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a casa explodida

espacialidades radicais para habitar o centro de sĂŁo paulo

leticia monteiro


“Minha casa é diáfana, mas não é de vidro. Teria antes a constituição do vapor. Suas paredes condensam-se e se expandem segundo o meu desejo. Por vezes, aperto-as em torno de mim, como uma armadura de isolamento... Mas, às vezes, deixo as paredes de minha casa se expandirem no espaço que lhes é próprio, que é a extensibilidade infinita.” Georges Spyridaki, Mort lucide. (In. BACHELARD, 2005, p: 66)


a casa explodida

espacialidades radicais para habitar o centro de são paulo

dossiê seminários de trabalho final de graduação orientadora: flávia nacif universidade federal de são joão del rei departamento de arquitetura e urbanismo e artes aplicadas arquitetura e urbanismo 2018/2

leticia monteiro rodrigues



1. introdução 1 2. a cabana primitiva 3 3. do abrigo à casa 6 4. questões contemporâneas 13 5. o elevado 17 6. encaminhamentos 34 7. bibliografia 35



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1. introdução O presente trabalho é produto da disciplina de Seminários de Trabalho de Graduação e compõe parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Arquitetura e Urbanismo. Trata-se de uma apresentação parcial das pesquisas em andamento para o projeto final e contextualização da área de intervenção. Enxergar o espaço que vivemos, suas origens e possibilidades de transformação foi o grande aprendizado ao longo dessa graduação. As provocações da Oficina II, no ciclo de fundamentação, sobre como reproduzimos modelos espaciais dos séculos XIV e XX que não atendem as necessidades do homem contemporâneo inspiraram esse trabalho.

Como primeiro esforço construtivo do homem, sendo o sentido inaugural da arquitetura (MIGUEL, 2002), a casa é o ponto inicial deste trabalho. A justificativa desse objeto também se justifica pela sua importância na atuação dos arquitetos; o espaço doméstico é a linha de frente da arquitetura: a maior parte dos arquitetos se dedicam a projetos residenciais (SELF, 2016). De sua importância simbólica, temos a casa como nosso primeiro sentido de lugar, ela é um marco em como nos entendemos espacialmente no mundo (BACHELARD, 2005). Paradoxalmente a sua inegável importância, a aparente banalidade da moradia faz com que


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sua construção seja muitas vezes mera reprodução de modelos estabelecidos e naturalizados, como se a discussão sobre como moramos tivesse sido encerrada com o modernismo (ou ainda em um ponto anterior). GIUDICI e AURELI (2016) defendem que não se deve compreender o projeto da casa como solução natural para a questão da moradia. Tendo papel central no modo de reprodução da vida de seus habitantes, o morar pode significar tanto uma possibilidade de emancipação ou controle social – considerar de maneira ampla os fatores políticos e ideológicos envolvidos na produção de moradia é fundamental para que se consiga gerar novos paradigmas que sejam adequados a vida contemporânea. A partir dessas discussões, o eixo fundamental deste TCC será a investigação sobre o espaço do-

méstico a partir de um exercício propositivo de transformação radical para a moradia, considerando o processo criativo de pensar novas espacialidades como ferramenta fundamental da arquitetura para transformação política e social.


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2. a cabana primitiva “Devemos supor que quando Adão foi alojado no paraíso estava chovendo. E como não tinha proteção, levou as mãos à cabeça para defender-se da água. E do mesmo modo que a necessidade o obrigou a encontrar comida para seguir vivendo, assim também a habitação foi uma habilidade para defender-se do mal tempo e da água. Alguns dizem que não chovia antes do dilúvio. Eu creio o contrário, pois se a terra produzia frutos era necessário que chovesse. E como a alimentação e o alojamento são habilidades necessárias para viver, devemos crer que Adão, ao fazer um teto com suas duas mãos, considerando a necessidade de fazer uma habitação, buscou fabricar uma vivenda que o defendesse das chuvas, assim como do calor do sol1”. Filarete

