Revista Diverso - Protótipo

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NOVEMBRO - 2013 Esta revista foi produzida na Disciplina de Projeto Gráfico 2 do curso de Design da Universidade Federal do Ceará. Coordenação

Esta edição piloto da Diverso foi produzida para simular o Projeto Gráfico, que nasce de um debate geral, o que é diversidiade ? Fora de clichês comuns, a Diverso entra em um contexto contemporâneo de identidade mútiplas. Mas o que se pode afirmar como contemporâneo? “Pode se chamar de contemporâneo só aquele que não se deixa cegar pelas luzes do século e que é capaz de distinguir nelas a parte da sombra, sua íntima escuridão.” Giorgio Agamben. Ser uma revista sobre mutiplicidades neste presente é bem mais que hipervalorizar as diferentes identidades. É necessário construir uma visáo crítica sobre cada uma dessas singularidades. Se apresenta muito sobre as influências culturais, expressivas e históricas das pessoas mas pouco se aprofunda sobre cada uma dessas singularidades, discutindo e as analisando de perto. Por isso, provavelmente o contexto da Antropologia seja o mais coerente neste presente dinâmico, se familiarizar com que é estranho, principal mote desta ciência é o mais coerente ao principio editorial e gráfico desta revista.

Alexia Brasil Claúdia Marinho

Departamento Daniel Cardoso Clarisse Professora

Camila Barros

Projeto Gráfico Levi Holanda Gabriela Delgado Raquel Marques Direção de Arte Levi Holanda Gabriela Delgado Redação Raquel Marques Edição Levi Holanda Ilustração Gabriela Delgado Fotografia Raquel Marques Publicidade Gabriela Delgado As imagens apresentadas na presente edição são meramente ilustrativas, retiradas da internet, não sendo de responsabilidade dos editores os direitos. O presente veiculo reconhece as imagens e textos como de conteúdo referente a meios desconhecidos, porém autênticos.

E como visualizar essas diferenças? Não basta só um grande leque de cores e acentuado ritmo de layout. Muito menos inserir uma postura neutra, conservadora e enquadrada na diagramação. Uma revista de diversidade deve ao contrário disso, reconhecer a própria identidade em suas publicações. Inserir sua opinião claramente, interferir em suas imagens, conviver com o leitor, enfim deve ser uma persona própria, sem uma neutralidade rígida ou uma festividade muticolorida alienada. Com um ritmo próprio, o editorial aprensenta desde crônicas do cotidiano com escritores diferentes que permitem se tornar intimos do leitor. Até contextos socias fortes como de moradores de rua, com necessidades e problemáticas que necessitam de profundidade. Esta é a proposta dea revista e esperamos que aprecie o seu material gráfico com muito suor. ATT, Levi Holanda Gabriela Delgado Raquel Marques

Os textos da Diverso são incoerentes a realidade, apenas representam possivéis matérias. Não é preciso os ler.

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Esta seção contém os depoimentos de leitores da edição antterior. Envie nos também seu depoimento para: escuto@diverso.com.br

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Pegadas PÁG . 13 Um homem que abdicou de sua família, emprego e namorada para viajar o mundo de bicicleta

Nesta edição, pode-se navegar por diários urbanos desconhecidos, por um bicicleta sem freio, por uma rua viva, por calcinhas cadeadas e por palavras não esperadas.

Diários PÁG . 08 Crônicas de um dia tumultuado para o seu dia-a-dia manter-se mais suave

O lado de fora PÁG . 21 Daqueles que habitam nossa vida nas ruas das grandes cidades.

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A Face PÁG . 21 Daqueles que habitam nossa vida nas ruas das grandes cidades

Lembranças PÁG . 34 Conheça um pouco a história do seu Francisco na seca de 1985

Entre [vistas] PÁG . 26

Conheça os pontos de vistas sobre a lei que pretende criminalizar a prostituição. Quais serão suas consequências ?

Rumo

PÁG . 38 Uma solução ino vadora para comunicação de deficientes mentais

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Um Flanêur pelos recantos

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utras vezes, encontramos o fantástico puro, moldado ao natural, e sem explicação, à maneira de Hoffman: O homem das multidões mergulha incessantemente no seio da multidão; nada com delícia no oceano humano. Quando desce o crepúsculo, repleto de sombras e luzes tremulantes, ele foge dos bairros pacificados e busca, ardoroso, aqueles onde fervilha vivamente a matéria humana. À medida que o círculo da luz e da vida se estreita, procuralhe o centro inquieto; como os homens do Dilúvio, agarra-se desesperadamente aos últimos pontos culminantes da agitação pública. E isso é tudo. Seria um criminoso que tem horror à solidão? Seria um imbecil que não consegue suportar a si mesmo? A multidão é seu universo, como o ar é o dos pássaros, como a água, o dos peixes. Sua paixão e profissão é desposar a multidão. Para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito. Estar fora de casa, e contudo sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais, que a linguagem não pode definir senão toscamente. O observador é um príncipe que frui por toda parte o fato de estar incógnito. O amador da vida faz do mundo a sua família, tal como o amador do belo sexto compõe sua família com todas as belezas encontradas, encontráveis ou inencontráveis; tal como o amador de quadros vive numa sociedade encantada de sonhos pintados numa tela. Assim o apaixonado pela vida universal entra na multidão como se num reservatório de eletricidade. Pode-se igualmente comparálo a um espelho tão imenso quanto essa multidão; a um caleidoscópio dotado 8 diverso • nov 2013

por Marcelo Filho ilustração de Pedro Augusto

de consciência, que, a cada um de seus movimentos, representa a vida múltipla e o encanto cambiante de todos os elementos da vida. É um eu insaciável do não-eu, que a cada instante o revela e o exprime em imagens mais vivas do que a própria vida, sempre instável e fugidia. Em O Homem da Multidão, Edgar Allan Poe descreve a deriva noturna de um personagem que ao fim-da-tarde encontrase sentado na mesa de um café, diante de uma avenida onde a multidão se adensa conforme a luz se esvai. Sua atenção projetase sobre um misterioso personagem, que ele segue noite adentro e cidade afora. O texto começa como um painel de tipos urbanos, um olhar para a cidade que parte de uma mirada macroscópica (“De início, minha observação assumiu um feitio abstrato e generalizante.” [Poe, 1986: 132]) para a atenção ao detalhe que, no entanto, revela-se inacessível (“… nada mais saberei a seu respeito e a respeito de seus atos” [Poe, 1986: 138]). Um aspecto desta estranha perseguição é a incomunicabilidade inerente ao convívio urbano: Quando se aproximaram as trevas da segunda noite, aborreci-me mortalmente e, detendo-me bem em frente do velho, olhei-lhe fixamente o rosto. Ele

não deu conta de mim, mas continuou a andar, enquanto eu, desistindo da perseguição, fiquei absorvido vendo-o afastar-se. Outro aspecto desta empreita de antemão fadada ao fracasso de perseguir alguém pela rua como forma de melhor entendê-lo é a inutilidade que sugere uma inversão do ethos modernista que então se anunciava através da urbanização racionalista das metrópoles. Baudelaire afirma, em Edgar Allan Poe, sua vida e suas obras: Não sustentava, como fazem sectários fanáticos e insensatos de Goethe e outros poetas marmóreos e anti-humanos, que toda coisa bela é essencialmente inútil; mas sobretudo se propunha, como objeto, a refutação daquilo a que espiritualmente chamava de a grande heresia poética dos tempos modernos.

