Livro 15 anos Espaco t

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anos

a transformar Homens em PrĂ­ncipes



“15 Anos a transformar Homens em Príncipes” Este livro pode ser um livro, mas mais do que um livro é um conjunto de histórias de uma Associação que um dia foram sonhos e se tornaram realidade; Histórias, também, de Homens e Mulheres que, na interacção com as outras histórias, transformaram os seus sonhos em realidade e superaram utopias, transformando-se em príncipes e princesas e quase tocaram o Céu! Deixe-se levar por estas histórias, lendo-as ao sabor do seu tempo ou então escutando-as enquanto, de olhos fechados, as imagina.



anos a transformar Homens em PrĂ­ncipes porto 2010



7 Nota de abertura de Emílio Rui Vilar Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian 9 Nota de abertura de Edmundo Martinho Presidente do Conselho Directivo Instituto da Segurança Social, IP 11 Prefácio de Jorge Oliveira Presidente do Espaço t 16-49 Histórias de “Príncipes” Afonso Vareta por Maria Antónia Jardim Alexandra Dias por Luís Trigo Alvaro Fernandes por Mário Cláudio Ana Rute Moreira por José Pinto da Costa David Silva por Paulo Ferreira João Pedro Gomes por Beatriz Pacheco Pereira Joaquim da Rocha Maciel por Teresa Lago Jorge Oliveira por Diogo Alcoforado José Pereira por Rui Reininho Laura Cruz por André Domingues Manuela Miranda por Carlos Coelho Maria de Lurdes Costa por Maria do Carmo Serén Miguel Ângelo por Carlos Magno Pedro Ribeiro Soares por Salvato Trigo Sara Leguisamo por Nuno Ferreira Vitor Costa por Elsa Semedo Yolanda Botelho por Helena Osório 51-81 15 Momentos

83-86 Conceito 87-96 Espaço t no tempo 97 Ficha Técnica 98 Agradecimentos 99 CD áudio


“15 Anos a transformar Homens em Príncipes” nota de abertura I


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No momento em que se celebram os 15 anos da Associação Espaço t, a Fundação Calouste Gulbenkian continua a acompanhar de perto o trabalho desenvolvido por esta importante Instituição Particular de Solidariedade Social. Ao decidir apoiar o respectivo Programa Comemorativo, em que se inclui a edição do presente livro, e cujo objectivo consiste em divulgar quer o espírito inovador quer a identidade da própria instituição, a Fundação está simultaneamente a reconhecer o trabalho desenvolvido e a incentivar a sua continuação. Considero que um aniversário constitui sempre uma oportunidade única para que as instituições façam um balanço do trabalho realizado, projectando-se no futuro e antecipando os desafios que poderão enfrentar. Criada em 1994, a Associação Espaço t “para Apoio à Integração Social e Comunitária” tem promovido um programa dinâmico de actividades de carácter social, cultural e de formação, centrado na inclusão e elegendo as artes e a criatividade como meios privilegiados de ultrapassar barreiras físicas, psíquicas, intelectuais e sociais. Vivemos uma época de grandes mudanças económicas e sociais e cabe-nos a todos, cidadãos e instituições do Sector não Lucrativo, ajudar a encontrar respostas eficazes para velhos e novos problemas, repensando o funcionamento em sociedade, numa lógica de complementaridade mas também de interacção com a intervenção do Estado. A aposta em novos modelos de gestão mais profissionalizados, o encontro de formas alternativas de sustentabilidade e a procura de soluções integradas são os grandes vectores do conceito de inovação social. O trabalho do Espaço T faz-nos acreditar que é possível traçar este horizonte de mudança, pela forma sagaz como cruza intervenções sociais rigorosas em áreas socialmente fragilizadas com rasgos de inovação vindos de áreas como as artes plásticas, o teatro ou a performance. Este livro, ao testemunhar criativamente o trabalho ímpar desta instituição, renova-nos a esperança e a convicção de que o Espaço t continuará a fazer melhor, fazendo diferente. Emílio Rui Vilar Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian


“15 Anos a transformar Homens em Príncipes” nota de abertura II


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O ano de 2010, ano em que a Instituição Espaço t – Associação para o Apoio à Integração Social e Comunitária celebra 16 anos de existência, foi instituído pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia como o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Para Portugal, esta decisão constitui uma oportunidade única para a assunção do imperativo colectivo de erradicação da situação de pobreza e de exclusão em que ainda vivem muitas famílias. Esta é uma luta que nos deve mobilizar a todos, entidades públicas e privadas, instituições de solidariedade e simples cidadãos em prol de uma sociedade muito mais inclusiva e capaz de garantir, a prazo, o bem-estar de todos os seus cidadãos. Nestas breves considerações introdutórias gostaria de reafirmar a importância da relação umbilical de colaboração entre o Estado e as Instituições da Economia Solidária para o combate à pobreza e à exclusão social e enfatizar o papel que estas últimas desempenham nesse combate. A relação do Estado com as Instituições de Solidariedade já fez um longo e frutuoso caminho. Esta colaboração tem por base o facto de o Estado reconhecer às organizações do terceiro sector um papel complementar ao seu na realização das finalidades sociais, através de uma rede de respostas sociais de proximidade que contribuem para a satisfação das necessidades dos cidadãos. A relação entre o Estado e as organizações do terceiro sector tem que ser uma relação dinâmica e viva, caracterizada pela cooperação e confiança, mas também pela responsabilidade e exigência mútuas. Ao Estado compete um papel central na promoção de políticas sociais adequadas e cada vez mais eficazes, para poder responder melhor aos interesses e necessidades dos cidadãos e, por outro lado, através do exercício das suas funções de regulação e financiamento, pode criar condições para que as organizações da economia solidária exerçam melhor o seu papel. O trabalho das organizações da economia solidária, como é o trabalho desenvolvido pelo Espaço t, gerindo vários equipamentos e respostas sociais e desenvolvendo vários projectos de luta contra a pobreza e a exclusão, é decisivo nesse combate. A rede de serviços e equipamentos sociais é o exemplo paradigmático dos serviços sociais de interesse geral prestados no âmbito da economia social e que se dirigem a todos os cidadãos. Mas esta rede tem também um papel fundamental na prevenção e na remediação de problemas sociais e de exclusão social, permitindo o acesso dos mais desfavorecidos aos serviços que prestam e contribuindo para a coesão social. Fundado em 1994, o Espaço t – Associação para o Apoio à Integração Social e Comunitária, é uma organização da economia solidária que tem estado na linha da frente no combate à pobreza e à exclusão social e um exemplo de um relacionamento frutuoso entre o Estado e as organizações da economia solidária. Para o cumprimento dos seus objectivos, no Porto, a Instituição tem em funcionamento, ao abrigo da cooperação desde 1998, a resposta social Comunidade de Inserção, onde em espaços diferenciados se desenvolvem múltiplas actividades cujo principal objectivo é a reinserção e (re)adaptação ao meio social de indivíduos desfavorecidos em situação de marginalização e tem também um Gabinete de Inserção Profissional (GIP) em cooperação com o Instituto de Emprego e Formação Profissional. O Espaço t não intervém apenas nos seus espaços, desenvolve também um trabalho muito importante noutros contextos, como as escolas, outras Instituições, espaços culturais e outros espaços educativos que trabalham com crianças e jovens em risco. O Espaço T é uma Instituição muito dinâmica e com um trabalho considerado inovador nas áreas da saúde e da acção social o que lhe vale o reconhecimento cada vez maior pelos seus pares e pela própria população. Por ocasião da celebração dos 15 anos de existência desta Instituição, com a publicação do presente livro, quero dar à sua direcção e a todos os que nela trabalham os meus sinceros parabéns e desejar que continuem a aprofundar o bom trabalho que têm vindo a realizar. Edmundo Martinho Presidente do Conselho Directivo Instituto da Segurança Social, IP


Prefรกcio


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Fecho-me no quarto, está tudo em ordem, A cama dobrada, o chão varrido, Uma jarra com flores frescas, Tudo em ordem, Menos eu… Este mau estar que me apertava o corpo fez-me crer que o sonho podia ser real. Foi assim o começo do Espaço t em 1994, quando a minha mente era um turbilhão de emoções vividas entre doentes assumidos/as a pedir olhares e artistas desejosos/as de os dar para não adoecerem. Percebi, então, que criar uma instituição como o Espaço t era a única forma de unir sem segregar, juntar os extremos e fundi-los através da Arte, como linguagem cognitiva das emoções. Hoje, passados, 15 anos envelheci mas cresci, transformei-me mas continuo achar que pouco está em ordem e eu também… Em pouco segundos, esta procura deixou de ser só minha, pois desde logo muitos/as juntaram-se a ela transformando-a na sua causa. Entendi que todos/as temos um Espaço t dentro de nós, apenas temos medo de o libertar. Com o Espaço t e a sua magia, um/a a um/a, começou a mostrar esse espaço e de uma pequenina ideia, transformou-se até aos dias de hoje, num turbilhão de ideias de muitos/as. Isso foi, talvez, o melhor sentimento de felicidade que pude ter. Afinal podemos ser mais do que meros seres humanos formatados; podemos pensar, agir e lutar por um Mundo de todos/ as e para todos/as, sem lamechice ou complacência, antes pelo contrário com contemporaneidade e dignidade, onde a inclusão é possível. Transformar “Homens em Príncipes” é a prova disso. Transformámos, não! Criámos condições para que Homens e Mulheres se recriem nos mesmos Homens e Mulheres com dignidade, com pequenas conquistas que fizeram uma pequena diferença nas suas vidas. Assim dezassete Homens e Mulheres, entre alunos/as e técnicos/as contam as suas narrativas pelas palavras de dezassete pessoas que acreditam no Espaço t, também elas heterogéneas nas suas vivências, com um único ponto em comum: a sua grande capacidade emocional de compreender o outro na sua plenitude. Muitas histórias ficaram por contar, mas estas são apenas o início para dar voz aos milhares de “Príncipes” que passaram por um espaço ideológico que também com o tempo passou a ser físico. Obrigado a todos/as! São eles/as os/as heróis/heroínas do Mundo porque são Homens/Mulheres que querem ser Homens/Mulheres. E porque com Homens e Mulheres também construímos ideias em projectos de sonho, pela luta da aceitação da diferença; Contamos quinze momentos, como pinceladas dadas na intensidade, quase dramática da existência do Espaço t; nestes 15 anos, também eles na luta pela sua afirmação. Com o apoio de vários/as parceiros/as construímos este livro simbólico. Um livro de sonhos, sonhos que se tornaram reais, onde outros sonhos já surgiram para não nos acomodarmos aos já reais. Jorge Oliveira Presidente do Espaço t

P.S. Acima de tudo nunca deixem de realizar os vossos sonhos, é a única coisa que podemos fazer por nós e pelos/as outros/as.



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Afonso Vareta por Maria Antónia Jardim Alexandra Dias por Luís Trigo Alvaro Fernandes por Mário Cláudio Ana Rute Moreira por José Pinto da Costa David Silva por Paulo Ferreira João Pedro Gomes por Beatriz Pacheco Pereira Joaquim da Rocha Maciel por Teresa Lago Jorge Oliveira por Diogo Alcoforado José Pereira por Rui Reininho Laura Cruz por André Domingues Manuela Miranda por Carlos Coelho Maria de Lurdes Costa por Maria do Carmo Serén Miguel Ângelo por Carlos Magno Pedro Ribeiro Soares por Salvato Trigo Sara Leguisamo por Nuno Ferreira Vitor Costa por Elsa Semedo Yolanda Botelho por Helena Osório

Fotografias dos Príncipes de Luís Miguel Ferraz e Maria João Calisto


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AFONSO VARETA

“Eu sou t de alma e coração!” Afonso Vareta nasceu em 7 de Novembro de 1952, é Escorpião e tem uma história de vida que é como as ondas do mar, um vai e vem de peripécias sempre diferentes que ele percorre como afirma “sempre a correr”! Sempre de sapatilhas, fora e dentro do país, associando as viagens ao ouro negro! É daqueles que vai comprar um maço de cigarros e volta passados cinco dias para casa! Vai comprar um barco a Baiona e leva 9 meses a chegar ao Porto! É o prazer de gastar quando o dinheiro abunda na carteira! Chapa ganha, Chapa gasta! É o lema! Depois veio o Bar e a discoteca, servir atrás do balcão! O prazer, a bebida, os encontros, a folia! Tanta gente e todas elas “Janelas” com quem se aprende! Um belo dia, crise no casamento, crise nos bolsos, Truz, Truz! Espaço T? Posso entrar? E entrou! E fez uma integração que segundo esta personagem de carne e osso é difícil, complicada já que foi encontrar examigos da droga, e aí começa a figura de estilo mais usada no nosso dia-a-dia: a comparação! Ele, Afonso Vareta, compara-se aos demais e isso deu-lhe força! Deu-lhe a força necessária para dizer o que lhe vai na gana, sem ter medo de chumbar no olhar dos outros! Consegue sobreviver à violência da sobrevivência dos ex: amigos, dos bichos, que se tornaram gente mas no início foi assustador, mais parecia um Zoo humano! Hoje está grato pela experiência, acha que uns e outros foram “Janelas de aprendizagem”, que se ensinaram uns aos outros, verdadeiros Mestres de histórias de vida que se contaminaram e se enriqueceram numa liberdade responsável, nesse Espaço Total que é o Espaço T! O que mais o impressionou foi o desejo de aprender e a motivação dada pelos formadores! Hoje tem esse sentimento que é de pertença, de vinculação, mesmo e considera catártico o vómito despejado no Espaço T! Do deficiente profundo ao inteligente com dificuldade, ele conviveu com todos e todos lhe ensinaram algo único e poderoso! Afonso Vareta é um homem com humor, que vê o presidente o Espaço T como um pai, ainda que distante e aquele Espaço como uma Casa de todos, familiarmente próxima e por isso diz com orgulho e carinho no olhar: “Eu sou T de alma e coração!”!