1. FILARETE, Trattato di Architettura, 1464. apud MIGUEL, 2002.


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O homem primitivo se protegendo da chuva, segundo Filarete. DisponĂ­vel em < http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.029/746 >


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Filarete se volta à tradição cristã para descrever a origem da casa: um gesto de Adão para se proteger da chuva, que evolui do gesto para uma cabana com teto apoiado sobre troncos. Vitruvio faz a associação da cabana primitiva com o fogo, sendo esse também responsável pela criação da sociedade: o fogo permitiu a espacialização da reunião entre homens e a vida comum, e a cabana primitiva surge como potencialização desse efeito uma vez que protege e mantém o calor do fogo. Dos tratadistas clássicos da arquitetura, Alberti é o primeiro a incluir a ideia da parede como elemento fundacional da construção: a casa surge a partir da necessidade do homem de separar os espaços; o encontro do teto e a parede (e não a coluna) geram a cabana primitiva (MIGUEL, 2002).

Para Alberti a criação do invólucro que precede a casa é a escolha do homem em definir sua escala como medida do espaço que ocupa, estabelecendo um modelo antropomórfico para a arquitetura. A casa é um espaço de orientação, as paredes demarcam as atividades, e também determinam as relações de dentro e fora. Em uma natureza hostil, a casa é essencial para que a constante preocupação com a sobrevivência possa ser substituída pela ritualização da vida, oferecendo um meio para se estabeleça padrões de comportamento e condições para sua reprodução (GIUDICI e AURELI, 2016). Nesse sentido, a casa tem papel fundamental para a formação da sociedade, por permitir que se estabeleça um modo comum de vida.


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3. do abrigo à casa LUKACS define a casa unifamiliar como a maior conquista da era burguesa, para ele essa casa se estabeleceria na tríade dos conceitos de domesticidade, privacidade e conforto. São esses três pontos que transportam a cabana primitiva, mero abrigo, para o que entendemos como casa nos dias de hoje. RYBCZYNSKI (1996) desenvolve esses conceitos para traçar uma história da ideia da casa:

1. DOMESTICIDADE é um conjunto de emoções que se relaciona à intimidade, que determina a casa como incorporadora desses sentimentos e não apenas um abrigo funcional. 2. PRIVACIDADE se estabelece a partir da separação da casa do local de trabalho, que ocorre apenas após a Revolução Industrial. Assim, a casa passa ser um local exclusivo da família e se firma como local de descanso e intimidade, contrário ao espaço do trabalho. 3. CONFORTO permite esse descanso, não apenas através de questões subjetivas de bem-estar mas uma abordagem técnica de salubridade que garanta condições ao indivíduo de cumprir sua vida social.

Pieter de Hooch, O Quarto (1660). Disponível em: Google Art Project


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Se o papel da casa como ambiente de reprodução da vida em sociedade já existia desde seus modelos primitivos, com as Revoluções Burguesas essa relação se intensifica. A casa burguesa se torna um dispositivo pedagógico (SILVA et al, 2017) para aprendizado de uma série de novos códigos sociais. A divisão do espaço doméstico e o espaço de trabalho traz consigo uma profunda marca de gênero, que relega a mulher o ambiente doméstico ao mesmo tempo que desassocia a ideia de trabalho doméstico ao trabalho. SILVA et al (2017) exemplifica essa divisão de gênero na distribuição e decoração do interior da casa:

Édouard Vuillard, Interior (1904). Pushkin Museum

“(...) o casamento envolvia uma clara divisão de papéis. À esposa cabia a administração do lar e a ostentação da prosperidade financeira do marido, expressa em roupas, joias e no tempo livre, emulando um cotidiano intocado pelo trabalho (...) Nesse empenho, a decoração de espaços femininos como o boudoir e a sala de visitas tinha como diretriz a exibição da riqueza (...) Nesses ambientes repletos de tapetes, mobílias afrancesadas, espelhos, “bronzes”, cristais e assoalhos encerados, pairava a redoma da suntuosidade. (...) Aos homens cumpria a ode ao trabalho e à retidão moral, estampada no comportamento severo, no vestuário formal, na utilização de objetos como ternos, relógios e óculos, que remetiam ao labor intelectual, afastando-os simbolicamente das atividades típicas dos trabalhadores manuais. No mesmo sentido, seus ambientes eram marcados por mobílias de cor escura, com desenhos sóbrios e/ou retilíneos”.