Marcelo Filho

é escritor, jornalista e fotográfo.

marcia_ar@diverso.com


A realidade

de Joanesburgo

por Joaquim Távora

ilustração de Martins Coelho

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erta vez eu estava em Alexandra, uma comunidade pobre e violenta de Joanesburgo, conversando com um morador sobre a fama do lugar. Ele re-conheceu que viver lá não é exatamente muito tranquilo, mas soltou uma comparação interessante: “Aqui o crime não é organizado como no Brasil, onde a polícia nem consegue entrar em algumas áreas. Ele normalmente é produto da ação de uma gangue ou de uma pessoa”. Imediatamente me lembrei de um jornalista paulista que escreveu que repórteres usavam escolta para cobrir a Copa das Confederações – confesso que não vi ninguém com uma. Também do chefe da delegação brasileira, no mesmo torneio, que disse que Joanesburgo “parece

uma cidade em guerra permanente”. Afinal, de que países eles vieram? Não se trata aqui de discutir o pior lugar do mundo para criarmos nossos filhos (ou para assistirmos a uma Copa do Mundo). O Brasil é meu país e a África do Sul foi onde escolhi morar por um ano e meio. Já fui assaltado tanto no Rio como em Joanesburgo. E o que percebi é que nós, seja aqui ou aí, fazemos parte do mesmo mundo. Do terceiro mundo, dizem alguns privilegiados e/ou arrogantes. Temos muitos problemas semelhantes como a violência e, ainda mais e provavelmente a causadora disso tudo, a desigualdade social. Mas há uma diferença fundamental entre o Rio, onde nasci, e Joanesburgo,

onde moro. Os cariocas convivem melhor com o clima de insegurança. Arrisco dizer que a geografia que mistura riqueza e pobreza dá ao povo um cenário real do que é a sua cidade. Todos conhecem os problemas e procuram viver normalmente, apesar deles. Isso, sem dúvida, é mais saudável do que se esconder atrás de muros e de ignorância. Já Joanesburgo é uma cidade paranóica. Cercas elétricas e bilhões de rands despejados infinitamente nos cofres das empresas de seguranças. Não me preocupo em olhar as estatísticas de violência daqui e daí, porque elas podem ser facilmente “ajustadas” para um lado ou para o outro e porque o resultado, mesmo assim, sempre beira a calamidade. O que posso dizer, dentro da minha experiência, é que Joanesburgo não é mais violenta que o Rio, embora faça de tudo para parecer que é. Imaginem uma cidade planejada para separar as pessoas. De um lado brancos vivendo em casas confortáveis, com grandes jardins e sem muros. Do outro, bem distante, negros entulhados e confinados. Soweto, por exemplo, está a meia hora de carro do centro da cidade, construído para afastar os negros dos olhos dos brancos. Pois num belíssimo dia, tudo mudou. Direitos iguais para todos, inclusive o de ir e vir. E isso criou um pavor coletivo, principalmente entre os brancos. Casas viraram bunkers no início dos anos 90, quando o país esteve próximo de uma guerra civil. Estão assim até hoje, embora não precisem de tanto. Depois do Apartheid, a África do Sul foi obrigada a olhar para si mesma, se conhecer melhor, mas ainda está no princípio do caminho. Há negros que até hoje hostilizam brancos, simplesmente porque são brancos. Há brancos que nunca pisaram em uma township (o que seria equivalente às nossas favelas), por medo dos negros. Já me disseram até que eu poderia morrer se fosse lá. Pois já estive nelas várias vezes e sempre fui muito bem tratado. Joaquim Távora é escritor, jornalista e fotográfa. joaquim.tav@diverso.com

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Entre

MPB & fetcismos por Júnior Duarte

A música e os fetiches misturam letras e corpos, algo tão comum no próprio existir da música”

ilustração de Adam Carvalho

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m 2003 o cantor Alexandre Pires, bisonhamente, fez uma homenagem ridícula à bossa nova em Washington (EUA), precisamente na Casa Branca, levando todos à certeza de que Tom Jobim e Vinicius de Morais revolveram na tumba, fazendo subir e descer a terra (por essa estupidez o pagodeiro mereceu o abraço de George W. Bush). Nessa ocasião, temi pelas homenagens que a Rede Globo de televisão, no quadro Som Brasil, prestaria a Cazuza e a Renato Russo. Mas até que deu certo. Foi uma justa memória. Renato Russo e Cazuza nasceram no Rio de Janeiro, Renato foi criado em Brasília, 10 diverso • nov 2013

estudou um tempo nos Estados Unidos. Cazuza também morou lá. Ambos assumiram publicamente a homossexualidade. Ambos compuseram e cantaram canções firmes e melodiosas. Poucas pessoas se preocupam em ter uma noção do que foram suas letras, mas não se pode negar a semelhança objetiva entre elas. Houve um tempo, no Brasil, em que as musicas eram cultivadas pela cabeça e não pelas nádegas baianas. Sobretudo no período de repressão militar, grupos de artistas, malgrado a censura, intrigavam o poder com suas criações inspiradoras. Renato e Cazuza são filhos dessa geração;

dela, herdaram a rebeldia, o gosto pela liberdade, o amor pela arte. Pagaram um preço caro por amarem demais. “Exagerado”, Cazuza morreu de AIDS, aos 32 anos. Por gostar de “meninos e meninas”, Renato, morreu aos 36, da mesma doença que nos privou da companhia de Cazuza. Não faz muito tempo, pouco depois da morte de Renato Russo, em 1996, gente célebre punha esta questão gasta e vulgar: “Quem foi o maior poeta? Renato Russo ou Cazuza”? Alguém, mais infeliz que o interrogador, respondia como quem não prestou atenção na pergunta: “Raul Seixas”! A comparação não é a melhor das análises. Essa pergunta sobre Renato e Cazuza, no-lo mostra. Então me limitarei, portanto, a falar daquilo que faz com que o poeta Renato Russo mereça nossa estima e seja comparado a Cazuza. Parece-me que Renato Russo, de um modo geral, ao escrever suas letras, teve a intenção de mostrar o homem sob uma luz odiosa. Pintou-o com cores escuras e infelizes. Compôs para seus contemporâneos um acervo de sons contra a sociedade em que viveu. Além disso, eloqüentemente, com a força da letra e do rock, proferiu injúrias contra o gênero humano, imputando à essência de nossa natureza aquilo que só pertence a alguns homens. Termino citando Renato Russo: “Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?”

