OFICINA
LETICIA MONTEIRO • 1º/2014
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arquitetura e urbanismo
PORTFÓLIO DE EXERCÍCIOS
profº GEDLEY BELCHIOR BRAGA profº RAFAEL SILVA BRANDÃO profª ELISA TULER DE ALBEGARIA
CIDADES INVISIVEIS COLAGEM
Em Cidades Invisíveis, Italo Calvino nos oferece a descrição de algumas cidades fantásticas. Num olhar mais atento, percebemos que não há tanta fantasia assim. Em cada cidade real há um pouco dessas “cidades invisíveis”. E cada um de nós é um pouco como seus habitantes. Como em Bersabéia, nós miramos em modelos idealizados de virtude e be-
leza fáceis e nos esquecemos da complexidade da realidade e a grande oferta de possibilidades. Numa busca eterna pela perfeição, esquecemos de ser humanos. Já disse Voltaire em seu “La Bégueule”: o perfeito é inimigo do bom. Na minha colagem, busquei retratar as três diferentes cidades da crônica. A real Bersabéia é como uma cidade
comum. Já sua versão celeste é dourada como descrita, mas não de ouro como acreditam: é glitter; reluzente, porém sem valor. Por sua vez, a cidade subterrânea é onde se deposita o lixo, não tem a cor e pompa de suas correspondentes, mas também não possui sua avareza e cegueira.
CRÉDITOS
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<flickr.com/photos/khouri/5452665319/>
<lilbet.deviantart.com/art/stock-texture-glitter-3-252264455>
<slaygroundresources.tumblr.com/tagged/textures>
<ledagirl.deviantart.com>
<yulia7.deviantart.com>
SENTIDOS DO AMOR
Algumas pessoas subitamente perdem o olfato, casos sem nenhuma relação aparente espalhados pelo mundo, todos acompanhados de crises de descontrole emocional. A epidemiologista Susan trabalha na tentativa de identificar a misteriosa doença, que se alastra rapidamente por todo o globo – esse é o cenário de partida de “Sentidos do Amor”, filme do inglês David Mackenzie. Sem uma explicação científica pra epidemia, as pessoas continuam seguindo suas vidas. porém novos estágios da doença se desenvolvem, causando a perda de outros sentidos. Tudo se sucede numa linha de descontrole emocional, perda e resiliência. Nesse trajeto, misturando uma visão geral da doença na sociedade (centrado em Glasgow, mas com relances em outros cantos do mundo) ao drama pessoal de susan e Michael – que iniciam um relacionamento em meio ao caos que se forma, Mackenzie nos oferece uma experiência sensorial e reflexiva a cerca dos nossos sentidos.
resenha
Após perderem também paladar e audição – em surtos agressivos – o filme acaba com uma redenção afetuosa precedendo a cegueira. Tudo que resta agora é o tato, o que obriga uma aproximação que havia se perdido na sociedade “pré-epidêmica”. O final abrupto nos deixa a dúvida: e se a doença continuasse? A superação da perda de um sentido ocorria no aguçamento de outro... Não haveria mais nada pra substituir. E então, o isolamento completo. Num momento de surto, um colega de Michael branda que “estaremos sozinhos no final”. Sem nosso sentidos, estaremos mesmo.
Em uma Terra abandonada, só um pequeno robô – Wall-e – sobrevive. No meio de cenários sombrios, prédios abandonados e montanhas de lixo, um silêncio desolador Wall-e passa seus dias coletando artefatos produzidos pelos humanos que a muito saíram do planeta.
