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RELIGIÃO
Os “Paraibanos” sempre foram muito religiosos. Suas ligações com Juazeiro do Norte-CE não se limitavam aos laços familiares. Tinham com o Padre Cícero Romão Batista182 uma relação muito especial, pois iam constantemente a Juazeiro em romaria e pedir conselhos.
Numa dessas viagens foram aconselhados a irem para o Maranhão, na região de Pastos Bons – já haviam passado por aqui, trabalhando em São Luis e no Engenho Central, nos anos 1910. Padre Cícero falou das possibilidades da região, de tudo o que a terra dava de melhor e onde: arroz, algodão, feijão, milho. Quando Josias, primeiro filho de Guilhermino morreu, pensou em abandonar a região e foram aconselhados a permanecer e construir suas casas com tijolos e telhas. Zuza (José Lira Brito) ainda no ventre de sua mãe foi bento pelo “Padim Ciço” 183 que disse que ele iria ser um grande homem, de destaque (CAMPOS, 1990) 184 .
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Ainda hoje, há grande tendência da população para as romarias, com muitos devotos fazendo peregrinações a Juazeiro do Norte, acendendo velas em suas casas no dia 02 de fevereiro. Assim como vão a Canindé para festejar o milagroso São Francisco, assim como fazem novenas e promessas em louvor a Nossa Senhora das Candeias185 .
Outra peregrinação tradicional é afeita anualmente a localidade Alma Rita, interior de Mirador, para onde são levados os ex-votos dos fiéis.
A primeira missa foi rezada a conselho do Padre Cícero, consolando a família da primeira mulher de Antonio Paraibano, que dizia que ali iriam viver como animais, pois não tinha padre, nem nada. Disse-lhes o Padre que quando se instalassem, chamassem padre e mandassem rezar missa. José Paraibano construiu uma ‘casa’ de frente a sua, de palha, e mandou buscar padre e celebrar a primeira missa no Brejo.
182 O Padre Cícero Romão Batista nasceu na cidade do Crato, região Sul do Estado do Ceará, em 24 de março de 1.844. Filho de Joaquim Romão
Batista e Joaquina Vicência Romana, carinhosamente chamada Quinô. Ingressou no Seminário de Fortaleza, em 1.865. Cinco anos depois foi ordenado sacerdote. Em janeiro de 1.871 retornou a Crato, onde ficou aguardando nomeação para prestar serviço em alguma paróquia. Em 24 de dezembro do mesmo ano, atendendo a convite do Professor Semeão Correia de Macêdo, celebrou pela primeira vez no povoado de Juazeiro, onde permaneceram três dias em contato com o povo, tendo decidido poucos meses depois fixar residência ali, na função de capelão. Protagonista da chamada "Questão Religiosa" de Juazeiro. Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1.934, com 90 anos de idade, em Juazeiro do Norte. Rejeitado pela Igreja, tornou-se o verdadeiro santo dos nordestinos e como tal é venerado à revelia de Roma. Em todas as partes do Nordeste há referências às mais diversas curas e graças alcançadas por sua intercessão, muitas das quais consideradas como autênticos milagres. A fé do povo no seu santo é inabalável. Padre Cícero deixou o mundo dos vivos, mas, continua vivendo no coração de todas que cultuam sua memória. Disponível em http://www.padrecicero.com.br/portug.htm, acessado em 03/02/2009. 183 Na devoção popular é conhecido como Padre Cícero ou Padim Ciço. Proprietário de terras, gado e dono de diversos imóveis, o Padre Cícero fazia parte da sociedade e política conservadora do sertão do Cariri. Tinha no médico Floro Bartolomeu seu braço direito e integrava o sistema político cearense que ficou sob o controle da família Accioly durante mais de duas décadas. Carismático, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará e da Região Nordeste do Brasil. Foi o primeiro prefeito de Juazeiro, em 1911, quando o povoado foi elevado a cidade. Voltou ao poder, em 1914, quando o governador Marcos Rabelo foi deposto. No final da década de 1920, o Padre Cícero começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_C%C3%ADcero acessado em 03/02/2009. 184 CAMPOS, Clodomir Lima. DEPOIMENTOS, in VAZ, 1990, obra citada. 185 RIBEIRO, 2002, obra citada.
