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Bolsonaro mente sobre fertilizantes para liberar mineração em terras indígenas. Caetano Veloso reúne multidão em manifestação contra o chamado “Pacote da Destruição”.
from leros-marco-2022
Terra Brasilis
Jair Bolsonaro mente sobre fertilizantes para liberar mineração em terras indígenas. No mesmo dia em que deputados aprovam o regime de urgência para o projeto defendido pelo presidente, Caetano Veloso reúne uma multidão em frente ao Congresso para protestar contra o chamado Pacote da Destruição.
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No dia em que a Câmara dos Deputados aprovou o regime de urgência para o projeto que libera a mineração e outras atividades nas terras indígenas, 9 de março, Brasília foi palco de protestos contra o chamado Pacote da Destruição – projetos que tramitam no Legislativo e afrouxam leis ambientais.
Milhares de pessoas se reuniram em frente ao Congresso, na manifestação liderada pelo cantor e compositor Caetano Veloso. Ele leu uma mensagem em encontro com o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “Como mineiro, o senhor sabe bem a quantidade de sofrimento humano provocado por tragédias climáticas e ambientais. Não nos esquecemos de Mariana e Brumadinho, onde a população até hoje chora seus mortos e suas perdas”, dizia um trecho da mensagem do cantor e compositor.
Em resposta, Rodrigo Pacheco disse que o Brasil tem a obrigação de se preocupar com o meio ambiente. “Meu estado sofrendo com as chuvas, o Rio Grande do Sul sofrendo com a estiagem, coisas que nunca aconteceram. Houve um amadurecimento da preocupação em relação a esse tema no mundo. E o Brasil, como grande economia, esta nação tem a obrigação de ter a preocupação equivalente com o meio ambiente. Então esse discurso se tornou uma preocupação nacional”, afirmou o senador. Enquanto a Câmara aprovava a urgência para a tramitação do projeto de mineração em áreas indígenas, mais de 100 lideranças das etnias Pataxó, Tupinambá, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Kamacã, Kiriri, Atikum, Tumbalalá e Truká, todas da Bahia, chegavam a Brasília para reforçar os protestos contra os projetos que atingem seus territórios e reivindicar, mais uma vez, a demarcação dos territórios indígenas.
Em seguida, engrossaram a multidão que esteve no Ato em Defesa da Terra – e contra o Pacote da Destruição – realizado em frente ao Congresso Nacional.
Marcio Santilli
BOLSONARO MENTE SOBRE FERTILIZANTES
A equipe de jornalistas do Projeto Colabora divulgou um levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) que desmente Jair Bolsonaro e aponta que requerimentos para extração de potássio em terras indígenas são irrelevantes.
O levantamento mostra que a maioria das principais minas de potássio, substância usada em fertilizantes para o agronegócio, está localizada fora de terras indígenas. Os dados desmentem a argumentação na defesa do projeto de lei que libera a mineração em áreas demarcadas como forma de superar a dependência brasileira da Rússia no acesso a fertilizantes. “Bolsonaro
mentiu ao dizer que a solução para a dependência brasileira das importações de fertilizantes da Rússia depende da exploração de jazidas nas terras indígenas do povo Mura, situadas no baixo Rio Madeira (AM)”, afirmou Marcio Santilli, sócio-fundador do ISA, e expresidente da Funai.
Ele disse que vai constituir um grupo de trabalho para discutir o assunto e o projeto só deve ser votado em abril. “O PL também autoriza, à revelia das comunidades, a construção de estradas, hidrelétricas e o plantio de sementes transgênicas em terras indígenas. Além de inconstitucional, é altamente predatório”, criticou Santilli.
O levantamento do ISA aponta que os requerimentos para extração de sais de potássio no interior das terras indígenas representam apenas 1,6% das jazidas requeridas para exploração.
Para a substância fosfato, os pedidos representam ínfimos 0,4% do total de
Além de Caetano Veloso (acima), participaram do protesto os músicos Seu Jorge, Emicida, Daniela Mercury (abaixo), Maria Gadú e Nando Reis, entre outros artistas.
Fotos: NAIARA PONTES / Mídia Ninja
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jazidas requeridas na Agência Nacional de Mineração (ANM).
As informações hoje disponíveis desmentem o presidente e demonstram que quase todos os depósitos conhecidos estão fora das terras indígenas.
O ISA lembra ainda que o Projeto Autazes, que pretende explorar o principal depósito de potássio já pesquisado dessa região, está em fase de licenciamento ambiental.
Ele envolve uma área próxima, mas não incide diretamente nas terras da etnia Mura. Portanto, a sua execução não depende da regulamentação da mineração em terras indígenas.