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Envolta por uma cidade que crescia caótica, a casa burguesa se isola da cidade. Há a preocupação da criação de bairros exclusivamente residenciais e casas implantadas no centro do lote, permitindo a criação de jardins privados e criando a sensação de proteção e afastamento. A organização interna da casa também respeitava essa ideia de privacidade, as áreas social, de serviço e íntima eram articuladas por vestíbulos, recuos, varandas, corredores, portas (SILVA et al, 2017) de modo a determinar os percursos e acessos e proteger a ordem do espaço doméstico. A casa se adaptava de maneira a acomodar a nova ideologia vigente, ao mesmo tempo que reforçava essa ideologia e proporcionava meios para que ela se realizasse. Com a crescente influência americana em detrimento da influência das elites europeias,

esse estilo de moradia começa a se descaracterizar em São Paulo a partir da década 1920. Gradualmente, o programa da casa é diminuído. Muitas das atividades sociais ligadas ao espaço doméstico começam a serem realizadas em clubes privados e outros espaços externos. SILVA et al (2017) destaca a década de 1940 como um marco na transformação da atuação do arquiteto: se até então esse adotava uma postura de serviço, meramente traduzindo as vontades do cliente, agora o arquiteto passa a se colocar de maneira propositiva. Sobre a produção de Villanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha, os autores dizem: “Concebidas como casas-manifesto , um espaço de experimentação e afirmação dos arquitetos, essas residências sintetizam alguns dos debates travados no campo arquitetônico brasileiro em meados do século XX. Mas além de reverberarem as transformações em curso


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e os modos pelos quais os arquitetos se posicionaram frente a elas, essas casas novamente ocuparam, apesar da crítica social que carregavam, um lugar central na produção arquitetônica de vanguarda e na crítica a ela dedicada.”

A arquitetura se coloca de maneira consciente num esforço civilizatório para transformar não somente o espaço mas as relações que se estabelecem ali. Essa experiência, no entanto, é limitada a casas de alto padrão. Esse período é marcado por obras de forte caráter autoral, onde a casa é a expressão da percepção de mundo do arquiteto e seus desejos de transformação. As duas casas no Butantã que Paulo Mendes da Rocha projeta para si e sua irmã buscam quebrar com os principais pontos da casa burguesa: o espaço intimo é semiaberto, a ausência do lavabo força a circulação dos visitantes na àrea intima, a área social é ampla e integrada, a própria escolha dos materiais não remete ao espaço doméstico. Paulo Mendes da Rocha Casa Butantã. Nelson Kon/Archdaily


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4. questões contemporâneas As familias se tornaram, em geral, menores e com configurações mais diversificadas. Ao mesmo tempo, há abertura para novos arranjos de co-habitação que não se baseiam no núcleo familiar. Nesse sentido há cada vez mais a necessidade de um espaço que seja flexível e consiga se adaptar para diferentes modelos de vida. Essas transformações não se resumem aos aspectos formais da casa, mas devem permear também os arranjos sociais e econômicos da moradia. A propriedade da casa vista como única solução para a moradia, mesmo que atrelada a um financiamento vitalício, é, de fato, a melhor solução para o acesso à habitação? SELF (2016) caracteriza o homem endi-

vidado como elemento chave do neoliberalismo, e atenta para espaços cada vez mais precarizados e caros. É necessário novas propostas para a moradia que compreendam as questões contemporâneas de maneira adequada, e não apenas reforcem situações de exploração. O Pavilhão Britânico na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2016 propôs, com a exposição Home Economics, 5 novos modelos para repensar o espaço doméstico contemporâneo. Esses modelos apresentavam desde situações de quartos compartilhados, módulos concentrados ou uma casa sem acabamentos ou divisórias.