Por Maria Antónia Jardim Professora Associada da Universidade Fernando Pessoa Especialista em Psicologia da Arte



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ALEXANDRA DIAS

Para lá do centro do Mundo A tarde avança com a agitação costumeira na oficina de jornalismo. Risos, discussões sobre um Mundo esquisito lá fora. O habitual. A Alexandra conta-me os pormenores do seu concerto na Casa da Música baseado na “Viagem do Elefante” de Saramago e solta um sorridente “espectacular!”. Uma aluna nova entra, resmunga, lamenta-se da sua sorte. “E então que tal fazer alguma coisa para jornalismo?” pergunto eu para trazê-la para a oficina. Não há cabeça, porque o azar é demasiado grande... Todos os presentes tentam confortá-la, mostram-lhe que não está só. Não importam, servem apenas para confirmar a sua má fortuna. E apenas conseguem desagradáveis comentários piedosos que não pediram. O centro do Mundo é demasiado absorvente. Parece que a existência de outras pessoas é apenas um acidente que tem de se suportar. As caras fecham-se. O silêncio indica que já chega! Ao meu lado a Alexandra levanta a cabeça e interpela-me, “sabes, eu já fui assim!” Na verdade não sei, sempre conheci a Alexandra risonha e brincalhona, sempre à procura de novas experiências. Quase me remete para um tempo de fábula que nos apela a sermos condescendentes com as almas escuras que por vezes nos assombram. Nalgum momento já todos fomos assim! Houve um tempo em que um fardo tornou-se demasiado pesado para carregar. Um fardo demasiado inimaginável para suportar. Um fardo que de bom grado se partilharia com todo o Mundo ao redor, mas multiplicado por infinitos, dada a impossibilidade em o compreender. Ah, o telefone! Os amigos deveriam estar sempre disponíveis para partilhar este peso! E as perguntas, sempre as mesmas perguntas a ecoarem na cabeça, “Porquê?”, até se transformarem num transe sem sentido, sem fim. “Para quê?” A vida não é simples, mas parece ser mais agradável quando nos libertamos de nós próprios e reparamos que existem pessoas que gostam de nós, que são como nós – pessoas extraordinárias que não merecem o fardo que lhes queremos impor. Levanta-se voo e aterra-se. O tempo ganha sentido porque é dominado. Como um cavalo dócil que de quando em vez nos atira ao chão. E um atordoante galo que se transforma numa gargalhada partilhada. Há dez anos, a Alexandra entrou no Espaço t. Diziam-lhe que tinha “actividades fixes”. E assim foi: teatro, expressão corporal, canto coral, jornalismo... Mas só o tempo e os amigos que aí fez lhe mostraram como desfrutar dessas actividades. E depois também começou a apreciar as pequenas coisas: o Sol, a areia, uma esplanada na Foz... “espectacular!” E a ter paciência para se apreciar a leitura de um grande calhamaço. Faço um dos disparates habituais à frente do computador. A Alexandra encosta a cabeça no meu braço e solta uma enorme gargalhada... “Sinto-me uma mulher cheia de coragem!”, e continua “sabes que vou voltar à escola para fazer o 12º ano?” Trata-se de um bom pretexto para festejar, como se estivéssemos na passagem do ano: “Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil...” E muitas gargalhadas...

Por Luís Trigo Formador no ateliê de Jornalismo do Espaço t


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ÁLVARO FERNANDES

Exultação A nota maior de uma natureza artística, ninguém o contestará, coincide com o poder de transmudar a experiência da perda em substância nutriente de um húmus de criação. A doença, tanta vez indistinguível do talento, e mesmo da genialidade, confronta-nos com a urgência de reflectir sobre os enganos de um teórico padrão, e sobre a prolífica vantagem de muito que a ele se opõe. Daí que se nos abra nas pinturas de Álvaro Fernandes uma oportunidade de aprendizagem que é também fruição. Varanda para um mundo jubiloso, coberto por ubíquas plantas, habitado por animais variegados, e que se destaca de um fundo onde triunfa o arco-íris, o quotidiano de Álvaro Fernandes enriquece-se pela visceral apetência de excluir dos dias a nuvem que tolda o sol, e pelo engenho natural de estruturar as horas em função do movimento das linhas, e da colocação das cores. Não procederiam de maneira diferente os grandes pais da invenção, conscientes da inesgotabilidade dos recursos que repõem a vida, e da permanência dos gestos que a reabilitam. Mas um outro dom das musas visita o autor destes quadros, a habilidade inata de recuperação da inocência, horizonte para que tendem, ainda quando ignoram o sentido dos seus passos, os artistas de todos os tempos, e de todos os lugares. Há nos trabalhos de Álvaro Fernandes ressonâncias e fragmentos, tonalidades e transparências, que lembram os mestres, um Klee, um Rothko, ou um Marc, mas não será isso o que mais haverá de importar. Na energia da mão que não desiste, e do olhar que não se desvia, residirá porventura o coração do segredo deste homem, e de nós que com ele cruzamos, por momentos o acompanhando na colectiva peregrinação. Não bastará tudo isto para que nada se esqueça, e até aquilo que corre para o esquecimento de si?

Por Mário Cláudio Escritor


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ANA RUTE MOREIRA

Sentados, frente a frente, após a convencional saudação de Bom Dia, um olhar e duas palavras iniciaram o convívio. Trespassa da personalidade da minha entrevistada a satisfação, o prazer vivido de estarmos ali, sem destino, sem objectivo, apenas para conversar sobre tudo e nada ao correr do tempo, com inerente simpatia, afectividade, simplicidade em ser e em sentir. Apenas nos separava uma constituição cromossómica. A minha com 46 cromossomas e a dela com 47, um a mais no cromossoma 21. O grande óbice da crise existencial é que as pessoas falam uma linguagem que o outro não entende. A presente entrevista à guisa de conversa despreocupada, resultou no entendimento fluente de vivência dos momentos que iam passando. Era um dia frio de Outono, com algumas folhas amarelas caídas na rua a caminho do Espaço T. Encontramo-nos lá, a Ana Rute e eu, como o combinado, eram dez horas. Com a reserva natural do desconhecido ela fitou-me. Jovem mulher de 37 anos de idade vividos como filha única de um segundo casamento da mãe que já tinha dois filhos com quem Ana Rute tem óptimo relacionamento. Pertence ao grupo de teatro do Espaço T. Desportista com um percurso pelo Futebol Clube do Porto, Académico e Vigorosa. Aprende música e costura na Escola Condessa de Lobão. Ocupa-se no Infantário Santa Teresinha. Na simplicidade e verdade do seu discurso transparecia a afectividade muito habitual no tipo de patologia que possui. É habitual, os pais de filhos com estas alterações vincularem-se à diferença com laços incontestáveis de mais afectividade. Ana Rute é encantadora. Não era necessário propor questões. Da sua fala, com vislumbres de prazer, brotou o que era, o que sentia e o que desejava. “O pai não vive com a mãe. Não se entendiam. Foi melhor assim”. Ela dava-se bem com ambos. O pai era aquele senhor que foi buscá-la a casa e que a acompanhou ao Espaço T para conversarmos. A mãe ficou em casa aguardando o regresso da filha no estreito relacionamento aprofundado por uma dependência psicológica mútua. Conhece muito do país! Vive em Paranhos. Andou pelo estrangeiro em competições internacionais, nos Estados Unidos, no Canadá e em jogos para deficientes em Portugal. Cerca de cinquenta medalhas algumas de ouro entre as de prata e de bronze. Bordados e toalhas fá-los com gosto. Também gosta de teatro. No cinema gosta muito do Titanic. Chora com a cantora. O seu sonho era fazer telenovelas. Conhece quase todas as tele-

Por J. Pinto da Costa Médico e Professor Catedrático

novelas destacando as suas preferências. Talvez Marx não sublinhasse “A religião é o ópio do povo”, originariamente apresentada por Hegel (1844) se nesse tempo já existissem telenovelas. “Vou fazer um artigo sobre a sua vida, vamos ver se gosta?” “É uma pessoa bem-disposta. A Ana Rute é uma pessoa feliz?” “Sou mais ou menos. Eu não gosto é de ficar triste. Sou bemdisposta, exacto. Não gosto muito de segredos. Não gosto que as pessoas berrem comigo. Eu sou calma, não gosto que as pessoas mintam. Detesto isso. Namorado não tenho nenhum. Gosto de ficar solteira.” Dedica o seu carinho aos sobrinhos. Tem as suas amigas. Não está só no mundo, muito bem acompanhada. As pessoas gostam dela. Para o trabalho uns dias vai de autocarro outros de automóvel acompanhada por um irmão ou por uma senhora amiga. Não anda sozinha não porque tenha medo mas porque a mãe não permite. “Coração de mãe, desde pequenina que não deixa, ouve as notícias de rapto de crianças, só por isso…” Levanta-se cedo sempre bem-disposta. Gosta de escolher a sua roupa. À noite não se deita sem beber um copo de lei, é o seu calmante. “Gosto de passar a ferro, não queimo a roupa. Dá azar. Gosto de dobrar a roupa.” “Aqueço o meu pequeno-almoço, leite simples, sem açúcar. Quando era pequena entrei em coma. Punha açúcar no sangue. Peso 50 quilos.” “Quanto mede?” “Um metro e trinta e nove. Às vezes tenho consulta e tenho de ir à minha médica de família. Já fui ao Algarve nas férias e a Palma de Maiorca com a minha mãe” Vou ver se consigo interpretar bem a minha entrevistada. Ana Rute é feliz. Não é preciso conceptualizar a sua felicidade, oscilando desde o contentamento ou satisfação até à alegria intensa ou jubilo. É o seu bem-estar ou paz interior. Felicidade é sentir-se bem num baloiço que sobe e desce sem parar. A Ana Rute tem a alegria de viver por isso é feliz. Pode ser que um dia a veja numa telenovela. Prouvera que houvessem muitas Anas Rutes felizes como esta, amparadas e estimuladas, compreendidas, projectando o amor da família pelo acompanhamento em instituições louváveis, como é o Espaço T.


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DAVID SILVA

Por Paulo Ferreira Sub director Jn

Caro David, Quero, antes de tudo, fazer uma confissão: quando a Cláudia (espero que ela me permita a informalidade) me contactou para participar nesta meritória iniciativa do Espaço t, várias dúvidas me assaltaram. Tantas que estive à beirinha de recusar o convite. Ainda bem que o não fiz, porque foi um prazer conhecer-te. Ou começar a conhecer-te. Sim, mantém-se de pé o convite: eu, tu e a Deolinda havemos de ir ao Estádio do Dragão. Para desfrutarmos do extraordinário futebol da nossa equipa. E para entabularmos as conversas que nos vierem à mente, sem que o tempo e as tarefas quotidianas nos apoquentem. Quero que me contes, já liberto da montanha-russa de emoções com que apareceste aqui no jornal, como é que tu, rapaz de 44 anos, conquistaste, afinal, a Deolinda, moça de 48. Soube-me a pouco o que me disseste no nosso primeiro encontro: um par que se pede em casamento ao mesmo tempo tem uma história muito bonita para relatar. Os teus olhos brilharam quando, de raspão, lhe traçaste o perfil: “É risonha, faz-me rir. E decora tudo. Eu nem metade decoro”. A memória dela e a tua capacidade de gestão são, se bem te entendi, importantes para manter no trilho um orçamento mensal de 1320 euros. Ela sabe o que é preciso a cada momento; tu sabes o que podem despender a cada momento. É um belo exemplo, David. E não é um exemplo ao acaso: creio que este gosto pela gestão tem algo a ver com a tua passagem pelo Instituto Superior de Contabilidade e pelo gosto que terias em seguir Economia. Está-te nos genes, portanto. Lá na Sonae, onde tu e a Deolinda trabalham há quase duas décadas (ela em Gaia, tu em Matosinhos), imagino que o vosso trajecto, carregado de curvas e contracurvas por causa da doença que vos atrapalha mas não vos vence, seja visto e acompanhado com carinho pelos vossos colegas. E estou certo de que fazes mais do que “o possível”, como singelamente me disseste. Fizeste questão de sublinhar que, “às vezes”, enervas-te, és “desconfiado” e aguentas mal a “pressão no trabalho”. Tu e todos nós. Nisso, como em tudo o resto, nada te distingue do comum dos mortais. À noite, recebes a recompensa: reencontras a Deolinda, depois de mais um dia de árduo trabalho. Tudo se compõe…

E, claro, tens o Espaço t. Percebe-se com absoluta nitidez que é aí que te encaixas melhor. “O convívio faz-me bem. “Gosto de fazer teatro”. A Cláudia explicou-me que, há tempos, numa actuação no Rivoli, chegaste ao ponto alto da tua “carreira”. De resto, a importância do Espaço t na tua vida fez com que levasses para lá a tua Deolinda, depois de a conheceres no trabalho. “O teatro liberta-me”, disseste no nosso encontro. Pareceu-me que, com a Deolinda por perto, liberta-te ainda mais… Bem sei, David, falta a maçada dos comprimidos que estás obrigado a tomar diariamente, os interregnos para tratamento por causa das recaídas, a consciência de que a tua doença é hereditária e irreversível, as consultas semanais… A tua luta não pára. Não pode parar. Sabes? Lembrei-me agora de um Prémio Nobel da Literatura: o T.S. Eliot. Ele escreveu um dia – e cito-o de cabeça – que o fim está no lugar donde partimos. A frase é bonita. Eu entendo-a assim: a cada tarefa cumprida, bem ou mal, tem de seguir-se uma outra. As tuas tarefas são gigantes. Força, David. Fica com um abraço amigo do Paulo Ferreira


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JOÃO PEDRO GOMES

Dizia-me a freira empertigada, “Somos todos iguais”, frase esta que, em plena ditadura, era quase uma aberração de tanto implicar democracia, liberdade de costumes e repartição de haveres. Depois comecei a ver que não, não éramos iguais, nem um pouco. E nem mesmo as freiras do colégio eram iguais, apesar do hábito semelhante - umas com toucado de tule, outras toucado de linho. Umas com as mãos cuidadas, outras não. Iguais? Anos depois, já noutra fase do país, li George Orwell que dizia “Somos todos iguais mas uns são mais iguais do que os outros”. Era uma variação no tema mas a música na altura também já não era igual, era outra. Não éramos, de facto, iguais. Então e hoje. Não somos iguais mesmo. E não sendo iguais, somos diferentes, o que é para mim, uma ideia muito mais saudável. E não é só no aspecto exterior, altos, baixos, magros, gordos, é também no aspecto interior, pensando todos de modo diferente, a mostrar que o nosso cérebro também é diferente, como é diferente o nosso estômago, o fígado, o tamanho do coração. Depois, somos também distintos no modo de pensar, mais claramente diferentes sobretudo os seres criativos, lógicos, emotivos, filosóficos, felizes ou infelizes, bem sucedidos ou não, conforme o que fazemos por nós e o que nos deixam fazer, generosos ou avaros, de fácil sorriso ou sisudos. De facto, lá no fundo somos maravilhosamente complexos em muitos níveis. Por isso o ser humano é tão fascinante. Porque, na sua esperada variabilidade de corpo e alma, surpreende sempre. Viva, pois, a diferença que nos faz tão interessantes. Vem isto a propósito do João Pedro e da sua magnífica vida. Primeiro porque quis sempre ir além das possibilidades imediatas, estudar, completar o 9º ano de escolaridade e fazerse homem de trabalho. Ter uma doença não o incapacitou para a vida dita “normal” onde as diferenças, sobretudo as que não são visíveis, limitam muitos portugueses pela apatia, pela conformidade, pelo imobilismo. Tudo isto lhe é alheio. Multifacetado, impulsivo, empreendedor, João Pedro foi mais longe ao lançar-se na vida numa área onde é difícil sobreviver - no campo das Artes, naqueles mundos da sensibilidade, da estética, da criação, onde os sonhos se tornam palpáveis. Faz fotografia para “escrever” o mundo aos seus olhos e percorre as casas, os animais e as gentes com os olhos que descobrem o que os outros não vêem. Diz, no entanto, que o Teatro é “a sua grande paixão” - assim mesmo - paixão. Foi já actor e assistente de encenação em muitas peças e vê-se o orgulho com que as enumera. “Amor em Pó”, “ Terror e Miséria no III Reich”, “Fragmentos” e muitas outras. Bom desportista, participou ainda na Gimnaestrada Mundial na Áustria e espera ir à Suíça em breve para outra edição do evento. Fala com entusiasmo das filmagens de um videoclip em que irá participar dentro em pouco. E das exposições de fotografia que realizou individual e colectivamente e onde vendeu obra sua. Mas não é só o que vai ainda fazer que o toca. Sente-se nele o orgulho de um passado, de quem está consciente de que, apesar das limitações que sabe ter, já chegou a algum lado. João Pedro. 28 anos. Portador de Trisomia 21. Artista. Actor. Fotógrafo. Homem do mundo e do seu mundo.

