Jornal
O Patrimônio Poços de Caldas, 27 de abril de 2015
Pedro Sanches de Lemos: o homem, o médico e o crenólogo *
*LOBO, Pelágio, 1947
O Jornal do Patrimônio comemora, em sua primeira edição, o centenário de morte de um dos personagens principais da história de Poços de Caldas e que foi peça fundamental para o seu desenvolvimento: o médico Pedro Sanches de Lemos. Confira, nesta edição, sua vida e seu trabalho em prol do termalismo e da cidade que adotou como sua.
As águas termais de Pedro Sanches de Lemos: O médico e sua contribuição à história das cidades hidrominerais brasileiras nas primeiras décadas do página 03 século XX.
O Prestígio do Dr. Pedro Sanches na Capital Federal “Não é, portanto, só para os médicos e para os homens de letras que o Dr. Pedro Sanches é um vulto conhecido e amado, mas para todos os que, por doença ou por simples vilegiatura já uma vez foram admirar aquela localidade privilegiada, de panoramas tão sedutores, de ar tão benfazejo, de águas tão miraculosas.” - D’ O Paiz em 1902
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A primeira Thermas em Poços de Caldas, inaugurada em 1919
O herói e suas circunstâncias página 06
A estância termal de Vichy página 13
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Editorial É com imenso prazer que apresentamos “O Patrimônio”, publicação que vem enriquecer os atos em comemoração ao centenário de morte de Dr. Pedro Sanches de Lemos. Considerando a grande relevância deste médico para a cidade de Poços de Caldas, não poderíamos deixar de reverenciar seu esmerado empenho em conhecer e estudar as águas de Poços de Caldas, tornando pública sua importância curativa, em pioneiro estudo, o que, posteriormente, o fez conhecido como “Doutor das Águas”. O carinho em homenagear tão ilustre médico apresenta-se neste momento como forma de reconhecimento de sua contribuição para o engrandecimento de nossa cidade nos seus mais variados aspectos, sendo este o grande idealizador daquela que um dia esteve entre as cidades balneárias mais importantes e frequentadas da América do Sul. “O Patrimônio”, publicação que estreia de forma brilhante com este personagem tão querido que foi Dr. Pedro Sanches de Lemos, é uma
Expediente PREFEITURA MUNICIPAL DE POÇOS DE CALDAS Admistração 2013 - 2016 SECRETARIA MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO URBANO E MEIO AMBIENTE DIVISÃO DE PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO E TOMBAMENTO Rodrigo Francisco dos Reis: Secretário Maria Laura Mattoli: Secretária Adjunta Volnei do Lago: Diretor do Departamento de Meio Ambiente Letícia Siqueira Loiola: Coord. de Patrimônio Construído e Tomb. Maria Fernanda Vieira Frayha: Engenheira Civil Angelita Estefânia Muniz : Pedagoga Bruna Veronesi Giardini: Estagiária SECRETARIA MUNICIPAL DE TURISMO E CULTURA THERMAS ANTÔNIO CARLOS: Geraldo Rômulo Vilela Filho: Secretário Jussara Marques Oliveira Marrichi : Turismóloga COLABORADORES: Haroldo Paes Gessoni – Coord. do Museu Histórico e Geográfico Roberto Tereziano – Jornalista Sônia Maria Sanches – Ass. Téc. do Museu Histórico e Geográfico Secretaria de Comunicação Social TEXTOS: Jussara Marques Oliveira Marrichi Stelio Marras Rodrigo Rossi Falconi Idealização: Divisão de Patrimônio Construído e Tombamento Fotos: Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas Tiragem: 2.000 exemplares
proposta da Divisão de Patrimônio Construído e Tombamento da Secretaria Municipal de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, que contemplará personagens que contribuíram para o engrandecimento de nossa cidade, bem como patrimônios materiais e imateriais. A publicação retrata de forma respeitosa e com muito carinho, fatos históricos e curiosidades em relação ao tema exposto em cada edição. Nosso objetivo é publicar textos que possam contar a história de nossa gente e de nosso patrimônio. E histórias não vão faltar, pois sabemos do compromisso, dedicação e profissionalismo daqueles que estão envolvidos na preservação de nossas memórias e que buscam garantir à sociedade o acesso e a fruição do patrimônio cultural por meio da preservação, valorizando o respeito à diversidade cultural de nossa cidade. Eloísio do Carmo Lourenço - Prefeito Municipal
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As águas termais de Pedro Sanches de Lemos Por Jussara Marques Oliveira Marrichi jussara@marrichi.com.br
O médico e sua contribuição à história das cidades hidrominerais brasileiras nas primeiras décadas do século XX Quando em 1902 o médico Pedro Sanches de Lemos desembarcava no velho continente munido do desejo de conhecer e estudar algumas das mais afamadas estâncias hidrominerais da Europa, Poços de Caldas não passava de uma pequena cidade que frequentemente se via atolada, (literalmente!) nos caminhos recortados por inúmeras poças d'água e pelo ribeirão das Caldas. O largo central, local da descoberta das fontes de águas quentes em 1786, há alguns anos já recebia grupos de banhistas e lazarentos deformados, cobertos de úlceras com seus corpos estropiados e seus espíritos esperançosos na promessa de que aquelas águas curavam. À beira das fontes de águas denominadas sulfurosas via-se no início dos anos de 1900 morféticos e belas senhorinhas que ocupavam aquele campo lodoso na época das estações. Ainda que suas casas seguissem o modelo colonial predominante na arquitetura brasileira até meados do século XIX, alinhadas uma a uma com suas dezenas de janelas e suas cores brancas pintadas à cal, podia-se observar também nesta paisagem do interior mineiro, alguns belos chalés de estilo europeu introduzidos pelas famílias mais abastadas e também
“Quando no dia 8 de julho, às 6:10 da tarde, tomei em Toulouse o trem que me devia levar a Luchon, onde estaria às 10 horas e meia da noite, senti a mais profunda emoção: ia realizar sonho dourado de toda a minha vida, que era ver a Rainha dos Pirineus, estudá-la nas suas mínimas particularidades, conhecer o que era uma estância balnear sulfurosa, resolver, finalmente, todas as questões que se prendiam ao beneficiamento de Poços de Caldas, esse recanto abençoado do Estado de Minas Gerais, ao qual tinha consagrado todos os parcos recursos do meu intelecto e todas as energias do meu espírito! Sobravam-me, portanto, motivos para que sentimentos diversos me trabalhassem o espírito no momento da partida e durante a viagem. Mas quando saltei na gare, me meti num carro e comecei a percorrer a Avenida d'Etigny, envolvido no perfume das flores de tília, em demanda do Hotel Continental, a emoção embargou-me a voz, e os olhos se arrasaram de lágrimas. Ah! – Eu estava em Bagnères-de-Luchon!¹” Pedro Sanches de Lemos, Notas de Viagem - 1903
por condes e barões imperiais que para lá se dirigiam no intuito de veranear no final do século XIX. O estilo neoclássico dessas construções havia chegado junto com o ramal da Mogyana, inaugurada em 1886 pelo imperador Dom Pedro II, o balneário Pedro Botelho e o consultório do doutor Pedro Sanches de Lemos já se embelezavam desse estilo arquitetônico que ornamentava o planalto caldense. Mas, ainda que houvesse muita lama, pó e carros de bois que cruzavam o largo central onde se encontravam também um modesto hotel e algumas casas de jogos, Poços de Caldas em 1902 ainda ensaiava os seus primeiros passos rumo à construção de uma cidade termal no Brasil. O médico, que iniciara seus
estudos em 1867 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro acabou ficando conhecido como o “doutor das águas” ou o “pai da crenologia brasileira” nas primeiras décadas do século XX, porque se tornou o grande propagador das águas sulfurosas de Poços de Caldas a partir de suas três únicas obras². Após defender sua tese sobre epilepsia “na augusta presença de Sua Majestade, o Imperador” ³, Pedro Sanches se estabeleceu nos campos alagados das caldas sulfurosas no ano de 1873. De certo ali chegara porque era preciso dar início ao seu ofício de clinicar, mas o fato de seus pais terem se mudado para a cidade vizinha de Caldas levou o neto do rico barão do Rio Verde a escolher
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de águas sulfurosas, era ele quem recebia devidamente personagens ilustres que vinham a Poços de Caldas para conhecer as virtudes das águas de que tanto falava o médico em suas correspondências aos jornais da capital.