Júnior Duarte

é escritor e jornalista.

junior.duarte@diverso.com


cafés suspensos por favor por Marcos Lemos

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uem já assistiu ao filme “A Corrente do Bem”, dirigido em 2000 por Mimi Leder, com Haley Joel Osment (O Sexto Sentido), Kevin Spacey (Beleza Americana) e Helen Hunt (Melhor É Impossível), sabe bem a impressão e o impacto de uma boa ideia. No filme, Spacey é um professor que faz um desafio aos seus alunos: devem ir para casa e propor no dia seguinte uma ideia que ajude a mudar o mundo. A ideia do personagem de Osment, que se torna o centro de toda a trama, é surpreendentemente simples: cada um deve fazer três favores realmente importantes para três outras pessoas, quem quer que sejam, que devem retribuir o gesto e assim por diante. Recentemente encontrei o seguinte texto na internet, com o sugestivo nome de Cafés Suspensos. O relato, real ou não, vale pela mesma impressão do gesto possível: Entramos num pequeno café na Bélgica, um amigo e eu, e fizemos o nosso pedido. Enquanto nos aproximávamos da nossa mesa duas pessoas chegaram e seguiram para o balcão: “Cinco cafés, por favor. Dois deles para nós e três suspensos”. Eles pagaram a conta, pagaram em dois e saíram. Perguntei ao meu amigo: “O que são esses cafés suspensos?”. Ele me respondeu: “Espera para ver”. Algumas pessoas mais entraram. Duas meninas pediram um café cada, pagaram e foram embora. A ordem seguinte foi para sete cafés e foi feita por três advogados – três para eles e quatro “suspensos”.

Enquanto me perguntava qual era o significado dos “suspensos” eles saíam. De repente, um homem vestido com roupas gastas, com aspecto de um mendigo chega na porta e pede cordialmente: “Você tem um café suspenso?” Resumindo, as pessoas pagam com antecedência um café que servirá para quem não pode pagar uma bebida quente. Esta tradição começou em Nápoles, mas espalhou-se por todo o mundo e em alguns lugares é possível encomendar não só cafés “suspensos”, mas também um sanduíche ou refeição inteira. Achei a ideia genial. Cá entre nós, brasileiros, formados como um povo cujos elementos constitutivos desde há muito incluem valores como relações de favor, corporativismos e uma boa dose-nossa-de-cada-dia de corrupção nas pequenas coisas (não se engane quem acha que furar fila ou jogar papel no chão não prejudica ninguém), pensar em por esta proposta em prática é um exercício duplo de generosidade. Primeiro, para com quem realmente precisa. Não parece muito, e de fato não é, mas é um pequeno aceno que pode abrir portas maiores. Segundo, para com nós mesmos, um povo ainda muito longe de cumprir suas potencialidades, cercado de representantes viciados nos termos do jogo de favores (vide o que se pretende e que se faz com os mensaleiros), lesados em direitos básicos, como a saúde e a educação, sem as quais pensar na mudança é sempre uma queda de braço entre a consciência e a urgência de cada um. Fico aqui imaginando esta ideia simples funcionar sem que alguém ache nisto outro

jeito de lesar o próximo transformando dez cafés pagos antecipadamente em cinco ou fazendo publicidade do estabelecimento como um lugar de “consumo solidário” para lucrar mais. Ou mesmo quem não queira aderir à proposta pelo simples fato de não confiar que seu gesto realmente chegue a quem se destina, já que nossa história cotidiana mostra que nossos impostos visivelmente têm outros usos pela máquina do Estado que não o retorno social.

Difícil até escrever algo tão sórdido e pessimista, mas verdadeiro: quem se arrisca a ser solidário no Brasil? Mas, de fato, este é o desafio real da ideia… é não sermos uma simples corrente do bem, um roteiro fácil de filme, mas convertermos em postura a clara consciência de que tipo de material sólido podemos ser nos elos desta corrente. Nisto consiste a mudança e a generosidade para com o outro e para conosco. Bom café para todos nós.

Marcos Lemos

é escritor e jornalista.

marcos.lemos@diverso.com

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conheça o homem que vai viajar o mundo com uma bike, uma câmera e adrenalina texto de Igor Paiva


á muito que Beto tem duas paixões, a bicicleta e a máquina fotográfica. A estas se juntou uma terceira: viajar.As três levaram Beto à maior aventura da sua vida, uma busca que desafia seus limites, uma viagem de bicicleta, durante 2 anos e meio, por 17 países da América Latina. Começou em dezembro de 2012 e quando terminar Beto quer valorizar mais “a água que bebe e o sorriso que recebe”. É possível que as pernas peçam para

parar, mas Beto Ambrosio promete ir buscar forças aos cenários, às fotografias e às pessoas com quem cruzará no caminho. Tudo começou em uma viagem ao nordeste (Beto é de Araraquara, SP) entre dois amigos e prosseguiu numa conversa de café. Um sonhador e um empresário juntaram seus sonhos – Beto, o de viajar, e o dono da marca de mochilas esportivas Vestígio, o de levar sua marca pelo mundo. Vestígios de Aventura é por isso o nome do projeto que levou Beto até à América Latina, onde a viagem ainda mal começou.

Fotografias de Beto em Praia Grande - Maranhão

Beto largou emprego fixo garantido, família e amigos para sonhecer pesssoas e realidades mcompreensivéis.

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Ele capta pessoas, animais, cenários, no fundo tenta contar a história de cada lugar com o olhar. Fotografias impressionantes.á muito que Beto tem duas paixões, a bicicleta e a máquina fotográfica. A estas se juntou uma terceira: viajar. As três levaram Beto à maior aventura da sua vida, uma busca que desafia seus limites, uma viagem de bicicleta, durante 2 anos e meio, por 17 países da América Latina.

Começou em dezembro de 2012 e quando terminar Beto quer valorizar mais “a água que bebe e o sorriso que recebe”. É possível que as pernas peçam para parar, mas Beto Ambrosio promete ir buscar forças aos cenários, às fotografias e às pessoas com quem cruzará no caminho.