Por Beatriz Pacheco Pereira Escritora e directora do Fantasporto


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JOAQUIM DA ROCHA MACIEL Nas comemorações dos 15 anos do Espaço t, e com vista ao livro “15 anos a transformar Homens em Príncipes”, aceitei o convite para apresentar o Padre Joaquim da Rocha Maciel, um dos seus fundadores e Presidente da Assembleia Geral. Porque o não conhecia, pessoalmente, organizou-se um encontro para que, de uma conversa informal, pudesse “nascer” a história. Preparei-me recorrendo à internet, li com atenção a meia página curricular que encontrei, pensei sobre o Espaço t e a sua estrutura, a sua estratégia, as suas diversas iniciativas, etc. E avancei preparando três ou quatro perguntas que me pareciam poderem ser esclarecedoras. Mas o encontro começou logo com surpresa. O meu “entrevistado” era afinal... de uma enorme comunicabilidade, de um entusiasmo transbordante, falava com tal jovialidade que obrigava a uma imensa empatia. E a surpresa foi crescendo ao minuto! De onde lhe vinha tamanha abertura, tal dimensão humana de compreensão e sensibilidade? Tal diferença em relação ao meu preconceito sobre “um padre”, mesmo que Carmelita? E as perguntas preparadas foram ficando inúteis face às muitas outras, quase não feitas, enquanto me descrevia o seu riquíssimo percurso de vida. De aprendizagem pelo Mundo, como ele me explicava. De uma vida cheia, marcada pela curiosidade de descobrir outros lugares e outras gentes. Uma vontade de conhecer, que o não limitou à Europa em vários anos, e em diversos países e locais. Uma vida que se desenrolou em procura, que se percebe só poder ter sido intensa: cerca de oito anos no Brasil, na década de 80, seguidos de mais seis anos no México, e, finalmente, o regresso às origens. Uma vida estruturada em torno do estudo e do ensino de Sociologia e Filosofia, por necessidade própria, como me explicou. Mas norteada pelo imenso respeito, que transmite pela diferença, e pelo apreço do outro, mesmo que esse outro seja o alcoólico ou o drogado anónimo. Gente muito magoada, diz-me, que há que ouvir. Cuja experiência de vida conta. Que há que respeitar. E ajudar a reconstruir o autorespeito. Sem receitas, “porque elas não funcionam”. Uma vida plena, de trabalho em torno da droga, cujos resultados entre nós conhecemos melhor através do “Projecto Vida”, que foi seu, e agora do Projecto t de ambição social exemplar. Uma vida intensa. Plena de fé, que me referiu ter que ser alimentada pela própria vida e testemunho. Uma vida cheia, resumida num tempo que me soube demasiado curto. Esta é a “minha história” que vos conto. Porém, não sei descrever a profunda impressão, a admiração e respeito, que esta primeira conversa com o Padre Joaquim da Rocha Maciel me deixou. Mesmo não sendo eu crente. A não ser no real valor das pessoas, na sua diversidade.

Por Teresa Lago Investigadora e Professora Catedrática


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JORGE OLIVEIRA “Autrui, pièce maîtresse de mon univers” Michel Tournier

Por Diogo Alcoforado Professor Universitário

« Je voudrais reunir, je voudrais identifier presque la poésie et l’espoir » Yves Bonnefoy

Há terras necessariamente poéticas : aquelas onde correm rios, e, mais ainda, as terras à beira mar. Elas contêm, em si, a mobilidade contínua, a fluidez, a concretização exacta, e corrente, dos contrários. Uma abertura única. E mais: uma luminosidade diferente, feita de fulgurações, e brilhos, e reflexos, e oscilações de cores e de tons; e uma leveza, e frescura, que o vento e as brumas impõem. Viana do Castelo tem rio, e tem mar. E montes; e horizontes amplos, perspectivas quase ilimitada. E é azul, e verde, e branca, e cinza, e rosa; e é cor do ouro, caindo sobre o negro nocturno que em cada peito existe. Jorge nasceu e cresceu em Viana do Castelo. Vive e trabalha no Porto. Poderia ele ter nascido e crescido, e hoje construir o seu destino em uma qualquer terra que não fosse perto do mar? Mesmo sem querer recuperar determinismos oitocentistas, duvido. Ele possui a inquietação e a força, a variabilidade ágil e a atracção pela diferença, a percepção aguda do perigo e de um abismo matricial que a gente da costa, entre as suas virtudes manifesta; e sobre tal base, também como tal gente, possui a esperança. Querer ser actor e ser enfermeiro, e ser ambas as coisas, tê-lo sido, é, de um só golpe, revelador: por uma e outra via é o encontro com o Outro, com o misterioso e omnipresente Outro, que está em causa. Ajudar o Outro, doente ou necessitado, ou construir um Outro, ficcional entidade provisória, são dois meios díspares de, pela saída de si, pelo esquecimento de si, temporário embora, a si voltar, equilibrado, cumprido. Diga-se: o máximo da afirmação passa pela intercalar perda; pela descoberta atenta de uma exterioridade valiosa e partilhável. Assim, da prática terapêutica oncológica, ou psiquiátrica, ou…, ao palco de um teatro, só uma ligação consequente existe: a que os gestos de uma sempre diferida, mas comprometida tensão, podem estabelecer. E estes gestos serão os que uma necessidade externa, e reconhecida, comanda; e, ao comandar, liberta. A singularidade radical do destino humano, o carácter agónico, quase trágico, da existência, estão aí presentes; e procurar o Outro, descobri-lo, é o meio indirecto de uma possível descoberta (?) fundamental: a do Outro de si – mesmo, do seu fundo, do seu avesso. O seu espelho; a sua “máquina”. Escusado invocar, os grandes teóricos, de Aristóteles a Freud, ou

a Deleuze Jorge tê-lo-á percebido cedo. A catarse, a acção e a estrutura ôntica da pessoa correm lado a lado, em implicação recíproca. A fundação do Espaço t (t de total, como Jorge gosta de acentuar…) parece remeter para essas experiências fundadoras. O salto, aqui, foi outro: o da construção, a partir de uma necessidade social evidente, de um espaço terapêutico (t ainda…) assente na convivialidade orgânica e em exercícios de desenvolvimento e de auto-equilibração a que tendemos a chamar “artísticos”! Para Jorge, o processo inicial tornou-se público: a exigência alargase, a responsabilidade cresce. Mas o gestor, que o actor, e enfermeiro, também academicamente é, não se dobra: ao invés, desdobra. Multiplica possibilidades, imagina, realiza, pensa, pede, avança. O mundo, uma pequena parte do mundo, poderá ficar melhor. Os cerca de oitocentos utentes do Espaço t, espalhados por lugares vários, são já muita gente. Gente de franjas sociais, múltiplos desencontrados de caminhos díspares, diminuídos físicos, por nascença ou sujeições acidentais, adictos de fantasmagóricas drogas em curso de tratamento, jovens ou menos jovens, todos em busca de recuperação ou de reinserção, talvez só, até, de alguma atenção. De respeito. De carinho. Mas, por certo, um grupo heterogéneo; e de contornos difusos. Um grupo de um tipo que eu, sempre distante, nunca conheci; mas grupo que nos obriga a um pensamento diferente, que exige uma humildade acrescida, que impõe o regresso desperto à mais básica, e problemática das realidades. Falei com Jorge, há dias, pelo telefone, numa tarde cinzenta e triste. Inaugurava-se uma exposição no Espaço sede, mas dispôs-se à conversa; e foi uma conversa boa, e longa. Falou-me de muita coisa: da cidade, da crise, de pessoas que conhece e estima, do doutoramento que prepara, de arte, de teatro, dos frequentadores da instituição que dirige, de morte e de esperança. Falou-me sobretudo, daquilo que, através de todas as vicissitudes, parece ser o seu único objectivo: o acesso à felicidade, a uma Felicidade sempre possível, pessoal e discreta, partilhável, a que todos são chamados. Todos, a começar pelos mais improvavelmente capazes de o verem. Os Outros; cada Outro. Falou-me da Vida.


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JOSÉ PEREIRA

Por Rui Reininho Músico

Os ISENTOS José Pereira é um isento. A sociedade que o rodeia responsabiliza-o por variadíssimas coisas e isenta-se do mais importante: abstém-se de o incluir activamente. O Zé tem a cor da uva tisnada pelas encostas do Douro, Um olhar doce como as fatias da sua Resende onde deixou quase metade da sua vida de romarias, em que foi parido com o resto do rebanho; do pai violento e ausente herdou a masculinidade, a matriz portuguesa. Da mãe, ficaram as saudades, o gosto pelos sons que tribalmente chama de música: “sassaricando é que se está bem”. Zé Pereira está melhor, menos encharcado em problemas e medicamentos: descobriu um Norte no Espaço T, amigos e amigas também, uma alcateia, uns mestres e um palco para cantar. Até aqui, tudo bem, ele até podia ser ladrilhador, sócio de trolha, menino de outras alianças com a família mas os irmãos queixam-se que ele se queixa. O Zé Pereira, fino como os tocadores de bombo não gosta que lhe toquem e não podia ter mais razão: que raio de ideia as pessoas estarem sempre a querer mexer umas nas outras. Ainda se fosse com a desculpa de estar na aula de Expressão Corporal, uma das suas favoritas, uma espécie de Teatro do Absurdo, um mundo de sonhos para artistas acordados...mas não, cantar é que é: compor as músicas e interpretá-las com o nervoso miudinho de recriá-las perante os outros distraídos. A música? Nada de pimba, diz ele, nem electrónica nem ópera bufa. A música da terra, as modinhas, os cantares, sempre, sempre se pudesse só cantar, mais um café, as suas coisas, as raparigas, musas de água doce! Senão ouçam as Suas Belas Canções: “Querida Elisa, Cigana Linda Tu és a luz do meu Coração” “Oh Fernanda, Oh Fernanda, Oh Fernanda, a cabecinha onde é que anda..” “Bikiniki ...esta Miúda dá-me cabo da Cabeça” O José Pereira vai gravar, quando puder, porque ele tem tanto ou mais a dizer do que quem lhe diagnosticou uma esquizofrenia simples numa consulta isenta mas que paga a sua dedicação, a sua cota: ele e os outros deviam ser ouvidos, a sua voz na aldeia global é tanto ou mais importante do que a do padeiro, o banqueiro ou o polícia da Régua. Obrigado, Amigo Zé, “sassaricando” é que se leva a vida!


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LAURA CRUZ

Por André Domingues Formador do Ateliê de jornalismo do Espaço t - Trofa

Por detrás do espelho 1. A vida cabe toda num quadro. Principalmente se o pintor souber usar a perspectiva e o leitor quiser ler em profundidade: são técnicas mistas, de parte a parte, mas vale a pena ver a vida pintada em baixo e alto-relevo, indistintamente, dentro de um quadro. Um quadro que se projectasse por detrás de um espelho e dos seus reflexos habituais. A tela teria de ser como uma radiografia intuitiva, uma película privada e sentimental. Como uma vertigem no tempo, ao fundo da noite mais funda que cada um de nós se habituou a habitar. Desde sempre, para sempre, lá na sua galáxia incomparável. 2. Laura Cruz coube toda dentro do seu quadro: “Vi a minha vida por detrás do espelho”, diz, com o assombro da personagem do Carroll nos olhos brilhantes, e a tenacidade conquistada a pulso na gravidade de cada manhã. Tem agora 40 anos, mas há qualquer coisa que nos diz haver um pouco de todas as idades do mundo na sua face. O seu sorriso é como o de uma criança que tivesse privado de perto com a verdade: breve mas significante. Um dia, há alguns anos atrás, o Espaço T convidou-a a entrar numa metáfora. Laura estava mesmo à espera de um espaço para materializar tanto tempo acumulado. Por isso, aceitou logo o convite e entrou. 3. Outubro de 2007. Numa das aulas do atelier de pintura do Espaço T, Laura entra por detrás do espelho e reencontra o seu passado. Quando veio à tona contou com cores como tinha sido a viagem: “pintei um quadro sobre a minha vida”. No quadro vê-se um frasco negro, ao centro, fechado. Dentro, Laura Cruz subentendeu um mundo de prognósticos reservados, falsa futurologia, reprovações várias: “todos os médicos diziam que eu nunca iria ser uma menina como as outras. Mas quando as pessoas dizem que não vou conseguir é quando tenho mais garra. Sou muito teimosa”. Felizmente, a teimosia de Laura está cheia de estrelas e bons presságios. 4. Mas o frasco negro é apenas um dos elementos do quadro. A tinta branca escorre sobre um corredor que divide o mundo em dois lados iguais. São dois aposentos refutados pela escuridão: para tanta noite contribuíram as dificuldades por que sempre passou, por todo o corpo e em toda a parte, e a imperdoável morte da mãe: duas formas de luto insustentáveis. 5. No entanto, o tema do quadro é a superação. E algumas cores claras insistem no diálogo com uma luz decisiva, a norte de todos os arcanos, que um amarelo quase extraterrestre aceita amplificar. E a incidência de uma barra vermelha, uma meta que se afasta progressivamente de si própria, à medida que se descobre ultrapassada. Este é o quadro de Laura; a vida de Laura, entretanto remisturada no quadro. 6. Quando Laura Cruz regressou da viagem, vinha suja de tinta e nos cabelos ardiam ainda alguns reflexos raros. O seu quadro estava pintado, quer dizer, agora ela tinha o mapa da sua vida nas mãos, as cartas topográficas do passado, pequenos tratados sobre o que pode um desejo imenso diante de um destino que ameaça ser literal. 7. Para além do quadro, há ainda um livro sobre a vida de Laura: “Quero mesmo escrever um livro. É mais uma etapa”. Um livro que já está publicado na sua determinação. Quando aparecer nos escaparates, é natural que tenha uma tiragem de infinitos exemplares.