RESENHA
WALL-E
Na última década, o tema da destruição (ou pelo menos, em termos de condições de habitação) da terra tornou-se bastante popular. Wall-e explora isso de maneira inteligente e criativa, através de um enredo simples porém sagaz e uma animação de excelente qualidade. Depois de muito vagar sozinho neste cenário pós-apocaliptíco, Wall-e acaba encontrando Eva – uma robô enviada pelos humanos em busca de vida aqui na Terra – e se apaixona. E é indo atrás dela que o robô acaba chegando onde a humanidade se encontra hoje, uma nave. É aí que encontramos uma sociedade completamente reorganizada mas que muito se assemelha ao que temos hoje. Cercados por artificialidade, sedentários e consumistas. A impressão é que não estamos tão longe assim, e com certeza os prognósticos não são dos melhores para o futuro se não houve uma reflexão sobre nosso comportamento e relação com o ambiente e tudo que produzimos. Mais do que apenas um conto de desastre ambiental, o filme de Andrew Stanton nos expõe as contradições da nossa cultura de consumo. A criatividade, essa capacidade de criação, e a destruição são colocadas como faces de uma mesma moeda. Ao mesmo tempo que toda essa produção de coisas novas é positiva em muitos termos, ela também produz alterações no nosso comportamento e ambiente que podem ser profundamente prejudiciais.
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ESTRUTURAS
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~ desenho de observação ‘ estrutura 1
estrutura 2
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montagem Estrutura 1 1. FAÇA QUATRO TIRAS DE 3,5CM NUMA FOLHA A4 ‘ 2. DOBRE-AS EM 5 E 1/2 PARTES DE 4 CM 4. COM UM GRAMPEADOR, JUNTE AS EXTREMIDADES, SOBREPONDO AS DUAS ÚLTIMAS PARTES. FORMANDO ASSIM UM PENTÁGONO. 5. REPITA O PROCESSO COM TODAS AS TIRAS. 6. ORGANIZE-AS COMO NA IMAGEM E JUNTE-AS COM UM GRAMPEADOR
1. CORTE UMA FOLHA A4 A PARTIR DA METADE DO SEU SENTIDO HORIZONTAL, ATÉ A METADE DO SENTIDO VERTICAL. 2. DOBRE AS PONTAS EM SENTIDO INVERTIDO (UMA POR CIMA DA PÁGINA, OUTRA POR BAIXO). 3. UNA AS DUAS PONTAS COM UM GRAMPEADOR.
sketch up desenho técnico: elder ramos
Foi bastante complicado realizar o sketch up a partir do desenho técnico pois o desenho não possuía medidas além do tamanho de cada palito, dificultando compreender os ângulos e distâncias entre eles. Além disso, não havia indicação de chão no desenho, nem referente à qual vista o desenho representava (frontal/superior). O traço do desenho, no entanto, era bem firme e limpo e havia variação de intensidade para indicar proximidade.
MATRIX RELOADED RESENHA
Num mundo comandado por máquinas, a Matrix, Zion é uma cidade de resistência, onde se refugiam humanos livres. No começo de Matrix Reloaded – segunda parte da trilogia dos irmãos Warchowski – sabemos que Zion esta prestes a ser atacado e destruído pela matrix, e é na tentativa de impedir esse ataque que se desenrola o filme. Parte do plano para manter a resistência de Zion envolve uma espécie de profecia que um escolhido, Neo, conseguiria destruir a Matrix. E é para possibilitar que Neo faça o que deve fazer que todos os esforços do filme ocorrem. Essa obstina-
ção com uma missão, no fundo, demonstra que não há tanta liberdade assim. E a confirmação disso vem surgir no final do filme, quando o Arquiteto (o programa que controla a Matrix) confirma para Neo que ele é um erro programado e esperado dentro da composição do sistema. Com isso, Neo tem uma escolha a fazer. E a grande questão do filme é exatamente isso… quando se há um número de possibilidades oferecidos, a escola nunca é exatamente uma escolha. Por fim, percebe-se que nem Zion é um local tão livre assim: os humanos dali neces-
sitam das máquinas para sobreviver. Existe em qualquer lugar essa interdependência entre tecnologia, bem como uma limitação de opções. E essa dependência e bem como as limitações são facilmente transpostas para nossa vida. Todos somos dependentes de diversos objetos e, em diferentes escalas, esses objetos determinam quem somos e nossas escolhas.