O que me impulsiona a seguir em frente, são todas pessoas que modificam minha visão típica deste mundo”

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Há muito que Beto tem duas paixões, a bicicleta e a máquina fotográfica. A estas se juntou uma terceira: viajar. As três levaram Beto à maior aventura da sua vida, uma busca que desafia seus limites.

Novas Estradas Há muito que Beto tem duas paixões, a bicicleta e a máquina fotográfica. A estas se juntou uma terceira: viajar. As três levaram Beto à maior aventura da sua vida, uma busca que desafia seus limites, uma viagem de bicicleta, durante 2 anos e meio, por 17 países da América Latina. Começou em dezembro de 2012 e quando terminar Beto quer valorizar mais “a água que bebe e o sorriso que recebe”. É possível que as pernas peçam para parar, mas Beto Ambrosio promete ir buscar forças aos cenários, às fotografias e às pessoas com quem cruzará no caminho. Tudo começou em uma viagem ao nordeste (Beto é de Araraquara, SP) entre dois amigos e prosseguiu numa conversa de café. Um sonhador e um empresário juntaram seus sonhos – Beto, o de viajar, e o dono da marca de mochilas esporte Vestígio, o de levar sua marca pelo mundo.

Vestígios de Aventura é por isso o nome do projeto que levou Beto até à América Latina, onde a viagem ainda mal começou. Ele capta pessoas, animais, cenários, no fundo tenta contar a história de cada lugar com o olhar. É possível que as pernas peçam para parar, mas Beto Ambrosio promete ir buscar forças aos cenários,às fotografias e às pessoas com quem cruzará no caminho. Tudo começou em uma viagem ao nordeste (Beto é de Araraquara, SP) entre dois amigos e prosseguiu numa conversa de café. Um sonhador e um empresário juntaram seus sonhos – Beto, o de viajar, e o dono da marca de mochilas esportivas Vestígio, o de levar sua marca pelo mundo. Onde a viagem ainda mal começou. Ele capta pessoas, animais, cenários, no fundo tenta contar a história de cada lugar com o olhar.

Veja mais fotografias e as histórias de Beto em : vestigios.com.br

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Propaganda

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Histórias, poesias e vidas deitadas nas ruas, esqueçidas pelos fluxos cotidianos. texto de Júnior Pires e Alexandre Camargo

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Não procuro outra casa, o que mais me importa são os meuas amigos que rodeiam”

dona Maria, 49 anos

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ara os gestores públicos, a cidade seria como um organismo doente – numa alusão à saúde e higiene, especialmente dos mais pobres, que precisariam de cuidados permanentes, sendo tratados como caso de polícia, e nega-lhes a cidadania e dignidade humana. Nosso objetivo, na análise da pesquisa, é trabalhar a partir do uso da técnica, incluídos os discursos apresentados pelos gestores da municipalidade, e conteúdos dos jornais, um projeto de cidade utópica, revelada em ideologias e ações autoritárias, como a repressão policial no disciplinamento da informalidade. Para fins metodológicos, foi feita a opção pelo estudo das políticas públicas norteadoras (de ampla divulgação na mídia) da administração de São Paulo no trato com a informalidade diante do universo de temas apresentados todos os dias nos impressos, incluindo lei, decretos e demais ações do poder público. O presente artigo foi dividido em três capítulos. No primeiro discutimos os principais conceitos relacionados à informalidade. No segundo abordamos os informais moradores em situação de rua diante da situação de vulnerabilidade social. No terceiro as histórias dos moradores 22 diverso • nov 2013

Por fim, concluímos apresentando as possíveis sim propostas para a questão social dos moradores em situação de rua à luz da cidadania. A informalidade, portanto, na pesquisa tem um viés sociológico em relação à análise, não se atém a estudar em detalhes cada um dos atores sociais, exceto o caso dos mais vulneráveis que são os moradores em situação de rua. Portanto, numa perspectiva saneadora da pobreza pela municipalidade, procurou-se abordar os territórios objeto dessas ações na região central da cidade. E para abordar a questão da disciplina da informalidade, utilizamos matérias dos jornais que identificam de maneira ampla o tratamento dado ao tema pelas gestões Serra/Kassab no período 2006-2011. Portanto, quando nos referimos ao Projeto Nova Luz, vislumbramos o olhar sobre os informais, como dependentes químicos, entre outros que lá sobrevivem. A Cracolândia fica na região central da Cidade de São Paulo conhecida como Luz, objeto de operação urbana denominada Nova Luz (incluído tradicional centro de compras como Santa Ifigênia) em parceria

entre governos municipal, estadual e a iniciativa privada que trabalham no sentido de retirada dos dependentes químicos da área pela idéia de revitalização incluída a desocupação de parte da área para realização do chamado Projeto Nova Luz. Essa área conhecida como Nova Luz tem sido objeto de especulação imobiliária por ser o centro de São Paulo um local privilegiado no acesso a bens e serviços, e que tem atraído os olhares da nova classe média por grandes projetos imobiliários para área. Em janeiro de 2012 teve início a operação centro legal uma parceria entre governo municipal, estadual e polícia militar para coibir o consumo de drogas por


parte dos dependentes químicos em nome da defesa do direito à vida e à saúde, com forte repressão policial inclusive com uso de balas de borracha, sirenes 24 horas correndo atrás da multidão de usuários na chamada operação dor e sofrimento em que sempre que ocorre a aglomeração de viciados ocorre a dispersão policial.

A familiaridade

A estimativa que tinha em 2003 era que existiam 10 mil pessoas em situação de rua. Aumentou muito. É estranho aumentar tanto numa época em que a economia melhorou. Acho que isso é uma prova de que a política para essas pessoas não funciona. Parece que nada do que está sendo feito resolve definitivamente o problema. Conversei com pessoas muito sérias, gente que estudou o assunto a vida toda. Vi albergues muito bons, com espaço, programas de reinserção. Tem quem passa por esses lugares mais de três vezes e no fim sempre volta para rua. Mesmo a vanguarda da assistência social ainda se pergunta como fazer. Tem a questão econômica, que é fundamental. Mas se o problema for dinheiro, ele fica na casa de alguém e dá um jeito. Os motivos que levam as pessoas às ruas são diversos. Tem o catador de lata que não consegue voltar para casa com a carroça e

acaba dormindo nela. Ou brigou com a mulher e nunca mais voltou para casa. Ou por causa das drogas, do álcool, pessoas não são mais aceitas dentro de casa. Tem quem perdeu emprego de uma forma traumática, violenta. Ou ex-presidiário que não é mais aceito aonde veio. Sempre tem outra coisa além da questão financeira. Não adianta dar trabalho ou dinheiro. Falta outra coisa. Cada um tem uma falta diferente, e o mais difcil é saber como tratar histórias tão diferentes de forma a não generalizar. Para alguns vai ser preciso tratar do alcoolismo. Já outros precisam de psicólogo. Não adianta não dar comida. Não é tirando o pouco de conforto que elas têm que elas vão ser ajudadas. Você pode resolver o seu problema, e não o delas. Porque elas vão para outro lugar. Comida e abrigo são questões emergenciais e é preciso impedir que elas morram de frio ou de fome. Essa é a primeira coisa. Depois se pensa em tirálas da rua. Suspender a comida é como exterminar. É como dizer: ‘vamos tornar a vida dessas pessoas insuportável. Vamos passar óleo na frente da loja, água pra em cima de quem dorme’. Muitas vezes porque você não pode levar grandes pertences. Mala de mão, sim. Agora, carroça e cachorro não podem levar. E as pessoas não queriam deixar eles de fora.