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MANUELA MIRANDA

Por Carlos Coelho Criador de marcas Presidente da Ivity Brand Corp

Uma conversa de engomar, com a Princesa Manu-Ela. Ela entrou na sala com o pé direito, não fora algum dos azares da sua vida querer entrar na nossa conversa. Manuela nasceu na Foz de um Rio de cromossomas erráticos que levaram os seus pais a inundá-la de protecções que lhe afogaram a doença e a confiança em si mesma. Não teve, contudo, uma vida inactiva. Foi audaz, mentiu, ocultando a sua doença e foi contratada como auxiliar da acção escolar onde trabalhou durante 12 anos. Nem sempre conseguiu, mas quando podia trabalhava de dia e estudava à noite, e aos poucos fez o 11º ano de administração e contabilidade. Foi nessa altura que aprendeu a desenhar geometrias e a adorar química: as fórmulas, a tabela periódica, os aniões e os catiões. Uma paixão pela química da vida que lhe fez superar o sofrimento com que viveu o impedimento de conseguir pedir ajuda, sempre que se sentia só e ninguém ouvia o seu silêncio. “Não pusemos o pai no lar, vamos pôr a Manuela”, diziam os irmãos e Ela sofreu muito a ouvir isso. Mostrando que era capaz, acompanhou o seu pai, sozinha, até que em mais uma madrugada escura de si só, ligou para o médico mistério que lhe desamarrotou a vida, perguntando-lhe se conhecia o espaço T. Manuela procurou e encontrou. Marcaram-lhe para vir numa segunda-feira. Pensava que abria às 9h mas afinal era só as 10h e, com “o rabinho entre as pernas” e a esperança a transpirar entre as mãos, lá veio Ela, Manuela, com o pé direito, cedo, à procura do espaço que tardava na sua vida. Manuela era, como faz questão de dizer, muito apelativa. Tomava muitos comprimidos para chamar à atenção. Diz que uma vez se olhou ao espelho e, como não gostou do que viu, quis solucionar-se em comprimidos. Hoje sabe que essa fuga não é solução, solução é hidroginástica, diz sorridente. Ela já não conhece essa Manuela de 2003. Dizem que era muito “murcona” quando aqui chegou. Hoje Manuela é uma princesa faladeira, que apanhou o gosto por escrever e pintar o que sente de uma vida que passou a ser uma corrida de fundo, onde usa o cavalo como um símbolo de ultrapassagem dos seus obstáculos. Tem Facebook desde Dezembro de 2009, deram-lhe no Natal como diz. Nunca teve muitos amigos. Foi trabalhar e não sabia distinguir amigos de colegas. No espaço T aprendeu o que eram amigos

e agora tem mais de noventa, verdadeiros e virtuais e que lhe dão muito apoio. No espaço T, Manuela aprendeu a ser calma, a ser coordenada, a saber esperar, a ter a consciência de que o que não se consegue logo se consegue aos poucos. Sente o espaço bonito e arrumado e isso estimula-a a arrumar a sua casa e a sua alma. Para Manuela o espaço T é um espaço aberto, não é dependente, é um espaço livre de ajuda, não é um espaço de horas marcadas, não há faltas. “Vamos comer lá fora e isso cria-nos autonomia, dá-nos força para lutar.” Aqui pode expandir-se e mostrar do que é capaz. Diz que tem cola, que tem magia. Quem vem para cá gosta de cá estar. “Regras é nos hospitais aqui as regras são afectos”. Aos 56 anos, Manuela diz que subiu mais de 90% na vida. Que o seu túnel está carregado de luz e que se encontrou com a Foz do Rio da sua felicidade. “Estou a cismar com o quadro azul que está ao fundo da sala” e levantou-se para me mostrar que via na nuvem de giz, a sua cara gordinha. Não sabia o significado daquela mancha, na nossa conversa, mas o que importa era o que sentia. E foram tantos os sentimentos partilhados por Manuela, que acabei eu de sensibilidades amarrotadas. Passa, Passa, Passa, Manuela Passa pela vida como a ideia que teve para a exposição anual, dizendo numa simplicidade acutilante: o ferro endireita a roupa e o espaço T endireitou-lhe a vida. PS. “O que ainda não está muito bem, mas melhor um bocadinho”, confessa Manuela: “Ainda não consigo ligar aos meus irmãos para dizer o que sinto”. Espero que este texto seja o cavalo branco que vai levar a Princesa Manuela a superar este seu tão importante obstáculo. Seria para mim, uma muito engomada, felicidade.


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MARIA DE LURDES COSTA

Por Maria do Carmo Serén Historiadora e investigadora do CITEM

O espaço de vida do Espaço t Maria de Lurdes fez oitenta anos, o que dificilmente se avalia, e mantém-se uma aristocrata: na palavra, na atitude, na contenção. O cabelo branco em penteado sóbrio mas jovem. Prefere para vestir, porque é elegante, o cruzamento do branco e do preto. Só mesmo o Porto sabe dar esta discrição de maneiras, esta justeza de palavras que falam de uma vida inteira feita a pulso, porque é assim que é e que deve ser. A sua vida tece-se geograficamente, como em tempos acontecia a quase todos, entre habitações dos subúrbios antigos. Nasceu e viveu junto ao Hospital Santo António, o pai era enfermeiro na Cadeia de Relação e a mãe acabou por trabalhar no hospital; estudou no Instituto Comercial, desistiu e foi trabalhar para um atelier de costura, na Travessa de Cedofeita, com 16 anos, um daqueles clássicos com mestra, ajudantes e aprendizas. Em breve assume obras de delicadeza, compõe os chumaços, traça, linha a linha aquelas nervuras das camisas e blusas que faziam o desespero de quem as passava a ferro; costurava-as todas à mão. Salientou à mestra que fazia o trabalho de ajudante, que a sobe de posto, mas não de salário; deixa a casa e foi percorrendo outras modistas. Aos vinte anos casa com um empregado do “Pequeno Louvre”, que então representava o progresso e a elegância na cidade. Com retalhos comprados no Petit Louvre, Maria de Lurdes fazia modelos próprios. Teve dois filhos, com quase 6 anos de intervalo. Mas o marido trazia consigo uma ignorada doença genética que se afirmava depois dos trinta anos e incapacitava gradualmente, assemelhando-se a Alzheimer, nos distúrbios físicos, mas com menos aprofundada perda de memória. Recebendo algum dinheiro de venda de uns prédios familiares, resolve montar um negócio de cabeleireira, continuando a trabalhar de costura em casa e distribuindo assim a clientela já ganha. Aluga casa na Rua da Alegria, depois na Rua Formosa, com habitação e negócio. Invoca a protecção de Deus para essa sua iniciativa, de resto mal compreendida pelos seus, o que lhe facultou a actual reforma. A doença, que acabaria por matar o marido com cerca de 50 anos, já reformado por invalidez, acabaria por ser transmitida ao filho mais novo, então já casado e com um filho. Maria de Lurdes tem hoje 3 netos. O filho mais velho ingressou na Força Aérea, aí permaneceu como voluntário durante 8 anos; saiu com a carta de ligeiros e com curso e experiência em meteorologia, mas acabou por ser vendedor, casando em seguida. Hoje, divorciado e com 2 filhos, vive com a mãe na nova habitação, ao Palácio. Atacada violentamente na coluna, com flebite, Maria de Lurdes fala apenas nas doenças que a marcaram: a mãe que, com varizes internas e já com mais de 80 anos teve de amputar uma perna e três anos depois a outra. Vivendo então com a filha, acusava-a de ter adiado o seu internamente, (por 4 dias!), responsabilizando-a pela amputação. Dor que não esquece. Sobreviveu até aos 90 anos. E o filho, doente que ela teve de ajudar, cuidar, proteger, pois a nora trabalhava na Maia. É durante a doença do filho mais novo que visita o Espaço t, que hoje frequenta diariamente. Fez aí fotografia, pintura, canto e teatro. O que mais a entusiasma é o teatro, com representações no exterior, como “O Terceiro Reich”, que enquadra bem no tempo. Lembra momentos de ensaio e de acção ao vivo. Orgulha-se do Espaço t, da decoração, do jardim. Como coisa sua. É o seu espaço. Não de recuperação, porque não sabe o que isso é. Quando o meu filho estava internado, eu era egoísta, queria que ele vivesse. Mas depois não. Ele sofria muito. Onde o sentimento e a racionalidade se ajustam.


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MIGUEL ÂNGELO

O Príncipe dos Números Miguel Ângelo tem nos olhos a energia que se escapa das palavras. «Não consigo dizer o que sinto!» lamenta com a lucidez de um Príncipe perante a personagem mais simples das histórias infantis. E promete: «No fim deste ano vou dar um grito de reveillon!» Explode permanente ao ritmo de um motor turbo no semáforo da conversa. «Não escreva isso!» repete mais uma vez no primeiro encontro que tivemos no Espaço T para trocar impressões. Miguel Ângelo emociona-se. Emociona ao contar a história da sua vida. E esclarece: «Ainda não sei qual vai ser o meu grito mas no reveillon vou dizer o que me vier à cabeça!» Apesar do turbilhão permanente é um homem contido. Faz gestos suaves intercalados com reacções súbitas. «Não escreva isso!» insiste sobre as memórias menos boas. Teve recentemente um acidente que lhe limitou os movimentos mas o seu gesto resiste ao gesso. Não pára de gesticular. E de abraçar o Mundo. Desenha desejos com o olhar e aponta rumos com o dedo para si próprio. Já foi ao Canadá e a Espanha. Gosta muito de Toronto. Sabe o que quer. Nem sempre domina as palavras mas é forte em números. Não se engana nas contas. Ninguém o engana nos trocos. Faz recados com o profissionalismo de um mensageiro real. Representa o Espaço T como um embaixador de carreira nas lojas, quiosques e balcões da cidade. Em certas ruas já se transformou numa lenda urbana. Quando chega distribui energia. E alegria. Orgulha-se dos seus amigos. E eles orgulham-se dele. Particularmente no Espaço T onde entrou em 1996 como um Homem e hoje é também um Príncipe. Mas o orgulho máximo do Miguel Ângelo Martins de Sousa é o seu sobrinho Tiago Miguel que nasceu em 2001. Fala dele com a ternura de um tio que descobriu na criança o interlocutor ideal para crescer intelectualmente. Miguel Ângelo ouve falar da crise mas não sabe explicar o que isso é. Um sorriso de esperança é sem dúvida a melhor resposta da inocência. Nas suas contas não há deficit público. Percebe-se que não sabe mesmo nada de finanças nem consta que tenha uma biblioteca. Tal como Jesus Cristo no poema de Pessoa, Miguel Ângelo tem a bondade da dança no olhar desde criança. Os pais vieram de Amares. Hoje vive com eles em Vila Nova de Gaia. Mas o seu olhar tem a lonjura de uma avenida do Porto que começa na Rotunda da Boavista e se prolonga até ao mar. Lá quase ao fundo, já perto do parque da cidade, fica uma escola que Miguel jamais esquecerá. É o Externato Anna Sullivan para crianças especiais. Foi lá que o Miguel também foi feliz a estudar. E apesar de não ter grande memória, o gosto dos números faz com que ele não esqueça aquela porta. Hoje, sentado no espaço T da Rua do Vilar perante o olhar cúmplice da Cláudia, o Miguel recorda o endereço: Avenida da Boavista 3770. E repete a cantarolar «três mil setecentos e setenta!» como se tivesse acabado de lhe sair a lotaria.

Por Carlos Magno Jornalista e Professor Universitário


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PEDRO RIBEIRO SOARES Pedro Ribeiro Soares ou como se faz um cidadão A empatia surgiu num ápice: a forma como se apresentou, a postura, a correcção e o tom da linguagem, o interesse e a atenção com que seguia o voo rápido e panorâmico que lhe fiz pela nossa história e pela actualidade do país, a pertinência das suas intercalações, criaram a paleta espontânea que me facilitou o desenho do perfil que nossa agradável conversa foi traçando de Pedro Ribeiro Soares, exemplo eloquente das virtudes que sustentam o programa social e cívico do Espaço t. Realmente, quem poderia imaginar que este segundanista de Estudos Artísticos da Universidade Aberta, com quem pude discorrer sobre Habermas, Steiner, Adorno e Pessoa, era, em 2006, um acomodado empresário do sector da construção civil, apenas com a antiga 4ª classe, satisfeito com a especialização da sua empresa na instalação de gás natural e de fibra óptica, todavia desejoso de se cultivar mais intelectualmente, para aceder a uma cidadania mais consciente e, por isso, mais crítica. Pedro Ribeiro Soares escolheu o Centro Novas Oportunidades Espaço t para obter, em 2007, o 9º ano de escolaridade e, em 2008, garantir o reconhecimento e validação de competências do nível secundário, ao mesmo tempo em que concluía também o curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores. Este bem sucedido percurso incentivou-o a candidatar-se ao ensino superior pelo regime legal dos maiores de 23 anos, levando-o, sucessivamente, do ensino básico para os estudos universitários, aqui se revelando também um bom e empreendedor estudante, com curiosidade cultural e liderança, para motivar dez companheiros a acompanhá-lo a Paris, para uma enriquecedora visita ao Museu do Louvre. É admirável a história de vida deste empresário de Ermesinde, menino de aldeia com valores morais e éticos nascidos no respeito pelo húmus da terra; desenvolvidos na juventude pelo cumprimento do serviço militar; consolidados pelo trabalho adulto, na migração pela Alemanha, que lhe despertou o empreendedorismo, ou na cidade em Portugal, onde o concretizou; e certamente temperados pelo clima cidadão que se respira nessa Associação para Apoio à Integração Social e Comunitária, conhecida por Espaço t, onde, por 15 anos já, se trabalha com o entusiasmo que Pedro Ribeiro Soares trazia estampado no rosto, convencendo-me de que a metáfora “transformar homens em príncipes” é, apesar do oximoro, uma utopia possível! Pedro Ribeiro Soares trouxe-me a confirmação da seriedade e da profundidade com que se trabalha no Espaço t. Bem-haja e augúrios para ele de sucessos académicos e empresariais! Obrigado, Espaço t!

