Sandra Abranches
A hist贸ria das hist贸rias
Ilustra莽玫es
Isac Costa
Copyright © 2014 Sandra Abranches Copyright © 2014 desta edição, Letra e Imagem Editora. Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Revisão: Vitor Ribeiro Capa e ilustrações: Isac Costa
Abranches, Sandra A história das histórias / Sandra Abranches — Rio de Janeiro: Folio Digital: Letra e Imagem, 2014.
isbn 978-85-61012-30-4
1. Língua portuguesa — gêneros textuais. 2. História. I. Título. II. Abranches, Sandra. cdd: 469 cdu: 811.134.3
www.foliodigital.com.br Folio Digital é um selo da editora Letra e Imagem Rua Teotônio Regadas, 26/sala 602 cep: 20021-360 — Rio de Janeiro, rj tel (21) 2558-2326 letraeimagem@letraeimagem.com.br www.letraeimagem.com.br
sumário
Apresentação.................................................................... 7 I. Diário........................................................................... 9 Diário de Colombo..................................................... 10 Diário de Florence..................................................... 20
II. Carta.......................................................................... 24 Cartas de Pedro Álvares Cabral................................ 25 Carta de Pero Vaz de Caminha................................. 27 III. Narração.................................................................. Invasão a Tenochtitlán (Hernán Cortés).................... Haja Luz! (Thomas Edison)....................................... Sou Puji, tupi-guarani............................................... Um anjo (Aracy Guimarães Rosa).............................
32 35 45 52 54
IV. Autobiografia e Biografia.......................................... 61 Autobiografia de Beethoven...................................... 62 Autobiografia de D. Pedro I....................................... 66 Biografia de D. Pedro II............................................. 72 Biografia de Hellen Keller.......................................... 76
V. Poesias....................................................................... 80 Miscigenação.............................................................. 81 Migração humana..................................................... 84 Mensagem da autora....................................................... 87
apresentação
Muitas são as histórias que fizeram parte da construção do nosso mundo e que, por isso, também fazem parte da nossa história. Conhecê-las é entender melhor o mundo em que vivemos, reconhecer a importância da ligação entre passado, presente e futuro. Este livro tenta trazer de forma real e, é claro, com um toque de imaginação, as inúmeras aventuras vividas por heróis que um dia estiveram aqui, tiveram sonhos e decepções, construíram caminhos, inventaram, inovaram, ensinaram. Pessoas comuns, mas com ideias e ideais que fascinaram uma época sem saber que estavam mudando o mundo por vir. São temas e personagens que, de alguma forma, fazem parte de nossas vidas. São histórias contadas numa linguagem atual com diversos gêneros textuais como: narração, poesia, diários, biografias, cartas… Divirta-se com cada uma. Aprenda e reflita. Sonhe junto com eles. Descubra novas palavras. Argumente! Questione! Pense! Critique! Crie!
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I
Diário
Diário é uma modalidade da escrita que deixa o escritor extremamente à vontade para desabafar, contar segredos, revelar sonhos. Digamos que é seu “amigo do peito”, seu “confidente fiel”. Quem não tem a curiosidade de dar uma olhadinha no diário de alguém? Para alguns é terminantemente proibido, para outros, apenas algumas partes podem ser lidas e para os mais achegados pode até ser um livro aberto. Alguns diários já ficaram famosos, viraram best-sellers, filmes... Se você nunca escreveu, nem sequer uma página, experimente! Você pode gostar e até não querer parar mais. Imagine que tesouro não teríamos se grandes homens e mulheres tivessem escrito seus diários. Vai ver até o fizeram, mas guardaram em seus baús secretos. Então, vamos ficar só com a imaginação. Como seria o diário, por exemplo, de Cristóvão Colombo ou que tal o diário de Florence Nightingale? Então, vamos bisbilhotar?