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No governo Marta [Suplicy, prefeita entre 2001 e 2004] uma experiência, o Projeto Oficina Boracia, com lugar para deixar carroçaa e animais. Mas depois me parece que mudou o perfil desse albergue. Outra coisa que muitos me relatavam era que o rompimento dessas pessoas com a sociedade, antes de ir para as ruas, foi tão forte que eles acabam não se adaptando às regras do albergue. Na rua você vive num cotidiano de total liberdade, apesar de privado do conforto da vida moderna. Essa noção de liberdade e ruptura com a vida em sociedade não se encaixa na realidade do albergue, que tem regra para tudo. Tem regra para tomar banho, para jantar, para acender a luz, para sair do quarto. Tem fila pra tudo. É um esquema de quartel. Outra coisa: muitos querem mesmo ser recolhidos, principalmente em época de frio. Até para evitar que morram. Agora, eles são levados para onde tem vaga. Então, quem vive na região da Praça da Sé pode ser levado para um lugar a 30 km dali. E, no dia seguinte, não tem vaga garantida para esse albergue e ele vai ter que voltar. Muitas vezes sai de lá de ressaca, não sabe onde está, não tem dinheiro pra voltar para aquela sua comunidade com quem mantém relação, seja com o dono da padaria, com o cara que deixa ele dormir no posto, debaixo da marquise ou mesmo com os conhecidos que o protegem.

Territórios Inconstantes

Geralmente por bebida ou por drogas. O que acontece nesse espaços, e isso a pesquisa não consegue mostrar, é a forma como o tráfico usa a população de rua como disfarce. Frequentei o Glicério quase diariamente durante dois meses. Mas durante o dia. E entrevistei todo mundo que morava lá. Quando ganhei confiança, resolvi dormir no mesmo lugar. Mas à noite não vi aquelas pessoas que eu conhecia. Vi só o tráfico, gente que ia à noite vender crack naquele lugar. Isso acontece porque as pessoas não chegam perto de moradores de rua quando veem todos juntos, com aquelas fogueiras queimando. Ninguém passa lá. A sociedade vira o olho. um espaço ideal para quem quer vender ou consumir o crack. Quem mora ali dorme antes da meia-noite. Toma sua cachaça e dorme. Mas a uns 30 metros deles fica só quem vende o crack. Esses não dormem. Então você vê muita discussão entre eles, muita gente querendo roubar quem morava ali. A ameaça estava o tempo todo por perto. Me orientavam para guardar a carteira na cueca, dormir com o tênis debaixo da cabeça. Sempre tem um “noia”

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rondando, querendo roubar a esmola que você conseguiu. Quando tratamos no item anterior acerca da conceituação dos moradores em situação de rua, notamos que este se encontra envolto em muitas interpretações, algumas delas inclusive preconceituosas, e que podem não corresponder com o a realidade concreta da experiência de morar nas ruas, tal experiência pode ser compreendida de diferentes maneiras e os motivos que conduzem alguém a essa situação podem ser os mais diversos. Para solucionarmos de certa maneira estes entraves buscamos analisar as pesquisas com a população de rua de forma direta, realizadas por órgãos com reputação e competência e que transformam em universais vários dados, características e perfis do que seria esse “morador em situação de rua.” Por isso, antes de apresentarmos os mais recentes dados obtidos pelas pesquisas sobre a “população em situação de rua”, efetuadas em nível federal e na cidade de São Paulo, convém verificarmos quais, dentre os vários fatores levantados junto ao espaço amostral, alguns que parecem ser mais determinantes para a existência e o aumento do número de pessoas nas ruas. São eles: saúde, tempo de vivência nas ruas e ocupação. Um dos aspectos que mais chama a atenção na abordagem dos “moradores em situação de rua” diz respeito à saúde. São vários os problemas existentes e dentre os

Soluções ?

Quer vender ou consumir o crack. Quem mora ali dorme antes da meia-noite. Toma sua cachaça e dorme. Mas a uns 30 metros deles fica só quem vende o crack. Esses não dormem. Então você vê muita discussão entre eles, muita gente querendo roubar quem morava ali. A ameaça estava o tempo todo por perto. Me orientavam para guardar a carteira na cueca, dormir com o tênis debaixo da cabeça. Sempre tem um “noia” rondando, querendo roubar a esmola que sempre existiu. Quando tratamos no item anterior acerca da conceituação dos moradores em situação de rua, notamos que este se encontra envolto em muitas interpretações, algumas delas inclusive preconceituosas, e que podem não corresponder com o a realidade concreta da experiência de morar nas ruas, tal experiência pode ser compreendida de diferentes maneiras e os motivos que conduzem alguém a essa situação podem ser os mais diversos.


A rua é o lugar dos invinsivéis mas também de pessoas que foram esqueçidas pela ssuas famílias e amigos. Mas la são incrivéis e mágicas se você conhecer” Invanildo, 36 anos

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A prostituição ainda está entalada na garganta do Brasil. Sua criminalização é uma questão recorrentemente discutida. Moças pobres e sem instrução não possuem outra opção de atividade profissional que não seja lavar as cuecas das bem-nascidas ? Ou será que a profissão não passa de puro vício no sexo?

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texto de Ramon Lima e Vivian Siqueira


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A prostituição foi uma das profissõesde fato revolucionadas pela internet, ao permitir que as trabalhadoras do sexo criassem seus próprios sites diminuindo ou eliminando a necessidade de cafetinas, bordéis ou intermediárias, e tornando-se verdadeiras profissionais liberais.

