Resenha: Historicismo

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Resenha Estudos da Linguagem: HISTORICISMO Escrito por: Letícia Moura O historicismo e a busca pela origem da língua Antes de definir o historicismo é importante conhecer o contexto em que ele se desenvolveu. Na Europa, antes do Renascimento (século XIV), apenas o estudo das línguas clássicas, como o latim, interessava. Após o Renascimento, o contato com outros povos, culturas e línguas foi intensificado pelo comércio entre as diferentes regiões. A invenção da imprensa (século XV) e a Reforma Protestante (século XVI) atraíram o olhar para outras línguas. “Para Martinho Lutero (1483 – 1546) e João Calvino (1509 – 1564), promotores da Reforma, expressão ideológica da reorganização burguesa do mundo feudal, as línguas escolhidas realmente faladas pelo povo, na acepção da época, foram escolhidas como instrumentos de comunicação religiosa e de tradução da Bíblia” (CARBONI, 2008, p. 30). A variedade linguística ganhou o status científico e vários estudiosos começaram a analisar as diversas línguas em busca de uma origem comum ou protolíngua. “Os indo-europeístas vão dizer que as semelhanças que eles encontram, indicam um parentesco entre essas línguas. [...] são vistas como transformações naturais de uma mesma língua de origem (o indo-europeu) à qual eles propões que se chegue pelo método histórico-comparativo” (ORLANDI, 2009, p. 14). Uma das grandes contribuições neste aspecto foi demonstrar que as mudanças na língua não são caóticas e, sim, direcionais ou regulares. Orlandi (2009) exemplifica o estudo da histórico-comparação apresentando a palavra em português “chuva”, que em espanhol é “lluvia” e acrescento a palavra para análise em francês: “pluie”. Se aprofundarmos a pesquisa, em latim encontramos a palavra “pluviam”, logo, percebemos que existe uma regularidade para a evolução das línguas. O “pl” do latim, se transforma em “ch” em português e no “ll” em espanhol e se mantém no francês. O mesmo observamos no latim “plenum”, que se transforma em “cheio”, “lleno” e “plein”. O pesquisador alemão Franz Bopp (1791 – 1867) é uma das figuras mais importantes para o surgimento do historicismo, tanto que o “nascimento” da teoria é vinculado à publicação de sua obra, em 1816, sobre o sistema da conjugação da língua sânscrita comparada ao grego. É importante destacar a dependência da linguística histórica com a comparativa. Os métodos de análise eram feitos por meio de comparação entre as variadas línguas. “O método histórico-comparativo permite que os


romanistas façam conjecturas bastante exatas sobre as formas românicas originárias. É até certo ponto casual que essas formas resultantes de conjecturas baseadas na comparação sejam efetivamente encontradas nos textos latinos que sobreviveram até nós...” (ILARI, 2000, p. 21) É importante ressaltar que os estudos não focam apenas na recriação de uma língua, os pesquisadores também analisavam as variações, evolução e os fatores que influenciaram a mudança. “As línguas são como são porque, no decorrer do tempo, elas estiveram sujeitas a uma variedade de forças causativas internas e externas...” (LYONS, 1981, p.202). O olhar sobre outras línguas, mesmo que por uma visão histórica, foi importante para o avanço da linguística. Segundo Camara (1975), embora a simplicidade dos pontos de vista, o estudo histórico da linguagem ajudou na composição da linguística propriamente dita. A partir do século XIX, os estudos colaboraram para uma mudança de visão sobre a linguagem. Houve o abandono da “pretensão de congelar línguas contemporâneas como o francês na sua forma clássica e padrão, passando-se a considerar as línguas como instâncias em perpétua evolução” (CARBONI, 2008, p. 31). A linguística histórico-comparativa também recebeu muitas críticas de outros pesquisadores. De acordo com outras teorias, o fato de ter semelhanças entre as línguas não significa necessariamente a existência de uma língua de origem. Apesar de criticada, a abordagem proporcionou grandes avanços no campo, como a definição de leis fonéticas e a reconstrução da protolíngua indo-europeia. Além disso, o sistema de classificação também foi beneficiado com os estudos, e, passou a dividir as línguas em isolantes, aglutinantes e flexionais. De fato, a linguística histórica preparou o caminho para o estruturalismo.

REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMARA, Joaquim Mattoso. História da Linguística. Petrópolis: Editora Vozes, 1975. CARBONI, Fiorence. Introdução à linguística. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. ILARI, Rodolfo. Linguística Românica. São Paulo: Ática, 2000. LYONS, John. Language and Linguistics, Tradução autorizada de primeira edição inglesa, publicada em 1981 por Cambridge University Press, Inglaterra. ORLANDI, Eni Puccinelli. O que é linguística, 2ª edição. São Paulo: Brasiliense, 2009.


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