DOGMA + BLACK SQUARE, A House without House Work. Módulos compactados reunem necessidades básicas da casa (cozinha, banheiro, dormitório e armazenamento), os módulos são distribuidos em edificações com estrutura simples, o espaço entre os modulos favorecem a vida comunal.


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SHIGERU BAN, Naked House. O cliente queria uma casa com a menor privacidade possível para que a nenhum membro da família se isolasse, mas que também permitisse que cada um engajasse nas suas atividades com liberdade. A proposta é um volume oco, com módulos semi-fechados que possuem mobilia mínima e são deslizantes, de maneira que a distribuição dos cômodos pode ser facilmente reconfigurada.


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SOU FUJIMOTO, Rented House. O partido é maximizar as áreas de uso coletivo da edificação de apartamentos para aluguel. As unidades privadas tem seu tamanho reduzido, mas existe um ganho comum com áreas amplas e diversas que não seriam possíveis em um arranjo tradicional, ao mesmo tempo que se mantém a privacidade de certos cômodos, em um acordo com relações de privacidade bem estabelecidos.


Fonte: GoogleMAPS, com alterações da autora.

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5. o elevado “O elevado é uma multiplicação. Uma via sobre a outra multiplicando a capacidade viária, a velocidade dos veículos, a superfície à disposição dos automóveis; chão artificial de asfalto, solo criado concretizado como estrutura ciclópica armada no espaço. Repleto de duplos sentidos: funcional e deselegante; moderno e anacrônico; supérfluo e necessário; inútil, mas indispensável.1” Candido Malta Campos

1. CAMPOS, C. M. Caminhos do Elevado: Memória e Projetos. ARTIGAS, R. et al (org.) São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008, p. 19.


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AnĂşncio da Hidroservice publicado na Folha de S.Paulo em 24 de janeiro de 1971. DisponĂ­vel em www.saopauloantiga.com.br, acesso Novembro/2018.


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Fonte: CHEN, 2015.


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Popularmente conhecido como Minhocão, o Elevado Presidente João Goulart foi inaugurado em 1971 e se chamava originalmente – e até 2016 – Elevado Presidente Arthur Costa e Silva. As primeiras ideias para uma via expressa elevada ligando Zona Leste e Oeste de São Paulo surgiram durante o mandato do prefeito José Vicente Faria Lima (1965-1969) que recusou o projeto, dando prioridade para as obras do metrô e outras avenidas. Seu sucessor na prefeitura, Paulo Maluf, retomou e implementou a ideia da construção, que chegou a ser considerada “a maior obra da América Latina”, com custo estimado equivalente a 400 milhões de reais2. Ainda em construção, a obra já gerava muitas críticas por conta da descaracterização do entorno, barulho e proximidade com os apartamentos . Ainda que cumpra seu papel fornecendo um deslocamento ágil entre centro e zona oeste, a CET3 considera os benefícios da obra pequenos para o transtorno gerado, sobretudo a poluição sonora. Atualmente, o elevado é fechado entre 21h-6h e aos finais de semana. Nesse período, o espaço tem sido apropriado como área de lazer e cultura.

Rua Amaral Gurgel antes da implantação do Minhocão

Rua Amaral Gurgel após a implantação do Minhocão

Ressignificação do Elevado Corte Esquemático do Elevado. Fonte: VAGA arquitetos. Disponível em: www.vaga.arq.br Acesso em Novembro/2018

2. BERTONI, Estavão. O que é e para que serve o Minhocão. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br. Acesso Novembro/2018 3. COMPANHIA de Engenharia de Tráfego. Relatório Sintético dos Estudos para Restringir o Tráfego de Veículos Automotores no Minhocão. Disponível em: http://www.cetsp.com.br/media/481606/relatorio_de_avaliacao_de_-impacto_janeiro2016.pdf Acesso Novembro/2018


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Proposta vencedora do Concurso Prestes Maia de Urbanismo. Autoria de José Alves e Juliana Corradine. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/06.067/2689?page=3 Acesso Novembro/2018

O Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (lei nº 16.050/14) aprovado em 2014, prevê a desativação gradual do Elevado até 2029, porém não determina seu futuro. As discussões sobre o que fazer com a estrutura se desenrolam desde os anos 90, com diversos caminhos possíveis: a estrutura deve ser mantida e re-significada – a exemplo do que ocorre com a High Line em Nova York –, demolida ou, ainda, uma solução mista.