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prostituição ainda está entalada na garganta do Brasil. Que moças pobres e sem instrução tenham outra opção de atividade profissional que não seja limpar as latrinas e lavar as cuecas das bem-nascidas, que essa opção inclua tomar posse plena de seus corpos para poder, como diz minha amiga Paula Lee, alugá-los às suas clientes; que, ainda por cima, essa atividade seja perfeitamente legal apesar de ir contra toda a moral cristã, deve ser mesmo difícil de engolir. Mais ainda, a prostituição foi uma das profissões de fato revolucionadas pela internet, ao permitir que as trabalhadoras do sexo criassem seus próprios sites e escolhessem clientes livremente, diminuindo ou eliminando a necessidade de cafetinas, bordéis ou intermediárias, e tornando-se assim verdadeiras profissionais liberais. Não estou celebrando a prostituição como carreira. Me parece uma profissão desagradável — mas não mais desagradável do que tantas outras carreiras que também me parecem 28 diverso • nov 2013

desagradáveis, humildes como carvoeira e faxineira, e não-humildes como advogada de divórcio e relações públicas. (O que importa não é qual profissão você escolheria para sua irmã ou filha. Mais sobre isso abaixo.) Ao manter essas carreiras legalizadas, o governo pode ter uma medida de controle sobre sua prática e dar treino, auxílio e suporte específico às suas profissionais. Além disso, nos países onde a prostituição é proibida, acaba-se gastando precioso tempo e dinheiro, da polícia e dos tribunais, para perseguir e prender as próprias profissionais do sexo — que seriam, de acordo com o espírito da lei, as vítimas da prostituição mas tornam-se na prática as vítimas da justiça, sendo assim duplamente vitimizadas. (Nos Estados Unidos, onde a prostituição é ilegal em quase todos os estados, esse modelo começa a ser questionado.) Já ouvi muita gente comparando a prostituição ao uso de drogas — uma atividade viciante, da qual geralmente

O deputado Lima Côrrea, 49, defende a permanente legalização da prostituição.


não se pode sair sem intervenção médica e internação prolongada, que destrói o corpo e mata o usuário em pouco tempo! É ofensivo, e olha que quem diz isso são as suas bem-intencionadas defensoras! Em 2008, na Praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, funcionárias da prefeitura estavam tocaiando as prostitutas, tirando fotos delas e das clientes que as abordavam. Sem poder proibir as meninas de exercer legalmente sua atividade em local público, a equipe do prefeito Eduardo Paes decidiu persegui-las e afugentar suas clientes. Não sei quanto tempo durou a operação, nem o que aconteceu. Conheço Eduardo Paes há 15 anos, sei que muitas das suas operações duram apenas o tempo no qual as câmeras estão rodando — depois, poof! Mas, em um país um pouco mais civilizado, as prostitutas teriam entrado com uma ação contra a prefeitura.De qualquer modo, o importante era tirar as prostitutas dali. Elas são uma ameaça a todo um estilo de vida. Não é de fato um perigo para toda a família. Ela ameaça expor todas as pequenas hipocrisias que nos mantém juntos apesar de tudo. Não é a toa que são todos contra ela. Resta saber como conseguiu ficar legalizada tanto tempo.

Além de manter seus contos e servir como contato entre seus clientes, que chegam a cinco por dia, o blog serve também para levantar discussão sobre o prazer no sexo. “As pessoas são hipócritas, vivem de sexo, veem vídeo pornográfico, mas não falam porque têm vergonha. Um monte de mulher entra no blog e fala que adoraria fazer o que eu faço, mas não tem coragem; e dos homens escuto. O fato um perigo para toda a família. Ela ameaça expor todas as pequenas hipocrisias que nos mantém juntos apesar de tudo. Não é a toa que são todos contra ela. Resta saber como conseguiu ficar legalizada tanto tempo.

Ao manter essas carreiras legalizadas, o governo pode ter uma medida de controle sobre sua prática e dar treino, auxílio e suporte específico”

Limas Côrrea

“As prostitutas, o bicho-papão da classe média.”

por manter essa profissão viva e próspera. Não podemos lembrar às jovens da classe média escorchada de impostos, bem alimentadas mas falidas, que elas podem ganhar numa trepada o mesmo salário que o estágio paga em um mês, ainda mais se forem universitárias, falarem inglês e tiverem todos os dentes.

Entrevista com o Deputado Limas Côrrea Diverso: Qual sua atuação direta na Camerâ pelo projeto?

LC: Não podemos lembrar às domésticas Diverso: Como que pode valer a pena (e ser mais digno podemos entender o presente problema e libertador) transar com uma ou duas na sociedade ? pessoas em uma tarde pra ganhar o Limas Côrrea: Não podemos expor mesmo valor pelo qual hoje trabalham o os pobres pais e filhos de família, que mês inteiro, dezoito horas por dia, com naturalmente não têm auto-controle folgas em domingos alternados, sem nem algum, a tamanha apetitosa e pecaminosa poder trazer a namorada evangélica pro tentação.Não podemos lembrar às donas- seu quartinho. de-casa de meia-idade, mal-amadas e Diverso: Quais as principais repercursões frustradas sexualmente, que a prostituição sobre ele? só existe e só está ali porque homens como LC: A prostituição é de fato um perigo o seu marido, que já não transam mais com as próprias esposas, ainda vão atrás para toda a família. Ela ameaça expor de putas e são os principais responsáveis todas as pequenas hipocrisias que nos

mantém juntos apesar de tudo. Não é a toa que são todos contra ela. Resta saber como conseguiu ficar legalizada tanto tempo. Já ouvi muita gente comparando a prostituição ao uso de drogas — uma atividade viciante, da qual geralmente não se pode sair sem intervenção médica e internação prolongada, que destrói o corpo e mata o usuário em pouco tempo! É ofensivo, e olha que quem diz isso são as suas bem-intencionadas defensoras! Diverso: Qual sua atuação direta na Camerâ pelo projeto? LC: Não podemos lembrar às domésticas que pode valer a pena (e ser mais digno e libertador) transar com uma ou duas pessoas em uma tarde pra ganhar o mesmo valor pelo qual hoje trabalham o mês inteiro, dezoito horas por dia, com folgas em domingos alternados, sem nem poder trazer a namorada evangélica pro seu quartinho.

