Apresentando Posso estar errado, mas acredito que a maioria das pessoas que escrevem histórias sobre relacionamentos (e são muitas) estão na verdade dando voz às suas próprias frustrações, inseguranças e inquietações. É um material que tem um forte tom confessional e pode ser muito autêntico e fascinante. Por outro lado, também pode ser um grande e constrangedor mimimi, uma lamúria chata que só faz sentido pra quem está com dor de cotovelo. Enfim, como cantou o tal Chico Buarque, inda é melhor sofrer em dó menor do que sofrer calado. Foi assim que surgiu uma parte do material que compõe esse fanzine. Ideias que nasceram de momentos não muito felizes. Mas a tristeza sempre passa e não é só dela que se fazem as coisas. Assim, também há ideias que apareceram em conversas de bar, entre gargalhadas e zombarias dos próprios infortúnios e dos amigos. Há coisas que vi em trechos de filmes perdidos na madrugada, em canções ou em conversas de alunos em sala de aula. Há material que já foi publicado e há trabalho inédito. Bukowski fez parte da edição número 9 da revista Café Espacial. Apareceu da vontade de fazer uma história com as citações de um de meus autores favoritos. Também queria escrever algo sobre o que há de bom, de assustador, de triste e de engraçado nessa brincadeira de se enroscar com outra pessoa. Esse foi o espírito que me guiou na seleção das citações do velho Buk. English Class estava no meu sketchbook fazia tempo. Ela vem da tristeza que já vi em alguns alunos, gente jovem, bonita e cheia de potencial que não tem razão nenhuma pra estar triste e ainda assim... Uma história que entra no rol de confissões pessoais é Domingo. A “ausência” é algo que me assombrou por muito tempo. Essa história estava na gaveta fazia um ano e foi desenhada especialmente pra esse fanzine. Cigarros foi publicada na revista Quadrinhópole número 4. Essa sim é pura conversa de bar. A história, até onde se pôde verificar, é verdadeira. A conversa de boteco que abre o fanzine também é verdadeira. O bar é um ambiente prolífico para ideias e filosofias baratas. A imagem do sonho com o alicate estava num sketchbook e surgiu não de um sonho, mas de um insight sobre minha relação com uma garota que conheci. O título desse fanzine, Partículas Elementares, foi descaradamente roubado do livro homônimo de Michel Houellebecq. O subtítulo é outro fruto das conversas de boteco. (Valeu, Piuí). E é isso. Espero que você goste. Liber Paz Novembro de 2011
filmes elementares Uma seleção esperta pra você curtir nos bons e maus momentos. 500 dias com ela: Muita gente odeia o filme, porque acha a personagem Summer uma vadia. Mas, se você assistir e tiver um pouco de boa vontade, vai perceber que o filme é sobre o amadurecimento do personagem Tom.
Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças: Provavelmente, você já assistiu. Mas é tão bacana que merece ser visto de novo. Além da ideia inusitada, da montagem alucinada e da fantástica reconstrução da irrealidade dos sonhos, o filme mostra que o amor não é um eterno “felizes para sempre”. Fantástico.
Um beijo roubado: A tradução e a sinopse podem fazer parecer que se trata de uma comédia romântica padrão, mas esse filme do diretor Wong Kar Wai é carregado de uma densidade emocional ímpar. A fotografia e a trilha sonora são excelentes. Ótimo pra se assistir em madrugadas insones. 9 canções: Após separar-se da namorada, o rapaz conta ao espectador como a conheceu em um show e a história que viveu com ela. O filme alterna tórridas cenas de sexo explícito com 9 shows. É um filme sobre saudade, sobre ausências e sentimentos intensos. Triste que dói.
O Sol de Cada Manhã: Um apresentador da previsão do tempo recém divorciado tenta desesperadamente, mas fracassa em reconquistar a mulher. Também fracassa em se aproximar dos filhos e em conquistar o respeito do pai que está morrendo de câncer. E, por alguma razão estranha, as pessoas na rua se divertem arremessando fast food nele. Drama dos bons.
Sobre o autor
Eu sou Liber Paz e estou por aí já faz um tempinho, sempre na beira da piscina, molhando o pé e olhando o pessoal se divertir, mas sem coragem de entrar na água. Pesquiso e ocasionalmente produzo histórias em quadrinhos. Participei da produção da revista curitibana Manticore, que ganhou um HQMix em 1998. As revistas Quadrinhópole e Café Espacial onde publiquei as histórias Cigarros e Bukowski, presentes nesse fanzine, também foram premiadas com o HQMix. Recebi pessoalmente um HQMix por um trabalho acadêmico: minha dissertação de mestrado sobre a obra de Lourenço Mutarelli. Atualmente sou professor do curso de design na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), onde leciono ilustração, animação, audiovisual e (veja só) histórias em quadrinhos. Também mantenho um blog onde publico meus desenhos e histórias e escrevo sobre quadrinhos, cinema e outras coisas: liberland.blogspot.com Foram feitas 50 cópias desse fanzine. As artes e textos são de minha autoria. A ideia é me apresentar para você. E se você curtiu e quiser me mandar a sua opinião, escreva para liberpaz@gmail.com. Muito obrigado.
Qualquer canção de amor É uma canção de amor Não faz brotar amor E amantes Porém, se esta canção Nos toca o coração O amor brota melhor E antes
Qualquer canção de dor Não basta a um sofredor Nem cerze um coração Rasgado Porém ainda é melhor Sofrer em dó menor Do que você sofrer Calado
Qualquer canção de bem Algum mistério tem É o grão, é o germe, é o gen Da chama E essa canção também Corrói, como convém, O coração de quem Não ama Qualquer canção, Chico Buarque Faixa 6 do lado A do LP Vida (1980)
Não é verdade que, quando se diz tudo sobre os principais temas da vida humana, as coisas mais importantes continuam por dizer? Zygmunt Bauman em Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Jorge Zahar Editora. Rio de Janeiro, 2003.