Ainda em 2006, foi lançado pela Prefeitura de São Paulo um concurso de ideias de soluções criativas para o Minhocão, promovendo a reintegração da área. A ideia vencedora, dos arquitetos José Alves e Juliana Corradini propõe um parque elevado sobre o viaduto, criando um invólucro das pistas, em alguns momentos essa estrutura se conecta às quadras vizinhas criando galerias de usos diversificado.


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Menção honrosa no mesmo concurso, a solução de Lourenço Urbano Gimenes propõe que a estrutura seja parcialmente demolida, mantendo apenas áreas que possuam bom conforto ambiental que deverão ser transformadas em equipamentos públicos. O arquiteto propõe a utilização de outra cicatriz urbana na proximidade, a linha do trem, para a construção de uma via que cumpriria a função do Elevado. O Elevado hoje.

Proposta do Arquiteto Lourenço Urbano Gimenes. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/06.067/2689?page=4 Acesso Novembro/2018


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Dentro os defensores da criação de um Parque no Minhocão está o arquiteto Márcio Kogan, que cita os bem sucedidos exemplos internacionais e defende que a proposta seria um marco no urbanismo paulistano e traria uma influência positiva para o centro da cidade de maneira geral.4 No lado oposto, a arquiteta Raquel Rolnik defende a demolição do elevado não somente por seus problemas urbanísticos mas por ser um símbolo da ditadura na cidade. “Demolir essa estrutura, portanto, é não apenas pensar outra lógica de cidade, mas também rejeitar e enterrar definitivamente os símbolos de um passado autoritário que ainda ronda nossas vidas.”5. No entanto, ela reforça que não se trata apenas de demolir a estrutura, mas é preciso reurbanizar as vias a partir de outro pensamento sobre a cidade: calçadas largas e arborizadas, que proporcionem espaços de convivência e um planejamento que priorize o transporte coletivo.

Com boa infraestrutura e ocupação diversificada e adensada, a região se insere na Macroárea de Estruturação Metropolitana dentro do Arco do Tietê. O Plano Diretor destaca a região como propícia para manutenção da população existente e como pólo de atração para novos moradores e serviços, além de importância como articuladora de diferentes regiões do município e região metropolitana. Essas características transformam a região em um ponto complexo de articulação de diferentes escalas e usos, sendo um desafio conseguir pensar um planejamento em escala humana mas que também consiga cumprir a vocação de conexão do espaço. O exemplo do Minhocão apresenta uma experiência que ignora as diferentes faces e necessidades da ocupação urbana e acaba gerando um espaço para poucos. Como efeito do Elevado, apesar de ser uma região em geral bastante densa, seu entorno imediato possui

4. LAMAS, J. Afinal, o que será do Minhocão? Disponível em: https://www.archdaily.com.br/ Acesso Novembro/2018 5. ROLNIK, R. Precisamos mesmo do Minhocão? Disponível em: https://raquelrolnik.wordpress.com Acesso Novembro/2018


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Fonte: Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo


Fonte: GoogleMAPS, com alterações da autora.

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diversos espaços sub-aproveitados ou vazios: lotes vazios, estacionamentos, galpões, postos de gasolina e edifícios de baixa densidade em má conservação que se encontram mapeados no mapa da página anterior. O Plano Diretor Estratégico do Município demarca algumas Zonas Especiais de Interesse Social na

região, sendo elas categorizadas como Imóveis subutilizados, encortiçados em áreas com boa infraestrutura (ZEI 3) e vazios com áreas em boa infraestrutura (ZEI 5), além de determinar áreas de influência dessas ocupações.


