Boletim Evoliano, núm. 2 (1ª série)

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Boletim Evoliano

Doutrina

A Doutrina das Quatro Idades depois entre as duas últimas uma quinta era, a era dos «heróis», que contudo se verá ter só o significado de uma restauração parcial e espeSe o homem moderno, até a cial do estado primordial (1). A trauma época ainda muito recente, dição hindu tem a mesma doutriconcebeu o sentido da história na, sob a forma de quatro ciclos como uma evolução e o exaltou chamados respectivacomo tal, o homem da mente satyâ-yuga (ou Tradição teve consciência kortâ-yuga), tretâ-yuga, de uma verdade diamedvâpara-yuga e kali-yuga tralmente oposta a esta (que quer dizer «idade concepção. Em todos os obscura») (2), juntamente antigos testemunhos da com a imagem do desahumanidade tradicional parecimento progressivo, pode-se encontrar semno decorrer destes ciclos, pre, de uma forma ou de cada um dos quatro doutra, a ideia de uma pés ou apoios do touro regressão, de uma que simboliza o dharma, «queda»: de estados origia lei tradicional. A redacnários superiores, os ção irânica está próxima seres teriam descido a da helénica: as quatro estados cada vez mais idades são conhecidas e condicionados pelo eleassinaladas pelo ouro, mento humano, mortal e prata, aço e uma «liga de contingente. Este procesferro» (3). O ensinamento so involutivo teria tido o caldeu repete este ponto seu início numa época de vista quase nos mesmuito recuada. O termo mos termos. èddico ragna-rökkr, «creEm particular, mais púsculo dos deuses», é o recentemente encontraque caracteriza melhor se a imagem do carro do esse processo. E não se universo como uma quatrata de um ensinamento driga que, conduzida pelo que no mundo tradicional deus supremo, é puxada tenha sido expresso de numa corrida circular por uma forma vaga e genériquatro cavalos que repreca: pelo contrário, foi exsentam os elementos: as plicitado numa doutrina quatro idades corresponorgânica, cujas diferentes dem à sucessiva predoexpressões apresentam minância de cada um em grande medida um desses cavalos, que carácter de uniformidaentão arrasta consigo os Thor luta contra a serpente marinha Jörmungand durante o ragnaragna-rökkr de: na doutrina das quaou-tros, segundo a natutro idades. Um processo de decadência gradual ao longo de da tradição greco-romana. Hesíodo reza simbólica, mais ou menos quatro ciclos ou «gerações» — é fala precisamente de quatro ida- luminosa e rápida, do elemento este, tradicionalmente, o sentido des, assinaladas pelos metais ouro, que esse cavalo representa (4). efectivo da história, e por isso tam- prata, bronze e ferro, inserindo Embora numa transposição espe-

Julius Evola

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bém o da génese do que nós chamamos, num sentido universal, «mundo moderno». Esta doutrina poderá portanto servir de base às considerações que se seguirão. A forma mais conhecida da doutrina das quatro idades é a própria

1. HESÍODO, Op. et Die, vv. 109 e segs. 2. Cfr., por ex., Mânavadharmaçâstra, I, 81 e segs. 3. Cfr. F. CUMONT, La fin du monde selon les Mages occidentaux (Rev. Hist. Relig., 1931, nn. 1-2-3, pp. 50 e segs.). 4. Cfr. DION CRISÓST., Or., XXXVI, 39 e segs.


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