Por Salvato Trigo Reitor da Universidade Fernando Pessoa


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SARA LEGUISAMO

As vidas de Sara Quando contamos a história de alguém, uma coisa é certa, não é apenas uma história que se conta mas antes um conjunto de histórias e momentos, uma imensidão de vidas que se cruzam e atropelam, tentando merecer a nossa atenção, deixando uma impressão no tecido temporal que define a nossa existência. No caso de Sara Leguisamo é também assim. Um conjunto imenso de momentos que a marcam e definem, como se de várias vidas se tratasse. Na primeira dessas vidas, Sara é uma jovem nascida em Bagé, terra gaúcha do Rio Grande do Sul, bem perto da fronteira com o Uruguai. Uma jovem que desde cedo sente interesse pelas artes, ainda que numa época onde a carreira de “artista” não fosse algo que os pais desejassem para uma filha. Mas Sara anseia por mais do que o convencional. Uma vida que segue o seu curso culminando com a formação académica de Sara, já em Porto Alegre, a cidade grande que Sara procurava. Artisticamente, a Sara alegre, rebelde e extrovertida, procura com as sua obras espelhar “qb” uma dose de crítica social em obras onde uma paleta de cores escuras predomina, acompanhando-nos por um mundo de casarios e pessoas anónimas, pleno de segredos e histórias por revelar. Mais histórias que se cruzam. Histórias transversais às vidas de Sara. Numa outra vida, Sara continua a estudar procurando o seu “eu”, num mundo bastante distante do outro onde se encontra a cidade natal. Agora o ritmo é outro e o modo como se vê é igualmente outro. Nesta vida Sara casa com um estudante de medicina, futuro psicanalista. Nesta vida continua a estudar, tem filhos, evolui. Sara, cresce ao ritmo do país. O Brasil pulsa de década para década, cidade a cidade, rua a rua. Uma outra vida se inicia. Chegada ao Rio de Janeiro, Sara procura agora o seu lugar ali, um sentido para a sua existência. Dá aulas na Aliança Francesa e no Clube de Decoradores do Brasil. Na década de 80, na Fundação Rio RioArte, faz curadoria no Espaço Cultural Sérgio Porto, entre outros projectos, dos quais destaca o trabalho de documentação sobre a gravura brasileira. Na desigualdade social Sara encontra um porto seguro, à beira mar, num projecto para meninos da rua onde a sensibilização para a arte era aplicada no combate à exclusão social. Desses meninos esta Sara lembra com um brilho no olhar. Na vida actual, Sara, recém-chegada a Portugal, desenvolve várias oficinas em parceria com o Museu Nacional Soares dos Reis, oficinas do olhar que marcam um outro público mas sempre com o mesmo objectivo, a mesma técnica, a arte como expressão do ”eu”, das emoções. Na viragem do século Sara chega ao Espaço T. Uma exposição intitulada Di-Visões, que em vez de dividir, une. Une Sara a esta casa. Nos últimos 10 anos tem sido no Espaço T que Sara encontra um sentido, um suporte, onde ela própria ajuda a dar suporte a outros, que como todos nós necessitam de um espaço onde se sintam bem, onde encontram alguém que os escute e olhe para eles como “pessoas”, únicas, especiais, cheias de potencial. Sara, cita Manuel de Oliveira quando refere que “o anjo da guarda é o destino”. O destino trouxe Sara até aqui. O futuro só ele sabe, aquele anjo da guarda enigmático que a todos segue, qual criança caprichosa, brincando ao sabor do vento. Que mais vidas terá Sara?

Por Nuno Ferreira Coordenador do Departamento Lúdico Terapêutico do Espaço t


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VITOR COSTA À volta do meu mundo Foi pela liberdade que ansiava, pelo valor da independência que partilhava com o amigos, que o fez sair de casa dos pais aos vinte anos. Estávamos a 31 de Dezembro de 1989.“Uma boa data para a mudança! Sair de casa dos pais não é somente deixar de ter roupa lavada ou o pequeno-almoço na mesa. É uma questão de atitude.” Teria sempre o porto de abrigo em casa dos pais, mas a liberdade acarreta também responsabilidade: “ganhar dinheiro para a sobrevivência, é a condição para quem deseja emancipação. É um preço justo.” A mudança naquele último dia do ano de 1989, foi para uma casa que dividia com mais quatro amigos. Todos eles envolvidos no movimento que, mais tarde, daria como fruto o Partido Humanista. Vítor Costa tinha agora que partilhar as tarefas de casa e sua sobrevivência. Todos, vendem flores em bares e restaurantes, o sucesso é garantido quando a novidade entra na cidade. A concorrência empurra Vítor para outras paragens: arredores do Porto, e depois, para locais mais distantes. Quando encontrou um amigo de infância num restaurante caro, enquanto percorria as mesas a vender flores, a situação foi algo embaraçosa. “Aí lembro-me de ter pensado. Hum! Isto vai-me chatear.” A independência não se compadece com passividade, a criatividade sempre foi o seu melhor aliado. Junto com os amigos comungam experiências: a experiência da mudança, a experiência da autonomia, do desenrasque, mas também, uma ideologia politica. As viagens a Espanha para participar numa manifestação trazem à memória como era divertido “andar no trapézio sem rede”, onde eram responsáveis pelos seus actos; bons ou maus. “ Cedo, ganhei a consciência cívica e política. Tínhamos referências.” A fotografia entrou na vida de Vítor, quando frequentou um curso profissional de Fotografia de Moda e Publicidade, até aí nem nunca pensou nisso. Tinha uma câmara e fotografava quando a vontade mandava ou a ocasião merecia a eternidade. As memórias são como os retratos, ficam para sempre. Folheamos o álbum das recordações de Vítor e paramos numa sala de aula improvisada, onde um, ainda, leigo no assunto, tenta assumir o papel de professor. A lição não estava bem estudada, os cursos de fotografia promovidos pelo Movimento Humanista servia como isco para a fotografia, sim, mas também, para dar a conhecer o movimento e conseguir aderentes para a causa. Os cartazes espalhados pela cidade dão os seus frutos. Nessa aula, o número de pessoas excedia o espaço daquilo que foi um velho sótão em madeira, encostadas nas paredes preenchiam todos os cantos e até se acotovelavam. Eram quarenta pessoas. O nervoso traiu Vítor, quando nas explicações confundiu profundidade de campo com campo de profundidade e foi corrigido

Por Elsa Semedo Jornalista

por uma aluna. Apenas um detalhe para quem deseja continuar. Foi o que sempre fez e faz. Um lema: “Nunca dizer não a uma oportunidade, mesmo que me sinta inseguro, que não domine a matéria. Aproveito sempre ao máximo.” Estamos em 1995, a formação em áreas artísticas ganham novas dinâmicas no Porto. O Espaço T inicia o seu caminho no inovador conceito de Terapia pela Arte, abrem-se ateliês: fotografia, jornalismo, teatro. Pelo caminho vai-se aperfeiçoando na técnica com os casamentos, desfiles de moda e aulas particulares que dava. Os convites sucedem-se, o Espaço T cruza-se com o Vítor num desses momentos. Os dois comungam a ideia da consciência cívica e da intervenção comunitária. Agora, não era em termos políticos, mas ideológicos e práticos. Na associação não há partidos, há pessoas. São essas pessoas que compõem o ateliê de fotografia de que Vítor Costa foi responsável. Com elas aprende também, o outro lado da vida, aquele que nenhuma máquina capta, nem fotografa. Dá cor com imagens às capas e reportagens da Con(tacto), a revista do Espaço T. Reconhece que cresceram juntos: a experiência humana e profissional manteve-os unidos até hoje. Os ideais são comuns: a inclusão de todos com as demais diferenças num mesmo mundo. O mediatismo dos eventos do Espaço T, são também eles, uma rampa para que Vítor se lance noutros projectos. Finalmente, chega um ordenado fixo como professor no ensino oficial. As coincidências fazem parte da vida, através de um contacto surge outro e as oportunidades sucedem-se. “No meio do azar, tenho sorte” Foi o que pensou, quando teve que sair do liceu onde leccionava. “O ordenado fixo acabou, mas as contas continuam a ter de ser pagas.” Nesse sentido, decidiu criar o seu próprio projecto, o que é hoje a Foto Adrenalina. A ideia inicial era num fim-de-semana os participantes terem uma actividade fotográfica que os transportaria da terra ao céu, desaguando no mar: um helicóptero levaria à montanha e de lá num veleiro cruzariam o mar. Os custos deste fim-de-semana de sonho ultrapassavam a fantasia de qualquer um. O sonho teve de se adaptar à realidade. Em 2002 arrancam as expedições fotográficas do Foto Adrenalina, os participantes viajam para uma aventura de máquina na mão. Actualmente, dos 365 dias do ano passa mais de um terço em viagem. O projecto com oito anos tem a maturidade e vigor que ansiava. “Vou para a Islândia, Índia, Amazónia, África... As pessoas quando vêem essa vida, acham uma coisa extraordinária. Não me queixo da vida que tenho. Mas andar de aeroporto em aeroporto também é rotina e tenho saudade de casa. Às vezes, quero voltar para o meu mundo.”


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YOLANDA BOTELHO

Por Helena Osório Escritora e Editora

O todo da vida – pintura e amor pelo próximo A cor é uma marca na obra de Yolanda Botelho tanto quando pinta com pincel sobre tela, como quando reinventa novas naturezas em computador ou faz experiências com colagens. Não são combinações comuns nem manchas logo perceptíveis. De que forma estará este aparentemente estranho universo ligado ao âmago da artista sobre a qual escrevemos em tão curto espaço?! Universo de formas que se abrem, fecham e multiplicam desde os 55 anos da artista autodidacta que se descobriu a si própria na procura dos outros. Por entre palavras e gestos pintados, a mulher que encontrou a artista no Espaço t, é o perfeito reflexo de um optimismo que a guia através do percurso incerto contornado e continuado por si mesma como observadora do mundo sensível e dos afectos. Esta é, afinal, a breve biografia de uma menina que cresceu no sonho de criança, agarrando-se às primeiras palavras que ouviu sobre os seus desenhos e acreditando na sua realização através do dar o melhor de si aos outros sem qualquer tipo de discriminação e repulsa. A cor da sua obra irradia, afinal, a luz que está dentro – o amor pelo próximo. Esta educadora de infância de formação, profissão que nunca exerceu, recorda a riqueza da mais tenra infância, ocasionada pelo acompanhamento dado pela avó e pelo tio cujas atitudes a conquistavam pela diferença. A morte de ambos, no mesmo ano, acabou por deixar adormecer em si a vontade de criar. «O tio foi marcante na minha vida. Como tinha tuberculose, o pai não queria que me chegasse a ele. No Espaço t encontrei pessoas com outros problemas e tudo encaixa como um puzzle». Depois da morte da avó e do tio, regressou a casa dos pais onde foi sempre muito amada (confessa). Porém, os irmãos mais novos tinham outros interesses e não havia atenção para dar aos seus desenhos que ficaram na memória dos anos passados na casa da avó. Quando somos crianças absorvemos o mundo sem percebermos bem o sentido dos acontecimentos que, mais tarde, pensamos melhor e vimos a entender como um fio condutor que é a própria vida. Assim aconteceu com Yolanda Botelho que hoje revê a infância como o princípio de um caminho que se liga ao presente. Depois de ser a menina do tio boémio. Depois de ser a adolescente discriminada por causa da esclerodermia na perna esquerda. Depois de ser mulher e mãe... «Era uma ginasta promissora no Futebol Clube do Porto e o problema na perna veio cortar as expectativas» lembra a utente do Espaço t que descobriu, afinal, que a pintura sempre fez parte da sua vida interior. Aos 20 anos, já casada, tentou entrar na então Escola Superior de Belas-Artes, fazendo um exame ADOC. Foi hostilizada na entrevista e desistiu. Passado cerca de 12 anos, descobriu o Espaço t. Na altura, não havia vagas no ateliê de Pintura e estudou Jornalismo. Descobriu o Tai Chi – uma arte oriental que lhe deu nova agilidade e segurança física e intelectual. Frequentou o ateliê de Jornalismo, durante dois anos, até ao lançamento da revista Com Tacto. «Lembro-me de ir com Jorge Oliveira e dois utentes à televisão apresentar o primeiro número. Logo, houve uma vaga no ateliê de Pintura e mudei. Foi a monitora Ana Vasconcelos que me incentivou a libertar». Yolanda Botelho começou a pintar no ano 2000 e a soltar-se completamente com a ajuda de Ana Vasconcelos que a aconselhou a pintar de olhos fechados e com o braço livre para soltar o gesto. «Tenho um grande problema de auto-estima que venho a melhorar no Espaço t. Já fiz duas exposições individuais de pintura fora do Espaço t, no Clube de Golfe de Amarante em 2008 e na galeria Quasiloja em 2009». Fazemos agora força para que participe num congresso sobre Web Art a decorrer na Holanda em 2011. E fazemos força porque Yolanda Botelho, com toda a sua modéstia, ainda não está convencida da viagem. «Nós nunca nos sentimos totalmente realizados mas, no ponto de vista humano, mesmo havendo tantas injustiças, eu sinto-me realizada como mãe e esposa e especialmente no Espaço t, como ser. Só quem vive aqui, estes momentos, é que pode avaliar a dimensão humana. Ainda posso aprender mais, dar mais e receber».


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1995 Um espaço com espaço surgiu em 1994, no Centro Comercial Capitólio, numa sala -1 que em breve seriam cinco; o espaço físico cresce assim como o ideológico que quebrará as barreiras físicas de um espaço, num tempo para além do tempo. Depois dos primeiros medos vêm mais medos, mas também mais certezas, sofrimentos transformados em alegrias, confirmação de um sonho que de um ser passou a muitos com mais sonhos, em que a soma não é igual. “Do pé para a mão” mais um sonho, imensos sonhos escondidos em sapatos, que contaram histórias de seres reais. Com elas levaram a história pequenina de um embrião a todos os cantos da notícia; não pela história embrionária, mas pelos sapatos de trinta seres reais e ilustres que se expuseram para contar histórias individuais e também a nossa, porque era pequena, mas com vontade de crescer para além da vontade humana.


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1996 Formato XL – Estação de S. Bento Já com três anos de existência éramos muitos/as, e cada vez mais, o suor corria-nos nas veias e as alegrias também. Sem nunca condicionarmos os sonhos aos apoios, íamos construindo um percurso com seres que se cruzavam e alicerçavam em sorrisos, nas vontades, nas utopias. Em S. Bento construímos uma exposição, formato XL, de imagens captadas pelo olhar humano; para que os/as milhares de anónimos/as que por ali passavam, olhassem para além do vazio e compreendessem que havia um tempo de criar, um tempo de viver…


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1997 Com o “O Outro lado da Nudez” realizado no espaço Capitólio, o Espaço t queria mostrar muito mais do que o nu, queria de uma forma simbólica transpor para o exterior o ser emocional que somos. Romper os veludos das nossas “peles” sociais e outras, Parar com o sangue contido e a energia perdida, E pormo-nos verdadeiramente nus. Pôr o sangue a girar, E a energia a espalhar, Queremos expormo-nos, Assumirmos, Sermos fortes, mostrando-nos frágeis. No mesmo espaço mais de cem objectos, símbolos desta metáfora, estiveram presentes, do lençol branco do Rogério Samora, aos slips do Nuno Gama, à venda do Pedro Abrunhosa, ao candeeiro da Rosa Mota, ao pássaro do António Oliveira e tantos, tantos outros estiveram lá, para que a vontade do ideal colectivo continuasse.