236 Em agosto de 1925, o Padre João Posidônio Serra Monteiro rezou a primeira missa. Após o que, o padre começou a vir regularmente. De ano em ano. João Paraibano sempre teve a intenção de construir uma igreja e ‘botar’ de padroeira Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Informa Alzenir186 que quando chegou em 1934, quem fazia a desobriga era o Padre Constantino187, de Pastos Bons, que vinha uma, até duas vezes ao ano. Mais tarde, veio o Padre Clovis Vidigal (depois Monsenhor Vidigal); depois o Padre Vicente. Todos de Pastos Bons; o Brejo então já era Freguesia de Pastos Bons.
A Capela de São Sebastião foi construída - segundo uns em 1937 e mais provavelmente em 1939, segundo outros - por Joana da Rocha Santos – Dona Noca. Além da rivalidade comercial, manteve com os Paraibanos uma “questão religiosa” – também causa dos desentendimentos. Os moradores - com os “Paraibanos” à frente –conseguiram o material – muitas pessoas carregaram as pedras na cabeça – para construção de uma Igreja, que seria consagrada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Com a saída de João Paraibano da cidade, Dona Noca toma a frente e a conclui, consagrando-a a São Sebastião188 .
Padre Constantino promovia já uma festa em honra a esse Santo, com duração de 11 a 20 de janeiro. Dona Noca briga com esse padre e passa a promover outra festa, iniciando em 21 de janeiro até o dia 30, com outro padre rezando a missa. Parece-nos que a consagração da Capela a São Sebastião foi feita contra a vontade da população...
Além da Capela de São Sebastião foi construída outra, particular, por Cícero Coelho – Cícero Rico. Missa, apenas a de inauguração. Depois não mais foi rezada missa, por ser particular. Cícero Rico e seus filhos estão enterrados lá. No dizer de dizer de João Furtado de Brito, “tem nome de igreja, mas é cemitério.” Por serem católicos, os “Paraibanos” não permitiam que outros credos se instalassem na cidade, conforme relata João Furtado: “crente aqui os Paraibanos não aceitavam. Ou eles corriam com eles. Eles não aceitavam a lei crente, não era permitida “189 .
Em 1942, passou pelo Brejo um Cardeal, Dom Carmelo. Celebrou missa e crismou...
A ausência de padre não significava a falta de assistência religiosa e da devoção á religião. Como lembra a Sra. Alzenir, “o padre morava em Pastos Bons e nossa turma de mulheres – Rita Vieira, a finada Marcelina Brito e
186 Como é mais conhecida Antonia Frazão de Oliveira. In DEPOMENTOS. VAZ, 1990, obra citada. 187 Padre Constantino Vieira. Líder religioso, além de padre, era Juiz de Direito, Delegado de Policia, Médico. A mulher brigava com o marido, ia pedir uma opinião a ele. Foi um dos maiores oradores sacros do Maranhão, ombreando com Vieira. 188 Deve-se ressaltar que João Paraibano deixa o Brejo apenas em 1943, pelas perseguições. A construção da Capela data de 1939, consagrada a São
Sebastião, feita por Dona Noca. Essa pode ter sido uma das causas do desgosto de João, abandonando a região... 189 FURTADO DE BRITO, João. DEPOIMENTOS. In VAZ, 1990, obra citada.
237 a turma de senhoras religiosas rezava o oficio todo sábado na igreja de São Sebastião; e no domingo o terço, cantava” 190 .
A Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi edificada em 1960. Também houve muita polemica envolvendo os ‘Paraibanos’, a população e Dona Noca. Comenta-se que as festas de São Sebastião realizadas por Dona Noca, também eram destinadas a arrecadar dinheiro para a edificação da Igreja, mas da mão dela não ia para o padre.