~ ANIMAÇÃO CULTURAL SEMINÁRIO
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Etmologicamente, objeto significa tudo aquilo que está colocado em nossa frente. Qualquer coisa que te afete algum dos sentidos. Qualquer coisa. O tempo inteiro, portanto, estamos rodeados por objetos. E, se o que define um objeto é a existência de uma relação sensorial, nós também somos objetos para outros objetos. É essa relação de reciprocidade entre as coisas que o filósofo Vilém Flusser chama de “dialética da produção”. Quando produzimos algo, também estamos sendo produzidos por aquele produto. É quase como uma terceira Lei de Newton. Na realidade, pensar nas leis físicas
para compreender essa relação do objeto é bastante lógico uma vez que as ciências culturais (o que Flusser define como as ciências dos objetos) é o produto das ciências exatas e as ciências inexatas, isto é, humanas. Dentro desse aspecto, é interessante perceber que a potencialidade de um objeto é determinada por questões das ciências exatas, mas também por questões sociais/humanas. No limite, o objeto é o resultado da interação entre essas duas vertentes. Por um outro lado, ao mesmo tempo que determinamos essa
potencialidade, o objeto também exerce em nós um condicionamento. Um corredor (e o espaço é um objeto a medida que ele nos afeta sensorialmente) te obriga a seguir um fluxo pré-estabelecido. Ou uma cadeira te limita um modo de uso pré-estabelecido. Os objetos convencionam a maneira que a gente lidará com eles. Enfim, um objeto existe a partir da relação sensorial que provoca em nós e a partir das possibilidades de interação que permite. É um jogo de ação e reação.
__________ (FLUSSER, Vilém. Ficções Filosóficas. São Paulo: EDUSP, 1998.)
objeto interativo
Após alguns experimentos mal sucedidos com som e magnetismo, nosso grupo decidiu partir do mesmo principio das estruturas tridimensionais realizadas anteriormente para fazermos nosso objeto interativo. Através de linhas (parafusos de metro) e planos (triângulos de madeira) criamos um objeto que fos-
se possível interagir reorganizando essas estruturas, e assim oferecendo diversas possibilidades de ocupação do espaço. Ao experimentarmos em uma escala menor, consideramos a espessura mais fina de madeira suficiente, no entanto, ao aumentar a escala os movimentos e tensões nas placas se modificaram e
se tornaram menos previsíveis, ocorrendo no dia da apresentação o rompimento de algumas placas. Esse incidente poderia ter sido evitado usando um material mais resistente ou algo mais maleável. Entretanto, de um modo geral, não comprometeu completamente a experiência do objeto.
~ avaliação - grupo 2 ‘
O objeto interativo do grupo 2 consiste em uma base sob um semicírculo que permite o movimento pendular e, assim, desencadeia o movimento de pesos fixos em linhas que se movem e batem em garrafas com diferentes níveis de água, produzindo sons diversos. Com relação à escala, o objeto ocupa metade da mesa
e se eleva aproximadamente na mesma proporção. A interação é bastante clara, mesmo que de início o efeito não seja óbvio. Já o funcionamento ocorre bem, porém alguns pesos acabam travando nas linhas e não se movem como o esperado. Além disso, existe certa dificuldade ao controlar o som produzido, sendo este feito de maneira aleatória.
Observamos que a diversidade do movimento é bastante reduzida, no entanto, a produção do som é vasta. Quanto à execução e acabamento, a escolha dos materiais foi feita de maneira inteligente, entretanto há alguns problemas no acabamento, tal como envergamento da superfície e falhas na pintura.
Pina, do diretor Win Wenders, é um documentário em tributo à dançarina e coreógrafa alemã Pina Bausch. Não existe uma tentativa muito clara de contextualizar a história e o papel de Pina na cena de dança, todos os depoimentos são bastante subjetivos nesse aspecto e se focam na relação da coreógrafa com o corpo, a dança, a expressão. Desse modo, a própria estrutura do filme se relaciona muito com a obra de Pina. Ela é reconhecida por romper com essa idéia de dança-teatro, a qual obrigatoriamente existe para contar uma história. A dança de Pina são movimentos explorando possibilidades do corpo e do espaço.
Pina
A coreografia aqui é uma linguagem. Uma forma de materialização de sentidos e sentimentos. A dança não existe apenas como dança, mas como tradução de forças intangíveis para realidade.