Conjunto arquitetônico mostrando o Hotel da Empreza, o anexo (Chalé) construído para o Imperador D. Pedro II, o passadiço sobre o Ribeirão de Caldas e o Balneário Pedro Botelho. Acervo: Museu Histórico e Geográfico.
aquelas terras para morar. Admirado com o fluxo constante de pessoas que chegavam às fontes de águas quentes e com a cura de determinadas moléstias, o médico se pôs a estudar a ação química dessas águas no organismo humano. Para ele a presença do gás hidrogênio sulfuretado, a termalidade da água e a alcalinidade do banho, nada valeriam “se não fosse a abundância das
fontes que podem prestar-se a todos os processos balneoterápicos, aumentando o seu valor terapêutico”4. Sua proposta era clara: era preciso revestir aquelas águas não só de ciência, mas também de engenharia à semelhança de Bagnères de Luchon, “ que pode
fornecer aos doentes banhos, duchas gerais e locais, piscina de natação, pequenas piscinas, estufas, inalação por um tubo de vapores da água e pulverização” 5.
Em 1884, ano de publicação do seu primeiro livro As águas thermaes de Caldas – Província de Minas Geraes, o médico afirmava que o conhecimento popular sobre a eficácia das águas medicinais de Poços de Caldas já era anterior ao ano de 1815, quando diversos doentes procuravam as fontes de águas quentes como remédio natural ou como cura sobrenatural 6 . Seus primeiros estudos já demonstravam que “as nossas águas reúnem todas estas
especialidades: curam-se aqui as bronquites como em Cauteterests e Eaux Bonnes, as moléstias da pele e as úlceras como em Baréges, os reumatismos como em Luchon e as moléstias do útero como em Saint-Sauver” 7. Assim, casado com a filha primogênita do coronel Agostinho José da Costa Junqueira8, sesmeiro das terras onde se descobriram as fontes
Do gabinete de seu consultório redigia constantes notícias acerca do suposto vale milagroso de onde indicava o tratamento pelos banhos quentes para as bronquites, as moléstias de pele, as úlceras, os reumatismos e as moléstias do útero; além dos suadouros e dos banhos de 9 demora e d o i m p r e s c i n d í v e l esquecimento dos cuidados tristes10como condição de bom sucesso na cura pelas águas medicinais. Era desse gabinete que o médico esperava para um futuro próximo “todos os processos da balneoterapia moderna”11 para os p o ç o s d e c a l d a s . O ano de 1902 parecia então ser decisivo para o médico propagador das virtudes curativas dessas águas. Iria realizar o seu grande sonho. Suas notícias acerca das águas milagrosas tinham rendido efeito, e recomendado por Campos Salles e Rodrigues Alves à Legação Brasileira de Paris, Pedro Sanches de Lemos, após vinte e nove anos de estudos e aplicações das águas termais, enfim desembarcaria no velho continente. Sua excursão científica através das estâncias balneares da Europa, principalmente nas estâncias francesas, tinha por objetivo visitar os seus centros hidrológicos, conhecer os tratamentos médicos a partir das águas minerais, averiguar os novos equipamentos de captação
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edistribuição da água e principalmente, trazer para o Brasil o que havia de mais moderno e civilizado a respeito da vida social das cidades termais européias. Ao percorrer durante oitenta e oito dias as principais cidades hidrominerais da Europa, de onde os espaços termais franceses estavam entre seus objetivos maiores, o médico ia relatando em seu diário de viagem, os dias, seus embarques, os encantamentos da vida civilizada, as músicas, a arquitetura dos balneários, dos hotéis e dos cassinos e a vida agitada de então. Para ele, importava mais o espaço físico dessas cidades do que os casos clínicos, afinal, em Poços de Caldas, ele mesmo já testemunhara que as águas medicinais curavam. Sobre Baden-Baden e Wildban na Alemanha e Baden na Suissa, o médico, ao fazer as suas descrições, relatava que essas impressões eram enviadas à Gazeta de Notícias por intermédio de Olavo Bilac. Já em terras mineiras ao reunir as suas experiências de viagem no livro Notas de Viagem – Na Alemanha, Na França, Na Suissa ele afirmava que todos esses artigos haviam sido publicados, porém não informava o número e data de sua publicação.
Os antigos tipos de sociabilidade cultural que nada condiziam com o modelo conquistado pela civilização das águas europeias modificaram-se e engrandeceram-se graças a essa primeira excursão científica realizada pelo médico, que escrevia seus artigos conforme as cidades que visitava. Sua obra configura-se como o mais precioso relato histórico de um tempo em que as águas consideradas medicinais do final do século XIX e início do XX no Brasil estimulavam pesquisas científicas sobre a cura de diversas doenças pautadas na Química e na Física Moderna; capazes também de organizar a construção de espaços que se tornariam urbanos a partir dos anos vinte do século passado, modificando e instituindo novos hábitos em uma grande parte da sociedade brasileira. Apesar de seus esforços não chegou a ver na cidade de Poços de Caldas todas as suas anotações de viagens
encomendadas por Campos Salles em 1901. Pedro Sanches de Lemos faleceu no ano de 1915 sem nunca ter visto em terras brasileiras imagens das cidades de curas europeias. Os campos alagados citados inicialmente, após a viagem do médico já eram pensados de maneira a harmonizar o espaço físico por onde circulariam os diversos banhistas. Ao final de 1905, o número total de banhos 13 termais chegara a 32.779 14 aumentando para 36.046 no ano seguinte. Poços de Caldas, contando apenas com um hotel, dois balneários e muitas ruas empoeiradas ia ganhando o título da futura estação de cura no Brasil. Mas isto, com certeza, já é outra parte dessa história. E o médico, o doutor Pedro Sanches de Lemos, ficaria esquecido na história da cura pelas águas e das cidades hidrominerais do Brasil.