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1998 Em 1998 lançamos um novo projecto – criar um novo meio de comunicação escrita a nível nacional. Assim, surgiu a Revista Con(tacto), após uma enorme luta para a concretização deste projecto, eis que ela surge com 25.000 exemplares. Entre o profissionalismo e muitas horas sem dormir, o nosso pequeno grande orgulho chegou às bancas de todo o País. Ainda não era uma revista inclusa, mas este seria o nosso próximo patamar. Hoje já com 16 números editados passamos a ser Espaço Con(tacto) e esta verdadeiramente inclusa. Aumentámos nas linguagens [negro, Braille e áudio] e limitámos a edição para 2.000. É talvez a nossa maior utopia tornada real, fazer com que todos os indivíduos, sem excepção, possam ler, sentir e ouvir uma revista. A Espaço Con(tacto).


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1999 Porque desejamos do pouco fazer muito e do muito multiplicar, ainda com poucos apoios, demos início aos leilões Espaço t, do 1º em 1997 “Quem dá mais?” ao 10.º leilão “Homem T”. De tudo se leiloou: sapatos, cuecas, pratos, gravatas, quadros, esculturas, luvas, vestidos, poemas e tantas coisas que, com o apoio dos/as compradores/as e daqueles/as que deram parte de si, ajudámos a transformar utopias em realidades. E por isto e por tudo, ainda, no Capitólio num espaço público, mas também nosso; na interacção dos/as nossos/as alunos/as e daqueles/as que frequentavam aquele espaço, vimos reconhecido o Espaço t como Instituição Particular de Solidariedade Social, com fins de Saúde. Batalha dura mas quase mágica; em 4 anos superámos barreiras burocráticas e colocámos um projecto atípico num conceito que passou a ocupar um espaço de reflexão nos gabinetes das instituições governamentais. E foi assim que numa semana aberta, dedicada à Cultura, de Sua Excelência o Presidente da República – Dr. Jorge Sampaio, o Espaço t fez parte desse roteiro. Recebemos o Chefe de Estado no nosso espaço. Foi e será um marco e uma pequena grande conquista que se reflectiu no brilho dos nossos olhares e no dele. Homens/Mulheres diferentes numa manhã de Sol, fomos iguais na simplicidade e no sentir.


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2000 Em 2000, agora uma organização profissional na luta da aceitação da diferença, pensamos levar a nossa mensagem a outros/ as, realizando o 1.º Congresso Internacional “A Arte pode ser terapêutica?”. Com receios construímos um conceito diferente de outros congressos; artistas, filósofos/as, homens/mulheres da prática, médicos/as, reclusos/as, todos/as numa heterogenia de saberes partilhavam o mesmo espaço. Tínhamos poucas expectativas, mas a realidade superou-nos, tendo participado mais de 800 congressistas. Um espaço de partilha e transformação com a intenção de sentir e estar. A partir daí realizámos mais cinco, falámos de quase tudo desde o onírico, ao sexo, ao silêncio, à morte e ao desejo. Sempre com uma sala cheia de participantes com vontade de ouvir em interacção com um conjunto de palestrantes que vieram dos cinco cantos do Mundo, tão diferentes como: Carlos Amaral Dias, Cicciolina, Fuyhuhiko Furukawa, Celeste Dandeker – CandoCo Dance Company, Lili Caneças, Gonçalo Amaral, Roberta Close, PMH Atwater, Rui Nunes e tantos/as outros/as. Mais do que difundir conceitos encontrámos um modelo de partilha, onde a prática e a teoria se fundiram, num modelo único em que a oralidade era apenas um meio e só isso.


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2001 2001 Porto Capital Europeia da Cultura. Desde logo o Espaço t associou-se a este grande projecto da cidade, e com muitas alegrias, vimos vários projectos integrados na programação oficial da Capital Europeia da Cultura. De todos eles, este foi para nós o mais importante, pois pela primeira vez realizou-se uma exposição inclusa e dirigida a todos/as, sem excepção, na qual a exortação aos sentidos foi uma constante, demos-lhe o nome de: “Di-Visões: Uma Exposição para os Invisuais e para os Outros”, realizada no antigo refeitório do Quartel Bom Pastor. Um dia fiz de cego, Fechei os olhos, Tentei ser cego, Andei na rua, Subi escadas, Comi e dormi E entendi que a experiência tinha falhado, Tinha apenas brincado aos cegos. Para ser cego/a não basta fechar os olhos, é acima de tudo um estado, uma vivência que só os/as cegos/as podem sentir. Os/As cegos/as amam e apesar de não verem sabem quem amam. Com a audição, o tacto, o paladar, o olfacto, as vibrações, a energia aprenderam ou reaprenderam a sentir e a ver tudo de uma outra forma. Por tudo isto valeu a pena criar Arte inclusiva.


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2002 “Olhar os Outros” surgiu de um projecto contra a exclusão social, realizado nos bairros sociais da cidade do Porto. Fotógrafos/as captaram, pelo seu olhar, o/a outro/a para depois mostrarmos aos/às outros/as o reflexo de todos/as. Poderíamos ter fotografado excluídos/as, no sentido da palavra, para alertar consciências, o problema é que elas passam depressa. Estávamos certos/as que não iríamos mudar nada, no entanto queríamos experimentar novos caminhos. Assim, decidimos convidar pessoas desses bairros a transformarem-se em palhaços (aquele que faz sorrir, mas também sofre). Foram estas pessoas, ditas excluídas, agora personificadas em palhaços, que deram a cara contra a exclusão a sorrir em vez de chorar. Nas fachadas da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, surgem em todas as suas quatro paredes, palhaços gigantes contra a exclusão, com um único mote: - É urgente que nos olhemos antes de olhar os outros; - É urgente que não se escrevam frases sobre a exclusão social; - É urgente que não se façam exposições sobre a exclusão social … … - É urgente que olhes para mim, eu estou aqui e sou da tua raça.


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2003 Desde a fundação sempre realizámos ateliês de teatro e dança, não para criar actores/actrizes, mas para ajudar a transformar Homens e Mulheres em seres com mais crítica e com capacidade de se expressarem no palco assim como na vida. A primeira peça, encenada por Joclécio Azevedo, apresentada ao público no Ballet Teatro Auditório, com o título “Desordem Amorosa” A partir daí multiplicaram-se os/as professores/as, os/as alunos/ as, os grupos, os espaços, tendo sido criado o 1.º Corpo Evento Ciclo de Espectáculos em Teatro e Dança, em 1998. Hoje já com a 11.ª edição sentimos que ainda temos um caminho a percorrer na ligação entre os/as alunos/as “actores/actrizes” e o público que assiste. De pouco nos interessa a pele maquilhada de emoções fictícias, verdades paradas, sugadas pelos outros. Procuramos o outro que se esconde em cada segundo, onde se guarda a verdade, a verdade verdadeira, as paixões, os ódios, os medos, os segredos… o que nos distingue dos outros.


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2004 2004 foi o ano de década, da pré-adolescência, do começo da afirmação de uma entidade já com histórias. Saímos do Capitólio, numa luta dura, quase como “ocupas”, do contrato de comodato, fomos obrigados/as a sair, por outras histórias terem de entrar para esses espaços. Perdemos um espaço físico, mas ganhamos mais força ideológica e com a ajuda das forças da sociedade civil, dos/as governantes, da imprensa, ganhámos um novo espaço com vista para o Douro. A escola da Sé. Uma conquista merecida, mas sofrida. Dezenas de voluntários/ as, em articulação com os/as técnicos/as da Câmara Municipal do Porto, camiões, desmontámos os bens físicos e num ápice reconstruímos um novo espaço, como se de formigas nos tratássemos, não precisávamos de falar para nos entendermos e em poucos dias tínhamos um Espaço t digno para albergar o nosso espaço. Depois da luta, nada melhor que comemorarmos 10 anos com 10 Eventos – “Por Dentro da Bola” – levamos o Espaço t ao Euro 2004, participando na programação oficial da “Arte em Campo”, promovida pelo Ministério da Cultura. De um concurso fotográfico surgiram as 10 melhores fotografias e essas foram doadas e expostas nos 10 estádios do Euro 2004. Um sonho maior do que o sonho: de uma pequena sala, passados 10 anos estamos também nos 10 estádios do País. E mais fizemos nesse ano de ousadia e tentativa de tocar os limites, realizámos “Criar um Lugar”, primeira mostra de arte contemporânea pública, comissariada por Fátima Lambert. No metro havia pássaros, em S. Bento - vídeos, nas montras das lojas – arte, e na estação de Metro da Casa da Música – Esculturas. “Criar um lugar é o começo do fim do caos, o caos que existe nos semáforos, na lógica das cores, na lógica dos conceitos, nas pedras da rua”. Inauguramos, também, na sede do Espaço t a exposição “Cuecas de Gente”. “Cuecas” de gente para comemorar 10 anos de luta pela integração social Gente igual a tanta gente Cuecas que cobrem o que não vemos, mas o que desejamos Cuecas de gente foi, para nós, a exposição que queria mostrar, metaforicamente, o objecto que esconde o trabalho a que o Espaço t se dedica: a intimidade do indivíduo, o seu interior, a sua auto-estima. Somos mais do que uma imagem.


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2005 Em 2004 começámos também a dedicar-nos a outras causas, que também elas poderiam ser a nossa causa, a igualdade entre Homens e Mulheres. Promovemos medidas internas, para que os/as nossos/as colaboradores/as vivenciassem esta prática. Com o conjunto de práticas implementadas, acabamos por ganhar em 2006 o prémio “Igualdade é Qualidade” atribuído pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego – CITE. Nesta luta que também passou a ser nossa, decidimos continuar a trabalhar por esta causa, fora do nosso espaço físico. Assim, demos formação a agentes sociais, lançamos livros, criamos roteiros sobres esta temática de uma forma inclusa (em Braille, áudio e em diferentes línguas, nomeadamente: mandarim, inglês, moldavo, ucraniano e crioulo de Cabo Verde). Acima de tudo, tentamos levar a mensagem a vários locais e públicos diversificados, tendo a última acção sido desenvolvida em 2009, junto de minorias, imigrantes, invisuais e analfabetos/ as, através de campanhas de informação e sensibilização realizadas em todas as capitais de distrito. O meu olhar é igual ao teu, … Células humana unem-se num momento de amor, Células humanas de um homem e uma mulher, Células humanas crescem e desenvolvem-se, Dentro de um ventre humano, Nove meses após surge um ser sexuado. A partir daí a sociedade transforma-o e ele /ela deixa de ser só Amor. No dia em que Homens e Mulheres, independentemente das suas preferências sexuais, se respeitarem, tendo em conta as suas heterogenias, o mundo será também muito melhor. Esta também é a luta do Espaço t.


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2006 Outra área de intervenção do Espaço t, para além das inscritas na Missão, foi a contribuição para a promoção da não segregação dos seropositivos ao HIV e a sua consequente inclusão na Sociedade. Não porque já não se tenha feito muito, mas porque ainda há muito a fazer. Realizámos campanhas, integrámos conceitos, desintegrámos preconceitos, criámos um manifesto e lançámos uma revista com uma temática também ela mobilizadora para a mudança: ”Guia para um Seropositivo de Sucesso”. Escrita em negro, Braille e Áudio, demos voz a peritos/as de várias áreas, das necessidades básicas, ao desporto, à sexualidade e a tudo aquilo que faz parte das necessidades humanas. Estes/as deram os seus contributos de como as pessoas infectadas podem, nas diferentes áreas, criar condições para uma vida saudável. Criámos, assim, o primeiro guia incluso para que os/as afectados/as e infectados/as pelo HIV pudessem sentir que, apesar de tudo, vale a pena continuar a lutar por uma vida plena. Para que frases como estas possam um dia acabar, valeu a pena!... - Estou só… - Tenho medo de amar - Tenho medo de lhe dizer - Tenho medo da morte - Não posso dizer a ninguém


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2007 Em 2007 comemorou-se o “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos”. O Espaço t não quis deixar passar este momento e através da nossa linguagem – a arte – promovemos o projecto “Do Porto para o Mundo, Pedaços e um Manifesto”. Com o apoio de várias instituições, num dia de sol, promovemos na estação de metro da Casa da Música, uma tarde de animação, onde se pintou uma tela de 300 metros de comprimento. Esta foi pincelada de mensagens sobre a igualdade entre os povos e que posteriormente foi enviada a cada um/a dos/as representantes máximos/as dos mais de 200 países reconhecidos ou não, assim como a representantes de organizações mundiais, como a Organização das Nações Unidas – ONU, a União Europeia – EU, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo - OPEP, entre outros. A cada um deles / delas, chegou através da DHL, um metro quadrado dessa tela, juntamente com um pedido de união entre os povos. A partir desse momento, havia algo de simbólico que unia todos os povos. Pedaços de uma tela que um dia foi pintada no Porto e a partir do seu envio todos os povos estariam unidos a ela. Queríamos que num futuro próximo, todos/as os/as cidadãos/ cidadãs do Mundo estivessem unidos/as num Mundo melhor. E foi por isso que pedimos aos/ás representantes deste Mundo para lutarem por isso.


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2008 Em 2008 fomos “Reis”. Passámos uma década a correr pela concretização de sonhos, apesar de muitas vezes os sonhos estarem albergados em espaços precários. Estivemos em caves, mudámos para escolas, criámos novos espaços no Porto e na Trofa. Mas, um dia fruto da luta e da sorte, conseguimos um espaço na Rua do Vilar, financiado pelo Estado Português, pelo Fundo Social Europeu e outros/as parceiros/as. Conquistámos um espaço para albergar o espaço ideológico. Cada tijolo foi uma luta, uma reunião, uma discussão, uma vitória. Numa casa do século XIX, por onde já tinham passado serviços de psiquiatria, albergues de sem-abrigo, nasce em 2008 um espaço para todos/as, com cor, calor, um palácio para príncipes e princesas, sem “prateleiras”, sem porteiros/as, nem segregações, sem medos, com uma mão que abre a “porta” e um sorriso que espera outros/as. Tudo foi pensado, muitos/as e muitos/as se envolveram e deram parte de si. Surgia um espaço de todos/as e para todos/as. Em Março de 2008 o palácio abre as portas, para os/as que acreditaram e para os/as mais cépticos, porque esses/essas sempre existiram e também têm um papel importante na luta pelo crescimento. Assim nasceu um novo espaço, agora também físico. Espaço de liberdade, Espaço de identidade, Espaço de afirmação, Ideológico, mas também físico, Universal, Basta que existam pessoas para existir


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2009 Um Homem utópico, Que se pode tornar real, Se lutarmos por ele… Um Homem verdadeiro nas suas convicções, Um Homem que aceita o outro como se aceita a si, Um Homem que respeita o outro como se respeita, Um Homem que luta pela sua felicidade e a dos outros, Um Homem que é sensível e não tem medo de mostrar essa sensibilidade, Um Homem que é Homem, Mulher, ou outro, que é branco, negro ou outro, Que é tudo ou nada, mas faz parte de uma sociedade inclusa de todos e para todos. Da ideia, surgiu o protótipo, do protótipo, as cores, os/as artistas e num ateliê colectivo mais de 100 artistas idealizaram o seu conceito de Homem t; metáfora do Homem/Mulher Ideal; que um dia pode ser real. Surgiram assim, mais de 100 conceitos Homem t; que sob a forma de uma pequena multidão invadiram os aliados na escuridão de uma noite de Verão. No dia seguinte e durante dois meses, os aliados foram a praça dos/as Homens/Mulheres. Onde a interacção entre Homens/ Mulheres reais e Homens t, ainda utópicos, ajudaram a contribuir para a descoberta do Homem t em cada um/a de nós. Porque afinal, o/a Homem/Mulher pode ser um projecto de Felicidade! Depois festejámos 15 anos de existência em Novembro de 2009, mas muitas outras ideias existiam para se transformar em projectos de sonho: - Criar espaços onde haja pessoas (Lisboa, Guimarães, todos os lugares); - Levar o Homem t aos cinco cantos do Mundo; - Criar lares inclusos; - Uma rádio para a inclusão; - Um museu do inconsciente; - …………………………………………… Tanta coisa para sonhar e tão pouco tempo para realizar…


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Sonhava-se... que seria possível lutar por um mundo melhor, mais justo e integrador. Sonhava-se... que seria possível transformar Homens em príncipes. Sonhava-se... com uma mudança social da comunidade, pela aceitação das minorias e dos diferentes grupos socialmente desfavorecidos. Foi por este sonho que o Espaço t nasceu, em 1994, pelas mãos de Jorge Oliveira, em conjunto com um grupo de pessoas que também acreditavam nesses valores. No ano de 1998 o Espaço t passou a instituição particular de solidariedade social com fins de saúde.