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Diário de Colombo
fevereiro de 1485 Desde criança eu sonhava em navegar. Conhecer o mar e seus mistérios. Sempre ficava observando os marinheiros e seus navios. Homens valentes e destemidos. Ficava imaginando o dia em que eu poderia estar no lugar de um deles. Pois é, não demorou muito para eu me aventurar pelos mares. Comecei cedo sim, o mar era meu mundo e foi assim, tentando conhecer a imensidão de nossas águas que tive um sonho e quero dividir com você, diário. Talvez alguns até me chamem de louco, mas para mim a Terra é redonda. Não acredito nessa história que as águas dos mares terminem num enorme precipício. Eu sei, eu sei... parece loucura, mas se eu estiver certo poderíamos achar um caminho mais fácil para contornar a África. E se você ainda não me chamou de louco, vai chamar agora, eu acho que se eu navegar em direção ao Ocidente poderei chegar ao Oriente. Tudo bem! Um pouco doido, concordo. Mas se não tivermos ideias diferentes, nada mudaremos. Acho que por hoje é só. Vou pensar mais nessa louca ideia! Amanhã, quem sabe, eu conto alguma novidade. 10
Diário de Colombo
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março de 1485 Já fiz todos os cálculos! Estou animado. A Terra não me parece tão grande assim. Acho que posso viajar pelo oceano Atlântico sem gastar muito tempo. Vou encontrar um novo caminho para as Índias, um caminho mais fácil e rápido. Hoje estarei apresentando meu plano ao rei de Portugal, D. João II. Ele ficará impressionado. Com certeza irá me ajudar financeiramente, afinal de contas, ele será o maior beneficiário. Tenho que me apressar. Não vejo a hora de pôr em prática meus planos.
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a história das histórias
abril de 1485 As coisas não deram tão certo. Aliás, para ser bem sincero, nada deu certo. Não saiu como eu planejei. Por que as pessoas têm medo de sonhar? Será que o rei teve medo de se arriscar? É, diário, os sonhos de uns podem ser vistos por outros como pesadelos, ou simplesmente loucura. Hoje eu não estou bem, que bom poder desabafar um pouco aqui. Estas linhas estão sendo como um ombro amigo. Afinal de contas eu fiz tantos cálculos, estudei, pesquisei, gastei meus miolos e em tão pouco tempo ouvi um sonoro “não”. Êta palavrinha pequena e desagradável! É bem verdade que o “sim” também é uma palavrinha pequena, mas seria tão agradável ouvi-la. Tudo bem, diário, nem só de sim vivem os bons homens! Não vou desistir. Tive um plano! Já que Portugal recusou, quem sabe a Espanha não compre meu passe, ou melhor, meu plano?! Vou preparar minhas malas, pois irei falar com os reis Fernando e Isabel. Talvez eles queiram arriscar, ou melhor, sonhar como eu.
Diário de Colombo
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janeiro de 1492 Tenho grandes novidades para te contar! Hoje levei um tremendo susto. Quando falei com o rei Fernando e Isabel eles disseram aquela tal pequena e desagradável palavrinha, sabe? Fiquei aborrecido. Vir de Portugal até aqui para nada! Eles disseram que o caixa estava baixo, que a viagem seria cara, que a expedição era meio loucura e blá-blá-blá... Mas acho que depois caiu a ficha, ou como dizem: “caíram na real!” Talvez estejam preocupados com as alternativas comerciais e com Portugal descobrindo várias terras, então resolveram arriscar. Além disso, os espanhóis conquistaram Granada e agora estão com mais “grana” para apoiarem meus projetos. Sabe até o que disseram? Que se eu alcançar novas terras serei nomeado vice-rei e governador-geral de tudo que eu encontrar, e ainda vou ter participação nos lucros. Puxa! Ou estão muito felizes mesmo ou eles é que são loucos e não eu. Eu sei que hoje está sendo um dia inesquecível, tudo bem, existem interesses políticos e econômicos, mas tenho um interesse maior: como eu acho que estamos vivendo o fim do mundo, preciso levar a religião a todos que encontrar. Imagine só, diário, vou ganhar um navio, marinheiros, ficarei rico e o mundo vai acabar. Estava indo tão bem! Felicidade de sonhador dura pouco mesmo.