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“Faço porque gosto” Entrevista com Ana Paula Diverso: Como podemos entender o presente problema na sociedade ? Ela tem 21 anos, é recém-formada em letras pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), exibe em tatuagens pelo corpo frases de Guimarães Rosa e Manuel Bandeira, adotou como pseudônimo um nome que faz referência a um personagem do escritor russo Vladimir Nabokov e assume, sem problemas, ser garota de programa. Gabriela Natália da Silva, ou Lola Benvenutti, mantém um blog em que escreve contos baseados nas experiências com seus clientes e chama a atenção ao tentar quebrar o tabu do sexo. “Sempre gostei de sexo, então tinha um desejo secreto de trabalhar com isso e não há nada mais justo, faço porque gosto”, afirmou em entrevista a Diverso. Lola Benvenutti mantém blog com histórias de seus clientes em São Carlos. A realidade de Gabriela sempre foi diferente da vida de uma parcela das garotas de programa que são universitárias e optam por se prostituir para manter as despesas com os estudos. “Tem uma categoria nos sites de acompanhantes que são de universitárias e fazem isso porque fazem faculdade particular e precisam pagar, mas eu nunca precisei disso, sou inteligente, fiz faculdade, optei por isso, qual o problema?”, questionou.

Ana Paula: Natural de Pirassununga (SP), se mudou para São Carlos para fazer faculdade, mas por temer algum tipo de retaliação resolveu manter sua identidade como prostituta com discrição até concluir o curso. “Fiquei com um pouco de medo de isso reverberar de alguma forma na faculdade, então achei melhor terminar a graduação para colocar o

Gabriela Natália da Silva, ou Lola, relata sua realidade como profissional do sexo

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site no ar, ele recebe cerca de duas mil visitas por dia e é nele que Lola posta sua rotina como prostituta. Entretanto, vê diferença entre sua história e o fenômeno Bruna Surfistinha, pseudônimo de Raquel Pacheco, ex-prostituta que fez fama na internet e teve sua história publicada em livro e roteirizada em um filme. “Ela teve uma vida diferente da minha, com outras oportunidades”, comentou. Diverso: Como podemos entender o presente problema na sociedade ? AP: Além de manter seus contos e servir como contato entre seus clientes, que chegam a cinco por dia, o blog serve


também para levantar discussão sobre o prazer no sexo. “As pessoas são hipócritas, vivem de sexo, veem vídeo pornográfico, mas não falam porque têm vergonha. Um monte de mulher entra no blog e fala que adoraria fazer o que eu faço, mas não tem coragem; e dos homens escuto. As confissões mais loucas e cada vez mais esse tabu do sexo é uma coisa besta”, avaliou.

após a conclusão do curso de letras. “Também quero dar aula, mas por hobby, e além disso também tem a questão financeira, porque dando aula hoje você quase não se sustenta”, analisou. “Acho que as duas coisas são difíceis de casar, é muito difícil que uma escola que sabe o que eu faço me permita trabalhar com eles, vou ter que derrubar barreiras”. Ainda este ano, ela pretende se mudar para São Paulo, onde vai continuar traDiverso: Qual sua atuação direta na balhando como garota de programa e Camerâ pelo projeto? acumu-lando um mestrado na Universidade AP: Apesar da escolha em ser uma de São Paulo (USP). “Cansei um pouco de profissional do sexo, Gabriela não desistiu São Carlos e agora quero outras coisas, de seguir carreira acadêmica ou dar aulas tanto que o mestrado para o qual estou

estudando é na USP, converso com alguns professores e quero pesquisar na área de prostituição ou fetiche”, considerou. Esse tipo de assunto, segundo ela, já é seu objeto de estudo desde a adolescência. “Desde os 14 anos estudo o sadomasoquismo, que hoje está ficando mais popularizado com ajuda do livro ‘Cinquenta Tons de Cinza’, que é marginalizado para quem curte, mas abriu um leque para as pessoas que não conheciam”, explicou.

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Sofia Sánchez, 53 anos, escritora e propagadora do ‘combate’ ao vício ao sexo

Sonia Sánchez vem da Bolivia, lá esteve dando oficinas e apresentando o livro “Ninguna Mujer Nace para Puta” (traduzivel como “Nenhuma mulher nasce para puta”) que escreveu junto a Maria Galindo de Mujeres Creando. O encontro tardou, mas quando finalmente se deu, a história de Sonia e suas reflexões surgiram com uma claridade que a cronista decidiu que falem por elas mesmas.

“Nenhuma mulher nasce puta” Entrevista com Sonia Sánchez

preciso que me aumentem porque estou mandando dinheiro a Chaco, e além disso eu leio e não estão me pagando o que me corresponde.’ Eles muito tranquilamente me disseram: ‘Olha, se quiser esta vai ser sua remuneração, nós não vamos aumentar’. Acreditavam que eu ia seguir aceitando porque não tinha nenhum familiar aqui, nenhum conhecido, e a onde iria. Então lhes disse que buscassem a alguém porque eu me iria. Não sabia a onde, cada vez que saía ia com uma livretinha anotando porque não conhecia nada.

Diverso: Por que você apoia o combate a Diverso: Como você conheceu o mundo prostituição como vício? da prostituição ? SS: Logo em seguida, conseguiram Sonia Sánchez: Vim a Buenos Aires, outra pessoa e eu me fui. O mês inteiro desde o Chaco, para trabalhar como de pagamento me alcançou para quinze empregada doméstica, com quase 20 dias em um hotel de quinta, e deixei anos. Sem conhecer absolutamente nada, alguma coisa de dinheiro para comprar assim que os patrões foram me esperar o jornal. Aí me dei conta que não tinha em Retiro, e aí me levaram a Floresta nenhuma referência para conseguir (bairro de Buenos Aires). Estive quase trabalho. Podia falar muito bem, podia 8 meses, manejava a casa, o subsolo, pedir que me coloquem a prova, cuiprimeiro e segundo andar; muito grande dar a senhoras, cuidar crianças, limpar e era eu para tudo. Me levantava às pratos. Mas ninguém me deu trabalho 5:30 da manhã e ia dormir às 1:30 da porque não tinha referências. Terminei madrugada. Tinha que preparar o café dormindo em Praça Once. da manhã para meus patrões, dar banho Estive uns cinco meses nas crianças, levar eles à escola, e depois dormindo aí. De dia dormia no trem de Once a Moreno; limpar toda a casa. e de noite, o monumento Diverso: Como podemos entender o ainda não estava cercado presente problema na sociedade ? por grades, e me acomodava em um cantinho mas SS: A questão é que eu sempre gostei de não passava acordada pelo ler, deixei de estudar para trabalhar. Nos grande medo. Toquei portas domingos, que eram os únicos dias livres por todos lados, fui ao que eu tinha, eu lia o jornal. Lia tudo, exército da salvação, porque até os classificados e me dei conta que queria me lavar para seguir não chegava a cobrar nem a quarta parte buscando trabalho. Mas a do salário que anunciavam ali. Deixei marginação é uma cadeia. passar assim um mês. Um dia me sento Tinha que ter um peso, com meus patrões e lhes digo ‘Olha, eu dois pesos, para tomar

