de termos tornados de uso corrente nos trabalhos de pesquisa em mineralogia, geologia e gemologia, concebendo uma linguagem que vai se tornando universal. Mas, nos textos pesquisados, essa mesma linguagem nem sempre é usada, quer pelo uso da fala coloquial ou ainda não adequada à nova linguagem. E isto acontece com algumas obras bibliográficas consultadas, artigos e publicações em noticiários e, mesmo assim, justifico o seu uso, pelas indicações da presença de minerais-gema, lavragem de minas e garimpos neste estado, meios que se tornaram meus aliados. Quando à historiografia, meu trabalho pode servir de pistas num caminho que será trilhado por aqueles que forem tecnicamente capazes de produzir melhores resultados, quer na história quer nas ciências mineralógica, geológica e gemológica. A verdade é que, inicialmente tive a intenção de realizar um trabalho simples, de acordo com minhas limitações, que se servem do empirismo de alguém que vivenciou o assunto como amador e autodidata. Espero com isto que os leitores entendam agora mais do que nunca as dificuldades que me são impostas pela cronologia dos tempos e as deficiências decorrentes do cansaço e de enfermidades próprias da faixa etária do autor. Ao concluir esta meta, espero que as informações registradas neste livro sirvam para que o público leitor venha a conhecer fatos históricos registrados como memórias da existência e das localizações de jazidas, lavragem de minas, garimpos e garimpeiros e demais profissionais impulsionadores dessas atividades, tais como empresários do garimpo, comerciantes de gemas, lapidadores e joalheiros, que prospectaram e utilizaram minerais-gemas de algumas variedades das quais foram descobertas ao longo do estado do Espírito Santo para servirem na produção de jóias e de utilidades diversas. Espero que a obra sirva também como material didático para todos, quer como curiosidade e como aprendizado àqueles para estudantes da área da geologia, mineralogia e gemologia. Espero com isto que os leitores entendam agora, mais do que nunca, as dificuldades que me são impostas pela cronologia dos tempos e as deficiências decorrentes do cansaço e de enfermidades próprias da faixa etária do autor. A todos manifesto neste momento meus agradecimentos; alguns pela participação na disposição de imagens cedidas como cortesia, revisores de textos, revisão técnica, informantes, alguns comentários e incentivadores.