Vê-se, portanto, que Pedro Sanches de Lemos, o primeiro médico
brasileiro a viajar pelas cidades termais europeias12 , contribuiu decisivamente para a construção da imagem moderna das cidades hidrominerais brasileiras logo no início do século passado. Valise usada pelo Dr. Pedro Sanches de Lemos Acervo: Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas
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O herói e suas circunstâncias Comunicação apresentada no evento dos 100 anos de morte de Pedro Sanches de Lemos Por Stelio Marras1 Professor de antropologia do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP).
Eu peço licença para tomar um pouco do temp o de voc ê s e f az e r a lguns comentários sobre a figura pública do médico Pedro Sanches de Lemos. Serão comentários não de um historiador, que não sou, e sim de um antropólogo social. E o farei, claro, com base em minha longa pesquisa de mestrado sobre os modo s de existência das antigas e s taçõe s balne á ria s , a p ar tir, e m especial, embora não exclusivamente, do caso de Poços de Caldas ². Eu então lembrarei Pedro Sanches não bem no registro biográfico ou memorialístico es t ri t o senso , m a s s obre t udo no s aspectos que tocam mais diretamente às águas especiais que aqui temos e à cidade que surgiu em torno delas. Sempre com base naquelas minhas pesquisas, o propósito aqui será o de tentar situar sociologicamente, por assim dizer, as ações de Pedro Sanches e, com isso, até mesmo evitar heroicizá-lo segundo a imagem essencialista de um benevolente, benemérito ou benfeitor desinteressado, como fosse uma espécie de anjo e não de homem. Propósito aqui, então, de tentar trazer Pedro Sanches à imanência dos acontecimentos de sua época antes de tomá-lo como figura transcendente sem mais. Mas digo logo que não se trata, em absoluto, de desmentir o bom homem que dizem ter sido Pedro Sanches – embora tantos também o foram e tantos o são e serão, mesmo que anônimos e invisíveis em sua maioria. E nem tampouco desconfiar de sua galhardia, como atestam seus contemporâneos, ou de sua erudição, como expressa na incrível biblioteca
Pedro Sanches ao lado de Rui Barbosa, com o Prefeito Francisco Escobar em 1911 Acervo: Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas
que ele formou e da qual sempre se lembra o intelectual Antônio Cândido de Mello e Souza, ele que, como se sabe, guarda uma profunda relação com Poços de Caldas, tendo seu pai, Aristides de Mello e Souza, sido o primeiro diretor destas termas onde aqui nos encontramos. Mas trata-se, aí sim, de apresentar alguns aspectos que parecem decisivos no modo como Pedro Sanches se estabeleceu nessas terras e tanto contribuiu para encantar cientificamente essas águas, em função das quais surgiu, no seu tempo, a vila que depois se tornaria a cidade de Poços de Caldas. Em outras palavras, a intenção é situar nosso herói antes que ele tivesse se tornado herói. Ou dizer: situá-lo no concur s o de c i rcunstâncias q u e el e experimentou à sua época.
que se tornou, tanto mais se sustentará essa lembrança qu a nto m elh o r compreendermos os processos que permitiram àquele homem ter feito o que fez. E herói se tornaria – eis o meu argumento que já adianto aqui – porque Pedro Sanches soube orquestrar uma série de forças com que ele se deparou. Penso mesmo que assim, situando Pedro Sanches em um novelo de forças de sua época, nós acumulamos maiores chances de fazer mais justiça (e a devida efeméride) à sua memória e aos seus feitos porque, no mesmo ato, temos a chance de também fazer mais justiça a o u tros ag e ntes, os quais não se resumem ao homem, mas sem os quais a imagem de um Pedro Sanches, creiam, não permaneceria de pé. Ou seja, parece sempre muito frágil creditar feitos,
A aposta é que, se queremos hoje lembrá-lo como um gênio científico e político que tanto efetivamente fez por alçar Poços de Caldas à famosa estação balneária
descobertas, invenções (e o que mais seja) à ação de um único indivíduo, ele aí pintado como gênio
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iluminado, dotado de uma alma sem par e insubmisso a qualquer circunstância que fizesse originar e modular suas ações. Pedro Sanches merece bem mais do que essa quimera. Decerto se poder dizer que é sempre preciso elencar outros tantos importantes agentes humanos que atuaram decisivamente nos acontecimentos, tal o da fundação e promoção de Poços de Caldas. Realmente, se revisamos a história de Poços de Caldas toparemos com essa variação de elenco. Por exemplo: o também médico e hidroterapeuta Benedictus Mário Mourão, falecido em 2007 e durante tantos anos diretor destas termas, aventurou-se como historiador para encontrar um "quarteto construtor de Poços de Caldas" em um livro que ele publicou em 1998 e no qual ele se debruça no que denomina a "epopéia de Pedro 3 Sanches"3. Benedictus Mourão entende que a ação conjunta de quatro heróis faz a pedra fundamental da construção da cidade balneária. Eram eles o coronel Agostinho José da Costa Junqueira, dono das terras onde ocorriam os poços sulfurosos, o hoteleiro e dono de cassino Antonio Teixeira Diniz (tão conhecido como Barão de Campo Místico), o arquiteto João Batista Pansini (responsável pela construção de chalés, hotéis, balneários e mesmo a estação do ramal de Caldas da Mogiana) e, claro, o mais heroico dos heróis, épico protagonista, o médico-cientista Pedro Sanches de Lemos. O trabalho ainda de outros historiadores, memorialistas ou ensaístas permitiria reconhecer sensíveis variações nesse elenco: outros nomes, outros heróis, diferentes epopeias. De minha parte, eu poderia logo lembrar, recuando ao século XIX, o também médico e depois político (tornou-se Presidente de Minas Gerais e senador do Império) Joaquim Floriano de Godoy, ele que no início
dos anos 1870 comissionou estudos científicos das águas desta região das Caldas, como aqui era conhecida, além de ter desapropriado boa parte das terras do coronel Agostinho para que, em 1872, fosse oficializada a fundação políticoadministrativa desta que se tornaria a cidade de Poços de Caldas, e para a qual, enfim, destinou verbas voltadas à engenharia urbana e a estabelecimentos termais. Poderíamos do mesmo modo, e já no século XX, lembrar o também médico e também político Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, que em 1929 criou, na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, a primeira cadeira de crenologia (essa ciência hidrológica terapêutica então em voga nas estações da Europa). Antonio Carlos, quando presidente de Minas Gerais nos anos de 1926 a 1930, indicou como prefeito de Poços de Caldas o também médico Carlos Pinheiro Chagas. Alinhados, eles fizeram aqui despejar rios de dinheiro para a construção destas termas onde estamos, assim como para o Palace Hotel, para o Cassino, os jardins à francesa de nossas praças centrais, etc. Se lembramos esses outros homens, gente que promoveu ações também decisivas na edificação da cidade hidroterapêutica de monta que se tornou Poços de Caldas, poderíamos lembrar ainda outros e outros. Quer dizer, basta revirar fontes e intérpretes para variar e estender esse elenco heroico da história de Poços de Caldas. Não é meu propósito aqui fazer uma espécie de revisão de toda essa literatura e apresentar um quadro de possíveis galerias de heróis caldenses, comparar seus pesos ou até mesmo indicar novos eleitos. Como disse, ou reiterando agora em outras palavras, o registro do homem heroico não instruiu aquelas minhas investigações. Muito mais me interessou mostrar outra coisa que se pode reconhecer nos livros, artigos e documentos de toda ordem sobre Poços de Caldas. Isto é, a concatenação de uma variada gama de atores (e atores, insisto,
