dIÁRIO DE BORDO
Claudia Assaf
DIÁRIO DE BORDO Um voo com destino à carreira diplomática
Copyright © 2013 Claudia Assaf Copyright © 2013 desta edição, Letra e Imagem Editora. O conteúdo desta obra é de responsabilidade da autora, não refletindo a opinião do Itamaraty Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Revisão: Vitor Ribeiro Foto da capa: © Gwoeii / Shutterstock
Claudia Assaf Diário de bordo: um voo com destino à carreira diplomática / Claudia Assaf – Rio de Janeiro: Folio Digital: Letra e Imagem, 2013.
isbn 978-85-61012-18-2
1. Biografia. 2. Memórias. 3. Diplomacia brasileira. 4. Instituto Rio Branco. Título. II. Assaf, Claudia. cdd: 920
www.foliodigital.com.br Folio Digital é um selo da editora Letra e Imagem Rua Teotônio Regadas, 26/sala 602 cep: 20200-360 – Rio de Janeiro, rj tel (21) 2558-2326 letraeimagem@letraeimagem.com.br www.letraeimagem.com.br
Dedico este livro a um ser humano incrível, cujo apoio incondicional foi decisivo para minha aprovação no concurso de admissão à carreira diplomática e vem sendo imprescindível para a conciliação harmônica de meus papéis de mãe, esposa e diplomata: meu marido, Fábio. Dedico, também, aos frutos do nosso amor: meus amados Amin, Karim e Yasmin.
Sumário
Prefácio 9 Apresentação 13 Introdução 17
Em busca de uma carreira 25 Meu primeiro CACD: trauma 45 A desistência 49 Missão definida: passar no CACD 69 Plano de voo 81 Decolando 95 Cruzeiro, com sérias turbulências 111 Entretenimento de bordo 139 Preparando para aterrissar 155 Pouso tranquilo: missão cumprida 165 Dia da posse 169 A vida depois de aprovada no CACD 175 Desencontro 185 Recado para os candidatos ao CACD 187
Caderno de fotos 201 Referências bibliográficas 217 Agradecimentos 219
Prefácio Cristovam Buarque1
Você vai gostar, certamente! Raramente o título de um livro diz com precisão o que nele está escrito. O título é mais para chamar a curiosidade do possível leitor. Um subtítulo indica com mais precisão de que ele trata. Neste caso, título e subtítulo complementam-se com perfeição. Diário de Bordo, nome dado ao documento em que os principais acontecimentos da viagem são anotados pelo comandante do transporte utilizado no trecho percorrido, trata da jornada feita por uma brasileira até a carreira diplomática depois de anos como aeromoça. Com ele, Claudia Assaf mostra que é uma personagem deslumbrante e uma excelente escritora. A leitura é cativante, o texto com estilo, a estória fascinante. De uma menina carioca que se forma em matemática e decide fazer pós-graduação na Síria, pelo desejo de aprender árabe e por curiosidade com o mundo de seus antepassados. Depois do curso, se faz aeromoça em uma companhia do Golfo Pérsico. Só isto seria suficiente para imaginar que o livro saiu das “Mil e Uma Noites”. Mas a jovem matemática, aeromoça nos céus do mundo, voando por uma empresa de xeiques, decide, logo depois de um grave acidente aéreo na Grécia, voltar para o Brasil e ser diplomata. Com o patrimônio de falar bem inglês e árabe, faz o difícil concurso para ingressar na carreira pelo curso do Instituto Rio Branco. Depois de formada volta para Doha, Catar, como representante diplomática do Brasil. Mais um capítulo das Mil e Uma Noites.
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Senador da República e ex-professor do Instituto Rio Branco 9
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Claudia agarrou um pedaço determinado de sua vida e transformou em um belo livro que permite diversas leituras. Pode ser lido como um manual de orientação para candidatos ao Instituto Rio Branco, indicando bibliografia, os métodos que usava para estudar, como escolhia professores e assistia aulas, as páginas em que descreve seus exercícios de inglês são não apenas instrutivas, mas especialmente agradáveis para o leitor. Como se não bastasse fazer um eficiente manual, Claudia tira inspiração de sua reprovação na primeira tentativa do concurso e passa uma aula de auto ajuda, com mensagens fortes para induzir a persistência no estudo. Seu livro pode ser lido com muito prazer por quem deseja fazer concurso para o Instituto Rio Branco, ou busca motivação e incentivo à luta por um sonho, ou simplesmente por quem deseja ler um belo livro de aventura humana. Além do imenso prazer de ler, razão suficiente para um bom livro, você termina a leitura aprendendo o que a persistência focada em um objetivo pode fazer para mudar a vida de uma pessoa. Mas, como ela própria diz: “Tudo o que sou ou o que hoje tenho justifica-se pelo estudo”. Se você quiser incentivar alguém a estudar, mostrar-lhe como vale a pena, dê este livro de presente a algum amigo jovem. Mas, pode dar também aos mais velhos. Eles vão gostar, certamente.
