Para uma sistematização didáctica das leituras interpretativas do Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett *
J. Cândido Martins (Univ. Católica Portuguesa – Braga) martins.candido@gmail.com
Cada leitor, com efeito, recria a obra que lê; e a perpetuidade de uma obra é o que é, mais o que dela foram fazendo os seus leitores (Vergílio Ferreira).
1. Necessidade de contrariar um défice interpretativo Uma adequada e exigente leitura interpretativa do Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, ao nível do Ensino Secundário 1, deve convocar, ainda que de um modo breve e articulado com as actividades de leitura analítica do texto, as principais interpretações que a obra garrettiana foi conhecendo ao longo do tempo. Ora, parece-nos que não é bem isso que se passa. De um modo geral, as edições escolares correntes da peça, bem como alguns dos textos críticos auxiliares, nem sempre prestam um bom serviço como textos de apoio a professores e alunos. O que distingue estas edições de outras é que, grosso modo, o texto integral da peça garrettiana é precedido de uma introdução genérica, que costuma abordar os seguintes aspectos: 1º) apresentação da vida e obra do escritor no seu contexto epocal, num esforço mais ou menos conseguido; 2º) introdução crítica ao estudo do drama de Garrett, salientando o desenvolvimento da estrutura externa e interna da obra, a sua génese e classificação genológica. Isto não significa que em uma ou outra edição não encontremos textos introdutórios mais ou menos preciosos, que os professores devem conhecer, independentemente da edição recomendada ou adquirida individualmente pelos seus alunos. Uma boa edição escolar do Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett, à imagem do que neste campo específico se faz em países como Espanha ou França, deveria necessariamente contemplar determinados aspectos que, ora encontramos isolada e sofrivelmente representados em algumas das edições, ora estão simplesmente ausentes: *
Este artigo desenvolve as reflexões contidas na comunicação apresentada ao Congresso Internacional Almeida Garrett, Um Romântico, Um Moderno, realizado na Universidade de Coimbra, de 3-5 de Fevereiro de 1999 e constitui uma republicação, levemente revista, daquele que apareceu na Revista Portuguesa de Humanidades, vol. 3 (1999), pp. 267-303. Entretanto, agradeço as oportunas observações que me foram feitas, a nível particular, pela Srª Doutora Ofélia Paiva Monteiro (Univ. de Coimbra), que vieram enriquecer esta despretenciosa exposição didáctica. 1 O estudo do drama de Garrett está previsto no Programa de Português do 11º Ano – cf. Português A e B (Programas), Lisboa, Ministério da Educação, Dep. do Ensino Secundário, 1997, pp. 44 e 108. –1–