A paróquia tinha certeza de um gado comprado com essas festas, ferrado com um “S” – gado de São Sebastião . Quando o Padre Manoel inicia a construção da Igreja, manda matar uma cabeça, para ir a leilão. Dona Noca questiona e ganha, pois não havia prova de que o gado era da Igreja, do santo... A população dizia que era, conhecia-se o vaqueiro, mas Dona Noca dizia que não! E não tinha jeito de provar o contrario.191
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FELIX PASCOA, 2002, 2003192
• João Posidônio da Serra Monteiro193; • Constantino Francisco Vieira; • Clovis Vidigal194; • Vicente (?) • Manoel da Penha Vieira195; • ???
Quando Paraibano foi transformada em Paróquia, já na década de 1960, passou a pertencer a Diocese de Caxias – o Bispo era D. Luiz Merlin – e o primeiro vigário foi o Padre Felix Valois dos Santos; mais tarde, passou a pertencer à Prelazia de Balsas, cujo Bispo era D. Rino Carlese. É este Bispo quem manda para Paraibano o Padre João Scrimim. Junto, vieram as irmãs da Congregação de São José, destacando-se a Irmã Gema.
Segundo RIBEIRO (2002), as religiões existentes no município são: a Católica, a Batista, a Assembléia de Deus e a Testemunho de Jeová, sendo a Católica a predominante, adotada por 75% da população e a protestante por 25%. De acordo com Veloso Filho (1984, obra citada), no ano de publicação de seu informativo sobre o município, a predominância da religião católica era de 90% e a protestante 10%:
IGREJAS CATÓLICAS
ORD. NOME DA IGREJA
01 Nossa Senhora do Perpetuo Socorro (Matriz)
02 Capela São Sebastião - Centro
03 Capela São Francisco – Bairro Marajá
04 Capela Nossa Senhora de Fátima – Bairro Substação
05 Capela Santo Antonio – Bairro Substação
06 Capela Nossa Senhora Aparecida – Bairro Vila Aparecida
07 Capela São João Batista – Bairro Vila Leão
08 Capela Santo Antonio – Povoado Santo Antonio
09 Capela Nossa Senhora de Fátima – Povoado Várzea do Meio
10 Capela Santa Luzia – Povoado Catingueiro
11 Capela São Raimundo – Povoado Olho D Água do Ari
12 Capela São Francisco – Povoado Coqueiro
Fonte: RIBEIRO 2002, obra citada
PADROEIRO
N. Senhora Perpetuo Socorro
São Sebastião
São Francisco
N. Sra. De Fátima
Santo Antonio
N. Sra. Aparecida
São João Batista
Santo Antonio
N. Sra. De Fátima
Santa Luzia
São Raimundo
São Francisco
IGREJAS EVANGÉLICAS
193 Rezou a primeira missa 194 Depois, Monsenhor Vidigal 195 Primeiro padre a residir em Paraibano
01 Igreja Assembléia de Deus
02 Igreja Batista Getsemani
03 Congregação Cristã do Brasil (Igreja do Véu)
04 Igreja Adventista do Sétimo Dia
05 Igreja Universal do Reino de Deus
06 Salão do Reino das testemunhas de Jeová
Fonte: RIBEIRO 2002, obra citada
No Calendário Religioso são registrados três festejos anuais: • 20 de janeiro – Festejos de São Sebastião; • 15 de agosto – Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, Padroeira da cidade; • 04 de outubro – São Francisco, padroeiro do bairro Marajá. Esses festejos são realizados com novenas durante nove noites, onde se rezam terços, cantam-se ladainhas, benditos. Após as rezas, geralmente são realizados leilões. No ultimo dia do festejo, o padre celebra a missa do santo padroeiro às nove horas do dia; após a missa, são celebrados casamentos e batizados. Às seis da tarde há a procissão em honra ao Santo e depois o encerramento do festejo (VELOSO FILHO, 1983).
Merece destaque as novenas e ladainhas oferecidas a Santa Luzia pelos seus devotos, os quais necessitam de seus milagres, na cura da visão.
A dois de fevereiro costuma-se acender velas nas casas em louvor a Nossa Senhora das Candeias.
Pessoas portadoras de ferimentos e outras doenças de pele fazem promessas com São Lázaro e uma vez obtidas a graça prepara-se almoços com pratos finos e variados inclusive doces que são servidos a sete cachorros, convidados previamente, com toda a solenidade.