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Esta Instituição tem dois grandes objectivos: 1. Promover a integração de pessoas com problemas físicos, psíquicos e sociais assim como das pessoas “ditas normais”, através da Arte; 2. Promover a mudança social junto da Comunidade em geral no sentido da aceitação das minorias e dos grupos socialmente desfavorecidos, através da Cultura Espaço t. É, assim, um espaço físico mas também ideológico sem qualquer tipo de segregação positiva ou negativa, que aceita o outro pela sua individualidade, intacta, independentemente dos “adereços que compõem essa mesma individualidade. O Espaço t assenta em três pilares que interagem entre si, com vista à obtenção dos objectivos propostos por esta Instituição, nomeadamente: 1. Acção Social 2. Formação 3. Cultura

Com o trabalho desenvolvido, através desta filosofia, pretendemos por um lado reinserir indivíduos com fracas condições físicas, psíquicas e sociais e por outro lado prevenir fenómenos de desintegração social, através da integração das pessoas “ditas normais” em espaços positivos e “protectores”, no sentido da libertação do indivíduo. Ao fomentar a criatividade como linguagem comum, o Espaço t pretende despertar nos seus/suas utentes/ formandos/ as uma participação social activa, consciente e livre. Desta forma, o trabalho que é desenvolvido diariamente nas instalações desta Instituição agrega diferentes áreas de intervenção inter-relacionadas: - Os ateliês de expressão artística, complementados por um acompanhamento psicológico diário; - O departamento de emprego que assegura a inserção profissional; - O departamento de formação e projectos acreditado pelo IQF; - O Centro Novas Oportunidades (CNO); - As Brigadas Espaço t que têm por missão levar as actividades desta Instituição a outras realidades; - Linha Urgência Espaço t de apoio a indivíduos em situações limite. Actividades que sejam um meio de promoção para o desenvolvimento positivo da auto-estima e do auto conceito das pessoas que procuram o Espaço t. Mas quem são estas pessoas? Sobretudo são aquelas que, quer por doença, física ou mental, quer por qualquer outro motivo, estão emocionalmente fragilizadas e todas aquelas que simplesmente querem aprender uma nova linguagem artística. Actualmente conta com cerca de 800 utentes, alguns/algumas com problemas de toxicodependência, outros seropositivos, outros/as portadores/as da síndroma de Down, doentes do foro psiquiátrico e também os/as ditos/as “normais”. Interessa contudo salientar que o Espaço t, e o “t” significa todos/as, é um espaço aberto que não se restringe a um grupo delimitado, tendo unicamente como alvo o ser humano.


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Declaração de Missão

O Espaço t:

O trabalho do Espaço t baseia-se em dois grandes vectores: - Enquadramento do indivíduo em actividades artístico-culturais e/ou formativas (formais ou não formais), de modo a estimular as capacidades expressivas e desenvolver o investimento em si próprio. Objectivo: modificar as atitudes, os valores e as aptidões, promovendo uma mudança positiva do estilo de vida, desenvolvendo a auto-estima e o auto-conceito. - Promover a mudança social, com vista à aceitação da diferença pela sociedade, utilizando, para isso, a divulgação da cultura Espaço t.

- Fomenta relações de confiança duradouras assentes no princípio da seriedade e cumprimento dos vectores acima mencionados; - Acredita que o que faz, influencia a qualidade de vida das pessoas. Por isso os/as colaboradores/as sentem-se motivados/as no trabalho realizado; - A mudança contínua que assegura a melhoria da organização depende do esforço, dedicação e vontade de cada um/a. Para isso promove o rigor e a exigência com os/as colaboradores/as e com os/as outros/as. “Se cada um/a de nós melhorar um pouco todos os dias, temos a garantia de que cada vez seremos melhores, serviremos melhor o nosso público e teremos cada vez mais motivação naquilo que fazemos.”


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1994

FUNDAÇÃO DO ASSOCIAÇÃO ESPAÇO T

1994

1ª EXPOSIÇÃO ESPAÇO T

1995

“DO PÉ PARA A MÃO – EXPOSIÇÃO DE SAPATOS DE GENTE FAMOSA”

1996

“CAVALO DE FERRO EM FORMATO XL” – EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA, ESTAÇÃO DE S. BENTO

1996

“DESORDEM AMOROSA” – PEÇA DE TEATRO – BALLET TEATRO

1997

“O OUTRO LADO DA NUDEZ” – EXPOSIÇÃO DE ARTE: TEXTO, PINTURA E INSTALAÇÃO – C. C. CAPITÓLIO

1997

“QUEM DÁ MAIS?” I LEILÃO – ATENEU COMERCIAL DO PORTO

1997

CRIAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE EMPREGO – UNIVA, EM ARTICULAÇÃO COM O IEFP

1997

“SEGUNDA PELE” – PEÇA DE TEATRO – SEIVA TRUPE

1998

ESPAÇO T É RECONHECIDO COMO INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE SOLIDARIEDADE SOCIAL, COM FINS DE SAÚDE

1998

“QUEM DÁ MAIS POR ESTE PEDAÇO DE GENTE?” II LEILÃO

1998

REVISTA CON(TACTO) N.º 1

1998

CORPO EVENTO I CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA – COOPERATIVA DO POVO PORTUENSE

1998

REVISTA CON(TACTO) N.º 2

1999

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DR. JORGE SAMPAIO, VISITOU O ESPAÇO T NO ÂMBITO DE UMA PRESIDÊNCIA ABERTA À

CIDADE DO PORTO.

1999

“ANJO NU – EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS” – MUSEU DO CARRO ELECTRICO

1999

“QUEM COMPRA O ANJO?” III LEILÃO – MUSEU DO CARRO ELECTRICO

1999

CORPO EVENTO II CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA – MUSEU DO CARRO ELECTRICO

1999

REVISTA CON(TACTO) N.º 3

1999

CRIAÇÃO DA LINHA URGENCIA ESPAÇO T

2000

1.º CONGRESSO INTERNACIONAL ESPAÇO T “A ARTE PODE SER TERAPÊUTICA?”

SEMINÁRIO DE VILAR

2000

PRÉMIO DO CONCURSO NACIONAL DE BOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS, ATRIBUÍDO PELA

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS

2000

LANÇAMENTO DO LIVRO “PASSOS” DE VALENTINA MOTTURA

2000

CORPO EVENTO III CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA – AUDITÓRIO DA FUNDAÇÃO GUERRA JUNQUEIRO

2000

REVISTA CON(TACTO) N.º 5 INTITULADA “LÍNGUAS”

2000

REVISTA CON(TACTO) N.º 4 INTITULADA “QUEM TEM MEDO DE EXTRATERRESTRES”

2001

PRÉMIO MANUEL LOPES – MENÇÃO HONROSA NA CATEGORIA DE BOAS PRÁTICAS, ATRIBUÍDO PELO IEFP


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2001

PRÉMIO SABER +, ATRIBUÍDO PELA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS.

2001

CERTIFICAÇÃO DO ESPAÇO T ENQUANTO ENTIDADE FORMADORA

2001

IMPLEMENTAÇÃO DO PROJECTO “ESPAÇO T INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA” COM A DURAÇÃO DE 3 ANOS, DESENVOLVI

DO NO BAIRRO DAS CAMPINAS, BAIRRO FONTE DA MOURA, BAIRRO PINHEIRO TORRES, ZONA DA SÉ E FONTAÍNHAS

2001

LANÇAMENTO DO LIVRO “A LINGUAGEM DA LUZ” DE VALENTINA MOTTURA E NUNO FERREIRA

2001

“DI-VISÕES – UMA EXPOSIÇÃO PARA OS INVISUAIS E PARA OS OUTROS”, QUARTEL BOM PASTOR

2001

CRIAÇÃO DA FILIAL DA TROFA

2001

CORPO EVENTO IV CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA – COOPERATIVA DO POVO PORTUENSE

2001

REVISTA CON(TACTO) N.º 6 INTITULADA “OBSESSÕES”

2001

CRIAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO E PROJECTOS ESPAÇO T

2002

MENÇÃO HONROSA “IGUALDADE É QUALIDADE”, ATRIBUÍDA PELA COMISSÃO PARA A IGUALDADE NO TRABALHO E NO

EMPREGO.

2002

“KID5” - INTERVENÇÃO FOTOGRÁFICA, PORTO E TROFA

2002

“PORTUGAL CONTEMPORÂNEO” - INTERVENÇÃO FOTOGRÁFICA, PORTO E PENAFIEL E TROFA

2002

“OLHAR OS OUTROS” – INTERVENÇÃO FOTOGRÁFICA, FACHADAS DA FACULDADE DE CIÊNCIAS E JARDIM DA CORDOARIA

2002

LANÇAMENTO DO CATÁLOGO “OLHAR OS OUTROS“

2002

2.º CONGRESSO INTERNACIONAL ESPAÇO T: “ O ONÍRICO, A ARTE E A TERAPIA” - SEMINÁRIO DE VILAR

2002

CORPO EVENTO V CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA – TEATRO CAMPO ALEGRE

2002

REVISTA CON(TACTO) N.º 7 E 8 INTITULADAS “CULTURA DO PORTO” E “ROSTOS”

2003

LANÇAMENTO DO CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO “DI-VISÕES“

2003

“QUEM COMPRA O OUTRO?” IV LEILÃO – ORDEM DOS MÉDICOS

2003

“VOLTA AO PORTO EM 180 DIAS” – EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA DE LAURA COVARSI - JUP

2003

3.º CONGRESSO INTERNACIONAL ESPAÇO T: “ O SILÊNCIO, O RUÍDO E TUDO O RESTO” - SEMINÁRIO DE VILAR

2003

CORPO EVENTO VI CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA – AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL ALMEIDA

GARRET

2003

REVISTA CON(TACTO) N.º 10 INTITULADA “A DEFICIÊNCIA É PUBLICA”

2003

COMUNICAÇÃO DE DESPEJO DAS LOJAS DO CAPITÓLIO, CEDIDAS AO ESPAÇO T ATRAVÉS DE UM CONTRATO DE COMO

DATO

2004

“PRÉMIO ALBINO AROSO”, ATRIBUÍDO PELA ASSOCIAÇÃO PARA O PLANEAMENTO FAMILIAR, PELA INTERVENÇÃO DO

ESPAÇO T NA ÁREA DO PLANEAMENTO FAMILIAR


90

2004

MENÇÃO HONROSA “IGUALDADE É QUALIDADE”, ATRIBUÍDA PELA COMISSÃO PARA A IGUALDADE NO TRABALHO E NO

EMPREGO

2004

MUDANÇA DE INSTALAÇÕES DA SEDE DO ESPAÇO T, DO C.C.CAPITOLIO PARA A ESCOLA EB1 DA SÉ

2004

ABERTURA DE DOIS CENTROS DE INTERNET ABERTOS À COMUNIDADE

2004

ABERTURA DE GINÁSIO EQUIPADO COM BALNEÁRIOS PARA OS UTENTES DO ESPAÇO T

2004

ABERTURA DE UM LABORATÓRIO DE FOTOGRAFIA COM CAPACIDADE PARA 10 ALUNOS

2004

“CUECAS DE GENTE – EXPOSIÇÃO DE CUECAS DE GENTE FAMOSA”, PORTO

2004

“CRIAR UM LUGAR” – INTERVENÇÃO PÚBLICA DE ARTE CONTEMPORÂNEA, ESTAÇÃO METRO CASA DA MÚSICA, LOJAS

DE S. CATARINA E ESTAÇÃO DE S. BENTO

2004

10X10 V LEILÃO – ORDEM DOS MÉDICOS

2004

“POR DENTRO DA BOLA” – INTERVENÇÃO FOTOGRÁFICA, 10 ESTÁDIOS DO EUROPEU DE FUTEBOL

2004

CORPO EVENTO VII CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA – AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL ALMEIDA

GARRET

2004

REVISTA CON(TACTO) N.º 11 INTITULADA “LOUCOS POR TI”

2004

IMPLEMENTAÇÃO DO PROJECTO “DIFERENTES REALIDADES, IGUAIS OPORTUNIDADES”

2004

LANÇAMENTO DO LIVRO “ACTOS / ACTAS”

2004

JANTAR DE GALA “10 ANOS ESPAÇO T”, PORTO PALÁCIO HOTEL

2005

“PRÉMIO ALBINO AROSO”, ATRIBUÍDO PELA ASSOCIAÇÃO PARA O PLANEAMENTO FAMILIAR, PELA INTERVENÇÃO

E CRIATIVIDADE DO ESPAÇO T NA CONCEPÇÃO DE UMA BROCHURA DIRIGIDA AOS INVISUAIS

2005

LANÇAMENTO DO LIVRO “OS DITOS NORMAIS” DE JORGE OLIVEIRA

2005

POR UMA CA(U)SA VI LEILÃO – ORDEM DOS MÉDICOS

2005

4.º CONGRESSO INTERNACIONAL ESPAÇO T: “ SEXO, ARTE E TERAPIA” SEMINÁRIO DE VILAR

2005

CORPO EVENTO VIII CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA - – AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL

ALMEIDA GARRET

2005

REVISTA ESPAÇO CON(TACTO) N.º 12 INTITULADAS “SIMPLISIDADE”

2005

ABERTURA DO CENTRO NOVAS OPORTUNIDADES ESPAÇO T

2005

MUDANÇA DE INSTALAÇÕES DA FILIAL DA TROFA

2005

CRIAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE QUALIDADE DO ESPAÇO T

2005

IMPLEMENTAÇÃO DOS PROJECTOS CLIQUE SOLIDÁRIO E GERAÇÃO MILLENIUM NA AREA DAS COMPETENCIAS

BÁSICAS EM TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO


91

2005

O ESPAÇO T É ESCOLHIDO COMO UMA DAS ENTIDADES NACIONAIS, BENEFICIÁRIAS DO PROJECTO COWPARADE

2006

PRÉMIO “IGUALDADE É QUALIDADE”, ATRIBUÍDO PELA COMISSÃO PARA A IGUALDADE NO TRABALHO E NO EMPREGO

2006

IMPLEMENTAÇÃO DO PROJECTO “+ MULHER - PARA UMA IGUALDADE DE OPORTUNIDADES”

2006

“ESCOLHER UM SENTIDO” – INTERVENÇÃO CULTURAL E ARTÍSTICA, SEDE DO ESPAÇO T AINDA EM RUÍNAS.