RESENHA
Há em vários momentos, a reprodução de perfomances em cenários urbanos, como o trem supenso de Wuppertal. Essa aproximação da dança e a arquitetura não é casual, há a construção da ideia de ambos serem linguagens de tradução do imaterial para materialidade, construindo e ocupando espaços.
intervencões
SEMINÁRIO
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Ao longo da história, a cidade tem exercido um papel determinante na sociedade ocidental. Isto ocorre pois é nela que se concentram as instâncias de controle social, econômico, religioso, militar e político. Nesse aspecto, a cidade se coloca como cenário de um intenso conflito simbólico e ideológico pelo espaço. Dessa disputa surgem diversas interferências do espaço urbano, e a arte instalada no espaço público precisa levar em consideração esses aspectos. Por isso, ela existe num contexto diferente à arte dentro do espaço do museu – o cubo branco.
Nesse último caso, o espaço já é dominado e configurado pela obra; dentro da cidade, a obra precisa conquistar sua autonomia. Um desses aspectos é a questão da escala. A arte possui uma escala livre, que pode se adaptar pela determinação do artista (e, muitas vezes, a própria escala se transforma em discussão artística). Já a cidade possui uma escala determinada e a arte precisa se inserir nessa lógica para funcionar esteticamente na paisagem.A escala da arte é, portanto, uma invenção.
Plug”, do artista Claes Odenburg localizada no Museu Grounds.Esta obra representa uma tomada redimensionada em uma escala muito maior do que o original. A questão da obra reside na reprodução em escala monumental de um objeto extremamente banal. _____
FIDELIS, 2006. A Invenção da Escala: apontamentos para determinar com maior precisão “arte pública”. IN: ALVES, José Francisco. Foto: PHILART
Um exemplo do uso da escala como arte é a obra “Three Way
LICOES de arquitetura
SEMINÁRIO
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Um arquiteto não projeta paredes, projeta o espaço (que pode ou não ser delimitado por paredes): essa é uma das lições mais importantes tirada de “Lições de Arquitetura” de Hermann Hertzberger. Esse conceito é primordial para compreendermos a questão do espaço para além de simplesmente uma porção física de um território, entender o espaço como uma materialização de suas funcionalidades e relações. Desse modo, é preciso considerar todas as questões subjetivas relativas ao espaço e as interfências do uso no
mesmo. Isto é, é preciso pensar no espaço considerando sua máxima possibilidade de usos e facilitando a transformação do mesmo, proporcionando a apropriação (ou seja, o uso) do espaço pelos usuários. Outro aspecto importante é considerar que nem sempre essa relação de qualidade e possibilidades de um espaço se dá pela escala, ao contrário que o senso comum poderia concluir. A escala deve ser adequada a função proposta, não vale pensar a regra de “quanto maior melhor”.
A praça da fonte, em São João del Rei aparesenta diversos exemplos dessas lições, por ser um espaço que permite diversas apropriações: _____ HETZBERGER, H. Lições de Arquitetura. Foto Google Street View
~ intervencao ‘
Em uma primeira análise, pode parecer que o resultado da intervenção não tenha relação com o começo da nossa discussão, no entanto, o produto final foi extremamente influênciado pelas discussões que tivemos ao longo do tempo de realização do trabalho. As ideias iniciais foram completamente modificadas, mas pavimentaram o caminho para o conceito final,
trazendo bastante força para ele. Outro aspecto a ser ressaltado é a preocupação em estabelecer uma relação site-especific que permeou todas as discussões do grupo e acredito terem sido de grande valor para o resultado final.
com o que queríamos. Na realidade, tivemos um pequeno problema com planejamento do tempo que nos impediu de instalar alguns detalhes, mas de forma geral não foi algo que prejudicou o aspecto geral do trabalho.
Após desenvolvido o conceito do trabalho, o planejamento e a execução para transformá-lo em realidade ocorreu de acordo
Por fim, acho que o resultado foi positivo. Tanto pela qualidade da intervenção, como também a qualidade do processo.