Vencer a si pr贸prio 茅 a maior das vit贸rias. Plat茫o
Apresentação
Durante os três longos anos que dediquei aos estudos diários para realizar o sonho de ingressar na carreira diplomática, sentia falta de ter acesso a alguém que já estivesse exercendo a carreira. Eu teria perguntado para essa pessoa por que ela havia escolhido a diplomacia, como ela havia organizado seus estudos para ser aprovada no desafiante concurso de admissão à carreira diplomática (CACD), o que ela, já exercendo a profissão, exatamente fazia e o que ela me recomendaria. Seriam tantas perguntas, que a pessoa fugiria de mim! Sei bem que cada diplomata terá sua história para contar, mas todos decidiram, um dia, sair de sua zona de conforto para encaixar na sua rotina boas doses de estudo ao longo de alguns anos. Para uns, apenas um ano, haja vista sua formação ou sua experiência profissional dialogar diretamente com o programa cobrado pelo CACD; para outros, que, como eu, decidiram começar a estudar do zero, procedentes de áreas de formação não-humanas, demorando um pouco mais. Fato é que todos tivemos de estudar muito, focados no extenso programa cobrado pelo CACD. Mesmo sem conhecer diplomatas de carreira, continuei estudando, seguindo as recomendações de professores familiarizados com a prova e do próprio guia de estudo disponibilizado pelo Instituto Rio Branco. E pensei: se um dia conseguir tornar-me diplomata, tomarei a iniciativa de dividir com os candidatos ao CACD a minha experiência de antes e depois de ingressar no Itamaraty. Buscarei contar o que funcionou para mim durante meu processo preparatório e o que eu faria de forma diferente. Esse dia chegou. Aqui está meu depoimento sobre como se deu uma das jornadas mais enriquecedoras da minha vida, que mais me proporcionou oportunidades de aprendizado. Foi a jornada que me 13
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deu o privilégio de conhecer a essência de um sentimento e ter a noção exata de sua dimensão: a autossuperação. O candidato que já está na linha de frente para ser aprovado no CACD, aquele que vem estudando há algum tempo, optará, talvez, por não ler meus melodramas psicológicos vividos durante o árduo processo preparatório que caracterizaram aqueles quase quatro anos seguidos, de 2003 a 2006. Mesmo para esse grupo, posso afirmar sem medo de errar: o psicológico em ordem tem papel crucial na aprovação. E recomendo: além de estudar, cuide da saúde do corpo e da mente para realizar boas provas. Conheço pessoas que dominam profundamente temas cobrados pelo concurso do seu sonho, mas não têm a tranquilidade e a segurança necessárias para fazer o exame – qualidades importantes no agir diplomático. Talvez resida precisamente aí a complexidade do desafio do CACD: a serenidade estará sendo avaliada subliminarmente, na medida em que quem não estiver sereno e tranquilo provavelmente não conseguirá obter a aprovação. Em suma, na história que vivi, a ser narrada nas páginas seguintes, posso dizer que a ansiedade havia sido meu maior inimigo quando eu já me sentia apta a ser aprovada, a julgar pelo que havia estudado. Só quando consegui deixar a ansiedade do lado de fora da sala da prova, e, portanto, amadurecer perante o desafio, foi que logrei êxito no concurso. Esse amadurecimento por que passei ao longo da fase preparatória vem sendo meu maior aliado no exercício de minhas funções diplomáticas e, sobretudo, no relacionamento interpessoal. Da mesma forma, a humildade em reconhecer que nunca saberemos tudo e, mesmo assim, seremos capazes de passar no CACD, é fundamental no processo preparatório, colocando em xeque-mate a insegurança. O Itamaraty não busca um candidato enciclopédico, mas um candidato analítico, capaz de refletir a respeito da questão proposta pelo examinador, fazendo bom uso da interdisciplinaridade, identificando oportunidades estratégicas para o interesse nacional. Quando finalmente percebi a prova do CACD dessa forma – sem ansiedade, sem ter nada a perder, escrevendo as respostas com a alma e o coração, apenas deixando fluir minha capacidade de análise com base na interdisciplinaridade resultante de três anos de estudo diário –, fazendo uso da Geografia na prova de Política Internacional, e vice-versa, do fato histórico para justificar uma regra em Direito Internacional Público, ou da Economia para explicar uma passagem na História do Brasil,
Apresentação