A Festa de São João, realizada dia 24 de junho, é feita ao redor de uma fogueira, com bastante doce, abobora assada no braseiro, musicas, danças, saltos sobre as chamas e muita alegria. As outras festas juninas – porque realizadas no mês de junho – são as de Santo Antonio (dia 13) e a de São Pedro (dia 29).
R. Justino Vieira, 40 - Centro
R. Clube de Jovens - Centro
Av. 1º. De Maio – Centro
R. 7 de Setembro – Centro
242 CAPELA DE SANTO ANTONIO – BAIRRO SUBESTAÇÃO
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LÉO LASAN https://www.facebook.com/paraibanonews/photos/pcb.2848237605251540/2848215095253791/?type=3&theate r
FÉ, SOLIDARIEDADE, CRÍTICAS ÀS AUTORIDADES E UM EXEMPLO DE AMOR AO PRÓXIMO, FORAM SENTIMENTOS DEMONSTRADOS PELO SR. DIAQUINO, CRIADOR DA IGREJA E DO FESTEJO DE SANTO ANTONIO DO BAIRRO SUBESTAÇÃO EM PARAIBANO
"FALTA RELIGIOSIDADE AO POVO DE PARAIBANO" disse um dos primeiros moradores do bairro da Subestação em Paraibano. Em entrevista na manhã desta quarta-feira 13 de junho, último dia do Festejo de Santo Antonio, o senhor Luis Sousa Diaquino, 81 anos, mostrou momentos de emoção, lágrima, mas também felicidade. Esse misto de sentimentos prova o tamanho do coração desse senhor que foi responsável pelo desenvolvimento do bairro e se emociona ao falar de uma das maiores obras, feita em conjunto com os moradores, a construção da igreja de Santo Antonio no bairro. Mas há tristeza, quando segundo ele, a população sofrida do bairro nunca foi reconhecida pelas autoridades.
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Sr. Diaquino (descente de Tutóia-MA) chegou a Paraibano no início dos anos 60, morou no centro da cidade e mudou-se para o bairro, quando o mesmo ainda era mata de faveiras, pequis e timbós. A religiosidade ele trouxe da família. Em Paraibano, no bairro para onde escolheu morar, as primeiras missas por volta de 1969, eram celebradas em uma casinha de palha construída por ele. Anos depois, foi dele, o pedido ao padre Dante (no ano de 1989 a 1992) para que no local fosse erguido uma capela, pois a comunidade era pobre e muitas crianças não tinham roupas e calçados para irem a missa no centro da cidade "É porque as crianças aqui não tem condições de ir na igreja, por não ter um calçado, uma roupa, são pobres e distante da igreja do centro da cidade" disse Sr. Diaquino ao padre Dante na época. Durante a entrevista foi relatada a história da igreja e de toda a luta, principalmente para as autoridades (desde antigamente até hoje) para que invistam e apoiem o bairro, carente de muitas coisas, principalmente de amor ao próximo e de religiosidade.