2006

“TRANSFORMAR IDEIAS EM TIJOLOS” VII LEILÃO – ORDEM DOS MÉDICOS

2006

CORPO EVENTO IX CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA - – AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL

ALMEIDA GARRET

2006

IMPLEMENTAÇÃO DO PROJECTO “ CRESCER & SABER” NO ÃMBITO DO PROGRAMA ESCOLHAS 3ª GERAÇÃO

2006

REVISTA ESPAÇO CON(TACTO) N.º 13 INTITULADAS “ARTES MARGINAIS”

2006

JANTAR DE GALA “AINDA UM SONHO COM TIJOLOS” - PORTO PALÁCIO HOTEL

2007

NOMEAÇÃO PARA O PRÉMIO INTERNACIONAL RAYMOND GEORIS PRICE: THE MERCATOR FOUND - PELA

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

2007

“CEM PRATOS COM HISTÓRIA PARA MUDAR A HISTÓRIA DE ALGUNS” VIII LEILÃO – ATENEU COMERCIAL DO PORTO

2007

5.º CONGRESSO INTERNACIONAL ESPAÇO T: “MORTE, CULTURA E ARTE”

SEMINÁRIO DE VILAR

2007

CORPO EVENTO X CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA - – AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL

ALMEIDA GARRET

2007

LANÇAMENTO DA CAMPANHA “ROSTOS POR UMA CAUSA” – ANGARIAÇÃO DE FUNDOS PARA A CONSTRUÇÃO DA

SEDE DO ESPAÇO T

2007

“DO PORTO PARA O MUNDO PEDAÇOS DE UM MANIFESTO” – INTERVENÇÃO DE ARTE PUBLICA INSERIDA NO ANO

EUROPEU DA IGUALDADE DE OPORTUNIDADE PARA TODOS – ESTAÇÃO DE METRO DA CASA DA MÚSICA

2007

O ESPAÇO T DISPONIBILIZA SERVIÇO DE IMPRESSÃO EM BRAILLE

2008

MENÇÃO HONROSA O PRÉMIO MUNICIPAL “JOÃO DE ALMADA”, INSTITUÍDO PELA CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO

(CMP) E QUE TEM COMO OBJECTIVO «INCENTIVAR E PROMOVER A RECUPERAÇÃO DE EDIFÍCIOS REPRESENTATIVOS

DO PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO DA CIDADE, VISANDO DISTINGUIR O MELHOR EXEMPLO DE REABILITAÇÃO».

2008

INAUGURAÇÃO DA NOVA COMUNIDADE DE INSERÇÃO DO ESPAÇO T NO PORTO PELA MINISTRA DA SAÚDE

EXMA. SRA. DR.ª ANA JORGE

2008

“DE UNS PARA OUTROS” IX LEILÃO – ORDEM DOS MÉDICOS

2008

EXPOSIÇÕES NA QUASE GALERIA DE CATARINA MACHADO | DEBORAH SANTIAGO | VASCO BARATA | PEDRO SARAIVA

| YONAMINE | CATARINA SARAIVA | PEDRO VALDEZ CARDOSO | RUTE ROSAS |RODRIGO AMADO | GRAÇA PEREIRA COUTINHO


92

2008

EXPOSIÇÕES NA GALERIA ITINERANTE DE CARLOS ALBERTO FERREIRA GOMES | SABIRA KALDAROVA |

COLECTIVA DE ALUNOS |MIRA

2008

EXPOSIÇÕES NA GALERIA ESPAÇO T DE CONCEIÇÃO MOREIRA | CARTAS DO MUNDO | CARLOS GOMES |

COLECTIVA DE ALUNOS

2008

PRIMEIRAS CERTIFICAÇÕES DE NÍVEL SECUNDÁRIO NO CENTRO NOVAS OPORTUNIDADES ESPAÇO T

2008

CRIAÇÃO DO CLUBE UNESCO ESPAÇO T

2008

3º LUGAR PRÉMIO HOSPITAL DO FUTURO - SERVIÇO SOCIAL

2008

CORPO EVENTO XI CICLO DE ESPECTÁCULOS EM TEATRO E DANÇA - – AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL

ALMEIDA GARRET

2008

INAUGURAÇÃO DA QUASE GALERIA

2008

REVISTA ESPAÇO CON(TACTO) N.º 14 INTITULADAS “GUIA PARA UM SEROPOSITIVO DE SUCESSO”

2008

ACTIVIDADES DO CLUBE UNESCO ESPAÇO T: COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS INOCENTES VITIMAS DE AGRESSÃO | COMEMORAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA POPULAÇÃO | “QUE RUMO PARA O PLANETA? CONTRIBUTO PARA UM DIÁLOGO.” COM JOÃO FÉLIX PRAIA | COMEMORAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DO ESPAÇO T - “14 ANOS DE INCLUSÃO PELA ARTE” COM JORGE OLIVEIRA | PALESTRA “PORTO: PASSADO, PRESENTE E FUTURO” COM LUÍS OLIVEIRA RAMOS E COLAÇO ANTUNES | COMEMORAÇÃO DO DIA DAS NAÇÕES UNIDAS COM ANTÓNIO MARTINS DE ALMEIDA | CONVERSA COM RODRIGO AMADO E LÚCIA MARQUES INTITULADA “CLOSE, EVEN CLOSER” | “QUE RUMO PARA O PLANETA? CONTRIBUTO PARA UM DIÁLOGO II” COM JOÃO PRAIA | COMEMORAÇÃO DO DIA UNIVERSAL DA CRIANÇA | COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL PARA A ELIMINAÇÃO PARA A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES | COMEMORAÇÃO DO DIA DOS DIREITOS HUMANOS COM LUÍSA NETO | CONVERSA COM GRAÇA PEREIRA COUTINHO E LEONOR NAZARÉ INTITULADA “HOUSE HUNTING & FINDING?”

2008

COMEMORAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DO ESPAÇO T - “14 ANOS DE INCLUSÃO PELA ARTE” COM JORGE OLIVEIRA

2009

PRÉMIO INFANTE D. HENRIQUE, ATRIBUÍDO PELA CONFRARIA DAS TRIPAS À MODA DO PORTO

2009

ACTIVIDADES DO CLUBE UNESCO ESPAÇO T: CONVERSA COM MARGARIDA MARQUES – “CICLO DA ÁGUA” – CICLO CONVERSAS SOLTAS | CONVERSA COM EUGÉNIO MONTEIRO – “CIDADANIA EUROPEIA” – CICLO CONVERSAS SOLTAS | CONVERSA “OS ANÕES NÃO CHEGAM AO MULTIBANCO”, NO AUDITÓRIO DA CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS – CICLO AFINAL QUE MUNDO É ESTE? | CONVERSA COM COLECTIVO AFRONTAMENTOS – CICLO QUASE CONVERSAS | “OS SURDOS NÃO OUVEM CONCERTOS”, NA CASA DA MÚSICA – CICLO AFINAL QUE MUNDO É ESTE? | “HISTÓRIA DAS CIDADES E URBANISMO” COM JORGE CARVALHO – CICLO CONVERSAS SOLTAS | CONVERSA COM CRISTINA ATAÍDE – CICLO QUASE CONVERSAS | “A PAISAGEM NO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO” COM JOSÉ CANGUEIRO - CICLO CONVERSAS SOLTAS


93

| “OS CEGOS NÃO PODEM VER ARTE” NO MUSEU SOARES DOS REIS – CICLO AFINAL QUE MUNDO É ESTE? | CONVERSA COM MÓNICA DE MIRANDA – CICLO QUASE CONVERSAS | “O BELO” COM FÁTIMA LAMBERT – CICLO CONVERSAS SOLTAS | “AS PROSTITUTAS EXISTEM PORQUE OS OUTROS GOSTAM” NO HOTEL EUROSTAR DAS ARTES – CICLO AFINAL QUE MUNDO É ESTE? | “MIGUEL TORGA” COM ANABELA OLIVEIRA – CICLO CONVERSAS SOLTAS | CONVERSA COM NUNO SOUSA VIEIRA – CICLO QUASE CONVERSAS | “OS TOXICODEPENDENTES NÃO SÃO CONFIÁVEIS” NO AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA ALMEIDA GARRETT – CICLO AFINAL QUE MUNDO É ESTE? | “A LITERATURA NO CINEMA PORTUGUÊS” COM ANABELA OLIVEIRA | CONVERSA COM DANIEL MELIM – CICLO QUASE CONVERSAS | “UM MUNDO PERFEITO” NA SEDE DO ESPAÇO T - CICLO AFINAL QUE MUNDO É ESTE? 2009

“HOMEM T – UM PROJECTO DE FELICIDADE” – EXPOSIÇÃO DE ARTE PUBLICA, AVENIDA DOS ALIADOS, PORTO

2009

LANÇAMENTO CATALOGO DA EXPOSIÇÃO “HOMEM T – UM PROJECTO DE FELICIDADE” – HOTEL INFANTE SAGRES

2009

INAUGURAÇÃO DAS NOVAS INSTALAÇÕES DA FILIAL DA TROFA E GALERIA ITINERANTE

2009

6ª CONGRESSO INTERNACIONAL ESPAÇO T: “O DESEJO” - SEMINÁRIO DE VILAR

2009

REVISTA ESPAÇO CON(TACTO) N.º 15 INTITULADA “O DESEJO”

2009

JANTAR DE GALA “15 ANOS ESPAÇO T”, HOTEL INFANTE SAGRES

2009

EXPOSIÇÕES NA QUASE GALERIA DE ANTÓNIO REGO | COLECTIVO AFRONTAMENTOS | CRISTINA ATAÍDE | MÓNICA

DE MIRANDA | NUNO DE SOUSA VIEIRA | DANIEL MELIM

2009

EXPOSIÇÕES NA GALERIA ESPAÇO T DE MARGARIDA ANTÓNIO | RITA FERNANDES | MARTA GONÇALVES | COLECTIVA

DE ALUNOS | SVETLANA TOMNIKOVA

2009

EXPOSIÇÕES NA GALERIA ITINERANTE DE JOÃO PEREIRA | JOANA FOLHADELA | MÁRIO AMBRÓZIO | EDGAR VIEIRA |

COLECTIVA DE ALUNOS | PAULO PACHECO

2009

ABERTURA DO GIP – GABINETE DE INSERÇÃO PROFISSIONAL


94

ficha tĂŠcnica


95

Director e Editor Jorge Oliveira Coordenação de Produção e Relações Públicas Cláudia Oliveira Produção Cláudia Oliveira | Leonel Morais Coordenador Fotográfico Luís Miguel Ferraz Fotografia dos “Príncipes” Luís Miguel Ferraz | Maria João Calisto Fotos 15 Momentos Nuno Ferreira | Luís Miguel Ferraz | Maria João Calisto | Javier Diaz | Vítor Costa | Inês D’ Orey Secretariado Cristina Afonso Responsável Financeiro Susana Belo Revisão de Textos Maria João Ferrero e Lúcia Leite Autores André Domingues | Beatriz PAcheco Pereira | Carlos Coelho | Carlos Magno | Diogo Alcoforado Elsa Semedo | Helena Osório José Pinto da Costa | Luís Trigo | Maria Antónia Jardim | Maria do Carmo Serén Mário Cláudio | Nuno Ferreira | Paulo Ferreira | Rui Reininho | Salvato Trigo | Teresa Lago Histórias baseadas nas vidas de Afonso Vareta | Alexandra Dias | Álvaro Fernandes | Ana Rute Moreira | David Silva | João Pedro Gomes Joaquim Rocha Maciel | Jorge Oliveira | José Pereira | Laura Cruz | Lurdes Costa | Manuela Miranda Miguel Ângelo Sousa | Pedro Ribeiro | Sara Leguisamo | Vitor Costa | Yolanda Botelho Notas de Abertura Emílio Rui Vilar, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian Edmundo Martinho, Presidente do Conselho Directivo do Instituto da Segurança Social, IP Autoria dos Textos 15 Momentos Jorge Oliveira Director Gráfico Miguel Novo Design Comunicação miguelnovo@portodesign.pt Impressão Lidergraf - Artes Gráficas, SA. | Rua do Galhano, Nº15 (E.N. 13) 4480 Vila do Conde Edição e Reprodução em CD MPO (Portugal), Lda. Produção Braille Santa Casa da Misericórdia do Porto, Centro Professor Albuquerque e Castro Edições Braille, Rua Instituto S. Manuel, 4200-308 Porto Tradução áudio Universidade Fernando Pessoa, Porto Locução Marco Pereira ISBN – 978-989-95116-2-0 Propriedade Espaço T – Associação Para Apoio à Integração Social e Comunitária Sede do Editor – Rua do Vilar, nº 54 | 54 A, 4050-625 Porto Tel: 22 6081919 / Fax: 22 5431041 | espacot@espacot.pt O Livro “15 Anos a transformar Homens e Príncipes” é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian RESERVADOS TODOS OS DIREITOS DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO EM VIGOR


agradecimentos 96


97

Afonso Vareta Alexandra Dias Álvaro Fernandes Ana Rute Moreira André Domingues Beatriz Pacheco Pereira Carlos Coelho Carlos Magno David Silva Diogo Alcoforado Edmundo Martinho Elsa Semedo Helena Osório João Pedro Gomes Joaquim Rocha Maciel Jorge Oliveira José Pereira José Pinto da Costa Laura Cruz Luís Miguel Ferraz Luís Trigo Lurdes Costa Manuela Miranda Maria Antónia Jardim Maria do Carmo Seren Maria João Calisto Mário Cláudio Miguel Ângelo Sousa Miguel Novo Nuno Ferreira Paulo Ferreira Pedro Ribeiro Rui Reininho Salvato Trigo Sara Leguisamo Teresa Lago Vitor Costa Yolanda Botelho Lidergraf Universidade Fernando Pessoa Fundação Calouste Gulbenkian Instituto da Segurança Social, IP À Equipa do Espaço t, sem excepção Aos alunos, Por terem acreditado no Espaço t


Autoria

Projecto financiado

Apoios


99

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