que não se resumem aos humanos) cujo sucesso daria na importante estância de cura e veraneio que foi Poços de Caldas até a primeira metade do século XX. Peço perdão pela minha insistência, mas vejam que mesmo deitando foco apenas nos atores humanos, haveria ainda que considerar muitos outros para além dos homens de prol e escol; outros muitos sem eira nem beira, anônimos e invisíveis para uma certa, mas tão influente, historiografia oficial. Assim, indico, quase ao léu, outros exemplos: como esquecer os antigos tropeiros e entrantes do sertão atrás de ouro e diamante, batendo mato e plantando caminhos que por aqui passavam? Ou ainda os doentes antigos (como os documentados desde o século XVIII) que vinham para cá e de volta espalhavam mundo afora notícias de curas milagrosas. E notemos agora alguns atores não-humanos. Pois será possível, pergunto, conceber a eficácia médica e científica de um Pedro Sanches sem considerar a força do higienismo e da medicina científica de signo positivista que mais e mais se expandiam no Brasil desde meados do século XIX? Ora, sem esses suportes – as ciências naturais, as instituições, o Estado, o sucesso europeu das estações balneárias, a fama das águas propagada pelos doentes, etc. Pedro Sanches não poderia ter avançado em suas articulações. A bem da verdade, sem as ciências, Pedro Sanches sequer votaria atenção (digo, a atenção científica) a umas águas quentes e cheirando a ovo podre que ocorriam aqui nos Campos de Caldas. E o que dizer das águas? Não consigo imaginar que Pedro Sanches as teria encantado sem que também fosse por elas encantado. Além de moinhos, as águas também movem a história. Estas nossas águas especiais são também personagem ou sujeito da história.
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Aliás, e sem que eu mesmo bem percebesse, foram essas águas sulfurosas que assumiram o protagonismo naquelas minhas pesquisas de mestrado. Sim, mas essas águas fariam valer sua força terapêutica por si mesmas? Também não. Daí que tenha sido mesmo preciso o influxo de uma série de agentes – o Estado, as ciências médicas, as elites de São Paulo e do Rio de Janeiro, o sucesso das temporadas nas estações europeias, as notícias de cura, os arranjos locais de parentesco, etc – para que, assim, as águas manifestassem o caráter virtuoso que sempre tiveram em potência, mas que sem aqueles agentes, dentre outros, não se manifestaria. Vocês veem que o esforço aqui é tentar compreender o caráter virtuoso das águas não a partir apenas delas mesmas (suas propriedades físicas, químicas, biológicas) e nem a partir apenas do que seria exterior a elas, isto é, a sociedade, as disposições culturais, a ação de homens brilhantes (como Pedro Sanches) ou das ciências médicas (como a crenologia). O ponto é que nem as águas curativas e nem a sociedade em torno dessas águas podem ser tomadas como já pré-constituídas, como se existissem tal e qual antes das intensas relações que travariam entre si. Noutras palavras, o foco aqui recai sobre os acontecimentos, as relações entre as águas e os demais agentes como modo de explicar tanto a dotação virtuosa dessas águas (tais as sulfurosas termais de Poços de Caldas) quanto, simultaneamente, a dotação virtuosa de outros agentes (como de Pedro Sanches). Nem as águas e nem os médico-cientistas, apenas para ficar nesses dois agentes (e aqui para fins meramente analíticos), assumiriam essa aura virtuosa por si mesmos. O ponto é que esse caráter emerge da relação entre os tantos agentes aí implicados. Exemplo: as águas seriam
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Casa do Dr. Pedro Sanches, ao lado da Capela de Santo Antônio Acervo: Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas
curativas na escala e com a força que foram independentemente das ciências médicas? Não, segundo o argumento que vou propondo aqui. Mas isso sob a condição de reconhecermos o mesmo em relação às ciências médicas. Ou seja, elas se interessariam por essas águas, e nelas tanto se investiriam, independentemente dos efeitos terapêuticos delas, tal como noticiados pelo antigo ou pré-científico uso experimental por parte de romeiros e doentes de várias espécies? Também não. Pois nem as ciências médicas permaneceram as mesmas depois do contato com as águas – e contato que foi mediado pelo trabalho de médicos e cientistas, como Pedro Sanches de Lemos, no caso de Poços de Caldas. Com efeito, essas ciências médicas não seriam as mesmas porque irá emergir no seio delas a crenologia, essa especialidade médicocientífica devotada ao vasto estudo terapêutico das águas. Ou seja, nenhum agente aí verdadeiramente implicado, seja ele humano ou não-humano, social ou natural, explica por si mesmo a força terapêutica que as águas termais alcançaram. Nenhum agente age fora da implicação, da co-implicação, da complicação, se quisermos. Mas é a complexa história de emaranhamento, enovelamento e mútuo encantamento entre esses agentes que explica a ação de cada qual, como do mesmo modo explica a
ascensão e decadência das estações balneárias do passado. Tenho para mim que o mais importante escritor de Poços de Caldas, Jurandir Ferreira, intuiu perfeitamente essa complexidade, especialmente no seu romance O céu entre montanhas4, aí onde se vale das figuras de Baco e Esculápio para explicar sucesso e fracasso das cidades hidroterapêuticas. Ele se vale dessas figuras e sobretudo do consórcio entre elas, isto que ele denomina de "binômio feliz". Quer dizer, as forças médicas e terapêuticas de Esculápio se manifestaram, e em grande escala, porque a elas se juntaram as forças de Baco, isto é, as diversões, mesmo os cassinos, o ambiente festivo e aprazível de uma pequena vila altiplana cercada de montanhas, etc. Essa união entre Baco e Esculápio, lazer e cura, se mostrava, portanto, indissolúvel; e tanto mais se queremos, com fidelidade, apreender a vocação de uma estância balneária digna do nome. No romance, Jurandir Ferreira simula o desastre de uma cidade de águas quando os princípios de Baco se divorciam dos princípios de Esculápio, assim se desfazendo o " binômio feliz " que sustentava a frequência das estâncias. Ou seja, não bastava o 6
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encantamento científico das águas, conferido pelas ciências médicas de então. Era preciso que Esculápio desse as mãos a Baco, ao caráter descontraído das estações, às terapias do lazer. Era preciso, então, que Baco e Esculápio se retro alimentassem, que um e outro se reunissem de modo indelével para que o caráter virtuoso das águas emergisse daí. Por isso mesmo, os jogos de cassino da noite e os banhos sulfurosos do dia não entravam em contradição. Ao contrário, lazer e cura apareciam como faces de uma mesma realidade, essa que a um só tempo, numa só laçada, cura o corpo e o espírito. Tal como eu tentei mostrar lá no meu mestrado, esse binômio de Baco e Esculápio se desdobra num polinômio, uma vez que o lazer e a cura compreendem múltiplas atividades. E compreende, com igual importância, um tipo muito específico de urbanismo, esse de uma vila balnear que devia ser necessariamente aprazível e pacata, já que a serenidade e a atmosfera de quietude deviam prevalecer na paisagem da cidade de cura. O furor dos bailes e dos jogos podia mesmo participar da recuperação de enfermos, já que integrava o programa terapêutico das distrações, ainda que suas atividades fossem restritas aos recintos fechados do cassino e das casas de show. Para o bem dos convalescentes, aquelas não eram atividades que se derramavam nas ruas. Quer dizer, a eficácia do "binômio feliz" dependia de um equilíbrio muito sutil entre os humores mundanos de Baco e os humores monásticos de Esculápio. O sucesso a um só tempo terapêutico e turístico das estações de águas sobrevinha precisamente desse equilíbrio muito tênue entre ambos os princípios 5 . O protagonismo médico-científico das águas – elas então tomadas como virtuosas e por isso formadoras da cidade – dependeu portanto da série de elementos coadjuvantes que aqui eu resumo, por sobre os ombros de Jurandir Ferreira, como os princípios de Baco.