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banho ou dormir aí. Eu lhes dizia ‘estou dormindo em Praça Once, não me podes pedir um peso porque eu nã tenho’. Recolhi a comida dos tachos de lixo, mas não dava mais. Não dava mais a fome, o medo que sentia, de não ter um teto e poder descansar bem. E além disso, a humilhação que me faziam passar as mulheres, que ainda hoje seguem limpando os banheiros da estação, porque as vezes me encostava no sofá e não me deixavam dormir. Estava muito desesperada. Nesses quase cinco meses via a essas mulheres, mas eu sempre estive na minha nuvem. Venho de uma família muito pobre, mas minha mãe sempre nos fez estudar. Ela limpava uma casa, esfregava em outra, e nós o único que faziamos era estudar. Eu estava no meu mundo de estudante, não sabia o que era a prostituição, não sabia o que era uma travesti. Não conhecia nada deste mundo. Eu o que via eram essas mulheres, aí paradas que se arrumavam, iam e vinham, mas não sabia nada. Diverso: Como é você inicia o contato com cada uma delas? SS: Um dia me aproximei e disse a uma delas ‘olha, eu me chamo Sonia Sánchez, estou dormindo na praça, não posso mais’. O único que tinha era uma carteira e o único que salvei foi meu documento. Lembro de seu rosto, era uma mulher de uns quase 50 anos, e me disse ‘olha, eu faço isso, você é jovem’, claro eu tinha apenas 21 anos. ‘Ollha, eu te dou uma grana, você anda a comprar um shampoo, um creme condicionador e vem; apenas vão acercar-se a você’. E depois não lembro bem, foi minha maneira de defender-me. Sei que fui ao chuveiro, me arrumei, me banhei, me pus uma roupa bonita. E aí fui ao primeiro passo, como se diz, não lembro quanto durou, se foram quinze minutos.

A prostituição não é um trabalho, é violência que se exerce contra o corpo das mulheres, além disso é violência psíquica.” Limas Côrrea


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Fracisco

V

ocê vê muita discussão entre eles, muita gente querendo roubar quem morava ali. A ameaça estava o tempo todo por perto. Me orientavam para guardar a carteira na cueca, dormir com o tênis debaixo da cabeça. Sempre tem um “noia” rondando, querendo roubar a esmola que você conseguiu. Quando tratamos no item anterior acerca da conceituação dos moradores em situação de rua, notamos que este se encontre envolto em muitas interpretações, algumas delas inclusive preconceituosas, e que podem não corresponder com o a realidade concreta da experiência de morar nas ruas, tal experiência pode ser compreendida de diferentes maneiras e os motivos que conduzem alguém a essa situação podem ser os mais diversos. Certa maneira estes entraves buscamos analisar as pesquisas com a população de rua de forma direta, realizadas por órgãos com reputação e competência e que transformam em universais vários dados, características e perfis do que seria esse “morador em situação de rua.” Por isso, antes de apresentarmos os mais recentes dados obtidos pelas pesquisas sobre a “população em situação de rua”, efetuadas em nível federal e na cidade de São Paulo. levantados junto ao espaço amostral, alguns que parecem ser mais determinantes para a existência e o aumento do número de pessoas nas ruas. São eles: saúde, tempo de vivência nas ruas e ocupação. Os problemas existentes e dentre os mais apontados nas pesquisas analisadas incluem-se transtornos mentais, consumo de drogas e álcool, deficiências físicas e mentais causados por doenças infecto-contagiosas e complicações físicas envolvendo a violência.

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relembra as histórias que viveu na última seca do sertão de 1965.


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Olhar sereno Em cartaz no Museu da Imagem e do Som – o MIS – em São Paulo, até janeiro de 2014, a exposição de “Nueva Madame” apresenta fotos das chamadas Madames Baratas do Leste Europeu durante a 2ª Guerra Mundial.

Catando Não perca a apresentação da cantora sul-africana Miriam Makeba também conhecida como “Mama Afríca”, combateu fortemente o apartheid e traz um show cheio de história, raízes e muita emoção. Ela vai está em Curitiba, São Paulo e Rio, Não Perca!

08 de janeiro - Curitiba 10 de janeiro - São Paulo 12 de janeiro - Rio de Janeiro

A mostra de fotografia Mostra de Fotografia de São Paulo traz fotografo do Bulgáro Movis Stiksj que restrata imagens do cotidiano dentro dos metrôs ao redor do mundo.

15 de Outubro Parque Ibirapuera

36 diverso • nov 2013


Negritude A revista de moda Segri, está com uma exposição de explorações das cores em maquiagem e tecidos de baixo custo em parceria com novos estilistas que surgem na Zâmbia. Um misto de influências incrivel.

veja mais no site segri.com.br

Israel também tem disso Exibição de curtas feitos em Israel e na Faixa de Gaza, traz algumas novas realidades do local. Com câmeras de vídeos comuns, pessoas de diferentes contextos apresentam suas vidas.

Vida bela Recomendamos sem sombra de dúvidas o novo filme do Cineasta Cearense “Cine Holliude”, com roteiro fraco e um tempo completamente confuso, o filme extrai gargalhadas 100% cearense pela própria linguagem. Rir com as comédias ultimamente merece um prêmio!

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Solução

em família

Por Maria Machado

Imaginem quando seu filho é impossibilitado de falar por conta de uma paralisia cerebral em consequência de um erro médico? ” Carlos Andes

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comunicação entre pais e filhos é algo primordial, acontece das mais diversas formas.Mas imaginem quando seu filho é impossibilitado de falar por conta de uma paralisia cerebral em consequência de um erro médico? Foi por essa necessidade que Carlos Pereira, pai de uma linda menina chamada Clara, de 5 anos, criou o aplicativo Livox, e transformou o mundo de sua filha. Carlos é analista de sistemas, e inicialmente fez um aplicativo bem simples, que testou em seu próprio celular, e que possibilitava a filha responder apenas “Sim” ou “Não às suas perguntas. Aos poucos, com ajuda de fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e pedagogos a ferramenta foi sendo aprimorada, e assim nasceu o Livox, atualmente o mais competente aplicativo do mercado mundial da área, e o primeiro em português adaptado para tablets (outros apps em inglês não tinhma interesse por parte dos desenvolvedores em ter suas versões em português). Hoje em dia, Carlos procura recursos e parcerias com o governo brasileiro para levar o Livox às famílias carentes, pois sabe que tablets e smartphones ainda realidade muito distante para grande parte da população no Brasil. Para mostrar o potencial e a incrível relevância do aplicativo para os que possuem dificuldades em fala, tem um vídeo que mostra Paloma, uma adolescente que atualmente consegue se comunicar com o mundo com a ajuda do Livox.

veja o video completo do projeto em diverso.com.br

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