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a história das histórias
julho de 1492 Você não sabe da maior. Hoje não ganhei um navio. Eu ganhei três! Eu os chamei de Santa Maria, Pinta e Nina. Vou ficar no Santa Maria. Gostei mais dele, o design é bem moderno. Você nem imagina como fiquei quando vi os navios, parecia uma criança quando acaba de ganhar seu brinquedo dos sonhos. Eu não conseguia parar de pular de tanta euforia. Agora preciso contar a parte ruim da história. Eu achei que seria fácil conseguir aqueles destemidos marinheiros. Porém, passei o dia todo à procura deles e ninguém, ninguém queria fazer parte da tripulação. Foi aquela velha história de novo, todos me chamando de louco, caduco, aventureiro e eu retrucando dizendo que de sonhador e louco todo mundo tem um pouco. Mas cá pra nós, diário, você viajaria rumo ao desconhecido, sem saber ao certo por quanto tempo, e o pior de tudo, se chegaria a algum lugar? Realmente, só os mais corajosos embarcariam nessa. Imagine quantos riscos! Poderíamos nos perder no oceano, morrer de fome, de sede ou até mesmo sermos engolidos por alguma fera do fundo do mar. Mas nada como um dia de trabalho e perseverança, e é claro, com um jeitinho “genoviense”, consegui convencer alguns homens mostrando que nossa viagem seria um sucesso, que ficaríamos ricos e famosos. Afinal, não é isso que a maioria quer? Fama, dinheiro e sucesso? Pois bem, nada como uma boa apelação. Entre trancos e barrancos arrumei minha tripulação
Diário de Colombo
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agosto de 1492 Hoje estamos saindo da Espanha rumo ao desconhecido, espero que não seja por muito tempo. Tenho muito que fazer. Preparar as velas, ver os alimentos, a água… Preciso fazer uma prece e pedir a Deus que esteja comigo e com meus marinheiros. Não vou poder escrever muito hoje. Assim que puder eu volto.
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a história das histórias
setembro de 1492 Finalmente estou em alto mar. Passei dias muito difíceis. Muito trabalho, muitos cálculos e muita ansiedade. Já estamos há quarenta dias e nada de avistarmos um pedacinho se quer de terra. E o pior, acho que estou perdido, mas não espalha. Hoje os marinheiros me olharam de cara feia, eles não são bonitos mesmo e não é que ainda conseguem ficar pior. Eu sei que são bons homens, mas estão cansados, com fome, sede e com medo. Não trouxemos comida e água suficientes, não sei por quanto tempo vamos suportar. Existem horas que penso em voltar, mas como? Não conseguiríamos aguentar tantos dias para voltar. Aqui só vemos água por todos os lados. Às vezes até por cima. Muitas vezes temos enfrentado fortes chuvas e tempestades tenebrosas. Oh, meu Deus! Será que conseguiremos sobreviver? Quando você pensa que não pode ficar pior, piora. Um de meus homens tentou me matar. Ele armou um motim com mais alguns marinheiros, disseram que se eu morresse eles voltariam sozinhos, ou pelo menos, se livrariam de quem lhes causou tanto sofrimento. Felizmente (pelo menos para mim) o plano deles fracassou. Outros marinheiros com uma mente mais sã me livraram desse quase último dia de vida. Não foi fácil controlar os ânimos e tentar convencê-los de seguirmos jornada. Eles me deram três dias. Apenas três dias para eu encontrar terras. A essa altura do campeonato, ninguém mais acreditava em mim, para falar a verdade acho que nem mesmo eu.