Portanto, tudo assim reunido, e bem reunido, é que determinou a fé e a eficácia das curas. Eu mencionei esse entendimento do "binômio feliz" de Jurandir Ferreira, mas poderia mencionar o mesmo entendimento, já em termos médicocientíficos, presente nos escritos do próprio Pedro Sanches de Lemos, ele que foi o médico mais famoso dos tempos de fundação de Poços de Caldas, e que se dedicou a desenvolver a terapêutica das águas. Ora, Pedro Sanches percebeu logo na primeira hora a eficácia desse "binômio feliz". É o que ele denomina como "elemento higiênico" no seu livro chamado As Águas thermaes de Poços de Caldas, que ele publica em 1904. Vou citar apenas um trecho, mas bastante elucidativo desse ponto. Diz o já experimentado médico Pedro Sanches: "Ora, as condições
altamente salubres que recomendam este lugar são pouco aproveitadas se o balneante é obrigado a encerrar-se em casa, e vê-se privado de fazer exercício ao ar livre; os passeios, as distrações, a convivência, a boa companhia, a mudança de meios e hábitos, o esquecimento dos cuidados tristes, são condições de bom êxito, pois representam o
elemento higiênico que tanta parte tem na cura pelas águas minerais" 6 . Esta sua percepção se repete em vários outros momentos de seus escritos, como por exemplo em seu outro livro chamado Notas de viagem, publicado em 1903 7, no qual ele dá notícias de suas andanças pelas mais famosas estações hidrominerais da Europa, como Aix-les-Bains, Baden-Baden, Luchon, Vichy. E não é outra percepção que aparece no romance Água de Juventa, também publicado em 1904 8 , escrito pelo já então afamado Coelho Neto, amigo que se tornou de Pedro Sanches e frequentador daquela vila balneária de Poços de Caldas. Nesse romance, é o próprio Pedro Sanches que aparece na figura do Dr. Lino, médico de uma estação hidromineral de cura, que recebeu e soube bem aconselhar um rapaz recém-casado que não conseguia cumprir suas funções maritais de núpcias. Instruído por esse sábio médico que não se restringia aos ordenamentos frios e exteriores de um clínico que só soubesse indicar banhos ou aplicar injeções, eis que o rapaz se recupera e o casamento termina salvo – happy end!
Dr. Pedro Sanches (1846-1915) à esquerda, em pé, no seu consultório por volta de 1901. Fonte: Dom Willians, Memorial da Cia. Geral de Minas
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Bem, até aqui vocês viram que eu fui matizando um pouco a figura de Pedro Sanches para tentar compreender melhor as suas ações quando situadas num quadro mais geral. Vale lembrar: o propósito era sugerir que tanto a caracterização heroica de Pedro Sanches quanto a da Belle Époque caldense poderiam ganhar em explicação se reconhecemos que as ações eram, como de regra, distribuídas entre outros tantos atores, outras tantas agências, cujo entrosamento fez Pedro Sanches tornar-se Pedro Sanches, assim como Poços de Caldas tornar-se Poços de Caldas. Fosse para fazer uma biografia de Pedro Sanches, seria por aí que eu logo começaria. Ou seja, nós podemos perfeitamente centrar o foco em um único ator (Pedro Sanches, por exemplo) e ir desdobrando tudo o mais a partir desse foco, mas sem com isso tudo reduzir a esse ator e muito menos tomá-lo como impermeável a outros agentes ou já constituído como tal de antemão. Como disse, um biografado como Pedro Sanches mereceria mais do que, vamos dizer, explicar-se por si mesmo. Por isso mencionei alguns aspectos de um vasto concurso de circunstâncias que bem situasse tanto Pedro Sanches quanto a ascensão e decadência da estancia hidrotermal. E se pude com algum sucesso indicar as tantas e decisivas circunstâncias sem as quais o gênio médico e científico de Pedro Sanches não se ensejaria, eu poderia agora indicar outras circunstâncias, não menos decisivas, que dessa vez ensejaram o gênio político de Pedro Sanches. Por uma questão de tempo, vou me deter aqui, e bem rapidamente, apenas a um único acontecimento, embora fundamental ao meu ver, que tornou possível a entrada e o êxito de Pedro Sanches na antiga Poços de
Dr. Pedro Sanches, sua esposa D. Ana Jacinta (Sinhá) e a sogra, D. Isaura Claudina Affonso Acervo: Museu Histórico e Geográfico de Poços
Caldas, quando o lugar ainda era um distrito subordinado ao município de Caldas. Ora, como eu pude sugerir lá no meu mestrado, a presença forte e marcante de Pedro Sanches desde o último quartel do século XIX no então Distrito de Nossa Senhora da Saúde das Águas de Caldas não se explica fora dos arranjos locais de parentesco. Embora médico formado no Rio de Janeiro, Pedro Sanches era mineiro de São Gonçalo do Sapucaí. Sei que sua mãe também veio morar em Poços de Caldas e teve mesmo uma pensão na esquina da atual Rua Rio de Janeiro com a atual Rio Grande do Sul, como sempre Antônio Cândido me lembra em conversas informais. Creiam que esse parentesco mineiro, por assim dizer, nunca é sem efeitos – e eu poderia citar casos importantes na história de Poços de Caldas que demonstram isso. Mas o mais importante foi o casamento, em 1882, de Pedro Sanches com Ana
Jacinta Afonso Junqueira (então mais conhecida como Dona Sinhá). Ana Jacinta tinha 15 anos de idade, enquanto Pedro Sanches passava dos trinta, e ela era a filha primogênita do Coronel Agostinho Junqueira, chefe local e dono das terras onde ocorriam as águas especiais. Não é só intuição dizer que esse arranjo de parentesco, essa entrada privilegiada de Pedro Sanches na terra e na família da terra, tornando-o compadre do Coronel Agostinho, fez diluir uma série de terríveis e renhidos conflitos locais, assim viabilizando planos e encaminhamentos políticos decisivos rumo à modernidade médica e urbana de Poços de Caldas. Rente aos documentos, eu pude mesmo demonstrar esse ponto no meu mestrado. E ponto esse, insisto, sem o qual não se explica a força (política, médica, diplomática, científica) de Pedro Sanches. Mas, de novo, esses apontamentos que faço aqui não devem servir para diminuir a grandeza de Pedro Sanches, senão apenas para situá-la com mais fidelidade. Podemos perfeitamente imaginar que outros, no lugar de Pedro Sanches, poderiam não ter se valido dessas circunstâncias, poderiam não ter o tino de articulação que teve o nosso herói. Penso mesmo que poucos o teriam. Eis aí, enfim, um modo de explicar como Pedro Sanches surge como herói caldense, feiticeiro das águas. Homem atento como ninguém às circunstâncias políticas, médicas, científicas e culturais de seu tempo, o exímio articulador dos planos local e global soube também valer-se do parentesco e dos laços de sangue, sem os quais suas ações, tal como as conhecemos hoje, não poderiam ter ocorrido.