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temperando tudo isso com a minha vivência até então, aí sim, a missão “passar no CACD” pôde ser cumprida. Não é minha pretensão ensinar nada a ninguém, mesmo porque ainda estou aprendendo. Sou uma eterna aprendiz. Aprendo com os diplomatas mais experientes, com os menos experientes, com os demais funcionários, aprendo com os mais velhos, aprendo com meus filhos pequenos, aprendo com meus erros. A ideia deste livro é dividir, com quem tiver interesse, a minha história de ingresso na carreira diplomática, com vistas a mostrar ao candidato ainda inseguro, que está quase desistindo ou já desistiu por não acreditar em si, que é possível realizar seu sonho, entre eles o de ser aprovado no CACD. Poderá demorar, mas há fortes chances de acontecer, caso persista. Sua tarefa será apenas PLANEJAR, estrategicamente, seus estudos diários com base no programa do concurso, fazendo os ajustes necessários em sua rotina, mesmo que isso signifique acordar às quatro horas da manhã, e AGIR para cumprir o que planejou, dentro de um espectro temporal ao longo do qual continuará tentando. O espectro temporal que defini para mim havia sido de sete anos. A aprovação aconteceu no quarto ano do caminho. Não há fórmula mágica. O segredo é simples: estudar diariamente, por médio ou longo prazo, aprendendo e amadurecendo com cada reprovação, com muita paciência e resiliência para continuar o processo preparatório dentro do espectro temporal previamente definido, com humildade para reconhecer que não será possível saber muito bem de cada detalhe do extenso programa. Fosse assim, todos os aprovados teriam tirado cem em todas as provas, o que não ocorre. Chico Xavier falava de duas sabedorias: a inferior e a superior. A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe, e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que não sabe. Chico recomendava que tivéssemos a sabedoria superior, que fôssemos um eterno aprendiz na escola da vida. Para ele, a sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior alivia, a inferior culpa; a superior perdoa, a inferior condena. Ele afirmava que há coisas que o coração só fala para quem sabe escutar! Este livro foi escrito pelo meu coração para o leitor que queira escutar. Todos os aprovados, independentemente de sua área, terão muito o que contribuir na defesa dos interesses brasileiros. Há muitos temas que desconheço e meus colegas diplomatas conhecem bem, da mesma
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forma que deva haver temas que eu conheço um pouco mais que eles. E assim complementamo-nos no mesmo objetivo dentro do Serviço Exterior Brasileiro: defender os interesses nacionais, determinados pelo governo democraticamente eleito pela sociedade. A ideia central do livro é a autossuperação e a realização do sonho por meio do estudo. O público-alvo que, talvez, mais se identificará com o que relatarei é o candidato ao CACD – considerado um dos concursos mais desafiantes do Serviço Público Federal – que, como eu, decidiu estudar começando do zero, somando mais de trinta anos de idade, procedente de uma carreira que pouco ou nada dialoga diretamente com o fazer diplomático estatal propriamente dito. Digo diretamente porque, indiretamente, o conhecimento de toda e qualquer área do saber será útil ao longo da carreira, a depender da temática em que o diplomata preferir atuar. Não há mágica, não há segredo, não há fórmulas sobrenaturais. Há apenas um caminho para a aprovação: estudo diário ao longo de alguns anos. Sonhar é importante, mas sonho sem ação de nada adiantará. Foque nos estudos, na caminhada. O resultado virá naturalmente dentro do prazo que você definiu para si como aquele período em que estará disposto a tentar. Findo seu prazo, se não der certo, pelo menos você terá tentado e estará com um conhecimento sem precedentes em sua vida. Há aqui duas certezas: se não estudar muito, organizada e estrategicamente, não será aprovado; mas se estudar muito, poderá dar certo. Se for a vontade d’Ele que o sonho que você escolheu para si se realize, se estiver em sintonia com o que Ele planejou para você, relaxe, porque vai acontecer no momento certo, nem antes, nem depois. Apenas preocupe-se em fazer sua parte, marcar um golzinho por dia, porque, parafraseando Ayrton Senna, “quando Ele quer, não tem quem não queira”. Boa leitura.