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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

EspeciaisConvidados APB

Artigo polêmico assinado provavelmente por Rubem Almeida* é reapresentado por Leopoldo Vaz Sobre a BATALHA DE GUAXENDUBA. *Rubem Almeida é um dos ícones da história maranhense, no século XX. 15/11/2021 às 11h37Atualizada em 15/11/2021 às 14h35 Por: Mhario Lincoln Fonte: Leopoldo Vaz Compartilhe:

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GUAXENDUBA: uma 'BATALHA' ou SIMPLES ESCARAMUÇA? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão , Academia Ludovicense de Letras, Academia Poética Brasileira Aproxima-se a comemoração da 'Batalha de Guaxenduba', ocorrida entre 19 e 21 de novembro de 1614. Buscamos na Imprensa maranhense o que foi escrito sobre esse acontecimento e praticamente não encontramos nada: sete artigos, em três jornais, da coleção existente na Hemeroteca da Biblioteca Nacional: em A Pacotilha, 4; Diário de São Luís, 2; e Jornal do Maranhão: 1. O mais elucidativo - Na edição de 04 de setembro de 1938, da Pacotilha, aparece artigo: "Guaxeduba". Segundo o autor – R.A., seria Rubem Almeida? – houve umas simples escaramuça: "(...) Página ainda não criticada essa da história da colonização francesa em nossa terra. Quantos a versaram, nada mais fizeram de que, incondicionantes e ridículos, reeditar sobre novo estilo, o relato de seu historiador, sem se aperceberem de que, parte profundamente interessado nos sucessos, não podia esquivar-se à eira da parcialidade e do exagero. Testemunha ocular, é certo, conhecedor dos menores detalhes, coparticipe de primeiro plano, seu diário reverte-se entretanto de tantas quixotices que chega a estranhar ninguém até ao presente houvesse posto reparo. Nem atentaram ao significado oculto do qualitativo "milagrosa", imputada aos capuchinhos, pela dificuldade no preparo e cometimento, quando a verdade é ter advindo o apodo do êxito de escaparem mais ou menos ilesos ao ataque dos que vinham atacar. Compreende-se, e justifica-se a atitude de Diogo de Campos Moreno autor da "Jornada"... argumento, porém, oportuno para o estudo elaborado de sua personalidade e obra. Limitemo-nos por a apresentar o resultado resultado da análise empreendida, despido o relatório de toda a falsa moldura de retumbantes acontecimentos, mercê dos quais esperava

galardão. Sentimos ter de profundamente decepcionar aos maranhenses, ciosos dos feitos de seus maiores, assegurando-lhes, entre outros, que: Não houve a apregoada batalha de Guaxenduba. Não foram os franceses vencidos, senão os vencedores. Não foram expulsos.

Pesquisador Leopoldo Vaz, da APB.