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O Prestígio do Dr. Pedro Sanches na Capital Federal Almoço oferecido a Pedro Sanches no seu derradeiro aniversário a 25 de abril de 1914. Fonte: MOURÃO, Mario. Poços de Caldas Synthese historica e crenologica. 1933
Por Rodrigo Rossi Falconi
O Dr. Pedro Sanches de Lemos contava com inúmeros admiradores em diversos pontos do Brasil, incluindo a então Capital Federal, a cidade do Rio de Janeiro, onde residiam muitos dos clientes que o haviam visitado anos antes. Entre eles estavam escritores e colegas de profissão que deixaram assinalado na imprensa carioca e paulista sua admiração pelo eminente facultativo. Quando souberam que o médico faria uma viagem à Europa com o fim de estudar importantes melhoramentos, que buscou depois introduzir na empresa balneária de Poços de Caldas, de que era diretor, diversos admiradores organizaram um almoço de despedida. No dia 7 de maio de 1902, o Dr. Pedro Sanches de Lemos desembarcou no Rio de Janeiro, às 7 horas e 50 minutos da manhã, pelo trem noturno que partiu da cidade de São Paulo, sendo recebido pelos amigos na Estação Central da Estrada de Ferro. Às 10 horas e 30 minutos, no Hotel do Globo, realizou-se o almoço, sentando-se à mesa os convivas do festim, ocupando o lugar de honra o homenageado, tendo à direita e esquerda dois professores da Faculdade de Medicina, Drs. Benício de Abreu e Pizarro Gabizo,
especialmente convidados para essa demonstração de apreço, juntamente com os Drs. F. Fajardo, Luiz Barbosa e Barbosa Romeu, que se sentavam em frente. Os demais lugares à mesa foram preenchidos por Olavo Bilac, Carlos Jansen, Amarante Cruz, Luiz Montandon, Rodolpho Abreu, Jovino Ayres, Dr. Fortunato Duarte, Arthur Azevedo, Eduardo Salamonde, Souza Lage, Visconde de Tourinho, Belarmino Carneiro, Guimarães Passos e Dr. Adhemar B. Romeu. O serviço, caprichosa e esmeradamente organizado pelo Hotel do Globo, esteve à altura dos créditos do conhecido estabelecimento. Ao champanha, Olavo Bilac, em singelas mas elevadas frases, dirigiu expressiva saudação ao Dr. Pedro Sanches, em nome dos que promoveram o festim. Seguiram-selhe os Drs. Benício de Abreu e Gabizo, que brindaram igualmente ao Dr. Sanches e depois usaram ainda da palavra Arthur Azevedo, o Dr. F. Fajardo, além de outros, encerrando a série dos brindes o Coronel Rodolpho Abreu, que saudou a medicina brasileira nos seus eminentes representantes presentes ali.
A festa correu na mais expansiva, animada e comunicativa palestra e, terminada, seguiu o Dr. Pedro Sanches para o cais Pharoux, acompanhado por quase todos os convivas, embarcando ali em lancha especial para bordo do Atlantique, onde lhe foram levar despedidas muitos amigos. Durante o almoço, recebeu o Dr. Pedro Sanches muitos cartões e cumprimentos pessoais, tendo o presidente da República, Rodrigues Alves, enviado também afetuosa despedida em cartão. Após conhecer diversas localidades do continente europeu, o Dr. Pedro Sanches retornou ao Brasil no início do mês de setembro daquele ano, partindo no dia 9, pelo noturno paulista com destino ao território mineiro, tendo comparecido à gare da Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil diversos amigos que foram dele se despedir. Durante o período em que esteve na Europa, enviou cartas que foram publicadas no jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, e que depois serviram de base para a publicação de um belo livro com as impressões de sua viagem. Com o título de “Dr. Pedro Sanches de Lemos” o jornal O Paiz publicou o seguinte texto, alusivo ao almoço:
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“É um nome já bem conhecido no Rio de Janeiro, nas rodas científicas e literárias, o do Dr. Pedro Sanches de Lemos, ilustre e humanitário clínico, residente em Poços de Caldas, onde hoje exerce também com grande zelo e competência as funções de diretor da Empresa Balneária. Como médico, o Dr. Pedro Sanches é um dos mais distintos que possui a nossa Pátria. Ao seu saber, fortalecida por uma larga experiência profissional, alia ele uma extrema bondade, uma despreocupação rara de interesses materiais, o caráter por assim dizer sacerdotal do seu nobre ofício, que o faz abstrair dos lucros, ante o dever de aliviar os que sofrem. Da capacidade clínica do Dr. Pedro Sanches falam com alto louvor todos os médicos que um dia travaram relações com ele, acompanharam-lhe os diagnósticos e as curas, puderam, enfim, avaliar da extensão do seu tino, do acerto das suas indicações terapêuticas, do carinhoso cuidado com que ele trata os enfermos confiados à sua competência superior. Poços de Caldas, como se sabe, é um centro de reunião do que a sociedade do Rio, São Paulo e Minas possui de mais distinto, já pela influência política, já pela fortuna, já pela elevação intelectual. Não há quem, tendo feito uma estação naquela localidade maravilhosa, não guarde desse eminente clínico as mais gratas recordações, pelo valor da sua capacidade médica, pelo seu convívio da mais atraente familiaridade, pela sua ilustração, das mais sólidas e brilhantes, pela proverbial generosidade do seu caráter, pelo fanatismo com que ele apregoa os creditos e as excelências daquela terra encantada.