Fonte: GoogleMAPS, com alterações da autora.

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Ao longo do Elevado existem duas estação de metrô da linha 3-Vermelha, Marechal Deodoro e Santa Cecília, conectando a Zona Leste à Oeste da cidade de São Paulo. Sob o mesmo, existe o Terminal de Ônibus Amaral Gurgel, inaugurado em 2003. O perímetro do viaduto conta com diversos pontos de ônibus, a maior parte das linhas que o percorrem conectam o centro à zona oeste.

Terminal Amaral Gurgel. Disponívem em: https://mobilidadesampa.com.br. Acesso Novembro/2018


Fonte: GoogleMAPS, com alterações da autora.

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Praça Roosevelt. Disponível em < https://www.arcoweb.com.br/ projetodesign/arquitetura/rubens-reis-fupam-praca-roosevelt-parqueestadual-belem-08-04-2013 > Acesso Novembro/2018

No entorno do Elevado existem as praças Roosevelt, Santa Cecília, Marechal Deodoro, Antônio Cândido Camargo, Dom Ernesto de Paula e o Largo do Arouche. Há também canteiros e outras pequenas áreas verdes na região.

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No principal acesso ao Minhocão desde a região central, a Praça Roosevelt foi reinaugurada em 2012 com projeto do escritório SP Urbanismo. A praça é um marco no centro da cidade, sobretudo para a cena cultural, reunindo em seu entorno diversos grupos teatrais.


Fonte: GoogleMAPS, com alterações da autora.

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Fonte: CHEN, 2015.


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6. encaminhamentos A pesquisa realizada nessa etapa do trabalho serve como base para o inicio da etapa projetual do TCC e a contínua pesquisa que será desenvolvida paralelamente. Como produto final, o trabalho propõe o desenvolvimento de um projeto arquitetônico experimental, buscando na fronteira entre uma arquitetura real e utópica respostas para a questão da moradia contemporânea, lidando com a escala do projeto arquitetônico e micro-escala urbana, aliados ao aporte da pesquisa teórica em arquitetura. O projeto será representado por meio de desenhos técnicos, colagens e diagramas.

Matthieu Lavanchy. Home Economics.

Para um próximo momento, entendo a necessidade de trazer a discussão para um contexto brasileiro, definir um perfil de quem são esses moradores, e aprofundar na questão das tipologias de habitação.


7. bibliografia

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ALEXANDER, Christopher; et al. Uma Linguagem de Padrões. A Pattern Language. Porto Alegre: Bookman, 2013. ARTIGAS, R. et al (org.) Caminhos do Elevado: Memória e Projetos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Editora, 2005. CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: GG Brasil, 2013. CHEN, Willian. Parque Minhocão. São Paulo: TFG, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2015. GIUDICI, Maria e AURELI, Pier. Familiar Horror: Toward a Critique Of Domestic Space. Log 39, 2016. HEIDEGGER, Martin. Construir, habitar, pensar. Pfullingen: Vortäge und Aufsätze, 1954. Tradução: Marcia Sá Cavalcante Schuback. Disponível em: <http://www.fau.usp.br/wp-content/uploads/2016/12/heidegger_construir_ habitar_pensar.pdf>. Acesso Set. 2018. MIGUEL, Jorge M. C. Casa e lar: a essência da arquitetura. Arquitextos, Out. 2002. Diponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/03.029/746>. Acesso Out. 2018


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SADLER, Simon. The Situationist City. Cambridge, MA: The MIT Press, 1999. SÃO PAULO. Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Lei no 16.050. 2014. SELF, Jack. Home Economics: Five new models for domestic life. 2016. SILVA, Joana Mello de Carvalho; FERREIRA, Pedro Beresin Schleder. Os Sentidos do Morar em Três Atos: Representação, Conforto e Privacidade. São Paulo: Pós, Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. FAUUSP, v. 24, n. 44, p. 68-87, set.-dez. 2017. TATARA, Marino e AURELI, Pier. Production/Reproduction: Housing Beyond the Family. Harvard Design Magazine, 2016.



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