NÃO HOUVE BATALHA

Somos os primeiros a reconhecer os escândalos desta afirmativa inicial. Então, não houve a batalha a que os historiadores têm dedicado os mais fortes adjetivos, colocando-a ao par dos máximos feitos de armas da história pátria?! Cada um, entretanto, e para isso basta o animo da boa vontade e do bom senso, que se der à tarefa de examinar com o devido cuidado, o livro em que primeiro foi relatada, e, não satisfeitos ainda relatam os copistas de agiganta-la, cada um verificará por si o que ora garantimos, e nossa recompensa será apenas a da prioridade da empresa de reconstituição histórica a que há dois bons decênios, nos vimos entregando. Não houve batalha! Houve, sim, um encontro, rusga, refrega, escaramuça ou sinônimo qualquer idêntico, aliás, a vários outros anteriores. Acompanhem-nos o leitor, neste exame à "Jornada"... Chegara a expedição a Guaxenduba no dia 26 de outubro de 1614, vinda da Ilha de Sant´Ana, aonde já os tinha ido inquietar os franceses de Du Pratz, ateando-lhes o quartel de S. Tiago. Mal se estabelecem no novo quartel de Santa Maria de Guaxenduba denominado, recomeçam os ataques dos franceses. Dia não se passa que não os venha molestar uma impertinência qualquer dos vizinhos, que ali mandam índios espiões acompanharem a marcha do estabelecimento. Na tarde de 2 de novembro investe-os Du Pratz, o mesmo que já assolara o quartel de N. S. do Rosário, no Ceará, e o da Ilha de Sant´Ana. Enviam os portugueses naus a Pernambuco, pedindo reforço; intercepta-lhes os franceses a correspondência. Novo assalto a 7. Resolvem mudar de sitio. Impossível! Estão inteiramente sitiados, laçando os franceses o ataque definitivo para o dia 19, e pensando nisso, adverti-los. A armada francesa, com 7 naus de alto bordo e 46 canoas, 400 soldados e 4.600 índios aliados, amanhece fundeada diante de Guaxenduba. Pesieux desembarca com 200 conterrâneos e 2.000 índios: divide-os em dois corpos, o da vanguarda confiado a Du Pratz, e o seu, na praia, onde arma 6 trincheiras, comunicando-se com as que La Fos Benart e De Canonville acabam de levantar no monte fronteiro ao forte. Ravardière, Rassily, Mallart, acompanham de bordo, o desembarque. Acantonados, não sabem os portugueses que partido tomar. Situação eminentemente critica. Desanimo na tropa. Murmúrios de sublevação. Conferencia de Jeronimo e Diogo. É quando, estabelecido o cerco por terra e mar, cerco a que os portugueses assistem impassíveis, chegam ao forte trombeta e tambor com uma carta de Ravardière, concedendo-lhes 4 horas para a

rendição. Era, como se vê, legitimo "ultimatum". Jeronimo e Diogo aventuram um ultimo recurso: surpreender os inimigos com um ataque decisivo inesperado. É o que sucede. Nesse ataque, inteiramente desprevenido, porque todos aguardavam a resposta, morrem Pesieux e uns tantos companheiros; 9, feridos, são aprisionados. A armada francesa entra em cena. Os 3 navios contrários, imprestáveis, varados, não podem responder. Bandeira branca no forte de Guaxenduba. Menos de uma hora durara a refrega. Não obstante, contada por interessado, tornou-se na imponente batalha de Guaxenduba. NÃO FORAM OS FRANCESES VENCIDOS. Sem duvida não no foram. E esta verdade todos a podem verificar, por mais que se esgote em torce-la o cronista ora apreciado. Pois bem! Assenta Felipe II, para cardeal de sua politica expansionista, a expulsão definitiva do Brasil, de quantos protestantes aqui estivessem estabelecidos, franceses, ingleses ou holandeses, continuando, aliás o plano debalde empregado pela nação de que se acabava de assenhorar; dá, a esse sentido, ordens terminantes a Manoel Telles Barreto, seu primeiro governador geral; Insiste junto aos sucessores, de Francisco de Sousa a Diego de Menezes; biparte novamente o governo para maior facilidade na empresa e com todas essas providencias gerais, a que agregavam inúmeras outras da politica europeia, apenas consegue desloca-los: eis a prova de quanto estavam fortes! Corram-se, de fato, as páginas d´ "A expansão colonial" (1581 – 1626) e apreciem os repetidos assaltos, sempre vitoriosos, de Cavendish, Lancaster, Venner, Pain de Mih, Pieter Zooil, Van Leijen, van Noord, Riffault, des Veaux, Ravardière, etc, etc. e conclua-se a situação de nossa terra. Gaspar de Sousa situa-se em Olinda. Expede a Jeronimo de Albuquerque; é malogrado. Idem a de Martim Soares Moreno, como também as de Pedro Coelho de Sousa, Luis Figueira e Francisco Pinto (este morto em combate com os franceses de Ibiapaba e jamais pelos índios). Estamos no tempo da 'jornada milagrosa'. Ainda no Ceará, já estaria seus componentes sendo hostilizados pelos franceses. Tornaram a sê-lo em Sta. Ana. Em Guaxenduba acabamos de mostrar como se portaram. E daí por diante? Pedem socorros meiocirúrgicos e farmacêuticos, entabulam uma correspondência que tanto tem de cavalheiresca para os franceses quanto para eles de humilhante, pois que nem sequer escrever em 'bom espanhol ou francês' sabiam; aceitam incondicionalmente e do mesmo modo cumprem o Tratado de tréguas; visitam as aldeias e os estabelecimentos onde são principescamente recebidos; observam os fortes; viajam os arredores; recebem mapas e demais informes, enfim, praticam com os inimigos as melhores demonstrações de boa paz. Pergunta-se a esta altura: é isto próprio de vencedor ou de vencido? NÃO FORAM EXPULSOS

De fato. Quando se verificou a decantada expulsão? Em novembro de 1615. E para quando determinava o Tratado a sua retomada: Precisamente para novembro de 1615. E por que é asado perquirir, não se conservou Ravardière na colônia? Por várias razões entre as quais estas duas: a noticia de que fora demitido por Maria de Medicis, a pedido de Felipe II; e a do casamento de Luis XIII com Ana D´Áustria.

Conquanto dispusesse do aporte da Inglaterra e da Holanda, que tinham armadas prontas para socorre-lo, preferiu cumprir a palavra empenhada, por isso deixou São Luis para amargar 3 anos de cativeiro na Torre de Belém.

Estes os fatos na sua crua realidade. Meditem sobre eles os maranhenses estudiosos.

R.A. (...)". Os outros artigos apenas fazem referência à Batalha. Em "Pacotilha" (MA) - 1910 a 1938, edição de 21/11/1917, sob o título de "A batalha de Guaxenduba", é lembrada a data, em comemoração aos 303 que "as forças portuguesas venceram as comandadas por La Ravardiére. Dessa memorável batalha resultou o desalojamento dos franceses, que se haviam instalado aqui, em 1612. Citando João Lisboa, que reproduz

opinião de Pereira do Lago, que julgava que o nome de enseada de Guaxenduba se perdera, e que corresponde à Baia de Anajatuba. Cita outros autores, que julgam que seja a Baia de São José. Após um breve relato das forças franceses no campo de lutas, considera ser momento supremo que para sempre decidiu os destinos da Pátria. Repudia as acusações injustas contra os nossos genuínos maiores. No ano seguinte, a 19 de dezembro, é lembrada que estava decorrendo o 306º aniversário desta luta, derivando-se a vitória das forças portuguesas sobre as francesas e a consequente posse do Maranhão pelos vencedores, confirmada em 1615. Informa ainda que, devido à falta de espaço, não se publicaria um artigo a respeito deste fato histórico, o que seria feito numa das próximas edições. O que não acontece... Em A Pacotilha de 04 de agosto de 1922, em matéria sobre o centenário da Independência, e referindo-se à reforma da Catedral, uma pequena nota lembrando de seu nome: Nossa Senhora da Vitória: "[...] A escassez de tempo inibe o eminente antítese de redigir uma narrativa das fases atravessadas pela catedral, desde o início, afim de comemorar a vitória dos portugueses sobre os franceses, na Batalha de Guaxenduba, ferida aos 17 de novembro de 1614. Mas, confiando nos eruditos da terra, acreditemos que se fará esse trabalho necessário" [...] Já no DIÁRIO DE SÃO LUIS - 1920 a 1949 -, edição de 30 de agosto de 1947, em entrevista dada pelo Cônego Bacelar, este diz ser necessária "[...] uma reparação histórica que se impõe: o feito de Guaxenduba [...]", e propõem mudar-se o nome de Morros para "Guaxenduba": Já à 17 de setembro de 1947, em artigo sobre a instalação do Município de Primeira Cruz há apenas uma referência à Batalha.

E no Jornal do Maranhão: Semanário de Orientação Católica - Jornal a serviço da Família e do Povo (MA) 1954 a 1971, edição de 22 de maio de 1960: "A voz do Guaxenduba" , nome do jornalzinho do Centro Guaxenduba, destinado a jovens vindos do nada...

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