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Não é, portanto, só para os médicos e para os homens de letras que o Dr. Pedro Sanches é um vulto conhecido e amado, mas para todos os que, por doença ou por simples vilegiatura já uma vez foram admirar aquela localidade privilegiada, de panoramas tão sedutores, de ar tão benfazejo, de águas tão miraculosas. Quantos dos nossos leitores, ao verem o seu retrato, não se lembrarão com simpatia do seu acolhimento, das suas palavras eruditas, dos seus cuidados de médico, dos repetidos testemunhos da sua cativante bondade, das afirmações indiscutíveis do seu saber, mal veladas pela mais profunda das modéstias? Para os homens de letras, que um dia já foram procurar em Poços o repouso do seu espírito extenuado pelas fadigas, pelas emoções, pelas torturas da vida intelectual neste país tão avesso a preocupações de arte ou de crítica, para os jornalistas, que sob aquele céu de uma transparência tão luminosa, no gozo daquele ar tão leve e tão viva, no contato daquela natureza afetuosa, se esqueceram das lutas e das excitações de todos os instantes e fizeram provisão de alegria, de sossego e de coração para esses o Dr. Pedro Sanches é o melhor dos companheiros e o mais dedicado dos amigos. De uma vasta erudição, curioso de todas as novidades e de todas as conquistas da inteligência, interessandose tanto pelas descobertas dos laboratórios, como pelas audácias dos romances, venerando os sábios e amando os poetas, sempre a par das últimas investigações químicas, do último aparelho industrial, da última observação astronômica, como da última análise histórica, como do último tratado de religião, como do último livro de versos, não se pode encontrar naquela
terra homem mais interessante, inteligência mais esclarecida, camarada mais sedutor. Quem parte do Rio para Caldas não precisa pôr na sua bagagem os livros que mais o deleitem: na biblioteca do Dr. Pedro Sanches encontrará tudo o que o seu espírito mais deseja, desde os velhos filósofos e os poetas dos outros tempos até os pensadores e os líricos atuais, os apóstolos do nirvana e os panfletários da anarquia, em brochuras ainda frescas dos prelos europeus. Todos esses livros formam a legião dos companheiros gárrulos ou melancólicos, tremendos ou risonhos, espiritualizantes ou sinistros, do Dr. Pedro Sanches, nas longas noites de inverno no planto sul mineiro, quando Caldas está deserta. São esses amigos que ele depois nos oferece no verão, nas poucas horas que tiramos ao passeio nos morros, as expedições festivas que vão saudar a estouros de champanha a grandeza do esplendor da formosa Cascata das Antas. Mas melhor do que folhear esses volumes é conversar com o solitário estudioso, conhecer através das suas palavras nítidas o resumo, a doutrina, as originalidades que eles contém. Desses amigos da imprensa, sempre por ele tão fidalgamente recebidos, partiu a ideia de lhe oferecer, hoje, um almoço no Hotel do Globo, aproveitando as poucas horas de que ele dispõe antes de embarcar para a Europa no paquete Atlantique. A esta festa de corações gratos e de espíritos felizes, por poderem de novo testemunhar ao Dr. Pedro Sanches de Lemos o alto conceito em que têm o seu saber e o seu caráter, associando-se, prestando a honra de sua presença a esse almoço de amigos, alguns distintos
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médicos desta capital, ligados por simpatia e por apreço ao ilustre médico mineiro, cuja viagem é ainda derivada do amor que ele vota à sua terra, do desejo que nutre de a ver ainda transformada num alto centro de repouso, vilegiatura e civilização. Já de cabelos brancos, chefe de uma família que o adora, ele privou-se dos carinhos dos seus para ir percorrer as estâncias hidrominerais da Europa similares à de Poços, coligir mapas, desenhos, contratos, regulamentos, sanatórios, estatísticas comerciais e clínicas, planos de cassinos e teatros, estudo de divertimentos higiênicos, e
aparelhar-se assim para tentar a execução de um grande programa de melhoramentos, tornando a primitiva povoação mineira, ainda por calçar e em cuja praça central os animais pastam em sossego, um lugar atraente, elegante e culto, que um estrangeiro possa visitar sem vergonha para o Brasil. Não sabemos se o povo da localidade lhe agradecerá o sacrifício. Quem sente com tristeza o desamparo em que se acha a riqueza da bacia hidromineral do sul de Minas e conhece o atraso e o desconforto dessas estâncias onde se morre, positivamente não pode deixar de fazer votos pelo bom êxito da tentativa do Dr
PedroSanches. E se esses esforços abnegados não forem coroados de triunfo para honra de nossa cultura, para engrandecimento de Minas, para a riqueza de Poços de Caldas, restar-nos-á o prazer de ter depois o trabalho que sobre as bases fornecidas por esse exame das águas virtuosas europeias, o ilustre clínico tenciona escrever sobre aquela estância, em complemento ou substituição da excelente memória já escrita há longos anos. Ao médico eminente, ao erudito encantador, ao amigo dedicado as homenagens.” d'O Paiz - 07/05/1902
O olhar pitoresco de Pedro Sanches sobre a Vichy de 1902 Por Jussara Marques Oliveira Marrichi
Quando Pedro Sanches de Lemos chegou em Vichy, a sua população era de 15.000 habitantes fixos, entretanto, o que lhe chamava a atenção em 1902 era o fato de que um ano antes, Vichy havia recebido 82.760 banhistas¹.A cidade, cujo nome Vichy provinha de Vich, palavra bárbara que significava força e virtude, acrescida do “y” que dizia respeito à água, dava-lhe, portanto, foros daquela, cujas águas possuíam “mais virtude”² . Situada no centro da França em Auvergne, cujas águas já eram proclamadas como bicarbonatadas sódicas fortes, Vichy no início do século XX já possuía nove fontes pertencentes ao Estado, com temperaturas que variavam entre 44 °C à 13° C. Suas
águas que eram indicadas para os banhos e as duchas também eram conhecidas por sua ação nas perturbações da digestão estomacal e intestinal. Ainda que os costumes romanos dos banhos tenham contribuído para o conhecimento de suas águas, sua fama data do tempo dos frades Celestinos que as indicavam aos doentes como importante recurso terapêutico.
Foi a Duquesa de Angoulème que em 1774 lançou a pedra fundamental para a construção do primeiro estabelecimento termal em Vichy, porém, a sua prosperidade começou a despontar a partir de 1852 quando Napoleão III passou a exploração de suas águas a um sindicato representado por Lebobe, Callou & C que logo de início trouxe importantes modificações para a paisagem urbana daquele local.