EMOÇÃO A entrevista filmada, está sendo editada, e não tem como não se emocionar, ao ver Sr. Diaquino, respirar fundo, descer lágrimas ao lembrar de todas as dificuldades que ele e familiares passaram para tornar o bairro um dos mais conhecidos da cidade e com a maior população, mas nunca lembrado após as eleições "Nem em um festejo aparecem" disse o senhor Diaquino. O site irá postar o vídeo, no momento foi retirado um dos trechos da entrevista, veja abaixo: Paraibanonews:- "Como o senhor avalia essa igreja, e qual os benefícios que ela trouxe para a comunidade?" SR. Diauino:-Rapaz... eu vejo uma grande obra para o bairro da Subestação, quando nós começamos, uma palavra do Padre Dante me marcou "Diaquino eu tenho vocês como uma família minha (por que acredito que ele encontrou alguma coisa dentro de nós) "Toma conta dessa obra, e não deixa cair não, por que se o povo não te agradecer, mas Deus te agradece". Paraibanonews:- Mas como o senhor sente hoje, existe esse reconhecimento? Sr. Diaquino:" Rapaz... pra mim... isso aqui é tudo... (pausa, lágrimas e dificuldade para falar) pra mim e para esse povo... mas só que...sabe como é gente... não agradece as coisas muito bem... e nem tem o conhecimento das
244 coisas de Deus... Então todo mundo acha que é coisa pouca, mas não é... então, faz como o padre Dante disse: Deus te agradece... Mas eu também tenho um grande desgosto disso aqui... Por que a população de dentro da rua (moradores do centro da cidade), os donos da cidade (as autoridades) não ajudam, isso é uma tristeza para mim, uma tristeza muito grande!... A comunidade faz um festejo desse não aparece nenhuma autoridade aqui... pra dar um apoio... Não aparece nem mesmo para dar uma assistência para esse povo aqui... O povo parece que anda sem religiosidade... sem Deus..." disse Diaquino. A entrevista tem mais depoimentos polêmicos e comoventes, tem exemplos de experiência e de luta, de religiosidade e de como os jovens estão recebendo essa responsabilidade de continuar com um dos festejos mais antigos do município. O vídeo e a matéria completa neste sábado.
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O ADEUS AO AMOR MAIOR.
Texto e fotos:Léo Lasan
“Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão!....”
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Irmã Gema Rover e crianças 1970 arq:Lasan
O morador de Paraibano, católico ou de outra denominação religiosa, que nunca ouviu a letra dessa música, executada no final da tarde, pelos megafones no alto da torre da igreja matriz, durante anos, também não deve ter visto a despedida das últimas irmãs de São José de Chambéry, na segunda-feira (2) e terça-feira (3) de julho. As Irmãs de São José, chegaram a Paraibano,exatamente no dia 26 de fevereiro de 1969, quando Paraibano ainda era um “brejo”, poucas casas e nenhum estabelecimento de saúde e muita pobreza.
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Irmã Gema Gallioto, Ida Mezonno, Joana
As primeiras irmãs enviadas pela província de Caxias do Sul (RS) para o Maranhão foram, irmã Thaís Mósena, Severina Lúcia Brogliato e mais tarde Rosália Fávero e Dorilde Bigolin e irmã Zelina Gema Rover. Paraibano, Riachão e Balsas, foram as três primeiras comunidades abertas no Maranhão em 1969, um ano depois vieram as comunidades de São Raimundo das Mangabeiras, Pastos Bons e Sucupira do Norte. A chegada das irmãs de São José a Paraibano foi preparada pelo padre João Escremin e recebida pela comunidade simples, pobre, mas fraterna. Em Paraibano não havia nenhum estabelecimento para atendimento à saúde e o hospital mais próximo distava 50 km. As estradas eram péssimas e quando chovia o município ficava isolado. Foram elas , as irmãs Gema Rover e Severina que passaram a atender os doentes à domicílio. Qualquer paraibanense acima de 50 anos lembra da irmã Gema Rover subindo as ruas empoeiradas, com um saquinho de bala distribuindo às crianças que a seguiam casa a casa onde estava suas famílias muitas delas com um ou dois entes enfermos.
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Casa das irmãs em Paraibano Foto:Lasan
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248 Além do programa curativa, as irmãs organizaram um grande programa de prevenção, e eram esses trabalhos que obrigava-as a fazer longas e frequentes viagens até São Luis. 600 kms.(na época) de péssimas estradas, ônibus precários dia sim dia não, de dois a três dias de viagem, tudo isso, para buscar vacinas e medicamentos para os paraibanenses.
Primeiro posto de Saúde de Paraibano foto:Lasan. Foi Irmã Gema Rover e as missionárias de São José, que fizeram a primeira campanha de mobilização comunitário na cidade. A Campanha do Tijolo (alvenaria), em que cada morador colaborou e assim conseguiram construir um mini-posto de saúde, que mais tarde passou a funcionar como mini-hospital, atualmente serve como Posto de duas Equipes de Saúde da Famíla, localizado na Rua Justino Vieira. As irmãs também contribuiram na educação de muitos paraibanenses. Irmã Gema Rover foi professora de Higiene e Puericultura e Metodologia do Ensino Religioso de 1971 a 1973 e diretora (1973) no Ginásio Bandeirantes, na época ameaçado de fechar por falta de professores qualificados, no final de 1973, alunos e professores deram para Gema uma “Rosa de Prata” em reconhecimento ao valioso trabalho da irmã. Nos anos 70, uma rua na cidade em que todas as casas eram de palhas, sofreu um grande incêndio. Famílias perderam tudo. Na época do incêndio. irmã Gema, comovida com a situação, foi em busca de ajuda e pediu aos proprietários de terras e de casas em ruas próximas que doassem terrenos ou os fundos dos quintais de suas residências para que fossem construídas as casas das famílias vitimas do incêndio, que também em forma de mutirão nasceu então a nova Rua Irmã Gema. 7 DE SETEMBRO DE LÁGRIMAS E DOR. No dia 6 de Setembro de 1973, quando se dirigia para Floriano, para visitar pessoas doentes e hospitalizadas, no final da travessia de uma ponte no KM 32 da BR 320, desviando de um buraco, o carro perdeu o controle e Irmã Gema caiu fora...O carro passou por cima dela provocando esmagamento da bacia. Em sua companhia estava Padre Flório Chissali, que não sofreu ferimentos, conseguiu subir até a pista para pedir socorro. A demora foi grande. Até que enfim passou uma caçamba, Gema foi colocada na carroceria, levada ao Hospital Dr. Sebastião Martins-Floriano-PI, há 10 kms. do local do acidente.
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249 Gema faleceu ao entrar na sala de cirurgia em decorrência de hemorragia. Eram 8:20 do dia 6 de setembro de 1973. Paraibano se preparava para o desfile do dia 7. Mesmo sem haver telefone nem rádio na cidade, a triste notícia chegou e foi como uma bomba sobre o coração dos paraibanenses, em todas as casas o clamor. No dia 7 de Setembro daquele fatídico 1973, o desfile cívico foi outro. As 8 horas após a vigilia de oração, missas, celebrações e chegada de irmãs, padres e pessoas de vários municípios, do Bispo Dom Rino Carlesi, foi iniciado o cortejo para o cemitério São Sebastião, onde Gema Rover foi sepultada. Da matriz ao cemitério a fila era vista, nunca houve um cortejo tão grande como de irmã Gema. Paraibano anos mais tarde, em reconhecimento atribuiu ao nome de irmã Gema Rover, escolas e ao espaço do cinema e atualmente Salão Paroquial Irmã Gema Rover, a uma rua no centro da cidade. Irmã Gema Rover há muitos anos é invocada com a mesma intensidade. A sua sepultura no cemitério local (atualmente depredada por vândalos) está sempre coberta de velas, cadernos, cartas, bilhetes e muitos pedidos de promessas e curas. A irmã é procurada principalmente por estudantes com problemas de notas no final do ano. Outros em busca de ajuda para cirurgias e diversas curas de doenças. Alí na sepultura, estão declarações que o coração pode dizer, pedir e acreditar, conforme as respostas de agradecimentos encontradas também no local, hoje precisando de reforma e também ajuda por parte daqueles que tiveram êxito das promessas.
A SOLIDÃO A casa das Irmãs de São José de Chambéry em Paraibano, fica ligada ao fundo da Prefeitura Municipal, mas a ajuda aos pobres que deveria vir do prédio da frente, na realidade vem (ou vinha) da casa dos fundos. No decorrer desses 43 anos de existência da Congregação, são inúmeros os feitos sociais que as irmãs de São José, trouxeram para o município de Paraibano. Foram elas que deram os primeiros ensinamentos e formaram turmas de técnicas de enfermagem, que trouxeram a primeira enfermeira, que fundaram o primeiro mini-posto médico, os primeiros mutirões para construções de ruas e bairros, como foi o caso de muitas residências na Vila Leão e Substação, o atendimento aos mais carentes, a fundação de algumas igrejas, a educação de vários médicos, advogados e outros profissionais de renome hoje no país, a instalação da Pastoral da Criança e depois a preparação dos Agentes Comunitários de Saúde, a Creche da Vila Leão, que atendia diariamente 82 crianças, 70 para ter 4 lanches por dia e 12 que ficavam permanentes, assistidas por voluntárias, foram elas as responsáveis pela redução de desnutrição infantil e melhoria na saúde psicosocial (as irmãs montaram um consultório de atendimento em psicologia- atualmente desativado), a primeira ONG de Paraibano, que conseguiu trazer recursos para a cultura, criando em Paraibano, cursos de artes, oficinas de Capoeira, Bumba-Meu-Boi, Teatro e escolas de ensinamentos religiosos, ecológicos, além de colaborar com todos os projetos sociais do município. São tantas as benfeitorias realizadas pelas irmãs de São José que fica difícil enumerar. Mas nos últimos anos, as Irmãs estavam sendo “ignoradas” na sua missão. A ajuda vinha só do exterior e ínfima para um trabalho tão grandioso. A mesma população que recebeu tanto dessas missionárias, já não doavam mais. A força física das irmãs também já não obedeciam mais as suas vontades de chegar mais próximo do próximo. Contribuindo para isso a falta de voluntariado, principalmente da maioria das jovens, que não se interessam por nada que não seja o seu egocentrismo. Os avisos que algo estava se esvaindo, era visível. As irmãs que sempre preecheram aquela casa isolada do burburinho, nos últimos tempos era de um silêncio típico de mosteiro. Visitas quase nenhuma, ajuda nenhuma. De tantas missionárias que marcaram sua bondade por alí, há 4 anos atrás, restavam apenas 5 senhoras divinas, que tentaram ajudar o povo carente. Mas com a falta de vocação
250 religiosa e portanto renovação na profissão perpétua das missionárias, a Congregação foi ficando "idosa" e aos poucos muitas congregações, foram fechando no Maranhão. Em Pastos Bons já não existe há uns dois anos. Em Paraibano desde 2008, o número vinha sendo reduzido. A médica irmã Teresinha foi transferida para São João dos Patos, no ano passado a Irmã Ida Mezzono foi para Marituba no Pará, ficaram Irmã Gemma Galotto e Irmã Joana Alexandre. Neste domingo 1º de julho, houve uma celebração de despedida das últimas irmãs em Paraibano. Na segundafeira, irmã Gema Gallioto se despediu e foi para São Raimundo das Magabeiras. Na terça-feira, irmã Joana colocou os móveis da casa e seguiu para São Luis. A casa está disponível para aluguel. O Bem ao Povo de Paraibano foi doado pelas irmãs. Não há como alugar nem pagar. Apenas lamentar que não tenhamos tido a consciência de agradecer como deveríamos a essa que é uma das maiores prova de amor. Doar a vida pelo irmão... Sentimento e valor que elas, Irmãs de São José fizeram durante todos esses 43 anos em nosso município. Obrigado.
FALECEU EM CAXIAS DO SUL-RS, NA MADRUGADA DESTE DOMINGO DE RAMOS (5/4/2020), IRMÃ GEMA GALLIOTO
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Chegou em Paraibano em 1985 para a Congregação Irmãs de São José de Chamberry. Era enfermeira e foi pioneira na implantação do Programa dos Agentes Comunitários de Saúde no município. Coordenadora de Pastorais criou cursos e o Boizim (bumba meu boi mirim) etc. Em 2011 juntamente com as irmãs de São José de Chamberry teve a missão interrompida em Paraibano de onde foram transferidas. Nos últimos anos estava em uma casa de repouso em Caxias de Sul aonde veio a falecer nesta madrugada por problemas respiratórios e cardíaco. Terezinha Muraro médica e também missionaria de Chamberry em Paraibano contemporânea cuidava de irmã Gema no repouso na Casa de Nazaré RS.
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O site PARAIBANONEWS fez entrevistas com pessoas que conviveram com a missionária e postarar a matéria nesta segunda-feira.
Ir.Gema Galiotto, era natural de, Nova Pádua-RS, e tinha 88 anos. Obrigado, irmã Gema.
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