Chatel-Guyon. As termas e alguns hoteis. Fonte: Livro Aspectos da crenoterapia na Europa e no Brasil, 1950
Aix-Les-Bains. As modernas termas nacionais. Fonte: Livro Aspectos da crenoterapia na Europa e no Brasil, 1950
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A partir de 1872 o número de curistas e veranistas que a visitavam foi aumentando gradativamente e grandes e confortáveis hotéis foram então construídos na famosa cidade das águas medicinais. No início do século XX, as estações das águas em Vichy tinham início no dia 15 de maio
e iam até o dia 30 de setembro. Era a época em Vichy se transformava em um dos grandes boulevares de Paris, quando trens lotados partiam da cidade luz para a temporada das águas e das festas em Vichy. Obviamente, em sua visita, o médico Pedro Sanches de Lemos deixou-se encantar com este
recente modo de vida urbano que prometia a partir do turismo uma nova experiência social com as atratividades que faziam engrandecer o nome Vichy. Encantou-se e admirou-se com o movimento crescente do turismo naquele lugar. Dizia:
“Na Europa tudo está canalizado, si me posso exprimir assim, a virtude e o vício, o bem e o mal, para produzir um effeito util – o dinheiro, que é a mola real da vida. Depois, o extrangeiro rico, que vem aos banhos (por extrangeiro se entende todo o individuo que não habita a localidade), há de deixar no logar o seu cobre, quer queira, quer não. As cousas estão organizadas para isso. E tudo se faz ao som da música, tocada por orchestras admiraveis, compostas de pelo menos 50 professores, em meio do luxo, da riqueza, das arvores, da relva, das flores, das mais lindas mulheres do mundo, que espalham ao redor de si a graça e os mais delicados perfumes, de modo que o banhista perde sem sentir, embalado pelo som de uma musica celestial, e transportado para um mundo de sonhos e encantamentos sem fim. A estação balnear de Vichy é uma festa que se não acaba mais, e a vida maravilhosa daquelle arrebatador canto do planeta pode auxiliar ou atrapalhar a acção therapeutica das milagrosas aguas, si o banhista não ficar com o prumo na
Em sua viagem à Vichy muito mais apenas do que estudar o funcionamento dos estabelecimentos balneários e de lá trazer todo conhecimento científico fundamentado na Hidrologia Médica Francesa, o médico pôde então, tecer um dos primeiros comentários sobre o poder civilizatório das águas para uma cultura em ascensão: a cultura do
prazer vivenciada pelas recentes viagens turísticas que já haviam conquistado a elite francesa. Foi observando o cassino, o EdenThéatre, os carros e os cavalos, os quiosques de música, o lago artificial, os bosques e os caminhos do novo ordenamento urbano de Vichy que o médico compreendeu também que a poética do pitoresco caracterizada
Thermas de Dômes em Vichy. Acervo: Jussara Marrichi em 2012.
pelo símbolo da sociabilidade era também um dos pontos mais importantes daquele momento onde cura hidromineral e sociabilidade moderna construíam a imagem das futuras cidades termais e balneárias do nosso país, fato que possibilitou a Poços de Caldas a conquista do sucesso alcançado durante as primeiras décadas do século passado.
Entrada principal do Cassino de Vichy. Acervo: Jussara Marrichi em 2012.
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Túmulo do Dr. Pedro Sanches no Cemitério da Saudade em Poços de Caldas Acervo: Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas
Notas explicativas AS ÁGUAS TERMAIS DE PEDRO SANCHES DE LEMOS 1 LEMOS, Pedro Sanches de. Notas de viagem- na Alemanha, na Suissa, na França. São Paulo. Escola Typographica Salesiana. 1903. p.188 2 As águas thermaes de Poços de Caldas (Província de Minas Geraes) - médico clínico nos Poços de Caldas desde 1873. RJ: Typographia Perseverança, 1884 - Notas de viagem - na Alemanha, na Suissa e na França. São Paulo: Escola Typográfica Salesiana, 1903 - As Águas thermaes de Poços de Caldas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1904. 3 LOBO, Pelágio. Dr Pedro Sanches de Lemos. O homem, o médico, o crenólogo. Monografia inédita. Maio de 1947. p.07 4 LEMOS, Pedro Sanches de. As águas thermaes de Poços de Caldas. (Província de Minas Geraes). Op.cit.p.47 5 Idem ao item 4 p.47 6 De acordo com Luiz Otavio Ferreira, a arte médica executada no Brasil pelos poucos médicos “não se distinguia radicalmente daquela exercida pelos populares. A medicina culta assemelhava-se à medicina popular, na medida em que expunha uma concepção da doença e apregoava um arsenal terapêutico fundamentados numa visão de mundo em que coexistiam o natural e o sobrenatural, a experiência e a crença.” Cf: FERREIRA, Luiz Otávio. Medicina Impopular – Ciência médica e medicina popular nas páginas dos periódicos científicos (1830-1840) In: CHALHOUB, Sidney (org). Artes e Ofícios de curar no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. p. 102. 7 LEMOS, Pedro Sanches de. As águas thermaes de Poços de Caldas. (Província de Minas Geraes). Op.cit.p.52 8 De acordo com Stelio Marras, “a união entre o homem rural e o homem do saber respondia, em boa medida, aos ditames do progresso e da modernidade brasileira que então experimentavam arranque inédito, como expresso na intensa troca de café por bens da indústria inglesa, que também ecoou nos poços de caldas do fim do século.” Cf: MARRAS, Stelio. A propósito de águas virtuosas – Formação e ocorrências de uma estação balneária no Brasil. Belo Horizonte: UFMG,2004, p.55 9 Banhos de imersão nas águas sulfurosas com tempo determinado. Variavam de 15 a 20 minutos 10 LEMOS, Pedro Sanches de. As águas thermaes de Poços de Caldas. Op. cit. p. 49 11 Idem ao item 10, p. 54 12 BUTTER, Guilherme. Jornal “O Dia” – Curitiba, 19 de setembro de 1942. “Uma visita às regiões das fontes de águas milagrosas”. 13 Idem ao item 12, p.60 14 Ibidem, p. 60 O HERÓI E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS 1 Professor de antropologia do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP). 2 MARRAS, Stelio .A propósito de águas virtuosas – formação e ocorrências de uma estação balneária no Brasil. Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2004. 3 MOURÃO, Benedictus Mário. Quarteto construtor de Poços de Caldas e epopéia de Pedro Sanches. Poços de Caldas, MG, Gráf. Sulminas, 1998. 4 FERREIRA, Jurandir. O céu entre montanhas. São Paulo, Martins Fontes, 1948. 5 Já no final do século XIX, o cronista português Ramalho Ortigão acusava, em seu Banhos de caldas e águas minerais (Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1966 – 1ª edição: 1876) o cuidado que se deveria observar no equilíbrio entre ambos os princípios, o medicinal e o mundano, nas estações. 6 LEMOS, Pedro Sanches de. Águas thermaes de Poços de Caldas. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1904, p. 190. 7 LEMOS, Pedro Sanches de. Notas de viagem. São Paulo, Escola Tipográfica Salesiana, 1903. 8NETO, Coelho. Água de Juventa. Porto, Maillaud e Bertrand, 1925. (1ª edição: 1904) O OLHAR PITORESCO DE PEDRO SANCHES SOBRE A VICHY DE 1902 1 LEMOS, Pedro Sanches. Notas de viagem: na Alemanha, na Suissa, na França. São Paulo: Escola Typografica Salesiana, 1903. p.129. 2 Idem, p. 121. 3 Ibidem, p.133.
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Netos
Filhos
Monumento em homenagem ao Dr. Pedro Sanches na praça ao lado do Palace Hotel Acervo: Secretaria de Planejamento
Capa do “Diário de Lembranças’’ do Dr. Pedro Sanches - 1893 Acervo: Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas